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º 162 • 3€
Março/Abril 2018
Diretor
Carlos Mineiro Aires
Diretor-adjunto
Carlos Alberto Loureiro
R
N LA
O
U
MIA CIRC
PRIMEIRO PLANO ENTREVISTA ENTREVISTA
A EXPLICAÇÃO QUE É DEVIDA CARLOS MARTINS CARLOS BORREGO
Veto presidencial em relação ao exercício Secretário de Estado do Ambiente Coordenador de Investigação da Agenda
de Atos de Arquitetura por engenheiros civis de I&I para a Economia Circular
Carlos Mineiro Aires “ A economia circular veio para ficar. “ A transição para a economia circular
Bastonário da Ordem dos Engenheiros É um caminho sem retorno ” vai significar um impacto muito
positivo na mitigação das alterações
climáticas ”
Nesta Edição
5 Editorial 8 Notícias
Economia Circular
14 Regiões
6 Primeiro Plano
A explicação que é devida
Veto presidencial em relação ao exercício
de Atos de Arquitetura por engenheiros civis
56 Colégios 92 Análise
Transportes e Vias de Comunicação – Abordar o
82 Comunicação Presente e Perspetivar o Futuro
Engenharia Mecânica
Qual o Futuro das Motorizações em Veículos 94 Crónica
Automóveis – Fuel-Cell, Elétrico, Combustão Interna A Bela (Adormecida) e o Problema Monstruoso
90 Legislação 98 Agenda
2 ano OE
das alterações
18 climáticas
Editorial
Economia Circular
Região Sul Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa
Tel. 213 132 600 • Fax 213 132 690
egião dos Açores Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada
R
Tel. 296 628 018 • Fax 296 628 019
C
Região da Madeira Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 • Fax 291 743 479 aras e caros Colegas,
Coordenação Geral Marta Parrado
Tendo o Conselho Diretivo Nacional da Ordem dos Engenheiros (OE) decla-
Redação Nuno Miguel Tomás (CPJ 6152)
Ligação aos Colégios e Especializações Alice Freitas
rado 2018 como o “Ano OE das Alterações Climáticas”, a que associou múl-
tiplos eventos que decorrerão ao longo do ano, faz todo o sentido que a presente
Impressão L idergraf - Artes Gráficas, S.A.
Rua do Galhano, 15 • 4480-089 Vila do Conde • Portugal edição da “INGENIUM” seja dedicada à “Economia Circular”.
Publicação Bimestral • Tiragem 40.000 exemplares Num contexto de mitigação e adaptação às alterações climáticas, a transição da eco-
Registo no ICS n.º 105659 • NIPC 504 238 175 • API 4074
Depósito Legal n.º 2679/86 • ISSN 0870-5968 nomia linear para a economia circular, a interiorização e a assunção desta evolução
assumem uma relevância crucial como forma de atingirmos objetivos fundamentais
como os da eficiência material, hídrica e energética.
Definitivamente, teremos de seguir um caminho sem retorno, alicerçado na eficiência
na gestão e uso dos recursos, que deixe de estar baseado em soluções que recorrem à
Bastonário Carlos Mineiro Aires
Vice-presidentes Nacionais Carlos Almeida Loureiro,
sua sistemática exploração, cientes da sua crescente limitação e caráter finito, e que seja
Fernando de Almeida Santos
capaz de dar resposta à gradual necessidade de produção de bens de consumo de toda
Conselho Diretivo Nacional
Carlos Mineiro Aires (Bastonário), Carlos Almeida Loureiro (Vice-presidente
a natureza, motivada pelo crescimento demográfico e por razões socioeconómicas.
Nacional), Fernando de Almeida Santos (Vice-presidente Nacional), Estes desafios vêm originando, há já algum tempo, reações no mercado e até moti-
Joaquim Poças Martins (Presidente CDRN), Carlos Duarte Neves
(Secretário CDRN), Armando Silva Afonso (Presidente CDRC), Isabel Pestana varam novas e fluorescentes economias e também modificações nos modelos de
da Lança (Secretária CDRC), António Laranjo (Presidente CDRS),
Maria Helena Kol (Secretária CDRS), Pedro Jardim Fernandes negócio das empresas e no comportamento dos consumidores.
(Presidente CDRM), Paulo Botelho Moniz (Presidente CDRA).
Conselho de Admissão e Qualificação
Apesar da evolução registada nos últimos anos, que levou a que Portugal apresente já
Hipólito de Sousa (Civil), Celestino Quaresma (Civil), António Machado e Moura
(Eletrotécnica), Teresa Correia de Barros (Eletrotécnica), Álvaro Rodrigues (Mecânica),
alguns indicadores interessantes em relação às médias europeias, como é o caso da re-
Rui de Brito (Mecânica), Júlio Ferreira e Silva (Geológica e Minas), Paulo Caetano cuperação de resíduos, existem outras situações em que a eficiência material está ainda
(Geológica e Minas), Luís Guimarães Almeida (Química e Biológica), João Pereira
Gomes (Química e Biológica), Carlos Guedes Soares (Naval), Jorge Beirão Reis (Na- muito longe dos objetivos ideais, como é o caso da atividade da construção civil.
val), José Pereira Gonçalves (Geográfica), João Agria Torres (Geográfica), Pedro de
Castro Rego (Agronómica), Vicente de Seixas e Sousa (Agronómica), Pedro Ochôa No contexto das alterações climáticas todos percebemos a importância de um con-
de Carvalho (Florestal), José Ferreira de Castro (Florestal), Rosa Miranda (Materiais),
Rogério Colaço (Materiais), Luís Amaral (Informática), Vasco Amaral (Informática), junto de medidas que teremos de adotar para reduzir as emissões de gases com efeito
António Guerreiro de Brito (Ambiente), Leonor Amaral (Ambiente).
Presidentes dos Conselhos Nacionais de Colégios
de estufa, visando a descarbonização e a perspetiva da exclusiva produção de ener-
Paulo Ribeirinho Soares (Civil), Jorge Marçal Liça (Eletrotécnica), gias limpas num futuro muito próximo, bem como a sua utilização assente em redes
Aires Barbosa Ferreira (Mecânica), Carlos Caxaria (Geológica e Minas),
Luís Pereira de Araújo (Química e Biológica), Pedro Ponte (Naval), interconectadas e inteligentes, servindo as cidades do futuro, com soluções de mo-
Teresa Sá Pereira (Geográfica), Miguel de Castro Neto (Agronómica),
António Sousa de Macedo (Florestal), António Dimas (Materiais), bilidade e atividades não poluentes.
Ricardo Machado (Informática), António de Albuquerque (Ambiente).
Região Norte – Conselho Diretivo Joaquim Poças Martins (Presidente),
Estamos, uma vez mais, a procurar encontrar as melhores respostas e soluções para
José Lima Freitas (Vice-presidente), Carlos Duarte Neves (Secretário),
Pedro Mêda Magalhães (Tesoureiro).
os problemas globais, visando garantir a perenidade dos recursos, mas sobretudo,
Vogais Rosa Vaz da Costa, José Marques Aranha, Pilar Machado. quiçá, a nossa própria sobrevivência.
Região Centro – Conselho Diretivo Armando Silva Afonso (Presidente),
Altino Loureiro (Vice-presidente), Isabel Pestana da Lança (Secretária), Uma tarefa, como sempre, com um forte envolvimento dos engenheiros e da Enge-
Maria Emília Homem (Tesoureira).
Vogais Elisa Almeida, Álvaro Saraiva, Pedro Silva Monteiro. nharia.
Região Sul – Conselho Diretivo A ntónio Laranjo (Presidente) Nesta edição é, ainda, publicado um artigo sobre a questão do exercício de Arquite-
Jorge Grade Mendes (Vice-presidente), Maria Helena Kol (Secretária),
Arnaldo Pêgo (Tesoureiro). tura por um grupo restrito de engenheiros civis, porquanto a desinformação que
Vogais Maria Filomena de Jesus Ferreira, Arménio de Figueiredo, Gil Manana.
Região da Madeira – Conselho Diretivo Pedro Jardim Fernandes (Presidente),
grassa, quer na Sociedade, quer até dentro da nossa Ordem, exige da parte do Bas-
Amílcar Gonçalves (Vice-presidente) Rui Dias Velosa (Secretário),
Nélia Sequeira de Sousa (Tesoureira).
tonário “a explicação que é devida”, já que as disposições estatutárias da OE nos
Vogais José Branco, Manuel Sousa Filipe, Sara Olim Marote. obrigam a defender os legítimos interesses, direitos e prerrogativas dos Membros.
Região dos Açores – Conselho Diretivo Paulo Botelho Moniz (Presidente),
André Cabral (Vice-presidente), José Silva Brum (Secretário), Aí, espero esclarecer os leitores e deixar claro que os engenheiros não pretendem
Manuel Gil Lobão (Tesoureiro).
Vogais Teresa Soares Costa, Bruno Melo Cardoso, Manuel Francisco Sousa.
mais do que lhes é devido e que apenas desejam justiça, estabilidade geracional, a
dignificação da profissão e que o próprio Estado acate a legislação comunitária.
A EXPLICAÇÃO
QUE É DEVIDA
Veto presidencial
em relação ao exercício
de Atos de Arquitetura
por engenheiros civis
O
s Estatutos da Ordem dos Enge- toda a União Europeia, uma vez que tal
nheiros obrigam o Bastonário e exercício também é permitido em Portugal
o Conselho Diretivo Nacional, aos cidadãos de outros Estados-membros
entre outras imposições, a defender cole- que estão abrangidos pela mesma Diretiva.
tivamente os legítimos interesses, direitos
e prerrogativas dos seus Membros. Carlos Mineiro Aires No essencial, apenas pugnamos pelo aca-
Assim, todo o empenho que ao longo do Bastonário da Ordem dos Engenheiros tamento das leis da União Europeia e pelo
mandato temos assumido neste caso, bem fim de uma injustiça ridiculamente discri-
como em muitos outros, resulta da plena minatória.
consciência da missão e das obrigações A razão assiste-nos, pois, na plenitude, dado
para que fomos eleitos, o que justifica o que a falta de clarificação gerou uma in-
presente artigo. nharia Civil (licenciaturas pré-Bolonha), coerência que o Senhor Provedor de Justiça
O exercício de Atos de Arquitetura por um cuja formação tenha sido iniciada até ao considerou de discriminatória e inaceitável,
grupo perfeitamente identificado de enge- ano letivo de 1987/88 na Universidade do tendo pedido à Assembleia da República a
nheiros civis não se trata, pois, de qualquer Minho, na Faculdade de Engenharia da Uni- clarificação urgente da situação, com o re-
exigência absurda ou descontextualizada versidade do Porto, na Faculdade de Ciên- conhecimento expresso dos direitos adqui-
da realidade do século XXI, como muitos cias e Tecnologia da Universidade de Coimbra ridos dos engenheiros civis com títulos de
querem fazer crer, pois, se assim fosse, nunca e no Instituto Superior Técnico. formação obtidos em Portugal, nas condi-
teria merecido tal empenho da nossa parte. Desta forma, estão perfeitamente enqua- ções previstas no artigo 49.º da Diretiva
Trata-se, sim, de uma teimosia política de drados os engenheiros civis em causa, cujos 2005/36/CE, tal como transposta pela Lei
não acatamento de uma Diretiva comuni- direitos adquiridos cessarão com o fim da n.º 9/2009, de 4 de março.
tária, para a qual o Estado português in- sua atividade profissional, já que outros não A esta clarividência, acresce o facto de a
dicou quatro licenciaturas (pré-Bolonha) poderão futuramente ser abrangidos. Comissão Europeia já ter instado, pelo menos
em Engenharia Civil e nove cursos de Ar- Assim, a Ordem dos Engenheiros apenas por três vezes, o Estado português a transpor
quitetura obtidos nas escolas de Belas Artes, defende o que é óbvio: corretamente a Diretiva Comunitária 2005/36/
como tendo competências adequadas para › A completa e correta transposição para o CE, o que continua sem acontecer.
o exercício de Arquitetura, ao abrigo de direito interno da Diretiva 2005/36/CE, de Esta é a única e verdadeira génese da questão
direitos adquiridos, já que não detinham a 7 de setembro de 2005, respeitando as e a razão dos pontos de vista que a Ordem
formação específica e direcionada, que só referidas quatro licenciaturas em Enge- dos Engenheiros defende.
mais tarde passou a ser ministrada no En- nharia Civil que nela constam;
sino Universitário. › Que estes engenheiros civis não sejam 1.ª Falácia – Os engenheiros civis (não)
No caso em apreço, recorde-se, a Diretiva impedidos de exercer Atos de Arquitetura querem praticar Atos de Arquitetura.
apenas abrange os licenciados em Enge- no seu País, quando o podem fazer em Na verdade, a grande maioria nunca o fez
e não o quer fazer e nem sequer a Ordem nitárias da Diretiva e só terminará com o fim a) contornar a questão, mantendo o des-
dos Engenheiros o defende. da atividade profissional de cada um. respeito pelos direitos e lesando estes en-
Mas todos aqueles que têm interesses di- Estaremos, pois, seguramente perante um genheiros civis portugueses que o próprio
retos efetivos na atividade (cerca de duas “retrocesso civilizacional” se o Estado por- Estado indicou para a Diretiva 2005/36/CE,
centenas, ao que apurámos), por força dos tuguês não acatar a legislação comunitária, contornando a efetiva aplicação do direito
direitos adquiridos previstos na Diretiva teimando em discriminar este conjunto de comunitário.
2005/36/CE, nunca perderão o direito a tal cidadãos a quem reconheceu os direitos Conforme extrato do parecer jurídico ela-
e, por isso, podem e poderão fazê-lo, pela que agora insiste em negar-lhes. borado para a Ordem dos Engenheiros pelos
prevalência do direito comunitário. Professores Jónatas E. M. Machado e Paulo
Assim, foi com surpresa que, no dia 7 de Nogueira da Costa, resulta claro o seguinte:
2.ª Falácia – Que outros profissionais, mor- abril, a Ordem dos Engenheiros tomou co- O conteúdo do Anexo V e VI da Diretiva
mente os engenheiros técnicos, também nhecimento do veto presidencial sobre o 2005/36/CE, recebido pela Diretiva 2013/55/
poderão passar a praticar Atos de Arquite- Decreto da Assembleia da República n.º UE, alicerça uma pretensão de garantia su-
tura. 196/XIII, de 3 de abril de 2018 (*vide texto ficientemente precisa e determinada. Por
Uma imprecisão alarmista e intencional, para em rodapé), com base em argumentos que, esse motivo, ele preenche os pressupostos
justificar o que constituiria “um retrocesso por razões de postura e respeito institu- da aplicabilidade direta das diretivas.
civilizacional”, mas que não corresponde à cional, não comentamos. A não aprovação e não transposição para
verdade. Com efeito, tendo sido o próprio Estado o direito interno, que originaram a interdição
No âmbito da Diretiva, apenas estão em português que indicou estes títulos de for- da prática de Atos de Arquitetura pelos en-
causa as qualificações académicas e não mação para constarem da lista dos que genheiros civis abrangidos, constitui uma
os títulos profissionais, que, de acordo com detêm direitos adquiridos para o efeito, na violação suficientemente caraterizada do
a Lei, são atribuídos pelas respetivas Ordens. Diretiva do Conselho 85/384/CEE e Diretiva direito da União Europeia passível de abrir
Tal significa que, independentemente de do Conselho 86/17/CEE (atualmente Dire- portas a uma ação de incumprimento e a
estarem inscritos na Ordem dos Engenheiros tiva 2005/36/CE) porque, à data, os titulares desencadear a responsabilidade civil extra-
ou na Ordem dos Engenheiros Técnicos, a daquela formação exerciam Arquitetura sem contratual do Estado português pelos danos
Diretiva apenas abrange os licenciados qualquer restrição e de acordo com a le- resultantes.
(pré-Bolonha) cuja formação em Enge- gislação então vigente (o Decreto n.º 73/73
nharia Civil tenha sido iniciada até ao ano de 28 de fevereiro), não é justo, nem faz Assim, para além da razão moral, da justiça
académico de 1987/88 nas já referidas sentido, que agora negue a génese e reverta e da estabilidade geracional que é devida,
quatro universidades, e não quaisquer pro- os diretos que então foram conferidos a existe fundamento jurídico, nacional e co-
fissões. determinados cidadãos nacionais, tanto mais munitário, a que acresce a posição inequí-
que estão perfeitamente limitados em termos voca da Comissão Europeia que insisten-
3.ª Falácia – A existência de um regime de qualificação e de limite temporal expec- temente tem instado o Estado português
transitório para os engenheiros civis que tável para a sua atividade profissional, já que a corrigir a situação, bem como a reco-
já terminou. outros não poderão voltar a ser abrangidos. mendação do Senhor Provedor de Justiça,
Embora, em parte, seja verdade, o facto de Incompreensivelmente, na Lei n.º 31/2009, que já deveriam ter obrigado à correção
esse regime ter terminado não anulou ou alterada pela Lei n.º 40/2015, já não foram desta insistência discriminatória.
alterou o âmbito e abrangência da Diretiva reconhecidos esses títulos aos engenheiros Cumprindo os seus desígnios estatutários e
comunitária, que continua em vigor. civis licenciados nas referidas universidades por estas razões e fundamentos, caso não
Por outro lado, o diploma vetado não propõe portuguesas, embora tenham sido reconhe- seja agora encontrada uma solução legis-
qualquer manutenção dos regimes transi- cidos aos engenheiros civis com formação lativa que garanta os direitos adquiridos
tórios que existiram, nem nunca a Ordem obtida em outros Estados-membros, por destes engenheiros civis, a Ordem dos En-
dos Engenheiros defendeu tal intenção. força da aplicação da Diretiva. genheiros ver-se-á forçada a formalizar uma
O que se passa é que, a partir do reconhe- A Ordem dos Engenheiros não pode, pois, queixa contra o Estado português nas ins-
cimento dos referidos títulos académicos rever-se em qualquer alegado consenso tâncias da Comissão e da União Europeia,
na Diretiva, o enquadramento jurídico dos anteriormente obtido, porquanto bem sa- como única forma de ver reposta a justiça
direitos destes engenheiros civis passou a bemos a forma como então, e uma vez e garantir o acatamento da legislação co-
estar alicerçado apenas nas regras comu- mais, o Estado português procurou (obrigou munitária.
(*)
O artigo 25.º da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, alterada pela Lei n.º 40/2015, de 1 de junho, passa a ter a seguinte redação:
“Artigo 25.º
[…]
1 a 6 mantêm-se
7 – Sem prejuízo dos atos que, por lei, estejam exclusivamente cometidos aos arquitetos, podem, ainda, elaborar projetos de Arquitetura os engenheiros civis e os
engenheiros técnicos civis, inscritos na respetiva Ordem, matriculados até 1987 e licenciados no curso de Engenharia Civil numa das seguintes instituições:
a) Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa;
b) Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
c) Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra;
d) Universidade do Minho.
8 – Os agentes técnicos de Arquitetura e Engenharia podem assumir as funções de direção de obra e direção de fiscalização de obra em obras de classe 4 ou inferior.”
O Governo apresentou, no
dia 13 abril, na Sede Na-
cional da Ordem dos Enge-
nheiros, o Programa ”Casa Efi-
ciente 2020”, com participação
Corpo técnico de Engenharia do Ministro do Ambiente, Eng.
da IGAMAOT ingressa João Pedro Matos Fernandes,
do Ministro do Planeamento e
na Ordem dos Engenheiros das Infraestruturas, Dr. Pedro
N o âmbito do OE+AcCEdE, está previsto o início de nove As ações de formação terão como objetivo a iniciação e o aperfeiçoamento desta
ações de formação contínua para o mês de maio, a prática desportiva que, comprovadamente, previne e atrasa as doenças de dege-
decorrer por todo o País. Cursos relacionados com Projetos nerescência da capacidade cerebral para as pessoas que deixaram a vida ativa e
de redes de Gás, de AVAC, ITUR, de Modelação e Análise de que a desenvolve para os mais jovens.
Peças em 2D e 3D, ou sobre Águas Residuais, Estações de Tendo em vista o planeamento destas atividades, solicita-se aos Membros da
Tratamento e de Gestão de fazem parte do leque das for- Ordem dos Engenheiros interessados, o contacto com o CBE, através do email
mações disponíveis a partir de maio. O OE+AcCEdE, criado bridgeng@oep.pt ou dos telefones 968 078 956 / 918 223 525. •
em 2014, tem por objetivo garantir a qualidade da oferta
formativa ao longo da vida destinada aos engenheiros.
Consulte a página da Formação Contínua no Portal do En- Resolução da Assembleia
genheiro e aceda à totalidade das formações previstas. da República n.º 98/2018
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/admissao-e-qua-
lificacao/formacao-continua • recomenda ao Governo
que crie um comité científico
Acordo aproxima Engenheiros
Navais Portugueses e Espanhóis
agroalimentar
Região NORTE
Sede Porto Delegações distritais
Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto Braga • Bragança
Tel. 222 071 300 – Fax 222 002 876 Viana do Castelo • Vila Real
E-mail geral@oern.pt
www.oern.pt
Região NORTE
Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 Guarda • Leiria • Viseu
E-mail correio@centro.oep.pt
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/centro
2018 – Ano OE
das Alterações Climáticas
O Conselho Diretivo da Região Centro da Ordem dos Engenheiros
realizou, no dia 5 de fevereiro, uma reunião conjunta com os Colégios
Regionais e Delegações Distritais com vista ao enquadramento e de-
finição das atividades a realizar pela Região no âmbito do “Ano OE das
Alterações Climáticas”. •
Apresentação da ANEEB
A recém-criada ANEEB – Associação Nacional de Estudantes de En-
genharia Biomédica promoveu, a 2 de fevereiro, a sua cerimónia de
apresentação, iniciativa que teve lugar no auditório da Região Centro
da Ordem dos Engenheiros (OE), em Coimbra. A sessão constituiu um
espaço de debate sobre o mercado da Engenharia Biomédica em Por-
tugal, nomeadamente em assuntos relacionados com a avaliação tec- de Saúde e cibersegurança, e contou com a participação do Bastonário
nológica de dispositivos médicos, informatização do Serviço Nacional da OE, Eng. Carlos Mineiro Aires. •
Região CENTRO
“COnseRva-mE a coreS” em Aveiro No âmbito das habituais “Conversas ao Final do Mês”, a Delegação
Distrital de Aveiro promoveu no dia 15 de dezembro a inauguração da
Exposição Fotográfica “COnseRva-mE a coreS”, da autoria de Rui Pedro
Francisco. A exposição pretende alertar para “uma paisagem em risco
de ficar cada vez mais a preto e branco. Para reter na memória, um
alerta visual sobre a proteção que devemos aos nossos ecossistemas,
mantendo-lhes as cores originais”. •
Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 Guarda • Leiria • Viseu
E-mail correio@centro.oep.pt
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Região CENTRO
Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
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Região Sul
Sede Lisboa Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa Évora • Faro
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 Portalegre • Santarém
E-mail secretaria@sul.oep.pt
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/sul
Santarém discute
“Tomada de Decisão Estratégica em Ambiente de Incerteza”
A Delegação Distrital de Santarém promoveu
no dia 8 de fevereiro uma Noite Temática de-
dicada ao tema “Tomada de Decisão Estraté-
gica em Ambiente de Incerteza”, tendo como
orador o Professor Heitor Barras Romana, atual
Presidente do Conselho Científico do Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas. Esta
ação juntou cerca de 40 Membros, entre os vive nos dias de hoje e as implicações que tal e económicos (quatro ou cinco anos), em que
quais quatro Membros do Conselho Diretivo incerteza transportam para a tomada de de- os decisores se veem “obrigados” a obter re-
da Região Sul, os atuais e muitos dos anteriores cisão. O atual contexto geopolítico leva, na sultados visíveis ao fim de três ou quatro anos,
Delegados Distritais e Delegados-adjuntos. opinião de Heitor Romana, a que as “decisões é um fator determinante para esta mudança.
Suportado numa vasta experiência profissional estratégicas” tenham evoluído cada vez mais, Uma vez mais foi referido que nos países asiá-
em distintas geografias – Diretor Geral Adjunto especialmente no mundo ocidental, para “po- ticos – essencialmente na China – esta pressão
dos Serviços de Informações Estratégicas de líticas” e mais recentemente para “medidas”, dos ciclos curtos não se verifica, sendo atual-
Defesa e Militares (1999/02), Conselheiro Di- sendo notório o caráter de curto prazo dessas mente uma vantagem estratégica desses países
plomático na Embaixada de Portugal em Mos- mesmas decisões, sejam elas de perfil político, face ao “mundo ocidental”.
covo e Assessor do Governador de Macau económico ou social. O período de debate que Antes do início da palestra foi prestada home-
(1990/99) –, bem como numa carreira acadé- se seguiu permitiu analisar as principais razões nagem ao Eng. José Adriano Soares Lopes,
mica com mais de 30 anos, a palestra proferida que levam a que a tomada de decisão tenha anterior Delegado Distrital de Santarém, tendo
durante aproximadamente uma hora teve como uma incidência cada vez maior no curto prazo, sido descerrada a sua fotografia na galeria dos
fio condutor o ambiente de incerteza que se tendo ficado claro que os curtos ciclos políticos Delegados. •
Região SUL
Resiquímica em jantar-debate na OE
O Conselho Regional Sul do Colégio de En-
genharia Química e Biológica promoveu, a 6
de fevereiro, o Jantar-debate “Resiquímica –
Há Química em Nós”, no restaurante da Região
Sul da Ordem dos Engenheiros (OE). O orador
convidado foi o Presidente do Conselho de
Administração e CEO da Resiquímica, Dr.
Marcos Lagoa, que proporcionou aos presentes
uma interessante e clara apresentação sobre
a génese e evolução da empresa, partilhando
diversos factos relevantes associados à sua
história, crescimento, processo de internacio-
nalização, áreas de negócio e indicadores
económicos. Por parte da Resiquímica esti-
veram também presentes a Administradora
Executiva, Eng.ª Susana Carvalho, a Diretora
da Área da Qualidade e Ambiente, Eng.ª Paula
Miranda, e o Diretor de Operações, Eng. Jaime
Carvalho.
Neste jantar-debate também compareceu o
Presidente do ISEL, Eng. Jorge de Sousa, a tónio Laranjo, e por um dos Vogais, o Eng. Gil o Presidente do Conselho Nacional de Colégio
Presidente do Departamento de Engenharia Manana. Para além dos organizadores da ini- de Engenharia Química e Biológica da OE,
Química do IST, Eng.ª Teresa Duarte, e o Pre- ciativa, o Coordenador e Vogais do Conselho Eng. Luís Araújo.
sidente da Área Departamental de Engenharia Regional Sul do Colégio de Engenharia Quí- De modo a complementar este jantar-debate,
Química do ISEL, Eng. João Silva. mica e Biológica, Engenheiros António Gon- o Colégio tem planeada uma visita técnica à
O Conselho Diretivo da Região Sul da OE es- çalves da Silva, Helena Teixeira Avelino e João instalação industrial da Resiquímica, em Mem
teve representado pelo Presidente, Eng. An- Líbano Marques, esteve igualmente presente Martins. •
Região da Madeira
Sede Funchal
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/madeira
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/acores
O ano que se inicia da melhor forma nião expressa pelo conjunto de formandos,
apesar da elevada duração desta formação
Corresponder às expectativas dos Membros tem “Autocad 2D” e “Projetos de Condicionamento profissional ministrada em regime pós-laboral,
constituído uma preocupação da Região dos Acústico” seguiu-se o curso “Projetista de Redes valeu a pena o investimento de tempo e de re-
Açores da Ordem dos Engenheiros. Nesse con- de Gás”, realizado na segunda quinzena de ja- cursos numa formação complementar que vem
texto, o ano começou com o reforço na oferta neiro. O número de inscritos esgotou a oferta acrescentar valências e competências técnicas
de mais formação profissional. Aos cursos de de lugares disponíveis e, de acordo com a opi- ao desempenho e capacitação profissional. •
Sinergias Circulares
desafios para Portugal
Economia circular nacional funciona como bloqueio à criação
e simbioses industriais de um mercado de simbioses industriais –
como, por exemplo, a exigência prévia de
O conceito de economia circular não é garantir um comprador para o subproduto
novo, estando muito associado à área do ou o custo legal associado à desclassificação
Sofia Santos saber relacionada com a ecologia industrial de resíduo para subproduto. E societal porque
Secretária-geral do BCSD Portugal – Conselho e com as análises de ciclo de vida dos pro- implica a existência de uma cultura empre-
Empresarial para o Desenvolvimento dutos. As agendas europeia e nacional para sarial disposta a trabalhar em conjunto, su-
Sustentável
a economia circular, nomeadamente o pa- portada por infraestruturas locais apropriadas,
cote de economia circular “Fechar o ciclo que permitam a cooperação entre empresas.
