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SÍNTESE DE CONTEÚDOS
Representação da natureza
A natureza aparece como um espaço paradisíaco, espontâneo e harmonioso. É o espaço ideal da
existência humana.
Há em Viagens na Minha Terra dois espaços de eleição: a charneca ribatejana (cap. VIII) e o vale de
Santarém (cap. X). Estes espaços, pela sua pureza primordial, têm efeitos salutares: elevam a alma
humana, isolando-a de interesses mesquinhos e materiais. Neles, o ser humano é bom e feliz.
Por oposição à natureza retemperadora, a sociedade corrompe. As normas e as convenções afetam a a
liberdade humana, submetendo as pessoas a interesses materiais. Na senda de Rousseau, partilha a
ideia de que o ser humano é naturalmente bom, mas a sociedade corrompe-o.
Assim, a natureza é:
✓ espaço ideal de existência do ser humano puro e natural;
✓ espaço harmonioso, espontâneo, perfeito e simples;
✓ cenário que exclui os vícios sociais: a natureza pura/primitiva preserva a inocência e a
disponibilidade para Deus;
✓ espaço natural que propicia a contemplação, o êxtase, para além de constituir uma abertura para o
mundo.
Carlos
Personagem destacada, Carlos é, primeiro, caracterizado fisicamente e só depois psicologicamente,
numa perspetiva que parte do geral para o particular.
Carlos é um jovem de estatura média, corpo delgado, mas com peito largo e forte. Tem olhos pardos e
expressivos, assim como uma boca que, embora pequena, é igualmente expressiva, permitindo, olhos e
boca, projetar o temperamento da personagem: a nobreza, a lealdade, a generosidade, mas também a
afetividade, a emotividade e o pendor para o arrebatamento (cf. cap. XX).
É uma personagem marcada pela excecionalidade típica do herói romântico:
✓ contradições de temperamento;
✓ uma certa marginalidade;
✓ sentimento de incompreensão;
✓ solidão.
Ao longo da obra, Carlos mostra ser instável e propenso à mudança. Vive em conflito consigo próprio e
com os outros, dividido entre o amor e a luta pelo Liberalismo. No entanto, o jovem, originalmente puro
e bom, acaba por ceder ao materialismo e às convenções sociais que o modificam e o fazem barão.
Joaninha
Joaninha é caracterizada pela estabilidade e pela fidelidade ao espaço onde cresceu, bem como aos
valores que dele emanam: a harmonia, a perfeição, a simplicidade e a pureza original são marcas que a
definem.
Esta personagem é descrita, primeiro, fisicamente e só depois psicologicamente, sobressaindo em
ambas as descrições a harmonia, encaminhando o leitor para a excecionalidade da personagem. O seu
retrato é completado com a referência aos olhos, que são verdes como a natureza pura com que ela,
harmoniosamente, se funde (cf. cap. XX). À descrição de Joaninha está associado o rouxinol, que
prenuncia, por associação com o rouxinol de Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, o sofrimento, a
desilusão e a morte vividos por esta personagem.
Joaninha representa a mulher-anjo.
Coloquialidade e digressão
O estilo coloquial e digressivo, característico de Almeida Garrett em Viagens na Minha Terra, é
conseguido pelo/pela:
✓ tom de conversa entre o narrador e o leitor;
✓ uso expressivo da pontuação, conferindo ao texto marcas características da oralidade;
✓ alternância entre linguagem erudita e linguagem popular;
✓ presença de frases curtas;
✓ uso de anglicismos e galicismos e de neologismos;
✓ pronunciamentos sobre política, sociedade, literatura, arquitetura, filosofia …