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tas Separin Tribunal eke Jastira RECURSO ESPECIAL N° 235.645 - SAO PAULO - (1999/96549-3) - (9.675) RELATOR, RECTE ADVOS RECDOS ADYOS : MIN. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO BANCOARBIS/A : JORGE LAURO CELIDONIO E OUTROS : SAMSUNG CORPORATION SAMSUNG ELETRONICS CO. LTDA E OUTROS + MIGUEL PEREIRA NETO E OUTROS EMENTA Crédito documentério, Legitimidade ativa, Denunciasdo da lide. Litigincia dema-f6, Multa do art. 538, pardgrafo dnico, do Cédigo de Processo Civil. 1. No crédito documentirio © beneficiério tem legitimidade ativa para cobrar © ‘cumprimento da carta de crédito diretamente do banco emissor, néo importando gue tenha havido no negécio @ presenga do banco confirmador, que nfo teria honrado o pagamento, 2. Sendo autinomo o exédito documentério, a relagto entre o banco emissor € 0 beneficidrio nfo suscita a denuncia¢o da lide a0 banco confirmador nem ao bbanco controlador deste. 3. Nao hd litigincia de m-fé quando o suporte da sua imposigio é o exercicio do direito de defesa do banco emissor, com as alegagdes e documentos que entendew pertinentes, rejeitados nas instncias ordindrias 4. Nao hi lugar para a imposigo de multa nos embargos declaratétios quando destinados 20 prequestionamento, nos termos da Simula n° 98 da Corte, ‘5. Recusso especial conhecido e provido, em parte. ACORDAO Vistos, relatados ¢ discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Tereeira Turma do Superior Tribunal de Justiga, na conformidade dos votos e das notas ‘aquigréficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte, Gar-lhe provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter e Ari Pargendler, Brasilia, 02 de maio de 2000. (data do julgamento) 2.6 JUN, 2000 vaasree atone MENEZES DIREITO Presidente ¢ Relator Siporior Triteenat che faativa RECURSO ESPECIAL N° 235645 - SAO PAULO - (9.675) RELATORIO, O EXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: Banco Arbi S/A interp0e recurso especial, com fundamento nas alineas a) e ¢) do permissivo constitucional, contra Acérdio da 2* Camara Extraordindria-A do Primeiro Tribunal de Algada Civil do Estado de Sto Paulo, assim ementado: “Comércio internacional ~~ Crédito documentério — Responsabilidade do banco-confirmador perante 0 exportador estrangeiro que nao exclui a vesponsabilidade, principal, do banco-emissor da carta de erédito ~ Agiio de cobranca procedente = Recurso do banco-réu improvido,” ({Is, 290) Foi aplicada multa ao recorrente, por litigancia de mé-fé, nos seguintes termos: réu agiu como litigante de mé-fé. Aproveitando-se da relativa complexidade do contrato de abertura de crédito documentirio, deduzin defesas inconsistentes ¢ mesmo desarrazoadas, contrariando documentos ¢ normas de coméreio claros ¢ inquestiondveis, na tentativa de alterar a verdade dos fatos. Aplica-se-Ihe a sangdo correspondente a 10% (dez por cento} do valor dado a causa.” (fl 293) Houve embargos de declaracto (fls. 297 a 303), rejeitados com imposigao de multa (fs. 305 2 308), posto que manifestameate protelatorios, Sustenta 0 recorrente contrariedade aos artigos 165 e 458 do Cédigo de Processo Civil, haja vista que no Acérdio recorrido nao foi decidida, ou ao menos nao foi suficientemente fundamentada a questo do chamamento ao processo por meio de denunciagio da lide ‘Aponta negative de vigencia 2o Protocolo de Genebra de 1923, oficializado pelo Decreto n* 21.187/32, a Convengdo do Panamé de 1975, oficializada pelo Decreto n° 1.902/96 ¢ Lei n? 9.307196, pois o Acérdao revorrido desprezou referidas normas, aplicando a “UCP 500" ou “Brochura 500”, que niio passa de um texto emitido pela Camara de Comércio Iiternacional, organizagto privada sediada em Paris. Afirma que 0 Acérd8o recorrido aplicou a “Brochura 500" como se norma internacional fosse, ¢ que, assim o fazendo, deveria pelo menos té-la aplicado por insiro,o que ensjaria a solusdo da questio por arbitrager intemacional. sth et neaso Seperior