– Plano de ação da UE para a economia Na ótica da simbiose industrial, passar de
circular”, lançado em dezembro de 2015 uma economia linear para uma circular im-
pela Comissão Europeia, e o “Plano de Ação plica ambicionar que os resíduos produzidos
para a Economia Circular em Portugal”, lan- pelas atividades económicas sejam nulos e
çado pelo Governo em dezembro de 2017, que sejamos suficientemente criativos para
vieram conferir uma maior ambição às em- identificar modelos de negócio rentáveis e
presas, despoletando oportunidades para a verdadeiramente circulares. Uma vez que
tecnologia, inovação, modelos de negócio muitas das empresas associadas do BCSD
e imaginação. Portugal – Conselho Empresarial para o
Totalmente ligado à economia circular surge Desenvolvimento Sustentável têm vindo a
o conceito de simbiose industrial, em que desenvolver trabalhos profundos relacio-
os processos assentam numa colaboração nados com a reutilização de resíduos, de-
entre empresas de diferentes setores e onde cidimos analisar este mercado de forma
a troca de resíduos, a partilha de energia mais detalhada para perceber os impactos
residual ou de serviços, ou a reutilização de sociais, ambientais e económicos que as
águas tratadas, geram vantagens competi- simbioses industriais poderiam trazer para
tivas para todos os intervenientes. No caso Portugal.
dos resíduos, por exemplo, a simbiose in-
dustrial procura integrar uma ou mais in- O estudo
dústrias, tornando cíclico o fluxo de resíduos
que, em vez de serem produzidos, são antes O estudo “Sinergias Circulares: desafios para
reinseridos na cadeia produtiva como ma- Portugal”, lançado em março de 2018, re-
térias-primas. Desta forma, consegue-se sulta da dinâmica do Grupo de Trabalho
poupar recursos naturais e diminuir o im- Economia Circular e Simbioses Industriais
pacte ambiental associado, por exemplo, à do BCSD e do apoio técnico da 3Drivers.
extração do recurso e do seu transporte. Este estudo surge porque é necessário com-
Idealmente, a economia circular ambiciona preender o potencial económico, ambiental
reduzir os resíduos a zero, sejam resíduos e social da incorporação dos resíduos na
dos processos ou de fim de linha. É por isso economia, podendo esta análise ajudar a
que o design dos produtos tem um papel compreender melhor como se pode imple-
fundamental nesta abordagem. Tendo em mentar a política pública europeia e nacional
conta esta premissa, as simbioses industriais ao nível de uma das áreas da economia cir-
são um desafio tecnológico, político e so- cular. Surge também porque, uma vez que
cietal para os resíduos que não se conse- a percentagem de resíduos valorizados em
guem evitar. Tecnológico porque implica Portugal é inferior à média europeia, é prio-
uma constante procura de possíveis com- ritário passar a considerar os resíduos como
binações de materiais cujo sucesso estará recursos, dando lugar à exploração de si-
dependente do investimento em I&D. Polí- nergias entre empresas que venham a con-
tico porque parte da legislação europeia e cretizar projetos de simbioses industriais.
O estudo analisou dados nacionais de 32 Impactos sociais, ambientais traduzir-se-ia na criação de 1.300 novos
empresas associadas do BCSD, com vista a e económicos das simbioses empregos e o impacto ambiental numa re-
explorar sinergias na área dos resíduos. Os industriais para Portugal dução superior a 5 milhões de toneladas de
quatro objetivos do estudo foram: (1) ma- extração doméstica (materiais extraídos em
pear os tipos de resíduos, as quantidades e Segundo o Instituto Nacional de Estatística, território nacional anualmente). Estes valores
o concelho do País onde são produzidos; em 2015, em Portugal, foram eliminados 1,1 constituem estimativas com base nas ma-
(2) identificar sinergias entre empresas; (3) milhões de toneladas de resíduos não ur- trizes de input-output que resumem as trocas
avaliar o impacte ambiental, social e eco- banos. Se estes resíduos fossem transacio- comerciais e de fluxos entre os vários agentes
nómico destas sinergias; (4) identificar um nados entre empresas, isto é, se em vez de nacionais, que indicam de forma clara o po-
conjunto de ações no âmbito de políticas serem eliminados fossem utilizados como tencial da aposta nas simbioses industriais.
públicas de apoio à transição para a eco- matérias-primas, os impactos económicos
nomia circular. anuais seriam os seguintes: redução de con- Próximos passos
Em 2015, dados anuais a que se refere o
estudo, estas 32 empresas foram respon- Muitas destas transações de resíduos não
sáveis pela produção de 8,3 milhões de acontecem devido à falta de informação,
toneladas de 267 tipos de resíduos, à ausência de capacidade técnica/tec-
sendo que cerca de 57% dos resí- nológica, aos custos associados, à
duos produzidos foram elimi- IMPACTO burocracia e às barreiras legisla-
nados e 43% valorizados. É, SOCIAL tivas, sejam comunitárias ou
portanto, urgente encontrar nacionais. O estudo “Sinergias
um destino útil para os 57% 1.300 5,45
Circulares” propõe seis ações
de resíduos que ainda não novos empregos IMPACTES ANUAIS milhões
prioritárias de atuação, con-
DA GESTÃO de toneladas de extração
têm qualquer tipo de va- substanciadas em 14 me-
doméstica (materiais
lorização e que constituem DAS 1,1 MILHÕES extraídos em território didas, que têm como ob-
um custo financeiro para DE TONELADAS nacional anualmente) jetivo desbloquear estas
as empresas e um custo
DE RESÍDUOS ATRAVÉS barreiras: (1) Alterações re-
DE SIMBIOSE
ambiental para o País. gulamentares para facilitar
INDUSTRIAL
A título de exemplo, o es- a transação de resíduos; (2)
tudo “Cinergias Circulares”
IMPACTO Promover as compras eco-
AMBIENTAL
identificou quatro resíduos lógicas; (3) Promover o co-
IMPACTO
que, em vez de eliminados, po- ECONÓMICO 165 32
nhecimento nas empresas; (4)
deriam ser reutilizados como milhões milhões
Facilitar as condições fiscais e de
matérias-primas: os resíduos bio- de euros em de euros em VAB (Valor financiamento; (5) Promover as pla-
consumos intermédios Acrescentado Bruto)
degradáveis podem ser usados na pro- taformas coletivas para gestão de re-
1
dução de fertilizante para jardins e agricul- cursos; e (6) Comunicar resultados. Adotar abo
ao mais alt
LIDERANÇA depende se
tura; as cinzas têm destino nos setores da equipas pa
construção, cimenteira, asfalto ou agricul- Com este estudo, disponível para consulta
Impactos sociais, ambientais e económicos
tura, reduzindo a extração de matéria-prima das simbioses industriais para Portugal em www.bcsdportugal.org/projetos/siner-
A procura d
1 2
virgem; as lamas podem ser utilizadas na gias-circulares, o BCSD Portugal evidencia
Adotar abordagens circulares nos negócios implica liderança
industriais
ao mais alto nível nasINOVAÇÃO
empresas, já que este tipo de mudanç
LIDERANÇA plataforma
indústria de papel ou em fertilizantes de sumos intermédios de outras matérias-primas que existe um potencial económico NAS depende sempre da e so-
vontade dos líderes
EMPRESAS empresariais que m
de matéria
equipas para o “fazer acontecer”.
resíduos ex
solos; e os solventes podem ser escoados na ordem de 165 milhões de euros e con- cial associado às práticas de economia cir-
para a produção de tintas ou de combus- tribuição com 32 milhões de euros em VAB cular. Faz todo o sentido desenvolver todos
tíveis alternativos. (Valor Acrescentado Bruto). O impacto social os esforços
Adotar abordagenspolíticos e implica
empresariais para com base no Astransição
A procura de modelos colaborativos
políticas
conceito de
1 2 3
circulares nos negócios liderança e envolvimento p
INOVAÇÃO
industriais pode passar por projetos distintos como: a utiliza
projetos de
ao mais alto nível nasINOVAÇÃO
empresas, já que este tipo de mudança sistémica
plataformas colaborativas, aPOLÍTICAS
identificação de oportunidades
LIDERANÇA depende sempre da vontade dos líderes empresariais que mobilizam asNAS
NAS EMPRESAS suas públicas e
de matérias-primas por resíduos, a criação de novos negócio
PÚBLICAS
equipas para o “fazer acontecer”. empresas e
resíduos existentes e o alargamento da vida útil dos equipam
de resíduos
Top 6 dos resíduos mais produzidos 4 passos para uma economia mais circular
a nível nacional
Quantidade Percentagem As políticas públicas podem atuar como aceleradores determ
Desenvolve
1
A procura de modelos colaborativos com base no conceito de simbioses
2 3 4
Adotar abordagens circulares nos negócios implica liderança e envolvimento transição para uma economia cada vez mais circular. A imp
universidad
Resíduo produzida do universo ao mais alto nível nasINOVAÇÃO
industriais pode passar
empresas, já que este tipo de mudança sistémica
INOVAÇÃO
por projetos distintos como: a utilização de
projetos de simbioses industriais será facilitada com alteraç
das suas c
LIDERANÇA plataformas colaborativas,
NAS aPOLÍTICAS
identificação de oportunidades de substituição
RELAÇÕES
(kt) analisado depende sempre da vontade dos líderes
NAS EMPRESAS empresariais que mobilizam as
de matérias-primas por
suas públicas e a uma maior
resíduos, a criação de novos negócios com base nos
agilidade das entidades públicas
o dinamismna
equipas para o “fazer acontecer”. PÚBLICAS empresas em temas como a desclassificação de resíduos,
conhecimeo
Rejeitados geradores resíduos existentes e o alargamento da vida útil dos equipamentos.
de resíduos ou os movimentos transfronteiriços defortalecer
resíduos.a
de ácidos, resultantes da 3.176 38,5%
transformação de sulfuretos Liderança Inovação Inovação nas Relações
Misturas de resíduos e envolvimento naA abordagem
procura de modelos colaborativos com políticas
base no conceito depúblicas
simbioses queDesenvolver
As políticas públicas podem atuar como aceleradores desenvolvam
determinantes
projetospara a
conjuntos entre empresas, centros tecn
2 3 4
1.485 18,0% industriais pode passar
transição para uma economia cada vez mais circular.
por projetos distintos como: a utilização de
A implementação
universidades de de novas aplicações de subprodut
na procura
urbanos e equiparados ao mais alto nível
INOVAÇÃO de modelos INOVAÇÃO
plataformas colaborativas,
para que
projetos sejam
de simbioses projetos
industriais será dasconjuntos
facilitada com alterações
suas entre
nas políticas
características e funcionalidades é uma forma de
NASaPOLÍTICAS
identificação de oportunidades de substituição
públicas e a uma maior RELAÇÕES
agilidade das entidades públicas na resposta
o dinamismo às
entre o mundo empresarial e o académico, des
Lamas do tratamento local
951 11,5%
nas empresasNAS EMPRESAS colaborativos
de matérias-primas por resíduos, aaceleradoras
PÚBLICAS criação de novos negócios dacommudança
base nos empresas,
empresas em temas como a desclassificação de resíduos,
centros
o fim sobre
conhecimento de estatuto
economia circular e simbioses industria
resíduos existentes e o alargamento da vida útil dos equipamentos.
de efluentes entre empresas e para deque resíduosexista maiortransfronteiriçostecnológicos
ou os movimentos defortalecer
resíduos.a capacitaçãoe dos recursos humanos envolvidos n
Embalagens de papel
571 6,9%
agilidade das entidades universidades, que
e de cartão públicas na resposta às contribuam para o
As políticas públicas podem atuar como aceleradores determinantes
Desenvolver projetospara a
conjuntos entre empresas, centros tecnológicos e
Papel e de cartão 335 4,1% transição para uma economia cada vez empresas nesta área conhecimento e
3 4
mais circular. A implementação
universidades de de novas aplicações
na procura de subprodutos ou adaptação
INOVAÇÃO projetos de simbioses industriais será facilitada com alterações nas políticas
Resíduos biodegradáveis
186 2,3% NAS POLÍTICAS públicas e a uma maior RELAÇÕES
das suas
agilidade das entidades públicas
o dinamismo
características
na resposta às
entre o mundo
implementação
e funcionalidades é uma forma de fomentar
empresarial e o académico, desenvolver
de novos
de cozinhas e cantinas PÚBLICAS empresas em temas como a desclassificação de resíduos, o fim sobre
conhecimento de estatuto projetos
economia circular e simbioses nesta
industriais área
e, assim,
de resíduos ou os movimentos transfronteiriços defortalecer
resíduos.a capacitação dos recursos humanos envolvidos nos temas.
BCSD Portugal
O valor
da Economia Circular
O
modelo económico-social domi- tantes para as economias ocidentais; e a
nante no último século teve a sua crescente limitação de recursos naturais e
base em dois pilares fundamentais, ambientais para responder às necessidades
os recursos naturais e a tecnologia. Con- da população, entre outros.
tudo, a impossibilidade de crescimento sem Frequentemente, a designação de economia
limites foi, ao longo do tempo, sendo assu- circular é associada, na sua forma mais sim- Lígia M. Costa Pinto
mida pela sociedade em geral, cada vez ples, à eficiência na gestão e uso de recursos Professora Associada com Agregação
mais consciente quer dos impactos ambien- (eco-eficiência). Não desprezando a impor- em Economia, Universidade do Minho
tais das atividades económicas e sociais, tância dessa dimensão, o termo economia Membro do Conselho Diretivo
da APESB – Associação Portuguesa
quer da limitação dos recursos naturais circular tem uma abrangência muito supe- de Engenharia Sanitária e Ambiental
renováveis e não renováveis, assim como rior. Eco-eficiência diz respeito ao processo
da capacidade da ciência e tecnologia para e à otimização do uso de recursos no interior
resolução (ou mitigação) dos impactos. O do mesmo. O paradigma da economia cir-
debate em torno da sustentabilidade dos cular centra-se no sistema, trata-se de uma
modelos de desenvolvimento desde meados abordagem holística e sistémica. A economia
do século passado demonstra a crescente circular pode ser entendida como um novo
preocupação com os limites do modelo paradigma de organização das atividades
económico dominante. económicas e sociais, cuja origem pode ser
O modelo de economia circular, em alter- associada a diversas escolas de pensamento,
nativa ao linear, permite responder a vários desde a ecologia industrial (Frosch & Gallo-
desafios das sociedades atuais: o cresci- poulos); a economia azul (Gunther Paul);
mento demográfico e do consumo (asso- permaculture (Bill Mollison e David Holmgren);
ciado a rendimentos mais altos) e a cres- performance económica (Walter Stahel); bio-
cente necessidade de produção de bens; a mímica (Janine Benyus); desenho regenera-
instabilidade económica, política e social de tivo (John Lyle); cradle to cradle (Michael
fornecedores de matérias-primas impor- Braungart e William McDonough).
O objetivo é transformar os modelos atuais Tabela 1 Indicadores de economia circular (Fonte: Eurostat)
de produção e consumo em modelos que:
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
promovam a durabilidade e a permanência Emprego em setores circulares (% emprego total)
dos recursos/produtos uma vez extraídos/ UE – – – – 1,68 1,7 1,71 – –
produzidos; privilegiem a recuperação/re- Portugal 1,73 1,76 1,75 1,76 1,76 1,78 1,79 1,81 –
paração em detrimento da substituição; Investimento em materiais circulares tangíveis (% PIB)
promovam a prestação de um serviço em UE – – – – – 0,11 0,11 0,12 –
detrimento do produto no caso de bens Portugal 0,18 0,16 0,14 0,13 0,10 0,10 0,11 0,10 –
duráveis; entre outros. Nesta lógica, pro- Valor acrescentado em setores circulares (% PIB)
move-se a eco-eficácia, isto é, o upcycling UE – – – – 0,98 0,98 1,00 – –
no fim de vida. Portugal 0,77 0,78 0,77 0,73 0,71 0,70 0,73 0,75 –
Contudo, a transição é um processo com- Resíduos por material consumido (%, excluindo minerais)
UE 10,9 – 12,3 – 12,6 – 12,8 – –
plexo, quer pelas atividades, quer pelos
Portugal 6,1 – 7,4 – 7,4 – 8,0 – –
agentes envolvidos. Desde a alteração dos
Taxa de utilização de material circular
mecanismos de financiamento da atividade,
UE – – 10,8 10,4 11,2 11,4 11,4 – –
à alteração do comportamento dos consu-
Portugal – – 2,2 2,0 2,1 2,6 2,4 – –
midores e dos modelos de negócios das
Taxa de reciclagem de materiais (%, excluindo minerais)
empresas, às formas de governação, aos UE – – 53 – 53 – 55 – –
instrumentos de política, para nomear apenas Portugal – – 45 – 47 – 53 – –
alguns. Gerir esta mudança requer conhe- Reciclagem de resíduos urbanos (%)
cimento aprofundado dos agentes e das UE 36,5 37,5 38,3 39,6 41,5 42,2 43,6 45,0 45,8
instituições para, assim, desenhar esquemas Portugal 17,3 19,5 18,7 20,1 26,1 25,8 30,4 – –
que potenciem alterações de comporta- Reciclagem de embalagens – Madeira (%)
mentos e removam barreiras de implemen- UE 38,4 37,7 38,9 38,5 38,8 35,9 38,8 39,8 –
tação do paradigma. A conceção de meca- Portugal 64,5 65,3 66,0 78,0 69,7 98,5 131,5 86,5 –
nismos facilitadores da transição implica, Reciclagem de embalagens – Embalagens (%)
por sua vez, o conhecimento dos compor- UE 60,5 62,5 63,5 63,8 64,7 65,3 65,5 65,7 –
Portugal 61 59,9 55,5 58,4 56,9 61,5 61 57,1 –
tamentos dos agentes e dos seus determi-
Reciclagem de embalagens – Plásticos (%)
nantes.
UE 30,3 32,2 33,2 34,3 35,5 37,2 39,5 40,3 –
Frequentemente, associam-se quatro tipos
Portugal 19,1 25,5 24,5 26,1 30,4 35,3 40,0 43,0 –
de valores à economia circular: o valor de
Reciclagem de resíduos orgânicos per capita
recursos; o valor da informação; o valor
UE 71 70 69 69 72 74 76 78 80
ambiental; e o valor de consumo. O valor Portugal 0 0 32 22 29 23 20 18 18
potencial gerado varia de setor para setor. Reciclagem de resíduos de construção e demolição (%, excluindo minerais)
Se no setor de resíduos elétricos e eletró- UE – – 78 – 86 – 88 – –
nicos, o valor de informação pode ser sig- Portugal – – 58 – 74 – 96 – –
nificativo, no setor da construção serão o Reciclagem de REE (%)
valor de recursos e o valor ambiental os UE – – – 28,7 28,8 29,6 32,2 – –
mais significativos; enquanto no setor ali- Portugal 21,8 24,0 22,8 30,5 24,9 32,3 38,2 42,7 –
mentar e das águas residuais será o valor de
recursos gerados. Contudo, a realização dos clagem e indicadores mais específicos sobre madeira (86,5% era reciclado em 2015, sendo
valores depende, em muitas circunstâncias, emprego, atividade e uso de materiais em a média da UE de 39,8%). Os números re-
da existência de redes intersetorais. É nesta setores circulares. A recuperação de resí- cortados ilustram o valor potencial no âm-
dimensão que a implementação da eco- duos, em média, para todos os materiais bito do aproveitamento dos resíduos en-
nomia circular enfrenta maiores desafios. (excluindo minerais) em Portugal, em 2014, quanto fonte de materiais.
era de apenas 53%. Sendo um valor com- A análise dos indicadores mais específicos
Alguns números sobre o valor parável com a média europeia (55%), ilustra de economia circular vai em linha com a
potencial da economia circular bem o caminho que ainda há a percorrer conclusão anterior. O emprego nos desig-
em Portugal e na Europa no aproveitamento de resíduos. Contudo, nados setores de economia circular (inclui
a análise por fileira de resíduos mostra al- setor da reciclagem, reparação e reutilização)
Com o objetivo de avaliar e acompanhar a guma variedade. Enquanto a taxa de recu- representava em Portugal 1,73% do emprego
evolução dos seus Estados-membros no peração de resíduos de construção e de- total, em 2008, subindo para 1,81% em 2015
âmbito da implementação da economia molição (mineral) é de 96% (média da UE (ligeiramente acima da média da UE), e o
circular, a União Europeia (UE) criou uma 88%), a taxa de reciclagem de resíduos ur- valor acrescentado pelos setores em per-
série de indicadores. Os indicadores suge- banos era de apenas 30% (média da UE centagem do PIB era de 0,75% em 2015 (o
ridos podem ser divididos em dois grupos: 43,6%). No setor das embalagens, destaca- país com melhor comportamento neste in-
produção de resíduos, tratamento e reci- -se o aproveitamento de embalagens de dicador é a Islândia com 1,26% em 2015). A
Planear a transição
para uma Economia Circular
1. O PORQUÊ de 24 indicadores que demonstrava a dra-
mática aceleração da atividade humana e
Em 1955, o economista Simon Kuznets acre- os impactes diretos no sistema terrestrei
ditou estar perante uma “lei da física” apli- (Figura 1).
cada à economia, que relacionava desigual- Estes indicadores apenas reforçam as evi-
Inês dos Santos Costa dade salarial/económica e crescimento. Os dências apresentadas pelo MITii, as Nações
Adjunta do Ministro do Ambiente dados recolhidos sugeriam que, à medida Unidasiii ou o Fórum Económico Mundialiv,
Ministério do Ambiente
que o PIB de um país cresce, a desigualdade de que os impactos ambientais estão ine-
primeiro acentuava-se, estabilizava e depois xoravelmente associados ao modelo de de-
diminuía. E, apesar de o autor ter referido senvolvimento económico atual, e persistir
que esta teoria era “5% empírica e 95% es- na sua continuidade terá por consequência
peculação”, a curva de Kuznets tornou-se a falência do sistema que o suporta. Para-
uma verdade quase indiscutível e que ci- fraseando o professor Guy MacPherson, da
mentou o PIB como indicador de cresci- Universidade do Arizona, se cortar todas as
mento por excelência. árvores e as vender o PIB cresce, mas eu
Quarenta anos depois, outros cientistas, não conheço quem consiga contar dinheiro
Grossman e Krueger, também pensaram ter sem respirar.1
encontrado uma relação semelhante entre As Nações Unidas e organizações como a
economia e degradação ambiental – a curva Trucostv já calcularam que, em média, 1/3
Kuznets de ambiente – que, tal como a sua dos danos ambientais globais estão ligados
antecessora, parecia indicar que à medida ao desperdício e sobreutilização de energia
que o PIB crescia, o nível de degradação e 2/3 estão ligados à sobreexploração e uso
ambiental crescia antes de voltar a decrescer. pouco produtivo dos materiais extraídos.
E, uma vez mais, apesar das ressalvas à trans- De facto, 67% das emissões de gases com
versalidade do modelo, a mensagem prin- efeito de estufa estão relacionadas com a
cipal ficou: fica sempre pior antes de ficar produção de materiais básicosvi. E desde
melhor. O que é preciso garantir é que o 2000 a produtividade material da economia
PIB continue a crescer. global tem decrescido – precisamos de cada
Hoje, a realidade já ultrapassou esta as- vez mais recursos para gerar um euro de
sunção. Na véspera do acordo das Nações retornovii.
Unidas para os Objetivos de Desenvolvi- Em 2050 cada cidadão irá exigir 70% mais
mento Sustentável, era publicada uma lista recursos, anualmente, do que no início do
séculoviii e a procura energética será o dobro
da atual. A transição renovável irá exigir dez
vezes mais capacidade instalada. Mais pro-
cura, mais produção, mais materiais.
A escassez de recursos poderá até não ser
o principal constrangimento, mas certa-
mente o mesmo não se poderá dizer dos
impactes ambientais derivados da extração,
consumo intensivo e uso ineficaz desses
mesmos recursos.
2. O QUÊ
1 https://guymcpherson.com/2009/05/time-for-a-revolution
nos favorece. Perante um sistema tão com- sua utilidade e valor económico máximos É difícil equilibrar durabilidade, a posse, o
plexo e dinâmico, o conceito de “desenvol- pelo maior tempo possível (Figura 2). Isso “querer novo” e a manutenção ou a regene-
vimento sustentável” assente no cruzar dos implica, por exemplo, considerar a desma- ração de recursos. Para garantir um win-win
pilares económico, ambiente e social não terialização, o uso partilhado, a reutilização, para produtor e consumidor, há que ter uma
faz sentido. a remanufatura, o uso em cascata de ma- visão sistémica sobre os elementos das ca-
A sociedade e a economia estão imersas no teriais, ou a reciclagem, desde a conceção deias de valor e garantir a sua coordenação,
sistema natural e dele dependem para ma- de produtos, processos e modelos de ne- permitindo a extração de valor em vários
teriais, energia e serviços que possam su- gócio. Deste modo, evita-se a extração de pontos e em vários ciclos. E as ferramentas
portar a sua atividade. Se queremos garantir novos recursos, a produção de resíduos e e estratégias já existem (Figura 3): o design,
prosperidade, o valor desse capital natural reduzem-se as emissões, em ciclos ener- assente numa visão sistémica do produto,
tem de ser integrado como sucesso eco- gizados por fontes de energia renovável. que prepara a reparação, a atualização ou a
nómico. Caso contrário, seremos sempre É importante reforçar que a reciclagem é remanufatura; as tecnologias e novos mo-
ineficientes na sua gestão e menos reativos um dos ciclos neste modelo, sendo mesmo delos de negócio, como o fabrico aditivo, a
a sinais de degradação, sejam eles de cariz considerado o último ciclo porque não pre- servitização, a economia colaborativa, o pla-
social, económico ou ambiental. serva o valor da energia e do trabalho em- neamento e a monitorização inteligente, as-
É preciso tomar decisões que permitam de- bebido no produto, recuperando apenas sente no blockchain, na sensorização, digi-
senhar um modelo económico mais sus- parte do valor do material de origemx. E o talização e na análise de big data; os ciclos
tentável. E existe inspiração: a ciência da desperdício pode também ser estrutural (p.e. reversos, com redes de logística inteligente,
ecologia industrial vê os ecossistemas como o carro parado 92% do tempo, o edifício ou os passaportes de materiais, que permitem
o melhor exemplo de sustentabilidade, ba- ocupado 8 horas/dia, a mala de viagem recuperar e rapidamente os reintegrar em
seado num conjunto de princípios de fun- usada uma vez). vários pontos do sistema económico.
cionamento que incluem a cascata de energia
e o fecho de ciclos materiais através de re- Figura 3 Estratégias de produção numa economia circular Fonte: Baseado em PBL (2017)
lacionamentos entre organismosix. Neste Recusar Tornar o produto redundante, abandonando a sua função ou oferecendo a
contexto, waste equals food, ou seja, não (p.e. digitalizar) mesma função com um produto radicalmente diferente
Produção
existem resíduos mas sim materiais que che- Tornar o uso do produto mais intensivo (p.e. através da partilha, ou produtos
e utilização Repensar
multifuncionais)
gados ao fim da sua função são totalmente inteligente
Aumentar a eficiência na produção ou utilização, consumindo menos recursos
Reduzir
integrados num outro processo, com todo e materiais naturais
Reutilização por outro consumidor ou utilizador do produto descantado que
o sistema a ser suportado por energias re- Reutilizar
ainda está em boas condições e pode cumprir a sua função original
nováveis. Prolongar Reparação e manutenção de produto com defeito de modo a poder ser utilizado
Reparar
A economia circular tem na ecologia indus- a vida útil na sua função original
de produtos Recondicionar Restaurar um produto antigo e atualizá-lo
trial o seu principal constructo científico. Ao e dos seus Utilizar partes/componentes do produto descartado num novo produto com a
invés de um modelo linear que extrai, produz, componentes Remanufaturar
mesma função
consome, acumula e deita fora, num mo- Utilizar o produto descartado (ou partes/componentes de) num novo produto,
Realocar
com diferente função
delo circular há uma gestão mais eficaz de
Processar materiais para obter o mesmo material com a mesma qualidade ou
Aplicações úteis Reciclar
recursos e de energia entre os agentes eco- inferior
de materiais
nómicos, em que os materiais mantêm a Valorizar Recuperação de energia de materiais
3. O COMO
produtividade material, integrando princípios pacto interno relevante (p.e. turismo, com- O PAEC não pode, por isso, ser encarado
de circularidade, de neutralidade carbónica pras públicas) e com projeção externa (p.e. como um plano determinístico. Precisa de
e de valorização do território, deve ser in- têxtil, calçado). No segundo caso, destacou- flexibilidade para acomodar a evolução do
centivada. -se a importância das especificidades so- tema, quer a nível nacional, como interna-
São hoje estes os vértices subjacentes às cioeconómicas e naturais de cada região cional. Porque não falamos de um setor mas
políticas em matéria de ambiente. É nessa na promoção de uma economia circular, sim da transformação de um paradigma de
medida que surge o Plano de Ação para a sobretudo em três temas-âncora: simbioses desenvolvimento. Logo, é algo que não pode
Economia Circular em Portugal (PAEC), o industriais, cidades e empresas “bandeira”. determinar-se por decreto, mas que tem de
resultado de um ano de trabalho intermi- As metas para as quais o PAEC concorre já ser trabalhado por todos e com todos os
nisterial entre o Ministério da Ciência, Tec- existem: falamos da redução de emissões agentes económicos.
nologia e Ensino Superior, o Ministério da de gases com efeito de estufa e de produção
Economia, o Ministério do Ambiente e o de resíduos, ou da produtividade material
Ministério da Agricultura, Florestas e Desen- da economia. Mas existem domínios que
volvimento Rural, tendo sido aprovado em ainda não estão contemplados, como a pre-
Conselho de Ministros em 2017 (Resolução venção ou a reutilização, e, para isso, a Co-
do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017). missão Europeia encontra-se a trabalhar na
O PAEC é construído sobre os quatro pilares melhoria deste sistema de indicadores.
do Plano de Ação Europeu para uma Eco- Os impactos previstos para 2030 na União
nomia Circular, tendo sido acopladas sete Europeia de medidas de Economia Circular
ações nacionais cujo foco vai desde o de- na mobilidade, ambiente construído e sis-
sign e a reutilização, passando pelo desper- tema agroalimentar, apontam para aumentos
dício alimentar, à investigação e inovação. de 11% do PIB, com 1,8 biliões de euros em
Cada ação contém orientações focadas em poupançasxi e uma redução de 50% das
instrumentos de política pública (p.e. fisca- emissões relativamente a 2015. No emprego
lidade verde, acordos voluntários), mas poderiam ser criados, em média, mais dois
também instrumentos de investimento (p.e. milhões de postos de trabalho.
