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IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

prof. Pedro Barretto

1. Conceito

É um benefício fiscal, conquistado por expressa proclamação constitucional. É


uma proteção. Surge quando o constituinte ergue algumas normas de um determinado
perfil que terá como efeito uma blindagem, ou seja, o tributo não atingirá aquele
contribuinte.

Surgem normas constitucionais limitadoras, já que algum ente ou todos os entes


da federação não poderão instituir tributos para uma determinada relação jurídica;
estarão vedados de exercer a competência tributária que possuem.

Quando se erguem normas desse perfil na Constituição quais são os efeitos que
decorrem de uma norma como essa? A norma constitucional proibitiva do exercício da
competência tem um duplo efeito, e um dos efeitos que decorrem dessa norma
constitucional é a imunidade tributária. Se a norma constitucional diz: “é vedado ao
estado cobrar ICMS na venda de livros” quais são os efeitos que decorrem de uma
norma como essa que é uma das normas imunizantes que estão na Constituição? São
dois, depende de para quem você irá olhar, se é para o ente federativo ou se é para o
beneficiário. Se olharmos para o ente federativo que é atingido pela norma, a norma
terá uma eficácia vedatória, proibitiva, portanto, exclui o exercício da competência. Por
outro lado, se olharmos para o beneficiário, a norma terá um efeito protetivo, benéfico
ao beneficiário, ao sujeito passivo, ao administrado, que seria o sujeito passivo de uma
relação jurídica que não vai nem existir, o tributo não vai incidir.

A doutrina criou o nome “imunidade tributária” para definir a não incidência do


tributo pela Constituição. Se trata de uma hipótese de “não incidência
constitucionalmente qualificada”.

2. Natureza Jurídica

As imunidades tributárias são benefícios fiscais que decorrem de normas


limitadoras do poder de tributar. Possui natureza jurídica de benefício fiscal.

3. Diferença entre imunidades e princípios tributários

Nem sempre que houverem normas constitucionais que limitam o poder de


tributar do Estado haverá uma imunidade.
Quando o constituinte edifica as normas que limitam o poder de tributar do
Estado, essas normas ora são normas proibitivas (drásticas) e ora são normas que não
proíbem, mas regulam o limite de liberdade do exercício (normas mais brandas, que não
impedem o exercício, mas que estabelece barreiras, limites, para o seu exercício). Os
efeitos dessas normas são diferentes.

A norma constitucional que veda o ente o direito de exercer a competência, que


exclui o exercício da competência, essa norma é uma imunidade tributária.

Por outro lado, a norma pode ensinar, estabelecer um parâmetro para a


incidência do tributo, são normas que não impedem a incidência do tributo, são normas
principiológicas, regulatórias do exercício da competência, que estabelecem um
princípio tributário (ex.: princípio da anterioridade). Não proíbe que se exerça o direito,
mas ensina quais serão os limites que a norma deverá obedecer.

4. Diferenças entre imunidades e isenções

Ambos são benefícios fiscais. A diferença está no modo de emanação do


benefício.

Imunidade é o benefício que decorre da Constituição. O TRIBUTO NÃO INCIDE,


NÃO OCORRE FATO GERADOR, não gera vínculo obrigacional tributário, inexiste relação
tributária. A constituição proíbe que o tributo incida.

Isenção é o benefício trabalhado no plano infraconstitucional. São benefícios que


são concedidos pelos entes federativos em situações em que O TRIBUTO INCIDE, o
fato/acontecimento tributável recebe a incidência do tributo, esse fato gera a relação
jurídica obrigacional tributária, todavia, o ente federativo concede uma dispensa do
dever do pagamento da obrigação principal (Atenção: tudo que é dever de pagar é
obrigação principal. Dever comportamental é obrigação acessória). NA ISENÇÃO
OCORRE O FATO GERADOR. A regra é que decorra de uma lei, mas pode ocorrer de
outras formas. O ente federativo aprova uma lei e através de uma lei ele dispensa o
pagamento do tributo (em regra é uma dispensa legal do tributo). A isenção atua na
incidência do tributo. A isenção não atinge obrigações acessórias. As isenções podem
ocorrer de forma parcial (ex.: advogados estão isentos do pagamento de 50% do tributo)
ou total.

#GANCHO: Como se concede uma isenção? Em regra, por meio de lei. Basta uma
lei ordinária (uma lei comum, quórum de maioria simples), não precisa de uma lei
complementar.
#ATENÇÃO: A lei que concede uma isenção tem que ser específica, o que significa
que na lei deve haver uma reserva de conteúdo, deve servir apenas para conceder
aquele benefício, apenas para falar daquele tributo. O constituinte quis que não se
aprovasse uma isenção em leis genéricas ou multitemática, é necessário ser específica
(art. 150, §6º da CF/88). Em regra, isenções quando concedidas são revogáveis, a lei que
concedeu pode revogar a isenção. Todavia, excepcionalmente, a isenção pode ser
irrevogável se for concedida com duas características: 1) se for concedida a termo, se
tiver prazo certo (ex.: por 1 ano, etc.) e 2) sob condição. Isenção condicionada e a termo
não pode ser revogada. Mas atenção, a regra é a revogabilidade.

Sabe-se que a regra para a concessão da isenção é que ela decorra de lei,
entretanto, existe uma exceção: isenções de ICMS não podem ser concedidas por lei.
Devem ser concedidas ou por convênios (acordos que são feitos pelo CONFAZ –
Conselho Nacional de Política Fazendária, que tem presença de representantes de todos
os estados da federação e de integrantes da Administração, para que se preserve o
equilíbrio da federação) ou por Tratados Internacionais. Isenção de IMCS só se houver
acordo (convênios do CONFAZ ou Tratados). Para todos os outros tributos, lei específica.

5. Diferenças entre Imunidade, Isenção, Remissão e Anistia

Remissão é quase que idêntica a isenção; na remissão uma lei vem e dispensa a
obrigação de pagamento de um tributo que incidiu, a diferença é que a isenção é
concedida antes do fato gerador e a remissão é concedida após a incidência do fato
gerador. Na remissão há um perdão de dívida velha, é uma causa de extinção do crédito.
A isenção é uma dispensa antecipada, vem antes do fato gerador, é uma causa de
exclusão preventiva do crédito.

A expressão “anistia” no direito tributário é utilizada para designar, para indicar


um fenômeno em que o fisco perdoa infrações, atos ilícitos. Na anistia ocorre um perdão
de infração, como p. ex. o descumprimento de uma obrigação acessória, alguém que
não emitiu uma nota fiscal, etc. A anistia exclui o direito de se aplicar a sanção, a multa.
A anistia não atinge o tributo, a anistia atinge a multa. A anistia é uma dispensa de
pagamento de um elemento do crédito, uma parte do crédito. Ex.: alguém que devia mil
reais de tributo e eu quero dispensá-lo do pagamento da multa, dou-lhe a anistia. Se
quero dispensá-lo do pagamento de todo o crédito, de toda a dívida, dou-lhe remissão.

