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Informativo STF Mensal

Brasília, agosto de 2010 - nº 1


Compilação dos Informativos nºs 594 a 598

O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

SUMÁRIO

Direito Civil e Processual Civil

Ação Rescisória
Ação Rescisória e Necessidade de Nova Procuração
Recursos
Efeito Suspensivo a RE e Repercussão Geral

Direito Constitucional

Ação Civil Pública


Legitimidade do Ministério Público: Ação Civil Pública e Anulação de TARE - 5 e 6
Ministério Público: Ação Civil Pública e Saneamento
Ação Civil Pública e Legitimidade do Ministério Público - 3
Controle de Constitucionalidade
Atividades de Consultoria e Assessoramento e Exclusividade
ADI e Sistema Brasileiro de Televisão Digital - 1 e 2
Extradição
Nota Verbal e Referência a Ofício do Governo Requerente
Mandado de Segurança
TDAs: Pagamento Integral e Ordem Cronológica - 2 e 3
Indenização a Anistiado: MS e Valores Retroativos
Serviços Notariais e de Registro
Serventia Extrajudicial: Aposentadoria Compulsória e Novo Titular Concursado - 1 e 2

Direito Penal

Aplicação da Lei Penal no Tempo: Combinação de Leis Penais


Tráfico de Drogas e Combinação de Leis
Crime Continuado
Furto e Roubo: Continuidade Delitiva
Estupro e Atentado Violento ao Pudor: Lei 12.015/2009 e Continuidade Delitiva
Penas
Maus Antecedentes e Reincidência: “Non Bis in Idem”
Prescrição
Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição
Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição
Princípios e Garantias Penais
Princípio da Insignificância e Crime de Roubo - 2
Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância
Ato Infracional e Princípio da Insignificância
Tipicidade
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial

Direito Processual Penal

Ação Penal
Crime contra o Sistema Financeiro Nacional e Autoria - 7
Deserção: Diligência e Cerceamento de Defesa
Tráfico de Drogas e Exercício Ilegal da Medicina - 1 e 2
Trancamento de Ação Penal e “Bis in Idem”
Carta Rogatória
Não conhecimento de HC: “Exequatur” e Auxílio Judiciário - 1 e 2
Competência
Prevenção: Redistribuição do Feito e Atos Decisórios
Competência da Justiça Militar: Agentes Civis e Excepcionalidade
Habeas Corpus
“Habeas Corpus” e Princípio da Colegialidade
Demora no Julgamento de HC
Negativa de Prestação Jurisdicional
Liberdade Provisória
Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas
Nulidades
Audiência de Instrução: Inversão na Formulação de Perguntas e Nulidade
Defesa Técnica e Nulidade
Tribunal do Júri: Alegações Finais e Intimação do Advogado
Tribunal do Júri: Nulidades e Dosimetria da Pena
Princípios Processuais Penais
Condenação e Elementos Coligidos em Inquérito Policial - 2
Prisão
Prisão Cautelar: Fundamentação e Cota Ministerial
Prisão Cautelar: Fundamentação e Excesso de Prazo
Prisão Cautelar e Fuga
Prisão Cautelar e Fundamentação
Prisão Cautelar: Excesso de Prazo e Nova Decretação
Gravidade em Abstrato do Delito e Prisão Preventiva
Procedimento do Tribunal do Júri
Desaforamento e Popularidade da Vítima
Progressão de Regime
Tráfico de Drogas: Liberdade Provisória e Progressão de Regime
Recursos
Suspensão de Prazo: Portaria do STJ e Tempestividade
Apelação: Efeito Devolutivo e “Reformatio In Pejus”
Direito Tributário

Imunidade Tributária
Base de Cálculo da CSLL e da CPMF: Receitas Oriundas das Operações de Exportação - 5 e 6
Art. 149, § 2º, I, da CF e CPMF - 2
CODESP e Imunidade - 3 e 4

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL


Ação Rescisória

Ação Rescisória e Necessidade de Nova Procuração


A propositura de ação rescisória exige a juntada de instrumento de mandato original assinado pelo
outorgante, mesmo que a procuração concernente à ação subjacente confira poderes específicos para a
rescisória. Ao reafirmar essa orientação, o Tribunal, por maioria, negou provimento a agravo regimental
interposto contra decisão da Min. Ellen Gracie que concedera prazo para que os agravantes
regularizassem sua representação processual na ação rescisória, da qual relatora, sob pena de inépcia.
Preliminarmente, o Tribunal, também por maioria, aplicou a jurisprudência da Corte segundo a qual não
cabem embargos de declaração contra despacho monocrático do relator, e conheceu de embargos como
agravo regimental. Vencido o Min. Marco Aurélio que não convertia os embargos e provia o recurso ao
fundamento de que não se poderia limitar a vigência do instrumento de mandato credenciado ao
profissional da advocacia, tendo em conta que os poderes teriam sido outorgados por prazo
indeterminado.
AR 2156 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2156)
AR 2183 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2183)
AR 2202 ED/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 18.8.2010. (AR-2202)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 596, Plenário)

Recursos

Efeito Suspensivo a RE e Repercussão Geral


A Turma referendou decisão proferida pelo Min. Celso de Mello em ação cautelar, da qual relator,
que deferira medida cautelar para atribuir efeito suspensivo ao RE 601914/DF, cujo sobrestamento fora
determinado até final julgamento do RE 568645/SP, em que reconhecida a repercussão geral da matéria.
Trata-se, na espécie, de ação cautelar ajuizada pelo Distrito Federal, objetivando inibir a expedição de
requisição de pagamento de valores supostamente devidos a servidor. Salientou-se que a questão de fundo
envolveria controvérsia relativa à expedição de precatórios ou requisições referentes a débitos de pequeno
valor e ao parcelamento do montante total nos casos de litisconsórcio facultativo ou de ação coletiva.
Precedente citado: AC 2074 MC/SP (DJU de 12.12.2008).
AC 2639 Referendo-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 10.8.2010. (AC-2639)
(Informativo 595, 2ª Turma)

DIREITO CONSTITUCIONAL
Ação Civil Pública

Legitimidade do Ministério Público: Ação Civil Pública e Anulação de TARE - 5


O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública com o objetivo de anular
Termo de Acordo de Regime Especial - TARE firmado entre o Distrito Federal e empresas beneficiárias
de redução fiscal. Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, proveu recurso extraordinário
interposto contra acórdão do STJ que afastara essa legitimidade — v. Informativos 510, 545 e 563. Na
espécie, alegava o Ministério Público, na ação civil pública sob exame, que a Secretaria de Fazenda do
Distrito Federal, ao deixar de observar os parâmetros fixados no próprio Decreto regulamentar, teria
editado a Portaria 292/99, que estabeleceu percentuais de crédito fixos para os produtos que enumera,
tanto para as saídas internas quanto para as interestaduais, reduzindo, com isso, o valor que deveria ser
recolhido a título de ICMS. Sustentava que, ao fim dos 12 meses de vigência do acordo, o Subsecretário
da Receita do DF teria descumprido o disposto no art. 36, § 1º, da Lei Complementar federal 87/96 e nos
artigos 37 e 38 da Lei distrital 1.254/96, ao não proceder à apuração do imposto devido, com base na
escrituração regular do contribuinte, computando eventuais diferenças positivas ou negativas, para o
efeito de pagamento. Afirmava, por fim, que o TARE em questão causara prejuízo mensal ao DF que
variava entre 2,5% a 4%, nas saídas interestaduais, e entre 1% a 4,5%, nas saídas internas, do ICMS
devido.
RE 576155/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.8.2010. (RE-576155)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário, Repercussão Geral)
Legitimidade do Ministério Público: Ação Civil Pública e Anulação de TARE - 6
Entendeu-se que a ação civil pública ajuizada contra o citado TARE não estaria limitada à proteção
de interesse individual, mas abrangeria interesses metaindividuais, pois o referido acordo, ao beneficiar
uma empresa privada e garantir-lhe o regime especial de apuração do ICMS, poderia, em tese, implicar
lesão ao patrimônio público, fato que, por si só, legitimaria a atuação do parquet, tendo em conta,
sobretudo, as condições nas quais celebrado ou executado esse acordo (CF, art. 129, III). Reportou-se, em
seguida, à orientação firmada pela Corte em diversos precedentes no sentido da legitimidade do
Ministério Público para ajuizar ações civis públicas em defesa de interesses metaindividuais, do erário e
do patrimônio público. Asseverou-se não ser possível aplicar, na hipótese, o parágrafo único do art. 1º da
Lei 7.347/85, que veda que o Ministério Público proponha ações civis públicas para veicular pretensões
relativas a matérias tributárias individualizáveis, visto que a citada ação civil pública não teria sido
ajuizada para proteger direito de determinado contribuinte, mas para defender o interesse mais amplo de
todos os cidadãos do Distrito Federal, no que respeita à integridade do erário e à higidez do processo de
arrecadação tributária, o qual apresenta natureza manifestamente metaindividual. No ponto, ressaltou-se
que, ao veicular, em juízo, a ilegalidade do acordo que concede regime tributário especial a certa
empresa, bem como a omissão do Subsecretário da Receita do DF no que tange à apuração do imposto
devido, a partir do exame da escrituração do contribuinte beneficiado, o parquet teria agido em defesa do
patrimônio público. Vencidos os Ministros Menezes Direito, Cármen Lúcia, Eros Grau e Gilmar Mendes
que negavam provimento ao recurso.
RE 576155/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.8.2010. (RE-576155)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário, Repercussão Geral)

Ministério Público: Ação Civil Pública e Saneamento


É consentâneo com a ordem jurídica o Ministério Público ajuizar ação civil pública visando ao
tratamento de esgoto a ser jogado em águas fluviais. Com base nesse entendimento, a Turma proveu
recurso extraordinário, interposto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, para afastar a extinção
declarada do feito e determinar o julgamento do tema de fundo veiculado na apelação do Município de
Sorocaba, pronunciando-se o Órgão quanto à remessa obrigatória. Frisou-se que não caberia, no caso,
cogitar-se da impossibilidade jurídica do pedido e da extinção do processo sem julgamento do mérito.
RE 254764/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 24.8.2010. (RE-254764)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Ação Civil Pública e Legitimidade do Ministério Público - 3


A Turma resolveu questão de ordem no sentido de julgar prejudicado recurso extraordinário
interposto contra acórdão de tribunal de justiça que reconhecera, de ofício, a ilegitimidade do Ministério
Público para ajuizar ação civil pública em que pretendida a revisão de cláusulas de contratos de
arrendamento mercantil que prevêem a correção das parcelas de acordo com a variação cambial do dólar
— v. Informativo 405. Esclareceu-se que o parquet estadual, recorrente, confirmara a perda de objeto do
presente recurso, em razão do trânsito em julgado de decisão mediante a qual se extinguira a ação civil
pública originária devido à referida ilegitimidade ativa.
RE 401839 QO/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 31.8.2010. (RE-401839)
(Informativo 598, 1ª Turma)

Controle de Constitucionalidade

Atividades de Consultoria e Assessoramento e Exclusividade


Por vislumbrar ofensa ao art. 132 da CF, o Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação
direta ajuizada pela Associação Nacional dos Procuradores de Estado - ANAPE para declarar a
inconstitucionalidade do Anexo II da Lei Complementar 500/2009, do Estado de Rondônia, no ponto em
que criou os cargos de provimento em comissão de Assessor Jurídico I e Assessor Jurídico II na estrutura
da Superintendência Estadual de Compras e Licitações - SUPEL. Considerou-se que a Constituição
conferiu as atividades de consultoria e assessoramento exclusivamente aos procuradores de Estado,
constituindo a organização em carreira e o ingresso por concurso público de provas e títulos, com
participação da OAB em todas as suas fases, elementos fundamentais para a configuração da necessária
independência desses especiais agentes públicos. Precedentes citados: ADI 1557/DF (DJU de 18.6.2004);
ADI 881 MC/ES (DJU de 25.4.97); ADI 1679/GO (DJU de 21.11.2003).
ADI 4261/RO, rel. Min. Ayres Britto, 2.8.2010. (ADI-4261)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 594, Plenário)

ADI e Sistema Brasileiro de Televisão Digital - 1


O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade - PSOL contra os artigos 7º, 8º, 9º e
10 do Decreto 5.820/2006, que dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital -
SBTVD, estabelece diretrizes para a transição do sistema de transmissão analógica para o sistema de
transmissão digital do serviço de radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de
televisão, e dá outras providências. Repeliu-se, inicialmente, a alegada violação ao art. 223 da CF, ao
fundamento de que o decreto impugnado não outorgaria, modificaria ou renovaria concessão, permissão
ou autorização de serviço de radiodifusão de sons e imagens, e nem prorrogaria qualquer prazo. Explicou-
se que, na verdade, diante de refinada evolução tecnológica e para a instituição no país da tecnologia
digital de transmissão de sons e imagens, sem interrupção da transmissão de sinais analógicos, fizera-se
indispensável a consignação temporária de mais um canal às atuais concessionárias do serviço de
radiodifusão de sons e imagens, a fim de que as emissoras veiculassem, simultaneamente, a mesma
programação nas tecnologias analógica e digital. Ter-se-ia um ato regulamentar do Presidente da
República, com o escopo de manter serviço público adequado tanto relativamente a sua atualidade quanto
a sua continuidade. Ressaltou-se que, em razão disso, durante um período de transição, seria necessário o
uso dobrado — ou de dois canais — do espectro de radiofreqüência para a prestação do mesmo serviço: o
de radiodifusão de sons e imagens. Portanto, a televisão digital não seria um novo serviço em face da
analógica, haja vista tratar-se ainda de transmissão de sons e imagens por meio de ondas radioelétricas.
ADI 3944/DF, rel. Min. Ayres Britto, 5.8.2010. (ADI-3944)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 594, Plenário)

ADI e Sistema Brasileiro de Televisão Digital - 2


Asseverou-se, também, que os dispositivos impugnados não autorizariam, explícita ou
implicitamente, o uso de canais complementares ou adicionais para a prática da multiprogramação.
Observou-se que o item 10.3 da Portaria 24/2009, do Ministro das Comunicações, estaria a corroborar
esse entendimento ao estabelecer que a multiprogramação somente poderá ser realizada nos canais a que
se refere o art. 12 do Decreto 5.820/2006. Além disso, de acordo com o relatório da Fundação CPqD,
responsável pela elaboração de estudos relativos à implantação da TV digital no Brasil, a
multiprogramação só seria tecnicamente possível quando a transmissão se desse na definição padrão de
áudio e vídeo (SD - Standard Definition). Esclareceu-se, no ponto, que, para a transmissão de sons e
imagens em alta definição (HD - High Definition) — uma das características mais esperadas da TV
digital — se tornar exequível, seria preciso o uso de quase toda a faixa de 6 Mhz do espectro de
radiofreqüências. Ou seja, sem a consignação do canal completo de 6 Mhz, a viabilizar a prestação de um
serviço adequado, de alta definição e qualidade, a televisão brasileira estaria restrita à transmissão de
áudio e vídeo na definição meramente padronizada (SD). Rejeitou-se, ademais, a apontada afronta ao § 5º
do art. 220 da CF. Afirmou-se que os artigos 7º a 10 do Decreto 5.820/2006 apenas teriam regulado o
modo de transição da transmissão analógica de sons e imagens para a tecnologia dita digital e que, se
monopólio ou oligopólio estivessem a ocorrer nos meios de comunicação brasileiros, isso não poderia ser
imputado ao ato normativo combatido, cuja declaração de inconstitucionalidade seria inútil para afastar a
suposta ofensa à Constituição. Vencido o Min. Marco Aurélio que dava pela procedência do pleito.
ADI 3944/DF, rel. Min. Ayres Britto, 5.8.2010. (ADI-3944)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 594, Plenário)

Extradição
Nota Verbal e Referência a Ofício do Governo Requerente
O Tribunal deferiu pedido de extradição instrutória formulado pela República Oriental do Uruguai
de nacional uruguaio para fins do processamento de duas ações penais por delitos de homicídio e
indeferiu o de extradição executória que visava ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade de 3
anos e 6 meses, decorrente de condenação pela prática de furtos. No se refere ao pedido de extradição
executória, observou-se que a nota verbal não teria mencionado os delitos de homicídio, mas se reportado
aos autos do processo criminal no Uruguai com o seguinte nome: “três delitos de furto especialmente
agravados em regime de reiteração real”, que constituiria, na verdade, o título do processo. Afirmou-se,
não obstante, que a nota verbal não limitaria o âmbito material das imputações, na medida em que fizera
referência ao ofício do governo uruguaio no qual citados os delitos tanto de furto quanto de homicídio.
Por outro lado, reputou-se indevidamente instruído o pleito executório, porquanto ausentes dos autos a
data do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e informações sobre o tempo de prisão
cautelar cumprida pelo extraditando no Estado requerente, o que inviabilizaria a contagem do prazo
prescricional, tendo em conta a legislação brasileira.
Ext 1153/República Oriental do Uruguai, rel. Min. Ayres Britto, 5.8.2010. (EXT-1153)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 594, Plenário)

Mandado de Segurança

TDAs: Pagamento Integral e Ordem Cronológica - 2


Em conclusão, a Turma, por maioria, desproveu recurso ordinário em mandado de segurança no
qual se alegava quebra de ordem cronológica de pagamento de Títulos da Dívida Agrária - TDAs,
emitidos, em favor do recorrente, no bojo de procedimento de desapropriação de imóvel rural. O
recorrente postulava a suspensão dos pagamentos dos títulos “com vencimentos mais recentes do que os
dos títulos do impetrante, antes do integral pagamento destes, com as diferenças dos Planos Bresser
(8,04%) e/ou Collor (13,89%), devidamente corrigidas até o seu efetivo pagamento e/ou juros moratórios
e/ou compensatórios, devidos até a data em que houver o pagamento integral dos títulos” — v.
Informativo 585. Inicialmente, consignou-se que o recorrente interpusera em 1997, no STJ, ação
mandamental contra ato do Ministro da Fazenda que não teria adimplido os TDAs emitidos antes de
24.6.92, mas pago aos demais credores de TDAs escriturais com vencimentos mais recentes, em
inobservância à ordem cronológica. Poucos meses após a concessão de medida acauteladora — para que
os TDAs dos impetrantes fossem pagos antes de outros mais recentes —, os títulos foram liquidados
naquele mesmo ano de 1997 e o writ extinto por perda de objeto. Ocorre que, em 2000, o recorrente
impetrara o atual mandado de segurança, impugnando, desta vez, a omissão da autoridade coatora em não
efetuar o pagamento de expurgos inflacionários e de juros incidentes sobre o valor de face dos títulos. O
STJ negara seguimento ao writ por reconhecer a decadência do direito à impetração.
RMS 24479/DF, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010.
(RMS-24479)
(Informativo 596, 2ª Turma)

TDAs: Pagamento Integral e Ordem Cronológica - 3


Em razão dos fatos relatados, entendeu-se que já houvera o resgate dos valores principais dos TDAs
e que o recorrente não detinha título — da dívida agrária ou judicial — a reconhecer seu direito às
diferenças dos Planos Bresser e Collor, devidos até a data em que houvesse pagamento integral dos
títulos. Reafirmou-se o entendimento sumulado desta Corte, segundo o qual o mandado de segurança não
é meio adequado para cobrar expurgos e juros. Concluiu-se que, ante a ausência de título a fundamentar a
pretensão do recorrente, inexistiria direito líquido e certo capaz de ser comprovado de plano, não lhe
cabendo, pois, requerer a suspensão do pagamento de TDAs, bem assim alegar omissão da União.
Vencido o Min. Eros Grau, relator, que — por reputar descumprida a ordem cronológica de pagamento de
TDAs — provia o recurso.
RMS 24479/DF, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010.
(RMS-24479)
(Informativo 596, 2ª Turma)
Indenização a Anistiado: MS e Valores Retroativos
A Turma desproveu recurso ordinário em mandado de segurança interposto contra acórdão do STJ
que denegara o writ lá impetrado por entender que aquela medida seria inadequada para o recebimento de
valores atrasados de indenização devida a anistiado político com base na Lei 10.559/2002, ante a ausência
de liquidez e certeza do direito pleiteado. Tratava-se, na origem, de mandado de segurança impetrado em
virtude de expedição de portaria na qual reconhecida a condição de anistiado político do ora recorrente,
concedendo-lhe, por conseguinte, reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação mensal,
permanente e continuada, com efeitos retroativos à data do julgamento. Tendo em conta o transcurso do
prazo de 120 dias para a impetração do writ, reputou-se caracterizada a prejudicial de mérito atinente à
decadência. Afirmou-se que o referido prazo decadencial, próprio do mandado de segurança, ter-se-ia
esgotado em 2004 — ano em que editada a referida portaria — e a iniciativa do ora recorrente teria
ocorrido somente em 2006. Após, salientou-se que a controvérsia, na espécie, não giraria em torno de
relação jurídica de débito continuado quando, presente a periodicidade prevista, há sucessivas violações
ao direito. Nesse sentido, enfatizou-se que o objetivo da impetração seria o recebimento de valor apurado
no âmbito do Ministério da Justiça, ligado a reparação indenizatória a partir de determinada data.
RMS 27434/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 24.8.2010. (RMS-27434)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Serviços Notariais e de Registro

Serventia Extrajudicial: Aposentadoria Compulsória e Novo Titular Concursado - 1


Por considerar que a decisão questionada se limitara a aplicar pacífica jurisprudência do STF, a
Turma, em votação majoritária, recebeu embargos de declaração como agravo regimental — vencido, no
ponto, o Min. Marco Aurélio — e o denegou, à unanimidade, para manter a concessão da segurança.
Impugnava-se, no caso, decisão monocrática do Min. Dias Toffoli que, ao prover recurso extraordinário
do qual relator, declarara a nulidade de portaria que decretara a aposentadoria compulsória, aos 70 anos,
de oficial de registro. Na ocasião, o relator salientara a inconstitucionalidade da aludida portaria, haja
vista a orientação firmada pela Corte no julgamento da ADI 2602/MG (DJU de 31.3.2006), em que
assentada a inaplicabilidade da aposentação compulsória, prevista no art. 40, §1º, II, da CF, a notários e
registradores. O atual ocupante da serventia, ora embargante, alegava que: a) a decisão recorrida padecera
de omissão, ao não se referir à questão concernente à situação dele, na condição de litisconsorte passivo
necessário, que prestara concurso público e, assim, assumira a serventia; b) o impetrante — oficial
registrador aposentado — não postulara a integração do concursado ao pólo passivo da ação
mandamental, o qual nela ingressara voluntariamente, depois de proferida sentença de primeiro grau
denegatória da segurança. Pleiteava, ainda, a sua permanência na serventia, em respeito aos princípios da
segurança jurídica, do direito adquirido e da boa-fé. Alegava que o embargado se insurgira apenas contra
o ato de aposentadoria, mas não contra o concurso — por meio do qual aquele fora investido — que se
seguira depois de declarada a vacância da serventia. Ademais, o embargante afirmava que, à época dos
fatos, a jurisprudência do STF estaria consolidada no sentido da aplicação da aposentadoria compulsória
aos 70 anos de idade aos titulares de serventia extrajudicial, sendo irrepreensível o ato que decretara tal
aposentadoria. Argumentava, também, que o Min. Eros Grau, quando da análise da mencionada ADI,
reconhecera não serem os notários e registradores detentores de cargo público, o que tornaria inviável a
pretendida recondução a uma serventia já ocupada por concursado, e que a Lei 8.935/94 assim disporia,
de modo a vedar tal reintegração administrativa.
RE 556504 ED/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010. (RE-556504)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Serventia Extrajudicial: Aposentadoria Compulsória e Novo Titular Concursado - 2


Inicialmente, rejeitou-se a apontada nulidade do feito, por ausência de citação do concursado na
condição de litisconsorte passivo necessário, haja vista tratar-se de matéria de índole infraconstitucional,
já devidamente decidida pelo STJ, detentor da competência constitucional para sua análise, não havendo
que se falar em omissão do julgado. Asseverou-se que o agravado deveria ser reconduzido ao cargo que
ocupava, cabendo ao agravante demandar contra o Estado. Reputou-se não haver se falar em ofensa ao
princípio da boa-fé ou mesmo ao direito adquirido, pois o agravante pudera escolher dentre diversas
serventias vagas, sendo lícito supor que procedera (ou deveria ter procedido) a uma ampla investigação
sobre os diversos aspectos relacionados ao cartório em que pretendesse fazer incidir sua escolha. Além
disso, observou-se que o agravante mantivera estreito contato com o agravado, com quem negociara
diretamente a aquisição do mobiliário, não podendo alegar, destarte, que ignorava que este buscava a
reversão do decreto da aposentadoria, o que afastaria eventual ofensa ao princípio da segurança jurídica.
Destacou-se, ainda, que a ação mandamental fora impetrada logo após a decretação da aposentadoria,
quando sequer havia sido conferida a outorga ao agravante, o que impediria, por conseguinte, que a
impetração se voltasse contra este ato. Explicitou-se que a vacância decorrera diretamente da
aposentadoria e a anulação desta, abarcaria, necessariamente, os atos que a seguiram, como decorrência
lógica. Dessa forma, a outorga conferida ao agravante, não obstante derivada de regular aprovação em
concurso público de títulos e provas, por estar sujeita ao resultado do julgamento do processo ajuizado
pelo agravado, não poderia subsistir à nulidade do ato que concedera a aposentadoria. Reiterou-se que o
embargante não possuiria direitos a serem resguardados no âmbito do referido mandamus. Consignou-se,
por fim, que a aludida ação direta reconhecera a inconstitucionalidade de ato similar ao objeto desta
impetração, pouco importando, para a sorte da demanda, a natureza de detentor de cargo público, e que o
disposto na Lei 8.935/94, acerca de “reintegração administrativa”, não obstaria uma determinação de
reintegração por ordem judicial, como a proferida neste feito.
RE 556504 ED/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010. (RE-556504)
(Informativo 595, 1ª Turma)

DIREITO PENAL
Aplicação da Lei Penal no Tempo: Combinação de Leis Penais

Tráfico de Drogas e Combinação de Leis


A Turma indeferiu habeas corpus em que condenada por crime de tráfico de drogas praticado sob a
vigência Lei 6.368/76 pretendia fosse aplicada à sua pena-base a causa de diminuição prevista no art. 33,
§ 4º da Lei 11.343/2006 (“§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o
agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa.”). Aduziu-se, de início, que a sentença condenatória considerara diversos fatores
que afastariam a diminuição da pena, tais como maus antecedentes, quantidade de droga apreendida, entre
outros. Destacou-se, ademais, que a nova lei majorou a pena mínima aplicada a tal crime de três para
cinco anos, daí o advento da referida causa de diminuição. Por fim, considerou-se não ser lícito tomar
preceitos isolados de uma e outra lei, pois cada uma delas deve ser analisada em sua totalidade, sob pena
de aplicação de uma terceira lei, criada unicamente pelo intérprete. Declarou-se, ainda, o prejuízo do
pedido de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
HC 103153/MS, rel. Min. Cármen Lúcia, 3.8.2010. (HC-103153)
(Informativo 594, 1ª Turma)

Crime Continuado

Furto e Roubo: Continuidade Delitiva


A Turma reafirmou jurisprudência da Corte no sentido de não haver continuidade delitiva entre os
crimes de roubo e de furto. Em conseqüência, indeferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ
que, ao prover recurso especial, interposto pelo Ministério Público estadual, reputara não configurada a
continuidade delitiva entre os crimes de roubo majorado e de furto qualificado. Considerou-se que os
referidos delitos são de espécies distintas, uma vez que o furto tem como bem jurídico violado somente o
patrimônio, enquanto o roubo, crime pluriofensivo e complexo, ofende o patrimônio, a liberdade
individual e a integridade física da vítima, o que afasta o nexo de continuidade e enseja a aplicação da
regra do concurso material. Alguns precedentes citados: HC 70360/SP (DJU de 3.6.94); RE 85425/SP
(DJU de 15.4.77).
HC 97057/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.8.2010. (HC-97057)
(Informativo 594, 2ª Turma)

Estupro e Atentado Violento ao Pudor: Lei 12.015/2009 e Continuidade Delitiva


Em observância ao princípio constitucional da retroatividade da lei penal mais benéfica (CF, art. 5º,
XL), deve ser reconhecida a continuidade delitiva aos crimes de estupro e atentado violento ao pudor
praticados anteriormente à vigência da Lei 12.015/2009 e nas mesmas condições de tempo, lugar e
maneira de execução. Com base nesse entendimento, a Turma concedeu habeas corpus de ofício para
determinar ao juiz da execução, nos termos do enunciado da Súmula 611 do STF, que realize nova
dosimetria da pena, de acordo com a regra do art. 71 do CP. Tratava-se, na espécie, de writ no qual
condenado em concurso material pela prática de tais delitos, pleiteava a absorção do atentado violento ao
pudor pelo estupro e, subsidiariamente, o reconhecimento da continuidade delitiva. Preliminarmente, não
se conheceu da impetração. Considerou-se que a tese defensiva implicaria reexame de fatos e provas,
inadmissível na sede eleita. Por outro lado, embora a matéria relativa à continuidade delitiva não tivesse
sido apreciada pelas instâncias inferiores, à luz da nova legislação, ressaltou-se que a citada lei uniu os
dois ilícitos em um único tipo penal, não mais havendo se falar em espécies distintas de crimes. Ademais,
elementos nos autos evidenciariam que os atos imputados ao paciente teriam sido perpetrados nas
mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução.
HC 96818/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010. (HC-96818)
(Informativo 595, 2ª Turma)

Penas

Maus Antecedentes e Reincidência: “Non Bis in Idem”


A utilização de condenações distintas e com trânsito em julgado, para fins de aumento de pena por
maus antecedentes e reincidência, não viola o princípio do non bis in idem. Com base nesse
entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus nos quais se pleiteava a redução das penas impostas aos
pacientes, com o afastamento da exasperação relativa aos antecedentes desabonadores. Inicialmente,
registrou-se não se estar diante do mesmo tema que se encontra pendente de julgamento pelo Plenário da
Corte concernente à possibilidade de reconhecimento de inquéritos policiais e ações penais em curso
como maus antecedentes. Em seguida, reputou-se razoável que — no caso de diferentes condenações
pretéritas com trânsito em julgado — uma delas fosse utilizada para caracterizar os maus antecedentes
(CP, art. 59), na fixação da pena-base, e outra, para considerar a reincidência, como agravante, na
segunda fase da dosimetria penal (CP, art. 61, I). Precedentes citados: HC 99044/SP (DJE de 21.5.2010);
HC 94846/RS (DJE de 24.10.2008).
HC 96771/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010. (HC-96771)
HC 101832/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010. (HC-101832)
HC 96961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010. (HC-96961)
(Informativo 596, 2ª Turma)

Prescrição

Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição


O crime de estelionato previdenciário é instantâneo de efeitos permanentes, portanto, consuma-se
com o recebimento da primeira prestação do benefício indevido. De acordo com essa orientação, a Turma
deferiu habeas corpus impetrado em favor de condenada à pena de dois anos de reclusão pela prática do
delito descrito no art. 251 do CPM (“Art. 251. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio
fraudulento”), para reconhecer a prescrição da pretensão punitiva, considerada a pena em concreto.
Registrou-se que as condutas delituosas teriam se iniciado em maio de 1998 e o lapso temporal
compreendido entre a consumação do ilícito e o recebimento da denúncia teria ultrapassado 4 anos.
HC 103407/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010.(HC-103407)
(Informativo 595, 2ª Turma)

Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição


A Turma concedeu, em parte, habeas corpus e reconheceu que a fraude perpetrada por terceiros no
estelionato previdenciário consubstancia crime instantâneo de efeitos permanentes. Inicialmente, superou-
se a alegada violação ao princípio da colegialidade, pois a decisão monocrática proferida pelo STJ fora
fundamentada na orientação jurisprudencial dominante naquela Corte, a permitir a atuação do relator
(CPC, art. 557, § 1º-A). Frisou-se que, ao julgar o HC 86467/RS (DJU de 22.6.2007), o STF alterara a
jurisprudência, até então consolidada, em matéria de prescrição do crime de estelionato previdenciário, ao
reputar que a conduta deve ser classificada como crime instantâneo de efeitos permanentes. Lembrou-se
que o mencionado precedente estabelece como marco inicial da contagem do prazo prescricional a data
em que ocorreu o pagamento indevido da primeira parcela, ocasião em que o dano ter-se-ia aperfeiçoado.
Destacou-se que o entendimento não seria válido para o beneficiário da fraude perpetrada, mas apenas
para aquela pessoa que falsificara os dados que possibilitaram ao beneficiário receber as prestações
indevidas. Tendo em conta que o habeas não estaria instruído com cópia dos atos que demonstrariam de
forma inequívoca os marcos interruptivos da prescrição, remeteu-se ao juízo competente a análise da
ocorrência dela. Por fim, enfatizou-se que, na hipótese da não extinção da punibilidade, a execução da
pena deverá ter início imediato.
HC 91716/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 31.8.2010. (HC-91716)
(Informativo 598, 2ª Turma)

Princípios e Garantias Penais

Princípio da Insignificância e Crime de Roubo - 2


Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus no qual a Defensoria
Pública da União pleiteava o reconhecimento do princípio da insignificância em favor de condenado por
roubo majorado pelo concurso de pessoas (CP, art. 157, § 2º, II) — v. Informativo 567. Na espécie o
paciente, em companhia de dois adolescentes, empregara grave ameaça, simulando portar arma de fogo
sob a camiseta, e subtraíra a quantia de R$ 3,25. Enfatizou-se que, apesar de ínfimo o valor subtraído,
houvera concurso de pessoas, dentre as quais adolescentes, o que agravaria o contexto. Reportou-se,
ademais, à jurisprudência do STF no sentido de ser inaplicável o princípio da insignificância ao delito de
roubo. O Min. Ayres Britto destacou que o reconhecimento do mencionado princípio, na situação
concreta dos autos, poderia servir como estímulo à prática criminosa. Vencido o Min. Marco Aurélio que
deferia o writ por concluir pela insignificância do procedimento, ante a peculiaridade da situação.
HC 97190/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010. (HC-97190)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância


A Turma, ao aplicar o princípio da insignificância, deferiu dois habeas corpus em favor de militares
condenados pela prática do delito previsto no art. 290 do CPM (“Receber, preparar, produzir, vender,
fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso
próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que
determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à administração militar, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar”), surpreendidos na posse de quantidade ínfima
de substância entorpecente no interior de organização militar. Considerou-se que, enquanto não concluído
o julgamento do HC 94685/CE (v. Informativos 519 e 526) pelo Plenário, no qual se discute o mesmo
tema versado nestas impetrações, deveria ser preservada a jurisprudência firmada pela Turma no sentido
de incidir o aludido postulado nas hipóteses semelhantes às situações ora analisadas. Por fim, tendo em
conta o pleito subsidiário de aplicação do art. 28 da Lei 11.343/2006, asseverou-se, que a utilização do
princípio da insignificância teria efeito mais abrangente e radical.
HC 97131/RS, rel. Min. Celso de Mello, 10.8.2010. (HC-97131)
HC 101759/MG, rel. Min. Celso de Mello, 10.8.2010. (HC-101759)
(Informativo 595, 2ª Turma)

Ato Infracional e Princípio da Insignificância


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia a extinção de procedimento
judicial de aplicação de medida sócio-educativa de prestação de serviços à comunidade a menor
inimputável, instaurado em razão da prática de ato infracional equiparado ao crime de furto. Na espécie, o
bem subtraído — uma bicicleta —, devidamente restituído à vítima, havia sido avaliado em cento e vinte
reais, o que, segundo a impetração, implicaria a incidência do princípio da insignificância ao fato.
Reputou-se necessário não considerar, à luz do referido postulado, apenas o valor pretendido à subtração,
sob pena de deixar de existir a modalidade tentada de vários delitos. Nesse sentido, aduziu-se que não se
poderia confundir o pequeno valor do objeto material do delito com a irrelevância da conduta do agente.
Ressaltou-se, ademais, que o bem fora restituído por circunstâncias alheias à vontade do paciente —
abordado por policiais na posse da bicicleta — e que ele possuiria envolvimento com drogas, utilizando-
se da prática reiterada de atos contra o patrimônio para manter o vício. Destacou-se, por fim, que a
medida sócio-educativa imposta seria proporcional ao ato perpetrado e imperiosa à reintegração plena do
menor à sociedade. Vencido o Min. Gilmar Mendes, que deferia o writ.
HC 101144/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 24.8.2010. (HC-101144)
(Informativo 597, 2ª Turma)

Tipicidade
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial
A Turma indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a nulidade de exame pericial realizado em
arma de fogo apreendida com o paciente e que ensejara sua condenação pelo crime previsto no art. 14 da
Lei 10.826/2003. Aduziu-se que o auto de verificação de funcionamento da arma fora firmado por dois
peritos não oficiais, bacharéis, que prestaram compromisso de bem e fielmente proceder à perícia na
arma, na forma do § 2º do art. 159 do CPP, com a redação vigente à época da instrução. Ressaltou-se que
a qualidade de policial dos peritos seria irrelevante para a validade, ou não, da perícia, haja vista que a
qualificação deles estaria absolutamente de acordo com as exigências do CPP. Assinalou-se que, na
espécie, haveria outros elementos probatórios que permitiriam ao julgador formar sua convicção no
sentido da existência do crime de porte ilegal de arma de fogo. O Min. Gilmar Mendes, não obstante
haver registrado a existência de um precedente, julgado com a composição anterior da Turma, no qual se
exigira o exame pericial — RHC 97477/RJ (DJE de 29.10.2009) —, também denegou a ordem, tendo em
conta as circunstâncias do caso concreto e as providências tomadas (ausência de peritos oficiais e a
designação de peritos). Alguns precedentes citados: HC 95569/RS (DJE de 4.9.2009); HC 93876/RJ (DJE
de 6.11.2009).
HC 100860/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 17.8.2010. (HC-100860)
(Informativo 596, 2ª Turma)

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Ação Penal

Crime contra o Sistema Financeiro Nacional e Autoria - 7


Por reputar presentes indícios suficientes de autoria e de materialidade, o Tribunal, por maioria,
recebeu denúncia contra ex-Governador de Estado, atual Senador, e outras três pessoas pela suposta
prática do crime previsto no art. 20 da Lei 7.492/86, os quais teriam aplicado, em finalidade diversa da
prevista, recursos provenientes de financiamento concedido, à República Federativa do Brasil, pelo BIRD
- Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Na espécie, a União, mediante
convênio, transferira ao Governo do Estado de Rondônia parte desses recursos, a fim de que fossem
integralmente utilizados na execução do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia - PLANAFLORO
— v. Informativos 464, 535 e 572. Asseverou-se, inicialmente, que o argumento de atipicidade da
conduta, por ausência de dolo, seria questão a ser aferida no bojo da ação penal e que a denúncia não teria
imputado aos acusados uma ordenação de despesa indevida, e sim a ilícita transferência de recursos que
deveriam ser aplicados estritamente no PLANAFLORO e foram desviados para a Conta do Tesouro
Estadual. Aduziu-se que o Senador denunciado, então Governador do referido Estado, comprometera-se,
no Termo Simplificado de Convênio, na qualidade de convenente, a aplicar os recursos discriminados
exclusivamente na consecução do objeto, tendo sido descrito, ainda, no anexo 1 do aludido convênio,
como responsável pelo plano de trabalho. Além disso, constariam da denúncia documentos apontando
para a materialidade do delito e contendo indícios de autoria contra os acusados. Ressaltou-se, ademais,
que, pairando dúvida quanto à possibilidade de os outros denunciados com o Senador — à época dos
fatos, o Secretário da Fazenda do Estado, o Coordenador do PLANAFLORO e a Chefe do seu
Departamento Financeiro — terem agido com conhecimento e, mais, sob a determinação do então
Governador, não seria adequado acolher, de plano, antes da instrução criminal, a tese defensiva.
Considerou-se, por fim, que a alegação de inexistência de vínculo contratual de financiamento entre o
BIRD e o Estado de Rondônia seria irrelevante, haja vista que os recursos supostamente desviados
seriam, de fato, provenientes do financiamento concedido por instituição financeira, nos exatos termos do
art. 20 da Lei 7.429/86. Vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Dias Toffolli, Ricardo Lewandowski,
Ellen Gracie e Cezar Peluso, que rejeitavam a denúncia.
Inq 2027/RO, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.8.2010. (Inq-2027)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário)

Deserção: Diligência e Cerceamento de Defesa


A Turma proveu recurso ordinário em habeas corpus para anular o julgamento da ação penal de
origem e determinar a sua conversão em diligência para que se verifique se o recorrente preenche a
condição de arrimo de família. No caso, o juízo de primeiro grau indeferira diligência, requerida pelo
Ministério Público Militar, com o intuito de se apurar se o recorrente preencheria a condição de arrimo de
família, de modo a ensejar a extinção da ação penal de origem, na qual o paciente é acusado da suposta
prática do crime de deserção. Considerou-se que o mencionado pedido tivera por base provas colhidas ao
longo da instrução processual da ação de origem, não sendo desarrazoado, desprovido de fundamento ou
procrastinatório. Asseverou-se que, em realidade, cuidar-se-ia de uma questão prejudicial de mérito.
RHC 102854/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010. (RHC-102854)
(Informativo 595, 2ª Turma)

Tráfico de Drogas e Exercício Ilegal da Medicina - 1


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que o paciente, formado em psicologia, fora
denunciado pela suposta prática dos crimes de exercício ilegal da medicina (CP, art. 282) e tráfico ilícito
de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33), ao se fazer passar por médico psiquiatra e, nessa qualidade, haver
prescrito, em receituário médico, o uso de duas substâncias sujeitas a controle especial da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. A defesa sustentava que tais medicamentos não poderiam ser
considerados drogas para efeitos da referida lei, pois incapazes de causar dependência física ou psíquica e
que a conduta do paciente de prescrever tais substâncias teria sido realizada uma única vez, o que poderia
caracterizar, em tese, apenas o delito de exercício ilegal da medicina, sob pena de bis in idem. Requereu,
nesse sentido, o trancamento da ação penal em relação ao tráfico, quer por atipicidade da conduta, quer
por absorção desse delito pelo descrito no art. 282 do CP.
HC 104382/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-104382)
(Informativo 596, 1ª Turma)

Tráfico de Drogas e Exercício Ilegal da Medicina - 2


Consignou-se que a peça acusatória demonstraria que o paciente, por diversas vezes, prescrevera
substâncias sujeitas a controle especial, relacionadas na lista “C 1” da Portaria 344/98, da Anvisa. Assim,
ao enfatizar o disposto no parágrafo único do art. 1º, c/c o art. 66, ambos da Lei 11.343/2006, entendeu-se
não haver falar-se em falta de justa causa para a persecução penal, pois a mera prescrição de substâncias
controladas pelo Ministério da Saúde permitiria a formulação de denúncia pela prática, em tese, do crime
de tráfico de drogas. (Lei 11.343/2006: “Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao
tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como
drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou
relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. ... Art. 66. Para fins
do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista
mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e
outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.”). Salientou-se que o
potencial lesivo dessas substâncias teria sido aferido no momento em que foram incluídas na referida
portaria, de modo a dispensar, para fins penais, exame pericial com esse objetivo. Destacou-se que o
verbo “prescrever” integraria um dos núcleos do tipo penal em questão. Reputou-se, ainda, serem
insuscetíveis de discussão, na via eleita, a controvérsia relativa ao número de vezes que a conduta teria
sido realizada, a capacidade, ou não, de as substâncias gerarem dependência e a ocorrência, ou não, de
dolo em relação ao crime de tráfico. Afastou-se, por fim, a tese de absorção do tráfico pelo exercício
ilegal da medicina, por se tratar de espécies autônomas de delitos, sem que houvesse vinculação entre
ambos. Vencido o Min. Marco Aurélio, que deferia o writ, por julgar atípica a conduta do paciente em
relação ao crime de tráfico, pois a denúncia claramente não teria mencionado “droga a encerrar
dependência química”, mas apenas “remédio controlado”, cuja prescrição não seria apanhada pela Lei
11.343/2006. Mencionava que, se esses medicamentos gerassem a dependência, o fabricante alertaria os
consumidores.
HC 104382/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-104382)
(Informativo 596, 1ª Turma)

Trancamento de Ação Penal e “Bis In Idem”


A Turma indeferiu habeas corpus em que pretendido o trancamento de ação penal movida contra o
paciente, sob alegação de que estaria sendo processado duas vezes pelo mesmo fato. Na espécie, o réu
fora inicialmente acusado pela prática do delito de comunicação falsa de furto de uma motocicleta (CP,
art. 340) e obtivera o benefício da transação penal, cumprindo as condições impostas, motivo pelo qual
fora extinta sua punibilidade. Ocorre que, posteriormente, fora denunciado pela suposta participação em
crime de homicídio, no qual sua conduta teria consistido na dissimulação decorrente da referida falsa
comunicação de furto da mesma motocicleta, que teria sido utilizada no assassinato. Reputou-se que a
ação penal que se pretendia trancar trataria de crime distinto, o que não significaria punir o paciente mais
uma vez pelo cometimento da infração cuja punibilidade já se encontra extinta. Aduziu-se que a
participação do paciente no crime de homicídio englobaria atos totalmente diversos daqueles relativos à
falsa comunicação de crime. Salientou-se que, embora a circunstância fática tivesse sido a mesma,
houvera a prática de duas condutas distintas.
HC 103501/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 24.8.2010. (HC-103501)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Carta Rogatória

Não conhecimento de HC: “Exequatur” e Auxílio Judiciário - 1


Por reputar não configurado risco à liberdade de locomoção do paciente, a Turma, em votação
majoritária, não conheceu de habeas corpus impetrado contra decisão da Presidência do STJ que
concedera exequatur a carta rogatória expedida pelo Tribunal de Grande Instância de Paris. Na situação
em apreço, o paciente e membros de sua família figuram como investigados pela suposta prática do crime
de lavagem de dinheiro em procedimento instaurado no país rogante, o qual solicitara às autoridades
brasileiras a realização de interrogatórios, a inquirição de testemunhas, o exame e a extração de cópias de
documentos constantes de processos no Brasil em que envolvidos os demandados, bem como a remessa
de parte da sua movimentação bancária. A impetração argumentava: a) descompasso do exequatur com a
ordem constitucional brasileira; b) litispendência entre o procedimento francês e ação penal em curso no
STF; c) ausência, na rogatória, de cópia integral das peças do aludido procedimento; d) negativa de vista
dos autos ao advogado constituído pelo paciente, em ofensa aos princípios do contraditório e da ampla
defesa; e) conseqüente desconhecimento dos fatos que envolvem as acusações dirigidas ao paciente e f)
transgressão ao art. 3º, item 1, do Acordo de Cooperação Judiciária celebrado entre o Brasil e a França,
objeto do Decreto 3.324/99, que condiciona a produção de provas requeridas pelo Estado rogante à
observância da legislação local.
HC 97511/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 10.8.2010. (HC-97511)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Não conhecimento de HC: “Exequatur” e Auxílio Judiciário - 2


Entendeu-se que, na espécie, tratar-se-ia de um mero pedido de auxílio judiciário, uma vez que a
rogatória apenas pretendia a obtenção de provas a instruir procedimento em curso na França. Ademais,
enfatizou-se que o paciente não poderá ser extraditado, porquanto é brasileiro nato. Consignou-se, ainda,
que, mesmo que fosse possível adentrar o mérito do writ, as alegações da defesa não prosperariam.
Primeiramente, mencionou-se que, para a concessão de exequatur das rogatórias, não seria preciso
investigar em profundidade o mérito da causa originária, dado que as questões que o envolvem devem ser
postas perante a Justiça estrangeira. Desse modo, afirmou-se irrelevante averiguar, para fins de concessão
de exequatur, se o advogado do paciente tivera, ou não, acesso aos autos objeto de investigação na
França. Acrescentou-se, no ponto, a inexistência de provas quanto à suposta negativa de vista. Rejeitou-
se, também, a aludida litispendência, porquanto o procedimento no país rogante encontrar-se-ia em fase
de investigação, não constituindo um processo penal. Além disso, registrou-se a desnecessidade de que a
rogatória fosse instruída com todos os documentos referentes ao caso, sendo suficiente a narrativa
razoável dos fatos envolvidos. Por fim, aduziu-se que as diligências requeridas pelas autoridades
francesas estariam previstas também no ordenamento pátrio, a afastar a assertiva de ofensa à soberania ou
à ordem interna. Vencido o Min. Marco Aurélio que admitia o writ por considerar pertinente o receio do
paciente de vir a sofrer futuramente um ato de constrição de sua liberdade, se vier a viajar à França.
HC 97511/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 10.8.2010. (HC-97511)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Competência

Prevenção: Redistribuição do Feito e Atos Decisórios


Por reputar que a prática de atos decisórios implica prevenção, mesmo que em fase pré-processual, a
Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de denunciado perante a Justiça Militar, para declarar
prevento o juiz-auditor titular da 3ª Auditoria da 3ª Circunscrição da Justiça Militar e anular a ação penal
desde o recebimento da peça acusatória. Considerou-se que, no caso, após o oferecimento da denúncia, o
feito teria sido redistribuído ao juiz-auditor substituto, o que violaria as regras de distribuição por
prevenção, previstas na legislação processual castrense (CPPM, artigos 94 e 98, parágrafo único), e o
princípio do juiz natural. Aduziu-se que a existência de portaria do juízo de origem determinando a
redistribuição do processo seria irrelevante, uma vez que não poderia se sobrepor à legislação federal.
HC 99403/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010. (HC-99403)
(Informativo 595, 2ª Turma)

Competência da Justiça Militar: Agentes Civis e Excepcionalidade


Ao reafirmar orientação da Corte, no sentido de que o cometimento do delito militar por agente
civil, em tempo de paz, dá-se em caráter excepcional, a Turma concedeu habeas corpus para declarar a
incompetência da justiça castrense para o julgamento de civis suspeitos de realizar “pichações” em
edifício residencial sob a administração militar. Realçou-se a peculiaridade de o Ministério Público
Militar ter impetrado este writ, em favor dos pacientes, contra acórdão do STM. Frisou-se, ainda, a
ausência de vontade dos pacientes de se contraporem às Forças Armadas ou de impedir a continuidade de
eventual operação militar ou atividade genuinamente castrense. HC deferido para determinar a remessa
dos autos à justiça comum federal. Precedente citado: CC 7040/RS (DJU de 22.11.96).
HC 100230/SP, rel. Min. Ayres Britto, 17.8.2010. (HC-100230)
(Informativo 596, 2ª Turma)

Habeas Corpus

“Habeas Corpus” e Princípio da Colegialidade


Para evitar supressão de instância, a Turma, por maioria, não conheceu de habeas corpus impetrado
contra decisão monocrática proferida por Ministro do STJ, que negara seguimento a writ impetrado
perante aquela Corte. Asseverou-se que a análise do mérito exigiria reexame fático-probatório,
inadmissível na via eleita. Afastou-se, ainda, a remessa do feito para que o STJ procedesse ao julgamento
colegiado do writ. Destacou-se, no ponto, que o paciente, por meio de outro habeas corpus impetrado
perante aquele Tribunal, no qual foram analisados os mesmos fatos, obtivera a redução de sua pena. Além
disso, ele ajuizara ação de revisão criminal, que seria a sede própria para a pretendida revaloração
probatória. Vencido o Min. Marco Aurélio, que, ao reafirmar o princípio da colegialidade, concedia a
ordem.
HC 101836/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 3.8.2010. (HC-101836)
(Informativo 594, 1ª Turma)

Demora no Julgamento de HC
A Turma indeferiu habeas corpus em que se alegava excesso de prazo para o julgamento no STJ de
medida de idêntica natureza impetrada em favor do paciente. Reputou-se que, embora objetivamente
constatado certo retardamento, houvera razão que poderia justificar a situação excepcional, qual seja, a
aposentadoria do Ministro relator naquela Corte. Considerou-se que, em virtude de trâmites burocráticos,
procrastinara-se um pouco a redistribuição dos autos. Salientou-se que o procedimento terá sua seqüência
normal com a redistribuição do feito a um novo relator.
HC 102457/SP, rel. Min. Celso de Mello, 3.8.2010. (HC-102457)
(Informativo 594, 2ª Turma)

Negativa de Prestação Jurisdicional


Para evitar manifesta supressão de instância, a Turma não conheceu de habeas corpus, mas
concedeu, de ofício, a ordem para que o STJ proceda ao julgamento de medida de idêntica natureza lá
manejada. A defesa requeria a suspensão da execução das penas impostas ao paciente e o reconhecimento
da nulidade de todos os atos praticados desde a audiência de oitiva de testemunha da defesa, na qual fora
supostamente assistido por estagiária de Direito sem habilitação legal ou supervisão. De início, observou-
se que a sentença condenatória já transitara em julgado, portanto, eventual erro judiciário, de regra,
deveria ser impugnado por revisão criminal. Em seguida, explicitou-se que a defesa impetrara dois
habeas corpus naquela Corte, o primeiro não conhecido, sob o fundamento de supressão de instância, e o
segundo julgado prejudicado, por ser mera reiteração do primeiro. Asseverou-se que as mencionadas
impetrações combatiam acórdãos distintos e que o STJ não teria apreciado os pedidos formulados em
quaisquer delas, a evidenciar uma negativa de prestação jurisdicional.
HC 97253/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 31.8.2010. (HC-97253)
(Informativo 598, 2ª Turma)
Liberdade Provisória

Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas


A Turma retomou julgamento de dois habeas corpus nos quais se questiona a proibição de liberdade
provisória — prevista no art. 44 da Lei 11.343/2006 — a presos em flagrante por tráfico ilícito de
entorpecentes. O Min. Eros Grau, relator, na sessão de 20.4.2010, concedera a ordem, em ambos, por
entender que a vedação legal abstrata à liberdade provisória contida na nova lei de entorpecentes
consubstanciaria afronta escancarada aos princípios da presunção de inocência, do devido processo legal
e da dignidade da pessoa humana (CF, artigos 1º, III e 5º, LIV e LVII). Nesta assentada, após a devolução
do pedido de vista do Min. Joaquim Barbosa, deliberou-se afetar ao Plenário o julgamento dos writs. Por
fim, deferiu-se liminar no HC 92687/MG, para, afastando o óbice do art. 44 da Lei 11.343/2006,
determinar ao juiz que examine se estão presentes os pressupostos do art. 312 do CPP.
HC 92687/MG, rel. Min. Eros Grau, 31.8.2010. (HC-92687)
HC 100949/SP, rel. Min. Eros Grau, 31.8.2010. (HC-100949)
(Informativo 598, 2ª Turma)

Nulidades

Audiência de Instrução: Inversão na Formulação de Perguntas e Nulidade


A Turma indeferiu habeas corpus em que se objetivava a anulação da audiência de instrução e
julgamento e, conseqüentemente, da sentença condenatória proferida contra o paciente. A impetração
sustentava a existência de nulidade absoluta, consistente na inversão da ordem de inquirição das
testemunhas, pois a magistrada de 1º grau teria feito suas perguntas em primeiro lugar para, somente
depois, permitir que as partes o fizessem. Salientou-se, de início, tratar-se de vício sujeito à sanção de
nulidade relativa, que deveria ser argüido oportunamente, o que não ocorrera, daí a superveniência da
preclusão. Ademais, não teria sido demonstrado prejuízo concreto decorrente da alegada nulidade, pois a
inversão da ordem do sistema de perguntas diretas, previsto no art. 212 do CPP (“Art. 212. As perguntas
serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já
respondida.”), não alteraria o sistema acusatório. Nesse sentido, a decretação de nulidade a partir desse
fato seria considerar o processo um fim em si mesmo, e não um meio para se conseguir a aplicação da lei
penal. No ponto, divergiu o Min. Marco Aurélio, por entender que a forma prevista no citado artigo seria
essencial e que o prejuízo estaria certificado na sentença condenatória. Contudo, tendo em conta a
organicidade do Direito, asseverou que a inobservância de forma prevista em lei, como essa alusiva ao
interrogatório, encerraria nulidade relativa. Por sua vez, não houvera o insurgimento da defesa no
momento próprio, o que implicara preclusão.
HC 103525/PE, rel. Min. Cármen Lúcia, 3.8.2010. (HC-103525)
(Informativo 594, 1ª Turma)