Fundo Ambiental, Fundo para a Inovação, A Comissão assumiu, assim, o compromisso Referências Bibliográficas
Tecnologia e Economia Circular, Portugal de uma economia circular de baixo carbono i Steffen, W., et al. 2015. The trajectory of the
2020). até 2030, patente na recente comunicação Anthropocene: the great acceleration. The
Anthropocene Review, 2(1), 81-98
Mas esta transição não se pode resumir a do Estado da União de 2017 sobre uma In-
ii Meadows, D. H., Meadows, D. L., Randers, J.,
uma abordagem top-down; é necessário dústria Inteligente, Inovadora e Sustentável.
& Behrens, W. W. (1972). The limits to growth.
motivar a emergência de iniciativas bottom- E essa ambição terá reflexo no próximo ciclo
New York, 102, 27
-up. Assim, o PAEC introduziu um foco se- de investimento, como demonstra a criação
iii Harlem, B. G. 1987. Our common future. United
torial e regional no plano. No primeiro caso, da Plataforma de Financiamento à Economia Nations World Commission on Environment
foram destacados os setores de atividade Circular e Bioeconomia do Banco Europeu and Development
particularmente intensivos em materiais (p.e. de Investimento ou o mais recente Plano iv
WEF – World Economic Forum. 2018. The
construção, bens de consumo), com im- de Finanças Sustentáveisxii. Global Risks Report 2018
v Trucost. 2013. Natural capital at risk: the top
100 externalities of business.
vi Ecofys, Circle Economy. 2016. Implementing
Circular Economy globally makes Paris Targets
Achievable.
vii Potonick, J. 2017. Global use of natural re-
sources: in crisis or not? Apresentação no World
Circular Economy Forum, Helsinquia
viii UNEP. 2017. Resource Efficiency: Potential and
Economic Implications. A report of the Inter-
national Resource Panel
ix Ehrenfeld, J. R. 2000. Industrial ecology: para-
digm shift or normal science? American Beha-
vioral Scientist, 44(2), 229-244
x
Webster, K. 2017. The circular economy: A
wealth of flows. Ellen MacArthur Foundation
Publishing
xi EMF. 2017. Achieving Growth Within. Ellen Ma-
cArthur Foundation Publishing
xii Comissão Europeia. 2018. Action Plan: Finan-
cing Sustainable Growth. COM (2018) 97 final
Figura 4 Ações macro, meso e micro. Fonte: Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal
Esta gama de produtos contém gases fluorados com efeito de estufa. Os dados específicos dos
produtos relacionados com o regulamento europeu F-gás 517/2014, podem ser consultados na
nossa página web. bosch-industrial.com
bosch-industrial.com
Tema de Capa ECONOMIA CIRCULAR
A economia circular
no setor dos resíduos
Enquadramento políticas de eficiência no uso dos recursos,
que são finitos. A economia global está a
O tema da economia circular, a par da di- usar cerca de 1,5 planetas de recursos para
gitalização, tem sido considerado um dos satisfazer as atuais exigências de produção
mais debatidos nos últimos anos e prevê-se e consumo, sendo a este ritmo de cresci-
Luísa Magalhães que seja o tema das próximas gerações. O mento da população necessários quase 3
Diretora Executiva ano de 2015 foi marcado pela apresentação planetas de recursos em 2050. A indústria
da Associação Smart Waste Portugal de estratégias relevantes, em termos inter- europeia, ainda muito dependente do abas-
nacionais, que pretendem mudar o para- tecimento de matérias-primas provenientes
digma da atual sociedade de consumo li- de mercados exteriores, tem apenas 9% da
near, que se caracteriza por “extrair, trans- capacidade interna para as 54 matérias-
formar, consumir e descartar”, promovendo -primas essenciais, com tendências a longo
a transição para uma sociedade assente nos prazo de inflação e volatilidade de preços.
conceitos da economia circular. Adicionalmente, o consumo excessivo de
Desta forma, para cumprir o Acordo de Paris, matérias-primas é também acompanhado
atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento por uma grande produção de resíduos, sendo
Sustentável das Nações Unidas e acompa- a nível mundial gerado um volume de 11 mil
nhar e desenvolver as estratégias e iniciativas milhões de toneladas de resíduos por ano,
patentes no Plano de Ação para a Economia dos quais apenas 25% são recuperados e
Circular da União Europeia, é fundamental encaminhados para o sistema produtivo,
que haja uma redução no consumo de ma- havendo ainda uma grande quantidade de
térias-primas e na produção de resíduos, resíduos que não é recuperada e que tem
adotando-se assim medidas que promovam como destino o aterro.
uma maior circularidade na economia. Para além da necessidade de cumprir as
Num momento em que a população mun- metas europeias, os argumentos anterior-
dial cresce a um ritmo acelerado, prevendo- mente enumerados são por si só suficientes
-se que em 2050 se atingirá 10 mil milhões para que seja necessária uma mudança ur-
de habitantes, é urgente que haja uma mu- gente para um modelo económico mais
dança de paradigma e que se promovam circular. Desta forma, devem ser promovidos
círculos fechados de reutilização dos ma- cular é elevada. Segundo o estudo, no ano sociados, a dinamização de cinco grupos
teriais, desenvolvidos produtos com uma de 2013, o setor dos resíduos registou uma de trabalho sobre os seguintes temas: Com-
maior duração e resistência ao reprocessa- intensidade das despesas em I&D de 0,7%, bustíveis Derivados de Resíduos; Recolha
mento, promover o uso em cascata dos sendo necessário o reforço desta posição. de Resíduos; Compostos dos Resíduos Ur-
materiais por várias indústrias, pensar no Decorre, ainda, do estudo, que os setores banos; Resíduos de Construção e Demo-
eco-design dos produtos, terminando-se de fabricação de máquinas, equipamentos lição; e Desperdício Alimentar. Outras áreas,
com o conceito de “fim de vida”. Os resí- e material de transporte, da construção, das como os plásticos, o têxtil e os bio-resíduos,
duos devem ser considerados como sendo indústrias metalúrgicas de base e produtos são também prioritárias para serem traba-
matérias-primas, preservando-se o capital metálicos e do comércio e serviços, são lhadas em conjunto pela Associação.
natural e extraindo menos recursos. considerados como os de maior oportuni- A Smart Waste Portugal tem promovido a
dade de circularidade. Seguem-se outros produção e divulgação de conhecimento,
O peso e a relevância do setor como o setor das indústrias extrativas, o das a cooperação, o fomento do I&D e a trans-
dos resíduos em Portugal indústrias alimentares, bebidas e tabaco, o ferência do conhecimento (integra candi-
dos minerais não metálicos, o das indústrias datura para Laboratório Colaborativo de
A Associação Smart Waste Portugal pro- da moda (têxtil, vestuário e calçado) e o das Economia Circular), dando dimensão e força
moveu o desenvolvimento de um estudo indústrias químicas, farmacêuticas, da bor- ao setor dos resíduos, destacando-se, em
pioneiro sobre a “Relevância e o impacto racha e dos plásticos. seguida, duas iniciativas:
do setor dos resíduos na perspetiva de uma Portugal está na linha da frente na transição › Estudo sobre “Caracterização da produção
economia circular”, elaborado pela consul- para a economia circular, tendo apresen- da fração resto em Portugal e avaliação
tora Augusto Mateus & Associados. O es- tado o “Plano de Ação para a Economia potencial de valorização”: analisou a si-
tudo visa aprofundar o conhecimento sobre Circular em Portugal: 2017-2020”, que cons- tuação atual e identificou novas opções
o setor dos resíduos em Portugal, a sua di- titui o primeiro documento de estratégia de valorização para este tipo de resíduos
mensão e o impacto económico, consti- pública a procurar garantir que os princípios em Portugal, contribuindo para o desvio
tuindo-se como um documento estratégico de economia circular, assumidos como ba- de aterro da fração resto dos resíduos
e uma base de suporte à Associação e aos silares na política europeia, sejam aplicados. urbanos (cerca de 1,6 milhões de tone-
seus associados, que ajude a definir a sua Este Plano de Ação, à semelhança do eu- ladas). Este documento foi entregue ao
atuação no sentido de uma maior circula- ropeu, identifica áreas prioritárias de atuação, Secretário de Estado do Ambiente como
ridade da economia portuguesa. que vão também ao encontro das indicadas contributo para a revisão do PERSU 2020,
De acordo com o estudo, a economia na- pelo estudo promovido pela Associação que está a decorrer neste momento;
cional gerou, em 2016, 14,8 milhões de to- Smart Waste Portugal. › Projeto “Construção Circular”: tem como
neladas de resíduos (33% resíduos urbanos objetivo a sensibilização para a proble-
e 67% resíduos setoriais). Foram valorizados Algumas iniciativas mática dos Resíduos de Construção e
71% e 29% foram depositados em aterro. Na da Smart Waste Portugal Demolição em Portugal e a sua incorpo-
perspetiva da economia circular, este ele- ração na cadeia de valor, através de ações
vado volume de resíduos não valorizados de sensibilização para empresas no setor
constitui não só um enorme desperdício e da construção e gestão de resíduos, téc-
um problema ambiental, mas por outro lado nicos das autarquias e arquitetos e enge-
também uma oportunidade económica per- nheiros em formação, apoiando a sua
dida e de criação de valor. interação, de forma a promover uma or-
De destacar que é nos resíduos setoriais, A Associação Smart Waste Portugal, criada ganização da cadeia de valor mais sus-
em que já existem fileiras organizadas a fun- em 2015, tem como missão potenciar o re- tentável, em linha com os princípios da
cionar, que as atividades de valorização têm síduo como recurso, atuando em toda a ca- economia circular.
vindo a crescer, chegando a próximo dos deia de valor, promovendo a investigação,
82% em 2016, tendo um posicionamento a inovação, o desenvolvimento e a imple- Apesar de o tema da economia circular estar
positivo no âmbito europeu, considerando mentação de soluções, potenciando e in- na ordem do dia, de o Plano de Ação do
assim relevante a criação de novas fileiras centivando a cooperação. A Associação Governo estar em cima da mesa, de o Fundo
de resíduos. conta neste momento com cerca de 90 as- Ambiental estar a apoiar muitas iniciativas,
O setor da gestão dos resíduos em Portugal, sociados, sendo 35% representantes do setor ainda falta uma visão holística e sistémica
que inclui a recolha, valorização, tratamento da gestão de resíduos, 16% da indústria e em torno da economia circular. A capaci-
e eliminação, cresceu significativamente nos distribuição, 17% universidades e centros de tação, o financiamento, a inovação e o apro-
últimos anos. E, em 2016, era composto por investigação, 15% empresas de consultadoria fundamento de uma estratégia coletiva, são
2.542 entidades, empregava 24.919 traba- e de serviços, 11% associações, entre outros. áreas fundamentais para que o setor da
lhadores, faturou quase 2,5 mil milhões de Esta rede pode ser uma mais-valia na tran- gestão de resíduos e a indústria nacionais
euros e teve um VAB de cerca de 717 mi- sição para a economia circular, promovendo estejam preparados e acompanhem esta
lhões de euros. o diálogo, as sinergias e a inovação, sempre transição. A Associação Smart Waste Por-
A importância da I&D e da inovação no fecho na perspetiva de criação de valor. tugal está preparada para ter um papel re-
dos ciclos dos materiais e na economia cir- A Associação está a promover, com os as- levante neste processo.
Oportunidades
para a Economia Circular
nos serviços de águas
P
orquê a economia circular nos ser- aos desafios das alterações climáticas e do
viços de águas? crescimento demográfico. Contudo, essa
Uma das principais mensagens do evolução tem sido condicionada por uma
Fórum Mundial da Água, realizado há um regulamentação por vezes bloqueante e por
mês em Brasília, é a necessidade de prio- condições de mercado pouco claras e, con-
Jaime Melo Baptista rizar a economia circular no ciclo urbano sequentemente, pouco incentivadoras.
Investigador-Coordenador do LNEC – da água, aproveitando em simultâneo água,
– Laboratório Nacional de Engenharia Civil
materiais e energia. Efetivamente, o modelo Quais os fatores impulsores da economia
Coordenador do LIS-Water –
– Lisbon International Centre for Water tradicional de “extrair, transformar, consumir circular?
Presidente do Conselho Estratégico da PPA – e rejeitar” é crescentemente considerado Há que encontrar novos caminhos e pro-
– Parceria Portuguesa para a Água incompatível com o desenvolvimento sus- cedimentos para promover a economia cir-
tentado. Por razões ambientais, sociais e cular na água, nos materiais e na energia,
também económicas, há que assegurar o que são indissociáveis. Há que identificar
crescimento e o desenvolvimento sem pro- incentivos regulatórios e de mercado que
vocar o esgotamento e a degradação de contribuam para aumentar e acelerar esses
recursos finitos, como a água. novos caminhos e procedimentos.
Os serviços de águas – abastecimento de Os comportamentos e as solicitações dos
água e gestão de águas residuais e de águas consumidores serão agentes crescente-
pluviais – podem e devem ser motores da mente conscientes e ativos na promoção
economia circular. Estes serviços têm vindo da economia circular na água, passando,
já a adotar tecnologias e práticas no sentido por exemplo, a gerir melhor a água e a
da economia circular, face à regulamen- energia em suas casas. A indústria tenderá
tação mais exigente e à inovação científica a ser consumidora da água, dos materiais,
e tecnológica e também para responderem anteriormente designados resíduos, e da
energia que resultam da indústria da água, mento de materiais nas estações de trata- produção de calor com instalação de per-
com exigências específicas de quantidade mento de águas residuais e de água potável. mutadores de calor nos coletores de águas
e de qualidade. A atual forma de conceber É desejável a utilização de água usadas e usadas, que “transporta” as perdas de energia
as infraestruturas de águas, que presente- das lamas para agricultura, quer como fer- nas habitações. É viável a produção de
mente não incentiva a economia circular, tilizante (azoto e fósforo), quer como con- energia, produzindo gás, eletricidade e calor,
vai evoluir para permitir o uso eficiente e a dicionador do solo (matéria orgânica), após a partir de lamas tratadas de águas usadas
recuperação de materiais e reduzir o con- tratamento adequado. É possível o uso de por pirólise, produzindo gás e escórias, com-
sumo de energia e desperdício. A regula- nutrientes das águas usadas como fertili- bustão, produzindo eletricidade e cinzas,
mentação ambiental e não ambiental tem zante não agrícola, por exemplo, para par- geração de biogás, produzindo gás e lamas,
que evoluir para incentivar a economia cir- ques e golfes. É viável o uso de lamas de e gaseificação, produzindo gás. É ainda pos-
cular. A economia a níveis urbana e de bacia águas usadas para construção de bases de sível o uso de aerogeradores, painéis solares
hidrográfica vai incentivar a procura e a estradas e campos de golfe e para fabrico e geotermia para produção de energia verde,
oferta a estas escalas. A inovação nesta área de betão e tijolos, misturados com outros em alternativa ou complemento à de origem
vai naturalmente aumentar, pois tem um materiais. Pode ainda haver a adição de re- fóssil, reduzindo custos e aumentando a
papel essencial na evolução para a eco- síduos orgânicos às lamas de água usadas, segurança face à flutuação dos preços da
nomia circular. na digestão anaeróbia, por exemplo, resí- energia da rede.
duos de produção de alimentos e bebidas,
Que formas assume a economia circular de restaurantes e supermercados, gorduras Em conclusão
em termos de água? e a fração orgânica domiciliar. É possível a O atual sistema centralizado e linearizado
É possível investir em medidas de conser- produção de plástico biodegradável, similar dos serviços de abastecimento de água e
vação a montante e controlo de poluição, ao polipropileno, a partir de bactérias das de gestão de águas residuais implica ele-
que reduzem custos operacionais de trata- águas usadas e de algas produzidas com vados custos de investimento, nomeada-
mento, e em infraestruturas naturais (verdes), água usadas. Tem sido estudado o aprovei- mente de transporte, utiliza intensamente
que reduzem custos de investimento e per- tamento de celulose das águas usadas mu- os recursos hídricos, pois a água é utilizada
mitem tratamento, controlo de temperatura, nicipais para a indústria de papel, o fabrico uma só vez, consome muita energia no
minimização de sedimentos, retenção plu- de asfaltos e de tubagens e para secagem transporte e no tratamento, tem dificuldade
vial, redução de cheias, captura de carbono de lamas. É possível a extração de proteínas em ser implementado faseadamente, origi-
e produção alimentar. É desejável a reci- de águas usadas para alimentação de gado. nando capacidade ociosa e está habitual-
clagem de águas residuais cinzentas para a Tem sido equacionada a extração de metais mente desintegrado no desenho urbano.
agricultura e aquacultura e para água não e minerais valiosos das águas usadas, por Mas atualmente existe tecnologia para tratar
potável a nível domiciliar ou de pequenas exemplo, da galvanização e anodização, a água de origens alternativas, salgadas, sa-
comunidades, para reduzir a procura de para laboratórios e indústria química, e lobras ou de menor qualidade, multiplicando
água, embora exija tratamento e tenha custos mesmo a extração de produtos das águas origens de água mais próximas dos centros
adicionais. É possível a reutilização de águas usadas para a indústria farmacêutica, hos- urbanos e reduzindo custos de transporte
residuais negras para a agricultura e aqua- pitalar e de suplementos alimentares. É ainda e distribuição; existe tecnologia para reuti-
cultura, para reduzir a procura de água e possível a reutilização de gases das águas lizar águas residuais em ciclos sucessivos,
aproveitar nutrientes, embora também im- usadas, como azoto amoniacal, enxofre, em locais relativamente próximos da utili-
plique custos adicionais de tratamento e metano e dióxido de carbono. zação; e sabemos produzir energia a partir
principalmente de transporte para os ter- das águas residuais, transformando os ser-
renos agrícolas. É possível a reutilização de Que formas assume a economia circular viços de águas de grandes consumidores
água para a indústria, para reduzir a procura em termos de energia? em produtores de energia. É, pois, viável
de água, podendo ser utilizada em processos É indispensável a redução do consumo de uma mudança de paradigma! E não é por
de arrefecimento, aquecimento, lavagem e energia por otimização da operação das acaso que o recentemente criado LIS-Water
mistura, desejavelmente com utilização se- estações de tratamento, por exemplo, no – Lisbon International Centre for Water tem
quencial em cascata, aproveitando as águas arejamento e nos tanques de digestão, e a economia circular como um dos princi-
função da sua qualidade. É até possível em das redes de distribuição. É desejável a con- pais eixos de atividade.
algumas situações a recolha da água da servação de energia e sua recuperação na Os futuros sistemas tendencialmente semi-
chuva a nível domiciliar ou de pequenas habitação, com utilização de equipamentos -centralizados de serviços de águas permi-
comunidades, reduzindo a procura de água, mais eficientes, como máquinas de lavar, e tirão igualmente um serviço de qualidade,
as cheias, a erosão do solo e a contami- de permutadores de calor para chuveiros, mas utilizarão menos recursos hídricos do
nação das águas superficiais com fertilizantes pois o aquecimento de água é o maior con- que atualmente, utilizarão menos energia e
e pesticidas. sumidor de energia na habitação. É por vezes permitirão a recuperação de materiais, como
viável a produção de eletricidade a partir de nutrientes. Estes sistemas podem ser imple-
Que formas assume a economia circular sistemas de distribuição, com utilização de mentados faseadamente, de acordo com
em termos de materiais? microturbinas para produção de energia em as necessidades, e valorizar o espaço urbano
É essencial aumentar a eficiência, quer na sistemas de adução e de distribuição com na forma de lagos artificiais de armazena-
utilização de recursos, quer no aproveita- excesso de pressão. É também possível a mento, autopurificação e lazer.
Contributo do PO SEUR
para a Economia Circular
O
PO SEUR – Programa Operacional energética, nas vertentes da eficiência e do
Sustentabilidade e Eficiência no crescimento da produção de energias re-
Uso de Recursos foi criado através nováveis, visando o cumprimento das po-
da Decisão de Execução da Comissão Eu- líticas públicas do setor.
ropeia de 16 de dezembro de 2014 e é um Assim sendo, a estratégia para o PO SEUR
Helena Pinheiro de Azevedo dos 16 Programas criados para a operacio- alude a uma perspetiva multidimensional da
Presidente da Comissão Executiva nalização da Estratégia Portugal 2020, pre- sustentabilidade assente em três pilares es-
do PO SEUR – Programa Operacional
Sustentabilidade e Eficiência
tendendo contribuir para o Crescimento tratégicos que estão na origem dos três
no Uso de Recursos Sustentável e para responder aos desafios Eixos de Investimento do Programa:
de transição para uma economia de baixo › Eixo 1 – Apoiar a transição para uma eco-
carbono, assente numa utilização mais efi- nomia com baixas emissões de carbono
ciente de recursos e na promoção de uma em todos os setores;
maior resiliência face aos riscos potenciados › Eixo 2 – Promover a adaptação às alte-
pelas alterações climáticas. rações climáticas e a prevenção e gestão
Os objetivos a alcançar no domínio da Sus- de riscos;
tentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos › Eixo 3 – Proteger o ambiente e promover
visam a antecipação e a adaptação europeia a eficiência dos recursos.
às grandes mudanças globais, no âmbito da
energia, das alterações climáticas e do uso O Programa tem até na sua designação, e
mais eficiente dos recursos numa perspe- na sua génese/missão, a referência ao con-
tiva dinâmica, que relaciona competitividade tributo para a promoção da eficiência no
e sustentabilidade. Portugal está profunda- uso de recursos, através de diversas áreas
mente empenhado na transformação es- de intervenção que têm uma relevância sig-
trutural do seu modelo de desenvolvimento, nificativa para a economia circular e para a
procurando desta forma criar condições economia verde.
para uma maior coesão e convergência no Como tal, o PO SEUR contribui para cata-
contexto europeu. lisar as atividades da economia circular, de
O PO SEUR assume-se como tributário de forma direta, através do apoio aos projetos
parte da Agenda Valorização do Território, que visam a produção de energia através
prosseguida no período 2007-2013 e a qual de fontes renováveis e a redução do con-
foi em parte financiada pelos Fundos Estru- sumo de fontes de energia primárias (tone-
turais e de Coesão, ganhando uma maior ladas equivalentes de petróleo), o que é
abrangência com a integração da dimensão suscetível de reduzir a extração de recursos
A
adoção de estratégias de economia Seguindo orientações definidas por políticas -primas primárias, gestão de resíduos, con-
circular a nível global, europeu e europeias e iniciativas legislativas, as orga- versão de resíduos em recursos – matérias-
nacional [por exemplo: “Os 17 Ob- nizações começam a talhar o seu caminho -primas secundárias, consumidores, ino-
jetivos de Desenvolvimento Sustentável de convergência para este princípio, mas vação e investimento, tentando abranger
(ODS)”, o Acordo de Paris para as Alterações existem também outras ferramentas que ao máximo as etapas sobre influência da
Climáticas, “Fechar o ciclo – Plano de ação podem ajudar a estimular e acelerar este organização (direta ou indireta).
da UE para a economia circular”, Plano Na- processo e a fazê-lo de maneira a afetar o A ISO (International Organization for Stan-
cional para a Economia Circular (PNEC) e a menos possível os objetivos definidos para dardization) tem desenvolvido várias normas
alteração do Código dos Contratos Públicos a cadeia de valor. para assimilação da sustentabilidade e o
(CCP) em Portugal] traz consigo a necessi- Entre estas ferramentas podemos encontrar desenvolvimento sustentável na gestão es-
dade de adaptação das políticas centrais e normas desenvolvidas como auxiliares de tratégica das organizações, tendo inclusive
também das políticas setoriais e empresa- gestão das organizações que permitem a criado orientações para a integração destes
riais. Novos objetivos e a necessidade de assimilação dos princípios da sustentabili- princípios nas próprias normas e no seu de-
tomada de ações de âmbito comum im- dade e da economia circular nas suas polí- senvolvimento (ISO Guide 82:2014 – Gui-
plicam uma mudança não só de mentalidade ticas, procedimentos, metodologias e na delines for addressing sustainability in stan-
dards).
Entre as várias existentes, a que as organi-
zações podem recorrer, podemos encontrar:
› ISO 20400:2017 – Sustainable procure-
ment – Guidance;
› ISO 20121:2012 – Event sustainability ma-
nagement systems – Requirements with
guidance for use;
› ISO 14001:2015 – Environmental mana-
gement systems – Requirements with
guidance for use;
› ISO 50001:2011 – Energy management
systems – Requirements with guidance
for use;
› ISO 14006:2011 – Environmental mana-
gement systems – Guidelines for incor-
porating eco-design.
Oportunidades na transição
para a economia circular
surgir com a transição das empresas para colmatar a falha no cumprimento de metas
um modelo de economia circular. A circu- de redução de emissões de GEE. A adoção
laridade da economia abre várias oportuni- de estratégias para as empresas entrarem
dades no desenvolvimento de estratégias, na economia circular exigirá maior respon-
produtos, processos e modelos de negócio, sabilização nas suas atividades e a integração
mas levanta também preocupações ao nível equilibrada do desempenho económico,
António Albuquerque
da sua implementação junto de empresas, inclusão social e resiliência ambiental.