Tritienal de Jastiva Aduz. negativa de vig2neia também ao art. 70, inciso II, do Codigo de Processo Civil, pois, estando provado o pagamento efetuado pela recorrente, a demunciasao da lide era obrigatéia, hja vista o direito de regresso presente no caso. sclareve que, ao negar a denunciagao a lie, julgando antecipadamente a lide, 0 ‘Tribunal a quo violou o art, 330, inciso 1, do Cédigo de Processo Civil, incorrendo em cereeamento de defesa, Indica negativa de vigéncia ao art, 934 do Cédigo Civil, pois, ao afiemarem que a cobranga do. ork caberia exclusivamente contra a recorente, @ sentenga ¢ 0 Acérdio pretenderam forgar um pagamento a credor discutivel, pagamento este que j& havia sido feito. Afitma que, ao aplicar a punigo por litigdncia de m: 0 Acérdo recortide feriu (8 artigos 17 € 18 do Cédigo de Processo Civil, uma vez que a sua conduta ndo se enquadra no elenco taxativo dos casos de poss | apenamento. Argumenta ser pressuposto para a punigdo 0 a em tal sentido, no momento em que alegar os prejufzos que tena requerimento da parte contr softide, Aponta divergéncia jurisprudencial, no que tange a interpretago dos artigos £7, 18, 458 ¢ 538, parégrafo tnico, do Cédigo de Processo Civil, trazendo A colaygo julgados de ‘Tribunais diversos, bem como a Sirmula 2° 98/STI. Contra-arrazoado (fls. 424 a 450), 0 recurso restou inadmitido (fs. 452.0455). Provido agravo de instrumento, foi determinada a sua conversio em recurso especial (fs. 486). Intexposto recurso extraordindtio (fs. 315 a 323), nfo admitido (ils. 456/457). Eo relatirio. se Sporn Tribenal de eatin RECURSO ESPECIAL N’ 235645 - SAO PAULO - (9.675) EMENTA Crédito documentirio. Legitimidade sativa. Deaunciagio da lide. de mé-fé, Multa do art. 538, pardgrafo i , do Cédigo de Processo Civi 1. No erédito documentario 0 beneficiério tem legitimidade ativa para cobrat 0 ‘cumprimento da carta de crédito diretamente do banco emissor, nfo importando gue tenha havido no negécio a presenga do banco confirmader, que nilo teria honrado o pagamento, 2, Sendo auténomo © exédito documenta, a relagiio entre 0 banco emissor ¢ beneficiéio ndo suscita a denunciagao da lide ao banco confirmador nem ao banco controlador deste, 3. Nio hd litigancia de mé-fé quando o suporte da sua imposigio ¢ 0 exercicio do direito de defesa do banco emissor, com as alegagdes ¢ documentos que entendeu pertinentes, rejeitados nas instincias ordinérias. 4. Nio hd lugar para a imposigiio de mula nos embargos declaratérios quando destinados ao prequestionamento, nos termos da Simula n° 98 da Corte. 5. Recurso especial conhecido e provido, em parte. voto OEXMO. SR. MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO: ‘A empresa recorida gjuizou ago ordinaria alegando o que se segue: em janeiro de 1995, firmou com a Gradiente EletrOnica S/A contrato comercial, obrigando-se a fornecer epas e partes para apareihos de dudio, pelos quais receberia USS 347.100,00; tratando-se de ‘contrato intemacional, a exportadora exigiu da importadora, no Brasil, carta de erédito fomecida Por estabelecimento bancério; em 16 de janeiro o banco réu emitiu a carta de erédito, em cardter imevogivel, a favor da autora; com a emissio, obrigou-se o banco réu, na qualidade de devedor principal, © por conta da Gradiente, a pagar & autora, mediante a apresentagdo dos documentos estipulados na carta, de acordo com a regras editadas pela Camara do Comercial Intemacional; tendo a autora cumprido todas as estipulagdes, 0 banco néu pagou, apenas, uma parte do exélito, AW sas Soper Tribanal be feat encontrando-se em débito no vaior de US$ 144,612.00, ow, entio, o valor de RS 152. 