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Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais PUC Minas

Disciplina: Seminário de Tese


Professor: André Caetano
Aluna: Clarissa dos Santos Veloso
Seminário ‘Teses Premiadas’

Roteiro
Na medida do possível, extraia sucinta e sinteticamente da tese selecionada os
elementos elencados abaixo. Na medida de uma estrutura muito diferente ou
amorfa, roteirize você mesma os elementos a serem extraídos. Limite máximo: 2
páginas.

1. Tema/Problema 7. Quais são as três principais razões,


2. Questão/Hipóteses na sua consideração, de esta tese ter
3. Objetivos específicos sido premiada?
4. Aportes/suportes teóricos 8. Pensando a partir de seu projeto de
fundamentais tese, o que mais chamou a sua
5. Eixo analítico-metodológico atenção nesta tese? Por quê?
6. Os três principais resultados, na
sua perspectiva

Na tese Paisagem-postal: a imagem e a palavra na compreensão de um Recife


Urbano, Veras (2014) tem como ponto de partida transformações urbanas recentes no
Recife. Elas dizem respeito, resumidamente, a projetos e processos de verticalização de
uma região da cidade. A autora trabalhou com um recorte específico do centro histórico
do Recife: as bordas do Cais de José Estelita e o Cais de Santa Rita, que tangenciam o
Sítio Histórico Santo Antônio - São José. Ali foram construídos, em 2007, os Piers
Maurício de Nassau e Duarte Coelho (alcunhados torres gêmeas), edifícios de 41
pavimentos cada. O sítio mencionado guarda o maior acervo de monumentos tombados
do Recife, notadamente religiosos do século XVIII, mas as bordas não foram nele
inseridas e nem incluídas como área de transição. Desconsiderou-se, assim, a histórica
relação do Recife com suas águas, a horizontalidade daquela zona e a percepção das
pessoas quanto à paisagem recifense e à preservação e conservação da paisagem urbana.
A partir do conceito de paisagem, Veras (2014) objetiva capturar a noção de
paisagem urbana com vistas à sua conservação, identificando “paisagem-postais” na
cidade do Recife, a partir da imagem e da palavra a elas subjacentes, materializadas
como paisagens com valor e também, de “cartão-postal”. A compreensão de paisagem
na tese atenta para o sensível e subjetivo, abarcando o emotivo, as memórias, a
sensorialidade e as dimensões olfativa e auditiva, além da visual.
A pesquisa teve como questões orientadoras as seguintes perguntas: o que seria
afinal uma paisagem com valor de “cartão-postal” que, ao identificar uma cidade,
deveria ser conservada?; como conciliar tempos distintos de uma paisagem que, entre
permanências e mudanças, revela diferentes formas de apropriação do espaço?; o que
seria uma “paisagem-postal” que, para além das duas dimensões da materialidade do
objeto – “cartão-postal” –, expressa o que deveria ser conservado e protegido
legalmente numa cidade?
Tomou-se como hipótese guia a existência de paisagens que identificam cidades
– como assinaturas urbanas ou impressões digitais –, e contribuem para isso as
paisagens reveladas nos cartões-postais, divulgadores de imagens e memórias urbanas.
Assim, a paisagem especial, cuja apreensão pelo olhar é complementada pela totalidade
dos cinco sentidos, e esta apreensão se dá por um processo de reconhecimento coletivo,
leva a constatar que não se está mais diante de um Cartão-postal, mas diante de uma
Paisagem-postal.
O conceito de paisagem – “feita de coisas e de pessoas, não reside apenas no
objeto, nem tão somente no sujeito, mas da interação complexa entre eles, em diversas
escalas de tempo e de espaço implicando tanto uma instituição mental da realidade
quanto a constituição materializada nas coisa” (VERAS, 2014, p. 24) – foi basal para a
pesquisa. Por meio dele as noções de arte e de empiria foram abordadas, para
desdobrarem, respectivamente, nas duas categorias guias das técnicas de pesquisa
empírica empreendidas: a imagem e a palavra. A compreensão teórica da paisagem
tomou como ponto de partida a relação entre natureza e paisagem definida por Georg
Simmel. Em seguida, apoiou-se nas teorias de paisagem de Augustin Berque e de
paisagem urbana, de Anne Cauquelin e Gordon Cullen.
A captura da noção de paisagem foi realizada a partir das duas categorias
orientadoras, a imagem e a palavra, para se identificar possíveis passagens-postais e, em
especial, confirmar se São José e Santo Antônio funda-se como uma paisagem que
identifica o Recife. Para tal, foram realizadas técnicas de pesquisa que utilizaram
cartões-postais, intervenções em imagens (denominada produção de fotopinturas),
discussões sobre imagens e escolha de imagens representativas da paisagem recifense
pesquisada e de outras paisagens urbanas (designada de máscaras de preferência visual)
e entrevistas, nas quais coletou-se representações e reflexões sobre a paisagem e suas
mudanças e permanências, bem como dados sóciodemográficos1. Os 78 sujeitos
pesquisados foram distribuídos em três grupos. Arquitetos, legisladores e
empreendedores imobiliários compuseram o grupo 1. O grupo 2 agrupou fotógrafos,
cineastas, pintores, escritores e intelectuais em geral. Moradores e comerciantes do
bairro São José, residentes das torres gêmeas e moradores de Recife e Olinda formaram
o grupo 3.
Os instrumentos de empiria descritos, orientados pela perspectiva
fenomenológica de Merleau-Ponty quanto à coleta e análise de dados, consistiram na
tentativa de extração da paisagem que está dentro das pessoas. Partiu-se da
compreensão de que cada indivíduo encontra em si o complemento daquilo que vê.
Entre o que se vê e o que se sente, a captura da noção de paisagem nos levaria, então, a
descoberta de Paisagens-postais. O material coletado foi inter-relacionado, mesclando-
se as informações obtidas pelos diversos instrumentos, e submetido à análise de
conteúdo, a partir da qual foi possível identificar tendências para os grupos, compará-
los, elaborar esquemas e categorias de análise a partir de conjuntos de respostas, etc.

