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1. Conceito
Quando se erguem normas desse perfil na Constituição quais são os efeitos que
decorrem de uma norma como essa? A norma constitucional proibitiva do exercício da
competência tem um duplo efeito, e um dos efeitos que decorrem dessa norma
constitucional é a imunidade tributária. Se a norma constitucional diz: “é vedado ao
estado cobrar ICMS na venda de livros” quais são os efeitos que decorrem de uma
norma como essa que é uma das normas imunizantes que estão na Constituição? São
dois, depende de para quem você irá olhar, se é para o ente federativo ou se é para o
beneficiário. Se olharmos para o ente federativo que é atingido pela norma, a norma
terá uma eficácia vedatória, proibitiva, portanto, exclui o exercício da competência. Por
outro lado, se olharmos para o beneficiário, a norma terá um efeito protetivo, benéfico
ao beneficiário, ao sujeito passivo, ao administrado, que seria o sujeito passivo de uma
relação jurídica que não vai nem existir, o tributo não vai incidir.
2. Natureza Jurídica
#GANCHO: Como se concede uma isenção? Em regra, por meio de lei. Basta uma
lei ordinária (uma lei comum, quórum de maioria simples), não precisa de uma lei
complementar.
#ATENÇÃO: A lei que concede uma isenção tem que ser específica, o que significa
que na lei deve haver uma reserva de conteúdo, deve servir apenas para conceder
aquele benefício, apenas para falar daquele tributo. O constituinte quis que não se
aprovasse uma isenção em leis genéricas ou multitemática, é necessário ser específica
(art. 150, §6º da CF/88). Em regra, isenções quando concedidas são revogáveis, a lei que
concedeu pode revogar a isenção. Todavia, excepcionalmente, a isenção pode ser
irrevogável se for concedida com duas características: 1) se for concedida a termo, se
tiver prazo certo (ex.: por 1 ano, etc.) e 2) sob condição. Isenção condicionada e a termo
não pode ser revogada. Mas atenção, a regra é a revogabilidade.
Sabe-se que a regra para a concessão da isenção é que ela decorra de lei,
entretanto, existe uma exceção: isenções de ICMS não podem ser concedidas por lei.
Devem ser concedidas ou por convênios (acordos que são feitos pelo CONFAZ –
Conselho Nacional de Política Fazendária, que tem presença de representantes de todos
os estados da federação e de integrantes da Administração, para que se preserve o
equilíbrio da federação) ou por Tratados Internacionais. Isenção de IMCS só se houver
acordo (convênios do CONFAZ ou Tratados). Para todos os outros tributos, lei específica.
Remissão é quase que idêntica a isenção; na remissão uma lei vem e dispensa a
obrigação de pagamento de um tributo que incidiu, a diferença é que a isenção é
concedida antes do fato gerador e a remissão é concedida após a incidência do fato
gerador. Na remissão há um perdão de dívida velha, é uma causa de extinção do crédito.
A isenção é uma dispensa antecipada, vem antes do fato gerador, é uma causa de
exclusão preventiva do crédito.
Art. 175, incisos I e II, do CTN: são causas de exclusão do crédito a isenção
e a anistia.
Art. 156, inciso IV, do CTN c/c Art. 172, CTN: causa de extinção do crédito
é a remissão.
6. Normas imunizantes
7. Imunidades em espécie
1) Imunidade de ITR (art. 153, p. 4º, inc. II): pessoa que possua uma pequena
gleba de terra (em regra, até 30 hectares) e não possua mais nenhum outro imóvel e
utiliza essa pequena terra para sua subsistência, não incide ITR, em regra. PEGADINHA:
se o proprietário tiver dois imóveis não haverá imunidade de ITR mesmo que a soma
desses dois imóveis (15 + 15) não passe de 30 hectares. A imunidade só servirá se for
um só imóvel considerado PARA A CONSTITUIÇÃO, MAS HÁ ISENÇÃO neste caso (art. 3º,
da lei 9393/96).
