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O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 1

Eduardo Spohr

O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
IDEOLOGIA, NACIONALISMO E
CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO

EDUARDO SPOHR

MATRÍCULA 0114163-0
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
PUC-RIO – DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ORIENTADOR: PROF. EVERARDO ROCHA
17-06-2002
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 2
Eduardo Spohr

Sumário

Introdução – Os Limites da Intolerância pg. 03


Parte 1 – História, Cultura e Política pg. 05
História e Religião pg. 05
O Século XX pg. 07
Biografias pg. 18
Parte 2 – O Processo de Paz pg. 21
O que querem israelenses e palestinos? pg. 21
Cidadania e Nacionalismo pg. 22
Acordos de Paz pg. 24
Yasser Arafat e a ONU pg. 27
O Fator Terrorismo pg. 29
Parte 3 – Confronto de Ideologias pg. 33
Os discursos israelense e palestino pg. 33
A atuação dos EUA pg. 39
Os países árabes pg. 40
A postura européia pg. 41
A ONU pg. 42
A Imprensa Internacional pg. 42
Conclusão – A Paz é Possível? pg. 45
Bibliografia pg. 47
Anexos pg. 50
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Eduardo Spohr

Introdução – Os Limites da Intolerância


Ódio. Essa é a chave para entender definitivamente o conflito entre palestinos e israelenses
no Oriente Médio. Antes de continuar a ler este texto, esqueça tudo o que você sabe sobre
guerras. Este estudo trata de uma situação totalmente única, peculiar. Uma guerra onde a
raiva, a vingança e a intolerância são as únicas vencedoras. A eterna bola de neve da
violência, que desce pelo Monte das Oliveiras, parece ter colidido com a Terra Santa,
trazendo um inverno frio e longo para árabes e judeus.

Terror. Essa é a imediata conseqüência das ações de dois povos que não sabem conviver
lado-a-lado. De povos sem memória, que à medida que querem restaurar a sua identidade e
nacionalidade, esquecem os feitos de seus antepassados. Os palestinos perderam a
indulgência dos antigos povos árabes, que souberam, durante toda a história, respeitar a
sociedade e a cultura de judeus e cristãos. Os israelenses, que foram humilhados e
discriminados durante a Segunda Guerra, e exterminados no Holocausto, parecem ter
jogado a dura lição que aprenderam pela latrina.

Para Israel, a ocupação é fundamental para conter a expansão de grupos terroristas


islâmicos, que têm como objetivo arrastá-los pelo deserto e afogá-los no Mar Mediterrâneo.
Para os palestinos, o inimigo sionista quer destruí-los, matá-los, prendê-los, exterminá-los e
expulsá-los das terras onde seus avós moravam. Dentro desse contexto, a tática do terror é
usada pelos dois lados. Os atentados terroristas contra civis são a maneira que os árabes
mais radicais encontraram para convencer a população israelense a ir embora da (sua)
região. As retaliações militares a esses ataques também são atos claros de terrorismo de
Estado. Ao atacarem cidades e matarem civis palestinos em resposta a ações terroristas,
Israel produz mais homens-bomba, dando continuidade a um conflito interminável.

Mas então, de quem é a Terra Prometida, afinal? Os judeus se fixaram primeiro em


Jerusalém, antiga cidade de Canaã, há pelo menos 4 mil anos. A invasão egípcia os obrigou
ao exílio, de onde retornaram sob a liderança de Moisés. Durante a dominação romana, eles
se dispersaram pelo mundo - a chamada diáspora. Em 635 d.C., com a expansão islâmica,
os muçulmanos chegaram à região, e lá permanecem até hoje. Somente em 1917, com a
Declaração Balfour, e posteriormente após a Segunda Guerra Mundial, os judeus de todo o
mundo começaram a retornar ao Oriente Médio.

Sob o slogan “Uma terra sem povo para um povo sem terra”, os filhos de Abraão se
prepararam para restabelecer o seu lar na Palestina. No entanto, a bordão sionista estava
apenas parcialmente certo – e por isso parcialmente errado. Em 1917, a região contava com
dez árabes para cada judeu. Com o aval britânico (na época a Inglaterra controlava a
Palestina), os israelitas iniciaram uma imigração em massa. À medida que eles chegavam,
os árabes eram expulsos de suas casas, a exemplo do que aconteceu durante a ocupação
egípcia e romana, mas com uma inversão total de valores – agora, os judeus eram os
invasores! Invasores em uma terra que eles clamavam ser sua. Não obstante, os palestinos
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partiram para o Líbano e para outros países próximos, ou se fixaram em campos de


refugiados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. E depois dessa ciranda de dois mil anos, nós
voltamos à estaca zero: de quem é a Terra Prometida, afinal?