1
Ver o capítulo 3 da tese para detalhamento sobre a metodologia adotada por Veras (2014).
Os resultados obtidos levaram à confirmação da hipótese. A partir da análise do
corpus, na qual confrontaram-se as representações verbais e imagéticas e as teorias
sobre paisagem, arte e empiria, concluiu-se que pessoas guardam paisagens, formadas
tanto pela materialidade, de monumentos históricos, por exemplo, quanto pela
imaterialidade, expressa pelas interações sociais e pela vida vivida no espaço. As
construções de paisagens postais levam em conta a mescla de memórias individuais,
concernentes ao sujeito e suas experiências, e também coletivas. Quanto ao Recife e à
região estudada, constatou-se que a arquitetura dos monumentos de valor histórico em
São José e Santo Antônio formam uma paisagem-postal que exclui as modernas torres
gêmeas, que preza pela horizontalidade e que inclui céu e mar como elementos
essenciais. Os novos edifícios, no entanto, começam a ser incorporados pelas
representações da paisagem da linha de borda São José - Santo Antônio.
Acredito que a tese lida e aqui sintetizada foi premiada por três razões. Primeiro,
destaco a criatividade metodológica da pesquisa e sua conexão pertinente com a teoria
da paisagem. Além disso, o processo de pesquisa foi descrito com riqueza de detalhes
pela autora no que tange todos seus aspectos: construção dos instrumentos de pesquisa e
suas referências teóricas; procedimentos de coleta de dados; seleção de sujeitos
pesquisados e adaptação das técnicas consoante os grupos já citados; elaboração de
quadros e esquemas de análise, etc. A capacidade criadora da metodologia de Veras
(2014) me fez refletir sobre a metodologia do meu projeto de tese e as várias
possibilidades de instrumentos de pesquisa que existem.
O tom reflexivo e crítico da tese quanto à processos de verticalização das
cidades é outro atributo digno de nota. A autora relaciona o caso da construção das
torres gêmeas no Recife com mudanças em outras cidades do Brasil e do mundo. Ela
também discute, ainda que brevemente, processos de patrimonialização e a inserção da
categoria de paisagem em debates sobre patrimônio e tombamento.
Por fim, cabe elogiar a clareza do texto, bem escrito e articulado, e a organização
dos capítulos. Cada um apresenta, ao final, uma espécie de síntese. Contudo, a tese é
extensa, contendo 467 páginas. O excesso de páginas decorre de uma revisão teórica
exaustiva, que poderia ser mais objetiva, e de longas descrições de dados coletados nos
capítulos 4, 5 e 6, que também carecem de condensação.
Essa fragilidade me impele pensar a organização e extensão do estado da arte do
meu projeto de tese, visto que achei fatigante ler o capítulo teórico (cap. 2). Nesse
sentido, acredito que referenciais teóricos podem ser diluídos ao longo dos outros
capítulos, em intersecção com a análise de dados, por exemplo. Penso que capítulos
teóricos devem ser concisos, mas bem esquematizados em termos de autores citados e
de abordagens de temas e conceitos.

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