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RESUMO: Na atualidade, há uma compreensão de que é preciso estabelecer na vida humana bases
educativas mais justas e igualitárias. Isso requer que haja uma boa formação nas universidades e
nas escolas capaz de desenvolver uma educação para o pensamento crítico e reflexivo. Dentre as
diversas áreas dessa formação, destacamos a Filosofia. Este artigo objetiva exercer uma reflexão
acerca da formação do docente de Filosofia e do seu ensino no nível médio, tomando como base
teórica a questão da semicultura e da semiformação em Adorno. Destacamos a necessidade de
relacionar essa formação com a pesquisa, apontando ao mesmo tempo as dificuldades de
compreender as especificidades das modalidades bacharelado e licenciatura. Focalizamos o estágio
como um espaço de pesquisas e de construções teórico-filosóficas. Entendemos, então, que a
relação ensino, pesquisa e estágio é um forte elemento de superação da semiformação na área de
Filosofia. Tecemos ainda algumas considerações acerca dos conteúdos e diretrizes metodológicas
para o seu ensino no nível médio. Em nossas conclusões, destacamos a importância da Filosofia e
do seu ensino na vida social das pessoas e, consequentemente, na formação dos jovens, rogando
para que ela permaneça no nível médio.
PALAVRAS-CHAVE: Semiformação. Formação docente. Ensino de Filosofia. Pensamento reflexivo.
ABSTRACT: Nowadays, it is necessary to establish in human life more just and egalitarian
educational bases. This requires quality education in universities and schools. This education must
be able to develop a critical and reflective perspective. Among the various areas of this education,
we highlight Philosophy. This paper will discuss the education of the Philosophy teacher and his
teaching in secondary school. To this end, it takes as theoretical basis the issue of half-culture and
half-education in Adorno’s thought. We highlight the need to relate this education to academic
research, we also point out the difficulties of understanding the specificities of the bachelor’s degree
and the licentiate’s degree. We emphasize that the supervised practice is a space of research and
theoretical-philosophical constructions. We understand that the relation teaching, research and
supervised practice is a strong element of overcoming the half-education in the area of Philosophy.
We also discuss the contents and methodological guidelines for the teaching of Philosophy in
secondary school. We call the attention to the importance of Philosophy and its teaching in the
social life and, consequently, in the education of young people. Finally, we affirm that Philosophy
must remain in the curriculum of secondary schools.
1
Professora na Universidade Federal do Ceará (UFC).
2
Professor na Universidade Federal do Ceará (UFC).
INTRODUÇÃO
Nos tempos atuais há uma percepção generalizada de que é preciso
estabelecer a sociedade e a vida humana em geral em bases educativas mais
consistentes no sentido de se indicar, ao educando, caminhos e horizontes que o
levem a compreender o mundo e a sua existência, capaz de pensar uma sociedade
realmente justa, igualitária e mais humana. Isso requer, entre outros requisitos, que
haja uma boa formação nas universidades e nas escolas capaz de desenvolver uma
educação para o pensar crítico e reflexivo. A Filosofia tem um papel significativo
para essa consecução, por isso se faz mister o exercício constante de reflexões em
torno da formação do docente de Filosofia e do seu ensino no nível médio.
A partir dessas considerações este artigo objetiva exercer uma reflexão
acerca da formação do docente de Filosofia e do seu ensino no nível médio,
tomando como base teórica a questão da semicultura e da semiformação no
pensamento de Theodor Adorno.
Para Adorno, a sociedade cientificizada e tecnológica levou as pessoas a um
estado de alienação e de barbárie requerendo o resgate da humanização do
homem e do pensamento esclarecido, crítico e reflexivo capaz de recuperar o ser
digno do homem, uma vez que essa sociedade reprimiu a razão filosófica
substituindo-a por uma razão científica e instrumental. Apesar de não negar os
benefícios das ciências Adorno destaca que na sociedade desenvolvida ainda
permanece a miséria, a desigualdade e a injustiça. Tudo isso conduziu ao
empobrecimento da cultura, prevalecendo a disseminação da semicultura e,
portanto, da semiformação cuja expressão mais alta é a alienação, o conformismo
e a manipulação dos sentidos das pessoas. Desse modo, a semicultura e a
semiformação acabam por contribuir para a violência e a desumanização
ofuscando a dimensão formativa e emancipatória do homem. No entanto, uma
educação crítica poderá concorrer para a formação humana, capaz de desenvolver
nas pessoas uma postura autônoma, crítica e reflexiva. Então elas teriam condições
de resgatar a razão filosófica e de pensar a sociedade, a sua existência e a sua vida
em prol de um mundo melhor.