Presidente do Conselho Nacional
do Colégio de Engenharia do Ambiente em especial das PME, devido às dificuldades Um dos grandes desafios do modelo de
da Ordem dos Engenheiros de financiamento e à necessidade de res- economia circular será o de agregar os vá-
truturação da política fiscal e clarificação do rios intervenientes das cadeias de valor em
enquadramento legal. torno das oportunidades para o uso eficiente
O modelo de economia circular pretende e produtivo de recursos. Será necessário
A
manter-se o atual ritmo de consumo atender as necessidades de desenvolvimento reestruturar os processos produtivos nas
de recursos naturais e de produção da sociedade com minimização do impacte empresas, com inclusão de tecnologia ino-
de resíduos líquidos e sólidos e de ambiental das atividades económicas, no- vadora, criar mecanismos colaborativos entre
gases com efeito de estufa (GEE), em 2050, meadamente na redução da extração de os centros de investigação, as empresas e
para uma população esperada de 9,8 mil matérias-primas e de emissões de GEE, os consumidores, em suma, criar uma men-
milhões de pessoas, conservando-se o atual efluentes líquidos e resíduos sólidos para o talidade de abordagem sistémica para a re-
modelo económico, seria necessário dispor ambiente, incentivando a criação de cadeias dução, reciclagem e reutilização de resíduos.
de uma área três vezes superior à atual para de valor a partir da reutilização e reciclagem Portugal deu já alguns passos positivos para
a extração de recursos e descarga de resí- de resíduos e da utilização de energia de a circularidade da economia ao aprovar o
duos. O modelo económico atual, de for- fontes renováveis. Esta nova abordagem Plano de Ação para a Economia Circular em
mato linear, baseado na extração de maté- levará à substituição do “fim da vida” tradi- Portugal: 2017-2020, primeiro documento
rias-primas, produção de bens, seu consumo cionalmente associado a processos, pro- de estratégia pública que pretende orientar
e geração de resíduos, levará a um consumo dutos e subprodutos do modelo económico a sociedade portuguesa para a mudança de
crescente de matérias-primas que originará atual, por novos ciclos de vida onde é mi- paradigma entre os dois modelos econó-
um aumento da produção de resíduos e nimizada a entrada de novos recursos na- micos. Em 2017, foi criado o Fundo Am-
uma fraca redução de GEE. turais e energia e a saída de resíduos. biental, que prevê, para 2018, um investi-
Na maioria dos países desenvolvidos, apesar Nas últimas duas décadas, muitas empresas mento de dois milhões de euros em projetos
de terem sido aprovados vários planos e incluíram a sustentabilidade na sua agenda para a transição para o modelo de economia
estratégias para a redução, reciclagem e estratégica, investindo em inovação, mas circular. Apesar de o investimento ter ficado
reutilização de resíduos líquidos e sólidos e com objetivo essencialmente económico, aquém do esperado, este fundo permitiu
a minimização de GEE, as metas propostas não considerando satisfatoriamente as di- aprovar já projetos que contribuirão para
raramente foram atingidas e acabaram por mensões social e ambiental. Em muitos reduzir a extração de matérias-primas, o
ser incorporadas nos planos subsequentes. casos, a resolução de problemas ambientais consumo de água, a produção de resíduos
Por exemplo, na União Europeia, apenas foi realizada, por exemplo, à custa da sub- e a emissão de GEE, aumentar a eficiência
cerca de 40% dos resíduos sólidos urbanos contratação de outras empresas, para a energética e hídrica, e utilizar energias re-
são reciclados, e em Portugal pouco mais transferência de atividades mais poluentes nováveis e de recursos regenerativos nas
de 24%, valores que ficam aquém das metas para regiões ou países menos desenvolvidos, cadeias de valor envolvidas. É esperado que
definidas para 2020. ou da aquisição de créditos de carbono para as empresas criem soluções de produção
A mudança de paradigma no consumo de inovadoras e que o setor privado fique sen-
recursos naturais, produção de resí- sibilizado para o coinvestimento em
duos, consumo de energia e soluções circulares em fases
emissão de GEE vai subsequentes.
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PUB. (02/2018)
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Tema de Capa › Entrevista Carlos Martins
Carlos Martins
gestoras de Distribuição e Drenagem
de Água, entre 2003 e 2009, e à European
Union Nacional Association of Water Suppliers
Secretário de Estado do Ambiente and Waste Water Services, entre 2005 e 2006,
em Bruxelas.
Por Nuno Miguel Tomás que, cada vez mais, são difundidos, muitos de acesso àquilo que para nós, hoje, são
Fotos Paulo Neto deles com matérias-primas que são escassas ferramentas de trabalho indispensáveis nas
em termos mundiais. Um simples telemóvel tecnologias de informação. Mas também
O
conceito de economia circular incorpora quase 70 produtos raros e o seu noutras áreas da Engenharia, nomeadamente
começa a entrar no léxico do Es- consumo cresce vertiginosamente no Mundo. naquela à qual tenho maior proximidade,
tado, das organizações, na vida A população mundial em 2050 será de 9,5 os materiais de construção e as obras, em
das pessoas. Enquanto Secretário de Estado mil milhões e basta que 1/3 dessa população que, mantendo-as tal como as fazíamos
do Ambiente, que importância atribui a tenha um telemóvel e que os ciclos conti- tradicionalmente, são as que incorporam
esta problemática? nuem, praticamente, de dois em dois anos, matérias virgens, em termos de quantidade,
Nós estamos, em termos de política global, com a renovação deste parque e com taxas de uma forma que menos está relacionada
e falo pelo Planeta, perante a eminência de de reciclagem como a que temos hoje, que com criação de riqueza, ou seja, incorpo-
uma situação incomportável. As matérias- é inferior a 2% dos que são colocados no ramos uma quantidade imensa de materiais
-primas virgens não alimentarão, segura- mercado, para avaliar o quanto estamos a virgens para tirar pouco valor acrescentado
mente, aquilo que é a procura de produtos pôr em risco as gerações futuras em termos para a Sociedade.
Temos, portanto, a necessidade/obrigato- A economia circular É um trabalho com que nós, sobretudo a
riedade de caminharmos para um modelo nunca nos abandonou. próxima geração, vamos estar muito con-
de desenvolvimento assente na economia Há alguns setores, frontados e que passa por encontrar me-
circular. Quais os benefícios que daí advêm? algumas culturas, alguns canismos que levem ao consumo crescente
A nível global, a situação não pode conti- ambientes empresariais em que desses subprodutos ou dessas novas ma-
nuar como nos últimos séculos, diria depois térias-primas emergentes. Nas nossas uni-
as práticas de incorporar
da revolução industrial, em que abando- versidades vamos ter de incentivar outras
tecnologia, incorporar naquilo
námos um ciclo mais próximo da natureza formas de pensar o projeto, porque muitos
que é o seu fim de linha um
para nos transformarmos em utilizadores destes problemas começam logo com o
resíduo que voltam a revalorizar,
massivos de matérias-primas do Planeta. Se projeto, com a construção, com a forma
é tradicional. A geração dos meus
quisermos continuar a ter qualidade de vida, como os cidadãos valorizam esse aspeto
a ter os níveis de desenvolvimento que pos- pais tinha muitas preocupações ambiental, coisa que ainda não conseguimos
suímos, temos de prolongar essas matérias- ligadas à economia circular, fazer, o que conduz a que, não raras vezes,
-primas na economia. Muito daquilo que ainda que não lhe chamassem esse tipo de construção acaba por sair em
considerávamos que eram resíduos, teremos, economia circular e não tivessem preço por metro quadrado acima daquele
rapidamente, de assumir que são as maté- essa sensibilidade que é o da construção tradicional, o que
rias-primas dos produtos do futuro. Isso limita logo o acesso. Mas isto sucede também
faz-se com uma consciencialização, sobre- independentemente do valor. Por uma
tudo dos cidadãos, enquanto consumidores estamos também com outro tipo de desa- questão de cultura, de marketing, ainda não
e enquanto pessoas que têm responsabili- fios, desafios na própria Administração Pú- temos o nosso registo mental orientado
dades quando esses produtos deixam de blica, que estava muito preparada para uma para essas questões ambientais.
lhes ser úteis. Mas faz-se também com a certa legislação, um tipo de fiscalização,
ajuda da investigação, do conhecimento, uma abordagem na temática dos resíduos Mas se ainda não introduzimos estes va-
do saber dos nossos politécnicos e univer- e que agora vai ter de fazer uma reconfigu- lores no nosso “registo mental”, teremos,
sidades, que têm de procurar materiais al- ração para um outro estádio que é muitas como País, “maturidade” suficiente para
ternativos, materiais que sejam mais facil- vezes desclassificar o estatuto de resíduo e avançarmos já para a economia circular ou
mente recicláveis, têm de desenvolver pro- passar ao estatuto de subproduto ou de o processo é muito gradual?
cessos produtivos que não estejam orien- matéria-prima alternativa, e isso é também A economia circular nunca nos abandonou.
tados para a produção em quantidade, mas, uma nova forma de estar. Há alguns setores, algumas culturas, alguns
sobretudo, para a produção de materiais e ambientes empresariais em que as práticas
de produtos que nos sejam úteis com uma Neste momento, a regulamentação, quer de incorporar tecnologia, incorporar naquilo
vida mais prolongada. Tudo isso associado europeia, quer nacional, ainda constitui, que é o seu fim de linha um resíduo que
ao eco-design, menos incorporação de de alguma forma, um entrave a esta ativi- voltam a revalorizar, é tradicional. A geração
matérias-primas, que eventualmente des- dade da economia circular? dos meus pais tinha muitas preocupações
carte tudo aquilo que hoje é acessório… A Sociedade tem de repensar muitos dos ligadas à economia circular, ainda que não
pressupostos da economia linear tradicional. lhe chamassem economia circular e não ti-
Nesse cenário, o plástico será o grande Estou a lembrar-me de um setor que em vessem essa sensibilidade. Desse ponto de
“drama”? Portugal é crítico: o da construção civil. É vista, o que estamos a assistir é quase como
O plástico é considerado um problema um dos que já tem alguns avanços, já há que um regresso a algumas práticas que ti-
porque ainda estamos perante produtos especificações para alguns materiais, para veram a sua história e que foram abando-
que, por vezes, incorporam três tipos de incorporação de alguns materiais em obra, nadas com a nossa vinda para as grandes
plástico, que incorporam um rótulo, que com especificações do LNEC, mas infeliz- urbes. Nesta sociedade atual, em que não
incorporam dificuldade de o reutilizar, de o mente o número dessas especificações é temos um simples quintal para valorizar os
reciclar… Apesar de tudo, poderemos dizer muito reduzido e esperamos que seja mais nossos resíduos orgânicos, em que não temos
que a indústria, eventualmente não por ra- alargado. Por outro lado, este tema pode facilidade de poder fazer uma cadeia de valor,
zões ambientais mas por razões até de na- necessitar em determinada altura de alguma passando de filhos para netos a roupa que
tureza económica, vem fazendo alguns legislação, nomeadamente apoiada em eco- deixou de servir aos mais crescidos, etc.,
avanços nessa matéria. Se hoje compararmos -taxas, que promova que os valores desses fomos perdendo essa dimensão, porque a
uma garrafa de plástico com uma garrafa novos produtos possam chegar ao mercado maneira com que nos colocam produtos
de há dez ou 15 anos, do mesmo tipo de a preços tão competitivos como as maté- novos para consumo foi muito alimentada,
plástico, vamos verificar que ela pesará rias-primas, o que nem sempre acontece, nomeadamente pelas grandes operações de
menos, ou seja, incorpora menos matéria- porque geralmente não valorizamos a na- marketing. Não era invulgar aqui há uns anos,
-prima. Mesmo por razões de natureza eco- tureza, valorizamos só os custos de ope- uma pessoa ir à procura de alguém que lhe
nómica, as empresas vão procurando maior ração e exploração das matérias-primas sem reparasse um eletrodoméstico avariado. Hoje,
eficiência e vão sendo elas próprias parceiras colocarmos em cima uma taxa ambiental o custo que tem uma operação desse tipo
deste processo. Do ponto de vista das po- que de alguma maneira poderia tornar os leva a que a maior parte das vezes as pes-
líticas tradicionais em lidar com os resíduos, materiais alternativos mais concorrenciais. soas optem por comprar um produto novo
e descartam-se do antigo. Isso ainda teria ciedade mais equilibrada com o utilitarismo cesso na medida em que encontrarmos, da
menos preocupação se se descartassem de sem com isso colocar uma grande pressão parte dos cidadãos, um comportamento
uma maneira ambientalmente correta, ou sobre matérias-primas virgens e sobre os mais adequado. Aprovámos a estratégia na-
seja, se valorizassem os componentes que próprios processos produtivos, que envolvem cional de educação ambiental, já houve vá-
lá estão. Infelizmente, muitas vezes, essa não consumos de energia e de água, emissões rios avisos, quer do Fundo Ambiental, quer
é a prática e agrava a circularidade dessas atmosféricas, entre outros. do PO SEUR, naturalmente o PO SEUR mais
matérias-primas e da economia de uma ma- focado nos resíduos e na água, mas o do
neira geral. Existem medidas específicas de apoio às Fundo Ambiental muito alargado em termos
empresas, de apoio à investigação, nesta de espetro, para conduzir a alterações com-
O Plano de Ação para a Economia Circular área? portamentais. Temos ainda a questão das
em Portugal, lançado pelo Governo em Há, claramente! Muitas delas, objetivamente agendas regionais: houve apoio para as
dezembro de 2017, veio trazer uma maior orientadas e com essa terminologia. Outras, cinco CCDR’s do Continente fazerem as
ambição às empresas. Despoletou oportu- menos orientadas, mas com efeitos sobre suas agendas, porque sabemos que este
nidades para a tecnologia, inovação, novos ela. No Portugal 2020 há um conjunto de processo tem de ser gradual e que temos
modelos de negócio? incentivos a empresas, nomeadamente In- de nos focar nos setores mais relevantes.
A economia circular é, de facto, uma mu- dústrias 4.0, que, no conceito implícito da Dizer ainda que desde a primeira hora o Mi-
dança de paradigma. Sendo uma mudança criação dessas empresas, leva a que sejam nistério criou o eco.nomia.pt, um site onde
de paradigma é uma nova forma de como muito mais eficientes, a todos os níveis, mas podemos encontrar legislação, boas prá-
a sociedade olha para estes temas: o con- também neste domínio ambiental, do que ticas, fóruns de discussão, benchmarking
sumidor, cada vez que compra um produto, aquilo que eram as empresas do passado. internacional neste domínio, etc., funcio-
terá um registo mental das implicações desse Sem ser um apoio com a terminologia de nado quase como uma montra daquilo que
ato; as empresas, pela sua responsabilidade economia circular, acaba por resultar dessa fazemos bem, daquilo que outros fazem
na incorporação de materiais, naquilo que modernização do parque industrial e dessa bem e nós podemos de alguma maneira
é saberem bem o que pode ser otimizado nova maneira de estar das empresas um re- “copiar”, integrando algum valor acrescen-
de incorporação de matérias-primas, na- flexo indireto da economia circular. O pró- tado se possível. Temos a convicção de que,
quilo que é a facilidade com que os pro- prio Ministério do Ambiente, ainda que de de facto, tem de se fazer alguma coisa ra-
dutos podem ser desmontados para que forma mitigada, tem vindo a apoiar um con- pidamente para inverter a situação. Temos
depois de cumprirem uma determinada junto de iniciativas através do Fundo Am- a consciência realista de que este é um as-
função as matérias-primas possam ser fa- biental. sunto que vai levar o seu tempo, mas também
cilmente recuperadas, não colocando ex- temos a consciência de que quando plan-
cesso, mas exatamente concebendo um Em termos práticos o que tem sido feito? tamos uma árvore muitas vezes não é com
produto que ele próprio seja com muita fa- Fizemos avisos para projetos inovadores de a expectativa de colhermos o seu fruto mas
cilidade capaz de gerar novas matérias- investigação e desenvolvimento na área dos é de o deixarmos para alguém que há-de
-primas, de uma economia que natural- plásticos, na tentativa de substituição do vir a colhê-lo.
mente valorize esse tipo de trabalho. Espe- plástico por outro material mais amigo do
ramos, acompanhando este desígnio, vir a ambiente, ou, mantendo o plástico, criar Que ganhos económicos é que a Economia
assistir a novos negócios. Esta ideia de termos um plástico mais reciclável ou com menos Circular pode trazer para a sociedade, para
em Lisboa mais 150 veículos elétricos em incorporação e quantidades de matérias- os cidadãos e para as empresas?
que a pessoa com um simples telemóvel -primas, ou homogeneidade do próprio Quando iniciámos, há 20 anos, a recolha
pode saber onde está um veículo que a pode plástico, evitando que na mesma embalagem seletiva em Portugal não havia negócio. O
transportar, pagar ao minuto a sua deslo- apareçam três tipos de plástico e aumen- negócio era os materiais irem para as lixeiras.
cação, voltar a estacioná-lo, ainda por cima tando o seu potencial de reciclagem. Fi- Hoje em dia, Portugal pode orgulhar-se de
sem custos, para que alguém depois pegue zemos avisos, com grande sucesso, para as ter uma indústria de reciclagem que em-
nele e se desloque, é a ideia de que o ci- juntas de freguesia, que excederam larga- prega muita gente, que cria muito valor, que
dadão precisa de um carro não por status mente aquilo que era a nossa expectativa. desse ponto de vista cria muitos produtos
social mas para se deslocar. Estou em crer Temos apoiado um conjunto de iniciativas que são colocados no mercado nacional e
que as gerações do futuro viverão menos ligadas à temática dos resíduos, da água. O no mercado internacional, que leva e replica
preocupadas com a posse do bem, que foi projeto da casa eficiente determina que haja as nossas soluções noutros mercados. Esse
muito incutida nas gerações passadas, pas- incorporação de materiais e de equipa- sucesso será tanto maior ou menor con-
sando para uma sociedade com um caráter mentos também alinhados com as preocu- soante a capacidade visionária de os nossos
mais utilitário das coisas, que necessite de pações da economia circular… empresários conseguirem incorporar valor.
menos quantidade para se sentir satisfeita. Estou em crer que a nova geração de em-
O caso paradigmático é o do berbequim, E na área da educação e sensibilização? presários percebe bem que o ambiente é
que é usado 15 a 20 minutos em toda a sua Temos também programas, que são essen- hoje uma oportunidade. Aquela geração de
vida útil! É um exemplo simples para dar a ciais, ligados à educação e sensibilização empresários que, ainda não há muitos anos,
ideia de que no futuro podemos mudar estes ambiental, ou seja, temos consciência de entendia que o ambiente era sobretudo um
registos e podemos ser, de facto, uma so- que tudo isto vai ter maior ou menor su- fator de areia na engrenagem das suas vidas,
já entendeu bem que o ambiente hoje é um tada, e que, ainda assim, alguns que são criação de riqueza para o País. Estou con-
parceiro. O que os empresários que estão eliminados pudessem pelo menos ser va- victo que este processo, que vai levar a um
na linha da frente nos exigem é maior rigor lorizados. O que estamos a procurar é au- novo paradigma social, ainda que possa de-
na condução das questões políticas ambien- mentar os materiais que vão subindo nesta morar os tais 10/20 anos que levou também
tais, porque é isso que lhes dará oportuni- cadeia da hierarquia de gestão de resíduos, à estruturação da nossa política de resíduos,
dade de crescimento, que lhes dará uma na tentativa de, com eles, criar valor. Admi- irá conduzir inevitavelmente a mais em-
concorrência sã, de que aqueles que querem tindo que há, nalguns casos, inibições de prego, talvez um emprego diferente.
fazer bem não estão a concorrer com aqueles natureza tecnológica, há materiais que pela
que, não sendo eficientes em termos de sua conceção são pouco recicláveis, ou se O PERSU está novamente em discussão,
gestão, procuram ganhar dinheiro através o são são-no em condições económicas com diversas entidades a apontar críticas
de externalidades ambientais negativas. Hoje, que não apresentam competitividade e aí o ao Plano. O que podemos esperar desta
a Europa está na linha da frente desta estra- apelo é a nível das parcerias que podem re- nova revisão?
tégia para a economia circular também por sultar entre as empresas, as universidades e Identificámos no PERSU alguns temas crí-
uma razão de natureza económica natural politécnicos e os centros tecnológicos, para ticos. Uma análise dos dados que vamos
que é perpetuar materiais que são essenciais encontrar materiais alternativos para a apli- apurando anualmente leva-nos a pensar
à sua economia, não se descartando deles, cação dos materiais atuais e para desenhar que se a trajetória continuar como está a
antes pelo contrário, mantendo dentro do e conceber no futuro produtos mais ami- ocorrer não vamos cumprir as metas que
seu território a capacidade de os valorizar. gáveis desse ponto de vista. Hoje é fácil en- estão desenhadas para 2020! Sabemos
contrar uma percentagem muito elevada também que, hoje mesmo [18 abril], foi
O setor dos resíduos será provavelmente de incorporação de materiais que já foram aprovado na União Europeia um pacote de
aquele onde existem mais fileiras organi- outra coisa na sua vida, nomeadamente nas uma nova diretiva de resíduos que nos vai
zadas e a funcionar e onde as atividades papeleiras, nos têxteis, nos plásticos ou nos colocar perante a eminência de sermos
de valorização têm vindo a crescer. Quando materiais ferrosos. confrontados com metas mais exigentes.
comparados com a Europa, qual o nosso Portanto, se já não conseguíamos cumprir
posicionamento nesta área? Em termos de criação de emprego, o que as de 2020, mal estamos colocados para
Do ponto de vista da nossa capacidade de pode significar esta mudança de paradigma? cumprir as de 2025 e as de 2030. Enten-
reciclagem, temos vindo a ter uma trajetória Que tipo de emprego será criado? demos reavaliar aquilo que era o PERSU,
próxima daquilo que é o padrão médio eu- Há alguns números, quer sobre a criação desde logo com a preocupação de financiar
ropeu. De qualquer maneira não gostaria de emprego, quer sobre os valores que po- investimentos que não sejam mais do mesmo,
de dar uma resposta tão taxativa porque ela derão vir a ser aportados para a economia que não levam a resultados, mas que es-
pode ser enganadora, sobretudo quando europeia. Em 1997 tínhamos as nossas li- tejam orientados para tecnologias e práticas
tratada isoladamente. Relativamente aos xeiras. Praticamente não tínhamos estrutura que nos permitam aproximar das metas a
materiais mais nobres que nos chegam, vem de emprego, nem empresarial, no setor dos que estamos obrigados.
sendo feito um trabalho relativamente im- resíduos, na altura chamado de “lixo”. Hoje
portante para que sejam reciclados num temos 1.600 operadores de gestão de resí- Que tecnologias serão essas?
caso e valorizados noutro. Gostaríamos duos, licenciados na Agência Portuguesa Identificámos os combustíveis derivados de
muito que, do ponto de vista da hierarquia, do Ambiente, temos um número imenso de resíduos, ainda que produzidos porque não
a reciclagem e manutenção da matéria- empregos e temos uma economia pujante cumprem as especificações, quer de humi-
-prima fosse mais longa e fosse incremen- na área, significativa do ponto de vista da dade, quer de qualidade que geralmente os
Este é um trabalho dida a sua valorização energética tem ou funções. E a diretiva europeia associada à
pluridisciplinar não potencial. Estamos igualmente a avaliar economia circular foi contemporânea desse
e só terá sucesso onde vale a pena apostar na recolha porta- acordo. Passados apenas três meses, está-
se a economia e o ambiente -a-porta e onde vale a pena apostar na re- vamos a organizar um evento no CCB sobre
andarem muito próximos colha dos bio-resíduos de forma seletiva. E economia circular, com uma participação
estamos à espera que o grupo de trabalho extraordinária, em que conseguimos mo-
criado possa trazer propostas concretas no tivar quatro ou cinco empresas para serem
utilizadores têm. Identificámos também as PERSU 2020+: este 2020+ surge por estar coorganizadores com o Ministério. Esse foi
cimenteiras e eventualmente os produtores orientado para 2025 ou para 2030 e para o primeiro marco, onde tivemos, para além
de energia elétrica. Não encontrando essas que possamos fazer ainda, com as verbas do Ministro do Ambiente, e eu próprio, o
especificações asseguradas não têm colo- que estão disponíveis, investimentos já ali- Ministro da Economia. Este é um trabalho
cação no mercado. nhados com essa trajetória. pluridisciplinar e só terá sucesso se a eco-
nomia e o ambiente andarem muito pró-
E as papeleiras? Será por estes dias? ximos. Depois disso, a AIP e outras associa-
As papeleiras eventualmente também e até O nosso calendário aponta para que em ções têm vindo a promover um conjunto
mesmo a área da cerâmica. Estas indústrias maio o trabalho desse grupo possa terminar. de iniciativas, de sugestões e estudos, uns
não estão a encontrar saída e, assim sendo, O mês de junho será para interações inter- mais setoriais, outros mais gerais, e que
no fim do ciclo vão parar ao aterro, sem ministeriais, para o processo legislativo e constituem ferramentas relevantes. Nos
mais nenhuma mais-valia ambiental, porque para aprovação. Com isso, faremos os avisos próprios ambientes universitários e politéc-
a sua reutilização tem um custo superior à do PO SEUR para que não seja posta em nicos já começa a haver preocupações de
deposição em aterro. Logo, vamos ficar com causa a execução dos fundos comunitários. criar desenvolvimento, inovação e reflexão
resíduos que não têm possibilidades de va- Temos alguma pressa para que as candida- sobre estes temas. Os centros tecnológicos
lorização no quadro daquilo que era a es- turas sejam abertas e aprovadas ainda este dos setores empresariais, em particular,
tratégia anterior, mas que eles próprios ul- ano, para que as entidades gestoras tenham também estão a dar grande enfâse a esta
trapassam os 10% que vamos estar obrigados cerca de três anos para executar. matéria. Cada vez que há uma abertura de
em 2030 para colocação em aterro. Depois aviso para candidaturas de projetos finan-
temos ainda a questão da recolha seletiva O PO SEUR será determinante para a exe- ciados na área de economia circular a pro-
das embalagens, que praticamente se mantém cução? cura é muito grande, ou seja, as pessoas já
estagnada. Tem vindo a cumprir as metas, Naturalmente, temos ainda disponíveis cerca estão preparadas e têm projetos na cabeça,
mas não tem crescido, remetendo-nos para de 80 a 90 milhões de euros, para além dos não é apenas uma moda. A economia cir-
a necessidade de fazer mais porta-a-porta. 72 que já estão aprovados. Vamos aprovar cular veio para ficar e vai fazer parte, segu-
Mas não podemos esquecer que somos um seguramente projetos em torno dos 100 mi- ramente, das gerações futuras em termos
País que ainda tem quase 50% da população lhões para este setor, mas queremos que eles de um novo paradigma. É um caminho sem
em locais e povoamentos dispersos e que sejam, de facto, muito alinhados com estes retorno que só teremos de seguir e quanto
os custos implícitos a essas operações le- novos objetivos. Não os queremos antecipar, mais à frente conseguirmos ir melhor será
variam os portugueses a pagar muito mais porque o grupo de trabalho é independente para as cidades do futuro.
que os europeus. Tudo isto leva a que também e tem muitas visões integradas e essa plura-
os municípios sejam confrontados com uma lidade de opiniões é importante porque traz- A Ordem dos Engenheiros proclamou 2018
nova realidade para a qual não estão pre- -nos uma visão mais holística daquilo que como o “Ano OE das Alterações Climáticas”.
parados, pois precisam de novos camiões, deve ser o tema. Nesse ponto de vista, e es- Como avalia essa decisão?
novos contentores, novos circuitos de re- tando a falar para a “INGENIUM”, quero dizer Considero altamente meritório colocar na
colha, reprogramar as equipas e preparar o quanto reconhecemos o papel da Ordem agenda este tipo de preocupação. Vamos
os cidadãos para esta mudança de com- dos Engenheiros neste processo e daí que assistindo no Mundo a cada vez mais fenó-
portamento. tenhamos também integrado nesse grupo menos extremos e o que sabemos, com a
de trabalho um representante da Ordem, Ciência que temos disponível, é que estamos
Perante esses desafios, que fazer? pois pensamos que este é um setor onde, confrontados com um problema que temos
O que neste momento estamos a desenhar certamente, a Engenharia, nos seus vários de ultrapassar, com medidas de adaptação
é eventualmente vir a investir mais em se- domínios, pode aportar valor muito relevante. e de mitigação que evitem que estes fenó-
cagem dos combustíveis derivados de re- menos ganhem mais relevância ou que te-
síduos, permitindo que venham a cumprir Para terminar, falemos de ensino, de inves- nham um crescimento acima do desejável.
a especificação, melhorando a sua triagem tigação e também de Engenharia. O País Portugal está a fazer uma boa trajetória
na origem, para que não tenham materiais dispõe de recursos humanos para esta nova nestas matérias. A Engenharia tem ajudado
com cloro, etc., que são perniciosos para a fase da economia? muito, porque muitos destes nossos ganhos
sua valorização, e que baixem a humidade, Tenho vindo a ser surpreendido pela posi- ambientais resultam de processos tecnoló-
para que apresentem um maior poder ca- tiva. Este tema acabou por estar muito as- gicos e sobretudo de processos mais efi-
lorífico e sejam competitivos. No âmbito da sociado à presença que tive no Acordo de cientes que a Engenharia tem vindo a de-
fração-resto estamos a avaliar em que me- Paris, logo quando este Governo iniciou senvolver.
