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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VIII

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Processo de Conhecimento

1. AUDIÊNCIA

Audiência é um ato processual complexo, porque é resultado de vários atos, envolvendo o


incidente de conciliação, a colheita de prova oral, as alegações finais, que completam a fase
postulatória, e o julgamento.
A audiência pode ser adiada, ou seja, pode não ser realizada na data marcada. São hipóteses de
adiamento:
I. por convenção das partes, admissível uma única vez (art. 453, I, do CPC);
II. o não comparecimento por motivo justificado, das partes, do perito, das testemunhas e dos
advogados (art. 453, II, do CPC). O advogado deve provar o impedimento até o início dos
trabalhos. A jurisprudência tem admitido algumas hipóteses de justificativa posterior,
quando não é possível fazê-la até o início dos trabalhos. Se o advogado não comparecer
injustificadamente, o Juiz pode dispensar a prova requerida pela parte que ele representa.
Eventualmente, pode determinar a prova de ofício (art. 130 do CPC).

1.1. Tentativa de Conciliação


A tentativa de conciliação na audiência de instrução e julgamento acontecerá mesmo
que já tenha ocorrido a hipótese do art. 331 do CPC (audiência de conciliação). A
jurisprudência, no entanto, entende que a falta de comparecimento das partes na conciliação
não impede o prosseguimento da audiência e nem acarreta nulidade do processo (recusa de
conciliação). A lei determina que o Juiz fixe os pontos controvertidos.

1.2. Instrução
Preceitua o art. 451 do CPC que, “ao iniciar a instrução, o Juiz, ouvidas as partes, fixará os pontos
controvertidos sobre que incidirá a prova”.

1.2.1. Colheita das provas


Ordem da colheita de prova oral:
I. oitiva dos peritos e assistentes;
II. depoimento pessoal do autor e, depois, do réu;
III. oitiva das testemunhas, primeiro as do autor e depois as do réu.
No que diz respeito à colheita das provas, a audiência deve observar certos princípios:
Princípio da publicidade, pois a audiência é ato público. A audiência somente pode ocorrer a
portas fechadas nas hipóteses do art. 155 do CPC, que estabelece o segredo de Justiça em
determinadas causas, visando resguardar o interesse público e a privacidade (intimidade) das
partes.
Princípio da oralidade, que se desdobra em outros princípios, quais sejam:
Imediação, pelo qual o Juiz, as partes e os advogados travam contato direto, imediato.
Concentração dos atos processuais, pois a audiência é una e contínua. Deve iniciar-se e terminar
em uma única oportunidade. Não sendo isso possível, o Juiz pode suspender os trabalhos e marcar
uma nova data para a sua continuação.
Identidade física do Juiz, significa que o Juiz que travou contato direto com as partes, peritos,
testemunhas (imediação) está melhor habilitado para julgar. Aplica-se a regra do art. 132 do CPC,
o qual estabelece que o Juiz que conclui a instrução deve julgar a causa, salvo as exceções ali
relacionadas. É também chamada de regra de vinculação. Essa vinculação resulta de atos de
instrução, pois, se o Juiz apenas tentar a conciliação, não estará vinculado ao processo.

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1.2.2. O Juiz na audiência


No curso da audiência, o Juiz exerce o que se chama de Poder de Polícia, quando deve
presidir os trabalhos e garantir que tenham um regular desenvolvimento, mantendo a ordem e o
decoro dentro da sala de audiência.

1.3. Alegações Finais


Concluída a instrução, o Juiz deve passar à fase dos debates orais. A regra é que as alegações
finais sejam feitas oralmente em audiência, exceto se a controvérsia envolver questões complexas
de fato ou de direito. Nesse caso, o debate oral pode ser substituído por memoriais escritos. A
avaliação da existência de complexidade fica sempre a critério do Juiz.

1.4. Julgamento
Aos debates eventualmente segue a prolação da sentença, que será publicada em audiência, e dela
saem intimadas as partes.

2. SENTENÇA

De acordo com o conceito legal, sentença é o ato pelo qual o juiz extingue o processo com ou sem
o julgamento do mérito. De acordo com o critério doutrinário, todavia, é o ato que põe fim ao
procedimento em 1.º grau da jurisdição. Em 2.º grau, as decisões recebem o nome de acórdãos.