2) Não incidem impostos (ITBI ou ITCMD), quando alguém está adquirindo imóvel
na qualidade de assentado, fruto de uma desapropriação de imóvel para fins de reforma
agrária; são imunes, houve um erro técnico do constituinte; não existem isenções no
texto constitucional (art. 184, p. 5º)
3) Imunidade de ITBI (art. 156,p. 2º, inc. I): são cinco imunidades nesse artigo. A
grande pegadinha nesse artigo é que tem três pessoas que não gozam dessas
imunidades. O ITBI é um imposto municipal (art. 156), que incide sobre transmissões de
bens imóveis entre vivos onerosamente (ex: compra e venda, valor do lance da
arrematação em hasta pública). Não incidirá ITBI em cinco situações em que está
acontecendo uma aquisição de bem imóvel onerosamente e em vida: 1ª: quando está
nascendo uma pessoa jurídica e um dos sócios na hora de realizar o capital social faz o
aporte com um bem imóvel e não com dinheiro; 2ª, 3ª e 4ª: não incide ITBI quando uma
pessoa jurídica adquire imóvel em razão de fusão (PJ “A” e PJ “B” possuem seus
respectivos imóveis e ambas deixam de existir para dar origem à PJ “C” com a união de
todos os imóveis; a PJ “C” não paga ITBI para registrar esse imóveis pois ela é resultante
da fusão de “A” e “B”), cisão (é o contrário da anterior, e também não incide ITBI para
registrar) e incorporação (a sociedade “ABC” incorpora uma pequenina PJ e seus
imóveis, e não paga ITBI para registrá-los). Também não incide ITBI quando a PJ está
nascendo e recebe imóvel transferido de um sócio na realização do capital. 5ª: consiste
em alguém, pessoa física ou jurídica, vai adquirir imóvel de pessoa jurídica em extinção
(ex.: falência). A aquisição de imóvel de PJ em extinção, bastando comprovar esse
detalhe através de p. ex. documentos contábeis, não incide ITBI. ATENÇÃO: Perde essa
imunidade esse adquirente do imóvel se o adquirente tiver como atividade
preponderante: 1)compra e venda de imóveis; 2)leasing/arrendamento de imóveis e;
3)locação de imóveis.
As imunidades subjetivas se encontram nas alíneas “a”, “b” e “c” e são ora para
pessoas de direito público (alínea “a” – imunidade recíproca dos entes federativos) e
ora para pessoas de direito privado (alíneas “b” e “c” – ex.: entidades sindicais de
trabalhadores, entidades privadas educacionais que atuam sem fins lucrativos, etc.). Já
as imunidades objetivas se encontram nas alíneas “d” e “e”.
Nas alíneas “a” e “c” o constituinte diz que é vedado à União, os estados-
membros, municípios e Distrito Federal, cobrarem impostos sobre o patrimônio, rendas
e serviços. Não se veda a incidência de todo e qualquer imposto, pelo menos na
literalidade. A vedação é para não incidir nesses casos supramencionados. O
constituinte não diz nada sobre a vedação aos demais impostos no conteúdo das alíneas.
Pergunta: A imunidade que é dada pelo constituinte no texto literal do art. 150, VI,
alíneas “a” e “c” seria apenas para os impostos sobre patrimônio renda e serviços. Os
impostos sobre circulação e comércio exterior (II, IE, IPI, IOF e ICM) esses, a priori, não
estão abrangidos na literalidade do texto constitucional pela norma imunizatória. A
grande polemica é: quando cai em uma prova o alcance da imunidade tributária
recíproca dos entes federativos entre si, a imunidade tributária das entidades privadas
da alínea “c” (partidos políticos, fundações partidárias, entidades sindicais de
trabalhadores, entidades de educação sem fins lucrativos, entidades de saúde que na
verdade não estão expressas mas entram por equiparação sem fins lucrativos, entidades
assistenciais sem fins lucrativos) e aí, elas têm imunidades de II, IE, etc.?
Resposta: segundo o STF depende, o silêncio do constituinte foi proposital, não foi nem
autorizadora e nem proibitiva, para ser aferida no caso concreto com base em uma
ponderação de valores. É possível perceber a imunidade recíproca dos entes federativos
entre si? Do mesmo modo, é possível ver no caso concreto a imunidade das entidades
privadas? Vê que não há nenhum tipo de dúvida nos impostos sobre o patrimônio, renda
e serviços? Percebe que o constituinte deu a imunidade para as entidades federativas
entre si, a imunidade recíproca, essas entidades privadas da alínea “c” nos impostos
sobre o patrimônio, renda e serviços? Percebe que ele silencia nos impostos sobre
circulação e comércio exterior? O constituinte silenciou para que nesse caso fosse
analisada a situação no caso concreto. O prejudicado deverá buscar a Administração,
caso ache pertinente, para que esta conceda por interpretação extensiva do texto
constitucional, porque por interpretação literal do texto constitucional não lhe foi
garantida a imunidade. A conclusão é simples, é no sentido de que essas entidades da
alínea “c” do art. 150, VI, bem como os entes federativos uns em relação aos outros e
as entidades das respectivas administrações indiretas podem ou não ter a imunidade
tributária quanto a impostos sobre circulação e comércio exterior. O que vai determinar
é o caso concreto.