Carlos Borrego
Coordenador de Investigação da Agenda de I&I para a Economia Circular
Professor Catedrático de Engenharia do Ambiente na Universidade de Aveiro
Membro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros
Por Nuno Miguel Tomás e extraímos mais recursos do que aqueles economia circular, apesar de este ser ainda
Fotos Universidade de Aveiro que o nosso Planeta consegue oferecer. No um conceito pouco conhecido para a maioria
dia 2 de agosto de 2017 assinalou-se o Global das pessoas. No entanto, as Nações Unidas,
O Comissário Europeu Carlos Moedas dizia Overshoot Day, dia a partir do qual come- na Agenda 2030 – Objetivos do Desenvol-
há dias, em Viseu, que o futuro da Europa çámos a consumir os recursos de 2018. Esta vimento Sustentável, vieram estabelecer um
passa pela economia circular. Concorda? data surge cada vez mais cedo no calen- quadro de exigência mundial ao nível am-
Sim, concordo. Atualmente vivemos numa dário. Em 2018 poderá ser a 28 de julho! Do biental, económico e social para uma po-
sociedade insustentável, em que o cresci- ponto de vista ambiental, estamos a viver a pulação crescente e um planeta finito. A
mento económico está associado à utili- crédito. Se queremos alterar este cenário, é Comissão Europeia vê a transição para a
zação intensiva de recursos. Consumimos inevitável que o futuro da Europa passe pela economia circular como uma oportunidade
Doutor em Sciences Appliquées pela Universidade Livre de Bruxelas, é Professor Catedrático encontro onde os cidadãos trazem apare-
de Engenharia do Ambiente na Universidade de Aveiro (UA). Há mais de 40 anos que trabalha lhos avariados, ou outros bens com pequenos
no domínio do ambiente e clima, representando Portugal em organizações científicas nacionais
danos, para serem reparados; as ferramentas
e internacionais (CE, NATO, FSE, FCT…), bem como em comissões de investigação e avaliação
de estratégia ambiental e desenvolvimento sustentável. e materiais são disponibilizados pelos orga-
nizadores e os consumidores são convidados
Foi Ministro do Ambiente e Recursos Naturais (XI e XII Governos) e Vice-reitor
a aprender a reparar. O Airbnb é responsável
para a Investigação na UA. É Membro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros, Diretor
do Departamento de Ambiente e Ordenamento, Delegado Nacional ao Programa-Quadro por mais de mil milhões de euros de impacto
de Investigação & Inovação H2020 da UE na “Ação Climática e Ambiente” e Diretor da EURASAP em Portugal sem que tenha sido necessário
– European Association for the Science of Air Pollution. Coordena o grupo de investigação construir um único edifício, provando que
em Emissões, Modelação e Alterações Climáticas, com envolvimento em 73 projetos europeus é possível vender desempenho ao invés de
e nacionais em avaliação de impacto ambiental, gestão da qualidade do ar, simulações em túnel
materialidade. Nós, como consumidores,
de vento, exposição a poluentes atmosféricos e saúde humana, mitigação e adaptação
somos o ator principal na transição para a
às alterações climáticas, investigação e inovação sobre economia circular, desenvolvimento
sustentável. Produziu mais de 800 publicações e foi orientador de 21 teses de doutoramento economia circular. As nossas escolhas vão
e 34 dissertações de mestrado. Tem sido Professor em diversos cursos de mestrado fazer a diferença nesta mudança. Se em vez
e programas doutorais. de comprarmos um produto comprarmos
A ligação da investigação à resolução dos desafios societais e o forte entrosamento com um serviço, estamos a rentabilizar a sua uti-
o tecido empresarial, potenciado pela estratégia da UA, justificam a consultoria e realização lização e a maximizar o uso das matérias-
de vários projetos para empresas, organizações do governo central, das regiões e das autarquias, -primas, sejam materiais ou energéticas.
bem como a criação, em 1993, do IDAD – Instituto Do Ambiente e Desenvolvimento, como
unidade de interface privilegiada para atingir os objetivos da cooperação Universidade-Sociedade.
E porquê a necessidade de caminharmos
Como Diretor do IDAD tem coordenado, ao longo destes 25 anos, diferentes projetos
multidisciplinares na área do ambiente e do ordenamento. para um modelo de desenvolvimento as-
sente na economia circular? Quais os be-
nefícios que daí advêm?
Nós, como consumidores, da competitividade. A ideia é manter um dado A população mundial tem vindo sempre a
somos o ator principal recurso em circulação pelo maior tempo crescer, implicando invariavelmente um au-
na transição para a possível. Isso significa desenhar produtos, mento do consumo de matérias-primas e
economia circular. As nossas processos e serviços que otimizem o uso bens e o consequente aumento dos sub-
dos recursos, de tal modo que, no fim da sua produtos – resíduos, efluentes líquidos e
escolhas vão fazer a diferença
vida útil, se possam reutilizar, reparar ou re- gasosos. Estamos a crescer infinitamente
nesta mudança. Se em vez
manufaturar. Assim, a economia circular é num mundo finito. Em Portugal, as três fontes
de comprarmos um produto
vista como o elemento chave para alcançar principais de desperdício de recursos natu-
comprarmos um serviço, estamos
o desenvolvimento sustentável, criando si- rais são o consumo exagerado de carne e
a rentabilizar a sua utilização multaneamente qualidade ambiental, pros- peixe, o uso excessivo do automóvel, a subs-
e a maximizar o uso das matérias- peridade e equidade social, possibilitando o tituição demasiado frequente de equipa-
-primas, sejam materiais crescimento económico desassociado do mentos e compra excessiva de bens de con-
ou energéticas aumento do consumo de recursos. sumo que acabam por ir parar aos aterros.
Por isso, são diversos os benefícios de curto
Em termos práticos, como se materializa e longo prazo que advêm do modelo focado
para modernizar e transformar a Europa. E no dia-a-dia das organizações, empresas, na economia circular. Apresento quatro
Portugal lançou, em 2017, o Plano de Ação pessoas? exemplos: oportunidades para novos mo-
para a Economia Circular. A implementação da economia circular tem delos de negócio – ex. programas de retoma
por base a abordagem sistémica, que passa ou de reparação; redução da volatilidade no
Para contextualizarmos a questão, que mo- por rentabilizar os desperdícios – lixo – e preço das matérias-primas – ex. aumento
delo económico é este chamado de “eco- subprodutos. Olhando para dentro de nossa do preço dos combustíveis; conservação do
nomia circular”? Quais as suas caracterís- casa, temos o exemplo das cápsulas de café, capital natural; recuperação de energia a
ticas principais? O que o distingue? cujo destino final é resíduo doméstico. Subs- partir de resíduos, a última etapa da hierar-
A economia circular é um modelo econó- tituindo o conceito de fim-de-vida por novos quia de resíduos.
mico que pretende substituir a atual eco- fluxos circulares de reutilização, estas cáp-
nomia linear associada à ideia de fim-de-vida, sulas podem ser reutilizadas como pequenos Tendo em conta a realidade do tecido em-
isto é, mudar o paradigma “extrair > fabricar vasos onde se podem cultivar algumas plantas presarial português, na sua maioria cons-
> consumir > deitar fora”. Para isso, a eco- de uso culinário. No ramo empresarial, existe tituído por PME, que desafios enfrenta Por-
nomia circular leva em consideração o ciclo o notável exemplo da utilização de paletes tugal no que à adoção das boas práticas
de vida completo do produto, indo desde as de transporte, subproduto para muitos se- provenientes da economia circular diz res-
emissões às energias renováveis, da reci- tores de atividade, mas que podem apre- peito?
clagem ao desperdício de alimentos, dos sentar valor acrescentado para outros se- O principal obstáculo à adoção de boas prá-
mercados de matérias-primas secundárias à tores, por exemplo, o do mobiliário de jardim. ticas está relacionado com procedimentos
criação de novos empregos e ao aumento Os RepairCafe surgiram como um ponto de há muito enraizados – a população, de forma
geral, não é favorável à mudança – e com Como engenheiros, competir com o setor alimentar ou da ma-
o investimento necessário. Neste último estamos habituados deira, no Centro de Portugal [desenvolvida
ponto, o Plano de Ação para a Economia a fazer muito com pela BLC3], pode conduzir a 2,9-3,4 milhões
Circular prevê medidas para mobilização do pouco e é altura de usar esta de euros de rendimento anual e a mais de
investimento público e privado. Também competência, pensando “fora 70 mil empregos. O estudo “Sinergias Cir-
existem algumas organizações, como a Caixa culares – Desafios para Portugal ”, realizado
da caixa” para que, de forma
Central de Crédito Agrícola Mútuo ou o pelo BCSD Portugal, evidenciou que se os
inteligente e rentável, esta
grupo de trabalho Sustainable Finance do resíduos não urbanos eliminados em Por-
transição/mudança de paradigma
BCSD Portugal – Conselho Empresarial para tugal em 2015 – 1,1 milhões de toneladas
ocorra com naturalidade
o Desenvolvimento Sustentável, que juntam – fossem transacionados entre empresas,
empresas e banca em torno do desenvolvi- traduzir-se-iam numa redução de consumos
mento de medidas e de mecanismos finan- dutivo – projeto Green Cork – faz da Amorim intermédios de 165 milhões de euros, numa
ceiros para apoiar modelos de negócio que um exemplo no Mundo, na área da eco- contribuição de 32 milhões de euros em
acelerem a economia circular, de baixo car- nomia circular. VAB, na criação de 1.300 novos empregos
bono e verde. Para além dos incentivos eco- e na redução superior a 5 milhões de tone-
nómicos, a sensibilização, a educação e en- À semelhança da “responsabilidade social”, ladas de extração nacional de materiais.
volvimento social serão essenciais neste que há uns anos ganhou alguma “força”
processo. junto do tecido empresarial e das organi- E qual o valor social, ambiental, cultural,
zações, não teme que a economia circular etc.?
Em que áreas de atividade será mais pro- seja encarada mais sob forma de marketing A nível ambiental, e por consequência a nível
pício o desenvolvimento destes conceitos? do que propriamente como uma compo- social, os benefícios serão enormes. Por
Todas as áreas de atividade têm condições nente que permita, de facto, alavancar ne- exemplo, espera-se que a transição para a
para adotar os conceitos associados à eco- gócio? economia circular, para além da redução
nomia circular – setores agroalimentar, cons- Não há dúvida que, com o aumento da cons- óbvia do volume de resíduos, se traduza
trução, agricultura e floresta, energia, terri- ciencialização dos problemas ambientais, numa redução de 2% a 4% das emissões to-
tório, saúde e ensino, uma vez que existem assistimos ao surgimento de uma nova classe, tais anuais de gases com efeito de estufa.
estratégias que podem ser combinadas na os consumidores verdes. Para dar resposta Os RepairCafe, cujo objetivo principal é a
criação de valor, como por exemplo novos a esta necessidade, as empresas tiveram de redução de novos materiais e da energia
modelos de negócio e desmaterialização; se adaptar, pelo que o conceito de “marke- para os produzir, mas também incentivar um
design/redesign “circular” de produtos e pro- ting verde” se tornou obrigatório no léxico setor económico – o da reparação – que
cessos; sistemas ou modelos de negócio dos negócios e, por isso, a economia circular estava em decaimento e estimular a criação
centrados na manutenção, reparação, re- poderá ser encarada como uma forma de de emprego técnico especializado, consti-
condicionamento e remanufatura de pro- marketing. Os consumidores têm um papel tuem um bom exemplo do valor social e
dutos; definição da estratégia de negócio fundamental no mercado, são eles que de- cultural desta abordagem.
entre entidades que colaboram no uso efi- finem as regras da oferta e da procura, e a
ciente dos recursos. transição para a economia circular não será Portugal estará em condições de passar de
exceção. Os consumidores serão o motor uma sociedade do consumo, como a nossa,
As grandes empresas já encaram a questão deste processo. Estou convencido que quando para uma sociedade da recuperação/reu-
da economia circular de forma “efetiva”, o tecido empresarial analisar os benefícios tilização? São perspetivas antagónicas.
visto terem capacitação humana e técnica, da economia circular, traduzidos em euros, A grande mudança de paradigma ocorreu
ou esta problemática só começa agora a terá uma versão objetiva e empresarial desta aquando da transição da economia linear
entrar na gestão diária dessas organizações? estratégia. para a economia da reciclagem. Não dei-
Nos últimos anos, por toda a Europa, o con- xámos de ser uma sociedade de consumo,
ceito de economia circular tem sido cada Qual o valor económico da economia cir- mas apurámos o sentido de responsabilidade
vez mais adotado por empresas e Portugal cular? social. Hoje, a preocupação pelo ambiente,
não é exceção. Outras ainda têm muito a Segundo os dados do Plano de Ação para a muito fruto dos impactos das alterações cli-
fazer. Um exemplo: como sabemos, Por- Economia Circular, estima-se que as me- máticas que se fazem sentir, está mais pre-
tugal possui a maior área mundial de floresta didas de prevenção dos resíduos, conceção sente na sociedade. No entanto, a difusão
de sobro – 34% – e detém 49,6% da pro- ecológica, reutilização e outras ações cir- de informação e criação de perceção social
dução mundial deste material. As proprie- culares poderão gerar poupanças líquidas em relação à economia circular, através de
dades do material, aliadas a um processo de de cerca de 600 mil milhões de euros/ano ações de informação, workshops e outros
extração de baixo impacto ambiental, um às empresas da União Europeia, que com recursos que suportem a consciencialização,
processo produtivo 0% desperdício, que efeitos multiplicadores podem atingir 1,8 bi- será crucial neste processo. O exemplo prá-
promove sinergias com outros materiais e liões de euros/ano, criando 170 mil empregos tico de uma ferramenta de difusão da infor-
subprodutos – plástico, borracha – e que, diretos no setor da gestão de resíduos. A mação é o portal ECO.NOMIA lançado pelo
inclusivamente, promove a recolha de rolhas estratégia da Smart bio-region, biorrefinaria Ministério do Ambiente, que se assume, por
usadas para reintrodução no processo pro- para produção de biocombustíveis – sem um lado, como um espaço de partilha de
Que papel pode, e deve, desempenhar a eco-inovação, bem como a análise dos im- Metabolismo Urbano, Ecologia Industrial, En-
Engenharia portuguesa no cenário que des- pactos ambientais gerados e a avaliação do genharia de Sistemas de Tratamento, Gestão
creve? Que responsabilidades lhe estão, ciclo de vida, o uso de matérias-primas se- Integrada de Recursos Naturais, entre outras.
naturalmente, atribuídas? cundárias e de produção mais limpa, podem
A Engenharia portuguesa tem o dever de li- ser consideradas as principais áreas de con- A nível de Ensino Superior, mas também a
derar e impulsionar este processo, revendo vergência do conceito da economia circular nível de Investigação, Inovação e Desen-
as práticas de Engenharia para encontrar as com a Engenharia. volvimento, o País dispõe já de massa crí-
áreas onde se deve concentrar o esforço de tica que lhe permita encarar estes desafios
inovação. Como engenheiros, estamos ha- Os engenheiros portugueses estão prepa- com confiança?
bituados a fazer muito com pouco e é altura rados para os desafios que perspetiva? Em 2017, o Ministério da Ciência, Tecnologia
de usar esta competência, pensando “fora Podemos dizer que sim! A economia circular e Ensino Superior, no âmbito do Plano Na-
da caixa” para que, de forma inteligente e já é aplicada há algum tempo na Engenharia, cional de Ciência e Tecnologia, lançou o
rentável, esta transição/mudança de para- apesar de não ser conhecida por essa desig- desenvolvimento da Agenda de Investigação
digma ocorra com naturalidade. O desafio nação. Por exemplo, na indústria da celulose, e Inovação para a Economia Circular. O do-
deste novo sistema produtivo circular abrange com o aproveitamento de alguns subpro- cumento preliminar da Agenda está pronto
uma gama de conhecimentos e atividades dutos para produção de energia elétrica, e e irá ser apresentado e discutido publica-
que está diretamente relacionada com a for- na indústria da cortiça, como já referi. Tais mente ainda neste mês de abril. O trabalho
mação e prática em Engenharia, criando aplicações são obra de Engenharia. As com- realizado pelo grupo de peritos – 43 – no
produtos, desde a fase de projeto, que iden- petências técnicas existem. Mais que a for- âmbito da Agenda de I&I para a Economia
tifiquem e adotem estratégias ambiental- mação técnica, é necessário aumentar a Circular evidenciou que já existem muitos
mente amigáveis, melhorando a ecoeficiência consciencialização dos técnicos das diferentes exemplos de I&I nesta área, mas torna-se
dos processos produtivos, o que se refletirá especialidades da Engenharia para esta rea- necessário fazê-lo de forma sistémica. Para
no uso de matérias-primas secundárias e no lidade, começando pelos engenheiros ainda tal, Portugal precisa de desenvolver os pi-
consumo destes produtos. Desta forma, os em formação. No Mestrado Integrado em lares de I&I que alicercem a transição dos
conhecimentos da Engenharia em projeto Engenharia do Ambiente da Universidade de diversos setores da economia, desenvol-
e desenvolvimento de produtos e serviços, Aveiro foi em 2013 introduzida a abordagem vendo: i) o design de novos produtos, pro-
principalmente as práticas de eco-design e sistémica, com unidades curriculares como cessos e serviços, substituindo o conceito
de fim de vida dos ciclos de materiais nos Os engenheiros devem cução do desenvolvimento sustentável, em
processos de produção, distribuição e con- caminhar no sentido de áreas como as alterações climáticas, os re-
sumo; ii) a gestão sustentável dos recursos desenvolver tecnologias cursos hídricos, os resíduos e a conservação
naturais, seguindo a lógica da cadeia dos e processos que lhes permitam da natureza e da biodiversidade.
recursos e incluindo a gestão e valorização fortalecer o conhecimento
dos resíduos; iii) a governança e território, A Ordem dos Engenheiros proclamou 2018
e a prática necessária
com novos modelos de governo e instru- como o “Ano OE das Alterações Climáticas”.
à implementação das ações
mentos de política que estimulem a circu- Dentro do contexto da nossa conversa,
conducentes à transição
laridade do território, onde as cidades são como avalia esta deliberação?
para a economia circular
fundamentais; iv) os novos modelos de ne- É uma decisão muito meritória e em linha
gócio, comportamento e consumo, que com as necessidades da Europa e do nosso
promovam comportamentos económicos tencial de produzir efeitos transversais e sis- País. As alterações climáticas são vistas pelos
e sociais mais sustentáveis. Ao mesmo tempo, témicos que potenciam a apropriação de cidadãos como uma das maiores ameaças.
devemos apostar na formação de base e na princípios da economia circular pela socie- Assim, promover mais iniciativas dedicadas
educação, nas tecnologias de informação dade. As ações meso, ou setoriais, são ini- e que promovam a disseminação alargada
e comunicação, para potenciar plataformas ciativas definidas e assumidas pelos interve- de informação é fundamental. Com o Acordo
digitais que suportem a economia circular, nientes na cadeia de valor de setores con- de Paris, a política global em matéria de al-
e na regulamentação, agilizando procedi- siderados críticos – ex. construção, turismo, terações climáticas entrou numa nova fase.
mentos e ultrapassando obstáculos. Por- têxtil, retalho, compras públicas, etc. – para Limitar o aquecimento global a valores in-
tugal deve ainda apostar em projetos de- o aumento da produtividade e utilização efi- feriores a 2°C acima dos níveis pré-industriais
monstradores, em áreas com potencial de ciente de recursos do País, capturando be- obriga a reduções substanciais das emissões
inovação e impacto, que projetem a ciência nefícios económicos, sociais e ambientais. de gases com efeito de estufa. Para isso, é
e inovação nacionais na Europa e no resto As ações micro, ou regionais/locais, são ini- imperativo aumentar a resiliência das cidades,
do Mundo. ciativas definidas e assumidas pelos agentes tornando as cidades circulares, bem como
económicos regionais e/ou locais, que in- o tecido industrial, onde a economia circular
Noutro âmbito, mas fazendo parte desta corporam o perfil económico local e o va- terá um papel preponderante. A transição
transição, temos o PO SEUR – Plano Ope- lorizam na abordagem aos desafios societais para a economia circular vai significar um
racional Sustentabilidade e Eficiência no – e.g., empresas circulares, cidades circu- impacto muito positivo na mitigação das al-
Uso de Recursos: prós e contras? lares, simbioses industriais, etc. terações climáticas. O fluxo de materiais no
Com a crescente procura de uma trajetória Mundo é o responsável por 67% das emis-
de adaptação europeia às grandes mudanças A nível de apoios comunitários, mas também sões de gases com efeito de estufa. Se con-
globais, no domínio da energia, das altera- de sistemas de incentivos nacionais, que seguirmos limitar a utilização de materiais e
ções climáticas e do uso mais eficiente dos ferramentas destaca para os gestores/em- apostarmos, ainda mais, nas energias pro-
recursos, o PO SEUR é um dos programas presários/engenheiros que queiram enve- venientes de fontes renováveis, estamos a
nacionais que podem alicerçar a evolução redar por este caminho? contribuir diretamente para a mitigação das
para a economia circular através do finan- Há vários instrumentos europeus que apoiam alterações climáticas.
ciamento de projetos inovadores em três a I&I na área da economia circular, mas des-
eixos principais: Eixo I – Apoiar a transição taco o Horizonte 2020 por ser o maior pro- Que mensagem deixa aos profissionais de
para uma economia com baixas emissões grama europeu de financiamento de I&I, e Engenharia, sabendo nós que caberá a muitos
de carbono em todos os setores; Eixo II – que, entre 2018 e 2020, irá disponibilizar deles a operacionalização, no terreno, de
Promover a adaptação às alterações climá- cerca de 960 milhões de euros em con- algumas das questões que elencou?
ticas e a prevenção e gestão de riscos; Eixo cursos competitivos na área da economia Os engenheiros devem caminhar no sentido
III – Proteger o ambiente e promover a efi- circular. A nível nacional há o COMPETE de desenvolver tecnologias e processos que
ciência do uso dos recursos. 2020 – Competitividade e Internacionali- lhes permitam fortalecer o conhecimento e
zação, SI I&DT, SI Inovação Empresarial e a prática necessária à implementação das
A aposta política do Ministério do Ambiente Empreendedorismo e SI Qualificação e In- ações conducentes à transição para a eco-
materializa-se no já referido Plano de Ação ternacionalização de PME; o PO SEUR, que nomia circular nas organizações e entidades
para a Economia Circular em Portugal… já foi referido. No âmbito do Programa Na- onde desempenhem funções. É necessário
Que balanço geral faz da iniciativa? cional de Reformas, o Programa INTERFACE apostar na formação especializada dos en-
O Plano de Ação para a Economia Circular – com objetivo de acelerar a transferência genheiros portugueses para adquirirem va-
2017-2020 veio estabelecer as metas e ações de tecnologia das universidades para as em- lências e conhecimentos que abordem, de
específicas para diversos setores em Por- presas e potenciar a certificação dos pro- forma pragmática e sistémica, as atividades
tugal até 2020, desenhando o caminho que dutos; o Programa FITEC – reforço da ação que terão que ser implementadas para ali-
o País deve percorrer na transição para a dos centros de interface tecnológicos, alar- cerçarem a transição dentro das instituições
economia circular. Apresenta sete ações gando o seu contributo para melhorar a ino- e na sociedade em geral. E, no fim, inovar
macro e ações de cariz regional. As ações vação das empresas; e o Fundo Ambiental nas soluções: “Nunca se pode planear o fu-
macro são de âmbito estrutural, com po- – apoiar políticas ambientais para a prosse- turo pelo passado” [Edmund Burke].
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de mais de nove milhões de euros para três paço, entre as quais a Tekever, Active Space
anos, sendo que o projeto Infante já foi Technologies, Omnidea, Active Aerogels, vestigação de todo o País que trabalham
aprovado pela Agência Nacional de Inovação GMV, HPS e a Spin.Works, além de dez cen- em espaço, como, por exemplo, o ISQ, que
para ser cofinanciado pelos fundos estru- tros de investigação e desenvolvimento de será o responsável por toda a área de testes
turais da União Europeia. diversas universidades e laboratórios de in- a peças e do produto final.
DR
que a seca está a produzir em Portugal Con- mólogo de 2016.
tinental, a falta de água nas albufeiras está A Associação Sistema Terrestre Sustentável
a gerar um impacto na produção de eletri- Zero também noticiou que, devido à seca,
cidade pelas grandes barragens. De acordo as centrais térmicas têm vindo a colmatar
com a REN - Redes Energéticas Nacionais, a impossibilidade de gerar eletricidade via
nos primeiros cinco meses de 2017, o con- energias renováveis, pelo que as emissões
sumo acumulado das centrais de ciclo com- associadas à produção de eletricidade entre carbono, um aumento de 5,7 milhões de
binado movidas a gás natural foi de 9.439 janeiro e setembro de 2017 atingiram “cerca toneladas em relação ao mesmo período
gigawatts hora (GWh), o que representou de 24 milhões de toneladas de dióxido de do ano passado [+31%]”.
DR
O portal “Poupa Energia” já se encontra a Este portal é uma iniciativa da ADENE –
funcionar e permite ao consumidor esco- Agência para a Energia, entidade nacional
lher o comercializador de eletricidade e gás incumbida do exercício da atividade de Ope-
natural mais adequado para o seu perfil de rador Logístico de Mudança de Comercia-
consumo. O portal disponibiliza informação lizador, no âmbito do Sistema Elétrico Na-
sobre as ofertas dos comercializadores de cional e do Sistema Nacional de Gás Natural,
eletricidade e gás natural disponíveis no através do Decreto-lei n.º 38/2017, de 31 • O “Poupa Energia” encontra-se disponível em
mercado liberalizado. de março. www.poupaenergia.pt
DR
Sistemas de Incentivos à Economia Digital”
O IAPMEI – Agência para a Competitividade cionais na era digital, este Guia insere-se na
e Inovação lançou a primeira edição do Guia Estratégia Nacional para a Digitalização da
de Informação “Indústria 4.0 – Sistemas de Economia. O documento tem como obje- para o investimento no contexto da Indús-
Incentivos à Economia Digital”, com o apoio tivos centrais acelerar a adoção das tecno- tria 4.0.
do FEDER – Fundo Europeu de Desenvol- logias e conceitos da Indústria 4.0 no tecido
vimento Regional. empresarial português, promover empresas • Disponível para consulta em
Pretendendo gerar as condições para o de- tecnológicas portuguesas a nível interna- www.iapmei.pt/getattachment/Paginas/
senvolvimento da indústria e serviços na- cional e tornar Portugal um polo atrativo Industria-4-0/GuiaIndustria40.pdf.aspx
num conjunto equilibrado de indústria e in- tração populacional, prevê-se que em cen-
vestigação, sendo liderado pela i2cat (Es- tros urbanos isto seja uma necessidade para
panha) e pela NEC (Alemanha). um modelo de rede inovador, que não só cumprir os requisitos do 5G, onde dez a
O principal objetivo do 5GCity passa por servirá para partilhar a infraestrutura de rede cem vezes mais dispositivos estarão ligados,
desenvolver, experimentar e implementar entre operadores móveis (através de neutral transmitindo um volume de dados mil vezes
DR
por deixar de continuar a fazer processamento em serviços cen-
tralizados na “cloud”, que requer um elevado custo de manutenção,
e passar a distribuir este processamento pela rede, nomeadamente
na “edge” da mesma, mais perto dos dispositivos, reduzindo assim
a latência na comunicação, não correndo o risco de violação de
privacidade dos dados mais sensíveis e melhorando a performance
das soluções.