Defesa Técnica e Nulidade


A defesa técnica é um direito irrenunciável e irrevogável. De acordo com esse entendimento, a
Turma indeferiu habeas corpus em que o paciente/impetrante, sob alegação de cerceamento de defesa,
pleiteava a nulidade do processo pelo qual condenado. Afirmava que tivera negado o direito de redigir
pessoalmente sua defesa técnica, em desrespeito ao Pacto de São José da Costa Rica, o qual asseguraria a
qualquer pessoa a possibilidade de se defender diretamente. Aduzia que suas garantias constitucionais
haviam sido violadas. Reputou-se, inicialmente, a indispensabilidade da defesa feita por advogado, salvo
em situações excepcionalíssimas, como o caso do habeas corpus. Asseverou-se, ademais, que a
autodefesa se limitaria ao interrogatório e ao comparecimento aos demais atos instrutórios, nos termos da
legislação vigente. Concluiu-se não haver ilegalidade ou inconstitucionalidade no fato de o réu deixar de
participar da defesa técnica.
HC 102019/PB, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-102019)
(Informativo 596, 1ª Turma)

Tribunal do Júri: Alegações Finais e Intimação do Advogado


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a decretação de nulidade do
processo, desde o oferecimento da denúncia, que culminara na condenação do paciente pelo delito de
homicídio qualificado. Rejeitaram-se as alegações formuladas na impetração. Quanto à inépcia da
denúncia, asseverou-se que a inicial acusatória apresentara narrativa congruente dos fatos, suficiente para
a apresentação de defesa em relação ao crime imputado. Relativamente ao excesso de linguagem
empregado na pronúncia, avaliou-se que o magistrado não julgara procedente o fato, mas, simplesmente,
dissera que haveria elementos a possibilitar a pronúncia. No tocante à ausência de fundamentação da
decisão de pronúncia, entendeu-se que avaliar este argumento implicaria a reanálise de fatos e provas, o
que não seria condizente com a via de habeas corpus. Repeliu-se à assertiva de deficiência de quesitação,
pois a tese apresentada de legítima defesa fora objeto de quesito. Em relação à falta de embate da tese de
deficiência/ausência de defesa — consubstanciada na desistência de oitiva das testemunhas arroladas na
defesa prévia e, principalmente, na ausência de alegações finais antes da sentença de pronúncia —,
assentou-se a preclusão dos temas, fundada no art. 571, I, do CPP (“As nulidades deverão ser argüidas: ...
I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o
art.406;”). Esclareceu-se, ainda, ter ocorrido a regular intimação do advogado para apresentação de
alegações finais. Ressaltou-se que o paciente constituíra novo profissional de advocacia após a pronúncia,
mas não fora articulada suposta nulidade, alusiva às mencionadas alegações, na sessão do Tribunal do
Júri. Registrou-se entendimento da Corte segundo o qual as alegações finais em processo da competência
do Júri não são indispensáveis. Vencido o Min. Marco Aurélio que concedia a ordem para reconhecer a
nulidade dos atos praticados após o prazo em que as alegações deveriam ter sido apresentadas. Concluía
que a falta de apresentação delas, somada ao fato de o advogado não ter seguido na representação do
paciente, equivaleria à ausência de defesa e refletiria uma nulidade absoluta, que, portanto, não seria
afastada com a passagem do tempo e não se enquadraria no disposto no art. 571, I, do CPP.
HC 103569/CE, rel. Min. Dias Toffoli, 24.8.2010. (HC-103569)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Tribunal do Júri: Nulidades e Dosimetria da Pena


A Turma deu parcial provimento a recurso em habeas corpus para reformar, em parte, acórdão do
STJ e, desde logo, proceder à nova dosimetria da pena. No caso, condenado por homicídio qualificado à
pena de 13 anos e 6 meses de reclusão reiterava as alegações de: a) erros na dosimetria da pena; b)
ausência de quesito obrigatório que contivesse a tese de autodefesa do acusado e de desclassificação para
homicídio culposo; c) nulidade absoluta decorrente da dispensa de todas as testemunhas no plenário do
júri; d) nulidade dos quesitos apresentados aos jurados e subtração de sua competência constitucional; e)
ausência do exame de eventual excludente de motivação fútil pelo Tribunal de Justiça estadual e pelo
Superior Tribunal de Justiça; f) inexistência de motivo fútil. Considerou-se, em relação ao item “b”, que a
tese relativa à autodefesa fora devidamente submetida aos jurados no respectivo quesito e que a defesa
técnica, durante os debates orais, não sustentara eventual desclassificação. No que concerne ao item “d”,
reputou-se que qualquer impugnação referente à redação dos quesitos formulados deveria ter sido feita na
sessão de julgamento, sob pena de preclusão, que teria ocorrido na espécie. A respeito do item “c”,
aduziu-se que a desistência das testemunhas teria obedecido à disposição legal, com a anuência das partes
por ocasião do julgamento e que não teria sido demonstrado prejuízo decorrente de tal fato. Por sua vez,
quanto aos itens “e” e “f”, entendeu-se que tais teses implicariam revolvimento profundo de fatos e
provas, o que ultrapassaria o âmbito de cognição da via eleita. Ademais, não competiria à Corte anular a
decisão dos jurados, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da soberania dos veredictos, dado que
a decisão dos jurados estaria em consonância com uma das versões possíveis. Finalmente, em relação ao
item “a”, aduziu-se que haveria erro alusivo à fixação da pena-base quanto às circunstâncias judiciais e ao
motivo do crime. Asseverou-se que a análise da conduta social do réu não poderia ter sido utilizada para
sua exasperação, uma vez que considerado, para esse fim, o fato de o acusado responder a outro processo
criminal. Reputou-se, nesse sentido, que houvera violação ao princípio da presunção de inocência. Além
disso, enfatizou-se que o motivo do crime, por ter sido considerado pelo júri como qualificadora, não
poderia exasperar a pena e a sentença, incorrendo, assim, em bis in idem. Dessa forma, consignou-se que,
retiradas essas 2 circunstâncias judiciais, a pena-base deveria ser reduzida em 1 ano — haja vista que o
juízo de 1º grau aplicara o aumento de 6 meses para cada circunstância. Ademais, incidente a redução da
pena-base ante o reconhecimento de atenuantes, a pena definitiva do paciente deveria ser fixada em 12
anos e 6 meses de reclusão. Por derradeiro, assinalou-se que o pleito de arbitramento de honorários
advocatícios em favor de defensor dativo competiria ao juízo nomeante que, na espécie, seria o juízo de 1ª
instância.
RHC 99293/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.8.2010. (RHC-99293)
(Informativo 598, 1ª Turma)

Princípios Processuais Penais


Condenação e Elementos Coligidos em Inquérito Policial - 2
Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, concedeu habeas corpus para restabelecer a
decisão absolutória do juízo processante. Tratava-se de writ em que se questionava condenação fundada
unicamente em elementos colhidos na fase investigatória. No caso, o paciente, absolvido pelo juízo
monocrático, tivera sua sentença reformada pela Corte estadual — que o condenara a 27 anos de reclusão
—, com base em depoimentos colhidos no inquérito, muito embora houvessem sido refutados em juízo —
v. Informativo 594. Inicialmente, superou-se a preliminar suscitada pelo Ministério Público Federal no
sentido do não conhecimento da impetração ante a necessidade de revisão dos elementos probatórios
coligidos no processo. Asseverou-se, no ponto, que o não conhecimento do writ resultaria em violência ao
princípio do acesso ao Judiciário, o qual visa afastar lesão ou ameaça de lesão a direito. Em seguida,
considerou-se que elementos reunidos em sede de inquérito policial, sem o indispensável contraditório,
esvaziados por completo em juízo, não serviriam à condenação. Salientou-se que o paciente fora
condenado sem que fosse apresentada contra si, em juízo, prova de fato criminoso e demonstrada a culpa.
Vencido o Min. Ricardo Lewandowski.
HC 96356/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 24.8.2010. (HC-96356)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Prisão

Prisão Cautelar: Fundamentação e Cota Ministerial


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se questionava decreto de prisão preventiva
expedido contra acusado pela suposta prática dos crimes de adulteração de combustíveis e falsidade
ideológica. A impetração sustentava a inobservância dos requisitos previstos no art. 312 do CPP, bem
como argumentava que o decreto prisional teria adotado como razão de decidir apenas o pedido
ministerial. Entendeu-se, primeiramente, que, muito embora a sucinta ordem judicial tivesse adotado
como fundamentação o requerimento do Ministério Público, sem, entretanto, transcrevê-lo, a constrição
cautelar teria sido baseada em fatos concretos, portanto, em conformidade com o citado dispositivo legal.
Consignou-se estar evidenciado que o paciente e seu sócio na empresa seriam contumazes na
comercialização clandestina de combustíveis adulterados. Enfatizou-se, ademais, a fuga do paciente em
momento anterior ao decreto prisional. Salientou-se, por fim, que as condições subjetivas favoráveis ao
paciente não obstariam a segregação cautelar. Vencido o Min. Marco Aurélio, que, ao aduzir a
excepcionalidade da custódia preventiva, deferia o writ por considerar que o decreto atacado baseara-se
em meras presunções, tanto em relação à culpa do acusado quanto em relação à sua possibilidade de fuga.
HC 102864/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 3.8.2010. (HC-102864)
(Informativo 594, 1ª Turma)

Prisão Cautelar: Fundamentação e Excesso de Prazo


Ao considerar a superveniência de pronúncia, em que alterado o fundamento para a manutenção da
custódia cautelar do paciente, a Turma, por maioria, julgou prejudicado habeas corpus, haja vista a
substituição da natureza do título prisional. Entretanto, ante a excepcionalidade do caso, concedeu a
ordem de ofício, para garantir liberdade provisória ao paciente. Na espécie, a impetração alegava excesso
de prazo para encerramento da instrução criminal, uma vez que o paciente estaria preso preventivamente
há mais de dois anos pela suposta prática, em concurso de agentes, do crime de homicídio duplamente
qualificado. Assentou-se que a constrição cautelar seria ilegal, pois a única testemunha arrolada pela
acusação já teria prestado depoimento em juízo e afastado totalmente a versão consignada no inquérito
policial, a qual seria supostamente desfavorável à defesa. Enfatizou-se a demora de quase um ano para a
oitiva de co-réus e da aludida testemunha, todos eles presos. Destacou-se, ainda, que os acusados teriam
se apresentado espontaneamente à autoridade policial e empreendido fuga somente após a decretação da
prisão preventiva, a qual, por ser ilegal, legitimaria a evasão do distrito da culpa. Vencido, em parte, o
Min. Marco Aurélio, que concedia a ordem ao fundamento de que, sem o trânsito em julgado da
condenação, a causa de pedir — excesso de prazo — persistiria, não sendo modificada pelo advento da
pronúncia. Ao salientar que o excesso de prazo seria fator objetivo, afirmava que o interregno de dois
anos seria tempo em demasia, considerado o direito constitucional ao término do processo em prazo
razoável. Vencido na integralidade o Min. Ricardo Lewandowski, que indeferia a ordem. Aduzia estar
superada a questão relativa ao excesso de prazo, ter o paciente permanecido preso durante toda a
instrução e ser iminente o seu julgamento pelo júri.
HC 101981/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 17.8.2010. (HC-101981)
(Informativo 596, 1ª Turma)
Prisão Cautelar e Fuga
A Turma indeferiu habeas corpus no qual se alegava falta de fundamentação da decisão que
determinara a segregação cautelar do paciente. Esclareceu-se que os diversos registros atinentes à
gravidade do delito, ao clamor público, à insegurança do meio social e à credibilidade das instituições
afastar-se-iam da jurisprudência consolidada pela Corte, em tema de fundamento apto a embasar as
denominadas prisões processuais. Todavia, asseverou-se que, da leitura dos demais argumentos,
apontados pelo juízo, constatar-se-ia a existência de fatos concretos que justificariam a custódia, tanto
para garantir a aplicação da lei penal, como para resguardar a ordem pública. Não obstante destacando
entendimento da Turma no sentido de que a simples fuga não justificaria, per se, a determinação da prisão
provisória, consignou-se que, conforme os motivos do mencionado decreto, fora demonstrada inequívoca
intenção de o paciente se furtar à aplicação da lei penal, pois estaria foragido antes mesmo da expedição
do decreto prisional. Enfatizou-se que a fuga ocorrera antes mesmo de decretada, e não para impugnar
decisão constritiva tida por ilegal, sendo, por isso, causa idônea a ensejar a segregação cautelar.
Asseverou-se que o decreto de prisão preventiva também se baseara na necessidade de colocar a salvo a
ordem pública, patente a configuração do periculum libertatis. Constatou-se, ademais, a indicação de
fatos concretos que justificariam o alegado risco também para a tranqüilidade e a paz do meio social.
Assentou-se, portanto, que o paciente fora conduzido ao cárcere por questões instrumentais devidamente
justificadas, razão de ser da prisão preventiva.
HC 101206/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010. (HC-101206)
(Informativo 596, 2ª Turma)

Prisão Cautelar e Fundamentação


A Turma, por maioria, desproveu recurso ordinário em habeas corpus para manter a prisão cautelar
do paciente. Na espécie, preso em flagrante e condenado à pena de 5 anos e 4 meses de reclusão, em
regime inicial fechado, pela prática do delito de roubo duplamente qualificado, o paciente permanecera
custodiado com o advento da sentença condenatória. Reputou-se que o juízo sentenciante teria mantido a
prisão em flagrante lastreado em motivação idônea, com o objetivo de resguardar a ordem pública e a
aplicação da lei penal. Considerou-se o fato de o recorrente haver permanecido preso durante todo o
processo como elemento a corroborar a mantença do decreto. Vencido o Min. Marco Aurélio, que provia
o recurso por entender que o fundamento alusivo à necessidade de garantia da aplicação da lei penal não
estaria satisfeito, pois baseado na presunção de culpa do recorrente, bem como que o simples fato de
haver permanecido preso durante o processo não se prestaria como justificativa para a manutenção da
cautelar. Em seguida, concedeu-se habeas corpus de ofício, ante o empate na votação, para determinar ao
juízo das execuções que verifique a possibilidade de progressão de regime, tendo em vista que a prisão
em flagrante teria ocorrido em 5.2.2009, portanto, passado mais de um sexto da pena não transitada em
julgado. Vencidos, no ponto, os Ministros Ricardo Lewandowski, relator, e Cármen Lúcia.
RHC 103744/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/acórdão Min. Dias Toffoli,
31.8.2010. (RHC-103744)
(Informativo 598, 1ª Turma)

Prisão Cautelar: Excesso de Prazo e Nova Decretação


O relaxamento de prisão preventiva, por excesso de prazo, não impede sua decretação por outros
fundamentos explicitados na sentença. Com base nessa orientação, a Turma, por maioria, indeferiu
habeas corpus em que se pleiteava o direito de recorrer em liberdade. No caso, o paciente, preso em
flagrante delito por transportar e trazer consigo substâncias entorpecentes, tivera sua constrição relaxada
em virtude do excesso de prazo. Após a prolação da sentença condenatória (Lei 11.343/2006, artigos 33 e
35), o juiz decretara nova segregação cautelar, invocando os fundamentos do art. 312 do CPP. A
impetração sustentava a falta de motivação da custódia, bem como a ausência dos seus pressupostos
autorizadores. Reputou-se que o réu, por ostentar a suposta condição de líder de grupo de tráfico, se solto,
representaria fundado risco à ordem pública e que, por se tratar de crime hediondo, caberia ao magistrado,
motivadamente, decidir sobre eventual direito de o sentenciado recorrer em liberdade. Vencido o Min.
Marco Aurélio, que deferia a ordem por entender que essa nova prisão, com aparência de cautelar,
configuraria execução precoce da pena imposta. Reputava não ser possível, num mesmo processo,
considerado o mesmo quadro, ter-se novamente uma prisão, uma vez reconhecido o anterior excesso de
prazo, o qual seria definitivo e não se interrompera com a liberdade do acusado.
HC 103881/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 31.8.2010. (HC-103881)
(Informativo 598, 1ª Turma)
Gravidade em Abstrato do Delito e Prisão Preventiva
Ante o empate na votação, a Turma deferiu habeas corpus para que a paciente aguarde em liberdade
o encerramento da ação penal, ressalvada a possibilidade de nova decretação de prisão de natureza
cautelar, se necessária. Na espécie, a paciente e o co-réu foram presos em flagrante pela suposta prática
do delito previsto no art. 121, § 2º, I, III e IV, e no art. 211, ambos do CP. Asseverou-se que a prisão da
paciente fora decretada tendo por único fundamento a gravidade em abstrato do delito. Consignou-se que
tal justificativa somada à hipotética periculosidade do agente — não demonstradas nos autos — não
autorizariam por si sós a custódia cautelar, consoante reiterado pela jurisprudência da Corte. Vencidos os
Ministros Ellen Gracie e Ayres Britto que indeferiam a ordem, por considerarem que a decisão do
magistrado estaria devidamente fundamentada. A Min. Ellen Gracie observava que o delito hediondo teria
sido praticado com extrema crueldade e que o juiz circunstanciara, inclusive, as condições em que
perpetrado. O Min. Ayres Britto entendia que fora consubstanciado um juízo de alta periculosidade da ré
quanto ao modo de execução de crime, e que o magistrado fizera o vínculo entre a garantia da ordem
pública e a necessidade de acautelamento do meio social no caso concreto. Ressaltava, ainda, o fato de o
juízo de periculosidade — que teria relação com o acautelamento do meio social, portanto, com o
pressuposto da ordem pública de que trata o art. 312 do CPP — ser exatamente aquele sobre a gravidade
no modo de execução do delito.
HC 95460/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 31.8.2010. (HC-95460)
(Informativo 598, 2ª Turma)

Procedimento do Tribunal do Júri

Desaforamento e Popularidade da Vítima


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava o desaforamento do julgamento
de pronunciado, pelo juízo da comarca de Hidrolândia/GO, em razão da suposta prática de homicídio de
Vereador. A impetração requeria que o júri fosse realizado na capital, porquanto a vítima fora a mais
votada daquela municipalidade. Alegava que, por ser o voto secreto, não haveria como saber “se o jurado
sorteado para o conselho de sentença era ou não eleitor da suposta vítima, ou vinculado de alguma
forma com a sua coligação”. Inicialmente, assentou-se que o desaforamento constituiria medida
excepcional de modificação da competência e que, para ser determinado, dever-se-ia comprovar, de
forma inequívoca, um dos seguintes motivos: a) interesse da ordem pública; b) dúvida sobre a
imparcialidade do júri e c) temor quanto à segurança pessoal do acusado. Em seguida, asseverou-se a
ausência, na hipótese sob apreço, de qualquer das razões mencionadas. Ressaltou-se doutrina segundo a
qual não seria motivo suficiente para o desaforamento a situação de a vítima, ou agressor, ou ambos,
serem pessoas conhecidas no local da infração, o que, certamente, provocaria o debate prévio na
comunidade a respeito do fato. Assim, a situação deveria ser considerada normal, pois seria impossível
evitar que pessoas famosas, ou muito conhecidas, ao sofrer ou praticar crimes, deixassem de despertar a
curiosidade geral em relação ao julgamento. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia o writ por julgar
recomendável o deslocamento para a comarca mais próxima. Considerava que a vítima seria político
local, mais votado por duas eleições, que a escolha do corpo de jurados poderia recair sobre seus
eleitores, e que o Município, aparentemente, não seria de grande proporção.
HC 103646/GO, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.8.2010. (HC-103646)
(Informativo 597, 1ª Turma)

Progressão de Regime

Tráfico de Drogas: Liberdade Provisória e Progressão de Regime


A Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para que o juízo competente examine os requisitos
necessários à obtenção da progressão de regime a condenado à pena de 10 anos de reclusão, em regime
inicialmente fechado, por tráfico ilícito de entorpecentes e associação para o tráfico (Lei 11.343/2006,
artigos 33 e 35). Na espécie, o paciente — preso em flagrante delito em 1º.2.2007 — permanecera
enclausurado durante todo o processo. A impetração pleiteava o direito dele de recorrer em liberdade da
condenação, não transitada em julgado, imposta pelo juízo de primeiro grau. Alegava, ainda, que a
manutenção da prisão cautelar ocorrera sem a devida fundamentação legal. Preliminarmente, denegou-se
a ordem. Reafirmou-se a jurisprudência da 1ª Turma, no sentido de ser vedada a concessão de liberdade
provisória aos presos em flagrante por tráfico de drogas, não havendo ilegalidade na manutenção da
custódia daquele que respondera a ação penal nessa condição. Por outro lado, observou-se que o paciente
cometera o delito antes do advento da Lei 11.464/2007; já teria permanecido em regime fechado por mais
de 1/6 da pena aplicada e que somente a defesa desta recorrera. Alguns precedentes citados: HC 92747/SP
(DJE de 25.4.2008); HC 98340/MG (DJE de 23.10.2009); HC 92612/PI (DJE de 11.4.2008); HC
101483/GO (DJE de 14.5.2010).
HC 98679/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010. (HC-98679)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Recursos

Suspensão de Prazo: Portaria do STJ e Tempestividade


A Turma deferiu habeas corpus para reconhecer a tempestividade de embargos de declaração
opostos pela paciente e determinar ao STJ que prossiga com o regular processamento do recurso. Tratava-
se de writ impetrado contra acórdão daquela Corte que reputara intempestivos embargos de declaração
em feito criminal, protocolizados em 2.2.2007, opostos em face de acórdão que desprovera agravo
regimental em agravo de instrumento, publicado em 18.12.2006. O STJ, tendo em conta a entrada em
vigor da EC 45/2004 (DOU de 31.12.2004) — que vedara as férias coletivas nos juízos e tribunais de
segundo grau e determinara a não-interrupção da atividade jurisdicional —, entendera que “o prazo final
para a interposição dos embargos declaratórios, considerando o recesso forense, seria o dia
02/01/2007”, não havendo mais a suspensão do prazo recursal no período de férias forenses. Consignou-
se que o próprio STJ publicara a Portaria 191, de 5.12.2006, na qual ficara explicitamente definida a
suspensão dos prazos para recursos a partir de 20.12.2006, voltando a fluir em 1º.2.2007. Ressaltou-se
que a referida portaria, ao fixar expressamente a suspensão, induzira a parte em erro. Assim, ao
considerar a jurisprudência do STF — segundo a qual a regra da contagem dos prazos recursais, prevista
no art. 798 do CPP, pressupõe o funcionamento regular da Justiça —, e o teor da Portaria 191/2006,
concluiu-se pela tempestividade dos embargos. Alguns precedentes citados: HC 100344/RJ (DJE de
6.11.2009); HC 89827/SP (DJU de 27.4.2007); HC 69522/GO (DJU de 18.12.92).
HC 99206/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 10.8.2010. (HC-99206)
(Informativo 595, 1ª Turma)

Apelação: Efeito Devolutivo e “Reformatio In Pejus”


A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia fosse aplicada — a condenada
pelo crime de tráfico internacional de entorpecentes, à pena de 4 anos, 10 meses e 10 dias de reclusão —
a causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 em seu grau máximo, bem como
substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (Lei 11.343/2006, art. 33: “§ 4º Nos
delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”). A defesa
sustentava que teria havido reformatio in pejus, uma vez que a sentença de 1º grau considerara a
consumação do delito para fins de incidência da causa de diminuição em seu patamar mínimo, ao passo
que, no julgamento da apelação, a justificativa para o uso da fração mínima teria sido modificada ante a
constatação da significativa quantidade de droga apreendida. Primeiramente, aduziu-se que teriam sido
apontados elementos concretos a justificar a aplicabilidade da causa de diminuição em seu grau mínimo,
tanto no 1º quanto no 2º grau e que, apesar de o órgão de 2ª instância ter mantido a referida causa de
diminuição com fundamentos diversos dos utilizados pelo juízo de 1º grau, o efeito devolutivo do recurso
de apelação — ainda que exclusivo da defesa — autorizaria a revisão dos critérios de individualização
definidos na sentença penal condenatória, limitada tão-somente pelo teor da acusação e pela prova
produzida. Ademais, reputou-se não haver falar em reformatio in pejus, uma vez que o quantum da causa
de diminuição e da pena total teria sido mantido na apelação. Vencido o Min. Marco Aurélio, que
concedia a ordem para implementar a causa de diminuição em seu grau máximo, por entender que seus
requisitos estariam satisfeitos na espécie.
HC 101917/MS, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.8.2010. (HC-101917)
(Informativo 598, 1ª Turma)

DIREITO TRIBUTÁRIO
Imunidade Tributária

Base de Cálculo da CSLL e da CPMF: Receitas Oriundas das Operações de Exportação - 5


A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL e a Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira - CPMF não são alcançadas pela imunidade sobre as receitas decorrentes de
exportação prevista no inciso I do § 2º do art. 149 da CF, incluído pela EC 33/2001 (“Art. 149. ... § 2º. As
contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o ‘caput’ deste artigo... I - não
incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;”). Com base nessa orientação, o Tribunal, por
maioria, desproveu o RE 564413/SC, em que se alegava que a referida imunidade abarcaria a CSLL — v.
Informativos 531 e 594. No ponto, prevaleceu o voto do Min. Marco Aurélio, relator. Ele asseverou que,
se ficasse entendido que o vocábulo receita, tal com previsto no inciso I do § 2º do art. 149 da CF,
englobaria o lucro, acabar-se-ia aditando norma a encerrar benefício para o contribuinte considerada certa
etapa, além de deixar capenga o sistema constitucional, no que passaria a albergar a distinção entre receita
e lucro, em face da incidência da contribuição social para as pessoas jurídicas em geral (CF, art. 195) e,
de forma incongruente, a alusão explícita à receita a ponto de alcançar, também, o lucro quanto a certo
segmento de contribuintes — os exportadores. Ressaltou que a EC 33/2001 fora editada à luz do texto
primitivo da Carta Federal, não se podendo, em interpretação ampliativa, a ela conferir alcance que com
este se mostrasse em conflito. Afirmou que o princípio do terceiro excluído, bem como o sistema
constitucional até aqui proclamado pelo Tribunal afastariam a visão de se assentar que, estando o
principal — a receita — imune à incidência da contribuição, também o estaria o acessório — o lucro.
Concluiu que o legislador poderia ter estendido ainda mais a imunidade, mas, mediante opção político-
legislativa constitucional, não o fez, não cabendo ao Judiciário esta tarefa. Vencidos os Ministros Gilmar
Mendes, Cármen Lúcia, Eros Grau, Celso de Mello e Cezar Peluso (Presidente), que proviam o recurso.
RE 474132/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, 12.8.2010. (RE-474132)
RE 564413/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 12.8.2010. (RE-564413)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário, Repercussão Geral)

Base de Cálculo da CSLL e da CPMF: Receitas Oriundas das Operações de Exportação - 6


De igual modo, por maioria, o Tribunal também desproveu o RE 474132/SC, no qual se pleiteava o
reconhecimento da imunidade relativamente à CSLL e à CPMF. No tocante à CSLL, ficaram vencidos os
Ministros Gilmar Mendes, relator, Cármen Lúcia, Eros Grau, Celso de Mello e Cezar Peluso (Presidente).
Quanto à CPMF, prevaleceu o voto do Min. Gilmar Mendes, relator, no sentido de não enquadrá-la na
hipótese de imunidade em questão, visto que ela não se vincularia diretamente à operação de exportação,
mas a operações posteriormente realizadas, nos termos do art. 2º da Lei 9.311/96. Observou que a
exportação, tomada isoladamente, não constituiria fato gerador para a cobrança da CPMF, conforme
disposto na aludida lei. Acrescentou que, se fosse o caso de haver imunidade, ela seria garantida ao
exportador apenas na operação de entrada do numerário no país, e, após esse primeiro momento, haveria a
incidência da CPMF, pois a imunidade não marcaria o resultado da operação indeterminadamente. Assim,
uma vez configurada a entrada no país da receita provinda da exportação, igualar-se-iam esses valores a
qualquer outro existente no território nacional, de modo a submeter-se às regras pertinentes, inclusive à
incidência da CPMF. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Menezes Direito.
RE 474132/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, 12.8.2010. (RE-474132)
RE 564413/SC, rel. Min. Marco Aurélio, 12.8.2010. (RE-564413)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário, Repercussão Geral)

Art. 149, § 2º, I, da CF e CPMF - 2


Ao aplicar o entendimento acima firmado, o Tribunal, por maioria, desproveu recurso extraordinário
no qual se sustentava que a imunidade das receitas decorrentes de exportação, prevista inciso I do § 2º do
art. 149 da CF, incluído pela EC 33/2001, abrangeria a CPMF — v. Informativo 532. Vencidos os
Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso (Presidente), que lhe davam provimento.
RE 566259/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12.8.2010. (RE-566259)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 595, Plenário, Repercussão Geral)

CODESP e Imunidade - 3
Em conclusão, o Tribunal, por maioria, deu parcial provimento a recurso extraordinário interposto
pela Companhia Docas do Estado de São Paulo - CODESP contra acórdão do extinto Tribunal de Alçada
Civil do referido Estado que entendera serem devidos, pela recorrente, o IPTU e as taxas de conservação
e limpeza de logradouro público, remoção de lixo e iluminação pública sobre imóveis que compõem o
acervo do Porto de Santos — v. Informativos 405 e 441. Inicialmente, não se conheceu do recurso
relativamente aos artigos 21, XII, f e 22, X, da CF, por falta de prequestionamento, nem no tocante às
taxas, haja vista não se ter apontado o dispositivo constitucional que teria sido inobservado pelo Tribunal
a quo, no que estabelecida a legalidade da exigência do tributo desde que os serviços sejam postos à
disposição do contribuinte, ainda que não utilizados. No mérito, prevaleceu o voto do Min. Joaquim
Barbosa que reputou necessária, para a aplicabilidade da imunidade recíproca à CODESP, a superação
dos seguintes estágios: 1) a imunidade seria subjetiva, ou seja, se aplicaria à propriedade, bens e serviços
utilizados na satisfação dos objetivos institucionais imanentes do ente federado, cuja tributação poderia
colocar em risco a respectiva autonomia política. Em conseqüência, seria incorreto ler a cláusula de
imunização de modo a reduzi-la a mero instrumento destinado a dar ao ente federado condições de
contratar em circunstâncias mais vantajosas, independentemente do contexto; 2) atividades de exploração
econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares, deveriam
ser submetidas à tributação, por apresentarem-se como manifestações de riqueza e deixarem a salvo a
autonomia política; 3) a desoneração não deveria ter como efeito colateral relevante a quebra dos
princípios da livre concorrência e do exercício de atividade profissional ou econômica lícita.
RE 253472/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa,
25.8.2010. (RE-253472)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 597, Plenário)

CODESP e Imunidade - 4
O Min. Joaquim Barbosa constatou que a recorrente passaria nesses estágios e que o acórdão
recorrido teria se equivocado quanto à caracterização da atividade desempenhada por ela. No ponto, citou
uma série de precedentes da Corte no sentido de que a exploração dos portos marítimos, fluviais e
lacustres caracteriza-se como serviço público. Considerou, em seguida, que confirmariam a lesão à livre
iniciativa, livre concorrência e ao dever fundamental de pagar tributos três quadros hipotéticos. Disse que,
se a participação privada no quadro societário da CODESP fosse relevante, o intuito lucrativo sobrepor-
se-ia à exploração portuária como instrumentalidade do Estado, o que não seria o caso dos autos, já que a
União deteria 99,97% das ações da empresa. Destarte, mantida a relevância da instrumentalidade estatal,
não se vislumbraria violação do dever fundamental de pagar tributos e de custeio dos demais entes
federados. Aduziu que, por outro lado, os autos não indicariam que a CODESP operaria com intuito
primordial de auferir vantagem econômica para simples aumento patrimonial da União. Destacou que, se
a CODESP operasse em mercado de livre acesso, o reconhecimento da imunidade violaria os postulados
da livre concorrência e da livre iniciativa, mas que isso também não se daria na espécie, haja vista
inexistir indicação de que a CODESP tivesse concorrentes em sua área de atuação específica. Reputou,
ainda, importante examinar se a propriedade imóvel em questão seria utilizada diretamente pela entidade
imune em sua atividade-fim, ou se seria cedida a entidade privada que se destinaria a explorá-la com
intuito lucrativo. Observou que a recorrente seria uma instrumentalidade da União, isto é, entidade
derivada, criada com a finalidade de executar um mister que a Constituição atribuiu à União. Por fim,
asseverou caber à autoridade fiscal indicar com precisão se a destinação concreta dada ao imóvel
atenderia, ou não, ao interesse público primário ou à geração de receita de interesse particular ou privado.
Assim, reconheceu a imunidade do imóvel pertencente à União, mas afetado à CODESP, utilizado em
suas atividades-fim. Vencidos os Ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso,
Presidente, que desproviam o recurso. Precedentes citados: RE 172816/RJ (DJU de 13.5.94); RE
356711/PR (DJU de 7.4.2006); RE 253394/SP (DJU de 11.4.2003); RE 265749/SP (DJU de 12.9.2003).
RE 253472/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa,
25.8.2010. (RE-253472)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 597, Plenário)

Supremo Tribunal Federal


Secretaria de Documentação - SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados - CJCD
CJCD@stf.jus.br
Informativo STF Mensal
Brasília, setembro de 2010 - nº 2
Compilação dos Informativos nºs 598 a 602

O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

SUMÁRIO

Direito Administrativo
Atos Administrativos
Prazo para Registro de Aposentadoria e Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa - 6 e 7
Prazo para Registro de Pensão e Garantias do Contraditório e da Ampla Defesa - 3

Direito Civil e Processual Civil


Recursos
Repercussão Geral: Devolução de Recurso e Irrecorribilidade

Direito Constitucional
Conflito de Atribuições
Conflito de Atribuições e Falsificação de Documento Público
Controle de Constitucionalidade
Composição de Tribunal de Contas e Transição de Modelos Constitucionais
Propaganda Eleitoral no Rádio e na Televisão: Humor e Liberdade de Imprensa - 1 a 3
Medida Provisória: Pressupostos Constitucionais e Matéria Processual - 1 e 2
Embargos de Declaração e Modulação de Efeitos - 2
Escolha de Diretor-Geral da Polícia Civil e Autonomia Estadual - 1 e 2
Matéria Tributária e Delegação Legislativa - 1
Modulação de Efeitos e Suspensão de Julgamento - 2
Contribuição Previdenciária de Inativos e Pensionistas e Mudança de Paradigma - 1
EC 20/98: Contribuição Previdenciária de Inativos e Pensionistas e Inconstitucionalidade - 2
Empresas Optantes do Simples Nacional e Isenção de Contribuições - 5 a 8
Segurança Pública e Inclusão de Órgão - 1 a 3
Dupla Identificação do Eleitor e Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade - 1 e 2
Extradição
Extradição e Princípio do “Non Bis in Idem”
Mandado de Segurança
Decadência e Prestações de Trato Sucessivo
Precatórios
Fracionamento de Precatório: Custas Processuais e Requisição de Pequeno Valor

Direito Eleitoral
Eleições
Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 1 a 11
Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 12 e 13

Direito Penal
Penas
Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substituição de Pena Privativa de Liberdade por Restritivas de
Direitos - 13
Tráfico de Drogas: Crime Conexo e Substituição de Pena
Configuração da Interestadualidade de Tráfico de Drogas
Prescrição
Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição
Pena Restritiva de Direitos e Prescrição
Lei de Imprensa e Causa Interruptiva de Prescrição
Prescrição e Prazo entre a Citação e o Interrogatório
Princípios e Garantias Penais
Princípio da Consunção: Crime contra a Ordem Tributária e Falsidade Ideológica - 1 e 2
Rádio Comunitária Clandestina: Princípio da Insignificância e Excepcionalidade
Reincidência
Reincidência e Meio de Prova
Tipicidade
Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial

Direito Previdenciário
Benefícios Previdenciários
Novo Teto Previdenciário e Readequação dos Benefícios - 1 e 2

Direito Processual Penal


Ação Penal
Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 1 a 3
Evento Esportivo e Ausência de Licitação - 1 e 2
Habeas Corpus
HC: Uso de Algemas e Demora no Julgamento
Juiz
Impedimento de Magistrado: Atuação em Feito Criminal e Sentença em Ação Civil Pública - 3
Liberdade Provisória
Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas
Nulidades
Remissão e Necessidade de Oitiva do Ministério Público
Princípios e Garantias Processuais Penais
Lei 11.719/2008: Interrogatório e “Tempus Regit Actum”
Prisão
Prisão Cautelar e Excesso de Prazo - 2
Revisão Criminal
Crimes contra a Dignidade Sexual: Nulidade e Assistência à Acusação

Direito Tributário
Impostos
ISS e Operações de Locação de Bens Móveis
IPI e Creditamento: Insumos Isentos, Não Tributados ou Sujeitos à Alíquota Zero - 4 e 5

DIREITO ADMINISTRATIVO
Atos Administrativos

Prazo para Registro de Aposentadoria e Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa - 6


Em conclusão, o Tribunal, por maioria, concedeu mandado de segurança para anular acórdão do
TCU no que se refere ao impetrante e para o fim de se lhe assegurar a oportunidade do uso das garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Na situação dos autos, a Corte de Contas negara
registro a ato de aposentadoria especial de professor — outorgada ao impetrante — por considerar
indevido o cômputo de serviço prestado sem contrato formal e sem o recolhimento das contribuições
previdenciárias — v. Informativos 415, 469, 589 e 590. Não obstante admitindo o fato de que a relação
jurídica estabelecida no caso se dá entre o TCU e a Administração Pública, o que, em princípio, não
reclamaria a audição da parte diretamente interessada, entendeu-se, tendo em conta o longo decurso de
tempo da percepção da aposentadoria até a negativa do registro (cinco anos e oito meses), haver direito
líquido e certo do impetrante de exercitar as garantias do contraditório e da ampla defesa. Considerou-se,
ao invocar os princípios da segurança jurídica e da lealdade, ser imperioso reconhecer determinadas
situações jurídicas subjetivas em face do Poder Público. Salientou-se a necessidade de se fixar um tempo
médio razoável a ser aplicado aos processos de contas cujo objeto seja o exame da legalidade dos atos
concessivos de aposentadorias, reformas e pensões, e afirmou-se poder se extrair, dos prazos existentes no
ordenamento jurídico brasileiro, o referencial de cinco anos. Com base nisso, assentou-se que,
transcorrido in albis o prazo qüinqüenal, haver-se-ia de convocar o particular para fazer parte do processo
de seu interesse.
MS 25116/DF, rel. Min. Ayres Britto, 8.9.2010. (MS-25116)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

Prazo para Registro de Aposentadoria e Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa - 7


Vencidos, em parte, os Ministros Celso de Mello e Cezar Peluso, que concediam a segurança em
maior extensão ao fundamento de que, após o prazo decadencial de cinco anos, a Corte de Contas
perderia o direito de analisar a legalidade da aposentadoria e de proceder ao respectivo registro. Vencidos,
também, os Ministros Marco Aurélio, Ellen Gracie e Sepúlveda Pertence, que denegavam a ordem, por
não se ter ato aperfeiçoado antes da manifestação do TCU pelo registro. Ademais, o Min. Marco Aurélio
salientava que se estaria a temperar a Súmula Vinculante 3 (“Nos processos perante o Tribunal de Contas
da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do
ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”).
MS 25116/DF, rel. Min. Ayres Britto, 8.9.2010. (MS-25116)
(Informativo 599, Plenário)

Prazo para Registro de Pensão e Garantias do Contraditório e da Ampla Defesa - 3


Ao aplicar orientação firmada no MS 25116/DF (v. Informativo 599) no sentido de reconhecer a
razoabilidade do prazo de 5 anos para que o Tribunal de Contas da União - TCU examine a legalidade dos
atos concessivos de aposentadorias, reformas e pensões, o Tribunal, em conclusão de julgamento, por
maioria, concedeu parcialmente mandado de segurança. Anulou-se acórdão do TCU no que se refere à
impetrante e para o fim de se lhe assegurar a oportunidade do uso das garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa. Tratava-se, na espécie, de writ impetrado contra atos do TCU e do
Coordenador-Geral de Recursos Humanos do Ministério dos Transportes, que implicaram o cancelamento
da pensão especial percebida pela impetrante — v. Informativos 484 e 590. Tendo em conta que ela vinha
recebendo a pensão há quase 10 anos de forma ininterrupta, entendeu-se que o seu benefício não poderia
ter sido cessado sem que lhe fosse oportunizada manifestação. Vencidos os Ministros Celso de Mello e
Cezar Peluso, Presidente, que concediam a ordem totalmente, pronunciando a decadência, e os Ministros
Ellen Gracie e Marco Aurélio que a denegavam.
MS 25403/DF, rel. Min. Ayres Britto, 15.9.2010. (MS-25403)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL


Recursos
Repercussão Geral: Devolução de Recurso e Irrecorribilidade
É incabível a interposição de recurso contra ato judicial de Ministro do Supremo que aplica a
sistemática da repercussão geral, em razão da inexistência de conteúdo decisório. Ao reafirmar essa
orientação, o Tribunal desproveu uma série de agravos regimentais interpostos contra decisões
monocráticas do Min. Gilmar Mendes, que negara seguimento a mandados de segurança, dos quais
relator, impetrados contra atos de Ministro do Supremo que ordenara a devolução dos autos ao órgão
judiciário de origem, para os fins do art. 543-B do CPC. Sustentava-se, na espécie, equívoco na devolução
de recursos extraordinários, bem como usurpação da competência do Plenário do STF. Considerou-se que
os agravantes não conseguiram infirmar os fundamentos da decisão questionada. Salientou-se, ademais, a
existência de entendimento consolidado no sentido do cabimento excepcional do mandado de segurança
contra ato jurisdicional da Corte. Por derradeiro, registrou-se que eventual insistência — por se tratar de
matéria inequívoca — ensejará a imposição de multa (CPC, art. 538, parágrafo único) em face do caráter
patentemente protelatório. Precedentes citados: AI 696454 AgR/MS (DJE de 10.11.2008); AI 705038
AgR/MS (DJE de 19.11.2008) e RE 593078 AgR/PR (DJE de 19.12.2008).
MS 28991 AgR/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (MS-28991 AgR)
MS 28993 AgR/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (MS-28993 AgR)
MS 28994 AgR/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (MS-28994 AgR)
MS 28996 AgR/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (MS-28996 AgR)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

DIREITO CONSTITUCIONAL
Conflito de Atribuições

Conflito de Atribuições e Falsificação de Documento Público


O Tribunal, ao resolver conflito de atribuições entre o Ministério Público Federal e Ministério
Público estadual, reconheceu a atribuição do primeiro para apurar possível prática do crime de
falsificação de papéis públicos (CP, art. 293), consistente na apresentação de guias de recolhimento
(DARF) supostamente irregulares à Secretaria da Receita Federal - SRF. Reputou-se que, ao versar os
fatos sobre imputação contrária ao bom serviço federal, incumbiria ao parquet federal atuar. Salientou-se
pouco importar a existência, ou não, de dano patrimonial. Consignou-se, ademais, que o recolhimento do
tributo devido — posteriormente à apresentação das guias de recolhimento irregulares — não obstaria a
continuidade das investigações, haja vista a necessidade de se saber qual o delito perpetrado, ou seja, se
teria havido crime de falso, crime tributário em sentido estrito ou se a falsidade teria consistido em meio
para a consumação do crime contra a ordem tributária. Vencido o Min. Dias Toffoli, que concedia a
ordem de ofício para encerrar o procedimento investigatório, tendo em conta a quitação do tributo, a qual
extinguiria a punibilidade.
PET 4680/MG, rel. Min. Marco Aurélio, 29.9.2010. (PET-4680)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

Controle de Constitucionalidade

Composição de Tribunal de Contas e Transição de Modelos Constitucionais


O Tribunal julgou improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada
pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil contra o § 2º do art. 54 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado do Amapá, acrescido pela Emenda
Constitucional 5/96, que trata da escolha de conselheiros para o Tribunal de Contas daquela unidade
federativa (“Art. 54 - Nos dez primeiros anos da existência do Estado do Amapá, o Tribunal de contas do
Estado terá três conselheiros, dentre brasileiros de comprovada idoneidade e notório saber. § 1º - Na
hipótese de vacância nos cargos referidos neste artigo, o provimento dos mesmos será feito: I - o
primeiro pela Assembléia Legislativa; II - o segundo pela Assembléia Legislativa; III - o terceiro pelo
Governador. § 2º - Após passar o tribunal de contas a ter sete Conselheiros, desde que fique garantida a
distribuição proporcional prevista no § 2º, I e II do artigo 113, as quatro vagas serão preenchidas pela
Assembléia Legislativa, observados os requisitos do § 1º do mencionado artigo.”). O requerente
sustentava que o dispositivo impugnado não garantiria a participação de conselheiros oriundos do
Ministério Público e do quadro de auditores. Inicialmente, consignou-se orientação da Corte no sentido de
que os Tribunais de Contas Estaduais deverão ser compostos por 3 conselheiros nomeados pelo Chefe do
Poder Executivo e 4 nomeados pela Assembléia Legislativa, consoante o modelo definido no art. 73 da
CF (Enunciado 653 da Súmula do STF). Em seguida, aduziu-se que, na situação em apreço, o Governador
já teria nomeado 3 membros do Tribunal de Contas quando da sua instalação, de forma que os 4 cargos
restantes deveriam ser preenchidos por indicação da Assembléia Legislativa, sob pena de transgressão à
proporcionalidade constitucionalmente imposta (artigos 73, § 2º, I e II, 75, caput e parágrafo único, e 235,
caput). Concluiu-se que somente com a vacância dos cargos que teriam sido providos por indicação do
Governador, seria possível fixar a observância da regra constitucional que determina ao Chefe do Poder
Executivo a escolha alternada entre auditores, membros do Ministério Público perante o Tribunal de
Contas estadual e a livre nomeação para o provimento dos cargos de conselheiro.
ADI 1957/AP, rel. Min. Gilmar Mendes, 1º.9.2010. (ADI-1957)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 598, Plenário)

Propaganda Eleitoral no Rádio e na Televisão: Humor e Liberdade de Imprensa - 1


O Tribunal, por maioria, referendou liminar concedida pelo Min. Ayres Britto em ação direta de
inconstitucionalidade, da qual relator, para suspender as normas do inciso II e da segunda parte do inciso
III, ambos do art. 45, bem como, por arrastamento, dos §§ 4º e 5º do mesmo artigo, todos da Lei 9.504/97
(“Art. 45. A partir de 1º de julho do ano da eleição, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua
programação normal e noticiário: ... II - usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo
que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou
veicular programa com esse efeito; III - veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou
contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes; ... § 4º Entende-se por
trucagem todo e qualquer efeito realizado em áudio ou vídeo que degradar ou ridicularizar candidato,
partido político ou coligação, ou que desvirtuar a realidade e beneficiar ou prejudicar qualquer
candidato, partido político ou coligação. § 5º Entende-se por montagem toda e qualquer junção de
registros de áudio ou vídeo que degradar ou ridicularizar candidato, partido político ou coligação, ou
que desvirtuar a realidade e beneficiar ou prejudicar qualquer candidato, partido político ou
coligação.”). No caso, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT alegava que
os dispositivos questionados não estariam em harmonia com o sistema constitucional das liberdades de
expressão e de imprensa e do direito à informação, em ofensa aos artigos 5º, IV, IX e XIV, e 220, todos
da CF. De início, enfatizou-se o legítimo exercício do poder cautelar do relator que, ante o fato de se estar
em pleno período eleitoral, a um mês das votações, deferira a providência em sede de decisão
monocrática. Assinalou-se que a urgência se fazia presente e que se renovaria a cada momento eleitoral.
Acrescentou-se que, embora os incisos questionados estivessem em vigor há alguns anos, a dinâmica da
vida não imporia aí a existência de um tipo de “usucapião da legalidade”, no sentido de que, se a lei
ficasse em vigor por muito tempo, tornar-se-ia constitucional. Destacou-se, no ponto, posicionamento
sumulado do STF segundo o qual é insuscetível de prescrição a pretensão de inconstitucionalidade.
ADI 4451 Referendo-MC/DF, rel. Min. Ayres Britto, 1º e 2.9.2010. (ADI-4451)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 598, Plenário)

Propaganda Eleitoral no Rádio e na Televisão: Humor e Liberdade de Imprensa - 2


Em seguida, consignou-se que o humor poderia ser considerado imprensa, sendo aplicáveis, à
espécie, as diretrizes firmadas no julgamento da ADPF 130/DF (republicada no DJE de 26.2.2010),
relativamente à liberdade de imprensa. Aduziu-se que tal liberdade, também denominada liberdade de
informação jornalística, não seria uma bolha normativa, uma fórmula prescritiva oca, porquanto possuiria
conteúdo, sendo este formado pelo rol de liberdades contidas no art. 5º da CF: livre manifestação do
pensamento, livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação e livre acesso à
informação. Mencionou-se o que disposto no art. 220 da CF, o qual seria uma extensão dos direitos
fundamentais do seu referido art. 5º, de modo a reforçar esses sobredireitos. Assim, a comunicação social
— que era livre no país — teria se tornado plena (CF, art. 220, § 1º). Salientou-se que, além de se ter em
conta as coordenadas da aludida ADPF, dever-se-ia, ainda, atentar-se para a superveniência da Lei
12.034/2009 que — ao introduzir os §§ 4º e 5º ao art. 45 da Lei 9.504/97, para conceituar trucagem e
montagem — ampliara o âmbito material de incidência do inciso II desse mesmo artigo, o que permitira
uma reforma no conteúdo da lei eleitoral. Reputou-se que os dispositivos adversados não apenas
restringiriam, censurariam a liberdade de imprensa consubstanciada no humor em si mesmo — enquanto
expressão de arte e de opinião crítica —, mas, também, em programas de humor, bem como o humor em
qualquer programa, ainda que não especificamente de humor. Concluiu-se ser possível, no curso do
processo eleitoral, o exercício do direito de crítica, de opinião, mesmo que contundente, pelos meios de
comunicação social por radiodifusão, estando vedado o patrocínio de candidatura. Acentuou-se, ademais,
que a dignidade da pessoa humana já estaria tutelada pelo Código Penal, que criminaliza as ofensas à
honra caracterizadoras de calúnia, de injúria e de difamação, e pelo Código Eleitoral. Por fim, aduziu-se
que, durante o período eleitoral, a liberdade de imprensa deveria ser maior, haja vista ser o momento em
que o cidadão mais precisa de plenitude de informação e desta com qualidade.
ADI 4451 Referendo-MC/DF, rel. Min. Ayres Britto, 1º e 2.9.2010. (ADI-4451)
(Informativo 598, Plenário)

Propaganda Eleitoral no Rádio e na Televisão: Humor e Liberdade de Imprensa - 3


Vencidos os Ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, que, nos termos do
pedido sucessivo da inicial, deferiam a liminar, declarando a inconstitucionalidade parcial das normas
impugnadas mediante interpretação conforme para afastar do ordenamento jurídico: a) “interpretação do
inciso II do art. 45 da Lei 9.504/97 que conduza à conclusão de que as emissoras de rádio e televisão
estariam impedidas de produzir e veicular charges, sátiras e programas humorísticos que envolvam
candidatos, partidos ou coligações” e b) “interpretação do inciso III do art. 45 da Lei 9.504/97 que
conduza à conclusão de que as empresas de rádio e televisão estariam proibidas de realizar a crítica
jornalística, favorável ou contrária, a candidatos, partidos, coligações, seus órgãos ou representantes,
inclusive em seus editoriais”.
ADI 4451 Referendo-MC/DF, rel. Min. Ayres Britto, 1º e 2.9.2010. (ADI-4451)
(Informativo 598, Plenário)

Medida Provisória: Pressupostos Constitucionais e Matéria Processual - 1


O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta proposta pelo Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil para declarar, com efeito ex tunc, a inconstitucionalidade do art. 9º da
Medida Provisória 2.164-41/2001, que acrescentou o art. 29-C à Lei 8.036/90, o qual suprime a
condenação em honorários advocatícios nas ações entre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço -
FGTS e os titulares de contas vinculadas, bem como naquelas em que figurem os respectivos
representantes ou substitutos processuais (“Art. 9º A Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, passa a vigorar
com as seguintes alterações: ... Art. 29-C. Nas ações entre o FGTS e os titulares de contas vinculadas,
bem como naquelas em que figurem os respectivos representantes ou substitutos processuais, não haverá
condenação em honorários advocatícios.”). Preliminarmente, rejeitou-se a alegação de inépcia da petição
inicial suscitada pela Advocacia-Geral da União - AGU. Ressaltou-se que, embora sintética, a peça
permitiria que a mencionada instituição, em suas extensas informações, rechaçasse os argumentos do
requerente. Ademais, consignou-se que o preceito adversado possuiria autonomia, a dispensar a
impugnação do total do diploma normativo.
ADI 2736/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 8.9.2010. (ADI-2736)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

Medida Provisória: Pressupostos Constitucionais e Matéria Processual - 2


No mérito, enfatizou-se orientação da Corte segundo a qual os requisitos constitucionais
legitimadores da edição de medidas provisórias — relevância e urgência — podem ser apreciados, em
caráter excepcional, pelo Poder Judiciário. Aduziu-se, ademais, que o tema referente à condenação em
honorários advocatícios de sucumbência seria tipicamente processual. Asseverou-se a incompatibilidade
da utilização de medida provisória em matéria relativa a direito processual, haja vista a definitividade dos
atos praticados no processo, destacando-se que esse entendimento fora positivado pela EC 32/2001 (CF,
art. 62, § 1º, I, b). Por fim, registrou-se que, não obstante o disposto no art. 2º da aludida emenda (“As
medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda continuam em vigor até
que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso
Nacional.”), não se poderia ter um dispositivo de medida provisória em situação de incompatibilidade
com a norma constitucional. Precedente citado: ADI 1910 MC/DF (DJU de 27.2.2004).
ADI 2736/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 8.9.2010. (ADI-2736)
(Informativo 599, Plenário)

Embargos de Declaração e Modulação de Efeitos - 2


Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, acolheu embargos de declaração para
modular os efeitos de decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade. Esclareceu-se que o
acórdão embargado tem eficácia a partir da data de sua publicação (21.8.2009). Na espécie, o Supremo
declarara a inconstitucionalidade da Lei distrital 3.642/2005, que dispõe sobre a Comissão Permanente de
Disciplina da Polícia Civil do Distrito Federal — v. Informativos 542 e 591. Reconheceu-se, de início, a
jurisprudência da Corte, no sentido de inadmitir embargos de declaração para fins de modulação de
efeitos, sem que tenha havido pedido nesse sentido antes do julgamento da ação. Entendeu-se que, no
caso, entretanto, a declaração não deveria ser retroativa, por estarem configurados os requisitos exigidos
pela Lei 9.868/99 para a modulação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, tendo
em conta a necessidade de preservação de situações jurídicas formadas com base na lei distrital.
Mencionou-se, no ponto, que a declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex tunc acarretaria, dentre
outros, a nulidade de todos os atos praticados pela Comissão Permanente de Disciplina da Polícia Civil do
Distrito Federal, durante os quatro anos de aplicação da lei declarada inconstitucional, possibilitando que
policiais civis que cometeram infrações gravíssimas, puníveis inclusive com a demissão, fossem
reintegrados. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello que não acolhiam os declaratórios,
por não vislumbrar os pressupostos de embargabilidade, e rejeitavam a modulação dos efeitos.
ADI 3601 ED/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 9.9.2010. (ADI-3601)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

