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GASPARD MONGE E A
SISTEMATIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NA
ARQUITETURA
ELIANE PANISSON
Orientador
FERNANDO FREITAS FUÃO
ELIANE PANISSON
GASPARD MONGE E A
SISTEMATIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NA
ARQUITETURA
Orientador
FERNANDO FREITAS FUÃO
ELIANE PANISSON
GASPARD MONGE E A
SISTEMATIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NA
ARQUITETURA
Banca Examinadora:
Considering that there are distortions in the original Monge lessons exposition in
Géométrie descriptive following handiwork and that its representation concepts
determinate limits to the space comprehension that imply the Architecture itself, this
study gives opening to Monge’s original theory resignification in the Architecture
teaching.
Figura 1.1 – Representação das ordens das colunas dos estudos de Vitruvius de Cesare Cesariano
(1521) .....................................................................................................................................................62
Figura 1.2 – Método de construção da perspectiva exposto no De Pictura, do século XVI, de Leon
Battista Alberti. .......................................................................................................................................64
Figura 1.3 – Construção das projeções de um cubo em posição genérica (Figuras LIII e LIV que
ilustram De prospectiva pingendi). .........................................................................................................67
Figura 1.4– Construção das projeções e das seções horizontais de uma cabeça humana (Figuras
LXIII e seguintes que ilustram De prospectiva pingendi).......................................................................68
Figura 1.5– Desenhando o alaúde, gravura extraída da ‘maneira de medir’ da obra Under Weysung
der messung mit dem Zirckel und richt/Scheyt, edição de 1525. ..........................................................69
Figura 1.6 – Desenhando a mulher nua, gravura extraída da ‘maneira de medir’ da obra Under
Weysung der messung mit dem Zirckel und richt/Scheyt, edição de 1538. ..........................................70
Figura 1.7 – Representação em perspectiva com método prático, extraída do Le premier tome de
l’Architecture (DE L’ORME, 1567)..........................................................................................................70
Figura 1.8 – Carta da Holanda de 1575, sugerindo a compreensão do espaço com o conhecimento da
axonometria, revelada na posição do observador que se coloca dentro de um espaço em
representação axonométrica..................................................................................................................72
Figuras 1.9 – Assentamento de peças dos arcos, ilustração de l’Orme (1561, p. 8). ...........................74
Figuras 1.10 – Assentamento de peças dos arcos, ilustração de l’Orme (1561, p. 11). .......................74
Figuras 1.11 – Determinação de ‘círculos alongados’, ilustração de l’Orme (1561, p. 13). ..................74
Figuras 1.12 – Outra maneira de determinar ‘círculos alongados’, ilustração de l’Orme (1561, p. 14).74
Figura 1.13 – Representação para determinar tamanhos reais das partes de uma abóboda, ilustração
de l’Orme (1576).....................................................................................................................................75
Figura 1.14 – Ponte de Vicenza, representação de Palladio.................................................................75
Figura 1.15 – Exemplo de traçado da perspectiva inventado por Desargues, extraído de um pequeno
folheto de doze páginas publicado com o título de L’exemple de l’une des manières universelles du
S.G.D.L., em Paris (1636). .....................................................................................................................77
Figura 1.16 e 1.17 – Perspectiva e fachada com os princípios teóricos sobre o corte das pedras,
propostos por Desargues (1640)............................................................................................................77
Figura 1.18 - Representação da solução de problema construtivo, apresentada por Jousse (1642,
p.51). ......................................................................................................................................................78
Figura 1.19 – Interpretação gráfica (em perspectiva e projeções ortogonais) da idéia de Descartes,
explicada sem desenho ilustrativo em um parágrafo da sua obra La Géométrie (1664,p.64) ..............79
Figura 1.20 – Representações apresentadas por Bosse (1643, p. XLII, à esquerda e p. XLUV, à
direita).....................................................................................................................................................80
Figura 1.21 – Teorema sobre a projeção ortogonal de linhas curvas no espaço. (FRÉZIER, 1737,
tomo I, livro II, prancha 16).....................................................................................................................82
Figura 1.23 e 1.24 – Projeções ortogonais e axonometria. ...................................................................90
Figura 1.25 – Habitações coletivas de Le Corbusier em Bordeaux-Pessac..........................................93
Figura 2.1 – Newton de Blake (1795). .................................................................................................163
Figura 2.2 – Cenotáfio de Newton de Étienne Louis Boulée. Essai sur l’art. ......................................174
11
INTRODUÇÂO..........................................................................................................14
1 PROBLEMÁTICA........................................................................................................................17
2 JUSTIFICATIVA.........................................................................................................................30
3 HIPÓTESE..................................................................................................................................35
4 OBJETIVOS................................................................................................................................36
4.1 Objetivo Geral .....................................................................................................................36
4.2 Objetivos Específicos ..........................................................................................................36
5 METODOLOGIA .........................................................................................................................37
6 ESTRUTURA DA TESE .............................................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................246
ANEXO 1..................................................................................................................257
ANEXO 2..................................................................................................................261
ANEXO 3……………………………………………………………………………..…....269
14
O que ultrapassa os limites de cada teoria pode vir a ser considerado não
saber, entendido como irrepresentável. A geometria descritiva, por exemplo, pode
ser entendida como uma teoria que coloca a representação do espaço em códigos
previamente definidos e cuja decodificação esta previamente delimitada.
1
MONGE, G., Géométrie Descriptive. Paris: Baudoin, 1799.
16
Assim, uma das partes deste estudo está próxima das ciências exatas ao
passo que na outra a natureza do desenvolvimento assemelha-se aos problemas
filosóficos. A arquitetura mantém interveniências com ambas. Trata-se de uma união
de áreas do conhecimento que se apóiam, enquanto os enunciados da teoria da
representação de Monge ultrapassam os limites que lhe deram origem.
1 PROBLEMÁTICA
2
Comenta-se sobre sistemas de representação na parte I, capítulo 1 deste trabalho, o qual é
dedicado ao delineamento conceitual de representação na arquitetura.
3
“Desde el nacimiento de la ciencia moderna, con Galileo y Kepler, la relación entre realidad y
conocimiento, su origen, su método, sus límites, ha sido siempre compleja. Esta relación tan variable
a lo largo de las diversas épocas ha llevado siempre en su naturaleza una disputa, una discusión
irreconciliable en la que el conocimiento parece ganar siempre la batalla, pero donde la realidad
permanece siempre unos pasos por delante sin dejarse atrapar. [...] el mundo real, no se adapta
enteramente a nuestros modelos, en el que por mucho que estrechemos la trama de la red, la
realidad siempre encuentra un hueco por el que escapar.
Esta relación entre modelo y realidad no se ha dado exclusivamente em el campo de la ciencia, sino
que también ha sido un debate de importancia para el arte. Debate que, en ambos casos, está atado
a um inevitable vínculo temporal si pensamos que cada época tiene sus propias preocupaciones, que
no existe conocimiento si no se há formulado antes una pregunta, si no existe un interrogante al que
dar respuesta. Este interrogante marca y dirige las búsquedas y tiene, ineludiblemente, una relación
directa con las inquietudes de la época em que se formula.”
20
4
“Por razones históricas, que hay que remontar a la genial aportación de Gaspard Monge, el sistema
diédrico o de doble proyección, que también se ha dado en llamar sistema de Monge, se ha
considerado de mayor utilidad y con una categoría científica superior a la de los otros sistemas; por
contraste, las connotaciones artísticas de carácter subjetivo que habían marcado históricamente a la
perspectiva, la marginaron del rango superior que alcanzó el sistema diédrico desde los primeros
momentos de su formulación.
22
6
Monge apresenta, no programa de sua obra (1799, p.2), a geometria descritiva como uma ciência
para representar com exatidão os objetos.
7
“La idea del conocimiento como representación exacta, lleva a entender que ciertas clases de
representaciones, ciertas operaciones, son “básicas”, ‘privilegiadas” y “tienen carácter de
fundamento”, pero lo cierto es que no podemos analizar elementos como básicos sin tener un
conocimiento anterior de toda la estructura en la que están esos elementos; por eso es imposible la
noción de “representación exacta”; la elección de los elementos estará basada en nuestra
comprensión de la práctica, en vez de que la práctica esté legitimada por una “reconstrucción
racional” a partir de los elementos.”
27
8
“Construir uma epistemologia es encontrar la máxima cantidad de terreno común com otros: la
suposición de que se puede construir esa epistemologia es la suposición de que existe ese terreno, e
insinuar que no existe, parece que es poner en peligro la racionalidad.”
28
9
A partir da Géométrie descriptive, publicada em 1799, a manualística e tratados posteriores sobre a
teoria mongeana, de modo geral, são produzidos sem fazer menção específica ao seu uso para o
ensino da arquitetura.
29
2 JUSTIFICATIVA
10
“O tratado de arquitetura, do gênero criado por Alberti, será definido [...] [4] Tem por objeto um
método de concepção, a elaboração de princípios universais e de regras generativas que permitam a
criação, não a transmissão de preceitos ou receitas.” (CHOAY, 1980, p.16)
32
11
“Seremos epistemológicos donde comprenamos lo que está ocurriendo, pero queramos codificarlo
para ampliarlo, o buscarle una base [...]. En nuestro caso se puede ser epistemológico para hablar de
Geometría Descriptiva [...].”
12
No sentido que Gani (2004,p.7) problematiza a desvalorização sofrida pela geometria descritiva no
ensino, dizendo que “partimos da suposição de que o conceito peculiar à Geometria descritiva
perdeu-se entre as diferentes aplicações do método, separando, literalmente, os fundamentos dos
seus respectivos produtos.”
33
Cada arquitetura traz as marcas dos meios pelo que foi projetada, isto é, do
sistema de representação utilizado. Como exemplo, a perspectiva do Renascimento
possibilitou controlar com exatidão aspectos internos dos espaços, implicando na
solução de interiores como perspectivas com ponto de vista central. Mais tarde, com
a geometria descritiva, a grelha mongeana de origem cartesiana implica na
substituição das proporções utilizadas no Renascimento pela repetição da unidade
métrica introduzida à arquitetura. Esses entre tantos outros exemplos. “Cada
concepção arquitetônica possível, [...] será prisioneira da linguagem dos meios que a
formulamos; essa prisão não é o próprio meio – a arquitetura, o espaço -, mas sua
representação” sintetiza Martínez (2000).
13
"Más allá de la coherencia y plena madurez científica de la geometría descriptiva, han de volver a
considerarse otros argumentos de funcionalidad práctica y estética de los sistemas, así como el
equilibrio entre la precisión gráfica y la precisión matemática, claves sobre las que volveremos y que
manifiestam las diferencias substantivas entre cada uno de los sistemas."
34
14
“(...) la geometria descrittiva è stata finalmente ricondotta alla sua corretta dimensione di disciplina
fondamentale per la definizione dei modelli geometrici dello spazio, che sono alla base di qualsiasi
modello grafico descrittivo.”
35
3 HIPÓTESE
Os arquitetos esquecem que a geometria descritiva tem bases matemáticas
e a interpretam somente como desenho. Apesar de todas as críticas, a geometria
15
“Um dibujo cubista és uma técnica de representación em la que intervienen la memoria y el
movimiento. Cerrar um ojo y dibujar la imagen que el abierto ojo inmóvil, como si fuera uma imagen
plana es otra técnica de representación. Ambas podem poner-se, hasta cierto punto, em relación com
sistemas, los sistemas de proyección ortogonal y cônico, respectivamente, que abarca la geometría
descriptiva.”
36
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
5 METODOLOGIA
realidade que não foi depurada pelo estabelecimento do próprio sistema, isto é,
define os limites desse sistema de representação.
16
“Se podría decir [...] que una crítica o una deconstrucción de la representación resultaría débil, vana
y sin pertinencia si levasse a algún tipo de rehabilitación de la imediatez, de la simplicidad originaria,
de la presencia sin repetición ni delegación, si indujese a una crítica de la objetividad calculable, de la
ciencia, de la técnica o de la representación política.”
40
6 ESTRUTURA DA TESE
DESVELANDO A REPRESENTAÇÃO
ARQUITETÔNICA
CONTORNANDO CONCEITOS E
HISTÓRIA DA REPRESENTAÇÃO EM
ARQUITETURA
Boullée
Esta distinção, ainda segundo Mora (1994), parece ter-se perdido na época
moderna, embora autores como Descartes tenham deixado vestígios de seu uso
enquanto Kant recolocou os problemas epistemológicos de representação utilizando
o termo vorstellung. Essa colocação por Kant apresenta-se ambiguamente. Por um
lado parecia tratar de atos de experiência, de caráter mental e por outro de certas
estruturas. Outra palavra alemã que se traduz por representação, darstellung, que
não tem sentido psicológico, parece mais adequada para expressar o que Kant
queria dizer com representação. Então, a representação vorstellung é subjetiva e
mental enquanto darstellung é objetiva e formal.