2.1. Requisitos da Sentença (elementos ou partes)


Relatório: consiste em um resumo dos principais dados e ocorrências do processo.
Motivação ou fundamentação: o Juiz aprecia e decide as questões surgidas ao longo do processo.
Questão é todo ponto controvertido de fato ou de direito que, exatamente por ser controvertido,
deve ser decidido pelo Juiz. A exigência da motivação é regra constitucional (art. 93 da CF), e sua
ausência ou insuficiência acarretam a nulidade da sentença. A motivação concisa não acarreta a
nulidade, desde que seja suficiente.
Dispositivo: é a parte da sentença em que o Juiz acolhe ou rejeita o pedido nas sentenças de
mérito; é a conclusão da sentença; em que o Juiz declara inadmissível a tutela jurisdicional, nos
casos de sentença terminativa (em que não foi julgado o mérito); é a parte em que o Juiz homologa
atos de disposição das partes.
Há duas correntes que tratam da ausência de dispositivo na sentença: a primeira diz que a
sentença é inexistente e, portanto, não há o trânsito em julgado, não sendo necessária a
interposição de ação rescisória. A segunda diz que a sentença é nula, porém depende de argüição
contrária da parte para ser anulada, e, em não sendo alegada, haverá o trânsito em julgado.

2.2. Regras de Correlação da Sentença com a Demanda


O processo inicia-se por iniciativa da parte (art. 2.º do CPC) e em regra o Juiz não deve proceder
de ofício.
O Juiz deve julgar a lide nos limites em que foi proposta, de acordo com o princípio da adstrição,
ou correlação, sendo vedado a ele conhecer de questões cuja iniciativa dependa de alguma das
partes (art. 128 do CPC).
O Juiz não pode conceder ao autor providência diversa, ou por causa jurídica diversa, da pleiteada.
A sentença que viola essa regra é extra petita, e traz como conseqüência a sua nulidade (art. 460
do CPC).
O Juiz está proibido de conferir ao autor quantidade superior à pleiteada, se isso ocorrer, teremos
uma sentença ultra petita. Para a jurisprudência, esse tipo de sentença deve ser anulada somente
naquilo que extrapolar o pedido. O Tribunal apenas reduz o valor da sentença.

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A sentença citra ou infra petita é aquela que julga menos do que deveria, ou seja, deixa de
apreciar algum pedido ou parte dele. É diferente da sentença de procedência parcial.
Quando a sentença for omissa, ou seja, deixar de apreciar um pedido ou parte dele, essa
omissão pode ser sanada por embargos de declaração.

2.3. Sentença Terminativa


Sentença terminativa é aquela que põe fim ao processo sem apreciação do mérito. Não há
julgamento da controvérsia. Sua eficácia é apenas processual. É apta a fazer apenas a coisa julgada
formal.
Hipóteses de incidência da sentença terminativa:
I. Inércia do autor ou de ambas as partes.
II. Falta de alguns dos pressupostos processuais (são os requisitos de constituição e
desenvolvimento válido e regular do processo). Ex.: inépcia da petição inicial por ser o
menor impúbere representado por assistente com procuração particular.
III. Falta de alguma das condições da ação. São requisitos relativos à ação necessários para que
o Juiz possa analisar o mérito do processo.
A sentença terminativa não impede a repropositura da ação ou demanda (mesmo que idêntica). O
autor pode repropor a ação desde que recolha as custas do processo anterior, porém não pode ter
ocorrido a perempção.
Perempção é a perda do direito de ação por ter a parte dado causa à extinção do processo
sem julgamento do mérito, por três vezes e por inércia (não ter dado andamento ao processo),
porém não impede que o direito material seja argüido como defesa. Os fundamentos da ação
perempta podem ser expostos como exceção, como defesa. A perempção é uma sanção processual.
Não impede a propositura de outra ação com elementos diferentes.

2.4. Sentença Definitiva


Define a lide ou a controvérsia, ou seja, julga o mérito, o pedido, podendo acolhê-lo ou rejeitá-lo.
As hipóteses de sentença de mérito estão relacionadas no art. 269 do CPC, que prevê outras
hipóteses qualificadas como sentença de mérito, pois fazem coisa julgada material.
Vejamos algumas hipóteses:
a) reconhecimento da procedência do pedido pelo réu;
b) autor renuncia ao direito em que se funda a ação;
c) quando houver a transação;
d) quando o Juiz pronunciar a prescrição ou a decadência.
A sentença de mérito é a única apta a formar coisa julgada material. Ela possui efeitos
substanciais, projeta efeitos para fora do processo, regra e define a controvérsia, por isso torna-se
coisa julgada material, sendo imutável.
Obs.: A sentença homologatória, na transação, a princípio não é apelável, somente se padecer de
algum vício.
2.5. Sentença Líquida ou Ilíquida
Sentença líquida é aquela que desde logo quantifica a obrigação ou individualiza o objeto da
obrigação. É a que determina o quantum debeatur.
Sentença ilíquida é aquela que, embora reconheça a existência da obrigação, não a quantifica (an
debeatur).
Quando o autor formula um pedido líquido, é vedada a prolação de sentença ilíquida. A nulidade
decorrente da violação dessa regra, diz o Superior Tribunal de Justiça, só pode ser alegada pelo autor,
porque o prejuízo é dele. Também é vedado ao Juiz proferir sentença líquida quando o autor deduzir um
pedido ilíquido (jurisprudência dominante do STJ). Nesse caso, a sentença é nula por ser extra petita.
Observação: não existe mais liquidação por cálculos do contador.

