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DIEGO LUIZ PERON

HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL NA JUSTIÇA DO TRABALHO

2018
Sumário

NOÇÕES GERAIS: ................................................................................................................................. 3


Artigo 855-B............................................................................................................................................. 5
Artigo 855-C ............................................................................................................................................ 6
Artigo 855-D ............................................................................................................................................ 7
Artigo 855-E............................................................................................................................................. 8
REFERÊNCIAS: .................................................................................................................................... 10
NOÇÕES GERAIS:

A reforma trabalhista, lei nº. 13.467/2017, que entrou em vigor no dia


11.11.2017, inseriu o capítulo III-A na seção IV da CLT, que trata do processo para
homologação de acordo extrajudicial. Dessa forma, foram inseridos os artigos, 855-B
até o 855-E, cujo texto inicialmente, dispondo sobre um procedimento de jurisdição
voluntária, nos diz que o processo de homologação de acordo extrajudicial terá início
por petição conjunta, ou seja, pelas duas partes, reclamante e reclamada, sendo
mandatória a representação de ambas por advogados distintos, não podendo ser o
mesmo para ambos.
O texto novo nos diz também acerca da multa do art. 477, § 8º, da CLT a qual
não será afastada, mantendo-se o prazo de até 10 dias contados a partir do término
do contrato para o pagamento das verbas rescisórias. O juiz, terá o prazo de 15 dias
a contar da distribuição da petição, para: analisar o acordo, designar audiência se
entender necessário e homologar o acordo. Com a distribuição da petição, o prazo
prescricional está suspenso quanto às verbas trabalhistas constantes da inicial, que
voltam a correr com o trânsito em julgado da decisão denegatória.
Este novo sistema, permite garantir ao empregado e empregador uma forma
de resolução da “lide” de forma mais sucinta e a análise do magistrado garantirá que
este procedimento não ferirá a legislação e consequentemente não ofenderá aos
envolvidos.
É preciso notar que a homologação extrajudicial referida não é bem uma
novidade no ordenamento jurídico processual brasileiro, pois já era constante no artigo
57 da Lei 9.099/95, vejamos:

Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser


homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a
sentença como título executivo judicial.

Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acordo celebrado pelas


partes, por instrumento escrito, referendado pelo órgão competente do
Ministério Público. (BRASIL, 1995)

e também do artigo 725, VIII, do NCPC:

Art. 725. Processar-se-á na forma estabelecida nesta Seção o pedido de:

[...]
VIII - homologação de autocomposição extrajudicial, de qualquer natureza ou
valor. (BRASIL, 2015)

A lei 9.099/95, já tentou preencher o vazio da CLT com a disposição do artigo


57, porém, para a CLT que se mantinha silente a respeito do acordo à época, era
muito prematuro pensar que as partes pudessem vir à porta da Justiça do Trabalho
com um acordo, conciliação prontos reivindicando apenas por homologação.

Com o passar do tempo e “dos tempos”, o legislador criou uma previsão


própria para a CLT, para que assim não seja preciso “emprestar” artigo da lei dos
juizados especiais.
ARTIGO 855-B

De acordo com o artigo 855-B, o acordo extrajudicial virá concluído, pronto,


apenas para a Justiça do Trabalho homologar, sendo iniciado por petição conjunta e
representação por advogado; parte esta, que sem dúvida, mitigou o jus postulandi,
previsto no artigo 791 da CLT e Súmula 425 do TST, pois é exigida a representação
das partes por advogados distintos, não podendo haver representação por advogado
conjunto.
A petição tendo que ser conjunta enfrenta um problema de prática do sistema
PJe, que não permite o peticionamento conjunto. O legislador, tentando evitar a figura
já repudiada e conhecida da comunidade trabalhista, a colusão, artigo 142 do NCPC
não deu uma solução ao caso a saída terá que ser a assinatura conjunta e o posterior
escaneamento da petição.
ARTIGO 855-C

Continuando a análise textual da norma recaímos acerca da disposição do


artigo 855-C sobre o prazo de 10 dias para pagamento das verbas rescisórias, artigo
477 § 8º da CLT:

Art. 855-C. O disposto neste Capítulo não prejudica o prazo estabelecido no


§ 6o do art. 477 desta Consolidação e não afasta a aplicação da multa prevista
no § 8o art. 477 desta Consolidação. (BRASIL, 1943)