Nesses dois sentidos que segundo Mora (1994) pode ser usada a palavra
representação, para a arquitetura consideramos o segundo adequado ao
pensamento de Oliveira (1992) que diz: representação, na arquitetura, entende-se
no sentido de tornar visível através de desenho ou modelo tridimensional, uma
imagem concebida mentalmente. O termo representação é utilizado com mais
flexibilidade do que desenho na arquitetura, pois abarca o termo desenho e estende-
se a outras possibilidades técnicas como, por exemplo, às imagens virtuais, à
fotografia ou mesmo as tradicionais maquetes.
17
”[...] el dibujo arquitectónico siempre es una simulación, uma figura reductiva y sintética a nível del
pensamiento que analiza los datos del proyecto. Simulación que, em su aspecto semiológico, se
fundamenta en la utilización analógica e inespecífica, no convencional, del lenguage gráfico nos
momentos de ideación, y em su uso codificado, como comunicación rígida basada en el valor de
senãl de las convenciones gráficas, em los dibujos de descripción arquitectónica.”
48
18
Sistema no sentido de disposição de partes ou elementos de um todo que coordenadas entre si
funcionam como uma estrutura (FERREIRA, 1986).
19
“El término técnica se aplica a uma serie de reglas operativas que agrupadas de diversos modos
configuram um procedimiento o un método para hacer algo. [...] se parte de um repertorio abierto de
materiales disponibles y de un conjunto igualmente abierto de instruciones que permiten transformar
estos materiales de diversos modos. El conocimiento de ambos conjuntos por parte del operário, del
ejecutor, configura su domínio, su território, su capacidad de control sobre los médios y sobre los
fines.
El término sistema se aplica a un conjunto cerrado, mucho más riguroso, constituído por um conjunto
cerrado, mucho más riguroso, constituido por un repertorio de entidades estrictamente limitado y por
um repertorio de operaciones igualmente limitado. La potencia de um sistema viene dada
precisamente por este rigor estricto que asegura la coherencia absoluta entre todas las entidades
derivadas.”
50
altura; todos os corpos da natureza, que tem três, largura, altura e profundidade,com
tal que estes corpos possam ser determinados rigorosamente”. (tradução nossa)20
20
“[...] le premier, de donner les méthodes pour représenter sur une feuille de dessin qui n’a que
deux dimensions, savoir, longueur et largeur, tous les corps de la nature, qui en ont trois, longueur,
largeur et profundeur, pourvu néanmoins que ces corps puissent être definis rigoureusement.”
21
“Le second objet est de donner la manière de reconnoître d’après une description exacte les
formesndes corps, et d’en déduire toutes les vérités qui résultent et de leur forme et de leur positions
respectives.”
51
22
Origina-se a palavra do grego, Actos e Tecton significando, principal trabalhador.
52
23
“Establecer com profundidad el modelo conceptual de esta matéria, definiciones, objetivos y fines,
em nuestra sociedad de finales del siglo XX, es estabelecer uma ideologia personal, basada el el
conocimiento modo de entender, em la experiência adquirida, y ciertos fundamentos sociales y
culturales cuyas raíces remontam a muchos siglos.”
24
Sociedade Ibero-Americana de Gráfica Digital.
53
explica que, “no jargão dos escritórios, concretizar uma idéia é transcrevê-la no
papel, transladar de lá onde está, de além da vaga imagem só vista de olhos
fechados, do campo da representação para a ordem de serviço. A única matéria que
transforma, dando corpo, a idéia são os códigos do desenho para a produção – mas
transforma em transformação contínua de si, para emprestar a noção dos
matemáticos.” Decorre então que a representação não se encerra em si mesma. A
representação, segundo Foucault (1985, p.80), “é, ao mesmo tempo, indicação e
aparecer; relação a um objeto e manifestação de si”. Relação ao objeto a ser
construído e que aparece transformada, mantendo a idéia de Cattani (2001), como
instrumento do poder.
F. Hohenberg, que adota para o seu tratado, publicado em 1965, o título Geometria
constructiva aplicada a la técnica. A alteração do termo descritiva para construtiva já
havia sido proposto pelo professor E. Kruppa de Viena no ano de 1953. Concorda
com a terminologia destes dois autores G. Emmerich ao publicar seu Cours de
Géometrie constructive em 1969, do mesmo modo que A. Gheorghiu e V. Dragomir
preferem intitular de La représentation des structures constructives o seu inovador
tratado de geometria descritiva.
25
No século XVIII, em particular, são desenvolvidas certas ciências como a botânica, a zoologia e a
mineralogia como ciências descritivas destacando a importância da descrição dos fenômenos, como
oposição a simples especulação dos mesmos.
26
"És interesante recordar que, en los primeros años del siglo XIX, esta idea de descripción objetiva
va a hacer posible la realización de una empresa monumental que constituye un hito en la historia del
dibujo: la "edición imperial" con más de tres mil ilustraciones que, no por casualidad, se llamará
Description de l'Egypte [...] dirigida por el mismo Monge contará con la participación de professores y
alumnos de l'Ecole Polytechnique [...]"
55
Taton (1951, p.52) afirma que "A técnica da construção dos edifícios
requereu o esclarecimento, de métodos gráficos destinados a permitir o
desenvolvimento de projetos e facilitar a realização eficiente dos mesmos. O
aperfeiçoamento destes métodos contribuiu ao surgimento da geometria descritiva
[...]”.28 Explicando: o aparecimento da geometria descritiva consiste em uma
evolução de métodos gráficos que registravam procedimentos práticos utilizados
para resolver problemas nas edificações, tanto em pedra como em madeira. Nessa
evolução da representação29 a matemática serviu de fundamento ao trabalho de
Monge, dando um salto no conhecimento sobre representações realizadas até
então. Abre-se então uma dicotomia entre prática e teoria que nos permite refletir
sobre a terminologia geometria descritiva.
27
Conforme Gani (2004) a tradução francesa é défilement e foram encontradas duas traduções para
o termo: desfilamento e desenfiamento. Explica citando (VERNON,1813, p.167) que – “o desfilamento
consiste em conduzir o delineamento, e o relevo de huma obra de fortificação de modo que seu
interior não seja visto de algum ponto dominante do terreno E, e que conserve as propriedades que
as regras da defesa lhe assignão”; e citando (FREIRE, 1879) diz – Défilement – (Fort.)
Desenfiamento, methodo para preservar uma obra de fortificação das enfiadas.
28
“La technique de la construction des édifices a nécessité la mise au point, de méthodes graphiques
destinées à permettre l’établissement de projets et à en faciliter la réalisation effective. Le
perfectionnement de ces méthodes a contribué à l’éclosion de la géométrie descriptive [...]”.
29
Este tema será abordado com maior profundidade neste trabalho, no item 1.3 Delineando a história
da representação arquitetônica.
56
30
”[...] el grafismo arquitectónico[...], epistemológicamente, obliga a distinguir entre el dibujo de
concepción y el de comunicación, desarrollándose el primeiro merced a la capacidad heurística del
dibujo, y utilizando el segundo la vertiente designativa descriptiva del mismo.”
57
representação mongeana, por revelar relações entre esse saber e outros saberes da
representação. Esse referencial permite então, delinearmos a história da
representação arquitetônica apresentada em dois recortes temporais fixados em
relação à época da publicação da teoria mongeana, um do tempo precedente e
outro do posterior.
31
“Se a formação profissional do arquiteto era baseada nas ciências exactas (sic) e nos autores
clássicos (portanto uma formação universalista e não exclusivamente profissional) a organização
59
profissional dos arquitetos era fluída, não estando estes ligados por nenhuma organização específica
(persistiam grêmios de artesãos como carpinteiros, ourives, pintores, aos quais eventualmente os
arquitectos (sic) pertenciam apenas por pertencer a sua origem). (BRANDÃO, 2004, p. 19)”
32
A produção renascentista de desenhos de levantamentos, conforme Alonso (1996) afirma-se em
três etapas diferenciadas. A primeira, realiza gráficos com uma finalidade de conhecimento individual,
que demonstra a falta de intenção de elaborações gráficas posteriores. São desenhos feitos a olho,
sem instrumentos, apresentando nenhuma ou poucas medidas em esquemas planimétricos ou vistas
perspectivas. Na segunda etapa, referente ao último quarto do século XV, os desenhos ajustados aos
interesses do artista e a que a prática se estenda como fator indispensável para a formação
profisssional e cultural, vão além da planimetria, agregando perspectivas, detalhes arquitetônicos e
informações das partes medidas com cotas, acrescidos de algumas informações sintéticas. Ainda,
são representados aspectos formais como abóbadas nos desenhos. Na terceira e última etapa,
começo do século XVI, os desenhos são orientados com uma atitude científica, baseada na medição
precisa, na análise do conjunto e na relação entre suas partes. O conhecimento de projeções
ortogonais através de planta, fachada e seção, começa a ser utilizado por muitos arquitetos
renascentistas como elaboração fundamental para o conhecimento geométrico do edifício.
33
“ Conocimientos que se comienzan a exponen a través de publicaciones de livros, estableciendo
así la tradicíon de los tratados y manuales de arquitectura, lo que fue posible gracias a la nueva
concepción humanista que cambió por completo la actitud ante el secreto profesional.”
34
O De re aedificatoria foi o único tratado de arquitetura publicado no século XV. Entretanto, a
atração formal do tratado teórico se fez sentir sobre alguns manuais técnicos e práticos, encobrindo
uma realidade textual diversa do que lhe deu origem. Assim, transmitiam habilidades já constituídas
ou inovadoras e não as condições de poder conceber. Tais exemplares multiplicaram-se rapidamente
a partir do século XVI. (CHOAY, 1980)
60
à outra na busca da compreensão do espaço, que a cada vez mais passa a ser
entendido como geométrico, num prenúncio da época moderna. Ainda, é necessário
incluir a redescoberta do tratado de Vitruvius, De Architectura Libri Decem que,
conforme Cattani (2001), ocorreu em 1414 no Mosteiro de St. Gall. Esse tratado de
Vitruvius foi reeditado em Roma, coincidindo com a data de publicação do primeiro
tratado de arquitetura dos tempos modernos, o De Re Aedificatoria de Alberti35.
35
O De Architectura de Vitruvius foi editado em Roma por Giovanni Sulpitius e o De Re Aedificatoria
de Leon Batista Alberti foi publicado em Florença por Niccolo di Lorenzo Alamani, ambos com data de
1486. O local de publicação de cada um dos tratados provavelmente indica percursos culturais
distintos.
36
“Para Vitrúvio, os homens viviam como animais na floresta mas puseram-se em fuga devido a uma
tempestade; ao retornarem descobriram a utilidade do fogo, inventaram a linguagem, a vida em
sociedade e utilizaram essa capacidade para realizarem abrigos diversos; por último, construíram a
primeira cabana primitiva e inventaram a simetria, isto é, o advento da proporção.” (KRÜGER, 2007,
p.1-2)
62
Figura 1.1 – Representação das ordens das colunas dos estudos de Vitruvius de Cesare Cesariano
(1521)
37
Brunelleschi elaborou duas tabuletas, uma com orifício e outra sem, sobre as quais e sobre suas
implicações na representação em perspectiva trata Katinsky (2002)
64
escrevo sobre essas coisas, não como matemático, mas como pintor.
Os matemáticos medem com suas inteligências apenas as formas das
coisas, separando-as de qualquer matéria [...] (ALBERTI, 1992, p. 71).
38
O trabalho de Brunelleschi é reverenciado no prólogo do Da pintura: “a hipérbole de Santa Maria da
Flor, cuja sombra cobre quase todos os homens da Toscana, é efetuação retórica admirável,
louvando a novidade da ciência da construção enquanto a constrói como colosso”.(Apresentação de
Leon Kossovitch ao Da pintura, ALBERTI,1992)
66
exclusiva da sua formação, embora coubesse aos arquitetos dessa época tratar
também da construção. Entendemos a visão de Alberti como inovadora porque
distancia o trabalho do arquiteto da construção enquanto firma-se na sua
representação.
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 1.7 – Representação em perspectiva com método prático, extraída do Le premier tome de
l’Architecture (DE L’ORME, 1567).
39
Esta obra foi publicada em Paris, contendo nove livros de arquitetura e segundo Trevisan (2000) a
partir de 1576, suas edições passaram a vir adicionadas dos dois livros que compõem Nouvelles
inventions pour bien bastir et à petits fraiz, escritos em 1561, por de l’Orme. As capas destas duas
obras encontram-se no anexo 3.
40
Novas invenções para construir bem com baixo custo.
72
41
Monge (1799) apresenta esse processo nas figuras 2 e 3, planche I.
42
Philibert de l’Orme, arquiteto do Cardeal francês du Bellay que foi trespassado ao Rei Henrique II,
queixava-se de ter gasto parte considerável dos seus recursos na preparação de maqueta. O sistema
de Mecenato impunha um preço ao arquiteto sem a proteção de qualquer organização coletiva. Era
freqüente então, o arquiteto ser dispensado pelo dono da obra, uma vez que este desviava recursos
que havia destinado ao arquiteto.(BRANDÃO, 2004)
74
Fonte:http://gallica.bnf.fr Fonte:http://gallica.bnf.fr
Figuras 1.9 – Assentamento de peças dos arcos, Figuras 1.10 – Assentamento de peças dos
ilustração de l’Orme (1561, p. 8). arcos, ilustração de l’Orme (1561, p. 11).