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2.6. Publicação
Publicar é tornar público. A sentença começa a existir juridicamente no momento em que é
publicada. Tal publicação pode se dar por dois modos:
I. em uma sessão pública, ou seja, em uma audiência;
II. quando é juntada aos autos, que serão entregues ao cartório.
Ao publicar a sentença, o Juiz cumpre e esgota o ofício jurisdicional, e, conseqüentemente, é
vedado a ele modificá-la, exceto para:
I. corrigir inexatidão material (ou erro material) ou erro de cálculo, por requerimento das
partes ou de ofício;
II. por meio de embargos de declaração quando a sentença for omissa, em havendo
contradição ou obscuridade.
Inexatidão material ou erro material é aquele equívoco cuja retificação (correção) não implica
alteração de cunho jurídico, pois se o Juiz alterar a critério jurídico estará infringindo a própria
sentença.

2.7. Intimação
Intimação da sentença é o ato pelo qual se dá conhecimento dela, especificamente, às partes a fim
de que possam, se for o caso, interpor algum recurso. O prazo para interposição conta-se da data
da intimação. Nas comarcas em que circula o Diário Oficial, a intimação das partes se dá por meio
dos advogados, mediante publicação naquele veículo oficial.

2.8. Hipoteca Judiciária


No capítulo da sentença, o CPC trata de um dos seus efeitos secundários, a hipoteca judiciária (art.
466).
A sentença que condena o réu ao pagamento de determinada quantia ou entrega de coisa é título
hábil para constituição da chamada hipoteca judicial ou judiciária, cuja inscrição deverá ser feita
pela forma prescrita na Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/73, art. 167, inc. I, 2). Inscrita a
hipoteca, os bens do devedor passam a garantir, de forma privilegiada, a futura execução.

3. COISA JULGADA

O CPC emprega dois sentidos a coisa julgada: objeção e atributo, qualidade dos efeitos da sentença.

3.1. Objeção
Objeção é matéria que a parte tem o ônus (relativo) de alegar, mas o Juiz pode e deve conhecer de
ofício. Normalmente objeção tem caráter preliminar ao mérito. O acolhimento da objeção em
caráter preliminar normalmente conduzirá à extinção do processo sem julgamento do mérito.
Fala-se também em objeções de mérito, ou seja, a matéria de mérito que o Juiz pode conhecer de
ofício. Ocorre quando se repete uma ação já definitivamente julgada.
A litispendência também tem o sentido de objeção. Configura-se quando se repete uma ação
idêntica em curso.
Observação.: litispendência também significa a pendência de um processo.

3.2. Atributo, ou qualidade dos efeitos da Sentença


Coisa julgada é atributo da sentença e divide-se em coisa julgada formal e coisa julgada material.

3.2.1. Coisa julgada formal


É a imutabilidade da sentença dentro do processo por falta de meios de impugnação possíveis,
recursos ordinários ou extraordinários. É a imutabilidade endo-processual da sentença.
Corresponde à preclusão que atinge a sentença.

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Há três formas de preclusão:


preclusão consumativa: é aquela resultante do exercício da faculdade e prática do correspondente
ato processual;
preclusão temporal: é aquela que decorre do decurso do prazo sem a prática do ato;
preclusão lógica: é aquela que decorre de comportamento incompatível com a prática de certo ato
processual.
É defeso discutir no processo questões sobre as quais incidiu a preclusão (art. 473 do CPC). É
vedado ao Juiz reapreciar questões sobre as quais ocorreu a preclusão. Exceções:
Não estão sujeitas à preclusão as questões relativas às condições da ação, que não tenham sido
apreciadas no momento adequado, ou que já tenham sido apreciadas. Súmula do STF diz que o
despacho saneador irrecorrido transita em julgado. A doutrina e jurisprudência entendem que essa
Súmula não alcança as condições da ação. Não há preclusão tanto se a questão não tiver sido
apreciada antes da prolação da sentença quanto se tiver sido apreciada. A carência da ação pode
ser reexaminada até mesmo em grau de recurso, desde que a matéria seja devolvida por meio de
recurso.
Além das condições da ação, os pressupostos processuais constituem matéria de ordem pública,
que pode ser conhecida a qualquer momento, de ofício.
Não há preclusão para o Juiz em matéria probatória, porque o Juiz é o destinatário da prova e é
investido de poderes instrutórios (art. 130), razão pela qual é dado a ele completar o quadro
instrutório do processo (quadro de provas).
Diante dessas exceções, pode ser dito que a preclusão em princípio não atinge o Juiz, pois na
matéria que lhe diz respeito (condições da ação, pressupostos processuais e matéria probatória)
não há preclusão.

