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A depressão, nas suas várias formas clínicas, assume, hoje em dia, proporções
inimagináveis. Ou talvez nem tanto, por existirem muitos casos diagnosticados
como sendo de depressão, quando, de facto, se trata de outras situações. Ou
por existirem muitas pessoas convencidas que sofrem de depressão porque
tomam anti-depressivos. Ou pela enorme confusão entre uma tristeza saudável
reactiva às situações de vida e uma perturbação do humor com foros de
patologia. Ou, ainda, pela absorção de uma evidência cultural moderna que nos
impele à eliminação rápida e imediata de qualquer emoção desagradável,
definindo essas emoções como doentias.
No entanto, e apesar de tudo, permanece o facto de que cada vez mais pessoas
se encontram medicadas e em tratamento de uma situação depressiva. As
perturbaçõ1es do humor, onde se incluem depressões major, distimias e
bipolaridade exigem, pela sua elevada incidência e, muitas vezes, significativa
gravidade, que os psicólogos se mantenham muito actualizados, do ponto de
vista científico e focados na procura permanente de soluções mais eficazes, mais
rápidas e mais abrangentes.
Se verificar que permanece mais de duas semanas com várias destas queixas
a aborrecerem-no(a)… se calhar, este texto já o(a) está a ajudar a
compreender que poderá estar a precisar de ajuda especializada.
E, se está a pensar que não tem idade nem tempo para ter depressão
informamo-lo(a) desde já: a depressão não escolhe idades e pode durar desde
alguns meses a alguns anos (infelizmente, com falta de tratamento adequado é
bem possível que a situação se arraste indefinidamente)! De acordo com a sua
duração divide-se em episódica, recorrente ou crónica. A importância do
tratamento desta perturbação relaciona-se também com uma das suas
consequências mais graves: o suicídio. Sabemos que morrem em Portugal, por
ano, 1200 pessoas através de suicídio.
Sintomas frequentes
Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias
Diminuição de interesse ou prazer em quase todas as actividades
Perda de peso (sem dieta) ou aumento de peso significativo
Diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias
Insónia ou hipersónia (necessidade de dormir muito) quase todos os
dias
Inibição/lentidão de movimentos
Agitação
Náuseas, alterações gastro-intestinais
Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva quase todos os dias
Pensamentos recorrentes acerca da morte, ideias de suicídio ou
tentativas de suicídio
Estar deprimido é algo que cada vez mais frequentemente utilizamos para
descrever o nosso estado de tristeza. A depressão é, cada vez mais, vista
como o flagelo das sociedades modernas, adquirindo recentemente, e de forma
meteórica, o estatuto da constipação da saúde mental, pela sua frequência na
nossa população. É amplamente reconhecido pela comunidade psi
(profissionais de saúde mental) que a utilização deste termo como rótulo ou
descritivo é, de um modo geral, abusiva na forma como as pessoas a utilizam.
Surpreendente para muitos será a recente demonstração científica de que este
uso abusivo do diagnóstico de depressão estará presente, também, na
comunidade de profissionais de saúde mental.
Para fazer o diagnóstico de perturbações psicológicas, a maioria destes
profissionais apoia-se no DSM-IV TR, o manual psiquiátrico que contém os
critérios de diagnóstico para as perturbações psicológicas e psiquiátricas.
Quando um cliente reúne um determinado conjunto de critérios, estão criadas
as condições para a atribuição de um dado diagnóstico. Embora para algumas
perturbações estes critérios sejam considerados por vários profissionais como
ambíguos, ou pouco claros, os critérios diagnósticos para a depressão têm
encontrado pouca oposição fundamentada cientificamente. Uma investigação
conduzida recentemente na Universidade de Nova Iorque veio dar credibilidade
a uma corrente de opinião no seio da Psicologia e Psiquiatria que defende que
os critérios do DSM-IV TR para a depressão conduzem a demasiados
diagnósticos falsos-positivos. Na opinião deste grupo de autores, os critérios do
DSM-IV TR estarão elaborados de uma forma insuficientemente específica, o
que leva a que que estados normais de tristeza como consequência de perdas
na vida (ex. viuvez, desemprego, divórcio) sejam diagnosticados de forma
errónea como depressão major.