Fonte:http://gallica.bnf.fr Fonte:http://gallica.bnf.fr
Figuras 1.11 – Determinação de ‘círculos Figuras 1.12 – Outra maneira de determinar
alongados’, ilustração de l’Orme (1561, p. 13). ‘círculos alongados’, ilustração de l’Orme (1561,
p. 14).
75
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 1.13 – Representação para determinar tamanhos reais das partes de uma abóboda,
ilustração de l’Orme (1576).
sobre a antiga teoria das seções cônicas aplicadas nas perspectivas. Entretanto,
poucos científicos assimilaram as idéias de Desargues e Pascal, e suas obras se
perderam, adiando o nascimento da geometria projetiva como um ramo
independente da ciência. A construção rigorosa e sistemática da geometria
descritiva de Monge no final do século XVIII desenvolveu então o papel de premissa
necessária para a construção da geometria projetiva. (RIBINIKOV, 1991)
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 1.16 e 1.17 – Perspectiva e fachada com os princípios teóricos sobre o corte das pedras,
propostos por Desargues (1640)
Fonte:http://gallica.bnf.fr
Figura 1.18 - Representação da solução de problema construtivo, apresentada por Jousse (1642,
p.51).
explica que os planos nos quais são feitas essas projeções são perpendiculares
entre si e que cada um dos pontos da curva reversa fica totalmente determinado
com uma relação entre suas duas projeções na linha de intersecção desses planos
(figura 1.19). Na seqüência, comenta sobre um plano tangente à curva, que deve ser
encontrado com a escolha de planos auxiliares que contenham a tangente e que
sejam perpendiculares aos planos de projeção. O que destacamos deste trabalho de
Descartes, em síntese, é a matematização do espaço, que levou à denominação de
espaço cartesiano e a sua conseqüente representação cartesiana, o que
conceitualmente marca um grande salto para o reconhecimento do espaço moderno.
(GANI, 2004)
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 1.20 – Representações apresentadas por Bosse (1643, p. XLII, à esquerda e p. XLUV, à
direita).
Gani (2004) afirma que Frézier não deixa dúvidas que seu livro não pretende
ser um manual e sim tratar da ciência do matemático que conduz o artesão ao corte
82
das pedras. Nesse sentido, essa ciência tem seus princípios na geometria pelo
conhecimento das linhas (figura 1.21) e superfícies (curvas e planos) e dos corpos
sólidos (figura 1.22), os que deverão ser seccionados. Entretanto, o fundamental
encontra-se em tratar os corpos cônicos, piramidais ou angulosos seccionados por
superfícies, isto quer dizer o contrário de pensar nas partes que se juntam para
formar o todo, o que vinha sendo feito até então, no estudo da estereotomia.
Na sua obra, Frézier apresenta uma clara distinção entre teoria e prática, o
que não acontecia nos tratados de estereotomia anteriores. É organizada em três
tomos: o primeiro sobre tomomorfhie (figura ou descrição de seções) e stereographie
(descrição dos sólidos), o segundo e o terceiro sobre tomotechnie (arte de fazer as
seções). A tomomorfhie trata da ciência, enquanto as outras se ocupam da prática
da construção.
83
43
Philibert de l’Orme havia tratado sobre isso no seu tratado de estereotomia.
84
44
“Mi resta a parlare della conformità, che si troverà la maggior parte della mia opera, e le lezioni date
alla scuola normale dal Sig. Monge. Non poteva mancare d’aver luogo, poiché il sudetto geometra si è
occupato in questa parte della matematica, alla quale ha applicato l’analisi con moltissimo fruto;
s’avrebbe peró torto se si conchiudesse, che il mio lavoro sia ricavato dal suo; poiché vi sono molte
persone, che hanno molto tempo prima delle lezione del sig. Monge, i materiali che ho impiegati, e
che ho pensato a metterli in ordine allorché fui fatto aggiunto all’insegnamento della geometría
descrittiva nella Scuola Normale.” LACROIX , S. F. Saggio di geometría riguardante le superficie
piane e curve o sia Elementi della Geometría Descrittiva, primeira tradução italiana feita sobre a
terceira edição francesa (1829) apud MIGLIARI (1996)
86
É entre o final do século XVIII e início do século XIX que o gosto Paladiano
da aristrocracia vai sendo ameaçado por realidades econômicas e culturais. Uma
nova classe dominante, a burguesia, introduziu um novo tipo de mecenato. Formado
de banqueiros, comerciantes e industriais, os burgueses desenvolveram a sociedade
para o fomento das artes, manufaturas e comércio tornando as encomendas
públicas alvo da discussão e decisão democráticas. Para essas mudanças, as duas
principais pátrias paradigmáticas são a França e a Inglaterra. Sem o mesmo alcance
destas, podemos incluir a Alemanha, liderada por Shinkel. Tais mudanças ganham
forças de origens diversas: na França são determinantes os fatores ligados ao
Estado, enquanto nos países anglo-saxônicos são mais importantes os fatores
ligados à realidade econômica. (BRANDÃO, 2004)
entretanto vingou por outras forças. Era um século voltado para a ciência e a
tecnologia. Pevsner (1994, p. 111) afirma que “as obras dos engenheiros do século
XIX baseavam-se amplamente no emprego do ferro, primeiro como ferro fundido,
depois ferro batido, e finalmente como aço. Já perto dos finais do século apareceu
como alternativa possível o cimento armado.” Mais adiante Pevsner refere-se a
essas obras concluindo que por um lado a originalidade técnica de todos esses
edifícios residia no uso abundante do emprego do ferro. E que, por outro lado a sua
qualidade estética mais notável era o emprego igualmente próprio e completamente
uniforme do vidro.
Por outro lado, o nível de perfeição que o aço atinge com o trabalho dos
engenheiros leva o pensamento arquitetônico mais avançado, a partir de 1890, a
considerar o uso do aço nos edifícios. Surgem assim os arranha-céus, designação
dada aos edifícios de esqueleto em aço. Desaparece então a necessidade das
sólidas paredes espessas, caindo a tradição em pedra. (PEVSNER, 1994) Essas
transformações da arquitetura foram acompanhadas pelo novo ensino da geometria
descritiva. É verdade que a estereotomia, como foi possível acompanhar nesta
história, amparou a sistematização da teoria mongeana. Entretanto, a estereotomia
restringia-se aos estudos de cortes de pedras e madeiras, próprios das construções
medievais e renascentintas. A geometria descritiva trata da representação de
superfícies a partir de suas leis de geração, diretrizes e geratrizes, ao esqueleto
portanto das construções em aço. E, enquanto representa as superfícies, sustentou
a arquitetura que associava o ferro ao cimento: o uso do concreto.
com as práticas dos arquitetos ingleses. Nesse período, essa mesma escola
obstaculizava o uso de maquetes, coincidindo com a recente sistematização da
geometria descritiva, que para a representação arquitetônica foi adotada de imediato
após ser exposta por Monge.
PONTUANDO A REPRESENTAÇÃO
MONGEANA
Wagensberg
45
Monge nasceu em 5 de maio de 1746 em Beaune, na Borgogna e faleceu em 28 de julho de 1818.
Sobre a biografia de Monge ver: CARDONE, Vito. Gaspard Monge scienzato della rivoluzione. Nápoli:
CUEN, 1996.; TATON, René. L’oeuvre scientifique de Monge. Paris: Presses Universitaires de
France, 1951.
46
Arago, Lazare Carnot, Poncelet, Prony, Durand, Fourier, da Lacroix, Meusnier de La Place entre
outros foram alunos de Monge na École Polytechnique. (CARDONE, 1996)
98
48
Na École Royale du Génie de Mézières foi encarregado de resolver um
difícil problema de desfilamento. Segundo Cardone (1996), a solução adotada em
torno de 1766 baseava-se na geometria, estabelecendo a posição de um ponto
genérico do espaço através de suas projeções ortogonais sobre dois planos, usados
como referência. Isto não acrescenta nada de novo; a solução do problema, que
primeiro suscitou incredulidade e depois admiração nos professores da referida
escola, de acordo com Migliari(1996) era inovadora por ser o plano de desfilamento
tangente a um cone. A genialidade está, então, na aplicação do método e não no
método em si. Esse estudo de Monge estava baseado no método de representação
que ele próprio nomeará de Geometria Descritiva, que era ensinado aos alunos de
49
Mézières, não se sabe de que forma , não só por segredo militar como também
pelo clima de rivalidade e inveja existente entre as escolas de formação de
engenheiros. Nessa instituição, segundo Gani (2004), o trabalho prático era bastante
valorizado, com a presença do professor em sala de aula com 20 alunos, não
47
Monge desenhava com muita precisão e rapidez embora tendo revelado aos seus alunos que
muitas vezes tenha sido tentado de destruir seus desenhos. Isso por desconfiança de que não era
reconhecido como capaz de produzir outra coisa quando desenhista em Mézières.(CARDONE, 1996)
48
Em pouco tempo pela sua habilidade para o desenho foi promovido a professor da Escola Real de
Engenharia de Mézières. “[...] Talvez o mais influente professor de matemática desde os dias de
Euclides” (BOYER,1974, p. 345). Segundo Migliari (1996), em torno de 1766 Monge foi admitido
como assistente técnico na escola de Mézières.
49
“[...] della scuola militare di Mézières, dove la geometría descritiva era insegnata, non sappiamo in
che forma, protetta dal segreto militare.(...)” (MIGLIARI, 1996, p. 27)
99
havendo aulas orais (grifos nossos). Bell (1996) acrescenta que a origem da
geometria descritiva é um invento de Monge, para solucionar um problema de
fortificações, e que este invento foi tão estimado pelos militares franceses que o
proibiram de publicá-lo por uns trinta anos, até 1795-96.
50
Em 1794-95 Monge lecionou Geometria descritiva na École Normale em
treze lições. As nove primeiras lições, de acordo com Cardone (1996) foram
51
publicadas no Journal de Séances dés Écoles Normales e após apresentadas por
Monge na École Centrale des Travaux Publics, onde também ensinou aplicações de
análise à geometria, o que deu origem à publicação, ainda em 1795, de Feuilles
52
d'analyse appliquée à la géométrie. Na École Centrale des Travaux Publics ,
instituída em 1794, e que no ano seguinte mudou de nome para École
Polytechnique, Monge carregou toda a responsabilidade científica da formação dos
engenheiros 53.
50
Segundo Boyer (1974), esta escola foi apressadamente aberta para uns 1500 alunos menos
selecionados do que os da politécnica, embora tivesse no seu corpo de professores matemáticos de
alto nível. Cabezas (19??), diz que nas aulas desta escola em que foi ministrada a geometria
descritiva, iniciadas em janeiro de 1795 teve a assistência de 1200 alunos, recrutados de toda a
França.
51
Os estudos originais de geometria descritiva, Monge tinha desenvolvido uns trinta anos antes na
École Royale du Génie de Mézières ( CARDONE, 2001).
52
A escola de engenharia civil, fundada em Paris em 1747, com o nome de L’École des Ponts e
Chaussées, após a Revolução Francesa passa a ser denominada de École Centrale des Travaux
Publics.
53
Em 1794 foi formada uma Comissão de Obras Públicas, da qual Monge fazia parte como principal
advogado de instituições de ensino mais avançadas. Esta comissão estava encarregada de
estabelecer uma instituição apropriada para a formação de engenheiros (BOYER, 1974).
54
http://perso.wanadoo.fr/alta.mathematica/monge.html
101
publicação do ano III – Séances des Écoles Normales, reuniu as lições dadas na
École Normale em um corpo único. De acordo com Cardone (1996) após a
publicação de Géométrie Descriptive, Monge ainda elaborou a Mémoire sur les
surfaces réciproques, em 1808.
55
Os matemáticos franceses mais importantes, nos tempos de Napoleão, entre os quais Monge,
trabalhavam instruindo engenheiros civis ou militares ou ensinando futuros professores na Escola
Normal Superior. Suas matemáticas eram direcionadas para as necessidades do regime militar.
(BELL, 1996)
56
Jean-Nicolas-Durand (1760-1834), discípulo de Boullée (1729-1799) e ex aluno da Academia Real
de Arquitetura, pode ser considerado o primeiro professor de arquitetura do modo como se entende
hoje. Contribuiu com a formação de várias gerações de arquitetos a partir de sua cátedra na Escola
Politécnica. PFMMATTER, 1997 apud JANTZEN, 2001. Contemporâneo de Durand na Politécnica foi
Monge, entretanto como já foi dito, neste trabalho anteriormente, Monge era matemático.
102
57
Antes da institucionalização do saber com um modelo de aula, segundo Alonso (1996), no século
XVII, na Academia de Paris, iniciou-se o caminho do ensino “oficial” da arquitetura estabelecido com o
desenho e as medições de arquitetura propondo que os estudantes deviam fazer cópias dos
desenhos de seus professores, desenhos de modelos de gesso, esculturas originais clássicas e
desenhos do natural.
