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Um dos grandes tormentos enfrentados por candidatos em

concursos públicos é ser cobrado por matérias não contidas no


edital. Diz-se tormentoso tendo em vista que abala o aspecto
subjetivo do candidato, pois se dedicou as matérias previstas
no edital, gastando tanto tempo e quanto valores pecuniários.

Desta forma, assiste com a razão fática ao candidato neste


ponto, qual seja, o campo de indignação perante a banca
examinadora. Entretanto, no que diz respeito juridicidade de
aplicação de matérias não contidas no edital, afinal, são
válidas? E o que pode ser feito em casos como este?

As soluções destes questionamentos ensejam não somente a


aplicabilidade de valores estruturantes do ser humano ao
imputar um juízo de reprovação no ato da Administração, bem
como poderá ser promovido por meio de processo cognitivo na
seara jurídica ao albergar valores estruturantes. É este ponto
de que iremos tratar.

A análise prévia que o concurseiro candidato ao se preparar


para o concurso público, obrigatoriamente, deverá fazer uma
leitura atenta ao edital, de modo, a observar os requisitos para
a vaga, como direitos, condições, obrigações, salário, data das
provas, documentos necessários, etc. No mesmo edital conterá
o conteúdo programático das matérias que serão exigidas nas
provas e suas fases. Assim, este conteúdo programático seguem
em consonância ao princípio da eficiência, tendo como sub
princípio o da não-surpresa dos atos Administrativos.
Ocorre que, como dito, o edital deverá prever todo o conteúdo
de prova e trazer toda sua delimitação, promovendo assim, um
princípio marcante, qual seja, o princípio da vinculação. De
forma sintetizada, este princípio jurídico está atrelado
ao princípio da legalidade estrita, moralidade administrativa,
impessoalidade, indisponibilidade, eficiência e, sobretudo, a
segurança jurídica, boa fé, e dever de confiança. Vejamos a
aplicabilidade de cada princípio.
O princípio da legalidade é a força motriz necessária e direta
trançando contornos de caracterização formal e material. A sua
formalidade em destaque, pode-se compreender como a
previsão ao afirmarmos que as regras contidas no edital é lei
entre as partes, assim, devemos ainda dizer que aplicável a
legalidade estrita ou fechada para a Administração Pública,
pois ao conter parâmetros, deverá mantê-los, salvo se
caracterizada ilegalidade, abuso de poder, erro, etc.
Nas lições do saudoso professor Hely Lopes Meirelles[1], in
verbis:
“A legalidade, como princípio de administração (CF, art. 37,
caput), significa que o administrador público está, em toda a
sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às
exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou
desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se
responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o
caso”

Note-se que, o conceito acima é amparado pela Constituição


Federal de 1988, portanto, sendo esta norma o ápice normativo
não pode o Administrador Público ignorá-lo, alias a
própria constituição como base institucional traça como um
dos direitos fundamentais que “ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”
(art. 5º, CF). Também, na Lei de Introdução as Normas do
Direito Brasileiro em seu artigo 3º, estabelece: “Ninguém se
escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
Extraindo o conceito do saudoso professor acima e aplicando
ao tema em questão, destaca-se a necessidade de uma
exigência prevista no edital e, caso não haja previsão de
determinada exigência, como no caso de matérias não
previstas no edital, deverá de plano ser afastada.

A moralidade administrativa compreende como preceitos


éticos como parâmetro uma conduta escorreita, lisa e honesta.
A cédula existencialista deste princípio tem por força
propulsora a lealdade e a boa fé como elementos
indispensáveis para todo e qualquer ato administrativo. Deste
modo, destina-se a proteger as condições fáticas de
sobrevivência humana, devendo ser aplicada a moralidade
administrativa-razoabilidade como subespécie, sendo
impossível que, por parte do administrador público a margem
de escolha ou solução incontornável para determinada
consecução do ato.

Ainda, a boa-fé, também subespécie ou coberta pela


moralidade administrativa promana do desempenho
normativo que ambas as partes necessitam preservar.

No tocante a impessoalidade, é salutar que se aplica em


situação desarrazoável, já que sequer poderia apontar quem
seria o beneficiário da intenção de inserir determinada matéria
não prevista no edital, pois, mesmo que tenha esta finalidade
por parte da Administração Pública, culminará por refletir na
afronta da proporcionalidade e a igualdade.

O princípio da indisponibilidade é uma tendência necessária de


aplicabilidade quanto ao prisma de proteção de celebração dos
atos administrativos, estendendo inclusive aos editais (lei entre
as partes). Somente seria disponível a alteração unilateral por
parte da Administração Pública para preservação das normas
vigentes, por meio de ato revogatório, conforme o caso
concreto. A título de complementação deste princípio, pode-se
afirmar que, no geral, interesses e bens públicos não são
pertencentes à Administração, nem mesmo seus agentes,
trazendo, assim o beneficio em prol de toda a coletividade.

Outro afronta de princípio constitucionalmente amparado, diz


respeito ao princípio da segurança jurídica, no qual se
fundamenta ao campo de estabilização das relações jurídicas e
o dever de proteção da confiança que, alias, abarca ao princípio
da moralidade administrativa. Neste ponto, há que destacar, o
efeito protecionista segue amparado em ambas as partes, ou
seja, para Administração com a plena execução de seus atos já
previstos; de outro, temos o candidato, sem surpresas, seguir
religiosamente ao descrito no edital em quais matérias a serem
estudadas, de modo, a promover o princípio da precaução,
evitando que decorra de medidas que não ofereçam risco entre
as partes.

Breves considerações
Logo, percebe-se que todo em qualquer ato administrativo,
deverá necessariamente, estar pautado por normas e princípios
jurídicos instrumentalizados e, capazes de promover uma
melhor adequação das atividades desempenhadas. Assim, ao
cobrar matérias ou conteúdos não previstos no edital de um
concurso público são atos contrários à ConstituiçãoFederativa
Brasileira, em especial, os princípios jurídicos-constitucionais,
como a legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência,
segurança jurídica e outros princípios acima destacados.
Por certo, ao candidato prejudicado poderá fazer uso do seu
direito de petição, conforme o
artigo 5º, XXXIV, a da Constituição Federal, impugnando de
forma administrativamente a questão exigida sem justo motivo
ou sem motivo determinante, sendo, por conseguinte, anulada.
Caso não tenha solução desejada, deverá socorrer do Poder
Judiciário com o objetivo de anular a questão e obter os pontos
em seu favor, desde que, com meio judicial adequado.
A jurisprudência é pacifica: RE 440.335- AgR/RS; RE
434.708/RS do STF.

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