Foi um recado bem simples do legislador para a empresa: não adianta ter
pressa em ajuizar pedido de homologação de acordo extrajudicial, imediatamente
após a dispensa do empregado, para se livrar da multa do artigo 477, confiando que
não deveria pagar as rescisórias no prazo da lei (10 dias), somente porque submeteu
toda a discussão à conciliação (!).
Para melhor situação quanto a interpretação autêntica contextual, vejamos
abaixo o texto dos §§ 6º e 8º do artigo 477 da CLT:

§ 6º - A entrega ao empregado de documentos que comprovem a


comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem como o
pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de
quitação deverão ser efetuados até dez dias contados a partir do término do
contrato. “
§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo sujeitará o infrator à
multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao pagamento da multa a
favor do empregado, em valor equivalente ao seu salário, devidamente
corrigido pelo índice de variação do BTN, salvo quando, comprovadamente,
o trabalhador der causa à mora. (BRASIL, 1943)

Pois bem. O descumprimento destes preceitos pode acarretar a exigibilidade


das multas preconizadas na norma acima, porém, muito será discutido se o não
pagamento destas multas interferirá ou não na homologação do acordo extrajudicial.

Independentemente do pedido de homologação do acordo, as verbas


rescisórias deverão ser pagas em seu prazo legal segundo o legislador, mas é certo
que haverá um futuro nebuloso à frente na questão da homologação do acordo para
com as multas.
ARTIGO 855-D

O artigo 855-D, dispõe que em 15 dias a contar da distribuição, o magistrado


analisará o acordo e poderá designar audiência para oitiva das partes. Caso entenda
desnecessária a audiência, poderá o juiz homologar a avença trazida pelas partes.
Poderá, ainda, indeferir prima facie o pedido manifestamente ilegal ou inadmissível.
Já nesse momento, há entendimento no sentido de que deve haver aplicação
do artigo 88 do NCPC, por força do artigo 769 da CLT (omissa quanto ao procedimento
de jurisdição voluntária) pelo que, aos interessados compete o recolhimento das
custas, à razão de 2% do valor do acordo, em guia própria, já no começo do processo,
pena de indeferimento.
Partindo dessa premissa, poderá haver indeferimento do pedido, de plano,
caso não se vislumbre a guia de custas já com a petição inicial. O tempo dirá se esse
é o melhor caminho.
Devido ao fato de a petição inicial não ser descrita na nova lei, que não dispõe
sobre os seus requisitos é aventado que, pois, contenha ela o maior número possível
de informações sobre o contrato para que assim o magistrado sinta-se confortável
para a homologação.
O TRT/SP criou recomendação com rol de diretrizes a serem observadas
pelos juízes coordenadores do CEJUSC (Centro Judiciário de Solução de Conflitos
Individuais) órgão que passa a ter competência para o processamento dos pedidos
de homologação extrajudicial que lhes forem enviados pelas varas do trabalho,
naquela região.
Dentre tais diretrizes, há uma que dispõe que a petição inicial deve conter os
mesmos dados formais exigidos para as iniciais em geral (nome completo, rg, cpf,
ctps, etc).
Exige o TRT/SP também, informações vitais para a homologação como: valor
do acordo, forma de pagamento, cláusula penal, valor da causa, responsabilidade
pelos recolhimentos fiscais e previdenciários1.

1
Disponível em < http://www.trtsp.jus.br/institucional/conciliacao/conciliacao-2/>
ARTIGO 855-E

O artigo 855-E dispõe que haverá suspensão do prazo prescricional da ação


quanto aos direitos nela especificados, ou seja, apenas os títulos trabalhistas
elencados na petição inicial estarão com a prescrição suspensa.
Há uma pequena incoerência da lei.
Isso por que, em geral, se o pedido consta da exordial e há a extinção do
processo sem mérito, como no caso do arquivamento, haverá, em verdade, a
interrupção do prazo prescricional e não a sua suspensão. Esse talvez seria o caminho
mais acertado, e mais consentâneo com a proteção trabalhista ao hipossuficiente
empregado.
Houve, talvez, o mesmo tratamento conferido pelo artigo 625-G que manda
suspender o prazo prescricional quando rejeitada a conciliação no âmbito da
Comissão de Conciliação Prévia.
Vejamos:

Art. 625-G. O prazo prescricional será suspenso a partir da provocação da


Comissão de Conciliação Prévia, recomeçando a fluir, pelo que lhe resta, a
partir da tentativa frustada de conciliação ou do esgotamento do prazo
previsto no art. 625-F. (BRASIL, 1941)

De todo modo, o parágrafo único do artigo 855-E estabelece que o prazo


prescricional voltará a fluir no dia seguinte ao do trânsito em julgado que negar a
homologação do acordo (negativa esta que constitui decisão terminativa, ou seja, uma
extinção do processo, sem mérito):

Art. 855-E. A petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o


prazo prescricional da ação quanto aos direitos nela especificados.
Parágrafo único. O prazo prescricional voltará a fluir no dia útil seguinte
ao do trânsito em julgado da decisão que negar a homologação do
acordo. (grifo nosso) (BRASIL, 1941).