58
"[...] ha representato il punto di arrivo di una longa serie di prodedimenti grafici usadi fin
dall"antichità, e via migliorati, che nella geometria descrittiva hanno trovato unificazione,
generalizzazione e teorizzazione."
59
Durante a renascença a atividade artística era vista como pré-requisito à prática da profissão do
arquiteto.
103
60
A perspectiva exata foi descrita pela primeira vez pelo arquiteto Leone Batista Alberti em 1436, em
seu Della pintura, em uma versão que ficou reconhecida como a “ótica dos pintores”, prospettiva
pingendi, diversa da ótica auxiliar da astronomia (KATINSKY , 2002).
61
A definitiva matematização da perspectiva artística foi realizada pela obra do matemático Fiedler
que definiu um sistema de projeção central em sua tese doutoral apresentada em 1859 na
Universidade de Lepzig.
62
“ Los métodos de la geometría descriptiva se formaron en el dominio de las aplicaciones técnicas
de la matemática. Los hechos del estudio sobre la perspectiva eran conocidos desde épocas remotas;
en especial fueron desarollados por artistas y arquitectos de la época del Renacimiento. Estos
resultados consituyeron la base necesaria para la creación de aquella parte de la geometría teórica,
en la qual los modelos espaciales se estudian mediante un complejo de transformaciones en el plano.
El método de coordenadas para la construcción de la perspectiva y el correspondiente origen de
proyección axionométrica por vez primera lo aplicó Desargues en el año 1636.”
104
De cada ponto do objecto partem raios paralelos entre si, que vão
intersectar o plano sobre o qual o voltamos a desenhar, observado de
um ponto no infinito [...]. O processo de imutabilidade, quer da forma,
quer da grandeza, que fornece ao elaborar e ao regularizar os índices
visivos do espaço tridimensional, é descurado porque, no momento em
que fornece indicações úteis sobre a deslocação dos elementos em
profundidade, nos fornece indicações úteis sobre os exactos valores
dimensionais do objecto despojado.
Não foi uma invenção revolucionária, porém uma concepção clara do espaço
racionalizado a ponto de ser operado, "[...] aquilo que fez Monge, conseguindo
concretizar a intuição de numerosos estudiosos que o haviam precedido em bem
sucedidos e definidos pensamentos, que transformaram o desenho de matéria
empírica em ciência da representação" (CARDONE, 1996, p. 72-73, tradução
63
Sobre o conceito de sistema de representação foi abordado no capítulo 1 deste trabalho.
105
64
"[...] quello che fa Monge, riuscendo a concretizzare le intuizioni di numerosi studiosi che lo
avevano preceduto in felice e compiute concezioni, che transformano il disegno da matéria empírica in
scienza della rappresentazione."
106
Monge fez com que o plano frontal não só fosse a sede - como já tinha
acontecido – da projecção de um objeto visto frontalmente, mas
também o sustentáculo de todos os planos necessários a fornecerem
indicações métrico-dimensionais do objecto em análise e das suas
relações espaciais com outros objectos (“projecções ortogonais”).
65
AMODEO (1908), CARDONE (1996), LORIA (1921), LORIA (1933), MIGLIARI (1996).
" [...] Euclides y Monge son un hito divisorio que señala un antes y un después."
66
67
"[...] dans la géométrie descriptive, qui a été pratiquée depuis beaucoup plus long-temps par un
beancoup plus grand nombre d'hommes, et par des hommes dont le temps étoit précieux, les
procédés se sont encore simplifiés; et au lieu de la considération des trois plans, on est parvenu, au
moyen des projections, à n"avouir plus besoin explicitement que de celle de deux."
110
Monge pode propor, não só aos alunos engenheiros, mas aos futuros
professores de escola secundária, uma teoria no todo inédita, sem divergências ou
conceitos complexos e que de fato resultará acessível a todos os dotados de um
conhecimento da geometria elementar. Um imediato sucesso, cuja primeira e
tangível prova foi a procura pelas aulas, em medida tal que só a fama e o carisma do
autor não justificariam (CARDONE, 1996, p.76-77, tradução nossa) 68
68
"Monge può proporre, non solo agli allievi ingegneri ma ai futuri insegnanti si scuola secondaria,
una teorizzazione del tutto inedita senza impatti duri o concetti complessi, e che difatti risulterà
accessibile a tutti coloro dotati di una conoscenza della geometria elementare, riscuotendo un
immediato sucesso, la cui prima e tangibile prova fu l'affollamento alle lezioni, in misura tale che la
sola fama ed il carisma dellàutore non avrebbero giustificato."
69
"Ce n'est pas sans objet que nous comparons ici la géométrie descriptive à l'algèbre[...]"
111
70
www.terravista.pt/enseada/1524/ . acessado em 04/01/2004
71
“Pour tirer la nation française de la dépendance où elle a été jusqu’à présent de l’industrie
étrangére, il faut, premièrement, diriger l’éducation nationale vers la connoissance dês objets qui
exigent de l’exactitud, ce qui a été totalement mégligé jusqu’à ce jour [...]”.
72
"Las ideas pedagógicas de Monge son un fruto de todo el programa de reformas del setecientos,
vinculado a la idea de progresso, y en este último sentido es en el que la geometría descriptiva se
112
Uma vez considerando que Monge era partidário dos ideais da Revolução
Francesa, fica fácil entendermos que tenha sistematizado os conhecimentos de
representação existentes na época com base na racionalidade preconizada pelo
poder político, visando atender aos ideais da nação. Nesse sentido, que institui a
geometria descritiva como um ‘saber oficial’, o mérito de autoria cabe então a
Monge.
trabalhos destes dois autores, com a substituição das tábuas, por planos e das varas, por
retas.(GANNI, 2004)
75
No transcurso da história das matemáticas, os “Elementos” de Euclides constituem fundamentos
para todas as investigações geométricas. Ponto, reta e plano, são objetos fundamentais da
geometria axomática atual, a qual usando amplamente a idéia de isomorfismo abstrai as
particularidades qualitativas dos objetos estudados e investiga a possibilidade de relação entre eles.
Assim sendo, ponto, reta e plano podem designar objetos da natureza, aparentemente não
geométricos. (RIBNIKOV, 1991)
114
76
“[...] divers chapitres de son traité forment une transition avec ses travaux d’orientation plus
analytique.”
77
FARISH, William. On isometrical perspective. Cambridge: Philosophical Society Transactions, Vol.
1, 1822.
116
78
“Al mismo tiempo que se formuló y estableció en Francia la enseñanza de la geometría descriptiva,
en Gran Bretaña se propuso un sistema de dibujo técnico, al servicio de la joven industria, que estaba
desvinculado de las fuertes implicaciones ideológicas del modelo francés y que explica la diferencia
del modelo anglosajón que ha perdurado hasta hoy.
79
Sobre o surgimento desta escola e da publicação de suas notas de aula comenta Schubring (2003)
que deve-se ao fracasso da iniciativa francesa de elaborar livros elementares. No capítulo quatro da
sua obra explica que em 1794, foi decretado um concurso para livros didáticos e que, devido aos
resultados insatisfatórios estabeleceu-se o projeto de formação de uma escola para formar
professores (École normale, inaugurada em 1795) e que as notas de aula desta escola é que
deveriam ser transformadas em livros didáticos. Monge, Lagrange e Vandermonde participaram como
banca para selecionar os livros de matemática desse concurso.
118
80
De acordo com Gani (2004), em Traité de Géométrie Descriptive, comprenant les aplications de
cette géométrie aux ombres, a la perspective et a la stéréotomie, de 1828, seu autor Hachette, no
prefácio desta obra refere-se a compilação das lições de Monge publicadas em 1799 como o primeiro
tratado de geometria descritiva que considera esta ciência de maneira abstrata e independente de
suas aplicações.
119
No Brasil, antes de ser difundida por toda a Europa, conforme Silva (1992), a
geometria descritiva foi estudada pela primeira vez em 1812, como disciplina do
segundo ano do curso de Ciências Físicas e Naturais na Academia Real Militar81;
lecionada pelo professor brasileiro José Victorino dos Santos e Souza, graduado em
matemática pela Universidade de Coimbra. Este professor foi autor de uma
publicação baseada nas obras de Monge, com o título de Elementos de geometria
descritiva, applicações as artes. Esta foi extraída das obras de Monge, por ordem de
sua alteza real, o Principe Regente, para uso dos alunos da Real Academia Militar,
no mesmo ano de 1812. Foi a vinda da família Real para o Brasil, em 1808, que
propiciou um impulso ao ensino brasileiro, por exemplo com a fundação da
Impressão Régia, facilitando a impressão de livros para o português, entre os quais
a primeira tradução portuguesa da Géométrie descriptive de Monge.
É fato curioso que, embora o motivo da vinda da família real portuguesa para
o Brasil ter sido fugir de Napoleão Bonaparte, o qual era íntimo amigo de Gaspard
Monge, este desacordo político não influenciou no desenvolvimento científico, no
que se refere a teoria da representação de Monge, sendo a geometria descritiva
ensinada na Academia Real Militar, criada por D. João. 82
81
A Academia Real Militar, foi criada pela Carta-Régia de 1810, a qual contém 12 capítulos que
descrevem detalhadamente objetivos e regulamentação desta escola com programas baseados na
École polytechnique de Paris. Para essa academia os professores deveriam preparar um compêndio
para seu curso, de sua própria autoria ou fazendo a tradução de livro estrangeiro consagrado e, a lei
indicava o livro de Monge para o ensino da geometria descritiva. (GANI, 2004)
82
A Academia Real Militar criada em 1810 e que começou a funcionar em 1811, destinava-se a
formas oficiais para as diversas armas do exército de D. João, talvez na esperança de algum dia
enfrentar-se com as tropas de Napoleão, bem como para ocupar as terras do outro lado do rio da
Prata. (SILVA, 1992)
120
83
Em 1738, foi instiuído no Rio de Janeiro, um curso militar de cinco anos, regular e obrigatório,
conhecido como “Aula do Terço”. Essa aula, foi transformada em um curso superior em 1792, no
qual os futuros engenheiros deveriam permanecer por seis anos. No último ano, eram dadas a
disciplinas de cortes de pedras e madeiras, a construção de caminhos e calçadas, e a arquitetura de
pontes, aquedutos canais, diques e comportas.(TELLES, 1994 apud GANI, 2004)
122
Ainda, com a criação do Imperial Colégio Militar, atual Colégio Militar do Rio
de Janeiro, pelo Conselheiro Tomás Coelho, por decreto de março de 1889, o
124
84
Atualmente a geometria descritiva não está diretamente reportada pelos PCN do ensino médio e
fora das escolas militares sua introdução no ensino médio é rara. Ao contrário dos PCNEM, a
geometria descritiva é abordada nos PLADIS de forma mais explícita. Os PLADIS são planos de
disciplinas do ensino dos Colégios militares do Brasil. (MIRANDA, 2006)
125
85
A obra de Benjamin de Carvalho é dessa época e foi utilizada como referência bibliográfica para o
ensino da geometria descritiva para engenheiros e arquitetos.
127
DESCONSTRUINDO A TEORIA
MONGEANA
(OLIVEIRA, 2000)
DESCOBRINDO A TEORIA
MONGEANA
1.1 A CAPA
86
“[...] Podemos garimpar elementos originários e como representação alternativa no começo do
mundo moderno a partir do Renascimento e da Reforma, porém a forma mais nítida desse mundo
desenvolve-se a partir do iluminismo e de sua tormentosa trajetória na posterior consolidação das
sociedades industriais, tecnológicas e burocráticas [...]” (DIEHL, 1997, p.27).
87
”GÉOMETRIE DESCRIPTIVE. LEÇONS DONES AUX ÉCOLES NORMALES, L'AN 3 DE LA
RÉPUBLIQUE; Par Gaspard MONGE, de l'Institut national. PARIS, BAUDOIN, Imprimeur du Corps
législatif et de l'Institut national. AN VII.”
132
representar por desenhos que só têm duas medidas os objetos que tem três”.
(tradução nossa)88
88
“L’ordre de connaissance don til s’agit ici est fondé sur une géométrie particulière des trois
dimensions don til n`existe pas de traité bien fait; sur une géométrie purement descriptive, mais
rigoureuse, et dont l’objet est de représenter par de dessins qui n’ont que deux dimensions des objets
qui em ont trois.”
134
1.2 O ÍNDICE
Logo seguindo a capa, "o índice das matérias contidas neste volume"
(tradução nossa)89 apresenta, em três folhas, o conteúdo das 128 páginas da obra,
constituído de programa e cinco capítulos numerados em romano, com ausência de
89
“Table des matières contenues dans ce volume.”
135
títulos e as ‘Adições’, que são anexadas na seqüência dos cinco capítulos sem
paginação.
90
Antes da abertura dos cursos da Escola Politécnica foi criado um escritório de desenhistas que sob
direção de Eisenman executavam os desenhos que distribuíam aos alunos e, Girard fazia parte desse
grupo de desenhistas. (HACHETTE, 1828 apud GANI, 2004)
91
As lições na École Normale , estruturam-se em nove lições iniciais tratando da exposição do
método e de questões teóricas da geometria espacial. Acrescentam-se a essas, outras três, nas
quais, Monge falou de sombras, da perspectiva aérea e da perspectiva linear, respectivamente. E, na
última aula, foram apresentadas reflexões sobre a importância de introduzir a Geometria descritiva no
ensino público. (GANI, 2004)
92
Um ex-aluno de Monge, Brisson recebeu essas quatro lições estenografadas da viúva de Monge.
