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1. Origem do Termo
2. Definição
A ciência e a arte da interpretação bíblica. (Henry Virkler)
4. A Necessidade da Hermenêutica
Um dos maiores motivos por que a Bíblia é um livro difícil de entender é o fato
de ser antigo. Alguns dos livros foram escritos há mais ou menos 3.400 anos, sendo
que o último deles (Apocalipse) foi escrito há cerca de 1.900 anos. Isso mostra que,
na hermenêutica, precisamos tentar transpor vários abismos que se apresentam
pelo fato de termos em mãos um livro tão antigo.
Bíblia relata os milagres de Deus e suas predições sobre o futuro. Ela também fala
de verdades difíceis de ser assimiladas, tais como a Trindade, as duas naturezas
de Cristo, a soberania de Deus e a vontade humana. Todos estes fatores,
somados a outros, agravam a dificuldade que temos de entender plenamente todo
o conteúdo das Escrituras.
5. A Tarefa da Hermenêutica
A tarefa da hermenêutica é:
Quando estudar a Bíblia, deixe-a falar por si mesma. Não lhe acrescente nem
lhe subtraia nada. Deixe que a Bíblia seja o seu próprio comentário. Compare
Escritura com Escritura.
Esse princípio se aplica hoje para toda e qualquer experiência que alguém
possa ter com Deus. As experiências precisam ser avaliadas à luz das Escrituras, e
não as Escrituras à luz das experiências. As Escrituras definem a doutrina, e as
experiências atestam a sua validade.
Berkhof entende que pelo fato da Palavra de Deus ter se originado de modo
histórico, ela só pode ser entendida à luz da história. Ele entende que no processo
de interpretação é preciso levar em conta o lugar, o tempo, as circunstâncias e as
concepções prevalecentes do mundo e da vida em geral dos escritores e
destinatários.
No capítulo onde trata do pano de fundo histórico e cultural das Escrituras,
Grant Osborne diz: “Considerando-se que o cristianismo é uma religião histórica, o
intérprete deve reconhecer que uma compreensão da história e cultura dentro da
qual a passagem foi produzida é um instrumento indispensável para descobrir o
significado de tal passagem” (p.198).
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Exemplos: Gl 1.6-9 – Que outro evangelho era esse? Alguns judeus convertidos à
fé cristã (judaizantes) passaram nas igrejas da Galácia e ensinaram que, além da fé
em Jesus, os crentes gentios deveriam guardar a lei de Moisés e se circuncidar para
serem salvos (At 15.1; Gl 5.1-6).
Gordon Fee fala desse mesmo princípio sob o título “Contexto Literário”. Para
ele, as palavras somente fazem sentido dentro de frases, e, na sua maioria, as
frases na Bíblia somente tem significado em relação às frases anteriores e
posteriores.
Robert Stein diz que “o significado específico de uma declaração é
determinado pelo contexto”. É através do contexto (frase, parágrafo, capítulo) que o
autor revela o significado específico pretendido.
Berkhof diz que “a Bíblia foi escrita em linguagem humana e
consequentemente deve, antes de tudo, ser interpretada gramaticalmente”. Para ele
a interpretação gramatical inclui o estudo do significado das palavras isoladas
(etimologia, uso corrente das palavras, o uso de palavras sinônimas) e o significado
das palavras no seu contexto.
Cada escritor sagrado teve uma razão particular para escrever seu livro. No
desenvolver de sua argumentação há uma conexão lógica entre uma seção e a
seguinte. Sendo assim, a passagem precisa ser interpretada em harmonia com o
seu contexto. Esta é uma das regras essenciais de interpretação.
Exemplos: Is 41.6 – Nessa passagem, quem ajudou quem? Quem animou quem?
Mt 6.33 – A expressão “todas estas coisas” é uma referência a quais
coisas?
Ef 3.1-4 – Nessa passagem, o que é o “mistério de Cristo”?
Jo 10.10 – Nesse versículo, o “ladrão” é uma referência a quem?
Exemplos:
Fé
Gl 1.23 – a doutrina do evangelho.
Rm 14.23 – convicção de que é isto que Deus quer que se faça.
1Tm 5.11, 12 – penhor ou promessa feita ao Senhor.