341,30, tudo ja devidamente atualizado. A sentenga julgou procedente 0 pedido. O Primeiro Tribunal de Alsada Civil de Sao Paulo manteve 9 julgado. Anotou o Acérdao recorido que a “razdio da existéncia da carta de crédito é justamente consubstanciar a referida obrigagao, dando aa exportador a cerieza do recebimento do preco da mercadoria vendida”. E, ainda, salientou que 0 ‘banco emissor nfo tem “como se safar da responsabilidade. E isso mesmo no caso, que se alega fer ocorrido, dele ter transferido para 0 banco confirmador os fundos necessdrios. Apés isto, aconteceu a faléneia do “First Trade”, que por esse motivo deixou de honrar a carta de crédito, do solvendo a obrigacdo junto autora”. Por outro lado, relevou julgado recorrido que na “carta de crédito objeta da demanda, consia cldusula (fls. 24) mandando aplicar a consolidagdo das regras e usos uniformes a créditos documemdrios editada pela Camara Internacional de Comercio, a qual, em seu artigo 9° letra “b", proclama de forma expressa que 0 compromisso assumido pelo banco-emissor € “adictonal” ao do “Banco Emitente”. 4 norma vem transcrita Por ambos os litigantes, ds fls. 103/198". Por fim, reafirmando que a “confirmagdo é algo que se soma & obrigagdo basica, inafastavel, decorrente da emissao do titulo”, 0 Acétd&o recorrida afirma que quanto a “ocorréncia de cessdo de crédito ao Cho Hung Bank, ndo hé na prova dos autos a menor base para essa conclysdo”. Os embargos de declaragdo foram rejeitados com impos de mult, Antes do exame das apontadas violagSes, devo fazer um breve resumo da matéria fitica. Discute-se nestes autos o chamado crédito documentario. Em operagdes internacionais de comércio, 03 contratos de fornecimento envolvem, ademais, da Telag3o entre 0 comprador & importador e o vendedor e exportador, uma instituiggo financeira que garante o pagamento do contrato por intermédio de uma carta de crédito. Assim. preenchidas as condigdes avengadas, 0 banco que emitiu a carta de crédito efetua © pagamento, com isso assegurando o cumprimento: das obrigagdes de compra ¢ venda no plano internacional. Na pratica. o banco emitente da carta de crédito ¢ procurado por um cliente com o objetivo de efetuar 0 pagamento a um terceiro, beneficidrio, ou, ainda, autoriza outro banco a fazer o Pagamento ou a negociar. Sendo irrevogavel 0 crédito, 0 compromisso do banco emitente é firme. Pode ocomer que haja a Participacio de um outro banco, a pedido do banco emitente, para confirmar o crédito irrevogavel. com o que adiciona-se uma outra garantia. Em monografia preciosa, Ligia Maura Costa mostra que a “abertura de um ¢rédito documentario irrevogdvel exerce uma influéncia decisiva sobre o benefictdrio: 0 crédito dicthe a cerieza de um pagamento ulterior. Esta garantia repousa na solvabilidade quase us ned See Sepwio Fihanal dhe Jestiva sempre ceria do bangueiro e, também, na obrigagao primeéria e direta deste iitimo em favor do beneficiério". Para a citada autora 9 “compromisso direto © auténomo do banco reduz, em grande parte, os riscos do coméreio internacional. De fato, preservar o benefictirio do risco de rndo pagamenta é 0 principal objetivo do erédito documentirlo inrevogdvel. A certeza dessa obrigagio firme do banqueiro faz do mecanismo do crédito uma técnica efetivamente valida” (O Crédito Documemtirio, Saraiva, 1994, pags. 72/73). Neste tipo de contrato as relagses juridicas se formam entre 0 vendedor, exportador, ¢ o comprador, importador, ¢ entre este e 0 banco emitente da carta de crédito, ¢, evidentemente, entre o primeito ¢ o banco, sendo a segunda a principal, mediante a qual banco assume a responsabilidade de pagar 0 valor da compra ao heneficidrio. Pode ocorrer, contudo, quando é 0 exédito irrevogivel, que haja um outro banco, chamado de banco confirmador, que, como descreve Arnaldo Rizzardo “seré mandaidirio ow correspondente daguele que abre 0 crédito. O Banco emissor eutoriza ou solicita a um outro banco para confirmar 0 crédito irrovogavel. Caso confirme, 0 banco intermediério se torna compromissério a satisfazer 0 crédito, podendo o exportador agir conira ele se ndo houver a setisfagdio do crédito. Por outras palavras, © banco intermedidrio se compromete, frente ao vendedor, a atender a obrigagao aassumida pela banco que abrin o credito”. Para Rizzardo, o banco intermediario, atuando como