As três primeiras lições, foram revistas e publicadas com acrécimos por Brisson no Traité de
Géométrie descriptive de 1820. A primeira sobre determinação geométrica das sombras, a segunda
sobre perspectiva aérea e a terceira sobre perspectiva linear. A última, reflexões gerais sobre as
vantagens da introdução da Geometria descritiva na instrução pública, que não foi publicada por
Brisson, parece ter se perdido definitivamente. (LAURENT, 1992 apud GANI, 2004)
136
antes que fossem impressas. Belhoste e Taton (1992), não têm dúvidas que Monge
utilizou essa possibilidade para elaborar a parte gráfica que não pode expor no
anfiteatro. (GANI, 2004)
Lições dadas na École Normale, an III Lições dadas na École Normale, an III
(organizadas por Hachette) (originais de Monge)
I.
III.
48. Das intersecções de superfícies 6ª lição (21 ventôse/11 de março)
curvas. Definição das curvas de dupla 48 Considerações sobre as intersecções
de superfícies curvas.
curvatura, 59-60
49 Considerações sobre as operações de
49-50. Correspondência entre as Análise.
operações da geometria descritiva, e as 50 Correspondência entre as operações
da Análise e os métodos da Geometria
de eliminação algébrica, 60-62 descritiva.
ADIÇÕES.
I.
II.
III.
1.3 A ADVERTÊNCIA
93
“Fatto è che, nel piano di Bonaparte, Monge há um ruolo molto importante, difficilmente attribuibile
ad altri scienziati, [...] . Il generale, infatti, non pensa alla Campagnha d’Egitto solo come ad una
spedizione militare, ma anche come ad uma grande campagna di ricerca scientifica, che nessuno può
guidare meglio del suo amico di Beaune.”
94
Segundo Gani(2004), Monge participou de uma comissão que foi à Itália para recolher as obras de
arte que as cidades deveriam entregar à França; de Roma, seguiu para o château de Passeriano,
148
Embora, Monge seja mais conhecido nos livros de história da ciência como
matemático, algumas vezes como físico, e em dicionários enciclopédicos como
engenheiro, a primeira cátedra que obteve foi a de físico, e se fez conhecer e afirmar
no ambiente científico por seus estudos sobre a aplicação da análise às
propriedades infinitesimais das curvas e das superfícies, legando importantes
contribuições à analise matemática. Dessa maneira, de acordo com Cardone (1996),
Monge inseriu-se rapidamente na elite acadêmica, chegando ao ambiente francês
mais progressista, no qual o empenho cultural e científico não era somente voltado
para as especulações teóricas, mas também para as pesquisas aplicadas,
relacionadas à profunda renovação da sociedade, na Idade das Luzes.
perto de Udine, onde conheceu o General Bonaparte. Monge despertou admiração e confiança no
general, tendo sido incumbido por ele para, juntamente com o general Berthier, levar o texto de paz
de Campo-Formio para Paris. Ainda, Bonaparte determinou a formação de uma comissão científica
para explorar os países que fossem conquistados, que incluía os nomes de Bertholet e Monge, como
cientistas para participarem da expedição do Egito.
95
Sobre o empenho revolucionário de Monge trata detalhadamente Cardone (1996).
149
96
Estas lições haviam sido publicadas junto com aquelas de outros cursos da Escola Normal em Lés
Séances des Écoles Normales recuillies par des sténographes et revues par des professeurs. Paris,
Reynier, 1795., com diferenças segundo René Taton, em particularidades como a mudança de letras
nas figuras, a recolocação de frases de transição e inserção de pequenas notas suplementares.
(FIOCCA, 1992). Taton (1951), ao relacionar as obras científicas de Monge, apresenta a obra
Geometria Descritiva de 1799 como a publicação das lições da Escola Normal em volume separado
pelo senso de Hachete, reforçando a idéia que a responsabilidade da publicação ficou a cargo deste
aluno de Monge.
150
1.4 O PROGRAMA
97
Pode-se entender por geometria elementar, a geometria euclidiana que segundo Canal (1999) é
considerada até a atualidade como base de toda geometria.
151
98
"Pour tirer la nation française de la dépendance où elle a été jusqu'à présent de l'industrie
étrangère[...]il faut, premièrement dirigir l''education nationale vers la connoissance des objets qui
exigent de l'exactitude, [...]"
153
99
Diferente do que primariamente comenta-se que a geometria nasceu da necessidade de medir as
terras, essa necessidade nasceu secundando a manutenção da hieraquia social. Através da
cobrança de impostos nas terras medidas mantinha-se os soberanos.(SERRES, 1993)
100
A deusa da Arquitetura para os egípcios era Seshat, Senhora dos construtores, da escritura e da
casa dos livros, portanto associando tutelas teórico-práticas. Por vezes Seshat é substituída nas
representações pictográficas de louvor à Arquitetura por Thot, o deus egípcio da ciência, ou por Ptah,
deus egípcio das artes. (BRANDÃO, 2004)
154
101
gremiais. Formavam-se então, autênticas dinastias profissionais de vínculos
familiares, exercendo a profissão de arquiteto resultante de encomendas estatais102.
(BRANDÃO, 2004) E mantinha-se a divisão do trabalho vinculada à representação.
101
Atualmente, segundo Oliveira (2002), parece que não restam dúvidas de que a civilização
Mesopotâmica na Caldéia e Suméria, antecedeu de certo tempo aquela que se desenvolveu no Egito.
Encontramos então, na Mesopotâmia, relações de poder com a representação arquitetônica
precedentes às egípcias. Na estátua do Gúdea, um construtor e governador da cidade-estado de
Lagash na Caldéia, mais tarde conhecida como Babilônia, de acordo com Borges (2001) parece estar
representando um dos primeiros registros de desenho arquitetônico: a planta de um templo de 2130
a. C. é encontrada em uma placa no colo da estátua, juntamente com um instrumento de inscrição e
uma barra com demarcações de medida, lembrando um escalímetro.
Essa escultura é conhecida como “L’Architecte au Plan” e faz conjunto com outra, também de Gúdea
de Lagash, conhecida como “L’Architecte à Lá Règle”. O simbolismo é bastante claro nas estátuas de
Gúdea, revelando que o personagem representado dedicava-se às atividades de arquitetura
privativas dos intelectuais, especialmente dos sacerdotes que monopolizavam a cultura da época. Os
tabletes das duas esculturas seriam quase idênticos, não fosse a planta baixa no tablete da primeira
escultura. Essa diferença leva a acreditar que as duas atitudes do Gúdea representam duas fases do
projeto arquitetônico: a meditação e a realização. (OLIVEIRA, 2002)
“Na Mesopotâmea (sic) o templo de Lagash era explicado como tendo sido revelado ao Rei Gudea
em sonhos. A lenda contava que o Rei guardava o segredo das suas medidas, que fora ele mesmo a
estabelecer as dimensões e iniciar os alicerces. Será daí que provêm a ainda sobrevivente cerimônia
do lançamento da primeira pedra das novas construções, na qual é invariavelmente protagonista, não
o arquitecto (sic) mas os poderosos que o contratam e que têm o poder ou o dinheiro para construir.
Na realidade o Rei ou o Faraó eram clientes, e sem dúvida que seria um autêntico arquitecto (sic)
quem preparava as técnicas e desenhos de base para a construção, dentro das normas da profissão
(quase sempre hereditariamente, numa contiguidade(sic) de conceitos entre profissão e família).
(BRANDÃO, 1994, p. 8)”
102
Um arquiteto estatal ocupava posição elevada na hierarquia social, que seu título poderia ser
adjetivado com vários cargos ou qualidades honoríficas, como por exemplos: “Conselheiro do Rei”,
“Administrador do Grande Palácio”, “Nobre Hereditário”, “Grande Sacerdote”, “Arquiteto de Todas as
Obras da Rainha”, “Guardião Chefe da Filha do Rei”, entre outros.(BRANDÃO, 2004)
103
Contrariando a visão de alguns autores que tratam o perfil do arquiteto medieval como um
trabalhador manual sem estatuto, sabe-se segundo Brandão (2004) que arquitetos que conduziram a
construção das Igrejas Românicas, posteriores ao milênio, eram rudimentarmente educados em
mosteiros. Com uma educação direcionada para as letras, o cálculo, alguma tratadística e a religião,
o seu acesso à profissão fazia-se através de organizações gremiais herdadas dos Collegium, as
quais constituíram-se nas primeiras lojas Maçônicas. Essa lojas estruturavam-se na conservação e
155
Entre os séculos XIII e XIV, os que detinham a direção dos trabalhos, com
amplo domínio do ofício e da tarefa a ser realizada, possuíam o saber-fazer que
absorvia o saber-representar.104 Como característica da produção manufatureira-
artesanal, que vigorou até a Renascença, do desenho que sugeria alguns temas
para reflexão, reservando-se ao bom artesão a sua complementação, passou-se ao
desenho percebido da mesma maneira pelo possuidor dos diferentes códigos.
Assim, o saber-fazer na arquitetura perseguiu o saber, no qual se incluiu o da
representação.
transmissão dos segredos profissionais dentro do grupo fechado da corporação, em específico sobre
a geometria, a mecânica dos andaimes e a estereotomia.
104
Os desenhos de análise geométrica para a obteção das formas assumiram grande destaque no
mundo medieval, especialmente depois da tradução e divulgação da geometria de Euclides, no
século XII, constituindo-se em segredo profissional pelo menos até o século XV. Na segunda metade
do século XV a rigidez do sigilo sobre as construções não mais se mantinha. Em 1486, Matthäus
Roriczer publicou um livreto que discordava do segredo imposto no estatuto dos talhadores de pedra,
ensinando como, a partir da planta de um pináculo, fazer a sua construção. Este exemplo, sobre
assunto quase idêntico, foi seguido pouco depois por Hanns Schmuttermayer. (OLIVEIRA, 2002)
156
105
“[…] les consommateurs, devenus sensibles à l’exactitude, pourront l’exiger dans les divers
ouvrages, y mettre le prix nécessaire […]
Il faut, en second lieu, rendre populaire la connoissance d’un grand nombre de phénomènes naturels,
indispensab le aux progrès de l’industrie, et profiter, pour l’avancement de l’instruction générale de la
nation, […]
Il faut enfin réprandre parmi nos artistes la connoissance des procedes des arts, et celle des
machines qui ont pour objet, ou de diminuer la main-d’oeuvre, ou de donner aux résultats des travaux
plus d’uniformité et plus de précision [...]”
106
O método da geometria descritiva apresentado nesta obra foi concebido por Gaspard Monge no
fim dos seus primeiros anos de ensinamento na Ècole du Génie de Mèziéres, entre 1770 e 1775,
embora só mais tarde com a renovação geral que acompanhou a Revolução Francesa se constituiu
em ensinamento. Monge contribuiu com a reorganização do sistema escolar francês, aplicando a sua
teoria em duas importantes escolas criadas pela Convenção: a Ècole Normale do ano III e a École
Centrale de Travaux Publics, a futura École Polytechnique. Os ensinamentos de geometria descritiva
na politécnica não fogem ao papel central do envolvimento de Monge na criação desta escola. Na
escola normal, concebida para formar professores para o primário e depois transformada em escola
para futuros professores de escola secundária, o ensino da geometria descritiva revela a influência de
Monge e seu programa de colocar a disciplina como uma linguagem gráfica universal e um pilar do
novo sistema educativo francês ( Fiocca, 1992).
O currículo da Escola Normal, combinava teoria e prática para uma formação aplicável às
manufaturas, coincidindo com o período do começo da Revolução Industrial, ao que Monge contribuiu
com a geometria descritiva.
107
“[...] toutes ces vues qu’en donnant à l’éducation nationale une direction nouvelle […]”
159
bens, para que algum dia possam fazer de seus capitais um emprego mais útil a si e
a nação, como àqueles que não tem mais do que sua educação, a fim de que
possam dar a seu trabalho maior preço”(tradução nossa)108.
Uma visão que pretendia através das ciências aplicadas às artes melhorar
as condições de vida e o crescimento pessoal dos jovens, num espírito de estado
democrático, embora representado por uma hierarquia do poder. Esse atrelamento
da representação com o poder persiste até a sociedade atual, e se faz presente na
representação da arquitetura, recebendo a crítica de Fuão (2004, p. 2) que afirma:
“infelizmente, a academia acabou por esquecer que toda representação, todo projeto
é essencialmente uma representação política, e omitindo essa dimensão acaba por
denegar sua representação ao outro, que é o Estado”.
108
“C’est, d’abord, en familiarisant avec l’usage de la géométrie descriptive tous le jeunes qui ont de
l’intelligence, tant ceux qui ont une fortune acquise, afin qu’un jour ils soient en état de faire de leurs
capitaux un emploi plus utile et pour eux et pour la nation, que ceux même qui n’ont d’autre fortune
que leur éducation, afin qu’ils puissent un jour donner un plus grand prix à leur travail.”
