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Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais
Textos de
Luiz
O Instituto
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Para quem quer examinar as coisas com imparcialidade, fica evidente que os Gregos,
pelo menos do ponto de vista intelectual, tomaram verdadeiramente emprestado quase tudo
dos Orientais, conforme eles mesmos o confessam freqüentemente; por mais mentirosos que
pudessem ser, eles não mentiriam sobre este ponto e, aliás, não teriam nenhum interesse nisso,
muito pelo contrário. Sua única originalidade, dizíamos antes, reside na maneira pela qual eles
expuseram as coisas, segundo uma faculdade de adaptação que não se pode contestar, mas que
se acha necessariamente limitada à medida de sua compreensão; eis aí, em suma, uma
originalidade de ordem puramente dialética. Com efeito, os modos de raciocínio, que derivam
dos modos gerais do pensamento e servem para formulá-los, são, entre os Gregos, diferentes
do que entre os Orientais; é preciso estar sempre atento quando se assinala certas analogias,
aliás reais, como aquela do silogismo grego, por exemplo, com o que se chamou, mais ou
menos exatamente, o silogismo hindu. Não se pode mesmo dizer que o raciocínio grego se
distingue por um rigor particular; ele só parece mais rigoroso que os outros para aqueles que
dele têm o hábito exclusivo, e esta aparência provém unicamente do fato que ele se encerra
sempre dentro de um domínio mais restrito, mais limitado, e melhor definido por isso mesmo.
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24/05/2018 Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais, Tradição, Tradition
Aquilo que é efetivamente próprio dos Gregos, em contrapartida, mas com pouca vantagem
para eles, é uma certa sutileza dialética da qual os diálogos de Platão oferecem numerosos
exemplos, e onde se vê a necessidade de examinar indefinidamente uma mesma questão sob
todos os seus ângulos, tomando-a nos mínimos aspectos, e para desembocar numa conclusão
mais ou menos insignificante; é preciso crer que, no Ocidente, os modernos não são os
primeiros a serem afligidos de "miopia intelectual".
Talvez não haja razão, afinal, para censurar exageradamente os Gregos por terem
estreitado o campo do pensamento humano como o fizeram; por um lado, havia aí uma
conseqüência inevitável de sua constituição mental, da qual eles não poderiam ser tomados
como responsáveis, e, por outro, eles pelo menos colocaram assim ao alcance de uma parte da
humanidade alguns conhecimentos que, de outro modo, correriam sério risco de lhes
permanecer completamente alheios. É fácil se dar conta disso vendo do que são capazes, em
nossos dias, os Ocidentais que se acham diretamente em presença de certas concepções
orientais, e que tentam interpretá-las segundo sua própria mentalidade: tudo o que eles não
conseguem identificar às formas "clássicas" escapa-lhes totalmente, e tudo aquilo que eles o
conseguem bem ou mal é, por isso mesmo, desfigurado a ponto de se tornar irreconhecível.
O chamado "milagre grego” , como o chamam seus entusiastas admiradores, reduz-se em
suma a bem pouca coisa, ou pelo menos, onde implica numa mudança profunda, esta mudança
é uma decadência: é a individualização das concepções, a substituição do intelectual puro pelo
racional, do ponto de vista metafísico pelo ponto de vista científico e filosófico. Pouco
importa, aliás, que os Gregos tenham sabido melhor que outros dar a certos conhecimentos um
caráter prático, ou que tenham tirado disso conseqüências com tal caráter, enquanto que
aqueles que os precederam não o fizeram; pode-se mesmo achar que eles assim deram ao
conhecimento um fim menos puro e menos desinteressado, visto que sua forma mental apenas
difícil e excepcionalmente lhes permitiria permanecer no domínio dos princípios. Esta
tendência "prática", no sentido mais comum do termo, é uma daquelas que deviam ir se
acentuando no desenvolvimento da civilização ocidental, e é visivelmente predominante na
época moderna; só se pode fazer exceção a este respeito em favor da Idade Média, muito mais
voltada para a especulação pura.
De um modo geral, os Ocidentais são, por sua natureza, muito pouco metafísicos; a
comparação de suas línguas com as dos Orientais forneceria por si só uma prova suficiente, se
todavia os filólogos fossem capazes de captar verdadeiramente o espírito das línguas que
estudam. Em contrapartida, os Orientais têm uma tendência muito acentuada para se
desinteressar das aplicações e isto se compreende facilmente, porque qualquer um que se une
essencialmente ao conhecimento dos princípios universais não pode ter mais que um interesse
medíocre pelas ciências especiais, e pode no máximo lhes conceder uma curiosidade
passageira, insuficiente em todo caso para provocar numerosas descobertas nessa ordem de
idéias. Quando se sabe, de algum modo com uma certeza matemática e mesmo mais que
matemática, que as coisas não podem ser outra coisa além daquilo que são, há forçosamente
desprezo pela experiência, porque a constatação de um fato particular, qualquer que seja,
prova nada mais nada menos do que a existência pura e simples desse mesmo fato; no máximo
tal constatação pode servir, às vezes, para ilustrar uma teoria, a título de exemplo, mas de
modo algum para prová-la, e crer no contrário é uma grave ilusão. Nestas condições, não há
evidentemente espaço para estudar as ciências experimentais em si mesmas, e, do ponto de
vista metafísico, elas só têm, como o objeto ao qual elas se aplicam, um valor puramente
acidental e contingente; não se nota com muita freqüência a necessidade de isolar as leis
particulares, que se poderia contudo extrair dos princípios, a título de aplicação especial a tal
ou qual domínio determinado, caso se considerasse que isso vale a pena. Pode-se então
compreender tudo aquilo que separa o "saber" oriental da "pesquisa" ocidental; mas pode-se
ainda admirar que a pesquisa chegue a constituir, para os Ocidentais modernos, um fim em si
mesmo, independentemente de seus resultados possíveis.
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Um outro ponto que importa essencialmente notar aqui, e que se apresenta aliás
como um corolário do que precede, é que ninguém tem estado mais longe do que os Orientais,
sem exceção, para expressar, como a Antigüidade greco-romana, o culto pela natureza, visto
que a natureza não tem sido para eles mais do que o mundo das aparências; sem dúvida, essas
aparências têm também uma realidade, mas não é mais do que uma realidade transitória e não
permanente, contingente e não universal. Logo, o "naturalismo", sob todas as formas das quais
é suscetível, não pode constituir, aos olhos de homens que se poderia chamar metafísicos por
temperamento, mais que um desvio e mesmo uma verdadeira monstruosidade intelectual.
Assim, o fato de os Orientais não serem nunca vinculados a certas ciências especiais
não é de maneira alguma um sinal de inferioridade de sua parte, e é mesmo, intelectualmente,
bem o contrário; eis aí, em suma, uma conseqüência normal daquilo que sua atividade sempre
dirigiu para um outro sentido e para um fim totalmente diferente. Esses são precisamente os
diversos aspectos nos quais se pode exercer a atividade mental do homem que imprime a cada
civilização seu caráter próprio, determinando-lhe a direção fundamental de seu
desenvolvimento; eis aí, ao mesmo tempo, o que dá a ilusão do progresso àqueles que, não
conhecendo mais do que uma civilização, vêem exclusivamente a direção na qual ela se
desenvolve, acreditando ser a única possível, e não se dando conta que tal desenvolvimento
em um aspecto pode ser largamente compensado por uma regressão em outros aspectos.
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