bbanco confirmador, “assume ante o beneficidrio as mesmas obrigacdes que pussui 0 banco emissor. Cabe-the pagar, aceitar ou negociar a cambial. E que ele se reveste de uma obrigagao autdnoma relativamente ao beneficidrio” (Contratos de Crédito Bancério, RT, $* ed. 1999, pigs. 107112). E evidente que o crédito documentério esté cumprido quando o banco emitente aga o valor da compra ao beneficidric, honrando a carta de crédito, E, havendo banco confirmador, a relago entre o banco emitente e o banco confirmador, ou intermediério, encerra- 3 “quando 0 primeiro entrega os documentos supra-referidas ao segundo, ¢ receve dele o que despendeu" (Rizzardo, cit., pig. 115). que houve nestes autos foi exatamente @ relagao juridica decorrente do crédito documentirio irrevogivel, com a intervengdo do banco confirmador. Os fatos postos na sentenga, aceitos pelo Acérdiio recorrido, ¢, por isso, insuscetiveis de reexame nesta Corte, a teor da Simula 2° 07, € que o First Trade Intemational Bank & Trust Ltd. “era o banco confirmador, catuando 4 mando do banco emissor e portanto, co-responsével ao pagamento, ¢ ainda, o fato do ‘anco-réu haver remetido a importéncia devida dquele, do que fez prova, ndo contraditada pela auora. por meio do documento de fis. 67". Assemou, também, a sentenge que howve “ws 3 ates Seporin Teianal de Jasna inadimpléncia do banco confirmador, “o qual, no obstante notificado da entrega da mercadoria (ofr documento de fis. 116/117) nao remeten ao beneficiério a quantia devida, sendo certo gue 0 ‘réu nao produciu qualquer prova nesse sentido (remessa do crédito), cujo dnus Ine competia’ Da mesma forma, a sentenga afirmou que no houve cessto de crédito da autora, valendo a afirmagdo da autora de que 0 Cho Hung Bank “ata em seu nome, como se observa dos documentos por ela juntados & réplica’. 0 Acordia recorrido reforga esse aspecto ao assinalar ue “ndo hd na prova dos autos a menor base para esta conclusdo” de ter havido a cessto de crédito, atuando © Cho Hung Bank "em nome da autora, como banco negociador, encarregado de fazer a apresentagdo dos documentos necessarios & tiberagdo do pagamento”, nao havendo falar em cerceamento de defesa, alegado de pussagem na apelagdo, "sd se admitindo a prova documental para a demonsiragho da pretensa cessdo de direito. Ademais, néo tendo sido notificado da tmagindrta cessto, 0 banco-réu, pagando & autora, ndo corre 0 risco de pagar mal”. Com esse quadzo tebrice ¢ de fato, passamos ao exame das questies postas pelo recurso especial A primeira alegagdo é de violagdo ao art. 458 c/e a primeira parte do art. 165 do Codigo de Processo Civil. Respeitando embora a iresignacio vigorosa da recorrente, no enxergo nenhuma violagdio, Nao hi o mais leve trago de falta de fundamentasdo, seja na sentenga seja no Acérdéo recortido. Ao revés, tanto a sentenga quanto 0 Acérdo estdo fundamentados com pertinéncia aos temas postos pela empresa recorrente. A responstbilizaydo do banco confirmador, postulads, pelo banco recorrente foi afastada com posigtio teérica muito clara, considerando a realidade dos autos, o mesmo se podendo dizer quanto & incidéncia do art. 70, Hl, do Céddigo de Processo Civil. Anote-se que na contestagdo o banco recorrente requereu, apenas, “serem chamados ao processo", a Gradiente Eletrénica, empresa compradors, importadora, com ‘base no art. 77, 1, do Cédigo de Processo Civil, que deveria ser a devedora, sendo o banco Tecorrente parte ilegitima, o First Trade International Bank & Trust Ltd e o Hanil Bank, “para que expliquem as operagées havidas com a SAMSUNG”, 0 Tower Bank “instituigdo financeira controladora do First Trade Bank @ qual, através de seu diretor Eduardo Pea, se, comprometeu a euidar do assunto junto & de sua controlada FIRST TRADE, tai seja, aqueta vreferente ao segundo embarque das mercadorias da GRADIENTE, da mesma forma como jé hhavia sido feito com relagdo ao terceiro embarque, de mesmo valor, cufa assungdo se comprova airavés da juntada de