Na imunidade o tributo não incide. Na isenção, remissão e anistia o tributo


incide.

 Art. 175, incisos I e II, do CTN: são causas de exclusão do crédito a isenção
e a anistia.
 Art. 156, inciso IV, do CTN c/c Art. 172, CTN: causa de extinção do crédito
é a remissão.

6. Normas imunizantes

Na Constituição, a maioria das imunidades tributárias ficam no mundo dos


impostos (mas não todas), não imunizando os demais tributos, ou seja, se existir
determinada imunidade, ela alcançará somente os impostos, não alcançando taxas,
contribuições de melhoria, etc. Salvo as seguintes exceções:

Imunidades de taxas, exemplos:


 Art. 5º, XXXV, CF: justiça gratuita - proibição da incidência da taxa
judiciária sobre pessoas hipossuficientes/miseráveis (imunidade em
razão da capacidade financeira do indivíduo);

 Art. 5º, LXXVII, CF: impossibilidade de se cobrar taxa judiciária para a


impetração de habeas corpus e habeas data (impossibilidade de cobrança
em razão da natureza do remédio, é dispensável saber algo sobre a
capacidade financeira do indivíduo);

Imunidades de contribuições especiais, exemplos:

 Art. 195, inciso II (parte final), CF: não incidência de contribuição


previdenciária sobre pensão e aposentadoria pelo regime do art. 201, CF
(RGPS). Aposentados e pensionistas do RGPS não se sujeitam a incidência
de contribuição previdenciária sobre o valor da pensão e aposentadoria
se estas forem pagas em razão de um vinculo com o RGPS (no regime
especial incide, não há imunidade).

 Art. 195, §7º, CF: as entidades beneficentes de assistência social


(filantrópicas) são IMUNES de pagar contribuições previdenciárias
(contribuições da seguridade social);

 Art. 149, §2º, inciso I, CF: Estabelecimentos exportadores, quando


exportam para fora do Brasil, independentemente do produto/serviço,
não se sujeitam a incidência de Contribuições Sociais e nem contribuições
para o Custeio de Intervenções no Domínio Econômico (CIDE) sobre as
receitas decorrentes das exportações (RDE), ou seja, sua receita
decorrente dessas atividades será imune para essas duas situações.
PEGADINHA: A exportadora que está protegida quando a receita entra no
país (quando ela vende o produto/ presta o serviço e recebe a receita,
nesta não incide CS ou CIDE sobre essa receita) se ao final do ano/período
ela fechar o balancete e ela tiver lucro líquido decorrente da exportação,
ela pagará normalmente a CSLL (Contribuição Social do Lucro Líquido)
para a Seguridade Social. Destarte, a imunidade de contribuição social e
CIDE das exportadoras é sobre a receita bruta (receita que entra), mas se
ao final do balancete ela tiver auferido lucro, não haverá nova imunidade,
então incide a CSLL sobre os exportadores, a imunidade é sobre a receita
bruta. Portanto, pode incidir Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido
(CSLL) decorrente da exportação.

Obs.: Imunidades dos exportadores – um exportador precisa ser


incentivado, portanto há imunidade de IPI (art. 153, §3º, inc. III) e de
ICMS (art. 155, §2º, X, “a”) nas exportações. Desta feita, não incide IPI e
ICMS nas exportações e não incide CIDE e Contribuições Sociais sobre as
receitas decorrentes das exportações (art. 149, §2º, I). O exportador não
só é imune a contribuições sociais e CIDE decorrentes da exportação; ele
é imune também ao IPI e ao ICMS. O exportador só paga o imposto de
exportação.
O ISS na exportação tem uma regra diferente: para o ISS o constituinte
não proíbe que incida o ISS quando a gente presta serviço para o exterior,
quem presta serviço para o exterior não tem imunidade (pode ter outro
benefício, imunidade não). O que está escrito na CF é que quem
determina se haverá ou não a incidência de ISS sobre o lucro decorrente
de prestação de serviço para o exterior é a lei complementar (LC
116/2003 – lei de normas gerais do ISS, art. 2º, inciso I e § único). Os
critérios são os seguintes: 1)Se a utilidade/resultados do serviço se
verificarão no exterior, não incidirá ISS; 2) do contrário, se o prestador do
serviço somente estiver fora do país mas a utilidade do serviço se
perceberá aqui dentro, incidirá o ISS. Ex: treinamento realizado na
Noruega para utilização no mercado brasileiro, incide ISS. Prestador de
serviço para o exterior não é imune (art. 156, §3º, II).

7. Imunidades em espécie

No art. 150, inciso VI e suas alíneas encontramos um catálogo de normas


constitucionais imunizatórias de impostos (imunidades genéricas ou concentradas do
art. 150, inc. VI). Para essas imunidades dessas alíneas é preciso que façamos uma
remissão para os parágrafos 2º, 3º e 4º do mesmo art. 150.
A outro giro, existem outras normas esparsas que também vedam a incidência
de impostos (imunidades esparsas).
7.1) Imunidades esparsas

1) Imunidade de ITR (art. 153, p. 4º, inc. II): pessoa que possua uma pequena
gleba de terra (em regra, até 30 hectares) e não possua mais nenhum outro imóvel e
utiliza essa pequena terra para sua subsistência, não incide ITR, em regra. PEGADINHA:
se o proprietário tiver dois imóveis não haverá imunidade de ITR mesmo que a soma
desses dois imóveis (15 + 15) não passe de 30 hectares. A imunidade só servirá se for
um só imóvel considerado PARA A CONSTITUIÇÃO, MAS HÁ ISENÇÃO neste caso (art. 3º,
da lei 9393/96).