Escolha de Diretor-Geral da Polícia Civil e Autonomia Estadual - 1


O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pelo Procurador-Geral da República contra o art. 6º da Lei 11.438/91, do
Estado de Goiás, que dispõe sobre a criação do cargo de Diretor-Geral da Polícia Civil naquela unidade
federativa (“Art. 6º - Fica criado o cargo de Diretor Geral da Polícia Civil, de provimento em comissão.
Parágrafo único – o Diretor Geral da Polícia Civil, com atribuições definidas em decreto: a) é nomeado
e exonerado pelo Governador dentre os delegados de polícia de carreira, da classe mais elevada, de
conformidade com o art. 123 da Constituição Estadual”). Inicialmente, salientou-se que o requerente
apresentara adequadamente a fundamentação jurídica do pedido, o que repeliria a alegação de inépcia da
petição inicial. Rejeitou-se, também, o apontado vício de iniciativa, uma vez que a lei impugnada fora
proposta pela então Governadora do Estado.
ADI 3062/GO, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.9.2010. (ADI-3062)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

Escolha de Diretor-Geral da Polícia Civil e Autonomia Estadual - 2


No mérito, considerou-se que o dispositivo questionado prestigiaria a autonomia político-
institucional da federação. Asseverou-se que a regra impugnada se mostraria fiel ao que instituído pela
Constituição, nos seus aspectos gerais, possuindo racionalidade. Enfatizou-se que o preceito não violaria
a Carta Magna, haja vista que o modelo federal apenas exigiria que o cargo em comento não fosse
provido por pessoa estranha à carreira. Assim, reputou-se admissível que o Estado-membro, ao organizar
a aludida carreira, se valha do que a Constituição prescreve — “dirigidas por delegados de polícia de
carreira” (CF, art. 144, § 4º) — para concluir que o Chefe do Poder Executivo poderia optar dentre
aqueles de uma determinada classe, a homenagear o patamar mais alto da carreira. Mencionou-se que a
Constituição não poderia deixar de pressupor que a carreira significaria experiência e profissionalização
do serviço público. Aduziu-se que o STF vem possibilitando uma verdadeira reconstrução jurisdicional da
própria teoria do federalismo, afastando aquela anterior subordinação dos Estados-membros e dos
Municípios ao denominado “standard federal” tão excessivamente centralizador da CF/69, na qual
estabelecida uma concentração espacial do poder político na esfera da União. Tendo isso em conta,
ressaltou-se que a federação brasileira fora uma construção artificial e que caberia a esta Corte auxiliar na
arquitetura dessa autonomia estadual. Vencido o Min. Dias Toffoli que, por reputar que a norma
restringiria a possibilidade de escolha do Governador, julgava procedente, em parte, o pleito para declarar
a inconstitucionalidade da expressão “da classe mais elevada”, constante da alínea a do parágrafo único
do art. 6º da lei impugnada.
ADI 3062/GO, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.9.2010. (ADI-3062)
(Informativo 599, Plenário)

Matéria Tributária e Delegação Legislativa - 1


O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta proposta pelo Procurador-Geral da
República para declarar a inconstitucionalidade dos vocábulos “remissão” e “anistia”, contidos no art. 25
da Lei 6.489/2002, do Estado do Pará, que autoriza o Governador a conceder, por regulamento, remissão,
anistia, transação, moratória e dação em pagamento de bem imóvel. Reputaram-se afrontados os
princípios da separação de Poderes e da reserva absoluta de lei em sentido formal em matéria tributária de
anistia e remissão, uma vez que o Poder Legislativo estaria conferindo, ao Chefe do Executivo, a
prerrogativa de dispor, normativamente, sobre tema para o qual a Constituição impõe lei específica (CF,
art. 150, § 6º).
ADI 3462/PA, rel. Min. Cármen Lúcia, 15.9.2010. (ADI-3462)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

Modulação de Efeitos e Suspensão de Julgamento - 2


Em seguida, deliberou-se sobre o pleito de aplicação do art. 27 da Lei 9.868/99 formulado pelo
requerente. Ressaltou-se que o sistema pátrio comporta a modulação de efeitos, sem que isso signifique
violação ao texto constitucional. Asseverou-se que a sua adoção decorreria da ponderação entre o Estado
de Direito na sua expressão legalidade e na sua vertente segurança jurídica. Aduziu-se que o
procedimento da modulação seria bifásico, escalonado e progressivo: o julgamento que se faz sobre o
mérito da constitucionalidade e aquele referente à modulação de efeitos. Explicitou-se, nesse sentido, que
ocorreriam duas apreciações autônomas e distintas, sendo que a segunda — a qual envolveria a questão
da modulação — tem como pressuposto a declaração prévia de inconstitucionalidade. Assim, reafirmou-
se a possibilidade da suspensão de julgamento para se colher os votos de Ministros ausentes, quando não
alcançado, na assentada, o quórum a que alude o referido art. 27 da Lei 9.868/99. Divergiu, no ponto, o
Min. Marco Aurélio. Entretanto, no caso dos autos, em razão de também terem votado contra a incidência
do referido dispositivo legal os Ministros Joaquim Barbosa e Cezar Peluso, Presidente, constatou-se a
inviabilidade da modulação, ante a ausência de quórum.
ADI 3462/PA, rel. Min. Cármen Lúcia, 15.9.2010. (ADI-3462)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

Contribuição Previdenciária de Inativos e Pensionistas e Mudança de Paradigma - 1


O Tribunal, em apreciação conjunta de duas ações diretas, julgou, por maioria, procedente em parte
o pedido formulado na ADI 2158/PR, e, por unanimidade, procedente o na ADI 2198/PR, propostas,
respectivamente, pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB e pelo Procurador-Geral da
República, para declarar a inconstitucionalidade de expressões e dispositivos constantes da Lei 12.398/98,
do Estado do Paraná. A lei impugnada prevê a incidência de contribuição previdenciária sobre os
proventos de servidores inativos e pensionistas no âmbito daquela unidade federativa. Inicialmente, em
votação majoritária, rejeitou-se a preliminar de prejudicialidade das ações em face da substancial
alteração de parâmetro de controle operada pela EC 41/2003, a qual — ao contrário do que previsto na
EC 20/98, em vigor à época da edição da norma impugnada — admite expressamente a incidência da
contribuição previdenciária sobre os proventos dos inativos na parte em que exceder o limite máximo
para os benefícios do Regime Geral de Previdência Social (CF, art. 40, § 18). Salientou-se que, no caso,
apesar de até hoje não ter sido cobrada a aludida contribuição naquele Estado, uma vez que a lei
adversada fora suspensa com a concessão de medidas cautelares pela Corte, a norma não fora revogada,
permanecendo no mundo jurídico. Tendo isso em conta, asseverou-se que, se o Supremo aplicasse sua
jurisprudência tradicional no sentido do prejuízo das ações, revogar-se-iam, em conseqüência, as medidas
cautelares. Além disso, a lei estadual, não obstante patentemente inconstitucional, tornaria a produzir seus
efeitos à luz do regramento instituído pela EC 41/2003, a qual lhe conferiria uma aparência de validade.
Aduziu-se, na linha de precedentes, que esse inconveniente poderia ser evitado com a excepcional
admissão do exame de mérito das ações. Ao enfatizar que o sistema brasileiro não contempla a figura da
constitucionalidade superveniente, consignou-se que a norma em apreço não fora convalidada e, por isso,
sua inconstitucionalidade persistiria e seria atual, embora se referisse a dispositivos da Constituição que
não se encontram mais em vigor, modificados pela EC 41/2003. Desse modo, reputou-se que, se o
sistema veda a convalidação da lei inconstitucional, seria necessária a existência de mecanismos eficazes
para expungir a norma ainda inconstitucional do ordenamento jurídico, mesmo que em face de parâmetro
de controle alterado ou revogado. Concluiu-se que, na situação dos autos, cumpriria ao STF, ainda que já
ajuizada a ação direta, declarar a inconstitucionalidade da norma, com eficácia erga omnes e efeito
vinculante, em benefício da máxima efetividade da jurisdição constitucional. Salientou-se, por fim, o
progressivo reforço legislativo na expansão da jurisdição constitucional abstrata do Supremo. Vencidos os
Ministros Marco Aurélio, Ellen Gracie e Celso de Mello que assentavam o prejuízo das ações.
ADI 2158/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 15.9.2010. (ADI-2158)
ADI 2189/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 15.9.2010. (ADI-2189)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

EC 20/98: Contribuição Previdenciária de Inativos e Pensionistas e Inconstitucionalidade - 2


No mérito, reiterou-se o entendimento da Corte no sentido da inconstitucionalidade de lei, editada
sob a égide da EC 20/98, que previu a incidência de contribuição previdenciária sobre os proventos de
servidores públicos e respectivos pensionistas. Assim, por maioria, declarou-se, na ADI 2158/PR, a
inconstitucionalidade das seguintes expressões da Lei paranaense 12.398/98: a) “inativos” e “e dos
respectivos pensionistas” do art. 28; b) “e pensionistas” do inciso I do art. 69; c) “proventos ou pensão”
do art. 78, I e II, e das alíneas b e c do § 1º do art. 78; d) “inativos e pensionistas” e “proventos ou
pensão”, do art. 79. Relativamente ao citado inciso I do art. 69, aplicou-se, ainda, a técnica de declaração
de inconstitucionalidade, sem redução de texto, para afastar qualquer interpretação do vocábulo
“segurados” que inclua em seu significado os inativos. Reputaram-se inconstitucionais, por arrastamento,
estas disposições e expressões do Decreto 721/99: a) “inativos e pensionistas” do art. 1º; b) “bem como
dos então inativos e dos pensionistas” do art. 2º; c) do parágrafo único do art. 3º; d) “proventos ou
pensão” do art. 4º, I e II; e) dos §§ 2º e 3º do art. 5º; f) “e pensionistas” do art. 7º; g) “inativos e
pensionistas”, “proventos ou pensão” e “inativos e pensionistas” do art. 12. Quanto ao aludido art. 7º,
aplicou-se, também, a técnica da declaração de inconstitucionalidade, sem redução de texto, para afastar
qualquer interpretação da expressão “servidor” que inclua em seu significado os servidores inativos.
Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Ayres Britto, que não declaravam a inconstitucionalidade do
Decreto 721/99, por não admitirem controle concentrado em decreto simplesmente regulamentar. No
tocante à ADI 2189/PR, julgaram-se inconstitucionais as expressões: a) “inativos” e “da reserva
remunerada e reformados e dos respectivos pensionistas” do art. 28, I; e b) “e pensionistas” do caput do
art. 78, bem como do seu § 1º, alíneas b e c, todos da Lei estadual 12.398/98, do Estado do Paraná.
Precedente citado: ADI 2010/DF (DJU de 28.3.2003).
ADI 2158/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 15.9.2010. (ADI-2158)
ADI 2189/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 15.9.2010. (ADI-2189)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

Empresas Optantes do Simples Nacional e Isenção de Contribuições - 5


O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada pela Confederação Nacional do Comércio - CNC contra o art. 13, § 3º, da
Lei Complementar 123/2006, que concede isenção às microempresas e empresas de pequeno porte
optantes do Simples Nacional - Supersimples, quanto ao pagamento das contribuições instituídas pela
União, inclusive aquelas devidas às entidades privadas de serviço social e de formação profissional
vinculadas ao sistema sindical (CF, art. 240) — v. Informativo 524. Afastou-se, inicialmente, a alegada
ofensa ao art. 150, § 6º, da CF. Após registrar haver pertinência entre a isenção e o tema geral que foi
objeto da Lei Complementar 123/2006, e que a contribuição sindical é tributo cuja instituição está na
esfera de competência da União (CF, artigos 8º, IV, 149 e 240), considerou-se não ser estranha à lei
destinada a instituir o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte a matéria
relativa à tributação destas mesmas entidades. Asseverou-se que dispor sobre o assunto, de maneira
global, seria insuficiente para ocultar ou escamotear o igualmente relevante tema da exoneração tributária.
ADI 4033/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.9.2010. (ADI-4033)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

Empresas Optantes do Simples Nacional e Isenção de Contribuições - 6


Quanto à apontada afronta ao art. 146, III, d, da CF, citou-se o que disposto no art. 170, IX, da CF, e
aduziu-se que o fomento da atividade das empresas de pequeno porte e das microempresas é objetivo que
deve ser alcançado, nos termos da Constituição, na maior medida possível diante do quadro fático e
jurídico a que estiverem submetidas. Assinalou-se que, dentre as medidas que poderiam ser adotadas pelo
Estado, estaria a elaboração de regime tributário diferenciado, que tomasse por premissa a circunstância
de as empresas com menor receita não terem potencial competitivo tão desenvolvido como as empresas
de maior porte. Realçou-se que, a fim de alcançar tais objetivos e ainda atender ao princípio da
capacidade contributiva, não seria adequado afirmar que o regime tributário diferenciado deveria se
limitar a certos tributos. Assim, tendo em conta que a proposta de limitação do regime tributário
diferenciado a espécies tributárias específicas poderia amesquinhar ou mesmo aniquilar o propósito da
instituição de tal regime, concluiu-se que se haveria de dar ao texto do art. 146, III, d, da CF caráter
exemplificativo e não taxativo, no que se refere aos tributos que poderão ter o alcance modulado em
função de o contribuinte ser empresa de pequeno porte. No ponto, ressaltou-se que aqui o Sistema
Tributário se subordinaria ao objetivo que o Sistema Econômico e o Social demarcariam no campo
jurídico, ou seja, o fomento da atividade das pessoas jurídicas submetidas à Lei Complementar 123/2006
teria primazia ou prioridade sobre a literalidade das disposições específicas sobre matéria tributária.
ADI 4033/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.9.2010. (ADI-4033)
(Informativo 600, Plenário)

Empresas Optantes do Simples Nacional e Isenção de Contribuições - 7


Em seguida, repeliu-se o argumento de violação ao art. 8º da CF. Não obstante reputando ser
relevante a alegação acerca do risco de enfraquecimento das entidades de representação patronal no
campo das relações do trabalho, considerou-se o fato de que o benefício fiscal contestado não seria novo,
e reportou-se ao julgamento da ADI 2006 MC/DF (DJU de 1º.12.2000), em que se fixara orientação no
sentido de que a finalidade extrafiscal da isenção da contribuição sindical patronal prevalecia, em termos,
sobre a autonomia e a liberdade sindical. Ponderou-se, ademais, ser necessário observar o trânsito da
situação a que estariam atualmente submetidas as microempresas e empresas de pequeno porte, para o
quadro incentivado pela exoneração, de modo a confirmar se a influência da norma impugnada seria ou
não perniciosa. No ponto, aduziu-se que, se o objetivo previsto com a concessão do benefício for obtido
— fomento da pequena empresa — duas conseqüências advirão, em maior ou menor grau: o
fortalecimento de tais empresas, que poderão passar à condição de empresas de maior porte e, portanto,
superar a faixa de isenção, e o incentivo à regularização das empresas ditas informais melhorará o perfil
dos consumidores, o que será benéfico às atividades das empresas comerciais de maior porte. Enfatizou-
se que a competência para instituir as contribuições de interesse de categorias profissionais ou
econômicas seria da União, nada impedindo que tais tributos também atendessem à função extrafiscal
estabelecida nos termos da CF, e que a circunstância de o tributo ser parafiscal não modificaria o quadro.
Salientou-se que, se a política econômica pede por sacrifícios proporcionais em matéria de arrecadação —
como forma de estímulo e desenvolvimento das atividades das micro e pequenas empresas, bem como do
aumento das condições propícias à oferta de empregos —, as entidades parafiscais não poderiam alegar
uma espécie de titularidade absoluta ou de direito adquirido ao valor potencialmente arrecadável com o
tributo. Concluiu-se que situação diversa se configuraria se a exoneração fosse tão intensa a ponto de
forçar situação de grave e irreversível desequilíbrio, apta a inviabilizar completamente a atuação da
entidade paraestatal, sendo, mesmo em tais casos, indispensável questionar se a entidade paraestatal não
teria, ou não deveria ter, outras fontes de custeio.
ADI 4033/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.9.2010. (ADI-4033)
(Informativo 600, Plenário)

Empresas Optantes do Simples Nacional e Isenção de Contribuições - 8


Por fim, não se vislumbrou a mencionada infringência à isonomia e à igualdade. Apesar de julgar
ser indiscutível a assertiva da requerente quanto à relevância que as entidades sindicais patronais
possuiriam no sistema das relações do trabalho, bem como a contribuição por elas dada à indispensável
liberdade sindical, entendeu-se que a premissa apresentada seria insuficiente para afastar a inexistência de
especificidade que justificasse a aplicação de regimes diferenciados no campo da tributação às entidades
patronais e às entidades de representação dos trabalhadores. Após mencionar ser diverso o contexto da
presente situação do daquela analisada no julgamento do RE 217355/MG (DJU de 2.2.2001), considerou-
se que seria relevante para o desate da questão saber se a exoneração concedida às empresas de pequeno
porte teria a mesma carga de benefício fiscal concedido aos trabalhadores de baixa renda. Observou-se
não haver argumentação nesse sentido, não tendo a requerente explorado a eventual simetria ou
discrepância entre o potencial de custeio das entidades sindicais. Assim, ausentes tais dados, não seria
possível confirmar a assertiva quanto às violações apontadas. Vencido o Min. Marco Aurélio que, ao se
reportar ao voto proferido na ADI 2006/DF (DJE de 10.10.2008), julgava o pleito procedente, conferindo
ao preceito, sem redução de texto, o sentido de não alcançar a contribuição sindical prevista no art. 589 da
CLT.
ADI 4033/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.9.2010. (ADI-4033)
(Informativo 600, Plenário)

Segurança Pública e Inclusão de Órgão - 1


O rol de órgãos encarregados do exercício da segurança pública, previsto no art. 144, I a V, da CF, é
taxativo e esse modelo federal deve ser observado pelos Estados-membros e pelo Distrito Federal. Com
base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, julgou procedente, em parte, pedido formulado em
ação direta proposta pelo Partido Social Liberal - PSL para declarar a inconstitucionalidade da EC 19/98 e
da expressão “Instituto-Geral de Perícias” constante da EC 18/97, ambas da Constituição do Estado do
Rio Grande do Sul, que dispõem sobre o aludido Instituto-Geral de Perícias. Preliminarmente, rejeitou-se
a alegada inépcia da inicial, uma vez que o requerente indicara os dispositivos sobre os quais versaria a
ação, bem como os fundamentos jurídicos do pedido. Ademais, ressaltou-se estar superada a tese relativa
à prejudicialidade da ação direta em face da perda superveniente de representação do partido no
Congresso Nacional. Assinalou-se, inclusive, que o requerente já teria readquirido sua representatividade.
ADI 2827/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (ADI-2827)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 600, Plenário)

Segurança Pública e Inclusão de Órgão - 2


No mérito, consignou-se que, da leitura do disposto no art. 124 da Constituição gaúcha (“A
segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública, das prerrogativas da cidadania, da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através
dos seguintes órgãos: ... III - Instituto-Geral de Perícias.”), constatar-se-ia que, ao editar a EC 19/97, a
Assembléia Legislativa optara por inserir o referido instituto na lista dos órgãos responsáveis pela
segurança pública estadual. Além disso, registrou-se que essa afirmação poderia ser confirmada por outra
mudança na Constituição gaúcha promovida pela mesma emenda para acrescentar uma seção denominada
“Do Instituto-Geral de Perícias”. Aduziu-se que alterações semelhantes teriam ocorrido relativamente à
EC 18/97, a qual introduzira, nas disposições gerais do capítulo referente à segurança pública, os
servidores do instituto em comento. Ante a falta de impugnação, afastou-se o pleito formulado na tribuna
pelo advogado do requerente no sentido de que fosse declarada também a inconstitucionalidade do
preceito da Carta gaúcha na sua redação originária. De outro lado, assentou-se a constitucionalidade da
Lei Complementar 10.687/96, com as alterações introduzidas pela Lei Complementar 10.998/97, ambas
do Estado do Rio Grande do Sul, haja vista que tais diplomas apenas regulamentariam e organizariam o
funcionamento do Instituto-Geral de Perícias. Enfatizou-se que essas atribuições não se restringiriam ao
auxílio da polícia civil, mas do Ministério Público, dos magistrados e da Administração Pública. Dessa
forma, realçou-se que nada impediria que o instituto continuasse a existir e a desempenhar suas funções
no Estado-membro, tal como regulamentado pelo legislador. Contudo, registrou-se que ele não precisaria
estar, necessariamente, vinculado à polícia civil. Vencido o Min. Marco Aurélio que, ao salientar que se
criara um instituto para se ter a completude do que entendido como segurança pública, julgava o pedido
improcedente. Precedentes citados: ADI 236/RJ (DJU de 1º.6.2001) e ADI 1182/DF (DJU de 10.3.2006).
ADI 2827/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (ADI-2827)
(Informativo 600, Plenário)
Segurança Pública e Inclusão de Órgão - 3
Ao aplicar a orientação exposta acima, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente
pedido formulado em ação direta ajuizada pela Associação de Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL-
BRASIL para declarar a inconstitucionalidade do art. 1º da EC 39/2005, do Estado de Santa Catarina, que
criou o Instituto Geral de Perícia, como órgão de Segurança Pública. Afastou-se, entretanto, a apontada
inconstitucionalidade dos demais dispositivos impugnados na ação (artigos 2º a 5º do referido diploma
normativo), visto que eles regulamentam e organizam o funcionamento desse instituto. Vencido o Min.
Marco Aurélio que julgava o pleito improcedente.
ADI 3469/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, 16.9.2010. (ADI-3469)
(Informativo 600, Plenário)

Dupla Identificação do Eleitor e Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade - 1


Por vislumbrar aparente ofensa aos postulados da proporcionalidade e da razoabilidade, e
ressaltando a iminência das eleições marcadas para o dia 3.10.2010, o Tribunal, por maioria, concedeu
medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada pelo Diretório Nacional do Partido dos
Trabalhadores, para, mediante interpretação conforme conferida ao art. 91-A da Lei 9.504/97, na redação
dada pela Lei 12.034/2009 — e ao art. 47, § 1º, da Resolução TSE 23.218/2010 —, reconhecer que
somente a ausência de documento oficial de identidade com fotografia trará obstáculo ao exercício do
direito de voto. Os dispositivos impugnados determinam que, no momento da votação, sejam
apresentados o título de eleitor e um documento de identificação com foto. Após breve retrospecto da
legislação brasileira sobre essa dupla exigência, consignou-se que ela já teria sido inserida no
ordenamento pátrio (Lei 9.100/95, art. 75), sendo posteriormente revogada, ante a dificuldade excessiva
ao eleitorado. Registrou-se a problemática no sistema eleitoral relativamente à identificação dos eleitores.
Salientou-se, nesse sentido, a inexistência de unificação entre as identidades civil e eleitoral ou de um
título eleitoral com foto. Citou-se, inclusive, manifestação do TSE — em processo administrativo que
ensejara a expedição da aludida Resolução 23.218/2010 — quanto à possibilidade de se admitir o
exercício do voto pelo eleitor que apenas apresentasse o documento comprobatório de identidade, em
razão do extravio, perda ou inutilização de seu título após o término do prazo para a solicitação de 2ª via.
Aquela Corte assentara a necessidade do incremento dos esforços de ampla divulgação da novidade legal,
bem como o seu imediato aparelhamento para que os títulos eleitorais extraviados ou inutilizados fossem
reimpressos.
ADI 4467 MC/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 29 e 30.9.2010. (ADI-4467)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

Dupla Identificação do Eleitor e Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade - 2


Afirmou-se, ainda, que a apresentação do título de eleitor, nos moldes estabelecidos hoje, não
ofereceria garantia de lisura nesse momento crucial de revelação da vontade do eleitorado e que as
experiências das últimas eleições demonstrariam maior confiabilidade na identificação aferida com base
em documentos oficiais de identidade com foto. Aduziu-se que os preceitos adversados, embora
objetivassem maior segurança no reconhecimento dos eleitores, estabeleceriam uma exigência desmedida,
a qual afastaria a finalidade que a norma pretendera alcançar. Asseverou-se não ser cabível tomar-se o art.
91-A da lei em apreço como impedimento ao voto do eleitor que, ainda que se encontrasse apto a prestar
identificação mediante apresentação de um documento oficial com fotografia, não estivesse portando,
naquele momento, seu título de eleitor. Concluiu-se que se deveria apresentar, no momento da votação,
tanto o título de eleitor como documento oficial de identificação com fotografia. Contudo, enfatizou-se
que apenas a frustração na exibição deste último é que teria o condão de impedir o exercício do voto. O
Min. Dias Toffoli, ao ressaltar que não concedia a cautelar com fundamento nos princípios referidos,
porquanto eles seriam técnicas de solução, reputou que o dispositivo restringiria o exercício da cidadania,
em afronta ao art. 1º, II, c/c o art. 14, caput, ambos da CF. Vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Cezar
Peluso, Presidente, que indeferiam a concessão da medida cautelar por considerar que o porte obrigatório
do título de eleitor não esvaziaria ou restringiria o direito fundamental ao voto de forma desarrazoada ou
desproporcional, tendo o legislador atuado dentro de sua margem de ação, sem ofensa ao texto
constitucional.
ADI 4467 MC/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 29 e 30.9.2010. (ADI-4467)
(Informativo 602, Plenário)
Extradição

Extradição e Princípio do “Non Bis in Idem”


A extradição não será concedida se, pelo mesmo fato em que se fundar o pedido extradicional, o
súdito estrangeiro estiver sendo submetido a procedimento penal no Brasil, ou, então, já houver sido
condenado ou absolvido pelas autoridades judiciárias brasileiras. Ao reafirmar esse entendimento, o
Tribunal, por maioria, indeferiu pedido de extradição formulado pelo Governo da Suíça de nacional
tanzaniano acusado de tráfico internacional de drogas (art. 19, 1 e 2, da lei suíça sobre drogas ilícitas)
supostamente cometido, em 2008, entre São Paulo e Roma, via Genebra. Consignou-se que, do cotejo
entre a ordem de detenção e a denúncia oferecida contra o paciente aqui no Brasil, constatar-se-ia que os
fatos versados naquela já seriam objeto de ações penais em trâmite na justiça brasileira, de modo a incidir
a vedação imposta pelo art. 77, V, da Lei 6.815/80 (“Art. 77. Não se concederá a extradição quando: ... V
- o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo
mesmo fato em que se fundar o pedido;”). Determinou-se, por fim, a expedição de alvará de soltura, se
por outro motivo o extraditando não estiver preso. Vencido o Min. Marco Aurélio que, considerado o
princípio da territorialidade, deferia o pleito extradicional, porquanto teria havido também a prática de
atos no território suíço.
Ext 1174/Confederação Helvética, rel. Min. Joaquim Barbosa, 9.9.2010. (Ext-1174)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

Mandado de Segurança

Decadência e Prestações de Trato Sucessivo


A Turma acolheu embargos de declaração, opostos contra acórdão que provera recurso ordinário em
mandado de segurança, tão-somente para prestar esclarecimentos, no sentido de que, ante a omissão na
esfera administrativa e em se tratando de prestações de trato sucessivo, o prazo decadencial para
impetração do writ renova-se a cada mês, porquanto a cada mês se renova a omissão administrativa. Na
espécie, o acórdão embargado afastara a decadência do direito de o recorrente pleitear o restabelecimento
de vantagem prevista no art. 184, III, da Lei 1.711/52 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da
União), revogada pela Lei 8.112/90, que fora suprimida dos seus proventos — v. Informativo 386.
Explicitou-se que realmente seria de efeitos concretos o ato por meio do qual o diretor de Ministério de
Estado determinara a supressão de provento de todos os servidores aposentados que se encontrassem em
situação similar à do impetrante. Atentou-se que, sob o prisma deste ato específico, a contagem do prazo
decadencial dar-se-ia a partir do momento em que o interessado dele tomara ciência. Ressaltou-se,
entretanto, fato importantíssimo que deveria ser considerado: o impetrante formulara requerimento
administrativo e pleiteara o restabelecimento do pagamento da vantagem suprimida. Contudo, o
requerimento não fora apreciado pela Administração Pública, omissão que ensejaria a impetração.
Precedente citado: RMS 24250/DF (DJE de 5.3.2010).
RMS 24736 ED/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 14.9.2010.(RMS-24736)
(Informativo 600, 2ª Turma)

Precatórios

Fracionamento de Precatório: Custas Processuais e Requisição de Pequeno Valor


É incabível o fracionamento do valor de precatório em execução de sentença contra a Fazenda
Pública, com o objetivo de se efetuar o pagamento de custas processuais por meio de requisição de
pequeno valor - RPV. Com base nessa orientação, o Tribunal proveu recurso extraordinário interposto
pelo Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul - IPERGS para reformar acórdão da Corte
local que deferira a expedição de RPV para tal pagamento, desde que as parcelas, individualmente
consideradas, não ultrapassassem o teto constitucional. Aduziu-se que a execução das verbas acessórias
não seria autônoma, devendo ser apreciada em conjunto com a condenação principal. Assim, a execução
das custas processuais não poderia ser feita de modo independente e deveria ocorrer em conjunto com a
do precatório que diz respeito ao total do crédito. Precedente citado: RE 544479/RS (DJU de 27.6.2007).
RE 592619/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 8.9.2010. (RE-592619)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário)

DIREITO ELEITORAL
Eleições

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 1


O Tribunal iniciou julgamento de recursos extraordinários em que questionado o indeferimento do
registro de candidatura do primeiro recorrente ao cargo político de Governador do Distrito Federal. Trata-
se de recursos interpostos, com base no art. 102, III, a, da CF, contra acórdão do Tribunal Superior
Eleitoral - TSE que, ao enfatizar a aplicabilidade imediata das alterações introduzidas pela LC 135/2010,
concluíra pela inelegibilidade do candidato a cargo de Governador. O acórdão impugnado assentara a
inelegibilidade do candidato para as eleições que se realizassem durante o período remanescente do
mandato para o qual ele fora eleito e para os 8 anos subseqüentes ao término da legislatura, nos termos da
alínea k do inciso I do art. 1º da LC 64/90, acrescentado pela aludida LC 135/2010 [“Art. 1º São
inelegíveis: I – para qualquer cargo: ... k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do
Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da
Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento
de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da
Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica
do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o
qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura.”]. Considerara o fato de o
candidato ter renunciado o mandato de Senador da República, em 2007, após o oferecimento de
representação capaz de autorizar a abertura de processo por falta de decoro parlamentar. Sustenta-se, em
caráter incidental, a inconstitucionalidade do referido dispositivo legal. Além disso, alegam-se, em
síntese: a) ofensa ao princípio da anterioridade da lei eleitoral (CF, art. 16); b) transgressão aos princípios
da irretroatividade da lei e do ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI); c) desrespeito ao princípio da
presunção de não culpabilidade (CF, art. 5º, LVII); d) abuso do poder de legislar e e) falta de
proporcionalidade e razoabilidade do preceito.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 2


Preliminarmente, reconheceu-se a repercussão geral dos recursos, haja vista se cuidar de questão
relevante nos aspectos político, jurídico e social. De outro lado, rejeitou-se, por maioria, questão de
ordem suscitada pelo Min. Cezar Peluso, Presidente, no sentido da inconstitucionalidade formal da LC
135/2010. A referida prejudicial fora formulada tendo em conta a suposta afronta ao postulado da
bicameralidade (CF, art. 65, parágrafo único), porquanto o Senado Federal emendara o projeto de lei
complementar, enviado pela Câmara dos Deputados, para alterar tempos verbais de alíneas do inciso I do
art. 1º da LC 64/90 sem que, contudo, tal emenda tivesse retornado à Casa iniciadora. O Min. Cezar
Peluso aduziu que o acatamento da questão de ordem excluiria a apreciação das inconstitucionalidades
materiais argüidas. Primeiramente, entendeu-se incabível o exame, de ofício, da inconstitucionalidade
formal. Asseverou-se que se estaria em sede de recurso extraordinário, em que a causa de pedir não seria
aberta. Ademais, ressaltou-se que a matéria não fora prequestionada e que somente em hipóteses pontuais
a Corte superara essa orientação, quando verificada a possível quebra do princípio da isonomia ou
violação à segurança jurídica com reflexos na força normativa da Constituição. Mencionou-se, também,
que a admissão da análise da inconstitucionalidade formal da lei como um todo, inclusive quanto a
dispositivos não impugnados, implicaria ampliação da causa de pedir e do pedido, sem provocação das
partes. Registrou-se, ainda, que seria preciso conceder-se à parte contrária a possibilidade de apresentar
contra-razões à argüição de inconstitucionalidade, bem como de o Ministério Público se manifestar.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 3


Quanto a essas preliminares, os Ministros Dias Toffoli, Cezar Peluso, Gilmar Mendes e Marco
Aurélio, com apoio em precedentes do STF, reputaram cabível o julgamento, em recurso extraordinário
(CF, art. 102, III, a), sobre a constitucionalidade de lei, não obstante por fundamento diverso do acolhido
pelo acórdão recorrido e não invocado pelas partes. Consignaram que o Supremo, guardião maior da
Constituição, não poderia ficar manietado, visto que seria um contra-senso admitir que qualquer juiz ou
tribunal pudesse se manifestar de ofício quanto ao conflito de norma legal com a Constituição, ao passo
que o STF, ultrapassada a barreira do conhecimento do recurso extraordinário e na apreciação da causa,
não o pudesse. Ponderaram que a Corte poderia apreciar a inconstitucionalidade de lei tendo a
integralidade da Constituição como parâmetro. Além disso, assinalaram que o recurso extraordinário
caminharia para um modelo de objetivação. O Min. Celso de Mello, embora reconhecesse, em tese, a
possibilidade de se efetuar a resolução incidental de questão prejudicial de constitucionalidade, entendeu
que, na espécie, não deveria admiti-la, porque os sujeitos da relação processual, inclusive o Procurador-
Geral da República, não teriam se pronunciado a respeito.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 4


Em seguida, os Ministros Ayres Britto, relator, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski
e Ellen Gracie enfatizaram que, se superada a prejudicial, a LC 135/2010 não padeceria do vício de
inconstitucionalidade formal. Registraram que as mudanças ocorreram — segundo afirmado pela
Presidência da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal — para uniformizar os
tempos verbais, em obediência ao que determinado pelo art. 11, I, d, da LC 95/98, a qual dispõe sobre a
elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art.
59 da CF. Assim, explicitaram que as emendas não teriam trazido modificações materiais no conteúdo
original da redação. Acrescentaram que a alínea adversada na situação dos autos não sofrera qualquer
alteração. Vencidos os Ministros Cezar Peluso e Marco Aurélio que assentavam a inconstitucionalidade
formal da norma por transgressão ao devido processo legislativo, dado que as alterações promovidas não
teriam sido meramente redacionais.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 5


No mérito, o Min. Ayres Britto desproveu os recursos extraordinários, no que foi acompanhado
pelos Ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie. Inicialmente,
salientou que apenas a declaração incidental de inconstitucionalidade da alínea k do inciso I do art. 1º da
LC 64/90, introduzida pela LC 135/2010, referir-se-ia à causa de pedir dos recursos extraordinários sob
exame. E o pedido consistiria no deferimento do registro da candidatura do primeiro recorrente ao cargo
de Governador do Distrito Federal. Desse modo, destacou que, atento aos limites materiais do recurso, as
demais hipóteses de inelegibilidade veiculadas pela versão atualizada da LC 64/90 não seriam analisadas.
Em passo seguinte, afirmou que alínea impugnada faria parte de um conjunto de regras explicitamente
comprometidas com a concretização do comando constitucional previsto no § 9º do art. 14 da CF (“Lei
complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder
econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.”).
Enfatizou que a LC 64/90, de par com o art. 1º da LC 135/2010, objetivara atender à referida convocação
constitucional, a dispor sobre o instituto da inelegibilidade enquanto mecanismo de proteção.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 6


Nesse sentido, reputou que a LC 135/2010, por sua nova alínea, poderia considerar, como causa de
inelegibilidade para os fins que erigira, a renúncia, a qual teria como único propósito impedir a abertura
de processo político-administrativo por falta de decoro parlamentar. Observou que a alínea questionada
poderia produzir imediatamente os efeitos a que se preordenara, de forma a alcançar fatos e condutas
anteriores à data de sua publicação, uma vez que a própria Constituição, ao mencionar a inelegibilidade
num contexto de proteção da probidade administrativa e da moralidade para o exercício do mandato
popular, determinara que a lei considerasse a vida pregressa do candidato. Esclareceu, no ponto, que a
Constituição objetivara resgatar o significado original do termo “candidato”, que adviria de cândido,
puro, limpo no sentido ético. Daí a necessidade da criação de institutos como o da inelegibilidade, os
quais tornariam os políticos dignos da política ou que salvariam a política dos políticos avessos aos
princípios da moralidade e da probidade administrativa, e da não incidência do abuso do poder político ou
econômico. Por conseguinte, realçou que valores como o da probidade administrativa e o da moralidade
para o exercício do mandato — concretizados por norma de expressa requisição constitucional — não
comportariam procrastinação ou “quarentena”.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 7


O relator registrou, ainda, que a LC 135/2010 decorrera de iniciativa popular e com a marca
registrada da “urgência urgentíssima” de sua aplicabilidade. Consignou que ela fora publicada em data
anterior a das convenções partidárias deste ano, a ensejar a preservação do art. 16 da CF, pois os partidos
políticos e seus filiados teriam tido tempo suficiente para deliberar, em igualdade de condições,
relativamente à escolha dos candidatos. Aduziu que a razão de ser do art. 16 da CF consistiria em evitar
casuísmos em data próxima à da eleição e que a referida alínea k, em particular, e a LC 135/2010, como
um todo, não introduziram surpresa, sequer oportunística, arbitrária ou maliciosa na competição eleitoral
de 2010. Reiterou a inexistência de ofensa ao aludido preceito constitucional, quer em razão de a alínea k
ser norma de direito material, quer por não possuir aptidão para alterar o processo eleitoral. Afastou a
assertiva de afronta ao ato jurídico perfeito ao fundamento de que a renúncia ao mandato de Senador da
República não teria por efeito imunizar o renunciante contra a incidência de causas de inelegibilidade,
haja vista a inexistência de direito adquirido a regime jurídico (de inelegibilidades). Realçou, ainda, que a
renúncia do primeiro recorrente fora protocolada anteriormente à instauração de processo administrativo,
a impedir qualquer juízo de valor pelo Senado Federal.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 8


Ao ressaltar que a renúncia não constituiria pena, mencionou que não haveria efeitos futuros
supostamente violados pela LC 135/2010 e que, para fins de inelegibilidade, a licitude, ou não, do ato ou
situação jurídica seria irrelevante, de modo que a renúncia lícita do primeiro recorrente não impediria a
sua previsão como causa de inelegibilidade. No tocante ao princípio constitucional da presunção de
inocência, asseverou que essa regra geral conviveria com normas específicas, como a do § 9º do art. 14 da
CF. Concluiu, destarte, que para a perda ou suspensão de direito político seria preciso o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória, sendo este, entretanto, desnecessário para a configuração de
inelegibilidade. Por fim, registrou que o legislador estaria submetido ao exame de seus atos sobre os
parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade — devido processo legal substantivo — e que a
alínea k não ofenderia esses critérios.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 9


Em divergência, o Min. Dias Toffoli proveu os recursos, exclusivamente no que se refere à afronta
ao art. 16 da CF. De início, assinalou que embaraços ao direito à elegibilidade deveriam ser
compreendidos sob perspectiva histórica, especialmente quando razões de natureza moral poderiam ser
invocadas para fins de exclusão política de segmentos incômodos ao regime. Em seguida, afirmou que o
princípio da anterioridade das leis eleitorais não distinguiria as espécies de leis nem o conteúdo dos seus
dispositivos, sendo, pois, genérico, direto e explícito. Asseverou que a jurisprudência da Corte inclui o
art. 16 da CF no rol de garantias individuais da segurança jurídica e do devido processo legal, e que tal
postulado seria dirigido ao cidadão-eleitor. Consignou, ademais, que o dispositivo constitucional visaria
evitar a quebra da previsibilidade das condições subjetivo-políticas dos candidatos e que, relativamente ao
desrespeito aos limites temporais desse preceito, o que importaria seria a quebra da anterioridade e não o
período no ano em que ela ocorrera, dado que a diferença estaria apenas no grau de intensidade do
prejuízo.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 10


Mencionou que a anualidade eleitoral também teria por fundamento a igualdade e defesa das
minorias, cuja participação no processo político não deveria ficar submetida ao alvedrio das forças
majoritárias. Tendo tudo isso em conta, entendeu que não se poderia distinguir o conteúdo da norma
eleitoral selecionadora de novas hipóteses de inelegibilidade, porquanto seria ele alcançável pelo art. 16
da CF por afetar, alterar, interferir, modificar e perturbar o processo eleitoral em curso. Assinalou que a
alínea k restringira o universo de cidadãos aptos a participar do pleito de 2010. Indagou, então, quais
seriam as conseqüências práticas dessa inovação legislativa se, ao inverso, ela ampliasse o elenco de
concorrentes, por meio da subtração de hipóteses de inelegibilidade, com eficácia para as eleições atuais.
Concluiu que, em nome de princípios moralizantes, os quais limitam a participação de indivíduos no
processo eleitoral, não se poderia ignorar, por outro lado, o postulado, abstrato e impessoal, veiculado no
art. 16 da CF, que protege a própria democracia contra o casuísmo, a surpresa, a imprevisibilidade e a
transgressão da simetria constitucional dos candidatos a cargos eletivos. Assim, reputou que, se admitida
a eficácia imediata da LC 135/2010, no que concerne exclusivamente à situação dos autos, abrir-se-iam as
portas para mudanças outras, de efeitos imprevisíveis e resultados desastrosos para o concerto político
nacional. Registrou, por derradeiro, que cumpriria reconhecer a aplicação do art. 16 da CF ao plano de
eficácia da LC 135/2010.
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 11


Os Ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso seguiram a
divergência, mas proveram os recursos extraordinários em maior extensão por também considerarem que
a situação advinda com a renúncia do primeiro recorrente ao cargo de parlamentar — devidamente
constituída segundo a legislação da época — não poderia ser alcançada pela LC 135/2010. Em seguida,
ante o empate na votação, deliberou-se sobre a solução a ser dada para a proclamação do resultado do
julgamento. Afastou-se proposta segundo a qual se deveria aguardar a indicação de novo Ministro para
compor a Corte, bem como a de se convocar Ministro do STJ. Citaram-se, também, dispositivos do
Regimento Interno do Supremo, o art. 97 da CF e a Súmula Vinculante 10. Tendo em conta não se ter
chegado, no caso, a um consenso quanto ao dispositivo que se aplicaria em face da vacância, o
julgamento foi suspenso [RISTF: “Art. 13. São atribuições do Presidente: ... IX – proferir voto de
qualidade nas decisões do Plenário, para as quais o Regimento Interno não preveja solução diversa,
quando o empate na votação decorra de ausência de Ministro em virtude de: a) impedimento ou
suspeição; b) vaga ou licença médica superior a 30 (trinta) dias, quando seja urgente a matéria e não se
possa convocar o Ministro licenciado. ... Art. 146. Havendo, por ausência ou falta de um Ministro, nos
termos do art. 13, IX, empate na votação de matéria cuja solução dependa de maioria absoluta,
considerar-se-á julgada a questão proclamando-se a solução contrária à pretendida ou à proposta.
Parágrafo único. No julgamento de ‘habeas corpus’ e de recursos de ‘habeas corpus’ proclamar-se-á, na
hipótese de empate, a decisão mais favorável ao paciente. ... Art. 173. Efetuado o julgamento, com o
quorum do art. 143, parágrafo único, proclamar-se-á a inconstitucionalidade ou a constitucionalidade
do preceito ou do ato impugnados, se num ou noutro sentido se tiverem manifestado seis Ministros.
Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de inconstitucionalidade,
estando licenciados ou ausentes Ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso
a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes, até que se atinja o quorum.”].
RE 630147/DF, rel. Min. Ayres Britto, 22 e 23.9.2010. (RE-630147)
Parte 1- 22.9.2010 -
Parte 2- 23.9.2010 -
Parte 3- 23.9.2010 -
Parte 4- 23.9.2010 -
(Informativo 601, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 12


Em conclusão, o Tribunal declarou extinto, sem julgamento do mérito, processo no qual pleiteado o
deferimento do registro de candidatura do primeiro recorrente ao cargo político de Governador do Distrito
Federal. Tratava-se, na espécie, de recursos extraordinários interpostos, com base no art. 102, III, a, da
CF, contra acórdão do Tribunal Superior Eleitoral - TSE que, ao enfatizar a aplicabilidade imediata das
alterações introduzidas pela LC 135/2010, concluíra pela inelegibilidade do candidato a cargo de
Governador, nos termos da alínea k do inciso I do art. 1º da LC 64/90, acrescentado pela aludida LC
135/2010 [“Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: ... k) o Presidente da República, o
Governador de Estado e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das
Assembléias Legislativas, da Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus
mandatos desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo
por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do
Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período
remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subseqüentes ao término da
legislatura.”] — v. Informativo 601.
RE 630147 QO/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
29.9.2010. (RE-630147)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 13


O Min. Ayres Britto, relator, tendo em conta a renúncia do candidato à pretensão de obter o registro
de sua candidatura, submeteu ao Colegiado, em questão de ordem, o exame de petição formulada pelos
recorrentes, em que requeriam a desistência dos recursos ou, alternativamente, a declaração da perda de
seu objeto. Inicialmente, manteve-se o reconhecimento da repercussão geral da questão constitucional
concernente ao art. 1º, I, k, da LC 64/90, com a redação dada pela LC 135/2010. Em passo seguinte,
rejeitou-se o pedido de desistência dos recursos, haja vista que já iniciado o julgamento, e, embora não
declarado o seu resultado, proferidos os votos de todos os Ministros da Corte. Entretanto, ao enfatizar que
o escopo dos recorrentes seria o registro da candidatura, aduziu-se que, ante a mencionada desistência,
inexistiria objeto a ser analisado pela Justiça Eleitoral e, conseqüentemente, não haveria lugar para a
prolação de sentença de mérito. Dessa forma, asseverou-se que, na situação em apreço, ter-se-ia uma
hipótese de extinção anômala do processo principal por perda superveniente de objeto e de interesse, sem
que resolvida a própria controvérsia suscitada no recurso em questão. Vencidos, no ponto, os Ministros
Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa que assentavam a perda de objeto
dos recursos extraordinários. O relator assinalava, ainda, o conseqüente trânsito em julgado do acórdão
recorrido.
RE 630147 QO/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
29.9.2010. (RE-630147)
(Informativo 602, Plenário)

DIREITO PENAL
Penas

Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substituição de Pena Privativa de Liberdade por Restritivas


de Direitos - 13
Em conclusão, o Tribunal, por maioria, concedeu parcialmente habeas corpus e declarou,
incidentalmente, a inconstitucionalidade da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de
direitos”, constante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, e da expressão “vedada a conversão de suas
penas em restritivas de direitos”, contida no aludido art. 44 do mesmo diploma legal. Tratava-se, na
espécie, de writ, afetado ao Pleno pela 1ª Turma, em que condenado à pena de 1 ano e 8 meses de
reclusão pela prática do crime de tráfico ilícito de entorpecentes (Lei 11.343/2006, art. 33, § 4º)
questionava a constitucionalidade da vedação abstrata da substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos disposta no art. 44 da citada Lei de Drogas (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput
e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade
provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.”). Sustentava a impetração que a
proibição, nas hipóteses de tráfico de entorpecentes, da substituição pretendida ofenderia as garantias da
individualização da pena (CF, art. 5º, XLVI), bem como aquelas constantes dos incisos XXXV e LIV do
mesmo preceito constitucional — v. Informativos 560, 579 e 597. Esclareceu-se, na presente assentada,
que a ordem seria concedida não para assegurar ao paciente a imediata e requerida convolação, mas para
remover o obstáculo da Lei 11.343/2006, devolvendo ao juiz da execução a tarefa de auferir o
preenchimento de condições objetivas e subjetivas. Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa, Cármen
Lúcia, Ellen Gracie e Marco Aurélio que indeferiam o habeas corpus.
HC 97256/RS, rel. Min. Ayres Britto, 1º.9.2010. (HC-97256)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 598, Plenário)

Tráfico de Drogas: Crime Conexo e Substituição de Pena


A Turma deu provimento a recurso ordinário em habeas corpus para devolver o processo ao juiz da
execução com o intuito de que verifique se é, ou não, o caso de substituição de pena. Na espécie,
condenado em concurso material pelo crime de posse irregular de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 12,
caput) e pelo de tráfico ilícito de entorpecentes (Lei 11.343/2006, art. 33, caput), pleiteava que,
relativamente ao crime de posse ilegal de arma, fosse a pena convolada em uma restritiva de direitos.
Salientou-se que esta Corte já se manifestara no sentido da possibilidade, na hipótese da lei de drogas, de
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Ao levar isso em conta, afastou-se a
aplicação do § 1º do art. 69 do CP (“§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada
pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a
substituição de que trata o art. 44 deste Código”). Nesse sentido, destacou-se que, tendo o Supremo se
manifestado sobre a possibilidade de substituição de pena no caso de tráfico de drogas e sendo o delito de
posse irregular de arma de fogo conexo a ele, ficaria também prejudicada a proibição do Código Penal.
Por fim, enfatizou-se a necessidade de, no futuro, o STF enfrentar a mencionada questão.
RHC 100657/MS, rel. Min. Ellen Gracie, 14.9.2010. (RHC-100657)
(Informativo 600, 2ª Turma)

Configuração da Interestadualidade de Tráfico de Drogas


Por reputar devidamente aplicada a causa de aumento de pena prevista no art. 40, V, da Lei
11.343/2006 (“Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois
terços, se: ... V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal”), a Turma indeferiu habeas corpus em que se afirmava a necessidade de efetiva transposição de
fronteira estadual para a caracterização da interestadualidade. Na espécie, o paciente fora preso em
flagrante em ônibus que fazia o trajeto de Campo Grande/MS a Cuiabá/MT, trazendo consigo substância
entorpecente, e confessara, na fase inquisitorial e em juízo, a intenção de transportar a droga para cidade
situada no Estado de Mato Grosso. Asseverou-se que, sob o aspecto da política penal adotada, a inovação
disposta no mencionado inciso visaria coibir a expansão do tráfico de entorpecentes entre as unidades da
Federação. Entendeu-se que a configuração da interestadualidade do tráfico de entorpecentes prescindiria
da efetiva transposição das fronteiras do Estado, e que bastariam, para tanto, elementos que sinalizassem
a destinação da droga para além dos limites estaduais.
HC 99452/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.9.2010. (HC-99452)
(Informativo 601, 2ª Turma)

Prescrição

Estelionato Previdenciário: Natureza e Prescrição


A Turma indeferiu habeas corpus no qual se pretendia fosse declarada a extinção da punibilidade de
condenado pelo delito descrito no art. 251 do CPM (“Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio
fraudulento.”). Na espécie, o paciente sacara, entre janeiro de 2000 e maio de 2005, os valores
depositados, a título de pensão, na conta-corrente de um parente falecido. Consignou-se que, em tema de
estelionato previdenciário, o Supremo tem jurisprudência consolidada quanto à natureza binária, ou dual,
da infração. Reafirmou-se que a situação de quem comete uma falsidade para permitir a outrem obter
vantagem indevida distingue-se da conduta daquele que, em interesse próprio, recebe o benefício
ilicitamente. No primeiro caso, a conduta, a despeito de produzir efeitos permanentes em prol do
beneficiário da indevida vantagem, materializa os elementos do tipo instantaneamente. No ponto,
evidenciou-se não haver que se cogitar da possibilidade de o agente fraudador sustar, a qualquer tempo, a
sua conduta delituosa. Observou-se que, na segunda hipótese — que seria a situação dos autos —, em que
a conduta é cometida pelo próprio beneficiário e renovada mensalmente, tem-se entendido que o crime
assume a natureza permanente. Neste ponto, ressaltou- se que o agente tem o poder de, a qualquer tempo,
fazer cessar a ação delitiva. Por derradeiro, registrou-se que a mencionada distinção estaria estampada em
vários julgados das Turmas do STF.
HC 104880/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 14.9.2010.(HC-104880)
(Informativo 600, 2ª Turma)

Pena Restritiva de Direitos e Prescrição


A Turma indeferiu habeas corpus em que alegada a prescrição da pena de suspensão de habilitação
para dirigir — imposta cumulativamente com pena privativa de liberdade — a condenado pela prática do
crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor (CTB, art. 302). Afirmou-se que a
prescrição da pretensão punitiva, após o trânsito em julgado da condenação, regular-se-ia pela pena
aplicada (CP, art. 109) e que não se teria operado o lapso prescricional. Reputou-se, ademais, que à pena
restritiva de direitos seria aplicável o mesmo prazo previsto para a pena privativa de liberdade a ela
cumulada, nos termos do art. 109, parágrafo único, do referido código. Por fim, enfatizou-se que penas
mais leves prescrevem com as mais graves (CP, art. 118), de modo que o cálculo da prescrição de ambas
as sanções seria feito com base na privativa de liberdade.
HC 104234/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-104234)
(Informativo 602, 1ª Turma)

Lei de Imprensa e Causa Interruptiva de Prescrição


Aplicam-se aos crimes regulados pela Lei de Imprensa as regras para a contagem de prazo
prescricional dispostas no Código Penal. Ao reafirmar esse entendimento, a Turma denegou habeas
corpus em que condenado por crimes da Lei de Imprensa alegava a ocorrência de prescrição da pretensão
punitiva, haja vista o transcurso do lapso de 2 anos previsto no art. 41 da Lei 5.250/67 (“A prescrição da
ação penal, nos crimes definidos nesta Lei, ocorrerá 2 anos após a data da publicação ou transmissão
incriminada, e a condenação, no dôbro do prazo em que fôr fixada”). Registrou-se que a prescrição da
pretensão punitiva ocorre antes do trânsito em julgado da condenação e regula-se pela pena máxima
cominada ao crime (CP, art. 109). Ademais, asseverou-se que em nenhuma das ações penais teria
transcorrido o prazo de 2 anos, previsto no referido art. 41, entre as causas legais de interrupção do prazo
prescricional do CP, não havendo, portanto, falar-se em prescrição da pretensão punitiva.
HC 103855/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-103855)
(Informativo 602, 1ª Turma)

Prescrição e Prazo entre a Citação e o Interrogatório


A Turma concedeu, em parte, habeas corpus para declarar extinta a punibilidade de um dos réus,
pela ocorrência da prescrição, o qual condenado a 2 anos de reclusão, por furto qualificado (CP, art. 155 §
4º, IV). No caso, tendo em vista que esse réu possuía menos de 21 anos à época do fato e que o prazo
prescricional deveria ser reduzido pela metade, assentou-se o transcurso de mais de 2 anos da condenação
sem o início do cumprimento da pena. Entretanto, rejeitou-se o outro fundamento da impetração
concernente à nulidade dos interrogatórios dos pacientes e de todos os atos processuais que se seguiram,
em decorrência do exíguo prazo de 4 dias entre a citação deles e o interrogatório. Entendeu-se que o
referido prazo seria suficiente para que os acusados se preparassem para o interrogatório, pois, à época,
ainda não estava em vigor a Lei 11.719/2008, e o réu era citado apenas para ser interrogado, mas não para
apresentar resposta por escrito. Por fim, entendeu-se não ser aplicável a mesma solução dada no HC
84373/BA (DJe de 26.6.2009), haja vista a diversidade de situação, qual seja, a ocorrência, nesse
precedente, do interrogatório apenas um dia após a citação do réu.
HC 103682/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 28.9.2010. (HC-103682)
(Informativo 602, 2ª Turma)

Princípios e Garantias Penais

Princípio da Consunção: Crime contra a Ordem Tributária e Falsidade Ideológica - 1


