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Concentrações de gases do efeito estufa
são maiores em 800 mil anos
Temperatura média aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012.
Relatório pede fim de gases que provocam efeito estufa até 2100.
Da France Presse
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As concentrações de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera alcançaram o nível mais
elevado dos últimos 800 mil anos, anunciaram especialistas em um relatório divulgado neste domingo
(2) em Copenhague, na Dinamarca.
Pesquisadores divulgaram relatório em Copenhague, na Dinamarca (Foto: Eld Navntoft/Scanpix Denmark/AFP)
temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012, um
aquecimento de velocidade inédita, destacou o Painel Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Segundo os cientistas, o mundo tem pouco tempo para conseguir manter o aumento global da
temperatura abaixo do limite de 2ºC, a meta da comunidade internacional.
As emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem ser reduzidas de 40 a 70%
entre 2010 e 2050 e desaparecer até 2100, anunciou o IPCC, no relatório mais completo sobre as
mudanças climáticas desde 2007.
O relatório científico do IPCC serve de base para as negociações entre os países sobre medida para
reduzir as emissões de gasesestufa.
De acordo com o relatório, a Terra caminha atualmente para um aumento de pelo menos 4ºC até
2100 na comparação com nível da era préindustrial, o que provocará grandes secas, inundações,
aumento do nível do mar e extinção de muitas espécies, além de fome, populações deslocadas e
conflitos potenciais.
"A justificativa científica para dar prioridade a uma ação contra a mudança climática é mais clara que
nunca", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
"Temos pouco tempo pela frente antes que passe a janela de oportunidade para permanecer abaixo
dos 2ºC".
O relatório a primeira revisão global do IPCC desde 2007 foi divulgado antes das negociações de
dezembro em Lima, que pretendem traçar o caminho para a grande reunião de dezembro de 2015
em Paris, que tem como meta a assinatura de um compromisso para alcançar a meta dos 2ºC.
As negociações esbarram há vários anos no debate sobre quais países deveriam assumir o custo da
redução das emissões de gases do efeito estufa, que procedem principalmente do petróleo, gás e
carvão, que atualmente constituem grande parte da energia consumida.
O documento afirma que o uso de energias renováveis, o aumento da eficiência energética e o
desenvolvimento de outras medidas destinadas a limitar as emissões custaria muito menos que
enfrentar as consequências do aquecimento global.
A conta a pagar atualmente para atingir a meta ainda é possível, mas adiar a resposta aumentaria
consideravelmente a fatura para as gerações futuras.
"Os custos das políticas de limitação variam, mas o crescimento mundial não seria gravemente
afetado", afirma o IPCC, que calcula que curvas "ambiciosas" de redução de carbono provocarão uma
queda de apenas 0,06% no crescimento mundial neste século, que deve ser em média anual de entre
1,6 e 3%.
"Comparado ao risco iminente dos efeitos irreversíveis da mudança climática, os riscos a assumir
para alcançar uma redução são administráveis", destaca Youba Sokona, um dos cientistas
responsáveis pelo relatório.
De acordo com o cenário de emissões mais otimista dos quatro citados no documento, a temperatura
média do planeta aumentará este ano entre 0,3 e 1,7 ºC, o que levará a uma alta de 26 a 55 cm do
nível do mar.
Segundo a hipótese mais alarmista, o planeta terá um aquecimento de entre 2,6 e 4,8ºC, o que
provocará um aumento de entre 45 e 82 cm do nível do mar.
O relatório adverte, sem rodeios, que caso as tendências atuais sejam mantidas, "a mudança
climática tem mais probabilidades de exceder 4ºC que de não fazêlo até 2100", na comparação com
os níveis da era préindustrial.
Risco de dano irreversível
Sem ações adicionais para limitar as emissões, "o aquecimento até o fim do século XXI conduzirá a
um risco de impacto irreversível generalizado a nível global", destaca o IPCC.
O relatório adverte para os riscos como consequência de um sistema climático alterado:
agravamento da segurança alimentar, com impacto nas colheitas de grãos e na pesca;
aceleração da extinção das espécies e dano ao ecossistemas dos quais o ser humano depende;
correntes migratórias provocadas pelo impacto econômico dos danos da mudança climática e a
perda de terras em consequência do aumento do nível do mar;
maior escassez de água, especialmente nas regiões subtropicais, mas também um risco de maiores
inundações nas latitudes do norte e do Pacífico equatorial;
riscos de conflitos por causa da escassez de recursos e impacto sobre a saúde provocado pelas
ondas de calor e a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos.
Se as emissões de CO2 prosseguirem a longo prazo, a acidificação dos oceanos e o aumento do
nível dos mares continuará nos próximos séculos. O risco a longo prazo permanece desconhecido
sobre uma perda 'abrupta e irreversível' dos gelos antárticos, que provocaria um grande aumento do
nível das águas.
O IPCC foi criado em 1988 para fornecer aos governos informações neutras e objetiva sobre as
mudanças climáticas, seus impactos e as medidas para reverter o problema.
O relatório elaborado por mais de 800 especialistas é o quinto resumo geral da situação publicado nos
26 anos de história do painel.
O documento anterior da mesma importância foi publicado em 2007 e ajudou a preparar a reunião de
cúpula de Copenhague de 2009, que fracassou na tentativa de obter a assinatura de um acordo
global.
Consequências drásticas
O primeiro capítulo afirmava que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o
homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e
2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau.
Sobre as previsões, a primeira parte trouxe também a informação de que há ao menos 66% de
chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2ºC até 2100 em comparação aos níveis pré
industriais (1850 a 1900). Isso se a queima de combustíveis fósseis continuar no ritmo atual e sem o
cumprimento de políticas climáticas já existentes.
Os 259 pesquisadoresautores de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estimaram ainda que,
no pior cenário possível de emissões, o nível do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando
regiões costeiras do planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão no
Hemisfério Norte (leia mais aqui).
Impactos e adaptação
Já o segundo capítulo, lançado no fim de março, concluiu que são "altamente confiáveis" as previsões
de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos ocorram em diferentes partes do planeta
na segunda metade deste século. E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de
emissões nos próximos anos.
O texto aponta que populações pobres de regiões costeiras podem sofrer com o aumento do nível do
mar, altas temperaturas acentuariam o risco de insegurança alimentar e que áreas tropicais da África,
América do Sul e da Ásia devem sofrer com inundações causadas pelo excesso de tempestades.
O documento afirma também que há fortes evidências de uma redução da oferta de água potável em
territórios subtropicais secos, o que aumentaria disputas pelo uso de bacias hidrográficas, além de
uma possível perda de espécies de plantas e animais pela pressão humana, como a poluição e o
desmatamento de florestas (leia mais aqui).
A terceira e última parte afirma que são necessárias mais ações para cortar as emissões de gases de
efeito estufa para limitar o aquecimento do planeta a 2ºC até 2100. Segundo os cientistas, é preciso
abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para evitar o efeito estufa,
que poderá provocar um aumento da temperatura do planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o
que seria um nível catastrófico.