As três cidades-piloto, Barcelona, Lucca e Bristol, servirão para va-
lidar os múltiplos casos de uso planeados, tais como: Neutral Hos-
ting (partilha de infraestrutura de rede entre operadores móveis);
Transmissão multimédia em Ultra HD; e Prevenção de colocação
não autorizada de lixo. com sensores de monitorização, permitirão medir, por exemplo, a
A Ubiwhere e a MogTechnologies são as duas empresas portuguesas qualidade do ar ou o tráfego automóvel. A MogTechnologies irá
envolvidas no projeto 5GCity. A Ubiwhere, empresa de software contribuir com aquisição e produção de conteúdos de vídeo, bem
focada em Smart Cities e Telecomunicações, irá contribuir para o como ligação aos media, uma vez que irão ser explorados no 5GCity:
desenvolvimento da plataforma que possibilitará a partilha da in- transmissão em direto via telemóvel, distribuição de vídeo UHD e
fraestrutura de rede entre operadores móveis e irá explorar o seu aquisição/produção de vídeo em direto na “edge” e na “cloud”.
produto, o Smart Lamppost, instalando “postes inteligentes” capazes
de servir como antenas de comunicação móveis e que, equipados • Mais informações sobre o Projeto 5GCity disponíveis em www.5gcity.eu
• Sessões de Ambiente e Eletrotécnica com elevada participação » ver secção Regiões » NORTE
Iniciativas Regionais • Instalações Elétricas – Desafios Para o Setor » ver secção Regiões » CENTRO
• Visita Técnica à ANACOM » ver secção Regiões » MADEIRA
Colégio Nacional de
Engenharia Mecânica
Gonçalo Manuel Fernandes Perestrelo › gfperestrelo@gmail.com
• Indústria 4.0 – Impactos no Setor Industrial, Pessoas e Sustentabilidade » ver secção Regiões » CENTRO
Iniciativas Regionais
• Sessão Temática sobre “Bacalhau” » ver secção Regiões » CENTRO
Colégio Nacional de
Engenharia Geológica e de Minas
Teresa Burguete › teresa.burguete@gmail.com
hidrocarbonetos. A incerteza nos modelos principal processar e analisar imagens óticas (cone de queda) e vane (aplicada através de
de reservatórios resulta da escassa infor- e de radar que cobrem a área de estudo e um viscosímetro e de um reómetro). A partir
mação e de medições indiretas de dados combiná-las num SIG para identificar pa- dos resultados obtidos procedeu-se à iden-
que podem comprometer a reliabilidade na drões de águas subterrâneas em aquíferos tificação dos ensaios que apresentaram me-
previsão da produção. O ajuste de histórico fraturados e bacias sedimentares nos vales. lhores resultados e correlações com o teor
é um processo habitualmente usado em As observações de campo e os dados geo- de sólidos das misturas e com os valores de
modelação de reservatórios com a finali- lógicos permitiram distinguir dois principais tensão de cedência obtidos com o viscosí-
dade de reduzir as incertezas relacionadas tipos de aquíferos na área de estudo, um de metro e com o reómetro. As conclusões
aos dados dinâmicos observados, mas ge- tipo detrítico e outro fraturado, que é o ob- obtidas sobre a influência de certos parâ-
ralmente negligencia a consistência geoló- jeto deste estudo. metros nos valores de tensão de cedência,
gica do modelo. Assim sendo, apesar de Os resultados mostram que a integração e determinados por ambos os equipamentos,
reproduzir a resposta dinâmica do reserva- interpretação de diferentes camadas temá- foram matematicamente comprovadas num
tório, o modelo pode evidenciar caracterís- ticas, tais como lineamentos, drenagem, estudo estatístico baseado na proposta e
ticas geológicas irrealistas. O presente tra- índice de vegetação e dados de campo, são validação de modelos de regressão linear
balho propõe uma metodologia para ajuste úteis para prever áreas de recarga e des- múltipla.
de histórico de reservatórios aplicada num carga. O método de ensaio fall cone, adaptado a
caso de estudo padrão de referência na in- No que diz respeito à qualidade da água, o este tipo de material, foi o que obteve me-
dústria. O processo de ajuste de histórico estudo hidrogeoquímico mostrou que para lhores resultados. Tratando-se de um mé-
passa pela aplicação de uma abordagem de os parâmetros físico-químicos analisados, todo simples, económico e expedito para
otimização multiobjetivo com amostragem as águas subterrâneas da área de estudo a determinação da tensão de cedência de
estocástica adaptativa, Multi-Objective Par- podem ser avaliadas como águas de boa pasta, considera-se que o estudo realizado
ticle Swarm Optimisation. Após otimização qualidade. constitui um importante contributo para a
de parâmetros geológicos, é obtido simul- medição da tensão de cedência, pelo que
taneamente o ajuste das propriedades pe- Maria Ângela Silva se recomenda a sua frequente utilização no
trofísicas e das variáveis de produção. A in- Determinação laboratorial controlo de qualidade e nas medições, in
certeza nas previsões é quantificada e ca- de propriedades reológicas situ, deste tipo de enchimento mineiro.
racterizada através de técnicas de inferência de pasta de enchimento.
Bayesiana tais como Neighbourhood Algo- Um caso de estudo das minas Joel Pequito
rithm-Bayes e Bayesian Model Averaging. A Zinkgruvan e Neves-Corvo Uma alternativa “verde” para o
metodologia proposta provou que em mo- A reologia é uma das propriedades mais im- processamento de areias siliciosas
delos com diferentes parametrizações, o portantes do enchimento de pasta, na me- Uma areia siliciosa é um recurso natural que
ajuste dinâmico continua bom e as proprie- dida em que determina a viabilidade de funciona como uma matéria-prima para
dades estáticas são melhor reproduzidas. É transporte deste material por longas distân- variadas indústrias, tais como as das tintas,
identificado um bom balanço entre os ob- cias no subsolo. A caracterização reológica cimentos, enchimentos, mas também para
jetivos estático e dinâmico, o que leva a dis- da pasta de enchimento constitui uma ta- realizar moldes para a indústria da fundição,
tribuições mais realistas do modelo. Na de- refa difícil, complexa, ainda assim, desafiante, para a indústria vidreira, entre outras. A in-
dução das previsões, os modelos com di- tendo em conta o elevado número de fa- dústria do vidro ótico é a mais exigente e,
ferentes parametrizações demonstraram tores variáveis. Até ao momento, ainda não como tal, é necessário submeter a areia a
previsões fidedignas tanto a nível de poços foram criados procedimentos e/ou métodos uma série de processos de beneficiação. É
como de produção cumulativa de óleo e standard para a medição das propriedades comum recorrer-se à flutuação por espumas,
água, estando o valor real englobado no reológicas deste material, de forma parti- que é um método bastante eficiente para a
intervalo credível P10-P50-P90. cular, a tensão de cedência. remoção dos contaminantes da areia numa
O trabalho experimental realizado consistiu fase final da sua linha de processamento,
Irina Miguel no desenvolvimento de um programa pre- mas este também é um método que recorre
Identificação de padrões de água ciso de testes laboratoriais que permitisse a uma grande quantidade de água e rea-
subterrânea com base em deteção avaliar, medir e compreender as proprie- gentes químicos possuindo algum impacte
remota. Caso de estudo de um dades reológicas deste tipo de pasta. Neste ambiental.
aquífero fraturado em rocha sentido, realizou-se uma vasta bateria de Pretendeu-se com este trabalho estudar a
dura, Wako Kungo, Angola ensaios, no laboratório GeoLab, no Instituto possibilidade de realizar a substituição desse
A água subterrânea é considerada a maior Superior Técnico, a diferentes misturas, pro- método por um método alternativo com
porção dos recursos de água doce do Mundo. duzidas com cimento, água e rejeitados menor impacte no ambiente e também, de
A água subterrânea é utilizada em vários provenientes das minas de Zinkgruvan e de modo a facilitar a análise dos produtos, de-
centros urbanos das províncias do litoral de Neves-Corvo. senvolver um método de caracterização
Angola e nas províncias áridas do sul é uma Para determinar a viscosidade e a tensão de com recurso à análise de imagem com base
das principais fontes de abastecimento nas cedência destas misturas, efetuaram-se os na cor das partículas.
zonas rurais. ensaios seguintes: slump (abaixamento), Foi realizado um plano de ensaios, avaliando
O presente trabalho tem como objetivo flow table (mesa de espalhamento), fall cone os resultados em termos da recuperação
de quartzo e teor de quartzo no produto Gergana Ivanova Vanova As ferrovias representam uma das principais
concentrado com base no método desen- Anionic surfactant and low vias de comunicação de um país, possibili-
volvido de análise de imagem. Os resultados molecular weight polymer tando a ligação de diversos locais por meio
destes ensaios permitiram definir um critério as cEOR methods for carbonates. terrestre, com o intuito de transportar cargas
para maximizar ambos os resultados che- Coreflooding Experiments ou passageiros de modo económico. Por
gando a uma recuperação de quartzo de at Reservoir Conditions este motivo, é essencial garantir a sua pre-
71,5% e um teor em quartzo de 99,89% no A abundância e a complexidade dos reser- servação e o seu funcionamento adequado
produto concentrado. vatórios de calcário fez deles o objeto de durante o respetivo tempo de vida útil.
Foram realizados ainda alguns ensaios com estudo mais investigado nas últimas décadas. Ao longo destas infraestruturas viárias é pos-
a mesma areia num separador magnético Ao mesmo tempo, a maior parte dos campos sível identificar taludes de escavação na sua
Frantz resultando numa recuperação de de petróleo estão a envelhecer e a recupe- envolvente que, frequentemente, se encon-
quartzo de 99,92% e um teor em quartzo ração primária vai deixando de ser suficiente tram instabilizados, por diferentes tipos de
de 99,88%. Quando comparados os con- para manter a produção de hidrocarbonetos. movimentos de massa. Por essa razão,
centrados com a alimentação, o ensaio Neste cenário, a recuperação melhorada de existem diversos sistemas de classificação
ótimo da mesa oscilante indica uma re- petróleo, apesar de não ser uma temática que pretendem avaliar a necessidade de in-
moção de cerca de 56% dos contaminantes recente, tem vindo a ganhar mais atenções tervenção, em infraestruturas lineares, e
de cor escura, onde se incluem os conta- a cada dia que passa, com a procura de priorizar a intervenção nos taludes de maior
minantes de ferro. O pior ensaio da sepa- novas ou o aperfeiçoamento de técnicas já risco.
ração magnética apresentou uma remoção existentes. Uma das técnicas mais promis- Na presente dissertação inventariaram-se
de 77,13% e o melhor de 97,73% de partí- soras é a recuperação melhorada de pe- os taludes de escavação rochosos de uma
culas de cor escura. tróleo pelo uso de surfactantes. linha ferroviária com a finalidade de identi-
Surfactantes são moléculas capazes de re- ficar aqueles que representassem maior risco
Alexandre Vieira duzir significativamente a tensão interfacial para priorizar a sua reabilitação. Através de
Avaliação do Potencial Mineiro entre água e petróleo, conseguindo dessa métodos expeditos realizou-se a caracteri-
das Escombreiras da Mina maneira alterar a molhabilidade da rocha zação geológica e geotécnica dos taludes,
de S. Domingos reservatório e mobilizar hidrocarbonetos procedendo-se à descrição dos sistemas de
Localizado na Faixa Piritosa Ibérica, o jazigo adicionais. O problema do uso de surfac- descontinuidades e mecanismos de rotura
de São Domingos foi explorado na época tantes é a sua adsorção na rocha reserva- existentes, bem como à caracterização das
romana e entre 1854 e 1966, tendo sido es- tório. A adsorção de surfactante pode ser valas de captação e dos sistemas de dre-
cavada uma corta com 120m de profundi- minimizada adicionando inibidores de ad- nagem associados.
dade e abertas galerias mineiras até 420m. sorção, como por exemplo polímeros de Os taludes foram sujeitos a uma primeira
O minério é formado por sulfuretos maciços baixo peso molecular. análise, em função da sua geometria e das
e stockwork (py, cpy, sph, ga, tt, aspy) e res- Neste estudo, uma formulação de um sur- respetivas valas de captação, segundo o
petivo enriquecimento supergénico (chapéu factante aniónico da Cepsa com um car- ábaco de Ritchie, que permite dimensioná-
de ferro hematítico e zona de covelite/cal- boxilato como co-surfactante e um polí- -las e caso estas cumpram os critérios de
cocite), encontrando-se associado a vulca- mero de baixo peso molecular é proposta; dimensionamento (em largura e em pro-
nitos félsicos e xistos negros do Complexo o seu desempenho foi testado em expe- fundidade) sugeridos, considera-se que o
Vulcano-Sedimentar. riências de coreflooding sobre calcários, a talude não representa risco significativo para
Recorrendo a cartografia das diferentes pressão de 10bar e temperatura de 120oC. a via, uma vez que as valas permitem uma
classes de escombreiras, chapéu de ferro, Além disso, o estudo reológico de um po- captação ideal dos blocos e, portanto, não
rochas vulcânicas e xistos, xistos e aterros, límero de alto peso molecular foi realizado, se justificaria a sua reabilitação. Àqueles que
e considerando a caracterização efetuada de maneira a implementar uma solução foram considerados de risco, procedeu-se
pela empresa CONASA (162 poços e 160 drive de polímero numa das experiências à respetiva classificação e gestão do risco
sondagens de circulação inversa/base de de coreflooding. para rodovias, Unstable Slope Management
dados LNEG), foram inferidos novos recursos Com a formulação proposta foi possível au- System, desenvolvido, pelo Departamento
usando software de modelação por blocos. mentar em >20% o petróleo recuperado. dos Transportes do Estado de Washington.
Considerando alguns fatores limitantes à Os níveis de adsorção/retenção de surfac- Após as devidas adaptações deste sistema
remoção dos resíduos, foram avaliados di- tante variaram entre 1,51mgsurf/grocha e para aplicação em ferrovias, avaliam-se pa-
ferentes cenários. O mais restritivo aponta 2,88mgsurf/grocha. A solução drive de po- râmetros inerentes ao talude e à ferrovia,
para um recurso de 2.4 Mt com 0.77 g/t Au límero contribuiu para aumentar a viscosi- determinando-se, assim, se cada talude em
e 8.26 g/t Ag (volumes sem condicionantes dade da fase aquosa e não apresentou pro- particular necessitava, ou não, de inter-
à exploração). Considerando todos os re- blemas de injectividade na rocha de baixa venção. Para os taludes que se conclui que
cursos avaliados (incluindo áreas urbanas) permeabilidade (18mD) em que foi testada. necessitam de ser intervencionados são su-
inferem-se valores de 3.9 Mt com 0.64 g/t geridas algumas soluções de reabilitação,
Au e 7.30 g/t Ag, correspondendo a um Loubna Kerfah tendo como base o Slope Mass Rating. Fi-
conteúdo em metal de 82 878 oz t Au e 955 Reabilitação de taludes de nalmente, tecem-se considerações sobre a
753 oz t Ag. escavação rochosos em ferrovias eficácia da metodologia adotada.
potencial mineiro, beneficiando de custos criação de condições que facilitem o acesso tem dez parceiros de nove países. Portugal
de pesquisa reduzidos e uma maior segu- ao território para a atividade de gestão dos está representado no projeto MIN-GUIDE
rança em termos de investimento para fu- recursos geológicos e a compatibilização da pela Universidade de Aveiro, coordenando
turos projetos mineiros. A recuperação da sua gestão com outras ocupações do terri- a área específica da mineração marinha,
informação sobre locais de exploração his- tório na União Europeia. As conclusões e atendendo ao propósito mais abrangente
tóricos, atualmente inacessíveis, ajudará, recomendações deste projeto poderão cons- do projeto de construir um Guia com as
igualmente, a documentar e proteger o pa- tituir ferramentas de apoio aos decisores nas Legislações/Políticas Mineiras dos 28 países.
trimónio mineiro único da Europa. O pro- áreas dos recursos geológicos e do ordena- Os principais objetivos do projeto MIN-
jeto teve início em 2016, com a duração mento do território. Com início em dezembro -GUIDE consistem na criação de uma base
prevista de 45 meses e a primeira demons- de 2017 prevê-se que este projeto esteja informativa de caráter legislativo para os
tração terá lugar em meados de 2018 (www. concluído em novembro de 2019. recursos geológicos e áreas afins, existentes
unexmin.eu). em cada Estado-Membro, ajudando a es-
MIN-GUIDE tabelecer bases para a política mineira na
MINLAND União Europeia, facilitando a tomada de
O projeto MINLAND – Mineral resources in decisão e promovendo a construção de
sustainable land-use planning, coordenado redes de gestão e conhecimento para os
pelos Serviços Geológicos da Suécia, tem recursos minerais. Este projeto, com início
como parceiros portugueses a Direção-geral em fevereiro de 2016 e conclusão prevista
de Energia e Geologia e o Laboratório Na- para janeiro de 2019, prevê a realização de
cional de Energia e Geologia. Os principais O MIN-GUIDE é financiado pela Comissão cinco Policy Laboratories e de três confe-
objetivos do projeto MINLAND consistem na Europeia no âmbito do H2020 e o consórcio rências anuais (www.min-guide.eu).
Colégio Nacional de
Engenharia Química e Biológica
Manuel Fernando Ribeiro Pereira › fpereira@fe.up.pt
DR
em 20 de dezembro de 2017, a Assembleia versário da descoberta do Sistema Periódico
Geral das Nações Unidas (ONU) proclamou por Dmitry Mendeleev, em 1869. Os quatro
2019 como o Ano Internacional da Tabela elementos mais recentes (115-118) foram
Periódica (IYPT 2019). Com esta iniciativa, adicionados na Tabela Periódica, com a
as Nações Unidas reconhecem a impor- aprovação dos seus nomes e símbolos, em
tância de aumentar a consciência global do 28 de novembro de 2016.
papel da Química no desenvolvimento sus- O Ano Internacional da Tabela Periódica
tentável e na procura de soluções para os coincidirá ainda com o centenário da IUPAC
desafios globais em energia, educação, agri- Periódica e das suas aplicações para a so- (IUPAC100). Os eventos da IUPAC100 e do
cultura e saúde. Este Ano Internacional irá ciedade durante 2019. IYPT aumentarão a compreensão e rele-
reunir diferentes stakeholders, incluindo a O desenvolvimento da Tabela Periódica é vância da Tabela Periódica e da Química em
UNESCO, sociedades científicas, instituições uma das realizações mais importantes na geral entre o público. O 100.º aniversário
de ensino e de investigação, plataformas Ciência e um conceito científico unificador, da IUPAC será a 28 de julho de 2019 no ca-
tecnológicas, organizações sem fins lucra- com amplas implicações em Astronomia, lendário de aniversários da UNESCO.
tivos e parceiros do setor privado para pro- Química, Física, Biologia e outras ciências
mover e celebrar o significado da Tabela naturais. O Ano Internacional da Tabela Pe- Fonte: IUPAC
selheiro da Ordem dos Engenheiros, Inves- distinguido pela Federação Europeia de Cor-
tigador do CICECO e Diretor do Departa- rosão com a atribuição da European Cor-
mento de Engenharia de Materiais e Cerâ- rosion Medal. Em 2014, foi o contemplado
mica da Universidade de Aveiro, foi reco- com a Medalha Cavallaro, criada pela Uni-
nhecido como Fellow da The Electroche- versidade de Ferrara e atribuída, desde 1965,
mical Society. Este prémio foi estabelecido a um cientista que se tenha distinguido par-
em 1989 para contribuições tecnológicas ticularmente pela sua atividade e publica-
avançadas individuais nos campos da ele- ções no campo da corrosão. Em 2013, foi
troquímica e da ciência do estado sólido. O tional Corrosion Council, participando em distinguido com a H. H. Uhlig Award, da Di-
Professor Mário Ferreira desenvolve a sua diferentes grupos de trabalho da Federação visão de Corrosão da The Electrochemistry
atividade no campo da corrosão há 40 anos, Europeia de Corrosão. É também membro Society (EUA), um prémio criado em 1972
tendo ainda contribuído para várias áreas do Steel Advisory Group do The Research para reconhecer a excelência na investi-
relacionadas. Steel and Coal Fund da União Europeia. É gação e contribuições técnicas relevantes
O Professor Mário Ferreira tem sido extre- ainda membro do Working Party on Elec- para o campo da ciência da corrosão.
mamente ativo em diversas sociedades cien- trochemical Engineering da Federação Eu-
tíficas, representando Portugal no Interna- ropeia de Engenharia Química (EFCE). Em Fonte: EFCE
DR
medidas para restringir a utilização de mi- os europeus geram 25 milhões de toneladas
croplásticos nos produtos e fixará rótulos de resíduos de plástico, “das quais menos
para os plásticos biodegradáveis e compos- de 30% são recolhidas”, enquanto “85% dos
táveis”. A deposição de resíduos no mar será resíduos encontrados nas praias de todo o
proibida, com novas normas a aplicar nos mundo” é plástico.
portos e nos navios. A Comissão pretende Documento da “Estratégia para os Plásticos”
também fomentar o investimento e a ino- da CE disponível em http://ec.europa.eu/
vação nesta área, prevendo 100 milhões de recicláveis, o aumento da eficiência do pro- environment/circular-economy/pdf/plastics-
euros adicionais para financiar “a criação de cesso de reciclagem e o rastreio e elimi- -strategy.pdf
materiais plásticos mais inteligentes e mais nação de substâncias perigosas e contami- Fonte: Lusa, Comissão Europeia
ChemPor 2018 A Universidade de Aveiro e a Ordem dos Engenheiros vão organizar a 13th International Chemical and
Biological Engineering Conference – ChemPor 2018, na cidade de Aveiro, de 2 a 4 de outubro de 2018.
Em breve será disponibilizada mais informação sobre esta conferência.
Colégio Nacional de
Engenharia Naval
Tiago Alexandre Rosado Santos › t.tiago.santos@gmail.com
Jornadas de Engenharia e Tecnologia Marítima 2018 vão sendo produzidos no setor, constituindo
uma oportunidade de debate sobre pro-
Realizar-se-ão entre 7 e 9 de maio, no Ins- O evento, de natureza técnico-científica, blemas das várias áreas ligadas ao setor ma-
tituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, as permitirá a apresentação dos trabalhos que rítimo nacional, com vista a contribuir para
15.as Jornadas de Engenharia e Tecnologia o seu progresso. Serão realizadas sessões
DR
Marítima. Este evento representa uma con- sobre estaleiros navais, projeto naval, navios
tinuidade em relação às tradicionais Jor- militares, eficiência energética e novos com-
nadas Técnicas de Engenharia Naval, que bustíveis, transportes marítimos, portos,
começaram em 1987, sempre por meio de entre outros temas.
uma organização conjunta do IST e do Co-
légio de Engenharia Naval da Ordem dos • Mais informações disponíveis em
Engenheiros. www.centec.tecnico.ulisboa.pt/martech2018/pt
DR
ração das causas dos acidentes e no desen- sabe ocasionar a perda da capacidade de
volvimento de procedimentos operacionais manobra, levando ao encalhe do mesmo.
que permitam evitar a repetição de ocor- Em finais de janeiro completou-se a ope-
rências deste género. ração de remoção do combustível, óleo lu-
brificante e hidráulico do navio, sem causar
DR
Colégio Nacional de
Engenharia Geográfica
Maria João Oliveira de Barros Henriques › mjoaoh@gmail.com
da batalha foi estruturante para a Europa: se o que veio a acontecer em 453. O novo rei senador Petrónio Máximo como novo im-
Átila a tivesse ganho, a Europa de hoje seria Teodorico II adotou uma política pró-ro- perador. Petrónio não resistiu ao saque de
muito diferente. mana: começou por ajudar a dominar as Roma pelos Vândalos de Genserico (foi
Torismundo sucedeu a seu pai Teodorico revoltas de camponeses (bagaudas) na Tar- morto pelos próprios romanos) e Teodorico
em 451 e herdou o antagonismo deste com raconense (453-454). Entretanto, o impe- II aproveitou a anarquia reinante para entrar
Aécio. Após Torismundo tentar tomar Arles rador Valentiniano III mandou assassinar em Roma com o exército Visigodo e obrigar
aos romanos, Aécio começou a conspirar Flávio Aécio (454) e foi assassinado (455) o Senado a eleger, como imperador, o se-
com os seus irmãos Teodorico (II) e Frede- por dois oficiais fiéis a Aécio. nador Avito, natural da Gália e amigo do pai
rico e induziu-os a assassinar Torismundo, Ainda em 455, o Senado Romano elegeu o Teodorico e dos Visigodos.
Colégio Nacional de
Engenharia AGRONÓMICA
Miguel Castro Neto › mneto@novaims.unl.pt
› Como é que a agricultura e a Engenharia Agronómica influen- Agência Europeia do Ambiente – Agricultura e Alterações Climáticas
ciam a mudança climática? › https://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2015/artigos/a-
› Como será afetada pelas alterações climáticas a agricultura em -agricultura-e-as-alteracoes-climaticas
Portugal e na União Europeia? Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural –
› Qual o papel da Engenharia Agronómica para promover a re- – Agricultura e Alterações Climáticas
dução das emissões e como se pode adaptar a agricultura a estas › https://ec.europa.eu/agriculture/climate-change_pt
alterações do clima? European Climate Adaptation Platform – Agriculture
› http://climate-adapt.eea.europa.eu/eu-adaptation-policy/sector-
Deixamos aqui algumas sugestões de fontes de informação para o -policies/agriculture
debate que levaremos a cabo este ano: European Commission Climate Action – Forests and Agriculture
› https://ec.europa.eu/clima/policies/forests_en
AJAP – Alterações Climáticas e Agricultura EU Agriculture and Climate Change Fact-Sheet
›
http://agrinov.ajap.pt/index.php/temas/alteracoes-climaticas-e- › https://ec.europa.eu/agriculture/sites/agriculture/files/climate-
-agricultura -change/factsheet_en.pdf
Colégio Nacional de
Engenharia Florestal
Luis Rochartre › lrochartre@hotmail.com
Iniciativas Regionais • Sessão Técnica dedicada ao Medronheiro » ver secção Regiões » CENTRO
Colégio Nacional de
Engenharia de Materiais
Luis Gil › luis.gil@dgeg.pt
No passado dia 8 de novembro celebrou-se tação de uma palestra “Os Materiais e a In-
o Dia Mundial dos Materiais, na Universidade dústria 4.0”, proferida pela Professora Dou-
da Beira Interior, na Covilhã. Durante o pe- tora Teresa Vieira, do DEM/FCTUC.
ríodo da manhã foram apresentados os tra- A aluna de doutoramento da Universidade
balhos a concurso. Em disputa pelo prémio da Beira Interior, Beatrice Paiva Santos, rea-
Filipe Rosas Coutinho (FEUP)
Sociedade Portuguesa de Materiais, nove tra- lizou uma apresentação “Indústria 4.0 – De- Study and development of a metal additive
balhos foram expostos e discutidos. O prémio safios e Oportunidades”, que juntamente manufacturing system
Ordem dos Engenheiros contou com quatro com a apresentação anterior lançaram o versidade de Aveiro, Adriana Magueta.
trabalhos em prova. Os mesmos foram ava- debate que se seguiu. A Professora Doutora Paula Vilarinho, Pre-
liados por júris distintos para cada categoria. A J-SPM foi apresentada aos presentes pela sidente da Sociedade Portuguesa de Mate-
O programa contou ainda com a apresen- voz da aluna de mestrado em Materiais e riais, fez o balanço do dia e encerrou a sessão
Dispositivos Biomédicos do DEMaC, Uni- após entrega de prémios.
Prémio SPM
o processo de extração do hidrogénio con- funcionavam com água pura. Isto vai permitir
tido na água salgada. O investigador da uni- aceder com mais facilidade a uma maior
versidade americana, que está a trabalhar quantidade de hidrogénio, para ser usado em
nesta área há uma década, propõe usar um células de combustível, uma alternativa aos
fotocatalisador, uma película microscópica carros elétricos com baterias de iões de lítio.
de dióxido de titânio, com cavidades cobertas Fonte: www.motor24.pt
DR
tipo de pneu muito diferente dos habituais, o pneu Vision. Um pneu
biodegradável, sem ar e impresso em 3D.
Como é que um pneu sem ar pode ser útil para um carro, uma vez
que os pneus são uma parte muito importante de um carro? Com
funções como amortecer as irregularidades do solo, ter força de
tração, e manter e permitir a mudança de direção?
O pneu Vision possui vários sensores que transmitem informações
relevantes sobre as condições da estrada e o seu próprio estado.
Assim, é mais fácil para o condutor saber quando deve trocar os
pneus do seu carro.