Ao aplicar a Súmula Vinculante 24 (“Não se tipifica crime material contra a ordem tributária,
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”), a
Turma deferiu habeas corpus para determinar, por ausência de tipicidade penal, a extinção do
procedimento investigatório instaurado para apurar suposta prática de crimes de falsidade ideológica e
contra a ordem tributária. Na espécie, o paciente, domiciliado no Estado de São Paulo, teria obtido o
licenciamento de seu veículo no Estado do Paraná de modo supostamente fraudulento — indicação de
endereço falso —, com o fim de pagar menos tributo, haja vista que a alíquota do IPVA seria menor.
Inicialmente, salientou-se que o STJ reconhecera o prejuízo do habeas lá impetrado, em face da
concessão, nestes autos, de provimento cautelar. Em seguida, observou-se que a operação desencadeada
pelas autoridades estaduais paulistas motivara a suscitação de diversos conflitos de competência entre
órgãos judiciários dos Estados-membros referidos, tendo o STJ declarado competente o Poder Judiciário
paulista. Aquela Corte reconhecera configurada, em contexto idêntico ao dos autos do writ em exame, a
ocorrência de delito contra a ordem tributária (Lei 8.137/90), em virtude da supressão ou redução de
tributo, afastada a caracterização do crime de falsidade ideológica (CP, art. 299). Reputou-se claro que o
delito alegadamente praticado seria aquele definido no art. 1º da Lei 8.137/90, tendo em conta que o
crimen falsi teria constituído meio para o cometimento do delito-fim, resolvendo-se o conflito aparente de
normas pela aplicação do postulado da consunção, de tal modo que a vinculação entre a falsidade
ideológica e a sonegação fiscal permitiria reconhecer, em referido contexto, a preponderância do delito
contra a ordem tributária.
HC 101900/SP, rel. Min. Celso de Mello, 21.9.2010. (HC-101900)
(Informativo 601, 2ª Turma)

Princípio da Consunção: Crime contra a Ordem Tributária e Falsidade Ideológica - 2


Ademais, determinou-se que, o reconhecimento da configuração do crime contra a ordem tributária,
afastada a caracterização do delito de falsidade ideológica, tornaria pertinente a invocação, na espécie, da
Súmula Vinculante 24. Destacou-se que, enquanto não encerrada, na instância fiscal, o respectivo
procedimento administrativo, não se mostraria possível a instauração da persecução penal nos delitos
contra a ordem tributária, tais como tipificados no art. 1º da Lei 8.137/90. Esclareceu-se ser juridicamente
inviável a instauração de persecução penal, mesmo na fase investigatória, enquanto não se concluir,
perante órgão competente da administração tributária, o procedimento fiscal tendente a constituir, de
modo definitivo, o crédito tributário. Asseverou-se, por fim, que se estaria diante de comportamento
desvestido de tipicidade penal, a evidenciar, portanto, a impossibilidade jurídica de se adotar,
validamente, contra o suposto devedor, qualquer ato de persecução penal, seja na fase pré-processual
(inquérito policial), seja na fase processual (“persecutio criminis in judicio”), pois comportamentos
atípicos não justificariam a utilização pelo Estado de medidas de repressão criminal.
HC 101900/SP, rel. Min. Celso de Mello, 21.9.2010. (HC-101900)
(Informativo 601, 2ª Turma)

Rádio Comunitária Clandestina: Princípio da Insignificância e Excepcionalidade


Ante o empate na votação, a Turma deferiu habeas corpus para, em face da atipicidade da conduta,
cassar o acórdão proferido pelo STJ e restabelecer a sentença absolutória que aplicava o princípio da
insignificância. Na espécie, os pacientes foram denunciados, por supostamente operarem rádio
comunitária sem autorização legal, como incursos nas sanções do art. 183 da Lei 9.472/1997
[“Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação: Pena - detenção de dois a quatro anos,
aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Parágrafo
único. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer para o crime”]. Registrou-se
que, nos termos da norma regulamentadora (Lei 9.612/98), o serviço de radiodifusão comunitária
utilizado pela emissora seria de baixa potência — 25 watts e altura do sistema irradiante não superior a 30
metros — não tendo, desse modo, capacidade de causar interferência relevante nos demais meios de
comunicação. Ressaltou-se a excepcionalidade do caso concreto e aduziu-se que a rádio era operada em
pequena cidade no interior gaúcho, com cerca de dois mil habitantes, distante de outras emissoras de
rádio e televisão e de aeroportos, o que demonstraria ser remota a possibilidade de causar algum prejuízo
para outros meios de comunicação. Acresceu-se que, em comunidades localizadas no interior de tão vasto
país, nas quais o acesso à informação não seria amplo como nos grandes centros, as rádios comunitárias
surgiriam como importante meio de divulgação de notícias de interesse local, de modo que não se
vislumbraria, na situação em apreço, reprovabilidade social da ação dos pacientes. Ademais, observou-se
que fora pleiteada, ao Ministério das Comunicações, a autorização para execução do serviço de
radiodifusão em favor da mencionada rádio. Concluiu-se que, em virtude da irrelevância da conduta
praticada pelos pacientes e da ausência de resultado lesivo, a matéria não deveria ser resolvida na esfera
penal e sim nas instâncias administrativas. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia e Marco Aurélio que
denegavam a ordem, tendo em conta a falta do licenciamento exigido para o serviço de radiodifusão
comunitária e o teor de laudo pericial que teria concluído pela possibilidade de o funcionamento da
referida rádio interferir em outras freqüências. O Min. Marco Aurélio salientava que o bem protegido
seria da maior valia e a Min. Cármen Lúcia lembrava que algumas emissoras poderiam prestar
desserviços, por exemplo, quando utilizadas por facções criminosas.
HC 104530/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-104530)
(Informativo 602, 1ª Turma)

Reincidência

Reincidência e Meio de Prova


A legislação pátria não exige documento específico para que seja comprovada a reincidência do
agente. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de
condenado cuja pena-base fora exacerbada pelo reconhecimento da reincidência, a qual demonstrada em
folha de antecedentes expedida pelo Departamento da Polícia Federal. A defesa sustentava que a certidão
cartorária judicial seria o documento hábil para comprovar esse fato. Aduziu-se que o sistema legal
estabeleceria apenas o momento em que a reincidência poderia ser verificada (CP, art. 63). Enfatizou-se
que, no caso, a folha de antecedentes, expedida por órgão policial, seria idônea a demonstrá-la, por conter
todas as informações necessárias para isso, além de ser um documento público com presunção iuris
tantum de veracidade. Ressaltou-se que o intervalo de tempo compreendido entre o trânsito em julgado da
condenação anterior e a nova sentença condenatória seria inferior a cinco anos e que, portanto, o paciente
seria tecnicamente reincidente.
HC 103969/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.9.2010. (HC-103969)
(Informativo 601, 1ª Turma)

Tipicidade

Porte Ilegal de Arma de Fogo e Exame Pericial


Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus — impetrado em favor
de condenado pela prática do delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (Lei 10.826/2003,
art. 14) — no qual se sustentava a indispensabilidade de exame pericial válido na arma apreendida.
Salientou-se a peculiaridade do caso, pois o próprio paciente confirmara, em juízo, que havia comprado a
pistola. Asseverou-se, inclusive, que o paciente fora preso por ter feito uso da arma — em suposto crime
contra a vida —, e que ela se mostrara eficaz. Vencido o Min. Marco Aurélio, relator, que concedia a
ordem por entender indispensável a feitura de perícia quando da apreensão de armas de fogo.
Acrescentava que o CPP revelaria impedimentos relativamente à atuação dos peritos e que, assim, a um
só tempo, o policial não poderia exercer atividade que lhe fosse inerente e atuar como perito.
HC 96921/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Min. Dias Toffoli, 14.9.2010. (HC-
96921)
(Informativo 600, 1ª Turma)

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Benefícios Previdenciários

Novo Teto Previdenciário e Readequação dos Benefícios - 1


É possível a aplicação imediata do novo teto previdenciário trazido pela EC 20/98 e pela EC
41/2003 aos benefícios pagos com base em limitador anterior, considerados os salários de contribuição
utilizados para os cálculos iniciais. Essa foi a orientação firmada pela maioria do Tribunal, ao negar
provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão de Turma Recursal da Seção Judiciária do
Estado de Sergipe que determinara o pagamento do segurado com base no novo teto previdenciário, bem
como dos valores devidos desde a entrada em vigor da referida emenda, observada a prescrição
qüinqüenal. No caso, o ora recorrido — aposentado por tempo de serviço proporcional — ingressara com
ação de revisão de benefício previdenciário, pleiteando a readequação de sua renda mensal, em razão do
advento da EC 20/98, a qual reajustara o teto dos benefícios previdenciários, e de ter contribuído com
valores acima do limite máximo quando de sua aposentadoria. No presente recurso, sustentava o Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS que o princípio tempus regit actum delimitaria a aplicação da lei
vigente à época da formação do ato jurídico, somente sendo possível a incidência de uma lei posterior,
quando expressamente disposta a retroação, o que não ocorreria na espécie. Alegava ofensa ao ato
jurídico perfeito, bem como aos artigos 7º, IV e 195, § 5º, ambos da CF, e 14 da EC 20/98 e 5º da EC
41/2003.
RE 564354/SE, rel. Min. Cármen Lúcia, 8.9.2010. (RE-564354)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário, Repercussão Geral)

Novo Teto Previdenciário e Readequação dos Benefícios - 2


Salientou-se, de início, a possibilidade de apreciação do tema, haja vista se cuidar de questão de
direito intertemporal, a envolver a garantia do ato jurídico perfeito haurido da vertente constitucional. Em
seguida, enfatizou-se que a situação dos autos seria distinta das hipóteses anteriormente examinadas pela
Corte em que assentada a impossibilidade de retroação da lei. Registrou-se que a pretensão diria respeito
à aplicação imediata, ou não, do novo teto previdenciário trazido pela EC 20/98, e não sua incidência
retroativa. Explicitou-se que o recorrido almejara manter seus reajustes de acordo com índices oficiais,
conforme determinado em lei, e que reputara admissível que esses reajustes ultrapassassem o antigo teto,
desde que observado o novo valor introduzido pela EC 20/98. Entendeu-se que não haveria transgressão
ao ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI) ou ao princípio da irretroatividade das leis. Asseverou-se,
ademais, que o acórdão impugnado não aplicara o art. 14 da mencionada emenda retroativamente, nem
mesmo o fizera com fundamento na retroatividade mínima, dado que não determinara o pagamento de
novo valor aos beneficiários, mas sim permitira a incidência do novo teto para fins de cálculo da renda
mensal de benefício. Tendo em vista se tratar de processo submetido à sistemática da repercussão geral,
reputou-se que esse mesmo raciocínio seria aplicável ao disposto no art. 5º da EC 41/2003, o qual, de
modo análogo, aumentara o valor do limite máximo dos benefícios pagos pelo Regime Geral de
Previdência Social. Rejeitou-se, ainda, a afirmação de violação ao art. 7º, IV, da CF, porquanto não
haveria no acórdão adversado tema relativo à vinculação a salário mínimo. Repeliu-se, também, a
assertiva de afronta ao art. 195, § 5º, da CF, já que não fora concedido aumento ao recorrido, e sim
declarado o direito de ter sua renda mensal de benefício calculada com base em um limitador mais alto
fixado por emenda constitucional. Vencido o Min. Dias Toffoli que provia o recurso, por considerar
desrespeitado o ato jurídico perfeito, uma vez que o valor do benefício fora definido em ato único e não
continuado, não podendo uma lei posterior modificar essa fórmula de cálculo, salvo previsão expressa de
aplicação a situações fáticas pretéritas. Julgava, também, afrontado o art. 195, § 5º, da CF.
RE 564354/SE, rel. Min. Cármen Lúcia, 8.9.2010. (RE-564354)
(Informativo 599, Plenário, Repercussão Geral)

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Ação Penal

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 1


O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação penal promovida pelo Ministério Público
Federal para condenar Deputado Federal pela prática dos crimes tipificados no art. 168-A, § 1º, I e art.
337-A, III, c/c o art. 71, caput e art. 69, todos do CP, à pena de 7 anos de reclusão e ao pagamento de 60
dias-multa, calculados na base de meio salário-mínimo vigente em agosto de 2002 (término da
continuidade delitiva), atualizados monetariamente. No caso, a partir de ação fiscal realizada em empresa
de propriedade do acusado, ele e sócia foram denunciados pela suposta ausência de repasse, ao Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, de valores arrecadados a título de contribuições incidentes sobre a
remuneração de empregados, relacionados em folha de pagamento mensal e rescisões de contrato de
trabalho. A inicial acusatória também descrevera a omissão de fatos geradores de contribuições
previdenciárias na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à
Previdência Social - GFIP. Preliminarmente, afastou-se a ocorrência de extinção da punibilidade pela
prescrição da pena em abstrato. Ao salientar que esta operaria em 12 anos (CP, art. 109, III) e que a pena
máxima cominada aos crimes imputados aos réus seria de 5 anos de reclusão, para ambos os tipos penais,
afirmou-se que os fatos delituosos teriam sido perpetrados no período de janeiro de 1995 a agosto de
2002, sendo o crédito tributário definitivamente constituído em abril de 2003. Em seguida, absolveu-se a
co-ré, ao fundamento de que não haveria como lhe atribuir a responsabilidade penal pelos fatos imputados
na denúncia. Consignou-se não ter ficado demonstrado, durante a instrução criminal, que ela detivesse
poder de mando ou que houvesse exercido qualquer atividade na empresa, sendo esta gerida pelo
parlamentar, o qual exercia todos os atos de administração necessários ao seu funcionamento.
AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 2


Logo após, reconheceu-se a materialidade delitiva das condutas atribuídas ao parlamentar, tendo em
conta a existência de farta documentação, detalhada nas notificações fiscais de lançamento de débito.
Ressaltou-se, inclusive, que a empresa sequer impugnara o débito fiscal na esfera administrativa.
Rejeitou-se a alegação de que os crimes exigiriam a comprovação do animus rem sibi habendi. Enfatizou-
se que a orientação da Corte encontra-se consolidada no sentido de que, para a caracterização dos
aludidos tipos penais, é suficiente a demonstração do dolo genérico, sendo dispensável um especial fim de
agir. Observou-se, também, que o “recibo de pedido de parcelamento” da Lei 11.941/2009, juntado pela
defesa, não se prestaria para a pretendida suspensão da pretensão punitiva estatal, porquanto o pagamento
da primeira parcela fora efetuado mais de 6 meses após o seu vencimento. Relativamente à autoria,
mencionou-se que a situação contratual da empresa permanecera inalterada desde sua constituição,
embora esta se encontrasse atualmente desativada, sem baixa registrada na junta comercial. Destacou-se
que a mera participação no quadro societário como sócio-gerente não poderia significar a automática
responsabilização penal. Nada obstante, repeliu-se a assertiva de que, apesar de o parlamentar figurar no
contrato social como único responsável pela gerência da sociedade, a efetiva administração teria sido
delegada a seu filho. Afirmou-se que tal outorga de poderes de representação não conferira exclusividade
ao outorgado, de modo que o acusado teria preservado seus poderes. Ademais, asseverou-se que inexistira
alteração contratual válida que o excluísse do quadro societário da empresa. Enfatizou-se, no ponto,
inclusive, que o acusado ainda responde a uma ação penal por suposta falsidade de modificação
contratual no registro de junta comercial. Assinalou-se que a prova testemunhal carreada não infirmaria a
condição do parlamentar de responsável pela administração de sua empresa, haja vista que a defesa
somente arrolara pessoas que não tinham contato direto ou vínculo com a sociedade empresária. Refutou-
se, também, o argumento de não-ocorrência do crime de sonegação previdenciária (CP, art. 337-A), por
inexigibilidade de conduta diversa, em função das dificuldades financeiras da empresa. Verificou-se que a
supressão ou redução da contribuição social e de quaisquer acessórios são implementados por meio de
condutas fraudulentas instrumentais à evasão, incompatíveis com a boa-fé necessária para tal
reconhecimento. Além disso, o conjunto probatório não revelaria a precária condição financeira da
empresa.
AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)
(Informativo 602, Plenário)

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 3


No tocante à dosimetria da pena, prevaleceu o voto do Min. Joaquim Barbosa, revisor, que
estabeleceu a pena-base em 3 anos de reclusão e 30 dias-multa, para cada delito, e, ante a ausência de
circunstâncias atenuantes e agravantes, aplicou, para ambas as penas provisórias, o aumento de 1/6, em
razão da continuidade delitiva, tornando-as definitivas em 3 anos e 6 meses de reclusão mais 30 dias-
multa, as quais, somadas (CP, art. 69), totalizaram 7 anos de reclusão e 60 dias-multa. Em conseqüência,
fixou o regime semi-aberto para o cumprimento inicial da pena. Entendeu incabível a substituição da pena
privativa de liberdade por restritivas de direitos, em virtude do montante da pena aplicada e, pela mesma
razão, o sursis. Deixou, contudo, de aplicar o disposto no art. 92, I, b, do CP, por reputar que não se
trataria de efeito automático, e que, no caso, a reprimenda imposta revelar-se-ia suficiente. Por fim,
determinou que, após o trânsito em julgado, seja dada a ciência à Justiça Eleitoral e inscrito o nome do
réu no rol dos culpados. Vencidos os Ministros Ayres Britto, relator, Cármen Lúcia e Marco Aurélio
relativamente à fixação da pena e ao seu regime inicial de cumprimento, que assentavam a pena-base em
3 anos de reclusão e 126 dias-multa, e 3 anos e 6 meses de reclusão e 180 dias-multa, respectivamente,
para os crimes previstos nos artigos 168-A, § 1º, I e 337-A, III, ambos do CP. Ademais, em virtude da
continuidade delitiva, impunham o aumento de metade, para o delito de apropriação indébita
previdenciária, e de 1/3, para o de sonegação previdenciária, a perfazer 9 anos e 2 meses de reclusão e
429 dias-multa, pena esta a ser cumprida em regime inicial fechado.
AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)
(Informativo 602, Plenário)

Evento Esportivo e Ausência de Licitação - 1


O Tribunal, por maioria, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em desfavor
de Deputado Federal, e outros co-denunciados, pela suposta prática do delito de dispensa ou
inexigibilidade de licitação. Relata a denúncia que o parlamentar, então prefeito, e seu secretário de
comunicação social teriam contratado os serviços de determinada empresa de publicidade para realizar,
em 2003, evento esportivo na municipalidade, sem o devido procedimento licitatório. A conduta dos
agentes públicos e a do particular beneficiado com a contratação fora enquadrada, respectivamente, no
art. 89 e no seu parágrafo único, da Lei 8.666/93 (“Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses
previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade: ...
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a
consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato
com o Poder Público.”). De início, salientou-se que o parquet sustentava a ocorrência de burla ao preceito
contido no art. 25, III, do mesmo diploma legal (“Art. 25. É inexigível a licitação quanto houver
inviabilidade de competição, em especial: ... III - para contratação de serviços técnicos enumerados no
art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada
a exigibilidade para serviços de publicidade e divulgação.”).
Inq 3016/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 30.9.2010. (Inq-3016)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

Evento Esportivo e Ausência de Licitação - 2


Em seguida, reputou-se que, nesta etapa processual, haveria substrato mínimo a sustentar a
deflagração da ação penal, e que a defesa não conseguira infirmar a plausibilidade da peça acusatória.
Aduziu-se que a circunstância de o contrato firmado pelos agentes públicos contar com o aval e a
aprovação da Procuradoria do Município não elidiria a responsabilidade dos acusados, haja vista que o
parecer não conteria carga opinativa e não vincularia o administrador público. Ademais, afastou-se a
assertiva de que os preços oferecidos pela empresa do co-réu seriam condizentes com os cobrados no
mercado, dado que isso demandaria análise da matéria de fundo. De igual modo, entendeu-se inviável o
exame da alegação de inexistência de dolo dos investigados. Consignou-se, no ponto, que a dilação
probatória reconstruiria, historicamente, os fatos e que ela também permitiria a apreciação relativa à
exigência, ou não, de finalidade específica para a configuração do tipo penal. Destacou-se, ainda, que a
peça acusatória não poderia ser rejeitada em face da suposta falta de prejuízo, porquanto o crime em
apreço caracterizar-se-ia pelo simples “dispensar” ou “inexigir” o certame, não podendo o resultado
naturalístico ser considerado condição imprescindível à consumação do delito. Refutou-se o argumento de
atipicidade da conduta do empresário, haja vista que demonstrado pela acusação que, embora a marca do
evento tivesse sido registrada perante o INPI, isso não implicaria a conclusão de ser o prestador de
serviço um especialista de natureza singular. Observou-se que, não obstante os eventos de 1996 a 2000
terem ocorrido sem licitação, o Tribunal de Contas já se manifestara, em 2002, sobre a necessidade do
certame no evento de 1999, o que, ao que parece, sinalizaria terem os investigados arriscado realizar algo
irregular. Por derradeiro, assinalou-se que a manifestação do Ministério Público sobre o arquivamento do
caso na esfera cível, rejeitando as ponderações da Corte de Contas estadual, não impediria a investigação
e deflagração da ação penal, ante a independência das instâncias. Vencidos os Ministros Dias Toffoli,
Celso de Mello e Cezar Peluso, Presidente, que, por falta de justa causa, rejeitavam a denúncia, quanto ao
empresário beneficiado, ao não vislumbrarem a existência de descrição mínima de sua suposta
participação no delito.
Inq 3016/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 30.9.2010. (Inq-3016)
(Informativo 602, Plenário)

Habeas Corpus

HC: Uso de Algemas e Demora no Julgamento


A Turma não conheceu de habeas corpus em que o paciente, em sessão de julgamento realizado
pelo Tribunal do Júri, permanecera algemado e fora condenado pela prática dos crimes de homicídio
consumado e tentado. Alegava-se que o uso das algemas o teria exposto a situação vexatória e, portanto,
acarretaria a nulidade do julgamento. Salientou-se que a questão não teria sido suscitada no STJ, razão
pela qual analisá-la nesse momento implicaria supressão de instância. Entretanto, concedeu-se a ordem de
ofício para determinar que o pedido de medida liminar impetrado perante o STJ seja apreciado, uma vez
que o writ fora lá apresentado em 6.11.2009, o que configuraria demora excessiva na prestação
jurisdicional. Vencido o Min. Marco Aurélio, que concedia a ordem em maior extensão, por entender que,
no caso, o emprego das algemas não se justificaria, pois baseado tão-somente no fato de o réu ostentar
maus antecedentes, motivo pelo qual teria sido presumida a sua periculosidade. Ademais, aduzia que o
uso de tal equipamento poderia ter induzido os jurados à presunção de culpa do acusado.
HC 103175/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 21.9.2010. (HC-103175)
(Informativo 601, Plenário)

Juiz

Impedimento de Magistrado: Atuação em Feito Criminal e Sentença em Ação Civil Pública - 3


Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que se discutia se
estaria comprometida, ou não, a imparcialidade de juiz de vara única que condenara o paciente em ação
civil pública e, depois, recebera denúncia em ação penal pelos mesmos fatos — v. Informativo 585.
Reputou-se não se tratar de causa de impedimento a circunstância de o magistrado com jurisdição ampla
julgar, sucessivamente, feito criminal e de natureza cível decorrentes dos mesmos fatos. Consignou-se
que o Supremo, ao assentar a impossibilidade de se estender, pela via de interpretação, o rol do art. 252
do CPP, teria concluído não ser permitido ao Judiciário legislar para incluir causa não prevista pelo
legislador. No ponto, realçou-se que essa inclusão ocorreria por analogia pura e simples ou por
denominada interpretação extensiva, que nada mais seria do que adicionar, a partir de um referencial
legal, um item não previsto pelo legislador em um rol taxativo. Entendeu-se que o caso de varas únicas —
em que o magistrado exerce simultaneamente jurisdição cível e penal — não estaria abrangido pela
intenção da norma que fixara como critério de impedimento o exercício de função em outra instância.
Ressaltou-se que a mencionada norma impediria a mitigação do duplo grau de jurisdição em virtude da
participação em ambos os julgamentos de magistrado que já possuísse convicção formada sobre os fatos e
suas repercussões criminais. Assim, não visaria atingir o tratamento de um só fato em suas diversas
conotações e conseqüências pelo mesmo juiz. Afirmou-se, ademais, que as pequenas comarcas do Brasil
possuiriam apenas uma vara e um magistrado. Portanto, posicionar-se no sentido de que o mesmo
acontecimento com repercussões administrativas, cíveis ou penais deveria ser julgado por juízes
diferentes, exigiria a presença de, no mínimo, dois magistrados em cada localidade do país. Consignou-se,
ademais, que o juiz poderia decidir que, comprovado o fato, dele fossem obtidos apenas efeitos cíveis, e
não criminais. Asseverou-se inexistir comprometimento do julgador com as conseqüências dos atos por
ele reconhecidos em julgamento anterior, na mesma instância, porém em outra esfera. Por derradeiro, não
se vislumbrou possibilidade de interpretação extensiva do art. 252, III, do CPP sem criação judicial de
nova causa de impedimento. Vencido o Min. Eros Grau, relator, que, por conferir interpretação extensiva
ao referido preceito, deferia o writ para anular a ação penal, desde o recebimento da denúncia, e
determinava a remessa dos autos ao substituto legal do juiz. Alguns precedentes citados: HC 92893/ES
(DJe de 12.12.2008), HC 98901/PI (DJe de 4.6.2010).
HC 97544/SP, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/acórdão Min. Gilmar Mendes, 21.9.2010. (HC-
97544)
(Informativo 601, 2ª Turma)

Liberdade Provisória

Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas


A Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteada a liberdade provisória de preso em flagrante
pela suposta prática do crime de tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33). A defesa sustentava a
inconstitucionalidade do art. 44 da mesma lei, que veda a concessão desse benefício. Inicialmente, por
maioria, rejeitou-se questão preliminar, suscitada pelo Min. Marco Aurélio, vencido, no sentido de afetar
o caso ao Plenário ou aguardar que tal órgão decida sobre a argüição de inconstitucionalidade do art. 44
em processo que já se encontra a ele submetido, pois não caberia à Turma deliberar a respeito. Afirmou-
se que, se a Corte vier a reputar inconstitucional o referido dispositivo, tanto não haverá óbice a uma nova
impetração quanto o próprio juízo processante poderá agir de ofício e conceder a liberdade ao paciente.
No mérito, invocaram-se precedentes das Turmas segundo os quais tal vedação seria legítima e
considerou-se hígida a constrição cautelar imposta, uma vez que presentes os requisitos da prisão
preventiva.
HC 104616/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.9.2010. (HC-104616)
(Informativo 601, 1ª Turma)

Nulidades

Remissão e Necessidade de Oitiva do Ministério Público


É imprescindível a manifestação do Ministério Público para a concessão, pelo magistrado, de
remissão extintiva em procedimento judicial de apuração de ato infracional. Com base nessa orientação, a
Turma indeferiu habeas corpus no qual se sustentava a possibilidade de outorga desse benefício ao
paciente sem a prévia oitiva do parquet. Asseverou-se que tal ausência implicaria nulidade do ato,
conforme preceituam os artigos 186, § 1º, e 204, do ECA (“Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus
pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de
profissional qualificado. § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o
representante do Ministério Público, proferindo decisão. ... Art. 204. A falta de intervenção do Ministério
Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de
qualquer interessado”).
HC 96659/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.9.2010. (HC-96659)
(Informativo 602, 2ª Turma)

Princípios e Garantias Processuais Penais

Lei 11.719/2008: Interrogatório e “Tempus Regit Actum”


A Turma indeferiu habeas corpus em que se pleiteava renovação de interrogatório para observância
da novel redação do art. 400 do CPP, conferida pela Lei 11.719/2008 [“Na audiência de instrução e
julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de
declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta
ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado”].
Observou-se que o interrogatório fora realizado em data anterior à vigência daquela lei, o que, pelo
princípio tempus regit actum, excluiria a obrigação de se renovar ato validamente praticado sob a égide de
lei anterior, para que o paciente fosse interrogado ao final da audiência de instrução e julgamento. Por
fim, reafirmou-se o entendimento do Supremo segundo o qual não se declara a nulidade de ato processual
se a alegação não vier acompanhada de prova do efetivo prejuízo sofrido pelo paciente.
HC 104555/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-104555)
(Informativo 602, 1ª Turma)

Prisão

Prisão Cautelar e Excesso de Prazo - 2


Em conclusão, nos termos do voto médio proferido pelo Min. Dias Toffoli, a Turma julgou
prejudicadas duas impetrações, mas concedeu as ordens, de ofício, para tornar definitiva a liberdade dos
pacientes. Tratava-se de habeas corpus em que se alegava, em suma, constrangimento ilegal imposto aos
pacientes em virtude da ausência/insuficiência de fundamento do decreto prisional e de excesso de prazo
para o encerramento da instrução criminal — v. Informativo 600. O redator para o acórdão mencionou
que realizara diligência e, em consulta ao sítio do tribunal de justiça estadual, verificara a superveniência
de sentença condenatória, o que tornaria superada a questão quanto ao excesso de prazo, e o fato de estar
a ação penal em fase de apelação. Consignou que o referido édito condenatório mantivera a segregação
cautelar de vários co-réus, mas se silenciara a respeito da necessidade de prisão dos pacientes destes
writs. Ressaltou a inexistência, no momento, de título prisional idôneo embasador das constrições
cautelares, que não poderiam subsistir. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski que
denegavam a ordem, por considerarem idôneo o fundamento do decreto das prisões preventivas e
inexistente o excesso de prazo, tendo em conta a complexidade do feito e a circunstância de o Estado não
ter permanecido inerte. Ademais, ressaltavam o fato de não haver notícia no aludido sítio eletrônico de
que o magistrado, ao condenar os pacientes, deixara de se manifestar acerca de suas prisões. Vencido, em
parte, o Min. Marco Aurélio, relator, que, por reputar configurado o excesso de prazo, deferia o HC
97013/SE, para tornar definitivo o relaxamento da prisão implementado em medida acauteladora, e
estendia a ordem ao paciente do outro habeas.
HC 97013/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min. Dias Toffoli, 28.9.2010. (HC-
97013)
HC 98402/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min. Dias Toffoli, 28.9.2010. (HC-
98402)
(Informativo 602, 1ª Turma)

Revisão Criminal

Crimes contra a Dignidade Sexual: Nulidade e Assistência à Acusação


A Turma, em votação majoritária, indeferiu habeas corpus no qual o réu, absolvido em 1ª instância
das acusações de estupro e atentado violento ao pudor, por ausência de prova da materialidade delitiva,
fora condenado pelo tribunal local, em virtude do provimento de apelo interposto por assistente de
acusação. A defesa alegava nulidade no acórdão que julgara improcedente revisão criminal, haja vista a
participação, na qualidade de relator designado para redigir o acórdão, de desembargador que tomara
parte no julgamento da apelação. Inicialmente, rejeitou-se a tese de ilegitimidade do assistente de
acusação para recorrer de sentença absolutória quando o Ministério Público se queda inerte, nos termos
do art. 598 do CPP (“Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença
não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas
enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que
não terá, porém, efeito suspensivo”). Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que entendia
inconcebível a atuação da assistência se o Ministério Público não recorresse da absolvição do paciente.
Repeliu-se, de igual modo, a alegada nulidade do julgamento da revisão criminal. Aduziu-se que a
vedação constante do art. 625 do CPP (“O requerimento será distribuído a um relator e a um revisor,
devendo funcionar como relator um desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer
fase do processo”) não impediria que, vencidos o relator e o revisor, fosse designado, para lavrar o
acórdão denegatório da revisão criminal, o desembargador que funcionara como revisor da apelação, por
ter sido o autor do primeiro voto vencedor. Afirmou-se que foram designados como relator e revisor da
ação revisional desembargadores distintos do redator do acórdão. Precedente citado: HC 102085/RS (DJe
de 27.8.2010).
HC 100243/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-100243)
(Informativo 602, 1ª Turma)
DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos

ISS e Operações de Locação de Bens Móveis


Ao aplicar a Súmula Vinculante 31 (“É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de
Qualquer Natureza – ISS sobre operações de locação de bem móveis.”), o Tribunal desproveu recurso
extraordinário interposto contra acórdão de tribunal estadual que reputara descabida a incidência de ISS
sobre operações de locação de bens móveis, filmes cinematográficos, videoteipes, cartuchos para video
games e assemelhados. A municipalidade sustentava que a Constituição, em seu art. 156, II, utilizara a
expressão “serviços de qualquer natureza” para ampliar o conceito jurídico de serviços, de forma a
incluir operações de locação de bens móveis. Asseverou-se que o acórdão recorrido estaria em
consonância com a orientação desta Corte. Salientou-se, ainda, que a situação em apreço não trataria de
prestação de serviço ou operação mista (que envolve tanto a prestação de serviço quanto a locação).
RE 626706/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 8.9.2010. (RE-626706)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 599, Plenário, Repercussão Geral)

IPI e Creditamento: Insumos Isentos, Não Tributados ou Sujeitos à Alíquota Zero - 4


Em conclusão de julgamento, o Tribunal desproveu recurso extraordinário interposto contra acórdão
do TRF da 4ª Região que negara a contribuinte do IPI o direito de creditar-se do valor do tributo incidente
sobre insumos adquiridos sob regime de isenção, não tributados ou sujeitos à alíquota zero. Sustentava-se
ofensa ao princípio da não-cumulatividade (CF, art. 153, § 3º, II) — v. Informativos 554 e 591.
Inicialmente, consignou-se que o STF, ao apreciar os recursos extraordinários 353657/PR (DJE de
6.3.2008) e 370682/SC (DJE de 19.12.2007), referentes à aquisição de insumos não tributados ou sujeitos
à alíquota zero, aprovara o entendimento de que o direito ao crédito pressupõe recolhimento anterior do
tributo, cobrança implementada pelo Fisco. Enfatizou-se que tal raciocínio seria próprio tanto no caso de
insumo sujeito à alíquota zero ou não tributado quanto no de insumo isento, tema não examinado nos
precedentes citados. Contudo, julgou-se inexistir dado específico a conduzir ao tratamento diferenciado.
No tocante à definição técnica-constitucional do princípio da não-cumulatividade, afirmou-se que esse
princípio seria observado compensando-se o que devido em cada operação com o montante cobrado nas
anteriores, ante o que não se poderia cogitar de direito a crédito quando o insumo entra na indústria
considerada a alíquota zero.
RE 566819/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 29.9.2010. (RE-566819)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 602, Plenário)

IPI e Creditamento: Insumos Isentos, Não Tributados ou Sujeitos à Alíquota Zero - 5


Relativamente à questão alusiva ao valor do crédito e do imposto final, asseverou-se que a pretensão
da recorrente colocaria em plano secundário a sistemática pertinente ao IPI, no que voltada a evitar a
cumulatividade, o tributo seqüencial. Ressaltando a seletividade do IPI, expôs-se que, uma vez adquirido
o insumo mediante incidência do tributo com certa alíquota, o creditamento far-se-ia diante do que
realmente recolhido, gerando a saída final do produto novo cálculo e, então, como já ocorrido o
creditamento quanto ao que recolhido na aquisição do insumo, a incidência da alíquota dar-se-ia sobre o
preço (valor total). Mencionou-se que não se comunicariam as operações a serem realizadas, deixando-se
de individualizar insumos e produtos, pois, se assim não fosse, instalar-se-ia um pandemônio escritural.
Assinalou-se que o sistema consagrador do princípio da não-cumulatividade, presente quer o IPI quer o
ICMS, implica crédito e débito em conta única e que o argumento desenvolvido a respeito do que se
denomina crédito do IPI presumido, considerada a entrada de insumo, resultaria em subversão do sistema
nacional de cobrança do tributo, partindo-se para a adoção do critério referente ao valor agregado. Dessa
forma, reputou-se que isso potencializaria a seletividade, a qual geraria vantagem, à margem de previsão,
para o contribuinte, que passaria a contar com um crédito inicial, presente a entrada do insumo tributado,
e, posteriormente, haveria a apuração do que agregado para se estipular valor que não seria o do produto
final. Considerou-se que esse raciocínio revelaria desprezo pelo sistema pátrio de cobrança do tributo,
assim como discreparia das balizas próprias à preservação dos princípios da não-cumulatividade, que
direcionam, no concernente ao produto final, à aplicação da alíquota levando-se em conta o valor
respectivo, porquanto já escriturado o crédito decorrente da satisfação do tributo com relação ao insumo.
Concluiu-se que, em última análise, ante o critério seletivo, com o tributo final menor, passar-se-ia a ter
jus a uma segunda diferença relativa ao que recolhido a maior anteriormente e já objeto do creditamento.
Por fim, deu-se por prejudicada a discussão referente à prescrição, dado que esta somente teria utilidade
se o recurso viesse a ser provido, o mesmo ocorrendo com a atualização monetária. Vencido o Min. Cezar
Peluso, Presidente, que provia o recurso.
RE 566819/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 29.9.2010. (RE-566819)
(Informativo 602, Plenário)

Supremo Tribunal Federal


Secretaria de Documentação - SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados - CJCD
CJCD@stf.jus.br
Informativo STF Mensal
Brasília, outubro de 2010 - nº 3
Compilação dos Informativos nºs 603 a 606

O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

SUMÁRIO

Direito Administrativo
Agentes Públicos
Revisão Geral de Remuneração (28,86%): Servidores Civis e Militares
Atividade Policial: Aposentadoria e Recepção da LC 51/85
Acumulação de Cargos e Demissão - 1 e 2
Concurso Público
Concurso Público para Cargo de Procurador da República e Requisito Temporal

Direito Civil e Processual Civil


Recursos
Processamento de RE trancado na Origem - 3

Direito Constitucional
Competência Originária do STF
Conflito de Atribuições e Pronaf
Conselho Nacional de Justiça
Decisão Judicial e Suspensão de Efeitos pelo CNJ
Controle de Constitucionalidade
Remuneração de Servidor Público e Vício Formal
Tribunal de Contas: Lei Orgânica e Vício Formal
Tribunal de Contas: Composição e Modelo Federal
Recebimento de Denúncia: Suspensão Preventiva Automática e Devido Processo Legal
Vinculação de Receita de Custas e Emolumentos: Prejudicialidade
Extradição
Extradição e Prescrição - 1 e 2

Direito Eleitoral
Eleições
Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 1 a 4

Direito Penal
Crimes contra a Liberdade Pessoal
Rapto e “Abolitio Criminis”
Extinção de Punibilidade
HC: Prescrição e Redimensionamento da Pena
Corrupção de Menores para Prática de Mendicância e “Abolitio Criminis”
Penas
Superveniência de Condenação e Alteração da Data-Base
Comutação de Pena e Revogação de Livramento Condicional
Roubo: Emprego de Arma de Fogo e Causa de Aumento
Roubo: Emprego de Arma Branca e Causa de Aumento
Pena de Multa e Súmula 719 do STF
Unificação de Penas e Alteração de Data-Base
Homicídio e Confissão Espontânea
Princípios e Garantias Penais
Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância - 1 e 2
Crime de Descaminho e Princípio da Insignificância
Princípio da Insignificância e Descaminho - 2
Tráfico Internacional de Munição e Princípio da Insignificância
Princípio da Insignificância e Elementos Subjetivos Desfavoráveis

Direito Processual Penal


Ação Penal
Interrogatório: Lei 11.719/2008 e Lei 8.038/90
Crimes da Lei 8.666/93: Prestação de Serviços e Enquadramento
Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 1 a 6
Recebimento de Denúncia e Provas Ilícitas - 3 e 4
Competência
Portador do Vírus HIV e Tentativa de Homicídio - 2
Crime Militar praticado por Civil e Competência
Execução das Penas
HC e Transferência de Presídio
Habeas Corpus
Agravo em Execução e “Habeas Corpus”
Inquérito Policial
Inquérito Policial e Arquivamento Implícito
Nulidades
Tribunal do Júri e Nulidade
Princípios Processuais Penais
Tráfico de Drogas: Combinação de Leis e Princípio do “Ne Reformatio in Pejus”
Prisão e Liberdade Provisória
Prisão Cautelar e Excesso de Prazo
Prisão Penal
Recâmbio de Preso e Inércia Estatal
Provas
Crime de Furto: Qualificadora e Nulidade de Perícia
Testemunha Não Arrolada em Denúncia e Oitiva pelo Juiz

Direito Tributário
Impostos
Repercussão Geral e Alteração nas Premissas Fático-Jurídicas - 1 e 2

DIREITO ADMINISTRATIVO
Agentes Públicos

Revisão Geral de Remuneração (28,86%): Servidores Civis e Militares


O Tribunal resolveu questão de ordem suscitada pelo Min. Gilmar Mendes, em recurso
extraordinário do qual relator, em que discutida a possibilidade de extensão do índice de reajuste de
28,86% aos militares contemplados com índices inferiores pelas Leis 8.622/93 e 8.627/93, para: a)
reconhecer a repercussão geral da questão analisada neste recurso; b) também reconhecer a repercussão
geral da extensão do reajuste de 28,86% aos servidores civis, ressaltando, quanto a essa matéria,
entendimento consolidado pela edição do Enunciado 672 da Súmula do STF (“O reajuste de 28,86%,
concedido aos servidores militares pelas Leis 8622/1993 e 8627/1993, estende-se aos servidores civis do
poder executivo, observadas as eventuais compensações decorrentes dos reajustes diferenciados
concedidos pelos mesmos diplomas legais”); c) reafirmar a jurisprudência da Corte segundo a qual há de
se estender o reajuste de 28,86% aos servidores militares contemplados com índices inferiores pelas Leis
8.622/93 e 8.627/93, já que se trata de revisão geral dos servidores públicos, observadas, entretanto, as
compensações de reajustes concedidos e a limitação temporal da Medida Provisória 2.131/2000, atual
Medida Provisória 2.215-10/2001; d) prover parcialmente este recurso extraordinário, apenas para limitar
as diferenças devidas à data em que entrara em vigor a referida medida provisória; e) autorizar o STF e os
demais tribunais a adotar procedimentos relacionados à repercussão geral, principalmente a retratação de
decisões ou a declaração de prejuízo de recursos extraordinários, sempre que as decisões contrariarem ou
confirmarem, respectivamente, a jurisprudência ora reafirmada. Alguns precedentes citados: RE 408754
AgR/BA (DJU de 25.2.2005); RMS 22307/DF (DJU de 13.6.1997); RE 410778/RS (DJU de 26.8.2005);
RE 580108 QO/SP (DJe de 5.2.2009).
RE 584313 QO/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 6.10.2010. (RE-584313)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário, Repercussão Geral)

Atividade Policial: Aposentadoria e Recepção da LC 51/85


O Plenário negou provimento a recurso extraordinário interposto, pelo Instituto de Previdência do
Estado do Acre – ACREPREVIDÊNCIA, contra acórdão de tribunal de justiça local que concedera a
servidor público policial o direito a aposentadoria especial conforme a Lei Complementar 51/85, que
dispõe, nos termos do art. 103 da Constituição anterior, sobre a aposentadoria do funcionário policial. Na
origem, delegado de polícia civil estadual impetrara mandado de segurança no qual pleiteara a aplicação
da referida lei complementar, mesmo após a edição da EC 20/98 — que, dentre outras providências,
modificou o § 4º do art. 40 da CF/88. A ordem fora denegada em primeira instância, o que ensejara
apelação do impetrante à Corte estadual que, provida, culminara neste recurso extraordinário. Registrou-
se que, depois do reconhecimento da repercussão geral da questão constitucional suscitada neste recurso,
houvera o julgamento da ADI 3817/DF (DJe de 3.4.2009), no qual concluíra-se que a Constituição atual
recepcionara a LC 51/85, especificamente o seu art. 1º, I [“Art. 1º - O funcionário policial será
aposentado: ... I - voluntariamente, com proveitos integrais, após 30 (trinta) anos de serviço, desde que
conte, pelo menos 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial”]. Resolveu-se,
inicialmente, reafirmar a recepção da LC 51/85. Em seguida, aduziu-se que o acórdão adversado baseara-
se na recepção do diploma legal e examinara se ao recorrido era aplicável a lei, consideradas as condições
de fato da prestação de serviço e, portanto, a submissão dele às condições de periculosidade pela
permanência na carreira. Observou-se que rediscutir, diante dos fatos, se o recorrido preencheria as
exigências legais para a aposentadoria especial não seria cabível em sede de recurso extraordinário.
Quanto ao argumento do recorrente de que a aplicação da norma não seria automática, ressaltou-se que,
na situação descrita nos autos, as instâncias de mérito, responsáveis pelo exame de provas, teriam
comprovado que ele cumpriria rigorosamente as condições do aludido art. 1º. Por fim, o Min. Gilmar
Mendes frisou que o exercício deve ocorrer em cargo de natureza estritamente policial para se atenderem
aos requisitos do dispositivo legal.
RE 567110/AC, rel. Min. Cármen Lúcia, 13.10.2010. (RE-567110)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 604, Repercussão Geral, Plenário)

Acumulação de Cargos e Demissão - 1


A 2ª Turma desproveu recurso ordinário em mandado de segurança impetrado em favor de médico
demitido por acumular 4 vínculos profissionais, sendo 2 com o Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, 1 com a Prefeitura de Eldorado do Sul/RS e outro com a Prefeitura de São Leopoldo/RS. O
recorrente alegava que o § 5º do art. 133 da Lei 8.112/90 lhe asseguraria o direito de optar por uma
combinação lícita de cargos públicos até o momento da apresentação da defesa no procedimento
administrativo (“§ 5º A opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa configurará sua boa-
fé, hipótese em que se converterá automaticamente em pedido de exoneração do outro cargo”).
Sustentava, ainda, que teria sido desconsiderada a opção oferecida junto com a defesa escrita; que o
vínculo funcional com a Prefeitura de São Leopoldo apresentava caráter emergencial, não se prestando
para impedir a acumulação de cargo; e por fim, que a entrega de pedido de exoneração dos cargos às
prefeituras seria suficiente para se reconhecer a boa-fé.
RMS 26929/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 19.10.2010. (RMS-26929)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Acumulação de Cargos e Demissão - 2


Ressaltou-se que, em 9.6.2003, o recorrente reconhecera que sua situação funcional era irregular e
se comprometera a apresentar a exoneração dos cargos ocupados nos Municípios de Eldorado do Sul e de
São Leopoldo. Não obstante, em 3.11.2003, ele fora readmitido, por meio de contrato emergencial, como
médico da Prefeitura de São Leopoldo. Observou-se que o § 5º do art. 133 da Lei 8.112/90 não socorreria
o recorrente. Aduziu-se, tendo em conta, inclusive, que o recorrente residiria na capital, que caberia a ele
demonstrar que o recebimento do termo de opção fora protocolado tempestivamente,ou seja, dentro do
prazo de 5 dias do recebimento da citação — para apresentar defesa e fazer a opção pelo cargo público.
Consignou-se, entretanto, que a cópia da defesa escrita acusara o seu recebimento pelo INSS somente em
24.5.2004, 12 dias depois da data que constaria do mandado de citação. Asseverou-se que, muito embora
a Lei 8.112/91 preveja uma caracterização impositiva da boa-fé, dever-se-ia registrar que o recorrente
tivera a oportunidade de corrigir a situação quase um ano antes do prazo para apresentação da defesa.
Ademais, rejeitou-se a assertiva de que o caráter emergencial do contrato assumido com a Prefeitura de
São Leopoldo afastaria a ilicitude da cumulação. Destacou-se, no ponto, que o dispositivo constitucional
que trata de acumulação de cargos para a área de saúde não faz distinção entre contratos permanentes e
não permanentes (“Art. 37... XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto,
quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI. ... c) a
de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas”). Por
fim, concluiu-se que a mera entrega do pedido de exoneração não seria suficiente para desfazer o vínculo
funcional, porquanto o recorrente contrariara a expectativa oferecida à Administração ao não se desligar
dos cargos, tendo, ao contrário, assumido novo contrato junto à Prefeitura de São Leopoldo.
RMS 26929/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 19.10.2010. (RMS-26929)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Concurso Público

Concurso Público para Cargo de Procurador da República e Requisito Temporal


Ante as peculiaridades do caso, o Tribunal, por maioria, deferiu mandado de segurança para
assegurar ao impetrante o direito que lhe advenha da aprovação no 24º concurso público para provimento
de cargos de Procurador da República. Na espécie, o Procurador-Geral da República denegara a inscrição
definitiva do impetrante ao fundamento de não estar atendido o requisito de 3 anos de atividade jurídica
previsto no art. 129, § 3º, da CF. Nada obstante, em razão de medidas liminares concedidas pelo STF, o
impetrante prosseguira no certame e obtivera aprovação na fase oral. Inicialmente, salientou-se que a
pretensão do impetrante não afrontaria o entendimento firmado pela Corte no julgamento da ADI
3460/DF (DJU de 15.6.2007), segundo o qual os 3 anos de atividade jurídica são contados da data da
conclusão do curso de Direito e devem ser comprovados na data da inscrição no concurso. Observou-se
que o impetrante colara grau como bacharel em Direito em 13.1.2005, e que 18.8.2008 fora o último dia
das inscrições definitivas no certame. Em passo seguinte, registrou-se que a controvérsia residiria no
período de 13.1.2005 a 31.3.2006, quando o impetrante exercia o cargo, não-privativo de bacharel em
Direito, de assessor da direção-geral junto à assessoria jurídica da Direção-Geral do Ministério Público do
Estado do Rio Grande do Sul. Reputou-se que as atividades desempenhadas pelo impetrante no referido
período seriam de natureza jurídica. Ademais, enfatizou-se que o cargo de assessor, incompatível com o
exercício da advocacia, embora não fosse privativo de bacharel em Direito no Estado do Rio Grande do
Sul, o seria em outras unidades da federação. Por outro lado, aduziu-se que, ainda que não considerado o
tempo de exercício no cargo de assessor da Direção-Geral do Ministério Público gaúcho, o impetrante
preencheria o requisito temporal, haja vista que se inscrevera na Ordem dos Advogados do Brasil em
6.9.2005 e, consoante já afirmado, a inscrição definitiva no concurso se dera em 18.8.2008. Dessa forma,
se ignorado o tempo de exercício no aludido cargo de assessor, o termo inicial da atividade jurídica do
impetrante, como advogado, seria sua inscrição na OAB. Ressaltou-se que, nesta hipótese, faltar-lhe-iam
apenas 19 dias para o atendimento dos requisitos, entretanto, esse período corresponderia a prazo razoável
para a expedição da carteira de advogado após o seu requerimento. O Min. Cezar Peluso, Presidente,
concedia a ordem ante a situação de fato consolidada. Vencidos os Ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia
e Ricardo Lewandowski que, ao ressaltar o exercício do cargo de assessor pelo impetrante antes da
conclusão de seu bacharelado, denegavam a segurança por julgar ausente direito líquido e certo.
Precedentes citados: Rcl 4906/PA (DJe de 11.4.2008) e MS 26681/DF (DJe de 17.4.2009).
MS 27604/DF, rel. Min. Ayres Britto, 6.10.2010. (MS-27604)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário)

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL


Recursos

Processamento de RE trancado na Origem - 3


Em conclusão, a 1ª Turma, por maioria, proveu agravo regimental para que seja julgado recurso
extraordinário. Tratava-se, na espécie, de agravo regimental contra decisão monocrática do Min. Ricardo
Lewandowski, que negara seguimento a agravo de instrumento no qual pretendida a subida do apelo
extremo, apresentado contra acórdão do STJ, o qual provera recurso ordinário em mandado de segurança
para devolver os autos ao tribunal local. Na origem, a ora agravada impetrara writ contra ato de
Presidente de Turma Recursal dos Juizados Especiais no qual alegada a incompetência dos Juizados para
apreciação do feito, dado que o valor discutido ultrapassaria o teto legalmente estabelecido (Lei 9.099/95,
art. 3º, I) — v. Informativo 572. Sem adentrar a matéria de fundo e ao salientar a sua relevância,
considerou-se estar em jogo o sistema constitucional alusivo à atuação dos Juizados Especiais, à do
tribunal de justiça quanto aos Juizados Especiais e à do STJ, que não a tem relativamente aos Juizados
Especiais. Vencido o relator, que negava provimento ao agravo regimental.
AI 666523 AgR/BA, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ acórdão Min. Marco
Aurélio, 26.10.2010. (AI-666523)
(Informativo 606, 1ª Turma)

DIREITO CONSTITUCIONAL
Competência Originária do STF

Conflito de Atribuições e Pronaf


O Plenário resolveu conflito negativo de atribuição entre o Ministério Público do Estado de São
Paulo e o Ministério Público Federal, no sentido de reconhecer a atribuição do segundo para conduzir as
investigações de supostas irregularidades na execução do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar - Pronaf em município paulista e promover as medidas judiciais eventualmente
cabíveis. Considerou-se a presença de verbas públicas federais, as quais decorreriam de convênios, para o
Pronaf.
ACO 1281/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 13.10.2010. (ACO-1281)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 604, Plenário)

Conselho Nacional de Justiça

Decisão Judicial e Suspensão de Efeitos pelo CNJ


O Conselho Nacional de Justiça - CNJ, sob pena de atuação ultra vires, não pode interferir em atos
de conteúdo jurisdicional, emanados de quaisquer magistrados ou de Tribunais da República. Com base
nesse entendimento, o Plenário desproveu agravos regimentais em que se pretendia a desconstituição de
decisões liminares, proferidas pelo Min. Celso de Mello, em mandados de segurança dos quais relator. As
decisões impugnadas suspenderam a eficácia de deliberações administrativas emanadas do Corregedor
Nacional de Justiça, cujo dispositivo declarara ineficazes julgamentos de tribunal de justiça concessivos
de mandados de segurança impetrados perante a referida Corte. Preliminarmente, rejeitou-se a alegação
de prejudicialidade de um dos writs, porquanto a desistência homologada nos autos referir-se-ia a outra
impetração e não à presente, favorável a uma das ora agravadas. No mérito, reputou-se que, embora o
CNJ esteja incluído na estrutura constitucional do Poder Judiciário, sua natureza seria meramente
administrativa e sua competência teria sido definida, de modo rígido, pela EC 45/2004, que introduzira o
art. 103 - B na CF. Salientou-se que esse artigo, em seu § 4º, II, estabelece que o referido órgão tem o
poder de “apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados
por membros ou órgãos do Poder Judiciário”. Aduziu-se que as deliberações administrativas, objetos dos
casos em apreço, seriam impregnadas de conteúdo jurisdicional e que o Supremo já assentara
posicionamento no sentido de não caber àquele órgão nenhuma competência cujo exercício fosse capaz
de interferir no desempenho da função típica do Poder Judiciário (ADI 3367/DF, DJU de 25.4.2005).
Competir-lhe-ia, porém, dentre outras atribuições, fiscalizar o exercício dos deveres funcionais por parte
do magistrado, e não a atividade jurisdicional dele. Outros precedentes citados: MS 27148/DF (DJe de
25.5.2010) e MS 28537 MC/DF (DJe de 21.5.2010).
MS 28598 AgR-MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 14.10.2010. (MS-28598)
MS 28611 AgR-MC/MA, rel. Min. Celso de Mello, 14.10.2010.(MS-28611)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 604, Plenário)

Controle de Constitucionalidade

Remuneração de Servidor Público e Vício Formal


O Tribunal deferiu pedido de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, proposta
pelo Governador do Estado de Santa Catarina, para suspender, com efeitos ex nunc, o art. 3º da Lei
15.215/2010, daquela unidade federativa. O dispositivo impugnado, resultante de emenda parlamentar,
fixa o subsídio mensal como forma de remuneração dos membros da carreira de procurador do Estado e
cria gratificações em favor dos servidores públicos da Procuradoria-Geral do Estado, da Secretaria de
Estado da Administração e do Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina. Vislumbrou-se
aparente usurpação da iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo para a propositura de leis que
disponham sobre aumento de remuneração dos cargos, funções e empregos públicos existentes na
estrutura da Administração direta ou autárquica (CF, art. 61, § 1º, II, a), bem como ofensa à vedação de
emenda a projeto de lei de iniciativa da citada autoridade que acarrete aumento de despesa (CF, art. 63, I).
Precedente citado: ADI 1070 MC/MS (DJU de 15.5.95).
ADI 4433 MC/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 6.10.2010. (ADI-4433)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário)