Analises à parte, a pergunta que nos interessa é: e agora? Com frear o ciclo de violência que
assola a Terra Santa? Esse trabalho não pretende ser radical como um movimento
fundamentalista, e impor respostas. A idéia é observar os interesses de cada um dos lados,
examinar o discurso do resto do mundo, e propor questionamentos. A paz no Oriente
Médio não é só uma questão para diplomatas e líderes mundiais, mas para cada um de nós.
Isso porque o conflito não é impulsionado apenas por problemas econômicos e políticos,
mas principalmente por sentimentos comuns a todos os seres humanos: nacionalidade,
identidade, religiosidade e, principalmente, cidadania.

Motivações Pessoais

Desde criança eu sempre fui fascinado por religião. Tive uma formação católica em uma
escola onde o catecismo era obrigatório. Não demorou para eu começar a questionar sobre
quem estava certo, quem contava a versão real para a criação do universo – a minha
professora de religião (“tia” Vera, eu lembro até hoje) ou de ciências. A teoria do “Big
Ben” me pareceu a mais lógica, e eu a adotei como a “minha” versão dos fatos. Apesar
disso, uma dúvida persistia em minha mente: o que levava os homens a acreditar em uma
explicação totalmente ilógica, mística e irracional para a criação do planeta? Analisando a
questão, eu descobri que as religiões têm raízes profundas, que estão intimamente ligadas à
história de cada povo – elas refletem as características das sociedades onde estão inseridas.
Estudar religião é estudar história, arte e sociologia.

Os meus estudos particulares me levaram então ao Oriente Médio (uma viagem virtual,
naturalmente, ainda que eu sonhe em ir lá algum dia), berço das religiões ocidentais.
Buscando saber mais sobre a região, aprendi que o lugar foi também onde surgiram as
primeiras civilizações (o Egito é um país africano, mas tomo licença para incluí-lo no meu
pacote pré-histórico). Não obstante, a sua história bélica é igualmente rica, e o estudo de
guerras e conflitos humanos é outra de minhas paixões. Desta forma, o Oriente Médio
tornou-se, para mim, uma região de interesse colossal.

Quando comecei a trabalhar como jornalista, abri meus olhos para os problemas atuais do
Oriente Médio, que têm origem nos primórdios da humanidade. Eu me especializei em
jornalismo internacional e acompanhei toda a evolução da Segunda Intifada. Para
compreender melhor a revolta palestina, busquei estudar os outros conflitos do século XX
na região, especialmente aqueles que se seguiram à independência de Israel, em 1948. Em
meio a essas análises, eu notei um fato curioso: a opinião pública internacional,
especialmente a imprensa americana, cuja tendência era exaltar os atos de Israel e condenar
os palestinos, começou a mudar seu discurso. Aos poucos, os judeus vão deixando de ser
aquele povo sofrido, injustiçado e renegado para tornar-se imperialista e cruel. Por outro
lado, os palestinos vão perdendo o estigma de terroristas e passam a ser uma gente
perseguida, miserável, vivendo sob a sombra de uma nação que os explora e os oprime.
Diversas publicações – jornais, revistas, livros e até quadrinhos – começam a tomar partido
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dos árabes, e voz dos muçulmanos começa a se fazer ouvir através desses jornalistas,
escritores, comunicólogos e profissionais de mídia.

A minha perplexidade diante da mudança do discurso internacional sobre a crise no Oriente


Médio (eu nunca poderia imaginar que algum dia os americanos fossem defender os
palestinos), foi um dos fatores que me levou a propor este trabalho.

Objetivo

O objetivo desta monografia é analisar o conflito árabe-israelense no Oriente Médio


segundo a ótica israelense, palestina, estadunidense, européia, árabe, da ONU e da
imprensa internacional. O estudo também se propõe a fazer uma análise da história, da
cultura e da política da região, ao mesmo tempo que observa o difícil processo de paz entre
os dois povos.

