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Nepotismo, democracia, cidadania


João Baptista Herkenhoff

Publicado em 05/2005. Elaborado em 04/2005.

            Nepotismo, segundo define o Dicionário Houaiss, é o


favoritismo para com parentes, especialmente pelo
poder público.

            A proibição da prática do nepotismo decorre do sistema


democrático. Uma boa interpretação da Constituição
Federal de 1988, com
recurso à exegese sistemática e teleológica, já deixaria ao desamparo, em
qualquer hipótese, a
contratação de parentes por parentes, no serviço
público.

            Mas, nesta matéria, os vícios são arraigados. As


pormenorizações, os fechamentos de atalhos passam a ser
indispensáveis para
coibir os abusos.

            O concurso como forma de ingresso no serviço público está


expressamente consagrado no texto
constitucional. Há uma única possibilidade
de entrada sem concurso. A exceção socorre o ex-combatente que tenha
participado efetivamente de operações bélicas durante a Segunda Guerra
Mundial. Ainda que esse artigo tenha
pouca eficácia hoje, uma vez que a Segunda
Guerra terminou em 1945, vale pelo sentido cívico que carrega.

            A proibição de servir o servidor público sob a direção


imediata de cônjuge ou parente é outra medida
moralizadora.

            Providência de combate eficaz ao nepotismo está na


redução do número de cargos comissionados nos
poderes Legislativo,
Judiciário e Executivo. Esta providência vem sendo defendida pelo coordenador
executivo da
organização não-governamental Transparência Brasil, Cláudio
Abramo.

            A pesquisa nas fontes históricas revela a origem popular da


luta contra o nepotismo.

            A Constituinte que votou a Carta Magna de 1988 recepcionou


emendas populares, isto é, emendas
apresentadas por organizações da sociedade
civil e subscritas por cidadãos.

            As emendas populares de número 15 e 31 advogaram a


obrigatoriedade do concurso, como forma de
ingresso no serviço público.
Patrocinaram referidas emendas a Mitra Arquidiocesana do Rio de Janeiro, a
Cáritas, a
Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, a Associação de
Moradores do Alagamar, o Clube de Mães
Guiomar Ramos e um Centro
Sócio-Cultural do Rio Grande do Norte.

            Nos mais diversos Estados da Federação, Comitês


Pró-Participação Popular na Constituinte retomaram a
bandeira federal e a
fizeram bandeira estadual. Como resultado da pressão popular, em alguns Estados
da
Federação estabeleceram-se preceitos moralizadores até mais precisos do
que os previstos pela Constituição da
República.

            É extremamente relevante que se lute contra o nepotismo.


Porta digna para entrar no serviço público é o
concurso. A janela é, de
longa tradição até na literatura, a entrada dos salteadores.

            Em todos os cargos, em todos os Poderes, em todas as órbitas


de governo, os critérios de ingresso e de
promoção, nas diversas carreiras,
devem ser baseados no mérito.

            Concursos transparentes constituem um estímulo para os


jovens. Ao contrário disso, entradas oblíquas,
etiquetas de família,
concursos à moda da casa, cargos hereditariamente obtidos pelo critério de
suposto sangue azul
são formas de corrupção que atentam contra a cidadania.

Autor

João Baptista Herkenhoff


Magistrado aposentado (ES), professor, escritor, palestrante. Autor, dentre outros livros, de: Direito e
Utopia (Livraria do Advogado Editora, Porto Alegre).

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www.joaobaptista.com

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Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

HERKENHOFF, João Baptista. Nepotismo, democracia, cidadania. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10,
n. 672, 8 maio 2005.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6700>. Acesso em: 22 maio 2018.

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