facsimile datado de 25 de jutho de 1995 (doe. 12)", 0 Cho Hung Bank, ‘que pretendeu o recebimento do mesmo erédit Aue sb & possivel, é claro, para quem seja ws soncoge Rege Besse Sepoin Fritienal be Jasiga titular do crédito”, ¢, finalmente, a Agai Agropecusria Ltda, que seria “Intervenienie avalista/fiet dlepositria”, que teria de ser chamada 20 processo “por forga, dentre outras razbes do que se contém na eldusula 13° do contrato de 12.01.95 (pg. 8)". A sentenga repetiu © chamamento desejado entencendo que a “obrigagéto assumida perante o beneficiério é exclusiva do banco emissor, e nada ubstante a possibilidade de interveniéneta de outros bancos, a responsabilidade pelo pagamento & nica daguele, porguanto os outros atuam em sew interesse néo se podendo por ao heneficidrio as exceces que, eventualmente, tenha em relagao a esses”. Eo Acérdio recorride entendeu que foi corrcto o indeferimento do “chamamento ao proceso de varias empresas. escolhidas a esmo, visando ‘o perfeito e cristalino esclarecimento das operagdes havidas com a Samsung’ (fis. 204), hipétese que obviamente néo se enquadra nas previsdes do art, 77 do CPC”. Esté, portanto, muito claro que nio houve falta de fundamentagao. ‘A segunda alegagao é de negativa de vigéncia a tratados e lei federal, Protocolo de Genebra, de 1923, Decreto n° 2.187, de 02/3/32, a Convengdo do Panama, Decreto n° 1 902, de 09/05/96, e a Lei n° 9.307, de 23/09/96. Alega que a autora sempre procurou responsabilizar banco recorrente com a aplicagio da chamada “UCP 500”, regras sobre o tema editadas pela CAmara de Comercio Intemacional. Mas, ainda aqui néo vejo razio alguma para cnsejar 0 conhecimento do especial. Evidentemente, nio se demonstrou em que ponto estaria a alegeda negetiva de vigéncia, 4 medida que o recurso menciona a aceitagdo da arbitragem, que, sob todas as luzes, ndo esti em jogo. O Acérdao recortido refere-se a uma determinada cldusula no contrato objeto da demanda, que manda aplicar a consolidagio de regras ¢ usos unifoses relativos aos créditos documentarios editada pela Camara Internacional de Comércio, relevando: que esta “norma transcrita por ambos os litigantes”. Desde logo, ja se vé, sem muito esforgo, que 0 Acérdo recorrido cuidou de examinar 0 contrato ¢ identificar as regras nele previstas, 0 que ja inviabiliza o especial, a teor da Stimula n° 05 da Corte. Todavia, embora insuperavel o obstéculo, ajunta-se outro, assim o fato de que o Acérdao recorrido cuidou de apreciar a relagdo Juridica entre © banco emissor e © banco confirmador, afirmando que este dltimo “assume responsabilidade perante 0 exportador (atua em nome préprio, ainda que por conta do banco emissor), mas sem desonerar o réu, que, como emitente da carta de crédito, sé estard liberado com a satisfugdo do direito da beneficiéria do titulo, irrelevante se a mesma demorou ou ndo ‘bara exercé-lo”. Soja pelo fato de estar presente a Simula n° 05 da Corte seja pela compreensio de que a relacdo juridica entre © banco emissor ¢ © banco confitmador nfo atravanca a Telagdo, juridica entre o banco emissor ¢ 0 beneficrio, nfo hi falar em negativa de vigéneia das regras apontadas, = y/ ail a seg asese Senin Fibaral ke fat © teteeiro ponto do especial é sobre o art, 70, Ill. do Cédigo de Processo Civil. Em primeiro lugar, tenha-se presente que a contestagio indicou o litisconsorcio da ORADIENTE, empresa compradora, pelo art. 77, 1, do Codigo de Processo Civil. Mas, de todos 0s modos, no creio que haja nenhuma violagdo ao art. 70, Il, indicado. A tegra menciona o litisconsércio daquele que estiver “obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em agtio regressiva, o prejuizo do que perder a demanda”. O que se pretende € que 0 banco confirmador, atuando 4 mando do banco emissor, seja co-responsivel pelo pagamento, o que teria sido admitido peia semtenga, sendo certo que igualmente o Tower Bank, como controledor do banco confirmador, também deveria estar presente porque assumiu o compromisso