Sangue
Hb 9.6, 7 – fluido vermelho que circula nas veias e artérias dos animais
Ef 1.7 – morte expiatória de Cristo
Mt 27.4 – pessoa inocente
Carne
Gn 2.23, 24 – uma referência à carne que compõe corpo humano.
Rm 8.5-8 – Uma referência à “natureza pecaminosa” do ser humano.
At 2.17 – Uma referência às pessoas.
Jo 1.14 – ser humano.
Rm 9.8 – nascimento natural.
Hb 5.7 – vida neste mundo.
Jd 7 – imoralidade sexual.
Atividade
- Leia Rm 15.1; 14.1-6; 13-23 e responda: Quem são os “fracos” e quem são os
“fortes”?
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Berkhof entende que há muita coisa que não pode ser explicada mediante
uma interpretação histórica e gramatical, como por exemplo, o fato de ser a Bíblia a
Palavra de Deus; o fato de que a Bíblia é um todo orgânico, do qual cada livro em
particular, é parte integrante; o fato de que o VT e o NT se relacionam como tipo e
antítipo, profecia e cumprimento, germe e perfeito desenvolvimento. Por esta razão,
diz ele, “não é apenas perfeitamente possível, mas absolutamente necessário,
complementar a interpretação histórica e gramatical com um terceiro tipo – a
interpretação teológica”.
Virkler diz que a análise teológica estuda o nível de compreensão teológica
na época da revelação a fim de averiguar o significado do texto para seus primitivos
destinatários. Para isso, ela leva em conta textos bíblicos relacionados, quer dados
antes, quer dados depois da passagem em estudo. Para Virkler, a pergunta
fundamental feita na análise teológica é: “Como esta passagem se enquadra no
padrão total da revelação de Deus?”
Portanto, “uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que
resuma e inclua tudo o que a Escritura diz sobre ela" (HENRICHSEN, 7ª edição,
1997, p.64). Nessa mesma linha de raciocínio, Osborne declara que “as doutrinas
não devem ser formuladas em cima de uma única passagem, mas, ao contrário,
devem resumir tudo o que as Escrituras afirmam sobre o tema em questão” (p.35).
Exemplos:
Rm 3.28; 5.20; 10.4; Gl 5.18 – A graça de Deus nos livra de qualquer obrigação de
vivermos uma vida santa e disciplinada? (Rm 6.1-4)
Jo 14.13, 14; 16.23 – Temos aqui a garantia que receberemos tudo que pedirmos
em nome de Jesus? Tudo que pedirmos em nome de Jesus, inevitavelmente,
receberemos? (Jo 15.7; 1Jo 5.14, 15; Tg 4.3)
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V. Análise Literária
1. Parábolas
A parábola é um tipo de linguagem figurada em que se fazem comparações.
É uma história baseada em fatos do cotidiano com o objetivo de ilustrar e aclarar
uma verdade. Pode-se ainda dizer que parábola é uma forma literária imaginária
composta de duas partes: Uma de ficção (a história em si mesma), e, outra, real (a
comparação com a qual é parecida).
- Ocultar a verdade “aos de fora”, aos que endurecem o coração contra ela.
Osborne diz que nas controvérsias com os líderes e com o Israel incrédulo,
uma grande parte do objetivo das parábolas era esconder a verdade deles. Esse era
um julgamento divino sobre um Israel teimoso, comparável ao julgamento do faraó
(Osborne, p.376-377). Por rejeitarem a mensagem de Jesus, Deus endurecia ainda
mais o coração deles por meio das parábolas.
No entanto, parece claro que Jesus tinha um objetivo maior aos usar parábola:
desafiar o povo e suscitar-lhe uma resposta. As multidões são forçadas a tomar
uma decisão pró ou contra Jesus; as parábolas as toca e as leva à decisão.
OBS. Hoje temos consciência que os autores dos evangelhos não eram simples
redatores dos ensinos de Jesus, mas também seus intérpretes. Cada evangelista se
sentiu livre para explicar, esclarecer, aplicar, abreviar ou reordenar esses materiais,
sob a orientação do Espírito de Deus.
Em algumas ocasiões os evangelistas pegaram uma parábola de Jesus,
originalmente endereçada a um público específico, e aplicaram o mesmo padrão de
significado a uma nova situação.