Tribunal de Contas: Lei Orgânica e Vício Formal


Por considerar usurpado, em princípio, o poder de iniciativa reservado constitucionalmente aos
Tribunais de Contas para instaurar processo legislativo que visa alterar sua organização e seu
funcionamento, o Tribunal deferiu, com efeitos ex tunc, pedido de medida cautelar em duas ações diretas
de inconstitucionalidade propostas, respectivamente, pela Associação dos Membros dos Tribunais de
Contas do Brasil - ATRICON e pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, para
suspender a eficácia da Lei 2.351/2010, do Estado de Tocantins. A norma impugnada, de origem
parlamentar, alterou e revogou diversos dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas daquele ente
federativo. Preliminarmente, na linha de precedentes firmados pela Corte, assentou-se a legitimidade ativa
ad causam da ATRICON, bem como se entendeu configurada a pertinência temática. Em seguida, sem
adentrar o exame de cada artigo do diploma adversado, reputou-se configurado o aparente vício de
iniciativa, porquanto não caberia ao Poder Legislativo estadual, mediante projeto de lei de iniciativa
parlamentar, propor modificações em dispositivos da Lei Orgânica do Tribunal de Contas estadual.
Enfatizou-se que apenas a própria Corte de Contas teria a prerrogativa de fazer instaurar processo
legislativo concernente à alteração desse diploma normativo, sob pena de se neutralizar sua atuação
independente. Consignou-se, por fim, que a lei em questão, além de acarretar conflitos institucionais entre
o Tribunal de Contas e a Assembléia Legislativa, subtrairia daquele competências fiscalizatórias e
interferiria em sua autonomia administrativa e financeira. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia a
medida cautelar com eficácia ex nunc por considerar que a natureza do pronunciamento do Supremo seria
acautelador e não reparador.
ADI 4418 MC/TO,rel. Min. Dias Toffoli, 6.10.2010. (ADI-4418)
ADI 4421 MC/TO, rel. Min. Dias Toffoli, 6.10.2010. (ADI-4421)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário)

Tribunal de Contas: Composição e Modelo Federal


O Tribunal deferiu pedido de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada pelo
Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB, para suspender, com eficácia ex tunc, a vigência do § 3º
do art. 307 da Constituição do Estado do Pará, acrescido pela EC 40/2007. O preceito impugnado dispõe
ser de livre escolha do Governador o provimento das vagas de Conselheiro do Tribunal de Contas do
Estado e do Tribunal de Contas dos Municípios, na falta de auditor ou de membros do Ministério Público
Especial junto ao Tribunal de Contas que preencham os requisitos para a nomeação. Considerou-se, à
primeira vista, desrespeitada a Constituição, cuja sistemática, no que se refere ao Tribunal de Contas, se
aplica às unidades da federação. Observou-se, ademais, que o mencionado Estado-membro já teria sido
advertido pelo Supremo relativamente à discrepância do modelo de organização do Tribunal de Contas
local com o modelo constitucional vigente. Registrou-se, consoante salientado pela Procuradoria-Geral da
República, inexistir espaço para soluções normativas que se prestassem a um atraso ainda maior na
implementação do modelo constitucional. Afirmou-se, ainda, que a Corte de Contas estadual teria
comunicado oficialmente à Governadora do Estado a existência de vaga a ser preenchida por ocupante do
cargo de Auditor e que o único integrante da classe não atenderia a todos os requisitos necessários à
nomeação. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia a medida cautelar com eficácia ex nunc pelos
fundamentos expostos no caso acima relatado.
ADI 4416 MC/PA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 6.10.2010. (ADI-4416)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário)

Recebimento de Denúncia: Suspensão Preventiva Automática e Devido Processo Legal


O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pela Associação dos
Delegados de Polícia do Brasil - ADEPOL para declarar a inconstitucionalidade do art. 51 da Lei
15.301/2004, do Estado de Minas Gerais. Tal preceito determina a aplicação imediata da suspensão
preventiva disposta no art. 20, VII, da Lei 5.406/69 (Estatuto da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais)
ao servidor da polícia civil mineira assim que for recebida, pelo Poder Judiciário, denúncia contra ele
oferecida decorrente da prática de crime hediondo, tortura, tráfico de entorpecentes e drogas afins e
terrorismo; crime contra o sistema financeiro ou de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
extorsão ou corrupção passiva ou ativa. O dispositivo impugnado ainda prevê o recolhimento das armas
de propriedade do Estado e o da própria identidade policial. Entendeu-se que a aplicação automática da
suspensão preventiva estaria em confronto com os princípios do devido processo legal, do contraditório e
da ampla defesa. O Min. Celso de Mello ressaltou em seu voto, ademais, que a declaração de
inconstitucionalidade da Lei 15.301/2004 não impedirá que a Administração Pública adote a suspensão
preventiva, tendo em conta que o citado Estatuto da Polícia Civil mineira prevê que, no curso do processo
administrativo disciplinar, poderão ser aplicadas, como medidas acessórias, a prisão administrativa e a
suspensão preventiva, com eficácia temporal limitada a 90 dias. Observou que, nesse caso, entretanto,
sempre se dará ao servidor, contra quem instaurado um procedimento administrativo disciplinar, a
oportunidade de exercer as prerrogativas inerentes ao devido processo. Salientou, ainda, que o referido
Estatuto alcança situações outras que não apenas aquelas concernentes aos episódios delituosos previstos
na lei adversada.
ADI 3288/MG, rel. Min. Ayres Britto, 13.10.2010. (ADI-3288)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 604, Plenário)

Vinculação de Receita de Custas e Emolumentos: Prejudicialidade


O Plenário julgou prejudicadas duas ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas,
respectivamente, pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil – ANOREG e pelo Procurador
Geral da República contra os artigos 49 e 50 da Lei 4.847/93, do Estado do Espírito Santo. Os
dispositivos impugnados atribuem percentual da receita proveniente da arrecadação de custas e
emolumentos remuneratórios de serviços judiciários e extrajudiciais a titulares de serventias, a órgãos de
administração do Poder Judiciário e a entidades de classe e assistenciais de natureza privada. Concluiu-se
pela superveniente perda de objeto das ações, diante do advento da Lei Complementar capixaba 219/2001
que, ao reestruturar o Fundo Especial do Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo - FUNDEPJ —
para o qual seriam destinados taxas judiciárias, custas judiciais e emolumentos remuneratórios dos
serviços judiciários e extrajudiciais oficializados —, cujo art. 11 revogou expressamente os preceitos
questionados nas ações diretas.
ADI 1298/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 13.10.2010. (ADI-1298)
ADI 1378/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 13.10.2010.(ADI-1378)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 604, Plenário)

Extradição

Extradição e Prescrição - 1
O Plenário indeferiu pedido de extradição executória formulado pela República Italiana em que se
postulava a entrega de nacional para cumprimento de execuções decorrentes de 4 acórdãos condenatórios
proferidos por diversos tribunais de Roma. No caso, o extraditando fora condenado a uma pena total de
12 anos e 11 meses de reclusão pela prática dos crimes de desvio ou subtração de armas; armas
clandestinas; transporte ilícito, para local público ou aberto, de armas, substâncias químicas, explosivos e
engenhos; seqüestro de pessoas; assalto; receptação; atentado para o fim de terrorismo ou de eversão;
favorecimento pessoal; quadrilha; associação subversiva e associação para fins de terrorismo ou de
eversão da ordem democrática. Sua prisão preventiva para fins de extradição ocorrera em 3.7.2008, sendo
revogada em 1º.10.2010, por força de liminar concedida pelo Min. Gilmar Mendes, relator. De início,
verificou-se que o pleito extradicional preencheria as formalidades exigidas pelo art. 80 da Lei 6.815/80 e
pelo art. 11 do tratado bilateral específico. Em passo seguinte, procedeu-se à análise do primeiro acórdão
condenatório, no qual o Governo requerente afirmava que o extraditando seria membro de uma
associação subversiva — denominada Nuclei Armati Rivoluzionari - R.A.R. — e que teria, entre os meses
de dezembro de 1979 a março de 1982, atuado com finalidade terrorista e subvertido a ordem
democrática. Consignou-se que o ponto mais complexo na apreciação desse aresto diria respeito à
possível classificação dos fatos como crimes políticos puros, matéria prejudicial ao exame dos requisitos
da dupla punibilidade e tipicidade. Constaria da nota verbal que o extraditando fora condenado por
homicídio, tentativa de homicídio e lesões corporais — infligidas a 2 policiais e a 3 transeuntes —
durante assalto a banco, bem como por roubo qualificado perpetrado contra outra instituição bancária e
por extorsão mediante seqüestro. Considerou-se que, embora houvesse certa motivação política, os fatos
narrados caracterizar-se-iam como crimes comuns, sendo, pois, passíveis de extradição.
Ext 1140/República Italiana, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.10.2010. (Ext-1140)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 605, Plenário)

Extradição e Prescrição - 2
Assim, passou-se à apreciação da dupla punibilidade, requisito este reputado presente, com exceção
aos delitos de detenção e porte ilegítimo de armas. Aduziu-se não ser possível o deferimento
relativamente a eles, já que, no tocante aos crimes previstos nos artigos 10 e 12 da Lei italiana 497/74 —
que estabeleceu disposições para o controle de armas —, no direito pátrio, tais delitos eram punidos a
título de contravenção penal, consoante a legislação então em vigor. Quanto aos crimes constantes dos
artigos 21 e 23 da Lei italiana 110/75 — que dispôs sobre o controle de armas, munições e substâncias
explosivas —, salientou-se que as condutas delituosas seriam absorvidas pelos crimes de roubo
qualificado, extorsão mediante seqüestro, homicídio e tentativa de homicídio qualificados. A posse de
armas clandestinas, por sua vez, constituiria ante-fato não punível, haja vista caracterizar-se como meio
necessário para atingir o desideratum maior. Procedeu-se, em seguida, à análise da prescrição nos termos
das leis brasileira e italiana, e observou-se a sua ocorrência, a impedir a extradição. Assinalou-se, a
respeito da primeira condenação, que, considerado o seu trânsito em julgado em 5.6.89, a pena de 3 anos
e 4 meses de reclusão imposta pelo crime de atentado teria prescrito em junho de 1997. Já as demais
condenações de 10 meses de reclusão cominadas ao extraditando a título de continuação teriam prescrito
em junho de 1991. No tocante ao segundo acórdão condenatório, enfatizou-se que as condutas atribuídas
ao extraditando teriam sido cometidas quando ele era menor de 18 anos, o que tornaria inviável o pedido
de extradição, ante a inimputabilidade do acusado à época dos fatos. Com referência aos dois últimos
objetos do pleito extradicional, afirmou-se a ocorrência da prescrição segundo a legislação brasileira,
tendo em conta que, impostas penas de 6 meses e 10 dias de reclusão por ofensa aos artigos 12 e 14 da
referida Lei 497/74 e de 1 ano de reclusão por participação em associação eversiva, as sentenças teriam
transitado em julgado, respectivamente, em 11.12.91 e 20.7.93. Por fim, confirmou-se a liminar
concedida para revogar a prisão preventiva decretada em desfavor do extraditando.
Ext 1140/República Italiana, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.10.2010. (Ext-1140)
(Informativo 605, Plenário)

DIREITO ELEITORAL
Eleições

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 1


O Plenário, ante o empate na votação, manteve acórdão do Tribunal Superior Eleitoral - TSE que,
ao enfatizar a aplicabilidade imediata das alterações introduzidas pela LC 135/2010, concluíra pela
inelegibilidade de candidato a cargo de Senador da República. O acórdão impugnado assentara a
inelegibilidade do candidato para as eleições que se realizassem durante o período remanescente do
mandato para o qual ele fora eleito e para os 8 anos subseqüentes ao término da legislatura, nos termos da
alínea k do inciso I do art. 1º da LC 64/90, acrescentado pela aludida LC 135/2010 [“Art. 1º São
inelegíveis: I – para qualquer cargo: ... k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do
Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas, da
Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos desde o oferecimento
de representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a dispositivo da
Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica
do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato para o
qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura.”]. Considerara o fato de o
candidato ter renunciado a mandato de igual natureza, em 2001, após o oferecimento de representação
capaz de autorizar a abertura de processo por infração a dispositivo da Constituição. Na espécie, passados
9 anos da data da renúncia e tendo sido o candidato eleito, nesse ínterim, Deputado Federal, por duas
vezes, a ele fora negado o registro de sua candidatura às eleições de 3.10.2010. No presente recurso
extraordinário, alegava-se ofensa: a) ao princípio da anualidade eleitoral (CF, art. 16); b) aos princípios da
segurança jurídica e da irretroatividade das leis (CF, art. 5º, XXXVI); c) ao art. 14, § 9º, da CF, pois a
cláusula de inelegibilidade em questão não se amoldaria aos pressupostos constitucionais autorizadores de
novas hipóteses de inelegibilidade e d) ao princípio da presunção de inocência ou de não-culpabilidade
(CF, art. 5º, LVII).
RE 631102/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.10.2010. (RE-631102)
Parte 1
Parte 2
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 606, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 2


O Min. Joaquim Barbosa, relator, na linha do voto proferido no julgamento do RE 630147/DF —
em que reconhecida a repercussão geral da matéria —, desproveu o recurso. Inicialmente, salientou que
apreciaria o caso a partir da perspectiva de valorização da moralidade e da probidade no trato da coisa
pública, sob uma ótica de proteção dos interesses públicos e não dos puramente individuais. Em passo
seguinte, rejeitou a assertiva de ofensa ao art. 16 da CF. Afirmou que a norma adversada não se inseriria
no campo temático de processo eleitoral e que a “Lei de Inelegibilidade” não se qualificaria como lei de
processo eleitoral. Consignou que as condições de elegibilidade seriam examinadas na data do registro da
candidatura, sendo que a lei em comento fora publicada antes do período fixado para a realização das
convenções partidárias, de modo a inexistir surpresa ou quebra ao princípio da isonomia para os partidos
políticos. Repeliu, de igual maneira, o argumento de ofensa ao art. 5º, XXXVI, da CF, ao fundamento de
que a referida lei complementar não teria aplicação retroativa, mas concedera efeitos futuros a fatos
desabonadores praticados no passado. Enfatizou que retroação ocorreria se os cargos exercidos
posteriormente à renúncia do recorrente tivessem sido declarados nulos. No que concerne ao art. 14, § 9º,
da CF, assinalou haver expectativa do corpo eleitoral de que os parlamentares não venham a renunciar,
configurando a renúncia um ato desabonador do candidato, o qual demonstraria não se preocupar com seu
eleitorado. Ademais, registrou que a norma em comento teria dado concretude à opção constitucional pela
avaliação da vida pregressa do candidato. Por fim, relativamente ao art. 5º, LVII, da CF, asseverou que
inelegibilidade não seria pena ou punição e não caracterizaria repercussão prática da culpa ou do dolo do
agente político, mas uma reprovação prévia, anterior e prejudicial às eleições, por comportamento
objetivamente descrito como contrário às normas de organização política. Acompanharam o relator os
Ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto e Ellen Gracie.
RE 631102/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.10.2010. (RE-631102)
Parte 1
Parte 2
(Informativo 606, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 3


Em divergência, os Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar
Peluso, Presidente, ao também reiterar posição firmada no julgamento do aludido RE 630147/DF,
proveram o recurso. Reputaram que a lei complementar repercutira em inúmeros julgamentos no processo
eleitoral. Acrescentaram que a alínea k da citada LC 135/2010 não seria fruto de iniciativa popular, mas
resultado de emenda a projeto de lei. Registraram que, quando da renúncia do recorrente em 2001, dentre
as conseqüências previstas para tal ato, não havia a inelegibilidade e que uma lei posterior não poderia
buscar um fato pretérito para dele extrair conseqüências no presente. Realçaram que a concessão de
eficácia retroativa à lei implicaria aplicação casuística e personalizada. Observaram que, na situação dos
autos, após a renúncia, o recorrente obtivera da Justiça Eleitoral o deferimento dos registros e respectivas
diplomações nas 2 eleições seguintes, sendo o candidato a Deputado Federal mais votado no Brasil.
Indagaram como, à época, ele seria elegível e atenderia às formalidades legais e, nos dias atuais,
considerado inelegível para exercer mandato, por essa mesma Justiça Eleitoral, tendo em conta aquela
mesma renúncia que não o impedira de exercer os cargos de parlamentar federal. Assim, entendiam que a
norma impugnada teria atribuído a um ato lícito um caráter de ilicitude para efeito de privação da
elegibilidade passiva, haja vista que a inelegibilidade, dessa forma, configuraria sanção de direito eleitoral
restritiva do exercício ao direito fundamental de participação política. Concluíram que a interpretação
conferida pelo TSE afrontaria não só o postulado fundamental inscrito no art. 16 da CF, bem como aquele
que busca prestigiar a incolumidade de situações já consolidadas no passado.
RE 631102/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.10.2010. (RE-631102)
Parte 1
Parte 2
(Informativo 606, Plenário)

Lei da “Ficha Limpa”: Inelegibilidade e Renúncia - 4


Em seguida, o Plenário rejeitou questão de ordem suscitada da tribuna pelo patrono do recorrente no
sentido de suspender o julgamento até a nomeação de novo Ministro para compor o Tribunal. A defesa
informava a peculiaridade das eleições no Estado-membro pelo qual concorrera o recorrente, porquanto lá
haveria outro candidato ao Senado Federal com idêntica causa de inelegibilidade, cujo processo estaria
aguardando apreciação pelo TSE. Considerou-se que o exame do processo deveria prosseguir para que o
impasse fosse solucionado e efetivada a prestação jurisdicional. Vencidos os Ministros Dias Toffoli,
Gilmar Mendes e Marco Aurélio que acolhiam o pleito de suspensão para evitar decisões díspares. O
Min. Cezar Peluso fez ressalva de sua posição pessoal. Dessa forma, deliberou-se sobre a existência de
critérios impessoais, objetivos e apriorísticos para a resolução do empate. Por maioria, acatou-se proposta
formulada pelo Min. Celso de Mello para que fosse aplicado, por analogia, o inciso II do parágrafo único
do art. 205 do Regimento Interno do Supremo e, com isso, mantida a decisão recorrida (“Art. 205. ...
Parágrafo único. O julgamento de mandado de segurança contra ato do Presidente do Supremo Tribunal
Federal ou do Conselho Nacional da Magistratura será presidido pelo Vice-Presidente ou, no caso de
ausência ou impedimento, pelo Ministro mais antigo dentre os presentes à sessão. Se lhe couber votar,
nos termos do art. 146, I a III, e seu voto produzir empate, observar-se-á o seguinte: ... II – havendo
votado todos os Ministros, salvo os impedidos ou licenciados por período remanescente superior a três
meses, prevalecerá o ato impugnado.”). Considerou-se a presunção de legitimidade dos atos estatais e o
fato de que esse critério já teria sido adotado no julgamento da ADPF 46/DF (DJe de 26.2.2010). O Min.
Celso de Mello salientou que a sugestão poderia ser adotada sem prejuízo da convicção de cada membro
da Corte, haja vista que em discussão a superação do impasse. Foram rejeitados outros critérios, tais como
o voto de qualidade do Presidente (RISTF, art. 13, IX), a convocação de Ministros do STJ e o art. 146,
caput, do RISTF. Vencidos os Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Marco Aurélio, que
determinavam a aplicação do voto de qualidade do Presidente.
RE 631102/PA, rel. Min. Joaquim Barbosa, 27.10.2010. (RE-631102)
Parte 1 -
Parte 2
(Informativo 606, Plenário)

DIREITO PENAL
Crimes contra a Liberdade Pessoal

Rapto e “Abolitio Criminis”


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de condenado pela prática do crime de
rapto (CP, art. 219). A defesa sustentava a ocorrência de abolitio criminis, em razão da superveniência da
Lei 11.106/2005, que revogou os artigos 219 a 222 do CP, e pleiteava a conseqüente extinção da
pretensão executória. Aduziu-se que, muito embora o referido dispositivo tenha sido revogado com o
advento da supracitada lei, a restrição da liberdade com finalidade libidinosa teria passado a figurar — a
partir da entrada em vigor desta mesma norma — entre as possibilidades de qualificação dos crimes de
seqüestro ou cárcere privado (CP, art. 148, § 1º, V). Reputou-se que a mera alteração da norma, portanto,
não haveria de ser entendida como abolitio criminis, por ter havido continuidade normativa acerca do tipo
penal.
HC101035/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 26.10.2010. (HC-101035)
(Informativo 606, 2ª Turma)

Extinção de Punibilidade

HC: Prescrição e Redimensionamento da Pena


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se sustentava a extinção da pretensão executória de
pena in concreto de 6 anos, pois já transcorridos mais de 12 anos entre a sentença condenatória e o
redimensionamento da pena pelo STJ. Reputou-se que o redimensionamento da pena, em sede de habeas
corpus, não influiria na contagem da prescrição, porquanto inexistente, dentre os marcos interruptivos
desta (CP, art. 117), decisão proferida na via mandamental. Ao salientar que medida de igual natureza a
presente somente fora distribuída ao STJ mais de 9 anos após o trânsito em julgado do acórdão da Corte
estadual, concluiu-se que entender de outra forma possibilitaria que todos os condenados aguardassem o
período que bem pretendessem para tentar obter, por meio de habeas corpus, redução da pena e a
conseqüente prescrição retroativa.
HC 92717/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-92717)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Corrupção de Menores para Prática de Mendicância e “Abolitio Criminis”


A 1ª Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para trancar ação penal instaurada contra o paciente,
pela suposta prática do crime de corrupção de menor (Lei 8.069/90, art. 244-B) e da contravenção penal
de mendicância (Decreto-lei 3.688/41, art. 60). A defesa sustentava a abolitio criminis da imputação feita
ao paciente, razão pela qual estaria extinta a punibilidade. Não obstante reconhecendo que a tese não teria
sido aventada perante o STJ e que sua análise implicaria supressão de instância, considerou-se a
particularidade do caso. Aduziu-se que o fato pelo qual estaria o paciente sendo processado seria
corrupção de menores para a prática de mendicância. Entretanto, a partir da análise do art. 244-B do
Estatuto da Criança e do Adolescente, reputou-se que, para a consumação do delito nele previsto, far-se-ia
necessário que o agente corrompesse ou facilitasse a corrupção de menor, com ele praticando infração
penal ou induzindo-o a praticá-la. Assim, tendo em conta a revogação do art. 60 da Lei das
Contravenções Penais pela Lei 11.983/2009, concluiu-se que a conduta do acusado não seria típica, visto
que a mendicância perdera o status de infração penal.
HC 103787/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 26.10.2010. (HC-103787)
(Informativo 606, 1ª Turma)
Penas

Superveniência de Condenação e Alteração da Data-Base


A superveniência de nova condenação definitiva no curso da execução criminal altera a data-base
para a concessão de benefícios futuros, sendo indiferente que o crime tenha ocorrido antes ou após o
início do cumprimento da pena. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que
se sustentava a ilegalidade da alteração da data-base para a concessão de benefício, em virtude de nova
condenação, decorrente de fato cometido antes do início da execução da pena. Entenderam-se aplicáveis,
à espécie, os artigos 111, parágrafo único, e 118, II, da LEP (“Art. 111. Quando houver condenação por
mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de
cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a
detração ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena
ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime. ... Art. 118. A execução da pena
privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes
mais rigorosos, quando o condenado: ... II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada
ao restante da pena em execução, torne incabível o regime...”). Ressaltou-se, ainda, que, caso sobrevenha
condenação definitiva no curso da execução penal, deverão ser somadas a nova pena e o restante da que
está sendo cumprida.
HC 102492/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 5.10.2010. (HC-102492)
(Informativo 603, 2ª Turma)

Comutação de Pena e Revogação de Livramento Condicional


A Turma concedeu habeas corpus para que o Juízo de Execuções Criminais proceda a novo exame
de pedido de comutação de pena do paciente, devendo verificar a existência de preenchimento dos
requisitos objetivos constantes do Decreto 5.620/2005, inclusive, alterando, se for o caso, o quantum de
pena comutado posteriormente com base nos Decretos 5.993/2006 e 6.294/2007. Na espécie, a defesa
requeria a nulidade de decisão do Juízo de Execuções que denegara ao paciente o direito à comutação de
pena, prevista no Decreto 5.620/2005 — que concede indulto condicional, comutação e dá outras
providências —, tendo em conta o que disposto no art. 88 do CP (“Revogado o livramento, não poderá
ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior
àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado”). Afirmou-se que o
mencionado artigo veda a concessão de novo livramento condicional quando o primeiro tiver sido
revogado em razão de cometimento de crime posterior, bem como proíbe que o tempo em que o agente
permanece solto seja descontado da pena. Contudo, entendeu-se que os requisitos do instituto da
comutação da pena não se confundiriam com os referentes ao instituto do livramento condicional.
Ressaltou-se que o art. 88 do CP prescreveria matéria atinente à impossibilidade de concessão de novo
livramento condicional e não de concessão de comutação.
HC 98422/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 5.10.2010. (HC-98422)
(Informativo 603, 2ª Turma)

Roubo: Emprego de Arma de Fogo e Causa de Aumento


É desnecessária a apreensão e a perícia da arma de fogo para caracterizar a majorante prevista no
art. 157, § 2º, I, do CP, se por outros meios for comprovado seu emprego na prática criminosa. A 2ª
Turma, em homenagem aos princípios da segurança jurídica e da colegialidade, e para evitar decisões
díspares entre as Turmas, deliberou acompanhar essa orientação, formalizada pelo Plenário no julgamento
do HC 96099/RS (DJe de 5.6.2009) e, em conseqüência, indeferiu habeas corpus em que sustentada a
necessidade de apreensão e perícia de arma de fogo para fins de verificação da sua potencialidade lesiva e
conseqüente incidência da referida causa de aumento. Consignou-se que tal entendimento já vinha sendo
adotado pela 1ª Turma e que a 2ª Turma teria, em casos análogos, sufragado tese em sentido
diametralmente oposto após a prolação do citado paradigma. Os Ministros Gilmar Mendes, relator, e
Celso de Mello ressalvaram sua convicção pessoal.
HC 103046/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-103046)
HC 104984/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-104984)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Roubo: Emprego de Arma Branca e Causa de Aumento


Ao aplicar a orientação anteriormente exposta, a 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que a defesa
pretendia fosse anulada condenação imposta ao paciente pela prática de roubo circunstanciado pelo
emprego de arma branca (CP, art. 157, § 2º, I), sem que o referido instrumento tivesse sido apreendido e
periciado.
HC 100854/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-100854)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Pena de Multa e Súmula 719 do STF


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em se pleiteava a aplicação de multa, em substituição à pena
privativa de liberdade imposta a condenado a 1 ano de reclusão, ao argumento de ser mais benéfica ao
paciente do que a pena restritiva de direitos, consoante Enunciando 719 da Súmula do STF (“A imposição
do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.”).
Entendeu-se que o referido Verbete não diria respeito a penas restritivas de direitos, mas ao regime de
cumprimento de pena privativa de liberdade. Além disso, considerou-se que o juiz não estaria obrigado a
substituir a pena privativa de liberdade por pena de multa (CP, art. 44, § 2º). Ressaltou-se que este órgão
julgador, em precedente firmado no HC 83092/RJ (DJU de 29.8.2003), já se pronunciara no sentido da
impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por multa nas hipóteses de condenação
superior a 6 meses. Ademais, afirmara que: a) se a pena imposta ultrapassar 6 meses e for menor ou igual
a 1 ano deverá ser aplicada uma restritiva de direitos; b) se superior a esse tempo, duas restritivas de
direitos.
HC 98995/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-98995)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Unificação de Penas e Alteração de Data-Base


A unificação de penas decorrente de condenação transitada em julgado, durante o cumprimento de
reprimenda atinente a outro crime, altera a data-base para a obtenção de benefícios executórios e
progressão de regime, a qual passa a ser contada a partir da soma da nova condenação e tem por
parâmetro o restante de pena a ser cumprido. De acordo com esse entendimento, a 1ª Turma indeferiu
habeas corpus em que a defesa pretendia fosse estabelecido como marco inicial para essa finalidade a
data da última infração disciplinar de natureza grave praticada pelo apenado, que havia empreendido
fuga, ou a data de sua recaptura. Reputou-se que a execução da pena subseqüente, considerado o número
de anos e as circunstâncias judiciais, poderia provocar a observância de regime mais gravoso do que o
relativo à anterior, motivo pelo qual, inalterada a data-base, impossibilitar-se-ia eventualmente o
cumprimento da nova reprimenda. Aduziu-se, também, que o somatório de penas decorrente da
unificação teria por conseqüências lógicas tanto a limitação do tempo total que o sujeito deverá
permanecer preso (CP, art. 75) quanto a implementação de regime próprio relativo à totalidade de anos
em que deva o condenado ficar recluso.
HC 100499/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, 26.10.2010. (HC-100499)
(Informativo 606, 1ª Turma)

Homicídio e Confissão Espontânea


A 1ª Turma deferiu habeas corpus a condenado pela prática de homicídio tentado para determinar o
redimensionamento, por parte do juízo competente, da pena imposta. A defesa pretendia fosse
considerada, na reprimenda, a atenuante da confissão espontânea, que fora afastada por conter a tese
defensiva da legítima defesa e configurar, portanto, confissão qualificada. Reputou-se que a simples
postura de reconhecimento da prática do delito atrairia a observância da regra contida no art. 65, III, d, do
CP (“São circunstâncias que sempre atenuam a pena: ... III - ter o agente: ... d) confessado
espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime”), que não possuiria qualquer ressalva no
tocante à maneira como o agente pronuncia a confissão. Precedentes citados: HC 69479/RJ (DJU de
18.12.92) e HC 82337/RJ (DJU de 4.4.2003).
HC 99436/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 26.10.2010. (HC-99436)
(Informativo 606, 1ª Turma)

Princípios e Garantias Penais

Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância - 1


A posse, por militar, de reduzida quantidade de substância entorpecente em lugar sujeito à
administração castrense (CPM, art. 290) não autoriza a aplicação do princípio da insignificância. Com
base nesse entendimento, o Plenário indeferiu habeas corpus em que a Defensoria Pública da União
pleiteava a incidência desse postulado, já que o paciente fora flagrado na posse de 0,1 g de maconha. A
impetração também alegava que essa conduta não causaria risco de lesão à saúde pública. Inicialmente,
destacou-se que o problema em questão não envolveria a quantidade ou o tipo de entorpecente
apreendido, mas sim a qualidade da relação jurídica entre esse usuário e a instituição militar da qual ele
faria parte, no instante em que flagrado com a posse da droga em recinto sob administração castrense. Em
seguida, consignou-se que essa tipologia de relação não seria compatível com a figura da insignificância
penal. Explicitou-se que esta consubstanciaria vetor interpretativo cujo propósito seria o de excluir a
abrangência do Direito Penal de condutas provocadoras de ínfima lesão ao bem jurídico tutelado.
Reputou-se que o uso de drogas e o dever militar seriam inconciliáveis, dado que a disposição em si para
manter o vício implicaria inafastável pecha de reprovabilidade cívico-profissional por afetar tanto a saúde
do próprio usuário quanto pelo seu efeito no moral da corporação e no conceito social das Forças
Armadas.
HC 103684/DF, rel. Min. Ayres Britto, 21.10.2010. (HC-103684)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 605, Plenário)

Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância - 2


Aduziu-se que a hierarquia e a disciplina militares não atuariam como meros predicados
institucionais, constituindo-se, ao revés, em elementos conceituais e “vigas basilares” das Forças
Armadas. Enfatizou-se, nesse ponto, que o maior rigor penal da lei castrense, na hipótese, se harmonizaria
com a maneira pela qual a Constituição dispusera sobre as Forças Armadas. Ante o critério da
especialidade, rejeitou-se a aplicação do art. 28 da Lei 11.343/2006. Mencionou-se que a referida lei
revogara, expressamente, apenas as Leis 6.368/76 e 10.409/2002 e que o Código Penal Militar trataria da
matéria de forma específica, embora em termos mais drásticos. De igual modo, afastou-se a assertiva,
suscitada da tribuna, de ofensa ao princípio da proporcionalidade no sentido de que o art. 290 do CPM
não distinguiria entre traficante e usuário. Asseverou-se que o aludido preceito cominaria somente a pena
máxima aplicável ao delito, o que permitiria ao juiz sentenciante estabelecer a justa medida entre os atos
praticados e o crime, a partir do exame das circunstâncias objetivas e subjetivas da situação concreta.
Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cezar Peluso, Presidente, que
deferiam o writ. O primeiro realçava o fato da quantidade ínfima ser insuscetível de colocar em risco o
bem jurídico protegido pela norma, qual seja, a saúde. Os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, por
sua vez, reconheciam a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância a crime militar e,
rejeitada essa tese, aplicavam o princípio da proporcionalidade. O Min. Cezar Peluso salientava que a
admissão desse princípio em matéria de Direito Penal Militar permitiria que o magistrado não ficasse
impossibilitado de, ao examinar o caso e verificar a inexistência de afronta às objetividades jurídicas do
tipo, assentar a atipicidade por falta de ofensividade ou de lesividade ao bem jurídico.
HC 103684/DF, rel. Min. Ayres Britto, 21.10.2010. (HC-103684)
(Informativo 605, Plenário)

Crime de Descaminho e Princípio da Insignificância


A Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de condenado pela prática do delito de
descaminho (CP, art. 334), no qual se pretendia o trancamento de ação penal, por atipicidade da conduta,
com base na aplicação do princípio da insignificância, pois o tributo devido seria inferior a R$ 10.000,00.
Considerou-se que, embora o tributo elidido totalizasse R$ 8.965,29, haveria a informação de que o
paciente responderia a outro processo — como incurso no mesmo tipo penal — cujo valor não pago à
Fazenda Pública, considerados ambos os delitos, seria de R$ 12.864,35. Destacou-se estar-se diante de
reiteração de conduta delitiva, pois o agente faria do descaminho seu meio de vida, daí a inaplicabilidade
do referido postulado. O Min. Marco Aurélio, relator, enfatizou seu convencimento no sentido de que,
sendo o montante superior a R$ 100,00, caberia concluir-se pela tipicidade.
HC 97257/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-97257)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Princípio da Insignificância e Descaminho - 2


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, ante o empate na votação, concedeu habeas corpus para
reconhecer a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho (CP, art. 334, § 1º) e
trancar a ação penal ao fundamento de que o referido postulado emergiria do valor sonegado diante da
grandeza do Estado e do custo de sua máquina, não se compreendendo movimentá-la para cobrar o tributo
devido. No caso, houvera a apreensão de bebidas cujo valor estimado totalizaria o montante de R$
2.991,00 — v. Informativo 569. Votaram pelo indeferimento os Ministros Marco Aurélio, relator, e
Cármen Lúcia.
HC 96412/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, 26.10.2010.
(HC-96412)
(Informativo 606, 1ª Turma)

Tráfico Internacional de Munição e Princípio da Insignificância


A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia a aplicação do princípio da
insignificância para trancar ação penal instaurada contra o paciente, pela suposta prática do crime de
tráfico internacional de munição (Lei 10.826/2003, art. 18). A defesa sustentava que seria objeto da
denúncia apenas a apreensão de 3 cápsulas de munição de origem estrangeira, daí a aplicabilidade do
referido postulado. Aduziu-se que o denunciado faria do tráfico internacional de armas seu meio de vida e
que teriam sido encontrados em seu poder diversos armamentos e munições que, em situação regular, não
teriam sido objeto da peça acusatória. Nesse sentido, não se poderia cogitar da mínima ofensividade da
conduta ou da ausência de periculosidade social da ação, porquanto a hipótese seria de crime de perigo
abstrato, para o qual não importaria o resultado concreto. Vencido o Min. Marco Aurélio, que deferia a
ordem por reputar configurado no caso o crime de bagatela, tendo em vista que a imputação diria respeito
tão-somente às 3 cápsulas de origem estrangeira, mas não a todo o material apreendido.
HC 97777/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 26.10.2010. (HC-97777)
(Informativo 606, 1ª Turma)

Princípio da Insignificância e Elementos Subjetivos Desfavoráveis


A 2ª Turma, ante a falta de justa causa, concedeu habeas corpus para trancar ação penal instaurada
em desfavor de acusado por furto de uma janela no valor de R$ 120,00. Considerou-se, relativamente ao
princípio da insignificância, não ser possível a análise dos elementos subjetivos desfavoráveis, mesmo
que se trate de reiteração de conduta. Afirmou-se, ainda, que o referido postulado, afetaria a própria
tipicidade penal.
HC 104468/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 26.10.2010. (HC-104468)
(Informativo 606, 2ª Turma)

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Ação Penal

Interrogatório: Lei 11.719/2008 e Lei 8.038/90


O Tribunal resolveu questão de ordem suscitada em ação penal, movida pelo Ministério Público
Federal contra diversas pessoas acusadas da suposta prática de crimes ligados ao esquema denominado
“Mensalão”, para indeferir a renovação de interrogatórios. A defesa pleiteava que os réus fossem ouvidos
novamente, haja vista as modificações promovidas pela Lei 11.719/2008, que alterou o momento em que
efetuado o interrogatório, transferindo-o para o final da instrução. Aduziu-se que, no caso, quando
sobreviera o novel regramento, os acusados já teriam sido interrogados, com observância de todos os
direitos e as garantias, de acordo com a Lei 8.038/90, a qual institui normas procedimentais específicas
para os processos de competência do STF e do STJ. Assentou-se, assim, a validade dos interrogatórios
realizados segundo a legislação então vigente. Salientou-se que o tema relativo à incidência, ou não, da
mencionada Lei 11.719/2008 aos feitos de competência originária do STF ficaria em aberto, devendo ser
apreciado pela Corte naquelas hipóteses em que ainda não realizado o interrogatório. O relator, ao aplicar
o princípio da especialidade, deixou consignado, desde logo, que a nova norma legislativa não alteraria o
procedimento previsto na Lei 8.038/90, uma vez que a fase processual em que deve ocorrer o
interrogatório continua expressamente prescrita no seu art. 7º (“Recebida a denúncia ou a queixa, o
relator designará dia e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e intimar o
órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o caso.”).
AP 470 Oitava-QO/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 7.10.2010. (AP-470)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 603, Plenário)
Crimes da Lei 8.666/93: Prestação de Serviços e Enquadramento
A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado em favor de acusado pela suposta prática
de delitos previstos na Lei 8.666/93, no qual se alegava a inépcia da denúncia e a atipicidade das condutas
imputadas ao paciente. Pretendia a impetração, sob alegada ausência de justa causa, o trancamento da
ação penal. No que se refere à apontada inépcia da denúncia, afirmou-se que ela consignara a qualidade
de administrador e sócio da empresa contratada. Assentou-se, daí, que a responsabilidade, se procedente a
imputação, seria subjetiva. No tocante à tipologia, ou seja, se o procedimento estaria, ou não, enquadrado
na Lei das Licitações, aduziu-se que o art. 96 desse diploma legal não se referiria a serviços, mas a bens.
Assim, conferiu-se interpretação sistemática a ponto de se entender que no vocábulo “bens” se teria a
inclusão de serviços. Para tanto, considerou-se o disposto no art. 1º dessa mesma lei, a revelar que o
diploma versaria licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de
publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. Ressaltou-se que, na denúncia, aludira-se, também, ao art. 92 da Lei 8.666/93
que teria uma abrangência a apanhar a prestação de serviços. Registrou-se que a referência na peça
acusatória não vincularia o juízo e que o pano de fundo — aditamento com majoração substancial do que
contratado inicialmente com a Administração Pública — sinalizaria, em princípio, uma prática delituosa.
O Min. Ricardo Lewandowski salientou que a denúncia descreveria adequadamente os fatos, pelo menos
para propiciar a defesa ao paciente, e que o acusado se defenderia deles e não da imputação jurídica.
Vencido o Min. Dias Toffoli que concedia a ordem para trancar a ação penal, ao fundamento de
ocorrência de responsabilidade objetiva.
HC 102063/ES, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-102063)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 1


O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação penal para condenar
Deputado Federal pela prática dos delitos tipificados nos artigos 288 e 312, este na forma do art. 71, c/c o
art. 69, todos do CP, à pena de 13 anos, 4 meses e 10 dias de reclusão e ao pagamento de 66 dias-multa,
no valor de um salário mínimo vigente à época do fato, corrigido monetariamente. Na espécie, o
Ministério Público do Estado de Rondônia instaurara procedimento investigatório a partir de
representações em que questionada a licitude de contrato publicitário firmado entre a Assembléia
Legislativa local e determinada empresa. No decorrer das apurações, o parquet constatara a existência de
suposto esquema criminoso — engendrado para desviar dinheiro daquela Casa Legislativa — no qual o
réu, na qualidade de diretor financeiro da Assembléia Legislativa, teria assinado vários cheques e os
repassado, por mais de 2 anos, à mencionada empresa de publicidade a pretexto de pagamento pelos
serviços, sequer prestados. Em razão disso, o Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público daquela
unidade federativa oferecera denúncia contra o parlamentar e outros 7 co-réus por formação de quadrilha
e peculato, em concurso material e de pessoas. Após o recebimento da inicial acusatória pela Corte de
origem, o réu fora empossado Deputado Federal e o processo, desmembrado, remetido ao STF, que assim
o mantivera e afirmara a validade dos atos judiciais praticados anteriormente à diplomação e à posse do
parlamentar federal.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 2


Inicialmente, por maioria, resolveu-se questão de ordem suscitada pela Min. Cármen Lúcia, relatora,
no sentido de se reconhecer a subsistência da competência do Supremo para a causa. Tendo em conta que
o parlamentar apresentara, perante à Presidência da Câmara dos Deputados, manifestação formal de
renúncia ao seu mandato, a defesa alegava que a prerrogativa de foro não mais se justificaria. Realçou-se
que o pleito de renúncia fora formulado em 27.10.2010 e publicado no Diário da Câmara no dia seguinte,
data para a qual pautado o julgamento da presente ação penal. Aduziu-se que os motivos e fins desse ato
demonstrariam o intento do parlamentar de se subtrair ao julgamento por esta Corte, em inaceitável
fraude processual, que frustraria as regras constitucionais e não apenas as de competência. Destacou-se,
desse modo, que os fins dessa renúncia — às vésperas da apreciação do feito e após a tramitação do
processo por mais de 14 anos — não se incluiriam entre aqueles aptos a impedir o prosseguimento do
julgamento, configurando, ao revés, abuso de direito ao qual o sistema constitucional vigente não daria
guarida. Vencido o Min. Marco Aurélio que, ao salientar a competência de direito estrito do Supremo,
assentava que, com a renúncia operada, o réu teria deixado de ser membro do Congresso Nacional, o que
cessaria, em conseqüência, a competência desta Corte. Os Ministros Dias Toffoli e Joaquim Barbosa
sinalizavam, ainda, não ter efeito a renúncia operada após o fim da instrução, quando o processo já estiver
concluso para o relator, faltando apenas a elaboração do voto.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 3


Em seguida, rejeitaram-se todas as preliminares argüidas pelo réu. No tocante à alegação de que o
inquérito teria sido instaurado e dirigido pelo Ministério Público em ofensa aos princípios do devido
processo legal e da ampla defesa, enfatizou-se que os elementos de informação que serviram de suporte
para a denúncia não teriam sido extraídos de investigação penal conduzida pelo parquet, mas de autos de
inquérito civil. Relativamente à eventual quebra do princípio do promotor natural, observou-se que a peça
acusatória fora apresentada pelo titular do órgão ministerial em âmbito estadual. Ressaltou-se, ainda, que
os crimes em apreço seriam crimes contra a Administração Pública, o que afastaria a assertiva de que, por
se tratar de crime político, haveria a impossibilidade de instauração de ação de improbidade. Repeliram-
se, de igual modo, os argumentos de inépcia da denúncia e de ausência de subsunção dos fatos narrados
ao tipo penal do art. 288 do CP ao fundamento de que a inicial teria delineado os limites de atuação do
parlamentar. Por fim, quanto à necessidade de unidade do julgamento, mencionou-se que o
desmembramento do processo fora mantido, em conformidade com a jurisprudência deste Tribunal.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 4


No mérito, reputou-se que a materialidade do crime de peculato estaria demonstrada pela vasta
prova documental carreada, especialmente pelos cheques destinados ao pagamento da empresa.
Acrescentou-se que a prova testemunhal produzida revelaria que a empresa de publicidade, embora
tivesse recebido os pagamentos, não prestara serviços para o Poder Legislativo do Estado-membro e nem
emitira notas fiscais. No ponto, assinalou-se que testemunha afirmara que documentos teriam sido
incinerados por um dos co-réus. No que concerne à autoria, considerou-se que o acervo probatório,
produzido sob o crivo do contraditório, apresentaria elementos de convicção suficientes para a formação
de um juízo de certeza sobre o envolvimento do parlamentar na empreitada criminosa. Além dos cheques
por ele assinados, as testemunhas ouvidas em juízo confirmaram que o parlamentar seria o diretor
financeiro da Assembléia Legislativa à época. Também constariam depoimentos afirmando que a empresa
que recebia os cheques não possuiria registro contábil, empregados, escritório, equipamentos ou telefone
para contato. Consignou-se que não se trataria de responsabilização do acusado com base em prova
indiciária, entretanto, ter-se-iam elementos de informação em simetria com o conjunto de provas
produzidas durante a instrução processual. Assim, explicitou-se que os indícios obtidos na fase de
investigação teriam sido confirmados pela instrução processual. Registrou-se não ser razoável supor-se
que um diretor financeiro, ao efetuar o pagamento de serviços que custaram milhões de reais aos cofres
públicos, desconhece a não realização dos serviços de publicidade. Por derradeiro, reconheceu-se a
ocorrência de crime continuado (CP, art. 71), haja vista que os delitos de peculato teriam sido perpetrados
no exercício do cargo de diretor financeiro da Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia, por meio
da assinatura de cheques pertencentes a tal órgão e a emissão de cada um deles fora efetuada com
regularidade de tempo.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 5


Com relação ao crime de formação de quadrilha, destacou-se que o tipo exigiria que, pelo menos, 4
pessoas se associassem, em caráter estável e permanente, com a finalidade de cometer crimes. Assinalou-
se que no esquema criminoso teria ficado comprovado o envolvimento do Presidente da Assembléia
Legislativa do Estado de Rondônia, irmão do réu, de empresário do setor de comunicações naquele ente
federativo, de servidores daquela Casa Legislativa e de sócios e patrono da empresa de publicidade. O
caráter estável e permanente da associação também estaria demonstrado, já que efetuados, pelo menos, 22
pagamentos indevidos em um período de quase 1 ano. Ademais, avaliou-se que a continuidade delitiva
seria bastante para a caracterização da elementar “finalidade de cometer crimes”. Quanto ao parlamentar,
destacou-se que o delito de formação de quadrilha teria prova autônoma e independente, de forma a
inexistir impedimento à sua condenação por tal crime, independentemente da apuração, nestes autos, da
responsabilidade dos demais envolvidos. Informou-se, ademais, que os outros co-réus estariam sendo
processados pelo mesmo crime na instância própria, com prolação de sentença penal condenatória.
Afirmou-se que, na hipótese de absolvição desses co-réus em instância diversa e de condenação do
parlamentar na presente ação penal, existiriam soluções processuais para evitar essa aporia, a exemplo da
revisão criminal. Vencido o Min. Cezar Peluso, Presidente, que absolvia o réu da imputação do art. 288
do CP. Ao enfatizar a plurissubjetividade do tipo penal em apreço e o desmembramento do processo,
considerava que, para haver condenação pelo Supremo, seria necessário que os demais co-réus tivessem
sido definitivamente condenados pelo juízo competente, sob pena do reconhecimento de formação de
quadrilha a um único membro.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 6


No tocante à dosimetria da pena, prevaleceu o voto do Min. Dias Toffoli, revisor, relativamente ao
delito de peculato, que estabeleceu a pena-base em 5 anos de reclusão e 30 dias-multa (culpabilidade,
conduta social, personalidade, circunstâncias, motivos e conseqüências do delito desfavoráveis ao
sentenciado) e, ante a ausência de circunstâncias atenuantes e agravantes, aplicou, à pena provisória, a
majoração em 1/3, ante a causa especial de aumento prevista no § 2º do art. 327 do CP, a totalizar 6 anos
e 8 meses de reclusão e 40 dias-multa. Nos termos preceituados no art. 71 do CP, aumentou a pena em
2/3, tornando-a definitiva em 11 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão e 66 dias-multa. No que concerne à
formação de quadrilha, fixou-se a pena em 2 anos e 3 meses de reclusão. Em conseqüência, determinou-
se o regime fechado para o cumprimento inicial da pena. Na reparação do dano, seguiu-se a proposta da
relatora no sentido da restituição, pelo sentenciado, aos cofres públicos do Estado de Rondônia do valor
correspondente a R$ 1.647.500,00, atualizados na execução pelos índices de correção monetária, e da
suspensão dos seus direitos políticos enquanto durarem os efeitos da condenação, além de outras
cominações constantes de seu voto. Assentou-se o não cabimento da substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos e a possibilidade de o réu recorrer em liberdade, até que a pena se torne
definitiva. Vencidos, quanto à dosimetria em relação ao peculato, os Ministros Cármen Lúcia, Joaquim
Barbosa e Ellen Gracie, que aplicavam a pena de 13 anos e 9 meses de reclusão e 230 dias-multa, e Cezar
Peluso, Presidente, que a fixava em 11 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão e 66 dias-multa.
AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)
(Informativo 606, Plenário)

Recebimento de Denúncia e Provas Ilícitas - 3


Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia
o trancamento de ação penal instaurada contra o paciente. Alegava-se que o STJ não poderia receber
denúncia oferecida com esteio em provas que antes declarara ilícitas, obtidas por meio de interceptações
telefônicas realizadas em outra investigação criminal, cuja ação penal correspondente fora trancada com
fundamento na ilicitude da prova em julgamento, naquela Corte, do HC 57624/RJ — v. Informativo 589.
Salientou-se, inicialmente, que as transcrições que os impetrantes diziam terem sido declaradas ilícitas no
julgamento do citado writ objetivavam a apuração do crime de sonegação fiscal e que, como as escutas
telefônicas haviam sido autorizadas antes da constituição definitiva do crédito tributário, condição de
procedibilidade da ação penal, o STJ as anulara. Asseverou-se que a denúncia que resultara na ação penal
instaurada contra o ora paciente não se valeria exclusivamente das escutas invalidadas, mas,
principalmente, de documentos extraídos de inquérito, não se podendo afirmar que esses documentos
seriam derivados da prova obtida ilicitamente. Ressaltou-se que o trancamento de ação penal em habeas
corpus seria medida excepcionalíssima e que o cenário de incerteza que haveria no caso impediria que
assim se procedesse.
HC 92467/ES, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes, 26.10.2010.
(HC-92467)
(Informativo 606, 2ª Turma)

Recebimento de Denúncia e Provas Ilícitas - 4


Extraiu-se do voto do relator no HC 57624/RJ que as interceptações telefônicas realizadas tinham a
finalidade de servir à investigação da suposta prática do crime de sonegação fiscal. Assim, reputou-se
haver dúvida a respeito da exclusividade, ou não, da escuta telefônica como prova dos fatos imputados na
peça acusatória, referentes aos crimes de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e uso de
documento falso. Concluiu-se que a certeza da exclusividade da prova e da contaminação de outras a
partir dela demandaria aprofundado reexame do acervo fático-probatório coligido nas investigações, o
que seria inviável em habeas corpus. Vencido o Min. Celso de Mello que concedia a ordem, por
considerar que se mostraria indivisível a questão da ilicitude da prova penal resultante de interceptação
telefônica tal como qualificada no anterior julgamento do HC 57624/RJ pelo STJ.
HC 92467/ES, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes, 26.10.2010.
(HC-92467)
(Informativo 606, 2ª Turma)

Competência

Portador do Vírus HIV e Tentativa de Homicídio - 2


Em conclusão de julgamento, a Turma deferiu habeas corpus para imprimir a desclassificação do
delito e determinar o envio do processo para distribuição a uma das varas criminais comuns estaduais.
Tratava-se de writ em que se discutia se o portador do vírus HIV, tendo ciência da doença e
deliberadamente a ocultando de seus parceiros, teria praticado tentativa de homicídio ao manter relações
sexuais sem preservativo. A defesa pretendia a desclassificação do delito para o de perigo de contágio de
moléstia grave (CP: “Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: ...”) — v. Informativo 584. Entendeu-se que não seria
clara a intenção do agente, de modo que a desclassificação do delito far-se-ia necessária, sem, entretanto,
vinculá-lo a um tipo penal específico. Tendo em conta que o Min. Marco Aurélio, relator, desclassificava
a conduta para o crime de perigo de contágio de moléstia grave (CP, art. 131) e o Min. Ayres Britto, para
o de lesão corporal qualificada pela enfermidade incurável (CP, art. 129, § 2º, II), chegou-se a um
consenso, apenas para afastar a imputação de tentativa de homicídio. Salientou-se, nesse sentido, que o
Juiz de Direito, competente para julgar o caso, não estaria sujeito sequer à classificação apontada pelo
Ministério Público.
HC 98712/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-98712)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Crime Militar praticado por Civil e Competência


A 2ª Turma deferiu habeas corpus para extinguir a ação penal instaurada contra civil pela suposta
prática do crime de dano contra o patrimônio castrense (CPM, art. 259), consistente na colisão de veículo
automotor, por ele conduzido, com uma viatura militar. Aduziu-se que a materialização do delito militar
perpetrado por civil, em tempo de paz, seria de caráter excepcional e que a Corte teria firmado
entendimento segundo o qual o art. 9º do CPM deve ser interpretado restritivamente, no sentido da
necessidade de haver deliberada intenção de ofensa a bens jurídicos tipicamente associados à estruturação
militar ou à função de natureza castrense. Asseverou-se, no caso, que o paciente não teria manifestado tal
intento, o que afastaria a competência da justiça especial. Precedente citado: CC 7040/RS (DJU de
22.11.1996).
HC 105348/RS, rel. Min. Ayres Britto, 19.10.2010. (HC-105348)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Execução das Penas

HC e Transferência de Presídio
A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que pretendida a transferência de interno do sistema
prisional a presídio distinto do que se encontra e mais perto da residência de seus familiares. Alegava a
impetração que estabelecimento em que ora cumprida a pena seria destinado ao recolhimento de presos de
alta periculosidade, o que não seria o caso do paciente. Aduziu-se que a via estreita do writ não seria
adequada para analisar os fundamentos pelos quais o paciente fora encaminhado à unidade prisional tida
como de maior rigor. Reputou-se, ademais, que a defesa não teria formulado nenhum pedido de
transferência em favor do apenado perante o juízo das execuções, ao qual caberia analisar o pleito, pois
mais próximo da realidade factual. Entretanto, observou-se que o simples fato de o paciente estar
condenado a delitos tipificados como de gravidade elevada não obstaria, por si só, a possibilidade de ser
transferido para um presídio não distante de sua família, considerada a base da sociedade e dotada de
especial proteção por parte do Estado (CF, art. 226).
HC 101540/SP, rel. Min. Ayres Britto, 19.10.2010. (HC-101540)
(Informativo 605, 2ª Turma)
Habeas Corpus

Agravo em Execução e “Habeas Corpus”


A Turma, por maioria, deferiu habeas corpus para que o tribunal de justiça de origem aprecie
medida de igual natureza lá impetrada — em que se discute a exclusão de anotação de falta grave
cometida pelo paciente —, mas que não fora conhecida ao fundamento de que a decisão desafiaria agravo
em execução. Consignou-se que, diante da passagem do tempo, não seria possível a interposição do
referido recurso de agravo em execução, restando apenas a via do habeas corpus, sob pena de o paciente
ficar sem jurisdição. Ademais, asseverou-se que o writ não sofre o empecilho da coisa julgada e, menos
ainda, o da preclusão. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que, além de ressaltar que a matéria
não fora apreciada pelas instâncias inferiores, considerava, no caso, o habeas corpus infrutífero, já que
incabível, na sede eleita, a análise dos requisitos para a progressão de regime, obstada em virtude da falta
disciplinar praticada.
HC 104190/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
5.10.2010. (HC-104190)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Inquérito Policial