diteto de pagar as cartas de erédito pendentes perante o banco confirmador, seu controlado. Vé-se, desde logo, que a longa lista inaugural, a angumentagio resume-se, agora, no especial, a, apenas, dois. Mas, sem. enhuma razo. O que ficou muito claro na sentenga ¢ no Acérdfo recorrido ¢ que a relagio Juridica esté confinada a0 bencfiiiio e ao baneo emissor. E essa posigdo nio esti diserepante da outrina, como ja vimos. E, na légica do sistema do erédito docurnentirio, assim, de fato, deve ser. A relagaio juridica primétia, ou principal, se dé entre o banco emissor e o beneficiério porque existe uma obrigaglo ierevogivel de pagamento da carta de crédito, nio podendo haver escusas, A relagio juridica entre o banco emissor e 0 banco confimmador nfo se vincula & relagdo entre o primeira © o bencficidrio, O que acontece é 0 nascimento de uma outta obrigagio auténoma do banco confirmador perante o beneficidrio, nascida do contrato entre este ¢ 0 banco emissor. Se, por qualquer eventualidede, © banco confirmador nfo hon 2 sua obrigagio, esté livre o beneticidrio para investir contra o banco eiissor. direiamentc, Nao hi neste contrato entre 0 banco emissor e © beneficiério qualquer vinculago com o banco confimmador. A testo por ventura causada pelo banco confirmador esti vinculada & relagdo mantida entre este € o banco emissor. Sdo relagdes autOnomas, ainda que tenha o banco confirmador assumide obrigagtio Junto ao beneficiério, Todavia, essa obrigacdo nto libera o banco emissor da obrigagdo priméria, também dita principal. E, de fato, uma gatantia adicional, ndo excludente daquela que nasce com @ emissfo da carta de crédito. Se ndo fosse assim, o sistema do crédito documentério estaria contaminado por inteiro, & medida que o baneo emissor poderia, em tese, malbaratar 0 seu compromisso pela escolha de banco confirmador que poderia deixar de cumprir 9 seu compromisso, lesando o benei io livrando a responsabilidade do banco emissor. Da mestna forma, qual a vinewla¢io do banco controlador do banco confirmador com a transagio documentiria entre o emissor e 0 beneficiério? Nenhuma. Se o controlador ascurniu a responsabilidade de quitar as cartas de exédito erento banco confrmador, sev contolado, 0 Ws 4 MA sre, 9 eanlvee Sepuriss Triteanal re Jastipa certo ¢ que tal fato no tem ligagdo alguma na relagao juridien entre o emissor e o beneficiéri. Desse modo. « meu sentir, ndo existe violagio aiguma ao an. 70, MI, do Cédige de Processo civin A quanta violagio apontada ¢ a do art, 330, 1, do Cédigo de Processo Civil. Mas, 0 fundamento que esti apresentado, expressamente, & que a “infhingéneia ao art 70, Il da Cédigo dde Processo Civil faz aparecer-o cerceamento de defesa, incontestavelmente, porque desprezado © principio basilar do contraditério”. Com vedo respeito ao esforgo dos eminentes patronos do bbanco recorrente, niio ha cerceamento de defesa, na cobertura do art. 330, 1, do Cédigo de Processo Civil, pelo fato de haver sido indeferido, fundamentadamente, o pedido de denunciagto lide. Por outro lado, no caso, o julgamento antecipado da lide no encontra obstéculo algum no vigs do cerceamento de defesa. E assim é porque, como jé demonstrado a saciedade, 0 que se esti ‘examinando ¢ 0 contrato de crédito documentirio em que se procuta filtrar a responsabilidad do banco emissor pelo pagamento, diante da existencia de um banco confirmador. Decidiu-se que, nesses comttatos, a responsabilidade do banco emissor exsurge clara, independentemente da relagdo jurdica entre ele e 0 banco confirmador, que nko honrou 0 compromisso. © quinto combate é sobre o art 934 do Cédigo Civil. Mas, nfo tem, pelo menos ‘na minha compreensdo, nenhum fundamento. E evidente que a sentenga e 0 Acérdio, afirmando a responsabilidade do banco recorrente, ndo “‘negaram a correta vigéneia av artigo 934 ao pretenderem forgar o pagamento (relembre-se jd felto ao FIRST TRADE) « pretendente discutivel”. Ora, 0 que esta prescrto no dispositive de lei federal apontad & que 0 pagamento deve ser feito a0 eredor, 2, no caso, 0 eredor, diante da clara relagdo juridica existente, ¢ a autora, Se o baneo emissor pagou a0 banco confirmador, que, por sua vez, no pagow ao beneficirio, o problema esta fora da relagdo de crédito documentério entre 0 bance emissor 0 bdeneficiétio, presente a argumentagdo antes deduzida, © sexto combate esti em tomno dos artigos 17 € 18 do Codigo de Processo Civil. 