109
Sobre a formação e qualificação de operários na construção civil, abordando aspectos de
representação arquitetônica, trata CATTANI (2001).
160
110
"Cet art a deux objets principaux. Le premier est de représenter avec exatitude, sur des dessins qui
n'ont que deux dimensions, les objets qui en ont trois, et qui sont susceptibles de définition
rigoureuse. Sous ce point de vue, c'est une langue nécessaire à l'homme de génie qui conçoit um
projet, à ceux qui doivent en diriger l'exécution, et enfin aux artistes qui doivent eux - mêmes en
exécuter les différentes parties.Le second objet de la géométrie descriptive est de déduire de la
description exacte des corps tout ce qui suit nécessairement de leus formes et de leurs positions
respectives. Dans ce sens, c'est um moyen de rechercher la vérité; elle offre des exemples perpétuels
du passage du connu à l'inconnu; et parce qu'elle est toujours appliquée à des objets susceptibles de
las plus grande évidence, il est nécessaire de la faire entrer dans le plan d'une éducation nationale
[...]".
161
111
Caractère de ce qui est vrai, conforme à la réalité.(VERBEEK, 1995)
162
112
Podemos lembrar que Monge interessava-se por química, que possibilitou o avanço da fotografia.
De acordo com Cardone (1996), o jovem professor convidava seus alunos a refletir sobre arte e sobre
ciência, sobre fenômenos da natureza e sobre indústria, levando-os em excursão aplicando
exercícios experimentais e práticos aos estudos teóricos.
165
Curioso é que, com as projeções que desde a sua origem conotam uma
visão de fora do mundo, a geometria descritiva consegue trazer a realidade qualquer
objeto imaginado com exatidão. Encontramos, então, a realidade através da
racionalização da imaginação, atuando sobre objetos racionais, e propiciando uma
linguagem universal.
166
113
“[…]propre à exercer les facultés intellectuelles d’un grand peuple, et à contribuer par-là au
perfectionnement de l’espèce humaine, mais encore elle est indispensable à tous les ouvriers dont le
but est de donner aux corps certaines formes déterminées;[…]”
168
114
“[...]et c’est principalement parce que les méthodes de cet art ont été jusqu’ici trop peu répandues,
ou mêmepresque entièrement négligées, que les progrès de notre industrie ont été si lents.”
169
115
“desde el punto de vista epistemológico, existe -y es discernible- una relación esencial y
constitutiva entre el arte y la ciencia [...] esta relación entre arte y ciencia es uma clave fundamental
de los distintos papeles de lo sujeto en los sistemas epistemológicos modernos.”
171
116
On contribuera donc à donner à l’éducation nationale une direction avantageuse, en familiarisant
nos jeunes artistes ávec l’application de la géométrie decriptive aux constructions graphiques qui sont
nécessaires au plus grand nombre des arts […]
172
iluminista. O que fez Monge foi propor uma representação adequada à sua época,
voltada então às exigências do Iluminismo. 117
Antes das lições de Monge, no século XVII, arte e ciência buscaram formas
de conhecimento que se constituíram em sistema, já no século XVIII, com suas
bases, foram mais adiante, e buscaram um modo de sistematizar o próprio sistema.
A ciência apoiava-se na objetividade, baseada na razão, em contraposição à arte,
que se firmava na subjetividade sensível. Contraposição tal que as distinguia
completamente. Entretanto, num paradoxo, o modo de sistematizar, tanto arte
quanto ciência, era o mesmo. A subjetividade foi entendida, nesta época, como algo
que pertencia ao sujeito, não como algo único, senão como um ser universalizado
que tinha critérios de perceber, conceber e julgar generalizáveis e que, portanto,
podiam ser convertidos em objetivos. Em efeito, arte e ciência, distintas no sistema
em si, apresentavam premissas semelhantes que fundamentavam seus sistemas.
Na raiz epistemológica, então, nesta época, arte e ciência tinham a mesma origem.
.(GUTIÉRREZ, 2003)
117
Em 1793, os chefes da Revolução Burguesa, decidem fechar a Academia de Arquitetura, assim
como as de Escultura e Pintura.
Já, em 1794, a mesma Revolução funda a Escola Politécnica, com programas de ensino elaborados
por homens das ciências e sob a liderança e de Monge. O currículo da nova Escola apresentava um
biênio fundamental com ênfase na matemática e física para todos os cursos. Após, um triênio de
aplicação, desenvolvido em uma das seis escolas especializadas: em pontes e caminhos, engenharia
civil, aplicação de artilharia, engenharia militar, engenharia marítima e minas.
118
Reencontra-se aqui a mais antiga tradição filosófica, segundo a qual o mais rigoroso do
pensamento teórico reside na contemplação da terra e do universo.
119
“Il n’est pas moins avantageux de répandre la connoissance des phénomènes de la nature, qu’on
peut tourner au profit des arts.
Le charme qui les accompagne pourra vaincre la répugnance que les hommes ont ent général pour
la contention d’esprit, et leur faire trouver du plaisir dans l’exercice de leur intelligence, que presque
tous regardent comme pénible et fastidieux.”
120
Como formar em arquitetura, neste trabalho, considera-se a interpretação de Jantzen (2001, p.60):
o inscrever, por intermédio de aprendizagens de habilidades de arquiteto, o aprendiz no sistema ou
mundo da arquitetura.
174
1.4.5.1 DURAND
método fosse redutor e tecnicista, por tratar do ensino para engenheiros, vinculava
teoria e prática, tendo o desenho como fundo, como aparelho de assimilação dos
saberes do projeto. Os alunos de Durand deviam trazer para as aulas um caderno
de 45cmx25,9cm, com folhas quadriculadas com trama vermelha de 4cmx4cm, o
conhecido système quadrillage. Os procedimentos de projeto, a marche à suivre,
adaptavam noções aprendidas com Boullée, com duas etapas fundamentais: I) o
estabelecimento de uma trama, ou suporte geométrico para desenhar plantas
baixas, cortes e fachadas, e que estava referida ao lote ou sítio; II) os desenhos de
paredes e da ordenação das colunas, com as proporções da trama e não mais as
proporções das colunas (figuras 2.4 e 2.5), como nos projetos do Classicismo,
orientando o desenho. (JANTZEN, 2001)
Na trama quadriculada de Durand, cada espaço devia ser ocupado com uma
função. “Levada a cargo essa organização de partes utilitárias, será necessário
impor sobre essa desordem (formal) que é a ordem (funcional) do conjunto, um
sistema formal que subordine as partes, que as reprojete para dotar o conjunto de
unidade. [...] Este sistema, a posteriori da primeira organização (que logo se
chamará partido) será a técnica da composição”. (MAHFUZ, 1995, p. 9) Neste caso,
as partes que integram a composição formal, decorrem da necessidade de envolver
as funções, adaptando-se a tipos de arquitetura antiga. Esses ensinamentos de
Durand, com conotação de funcionalidade, resultava num todo que é a soma das
partes formais (figura 2.6).
1.4.5.2 QUATRÉMÉRE
Embora l’esquisse, não estabelecesse com rigor o que era o todo, Mahfuz
(1995, p. 20) afirma que “nos concursos realizados na École de Beaux-Arts para
definir ganhadores do Grand-Prix de Rome, todos os estudantes tinham que se
manter fiéis ao esquisse original no desenvolvimento dos desenhos finais, sob pena
de serem desclassificados caso agissem de outra forma”. Evidencia-se, assim, um
ensino de arquitetura na École de Beaux-Arts, no qual os princípios de projeto
alimentavam uma representação inoperante em alguns aspectos da arquitetura.
Segundo Martínez (1995), não existia o ensino da construção, ou estava atrasado,
enquanto já se praticava a arquitetura do ferro; não eram consideradas
necessidades construtivas, limitando-se a deixar espessuras em cortes e plantas
para que ali fossem encaixados os elementos de sustentação da construção.
181
como não temos nenhuma obra elementar bem feita sobre esta arte,
seja porque os cientistas até agora tenham acreditado ser de pouco
interesse, ou porque a tenham praticado de um certo modo
obscuramente alguns cidadãos cuja educação não estava suficiente
desenvolvida, e que não sabiam comunicar os resultados de suas
121
reflexões, um curso simplesmente oral não teria nenhum efeito.
121
"comme nous n'avons sur cet art aucun ouvrage élémentaire bien fait, soit parce que jusqu'ici les
savans y ont mis trop peu d'intérêt, soit parce qu'il n'a été pratiqué que d'une maniére obscure par
des citoyens dont l'éducation n'avoit pas été assez soignée, et qui ne savoient pas communiquer les
résultats de leurs méditations, un cours simplement oral seroit absolument sans effet."
122
"ha sido posible la consolidación del concepto de ciencia de la representación como una disciplina
suficiente para entender sin ambigüedad las cualidades métricas y de posición de los dibujos
represeentativos convencionales."
183
que conseguimos investigar sobre as duas hipóteses apresentadas por ele, nem
uma pode ser escolhida. Os cientistas, e aqui entendemos o sentido de cientista
como qualquer pessoa que avançou sobre esse saber, tinham sim interesse em
publicar os resultados dos seus conhecimentos sobre ‘esta arte’. Vários tratados
foram impressos e Désargues foi o que chegou mais próximo da sua teoria.
Recordando, o próprio Monge reconhecia que sua teoria sustentava-se em saberes
já consolidados.
O que se pode deduzir disso que Monge deixou em suspenso, é que: se não
tinham tido interesse sobre essa arte, ele apresentava algo novo, não comum e, por
outro lado, se era uma arte conhecida obscuramente, ele inovava. Duplamente
apoiado nas suposições, Monge garantia sua autonomia para a impressão das
lições. O novo, era a ordem da Revolução, e Monge, revolucionário, obedeceu.
Obedeceu com a força que a Revolução precisava, explorando a força comunicativa
da imprensa.
curso de geometria descritiva que se reúnam a prática e a execução com a viva voz
dos métodos”. (tradução nossa)123
Figura 2.9 – Concepção medieval representando Cristo que utiliza um compasso, metaforicamente a
geometria para reconstruir o mundo a partir do caos original.
123
“Il est donc nécessaire pour le cours de géométrie descriptive, que la pratique et l’exécution soient
jointes à l’audition des méthodes.”
185
formas arquitetônicas.” Isso requer uma explicação, o arquiteto que representa utiliza
elementos formais que existe a sua disposição e que compõe em seu edifício
partindo das partes para o todo. De maneira diferente, o arquiteto que determina o
espaço, parte da sua invenção.
124
“Ainsi ceux des citoyens dont les études antérieures auroient été dirigées vers la géométrie, ou
vers les autres sciences exactes, seront exercés dans des salles particu lières aux constructions
graphiques de la géométri descrptive.
Les deux parties de cet art ont des méthodes générales, avec lesquelles les citoyens se
familiariseront par l’usage de la règle et du compas, et sans lesquelles il seroit difficile qu’ils se
missent em état de l’enseigner eux-mêmes.”
125
Entretanto, segundo Tournès (2001) nas considerações de traçados de reta e de círculos no
tratado de Euclides, régua e compasso não são mencionados. Ainda, de acordo com o queafirmou,
no século V, o comentador Proclus apud Tournès (2001), o conteúdo deste tratado é limitado do
ponto de vista geométrico, porque Euclides não admitiu todos os elementos que poderia coletar, mas
todos aqueles que eram possíveis ser informados.
126
“Parmi les différentes applications que l’on peut faire de la méthode des projections, il y em a deux
qui sont remarquables, et par leur généralité, et par ce qu’elles ont d’ingenieux: ce son les
constructions de la perspective, et la détermination rigoureuse des ombres dans les dessins. Cex
188
deux parties peuvent éter considérées comme le complément de l’art de décrire les objets. On y
exercera ces citoyens, parce qu’étant destinés à enseigner un tour les procédés de la géométrie
descriptive, il est nécessaire qu’ils en connoissent toutes les ressources.”
189
127
Reproduzimos aqui, para que seja entendido o reconhecimento deste autor e de sua obra no
a
ensino brasileiro, sua próprias palavras, que foram publicadas À MARGEM DA 6 EDIÇÃO, em
RODRIGUES, Álvaro J. Operações fundamentais e poliedros. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1973.
Consigno aqui meus agradecimentos aos ilustres professores: Quirino Campofiorito, da Escola
Nacional de Belas Artes; Gerson Pinheiro, da Faculdade Nacional de Arquitetura; Mendel Coifman, da
Escola Fluminense de engenharia, Léa Bustamante, da Faculdade de Engenharia da Universidade da
Guanabara; Sr. Sérgio de Lima, presidente do Diretório Acadêmico da ENBA e professor George
Sumner, mestre emérito do Colégio `Pedro 2, oradores dessa significativa homenagem, - pelas
honrosas referências feitas a esta obra didática.
Sou também, muito grato ao ilustre professor Alfredo Galvão, criador e diretor do anuário “Arquivos”
da Escola Nacional de Belas Artes, excelente órgão cultural da Universidade do Brasil, pelo destaque
o
proporcionado no n IX, de 12 de agosto do corrente ano, à referida solenidade com a transcrição dos
discursos ali pronunciados.