Inquérito Policial e Arquivamento Implícito


O sistema processual penal brasileiro não prevê a figura do arquivamento implícito de inquérito
policial. Ao reafirmar esse entendimento, a 1ª Turma denegou habeas corpus em que se sustentava a sua
ocorrência em razão de o Ministério Público estadual haver denunciado o paciente e co-réu, os quais não
incluídos em denúncia oferecida anteriormente contra terceiros. Alegava a impetração que o paciente, por
ter sido identificado antes do oferecimento da primeira peça acusatória, deveria dela constar.
Inicialmente, consignou-se que o Ministério Público esclarecera que não incluíra o paciente na primeira
denúncia porquanto, ao contrário do que afirmado pela defesa, não dispunha de sua identificação, o que
impediria a propositura da ação penal naquele momento. Em seguida, aduziu-se não importar, de qualquer
forma, se a identificação do paciente fora obtida antes ou depois da primeira peça, pois o pedido de
arquivamento deveria ser explícito (CPP, art. 28). Nesse sentido, salientou-se que a ocorrência de
arquivamento deveria se dar após o requerimento expresso do parquet, seguido do deferimento,
igualmente explícito, da autoridade judicial (CPP, art. 18 e Enunciado 524 da Súmula do STF). Ressaltou-
se que a ação penal pública incondicionada submeter-se-ia a princípios informadores inafastáveis,
especialmente o da indisponibilidade, segundo o qual incumbiria, obrigatoriamente, ao Ministério Público
o oferecimento de denúncia, quando presentes indícios de autoria e prova de materialidade do delito.
Explicou-se que a indisponibilidade da denúncia dever-se-ia ao elevado valor social dos bens tutelados
por meio do processo penal, ao se mostrar manifesto o interesse da coletividade no desencadeamento da
persecução sempre que as condições para tanto ocorrerem. Ademais, registrou-se que, de acordo com a
jurisprudência do Supremo, o princípio da indivisibilidade não se aplicaria à ação penal pública.
Concluiu-se pela higidez da segunda denúncia. Alguns precedentes citados: RHC 95141/RJ (DJe de
23.10.2009); HC 92445/RJ (DJe de 3.4.2009).
HC 104356/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 19.10.2010. (HC-104356)
(Informativo 605, 1ª Turma)

Nulidades

Tribunal do Júri e Nulidade


A 1ª Turma indeferiu habeas corpus em que pretendido o restabelecimento de decisão absolutória
proferida pelo Tribunal do Júri em favor de denunciado pela suposta prática do crime de homicídio
qualificado. No caso, o parquet, ao alegar nulidade decorrente de violação, por parte da defesa, ao
disposto na antiga redação do art. 475 do CPP (“Durante o julgamento não será permitida a produção ou
leitura de documento que não tiver sido comunicado à parte contrária, com antecedência, pelo menos, de
três dias, compreendida nessa proibição a leitura de jornais ou qualquer escrito, cujo conteúdo versar
sobre matéria de fato constante do processo”) interpôs recurso perante o tribunal de justiça local, ao qual
dado provimento, para determinar a realização de novo julgamento pelo júri popular. A defesa alegava
que essa decisão teria violado o princípio constitucional da soberania dos veredictos. Reputou-se que, no
julgamento absolutório, teria havido a leitura, por parte do patrono do acusado, de folhas de antecedentes
criminais dos policiais que teriam atuado na fase inquisitória, sem que observada a referida regra
instrumental. Salientou-se, ademais, que a proibição contida nesse dispositivo seria bilateral, ou seja,
atingiria tanto o Estado-acusador quanto a defesa.
HC 102442/MT, rel. Min. Cármen Lúcia, 26.10.2010. (HC-102442)
(Informativo 606, 1ª Turma)

Princípios Processuais Penais

Tráfico de Drogas: Combinação de Leis e Princípio do “Ne Reformatio in Pejus”


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ que determinara ao Juízo das
Execuções que aplicasse à pena de condenado, como incurso no art. 12 da Lei 6.368/76, a causa de
diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, no montante de 1/6 a 2/3, até o limite de 1 ano e
8 meses de reclusão. No caso, a defesa insurgia-se contra a fixação desse limite de redução, porquanto
utilizada a pena mínima cominada em abstrato do art. 33 da Lei 11.343/2006 (5 anos de reclusão), mas
não aquela em vigor à época dos fatos (3 anos de reclusão). Reputou-se não ser possível combinar
dispositivos contidos em ambos os diplomas, sob pena de invasão da competência do Poder Legislativo e
ofensa, por conseguinte, ao princípio constitucional da separação dos Poderes. Salientou-se que, muito
embora o ato apontado como coator tivesse permitido a combinação de leis, contrariando entendimento
fixado por esta Corte, ele não poderia ser desconstituído, em obediência ao princípio do ne reformatio in
pejus. Precedentes citados: HC 96884/MS (DJe de 5.2.2010) e RHC 101278/RS, (DJe de 21.5.2010).
HC 97221/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-97221)
(Informativo 605, 2ª Turma)

Prisão e Liberdade Provisória

Prisão Cautelar e Excesso de Prazo


A Turma, ante a excepcionalidade do caso, deferiu habeas corpus para conceder liberdade
provisória aos pacientes, presos preventivamente, desde 2003, pela suposta prática do crime de homicídio
qualificado. Reputou-se, inicialmente, não se tratar de superação do Enunciado 691 da Súmula do STF,
pois o pedido de liminar no writ impetrado perante o STJ ainda não teria sido apreciado naquela Corte e o
feito sequer possuiria relator. Aduziu-se a excessiva demora na constrição cautelar. Estabeleceram-se, por
fim, algumas condições a que os pacientes deverão se submeter, dentre elas o compromisso de
comparecimento a todos os atos do processo e a proibição de se ausentarem do distrito da culpa sem
autorização judicial.
HC 102668/PA, rel. Min. Dias Toffoli, 5.10.2010. (HC-102668)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Prisão Penal

Recâmbio de Preso e Inércia Estatal


A 1ª Turma, por maioria, não conheceu de habeas corpus, mas concedeu a ordem, de ofício, para o
fim de revogar a prisão preventiva decretada em ação penal de comarca do interior de Pernambuco, com a
determinação de expedição de alvará de soltura clausulado. Na espécie, o paciente fora denunciado por
homicídio quadruplamente qualificado, supostamente cometido naquela unidade federativa, sendo preso
em 20.1.2009, em São Paulo, sem que providenciado, até o mês de setembro deste ano, o seu recâmbio
àquela comarca. A impetração pleiteava a revogação da custódia preventiva em virtude de ausência de
fundamentação idônea e excesso de prazo. Asseverou-se que, embora houvesse motivação adequada para
a segregação cautelar do paciente, a situação dos autos apresentaria peculiaridade. Aduziu-se que, de
acordo com informações obtidas junto ao juízo processante, o feito ficara paralisado desde a prisão do
paciente. Fora produzida apenas antecipação da prova acusatória, e facultada à defesa a realização de
interrogatório por precatória na capital paulista. Em razão disso, apontou-se a aparente irregularidade do
caso, pois não haveria a indicação de que teria ocorrido formal intimação para o oferecimento de defesa
prévia e de apresentação de rol de testemunhas e, ainda, porque não incumbiria à defesa requerer a
providência do interrogatório. Enfatizou-se que, apesar da gravidade do crime imputado ao paciente, sua
liberdade individual não poderia ficar ao arbítrio do Estado-acusador, quanto ao andamento, ou não, do
processo. Destacou-se a inércia estatal em recambiar de ofício o réu. Reputou-se que a demora no
desfecho da ação penal não poderia ser debitada à defesa e que o juízo processante desconsiderara
recomendação da Corte pernambucana no sentido de priorizar o recâmbio do réu àquela comarca.
Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski, quanto à concessão de ofício, e Marco Aurélio, que
conhecia do writ e concedia a ordem ante o excesso de prazo.
HC 104667/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 19.10.2010. (HC-104667)
(Informativo 605, 1ª Turma)

Provas

Crime de Furto: Qualificadora e Nulidade de Perícia


A Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que alegada a nulidade de laudo pericial
mediante o qual reconhecida a existência de qualificadora pertinente ao rompimento de obstáculo em
crime de furto. A defesa alegava inexistência de relação entre a habilitação técnica dos peritos nomeados
e a natureza do exame realizado, bem como ausência de indicação da metodologia por eles utilizada para
a resposta dos quesitos, em dissonância com o que exigido pela legislação processual penal. Sustentava
ser aplicável ao fato, ademais, o princípio da insignificância. Para evitar supressão de instância,
conheceu-se da impetração, apenas na parte relativa à suposta nulidade. Nessa parte, entendeu-se idônea a
perícia realizada, pois, comprovada a ausência de peritos oficiais, foram nomeados 2 peritos, ambos com
curso superior, atendidos, portanto, os requisitos contidos nos artigos 159, § 1º, e 171, do CPP. Vencido o
Min. Marco Aurélio, relator, que deferia a ordem. Reputava ser necessário harmonizar-se o sistema
processual como um todo, de modo a interpretar-se a legislação instrumental penal em conjunto com a
instrumental civil, na qual se exige que os peritos comprovem sua especialidade na matéria sobre a qual
deverão opinar, nos termos do art. 145, § 2º, do CPC (“Os peritos comprovarão sua especialidade na
matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos”).
Aduzia também configurar nulidade a não descrição da metodologia utilizada na elaboração do “auto de
constatação de dano”, de forma a desclassificar o delito para furto simples.
HC 99035/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 5.10.2010.
(HC-99035)
(Informativo 603, 1ª Turma)

Testemunha Não Arrolada em Denúncia e Oitiva pelo Juiz


A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a anulação de ação penal
desde a audiência de oitiva de testemunhas, ao argumento de que testemunha, não arrolada na denúncia,
teria sido ouvida, em primeiro lugar, pelo juízo processante. De início, ao salientar a condenação
definitiva do paciente a 2 anos de reclusão por furto qualificado, substituída por pena restritiva de direitos
e multa, observou-se não estar prejudicado o writ. No ponto, apurou-se, em contato com o juízo da
execução, que a pena ainda não teria sido totalmente solvida, a possibilitar, caso não cumprida, eventual
conversão em pena privativa de liberdade. Registrou-se que a primeira testemunha inquirida —
patrulhador que abordara o paciente — realmente não fora arrolada na denúncia, comparecera à audiência
e o juízo a ouvira como sua testemunha. Enfatizou-se que o CPP e a teoria jurídica processual penal não
determinariam uma ordem necessária para a oitiva de testemunha do juízo. Avaliou-se que sua inquirição
em momento anterior teria favorecido a defesa. Realçou-se a ausência de indicação de eventual prejuízo.
Constatou-se, ainda, a preclusão da matéria, haja vista a presença, naquele momento, de defensora do réu,
a qual, de acordo com o termo de deliberação da audiência, não teria impugnado imediatamente a
inquirição da testemunha ou oferecido resistência ou oposição a esse fato, nem interposto recurso. O Min.
Ricardo Lewandowski ressaltou que a busca da verdade real pelo juízo criminal permitiria uma atuação
com certa amplitude, sendo possível ao juiz ouvir, como se fossem suas, tanto as testemunhas arroladas a
destempo pelas partes quanto quaisquer outras. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia o writ ao
fundamento de que o devido processo legal, no que se refere ao direito de defesa, seria sagrado e que a
nulidade seria absoluta. Entendia desnecessária, ao versar matéria sobre o exercício do direito de defesa, a
demonstração do prejuízo, por reputá-lo presumido, não obstante reconhecer que o próprio título
condenatório poderia consistir certidão judicial pública desse prejuízo. Considerava, ainda, a
possibilidade de oitiva nos termos do art. 209 do CPP, mas não na forma realizada no caso presente, em
que a acusação indicara extemporaneamente a testemunha, segundo a decisão do STJ, tendo o juiz
afastado a inércia do Estado, ao ouvi-la sob a roupagem de testemunha do juízo.
HC 95319/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 19.10.2010. (HC-95319)
(Informativo 605, 1ª Turma)

DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos

Repercussão Geral e Alteração nas Premissas Fático-Jurídicas - 1


O Plenário resolveu questão de ordem no sentido de reconhecer a repercussão geral da matéria
discutida em recursos extraordinários, relativa à possibilidade, ou não, de se aplicar a alíquota máxima do
Imposto de Renda de Pessoa Física aos valores recebidos acumuladamente pelo beneficiário, por culpa
exclusiva da autarquia previdenciária. Com base nisso, reformou decisão monocrática da Min. Ellen
Gracie, que não admitira os recursos, dos quais relatora, ao fundamento de que a questão já teria sido
considerada “sem repercussão geral” no âmbito do Plenário Virtual. No caso, após o STF haver
deliberado que o tema versado nos autos não possuiria repercussão geral, o TRF da 4ª Região declarara a
inconstitucionalidade, sem redução de texto, do art. 12 da Lei 7.713/88, o qual determina a incidência do
Imposto de Renda no mês do recebimento de valores acumulados sobre o total dos rendimentos. A União,
ao alegar a superveniente alteração nas premissas fático-jurídicas, sustentava, em sede de agravo
regimental, que os recursos extraordinários interpostos com fulcro no art. 102, III, b, da CF teriam
repercussão geral presumida.
RE 614232 AgR-QO/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232)
RE 614406 AgR-QO/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 605, Plenário, Repercussão Geral)

Repercussão Geral e Alteração nas Premissas Fático-Jurídicas - 2


Aduziu-se que a superveniência de declaração de inconstitucionalidade de lei por tribunal de
segunda instância consubstanciaria dado relevante a ser levado em conta, uma vez que retiraria do mundo
jurídico determinada norma que, nas demais regiões do país, continuaria a ser aplicada. Ao enfatizar que
se cuidaria de matéria tributária, mais particularmente de imposto federal, asseverou-se que os princípios
da uniformidade geográfica (CF, art. 151, I) e da isonomia tributária (CF, art. 150, II) deveriam ser
considerados. Observou-se, ademais, que a negativa de validade da lei ou de ato normativo federal em
face da Constituição indicaria a presença de repercussão geral decorrente diretamente dos dispositivos
constitucionais aludidos, o que justificaria a apreciação do mérito dos recursos extraordinários, devendo-
se reputar satisfeito o requisito de admissibilidade previsto no art. 102, § 3º, da CF. Assim, tendo em
conta a declaração de inconstitucionalidade superveniente e a relevância jurídica correspondente à
presunção de constitucionalidade das leis, à unidade do ordenamento jurídico, à uniformidade da
tributação federal e à isonomia, assentou-se que o tema apresentaria repercussão geral. Os Ministros Ellen
Gracie, Ayres Britto, Gilmar Mendes e Marco Aurélio admitiam, na situação em apreço, a revisão da tese
anterior, nos termos mencionados no art. 543-A, § 5º, do CPC (“§ 5º Negada a existência da repercussão
geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos
liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal.”).
RE 614232 AgR-QO/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232)
RE 614406 AgR-QO/RS, rel. Min. Ellen Gracie, 20.10.2010. (RE-614232)
(Informativo 605, Plenário, Repercussão Geral)

Supremo Tribunal Federal


Secretaria de Documentação - SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados - CJCD
CJCD@stf.jus.br
Informativo STF Mensal
Brasília, novembro de 2010 - nº 4
Compilação dos Informativos nºs 607 a 611

O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

SUMÁRIO

Direito Administrativo
Agentes Públicos
Art. 37, XI, da CF: procuradores autárquicos e procuradores de estado - 5 e 6
Procurador da Fazenda e redução de férias
Atos Administrativos
Registro de aposentadoria: garantias constitucionais e anistia
Concurso Público
Concurso público para cargo de motorista e exame de aptidão física

Direito Civil e Processual Civil


Medida Cautelar
Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 4
Princípios e Garantias
Composição de órgão colegiado: juízes convocados e princípio do juiz natural

Direito Constitucional
Competência Originária do STF
Notificação judicial do Presidente da República e competência do STF - 2
Competência Tributária
Extinção de execução fiscal de pequeno valor: autonomia municipal e acesso à jurisdição - 1 e 2
Conselho Nacional de Justiça
CNJ e ausência de intimação em procedimento de controle administrativo
Controle de Constitucionalidade
ADC e art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 - 3 a 5
EC 30/2000: precatórios pendentes e precatórios futuros - 4 e 5
Telefonia móvel e competência legislativa - 1 e 2
Internet: caracterização do serviço e competência legislativa
Controle Interno
Município: recursos públicos federais e fiscalização pela CGU - 2 e 3
Magistratura
Promoção de juiz federal
Organização dos Poderes
Taxa de classificação de produtos vegetais e recepção
Recurso em Mandado de Segurança
RMS e art. 515, § 3º, do CPC
Reserva de Plenário
Reclamação: inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 e ofensa à Súmula
Vinculante 10 - 4
Direito do Trabalho
Rescisão
Lei 8.880/94: demissão sem justa causa e indenização adicional - 2

Direito Eleitoral
Crimes Eleitorais
Falsidade ideológica para fins eleitorais e prestação de contas - 1 a 3

Direito Penal
Crime
Arrependimento posterior e requisitos
Estatuto da Criança e do Adolescente
ECA: rito e princípio da identidade física do juiz
Penas
Reparação de dano e restituição de valor irrisório
Princípios e Garantias Penais
Art. 290 do CPM e princípio da insignificância - 3
Princípio da insignificância e furto
Princípio da insignificância: furto privilegiado e serviço público - 2

Direito Previdenciário
Contribuições Previdenciárias
Contribuição previdenciária de inativos e pensionistas: período compreendido entre a EC 20/98 e
a EC 41/2003

Direito Processual Penal


Ação Penal
Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 1 a 3
Inquérito policial e denúncia anônima
Competência
Homicídio e competência da Justiça Federal
“Habeas corpus” e conexão entre crimes
Execução das Penas
Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave
Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave - 1 e 2
Nulidades
Impedimento de magistrado e nulidade absoluta
Princípios e Garantias Processuais Penais
CPI e convocação de magistrado
Prisão e Liberdade Provisória
Tráfico de drogas e liberdade provisória
Tráfico de drogas: liberdade provisória e ausência de fundamentação
Prisão preventiva e mudança de domicílio

Direito Tributário
Responsabilidade Tributária
Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 1 a 5

DIREITO ADMINISTRATIVO
Agentes Públicos

Art. 37, XI, da CF: procuradores autárquicos e procuradores de estado - 5


Em conclusão, a 1ª Turma, desproveu recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo que considerara ilegítima a distinção preconizada pelo Decreto paulista
48.407/2004. Referida norma estabelecera o teto dos vencimentos dos Procuradores Autárquicos com
base no subsídio mensal do Governador, enquanto que, para os Procuradores do Estado, limitara os
vencimentos a 90,25% dos subsídios mensais dos Ministros do Supremo — v. Informativo 578. Reputou-
se inexistirem motivos para, na aplicação do subteto constitucional, proceder-se à aludida distinção.
Salientou-se que a questão se cingiria em saber se a referência ao termo “Procuradores” no art. 37, XI, da
CF, na redação dada pela EC 41/2003, alcançaria, ou não, os Procuradores Autárquicos. Registrou-se, no
ponto, que a citada emenda constitucional, ao modificar o inciso XI do art. 37 da CF, fixara um teto
absoluto, equivalente ao subsídio dos Ministros do STF, além de estabelecer outros parâmetros para os
Estados, Distrito Federal e Municípios. Ressaltou-se, ainda, que tal dispositivo somente excepcionara os
membros do Ministério Público, os Procuradores e Defensores Públicos do subteto correspondente ao
subsídio do Governador depois da promulgação da EC 41/2003. Assinalou-se que, a partir da EC
47/2005, que alterara o § 12 do art. 37 da CF, facultara-se aos Estados e ao Distrito Federal, mediante
emenda às respectivas Constituições ou à Lei Orgânica, fixar um subteto remuneratório único para todos
os servidores, excetuados os parlamentares, o qual também deverá corresponder a 90,25% do subsídio
mensal dos Ministros do Supremo.
RE 558258/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.11.2010. (RE-558258)
(Informativo 608, 1ª Turma)

Art. 37, XI, da CF: procuradores autárquicos e procuradores de estado - 6


Aduziu-se que a Constituição, ao utilizar o termo “Procuradores”, o fez de forma genérica, sem
distinguir entre os membros das diversas carreiras da Advocacia Pública. Nesse diapasão, entendeu-se ser
desarrazoada uma interpretação que, desconsiderando o texto constitucional, excluísse da categoria
“Procuradores” os defensores das autarquias. Acrescentou-se que a jurisprudência do STF seria firme no
sentido de que somente por meio de lei formal seria possível a estipulação de teto remuneratório. Em
síntese, considerou-se não ser possível a fixação de teto por decreto. Ademais, reconheceu-se que o
subsídio do Governador não serviria como parâmetro para fixação do teto de vencimentos dos
Procuradores Autárquicos, pois esses também se submeteriam ao teto previsto no art. 37, XI, da CF, o
qual tem como base o subsídio dos Ministros do STF. Por derradeiro, não se conheceu do recurso quanto
aos artigos 131 e 132 da CF, uma vez que o recorrente não demonstrara de que forma a decisão recorrida
teria contrariado os aludidos dispositivos constitucionais, incidindo, nesse aspecto, o Enunciado da
Súmula 284 do STF (“É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.”).
RE 558258/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.11.2010. (RE-558258)
(Informativo 608, 1ª Turma)

Procurador da Fazenda e redução de férias


A 2ª Turma negou provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão que entendera
possível a redução de período de férias de procuradores da Fazenda Nacional por meio de medida
provisória e lei ordinária. Inicialmente, registrou-se que o acórdão recorrido estaria em consonância com
o entendimento do STF no sentido de que não haver direito adquirido a regime jurídico. Tampouco
reconheceu-se violação ao princípio da irredutibilidade salarial, no caso dos autos, uma vez que,
suprimidas as férias, o servidor não teria jus ao seu abono. Consignou-se que a Constituição Federal
reservaria à lei complementar apenas a questão referente à organização e ao funcionamento da
Advocacia-Geral da União. Ressaltou-se que as regras estabelecidas na Lei 8.112/90 (Regime Geral dos
Servidores Públicos) balizariam as atividades dos advogados públicos em geral — procuradores da
Fazenda, advogados da União e procuradores autárquicos. Concluiu-se que haveria um enorme conflito,
uma assimetria gravíssima, se esta Corte reconhecesse 2 meses de férias, aos procuradores da Fazenda, e
apenas 1 mês, aos procuradores federais, quando ambos estão a serviço da mesma causa.
RE 539370/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, 30.11.2010. (RE-539370)
(Informativo 611, 2ª Turma)

Atos Administrativos
Registro de aposentadoria: garantias constitucionais e anistia
O Plenário, por maioria, concedeu parcialmente mandado de segurança para anular acórdão do
Tribunal de Contas da União - TCU e restabelecer a percepção dos proventos de aposentadoria da
impetrante, até que nova decisão seja proferida, em processo no qual lhe sejam garantidos a ampla defesa
e o contraditório. Tratava-se, na espécie, de writ impetrado contra decisão da Corte de Contas que negara
registro à aposentadoria da impetrante ao fundamento de que ela não teria comprovado vínculo com a
Administração Pública antes de ser beneficiada por anistia (26.5.89), outorgada com amparo na EC 26/85,
em que determinada a sua reintegração ao serviço público. Por conseguinte, o TCU desconstituíra o ato
concessivo de anistia e cassara seus efeitos. Salientou-se que a apreciação, para fins de registro, do ato de
concessão inicial de aposentadoria da impetrante fora realizada pelo TCU passados mais de 10 anos de
sua efetivação. Nesse sentido, rememorou-se a orientação firmada pelo STF no julgamento do MS
26116/DF (j. em 8.9.2010, v. Informativo 599) em que assentada a necessidade de se assegurar aos
interessados as garantias do contraditório e da ampla defesa caso decorridos mais de 5 anos da apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão. Aduziu-se, ainda, que a
negativa de registro da aposentadoria invalidara a própria anistia concedida à impetrante 15 anos antes e
sem que observados os princípios do contraditório e da ampla defesa. Consignou-se que, se a
Administração Pública tivesse, por meio de procedimento administrativo autônomo, procedido à revisão
da anistia, teria que proporcionar à impetrante o contraditório e a ampla defesa. Assim, não faria sentido
que — no bojo do procedimento de apreciação, para fins de registro, do ato de aposentadoria — pudesse
fazê-lo sem considerar essas mesmas garantias. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Joaquim Barbosa
que concediam a ordem em maior extensão por não reconhecerem ao TCU a atribuição de examinar a
licitude, ou não, da anistia.
MS 26053/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 18.11.2010. (MS-26053)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 609, Plenário)

Concurso Público

Concurso público para cargo de motorista e exame de aptidão física


O Plenário, por maioria, proveu agravo regimental em mandado de segurança, o qual interposto
contra decisão da Min. Ellen Gracie que, por vislumbrar a decadência prevista no art. 23 da Lei
12.016/2009, negara seguimento ao writ, do qual relatora, e julgara prejudicada a apreciação do pedido de
medida liminar. O mandado de segurança fora impetrado contra ato do Procurador-Geral da República,
consubstanciado na exigência de teste de aptidão física na realização do 6º Concurso Público — destinado
ao provimento de cargos de Técnico de Apoio Especializado/Transporte, dos quadros do Ministério
Público da União - MPU —, prevista no Edital 1-PGR/MPU, de 30.6.2010. A impetração alega ausência
de previsão dessa exigência na Lei 11.415/2006, que disciplina as carreiras dos servidores do MPU, ou na
Portaria PGR/MPU 68/2010, que fixa as atribuições básicas e requisitos de investidura. Sustenta, ainda, a
ocorrência de afronta ao art. 37, caput, e II, da CF/88 e aos princípios da legalidade e da razoabilidade.
Na espécie, o impetrante fora reprovado na segunda fase do certame, denominada “Teste de Aptidão
Física”, após devidamente aprovado nas provas objetivas. No agravo regimental, afirmava que, em
nenhum momento, requerera a anulação de qualquer cláusula do mencionado edital, mas apenas o
reconhecimento da falha havida quanto à exigência do exame físico. Requeria, com base no princípio da
igualdade, o provimento do agravo para que se determinasse, liminarmente, ao Procurador-Geral da
República, que o mantivesse no certame e fixasse nova data para a realização da prova prática de direção
veicular, ocorrida em 20.11.2010. Inicialmente, destacou-se tramitarem no STF diversos writs
impugnando o referido edital e que, em alguns, os respectivos relatores teriam deferido medida
acauteladora aos candidatos. Consignou-se a relevância da pretensão mandamental deduzida, qual seja, a
questão de eventual conflito entre o edital e a lei e que, quando do julgamento do mérito, esta Corte
decidirá quanto à exigibilidade, ou não, do teste físico. O Min. Celso de Mello reputou presentes os
requisitos legitimadores do provimento cautelar. O Min. Marco Aurélio, ao frisar que a nova Lei do
Mandado de Segurança pressuporia o prejuízo e que este, na espécie, teria ocorrido quando o impetrante
fora “barrado” no certame, proveu o recurso a fim dar prosseguimento ao mandamus. Vencidos os
Ministros Ellen Gracie, relatora, e Ricardo Lewandowski que consideravam decorrido o prazo
decadencial para impetração do writ, por reputarem que este se contaria a partir da publicação do edital
do concurso no Diário Oficial.
MS 29874 AgR/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes,
25.11.2010. (MS-29874)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Direito Civil e Processual Civil


Medida Cautelar

Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 4


Em conclusão, o Plenário negou referendo a medida cautelar em ação cautelar, em que pretendida a
concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário, já admitido para esta Corte, no qual sustentada a
inconstitucionalidade das disposições legais que autorizam a requisição e a utilização de informações
bancárias pela Receita Federal, diretamente às instituições financeiras, para instauração e instrução de
processo administrativo fiscal (Lei Complementar 105/2001, regulamentada pelo Decreto 3.724/2001) —
v. Informativos 322, 332, 335 e 572. Prevaleceu o voto do Min. Joaquim Barbosa que se reportou a
precedentes no sentido de que, nas hipóteses em que as decisões proferidas nas instâncias inferiores
fossem desfavoráveis ao requerente, como no caso, o pedido de cautelar identificar-se-ia como de
concessão de tutela antecipada, para a qual o deferimento exigiria, além da existência de prova
inequívoca, o convencimento do juiz acerca da verossimilhança da alegação. Considerou que, em razão
da ausência de decisão do STF nos autos das ações diretas em que se questiona a constitucionalidade das
leis que autorizam a requisição de informações bancárias pela Receita Federal (ADI 2386/DF, ADI
2390/DF e ADI 2397/DF), não haveria a caracterização da verossimilhança da alegação. Ressaltou,
também, o princípio da presunção da constitucionalidade das leis. Reputou afastado, ademais, o
periculum in mora, haja vista que o requerente ajuizara a medida cautelar após quase dois anos da data
em que a Receita Federal tivera acesso as suas informações bancárias. Vencidos os Ministros Marco
Aurélio, relator, Cezar Peluso, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que referendavam a liminar.
AC 33 MC/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa,
24.11.2010. (AC-33)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Princípios e Garantias

Composição de órgão colegiado: juízes convocados e princípio do juiz natural


São válidos os julgamentos realizados pelos tribunais com juízes convocados, ainda que estes sejam
maioria na sua composição. Ao reafirmar esse entendimento, o Plenário desproveu, em votação
majoritária, recurso extraordinário no qual alegada a ofensa aos princípios do juiz natural e do duplo grau
de jurisdição na convocação de juízes federais para integrarem colegiado do Tribunal Regional Federal
respectivo. Inicialmente, enfatizou-se que a Constituição passou a prever, como um dos direitos e
garantias fundamentais inscritos no seu art. 5º, a duração razoável do processo (LXXVIII). Em seqüência,
consignou-se que, no caso especifico dos Tribunais Regionais Federais, haveria norma a permitir essa
convocação de juízes federais ou de juízes federais substitutos, em caráter excepcional, quando o acúmulo
de serviço o exigisse (Lei 9.788/99, art. 4º). Afastou-se, desse modo, o argumento de transgressão ao
princípio do juiz natural, por não se tratar de um juízo ad hoc. Verificou-se, por fim, a obediência aos
princípios do contraditório, da ampla defesa, do duplo grau de jurisdição e do devido processo legal.
Vencido o Min. Marco Aurélio que provia o recurso por reputar ter havido verdadeira clonagem, haja
vista que a convocação somente seria cabível na hipótese de substituição.
RE 597133/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.11.2010. (RE-597133)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 609, Plenário, Repercussão Geral)
Direito Constitucional
Competência Originária do STF

Notificação judicial do Presidente da República e competência do STF - 2


Em conclusão, o Plenário negou provimento a agravo regimental em que se questionava decisão do
Min. Cezar Peluso que não conhecera de pedido formulado em petição, da qual relator, na qual pretendida
a expedição, pelo STF, de mandado de notificação ao Presidente da República, para os fins almejados
pela agravante — v. Informativo 596. Entendeu-se que a notificação daquela autoridade não estaria
prevista na Constituição como competência originária da Corte. O Min. Gilmar Mendes destacou que, na
espécie, não se trataria de notificação penal, mas sim genérica.
Pet 4223 AgR/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 25.11.2010. (Pet-4223)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Competência Tributária

Extinção de execução fiscal de pequeno valor: autonomia municipal e acesso à jurisdição - 1


O Plenário deu provimento a recurso extraordinário para anular sentença e determinar o
prosseguimento da execução fiscal de IPTU, movida por Município do Estado de São Paulo, a qual
extinta por falta de interesse de agir, em razão de seu pequeno valor. A decisão impugnada invocara a Lei
paulista 4.468/84 que autoriza o Poder Executivo a não executar os débitos com valor igual ou inferior a
30% do Maior Valor de Referência (MVR). Asseverou-se, de início, que, como instrumento para as
autonomias administrativa e política, a competência tributária de cada ente federado seria indelegável
(CTN, art. 7º), e que o titular dessa competência teria, com exclusividade, a competência legislativa plena
tanto para a instituição do tributo, observado o art. 150, I, da CF, como para eventuais desonerações,
conforme disposto no art. 150, § 6º, da CF. Dessa forma, não se admitiria qualquer interferência de um
ente político relativamente à competência tributária alheia. Ressaltou que o art. 156, I, da CF, ao conferir
ao Município a competência para instituir imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, teria
concedido apenas a ele, de modo exclusivo, a possibilidade de legislar sobre os aspectos da respectiva
norma tributária impositiva, sobre eventuais desonerações, parcelamentos, moratórias e qualquer outro
aspecto que tivesse repercussão na sua cobrança. Salientou-se que somente o Município, por lei
municipal, poderia dispensar a inscrição em dívida e o ajuizamento dos seus créditos de pequeno valor, o
que não se dera na espécie. Nem mesmo poder-se-ia aplicar, por analogia, legislação federal ou estadual,
haja vista que a limitação das inscrições em dívida ativa e do ajuizamento de ações de créditos de
pequeno valor implicaria disposição sobre esses ativos. Assim, a Lei 4.468/84 do Estado de São Paulo só
poderia ser aplicada aos débitos correspondentes a créditos do próprio Estado de São Paulo, sob pena de
violação à competência tributária outorgada ao Município pelo art. 156, I, da CF, fundamento, no caso,
suficiente para prover o recurso.
RE 591033/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 17.11.2010. (RE-591033)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 609, Plenário, Repercussão Geral)

Extinção de execução fiscal de pequeno valor: autonomia municipal e acesso à jurisdição - 2


Além disso, considerou-se que a extinção da execução sob análise infringiria, ainda, o art. 5º,
XXXV, da CF. Explicou-se que todo o movimento do Judiciário brasileiro seria no sentido de ampliar o
acesso à jurisdição em observância ao mandamento inscrito nesse preceito. Aduziu-se que, no sistema
brasileiro, em que não é dado ao Executivo proceder à chamada “execução administrativa”, a fase de
cobrança extrajudicial restringir-se-ia à notificação do contribuinte para pagar voluntariamente seu
débitos, inexistindo instrumentos de expropriação à disposição do Fisco, razão por que a via da execução
fiscal seria a desejável e deveria ser a ele assegurada. Acrescentou-se que, tendo sido atribuído ao Poder
Judiciário somente o dever de distribuir justiça, não sendo outorgada, sequer ao próprio Estado, a
possibilidade de buscar autotutela, impor-se-ia que se garantisse, de modo efetivo, também a quaisquer
entes federados, a concretização da garantia constitucional de que nenhuma lesão ou ameaça a direito será
excluída da apreciação do Poder Judiciário. No que se refere à alegação do magistrado a quo de que as
execuções seriam, via de regra, infrutíferas, frisou-se que isso não justificaria a negativa do acesso do
credor ao Judiciário, e que, se a Justiça é ineficaz, caberia ao próprio Judiciário atuar no sentido de
encontrar procedimentos mais efetivos, utilizando-se de meios mais ágeis. Registrou-se, no ponto, que
para isso o Conselho Nacional de Justiça teria fixado metas a serem alcançadas pelos órgãos
jurisdicionais. Concluiu-se que o magistrado em questão, ao entender pela ausência de interesse
processual, o teria confundido com o resultado econômico da ação.
RE 591033/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 17.11.2010. (RE-591033)
(Informativo 609, Plenário, Repercussão Geral)

Conselho Nacional de Justiça

CNJ e ausência de intimação em procedimento de controle administrativo


O Plenário concedeu mandado de segurança para anular acórdão do Conselho Nacional de Justiça -
CNJ, que considerara nulos todos os atos de nomeação de servidores públicos concursados do Tribunal de
Justiça do Estado do Mato Grosso realizados após a expiração do prazo de validade da homologação dos
resultados dos respectivos concursos. Entendeu-se afrontados os princípios do contraditório e da ampla
defesa, haja vista que os impetrantes não teriam sido chamados para apresentar resposta no curso do
processo administrativo que resultara em prejuízo à sua condição de servidores públicos. Destacou-se,
ademais, que o art. 98 do Regimento Interno do CNJ o obrigaria a dar ciência aos eventuais interessados
acerca da existência de procedimento pendente ou suscetível de influir nas respectivas pretensões
individuais. Determinou-se que a autoridade coatora notifique os impetrantes sobre a existência de
procedimento de controle administrativo instaurado contra eles, garantindo-lhes o direito de serem
ouvidos, devendo ser mantidas as investiduras dos servidores nos seus cargos, sem prejuízo do reexame
dos fatos por aquele Conselho. Precedente citado: MS 25962/DF (DJe de 20.3.2009).
MS 27154/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.11.2010. (MS-27154)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 608, Plenário)

Controle de Constitucionalidade

ADC e art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 - 3


Em conclusão, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação declaratória de
constitucionalidade movida pelo Governador do Distrito Federal, para declarar a constitucionalidade do
art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 (“Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas,
previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato. § 1º A inadimplência do
contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração
Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a
regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis.”) — v.
Informativo 519. Preliminarmente, conheceu-se da ação por se reputar devidamente demonstrado o
requisito de existência de controvérsia jurisprudencial acerca da constitucionalidade, ou não, do citado
dispositivo, razão pela qual seria necessário o pronunciamento do Supremo acerca do assunto. A Min.
Cármen Lúcia, em seu voto, salientou que, em princípio, na petição inicial, as referências aos julgados
poderiam até ter sido feitas de forma muito breve, precária. Entretanto, considerou que o Enunciado 331
do TST ensejara não apenas nos Tribunais Regionais do Trabalho, mas também no Supremo, enorme
controvérsia exatamente tendo-se como base a eventual inconstitucionalidade do referido preceito.
Registrou que os Tribunais Regionais do Trabalho, com o advento daquele verbete, passaram a considerar
que haveria a inconstitucionalidade do § 1º do art. 71 da Lei 8.666/93. Referiu-se, também, a diversas
reclamações ajuizadas no STF, e disse, que apesar de elas tratarem desse Enunciado, o ponto nuclear seria
a questão da constitucionalidade dessa norma. O Min. Cezar Peluso superou a preliminar, ressalvando seu
ponto de vista quanto ao não conhecimento.
ADC 16/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 24.11.2010. (ADC-16)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)
ADC e art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 - 4
Quanto ao mérito, entendeu-se que a mera inadimplência do contratado não poderia transferir à
Administração Pública a responsabilidade pelo pagamento dos encargos, mas reconheceu-se que isso não
significaria que eventual omissão da Administração Pública, na obrigação de fiscalizar as obrigações do
contratado, não viesse a gerar essa responsabilidade. Registrou-se que, entretanto, a tendência da Justiça
do Trabalho não seria de analisar a omissão, mas aplicar, irrestritamente, o Enunciado 331 do TST. O
Min. Marco Aurélio, ao mencionar os precedentes do TST, observou que eles estariam fundamentados
tanto no § 6º do art. 37 da CF quanto no § 2º do art. 2º da CLT (“§ 2º - Sempre que uma ou mais
empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção,
controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra
atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a
empresa principal e cada uma das subordinadas.”). Afirmou que o primeiro não encerraria a obrigação
solidária do Poder Público quando recruta mão-de-obra, mediante prestadores de serviços, considerado o
inadimplemento da prestadora de serviços. Enfatizou que se teria partido, considerado o verbete 331, para
a responsabilidade objetiva do Poder Público, presente esse preceito que não versaria essa
responsabilidade, porque não haveria ato do agente público causando prejuízo a terceiros que seriam os
prestadores do serviço. No que tange ao segundo dispositivo, observou que a premissa da solidariedade
nele prevista seria a direção, o controle, ou a administração da empresa, o que não se daria no caso, haja
vista que o Poder Público não teria a direção, a administração, ou o controle da empresa prestadora de
serviços. Concluiu que restaria, então, o parágrafo único do art. 71 da Lei 8.666/93, que, ao excluir a
responsabilidade do Poder Público pela inadimplência do contratado, não estaria em confronto com a
Constituição Federal.
ADC 16/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 24.11.2010. (ADC-16)
(Informativo 610, Plenário)

ADC e art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 - 5


Por sua vez, a Min. Cármen Lúcia consignou que o art. 37, § 6º, da CF trataria de responsabilidade
objetiva extracontratual, não se aplicando o dispositivo à espécie. Explicou que uma coisa seria a
responsabilidade contratual da Administração Pública e outra, a extracontratual ou patrimonial. Aduziu
que o Estado responderia por atos lícitos, aqueles do contrato, ou por ilícitos, os danos praticados.
Vencido, parcialmente, o Min. Ayres Britto, que dava pela inconstitucionalidade apenas no que respeita à
terceirização de mão-de-obra. Ressaltava que a Constituição teria esgotado as formas de recrutamento de
mão-de-obra permanente para a Administração Pública (concurso público, nomeação para cargo em
comissão e contratação por prazo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público), não tendo falado em terceirização. Salientou que esta significaria um recrutamento de
mão-de-obra que serviria ao tomador do serviço, Administração Pública, e não à empresa contratada,
terceirizada. Assentava que, em virtude de se aceitar a validade jurídica da terceirização, dever-se-ia, pelo
menos, admitir a responsabilidade subsidiária da Administração Pública, beneficiária do serviço, ou seja,
da mão-de-obra recrutada por interposta pessoa.
ADC 16/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 24.11.2010. (ADC-16)
(Informativo 610, Plenário)

EC 30/2000: precatórios pendentes e precatórios futuros - 4


Em conclusão, o Plenário, por maioria, deferiu pedidos de medida cautelar em duas ações diretas de
inconstitucionalidade, ajuizadas pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB e pela
Confederação Nacional da Indústria - CNI, para suspender, até julgamento final das ações diretas, a
eficácia do art. 2º da EC 30/2000, que introduziu o art. 78 e seus parágrafos no ADCT da CF/88,
determinando que, “ressalvados os créditos definidos em lei como de pequeno valor, os de natureza
alimentícia, os de que trata o art. 33 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e suas
complementações e os que já tiverem os seus respectivos recursos liberados ou depositados em juízo, os
precatórios pendentes na data da promulgação desta Emenda e os que decorram de ações iniciais
ajuizadas até 31 de dezembro de 1999 serão liquidados pelo seu valor real, em moeda corrente, acrescido
de juros legais, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, permitida a
cessão dos créditos” — v. Informativos 257, 359 e 574. O Min. Celso de Mello, ao proferir voto de
desempate relativamente aos precatórios pendentes, suspendeu cautelarmente no caput do art. 78 do
ADCT, introduzido pela EC 30/2000, a expressão “os precatórios pendentes na data da promulgação
desta Emenda”. Inicialmente, salientou que o regime constitucional de execução por quantia certa contra
o Poder Público, qualquer que seja a natureza do crédito exeqüendo — ressalvadas as obrigações
definidas em lei como de pequeno valor —, imporia a necessária extração de precatório cujo pagamento
deve observar a regra fundamental que outorga preferência a quem dispuser de precedência cronológica,
em obséquio aos princípios ético-jurídicos da moralidade, impessoalidade e igualdade. Aduziu, em
seqüência, que esse instrumento de requisição judicial de pagamento teria por finalidade: 1) assegurar a
igualdade entre os credores e proclamar a inafastabilidade do dever estatal de solver os débitos
judicialmente reconhecidos em decisão transitada em julgado; 2) impedir favorecimentos pessoais
indevidos e c) frustrar tratamentos discriminatórios, evitando injustas perseguições ou preterições
motivadas por razões destituídas de legitimidade jurídica.
ADI 2356 MC/DF, rel. orig. Min. Néri da Silveira, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
25.11.2010. (ADI-2356)
ADI 2362 MC/DF, rel. orig. Min. Néri da Silveira, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
25.11.2010. (ADI-2362)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

EC 30/2000: precatórios pendentes e precatórios futuros - 5


Reputou, conforme já afirmado pelo relator, que o Congresso Nacional, ao impor o parcelamento
impugnado aos precatórios pendentes de liquidação na data de publicação da referida emenda, incidira em
múltiplas transgressões à Constituição, porquanto teria desrespeitado a integridade de situações jurídicas
definitivamente consolidadas, prejudicando, assim, o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito
adquirido, além de haver violado o princípio da separação de poderes e o postulado da segurança jurídica.
Consignou, ademais, que a formulação constante do art. 33 do ADCT não poderia ser invocada por aquele
ente legislativo como paradigma legitimador da cláusula em exame, dado que resultara de deliberação
soberana emanada de órgão investido de funções constituintes primárias, insuscetíveis de limitação de
ordem jurídica. Enfatizou que a procrastinação no tempo do pagamento dos precatórios judiciários
pendentes na data da promulgação da EC 30/2000, com os respectivos valores parcelados em até 10 anos,
culminaria por privar de eficácia imediata a própria sentença judicial com trânsito em julgado. Ressaltou,
também, que a norma questionada comprometeria a própria decisão que, subjacente à expedição do
precatório pendente, estaria amparada pela autoridade da coisa julgada, o que vulneraria o postulado da
separação de poderes, bem como afetaria um valor essencial ao Estado Democrático de Direito, qual seja,
a segurança jurídica. Vencida a Min. Ellen Gracie, que deferia parcialmente a cautelar para suspender
apenas a eficácia da expressão “e os que decorram de ações judicias ajuizadas até 31 de dezembro de
1999” e os Ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, que a
indeferiam integralmente.
ADI 2356 MC/DF, rel. orig. Min. Néri da Silveira, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
25.11.2010. (ADI-2356)
ADI 2362 MC/DF, rel. orig. Min. Néri da Silveira, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
25.11.2010. (ADI-2362)
(Informativo 610, Plenário)

Telefonia móvel e competência legislativa - 1


O Plenário julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta proposta pela
Associação Nacional das Operadoras Celulares – ACEL para declarar a inconstitucionalidade dos artigos
1º, § 1º, I, b, 2º, 3º, 4º e 5º, todos da Lei 12.983/2005, do Estado de Pernambuco, a qual institui o controle
sobre a comercialização e a reabilitação de aparelho usado de telefonia móvel celular e dá outras
providências. Os dispositivos impugnados criam diversas obrigações para as empresas prestadoras de
serviço de telefonia móvel, bem como determinam o pagamento de multa em caso de descumprimento
[“Art. 1º Fica criado, no âmbito da Secretaria de Defesa Social - SDS, o cadastro de aparelhos celulares
roubados, furtados ou perdidos, com o propósito de controlar, prevenir e monitorar a receptação e
reaproveitamento econômico de tais objetos. §1º O cadastro de que trata este artigo será alimentado
pelas informações prestadas: I – compulsoriamente: ... b) pelas operadoras do sistema de telefonia
móvel, que repassarão os dados obtidos dos usuários que reportarem a perda, furto ou roubo do
aparelho; ... Art. 2º A posse, uso, reabilitação ou reaproveitamento econômico de aparelho de telefonia
móvel celular, serão reputados como indícios ou prova, conforme o caso, da prática do crime de
receptação, capitulado pelo art. 180 do Código Penal, a ser apurado pelos órgãos operativos
competentes da SDS. Art. 3º Ficam as empresas operadoras do serviço móvel celular proibidas de
realizar a habilitação ou reabilitação de aparelhos usados, desacompanhados de prova de sua lícita
procedência. Parágrafo único. A prova da licitude da procedência ou origem do aparelho celular usado,
para fins de reabilitação ou habilitação no sistema, será realizada por instrumento particular firmado
pelo antigo proprietário do bem, atestando a sua tradição para o novo pretenso usuário do sistema. Art.
4º As empresas concessionárias e operadoras do serviço móvel celular, no âmbito do Estado de
Pernambuco, para prevenir ou auxiliar a repressão de delitos, ficam obrigadas a: I - Realizar verificação
em sua respectiva rede, da utilização dos aparelhos celulares constantes do cadastro de que trata o
art.1º, promovendo o seu respectivo bloqueio; II - Disponibilizar à Autoridade Policial, os dados
cadastrais/ERB´s dos aparelhos celulares, em casos envolvidos na investigação de seqüestros, assaltos
em andamento e quaisquer outros crimes que estejam sendo apurados em situação de flagrância; III -
Exigir e cadastrar em seus respectivos sistemas, o registro do IMEI para habilitação do “chip” celular
(GSM); IV - Disponibilizar acesso on-line para os Órgãos Operativos Policiais, dos dados constantes do
Cadastro Nacional de Equipamentos Móveis Impedidos – CEMI ou outros com a mesma finalidade; V -
Disponibilizar os dados cadastrais dos atuais usuários de linhas telefônicas móveis constantes do
cadastro de que trata o art. 1º desta Lei para o CIODS-Centro Integrado de Operações de Defesa Social;
VI – Identificar as chamadas, realizadas através de aparelhos celulares programados para realização de
chamadas sem identificação, para os números de emergência – 190, 193 e 197 -, fornecendo para os
órgãos operativos competentes da SDS os dados cadastrais dos usuários, no prazo de 48 horas, contado
da notificação da chamada. Art. 5º O descumprimento das obrigações instituídas pela presente Lei
sujeitará o infrator ao pagamento de multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para cada infração
cometida.”].
ADI 3846/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 25.11.2010. (ADI-3846)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Telefonia móvel e competência legislativa - 2


Preliminarmente, por maioria, reconheceu-se a legitimidade da requerente para a propositura da
ação. Verificou-se, consoante estabelecido no estatuto social da empresa, tratar-se de associação de
abrangência nacional que representaria as empresas privadas prestadoras de serviço móvel celular (SMC),
incluindo entidades que fornecem tal atividade em todo o território nacional. Salientou-se, ademais, que
essa segmentação seria inevitável nos dias atuais. Vencido o Min. Ayres Britto que acolhia a preliminar
por acatar os fundamentos da Procuradoria-Geral da República de não ser possível apurar-se, pelos atos
estatutários constantes dos autos, a classificação da entidade como de âmbito nacional e de constituir a
requerente mero segmento do ramo das empresas prestadoras de serviço de telefonia móvel. No mérito,
registrou-se que a Corte possuiria orientação consolidada no sentido de ser formalmente inconstitucional
lei estadual que discipline aspectos relativos a telecomunicações. Aduziu-se que a Constituição atribuiria
à União a competência para explorar os serviços de telecomunicações e determinaria, para tanto, a edição
de lei regulamentadora (CF, art. 21, XI). Acrescentou-se que a União também possuiria, privativamente,
competência para legislar sobre telecomunicações (CF, art. 22, IV); que não haveria lei complementar
autorizando os Estados a legislar, especificamente, sobre essa matéria e que a prestação de serviços
públicos incumbiria ao Poder Público, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão (CF,
art. 175). Tendo tudo isso em conta, reputou-se que os dispositivos adversados, ao determinarem às
empresas prestadoras de serviço de telefonia móvel a adoção de diversas condutas não previstas no
contrato por elas firmado com o poder concedente federal, adentraram tema referente ao direito das
telecomunicações, em ofensa ao disposto nos artigos 21, XI; 22, IV e 175 da CF. Consignou-se, ainda,
que o art. 2º da lei em comento, ao definir certos atos como prova ou indício de crime, teria violado a
competência privativa da União para legislar sobre direito processual (CF, art. 22, I). Alguns precedentes
citados: ADI 3322 MC/DF (DJe de 19.12.2006); ADI 3533/DF (DJU de 6.10.2006); ADI 2615 MC/SC
(DJU de 6.12.2002); ADI 3847 MC/SC (DJU de 5.2.2007); ADI 4369 MC/SP (DJe de 2.2.2010).
ADI 3846/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 25.11.2010. (ADI-3846)
(Informativo 610, Plenário)

Internet: caracterização do serviço e competência legislativa


Por reputar usurpada a competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações (CF,
art. 22, IV), o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade
proposta contra Lei distrital 4.116/2008 que estabelece a proibição de cobrança de taxas para a instalação
e uso da internet a partir do segundo ponto de acesso, em residências, escritórios de profissionais liberais
ou micro e pequenas empresas. Inicialmente, considerou-se que a lei impugnada, apesar de se referir a
empresas “provedoras” de internet, indicaria que suas determinações seriam direcionadas às entidades
exploradoras de serviços públicos de telecomunicações que dão suporte a tais empresas. Nesse sentido,
salientou-se que o serviço prestado pelos provedores, apenas de conexão à internet, não se confundiria
com o de telecomunicações propriamente dito. Explicitou-se que, se por um lado as provedoras
forneceriam um serviço de valor adicionado, relativo ao acesso, armazenamento, apresentação,
movimentação ou recuperação de informações, as entidades exploradoras de serviços públicos de
telecomunicações, de outro, possibilitariam os meios para que se operasse a transmissão, emissão ou
recepção, por processo eletromagnético, de informações de qualquer natureza. Estas possuiriam, ademais,
concessão, permissão ou autorização expedida pela Agência Nacional de Telecomunicações. Aduziu-se,
assim, que a cobrança de taxas adicionais para instalação e uso da rede, a partir do segundo ponto de
acesso, poderia ser feito apenas pela fornecedora do serviço público, responsável por viabilizar a
transmissão de informações.
ADI 4083/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 25.11.2010. (ADI-4083)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Controle Interno

Município: recursos públicos federais e fiscalização pela CGU - 2


A Controladoria-Geral da União - CGU tem atribuição para fiscalizar a aplicação dos recursos
públicos federais repassados, nos termos dos convênios, aos Municípios. Com base nesse entendimento, o
Plenário, por maioria, desproveu recurso ordinário em mandado de segurança, afetado pela 1ª Turma,
interposto contra ato de Ministro de Estado do Controle e da Transparência que, mediante sorteio público,
escolhera determinado Município para que se submetesse à fiscalização e à auditoria, realizadas pela
CGU, dos recursos públicos federais àquele repassados — v. Informativo 600. Asseverou-se, de início,
que o art. 70 da CF estabelece que a fiscalização dos recursos públicos federais se opera em duas esferas:
a do controle externo, pelo Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União - TCU, e
a do controle interno, pelo sistema de controle interno de cada Poder. Explicou-se que, com o objetivo de
disciplinar o sistema de controle interno do Poder Executivo federal, e dar cumprimento ao art. 70 da CF,
fora promulgada a Lei 10.180/2001. Essa legislação teria alterado a denominação de Corregedoria-Geral
da União para Controladoria-Geral da União, órgão este que auxiliaria o Presidente da República na sua
missão constitucional de controle interno do patrimônio da União. Ressaltou-se que a CGU poderia
fiscalizar a aplicação de dinheiro da União onde quer que ele fosse aplicado, possuindo tal fiscalização
caráter interno, porque exercida exclusivamente sobre verbas oriundas do orçamento do Executivo
destinadas a repasse de entes federados. Afastou-se, por conseguinte, a alegada invasão da esfera de
atribuições do TCU, órgão auxiliar do Congresso Nacional no exercício do controle externo, o qual se
faria sem prejuízo do interno de cada Poder.
RMS 25943/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.11.2010. (RMS-25943)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

Município: recursos públicos federais e fiscalização pela CGU - 3


Enfatizou-se que essa fiscalização teria o escopo de verificar a correta aplicação dos recursos
federais, depois de seu repasse a outros entes da federação, sob pena, inclusive, de eventual
responsabilidade solidária, no caso de omissão, tendo em conta o disposto no art. 74, § 1º e no art. 18, §
3º, da Lei 10.683/2003, razão pela qual deveria a CGU ter acesso aos documentos do Município.
Acrescentou-se que a fiscalização da CGU seria feita de forma aleatória, em face da impossibilidade
fática de controle das verbas repassadas a todos os Municípios, mediante sorteios públicos, realizados
pela Caixa Econômica Federal - CEF, procedimento em consonância com o princípio da impessoalidade,
inscrito no art. 37, caput, da CF. Ressalvou-se, por fim, que a fiscalização apenas recairá sobre as verbas
federais repassadas nos termos do convênio, excluídas as verbas estaduais ou municipais. Vencidos os
Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso que proviam o recurso.
RMS 25943/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.11.2010. (RMS-25943)
(Informativo 610, Plenário)