Parte 1 – História, Cultura e Política


HISTÓRIA E RELIGIÃO

A Terra Amaldiçoada

Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o patriarca do
povo judeu, Abraão, teria cumprido as ordens de Deus e tomado para si a herança sagrada –
a cidade de Canaã, uma região onde, muito mais tarde, se ergueria a cidade de Jerusalém.
“Esta é a terra que teus filhos possuirão”, diz o Senhor, em Gênesis. Nessa terra, segundo a
Torá, o velho Abraão, já com 75 anos, construiu um altar para o Senhor e fincou as suas
raízes, ainda que logo depois tivesse migrado para o Egito. Desde então, a Terra Prometida
(por Deus aos judeus, segundo eles mesmos) não conheceu a paz.

Por volta de 1.300 a.C., os doze filhos de Jacó (Israel), assolados pela fome, partiram para o
Egito, onde ficaram por anos, tornando-se, aí, os israelitas. Foi no Egito que nasceu
Moisés, visto por muitos como o fundador das três religiões. Ele guiou os hebreus através
do Deserto do Sinai – região árida que se localiza na fronteira entre a Palestina e o Egito -,
por onde vagaram por 40 anos. Durante a viagem, Moisés teria recebido de Deus as tábuas
dos Dez Mandamentos, ponto chave da história judaica. Mas foi sob a liderança de Josué, e
não de Moisés, que os hebreus conseguiram finalmente voltar para o seu local de origem.
Ao chegar à Canaã, no entanto, os israelitas iniciaram uma terrível guerra contra os
cananeus, à exemplo do que fizeram com os árabes após a Segunda Guerra. Josué
conquistou Jericó, destruindo-a juntamente com todos os seus habitantes. Posteriormente,
assumiu o controle de Hebron e de outras localidades por uns 150 anos.

A capital do poder israelita consolidou-se novamente em Jerusalém somente no ano 1000


a.C., quando o rei Davi – famoso por derrotar o gigante filisteu Golias com sua funda –
transferiu-se para o local. Sob o seu reinado, Israel chegou ao seu apogeu, destacando-se
como uma grande potência política no Oriente Médio.
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O filho de Davi, Salomão, foi o responsável pela construção do Templo de Salomão. O


templo (ou o que sobrou dele, pois foi destruído e reconstruído diversas vezes) passou a ser
a representação material máxima da fé judaica. No santuário interno ficavam, dentro da
Arca da Aliança, as placas dos Dez Mandamentos. O Muro das Lamentações, ponto de
peregrinação de judeus de todo o mundo, é nada menos do que uma das muralhas do
templo.

Salomão morreu e o reino perdeu a unidade, dividindo-se em dois: o Reino de Israel, ao


norte, com capital em Sabastia, e o Reino da Judéia, ao sul, com Jerusalém como capital.
Em 720 a.C., os assírios, e em seguida os babilônios (600 a.C.), invadiram e destruíram os
reinos israelitas. Nabucodonozor, soberano da Babilônia, mandou queimar o Templo de
Salomão. Os judeus foram levados como escravos para a Assíria e para a Mesopotâmia, de
onde só retornaram quando Ciro, o Grande, rei dos persas, venceu os babilônicos e libertou
o povo do exílio. Um segundo templo foi construído em Jerusalém, sobre as cinzas do
antigo, quando os israelitas voltaram novamente para a Palestina. A religião, especialmente
com o surgimento das sinagogas, passou a se institucionalizar, e teve início o judaísmo
como conhecemos hoje.

Até o fim da Primeira Era, os egípcios voltaram a dominar a região, e em seguida foram os
selêucidas da Síria. Em 63 a.C., os romanos venceram os sírios e o general Pompeu e suas
tropas ocuparam Jerusalém. Herodes foi proclamado rei da Judéia, e em seguida promoveu
uma nova reconstrução do tempo, que havia sido seriamente danificado pelos antigos
invasores.

Jerusalém Cristã

Quando Cristo nasceu, a Judéia vivia sob domínio romano. Herodes viveu até o ano 4 d.C..
O nascimento e a morte de Jesus, uma figura de extrema importância para todo o mundo
ocidental, não delineou apenas o fim de uma era antiga. Poucas décadas após a sua
crucificação, os romanos, em 70 d.C., comandados por Tito, destruíram praticamente todo o
complexo do Templo de Salomão. Os israelitas (agora já podemos chamá-los seguramente
de judeus) que ainda persistiam foram expurgados da Palestina com a ascensão do
imperador Adriano. Ele ergueu uma cidade romana sobre as ruínas de Jerusalém, e a
chamou de Aelia Capitolina.