Portanto atenção: se cair na prova, a pegadinha será sempre em relação aos impostos
de circulação (IPI, ICM, IOF) e de comércio internacional (II, IE) sobre partidos políticos,
fundações partidárias, entidades sindicais de trabalhadores, entidades de educação sem
fins lucrativos, entidades de assistência social sem fins lucrativos, entidades de saúde
sem fins lucrativos, ou sobre autarquias, fundações públicas de um dos entes
federativos ou sobre o próprio ente federativo, um determinado ente cobrando um
desses impostos sobre o outro (ex.: a união cobrando IPI, IOF, II, IE sobre estado,
município ou DF; o estado cobrando ICM de um município, de uma autarquia municipal,
da União, de uma autarquia federal, de uma fundação pública federal, etc.), o que
deverá ser respondido nessa questão é que a CF não assegura a imunidade
expressamente, mas o STF entende que é possível estendê-la se no caso concreto ficar
aprovado que a tributação é crucial e que o prejuízo que ela vai gerar é substancial,
ponderando valores, vai dar um prejuízo grave a quem está sendo tributado e a
arrecadação não justifica esse tipo de dano, portanto, neste caso será possível dar a
interpretação extensiva do texto para consagrar uma imunidade que não está
expressamente prevista no texto da Constituição. Será sempre com esses 5 impostos e
essas mesmas pessoas (os entes federativos e as entidades da Administração indireta
que exercem atividade administrativa e as entidades privadas da alínea “c”). Não é
preciso se preocupar com a alínea “b”, pois esta alínea, a dos templos religiosos, o
constituinte assegura que não incidirão impostos sobre os templos de qualquer culto,
não havendo qualquer restrição. Portanto, para as igrejas as imunidades são para todos
os impostos.
7.4) Imunidades Tributárias de Impostos do Art. 150, VI, CF/88
7.4.1) Imunidade recíproca (art. 150, VI, “a”, §2º e §3º da CF)
A palavra “templo” não quer dizer só o prédio, “templo” quer dizer a pessoa
jurídica. É a organização/entidade religiosa, que pode ser a igreja Católica, protestante,
etc. Então, o templo fica imune de impostos quando ele aufere renda, quando é
proprietário do imóvel urbano, quando tem um veículo automotor terrestre que vai
auxiliar na atividade fim; fica imune de ISS quando presta um serviço de, por exemplo,
catequese, curso para noivos. Observe que não é só o prédio e sim para todo o
patrimônio, rendas e serviços prestados sempre que estiverem conexos com a atividade
fim.
Atenção ao §4º, do art. 150: ele faz uma restrição, condiciona a que se cumpra
algo para que se dê o direito de gozo da imunidade. Então, não basta ser igreja para ter
uma imunidade, bem como não basta que seja entidade sem fins lucrativos para que
tenha a imunidade. Diferentemente do caso apresentado na alínea “a” em que se
presume que o patrimônio, renda ou serviço prestado tenham ocorrido ou tenham sido
prestados para auxiliar na atividade fim/vinculados a atividade fim, nos demais casos,
relacionados a entidades privadas, é necessário que, EM REGRA, se comprove que há
essa vinculação a atividade fim no patrimônio do imóvel, na utilização do carro que se
deseja gozar da imunidade, etc. É preciso provar que aquele bem, p. ex., não é utilizado
em uma atividade desconexa da atividade fim. Ex.: Imagine que uma igreja comprou um
terreno para construir um prédio aonde ela pretende desenvolver a atividade religiosa.