Magistratura
Promoção de juiz federal
A norma do art. 93, II, b, da CF não se aplica à promoção de juízes federais por merecimento, em
razão de estar submetida, ante o critério da especialidade, apenas ao requisito do implemento de 5 anos de
exercício, conforme disposto no art. 107, II, da mesma Carta, incluído o tempo de exercício no cargo de
juiz federal substituto (“Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: ... II - promoção de entrância para
entrância, alternadamente, por antigüidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: ... b) a
promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a
primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite
o lugar vago ... Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes,
recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre
brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: ... II - os demais, mediante
promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antigüidade e merecimento,
alternadamente.”). Ao reiterar essa orientação, o Plenário desproveu agravo regimental interposto contra
decisão monocrática do Min. Ayres Brito, que negara seguimento a mandado de segurança, do qual
relator, em que pleiteada a exclusão de juízes federais que não se encontrassem na primeira quinta parte
da lista de antiguidade em determinado concurso de acesso ao TRF respectivo. Enfatizou-se que a Justiça
Federal estaria organizada sem entrâncias, consideradas de um mesmo grau todas as seções judiciárias
distribuídas pelas unidades federadas, o que afastaria a incidência da regra geral do art. 93, II, da CF, a
qual pressupõe a distribuição na carreira por mais de uma entrância. Consignou-se, também, que a
promoção de juízes federais diferiria da dos juízes do trabalho, dado que, para esta, não haveria menção
de tempo mínimo específico, embora ambas pertençam à Justiça da União. Vencido o Min. Marco
Aurélio que provia o regimental para que houvesse a seqüência do writ ao fundamento de que a questão
relativa à obrigatoriedade, ou não, de o promovido por merecimento figurar na primeira quinta parte dos
juízes mais antigos ainda não teria sido apreciada pelo Supremo. Precedente citado: MS 21631/RJ (DJU
de 4.8.2000).
MS 27164 AgR/DF, rel. Min. Ayres Britto, 10.11.2010. (MS-27164)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 608, Plenário)

Organização dos Poderes

Taxa de classificação de produtos vegetais e recepção


A 1ª Turma, acolhendo proposta da Min. Cármen Lúcia, afetou ao Plenário o julgamento de agravos
regimentais em recursos extraordinários, nos quais se discute a constitucionalidade, ou não, da Taxa de
Classificação de Produtos Vegetais a que se referem o Decreto-Lei 1.899/81 e a Portaria Interministerial
531/94. Trata-se, na espécie, de saber se teria havido a prorrogação, no tempo certo, do dispositivo
previsto no art. 25 do ADCT da CF/88 [“Art. 25. Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da
promulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação por lei, todos os dispositivos legais que
atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela Constituição ao
Congresso Nacional ...”]. Segundo os agravantes, a decisão que entendera válida a mencionada taxa
afrontaria os artigos 48, I, e 150, I, da CF.
RE 358221 AgR/RS, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (RE-358221)
AI 726144 AgR/AL, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (AI-726144)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Recurso em Mandado de Segurança

RMS e art. 515, § 3º, do CPC


O art. 515, § 3º, do CPC não se aplica em sede de mandado de segurança [“Art. 515. A apelação
devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. ... § 3º Nos casos de extinção do processo
sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”]. Com base nessa orientação, a
1ª Turma proveu recurso extraordinário para reformar decisão do STJ e determinar o retorno dos autos ao
TJDFT para que julgue a demanda como entender de direito. Na espécie, o STJ, ao adentrar a matéria de
fundo e prover o recurso ordinário no mandado de segurança, teria afastado a decisão que, na origem,
julgara extinto o processo sem julgamento de mérito. Consignou-se que em jogo o devido processo legal,
cerne do Estado Democrático de Direito, a direcionar a legislação comum. Asseverou-se que não se
poderia transportar para o recurso ordinário constitucional o que previsto no art. 515 do CPC — sobre o
recurso de apelação, sempre direcionado contra decisão de juízo e não de Tribunal — e que, ao aplicá-lo,
teria havido supressão de instância.
RE 621473/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 23.11.2010. (RE-621473)
(Informativo 610, 1ª Turma)

Reserva de Plenário

Reclamação: inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 e ofensa à Súmula


Vinculante 10 - 4
Ao se reportar ao julgamento acima relatado, o Plenário, em conclusão, proveu dois agravos
regimentais interpostos contra decisões que negaram seguimento a reclamações, ajuizadas contra
acórdãos do TST, nas quais se apontava ofensa à Súmula Vinculante 10 [“Viola a cláusula de reserva de
plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência,
no todo ou em parte.”]. Sustentava-se que o Tribunal a quo, ao invocar o Enunciado 331, IV, do TST,
teria afastado a aplicação do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93, sem a devida pronúncia de
inconstitucionalidade declarada pelo voto da maioria absoluta dos membros da Corte [“TST Enunciado nº
331 ... IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a
responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos
órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das
sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do
título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).”] — v. Informativos 563, 585 e 608.
Julgaram-se procedentes as reclamações para determinar o retorno dos autos ao TST, a fim de que
proceda a novo julgamento, manifestando-se, nos termos do art. 97 da CF, à luz da constitucionalidade do
art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93, ora declarada. Concluiu-se que o TST, ao entender que a decisão recorrida
estaria em consonância com a citada Súmula 331, negara implicitamente vigência ao art. 71, § 1º, da Lei
8.666/93, sem que o seu Plenário houvesse declarado a inconstitucionalidade. O Min. Ricardo
Lewandowski, relator da Rcl 7517/DF reajustou o voto proferido anteriormente. Vencido o Min. Eros
Grau, relator da Rcl 8150/SP, que negava provimento ao recurso.
Rcl 7517 AgR/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.11.2010. (Rcl-7517)
Rcl 8150 AgR/SP, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Ellen Gracie, 24.11.2010.
(Rcl-8150)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 610, Plenário)

DIREITO DO TRABALHO
Rescisão

Lei 8.880/94: demissão sem justa causa e indenização adicional - 2


Em conclusão, o Plenário, por maioria, desproveu recurso extraordinário interposto por sociedade
anônima contra acórdão do TST, que mantivera decisão na qual se determinara o pagamento de
indenização a obreiro, demitido sem justa causa, com base no art. 31 da Lei 8.880/94, que estabelece que
a indenização adicional, nas demissões sem justa causa, durante o período de vigência da Unidade Real
de Valor – URV, é equivalente a 50% da última remuneração recebida — v. Informativo 379. Julgou-se
inexistente o alegado vício formal a contaminar a norma. Asseverou-se que a indenização adicional
prevista no art. 31 da Lei 8.880/94 cuidaria de regra de ajustamento do sistema monetário, e teria sido
inserida num contexto macroeconômico de combate à inflação. Ao enfatizar que a aludida norma não
possuiria conotação específica e direta com a proteção da relação de emprego, exigência prevista no art.
7º, I, da CF, pelo que se teria matéria de competência legislativa privativa da União, concluiu-se ser
desnecessária a adoção de lei complementar. Vencido o Min. Marco Aurélio, relator, que dava
provimento ao recurso por entender que a norma em questão feriria o art. 7º, I, da CF — que exige lei
complementar para dispor sobre indenização compensatória nos casos de despedida arbitrária ou sem
justa causa — bem como o art. 10, I, do ADCT — que limita o valor da referida indenização em até
quatro vezes a percentagem fixada no art. 6º, caput e § 1º, da Lei 5.107/66, isto é, 40% do saldo do FGTS.
RE 264434/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
17.11.2010. (RE-264434)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 609, Plenário)

DIREITO ELEITORAL
Crimes Eleitorais

Falsidade ideológica para fins eleitorais e prestação de contas - 1


O Plenário, por maioria, recebeu denúncia oferecida contra Senador da República, e outro, pela
suposta prática do crime de falsidade ideológica para fins eleitorais em concurso de pessoas (art. 350 do
Código Eleitoral c/c o art. 29 do CP). Relata a peça acusatória que o parlamentar, então candidato a
Governador do Estado de Rondônia, e o segundo denunciado, responsável pela administração financeira
da campanha, teriam protocolado, em 24.11.98, no Tribunal Regional Eleitoral, prestação de contas com
dados inverídicos, concernentes a doações feitas por certa empresa. Considerou-se a existência de indícios
suficientes da autoria e materialidade do delito. Asseverou-se que a materialidade estaria suficientemente
comprovada, na fase de cognição sumária, pela demonstração de recursos arrecadados, em que constaria a
doação da referida empresa para a campanha do primeiro denunciado, pela comunicação, feita pelo sócio-
proprietário dessa empresa, ao TRE, no sentido de não ter contribuído para a campanha eleitoral, e, ainda,
pelas declarações de informações econômico-fiscais da pessoa jurídica que atestariam que a empresa não
obtivera rendimentos, nem tivera movimentação financeira no período da suposta doação. Além disso,
ter-se-ia o depoimento do referido sócio da empresa, que, ao ser inquirido, confirmara a autenticidade de
sua assinatura na fotocópia da correspondência que encaminhara ao TRE.
Inq 1990/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.11.2010. (Inq-1990)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 608, Plenário)

Falsidade ideológica para fins eleitorais e prestação de contas - 2


Quanto à autoria, afastou-se, de início, a alegação de atipicidade da conduta por ausência de
elemento normativo objetivo do tipo, uma vez que, “se o documento que contém o falso ideológico
depende ou está passível de verificação por degraus superiores, delito não existe”. Aduziu-se estar
presente a potencialidade lesiva da conduta, haja vista a falta de condições materiais tanto do Poder
Judiciário quanto de qualquer outro órgão para procurar cada um dos milhares de doadores de campanha
para investigar se a doação realmente foi feita. Enfatizou-se haver confiança nas declarações prestadas e
que a investigação só é realizada quando há suspeita de falsidade, como no caso. Acrescentou-se tratar-se
de crime formal que não exige, para sua consumação, a efetiva ocorrência do dano. Não se acolheram, de
igual modo, as assertivas de que a denúncia deveria ser rejeitada por ausência do elemento subjetivo do
tipo na conduta, e de que os denunciados teriam agido de forma culposa, não havendo essa previsão no
tipo penal. Observou-se ser fato incontroverso que os denunciados teriam assinado a demonstração de
recursos arrecadados, o que levaria à presunção de que tinham conhecimento e estavam de acordo com o
que haviam assinado. Fez-se referência ao que disposto nos artigos 20 e 21 da Lei 9.504/97 (“Art. 20. O
candidato a cargo eletivo fará, diretamente ou por intermédio de pessoa por ele designada, a
administração financeira de sua campanha, usando recursos repassados pelo comitê, inclusive os
relativos à cota do Fundo Partidário, recursos próprios ou doações de pessoas físicas ou jurídicas, na
forma estabelecida nesta Lei. Art. 21. O candidato é solidariamente responsável com a pessoa indicada
na forma do art. 20 desta Lei pela veracidade das informações financeiras e contábeis de sua campanha,
devendo ambos assinar a respectiva prestação de contas.”). Ressaltou-se caber à defesa dos denunciados
fazer a contraprova, no transcorrer da instrução processual, de que eles não agiram com dolo, salientando
vigorar, nesta fase, o princípio do in dubio pro societate.
Inq 1990/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.11.2010. (Inq-1990)
(Informativo 608, Plenário)

Falsidade ideológica para fins eleitorais e prestação de contas - 3


Repeliu-se, também, o argumento de que seria indispensável, para a configuração do delito, que o
agente realizasse a conduta típica para fins eleitorais, visto que, de outra forma, não se teria a incidência
do art. 350 do Código Eleitoral, mas a do art. 299 do CP. Afirmou-se que os denunciados se defenderiam
dos fatos alegados na denúncia, e não da tipificação legal atribuída pelo Ministério Público; que seria
irrelevante, nesta fase, a classificação dada ao crime na denúncia, e que os fatos atribuídos aos
denunciados estariam em consonância com os requisitos do art. 41 do CPP. Por fim, rechaçou-se a
afirmação de que os donos da empresa em questão não mereceriam credibilidade por serem fraudadores
do Fisco. Entendeu-se que tal argumento em nada alteraria a imputação feita pelo órgão ministerial e que,
se algum ilícito tributário fora praticado por terceiros, isso deveria ser apurado pelas instâncias próprias.
Vencidos os Ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes que, tendo em conta a pena máxima abstratamente
cominada ao delito ser de 3 anos, e por reputarem ser de natureza privada a declaração firmada pelos
denunciados perante o TRE (prestação de contas), não recebiam a denúncia por considerarem extinta a
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva do Estado.
Inq 1990/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.11.2010. (Inq-1990)
(Informativo 608, Plenário)

DIREITO PENAL
Crime

Arrependimento posterior e requisitos


A incidência do arrependimento posterior, contido no art. 16 do CP (“Nos crimes cometidos sem
violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da
denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”)
prescinde da reparação total do dano e o balizamento, quanto à diminuição da pena decorrente da
aplicação do instituto, está na extensão do ressarcimento, bem como na presteza com que ele ocorre. Essa
a conclusão prevalente da 1ª Turma que, diante do empate, deferiu habeas corpus impetrado em favor do
paciente — condenado pela prática dos crimes capitulados nos artigos 6º e 16 da Lei 7.492/86 e no art.
168, § 1º, III, do CP —, para que o juízo de 1º grau verifique se estão preenchidos os requisitos
necessários ao benefício e o aplique na proporção devida. A defesa sustentava a incidência da referida
causa de diminuição, pois teria ocorrido a reparação parcial do dano e o disposto no art. 16 do CP não
exigiria que ele fosse reparado em sua integralidade. Aduziu-se que a lei estabeleceria apenas a data
limite do arrependimento — o recebimento da denúncia —, sem precisar o momento em que deva
ocorrer. Além disso, afirmou-se que a norma aludiria à reparação do dano ou restituição da coisa, sem
especificar sua extensão. Nesse aspecto, a gradação da diminuição da pena decorreria justamente da
extensão do ressarcimento, combinada com o momento de sua ocorrência. Assim, se total e no mesmo dia
dos fatos, a redução deveria ser a máxima de dois terços. Os Ministros Cármen Lúcia, relatora, e Dias
Toffoli, indeferiam a ordem por reputarem que a configuração do arrependimento posterior apenas se
verificaria com a reparação completa, total e integral do dano. Afirmavam, ademais, que o parâmetro para
a aplicabilidade dessa causa redutora de pena seria apenas o momento em que o agente procedesse ao
ressarcimento da vítima. Nesse sentido, quanto mais próximo ao recebimento da peça acusatória fosse
praticado o ato voluntariamente, menor a redução da pena.
HC 98658/PR, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
9.11.2010.(HC-98658)
(Informativo 608, 1ª Turma)

Estatuto da Criança e do Adolescente

ECA: rito e princípio da identidade física do juiz


A 2ª Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus no qual se pugnava pelo
reconhecimento de nulidade da decisão que impusera a menor o cumprimento de medida sócio-educativa
de semiliberdade, pela prática de ato infracional equiparado ao crime de roubo circunstanciado em
concurso de agentes. A defesa alegava que, no rito em questão, não teria sido observado o disposto no art.
399, § 2º, do CPP (“Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência,
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante
e do assistente. ... § 2 O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.”). Sustentava, também,
não haver fundamentação idônea para a aplicação da referida medida. Aduziu-se, inicialmente, que o
princípio da identidade física do juiz não se aplicaria ao procedimento previsto no ECA, uma vez que esse
diploma possuiria rito processual próprio e fracionado, diverso do procedimento comum determinado
pelo CPP. A seguir, reputou-se que o recorrente teria cometido ato infracional caracterizado pela
violência e grave ameaça à pessoa, de modo que estaria devidamente justificada a aplicação da medida
sócio-educativa imposta.
RHC 105198/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.11.2010. (RHC-105198)
(Informativo 610, 2ª Turma)

Penas

Reparação de dano e restituição de valor irrisório


A 1ª Turma indeferiu habeas corpus — impetrado em favor de ex-Prefeito condenado pela prática
do crime de desvio e apropriação de renda pública (Decreto-lei 201/67, art. 1º, I) — em que se sustentava
a incidência da circunstância atenuante da reparação do dano. No caso, as instâncias ordinárias
consideraram que houvera a restituição, aos cofres públicos, de diminuta parte do valor das rendas
públicas desviadas em proveito do réu, o que resultara em considerável prejuízo ao patrimônio de
pequena municipalidade. Assim, por julgar irrisória a reparação do dano, entendeu-se não haver
ilegalidade no afastamento da referida circunstância atenuante. Por fim, não se conheceu da impetração
quanto à alegação de insuficiência de redução da pena referente à confissão espontânea, em virtude de a
matéria não haver sido suscitada no STJ.
HC 104178/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 23.11.2010.(HC-104178)
(Informativo 610, 1ª Turma)

Princípios e Garantias Penais

Art. 290 do CPM e princípio da insignificância - 3


Em conclusão de julgamento, o Plenário, por maioria, indeferiu habeas corpus, afetado ao Pleno
pela 2ª Turma, impetrado contra acórdão do Superior Tribunal Militar - STM em favor de militar
condenado pelo crime de posse de substância entorpecente em lugar sujeito à administração castrense
(CPM, art. 290) — v. Informativos 519 e 526. Entendeu-se que, diante dos valores e bens jurídicos
tutelados pelo aludido art. 290 do CPM, revelar-se-ia inadmissível a consideração de alteração normativa
pelo advento da Lei 11.343/2006. Assentou-se que a prática da conduta prevista no referido dispositivo
legal ofenderia as instituições militares, a operacionalidade das Forças Armadas, além de violar os
princípios da hierarquia e da disciplina na própria interpretação do tipo penal. Asseverou-se que a
circunstância de a Lei 11.343/2006 ter atenuado o rigor na disciplina relacionada ao usuário de substância
entorpecente não repercutiria no âmbito de consideração do art. 290 do CPM, não havendo que se cogitar
de violação ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. Salientou-se, ademais, que lei
posterior apenas revoga anterior quando expressamente o declare, seja com ela incompatível, ou regule
inteiramente a matéria por ela tratada. Concluiu-se não incidir qualquer uma das hipóteses à situação em
tela, já que o art. 290 do CPM seria norma especial. Em seguida, reputou-se inaplicável, no âmbito do
tipo previsto no art. 290 do CPM o princípio da insignificância. No ponto, após discorrer que o referido
postulado tem como vetores a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade
social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão
jurídica provocada, concluiu-se que o entorpecente no interior das organizações militares assumiria
enorme gravidade, em face do perigo que acarreta, uma vez que seria utilizado, no serviço, armamento de
alto poder ofensivo, o que afetaria, diretamente, a operacionalidade da tropa e a segurança dos quartéis,
independentemente da quantidade da droga encontrada, e agrediria, dessa forma, os valores básicos das
instituições militares. O Min. Gilmar Mendes, tendo em conta o recente posicionamento do Plenário
acerca da matéria no julgamento do HC 103684/DF (j. em 21.10.2010), acompanhou o colegiado, fazendo
ressalva do seu entendimento pessoal em sentido contrário. Vencido o Min. Eros Grau que concedia o
writ.
HC 94685/CE, rel. Min. Ellen Gracie, 11.11.2010. (HC-94685)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 608, Plenário)
Princípio da insignificância e furto
A 1ª Turma, ao afastar a aplicação do princípio da insignificância, denegou habeas corpus a
condenado por furto de 9 barras de chocolate de um supermercado avaliadas em R$ 45,00. Reputou-se
que, em razão da reincidência específica do paciente em delitos contra o patrimônio, inclusive uma
constante prática de pequenos delitos, não estariam presentes os requisitos autorizadores para o
reconhecimento desse postulado. Salientou-se, no ponto, a divergência de entendimento entre os órgãos
fracionários da Corte, haja vista que a 2ª Turma admite a aplicação do princípio da insignificância,
mesmo para o agente que pratica o delito reiteradamente. Precedente citado: HC 96202/RS (DJe de
28.5.2010).
HC 101998/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 23.11.2010. (HC-101998)
(Informativo 610, 1ª Turma)

Princípio da insignificância: furto privilegiado e serviço público - 2


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma resolveu questão de ordem para julgar prejudicado habeas
corpus no qual se pretendia a aplicação do princípio da insignificância em favor de denunciado pela
suposta prática do delito previsto no art. 155, § 2º, do CP, em decorrência de haver furtado água potável
mediante ligação clandestina, que resultara em prejuízo econômico avaliado em R$ 96,33 — v.
Informativo 557. Reputou-se ter ocorrido a extinção da punibilidade, ante a prescrição da pretensão
punitiva.
HC 99054/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 30.11.2010. (HC-99054)
(Informativo 611, 1ª Turma)

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Contribuições Previdenciárias

Contribuição previdenciária de inativos e pensionistas: período compreendido entre a EC


20/98 e a EC 41/2003
O Plenário resolveu questão de ordem suscitada em recurso extraordinário no sentido de: a)
reconhecer a repercussão geral da questão constitucional nele debatida — repetição de contribuição
previdenciária (e afins) cobrados de servidor civil inativo ou pensionista no período referente à vigência
da EC 20/98 até a publicação da EC 41/2003; b) reafirmar a jurisprudência da Corte segundo a qual é
devida a devolução aos pensionistas e inativos, perante o competente Juízo da execução, da contribuição
previdenciária indevidamente recolhida no aludido período, sob pena de caracterização de enriquecimento
ilícito; e c) negar provimento ao recurso. Leia o inteiro teor do voto do relator na seção “Transcrições”
deste Informativo.
RE 580871 QO/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.11.2010. (RE-580871)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 609, Plenário, Repercussão Geral)

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Ação Penal

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 1


A 2ª Turma denegou dois habeas corpus impetrados — ambos em favor dos mesmos pacientes —
contra acórdãos proferidos em writs diversos no STJ. Nas situações dos autos, eles foram denunciados,
com outros réus, em várias ações penais resultantes de uma operação policial. Num dos habeas, o STJ
concedera a ordem para trancar, no que tange ao delito de falsidade ideológica (CP, art. 299), uma ação
penal, cuja denúncia fora recebida também quanto ao crime de descaminho, estendendo a decisão aos
demais co-réus. No outro, aquela Corte determinara, quanto aos pacientes, o trancamento da mesma ação
sobre o crime de descaminho (CP, art. 334). Inicialmente, observou-se que os casos não seriam
exatamente iguais, apesar da proximidade das matérias. Em seguida, acrescentou-se que, no HC
104314/PR, pleiteara-se a extensão dos efeitos da decisão favorável aos pacientes para trancar as demais
ações em trâmite que também tratassem de acusação relativamente aos delitos de falsidade ideológica. Já
no HC 100875/PR, requerera-se a extensão para aquelas referentes aos crimes de descaminho. Repeliu-se,
nos dois habeas corpus, o pedido de extensão dos writs — sob a alegação de haver identidade de
acusações, de réus e conexão probatória entre os feitos, a reclamar julgamento uniforme — formulado
com base na interpretação sistemática do art. 580 do CPP. Destacou-se que tal dispositivo conferiria, em
caráter excepcional, efeito extensivo às decisões benéficas com o objetivo de dar efetividade, no plano
jurídico, à garantia de eqüidade. Explicitou-se que esta diria respeito ao tratamento igualitário aos agentes
do delito quando houvesse concurso de pessoas, uma vez que o direito penal pátrio teria adotado a teoria
monista ou unitária, segundo a qual todos aqueles que concorressem para a prática do crime sujeitar-se-
iam às penas a ele cominadas. Consignou-se que a conexão seria o liame que as coisas, pessoas e fatos
guardariam entre si; que tal instituto estaria ligado às regras de fixação da competência e não encontraria
relação com regras do julgamento propriamente dito, razão pela qual não importaria necessariamente em
julgamentos iguais. Além disso, asseverou-se que cada fato imputado aos pacientes, apesar da conexão,
deveria ser julgado individualmente, de acordo com o livre convencimento motivado do magistrado.
HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)
HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)
(Informativo 609, 2ª Turma)

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 2


Com relação ao crime de falsidade ideológica (HC 104314/PR), frisou-se manifestação da
Procuradoria Geral da República, no sentido de que: a) o STJ, ao negar o pedido de extensão, concluíra
que os fatos referentes às ações penais, embora semelhantes, quanto ao modus operandi, seriam diversos
daqueles discutidos na ação penal cujo trancamento parcial fora determinado; b) o falsum, nas ações
penais que se pretenderia ver trancadas, poderia extrapolar totalmente o campo deduzido e até mesmo
integrar outra espécie de ilicitude que tivesse atingido não só a ordem tributária. Verificou-se, ainda, que
— a despeito de a maior parte dos processos instaurados imputarem aos pacientes a prática dos delitos
contidos nos artigos 299 e 334 do CP — em três denúncias a eles se atribuíra somente a primeira infração
em continuidade delitiva. Inferiu-se, portanto, que as falsificações em tese perpetradas não poderiam ser
entendidas, em todas as ações penais, apenas como meio para a execução do crime de descaminho.
Ademais, assentou-se que reconhecer todas as imputações de prática do crime de falsidade ideológica,
como meio para a execução de outros delitos, implicaria antecipação desse juízo, a inviabilizar a atividade
do Ministério Público de comprovar as imputações. Por fim, não se vislumbrou, na hipótese, ausência de
justa causa ou flagrante ilegalidade demonstrada em inequívoca prova pré-constituída, a justificar o
trancamento da ação penal.
HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)
HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)
(Informativo 609, 2ª Turma)

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 3


No tocante ao HC 100875/PR, entendeu-se que não haveria de prevalecer a posição adotada no STJ
que, ao decidir o writ referente a uma das ações penais, considerara aplicável ao crime de descaminho o
mesmo tratamento dado aos delitos mencionados no art. 1º da Lei 8.137/90. Reputou-se que o
descaminho não deveria ter o tratamento aplicado aos crimes contra a ordem tributária. Desse modo, seria
desnecessário o encerramento do processo administrativo fiscal para o desencadeamento da ação penal.
Enfatizou-se que a consumação do crime em comento ocorreria com a importação ou exportação de
mercadoria sem o pagamento, no todo ou em parte, do imposto devido por sua entrada ou saída, logo,
tratar-se-ia de crime formal, a não exigir resultado naturalístico. Afirmou-se, entretanto, não ser possível a
reforma do mencionado acórdão do STJ, inclusive, já transitado em julgado. A respeito do argumento de
que seria aplicável às demais ações a solução jurídica determinada por essa Corte, naquele writ, tendo em
conta a conexão entre elas, reportou-se ao que decidido na presente assentada. Salientou-se a conexão
entre as ações em virtude do concurso de crimes. Por fim, não se conheceu do pleito de extensão dos
efeitos do habeas corpus no STJ aos co-réus na ação penal trancada, o qual apresentado mediante petição
no HC 100875/PR. No ponto, consignou-se não ser possível apreciar o pedido sob pena de supressão de
instância. O Min. Ayres Britto registrou, ainda, que para chegar à conclusão de haver uma rigorosa
identidade de situação no plano fático-processual seria necessário amplo revolvimento de fatos e provas,
inadmissível na via eleita.
HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)
HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)
(Informativo 609, 2ª Turma)
Inquérito policial e denúncia anônima
A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia o trancamento de ações penais movidas
contra a paciente, sob a alegação de que estas supostamente decorreriam de investigação deflagrada por
meio de denúncia anônima, em ofensa ao art. 5º, IV, da CF. Ademais, sustentava-se ilegalidade na
interceptação telefônica realizada no mesmo procedimento investigatório. Reputou-se não haver vício na
ação penal iniciada por meio de denúncia anônima, desde que seguida de diligências realizadas para
averiguação dos fatos nela noticiados, o que ocorrido na espécie. Considerou-se, ainda, que a
interceptação telefônica, deferida pelo juízo de 1º grau, ante a existência de indícios razoáveis de autoria e
demonstração de imprescindibilidade, não teria violado qualquer dispositivo legal. Concluiu-se que tanto
as ações penais quanto a interceptação decorreriam de investigações levadas a efeito pela autoridade
policial, e não meramente da denúncia anônima, razão pela qual não haveria qualquer nulidade.
HC 99490/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23.11.2010. (HC-99490)
(Informativo 610, 2ª Turma)

Competência

Homicídio e competência da Justiça Federal


A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se alegava a incompetência da Justiça
Federal para processar e julgar pronunciado, como mandante, pela suposta prática do crime de homicídio
de cidadão brasileiro, juiz de direito, perpetrado no Paraguai. As instâncias ordinárias reconheceram a
competência da Justiça Federal em razão da existência de indícios de que o referido homicídio estaria
relacionado ao tráfico internacional de drogas. Entendeu-se que a discussão acerca da correta fixação da
competência e da ocorrência de conexão do homicídio com o crime de tráfico de drogas exigiria o exame
aprofundado de fatos e provas, inviável em habeas corpus. Vencido o Min. Marco Aurélio que concedia a
ordem, tendo em conta o fato de o réu estar respondendo exclusivamente pelo delito de homicídio e de o
juiz de direito não exercer atribuição própria aos interesses da União a atrair a competência da Justiça
Federal.
HC 100154/MT, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.11.2010. (HC-100154)
(Informativo 609, 1ª Turma)

“Habeas corpus” e conexão entre crimes


A 1ª Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que se alegava a incompetência da Justiça
Federal — para processar e julgar ação instaurada contra o paciente por uso de documento falso — e
ilegalidade da prisão preventiva decretada. Na espécie, o paciente, preso em flagrante, após apresentar
documento de habilitação falsa, conduzia veículo no qual os demais passageiros foram surpreendidos na
posse de moeda falsa. Reputou-se inviável, na via estreita do writ, o reexame aprofundado de fatos e
provas necessário à verificação da conexão, ou não, entre o crime de uso de documento ideologicamente
falso, imputado ao paciente, e o crime de posse de moeda falsa, atribuído aos co-réus, a fim de se verificar
a competência, ou não, da Justiça Federal. Ademais, ressaltou-se não haver elementos no writ para se
afirmar a inexistência de qualquer conexão entre os crimes. Reputou-se, ainda, prejudicada a alegação de
nulidade da prisão cautelar, haja vista o trânsito em julgado da decisão condenatória e o subseqüente
livramento condicional do paciente. O Min. Ricardo Lewandowski, ao denegar a ordem, aplicou alínea a
do inciso II do art. 78 do CPP e o inciso IV do mesmo preceito legal. Vencido o Min. Marco Aurélio que
concedia a ordem, por não vislumbrar conexão probatória entre os delitos.
HC 100183/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 23.11.2010. (HC-100183)
(Informativo 610, 1ª Turma)

Execução das Penas

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave


Caracteriza falta grave, nos termos do art. 50, VII, da Lei das Execuções Penais - LEP, o condenado
introduzir, em presídio, elementos que possam viabilizar a comunicação direta com outros presos ou com
o ambiente exterior (LEP: “Art. 50 ... VII - Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade
que: ... tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”). Com base nesse entendimento, a 1ª Turma
denegou habeas corpus impetrado em favor de paciente que, no cumprimento de pena em regime aberto,
retornara à penitenciária, para o pernoite, portando 3 “chips” para telefones celulares. Asseverou-se que o
mencionado preceito, inserido em 2007, aditara o rol das faltas graves com o fim de evitar a entrada de
objetos que possibilitassem tais comunicações, por se ter percebido que custodiados em presídios
estariam a conduzir a criminalidade no ambiente externo. Registrou-se que, conforme ressaltado pela
Procuradoria-Geral da República, buscar-se-ia a segurança maior. Reputou-se, por fim, que a norma
alcançaria o fato imputado ao paciente como configurador de falta grave.
HC 99896/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 23.11.2010. (HC-99896)
(Informativo 610, 1ª Turma)

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave - 1


Caracteriza falta grave, nos termos do art. 50, VII, da Lei das Execuções Penais - LEP, o condenado
introduzir, em presídio, componentes de aparelho telefônico que possam viabilizar a comunicação direta
com outros presos ou com o ambiente exterior (LEP: “Art. 50 ... VII - Comete falta grave o condenado à
pena privativa de liberdade que: ... tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio
ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”). Com base nesse
entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus — impetrado em favor de paciente que, no
cumprimento de pena em regime semi-aberto, retornara à penitenciária, portando 2 “chips” para telefones
celulares — e cassou a medida acauteladora, que suspendera os efeitos da homologação do procedimento
administrativo disciplinar - PAD em que o mencionado fato fora reconhecido como falta disciplinar de
natureza grave. Enfatizou-se que paciente não tivera o cuidado de se adiantar à revista e informar que
portava os “chips”. Assentou-se que o fracionamento de um instrumento de comunicação com o mundo
exterior, como a utilização de “chips”, subsumiria à noção de falta grave e observaria, de maneira
absolutamente legítima, o postulado da estrita legalidade, a qualificar-se como falta grave. Lembrou-se
que seriam conseqüências de prática de falta grave a regressão de regime prisional e a perda dos dias
remidos. Ressaltou-se que, sem o “chip”, o aparelho de telefone celular não teria qualquer funcionalidade
convencional, mas com ele formaria um todo operacional. Esclareceu-se que a interpretação finalística do
dispositivo legal levaria ao entendimento exposto.
HC 105973/RS, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (HC-105973)
(Informativo 611, 2ª Turma)

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave - 2


Nesta assentada, o Min. Joaquim Barbosa salientou se estar diante de uma tecnologia totalmente
inovadora e que o aparelho celular seria o acessório, invólucro do “chip”. A Min. Ellen Gracie, por sua
vez, consignou que seria praxe nos crimes relacionados a equipamentos eletrônicos, como o descaminho,
a técnica de fracionamento de peças. Já o Min. Celso de Mello realçou que a condição prisional de
alguém seria um fator de profunda restrição de direitos, e não só de privação de liberdade, com a ressalva
de certos direitos básicos que teriam sido verificados no caso dos autos, como a garantia do devido
processo, haja vista ter sido instaurado um procedimento administrativo. O Min. Gilmar Mendes, por fim,
asseverou que, uma vez reconhecida a falta grave, dever-se-iam aplicar todas as conseqüências
decorrentes da lei, inclusive a perda do direito ao tempo remido, porquanto a Súmula Vinculante 9 teria
reforçado a idéia da plena compatibilidade entre a disposição legal e a Constituição [Súmula Vinculante
9: “O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi recebido pela ordem
constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.”].
HC 105973/RS, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (HC-105973)
(Informativo 611, 2ª Turma)

Nulidades

Impedimento de magistrado e nulidade absoluta


Há prejuízo quando o magistrado preside sessão de julgamento de recurso penal no qual estava
impedido de atuar. Com base nesse entendimento, a 2ª Turma deferiu habeas corpus no qual se pleiteava
— sob o argumento de que o Presidente da Câmara julgadora seria pai da promotora de Justiça que atuara
na ação penal em 1º grau — a nulidade de julgamento, realizado no Tribunal de Justiça estadual, de
recurso em sentido estrito em que determinada a prisão preventiva do paciente. Na espécie, o juiz
processante não acolhera o pedido de prisão formulado pelo Ministério Público quando do oferecimento
da denúncia, decisão contra a qual a acusação recorrera. Ressaltou-se a gravidade da participação de um
juiz impedido no julgamento de qualquer causa, notadamente de uma de índole penal. Aduziu-se que a
própria doutrina ao tratar de suspeição, defeito menos grave do que o impedimento, afirmaria que,
reconhecida a suspeição de magistrado, haveria nulidade absoluta, sendo desnecessária a comprovação de
prejuízo (CP, art. 566). Reputou-se haver presunção de prejuízo formulada pelo próprio legislador, apesar
de inexistir referência expressa ao impedimento, a causar a nulidade do processo. Observou-se que, em
matéria de processo civil, a suspeição não tornaria rescindível uma sentença de mérito, mas o
impedimento seria motivo de rescindibilidade de julgado, por lhe ser ínsita a noção de prejuízo absoluto.
Ressaltou-se ser de ordem pública a matéria que cuidaria de impedimento. Consignou-se que,
especialmente em virtude de presunção absoluta, seria secundário saber se o voto do Presidente influiria,
ou não, no julgamento do recurso. Asseverou-se que, ademais, o juízo responsável pela condução do
procedimento penal do Júri, ao rejeitar o pleito ministerial, oferecera razões que se ajustariam à
orientação da jurisprudência do STF. O Min. Gilmar Mendes frisou que o órgão julgador em questão não
estaria devidamente composto nos termos do princípio do juiz natural. Vencida a Min. Ellen Gracie,
relatora, que denegava o writ, por entender não ter ocorrido o exercício de jurisdição por parte do
magistrado, o qual teria se limitado a exercer a presidência da Câmara julgadora do recurso.
HC 102965/RJ, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/o acórdão Min. Celso de Mello, 30.11.2010.
(HC-102965)
(Informativo 611, 2ª Turma)

Princípios e Garantias Processuais Penais

CPI e convocação de magistrado


O Plenário deferiu, em parte, habeas corpus no qual questionada a convocação de magistrado para
prestar esclarecimentos perante Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI destinada a investigar a prática
de delitos de pedofilia e a relação desses com o crime organizado. A impetração aduzia que o
requerimento não teria indicado expressamente se o paciente seria ouvido na condição de testemunha ou
de investigado. Alegava, dentre outros, não caber à CPI convocar magistrado para ser objeto de
investigação quando em trâmite, pelos mesmos fatos, inquérito perante o Poder Judiciário. Entendeu-se
que esse argumento perdera o objeto, porque o tribunal competente já teria afastado o paciente do cargo
de magistrado da Justiça do Trabalho. Entretanto, verificou-se que, no caso, estaria demonstrado o
fundado receio do paciente relativamente à possível ofensa de garantias constitucionais. Assim,
concedeu-se a ordem tão-somente para que lhe seja assegurado: a) o direito de ser assistido por seu
advogado e de se comunicar com este durante a sua inquirição; b) a dispensa da assinatura do termo de
compromisso legal de testemunha; c) o exercício do seu direito ao silêncio, incluído o privilégio contra a
auto-incriminação, excluída a possibilidade de ser submetido a qualquer medida privativa de liberdade ou
restritiva de direitos em razão do exercício de tais prerrogativas processuais. Asseverou-se, ainda, que o
paciente não estaria dispensado da obrigação de comparecer perante a denominada “CPI da Pedofilia” na
audiência pública a ser designada oportunamente. Determinou-se, por fim, a expedição de salvo-conduto,
nesses termos, e a comunicação, com urgência, à autoridade coatora.
HC 100341/AM, rel. Min. Joaquim Barbosa, 4.11.2010. (HC-100341)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 607, Plenário)

Prisão e Liberdade Provisória

Tráfico de drogas e liberdade provisória


Ante a peculiaridade do caso, a 1ª Turma denegou habeas corpus, mas o concedeu, de ofício, por
votação majoritária, para que a paciente aguarde em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por
outro motivo não estiver custodiada. Na espécie, presa em flagrante, com outros réus, em 8.5.2007 — por
suposto crime de tráfico ilícito de entorpecentes em associação (Lei 11.343/2006, artigos 33, caput, § 1º,
I, e 35) —, permanecera enclausurada durante todo o processo. O juízo de primeiro grau a condenara à
pena de 15 anos e 2 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, e a sanção pecuniária, mantendo
a custódia cautelar. A defesa interpusera, dentre outros recursos, apelação, desprovida por maioria, e
embargos infringentes. De início, salientou-se que o tema acerca da vedação da liberdade provisória a
preso em flagrante por tráfico de entorpecentes aguarda o posicionamento do Plenário. Consignou-se,
também, que a matéria relativa ao excesso de prazo não fora submetida ao crivo do STJ, o que impediria
o seu conhecimento, sob pena de supressão de instância. Considerou-se, entretanto, que a situação dos
autos admitiria concessão da ordem de ofício. No ponto, registrou-se, com base no andamento processual
constante do site do tribunal estadual, o transcurso de praticamente 1 ano entre a sentença e o julgamento
da apelação e, ainda, a distribuição dos embargos de infringência, opostos em 20.1.2010, apenas em
8.11.2010. Reputou-se patente o constrangimento ilegal, sobretudo por ser a paciente maior de 60 anos e
portadora de doença grave (câncer), tendo assegurado, por lei, prioridade na tramitação em todas as
instâncias. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski que, por não entender configurado o excesso de prazo,
apenas denegava o writ. Por fim, negou-se a extensão da ordem aos demais co-réus. Enfatizou-se que
somente a paciente teria jus às benesses legais referidas, e que apenas ela obtivera um voto favorável pela
absolvição e opusera embargos infringentes. Ademais, observou-se que os co-réus, em face da decisão
unânime contra eles proferida, interpuseram recursos especial e extraordinário, ambos em tramitação.
Desse modo, em relação a eles não haveria mais instância ordinária. Vencido, nesta parte, o Min. Marco
Aurélio que estendia a concessão do habeas aos co-réus.
HC 102015/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Min. Dias Toffoli, 9.11.2010.
(HC-102015)
(Informativo 608, 1ª Turma)

Tráfico de drogas: liberdade provisória e ausência de fundamentação


A 1ª Turma concedeu habeas corpus a preso em flagrante por tráfico de entorpecentes para que
aguarde em liberdade o trânsito em julgado da ação penal. Salientou-se que, não obstante a jurisprudência
majoritária desta Corte no sentido de não caber liberdade provisória em tal crime, o caso concreto
revelaria excepcionalidade a justificar a concessão. Explicou-se que o paciente obtivera a liberdade
provisória em liminar deferida no writ impetrado no tribunal de justiça estadual. Consignou-se que, no
julgamento de mérito daquele habeas corpus, a decisão por meio da qual fora determinada sua prisão
preventiva ocorrera sem quaisquer dos fundamentos do art. 312 do CPP. Salientou-se, no ponto, a
orientação firmada pelo Supremo segundo a qual a execução provisória da pena, ausente a justificativa da
segregação cautelar, fere o princípio da presunção de inocência. Ressaltou-se, também, que, durante o
período em que estivera solto, o paciente comparecera aos atos. Concluiu-se, dessa forma, que, se ele
estivera em liberdade durante certo tempo, poderia assim permanecer até o trânsito em julgado.
HC 99717/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.11.2010. (HC-99717)
(Informativo 608, 1ª Turma)

Prisão preventiva e mudança de domicílio


A simples mudança, para o exterior, de domicílio ou residência de indiciado, com a devida
comunicação à autoridade competente, não justifica, por si só, a prisão preventiva. Com base nesse
entendimento, a 2ª Turma, concedeu habeas corpus a acusada por suposto crime de estelionato na
modalidade emissão de cheque sem fundo cuja segregação cautelar tivera como exclusivo fundamento o
fato de ela haver se mudado para outro país por efeito de casamento. Considerou-se não se estar diante de
nenhuma das hipóteses enquadradas no art. 312 do CPP.
HC 102460/SP, rel. Min. Ayres Britto, 23.11.2010. (HC-102460)
(Informativo 610, 2ª Turma)

DIREITO TRIBUTÁRIO
Responsabilidade Tributária

Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 1


É inconstitucional o art. 13 da Lei 8.620/93, na parte em que estabeleceu que os sócios das empresas
por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos
junto à Seguridade Social. Essa a conclusão do Plenário ao manter acórdão que declarara inconstitucional
o referido dispositivo por ofensa ao art. 146, III, b, da CF. Preliminarmente, ressaltou-se que a revogação
do citado preceito pela Medida Provisória 449/2008, convertida na Lei 11.941/2009, não impediria o
julgamento, em razão de não se estar no âmbito do controle direto de constitucionalidade, mas do controle
difuso. Acrescentou-se o fato de o dispositivo impugnado ter vigorado por quase 16 anos e a existência de
milhares de feitos aguardando o pronunciamento definitivo do Supremo sobre a matéria. No mérito,
salientou-se, de início, inexistir dúvida quanto à submissão das contribuições de seguridade social, por
terem natureza tributária, às normas gerais de direito tributário, as quais reservadas, pelo art. 146, III, b,
da CF, à lei complementar.
RE 562276/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.11.2010. (RE-562276)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 607, Plenário, Repercussão Geral)
Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 2
Na seqüência, afirmou-se ser necessário verificar se a matéria relacionada à responsabilidade
tributária estaria contida na relação das normas gerais. Ressaltou-se que o art. 146, III, b, da CF, ao se
referir a obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários, teria apresentado relação
meramente exemplificativa, que se somaria aos conteúdos indicados nas outras alíneas desse inciso e a
tudo o que se poderia entender alcançado pelo conceito de norma geral em matéria de legislação
tributária. Salientou-se que as normas gerais orientariam o exercício da tributação, sendo passíveis de
aplicação por todos os entes tributantes e que o Código Tributário Nacional - CTN teria sido
recepcionado pela CF/88 com nível de lei complementar por apresentar normas que cumpririam essa
função. Considerou-se que a definição dos traços essenciais da figura da responsabilidade tributária, como
o de exigir previsão legal específica e, necessariamente, vínculo do terceiro com o fato gerador do tributo,
estaria incluída no rol das normas gerais de direito tributário que orientam todos os entes políticos.
Aduziu-se que, do mesmo modo, a previsão de regras matrizes de responsabilidade tributária aplicáveis à
generalidade dos tributos também se encontraria no âmbito das normas gerais, assegurando uniformidade
de tratamento dos terceiros perante o Fisco. Assentou-se ser adequado reconhecer caráter de normas
gerais aos dispositivos do CTN que tratam da responsabilidade tributária, sem prejuízo da permissão de
que o legislador preveja outros casos específicos de responsabilidade, nos termos do art. 128 do CTN.
Reputou-se, então, correto conferir ao art. 135 do CTN (“São pessoalmente responsáveis pelos créditos
correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou
infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os
mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas
de direito privado.”) o nível de lei complementar por disciplinar matéria abrangida pelo art. 146, III, da
CF.
RE 562276/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.11.2010. (RE-562276)
(Informativo 607, Plenário, Repercussão Geral)

Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 3


Frisou-se, ademais, ser essencial à compreensão do instituto da responsabilidade tributária a noção
de que a obrigação do terceiro, de responder por dívida originariamente do contribuinte, jamais decorreria
direta e automaticamente da pura e simples ocorrência do fato gerador do tributo. Registrou-se que do
fato gerador só surgiria a obrigação direta do contribuinte, visto que cada pessoa seria sujeito de direitos e
obrigações próprios e o dever fundamental de pagar tributos estaria associado às revelações de capacidade
contributiva a que a lei vinculasse o surgimento da obrigação do contribuinte. Nesse sentido, a relação
contributiva dar-se-ia exclusivamente entre o Estado e o contribuinte em face da revelação da capacidade
contributiva deste, sendo que o terceiro apenas poderia ser chamado a responder na hipótese de
descumprimento de deveres de colaboração para com o Fisco, deveres estes seus, próprios, e que tivessem
repercutido na ocorrência do fato gerador, no descumprimento da obrigação pelo contribuinte ou em um
óbice à fiscalização pela Administração tributária. Assinalou-se que a referência ao responsável enquanto
terceiro evidenciaria, justamente, que não participaria da relação contributiva, mas de uma relação
específica de responsabilidade tributária, inconfundível com aquela. Portanto, a referência do art. 121 do
CTN ao contribuinte e ao responsável como sujeitos passivos da obrigação tributária principal deveria ser
compreendida no sentido de serem eles sujeitos passivos de relações jurídicas distintas, com suporte em
previsões legais e pressupostos de fato específicos.
RE 562276/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.11.2010. (RE-562276)
(Informativo 607, Plenário, Repercussão Geral)

Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 4


Asseverou-se que o art. 135, III, do CTN constituiria uma regra matriz de responsabilidade
tributária que não se confundiria com a regra matriz de incidência de qualquer tributo, que possuiria
estrutura própria, e partiria de um pressuposto de fato específico, sem o qual não haveria espaço para a
atribuição de responsabilidade. O caráter geral desse dispositivo viabilizaria aplicação relativamente aos
diversos tributos. Referido pressuposto de fato ou hipótese de incidência da norma de responsabilidade
seria a prática de atos, por quem estivesse na gestão ou representação da sociedade, com excesso de poder
ou infração à lei, contrato social ou estatutos e que tivessem implicado, se não o surgimento, ao menos o
inadimplemento de obrigações tributárias. Destacou-se jurisprudência no sentido de que tais ilícitos,
passíveis de serem praticados pelos sócios com poderes de gestão, não se confundiriam com o simples
inadimplemento de tributos por força do risco do negócio, isto é, com o atraso no pagamento dos tributos,
incapaz de fazer com que os diretores, gerentes ou representantes respondessem, com seu próprio
patrimônio, por dívida da sociedade. Seria necessário, para tanto, um ilícito qualificado, do qual
decorresse a obrigação ou seu inadimplemento. A regra matriz de responsabilidade do art. 135, III, do
CTN, portanto, responsabilizaria aquele que estivesse na direção, gerência ou representação da pessoa
jurídica e atuasse em excesso ou abuso de poder, de forma a qualificar um ilícito, o que resultaria no
dever de responder pelo tributo devido pela sociedade. Tendo isso conta, entendeu-se que o art. 13 da Lei
8.620/93, ao vincular à simples condição de sócio a obrigação de responder solidariamente pelos débitos
da sociedade limitada perante a Seguridade Social, teria estabelecido exceção desautorizada à norma geral
de direito tributário consubstanciada no art. 135, III, do CTN, o que demonstraria a invasão da esfera
reservada à lei complementar pelo art. 146, III, da CF. Afastou-se, em seguida, o argumento da União
segundo o qual o art. 13 da Lei 8.620/93 estaria amparado pelo art. 124, II, do CTN, dado que este, que
prevê que são solidariamente obrigadas as pessoas expressamente designadas por lei, não autorizaria o
legislador a criar novos casos de responsabilidade tributária sem observância dos requisitos exigidos pelo
art. 128 do CTN, nem a desconsiderar as regras matrizes de responsabilidade de terceiros estabelecidas
em caráter geral pelos artigos 134 e 135 do mesmo diploma legal.
RE 562276/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.11.2010. (RE-562276)
(Informativo 607, Plenário, Repercussão Geral)

Responsabilidade de sócios cotistas por débitos contraídos junto à Seguridade Social - 5


Enfatizou-se, ainda, que a solidariedade estabelecida pelo art. 13 da Lei 8.620/93 também se
revestiria de inconstitucionalidade material, porquanto não seria dado ao legislador estabelecer simples
confusão entre os patrimônios de pessoa física e jurídica, mesmo que para fins de garantia dos débitos da
sociedade perante a Seguridade Social. Asseverou-se que a censurada confusão patrimonial não poderia
decorrer de interpretação do art. 135, III, c, da CF, nem ser estabelecida por nenhum outro dispositivo
legal, haja vista que impor confusão entre os patrimônios da pessoa jurídica e da pessoa física no bojo de
sociedade em que, por definição, a responsabilidade dos sócios é limitada, comprometeria um dos
fundamentos do Direito de Empresa, consubstanciado na garantia constitucional da livre iniciativa.
Afirmou-se que a garantia dos credores, frente ao risco da atividade empresarial, estaria no capital e no
patrimônio sociais, e que seria tão relevante a delimitação da responsabilidade no regramento dos
diversos tipos de sociedades empresárias que o Código Civil de 2002 a teria disciplinado no primeiro
capítulo destinado a cada qual. Reconheceu-se tratar-se de dispositivo de lei ordinária, mas que regularia
a limitação do risco da atividade empresarial, inerente à garantia de livre iniciativa. Concluiu-se que a
submissão do patrimônio pessoal do sócio de sociedade limitada à satisfação dos débitos da sociedade
para com a Seguridade Social, independentemente de ele exercer, ou não, a gerência e de cometer, ou
não, qualquer infração, tolheria, de forma excessiva, a iniciativa privada, de modo a descaracterizar essa
espécie societária, em afronta aos artigos 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da CF. Os Ministros Ayres
Britto, Dias Toffoli e Gilmar Mendes reconheceram apenas o vício formal da norma em questão. Aplicou-
se, ainda, o art. 543-B do CPC a todos os processos sobrestados.
RE 562276/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 3.11.2010. (RE-562276)
(Informativo 607, Plenário, Repercussão Geral)

Supremo Tribunal Federal


Secretaria de Documentação - SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados - CJCD
CJCD@stf.jus.br
Informativo STF Mensal
Brasília, dezembro de 2010 - nº 5
Compilação dos Informativos nºs 611 a 613

O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concluídos no
mês a que se refere e é organizado por ramos do Direito e por assuntos.