128
“[...] utilizzato sia in fase di progetto (cioè nella ricerca della soluzione definitiva), per studiare le
articolazioni volumetriche, que per la redazione di elaborati relativi a particolari construttivi complessi –
ad esempio strutturali o di collegamento tra vari elementi – per i quali riesce as essere molto
esplicativo. Non a caso tutti gli schemi grafici que vogliono richiamare in modo comprensibile la
configurazione spaziale vengono eseguiti in assonometria (come quelli cui si è fatto ricorso più volte in
questo stesso volume).”
191
129
“Ensuite on appliquera la méthode des projections aux constructiosn graphiques, necessaries au
plus grand nombre des arts, tel que les traits de la coupe des pierres, ceux de la charpenterie, etc.”
192
130
Podemos verificar o alcance dessa obra no ensino brasileiro pelo número de suas edições que é
de 26, segundo Machado (1988).
193
não tem olho real. “[...] sofreram a violência de um pensamento cartesiano131 (e das
heranças que o próprio pensamento recebeu e dos herdeiros que deixou) que não
pára de mutilar os desejos e aniquilar os corpos” (KEIL, 2004, p. 142).
131
O pensamento de Descartes mostrava interesse na sistematização de novos valores seguros e
universais sobre os quais vão se constituir a modernidade. Pontos principais da epistemologia
cartesiana: 1. Busca de um método e de uma racionalidade matemática; 2. Abandono da experiência
sensível pela abstração do mundo; 3. Concepção do universo reduzido a propriedades geométricas
que podem ser manipuladas e compreendidas pelo homem; 4. Recusa da intervenção da imaginação
no conhecimento do real a favor da lógica e da clareza; 5. Concepção do corpo humano como
máquina; 6. Espírito de ordem e classificação em bases matemáticas e racionais inabaláveis; 7.
Compreensão das coisas evidenciando do simples ao complexo. (BRANDÃO, 2001).
132
“Enfin le reste de la durée du cours sera employé, d’abord à la description des élémens des
machines, afin d’en étudier les formes et les effets, et ensuit à celle des machines don il est le plus
important de réprande la connoissance, soit que les machines aient pour objet de donner au travail
plus de précision et plus d’uniformité , soit qu’elles aient pour but d’enployer à la production d’un
certain travail les foroes de la nature, et par là d’augmenter la puissanse nationale.”
194
133
Os harpedonaptas são os primeiros geômetras, aqueles de que se podiam alugar os serviços no
notário para redistribuir as terras que a inundação tirou os limites. Sabiam obter as superfícies com
comprimentos, pelo cordão, com a unidade, a medida, a escrita e o prestígio. (SERRES, 1993).
134
“le premier, de donner les méthodes pour représenter sur une feuille de dessin qui n’a que deux
dimensions, savoir, longueur , largeur et profondeur, pourvu néanmoins qué ces corps puissent être
définis rigoureusement.
Le second objet est de donner la manière de reconnoitre d’après une description exacte les formes
des corps, et d’en déduire toutes les vérités qui résultent et de leur forme et de leurs positions
respectives.”
135
Sobre essas experiências pode ser consultada a parte I, capítulo 1, desta tese, que trata da
história da representação na arquitetura.
197
136
“Nons allons d’abord [...]”
198
Quando Monge (1799, p. 5 ) diz: “o primeiro passo que vamos dar nesta
matéria deve ser indicar o modo de representar o ponto no espaço” (tradução
nossa)137, ele desvia-se de explicar o conceito de ponto. No entanto, conseguimos
investigar o que ele entendia por ponto acompanhando suas lições. A representação
do ponto, de fato, Monge só vai mostrar quando aborda o problema da projeção do
ponto, o modo de representar o ponto na figura 1 de Géométrie descriptive.
Analisamos tal representação ao comentarmos sobre a projeção do ponto seguindo
o discurso de Monge.
137
“[...] lê premier pas que nous allons faire dans cette matiére doit être d’indiquer la manière dont on
exprime la position d’un point dans l’espace.”
138
“Les surfaces de tous les corps de la nature pouvant être considérées comme composées de
points”
199
139
Sobre a fotografia como representação na arquitetura encontramos ampla crítica em Arquitectura
como collage de Fuão (1992).
201
Para Monge (1799, p. 5), “o espaço não tem limites; todas as suas partes
são perfeitamente semelhantes, nada tem que as caracterize, e nenhuma delas
pode servir de termo de comparação para indicar a posição de um ponto”. (tradução
nossa)140 O espaço é abstrato e nele o ponto (entendido como abstração
matemática) dá visibilidade às formas. Monge repete o mistério da criação. Desde os
primeiros versículos do Gêneses a visibilidade do mundo depende de Deus, o que
vai se invertendo com avanços da ciência. Justamente nesse movimento da ciência
contra a metafísica avançava a matemática, incluindo os conceitos dos quais Monge
140
“L’espace est sans limites; toutes ses parties sont parfaitement semblables, elles n’ont rien qui les
caractérise, et aucune d’elles ne peut server de terme de comparaison pour indiquer laposition d’unn
point. ”
203
2.1.3 REFERÊNCIA
141
“No hay duda de que el problema de la naturaleza es un componente del concepto del espacio”.
204
142
“Parmi tous les objets simples, nous allons rechercher quels sont ceux qui presentment plus de
facilité pour la determination de la position d’un point; et parce que la géométrie n’offre rien de plus
simple qu’un point, nous examinerons dans quell genre de considerations on seroit entraîne, si, pour
determiner la position seroit connue; enfin, pour mettre plus de clarté dans cette exposition, nous
désignerons ces points connus par les letters successives A, B, C, etc.”
205
143
“On voit qu’en employant, pour déterminer la position d’un point dans l’espace, ses distance à
d’autres points connus, et don’t le nombre est nécessairement trois, l’on est entraîné dans des
considérations qui ne sont pas assez simples pour servir de base à des procédés d’un usage habituel.
Recherchons actuellement quelles seroient les considerations auxquelles on seroit conduit, si, au lieu
de rapports la position d‘un poin à trios autres points connus, on le rapportoit à des droites données
de position.[…]
Pour simplifier, nous nommerons successivement A,B,C, etc.,ls droites que nous serons obligés
d’employer. […]
On voit que les considérations auxquelles on est conduit pour déterminer la position d’un point dans
l’espace par la connoissance de ses distances à trois lignes droites connues, sont encore bien moins
simples que celles auxquelles donnent lieu ses distances à trios points, et qu’ainsi elles peuvent
encore moins server de base à des méthodes qui doivent être d’un service fréquent.
Parmi les bjets simples que la géométrie considèe, il faut remarquer principalement, 1º. le point qui n’a
aucune dimension; 2º. la ligne droite qui n’em a qu’une; 3º. le plan qui em a deux. Recherchons s’il ne
seroit pas plus simple de déterminer la position d’um point par la connoissance de ses distances à des
points ou à des lignes droites.
Supposons donc qu’il y ait dans l’espace, des plans non parellèles, connus de position, et que nous
désignerons successivement par les lettres A, B,C, D, etc. […]
On voit donc que, quoique, par rapport au nombre de ses dimensions, le plan soit un objet moins
simple que la ligne droite qui n’en a qu’une, et que le point qui n’em a pas, il présente cependant plus
de facilité que le point et la ligne droite pour la détermination d’um point dans l’espace: c’est ce
procédé que l’on emploie ordinairement dans l’application de l’algèbre à la géométrie, ou, pour
chercher la position d’un point, on a coutume de chercher ses distances à trois plans connus de
position.
Mais dans la géométrie descriptive, qui a éte pratiquée depuis beaucoup plus long-temps par un
beaucoup plus grand nombre d’hommes, et par des hommes dont le temps étoit précieux, les
procédés se sont encore simplifiés ; et au lieu de la considération des trois plans, on est parvenu, au
moyen des projections, à n’avoir plus besoin explicitement que de celle de deux. ”
208
144
“On appelle projection d’um point sur um plan le pied de la perpendiculaire abaissée du point sir le
plan.”
145
“Cela posé, si l’on a deux plans connus de position dans l’espace, et si l’on donne, sur chacun de
ces plans, la projection du point dont on veut définir la position, ce point sera parfaitement déterminé.”
146
“En effet, si par la projection sur le premier plan on conçoit une perpendiculaire à ce plan, il es
évident qu’elle passera par le point défini; de même si, par as projection sur le second plan, on conçoit
une perpendiculaire sur ce plan, elle passera de même par le point défini: donc ce point sera en
même temps sur deux lignes droites connues de position dans l’espace; donc il sera le point unique
de leur intersection; donc enfin il sera parfaitement déterminé.”
210
147
No capítulo A perspectiva florentina e o desenvolvimento da ciência moderna, Katinsky (2002)
trata sobre as tabuletas de Brunelleschi com minuciosa explicação.
211
148
“Su aparato colocaba el ojo del observador em el centro de projeción, dando uma total ilusión de
profundidad. Evidentemente, el borde del orificio tenia por objetivo eliminar el campo periférico, o sea
descurvar el espacio perceptivo y darle la mayor homogeneidad posible a la zona focal central, en
donde la curvatura es mínima. Esta circunscripción de la mirada es la condición de la geometrización
del campo de visión, y toma como punto de partida el agujero dela cámara. El invento pone el ojo del
observador dentro del espejo, justo en el punto virtual del imago, produciendo assí el efecto de
profundidad, de realismo, y destruyendo el sentido de orientación. Tiraba al observador dentro de la
escena, dentro de lo representado.”
212
149
”Mais dans la géométrie descriptive, qui a été pratiquée depuis beaucoup plus long-temps par um
beaucoup plus grand nombe d’hommes, et par des hommes dont le temps étoit précieux, les
procédés sesont encore simplifiés; et au lieu de la considération des trois plans, on est parvenu, au
moyen des projections, á n’avoir plus besoin explicitement que de celle de deux.”
213
150
Segundo Rodrigues (1960, p. 72), Mario Gionardi apresentou esse método à Accademia delle
Scienze Fisiche e Matematiche da Sociedade Nacional de Ciências de Nápolis como “Perspectiva
Linear Cilíndrica”.
214
Como dois pontos bastam para determinar a posição de uma linha reta,
para construir a projeção de uma reta basta construir a de dois de seus
pontos, e a reta tirada pelas projeções destes dois pontos será a
projeção pedida.
151
“Dans les paragraphes suivans, [...]”
152
“ Comme deux points suffisent pour déterminer la position d’une ligne droite; pour construire la
projection d’une droite, il suffit de construire celles de deux de ses points, et la droite menée par les
projections de ces points sera la projection demandée.
Il suit de là que, si la droite proposée est elle-même perpendiculaire au plan de projection, as
projection se réduira à um seul point, qui sera celui de as recontre avec le plan.”
215
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 2.16 – Projeção ortogonal de uma reta, colocando em evidência as linhas de projeções de
cada ponto.(MONGE, 1799, planche I, fig. 1)
Fonte: http://gallica.bnf.fr
Figura 2.18 – Projeção ortogonal de uma reta, colocando em evidência as linhas de projeções de
cada ponto.(MONGE, 1799, planche I, fig. 2 e 3)
instrumentos na mão sentimos os movimentos que são as curvas das quais são
compostas as figuras geométricas. A realização, a observação e a transformação
das figuras, elementos essenciais do processo da descoberta conduzem às
conjunturas e a prova das propriedades novas.
153
”Sans figures sensibles, il ne peut y avoir de figures idéales, mais, sans figures idéales, on ne va
guère au-delà des figures sensibles les plux immédiates.”
154
“est indépendant de la position des plans de projection, et a lieu également, quel que soi l’angle
que ces deux plans fassent entre eux.”
219
155
outro vertical”. (tradução nossa) E, como as matemáticas evoluem, vasculhando
tempos anteriores a Monge encontramos outras origens para o diedro:
155
“comme la plupart des artises qui font usage de la méthode des projections sont três-familiarisés
avec la position d’um plan horizontal et la direction du fil à plomb, ils ont coutume de supposer que,
des deux plans de projections, l’um soit horizontal et l’autre vertical.”
220
156
“on voit que si l’on a les deux projections d’um corps terminé par des faces planes, par des arêtes
retilignes, et par des sommets d’angles solides, projections qui se réduisent aux systêmes des celles
des arêtes retilignes, il será facile d’en conclure la longueur de telle de ses dimensions qu’on voudra:
car, ou cette dimension será parallèle à un des deux plans de projection, ou elle sera em même temps
oblique aux deux; dans le premier cas, la longueur demandée de la dimension sera égale à sa
projection; dans le second, on la déduira de ses deux projections pal le procédé que nous venons
décrire.”
