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COMARCA DE CANOINHAS
1. Objeto da ação
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Objetiva também obter provimento que determine à ré
que imediatamente se abstenha de permitir a realização de consultas
oftálmicas e/ou exames de acuidade visual (prescrição, indicação e
aconselhamento de uso de lentes de grau) pelos alunos e professores
não-médicos do curso de Optometria.
2. Síntese da lide
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E por ter havido divulgação enganosa do curso durante
todos os anos de sua existência, entende o Ministério Público devam
ser ressarcidos os danos patrimoniais e extrapatrimoniais sofridos
pela coletividade que estava sujeita à publicidade e que ingressou no
curso desinformadamente.
3. Questão de fundo
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com a simples extração do dente, os optometristas prescreviam
óculos ao menor sinal de falta de acuidade visual.
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WINKLER, Flávio. In http://www.apo-pr.com.br/proj2a.asp.
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contrário, há situações em que a prescrição de óculos, mesmo
quando se diagnosticou uma ametropia, agrava o sintoma que
motivou o paciente a procurar recursos.
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propensão para prescrever lentes mesmo quando não forem
necessárias.
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Art. 39. É vedado às casas de ótica confeccionar e vender lentes de grau sem
prescrição médica, bem como instalar consultórios médicos nas dependências
dos seus estabelecimentos
3
Art. 41. As casas de ótica, ortopedia e os estabelecimentos eletro, rádio e
fisioterápicos de qualquer natureza devem possuir um livro devidamente rubricado
pela autoridade sanitária competente, destinado ao registro das prescrições
médicas.
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Art. 38. É terminantemente proibido aos enfermeiros, massagistas, optometristas
e ortopedistas, a instalação de consultórios para atender clientes, devendo o
material aí encontrado ser apreendido e remetido para o depósito público, onde
será vendido judicialmente a requerimento da Procuradoria dos Feitos da Saúde
Pública a quem, a autoridade competente oficiará nesse sentido. O produto do
leilão judicial será recolhido ao Tesouro, pelo mesmo processo que as multas
sanitárias.
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oficina e do mercado ótico5. Tal providência visa justamente a
proteger o consumidor, evitando que no afã do lucro o proprietário da
ótica receite lentes corretivas apenas para vender seu produto.
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atividade é exclusiva de médico oftalmologista. Aliás, nesta decisão,
cujo acórdão foi relatado pelo Des. Vanderlei Romer, decidiu-se haver
risco na suspensão do embargo da fiscalização sanitária, pois a
questão envolvia saúde pública7.
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Em sentido contrário à tese adotada pelos dois tribunais,
invoca-se, por vezes, a Portaria nº 2.948, de 21 de outubro de 2003,
editada pelo Ministro da Educação e Cultura. A partir deste ato
passou-se a difundir que a profissão de optometrista estaria
finalmente reconhecida pelo MEC, embora tenha simplesmente
reconhecido o Curso Superior de Tecnologia em Optometria da Ulbra,
com a ressalva de que o fazia "exclusivamente para fins de emissão e
registro dos diplomas" dos alunos formados nos últimos cinco anos.
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Note-se que aqui que, além de não haver expressa
menção à possibilidade de o técnico em optometria prescrever,
indicar ou aconselhar o uso de lentes, qualquer interpretação que
adotasse este entendimento seria no mínimo ilegal, porque a Portaria
conflitaria com os Decretos citados, que têm força de lei ordinária por
haverem sido recepcionados pela Constituição.
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considerando-se a expansão da atividade no país, onde há apenas
dois cursos destinados à formação profissional. Um deles é o da UnC
de Canoinhas”.
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modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário,
inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo
por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades,
origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços”.
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Pelo princípio da veracidade, “a publicidade deve ser escorreita e honesta,
segundo os requisitos legais. Deve conter uma apresentação verdadeira do produto
ou serviço oferecido. Visa a manter corretamente informado o consumidor, para
assegurar-lhe a escolha livre e consciente”. Pelo princípio da transparência, “a
publicidade deve fundamentar-se em dados fáticos, técnicos e científicos que
comprovem a informação veiculada, para informação aos interessados e eventual
demonstração da veracidade”. ALMEIDA, João Batista. Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo : Saraiva, 2003. p. 87.
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conforme determinado pelos artigos 38 do Decreto nº 20.931/32 e 14
do Decreto nº 24.492/34.