0 Acido recorrido entendeu que © “réu agi de mé-fé. Aprovettando-se da relativa complexidade do contrato de abertura de crédito documentério, deduaiu defesas inconsistentes ‘mesmo desarrazocdas, contrarianda documentos normas de camércio claros ¢ inquestionaveis. Aplica-se-the a sangdo correspondente a 10% (dez por cento) do valor dado & causa". Todavia, ‘ao creio que essa penalidade possa prosperar. E certo que a condenagio por litigneia de mé-fé independe de requerimento (EREsp no 36.718/SP, Relator o Senhor Ministro Cliudio Santos, DDI de 13/02/95), e, ainda, que existe precedente no sentido de que para "aerir se a conduta da recorrente foi, ou néo, dle litigante de mé-fé, da forma como fundamentada a decisito e posta a ae VK ; a5 -va0 Seperin Tratbamat be Jasin irresignagao recursal. Inevitdvel reapreciar os elementos de ordem fatca, 0 que também & invidvel nesta insidncia” (AgRgAg n” 214216/MG, da minha relatoria, DJ de 17/12/99), ‘Todavia, neste caso, nfo se esti diante do reexame de elemento de fato, mas, sim de saber, se a apresentapdo de “defesas inconsistentes & mesmo desarrazoadas, contrariando documentos ¢ rnormas de comércio claras e inguestiondveis, na tentativa de alterar a verdade dos jatos configura a litigancia de mé-f&, nos termos do art, 17 do Cédigo de Processo Civil. Eu entendo ue no, © banco recorrente pretendeu uma interpretagio do contrato de crédito documentario gus impusesse a responsabilidade pelo pagamento 20 banco confirmador, que foi repelida; pretendeu, também, apresentar fatos e documentos que corroborariam a sua interpretagdo, assim, por exemplo. a alegada existéncia de cessdo de erédito, também rejeitada, pelo exame da prova dos autos. No se pode, portato, dizer que as alegagdes do banco recorrente cm sua defesa tenham tido © pressuposto de allerar a verdade dos fates. Procurou, isso sim, defender-se, sem agredir a tramitagio do ito. Nao me pareve que tenha sido tentativa da alterar a verdade dos fatos 0 reforgo defensivo do banco recorrente; manifestou a sua verso, que nifo foi aceita. Finalmente, o banco recorrente iaveste contra a mmulta imposta com base no art 538, partgralo Unico, do Cédigo de Processo Civil. Tem razo. A multa foi imposta sem que 0 gio juigador tenha considerado os termos da Siimute n° 98 da Corte, presente neste caso Em conelusio, eu conhego do especial, em parte, e, nessa parte, dou-the provimento para afastar a pena da litigincia de mé-fé ¢ a multa dos declaratérios. ude CERTIDAO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Nro. Registro: 1999/0096549-3 RESP 00235645/SP PAUTA: 02 / 05 / 2000 JULGADO: 02/0542000 Relator Exmo. Sr. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Presidente da Sessao Exmo. Sr. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO Subprocurador-Geral da Republica Bxmo. Sr. Dr. JOSE ANTONIO LEAL CHAVES Secretario (a) SOLANGE ROSA DOS SANTOS AUTUAGAO RECTE : BANCO ARBI S/A ADVOGADO : JORGE LAURO CELIDONIO E OUTROS RECDO : SANSUNG CORPORATION SANSUNG ELETRONICS CO LTDA & OUTROS, ADVOGADO :- MIGUEL PEREIRA NETO E OUTROS CERTIDAO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA ao apreciar o processo em epigrafe, em sessdo realizada nesta data, proferiu a seguinte decisao: “A Turma, por unanimidade, conheceu en parte do recurso especial e, nessa parte, deu-lhe provimento.” Participaram do julgamento os Srs. Ministros Eduardo Ribeirw, Waldemar Zveiter e Ari Pargendler. © referido 6 verdade. Dou Fé. Brasilia, 2 de maio de 2000 aan —

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