2) Não incidem impostos (ITBI ou ITCMD), quando alguém está adquirindo imóvel
na qualidade de assentado, fruto de uma desapropriação de imóvel para fins de reforma
agrária; são imunes, houve um erro técnico do constituinte; não existem isenções no
texto constitucional (art. 184, p. 5º)

3) Imunidade de ITBI (art. 156,p. 2º, inc. I): são cinco imunidades nesse artigo. A
grande pegadinha nesse artigo é que tem três pessoas que não gozam dessas
imunidades. O ITBI é um imposto municipal (art. 156), que incide sobre transmissões de
bens imóveis entre vivos onerosamente (ex: compra e venda, valor do lance da
arrematação em hasta pública). Não incidirá ITBI em cinco situações em que está
acontecendo uma aquisição de bem imóvel onerosamente e em vida: 1ª: quando está
nascendo uma pessoa jurídica e um dos sócios na hora de realizar o capital social faz o
aporte com um bem imóvel e não com dinheiro; 2ª, 3ª e 4ª: não incide ITBI quando uma
pessoa jurídica adquire imóvel em razão de fusão (PJ “A” e PJ “B” possuem seus
respectivos imóveis e ambas deixam de existir para dar origem à PJ “C” com a união de
todos os imóveis; a PJ “C” não paga ITBI para registrar esse imóveis pois ela é resultante
da fusão de “A” e “B”), cisão (é o contrário da anterior, e também não incide ITBI para
registrar) e incorporação (a sociedade “ABC” incorpora uma pequenina PJ e seus
imóveis, e não paga ITBI para registrá-los). Também não incide ITBI quando a PJ está
nascendo e recebe imóvel transferido de um sócio na realização do capital. 5ª: consiste
em alguém, pessoa física ou jurídica, vai adquirir imóvel de pessoa jurídica em extinção
(ex.: falência). A aquisição de imóvel de PJ em extinção, bastando comprovar esse
detalhe através de p. ex. documentos contábeis, não incide ITBI. ATENÇÃO: Perde essa
imunidade esse adquirente do imóvel se o adquirente tiver como atividade
preponderante: 1)compra e venda de imóveis; 2)leasing/arrendamento de imóveis e;
3)locação de imóveis.

7.2) Imunidades concentradas/genéricas: Art. 150, VI


Todas as alíneas que estão no inciso VI, do art. 150, tratam apenas dos impostos.
Ora o constituinte busca proteger algumas pessoas contra a incidência de alguns
impostos (imunidades subjetivas), ora ele busca proteger a operação de circulação de
alguns bens contra a incidência de impostos e, neste caso, é irrelevante quem está
vendendo/fazendo circular a mercadoria, o que atrai a imunidade é a natureza do
objeto/bem (imunidades objetivas).

As imunidades subjetivas se encontram nas alíneas “a”, “b” e “c” e são ora para
pessoas de direito público (alínea “a” – imunidade recíproca dos entes federativos) e
ora para pessoas de direito privado (alíneas “b” e “c” – ex.: entidades sindicais de
trabalhadores, entidades privadas educacionais que atuam sem fins lucrativos, etc.). Já
as imunidades objetivas se encontram nas alíneas “d” e “e”.

A doutrina majoritária sustenta que o principal motivo, a finalidade, que justifica


a existência dessas normas que ora imunizam as pessoas e/ou ora imunizam a circulação
de bens é proteger a integridade de direitos fundamentais e a estrutura federativa do
Estado, o federalismo (este último melhor percebido na alínea “a”), por isso são
cláusulas pétreas e não podem ser revogadas por emenda. Se cair na prova que uma
emenda veio revogar as alíneas do inciso VI do art. 150, ou mesmo uma delas, essa
afirmativa estará incorreta porque essa emenda será inconstitucional; ela veio para
colocar em risco o federalismo ou a integridade de direitos fundamentais, portanto, se
ela veio por exemplo com tendências a abolir o pacto federativo retirando a imunidade
recíproca, então o STF deveria declarar essa emenda inconstitucional por violação à
limitação imposta pelo art. 60, p. 4º, da Constituição.

Nas alíneas “a” e “c” o constituinte diz que é vedado à União, os estados-
membros, municípios e Distrito Federal, cobrarem impostos sobre o patrimônio, rendas
e serviços. Não se veda a incidência de todo e qualquer imposto, pelo menos na
literalidade. A vedação é para não incidir nesses casos supramencionados. O
constituinte não diz nada sobre a vedação aos demais impostos no conteúdo das alíneas.

7.3) Classificação dos Impostos

1. Impostos sobre patrimônio


 Impostos sobre aquisição de bens: ITBI (municípios) e ITCMD
(estados);
 Impostos sobre manutenção de bens: IPTU (municípios), IPVA
(estados) e ITR (União).
*OBS.: IGF que ainda não possui lei complementar para instituí-
lo, mas seria um sexto imposto sobre o patrimônio.

2. Impostos sobre renda


 IRPF/IRPJ: trata-se do mesmo imposto, mas o que o difere é quem
irá auferir a renda, se será uma pessoa física ou uma pessoa
jurídica.

3. Impostos sobre serviços


 Impostos sobre serviços de qualquer natureza, o “ISS-QN”
(municípios);
 Imposto sobre circulação de mercadoria e prestação de serviço, o
I(cm)S: no que tange ao “S”, ele é um imposto sobre serviços com
competência dos estados. Existem dois serviços que o estado
tributa, que são os serviços de comunicação e os serviços de
transporte quando este é além fronteira, transporte
intermunicipal ou interestadual.

4. Impostos que não se alinham no tripé acima

 Impostos sobre circulação:


 de bens de consumo: IPI e ICM(s)
 de valores na atividade financeira: IOF

 Impostos sobre o comercio exterior (comércio internacional:


importações e exportações):
 Imposto de Importação: II
 Imposto de Exportação: IE