3.2.2. Coisa julgada material


É uma especial qualidade dos efeitos da sentença. É a imutabilidade dos efeitos da sentença.
Somente a sentença de mérito é apta à formação da coisa julgada, porque somente ela define a lide,
resolve a controvérsia e, portanto, projeta efeitos substanciais para fora do processo. O fundamento
da coisa julgada material é a necessidade de estabilidade nas relações jurídicas.

3.3. Limites da Coisa Julgada

3.3.1. Limites objetivos


Fazem-se necessárias as seguintes indagações: o que transita em julgado? O que é coberto pela
imutabilidade?
O que transita em julgado, em princípio, é o dispositivo, a conclusão, o tópico da sentença que
acolhe ou rejeita o pedido.
Não fazem coisa julgada:
I. a fundamentação da sentença, os motivos, por mais relevantes que sejam para determinar o
dispositivo;
II. a verdade dos fatos estabelecidos como premissa da sentença;
III. a questão prejudicial julgada incidentemente como motivo da sentença.

Questão prejudicial é uma questão que se apresenta como antecedente lógico do julgamento da
lide.
Obs.: a questão prejudicial fará coisa julgada quando tiver por objeto uma relação jurídica, houver
pedido declaratório incidental feito pelo autor ou por qualquer das partes, o Juiz for competente
em razão da matéria e tal questão constituir pressuposto para o julgamento da lide.

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Quando o réu nega a relação jurídica que serve de fundamento à pretensão do autor, o autor pode
pedir que sobre essa relação seja proferida uma declaração por sentença. É a chamada declaração
incidental por sentença. É uma certeza declarada por sentença.

3.3.2. Limites subjetivos


Neste caso é preciso que questionemos: perante ou para quem transita em julgado? Quem é
atingido?
A coisa julgada atinge apenas as partes, não prejudicando e nem beneficiando terceiros; lembrando que
coisa julgada é diferente de efeitos da sentença.
Os efeitos da sentença podem atingir a órbita jurídica de terceiros, incluindo os que não são partes.
A lei estabelece formas de intervenção de terceiros, das quais a mais importante é a assistência,
que pressupõe a existência de interesse jurídico. A princípio, o terceiro nunca é atingido pela coisa
julgada, em razão da imutabilidade da sentença. Essa regra do CPC não se aplica às ações para
tutela de interesses difusos e coletivos.
Nas ações de estado, a coisa julgada tem efeito erga omnes, ou seja, contra todos, se forem citados
como litisconsortes necessários todos os interessados.
O estado da pessoa está ligado de tal forma à personalidade que ninguém pode ter um estado para
alguns e outro para outros. Ex.: ser casado perante alguns e divorciado perante outros.
Não são atingidas pela coisa julgada as sentenças que julgam relações continuadas, que se
protraem no tempo, as quais só podem ser revistas se houver alteração na constituição de estado de
fato. É uma aparente exceção.