12
Do texto do Parecer mencionado extrai-se o seguinte trecho: “nos termos
taxativos da legislação citada dessume-se que a receita de óculos e de lentes de
contato é ato médico, constituindo exercício ilegal da medicina a sua prática por
outros profissionais que não o médico oftalmologista. De outra parte, no Brasil, a
optometria não existe como profissão independente, constituindo parte integrante e
uma das especialidades mais importantes da Oftalmologia, com extensa carga
horária destinada ao aprendizado teórico e prático nas residências oftalmológicas”.
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Em sendo assim, a Fundação Universidade do Contestado,
por seu campus de Canoinhas, não pode permitir que em seu espaço
físico ou sob sua coordenação ou conivência, os acadêmicos
pratiquem atos privativos de médico, devendo ser determinado pelo
Judiciário que imediatamente encerrem o atendimento ao público, sob
pena de multa.
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restituição das mensalidades pagas ou ao abatimento proporcional do
preço, nos termos dos arts. 91 e seguintes do Código de Defesa do
Consumidor. Para tanto, após a constituição do título executivo
judicial que condene genericamente13 a requerida à restituição ou ao
abatimento proporcional do preço, poderão as vítimas ou seus
sucessores, ou ainda o próprio Ministério Público, liquidar a sentença
e executá-la.
13
Art. 95 do Código de Defesa do Consumidor: “Em caso de procedência do pedido,
a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos
causados”.
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A confiança, ou boa-fé objetiva, é princípio da Política Nacional de Relações de
Consumo, conforme prevê o art. 4º, III, in fine, do CDC. Para Luiz Antônio Rizzatto
Nunes, “quando se fala em boa-fé objetiva, pensa-se no comportamento fiel, leal,
na atuação de cada uma das partes contratantes a fim de garantir respeito à outra.
É um princípio que visa garantir a ação sem abuso, sem obstrução, sem causar
lesão a ninguém, cooperando sempre para atingir o fim colimado no contrato,
realizando os interesses das partes” (NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor. São Paulo : Saraiva, 2000. p. 108).
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credibilidade da relação jurídica existente entre os consumidores em
potencial e entre a requerida15.
15
Veja-se que segundo o art. 29 do Código de Defesa do Consumidor, equiparam-se
aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
comerciais previstas nos arts. 30 e seguintes: oferta, publicidade, práticas abusivas,
cobrança de dívidas e bancos de dados e cadastros de consumidores.
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abusiva, O consumidor potencial sente-se lesionado e vê aumentar
seu sentimento de desconfiança na proteção legal do consumidor,
bem como seu sentimento de cidadania”16.
16
Revista de Direito do Consumidor nº 25. Editora Revista dos Tribunais, p. 82.
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apreço e consideração, tendo reflexos na coletividade e
causando grandes prejuízos à sociedade17.
Assim, presente o dano extrapatrimonial, consistente na
lesão da confiança depositada pelos consumidores no anúncio
publicitário, e presente o nexo de causalidade entre o dano e a
conduta da requerida, nasce o dever de repará-lo, cabendo
indenização pelos danos causados.
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sendo procedente o pedido formulado, a divulgar extrato da sentença
de forma tão eficaz quanto a que utilizou para divulgar sua
publicidade enganosa.
assim não fizer, caberá ao autor coletivo zelar pela observância do princípio da
ampla publicidade da sentença, providenciando inclusive a divulgação da notícia da
condenação pelos meios de comunicação de massa, nos termos do art. 94, sob
pena de a condenação tornar-se inócua” (Código brasileiro de defesa do
consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed. Rio de Janeiro :
Forense Universitária, 2001).
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TJRS, Apelação Cível nº 599262870, rel. Henrique Osvaldo Poeta Roenick, j.
5.8.1999, 14ª Câmara Civil.
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obrigação de fazer e de não fazer por parte da requerida. A primeira
consistente em alterar seu material publicitário para adequá-lo
ao Código de Defesa do Consumidor. A segunda para determinar que
a requerida não permita aos alunos e aos professores do Curso de
Optometria o exercício de atos privativos de médico nas
dependências da UnC ou, de qualquer modo, sob sua supervisão ou
controle.
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ser ainda determinada a busca e apreensão de todos os
equipamentos da “clínica de optometria” da requerida, mediante
requisição de força policial, se for o caso, conforme admite o §5º do
art. 84 do Código de Defesa do Consumidor.
7. Pedidos
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judicial dos itens “c” e “d”, fixada em R$ 10.000,00 para cada
determinação;
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nº XXX, proposta pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina,
Comarca de Canoinhas);
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