Pergunta: A imunidade que é dada pelo constituinte no texto literal do art. 150, VI,
alíneas “a” e “c” seria apenas para os impostos sobre patrimônio renda e serviços. Os
impostos sobre circulação e comércio exterior (II, IE, IPI, IOF e ICM) esses, a priori, não
estão abrangidos na literalidade do texto constitucional pela norma imunizatória. A
grande polemica é: quando cai em uma prova o alcance da imunidade tributária
recíproca dos entes federativos entre si, a imunidade tributária das entidades privadas
da alínea “c” (partidos políticos, fundações partidárias, entidades sindicais de
trabalhadores, entidades de educação sem fins lucrativos, entidades de saúde que na
verdade não estão expressas mas entram por equiparação sem fins lucrativos, entidades
assistenciais sem fins lucrativos) e aí, elas têm imunidades de II, IE, etc.?
Resposta: segundo o STF depende, o silêncio do constituinte foi proposital, não foi nem
autorizadora e nem proibitiva, para ser aferida no caso concreto com base em uma
ponderação de valores. É possível perceber a imunidade recíproca dos entes federativos
entre si? Do mesmo modo, é possível ver no caso concreto a imunidade das entidades
privadas? Vê que não há nenhum tipo de dúvida nos impostos sobre o patrimônio, renda
e serviços? Percebe que o constituinte deu a imunidade para as entidades federativas
entre si, a imunidade recíproca, essas entidades privadas da alínea “c” nos impostos
sobre o patrimônio, renda e serviços? Percebe que ele silencia nos impostos sobre
circulação e comércio exterior? O constituinte silenciou para que nesse caso fosse
analisada a situação no caso concreto. O prejudicado deverá buscar a Administração,
caso ache pertinente, para que esta conceda por interpretação extensiva do texto
constitucional, porque por interpretação literal do texto constitucional não lhe foi
garantida a imunidade. A conclusão é simples, é no sentido de que essas entidades da
alínea “c” do art. 150, VI, bem como os entes federativos uns em relação aos outros e
as entidades das respectivas administrações indiretas podem ou não ter a imunidade
tributária quanto a impostos sobre circulação e comércio exterior. O que vai determinar
é o caso concreto.
Portanto atenção: se cair na prova, a pegadinha será sempre em relação aos impostos
de circulação (IPI, ICM, IOF) e de comércio internacional (II, IE) sobre partidos políticos,
fundações partidárias, entidades sindicais de trabalhadores, entidades de educação sem
fins lucrativos, entidades de assistência social sem fins lucrativos, entidades de saúde
sem fins lucrativos, ou sobre autarquias, fundações públicas de um dos entes
federativos ou sobre o próprio ente federativo, um determinado ente cobrando um
desses impostos sobre o outro (ex.: a união cobrando IPI, IOF, II, IE sobre estado,
município ou DF; o estado cobrando ICM de um município, de uma autarquia municipal,
da União, de uma autarquia federal, de uma fundação pública federal, etc.), o que
deverá ser respondido nessa questão é que a CF não assegura a imunidade
expressamente, mas o STF entende que é possível estendê-la se no caso concreto ficar
aprovado que a tributação é crucial e que o prejuízo que ela vai gerar é substancial,
ponderando valores, vai dar um prejuízo grave a quem está sendo tributado e a
arrecadação não justifica esse tipo de dano, portanto, neste caso será possível dar a
interpretação extensiva do texto para consagrar uma imunidade que não está
expressamente prevista no texto da Constituição. Será sempre com esses 5 impostos e
essas mesmas pessoas (os entes federativos e as entidades da Administração indireta
que exercem atividade administrativa e as entidades privadas da alínea “c”). Não é
preciso se preocupar com a alínea “b”, pois esta alínea, a dos templos religiosos, o
constituinte assegura que não incidirão impostos sobre os templos de qualquer culto,
não havendo qualquer restrição. Portanto, para as igrejas as imunidades são para todos
os impostos.
7.4) Imunidades Tributárias de Impostos do Art. 150, VI, CF/88

7.4.1) Imunidade recíproca (art. 150, VI, “a”, §2º e §3º da CF)