222
2.1.10 POLIEDROS
Uma vez apresentados o ponto e a reta, Monge (1799, p.16) diz que seria a
hora de apresentar os sólidos determinados por planos e arestas retilíneas;
porém não existe uma regra geral para esta operação: se verifica de
ver em efeito, que segundo os supostos que determinem a posição dos
vértices dos ângulos de um sólido, a construção de suas projeções
223
157
“mais il n’y a pour cette opération aucune règle générale: on sent en effet que, selon la manière
dont la position des sommets des angles d’un solide est définie, la construction de leurs projections
peut être plus ou moins facile, et que la nature de l’operation doit dépendre de celle de la définition. Il
en est precisemént de cet objet comme de l’algèbre, dans laquelle il n’y a aucun procédé général pour
mettre un problème en équations.”
224
ingleses e depois com mais violência os franceses lutaram pelo domínio do espaço
mediante o cubismo. Assim, embora com resultados tímidos a Horse Guards sinaliza
uma mudança mais profunda. (D’AGOSTINO, 2006)
158
"Il n'y a aucune construction de géométrie descriptive qui ne puisse être traduite en anlyse; et
lorsque les questions ne comportent pas plus de trois inconnues, chaque opération analytique peut
être regardée comme l'écriture d'un spetacle en géométrie."
159
“Si je refaisais mon ouvrage qui a pour titre “de l’analyse appliquée à la géométrie” je l’écrirais en
deux colonnes: dans la première je donnerais les representations par la géométrie descriptive, en
d’autre termes par la méthode des projections, dans la second, les demonstrations par l’analyse”.
228
Na Alta Idade Média podemos dizer que a geometria só existia como uma
matemática da forma e que se encontrava muito atrás dos ensinos de aritmética,
sem dúvida mais avançados. Quando afirmamos que a geometria era pouco
considerada como tal, não queremos afirmar que as formas geométricas não eram
utilizadas. Bem ao contrário, porém, esta utilização verificava-se como uma forma
gráfica de levar ao projeto as relações aritméticas em relação à proporção. Dizendo
de maneira diferente, circunferências, quadrados e outras formas geométricas
tinham a função de transladar para a arquitetura a boa proporção. A presença das
relações de boa proporção era algo inquestionável, vinculada à idéia de um cosmos
como reflexo da perfeição divina. Configurava-se assim através da matemática um
mundo pitagórico.(GUTIÉRREZ, 2003)
229
Não tem nenhuma superfície curva que não possa ser considerada
como gerada pelo movimento de uma linha curva, ou seja de forma
constante quando muda de posição, ou variável ao mesmo tempo de
forma e de posição no espaço. [...]
Portanto, não é representando a posição das projeções de alguns
pontos particulares pelo quais passa a superfície curva que se
determina sua forma e posição, mas sim, de modo que por qualquer
um dos pontos da superfície curva seja possível construir a curva
geratriz, segundo a forma e a posição que deva ter ao passar por esse
o
ponto. Sobre o que é necessário observar: 1 que cada superfície curva
podendo ser gerada de diferentes maneiras, depende da destreza de
que quem a representa, eleger entre as possibilidades de geração a
que empregue a curva mais simples e que exija considerações menos
o
trabalhosas; 2 que a experiência tem mostrado que indicar para cada
ponto da superfície curva duas geratrizes é vantajoso em relação a
considerar uma única com o estudo da lei do movimento e da mudança
160
de forma de sua geração. (Monge, 1799, p. 18-20, tradução nossa)
“Assim, em geometria descritiva, para expressar a forma e a posição de uma
superfície curva basta eleger um de seus pontos e por este passar duas geratrizes
em projeção horizontal e vertical.” (MONGE, 1799, p. 20,tradução nossa)161 (figura
2.26)
160
“Il n’y a aucune surface courbe qui ne puísse être regardée comme engendrée par le mouvement
d’une ligne courbe, ou constante de forme lorsqu’elle change de position, ou variable en même temps
et de forme et de position dans l’espace.[...]
Ce n’est donc pas en donnant les projections des points individuels par lesquels passe une surface
courbe, que l’on en determine la forme et la position, mais em mettant à portée de construire por un
point quelconque la courbe génératrice, suivant la forme et la position qu’elle doit avoir en passant par
o
ce point. Sur quoi il faut observer, 1 que chaque surface courbe pouvant être engendrée d’un nombre
infini de manières différentes, il est de l’adresse et de la sagacité de celui qui opere, de choisir, parmi
toutes les générations possibles, celle qui emploie la courbe la plus simple, et qui exige les
o
considérations les moins pénibles; 2 qu’un long usage a appris qu’au lieu de ne considérer pour
chaque surface courbe qu’une seule de ses générations, ce qui exigeoit l’étude de la loi du
mouvement et celle du changement de forme de as génération.”
161
“Ainsi, dans la géométrie descriptive, pour exprimer la forme et la position d’une surface courbe, il
suffit, pour un point quelconque de cette surface, et dont une des projections peut être prise à volonté,
233
de dois planos; a sexta como encontrar o ângulo entre dois planos determinados por
seus traços; a sétima como encontrar o ângulo entre duas retas dadas; a oitava com
encontrar o ângulo entre reta e plano determinados; e, por último, a nona estuda
como determinar a projeção horizontal do ângulo dado entre duas retas das quais se
conhece também o ângulo que fazem com o plano horizontal de projeção.
Além da utilidade nas artes, o estudo dos planos tangentes e das normais às
superfícies curvas apresentam facilidade na solução de outros exemplos, que são
apresentados nos itens 28 a 34. Em alguns casos para facilitar a solução da questão
abrevia-se o método geral da determinação do plano tangente exposto no item 23,
porém por algo equivalente. Quanto às normais serão consideradas como retas
perpendiculares aos planos tangentes para simplificar o entendimento.
casos de plano tangente à superfície esférica: que passe por uma reta dada exterior
a esfera, que seja tangente a duas esferas dadas e também o que seja tangente a
três esferas dadas. Os casos de plano tangente à superfície cilíndrica e à superfície
cônica por um ponto qualquer exterior a elas e, o plano tangente à uma superfície de
revolução dada que passe por uma reta dada, encerram os exemplos apresentados
no capítulo II.
..
Fonte: GANI (2004)
Figura 2.27 - Ilustração da idéia de Monge, sobre seções em superfícies utilizando recursos de
informática.
2.1.17 ADIÇÕES
Eliane Panisson
163
“[...] toutes ces vues qu’en donnant à l’éducation nationale une direction nouvelle […]”
Assossiação Brasileira de Professores de Geometira Descritiva e Desenho Técnico.
Síntese dos quatro Simpósios Nacionais de Geometria Descritiva e Desenho
Técnico realizados entre os anos de 1955 e 1963. Fundação Educacional de
Bauru. Faculdade de Engenharia. Departamento de Representação Gráfica, 1983.
AMODEO, F. Albrecht Dürer, precursore di Monge. In: Atti della Reale Accademia
delle Scienze Fisiche e Matematiche, série Segunda, v. XIII, Napoles, 1908.
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
BOYER, Carl Benjamin. História da matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1974.
BRAGA, Marco et al. Breve história da ciência moderna: das Luzes ao sonho do
doutor Frankenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, v. 3.
248
FRÉZIER, A.. La théorie et la pratique de la coupe des pierres e des bois, pour
la construction des voûtes et autres parties des bâtiments civils & militaires, ou
Traité de stéreotómie a l’usage de l’architecture, t.1. Strasbourg: Jean Daniel
Doulsseker lê Fils. Paris: L.H.Guerin, 1737. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr>.
Acesso em: out. 2005.
KEIL, Ivete e TIBURI, Márcia. Diálogo sobre o corpo. Porto Alegre: Escritos
Editora, 2004.
LINS, Ivan Guimarães & MARTINS, Vitor. Daquilo que eu sei. 1981. Disponível em:
http://www.ivanlins.com.br. Acesso em: jan. 2007.
LORIA, G. Storia della Geometria Descrittiva dalle origini ai nostri giorni. Milão:
Hoepli, 1921.
MAFHUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão compositiva. Viçosa: UFV, Impr.
Univ.; Belo Horizonte: AP Cultural, 1995.
MASSIRONI, Manfredo. Ver pelo desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
Tradução de Cidália de Brito.
MEDEIROS, Lígia Maria Sampaio de. O desenho como suporte cognitivo nas
etapas preliminares de projeto. Tese de doutorado em Engenharia de Produção.
Rio de Janeiro: COPPE, 2002.
MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. Tomo I (A-D). Barcelona: Ariel, 1994.
SANTAELLA, Lúcia & WINFRIED, Nöth. Imagem: Cognição, semiótica, mídia. São
Paulo: Iluminuras, 1998.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova história crítica. São Paulo: Nova Geração, 2002.
SILVA, Clóvis Pereira da. A matemática no Brasil. Curitiba: Ed. Da UFPR, 1992.
Trabalho originalmente apresentado como tese de doutoramento na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em 1989.
SILVA, João P. E; MONTEIRO, Antônio, PAIS, M.. Breve resenha crítica dos
métodos de representação gráfica até Gaspard Monge. In: CONGRESO
INTERNACIONAL DE INGENERIA GRÁFICA (XIII.: 2001:Badajós). Anais. Badajós:
Universidad de Extremadura, Departamento de Expressión Gráfica, 2001.
VIRILIO, Paul. O espaço crítico. Tradução de Paulo Roberto Pires. Rio de Janeiro:
Ed. 34, 1993.
Jean Baptiste de la Ruë Traité de la coupe des pierres. Paris: Royale, 1728.
Tratou sobre os primeiros passos descritivos da
Trompe do Castello di Anet, estudados por Delorme
e Padre Derand. (TREVISAN, 2001)
Johann Heinrich Lambert Foi reconhecido por Taton (1951) como o precursor
mais imediato do método mongeano de
(1728-1777)
representação do espaço. Mostrou um controle dos
fundamentos geométricos da perspectiva e das
técnicas gráficas. (CARDONE, 1996)
Lezione ad uso delle scuole normale di Francia raccolte per mezzo dei stenografi e rivedute dai
professori. Milano: Netti, 1798. Tradução: C.L. Esta obra traduz parte das lições de Geometria
Descritiva, dadas às Escolas Normais, no ano 3 da República; por Gaspard Monge, antes dessas
lições serem publicadas na edição autônoma de 1799. (FIOCCA, 1992.)
MONGE, G., Géométrie Descriptive. Paris: Baudoin,1799. Reedições desta obra: 3ª edição com um
suplemento redigido por Hachette, 1811; 4ª ed. por B. BRISSON, Paris, 1820; 5ª ed. Paris, 1827; 6ª
ed. Paris, 1838; 7ª ed. Paris, 1847. Outras edições em francês: Bruxelas, 1827; Bruxelas, 1854, Paris,
1922. (TATON, 1951)
TRAMONTINI, Giuseppe. Delle proiezioni grafiche e delle loro principali applicazioni, trattato teorico-
pratico ad uso della R. Scuola Militare del Genio e dell'Artiglieria come ancora di tutti I giovani architetti
ed engegneri civili. Modena: Società Tipografica, 1811. Esta obra apresenta na primeira parte a teoria
de representação desenvolvida segundo o método de Monge e na segunda parte mostra as principais
aplicações da geometria descritiva. (FIOCCA, 1992)
BRISSON, 1820 (Contém três lições inéditas encontradas em carta deixada por Monge sobre
determinação das sombras, teoria perspectiva aérea e a perspectiva linear. Uma quarta lição sobre
vantagens da introdução da geometria descritiva na instrução pública não foi publicada por Brisson e
hoje encontra-se perdida. (FIOCCA, 1992.)
FLAUTI, Vicenzo. Geometria del sito sul piano e nello spazio. Napoli, Tipografia di palazzo Cariati,
1815. Esta obra possue outras duas edições: 1821 e 1842. (FIOCCA, 1992)
271
HACHETTE. Collection des Èpures de Géométrie descriptive. S/d. (Trata-se de uma coleção de 100
pranchas de exercícios produzidas em datas diferentes, como por exemplo 1801- prancha 24 - e 1814
– prancha 16, e contendo muitas sem qualquer data, conforme Cardone (1996).
SERENI, Carlo. Saggio delle applicazione della geometria descrittiva ad alcuni punti della scienza
dell'ingegnere. In: Ricerche geometriche ed hifrometriche fatte nella scuola degli ingegneri pontifici
d'acque e strade l'anno 1821. Milano: giusti, 1822. (FIOCCA, 1992.)
BORDONI. Antonio. De ' contorni delle penombre ordinarie. Pavia: Fusi, 1822. (FIOCCA, 1992)
BORDONI. Antonio. Sopra le linee uniformemente illuminate. Giornale de física Chimica Del
Brugnatelli, tomo VI, 1823, pp. 196
SERENI, Carlo. Trattato di geometría descrittiva. Roma: F. E N. De romanis, 1826. (FIOCCA, 1992.)
MONGE, G. Tratato di geometria descrittiva, coll'aggiunta d'una teórica delle ombre e della prospettiva
estratta dalle lezione inedite dell'autore per cura del sig. Brisson, prima versione italiana per cura del
prof. Filippo Corridi. Firenze: Ricordi, 1838. (FIOCCA, 1992.)
Monge, Gaspard. Darstellende geometrie. Leipzig: W. Engelmann, 1900. Tradução de Robert Karl
Hermann Haussner. (FIOCCA, 1992.)