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ACÓRDÃO
Documento: 727458 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 05/03/2008 Página 2 de 19
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 885.674 - RJ (2006/0210199-4)
RELATÓRIO
Recurso especial interposto por BANCO SAFRA S/A, com fundamento nas
alíneas 'a' e 'c' do permissivo constitucional.
Ação: de rescisão contratual, movida por MARIAZINHA MODAS LTDA E
OUTRO em desfavor do ora recorrente.
Segundo narra a inicial, a autora importou determinada quantidade de
peças de roupa, especificamente para venda no dia das mães do ano de 2.001,
junto à empresa uruguaia ASTILAN S/A. Como havia a intenção de suprir a
demanda elevada daquela data comemorativa, estipulou-se no contrato que a
data máxima para embarque da mercadoria seria o dia 15 de abril de 2.001.
Para viabilizar a operação, a autora celebrou contrato de abertura de
crédito documentário para importação de mercadoria com o banco réu, por meio
do qual a instituição financeira deveria transferir o montante relativo à compra e
venda quando entregues, pelo exportador, todos os documentos exigidos pelo
importador nos termos do contrato entre eles firmado. Tal carta foi garantida por
quotas em fundo de investimentos 'CRF', quotas essas pertencente a uma das
sócias da importadora, ora recorrida.
Do contrato firmado com o banco, constava menção expressa à
necessidade de apresentação do boleto de embarque da mercadoria do qual
constasse o envio dos produtos até a data aprazada, como requisito formal a ser
verificado antes do pagamento ao exportador.
Contudo, nos termos da inicial, logo ficou evidente que a empresa
uruguaia não cumpriria a sua parte, pois, em carta endereçada à importadora
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em 20.04.2001, cinco dias após o término do prazo, aquela empresa cogitou da
viabilidade de alteração na data de embarque (fls. 19), e, em face da negativa da
importadora, veio a sugerir a utilização de um conhecimento de embarque com
data falsamente retroativa para solucionar a pendência, aproveitando-se, assim,
a carta de crédito já existente (fls. 22). No dia 27.04.2001, em face de tais
circunstâncias, a autora comunicou tanto à exportadora quanto ao banco que a
operação estava cancelada.
Ainda assim, irregularmente, o banco uruguaio confirmador anunciou, no
fim de maio, que honraria a carta de crédito, porque a exportadora lhe
apresentou conhecimento de embarque do qual constava a data
contratualmente prevista. A irregularidade na operação, evidente segundo a
autora, ficaria demonstrada porque as mercadorias, apesar de terem sido
despachadas por via aérea, somente chegaram ao Brasil em 06 de maio, sendo
inconcebível que demorassem mais de vinte dias em tal trajeto, se fosse correta
a data indicada no conhecimento de embarque apresentado ao banco pela
exportadora.
Em medida cautelar, a autora pleiteou provimento no sentido de impedir
que o banco fizesse uso da garantia dada na carta de crédito, o que foi deferido.
Contestando o pedido, sustenta o réu, principalmente, que, pela natureza
da carta de crédito documentário, exige-se apenas a regularidade formal dos
documentos apresentados pelo exportador conforme exigência contratual do
importador, de forma que não cabe ao banco fazer qualquer juízo de valor a
respeito do cumprimento das cláusulas contratuais como prazo e qualidade da
mercadoria. Ademais, ainda que se levasse em consideração a alegação de
fraude, tal situação não eximiria o banco da obrigação de honrar a carta de
crédito, nos termos das normas comerciais relativas à operação financeira, pois,
nos limites do exame formal da documentação exigida pelo importador, nenhum
erro era aparente.
Sentença: julgou procedente o pedido para declarar “(...) a solução de
continuidade do contrato celebrado pelas partes” (fls. 168), salientando, na
fundamentação, que “Ao efetuar o pagamento do valor equivalente ao do
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depósito em garantia (...) a instituição financeira assumiu o risco do
ressarcimento desse valor à segunda autora, já que não atentou para a anterior
comunicação daquela rescisão contratual. Há de responder, pois, por sua
negligência e descontrole organizacional (art. 159, do Código Civil), não
podendo impor a irrevogabilidade do ajuste” (fls. 167).
Acórdão: negou provimento à apelação, com a seguinte ementa:
“ORDINÁRIA. CONTRATO DE CARTA DE CRÉDITO
DENOMINADO DE CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO
DOCUMENTÁRIO PARA IMPORTAÇÃO DE MERCADORIA.