Veda a incidência de tributos a priori sobre seu patrimônio, renda e serviços,


podendo alcançar todos os impostos, de um ente em relação ao outro. O motivo é que
se isso fosse possível, poderia gerar uma desestabilização no equilíbrio da federação.
A regra é não se estender a imunidade recíproca às empresas públicas, às
sociedades de economia mista que o Estado cria para desenvolver atividade econômica.
Portanto, a imunidade recíproca dos entes federativos vai se estender somente às
pessoas que o Estado institui para desenvolver atividade típica dele, mas não se
estender para pessoas que o Estado cria para desenvolver atividades dos particulares.
Então, se o Estado cria autarquias e fundações públicas é para desenvolver atividades
típicas de Estado (atividade Administrativa em sentido estrito), portanto, terá
imunidade recíproca porque não é nada mais do que uma extensão do próprio Estado
projetado nessas pessoas. Agora quando o Estado cria empresas públicas e sociedades
de economia mista para desenvolver atividade econômica, a imunidade não se estende,
não alcança essas pessoas e aí é necessário dar a elas o mesmo regime jurídico de direito
privado que é dado aos demais particulares que com elas concorrerão e que deve ser
uma concorrência lícita, aberta, honesta e leal no mercado (não é possível dar um
privilégio a pessoas estatais se eu não posso estender esse privilégio isonomicamente
às empresas privadas).
Uma grande pegadinha é a seguinte: temos, por exemplo, a ECT (empresa
pública), que foi criada para desenvolver serviços postais, que é uma atividade exclusiva
da União (art. 21, X, da CF). Daí surge o principal debate: ao se criar a empresa pública
que presta serviço exclusivo de Estado, uma empresa pública que não foi criada para
entrar no mercado aonde os particulares competem livremente e competir com eles
empresariado na livre concorrência. Ao se criar uma empresa pública para se tentar ter
lucro explorando um serviço exclusivo de Estado, vem a pergunta, essa empresa pública
goza da imunidade tributária? Porque a ideia de negar a imunidade tributária a
empresas públicas tradicionais é que como elas exercem atividade econômica, elas
competem com particulares, e é aí que não seria justo dar a imunidade tributária a uma
empresa que o Estado cria para concorrer com particulares que não tem a mesma
imunidade (os preços seriam diferentes, p. ex.), causando um desequilíbrio. Diante de
todo esse pensamento, o STF entendeu que se deveria dar a imunidade e se criou no
Brasil a jurisprudência que diz que a imunidade recíproca alcança eventuais e
excepcionalíssimas empresas públicas e sociedades de economia mista que se
enquadrem no perfil de ser uma empresa pública prestadoras de serviço exclusivo de
Estado. Portanto, é possível se afirmar que a imunidade recíproca dos entes federativos
se estende às autarquias e fundações públicas mantidas pelo poder público e se estende
a empresas públicas e sociedades de economia mista que desenvolvam serviço público,
atividade típica de Estado, não sendo aquelas tradicionais empresas públicas e
sociedades de economia mista criadas para prestar atividade econômica, porque essas
não terão a imunidade.
Atenção para o fato de que a imunidade recíproca não se estende para abraçar
concessionárias, permissionárias, autorizatárias de serviços públicos, empresas públicas
que prestam atividade econômica, sociedades de economia mista que prestam
atividade econômica. Nenhuma delas possui imunidade. Todas elas pagam os seus
impostos normalmente (p. ex. cai na prova: foi cobrado ISS sobre uma concessionárias
de serviço público, ela tem que pagar? Sim! Ela presta serviço econômico, não tem que
ter imunidade tributária).
O STF incluiu no campo das delegatárias do poder público (aquelas que recebem
por delegação a executoriedade do serviço público), as entidades cartorárias, e
entendeu que os cartórios, as serventias, elas tem que pagar o ISS em cima do que elas
recebem quando prestam o serviço cartorário (cobrado sobre o valor bruto), notarial,
de registro, pois elas recebem uma taxa para prestar esse serviço (serviço público
prestado em regime privado por delegação, art. 236, CF), elas também tem que pagar
normalmente o IPTU sobre o imóvel.
Existe uma situação em relação a OAB: o estatuto da OAB a trata como uma
autarquia, dizendo que ela goza de imunidade sobre o seu patrimônio, renda e serviços,
apesar disso, o STF vem decidindo reiteradamente que a OAB não é autarquia, mas que
por equiparação deveria dar a OAB essa imunidade tributária recíproca. Ela é
equiparada para esses fins de gozar da imunidade tributária. O STF já pacificou o
entendimento que essa imunidade recíproca que a OAB tem não atinge a caixa
assistencial (não atinge a CAARJ, p. ex), porque a imunidade tributária que a constituição
concede e que o estatuto da OAB regula, tem por finalidade, tem como motivo, a própria
finalidade da OAB, a de garantir a sociedade perante a ordem jurídica como um todo,
uma finalidade que vai além de garantir a defesa de seus profissionais, p. ex. (art. 44, I,
Estatuto da OAB). Por isso, a imunidade dada a OAB ocorre em razão dessas finalidades
que ela persegue, mas a caixa assistencial não participa dessas finalidades; a imunidade
tributária não favorece as caixas assistenciais.
Ex.: Imagine que existe um certo imóvel público que está desafetado, portanto
existe uma lei que autoriza a sua alienação, e este imóvel já preencheu todos os
requisitos para que possa ser alienado. Um particular resolve comprar esse imóvel, mas
não pode realizar à vista. Portanto, imagine que é assinada entre as partes uma
promessa de compra e venda e o poder público desmembra a posse em favor do
particular. Nesse contrato preliminar estabelecem que se ao final do prazo o particular
tiver cumprido todas as obrigações previstas no contrato, ele, o poder público, se
obrigará a assinar a escritura de compra e venda. Durante todo o tempo da promessa
de compra e venda esse imóvel pertence formalmente ao poder público, o particular
ainda não é o proprietário, é possuidor com animus de domínio, tem a perspectiva de
se tornar proprietário mais ainda não é. Durante essa fase da promessa, a imunidade
recíproca exonera esse particular de pagar o IPTU devido pelo imóvel? Não. A imunidade
recíproca é para proteger o ente federativo quando aquele imóvel é utilizado na
atividade dele. Se esse imóvel já foi desmembrado no que tange a posse e esse particular
se imiscua como se fosse seu não faz sentido que a imunidade permaneça
(posicionamento do STF, súmula 583 e parte final do §3º, do art. 150, da CF –
promitente comprador paga imposto, diferentemente do locatário), mesmo ainda
estando registrados no RGI como do poder público.
Ex.2: contratos de locação. Imagine que o poder público tem um imóvel vazio e
sem uma boa adequação, aluga o imóvel a um particular para fazer receita. Poderia
neste caso, p. ex., se cobrar IPTU desse imóvel? Não. O valor cobrado a título de locação,
neste caso, será revertido para o próprio poder público, para custear a atividade
administrativa/atividade fim, e o STF se posiciona no sentido de a imunidade recíproca
permanece e esse fato já é presumido, não necessitando que seja comprovado. A prova
só será necessária se for uma imunidade dada a particulares. Os entes públicos, que
alugam seus imóveis, ficam imunes. Só perderiam sua imunidade e seriam tributados
pelo IPTU se o município provar que os aluguéis são revertidos para atividade diversa da
atividade administrativa.
Ex.3: digamos que um particular tem um imóvel e aluga para o poder público,
para uma determinada autarquia, p. ex. Daí questiona-se: pode incidir IPTU nessa
situação? Sim. Quem está sendo tributado é o locador e não o locatário. Não existe
relação jurídica, pelo menos no IPTU, entre o município e o locatário. O município tributa
o dono do imóvel, aquele que pratica o fato gerador, por isso continua sendo tributado.
Não existe extensão de imunidade tributária para concessionários. A imunidade
recíproca não favorece concessionárias/permissionárias de serviços públicos, que são
entidades privadas com fins lucrativos. O imposto incide normalmente. É comum
perguntarem em prova, por exemplos, se uma concessionária que fornece energia
elétrica para ser consumida dentro de imóveis que pertencem à União, a Autarquias
federais/municipais, a uma igreja, a um partido político, a uma entidade sindical de
trabalhadores, etc. A concessionária de energia elétrica, ao comercializar o bem de
consumo, para uma pessoa imune consumi-la no imóvel ela goza de imunidade
tributária? Não. O imposto, o ICMS, que incide na comercialização de energia elétrica,
incide normalmente; o estado membro pode cobrar ICMS contra a concessionária
quando ela faz a comercialização de energia elétrica que é efetivamente utilizada pelo
destinatário, consumidor da energia elétrica, mesmo que esse destinatário seja uma
pessoa que, a priori, gozaria de imunidade tributária, mas que não vai gozar, pois não é
ela que está praticando o fato gerador; aqui, quem está praticando o fato gerador é a
concessionária, que é o fornecedor e que não tem imunidade. O que acontece é que a
concessionária embute no preço esse valor do imposto cobrado e repassa para o
consumidor final, tributando indiretamente o poder público nesse exemplo dado.
Normalmente, neste caso, o que se pergunta em prova é o seguinte: é possível cobrar
ICMS sobre fornecimento de energia elétrica para ser consumida em imóveis que
pertencem à União, por exemplo? Sim. O imposto é cobrado da concessionária que não
tem imunidade, tem capacidade contributiva, tem fim lucrativo e tem que pagar o
imposto. Não interessa quem esteja utilizando a energia elétrica. O que pode ser feito
para desonerar, nesse caso, é um ISENÇÃO de ICMS para a concessionária (que não tem
imunidade garantida pela Constituição) através de uma lei, para que assim a União, no
exemplo dado, não seja tributada indiretamente.

7.4.2) Templos Religiosos – alínea “b”