Tomando essas considerações ponderamos, nas três partes do presente
texto, que a formação do professor de Filosofia e o seu ensino no nível médio são
questões de suma importância para pensarmos essas concepções de Adorno. Para
o curso das nossas argumentações, a primeira parte, sucedida por esta introdução,
focalizará as formulações de Adorno acerca da semicultura e semiformação na
sociedade cientificizada e tecnológica. Na segunda parte trataremos da formação
do docente de Filosofia por meio de dois elementos que consideramos importantes
para a superação da semiformação nessa área de conhecimento: a relação entre
ensino e pesquisa nos cursos de formação docente em Filosofia e o estágio
supervisionado como espaço de desenvolvimento da pesquisa e de construções
teórico-filosóficos nessa formação. Nessa articulação teceremos alguns pontos
quantum da sua carga horária para a prática como componente curricular. Todos
esses delineamentos conduzem o estágio supervisionado como mediação para o
desenvolvimento da pesquisa e da formação docente.
Portanto, a pesquisa, que pode ocorrer também no e a partir do estágio
(podendo até mesmo resultar em monografia de final do curso), é condição sine
qua non para uma formação docente eficiente, e o ensino é a pedra angular dessa
dinâmica acadêmica que se complementa pela pesquisa. Por isso, o ensino não
pode ser usurpado “[...] pelas elites pesquisadoras, encasteladas nas suas fortalezas
intelectuais e adomadas do título de cientistas [no caso, adomados do título de
filósofos]” (LARA, 1990, p. 47). Portanto, um bom desempenho do graduando nessa
relação ensino e pesquisa o levará também a um bom desempenho no exercício
da sua profissão não somente no nível médio, mas em qualquer outro nível de
ensino; com condições de saber estabelecer os objetivos, os conteúdos e os
métodos de ensino mais adequados para os seus alunos. Enfim, o estágio
supervisionado em Filosofia, como também em qualquer outra área do saber, pode
e deve seguir essa relação intrínseca entre ensino e pesquisa. Podemos inferir que,
no âmbito da formação do docente de Filosofia do nível médio, essa relação
poderá ser um dos elementos centrais de superação da semiformação da qual fala
Adorno.
O estágio supervisionado é o momento ou o espaço para o
desenvolvimento das habilidades do futuro profissional da educação básica; no
nosso caso, o futuro profissional de ensino de Filosofia no nível médio. É o
momento de consolidação dos novos direcionamentos da futura atividade do
formando. Por isso, o estágio deve envolver uma boa orientação, uma boa
organização e planejamento que possibilitem relatórios realmente científicos e
produção de novos conhecimentos filosóficos. O estágio supervisionado em
Filosofia, nessa direção, poderá se tornar um dos fortes elementos de mediação
para a superação da semiformação nessa área de ensino, proporcionando
sustentabilidade para a ministração de boas aulas do docente no nível médio. Aqui
nos remetemos a outra questão: quais devem ser os conteúdos e habilidades do
professor de Filosofia no ensino médio e quais são os limites dessa realização.
PARA CONCLUIR
Os nossos delineamentos acerca da formação do docente de Filosofia e do
seu ensino, apesar dos inúmeros problemas que aí perduram, levam-nos a
reconhecer que a Filosofia está presente em todas as dimensões da sociabilidade
humana a partir do momento em que, como define Hegel, ela é a ciência de todas
as ciências, ou seja, ela reflete os fundamentos das demais ciências e os seus
porquês. Por isso se diz que a Filosofia é crítica de si mesma e das outras ciências,
e aqui merece destaque a sua importância na vida social dos homens.
Ora, se a Filosofia tem essa imensa importância, então ela se faz primordial
para a educação dos jovens. Por conseguinte, há de haver uma preocupação tanto
com a formação do docente de Filosofia para o nível médio como para a própria
docência nesse nível de ensino. No que diz respeito à formação, é imprescindível
a relação entre ensino e pesquisa, tendo como mediação o estágio supervisionado
para a consecução da sua otimização e para a ofuscação da semiformação nessa
área de ensino. Em relação à própria docência, esta deve instigar o aluno escolar
a desenvolver uma maior clareza da realidade; a compreender o mundo, a sua
própria existência e a si mesmo, contribuindo para a superação daquele estado de
alienação e de semiformação na sociabilidade humana da qual fala Adorno, já que
ele defende a necessidade do pensamento autônomo, crítico e reflexivo para essa
consecução.
A universidade e a escola são os espaços onde se produzem conhecimentos,
onde se desenvolvem tanto a formação do docente como a formação do aluno
escolar10. Nesses espaços deve ser desenvolvido o hábito da pesquisa e do ensino,
tendo como direção a construção de conhecimentos voltados, acima de tudo, para
10
E aqui merece destaque os cursos de formação continuada, no caso, a constituição e difusão do
Mestrado Profissional em Filosofia - PROF-FILO que tem contribuído consideravelmente para o
desenvolvimento da pesquisa e da formação dos docentes nessa área de ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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