Devido aos atuais pneus serem feitos de componentes bastante
poluentes para o meio ambiente, libertarem pequenas partículas
que têm altos níveis de toxicidade que contaminam a atmosfera, e No seu interior o conceito é similar ao encontrado nos corais, onde
ainda serem de difícil degradação, esta é uma invenção importante a crosta é constituída de forma a proteger e resistir à pressão que
para o futuro. lhes é feita, por exemplo, pelas ondas do mar. O pneu começa por
De forma a conseguir pneus mais amigos do ambiente, a Michelin ser complexo no centro e vai ficando gradualmente mais suave no
criou este novo conceito, impresso em 3D a partir de material bio- exterior. Desta forma o pneu nunca pode explodir ou entortar.
degradável constituído por borracha natural, bambu, papel, ma- Para além da sua forma inovadora de fabrico, estes pneus podem
deira, latas, resíduos eletrónicos, aparas de pneus e até cascas de ainda adaptar-se aos vários tipos de estrada.
laranja e roupas. Fonte: http://kids.pplware.sapo.pt
Colégio Nacional de
Engenharia Informática
Ricardo de Magalhães Machado › colegioinformatica@oep.pt
Colégio Nacional de
Engenharia do Ambiente
Lisete Calado Epifâneo › lisete.epifaneo@estsetubal.ips.pt
APA, 2018
Está disponível para consulta o Relatório do alguns dos atuais desenvolvimentos da po-
Estado do Ambiente 2017 (REA 2017). A lítica ambiental.
edição inclui fichas temáticas de indicadores, Os 11 artigos (https://sniambgeoviewer.apam-
organizadas em oito domínios ambientais: biente.pt/GeoDocs/geoportaldocs/REA/
Economia e Ambiente, Energia e Clima, REA2017/ArtigosREA2017.pdf) apresentados
Transportes, Ar e Ruído, Água, Solo e Bio- em documento separado, mas parte inte-
diversidade, Resíduos e Riscos Ambientais. grante deste relatório, contemplam temas
O Relatório contém ainda oito infografias, tão diversos como a seca de 2017, o orde-
uma para cada domínio ambiental, que re- namento do território, as estratégias muni-
sumem os valores-chave da evolução dos cipais de adaptação às alterações climáticas,
indicadores analisados. O documento apre- o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, a
senta, também, a atualização dos cenários economia circular, as guias eletrónicas de
macroeconómicos de possível evolução da acompanhamento de resíduos, os objetivos a Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
economia portuguesa no horizonte 2050. de desenvolvimento sustentável, a conser- O REA 2017, que comemora em 2017 trinta
À semelhança da edição de 2015, o REA vação e gestão sustentável do oceano, o lixo anos de análise do estado do ambiente em
2017 retoma a publicação de artigos sobre marinho, a plataforma única de inspeção e Portugal, pode ser consultado em https://
temáticas ambientais, procurando abordar fiscalização da agricultura, mar e ambiente e rea.apambiente.pt
Iniciativas Regionais • Sessões de Ambiente e Eletrotécnica com elevada participação » ver secção Regiões » NORTE
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
Atividade
da Especialização
• Está em preparação, para maio, uma Vi-
sita Técnica à zona norte do País, espe-
cificamente à Frulact e Conservas Rami-
rez;
• A 20 de fevereiro, e no âmbito do pro-
tocolo com a Qualifica, teve lugar o Se-
minário “Produtos Tradicionais: qualifi-
evolução da atividade da Novadelta contri- cação e coisas mais”, tema abordado da OE agradece o almoço gentilmente ofe-
pela Eng.ª Ana Soeiro num evento que
buem ainda os princípios do desenvolvi- recido. Nesse dia, fomos recebidos pelo
registou elevada procura por parte dos
mento sustentável e da otimização de re- Comendador Rui Nabeiro, tendo o Vice-
profissionais da área Alimentar;
cursos. -presidente Nacional da OE, Eng. Carlos
• Ocorreu a 5 de janeiro uma reunião na
Esta iniciativa, que registou grande procura, sede regional da OE, em Coimbra, dedi- Loureiro, entregue uma medalha.
permitiu visitar a Fábrica de Torrefação do cada aos “Atos Próprios do Engenheiro Uma palavra de agradecimento à colega
Café, o Centro de Ciência do Café e a Adega- Alimentar”, que se encontram em fase Especialista Eng.ª Maria João Cunha, da
-Enoturismo. de finalização para darem entrada na As- Delta Cafés, pelo empenho na preparação
sembleia da República.
A Especialização em Engenharia Alimentar desta Visita Técnica.
Especializações Horizontais
e Energia”, e contou com um painel de ora- Após as várias intervenções, o debate foi no final que o Ministério do Ambiente iria
dores convidados: Dr.ª Maria de Jesus Chas- estendido a todo o auditório. enviar em breve para a Assembleia da Re-
queiro, da Direção Geral de Saúde, Dr.ª Fi- pública uma proposta de lei que estabele-
lipa Costa Ferreira, do Instituto Nacional de Em fase de encerramento, o Eng. Serafin cerá o regime de prevenção e controlo da
Saúde Doutor Ricardo Jorge, Eng. Ricardo Graña apresentou as conclusões, cabendo Doença dos Legionários, estabelecendo um
Sá, Perito em Qualidade do Ar Interior, e ao Eng. Carlos Mineiro Aires, Bastonário da conjunto de procedimentos relativos ao uso
Eng. Serafin Graña, Coordenador da Espe- OE, a saudação e apresentação do Ministro e à manutenção de redes, sistemas e equi-
cialização em Engenharia de Climatização do Ambiente, Eng. João Matos Fernandes, pamentos nos quais a Legionella é capaz
da OE. que encerrou a Conferência, anunciando de proliferar e disseminar.
Especializações Horizontais
Especialização em GEOTECNIA
Alice Freitas › aafreitas@ordemdosengenheiros.pt
Especialização em GEOTECNIA
Especializações Horizontais
Especialização em METROLOGIA
Alice Freitas › aafreitas@ordemdosengenheiros.pt
Especialização em METROLOGIA
Especialização em METROLOGIA
CONFMET 2018
Conferência Nacional de Metrologia
A CONFMET 2018 irá decorrer na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa, no Monte de Caparica, em Almada, nos dias 27 e 28 de novembro.
O prazo para submissão de resumos de comunicações decorre até 29 de julho.
Poderão também ser apresentadas propostas para a organização de sessões tutoriais, ter-
minando a 30 de abril o prazo para tal.
A Especialização em Metrologia da Ordem dos Engenheiros apoia a SPMet – Sociedade
Portuguesa de Metrologia e a RELACRE – Associação Nacional de Laboratórios Acredi-
tados na organização do evento.
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
tração, à estrutura/“design”/ergonomia da FREVUE. A apreciação geral é positiva mas mencionadas as características técnicas do
carroçaria e ao “hardware” e “software”. Foram com viabilidade económica só assegurada novo Leaf, versão que esteve em exposição
também focados aspetos da infraestrutura por fundos europeus e incentivos do Estado. no evento.
de carregamento (por cabo/de oportunidade) Ao longo do processo ocorreram algumas Por último, a EDP Distribuição abordou a
versus tempo de operação dos veículos, re- dificuldades relacionadas com o carrega- questão da evolução necessária e dos imensos
ferindo ser importante a análise dos requi- mento das baterias e com a assistência téc- desafios atuais e futuros com os quais as
sitos operacionais dos clientes para a escolha nica a certos veículos, mantendo-se a du- redes de distribuição são (e irão ser) con-
das baterias/sistemas de carregamento. ração das baterias uma incógnita. Contam frontadas: o volume crescente de produção
A Toyota C. Portugal revelou a aposta na prosseguir com projetos deste tipo, como renovável ligado diretamente às redes de
propulsão híbrida Otto/Atkinson – elétrica, complemento para melhorar a sustentabi- distribuição torna mais exigente a sua gestão
dando a conhecer a gama de veículos li- lidade da operação da empresa. eficiente; a evolução dos sistemas de arma-
geiros de propulsão híbrida, em particular A Nissan Iberia salientou o contínuo desen- zenamento, do ponto de vista de custos e
o Toyota Prius Plug-in (a versão mais recente volvimento da tecnologia e as profundas possibilidades técnicas, irá, cada vez mais,
deste modelo e que esteve em exposição alterações sociais e comportamentais a que compensar a variabilidade dos recursos re-
no evento). Mostrou em detalhe o sistema se está a assistir e que conduzirá a uma nova nováveis e permitir oferecer um conjunto de
híbrido – tipos, funcionamento, cadeia ci- era, a da mobilidade elétrica, inteligente, novos serviços energéticos; e, sobretudo, o
nemática e outros componentes, controlo assistida/autónoma e conectada (condu- incremento previsível da quantidade de veí-
do sistema, travagem regenerativa, baterias tores/automóveis/comunidades), contri- culos elétricos em circulação e das infraes-
de tração –, assim como o carregamento buindo de maneira decisiva para minimizar truturas de carregamento necessárias. Com
por cabo “plug-in” e respetivos tempos de os grandes problemas com que o setor se vista a preparar-se para estes desafios, men-
carregamento. depara na atualidade. Assumindo este com- cionou então alguns projetos de inovação,
Os CTT partilharam a experiência na utili- promisso, a Nissan comercializa uma gama que tem vindo a desenvolver, nas áreas de
zação de veículos elétricos a baterias (bici- de veículos elétricos a baterias, nomeada- redes inteligentes (smart grids), micro redes,
cletas, scooters, triciclos, quadriciclos, ligeiros mente o Nissan Leaf, com capacidades de armazenamento e eficiência energética.
de mercadorias e de passageiros), que cor- bidirecionalidade de carregamento, dando Seguiu-se um período de debate, com
respondem atualmente a 9,5% do total da ao utilizador a possibilidade de controlar grande interesse, em que foram analisadas
sua frota. As últimas gerações de veículos como e quando utiliza a energia elétrica e, e discutidas diversas questões, congratu-
elétricos datam de 2013 e de 2015, sendo se assim o entender, de a devolver à rede lando-se a Comissão com a presença de
de relevar a participação no projeto europeu ou de a usar para outros fins. Foram também mais de 120 participantes neste painel.
Resumo Abstract
O domínio do Motor de Combustão Interna (MCI) começa a ser What is the Future of Motor Vehicles – Fuel-Cell, VE, ICE
ameaçado pelo aparecimento das tecnologias Zero Emissão (ZE). The Internal Combustion Engine (ICE) domain begins to be threatened
Há mesmo países que já anunciaram a intenção de proibir a by the appearance of Zero Emission (ZE) technologies. There are
comercialização dos automóveis com MCI a partir de 2030, devido even countries that have already announced the intention to ban
às suas emissões poluentes. Neste artigo são analisadas as duas the marketing of cars with ICE from 2030 due to their pollutant
tecnologias ZE disponíveis e comparadas com o MCI. emissions. In this paper the two available ZE technologies are
analysed and compared to ICE.
permitiu que a produção de energia elétrica tenha cada vez mais 1.3 Mudança das políticas ambientais
incorporação de energias renováveis, que em Portugal no ano de Nas cidades europeias progressivamente será proibida a circulação
2016 atingiu 57% [3]. dos veículos poluidores, permitindo só a circulação de veículos ZE.
O segundo setor que mais contribui para a emissão de CO2, a nível Vários países europeus, entre eles a Alemanha, a partir de 2030 irão
global, é o dos transportes, com uma percentagem de 24% (ver proibir a venda de automóveis com emissões poluentes.
Figura 1). Este setor está quase exclusivamente dependente dos
combustíveis fósseis, porque a única medida tomada por vários 2. VEÍCULOS ZERO EMISSÃO
países foi a incorporação de biodiesel no gasóleo e etanol na ga-
solina de um valor muito reduzido. Nas últimas décadas, para poderem cumprir a legislação europeia
cada vez mais restritiva, os veículos com MCI têm evoluído na re-
Electricity and Heat
dução de emissões poluentes. A descoberta da manipulação por
42%
software das emissões poluentes, por várias marcas, indicia um li-
mite tecnológico do MCI. Com os híbridos é possível reduzir as
emissões poluentes, mas não as anulam, e por isso também serão
proibidos de entrar nas cidades. Noutra estratégia, adotada por ou-
tros construtores, foram desenvolvidos os veículos ZE: veículo elé-
trico com fuel-cell (FCVE) e veículo elétrico (VE).
1 Com a Retificação do Jornal Oficial da União Europeia L 322, de 8 de dezembro de 2010, e as alterações introduzidas pela Diretiva 2015/1480 da Comissão, de 28
de agosto de 2015.
2 Com as alterações introduzidas pelos Decreto-Lei n.º 43/2015, de 27 de março, e Decreto-Lei n.º 47/2017, de 10 de maio.
Figura 4 Motor CA síncrono de ímanes permanentes do Nissan Leaf [7] Figura 7 Redução do preço das baterias [11]
Baterias Carregamentos
A maioria das baterias atuais é construída com células NCM (níquel, O tempo de carregamento irá depender da potência disponível
cobalto e manganês) e eletrólito de iões de lítio, colocadas na pla- para carregar a bateria. A maneira mais fácil de carregar um VE é
taforma entre os eixos (Figuras 5 e 6). A capacidade, presentemente, nas garagens das nossas casas, numa vulgar tomada de 16 A e 3,68
poderá ir até aos 100 kWh, permitindo uma autonomia até 632 km kW (230 Vx16 A). Um VE com bateria de 40 kWh (totalmente des-
[8] em testes normalizados, pois a autonomia real dependerá do carregada) irá demorar 10,9 horas (40 kWh/3,68 kW). Se se consi-
modo de condução. derar o custo da eletricidade de 0,15 €/kWh em vazio (contrato de
O aumento da autonomia dos VE tem sido obtido através da evo- fornecimento de energia com dupla tarifa) e um consumo de 15
lução tecnológica das células, permitindo aumentar a capacidade kW/100 km, o custo será de 2,25 €/100 km.
das baterias sem aumentar o seu peso e volume. Utilizando células Em Portugal já estão disponíveis carregadores rápidos com 60 kW.
Nesta situação, a bateria só carrega 80% e demora 36 minutos › Em centros comerciais;
(0,8x40 kWh/60 kW). O tempo de carga baixava para 7 minutos › Nos hipermercados;
(0,8x40 kWh/322 kW) se se utilizasse um carregador ultra rápido › Noutros locais com grande fluxo de VE, onde se justifique a sua
da Efacec [12]. existência.
BIBLIOGRAFIA
Habitação
[1] Philip J Landrigan et al. – The Lancet Commission on pollution and health.
Para quem tem uma potência contratada que permita o uso de [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em www.thelancet.com/pdfs/jour-
uma tomada de 16 A (ver ponto 2.2), a carga lenta é a ideal. Mas, nals/lancet/PIIS0140-6736(17)32345-0.pdf
com o previsível aumento de vendas irão aumentar os carrega- [2] IEA: International Energy Agency – CO2 emissions from fuel combustion
mentos domésticos, o que poderá sobrecarregar as redes de baixa 2017 HIGHLIGHTS. [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em www.iea.org/
tensão (BT). As redes elétricas BT são dimensionadas com fatores publications/freepublications/publication/CO2EmissionsfromFuelCom-
de simultaneidade inferiores a 1, por se verificar que a probabilidade bustionHighlights2017.pdf
de os consumidores ligarem ao mesmo tempo cargas elevadas é [3] REN – Relatório de Contas 2016 – [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível
em http://relatorioecontas2016.ren.pt/media/78419/rc_completo.pdf
baixa, e se ligarem é no período curto das refeições. A carga do VE
[4] CML: Câmara Municipal de Lisboa – Deliberação n.º 247/CM/2011 – [Con-
altera completamente este paradigma, por ser uma carga elevada
sulta 11 Dez. 2017] – Disponível em www.cm-lisboa.pt/fileadmin/VIVER/
e prolongar-se por muitas horas.
Mobilidade/ZER/Proposta_247-CM-2011_-_1_Fase_ZER.pdf
[5] Toyota. Toyota Mirai – [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em https://
Habitações coletivas (prédios) www.toyota-europe.com/new-cars/mirai/#/video/tfv2-3-0
Nos prédios, o carregamento de VE tem difícil resolução, dado que
[6] Motor AC de indução do Tesla S – [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível
habitualmente as garagens são coletivas e as tomadas são de ser- em https://www.pinterest.pt/pin/423690277421509556/
viços comuns. [7] Motor AC síncrono de ímanes permanentes do Nissan Leaf [Consulta 11
Dez. 2017] – Disponível em https://www.quora.com/How-is-power-trans-
3.2 Cargas rápidas e ultra rápidas de VE mitted-from-electric-motor-to-wheels-in-Nissan-Leaf-car
Os carregadores rápidos já permitem colmatar o problema de quem [8] TESLA [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em https://www.tesla.com/
não tem possibilidade de carregar em casa, que é o caso dos mo- pt_PT/models/design
radores em prédios, com um tempo de carga aceitável (30 minutos). [9] Bateria do Nissan Leaf [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em https://
O aumento de carregadores rápidos até ao número de pontos de www.nissanusa.com
carga dos combustíveis tradicionais é a chave deste problema. Os [10] Bateria da Tesla [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em https://tesla-
portugal.blogspot.pt/2015/01/autonomia-de-conducao-da-familia-model-
futuros carregadores ultra rápidos resolvem definitivamente também
-s.html
o problema do tempo de carga (ver ponto 2.2), ficando compará-
[11] Blomberg [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em https://www.bloom-
veis aos FCVE ou MCI.
berg.com/news/articles/2017-12-05/latest-bull-case-for-electric-cars-the-
Existindo por todo o País infraestruturas elétricas, será fácil a im- -cheapest-batteries-ever
plementação de postos de carregamento com cargas rápidas ou [12] Efacec [Consulta 11 Dez. 2017] – Disponível em http://electricmobility.
ultra rápidas: efacec.com/ev-high-power
› Nos postos de abastecimento atuais;
Ação Disciplinar
Súmula de Sentença proferida pelo mentares aplicáveis, tendo sido assegurados damente, incorreções no livro de obra e no
Tribunal Administrativo e Fiscal de e respeitados os direitos de audiência e de- termo de responsabilidade do diretor téc-
Beja, no seguimento da interposição fesa do A., pelo que carecem em absoluto nico da obra, e que se encontram descritos
de uma Ação Administrativa de fundamento as invalidades que lhes são no parecer técnico que ora se junta; O pa-
Especial de declaração de nulidade assacadas, na presente ação, devendo esta recer citado refere ainda que não tendo a
de acórdão do Conselho Disciplinar improceder totalmente. obra sido objeto de fiscalização municipal
da Região Sul da Ordem dos poderá ser realizada vistoria para a emissão
Engenheiros (OE) e do acórdão FACTOS PROVADOS do Alvará de Autorização de Utilização; Nesta
conjunto do Conselho Jurisdicional sequência, por despacho de 2009-01-27, a
e do Conselho Diretivo Nacional Considera-se assente, com interesse para Comissão de Vistorias (…) deslocou-se ao
da OE, que aplicaram a pena de a decisão da causa, que: local da obra e, em relatório, descreveu as
Censura Registada a um Engenheiro. Em 2009-07-27, o Município de XX parti- diversas alterações ao projeto aprovado,
cipou à OE irregularidades detetadas no tendo em suma constatado que “(…) o edi-
termo de responsabilidade subscrito pelo fício vistoriado não reúne condições para a
A. relativo a uma obra de construção, de emissão da autorização de utilização, dado
que ressalta: “…Em 2007-02-22 deu entrada que a obra erigida não está em conformi-
na Câmara Municipal de XX um pedido de dade com o projeto aprovado”; Em 2009-
X
XX intentou uma ação administrativa apreciação de projeto de arquitetura rela- -01-28, o diretor técnico da obra (também
especial contra a OE, pedindo a de- tivo à construção de um edifício de habi- autor do projeto de arquitetura e de enge-
claração de nulidade ou a anulação tação unifamiliar (…); O participado é, simul- nharia de especialidades), ora participado,
do acórdão do Conselho Disciplinar da Re- taneamente, diretor técnico da obra, autor veio através de requerimento “suspender o
gião Sul da OE, que aplicou ao A. a sanção do projeto de arquitetura e autor dos pro- Termo de Responsabilidade, emitido em
disciplinar de censura registada, e do acórdão jetos de especialidades da obra identificada 2009-01-23, dando-o como nulo e sem
conjunto do Conselho Jurisdicional e do em 2.”; (…) Concluída a construção, o dono qualquer efeito legal (…)”, declarando que
Conselho Diretivo Nacional da OE, que con- da obra solicitou, em 2009-01-09, a con- as alterações efetuadas em obra foram or-
firmou aquele e, bem assim, a condenação cessão da autorização de utilização e a denadas pelo dono da mesma; Por des-
da Demandada na eliminação da anotação emissão do respetivo Alvará. O pedido foi pacho da Chefe de Divisão de Gestão Ur-
da sanção disciplinar em causa do registo instruído, com o livro de obra, termo de en- banística, (…) de 2009-01-29, foi requisitado
biográfico do A. cerramento exarado, as telas finas do pro- à topografia da divisão de Obras Municipais
Para tanto, e em síntese, assaca aos atos jeto de arquitetura, o termo de responsabi- e Equipamentos (DOME) a verificação de
impugnados vícios vários. lidade do diretor técnico da obra, termo de medidas assinaladas a vermelho nos alçados;
Citada, a OE contestou que tanto os atos responsabilidade de autoria das telas finais; (…) Em 2009-02-02 o diretor técnico da
impugnados, como o Processo Disciplinar, (…) Resultam igualmente da análise dos do- obra vem “(…) anular a suspensão do Termo
respeitaram todas as formalidades essen- cumentos outros elementos que necessitam de Responsabilidade emitido em 2009-01-
ciais previstas nas normas legais e regula- de ser esclarecidos e/ou corrigidos, nomea- 23, feita em 2009-01-28, dando-o de novo
como válido para todos os efeitos legais; do RJUE, tendo sido de acordo com o des- ciarem sobre as desconformidades exis-
Com base nas medições efetuadas pela pacho do Sr. Vereador, de 2009-05-28, tentes entre a obra e o projeto aprovado;
DOME, foi emitido novo parecer técnico dado início à instrução do competente pro- 6.º Pelo participado foi entregue uma ex-
que reitera o teor do parecer de 2009-01- cesso contraordenacional, que corre os seus posição justificando as desconformi-
28; Com efeito, aferida a cércea do corpo termos (…). Finalmente importa informar dades existentes que não foi, no entanto,
referente ao “torreão” constatou o topógrafo que: a) Se comunicou igualmente à Ordem aceite pelos serviços camarários;
que a mesma possui 7,55m, verifica-se pois, dos Arquitetos as irregularidades detetadas 7.º
A obra não está concluída de acordo
o não cumprimento da cércea aprovada no termo de responsabilidade e no livro de com o projeto aprovado, sendo que o
pelo projeto de arquitetura (6,50m); (…), “as obra; b) Considerando ainda que a conduta Técnico Responsável de Obra tem a obri-
chaminés das lareiras de fumos (…)”; “(…) do participado configura um crime de fal- gação de vigiar a obra, de modo a que
Reitera-se a conclusão do relatório da co- sificação de documentos, de acordo com fique concluída de acordo com os pro-
missão de vistorias, nomeadamente, obra os arts. 100.º n.º 2 do RJUE e o artigo 256.º jetos aprovados pela Câmara Municipal;
erigida não se encontra em conformidade do Código Penal, informa-se igualmente 8.º Ao não ter zelado pelo cumprimento
com o projeto aprovado, pelo que não reúne que se requereu a instauração do procedi- dos projetos aprovados, que eram de
condições para que possa ser emitido o Al- mento criminal junto dos Serviços do Mi- sua autoria, o participado não atuou
vará de Autorização de Utilização (…) A fim nistério Público da Comarca do XX”. com a diligência a que está obrigado
de se pronunciar sobre as desconformidades infringindo o preceituado no art. 87.º,
da obra com as telas finais, foi o dono da Na sequência da participação apresentada, n.º 2 do Estatuto da OE.
obra, notificado, (…) para, (…), se pronunciar foi instaurado ao A., inscrito na OE, o Pro- O arguido tem como atenuantes o facto
(…); O diretor técnico respondeu à notifi- cesso Disciplinar n.º XX, chamando-o a de não ter antecedentes disciplinares.
cação, através de carta datada de 2009-02- prestar declarações na qualidade de parti- Notificou-se o participado (art. 33.º do
20, dizendo, em suma, que reconhece as cipado. Regulamento Disciplinar) para apresentar
desconformidades das telas finais com o defesa no prazo de 30 dias a contar da
projeto aprovado e que “(…) ao diretor téc- Foi deduzida Acusação contra o A., nos se- notificação.
nico da obra não lhe é possível fisicamente guintes termos:
medir as quotas verticais exteriores, e porque 1.º O participado foi projetista e Técnico Em 2010-02-26 realizaram-se as eleições
não tinha a certeza presumiu sem ser poder Responsável de Obra da construção de para os Órgãos Nacionais e Regionais da
confirmar que houve um erro na construção uma moradia unifamiliar sita na XX; OE (triénio 2010-2013), com eleição de
cometida pelo empreiteiro.” A resposta do 2.º A obra encontra-se concluída, tendo novos membros do Conselho Disciplinar da
participado foi objeto de parecer pelo téc- sido requerida a licença de utilização e, Região Sul, tendo o Conselho Jurisdicional,
nico responsável pela análise, (…); Com conforme é exigido por lei, foram en- a 2010-03-25, deliberado deferir os pedidos
efeito, os argumentos apresentados pelo tregues as telas finais, termo de respon- de prorrogação dos prazos para serem jul-
participado não nos merecem acolhimento sabilidade do Projetista e do Técnico gados vários processos disciplinares entre
pois é ao diretor técnico que compete as- Responsável de Obra; os quais se incluía este Processo Disciplinar.
segurar o cumprimento do projeto que 3.º Em 2009-01-03 a XX realizou uma vis-
aceitou executar, dirigindo tecnicamente os toria à obra tendo constatado que esta Em 2011-02-07 foi o A. notificado da acu-
trabalhos; (…) Para além disso, quando de- não se encontrava conforme o projeto sação, tendo apresentado defesa a 2011-
tetadas deficiências no projeto e nas orien- aprovado, nomeadamente: A cércea do 03-09, suscitando a incompetência do Con-
tações emanadas pelo dono da obra, ou torreão excede a cércea do projeto selho Disciplinar e a nulidade do despacho
pelos seus agentes, o diretor técnico deve aprovado; Existem diferenças nos al- de acusação, por falta de factos, tendo in-
de imediato comunicá-las ao dono da obra; çados; A cor exterior é amarela em vez dicado testemunhas e requerido a produção
Ao invés, o ora participado não só não o do branco indicado no projeto (com de prova documental em poder de terceiro.
terá feito, como também não declinou a diferenças na cercadura das janelas); As
responsabilidade técnica da obra, assinando chaminés não estão sobre-elevadas Em 2011-05-06 foi o A. notificado para re-
o termo de responsabilidade (…) Assim, o como deveriam em termos regulamen- meter as questões a colocar a cada uma
crime de falsificação de documentos en- tares; das testemunhas, para efeito de pedidos de
quadra as situações em que tanto os autores 4.º Após a vistoria, a 2009-01-28, o parti- depoimento escrito, tendo, na mesma data,
dos projetos, como o diretor técnico da cipado requereu a suspensão do seu sido notificado o empreiteiro nos termos
obra, ou quem esteja mandatado para esse Termo de Responsabilidade, informando requeridos pelo A., o qual informou que a
efeito pelo dono da obra, subscreva termos que as alterações ao projeto em obra solicitada coleção de desenhos foi entregue
de responsabilidade ou inscreva registos no foram efetuadas por ordem do dono de na delegação do Ministério Público do Tri-
livro de obra que sejam falsos. Acresce ao obra, tendo em 2009-01-30 requerido bunal da Comarca de XX, não tendo em seu
aduzido o facto de, também, se valorar como a anulação da suspensão; poder outro exemplar.
ilícito contraordenacional as falsas declara- 5.º Em 2009-02-16 a XX notificou o dono
ções no termo de responsabilidade pres- de obra e o participado de que não emi- O A. indicou os factos a que pretendia ver
tadas pelo diretor técnico da obra, conforme tiria a licença de utilização concedendo ouvidas as testemunhas por si arroladas,
previsto no artigo 98.º n.º 1 alínea f) e n.º 5 um prazo de dez dias para se pronun- tendo a OE entendido que os quesitos não
eram relevantes para a decisão do processo ciplinar dispunha para prosseguir a ação Assim, dos autos retira-se que a acusação
em causa, “pelo que se pode fazer acórdão, disciplinar, pertencendo esta já ao Conselho enunciou os factos de forma clara, coerente
censura registada…”. Jurisdicional, o que constitui nulidade insa- e concreta e por expresso reporte a espaço
nável. temporal perfeitamente identificado, permi-
Em 2011-07-01, o Conselho Jurisdicional, tindo ainda ampla defesa do arguido, ora A.,
ao abrigo do art. 55.º, n.º 2 do Regulamento Como decorre dos autos, foram pedidas e, em sede procedimental e em sede judicial.
