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2/11/2014 08h30 ­ Atualizado em 02/11/2014 09h58

Concentrações de gases do efeito estufa
são maiores em 800 mil anos
Temperatura média aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012.
Relatório pede fim de gases que provocam efeito estufa até 2100.

Da France Presse
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As concentrações de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera alcançaram o nível mais
elevado dos últimos 800 mil anos, anunciaram especialistas em um relatório divulgado neste domingo
(2) em Copenhague, na Dinamarca.

Pesquisadores divulgaram relatório em Copenhague, na Dinamarca (Foto: Eld Navntoft/Scanpix Denmark/AFP)

temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012, um
aquecimento de velocidade inédita, destacou o Painel Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Segundo os cientistas, o mundo tem pouco tempo para conseguir manter o aumento global da
temperatura abaixo do limite de 2ºC, a meta da comunidade internacional.

As emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem ser reduzidas de 40 a 70%
entre 2010 e 2050 e desaparecer até 2100, anunciou o IPCC, no relatório mais completo sobre as
mudanças climáticas desde 2007.

O relatório científico do IPCC serve de base para as negociações entre os países sobre medida para
reduzir as emissões de gases­estufa.

De acordo com o relatório, a Terra caminha atualmente para um aumento de pelo menos 4ºC até
2100 na comparação com nível da era pré­industrial, o que provocará grandes secas, inundações,
aumento do nível do mar e extinção de muitas espécies, além de fome, populações deslocadas e
conflitos potenciais.

"A justificativa científica para dar prioridade a uma ação contra a mudança climática é mais clara que
nunca", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.

"Temos pouco tempo pela frente antes que passe a janela de oportunidade para permanecer abaixo
dos 2ºC".

O relatório ­ a primeira revisão global do IPCC desde 2007 ­ foi divulgado antes das negociações de
dezembro em Lima, que pretendem traçar o caminho para a grande reunião de dezembro de 2015
em Paris, que tem como meta a assinatura de um compromisso para alcançar a meta dos 2ºC.

As negociações esbarram há vários anos no debate sobre quais países deveriam assumir o custo da
redução das emissões de gases do efeito estufa, que procedem principalmente do petróleo, gás e
carvão, que atualmente constituem grande parte da energia consumida.

O documento afirma que o uso de energias renováveis, o aumento da eficiência energética e o
desenvolvimento de outras medidas destinadas a limitar as emissões custaria muito menos que
enfrentar as consequências do aquecimento global.

A conta a pagar atualmente para atingir a meta ainda é possível, mas adiar a resposta aumentaria
consideravelmente a fatura para as gerações futuras.

"Os custos das políticas de limitação variam, mas o crescimento mundial não seria gravemente
afetado", afirma o IPCC, que calcula que curvas "ambiciosas" de redução de carbono provocarão uma
queda de apenas 0,06% no crescimento mundial neste século, que deve ser em média anual de entre
1,6 e 3%.

"Comparado ao risco iminente dos efeitos irreversíveis da mudança climática, os riscos a assumir
para alcançar uma redução são administráveis", destaca Youba Sokona, um dos cientistas
responsáveis pelo relatório.

De acordo com o cenário de emissões mais otimista dos quatro citados no documento, a temperatura
média do planeta aumentará este ano entre 0,3 e 1,7 ºC, o que levará a uma alta de 26 a 55 cm do
nível do mar.

Segundo a hipótese mais alarmista, o planeta terá um aquecimento de entre 2,6 e 4,8ºC, o que
provocará um aumento de entre 45 e 82 cm do nível do mar.

O relatório adverte, sem rodeios, que caso as tendências atuais sejam mantidas, "a mudança
climática tem mais probabilidades de exceder 4ºC que de não fazê­lo até 2100", na comparação com
os níveis da era pré­industrial.

Risco de dano irreversível
Sem ações adicionais para limitar as emissões, "o aquecimento até o fim do século XXI conduzirá a
um risco de impacto irreversível generalizado a nível global", destaca o IPCC.

O relatório adverte para os riscos como consequência de um sistema climático alterado:

­ agravamento da segurança alimentar, com impacto nas colheitas de grãos e na pesca;

­ aceleração da extinção das espécies e dano ao ecossistemas dos quais o ser humano depende;

­ correntes migratórias provocadas pelo impacto econômico dos danos da mudança climática e a
perda de terras em consequência do aumento do nível do mar;

­ maior escassez de água, especialmente nas regiões subtropicais, mas também um risco de maiores
inundações nas latitudes do norte e do Pacífico equatorial;

­ riscos de conflitos por causa da escassez de recursos e impacto sobre a saúde provocado pelas
ondas de calor e a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos.

Se as emissões de CO2 prosseguirem a longo prazo, a acidificação dos oceanos e o aumento do
nível dos mares continuará nos próximos séculos. O risco a longo prazo permanece desconhecido
sobre uma perda 'abrupta e irreversível' dos gelos antárticos, que provocaria um grande aumento do
nível das águas.

O IPCC foi criado em 1988 para fornecer aos governos informações neutras e objetiva sobre as
mudanças climáticas, seus impactos e as medidas para reverter o problema.

O relatório elaborado por mais de 800 especialistas é o quinto resumo geral da situação publicado nos
26 anos de história do painel.

O documento anterior da mesma importância foi publicado em 2007 e ajudou a preparar a reunião de
cúpula de Copenhague de 2009, que fracassou na tentativa de obter a assinatura de um acordo
global.

Consequências drásticas
O primeiro capítulo afirmava que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o
homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e
2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau.
Sobre as previsões, a primeira parte trouxe também a informação de que há ao menos 66% de
chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2ºC até 2100 em comparação aos níveis pré­
industriais (1850 a 1900). Isso se a queima de combustíveis fósseis continuar no ritmo atual e sem o
cumprimento de políticas climáticas já existentes.

Os 259 pesquisadores­autores de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estimaram ainda que,
no pior cenário possível de emissões, o nível do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando
regiões costeiras do planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão no
Hemisfério Norte (leia mais aqui).

Impactos e adaptação
Já o segundo capítulo, lançado no fim de março, concluiu que são "altamente confiáveis" as previsões
de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos ocorram em diferentes partes do planeta
na segunda metade deste século. E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de
emissões nos próximos anos.

O texto aponta que populações pobres de regiões costeiras podem sofrer com o aumento do nível do
mar, altas temperaturas acentuariam o risco de insegurança alimentar e que áreas tropicais da África,
América do Sul e da Ásia devem sofrer com inundações causadas pelo excesso de tempestades.

O documento afirma também que há fortes evidências de uma redução da oferta de água potável em
territórios subtropicais secos, o que aumentaria disputas pelo uso de bacias hidrográficas, além de
uma possível perda de espécies de plantas e animais pela pressão humana, como a poluição e o
desmatamento de florestas (leia mais aqui).

A terceira e última parte afirma que são necessárias mais ações para cortar as emissões de gases de
efeito estufa para limitar o aquecimento do planeta a 2ºC até 2100. Segundo os cientistas, é preciso
abandonar os combustíveis fósseis poluentes e utilizar fontes mais limpas para evitar o efeito estufa,
que poderá provocar um aumento da temperatura do planeta entre 3,7ºC e 4,8ºC antes de 2100, o
que seria um nível catastrófico.

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