Com a morte de Jesus, especialmente após o século I, o cristianismo começou a se expandir


rapidamente pelo ocidente. Essa era a religião dos pobres, do povo, dos desafortunados.
Isso porque a doutrina da nova religião não era tão seleta quanto o judaísmo. Para os
seguidores de Cristo, não havia (e não há) um “povo eleito” (por Deus). Todos que crêem
podem ser cristãos. Rompe-se assim o elo com o material. A cidade sacra de Jerusalém
deixa de ser um ponto fundamental. Deus está dentro de cada um, segundo a bíblia, ou seja,
em um reino celestial, e não necessariamente em um templo, em uma cidade ou em um
local geográfico.

Os cristãos passaram a ser perseguidos pelo mundo romano, até que em 325 d.C. o
imperador Constantino retirou o cristianismo da clandestinidade e em seguida, com
Teodósio, a fé cristã torna-se a religião oficial do Império. No ano de 395, Jerusalém é uma
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cidade bizantina e cristã, ligada diretamente a Constantinopla. Recupera também o seu


antigo nome, que havia sido mudado por Adriano. Fiéis de todo o mundo vinham em
peregrinação ao local onde Cristo viveu. No entanto, o domínio da cristandade sob a
Palestina foi breve. Depois de pouco mais de três séculos, ela cairia nas mãos dos
seguidores de Maomé.

A Expansão do Islã

Há milhares de anos que os árabes vivem na Palestina, mas foi só com a expansão islâmica,
em 635 d.C., que os muçulmanos tomaram o controle de Jerusalém e seus arredores. No
século seguinte à morte de Maomé (ou Mohammed, como os islâmicos preferem chamar),
as duas grandes potências da época, o império persa e o império bizantino, entraram em
declínio. O Oriente Médio passou a ser dominado pelos califas, assim como grande parte da
Arábia.

O segundo califa a exercer controle sobre a cidade, Omar in al-Khattab, oficializou a


santidade de Jerusalém como um lugar a ser respeitado pelas três religiões. Segundo a lei
islâmica, a liberdade de culto é uma graça divina, a não pode ser proibida por decretos
mundanos, ainda que fossem mesmo os muçulmanos que detinham o poder governamental
da Terra Santa. A maioria dos árabes residentes em Jerusalém antes da chegada do Islã
abraçaram a nova doutrina, enquanto outros permaneceram leais à fé cristã.

A Alta Idade Média já ia embora quando tiveram início as Cruzadas. Uma mistura de
razões ideológica, econômicas e políticas levou os cavaleiros ocidentais a pleitear a
conquista da Palestina. O objetivo era retomar a região e tirá-la do controle árabe. Os
cruzados – como se chamavam os cavaleiros das Cruzadas – derrotaram os muçulmanos e
governaram Jerusalém entre os anos de 1099 e 1187. Em seguida, Saladino libertou a
cidade, que foi novamente ocupada pelos cristãos em 1229. Quinze anos mais tarde, uma
nova incursão árabe tomou de vez a Terra Santa, que permaneceu sob influência do islã até
a ocupação britânica em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial.