É bem verdade que referido guia legal, no afinco de dispor sobre suspensão
de prescrição, como acima demonstrado, termina por deixar claro que o juiz poderá
negar a homologação do acordo, assim como previsto em entendimento já pacificado
pela jurisprudência do TST, Súmula 418, “A homologação de acordo constitui
faculdade do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de
segurança.” (TST, 2017).
A decisão que nega a homologação tem natureza de sentença e portanto,
pode ser atacada por recurso ordinário, por aplicação subsidiária do artigo 723 do
NCPC, cujo processamento atrai a verificação de todos os pressupostos extrínsecos
e intrínsecos de admissibilidade recursal.
A decisão que acolhe a homologação, poderá ser exarada na forma do artigo
723 parágrafo único do NCPC, pelo que, carece de fundamentação detalhada, mas
deve fixar o alcance da quitação conferida pelo trabalhador, que, entendo, pode ser
passada na forma da OJ 132 SDI-2 do TST, ou seja, total e plena, salvo disposição
em contrário pelas partes.
É de se entender que não cabe recurso contra a decisão que homologa o
acordo, por aplicação analógica do artigo 832 da CLT e Súmula 259 do TST, e assim,
apenas poderá ser manejado recurso pela União ou ação rescisória pelas partes na
forma do artigo 836 CLT e 966 do NCPC.
Segundo Manoel Teixeira Filho:

Como a norma legal sub examen menciona o trânsito em julgado da sentença


(pela qual o juiz se recusou a homologar o acordo extrajudicial), estará
também aberta a via para a ação rescisória, desde que presentes quaisquer
das causas previstas no art. 966, do CPC, em especial, a inserida no inciso
V: 'violar manifestamente norma jurídica'. Não seria o caso de ação anulatória
(CPC, art. 966, § 4º), seja porque houve o trânsito em julgado, seja porque o
tema se rege, analogicamente, pela Súmula n. 259, do TST: 'Só por ação
rescisória é impugnável o termo de conciliação previsto no parágrafo único
do art. 831 da CLT'.” (FILHO, 2017, p. 191).

O TRT/SP dentre as diretrizes já referidas supra entendeu que nos


procedimentos de homologação de acordo extrajudicial será incabível expedição
judicial de alvará para FGTS e seguro desemprego, partindo da premissa de que não
se trata de processo contencioso e sim jurisdição voluntária.
Entende-se que não há empecilho para o deferimento de alvará pelo juiz do
trabalho em prol da conciliação por que não houve restrição pelo legislador, podendo
ser aplicado à hipótese o artigo 720 do NCPC, por força do artigo 769 da CLT.
CONCLUSÃO

A reforma trabalhista trouxe um novo instrumento procedimental denominado


homologação judicial de acordo extrajudicial; o que, em tese, garantirá maior
segurança jurídica aos interessados envolvidos nas lides judiciais cabíveis. O pedido
inicial deverá ser assinado por advogados diversos e de escritório diferentes, a fim de
evitar simulações e fraudes.
Considerando, em que pese a segurança jurídica concretizada pela coisa
julgada material, no caso de homologação do acordo, a nova lei trouxe, neste ponto,
mais complicações do que simplificações. Bem verdade, retirando o jus postulandi do
trabalhador, obrigá-lo-á a contratar advogado, restando-lhe, claro, a opção facultativa
de socorrer-se ao advogado do sindicato de classe. No mais, trouxe inovações como
a suspensão do prazo prescricional durante o procedimento de jurisdição voluntária
até decisão ou sentença. A irrecorribilidade, embora mantida, entende-se que ainda
restará cabível a ação rescisória, desde que preenchidos os requisitos processuais
legais.
Outra situação importante que considerasse é a questão envolvendo é a de
uma nova causa de suspensão da prescrição.
REFERÊNCIAS:

BOMFIM, Vólia Cassar e BORGES, Leonardo Dias. Comentários à Reforma Trabalhista. Lei
13.467, de 13 de Julho de 2017. Editora Método, 1.a. Edição, São Paulo, 2017

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BRASIL. LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Alteração da Consolidação das Leis do


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FILHO, Manoel Antonio Teixeira. O Processo do Trabalho e a Reforma Trabalhista: As Alterações


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