A palavra “templo” não quer dizer só o prédio, “templo” quer dizer a pessoa
jurídica. É a organização/entidade religiosa, que pode ser a igreja Católica, protestante,
etc. Então, o templo fica imune de impostos quando ele aufere renda, quando é
proprietário do imóvel urbano, quando tem um veículo automotor terrestre que vai
auxiliar na atividade fim; fica imune de ISS quando presta um serviço de, por exemplo,
catequese, curso para noivos. Observe que não é só o prédio e sim para todo o
patrimônio, rendas e serviços prestados sempre que estiverem conexos com a atividade
fim.
Atenção ao §4º, do art. 150: ele faz uma restrição, condiciona a que se cumpra
algo para que se dê o direito de gozo da imunidade. Então, não basta ser igreja para ter
uma imunidade, bem como não basta que seja entidade sem fins lucrativos para que
tenha a imunidade. Diferentemente do caso apresentado na alínea “a” em que se
presume que o patrimônio, renda ou serviço prestado tenham ocorrido ou tenham sido
prestados para auxiliar na atividade fim/vinculados a atividade fim, nos demais casos,
relacionados a entidades privadas, é necessário que, EM REGRA, se comprove que há
essa vinculação a atividade fim no patrimônio do imóvel, na utilização do carro que se
deseja gozar da imunidade, etc. É preciso provar que aquele bem, p. ex., não é utilizado
em uma atividade desconexa da atividade fim. Ex.: Imagine que uma igreja comprou um
terreno para construir um prédio aonde ela pretende desenvolver a atividade religiosa.
Do dia da compra até o final da obra pode levar dois, três anos, até a conclusão e nesse
interregno temporal ela não está utilizando na atividade fim. É possível também que a
igreja compre 2 terrenos e deixe-os parados, p. ex. Mas, em todo caso, o que vale é que
tenham uma finalidade neutra. A igreja, apesar de não estar utilizando aquele
patrimônio para a sua atividade fim, também não está utilizando em uma finalidade
diversa, ela simplesmente não está atribuindo nenhuma utilização, nenhuma finalidade.
Nesses casos, mesmo assim, ainda haverá a imunidade. Só perderá a imunidade se
utilizar para uma atividade diversa de suas atividades essenciais. Portanto, cuidado com
a literalidade do parágrafo quarto, se o questionamento for em relação ao
entendimento do STJ/STF veja que não é necessariamente o que está na literalidade.
“Templo religioso de qualquer culto” é um templo de qualquer credo, vivemos
em um Estado laico que não obriga ninguém a seguir uma orientação religiosa
específica/obrigatória. O que precisa ter cuidado é com a discussão de que se
determinada filosofia de vida, determinado propósito, configura religião. Ex.: caso da
Maçonaria. Não existe um Deus próprio. Qualquer pessoa de qualquer religião pode ser
maçom. Religião é um conceito que nos remete a uma crença em valores pregados por
um Deus específico ou Deuses. O STF julgando o caso da Maçonaria, entendeu que não
se trata de uma religião e sim de uma filosofia de vida que propõe o convívio associativo,
cooperativo, guiado por bons valores, mas que não se trata de uma religião, não
podendo, portanto, gozar da imunidade da alínea “b”.
Ex.2: caso da igreja Anglicana. Esta igreja, que prega uma ideologia que tem
origem na Inglaterra, foi pleitear no STF o gozo da imunidade tributária de IPTU sobre o
imóvel que essa entidade religiosa possui na cidade de Salvador e é utilizado como
cemitério e são enterrados os restos mortais de membros da comunidade. No primeiro
momento, se negou a imunidade de IPTU entendendo-se que eles têm que pagar o IPTU
porque o cemitério desenvolve uma atividade econômica, tem fim lucrativo e tem
capacidade econômica, como ocorre nos cemitérios tradicionais, que prestam serviço
público por delegação/concessão e tem que pagam normalmente o imposto.
Entretanto, o STF reviu esse posicionamento por conta da particularidade do caso e
concedeu o gozo do benefício por conta de a igreja não desenvolver essa atividade com
fim lucrativo e sim ter o hábito de enterrar os membros de sua comunidade em seu
próprio espaço e não é aberto a qualquer um; é uma prática religiosa. Neste caso,
especificamente, o STF fez uma distinção entre os cemitérios tradicionais e os cemitérios
como esse do exemplo, que enterram seus membros em virtude de uma prática religiosa
específica. A imunidade é dada não por se um cemitério (entidade que desenvolve e
explora a atividade funerária) e sim por ser igreja, neste caso (é um cemitério religioso).
Outra situação apresentada ao STF foi o caso das igrejas, que dentro delas
vendem artigos religiosos e possuem imunidade de ICMS. A imunidade não é porque se
vendem souvenir e sim porque se trata da igreja vendendo. Quando a igreja vende
artigos dentro dela e não faz isso para ter lucro, a finalidade não é a obtenção do lucro
e sim uma prática/exercício da fé. Esse julgamento nada em a ver com o caso de
particulares que vedem artigos religiosos em outros locais, estes pagam seus impostos
normalmente.
Há também o caso do aluguel do estacionamento em um local distinto do que é
localizado a paróquia, p. ex., mas que os fiéis utilizam para estacionar os seus carros
para assistir a missa. São dois imóveis distintos. Há imunidade deste imóvel? Sim. O
imóvel está sendo utilizado para a atividade fim. É possível, inclusive, que a igreja tarife
esse estacionamento, mas mesmo assim gozará da imunidade em relação ao IPTU. A
igreja tem um custo para manter aquele imóvel, nada mais justo que se tarife sua
utilização. O que poderá ser discutido é a imunidade em relação a essa tarifação, se o
poder público poderá ou não gozar da imunidade de ISS e IR; se a igreja reverter essa
tarifação para a atividade religiosa, ainda estará imune em relação ao IR. Da mesma
forma, não pagará ISS mesmo que esteja prestando o serviço de cuidar do carro das
pessoas porque está recebendo pelo serviço prestado para viabilizar o exercício da
atividade religiosa, continua imune ao ISS.

7.4.3) Entidades privadas – alínea “c”

 Partidos políticos e fundações partidárias: são entidades


privadas que atuam com a finalidade de nos proporcionar a
efetividade de direitos fundamentais de primeira dimensão, os
direitos políticos. Os partidos políticos são pessoas jurídicas de
direito privado, e também suas fundações partidárias que
instituem, as fundações partidárias. Tanto os partidos políticos
quanto suas fundações gozam da proteção constitucional fazendo
valer o direito de usufruírem da imunidade tributária de impostos
sobre seu patrimônio, sua renda, seus serviços e até,
eventualmente, impostos sobre o comércio exterior e circulação.
Para que gozem dessa benesse, é preciso aplicar também a
restrição condicionante do parágrafo 4º, a norma restritiva que
condiciona o gozo da imunidade (devem provar a utilização nas
atividades essenciais ou provar que não se está dando finalidade
diversa). A finalidade do constituinte ao vedar a incidência de
impostos, primeiramente no caso dos partidos políticos, é
viabilizar a manutenção deles. Os partidos políticos não têm uma
finalidade que se esgota neles mesmos, eles não agem para si
mesmos, eles são organismos criados para servir a população,
viabilizar que a população através deles consiga exercer os
direitos políticos. O exercício dos direitos políticos da população
passa por esses institutos (votar e ser votado) em relação ao
pluralismo político (diferentes partidos se constituam). Trata-se
de uma cláusula pétrea, não poderia ser alterada por emenda
constitucional porque a finalidade dessa norma está relacionada
a preservação de garantias individuais da população (direitos de
liberdade política, direitos de primeira dimensão). No que tange
às fundações partidárias, é natural fazermos uma correlação com
as fundações apresentadas na alínea “a”, as fundações públicas.
Todavia, as fundações privadas podem ser imunes, mas não quer
dizer que sempre serão. Uma delas a que estamos a tratar agora
é. Uma fundação partidária (fundação criada por partidos
políticos) é instituída por particulares, e se tiver seu patrimônio,
renda e serviços vinculados efetivamente nas suas atividades
essenciais ou, se não for desta forma, pelo menos não o destine a
atividade diversa, deixando neutro o patrimônio, a renda
auferida, a prestação de serviço gerando uma receita que não
está sendo desviada da atividade fim, essa fundação gozará da
imunidade. Essa fundação, a fundação partidária, é a única que o
constituinte cita expressamente (art. 150, VI, “c”, CF).