O SÉCULO XX

Por muitos séculos, a Palestina esteve dominada pelos muçulmanos. Foi um período de
relativa calma. Muitos judeus que habitavam a região incorporaram o idioma árabe, ainda
que continuassem a usar o hebraico como linguagem religiosa. Alguns cristãos também
moravam em Jerusalém, e muitos peregrinos visitaram, durante esses séculos, os locais
sagrados onde Jesus Cristo nasceu e morreu (em Belém e em Jerusalém). A Convenção de
Omar, um decreto oficializado no século VII pelo então califa Omar in al-Khattab, que
permitia a liberdade de expressão a judeus e cristãos, continuou a ser respeitado pelas
dinastias que controlaram a Terra Santa – os omíadas, abássidas, fatimidas, seldjúcidas,
aiúbidas, mamelucos, hashimitas e otomanos. Todos esses governantes trabalharam no
sentido de preservar a herança islâmica de Jerusalém. As dinastias reconstruíram as
mesquitas de Al Aqsa e da Abóbada da Rocha e construíram um templo no mesmo lugar
onde o Corão sustenta que Maomé subiu aos Céus.
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Em fins do século XIX, os tentáculos das potências européias já estavam estendidos sobre a
África e Ásia, mas a maioria das nações do Oriente Médio – Palestina, Pérsia, Afeganistão,
Líbia e os territórios hoje correspondentes à Síria e ao Líbano – estavam nas mãos dos
turcos otomanos. Mas quando o século XX chegou, as coisas começaram a mudar
drasticamente. As disputas por áreas de influência tornaram-se insustentáveis e a Europa
lançou-se em uma guerra de proporções jamais vistas anteriormente. Em fins de 1914, os
otomanos tomaram o lado da Tríplice Entente e suas fronteiras se viram espremidas por
ofensivas russas e britânicas. No fim da Primeira Guerra Mundial, o glorioso e outrora
poderoso Império Otomano estava reduzido à região da Anatólia. Os ingleses ocuparam os
seus territórios, e isso inclui Jerusalém. Nessa época, a Grã-Bretanha tinha em mãos três
propostas para o futuro da Palestina. O acordo Sykes-Picot, de 1916, previa uma
administração internacional para a região. Um outro documento, a Correspondência
Hussein-MacMahon, propunha que Jerusalém e arredores fossem incluídos dentro da zona
de independência árabe. Por fim, a famosa declaração de Balfour (1917), elaborada pelo
Lorde Balfour, incentivava a colonização judaica, sob proteção do Reino Unido.

“O sionismo, esteja certo ou errado, seja bom ou ruim, está enraizado em uma
tradição milenar, em necessidades do presente e esperanças futuras de
importância muito mais profunda que os desejos e preconceitos de 700 mil
árabes que agora habitam aquela terra antiga. Desta forma, não propomos
sequer consultar os desejos dos atuais habitantes do país.”

- Lord Balfour

A Inglaterra optou por aderir à aliança com o movimento sionista, e foi dada a largada para
a imigração em massa de israelitas para Jerusalém. Em 1922 a Liga das Nações ordenou
oficialmente a Grã-Bretanha como potência mandatária da Palestina, sendo assessorada
pela Organização Sionista Mundial. A convivência entre árabes e judeus tinha sido pacífica
durante a época otomana, e a princípio não seria um problema agora. No entanto, os planos
judaicos estavam aquém da convivência, e essa intolerância acabou dando origem à revoltas
palestinas em 1921, 1933 e em 1936. Em verdade, os árabes eram a maioria. Os judeus não
excediam 11% da população mas, com o apoio britânico, iam, aos poucos, conquistando as
melhores terras para cultivo e se estabelecendo em colônias agrícolas.

Em decorrência dos levantes dos palestinos, que se opunham ferozmente ao


estabelecimento de um “lar” essencialmente judeu no Oriente Médio, o Reino Unido
começou a reavaliar a sua estratégia na região. Para alguns membros do Parlamento
(inglês), a política sionista poderia vir a prejudicar os seus interesses. Além disso, entre os
israelitas, a idéia da criação de um Estado judeu ganhava força.

Para resolver esses problemas os britânicos propuseram a divisão da Palestina em áreas


árabes e judaicas, mantendo Jerusalém neutra, sob controle internacional. Além disso,
impôs restrições imigratórias para os judeus. No entanto, com a Segunda Guerra Mundial,
muita coisa teve que ser novamente avaliada. Dois anos depois do fim do conflito – em
fevereiro de 1947 – a Inglaterra declarou que não tinha como continuar administrando a
Palestina e entregou a questão nas mãos da ONU. O resultado disso foi a criação da
chamada Resolução 181, que, em síntese, estabelecia da seguinte forma a partilha da
região:
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a) A criação de um Estado judeu


b) A criação de um Estado palestino
c) Jerusalém, Belém e adjacências ficariam sob controle internacional

Os palestinos rechaçaram a Resolução 181. Eles alegavam que ela beneficiava os interesses
dos judeus, já que as terras israelenses somariam 56% da Palestina e os judeus somavam
apenas 33% da população – ocupando somente 6% da área urbana.

Em 14 de maio de 1948, o mandato expirou e os ingleses se retiraram definitivamente do


Oriente Médio. No mesmo dia, Israel declarou, unilateralmente, a sua independência.