3.3.3. O Reexame Necessário (Condição de eficácia da Sentença)


A lei estabelece em determinadas situações uma condição para que a sentença transite em julgado,
é o duplo grau de jurisdição, ou reexame necessário, ou remessa oficial, ou recurso de ofício, o
qual não tem natureza de recurso, pois é condição para que certas sentenças transitem em julgado.
As causas sujeitas ao reexame necessário, de acordo com as modificações operadas pela Lei n.
10.352/01, são:
Sentenças desfavoráveis às Fazenda Públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios;
Sentenças que julgarem procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal das
respectivas fazendas públicas;
Segundo a jurisprudência dominante, o reexame necessário se dá em favor da pessoa jurídica de
Direito Público, daí decorrer que do reexame necessário não pode haver agravamento da
condenação ou situação da pessoa jurídica de Direito Público (Súmula n. 45 do STJ). Seria
fenômeno análogo à reformatio in pejus.
A jurisprudência é controvertida acerca do cabimento de embargos infringentes em acórdãos não unânimes
proferidos em reexame necessário. O STJ tem entendimento no sentido de descabimento, pois a matéria é
muito controvertida. Todavia, a Súmula 77 do extinto Tribunal Federal de Recursos admite os embargos
infringentes em sede de acórdão não unânime que julga reexame necessário.
As previsões de reexame necessário, alteradas pelo novo texto do artigo 475, visam a
dinamizar a prestação jurisdicional e proteger apenas a pessoa jurídica de direito público interno
nos casos que dispõe, senão vejamos:
Da Anulação de Casamento: a nova redação exclui do rol de causas de reexame
necessário a sentença que anula o casamento, como forma de reduzir o controle estatal relativo a
este instituto de direito civil. É bom deixarmos claro que a matéria caiu em desuso no sistema civil
em face da possibilidade do divórcio. A matéria só possuía relevância jurídica quando o vínculo
matrimonial era indissolúvel. (EC n. 9/1977).

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Da abrangência da Administração Pública: de acordo com o novo texto, a abrangência


das sentenças objeto de reexame subsume-se à definição da doutrina em relação ao termo Fazenda
Pública, assim considerada a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações, excluindo-se as sociedades de economia mista e empresas
públicas. Assim, somente as sentenças de qualquer natureza proferidas contra as Fazendas
Públicas serão objeto de reexame. As disposições do novo texto encontram-se previstas no artigo
41 da Lei n. 10.406/02 (Novo Código Civil).
Dos embargos contra execuções da Fazenda Pública: os embargos objeto de reexame,
de acordo com o artigo, são somente aqueles em que se verifique procedência parcial ou total, não
estendido o reexame às sentenças de extinção da execução (art. 795, do CPC).
Das causas com valores inferiores a 60 (sessenta) salários mínimos: Determina o novo
texto do art. 475 que, nas causas de valor certo em que a condenação ou o direito controvertido (e
não o valor atribuído à causa na inicial) forem inferiores a 60 vezes o salário mínimo, não haverá
reexame necessário. Assim, é o valor da condenação que determinará a aplicação ou não das regras
atinentes ao reexame necessário. Observa-se que, em relação à procedência dos embargos às
execuções propostas pela Fazenda, o valor de 60 salários mínimos será auferido sobre o valor da
dívida exeqüenda, se os embargos versarem o total da dívida, e sobre a parcela do valor contestado
na pretensão executiva, quando os embargos se referirem a parcela desta, para fins de aplicação
das regras de reexame, de acordo com a doutrinadora Tereza Arruda Alvim Wambier e Luiz
Rodrigues Wambier.
O instituto visa trazer ao reexame dos tribunais apenas questões com relevância macroeconômica,
evitando procrastinar feitos que, sob este ponto de vista, não têm grande interesse para os
tribunais, todavia auxiliam em muito a maior parcela do jurisdicionado. Tais ações, todavia,
permanecem sujeitas ao reexame voluntário.
Da contrariedade à Jurisprudência: O reexame necessário não se aplicará nos casos de
existência de Súmulas vigentes dos tribunais superiores, ou do Supremo Tribunal Federal; em
relação ao Pretório Excelso, igualmente não se aplicarão as regras a respeito do reexame, quando a
decisão de 1.º grau for consoante a jurisprudência de seu “Pleno”. Embora contestável por grande
parte da doutrina, para determinada parte desta, tal previsão justifica-se, pois, ainda que por vias
reflexas, está pretensamente atendida uma das finalidades do princípio do duplo grau de jurisdição,
qual seja, a revisão e adequação da decisão da sentença de primeiro grau no que tange às questões
de direito, por juízes mais experientes.

3.4. Eficácia Preclusiva da Coisa Julgada


Consiste na impossibilidade de se rediscutirem as questões e os fundamentos que foram ou poderiam ter
sido alegados, quer como fundamento da defesa, quer como fundamento do pedido, em ações posteriores.
Coisa julgada propriamente não é, pois o limite objetivo da coisa julgada é o dispositivo. Preclusão também
não é correto dizer que seja, uma vez que seus efeitos são exclusivamente dentro do processo. Logo,
conjugando-se o princípio da eventualidade, com o conceito de preclusão, e atendendo ao princípio
plurivalente em nosso direito, que determina a necessidade de segurança nas relações jurídicas, obtém-se o
que se denomina eficácia preclusiva da coisa julgada, verdadeira preclusão sui generis que projeta seus
efeitos para fora do processo, em relação à impossibilidade de rediscussão de fundamentos suscitados ou
não em outras ações.

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