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Nem aprovação automática nem reprovação

por Ricardo Falzetta 12/12/2017 10:10

Crianças pintando | João Bittar/MEC


Aprovar ou reprovar o aluno que não obteve
desempenho mínimo para prosseguir adiante
na trajetória escolar é a “escolha de Sofia” de
educadores e pais ao final de cada ano letivo.
As duas opções são igualmente trágicas para o
aluno, uma vez que ambas não combinam
com o princípio da Educação como direito.
A reprovação foi, por muito tempo, sinônimo
de educar – ou o aluno sabe os conteúdos ou
não merece ser promovido.

O País já bateu recordes nesse quesito e continua acumulando as mais altas taxas de reprovação de
estudantes entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). O senso comum, por falta de informação qualificada, ainda insiste que falta retenção
escolar no Brasil. O custo dessa prática é tanto pedagógico quanto financeiro, uma vez que ela não
só impulsiona a evasão, como apontam os especialistas, mas retira dos cofres brasileiros cerca de
R$ 14 bilhões por ano, segundo estudo recente do economista Ricardo Paes de Barros.
A questão do fluxo escolar no Brasil é bastante complexa. Para citar apenas alguns pontos, é preciso
levar em conta que os alunos trazem, por exemplo, características socioeconômicas e familiares que
impactam na aprendizagem, assim como situações de violência e de falta de acesso a bens culturais.
Esse contexto deve estar na base do projeto político pedagógico (PPP) da escola e do planejamento
das ações pedagógicas, desde a formação continuada até a gestão da sala de aula. Nessa visão, fica
reduzido o aspecto meramente meritório das avaliações.
Por outro lado, a aprovação automática de estudantes que não estão recebendo a Educação a que
têm direito e, por isso, não aprendem, é outro modo de sabotar o futuro deles. Um aluno que
prossegue na vida escolar cheio de dúvidas e sem meio de saná-las não terá ferramentas para
enfrentar os desafios que surgirão nas etapas escolares subsequentes e na vida.
Infelizmente, essa tem sido a realidade do nosso sistema público de ensino. Os índices de
analfabetismo funcional confirmam esse problema. De acordo com o Indicador de Alfabetismo
Funcional (Inaf), a cada 10 brasileiros, quatro têm apenas conhecimento elementar em leitura e
escrita. Ou seja: são brasileiros excluídos de uma série de saberes importantes para a obtenção de
cidadania plena e do desenvolvimento pessoal.
Parece que estamos diante de um dilema, já que o aluno que não aprende acaba sendo punido de
qualquer modo. Nem reprovação nem aprovação automática darão aos brasileiros o direito a acessar
a cultura e o conhecimento. A única opção viável é o caminho do meio, aliás, o mais longo. Sem
atalhos, precisamos apostar naquilo que tem se revelado, pela experiência de outros países, a opção
mais acertada: a progressão nos anos letivos combinada a atividades de acompanhamento e
recuperação pedagógica.
Contudo, a alternativa requer esforço. Primeiro, porque exige preparo da instituição de ensino, dos
docentes e das famílias para a compreensão de que recuperar aprendizagem é algo eficiente e pode
ser feito com mudanças na metodologia de ensino. Segundo, porque, muitas vezes, essas atividades
exigem um acompanhamento integral do aluno, incluindo o enfrentamento de situações
problemáticas vivenciadas fora da escola, mas que afetam os estudos. Terceiro, porque todas essas
boas práticas exigem mais planejamento, mais recursos, gestão e a migração de uma cultura escolar
de punição e mérito para a garantia de direitos.
Nada disso é simples. Mas é possível. Se seu filho ou aluno não obteve a média mínima de
aprendizagem, não está tudo bem, muito pelo contrário. Família e escola (toda a instituição e não
apenas o professor) devem apostar no diálogo, envolvendo o aluno, para projetar conteúdos e
práticas que desafiem e instiguem o intelecto dos estudante com baixo desempenho.
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/todos-pela-educacao/post/nem-aprovacao-automatica-nem-reprovacao.html

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