O início do drama moderno do Oriente Médio começa aqui. Com a independência, Israel
pôs em prática o que chamou de “teoria de transferência”, cujo objetivo era expulsar os
palestinos dos seus territórios e criar um país essencialmente judeu. A implementação dessa
teoria se deu, muitas vezes, de maneira violenta. Em 28 de outubro de 1948, o 89º batalhão
do general Moshe Dayan protagonizou o massacre de Dawaymeth, uma aldeia entre
Jerusalém e Ramallah, onde cerca de 580 palestinos foram mortos. Diante dos fatos, alguns
analistas sustentaram que os israelenses estavam usando a recusa árabe à Resolução 181
como desculpa para promover a “judaização” da Palestina. Contudo, a Segunda Guerra só
tinha terminado há 3 anos, e a simpatia da opinião pública internacional para com os
judeus, especialmente por causa do Holocausto, impulsionou as coisas a favor de Israel,
fazendo com que muitas atrocidades fossem rapidamente esquecidas ou ignoradas pelo
mundo ocidental.

A teoria da transferência deu origem aos milhares de refugiados palestinos, um problema


social que persiste até hoje. Muitos árabes que foram expulsos de suas casas emigraram
para a Jordânia e para o Líbano, enquanto outros se alocaram em campos de refugiados na
Cisjordânia (região ao oeste do rio Jordão). O campo de Jenin é atualmente um dos
maiores.

A Guerra de Independência

Os países árabes se opuseram à Resolução 181. Para eles – como já foi dito – a
determinação era favorável aos israelenses e prejudicava a população palestina. Assim, o
Egito, o Iraque, a Jordânia, o Líbano e a Síria (todos membros da Liga Árabe) declararam
guerra à Israel, no dia seguinte à sua independência. Este conflito também é conhecido
como a Primeira Guerra Árabe-Israelense.

Mas o mundo árabe, descentralizado e dividido, não estava preparado para enfrentar o
recém criado Estado judeu. Os israelenses contavam com o apoio do ocidente,
especialmente dos Estados Unidos, tanto ideológica como financeiramente. Não obstante,
manter a soberania das fronteiras era uma questão essencial, enraizada no coração de cada
judeu da Terra Santa. Assim, o moral das tropas e da população era alto. Pela primeira vez
na história moderna, eles estavam lutando por uma região que acreditavam ser sua por
direito. Estavam lutando no mesmo solo que os seus antepassados lutaram na Antigüidade.
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A Primeira Guerra Árabe-Israelense terminou em janeiro de 1949, com um grande saldo de


mortos dos dois lados. Israel saiu vencedor, conquistou definitivamente a sua
independência e passou a ocupar a Galiléia e o deserto do Neguev, ampliando o seu
território – de 14.500 Km² para 20.900 Km². A cidade de Jerusalém foi dividida entre a
Jordânia (Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha) e Israel (Jerusalém Ocidental), que
anexou também a Cisjordânia. A Faixa de Gaza, que faz fronteira com o Egito pelo deserto
do Sinai, ficou nas mãos dos egípcios.

Teoria em Prática

A teoria da transferência foi posta em prática durante a guerra e se intensificou depois dela,
aumentando ainda mais o drama social dos refugiados. A linha do armistício (que delineava
as fronteiras depois de 1949) caiu pouco tempo depois, quando os israelenses avançaram
em 1950, e ocuparam 77% das terras palestinas. Em Jerusalém, Israel se apossou de
84,23% do território urbano, deixando 11,48% para a população árabe local. O restante
(4,39%) permaneceu como um “bolsão” administrado pelas Nações Unidas.

Todos os acampamentos palestinos na parte ocidental de Jerusalém foram fechados e seus


nomes árabes substituídos por nomes hebraicos. Um total de 29 vilas localizadas nos
arredores da cidade foram destruídas, suas terras confiscadas e sua população forçada a se
retirar. Em seguida, o governo israelense aprovou diversas leis administrativas visando a
apropriação de terras palestinas – que na época, acredita-se, somavam 80% das
propriedades de Jerusalém. No dia 11 de dezembro de 1949, a sede do governo de Israel foi
transferida para Jerusalém. E a cidade sagrada foi declarada capital do Estado judeu.