SUMÁRIO

Direito Administrativo
Agentes Públicos
Serviço Público: cessação de relação jurídica e contraditório - 2
Cargo Público
Cargo público: mudança de atribuições e lei formal
Concurso Público
Serventia extrajudicial e concurso público - 1 e 2
Princípios Constitucionais da Administração Pública
Regime de concessão e controle abstrato

Direito Constitucional
Competência Originária do STF
Reclamação e decreto expropriatório
Controle de Constitucionalidade
ADI: prestadoras de serviço de telefonia fixa e individualização de informações nas faturas
ADI: ilegitimidade ativa e composição heterogênea
ADI e usurpação de competência - 1 e 2
Direitos e Garantias Fundamentais
Compartilhamento de dados sigilosos e órgãos administrativos fiscais
Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 1 a 3
Direito ao silêncio e entrevista a jornal
Extradição
Extradição e colidência de interesses da defesa - 1 e 2
Poder Legislativo
Prefeito e autorização para viagem
Precatórios
Precatórios: parcelamento e incidência de juros - 1 a 3

Direito Eleitoral
Sistema Eleitoral
Renúncia a mandato parlamentar e coligação - 1 a 3

Direito Penal
Crimes contra a Administração da Justiça
Expulsão e reingresso
Extinção da Punibilidade
Extinção da punibilidade e certidão de óbito falsa - 3
Penas
Dosimetria da pena e proporcionalidade - 4
Estupro e atentado violento ao pudor: continuidade delitiva - 1 e 2
Princípios e Garantias Penais
Contrabando e princípio da insignificância
Furto de munição e princípio da insignificância
Princípio da insignificância e reincidência

Direito Processual Penal


Ação Penal
Ministério Público e investigação criminal
Execução das Penas
Execução de pena e falta grave - 4
Habeas Corpus
HC e processo administrativo
Inquérito Policial
TCU: independência das esferas administrativa e penal
Nulidades
Tribunal do Júri e nulidades - 3
Interrogatório e entrevista reservada com defensor - 2
Prisão e Liberdade Provisória
Prisão preventiva e indícios de ameaça a testemunha

Direito Tributário
Impostos
IPTU: Progressividade e EC 29/2000 - 2 a 4
Imunidade Tributária
Art. 155, § 3º, da CF/88: imunidade e taxa
Imunidade tributária recíproca: sociedade de economia mista e serviços de saúde - 4
Princípios Constitucionais Tributários
Lei 10.182/2001: extensão de incentivo fiscal e mercado de reposição - 3

DIREITO ADMINISTRATIVO
Agentes Públicos

Serviço Público: cessação de relação jurídica e contraditório - 2


Em conclusão, a 1ª Turma negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia se
servidores que não possuíam, à época da promulgação da CF/88, o requisito temporal necessário para a
estabilidade prevista no art. 19 do ADCT, poderiam, ou não, ser demitidos sem prévio procedimento
administrativo — v. Informativo 553. Considerou-se que a cessação de relação jurídica regida pela CLT,
no tocante a servidor público que não detenha estabilidade, dispensaria a formalização de processo
administrativo e, portanto, do contraditório. Enfatizou-se que o devido processo administrativo relativo a
tal desligamento pressuporia a estabilidade que, inexistente na espécie, permitiria ao ente federal cessar
essa relação sem a observância do contraditório.
RE 289321/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 2.12.2010. (RE-289321)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Cargo Público

Cargo público: mudança de atribuições e lei formal


A alteração de atribuições de cargo público somente pode ocorrer por intermédio de lei formal. Ao
reafirmar essa orientação, o Plenário concedeu mandado de segurança para que servidores públicos
originariamente empossados no cargo de Assistente de Vigilância do Ministério Público Federal possam
ocupar o atual cargo de “Técnico de Apoio Especializado/Segurança”, conforme o Anexo I da Portaria
PGR/MPU 286/2007, assegurando-lhes a continuidade da percepção da gratificação de atividade de
segurança, prevista no art. 15 da Lei 11.415/2006. Tratava-se, na espécie, de writ impetrado contra ato do
Procurador-Geral da República, consubstanciado na Portaria 286/2007, que teria modificado as
atribuições dos cargos para os quais os impetrantes fizeram concurso público. Preliminarmente, assentou-
se o cabimento da ação mandamental, haja vista os efeitos concretos e instantâneos do ato questionado.
No mérito, salientou-se, inicialmente, que a portaria adversada “fixou as atribuições dos cargos, as áreas
de atividades, as especialidades e os requisitos de escolaridade e habilitação legal específica para
ingresso nas Carreiras de Analista, Técnico e Auxiliar do Ministério Público da União”. Em seguida,
registrou-se que os impetrantes teriam comprovado a falta de identidade entre as atividades que
configuravam os cargos nos quais foram investidos e as funções que atualmente desempenhariam por
força do ato impugnado. Aduziu-se que a mudança de atribuições dos cargos ocupados pelos impetrantes
se dera por edição de portaria, meio juridicamente impróprio para veicular norma definidora de atividades
inerentes e caracterizadoras de cargo público. Nesse sentido, explicitou-se a necessidade de edição de lei
para a criação, extinção ou modificação de cargo público. O Min. Gilmar Mendes enfatizou a repercussão
deste julgamento, tendo em conta que a mudança de atribuições por portaria seria prática comum na
Administração Pública. Precedentes citados: ADI 951/SC (DJU de 29.4.2005); ADI 1591/RS (DJU de
16.6.2000) e ADI 2713/DF (DJU de 7.3.2003).
MS 26955/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 1º.12.2010. (MS-26955)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

Concurso Público

Serventia extrajudicial e concurso público - 1


Não há direito adquirido do substituto, que preencheu os requisitos do art. 208 da Constituição
pretérita, à investidura na titularidade de cartório, quando a vaga tenha surgido após a promulgação da
CF/88, a qual exige expressamente, no seu art. 236, § 3º, a realização de concurso público de provas e
títulos para o ingresso na atividade notarial e de registro. Ao reafirmar essa orientação, o Plenário, por
maioria, denegou mandado de segurança impetrado contra acórdão proferido pelo CNJ que desconstituíra
a efetivação do impetrante — investido sem concurso público — como titular de serventia extrajudicial.
Alegava-se a ocorrência de decadência administrativa (Lei 9.784/97, art. 54), uma vez que tal provimento
se dera em 11.1.94 e já transcorrido lapso temporal superior a 5 anos para a Administração Pública rever
seus atos. Asseverou-se que, nos termos da atual Constituição, sempre se fizera necessária a submissão a
concurso público para o devido provimento de serventias extrajudiciais eventualmente vagas ou para fins
de remoção. Dessa forma, rejeitou-se a assertiva segundo a qual somente com a edição da Lei 8.935/94
teria se tornado auto-aplicável a norma prevista no art. 236, § 3º, da CF (“O ingresso na atividade
notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer
serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.”).
Ressaltou-se que a jurisprudência do STF se consolidara, há muito, no sentido da indispensabilidade do
certame nesses casos. Consignou-se, ademais, que a atual Carta inaugurou uma nova era, ao romper a
tradição política feudal de atribuição de titulações de cartórios e ao estabelecer que os princípios
republicanos da igualdade, da moralidade e da impessoalidade deveriam nortear a ascensão às funções
públicas.
MS 28279/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 16.12.2010. (MS-28279)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 613, Plenário)

Serventia extrajudicial e concurso público - 2


Vencidos os Ministros Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso, Presidente, que, ao enfatizar
o princípio da segurança jurídica, concediam a ordem. Entendiam que o CNJ, órgão administrativo, teria
atuado depois de mais de 15 anos da efetividade do impetrante no cargo, sem observar o que previsto no
art. 54 da Lei 9.784/99, que estabeleceria a intangibilidade, no âmbito administrativo, do ato praticado há
mais de 5 anos. Salientavam, ainda, que a fluência de tão longo período de tempo terminaria por
consolidar expectativa no espírito do cidadão (princípio da proteção de confiança). Precedentes citados:
RE 191794/RS (DJU de 6.3.98); RE 302739 AgR/RS (DJU de 26.4.2002); RE 383408 AgR/MG (DJU de
19.12.2003); RE 413082 AgR/SP (DJU de 5.52006); RE 252313 AgR/SP (DJU de 2.6.2006); AI 654228
AgR/MG (DJe de 18.4.2008).
MS 28279/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 16.12.2010. (MS-28279)
(Informativo 613, Plenário)

Princípios Constitucionais da Administração Pública

Regime de concessão e controle abstrato


O Plenário desproveu recurso extraordinário, afetado pela 1ª Turma, interposto contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que, por meio de seu órgão especial, acolhera
representação e declarara a inconstitucionalidade de expressões e de dispositivos da Lei 1.465/99, do
Município de Cabo Frio, a qual versa sobre o regime de permissão de serviços e concessão destes e de
obras públicas — v. Informativo 544. Reputou-se incensurável a decisão que, por ofensa aos princípios da
moralidade, da impessoalidade da Administração Pública e da licitação, retirara do mundo jurídico tais
normas que, além de manter as concessões por períodos de 10 e 25 anos, permitiam sua renovação
automática.
RE 422591/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 1º.12.2010. (RE-422591)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

Direito Constitucional
Competência Originária do STF

Reclamação e decreto expropriatório


O Plenário negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão que indeferira liminar
em reclamação, na qual alegada a usurpação de competência desta Corte. Entendeu-se que o fato de o
processo de desapropriação ser precedido por Decreto do Presidente da República, por meio do qual
apenas se declara o imóvel de interesse social e se autoriza a União a intentar a ação respectiva, não
atrairia a competência do Supremo. Asseverou-se que, caso contrário, todo processo de desapropriação,
porque precedido do Decreto do Chefe do Poder Executivo, viria para o STF.
Rcl 5444 AgR/PE, rel. Min. Marco Aurélio, 9.12.2010. (Rcl-5444)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 612, Plenário)

Controle de Constitucionalidade

ADI: prestadoras de serviço de telefonia fixa e individualização de informações nas faturas


Por reputar usurpada a competência legislativa privativa da União (CF, artigos 21, XI; 22, IV e
175), o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta proposta pelo
Governador do Distrito Federal para declarar a inconstitucionalidade da Lei distrital 3.426/2004, que
dispõe sobre a obrigatoriedade de as empresas concessionárias, prestadoras de serviços de telefonia fixa,
individualizarem, nas faturas, as informações que especificam, sob pena de multa, e dá outras
providências — v. Informativos 368 e 434. Reiteraram-se os fundamentos expendidos quando do
julgamento da medida cautelar. Vencido o Min. Ayres Britto que julgava o pedido improcedente. Alguns
precedentes citados: ADI 3533/DF (DJe de 9.8.2006); ADI 2615 MC/SC (DJe de 29.5.2002); ADI 3847
MC/SC (DJU de 5.2.2007); ADI 4369 MC/SP (DJe de 3.2.2010).
ADI 3322/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 2.12.2010. (ADI-3322)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

ADI: ilegitimidade ativa e composição heterogênea


Por ausência de legitimidade ativa, o Plenário, em votação majoritária, julgou extinta, sem resolução
de mérito, ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Associação Brasileira de TV por Assinatura
– ABTA contra a Lei 3.074/2006, do Estado do Amazonas. A lei impugnada veda a cobrança pela
instalação e utilização de pontos adicionais de TV a cabo nas residências amazonenses. Entendeu-se que a
requerente não se enquadraria no conceito de entidade de classe em razão da heterogeneidade de sua
composição. Aduziu-se que, de acordo com o art. 4º de seu estatuto, ela seria constituída por associações
de várias espécies, dentre elas, empresas que oferecem o serviço de TV por assinatura, afiliados,
associados honorários e institucionais. Asseverou-se, ainda, que seus membros seriam pessoas físicas ou
jurídicas cujas atividades se relacionariam, direta ou indiretamente, com o objeto da associação. O Min.
Ricardo Lewandowski enfatizou que a heterogeneidade permitiria que essa espécie de associação fosse
criada para atacar qualquer tipo de lei que não interessasse a determinado setor, de modo a baratear o
acesso ao STF. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia, relatora, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Cezar
Peluso, Presidente, que superavam a preliminar, haja vista que o tema de fundo já teria sido resolvido por
esta Corte em casos análogos.
ADI 3900/AM, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa,
2.12.2010. (ADI-3900)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

ADI e usurpação de competência - 1


Por reputar caracterizada a usurpação da competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (CF, art. 22, I), o Plenário, em votação majoritária, julgou parcialmente procedente pedido
formulado em ação direta ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para
declarar a inconstitucionalidade do art. 114 da Lei Complementar paulista 734/93 (Lei Orgânica do
Ministério Público estadual). O dispositivo adversado determina que mais de um órgão do Ministério
Público não oficiará simultaneamente no mesmo processo ou procedimento. De início, rejeitou-se, por
maioria, a preliminar de perda parcial do objeto da ação em virtude da derrogação tácita do preceito
originalmente contestado pelo citado art. 114. Na situação dos autos, o requerente impugnava os artigos
6º, I; 16; 17, parágrafo único, e 18, caput, da Lei Complementar 667/91, daquela mesma unidade
federativa. Ocorre que, posteriormente, fora instituída a referida LC 734/93, a qual reproduzira, na
literalidade, o conteúdo normativo deste último preceito, sem que houvesse interrupção de vigência.
Entendeu-se que, embora o requerente não tivesse aditado a inicial da forma mais adequada, sua
manifestação no sentido de que o art. 18 da LC 667/91 estaria em vigor por força do art. 114 da LC
734/93 poderia ser aceita como tal. Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa e Marco Aurélio que
assentavam a prejudicialidade da ação.
ADI 932/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.12.2010. (ADI-932)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 613, Plenário)

ADI e usurpação de competência - 2


No mérito, por maioria, asseverou-se que o tema concernente a eventuais incompatibilidades à
atuação simultânea de um mesmo órgão do Ministério Público no feito envolveria matéria processual e
não de organização local da instituição. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso, Presidente,
ao fundamento de que não se teria uma disciplina processual propriamente dita, mas norma que versaria
sobre organização, competência daquele ente. Quanto aos demais dispositivos questionados, o Plenário
rejeitou o pleito de inconstitucionalidade. No tocante ao art. 6º, I, da LC 667/91, aduziu-se ter ocorrido
mera mudança de nomenclatura, ao ser alterada a denominação do cargo de “Promotor de Justiça Curador
Judicial de Ausentes e Incapazes” para “Promotor de Justiça Cível”. No mesmo sentido concluiu-se em
relação ao art. 16, pois apenas revogara atribuição indevidamente conferida ao parquet como a curadoria,
no processo civil, de réu revel ou preso, função da Defensoria Pública. Por fim, relativamente ao art. 17
— que conferiu prazo de 30 dias, a contar da vigência da lei, para apresentação de proposta de
distribuição dos serviços, facultada a preservação de funções exercidas antes desse diploma legal, sem
prejuízo das novas atribuições cometidas —, considerou-se que a norma cuidaria da reorganização interna
da carreira, sem mácula à Constituição.
ADI 932/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.12.2010. (ADI-932)
(Informativo 613, Plenário)

Direitos e Garantias Fundamentais

Compartilhamento de dados sigilosos e órgãos administrativos fiscais


O Plenário desproveu agravo regimental interposto contra decisão monocrática do Min. Ricardo
Lewandowski que, em inquérito do qual relator, indeferira pleito de compartilhamento com a Receita
Federal de informações obtidas por meio de quebra de sigilo bancário do investigado, as quais constariam
dos presentes autos. Entendeu-se que tais dados deveriam permanecer adstritos ao objeto da investigação,
notadamente quando estivesse em cena persecução penal. Realçou-se que a apuração de possíveis ilícitos
penais tributários, supostamente praticados pelo investigado, não comporiam o âmago deste inquérito.
Ademais, ressaltou-se que estariam mais distantes do objeto principal das investigações criminais as
alegadas irregularidades fiscais, despidas, num primeiro momento, de caráter de ilícito penal. Concluiu-se
que o compartilhamento requerido para compor a instrução de procedimento administrativo fiscal feriria a
cláusula constitucional do devido processo legal, que poderia implicar nulidade de eventual crédito
tributário que viesse a ser constituído. Registrou-se, por fim, que, ainda que a remessa das informações
bancárias do investigado à Receita Federal pudesse agilizar a solução do procedimento fiscal instaurado
contra ele, a obtenção das provas deveria necessariamente obedecer ao que determina o art. 6º da LC
105/2001 (“As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras,
inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.”).
Inq 2593 AgR/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.12.2010. (Inq-2593)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 612, Plenário)

Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 1


O Plenário, por maioria, proveu recurso extraordinário para afastar a possibilidade de a Receita
Federal ter acesso direto a dados bancários da empresa recorrente. Na espécie, questionavam-se
disposições legais que autorizariam a requisição e a utilização de informações bancárias pela referida
entidade, diretamente às instituições financeiras, para instauração e instrução de processo administrativo
fiscal (LC 105/2001, regulamentada pelo Decreto 3.724/2001). Inicialmente, salientou-se que a República
Federativa do Brasil teria como fundamento a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e que a vida
gregária pressuporia a segurança e a estabilidade, mas não a surpresa. Enfatizou-se, também, figurar no
rol das garantias constitucionais a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas (art. 5º, XII), bem como o acesso ao Poder
Judiciário visando a afastar lesão ou ameaça de lesão a direito (art. 5º, XXXV). Aduziu-se, em seguida,
que a regra seria assegurar a privacidade das correspondências, das comunicações telegráficas, de dados e
telefônicas, sendo possível a mitigação por ordem judicial, para fins de investigação criminal ou de
instrução processual penal. Observou-se que o motivo seria o de resguardar o cidadão de atos
extravagantes que pudessem, de alguma forma, alcançá-lo na dignidade, de modo que o afastamento do
sigilo apenas seria permitido mediante ato de órgão eqüidistante (Estado-juiz). Assinalou-se que idêntica
premissa poderia ser assentada relativamente às comissões parlamentares de inquérito, consoante já
afirmado pela jurisprudência do STF.
RE 389808/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 15.12.2010. (RE-389808)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 613, Plenário)

Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 2


Asseverou-se que, na situação em apreço, estariam envolvidas questões referentes: 1) à supremacia
da Constituição, tendo em conta que ato normativo abstrato autônomo haveria de respeitar o que nela se
contém; 2) ao primado do Judiciário, porquanto não se poderia transferir a sua atuação, reservada com
exclusividade por cláusula constitucional, a outros órgãos, sejam da Administração federal, estadual ou
municipal e 3) à prerrogativa de foro, haja vista que seu detentor somente poderia ter o sigilo afastado
ante a atuação fundamentada do órgão judiciário competente. Destacou-se, ademais, que a decretação da
quebra do sigilo bancário não poderia converter-se em instrumento de indiscriminada e ordinária devassa
da vida financeira das pessoas em geral e que inexistiria embaraço resultante do controle judicial prévio
de tais pedidos. Reputou-se, assim, que os dispositivos legais atinentes ao sigilo de dados bancários
mereceriam sempre interpretação harmônica com a Constituição. O Min. Marco Aurélio, relator, conferiu
à legislação de regência interpretação conforme à Constituição, tendo como conflitante com esta a que
implique afastamento do sigilo bancário do cidadão, pessoa natural ou jurídica, sem ordem emanada do
Judiciário.
RE 389808/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 15.12.2010. (RE-389808)
(Informativo 613, Plenário)

Quebra de sigilo bancário pela Receita Federal - 3


Vencidos os Ministros Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Ayres Britto e Ellen Gracie que, ao reiterar os
votos proferidos no julgamento da AC 33 MC/PR (v. Informativo 610), desproviam o recurso
extraordinário. Consignavam que, no caso, não se trataria de quebra de sigilo ou da privacidade, mas sim
de transferência de dados sigilosos de um órgão, que tem o dever de sigilo, para outro, o qual deverá
manter essa mesma obrigação, sob pena de responsabilização na hipótese de eventual divulgação desses
dados. Indagavam que, se a Receita Federal teria acesso à declaração do patrimônio total de bens dos
contribuintes, conjunto maior, qual seria a razão de negá-lo quanto à atividade econômica, à
movimentação bancária, que seria um conjunto menor. Concluíam, tendo em conta o que previsto no art.
145, § 1º, da CF (“Art. 145. ... § 1º ..., facultado à administração tributária, especialmente para conferir
efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.”), que a lei que normatizara a
aludida transferência respeitaria os direitos e garantias fundamentais.
RE 389808/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 15.12.2010. (RE-389808)
(Informativo 613, Plenário)

Direito ao silêncio e entrevista a jornal


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se alegava a ilicitude da prova juntada aos autos
consistente na não advertência ao acusado de seu direito de permanecer calado. No caso, o paciente
concedera entrevista a jornal, na qual narrara o modus operandi de 2 homicídios a ele imputados.
Reputou-se que a Constituição teria conferido dignidade constitucional ao direito ao silêncio, dispondo
expressamente que o preso deve ser informado pela autoridade policial ou judicial da faculdade de
manter-se calado. Consignou-se que o dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu direito de
permanecerem calados consubstanciar-se-ia em uma garantia processual penal que teria como destinatário
precípuo o Poder Público. Concluiu-se, entretanto, não haver qualquer nulidade na juntada da prova,
entrevista concedida espontaneamente a veículo de imprensa.
HC 99558/ES, rel. Min. Gilmar Mendes, 14.12.10. (HC-99558)
(Informativo 613, 2ª Turma)

Extradição

Extradição e colidência de interesses da defesa - 1


Ante a concordância do extraditando e a proximidade do recesso judiciário, o Plenário determinou,
independentemente da publicação do acórdão, o imediato cumprimento de decisão deferitória de pedido
de extradição instrutória formulado pelo Governo dos Estados Unidos da América em desfavor de
nacional colombiano. Na presente situação, o extraditando fora acusado pela suposta prática dos crimes
de associação e conspiração para o tráfico internacional de entorpecente, de distribuição e importação de
entorpecente e de conspiração para efetuar lavagem de recursos provenientes de narcotráfico. Considerou-
se que o Estado requerente cumprira todas as formalidades previstas no tratado de extradição,
notadamente o envio de documentos com informações relativas ao local, data, natureza e circunstâncias
dos fatos reputados delituosos. Enfatizou-se inexistir indício que pudesse configurar a conotação política
dos ilícitos. Asseverou-se, ainda, haver enquadramento dos tipos penais de associação e conspiração para
o tráfico internacional de entorpecentes e de distribuição e importação de entorpecente em dispositivos
constantes do tratado específico, o mesmo ocorrendo quanto à imputação de lavagem de recursos
provenientes do narcotráfico. Consignou-se que este crime teria sido inserido automaticamente no
referido tratado, uma vez que figuraria no rol dos delitos incluídos no texto da Convenção de Palermo, do
qual ambos os países seriam signatários. Destacou-se, ademais, que os crimes que fundamentariam o
pleito extradicional atenderiam ao requisito da dupla tipicidade — haja vista que equivaleriam, no Brasil,
respectivamente aos tipos previstos nos artigos 35 e 33 da Lei 11.343/2006 e no art. 1º, I, da Lei 9.613/98
— e da dupla punibilidade — já que não teria ocorrido a prescrição segundo a legislação dos países
envolvidos. Assinalou-se a necessidade de o Estado requerente observar o instituto da detração, bem
como proceder à comutação da pena de prisão perpétua em privação de liberdade por até 30 anos, em
caso de condenação do extraditando.
Ext 1214/Estados Unidos da América, rel. Min. Ellen Gracie, 17.12.2010. (Ext-1214)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 613, Plenário)

Extradição e colidência de interesses da defesa - 2


De outro lado, por maioria, rejeitou-se questão de ordem suscitada pelo patrono do extraditando que
requeria que a presente decisão não tivesse imediato cumprimento. Alegava o causídico que, do contrário,
o exercício da ampla defesa estaria comprometido, uma vez que inviabilizaria eventual oposição de
embargos de declaração. Aduziu-se que a posição do advogado seria contrária ao interesse do próprio
extraditando, o qual manifestara o desejo de ser entregue, de pronto, ao país requerente. O Min. Ricardo
Lewandowski acrescentou que a execução imediata da extradição não impediria o direito de a defesa
ingressar com os aludidos embargos, porquanto veiculado da tribuna possível questionamento sobre ponto
obscuro, omisso ou contraditório, sem pretensão de natureza infringente para desconstituir o acórdão.
Vencidos, quanto à questão de ordem, os Ministros Marco Aurélio, Cármen Lúcia e Cezar Peluso,
Presidente, que a acolhiam por entender que o extraditando estaria representado pelo seu defensor e que, a
partir do momento em que este desiste do pedido formulado, pretendendo que se aguarde a interposição
de recurso, a entrega não deveria ser imediata.
Ext 1214/Estados Unidos da América, rel. Min. Ellen Gracie, 17.12.2010. (Ext-1214)
(Informativo 613, Plenário)

Poder Legislativo

Prefeito e autorização para viagem


Ante a falta de simetria com o modelo federal (CF: “Art. 49. É da competência exclusiva do
Congresso Nacional: ... III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do
País, quando a ausência exceder a quinze dias; ... Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República
não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze
dias, sob pena de perda do cargo.”), o Plenário, ao prover recurso extraordinário, declarou, com efeito ex
tunc, a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 99 da Lei Orgânica do Município de Betim/MG.
O preceito impugnado determina que para que o prefeito e o vice se ausentem do país, por qualquer
período, é necessária a prévia autorização legislativa, sob pena de perda do cargo. Asseverou-se que essa
imposição somente seria devida para ausência superior a 15 dias e não por prazo indeterminado.
RE 317574/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 1º.12.2010. (RE-317574)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

Precatórios

Precatórios: parcelamento e incidência de juros - 1


Não incidem juros moratórios e compensatórios sobre as frações resultantes do parcelamento de
precatório, previsto no art. 78 do ADCT (“Ressalvados os créditos definidos em lei como de pequeno
valor, os de natureza alimentícia, os de que trata o Art. 33 deste Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e suas complementações e os que já tiverem os seus respectivos recursos liberados ou
depositados em juízo, os precatórios pendentes na data de promulgação desta Emenda e os que decorram
de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999 serão liquidados pelo seu valor real, em moeda
corrente, acrescido de juros legais, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez
anos, permitida a cessão dos créditos”). Esse o entendimento do Plenário ao conhecer em parte de
recurso extraordinário interposto por Município e, na parte conhecida, provê-lo, por maioria. A decisão
recorrida, prolatada por Tribunal de Justiça local, determinara a incidência dos referidos juros sobre o
valor de precatório decorrente de desapropriação, cujo pagamento fora realizado nos termos do art. 33 do
ADCT (“Ressalvados os créditos de natureza alimentar, o valor dos precatórios judiciais pendentes de
pagamento na data da promulgação da Constituição, incluído o remanescente de juros e correção
monetária, poderá ser pago em moeda corrente, com atualização, em prestações anuais, iguais e
sucessivas, no prazo máximo de oito anos, a partir de 1º de julho de 1989, por decisão editada pelo
Poder Executivo até cento e oitenta dias da promulgação da Constituição”).
RE 590751/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.12.2010. (RE-590751)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 612, Plenário, Repercussão Geral)

Precatórios: parcelamento e incidência de juros - 2


Reputou-se, inicialmente, que a Corte teria firmado entendimento no sentido de serem incabíveis
tais juros no que diz respeito à hipótese do art. 33 do ADCT, e que ter-se-ia estendido essa interpretação
ao parcelamento estabelecido no art. 78 do ADCT, introduzido pela EC 30/2000. Salientou-se que o
Congresso Nacional teria aprovado a citada emenda com o fim de restaurar o equilíbrio econômico-
financeiro das unidades federadas, notadamente Estados e Municípios, cujos orçamentos estariam, em
grande parte, compulsoriamente destinados a outros fins. Aduziu-se, ademais, que o art. 33 teria previsto
a atualização das parcelas, ou seja, a correção monetária, com o escopo de manter o valor real de cada
uma delas. Nesse sentido, o parcelamento de precatório apurado segundo o valor real do débito, acrescido
de juros legais, apenas protrairia o seu pagamento no tempo, sem que o patrimônio do credor fazendário
fosse afetado, desde que saldadas no prazo avençado e corrigidas monetariamente as prestações. Por fim,
não se conheceu do pedido no tocante a eventual ofensa ao princípio da justa indenização (CF, art. 5º,
XXIV), ante a incidência do Enunciado 279 da Súmula do STF.
RE 590751/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.12.2010. (RE-590751)
(Informativo 612, Plenário, Repercussão Geral)

Precatórios: parcelamento e incidência de juros - 3


Vencido o Min. Marco Aurélio, que desprovia o recurso. Considerava que os juros compensatórios
estariam compreendidos na cláusula constitucional da justa e prévia indenização. Assim, não sendo ela
prévia, como na espécie, os juros deveriam incidir, uma vez sofrido o prejuízo pelo desapossamento do
imóvel. Em relação aos juros de mora, entendia que a interpretação sistemática de ambos os dispositivos
transitórios permitiria concluir que, no caso do art. 78, eles incidiriam, pois os dois artigos tratariam de
situações distintas: enquanto o art. 33 estabeleceria o pagamento em 8 anos e a incidência de juros
remanescentes, dada a inflação da época, o art. 78 teria passado a determinar o adimplemento em 10 anos,
sem afastar a mora do devedor. Vencidos também os Ministros Ayres Britto e Cezar Peluso, que proviam
parcialmente o recurso, por reputarem que os juros legais referidos no art. 78 do ADCT compreenderiam
apenas os juros devidos por conta do parcelamento, ou seja, decorrentes da mora do Estado.
RE 590751/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.12.2010. (RE-590751)
(Informativo 612, Plenário, Repercussão Geral)

DIREITO ELEITORAL
Sistema Eleitoral

Renúncia a mandato parlamentar e coligação - 1


O Plenário, por maioria, deferiu medida liminar em mandado de segurança impetrado pela
Comissão Executiva Nacional do Diretório Nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro -
PMDB, para que a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, por seu Presidente, proceda à imediata
posse, no cargo de Deputado Federal deixado vago pela renúncia de ex-parlamentar, do 1º suplente ou
sucessor do PMDB, na ordem obtida nas eleições gerais do ano de 2006. Na espécie, ex-Deputado
Federal pelo PMDB renunciara ao cargo, para o qual eleito, em 2006, por coligação composta por
diversos partidos, dentre os quais o Partido Progressista - PP. Em razão da renúncia, a referida Mesa
Diretora convocara para posse no cargo o 1º suplente da coligação, pertencente ao PP, ato contestado pelo
PMDB, sob o argumento de a vaga decorrente da renúncia a ele pertencer e não à coligação. O Presidente
da Câmara dos Deputados indeferira a pretensão do PMDB e definitivamente convocara e dera posse ao
1º suplente da coligação em 29.10.2010. A impetrante impugnava esse ato e ainda sustentava que o citado
1º suplente praticara infidelidade partidária, por não mais estar filiado ao PP, mas sim ao PSC — partido
que não compunha aquela coligação —, pelo qual concorrera ao cargo de Senador nas eleições de 2010.
MS 29988 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.12.2010. (MS-29988)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 612, Plenário)

Renúncia a mandato parlamentar e coligação - 2


Citou-se a jurisprudência tanto do TSE quanto do STF no sentido de o mandato parlamentar
conquistado no sistema eleitoral proporcional pertencer ao partido político. Aludiu-se à Resolução TSE
22.580/2007, segundo a qual o mandato pertence ao partido e estará sujeito a sua perda o parlamentar que
mudar de agremiação partidária, ainda que para legenda integrante da mesma coligação pela qual eleito.
Asseverou-se que esse posicionamento teria levado em conta o fato de as coligações partidárias
constituírem pessoas jurídicas pro tempore, cuja formação e existência ocorreriam apenas em virtude de
determinada eleição, desfazendo-se logo que encerrado o pleito. Assim sendo, a pessoa jurídica da
coligação partidária não se confundiria com as pessoas jurídicas dos partidos que a comporiam. Afirmou-
se que essa orientação constituiria aplicação da tese jurisprudencial firmada pelo STF no julgamento
conjunto dos mandados de segurança 26602/DF, 26603/DF e 26604/DF (DJe de 17.10.2008). Reportou-
se, também, ao que consignado pela Corte no julgamento do MS 27938/DF (DJe de 30.4.2010), no
sentido de que o reconhecimento da justa causa para a desfiliação partidária teria o condão apenas de
afastar a pecha de infidelidade partidária e permitir a continuidade do exercício do mandato, mas não de
transferir ao novo partido o direito à manutenção da vaga.
MS 29988 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.12.2010. (MS-29988)
(Informativo 612, Plenário)

Renúncia a mandato parlamentar e coligação - 3


Concluiu-se que o posicionamento mais consentâneo com essa jurisprudência seria o de dar posse
ao suplente do próprio partido político detentor do mandato eletivo antes exercido pelo parlamentar que
renunciara. Considerou-se, ademais, que, em razão de o suplente em questão não ser mais filiado ao PP,
não pertencendo a qualquer dos partidos que se uniram na coligação para o pleito de 2006, ele não teria
jus à suplência. Asseverou-se não se tratar de averiguar ou atestar a hipótese de infidelidade partidária, de
competência da Justiça Eleitoral, mas de constatar o simples fato de o parlamentar não mais pertencer ao
PP. Reputou-se ser necessário estabelecer uma nítida diferença entre a hipótese de preenchimento de vaga
decorrente de renúncia ao mandato, caso dos autos, e a do cumprimento de ordem da Justiça Eleitoral
para o preenchimento de vaga originada de conduta parlamentar trânsfuga. Frisou-se que, nesta última,
caberia ao Presidente da Câmara dar cumprimento à ordem judicial, de acordo com o ofício enviado,
devendo seguir a lista de suplência ali verificada, e que eventual impugnação ao ato de posse de suplentes
deveria ser realizada por meio de contestação da própria lista perante aquela Justiça, em caso de
infidelidade partidária. Já na primeira, aduziu-se que seria dever da autoridade máxima da Câmara dos
Deputados averiguar a forma correta de preenchimento da vaga, podendo, para tanto, até fazer consultas
formais ou informais, à Justiça Eleitoral. Vencidos os Ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e
Ayres Britto que indeferiam a liminar.
MS 29988 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 9.12.2010. (MS-29988)
(Informativo 612, Plenário)

DIREITO PENAL
Crimes contra a Administração da Justiça

Expulsão e reingresso
O Plenário concedeu, em parte, habeas corpus impetrado em favor de nacional português, para que
se afaste a prisão a ele imposta até o julgamento final de seu processo administrativo, em trâmite no
Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, no qual pleiteia a revogação do ato que o
expulsou do território brasileiro. Na espécie, o paciente, expulso por decreto presidencial de 2.6.81,
retornara ao Brasil diversas vezes, sendo que, na última, fora preso, em 15.9.2009, pelo cometimento do
crime previsto no art. 338 do CP (“Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi
expulso...”), ao se apresentar à delegacia de Polícia Federal, com o intuito de obter informações sobre a
Lei 11.961/2009, que dispõe sobre a residência provisória para o estrangeiro em situação irregular no
território nacional e dá outras providências. Tendo em conta o que disposto nesse novo diploma legal
(“Art. 1º Poderá requerer residência provisória o estrangeiro que, tendo ingressado no território
nacional até 1º de fevereiro de 2009, nele permaneça em situação migratória irregular. Art. 2º
Considera-se em situação migratória irregular, para fins desta Lei, o estrangeiro que: I - tenha
ingressado clandestinamente no território nacional;”), o fato de o paciente ter-se apresentado
voluntariamente à delegacia, com vistas a regularizar sua situação, e a pendência do julgamento do pedido
de revogação do decreto de expulsão, entendeu-se que se deveria aguardar a conclusão deste, bem como
eventual análise, pelo Ministério da Justiça, acerca do direito, ou não, do paciente ao benefício previsto
naquela lei.
HC 101528/PA, rel. Min. Dias Toffoli, 9.12.2010. (HC-101528)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 612, Plenário)

Extinção da Punibilidade

Extinção da punibilidade e certidão de óbito falsa - 3


A 1ª Turma, em conclusão de julgamento, indeferiu, por maioria, habeas corpus impetrado em
favor de pronunciado, em sentença transitada em julgado, pela suposta prática de homicídio. A defesa
sustentava que a desconstituição do despacho interlocutório que teria declarado extinta a punibilidade do
paciente — pois baseado em certidão de óbito falsa — seria nula, uma vez que violado o princípio da
coisa julgada. Ademais, alegava não haver indícios suficientes a apontar o acusado como autor do delito
— v. Informativo 611. O Min. Dias Toffoli, relator, acompanhado pelos Ministros Cármen Lúcia e
Ricardo Lewandowski, manteve a posição externada por ocasião do pedido de adiamento do feito, no
sentido de indeferir a ordem. Afirmou que o suposto óbito do paciente seria fato inexistente e que,
portanto, não poderia existir no mundo jurídico. Por essa razão, reputou não haver óbice à desconstituição
da coisa julgada. Em relação à suposta ausência de justa causa para a pronúncia do paciente, aduziu que a
análise da tese implicaria revolvimento fático-probatório, inviável na sede eleita. Vencido o Min. Marco
Aurélio, que concedia a ordem.
HC 104998/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-104998)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Penas

Dosimetria da pena e proporcionalidade - 4


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado em favor
de condenado à pena de 6 anos e 8 meses de reclusão pela prática do crime previsto no art. 157, § 2º, I e
II, do CP. Pugnava-se pela ilegalidade da fixação da pena acima do mínimo legal — v. Informativos 558
e 563. Reputou-se não haver ilegalidade, a ser corrigida pela via eleita, na dosimetria da pena imposta ao
paciente, uma vez que teriam sido consideradas a personalidade do agente, sua conduta social e as
circunstâncias do crime para a fixação da pena-base acima do patamar mínimo. Vencidos os Ministros
Ricardo Lewandowski, relator, e Ayres Britto, que deferiam o writ para determinar que o juízo
processante fixasse nova pena-base.
HC 97056/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
2.12.2010. (HC-97056)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Estupro e atentado violento ao pudor: continuidade delitiva - 1


A 1ª Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para incumbir ao juízo da execução a tarefa de
enquadrar o caso ao cenário jurídico trazido pela Lei 12.015/2009, devendo, para tanto, proceder à nova
dosimetria da pena fixada e afastar o concurso material entre os ilícitos contra a dignidade sexual,
aplicando a regra da continuidade (CP, art. 71, parágrafo único: “Nos crimes dolosos, contra vítimas
diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o
triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”). Na situação dos
autos, pleiteava-se a exclusão da causa de aumento de pena prevista no art. 9º da Lei 8.072/90 (Lei dos
Crimes Hediondos) a condenado pela prática dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor contra
menores de 14 anos. A impetração argumentava que: a) a aplicação da referida causa especial de aumento
com a presunção de violência decorrente da menoridade das vítimas, sem a ocorrência do resultado lesão
corporal grave ou morte, implicaria bis in idem, porquanto a violência já teria incidido na espécie como
elementar do crime; e b) o art. 9º daquela norma estaria implicitamente revogado após o advento da Lei
12.015/2009.
HC 103404/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-103404)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Estupro e atentado violento ao pudor: continuidade delitiva - 2


Inicialmente, a Turma, por maioria, vencido o Min. Marco Aurélio, não conheceu do writ, ao
fundamento de que a apreciação da matéria sob o enfoque da nova lei acarretaria indevida supressão de
instância. Salientou-se, no entanto, a existência de precedentes desta Corte segundo os quais não
configuraria bis in idem a aludida aplicação da causa especial de aumento de pena. Ademais, observaram-
se recentes posicionamentos das Turmas no sentido de que, ante a nova redação do art. 213 do CP, teria
desaparecido o óbice que impediria o reconhecimento da regra do crime continuado entre os antigos
delitos de estupro e atentado violento ao pudor. Por fim, determinou-se que o juízo da execução enquadre
a situação dos autos ao atual cenário jurídico, nos termos do Enunciado 611 da Súmula do STF
(“Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei
mais benigna”). Alguns precedentes citados: HC 102355/SP (DJe de 28.5.2010); HC 94636/SP (DJe de
24.9.2010).
HC 103404/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-103404)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Princípios e Garantias Penais

Contrabando e princípio da insignificância


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de denunciados como incursos nas penas
do art. 334, § 1º, b, do CP (“Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o
pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria ... § 1º
- Incorre na mesma pena quem ... b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou
descaminho”) c/c o art. 39 do Decreto-Lei 288/67 (“Será considerado contrabando a saída de
mercadorias da Zona Franca sem a autorização legal expedida pelas autoridades competentes”).
Pretendia a defesa fosse trancada a ação penal com base na aplicação do princípio da insignificância, pois
o valor dos bens contrabandeados não ultrapassaria R$ 10.000,00. Sustentava, também, inépcia da
denúncia, sob o argumento de ser genérica. Reputou-se, inicialmente, que o caso dos autos trataria de um
tipo especial de contrabando, assemelhado ao descaminho, visto que os produtos oriundos da Zona Franca
de Manaus não teriam sua utilização proibida em território nacional. Nesse sentido, aduziu-se razoável a
aplicabilidade, em tese, do postulado da insignificância. Entretanto, explicitou-se que a defesa não teria
comprovado a alegação de que o valor dos bens seria inferior a R$ 10.000,00, razão pela qual o pedido
não foi conhecido nesse ponto. Por fim, no tocante à alegada inépcia da peça acusatória, considerou-se
inexistir o vício aventado na impetração.
HC 97541/AM, rel. Min. Gilmar Mendes, 7.12.2010. (HC-97541)
(Informativo 612, 2ª Turma)

Furto de munição e princípio da insignificância


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia a absolvição do paciente, sargento do
Exército, ao argumento de que incidiria, na espécie, o princípio da insignificância, em face do reduzido
valor das coisas furtadas: 100 cartuchos de munição para fuzil calibre 7,62 x 51 mm, 1 caixa de
chumbinho e 8 cartuchos calibre 9 mm, tudo avaliado em R$ 193,05. Considerou-se que a lesividade da
conduta não deveria ser analisada exclusivamente sob o aspecto econômico e patrimonial, porquanto o
delito perpetrado pelo paciente, peculato-furto, atentaria também contra a Administração Militar (Título
VII, Capítulo II, do CPM). O Min. Celso de Mello acompanhou o relator com a ressalva de seu
entendimento pessoal.
HC 104820/SP, rel. Min. Ayres Britto, 7.12.2010. (HC-104820)
(Informativo 612, 2ª Turma)
Princípio da insignificância e reincidência
A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se sustentava atipicidade da conduta, em virtude de
incidência do princípio da insignificância, e nulidade do julgamento de recurso de apelação, por ofensa ao
princípio da ampla defesa, em virtude de ter sido adiado sem que houvesse intimação do patrono do
paciente informando a nova data designada. Na espécie, o paciente fora condenado pela prática do crime
previsto no art. 184, § 2º, do CP, por ter exposto à venda milhares de adesivos contendo imagens de
super-heróis e personagens infantis, produzidos com violação do direito de autor. Inicialmente, enfatizou-
se que, para a aplicação do princípio da insignificância, deveriam ser observados todos os seus requisitos.
Esclareceu-se que, apesar do valor irrisório obtido com a contrafação (cerca de R$ 200,00), constaria dos
autos que o paciente fora condenado definitivamente em duas outras oportunidades por cometer delito
idêntico. Reputou-se que, reconhecida a reincidência, a reprovabilidade do comportamento seria agravada
de modo significativo, sendo suficiente para inviabilizar a aplicação do referido postulado. Ademais,
consignou-se que, ainda que não realizado o julgamento do recurso na primeira sessão subseqüente à
publicação da pauta, desnecessária seria a renovação da intimação, porquanto as partes se considerariam
automaticamente intimadas para a sessão seguinte.
HC 100240/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 7.12.2010. (HC-100240)
(Informativo 612, 2ª Turma)

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Ação Penal

Ministério Público e investigação criminal


A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia o trancamento de ação penal,
sob o argumento de que a investigação criminal teria partido exclusivamente do Ministério Público.
Observou-se que a denúncia se baseara em declarações prestadas, espontaneamente, pelo co-réu ao
representante do Ministério Público e que, a partir dessas informações, o parquet realizara diligências,
devidamente acompanhado pela polícia civil, além de ouvir outras pessoas, o que não implicara presidir
inquérito policial e nem invadir seara reservada à Polícia Judiciária. Afirmou-se, ademais, a
desnecessidade do inquérito policial se o Ministério Público já dispuser de elementos capazes de formar
sua opinio delicti. Concluiu-se não ter havido ilegalidade nos procedimentos adotados pelo órgão
ministerial nem ilicitude das provas produzidas. Vencido o Min. Marco Aurélio, que sobrestava o feito
até o julgamento pelo Plenário do HC 84548/SP, no qual se discute a distinção do inquérito para
propositura da ação civil e para ação penal. No mérito, concedia a ordem por entender que o Ministério
Público procedera à investigação e que o acompanhamento da polícia inverteria a ordem natural das
coisas.
HC 96638/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2.12.2010. (HC-96638)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Execução das Penas

Execução de pena e falta grave - 4


Ante a perda superveniente de objeto, a 1ª Turma declarou prejudicado habeas corpus impetrado
com o fim de anular decisão que determinara a regressão de regime prisional do paciente e a alteração da
data-base para a concessão de benefícios executórios — v. Informativo 605. Alegava-se constrangimento
ilegal por parte do STJ, que teria extrapolado pedido feito pelo Ministério Público, relativo apenas à
regressão de regime, sem mencionar a alteração da data-base. Em razão de o paciente encontrar-se em
liberdade condicional desde 9.11.2009, reputou-se inócuo qualquer debate a respeito de concessão de
regime prisional mais brando ao condenado.
HC 96246/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 14.12.2010. (HC-96246)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Habeas Corpus

HC e processo administrativo
Habeas corpus não é a via adequada para trancamento de processo administrativo, uma vez não
estar em jogo a liberdade de ir e vir (CF, art. 5º, LXVIII). Esse o entendimento da 1ª Turma ao extinguir,
sem julgamento de mérito, writ impetrado com o fim de sustar o andamento de processo administrativo
disciplinar instaurado contra o paciente.
HC 100664/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 2.12.2010. (HC-100664)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Inquérito Policial

TCU: independência das esferas administrativa e penal


A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteado o trancamento de inquérito policial
instaurado para apurar suposta existência de desvios de verba pública na Empresa Brasileira de Infra-
Estrutura Aeroportuária – INFRAERO, e a prática dos delitos de formação de quadrilha, corrupção ativa e
passiva, estelionato e peculato, bem como de crimes contra a ordem econômica (Lei 8.137/90, art. 4º), de
improbidade administrativa e dos tipificados nos artigos 89, 90, 93 e 96 da Lei 8.666/93. Sustentava a
impetração, com base em analogia com os crimes contra a ordem tributária, a necessidade de
encerramento da via administrativa da constituição do débito tributário como condição de
procedibilidade. Entendeu-se que não mereceria reparo a conclusão do STJ, segundo a qual o fato do
Tribunal de Contas da União, eventualmente, aprovar as contas a ele submetidas, não obstaria, em
princípio, a persecução penal promovida pelo Ministério Público. Explicitou-se que a jurisprudência do
STF seria no sentido da independência entre as esferas de contas e a judicial penal, de sorte a ser
desnecessário que o inquérito policial ou a denúncia aguardem a conclusão do processo de contas em
qualquer das instâncias dos Tribunais de Contas.
HC 103725/DF, rel. Min. Ayres Britto, 14.12.2010. (HC-103725)
(Informativo 613, 2ª Turma)

Nulidades

Tribunal do Júri e nulidades - 3


A 1ª Turma, em conclusão de julgamento, indeferiu, por maioria, habeas corpus em que
impugnadas duas supostas nulidades ocorridas em julgamento de Tribunal do Júri: a utilização de prova
alegadamente nova e o eventual excesso de linguagem por parte do Juiz Presidente, ao apresentar
relatório aos jurados no qual deferia a juntada de tal prova — v. Informativo 609. Reputou-se,
inicialmente, não haver ilicitude na prova colhida a partir da fita cassete exibida no julgamento.
Registrou-se que ela seria mero instrumento magnético de uma prova que já constaria dos autos, qual
seja, o interrogatório. Aduziu-se, também, que o delegado utilizara esse dispositivo apenas para provar
que o ato não teria sido realizado mediante tortura e que maior aprofundamento na questão implicaria
reexame de fatos e provas, inadmissível na via eleita. Ressaltou-se, em relação a essa suposta nulidade,
não haver sido demonstrado o prejuízo sofrido pelo paciente. Considerou-se, acerca do argüido vício de
linguagem no relatório apresentado aos jurados, não haver parcialidade nas palavras proferidas pelo Juiz
Presidente, que apenas teria fundamentado o deferimento da citada prova por reputá-la lídima, sem,
entretanto, haver influenciado a íntima convicção dos jurados sobre o caso. Vencido o Min. Marco
Aurélio, que concedia a ordem.
HC 101806/MS, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-101806)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Interrogatório e entrevista reservada com defensor - 2


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que alegado
constrangimento ilegal decorrente de ausência de citação do paciente e não concessão do direito de
entrevista reservada com seu defensor — v. Informativo 580. Entendeu-se que a nulidade referente à
ausência de citação seria relativa, visto que o paciente teria comparecido espontaneamente à audiência de
interrogatório. Assim, aplicado o princípio da convalidação, a nulidade teria sido sanada. Em relação à
não concessão do direito de entrevista reservada com seu defensor, reputou-se que o magistrado teria
assegurado esse direito na audiência, muito embora a defesa não tivesse feito uso dele, razão pela qual
não existiria nulidade. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Ayres Britto, que concediam a ordem.
HC 96465/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-96465)
(Informativo 613, 1ª Turma)

Prisão e Liberdade Provisória


Prisão preventiva e indícios de ameaça a testemunha
A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se alegava constrangimento ilegal ante a
falta de fundamentação apta a justificar prisão preventiva, sobretudo, por ausência de dado concreto e
idôneo que comprovasse a suposta coação que o paciente teria infligido às testemunhas. Afirmou-se que,
embora o juiz não descrevesse explicitamente essa coação, haveria, nos autos, fortes indícios de que ela
ocorrera. Vencido o Min. Marco Aurélio, que entendia que o mero indício não seria suficiente para
embasar a custódia cautelar, sendo necessária a demonstração do ato concreto que estaria a causar
tumulto ao processo.
HC 103877/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 2.12.2010. (HC-103877)
(Informativo 611, 1ª Turma)

DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos

IPTU: Progressividade e EC 29/2000 - 2


Em conclusão, o Plenário proveu recurso extraordinário interposto pelo Município de São Paulo e
reconheceu a constitucionalidade da EC 29/2000 e da Lei municipal 6.989/66, na redação dada pela Lei
municipal 13.250/2001, que estabeleceu alíquotas progressivas para o IPTU tendo em conta o valor venal
e a destinação do imóvel. O recurso impugnava acórdão o qual provera apelação em mandado de
segurança e declarara a inconstitucionalidade da referida Lei municipal 13.250/2001 por vislumbrar
ofensa aos princípios da isonomia e da capacidade contributiva, e ao art. 60, § 4º, IV, da CF — v.
Informativo 433. Após mencionar os diversos enfoques dados pela Corte em relação à progressividade do
IPTU, em período anterior à EC 29/2000, concluiu-se, ante a interpretação sistemática da Constituição
Federal, com o cotejo do § 1º do seu art. 156 com o § 1º do seu art. 145, que essa emenda teria repelido as
premissas que levaram a Corte a ter como imprópria a progressividade do IPTU. Enfatizou-se que a EC
29/2000 veio apenas aclarar o real significado do que disposto anteriormente sobre a graduação dos
tributos, não tendo abolido nenhum direito ou garantia individual, visto que a redação original da CF já
versava a progressividade dos impostos e a consideração da capacidade econômica do contribuinte, não se
tratando, assim, de inovação apta a afastar algo que pudesse ser tido como integrado a patrimônio.
RE 423768/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 1º.12.2010. (RE-423768)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

IPTU: Progressividade e EC 29/2000 - 3


Ressaltou-se que o § 1º do art. 145 possuiria cunho social da maior valia, tendo como objetivo
único, sem limitação do alcance do que nele estaria contido, o estabelecimento de uma gradação que
promovesse justiça tributária, onerando os que tivessem maior capacidade para pagamento do imposto.
Asseverou-se, no ponto, que o texto constitucional homenagearia a individualização, determinando que se
atentasse à capacidade econômica do contribuinte, a qual haveria de ser aferida sob os mais diversos
ângulos, inclusive o valor, em si, do imóvel. Observou-se ser necessário emprestar aos vocábulos da
norma constitucional o sentido próprio, não se podendo confundir a referência à capacidade econômica
com a capacidade financeira, cedendo a tradicional dicotomia entre tributo pessoal e real ao texto da Carta
da República. Frisou-se que essa premissa nortearia a solução de conflitos de interesse ligados à
disciplina da progressividade, buscando-se, com isso, alcançar o objetivo da República, a existência de
uma sociedade livre, justa e solidária. Aduziu-se que a lei impugnada, por sua vez, teria sido editada em
face da competência do Município e com base no § 1º do art. 156 da CF, na redação dada pela EC
29/2000, concretizando, portanto, a previsão constitucional. Salientou-se que o texto primitivo desse
dispositivo não se referia ao valor do imóvel e à localização e ao uso respectivos, mas previa a
progressividade como meio de se assegurar o cumprimento da função social da propriedade.
RE 423768/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 1º.12.2010. (RE-423768)
(Informativo 611, Plenário)

IPTU: Progressividade e EC 29/2000 - 4


Nesta assentada, o Min. Celso de Mello registrou haver atualmente um modelo de progressividade
que não mais se qualificaria como a simples progressividade-sanção em virtude exatamente da específica
vinculação do instituto da progressividade tributária, em tema de IPI, ao cumprimento da função social da
propriedade urbana, notadamente quando analisada em face das exigências públicas de adequada
ordenação do solo urbano. Reputou que a pretensão de inconstitucionalidade, no presente caso, seria
afastada precisamente pelo conteúdo inequívoco do próprio discurso normativo que se encerraria no texto
da EC 29/2000, portanto, não mais apenas a progressividade-sanção, mas também, agora, o instituto da
progressividade como medida de isonomia, como medida de justiça fiscal. Concluiu que, em face da EC
29/2000, o conteúdo de que se mostraria impregnada a Súmula 668 do STF poderia ser então superada,
tendo em vista o fato de que se mostraria plenamente legítimo e possível ao Município adequar o seu
modelo pertinente ao IPTU à clausula da progressividade, tal como prevista no § 1º do art. 156 da CF.
Alguns precedentes citados: RE 153771/MG (DJU de 27.11.96); RE 234105/SP (DJU de 31.3.2000).
RE 423768/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 1º.12.2010. (RE-423768)
(Informativo 611, Plenário)

Imunidade Tributária

Art. 155, § 3º, da CF/88: imunidade e taxa


Ante a vedação prevista no texto primitivo do art. 155, § 3º, da CF/88, anterior à alteração
decorrente da EC 31/2001, a 1ª Turma desproveu recurso extraordinário interposto contra acórdão em que
assentada a ilegalidade da cobrança pela Municipalidade de Taxa de Licença e Verificação Fiscal.
Reputou-se descaber afastar da imunidade a mencionada taxa alusiva à fixação de postes ao solo para a
sustentação de rede elétrica. Concluiu-se que, na redação primitiva da CF/88, a imunidade seria linear.
RE 391623/MA, rel. Min. Marco Aurélio, 2.12.2010. (RE-391623)
(Informativo 611, 1ª Turma)

Imunidade tributária recíproca: sociedade de economia mista e serviços de saúde - 4


Em conclusão, o Plenário, por maioria, proveu recurso extraordinário para assentar a incidência da
imunidade recíproca (CF, art. 150, VI, a) de impostos estaduais à sociedade de economia mista
recorrente, a qual atua na área de prestação de serviços de saúde — v. Informativo 597. Inicialmente, ao
salientar o que disposto no art. 197 da CF, consignou-se que o serviço público em questão estaria
franqueado à iniciativa privada sob a forma de assistência à saúde, não constituindo atividade econômica.
Portanto, a iniciativa privada seria convocada para subsidiar o Poder Público, para se emparceirar com
ele, na prestação de serviço público que, ao mesmo tempo, seria direito fundamental e, pela ótica do art.
196 da CF, direito de todos e dever do Estado. Realçou-se a heterodoxia do caso, porquanto, desde a
década de 70, o Estado, por desapropriação, seria detentor do controle dessa “empresa”, assenhoreando-se
da atividade, prestando-a ininterruptamente, e controlando 99,99% das ações. Enfatizou-se que o hospital
recorrente atenderia exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde - SUS e que suas receitas seriam
provenientes de repasses públicos federais e municipais. Considerou-se, ademais, que o serviço de saúde
por ele prestado teria caráter de serviço público, não configurando um negócio privado. Reiterou-se que a
União teria expropriado praticamente a totalidade do capital social e, com isso, incorporado de fato o
hospital ao seu patrimônio jurídico, conservando, por motivos desconhecidos, 0,01% do capital social em
nome de conselheiros antigos. Dessa forma, teria mantido a aparência de uma sociedade anônima que se
submeteria, de regra, ao regime jurídico de empresa privada. Afirmou-se que isso, entretanto, não seria
suficiente, pois se trataria, na verdade, de uma entidade pública por ser pública praticamente a totalidade
do capital social, pública sua finalidade e pública, no sentido de potencialidade de exercício de poder, a
direção do hospital, haja vista que a União poderia decidir o que quisesse, porque 0,01% não significaria
nada em termos de votação. Por fim, registrou-se que o pronunciamento da questão posta em sede de
repercussão geral somente aproveitará hipóteses idênticas, em que o ente público seja controlador
majoritário do capital da sociedade de economia mista e que a atividade desta corresponda à própria
atuação do Estado na prestação de serviços à população. Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa, relator,
Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio que desproviam o recurso.
RE 580264/RS, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto,
16.12.2010. (RE-580264)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 613, Plenário, Repercussão Geral)
Princípios Constitucionais Tributários

Lei 10.182/2001: extensão de incentivo fiscal e mercado de reposição - 3


Em conclusão, o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário interposto contra
acórdão do TRF da 4ª Região que, com base no princípio da isonomia, estendera a empresa que trabalha
com mercado de reposição de pneumáticos os efeitos do inciso X do § 1º do art. 5º da Lei 10.182/2001
(“Art. 5º Fica reduzido em quarenta por cento o imposto de importação incidente na importação de
partes, peças, componentes, conjuntos e subconjuntos, acabados e semi-acabados, e pneumáticos. § 1º O
disposto no caput aplica-se exclusivamente às importações destinadas aos processos produtivos das
empresas montadores e dos fabricantes de: ... X - auto-peças, componentes, conjuntos e subconjuntos
necessários à produção dos veículos listados nos incisos I a IX, incluídos os destinados ao mercado de
reposição.”) — v. Informativos 371 e 484. Entendeu-se que o incentivo fiscal conferido pela citada lei
não alcançaria a importação de pneumáticos para reposição, seja para montadoras, seja para fabricantes
de veículos, mas, apenas, aquela destinada aos processos produtivos. O Min. Joaquim Barbosa, relator,
considerou que a manutenção do acórdão impugnado, isto é, da decisão que concedera o benefício fiscal à
recorrida, estaria em confronto com a jurisprudência do Supremo segundo a qual não seria possível
acrescentar exemplos à lei, com base no princípio da isonomia, e que, portanto, referido aresto incorreria
em ofensa ao princípio da separação de poderes. Os Ministros Cezar Peluso, Dias Toffoli e Cármen Lúcia
deram provimento ao recurso, mas pelo fundamento de que o acórdão recorrido teria violado o art. 150,
II, da CF, ao aplicar a regra da isonomia a uma situação factual que não comportaria incidência. Vencidos
os Ministros Marco Aurélio, Ayres Britto, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski que negavam
provimento ao recurso.
RE 405579/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 1º.12.2010. (RE-405579)
1ª parte
2ª parte
3ª parte
(Informativo 611, Plenário)

Supremo Tribunal Federal


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Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados - CJCD
CJCD@stf.jus.br

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