 Outras fundações privadas poderão gozar da imunidade se se


enquadrarem como fundações assistenciais, fundações de saúde
ou fundações educacionais e se não possuírem fins lucrativos.
Inclusive, esse último fator citado vai de encontro ao estatuto da
fundação privada, porque fundação privada não tem fim
lucrativo. Então, se a fundação, que é a entidade sem fim
lucrativo, desenvolver atividade educacional, atividade
assistencial e atividade de saúde, ela gozará da imunidade
constitucional, não por ser fundação, mas pelos serviços que
presta e não ter fim lucrativo. Portanto, é importante fixar o
entendimento de que fundações privadas podem sim ser imunes.
A imunidade é dada em razão da atividade que ela exerce.

 Entidades sindicais de trabalhadores: o constituinte concede a


imunização de impostos a algumas entidades privadas que atuam
na persecução da concretização de direitos dos trabalhadores. As
entidades sindicais latu sensu gozam de imunidade porque o
constituinte entendeu que entidades sindicais de trabalhadores
tem como propósito finalístico, como razão existencial, a defesa
dos trabalhadores, na relação de trabalho, na defesa do mínimo
existencial sua e de sua família por arrastamento. A principal
razão é, portanto, a de serem entidades que não são agentes
econômicos, não tem fim lucrativo, não atuam no mercado, não
exercem atividade econômica e talvez não tenham a melhor
capacidade contributiva, portanto, desse modo, o constituinte
resolveu proteger os direitos fundamentais de segunda dimensão
(direitos dos trabalhadores se enquadram como direitos sociais).
Atenção para a pegadinha: a imunidade não serve a entidades
patronais, somente serve as entidades sindicais de trabalhadores.

 Entidades de educação, saúde e assistência social: são entidades


que optam por exercer como objeto social a saúde, a educação e
a assistência social (direitos sociais) sem fins lucrativos. São
particulares que se juntam e criam uma associação, que é uma
organização social (OS), uma OCIP, uma fundação, para
proporcionar educação, saúde e assistência a quem precisa e sem
fins lucrativos. Essa entidade goza de imunidade de impostos
porque diminui um fardo que é do Estado (concretizar direitos
sociais de segunda dimensão). Ainda que o lucro possa vir para
essas entidades, ele é revertido para a atividade fim. Cuidado. Se,
porventura, for cobrado em uma prova algo relacionado a uma
dessas entidades sem fins lucrativos, atente-se ao fato de que não
basta ter um desses objetos sociais para gozar dessa imunidade,
o que interessa é que elas atuem sem fins lucrativos. Nesse ponto
pode aparecer uma pegadinha: não ter fim lucrativo não quer
dizer não ter lucro. Pode ter lucro. O que não pode fazer é da
busca do lucro a razão, o fim existencial. Essas entidades vão ter
funcionários e contas a pagar como qualquer outro
estabelecimento e precisam ter lucro, mas esse lucro não deve ser
a sua finalidade. Pode ser que, inclusive, haja um ganho maior do
que a despesa em algum momento, mas esse valor auferido deve
ser reinvestido na atividade e dentro do país (não pode mandar
para o exterior, condição sine qua non para ter a imunidade), sem
que haja repartição desse valor aos associados/dirigentes. É
necessário um certificado de entidade sem fim lucrativo conferido
pelo poder público ao se cumprir os requisitos. O art. 14, incisos
I, II e III, do CTN, aponta quais serão esses requisitos para que se
prove que a entidade privada atua sem fins lucrativos. Qual é a
diferença entre ser “sem fim lucrativo” e ser uma “entidade
beneficente”? As entidades de educação, assistência social e
saúde sem fins lucrativos gozam de imunidades de impostos (art.
150, VI c/c §4º), só que as entidades de assistência social se elas
forem além de serem sem fins lucrativos forem beneficentes (algo
maior do que atuar sem fins lucrativos) gozarão da imunidade de
contribuições sociais para a seguridade social (imunidade do art.
195, §7, CF) que as imunizam vedando a incidência de
contribuições para a seguridade social sobre elas (lembre-se que
houve um erro técnico na escrita do artigo, elas são imunes e não
isentas). Uma entidade de assistência social pode ser imune de
impostos e de contribuições sociais para a seguridade social, mas
para isso precisa ser beneficente, precisa ter mais duas
características: 1) oferecer seus serviços gratuitamente e, 2)
oferecer a qualquer o povo indistintamente (princípio da
universalidade); se não for universal não é beneficente. Ela vive
de outras fontes de custeio, dos particulares ou do poder público,
mas não cobra por seus serviços. Então, veja, eu posso ser uma
entidade de assistência social que não atua de modo beneficente,
presta assistência social a só um segmento de pessoas (ex.:
apenas a pessoas da terceira idade), cobra um valor simbólico,
mas o que aufere reinveste na atividade fim, esta terá imunidade
de impostos, mas não a imunidade do art. 195, §7, porque mesmo
não tendo fim lucrativo, ela não é beneficente, não podendo
gozar da outra imunidade.
Atenção: as entidades de saúde não estão expressas no texto
constitucional, mas existe farta jurisprudência que estende a
imunidade as entidades de saúde. O Supremo faz interpretação
extensiva nesse caso.

7.4.4) Proibição da incidência de impostos na quando se


comercializa livros, jornais, periódicos (revistas de
circulabilidade periódica) e papel destinado à sua impressão
– alínea “d”