No ano seguinte, como parte da política de judaização, políticos israelenses estabeleceram a


Lei do Retorno, segundo a qual todo judeu, de qualquer parte do mundo, tem o direito de se
mudar para Israel e obter cidadania israelense. Isso intensificou a imigração e a população
judaica na região cresceu de 84.000 em 1948 para 167.400 em 1961. A história das
civilizações árabes foi proibida nas escolas e restrições relativas ao ingresso nas faculdades,
residência, emprego e trânsito foram impostas aos palestinos. O general (israelense) Moshe
Dayan, que comandou tropas na Guerra de Independência e na Guerra dos Seis Dias,
reconhece a atitude do Estado judeu em uma declaração dada à edição de 4 de abril de 1969
do jornal israelense Ha-Aretz:

“Nós viemos para este país que já era habitado pelos árabes, e aqui estamos
estabelecendo um Estado hebreu, isto é, judaico. Em áreas consideráveis do
país, compramos as terras dos árabes. Cidades judaicas foram construídas no
lugar das cidades árabes. Vocês nem sabem os nomes das cidades árabes, e eu
não os culpo por isso, porque nem existem mais os antigos livros de geografia.
Mas não apenas os livros não existem, como as cidades também desapareceram.”

A Guerra de Suez (Segunda Guerra Árabe-Israelense)

Em 1956, o Egito anunciou que o Canal de Suez era parte do país, e impediu o trânsito de
embarcações com destino a Israel. O presidente então egípcio Abdul Nasser também
bloqueou o Estreito de Tiran e fechou o porto de Eilat, no Golfo de Ácaba. Essas medidas
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ameaçavam o projeto israelense de irrigação do deserto de Neguev e cerravam a única


ligação de Israel com o Mar Vermelho, impedindo o comércio com a África, Ásia e com o
Golfo Pérsico (prejudicando a importação de petróleo). Não tardou para, em meados de
outubro, Israel, com apoio francês e britânico, declarar guerra ao Egito.

Os israelenses avançaram e conquistaram a Faixa de Gaza, península do Sinai e o porto de


Eilat, reabrindo-o. As tropas chegaram a apenas 16 km de Suez. Sob mediação da ONU, o
canal foi reaberto e as forças de Israel retrocederam às linhas de armistício impostas ao fim
da Guerra de Independência.

Fundação da OLP

Em fins da década de 50 começaram a surgir as primeiras fagulhas da resistência palestina


ao exílio e à ocupação israelense. Na verdade, muitos grupos já começavam a se organizar
bem antes disso, mas a concretização deste ideal de libertação tomou forma em 1964, com
a fundação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

A criação de um movimento centralizado, com bases ideológicas concretas foi possível


graças a participação de intelectuais palestinos, em sua maioria exilados. No entanto, nessa
época, a organização era puramente ideológica. Ela fora incentivada por Nasser, para quem
qualquer jogada contra os interesses israelenses (que o derrotaram na Guerra de Suez) era
válida.

Um dos cabeças da OLP era Yasser Arafat, um egípcio que cresceu em Jerusalém, junto à
população muçulmana local, tornando-se, assim, um palestino. Arafat logo assumiu a
liderança da Organização para a Libertação da Palestina, e despontou como herói na Guerra
de Suez, em 1956.

A Guerra dos Seis Dias

Depois da Guerra de Suez, a tensão no Oriente Médio, ao invés de amainar, se agravou.


Grupos islâmicos, especialmente a Fatah, iniciaram movimentos de guerrilha, ao mesmo
tempo que ações terroristas eram perpetradas em território israelense. O rei Hussein da
Jordânia e o presidente egípcio Abdul Nasser (antigos inimigos), assinaram um acordo de
defesa conjunta, e depois acertaram, com a Síria, uma aliança militar.

A situação nas fronteiras começava a ficar tensa, e Israel temia, a qualquer hora, uma
invasão árabe inesperada. Diversos meios diplomáticos foram acionados, mas o Estado
judeu passava por momentos difíceis. Grande parte da ajuda norte-americana do pós-guerra
fora cortada; as organizações sionistas destinadas a recolher dinheiro enfrentavam
dificuldades; a indenização alemã começava a acabar e 10% dos trabalhadores israelenses
tinham perdido seus empregos. Além disso, se 80 mil árabes estivessem realmente se
mobilizando para uma guerra, seria deveras provável que alcançassem o seu intento que,
para o ditador egípcio Nasser, era “(...) a destruição de Israel”.