Exemplos: Parábola da ovelha perdida (Lc 15.3-7; Mt 18.12-14)
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(1) Sendo Jesus um pregador itinerante, ele poderia usar parábolas em mais
de um lugar. Se o caso foi, então não se trata da interpretação dos
evangelistas, mas do próprio Jesus.
(2) Não possuímos licença para retirar as parábolas de seus cenários
históricos e interpretar múltiplos significados nelas.
2. Provérbios
(Robert H. Stein)
(Grant R. Osborne)
“Por sua própria natureza, eles são afirmações genéricas cujo propósito é
aconselhar, e não estabelecer códigos rígidos pelos quais Deus opera”
(Grant R. Osborne)
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Pv 22.6 – Todos os filhos de crentes que aprende dos pais através do ensino
e do exemplo correspondem positivamente? Não! (Vejamos os casos de Eli e
Samuel). No entanto, na maioria dos casos, os filhos que foram instruídos, seguirão
a fé dos seus pais.
Exemplo:
3. Profecia
Exemplos:
Ap 6.12-14 – Sabe-se hoje que muitas estrelas são maiores que a terra e
que a abóbada da terra é uma ilusão de ótica.
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Exemplos:
Jn 3.4 – No caso dessa profecia de Jonas não havia uma promessa explícita
de que, se o povo se arrependesse, seria poupado. As profecias de julgamento são
condicionais. A regra para esse tipo de profecia encontra-se em Jeremias 18.7-10.
Dn 2.36-45
Sendo assim, pressupomos que o Espírito Santo sabia o que estava fazendo
e que esse gênero literário serve bem ao propósito de Deus no processo de sua
revelação ao ser humano.
O relato de At 2.1-4 não deve ser usado como a base sobre a qual se constrói
a doutrina do "dom de línguas", mas, sim, 1Co 12.8-10, 28-30.
Outra maneira que o autor dá dicas de como a narrativa deve ser interpretada
pelo leitor é pela repetição de temas.
Exemplo:
(2) A declaração repetida em Juízes 17.6; 18.1; 19.1; 21.25 ajuda os leitores a
compreenderem a intenção do autor. Sua intenção era mostrar que a ausência de
um rei resultou em anarquia. Assim, ele prepara seus leitores para a chegada da
monarquia.
5. Salmos
O livro dos salmos é uma coletânea de orações e hinos hebraicos inspirados.
Sem dúvida, é o maior livro da Bíblia e consiste de 150 salmos individuais
organizados em cinco livros (1-41, 42-72, 73-89, 90-106, 107-150). O número maior
de salmos é atribuído a Davi (73), mas outros são atribuídos a Asafe (12), aos filhos
de Core (11), a Salomão (2) e a Moisés (1).
Por serem basicamente orações e hinos, os salmos, pela sua própria
natureza, são dirigidos a Deus ou expressam verdades acerca de Deus em cântico.
Pelo fato de não serem proposições, nem imperativos, nem narrativas, os salmos
não funcionam primariamente para ensinar doutrina ou comportamento moral. Eles
são proveitosos quando corretamente empregados para os propósitos objetivados
por Deus que os inspirou. São de grande benefício para o cristão que deseja ter
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Portanto devemos tomar cuidado para não colocarmos exegese de mais nos
salmos a ponto de achar significados especiais em toda a palavra ou frase.
Devemos lembrar que a natureza da poesia hebraica sempre envolve paralelismo.
(6) Salmos de Sabedoria – Existem 8 salmos que podem ser incluídos nessa
categoria. Eles podem ser lidos lado a lado com o livro de provérbios (Sl 36, 37, 49,
73, 112, 127, 128, 133).
(7) Cânticos de Confiança – São 10 os salmos dessa categoria. Eles focalizam
sua atenção no fato de que se pode confiar em Deus, e que mesmo em tempos de
desespero, Sua bondade e Seu cuidado sua bondade e seu cuidado para com o seu
povo devem ser expressados (Sl 11, 16, 23, 27, 62, 63, 91, 121, 125, 131)
- Eram documentos pseudônimos. Ou seja, para dar maior credibilidade aos seus
escritos, os autores desses escritos apocalípticos usavam o nome de um grande
herói da história.
Exemplos:
- Quem é a besta? O que são as sete cabeças e os dez chifres? (13.1; 17.1-18)
I. Aplicação
Referências Bibliográficas
KAISER Jr., Walter C., SILVA, Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São
Paulo : Cultura Cristã, 2002.