CONTRATAÇÃO COM INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
DESCUMPRIMENTO DA DATA LIMITE PARA O EMBARQUE DA
MERCADORIA QUE SERIA DESTINADA À COMERCIALIZAÇÃO NO
DIA DAS MÃES DATA SIGNIFICATIVA PARA O COMÉRCIO.
CANCELAMENTO DA TRANSAÇÃO COMERCIAL. SOLICITAÇÃO DE
QUE O PAGAMENTO NÃO FOSSE EFETUADO AO EXPORTADOR.
DEMONSTRADA A FALTA DE EMBARQUE DA MERCADORIA NA
DATA AJUSTADA, CUJA IMPORTAÇÃO HAVIA SIDO CONTRATADA.
CONTRATO FIRMADO COM A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA É MERA
CONSEQÜÊNCIA DA IMPORTAÇÃO, SEM A QUAL NÃO FAZ SENTIDO
O PAGAMENTO. CIÊNCIA AO BANCO DO CAMCELAMENTO DO
CONTRATO DE IMPORTAÇÃO E, POR CONSEQÜÊNCIA, DA CARTA
DE CRÉDITO. DIREITO DE AS AUTORAS DE NÃO LEVARAM
ADIANTE O CONTRATO CELEBRADO ENTRE AS PARTES PELO
MANIFESTO DESATENDIMENTO DA DATA DO EMBARQUE DA
MERCADORIA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. CONHECIMENTO E
IMPROVIMENTO DO APELO” (fls. 243).
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b) aos arts. 529 e 532 do CC/02, e ao art. 6º, § 1º, da LICC e ao art. 462 do CPC,
porque aqueles dispositivos, previstos no novo Código Civil mas ausentes no anterior,
acabaram por encampar a disciplina jurídica da carta de crédito documentária prevista na
chamada 'Brochura 500' da Câmara de Comércio Internacional, devendo ser aplicados à
lide;
c) ao art. 538, parágrafo único, do CPC, além de divergência jurisprudencial,
porque indevida a aplicação de multa nos embargos declaratórios;
d) aos arts. 390 e 391 do CPC, porque, como não foi suscitado incidente de
falsidade em relação ao documento de embarque das mercadorias que apresentava a data
contratada, este não poderia ter sido desconsiderado; e
e) ao art. 131, IV do Código Comercial, além de divergência jurisprudencial,
porque tal dispositivo emprestava força normativa à 'Brochura 500' da Câmara de
Comércio Internacional, esta desrespeitada pelo acórdão recorrido.
Contra-razões a fls. 302/310.
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RECURSO ESPECIAL Nº 885.674 - RJ (2006/0210199-4)
VOTO
III – Da alegada violação aos arts. 529 e 532 do CC/02, 6º, § 1º, da
LICC, 462 do CPC e ao art. 131, IV do Código Comercial, além do dissídio
jurisprudencial.
III.i – prequestionamento.
Porém,
III.iii – conseqüências.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO SAFRA S/A
ADVOGADOS : MIGUEL ÂNGELO BARROS DA SILVA
RODRIGO DE AZEREDO FERREIRA PAGETTI E OUTRO(S)
RECORRIDO : MARIAZINHA MODAS LTDA E OUTRO
ADVOGADO : HUGO LEONARDO PENNA BARBOSA E OUTRO
ASSUNTO: Civil - Contrato - Bancário - Abertura de Crédito
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Relatora, dando provimento ao recurso especial, pediu vista
antecipadamente dos autos o Sr. Ministro Ari Pargendler. Aguarda o Sr. Ministro Humberto Gomes
de Barros.
Brasília, 04 de outubro de 2007
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VOTO-VISTA
Quid ?
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ERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO SAFRA S/A
ADVOGADOS : MIGUEL ÂNGELO BARROS DA SILVA
RODRIGO DE AZEREDO FERREIRA PAGETTI E OUTRO(S)
RECORRIDO : MARIAZINHA MODAS LTDA E OUTRO
ADVOGADO : HUGO LEONARDO PENNA BARBOSA E OUTRO
ASSUNTO: Civil - Contrato - Bancário - Abertura de Crédito
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler,
acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora, no que foi seguido pelo Sr. Ministro Humberto
Gomes de Barros, a Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Sidnei Beneti.
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