Do dia da compra até o final da obra pode levar dois, três anos, até a conclusão e nesse
interregno temporal ela não está utilizando na atividade fim. É possível também que a
igreja compre 2 terrenos e deixe-os parados, p. ex. Mas, em todo caso, o que vale é que
tenham uma finalidade neutra. A igreja, apesar de não estar utilizando aquele
patrimônio para a sua atividade fim, também não está utilizando em uma finalidade
diversa, ela simplesmente não está atribuindo nenhuma utilização, nenhuma finalidade.
Nesses casos, mesmo assim, ainda haverá a imunidade. Só perderá a imunidade se
utilizar para uma atividade diversa de suas atividades essenciais. Portanto, cuidado com
a literalidade do parágrafo quarto, se o questionamento for em relação ao
entendimento do STJ/STF veja que não é necessariamente o que está na literalidade.
“Templo religioso de qualquer culto” é um templo de qualquer credo, vivemos
em um Estado laico que não obriga ninguém a seguir uma orientação religiosa
específica/obrigatória. O que precisa ter cuidado é com a discussão de que se
determinada filosofia de vida, determinado propósito, configura religião. Ex.: caso da
Maçonaria. Não existe um Deus próprio. Qualquer pessoa de qualquer religião pode ser
maçom. Religião é um conceito que nos remete a uma crença em valores pregados por
um Deus específico ou Deuses. O STF julgando o caso da Maçonaria, entendeu que não
se trata de uma religião e sim de uma filosofia de vida que propõe o convívio associativo,
cooperativo, guiado por bons valores, mas que não se trata de uma religião, não
podendo, portanto, gozar da imunidade da alínea “b”.
Ex.2: caso da igreja Anglicana. Esta igreja, que prega uma ideologia que tem
origem na Inglaterra, foi pleitear no STF o gozo da imunidade tributária de IPTU sobre o
imóvel que essa entidade religiosa possui na cidade de Salvador e é utilizado como
cemitério e são enterrados os restos mortais de membros da comunidade. No primeiro
momento, se negou a imunidade de IPTU entendendo-se que eles têm que pagar o IPTU
porque o cemitério desenvolve uma atividade econômica, tem fim lucrativo e tem
capacidade econômica, como ocorre nos cemitérios tradicionais, que prestam serviço
público por delegação/concessão e tem que pagam normalmente o imposto.
Entretanto, o STF reviu esse posicionamento por conta da particularidade do caso e
concedeu o gozo do benefício por conta de a igreja não desenvolver essa atividade com
fim lucrativo e sim ter o hábito de enterrar os membros de sua comunidade em seu
próprio espaço e não é aberto a qualquer um; é uma prática religiosa. Neste caso,
especificamente, o STF fez uma distinção entre os cemitérios tradicionais e os cemitérios
como esse do exemplo, que enterram seus membros em virtude de uma prática religiosa
específica. A imunidade é dada não por se um cemitério (entidade que desenvolve e
explora a atividade funerária) e sim por ser igreja, neste caso (é um cemitério religioso).
Outra situação apresentada ao STF foi o caso das igrejas, que dentro delas
vendem artigos religiosos e possuem imunidade de ICMS. A imunidade não é porque se
vendem souvenir e sim porque se trata da igreja vendendo. Quando a igreja vende
artigos dentro dela e não faz isso para ter lucro, a finalidade não é a obtenção do lucro
e sim uma prática/exercício da fé. Esse julgamento nada em a ver com o caso de
particulares que vedem artigos religiosos em outros locais, estes pagam seus impostos
normalmente.
Há também o caso do aluguel do estacionamento em um local distinto do que é
localizado a paróquia, p. ex., mas que os fiéis utilizam para estacionar os seus carros
para assistir a missa. São dois imóveis distintos. Há imunidade deste imóvel? Sim. O
imóvel está sendo utilizado para a atividade fim. É possível, inclusive, que a igreja tarife
esse estacionamento, mas mesmo assim gozará da imunidade em relação ao IPTU. A
igreja tem um custo para manter aquele imóvel, nada mais justo que se tarife sua
utilização. O que poderá ser discutido é a imunidade em relação a essa tarifação, se o
poder público poderá ou não gozar da imunidade de ISS e IR; se a igreja reverter essa
tarifação para a atividade religiosa, ainda estará imune em relação ao IR. Da mesma
forma, não pagará ISS mesmo que esteja prestando o serviço de cuidar do carro das
pessoas porque está recebendo pelo serviço prestado para viabilizar o exercício da
atividade religiosa, continua imune ao ISS.