As normas presentes na alínea “d” estão presentes na Constituição desde


a sua concepção, já as normas da alínea “e” são imunizações que vieram a ser
inseridas na Constituição pelo advento da EC 75/2013.
A intenção do constituinte ao conceder essa imunidade, ao vedar a
incidência do imposto, é evitar que o imposto possa onerar o preço final desses
bens de forma a comprometer a circulação deles. O constituinte entende que
esses bens, os jornais, livros e periódicos são instrumentos que, quando
circulam, promovem a efetividade de uma série de direitos constitucionais de
primeira, segunda e terceira dimensão. O que se quer que circule é a mensagem,
o conteúdo que é veiculado através desses instrumentos.
Sob a ótica dos direitos de primeira dimensão, os livros, jornais e
periódicos promovem a liberdade de expressão, manifestação do pensamento,
intelecto, ideia e liberdade de informação e acesso ao conhecimento.
Em relação aos direitos de segunda dimensão temos o campo dos direitos
sociais e culturais. A imunidade literária, a imunidade da venda de livros, de
jornais e periódicos está atrelada a ideia de se efetivarem direitos sociais e
direitos culturais, que são direitos de segunda dimensão. Os livros, jornais e
periódicos são vitais para a educação de uma população. Também é possível
trazer para a ótica dos direitos culturais, ainda na segunda dimensão dos direitos
humanos, na medida em que eu divulgo conhecimento/sabedoria eu amplio o
nível cultural da sociedade e consequentemente haja o desenvolvimento
nacional.
Em relação aos direitos de terceira dimensão, os direitos difusos e
coletivos, a liberdade de expressão e acesso a informação ganham outra
colocação. O que se quer é que a população como um todo se desenvolva. Existe
uma preocupação em se exercer uma tutela coletiva.
Em suma, a norma contida no art. 150, VI, “d” está vocacionada a permitir
a efetividade de direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira dimensão
que são direitos que se concretizam quando há a circulação de livros, jornais e
periódicos. A incidência do imposto oneraria muito o valor e poderia prejudicar
a circulação desses bens e consequentemente prejudicaria a garantia desses
direitos.
Os bens protegidos pela imunidade são: livros, jornais, periódicos e o
papel destinado à sua impressão. No que diz respeito a este último, cuidado com
a pegadinha de prova: a imunidade não é só na venda de papel, a imunidade
ocorre quando a fabricante de papel está vendendo papel para fazer algum
desses bens anteriores. Ex.: o Jornal do Brasil vai comprar uma quantidade “x”
de papel. Esse papel é vendido para imprimir o jornal. Esse papel destinado a
impressão do jornal quando é vendido é imune. Para que o fabricante de papel
possa fazer a venda e não recolher o imposto ele tem que declarar quem é o
destinatário da venda e tem que emitir uma nota especial para que ele não pague
o ICMS. O estado pode auditar essa situação, para que não haja uma simulação,
p. ex.
O papel é o único insumo destinado a impressão de livros, jornais e
periódicos que o constituinte veio expressamente imunizar.
É irrelevante o sujeito que vende. A imunidade não está atrelada ao perfil
do sujeito e sim ao perfil do objeto, por isso se trata de uma imunidade objetiva.
O que determina a imunidade é o objeto, diferentemente das alíneas anteriores
que tratam de imunidades subjetivas (dadas em razão do sujeito).
Livro, em sentido técnico, é aquele veículo impresso que carrega em seu
corpo uma mensagem que pertence a um autor identificado que possui a
titularidade dessa propriedade intelectual registrada. A mensagem escrita por
esse autor e a propriedade intelectual registrada está circulando para que a
sociedade tenha acesso a essa mensagem através de um corpo impresso
chamado de livro. O STF vem expandindo o conceito de livro para aceitar que se
equipare a livro aquilo que tecnicamente não se chamaria de livro, como por
exemplo uma determinada apostila pendurada em uma banca de jornais. Neste
caso, também não incidirá o ICMS porque o STF vem equiparando a livro. Para o
STF, livro é todo o corpo de papel que tenha um dos dois potenciais: 1) o de
agregar valor na formação e desenvolvimento do conhecimento humano
(critério subjetivo); ou 2) que revele utilidade para a sociedade (ex.: listas
telefônicas e catálogos).
Exemplos de precedentes clássicos que o STF equiparou determinados
bens a livros: 1) listas e catálogos telefônicos; 2) apostilas e encadernações
acadêmicas; 3) álbuns de figurinhas (chamou de “livro ilustrado de
complementação de complementação cromada” – cromo é figurinha).
Cuidado com os insumos! A jurisprudência só dá a imunidade ao papel.
Não há imunidade na tinta, no barbante, no látex; o posicionamento do Supremo
bem firme ainda vem sendo o de negar a imunidade na circulação de insumos.
Em caso isolado, já foi concedida a imunidade no polímero, que é um verniz para
se fazer a capa dura do livro, mas foi um precedente isolado.
Sendo papel destinado a impressão de livros, jornais e periódicos, a
imunidade abarcará qualquer tipo de papel (já foi aceito até mesmo papel
fotográfico, súmula 657 do STF).
Caso do jornal alemão (chapa off set): um determinado jornal alemão se
estabeleceu no sul do país e imprimia e distribuía copias de um determinado
jornal alemão a um grupo de pessoas interessadas. Por se tratar de um jornal,
naturalmente passou a gozar da imunidade. Ocorre que, uma parte do
equipamento que utilizavam para fazer a prensa e a impressão do conteúdo era
composto por uma chapa chamada chapa off set. Essa filial então importou uma
grande quantidade dessa chama para deixar estocada aqui no Brasil porque as
que eles utilizavam não eram fabricadas no Brasil, eram importadas. Essas
chapas tem uma característica de se parecer com papel e então eles pediram a
imunidade na importação deste insumo. No primeiro momento, o STF autorizou
que houvesse a imunidade para que ela não pagasse os impostos de importação
IPI importação, ICMS importação). Posteriormente, em julgamento no plenário,
o STF entendeu que não haveria imunidade porque aquela chapa não era papel,
era um outro insumo, fato comprovado pela perícia técnica. Não há imunidade
para o equipamento.
Em março de 2017, finalmente o STF bateu o martelo em relação a um
tema que gerava grandes discussões: a imunidade aplicada aos livros eletrônicos,
que não são feitos de papel, os chamados EBOOKs. A Suprema corte decidiu
rever seu entendimento e passou a estender a imunidade tributária do art. 150,
VI, “d” às operações de circulação de livros eletrônicos (RE 595676/RJ e RE
330817/RJ). O Supremo reformou seu entendimento que antes era dado
somente aos livros de papel e resolveu estender o beneficio da imunidade,
passou a interpretar a Constituição no contexto e realidades atuais.

7.4.5) Fonogramas (CD) e videofonogramas (DVD) musicais ou


literomusicais cantados por artistas brasileiros – alínea “e”

Na ideia da proteção à cultura, no que tange especificamente a proteção


da musicalidade que é um traço marcante na cultura brasileira é que a EC
75/2013 incluiu a alínea “e” no art. 150, VI, da CF.
Cuidado! Um DVD de um filme que não é musical não está protegido, por
exemplo. A proteção é em relação à música (foi apelidada como emenda da
música).
É necessário que seja produzida no brasil, por um cantor brasileiro
(“interpretadas por cantores brasileiros”), mas a imunidade também alcança o
cantor brasileiro mesmo que ele esteja cantando uma música de origem
estrangeira. Terá a imunidade também as “caixas” dos CD/DVD, chamadas pela
Constituição de suportes materiais, e também terá a imunidade os arquivos
digitais que as contenham. A imunidade só é excluída na etapa de replicação
industrial das mídias ópticas de leitura a laser; aqui o IPI pode incidir quando há
essa replicação das mídias ópticas a laser. Salvo esta última possibilidade, a
imunidade alcança todo processo de comercialização de CDs e DVDs musicais e
literomusicais.

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