Disciplinar, voltou a deferir pedidos de pror- corretamente, deferidas as prorrogações de
rogação de prazos de processos discipli- prazo para conclusão do Processo Disci- Advoga, ainda, o A. que o seu direito de de-
nares da competência do Conselho Disci- plinar. fesa foi colocado em risco por decisão não
plinar da Região Sul, entre os quais este Acresce que o circunstancialismo em que fundamentada, ao ser recusada a audição
Processo Disciplinar, tendo a 2011-09-30 o se desenrolou o Processo Disciplinar em das testemunhas por si arroladas.
Conselho Disciplinar proferido Acórdão de- análise, e o facto de as disposições invo-
cidindo aplicar ao A. a sanção disciplinar de cadas identificarem um prazo meramente Ressalta dos factos assentes que o instrutor,
censura registada. ordenador, importam a conclusão de que após ponderação dos factos sobre os quais
o (alegado) incumprimento do prazo, mesmo as testemunhas indicadas pelo A. iriam ser
Em 2011-11-02 foi admitido o recurso para que a existir, mas que não provado, não ouvidas, decidiu recusar a produção de prova
o Conselho Jurisdicional interposto pelo A., acarretaria uma invalidade suscetível de in- testemunhal requerida, prerrogativa que
tendo o Conselho Jurisdicional solicitado quinar o ato disciplinar (art. 55.º e art. 57.º podia utilizar (arts. 11.º, 25.º e 26.º do Re-
ao Bastonário sucessivas prorrogações do do Regulamento Disciplinar). gulamento Disciplinar; art. 53.º n.º 1 e n.º 3
prazo para concluir o Processo Disciplinar, Existem, ainda, factos qualificados como do Estatuto Disciplinar dos Trabalhadores
que foram deferidas. infração disciplinar que podiam ser, também, em Funções Públicas).
qualificados como infração penal (como
Em 2012-10-15 foi proferida sentença pelo acabou sucedendo), o que sempre justifi- A decisão está devidamente fundamentada
Juízo Instância Criminal – Juiz 1 da Comarca caria a aplicação ao caso dos prazos de se das informações dos serviços e/ou dos
do Alentejo Litoral, tendo o A., arguido no prescrição estabelecidos na lei penal. relatórios constarem diretamente, ou por
processo, sido condenado pela prática, como remissão, as razões por que se decidiu em
autor material, de crime de falsificação de Termos em que se julgou improcedente o certo sentido, permitindo assim a defesa
documento e a uma pena de 150 dias de suscitado vício. posterior dos direitos e interesses legítimos
multa. dos destinatários (cfr. arts. 122.º, 124.º n.º 1
Sustenta ainda o A. que da acusação não al. a), 125.°, 126.º e 151.º n.º 1 do CPA).
Em 2013-03-26, o Conselho Jurisdicional constam os factos integrantes da mesma,
emitiu parecer no sentido da improcedência as circunstâncias de tempo, modo e lugar Ora, quer a decisão de não ouvir as testemu-
da argumentação do arguido recorrente, da da prática da infração, bem como as que nhas indicadas pelo A., quer os atos impug-
negação do provimento do recurso e da integram circunstâncias atenuantes e agra- nados (alicerçando-se em extensa prova do-
confirmação da aplicação da pena de cen- vantes. cumental, nomeadamente junta com a par-
sura registada aplicada pelo respetivo Con- ticipação, ouvidas as declaração do arguido
selho Disciplinar, tendo em 2013-09-17 Contudo, resulta da factualidade assente e ponderada a defesa apresentada), estão
proferido Acórdão conjunto do Conselho que a acusação contém todos os factos in- fundamentados, pois identificam os factos
Jurisdicional e do Conselho Diretivo Na- tegrantes, identificando devidamente o ar- em que se alicerçam permitindo alcançar os
cional, confirmando a decisão do Conselho guido, as circunstâncias no tempo, modo e motivos de facto, e de direito, concretizando
Disciplinar – Aplicação da pena de censura lugar da prática das infrações, as circuns- as razões da decisão e identificando os cri-
registada. tâncias atenuantes, a indicação dos preceitos térios e normas em que a OE se fundou para
legais respetivos e pena aplicável. decidir no sentido, e no modo, em que o fez.
Em 2013-12-06 transitou a sentença pro- Do confronto entre a acusação e os atos
ferida pelo Juízo Instância Criminal – Juiz impugnados resulta que o A. foi efetivamente DECISÃO
1 da Comarca do Alentejo Litoral e em 2013- julgado e condenado pelos factos que cons-
12-20 o A. intentou a presente ação. tavam da Acusação, da qual foi devidamente Em suma, resulta a total improcedência do
notificado, tendo ainda tido oportunidade pedido de impugnação por inexistência de
O DIREITO de utilizar todos os seus direitos de defesa, vícios, ficando, concludentemente, preju-
prerrogativa que utilizou, como, claramente, dicado o pedido à prática do ato devido,
O A., não se conformando, reforçou o que resulta do Processo Disciplinar, de onde consubstanciado no pedido de condenação
havia alegado, nomeadamente quanto à in- constam todos os elementos probatórios da OE na eliminação da anotação da sanção
competência do Conselho Disciplinar por em que se alicerçou a decisão e, bem assim, disciplinar em causa do registo biográfico
considerar que dado o tempo decorrido a defesa apresentada, da qual ressalta ainda do A.
entre a apresentação da participação e o ter o A., oportunamente, compreendido
Acórdão, quando este foi proferido estava todos os factos de que era acusado, tendo Nestes termos, decidiu o Tribunal julgar to-
esgotado o prazo de que o Conselho Dis- deles apresentado a devida defesa. talmente improcedente a presente ação.
Legislação
Orçamental, aprovada em anexo à Lei n.º INTEROPERABILIDADE DIGITAL Fixa o valor da retribuição mínima mensal
151/2015, de 11 de setembro. garantida para 2018.
Resolução do Conselho de Ministros
FLORESTAS n.º 2/2018 TRABALHADORES INDEPENDENTES
Diário da República n.º 4/2018,
Lei n.º 111/2017 Série I de 2018-01-05 Decreto-Lei n.º 2/2018
Diário da República n.º 242/2017, Procede à revisão do Regulamento Nacional Diário da República n.º 6/2018,
Série I de 2017-12-19 de Interoperabilidade Digital. Série I de 2018-01-09
Primeira alteração, por apreciação parla- Altera o regime contributivo dos trabalha-
mentar, ao Decreto-Lei n.º 66/2017, de 12 IRS dores independentes.
de junho, que estabelece o regime jurídico
de reconhecimento das entidades de gestão Decreto Regulamentar n.º 1/2018 TRANSPORTES
florestal. Diário da República n.º 7/2018,
Série I de 2018-01-10 Decreto-Lei n.º 152-A/2017
Resolução do Conselho de Ministros Fixa o universo dos sujeitos passivos de IRS Diário da República n.º 236/2017,
n.º 1/2018 abrangidos pela declaração automática de 1.º Suplemento, Série I de 2017-12-11
Diário da República n.º 2/2018, rendimentos, em conformidade com o pre- Altera o Regulamento de Atribuição de Ma-
Série I de 2018-01-03 visto no n.º 8 do artigo 58.º-A do Código trícula a Automóveis, Seus Reboques e Mo-
Aprova o Programa de Revitalização do Pi- do IRS. tociclos, Ciclomotores, Triciclos e Quadri-
nhal Interior. ciclos, transpondo a Diretiva 2014/46/UE.
ORÇAMENTO DO ESTADO
GRANDES OPÇÕES DO PLANO DIPLOMAS REGIONAIS – MADEIRA
Lei n.º 114/2017
Lei n.º 113/2017 Diário da República n.º 249/2017, Decreto Legislativo Regional n.º 1/2018/M
Diário da República n.º 249/2017, Série I de 2017-12-29 Diário da República n.º 3/2018,
Série I de 2017-12-29 Orçamento do Estado para 2018. Série I de 2018-01-04
Grandes Opções do Plano para 2018. Aprova o regime jurídico do aproveitamento
PENSÃO DE VELHICE de massas minerais na Região Autónoma
HABILITAÇÃO LEGAL da Madeira.
PARA CONDUZIR Portaria n.º 25/2018
Diário da República n.º 13/2018, Decreto Legislativo Regional n.º 2/2018/M
Decreto-Lei n.º 151/2017 Série I de 2018-01-18 Diário da República n.º 6/2018,
Diário da República n.º 235/2017, Portaria que estabelece a idade normal de Série I de 2018-01-09
Série I de 2017-12-07 acesso à pensão de velhice em 2019. Aprova o Orçamento da Região Autónoma
Altera o Regulamento da Habilitação Legal da Madeira para 2018.
para Conduzir, transpondo a Diretiva 2016/1106/ RESÍDUOS
EU. Resolução da Assembleia Legislativa da
Decreto-Lei n.º 152-D/2017 Região Autónoma da Madeira n.º 3/2018/M
Declaração de Retificação n.º 3/2018 Diário da República n.º 236/2017, Diário da República n.º 6/2018,
Diário da República n.º 20/2018, 2.º Suplemento, Série I de 2017-12-11 Série I de 2018-01-09
Série I de 2018-01-29 Unifica o regime da gestão de fluxos espe- Aprova o Plano e Programa de Investimentos
Retifica o Decreto-Lei n.º 151/2017, de 7 de cíficos de resíduos sujeitos ao princípio da e Despesas de Desenvolvimento da Admi-
dezembro, do Planeamento e das Infraes- responsabilidade alargada do produtor, trans- nistração da Região Autónoma da Madeira
truturas que altera o Regulamento da Ha- pondo as Diretivas números 2015/720/UE, para o ano de 2018.
bilitação Legal para Conduzir, transpondo 2016/774/UE e 2017/2096/UE.
a Diretiva 2016/1106/UE, publicado no Diário DIPLOMAS REGIONAIS – AÇORES
da República, 1.ª série, n.º 235, de 7 de de- Portaria n.º 20/2018 - Diário da República
zembro de 2017. n.º 12/2018, Série I de 2018-01-17 Decreto Legislativo Regional n.º 1/2018/A
Estabelece os critérios para a atribuição do Diário da República n.º 2/2018,
INDEXANTE Fim do Estatuto de Resíduo (FER) ao mate- Série I de 2018-01-03
DOS APOIOS SOCIAIS rial de borracha derivado de pneus usados. Orçamento da Região Autónoma dos Açores
para o ano 2018.
Portaria n.º 21/2018 RETRIB. MÍNIMA MENSAL GARANTIDA
Diário da República n.º 13/2018, Decreto Legislativo Regional n.º 2/2018/A
Série I de 2018-01-18 Decreto-Lei n.º 156/2017 Diário da República n.º 5/2018,
Portaria que procede à atualização anual do Diário da República n.º 248/2017, Série I de 2018-01-08
valor do indexante dos apoios sociais (IAS). Série I de 2017-12-28 Plano Anual Regional para o ano 2018.
DR
Análise
TRANSPORTES E VIAS
DE COMUNICAÇÃO – ABORDAR
O PRESENTE E PERSPETIVAR O FUTURO
INTRODUÇÃO pelo que os engenheiros especializados se encon-
tram em posição particularmente favorável para
A Especialização em Transportes e Vias de Comu- assumir papel de relevo a todos os níveis, em pro-
nicação incide sobre uma área de atividade da En- cessos de ordenamento do território e de desen-
genharia que abrange matérias de várias Especiali- volvimento e gestão das acessibilidades. Atualmente,
dades e que assume inegável importância científica José Alberto Alves e em complemento das abordagens relativas às in-
e técnica, sendo os seus Membros reconhecidos Nunes do Valle fraestruturas, já por si multidisciplinares, são cada
Coordenador
pelas habilitações qualificadas que detêm. da Especialização
vez maiores as exigências envolvendo diversos ramos
Os sistemas de Transportes e as suas infraestruturas, em Transportes da Engenharia, que se articulam em áreas como as
e Vias de Comunicação
as Vias de Comunicação e os veículos, constituem da gestão e segurança do tráfego, dos sistemas de
da Ordem dos Engenheiros
no seu conjunto uma área estratégica de primor- javalle@sapo.pt
informação, do ambiente, da qualidade e outras.
dial importância na economia mundial, fortemente A atividade da Comissão de Especialização em Trans-
marcada por uma progressiva evolução tecnológica portes e Vias de Comunicação traduz-se, assim, na
sustentada por métodos avançados de investigação. preocupação de abordar e discutir, sob diversas
As grandes transformações estruturantes do terri- formas e através de diferentes iniciativas, as grandes
tório nacional vêm resultando, em grande parte, da opções estratégicas nesta área e os problemas mais
realização de novas infraestruturas de transporte, prementes a nível nacional que requerem a atuação
da Engenharia de Transportes, não descurando os avanços tec- transporte, com o contributo e otimização de desenvolvimentos
nológicos que são vertidos para aplicações no domínio. tecnológicos, mantendo a continuidade da procura de tecnolo-
gias inteligentes de conectividade e de tratamento e armazena-
O PRESENTE mento eletrónico de grandes volumes de informação – compo-
nentes integrantes da transformação digital que se convencionou
Através da realização de seminários e conferências tem-se pro- designar por Indústria 4.0.
movido o debate de opções estratégicas de âmbito geral, como Acresce ainda o desenvolvimento de tecnologias inteligentes apli-
sejam as questões relativas ao financiamento para projetos nacio- cadas a materiais e a equipamentos, que permitam mudanças dis-
nais, e de âmbito mais específico, direcionadas por área ou setor. ruptivas não só nos processos, como nos produtos e, em última
Noutra vertente, com a realização de visitas técnicas da Especia- análise, em modelos de negócios.
lização, a operadores de transportes e empresas nacionais de re- Haverá, assim, transformações que se esperam e que até já se ve-
conhecido e elevado valor tecnológico, procura-se conhecer a rificam, seja nas infraestruturas e nos veículos isoladamente, seja
evolução dos projetos em curso e as perspetivas para o seu de- ainda, e sobretudo, nas interações infraestrutura-veículo e veículo-
senvolvimento futuro, de acordo com as orientações estratégicas -veículo.
para o respetivo setor. Nas infraestruturas, os avanços tecnológicos permitirão tornar as
A incidência de novas tecnologias e em particular as relacionadas estradas, para além de sustentáveis, mais interativas, através de sis-
com a transformação digital têm sido também objeto de apresen- temas de iluminação inteligentes, pavimentos inovadores com cap-
tação e discussão, designadamente o enquadramento atual da evo- tação de energia solar e tecnologia LED, sinais que funcionam de
lução que se verifica em matéria de tecnologias da informação e acordo com as diferentes situações de tráfego em presença, etc.
comunicação no domínio dos transportes. – “Estradas Inteligentes”.
Ações realizadas, focando exemplos de desenvolvimento de apli- Ao nível dos veículos, tem sido acelerada a evolução tecnológica
cações relativas à desmaterialização bilhética, à gestão do parquea- que se tem verificado nos últimos anos, seja na procura de substi-
mento, quer coberto, quer à superfície, à informação em tempo tuição dos motores convencionais por outras formas de energia,
real para utentes e operadores na rede de transportes públicos e mais sustentáveis e amigas do ambiente, seja no desenvolvimento
na rede de “interfaces”, à otimização da oferta de mobilidade e ao de soluções tecnológicas para veículos autónomos – “Veículos In-
controle e fiscalização do tráfego, confirmam a atualidade e per- teligentes”. Neste âmbito, a evolução esperada recairá ainda, e so-
tinência destas tecnologias inovadoras. A criação de plataformas bretudo, em soluções inovadoras para sistemas de comunicações
permitindo a integração dos sistemas facilita, não só, a utilização veículo-veiculo, veículo-infraestrutura e veículo-peão.
otimizada de cadeias de transporte multimodal, como uma nova
visão estratégica para um transporte público mais acessível. CONCLUSÃO
Também a segurança rodoviária, com os desenvolvimentos mais
recentes e expectativas de evolução, que incidem sobre os veículos As intervenções nos sistemas de transportes e nas suas infraestru-
nos seus diversos tipos, sobre as características das infraestruturas turas, onde se enquadram as estradas, o caminho-de-ferro, os
que os suportam e sobre o comportamento humano, tem sido ob- portos, os aeroportos e as vias navegáveis, não podem ser alheias
jeto de particular atenção. à incidência de novas tecnologias e, em particular, as relacionadas
com a transformação digital.
A PERSPETIVA DE FUTURO Esta realidade é extensiva a todos os modos e meios de transporte
que caracterizam qualquer sistema de mobilidade de uma dada
O desafio da mobilidade sustentável não pode deixar de ter subja- área ou região e não só em meio urbano, devendo assim estar pre-
cente a necessidade de se assegurar uma adequada fluidez de trá- sente em qualquer processo de ordenamento do território e de
fegos articulada com o ordenamento do território e com o am- gestão de acessibilidades.
biente, sem descurar contudo outros aspetos como o da segu- Em meio urbano, uma mobilidade mais sustentável assume uma
rança de circulação. Particular realce deve continuar a merecer importância decisiva tendo em conta que aproximadamente 70%
então a intermodalidade e a interoperabilidade integradas, como da população da União Europeia já aí vive, sendo responsável por
forma e estratégia para atingir esses objetivos. cerca de 85% do PIB. A procura crescente de mobilidade, seja de
A questão crucial manter-se-á assim, e sobretudo, na forma de se pessoas, seja de bens, pode contudo gerar graves problemas, no-
incrementar o uso do transporte público e dos modos suaves na meadamente ambientais, caracterizados por congestionamento,
mobilidade urbana, em detrimento do uso do automóvel como desequilíbrio na repartição modal, má qualidade do ar e níveis ele-
transporte individual. Diversas soluções, que vêm sendo enunciadas, vados de emissões de CO2. Assim, independentemente de todas
mantêm-se como válidas, desde a integração funcional e tarifária e quaisquer tecnologias, para as “Cidades do Futuro” as soluções
dos diversos modos de transporte coletivo, facilitando o respetivo terão que ser devidamente enquadradas e suportadas no quadro
transbordo, até à implementação de políticas de estacionamento de adequado planeamento estratégico, sem descurar uma visão
que desincentivem o uso do automóvel em áreas centrais. territorial integrada que, no setor dos transportes e respetivas in-
A principal aposta terá que ser numa adequada estratégia de pla- fraestruturas, passará pela indispensável articulação e conjugação
neamento e política de gestão integrada de modos e meios de multimodal e intermodal.
Nota da Redação: O presente artigo resulta de uma comunicação apresentada ao XXI Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros que, por lapso, não foi publicado
na última edição da “INGENIUM”.
cações académicas nas grandes revistas de O argumento da simetria. De cada vez que cimentos possíveis, a soma destas probabi-
filosofia, de reacções sanguíneas, de análises a Bela Adormecida é despertada, ela en- lidades é 1. Portanto
matemáticas e continua em aberto. Parte da contra-se em um de três estados:
excitação em torno do problema da Bela › Cara e Segunda-feira (Ca+2); P(Ca+2)= 1/3
Adormecida talvez seja, como diz Michael › Coroa e Segunda-feira (Co+2);
Titelbaum, precisamente o facto de ninguém › Coroa e Terça-feira (Co+3). Este é o argumento original de Elga, que faz
o ter resolvido de uma forma que todas as dele o primeiro tercista. Convencido? Mais
pessoas, ou sequer a maioria, considere sa- Vamos considerar uma variação do pro- devagar. Um metadista propõe a seguinte
tisfatória. Para simplificar a discussão, pas- blema. Suponhamos que a Bela Adormecida variação sobre o protocolo experimental
saremos a chamar aos defensores da solução é informada, assim que acorda, de que saiu que não altera rigorosamente nada nas con-
1/2 “metadistas” (conhecidos na literatura de coroa. Então ela estará forçosamente ou dições do problema. Uma vez que a Bela
língua inglesa por “halfers”) e aos defensores num dos estados (Co+2) ou (Co+3). Como Adormecida é sempre acordada à Segunda-
da solução 1/3 por “tercistas” (“thirders”). Por estes estados são, do ponto de vista da Bela -feira qualquer que seja o resultado do lan-
estranho que pareça, estas duas posições Adormecida, indistinguíveis, têm de ser igual- çamento, os investigadores podem lançar
não esgotam as posições adoptadas pelos mente prováveis. Designando por P a res- a moeda apenas na Segunda à noite, depois
filósofos; por exemplo, os “dualistas” de- pectiva probabilidade, tem-se de ela adormecer ao fim do primeiro dia.
fendem que ambas as soluções, em função Na verdade, até podem lançar a moeda na
da interpretação, podem estar correctas; os P(Co+2) = P(Co+3) (1) Terça de manhã, decidindo nesse momento
“objectores” defendem que não existe res- se a acordam ou se a deixam ficar a dormir.
posta correcta porque o problema não pode Façamos uma variação diferente, supondo Ora, como pode na Segunda-feira a Bela
ser bem posto. Os argumentos são por vezes agora que a Bela Adormecida é informada Adormecida acreditar noutra probabilidade
assustadoramente complexos: desde a in- do dia da semana assim que é despertada. que não 1/2 para o lançamento de uma
vocação da não-aplicabilidade dos axiomas Se lhe é dito que é Segunda-feira, ela sabe moeda equilibrada que ainda não foi feito?
da probabilidade de Kolmogorov e do Baye- que só pode estar nos estados (Co+2) ou Se o leitor prefere não interferir com o pro-
sianismo, à interpretação dos universos múl- (Ca+2). Como não os consegue distinguir, tocolo experimental inicial, o metadista
tiplos da Mecânica Quântica, a Bela Ador- tem de os considerar equiprováveis. Por- propõe considerar o seguinte argumento.
mecida tem sido um convite à dança para tanto A Bela Adormecida (que supomos absolu-
os filósofos – e para alguns matemáticos, tamente racional e inteligente) faz o racio-
que se esforçam por colocar o problema em P(Ca+2) = P(Co+2) (2) cínio “tercista” no Domingo à noite, antes
bases Bayesianas. de adormecer. Conclui, portanto, que ao
Para apreciarmos bem a complexidade e Combinando as equações (1) e (2) con- ser acordada na Segunda-feira de manhã
subtileza deste problema considere-se a cluímos que P(Ca+2) = P(Co+2) = P(Co+3). defenderá a probabilidade 1/3. Ora, como
seguinte sucessão de pontos de vista. Como os três estados esgotam os aconte- do seu ponto de vista nada se terá passado
DR
em Filosofia e Economia: o argumento da
Aposta Holandesa (Dutch book). Este afirma,
numa das suas versões, que se uma se-
quência de apostas “justas” tem um resul-
tado negativo, então as probabilidades nas
quais se baseia o cálculo correspondente
não podem estar correctas.
Quase duas décadas depois de apresentado
o problema da Bela Adormecida, a facção
dos tercistas leva vantagem sobre a dos me-
tadistas – embora, evidentemente, a questão
não se decida com uma votação. Do ponto
entre Domingo à noite e Segunda de manhã de 600 €. Nada mau, para duas noites de de vista matemático parece ser relativamente
(a não ser, claro, umas boas horas de sono), sono! claro, depois do artigo de 2009 de Jeffrey
ela tem, no Domingo à noite, de atribuir Já um metadista atribui probabilidade 1/2 a Rosenthal “A mathematical analysis of the
probabilidade 1/3 ao lançamento de uma cada acontecimento, sendo portanto o valor Sleeping Beauty Problem”, que uma tradução
moeda equilibrada. Isto é absurdo. médio esperado de - 500 €. Portanto, a matemática rigorosa deste problema conduz,
Para contrariar os tercistas que se baseiam Bela Adormecida tem de recusar a aposta. por aplicação dos métodos bayesianos, à
em repetir a experiência muitas vezes (como Independentemente das suas convicções solução 1/3.
anteriormente fizemos no primeiro argu- íntimas, a Bela Adormecida deve dar uma Mas mesmo após demonstrações matemá-
mento tercista), o metadista propõe a se- resposta a este desafio. Ela ganha ou perde ticas subsistem dificuldades para a posição
guinte variação. Suponhamos que, em vez dinheiro com esta aposta? Devo ou não tercista. Como se pode justificar que, depois
de se repetir muitas vezes o problema ori- aceitar? de ser acordada na Segunda-feira, a Bela
ginal, se aumenta o número de vezes que Deve dizer-se, para que não se fique com Adormecida modifique a sua estimativa de
se desperta a Bela Adormecida em caso de a sensação de que os filósofos desta área Domingo? O próprio Adam Elga reconhece
coroa. Para fixar ideias, suponhamos que se se dedicam a discutir excitadamente pro- que não existe informação nova na Segunda-
sair coroa ela é acordada 999 vezes. Isso blemas de salão, que o seu objectivo é bem -feira de manhã para o justificar, mas que a
significa que um tercista, para ser coerente, maior. Eles tentam determinar a credibili- Bela Adormecida deve, mesmo nestas cir-
tem nesta experiência de atribuir à proba- dade que deve atribuir-se a uma dada afir- cunstâncias, alterar nesse momento a sua
bilidade de sair cara o valor de 1/1000. Um mação sob certas circunstâncias, bem como estimativa para 1/3. Outros tercistas, como
milésimo? Mas que raio de moeda equili- a forma como essa credibilidade se altera Arntzenius (que curiosamente começou
brada é esta? com a introdução de nova informação ou como metadista mas se converteu ao ter-
Um tercista empedernido pode, por seu a passagem do tempo. O problema da Bela cismo), Dorr, Horgan ou Weintraub, argu-
lado, propor a um metadista arriscar o seu Adormecida, que incorpora elementos como mentam que estar consciente num dado
dinheiro em defesa das suas convicções. a perda de consciência, de memória e de momento, mesmo não sabendo que dia é,
Desafiemos a Bela Adormecida para o se- indicação do tempo, é um excelente teste pode constituir informação genuína, justi-
guinte jogo: de cada vez que é despertada para uma teoria que pretenda fazê-lo. ficando a alteração da estimativa da Bela
ela verá retirados 3.000 € da sua conta ban- Para além dos objectivos, muitos dos pró- Adormecida.
cária, no caso de sair cara, e depositados prios argumentos anteriormente utilizados O problema da Bela Adormecida dificilmente
2.000 €, no caso de sair coroa. Ela deve representam questões mais ou menos pro- virá a ter uma solução em que todas as
aceitar esta aposta ou não? fundas desta área da Filosofia. Por exemplo, partes se revejam: ele envolve tantas subti-
Um tercista acha que a Bela Adormecida a ideia de que se soubermos que amanhã lezas informais que muitos dos seus recantos
deve aceitar a aposta, porque esta lhe é fa- vamos pensar “X”, então hoje devemos permanecem misteriosos. Talvez seja esta
vorável. Com efeito, o valor esperado da também pensar “X”, é conhecida entre os uma das razões para o seu encanto: afinal,
aposta é filósofos como Princípio de Reflexão de van o mistério é uma condição necessária para
1 2 Fraassen. Outro exemplo é o da aposta com a Beleza.
(-3.000€) + (+2.000€) = 666.66€ ,
3 3 que desafiamos a Bela Adormecida: apesar
pelo que, em média, de cada vez que a Bela do tom aparentemente ligeiro, trata-se da Nota: Jorge Buescu escreve, por opção pessoal,
Adormecida participar no estudo ganha mais aplicação de uma questão muito relevante de acordo com a antiga ortografia.
Em Memória
Os resumos biográficos dos Membros da Ordem dos Engenheiros falecidos são publicados na secção “Em Memória”, de acordo com o
espaço disponível em cada uma das edições da “INGENIUM” e respeitando a sua ordem de receção junto dos Serviços Institucionais da
Ordem. Agradecemos, assim, a compreensão das famílias e dos leitores pela eventual dilação na sua publicação.
Igualmente, solicita-se, e agradece-se, que futuras comunicações a este respeito sejam dirigidas à Ordem dos Engenheiros através do
e-mail rolanda.correia@oep.pt e/ou ingenium@oep.pt