Os estrategistas judeus sabiam que não poderiam defender o seu território contra um ataque
maciço e conjunto, especialmente se este viesse por ar. Ao contrário: a sua única forma de
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 12
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defesa era o ataque, uma ofensiva rápida e em grande escala, que neutralizasse boa parte
das forças inimigas. Baseados nesse princípio, Israel efetuou, sem declaração de guerra, um
ataque devastador aos aeródromos egípcios na manhã de 5 de junho, dizimando grande
parte de seus aviões de combate. De uma população de dois milhões de judeus, 264.000
foram mobilizados em 72 horas e enviados para a batalha. No entanto, sem Força Aérea, o
Egito, e também a Jordânia (cujos aeroportos militares também foram atacados) já estavam
a um passo da derrota.

Seis dias depois, em 10 de junho, a guerra havia terminado. Em apenas uma semana, as
forças de Israel tinham vencido o inimigo e redesenhado completamente o mapa do Oriente
Médio, quadriplicando o tamanho de seu país. A península do Sinai, a Faixa de Gaza, a
Cisjordânia, as colinas de Golã e Jerusalém Oriental foram conquistadas. Muitos desses
territórios permanecem, até hoje, sob ocupação das forças israelenses.

Setembro Negro

Em setembro de 1970, Arafat e a OLP estavam em território jordaniano, juntamente com


outros milhares de palestinos. O número de refugiados no país crescia a cada dia, e com
isso começaram os choques entre esses árabes renegados e o governo real do rei Hussein,
que tentava minar a força da OLP em seu país. Em resposta à esse choque com o Estado
jordaniano, um grupo palestino, a Frente Popular, não ligado diretamente a Arafat,
seqüestrou quatro aviões em pleno território da Jordânia. Os terroristas sustentavam que
Hussein estava alinhado com as potências ocidentais, e tentavam desmoralizá-lo junto ao
seu povo.

Os seqüestros dos aviões foram visto pelo rei com uma afronta, e foi também um golpe à
autoridade do líder da OLP (Arafat). Em resposta, o exército real iniciou uma campanha
contra os guerrilheiros palestinos em seu território. Mais de 10 mil pessoas morreram nesse
episódio, que ficou conhecido como “Setembro Negro”.

O Setembro Negro foi um dos raros conflitos entre árabes, e não entre árabes e judeus, mas
tem a sua importância para o povo palestino, que foi massacrado e forçado a abandonar a
Jordânia. Muitas nações árabes condenaram as atitudes de Hussein, e um acordo de paz
assinado no Egito pôs fim às confrontos. A partir daí, a guerrilha palestina, sem o apoio de
um país sede, passou à clandestinidade.

A Guerra do Yom Kippur

Em 1973, a exemplo do que os israelenses fizeram em 1967, Egito e Síria desfecharam um


ataque surpresa contra o território de Israel no dia do feriado judaico do Yom Kippur (Dia
do Perdão), a data religiosa mais importante entre os israelitas. A causa mais latente deste
ataque foi a não desocupação dos territórios conquistados em 1967. Além disso, a
rivalidade entre egípcios e israelenses ainda perturbava o Cairo desde a derrota em Suez,
em 1956.

Depois de penetrar 15 km adentro das áreas ocupadas por Israel, os árabes foram contidos.
A Força Aérea israelense bombardeou Damasco e as posições do Egito no Sinai foram
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 13
Eduardo Spohr

isoladas. Novamente os Estados Unidos apoiaram Israel, mas desta vez Washington tinha
um motivo a mais para isso. Além do Iraque e da Jordânia, a União Soviética também
estava ao lado dos interesses egípcios e sírios. A Guerra do Yom Kippur acabou e as
fronteiras voltaram ao ponto que eram antes do conflito. Não houve avanços em nenhum
dos lados e as Nações Unidas coordenaram os acordos de trégua.

O Petróleo como Arma

Em 1973, mesmo ano da Guerra do Yom Kippur, a opinião pública internacional começou
a olhar com mais interesse a questão palestina, à medida que as cinzas do Holocausto iam
se dispersando. Os países árabes descobriram que podiam usar o petróleo como arma e a
Opep boicotou o fornecimento de petróleo para Israel e outros países que o apoiavam. Foi a
chamada Crise do Petróleo. As bolsas de várias nações ocidentais despencaram.

A Guerra do Líbano

A Guerra do Líbano, ou, como os israelenses preferem chamar, a “Operação Paz Para a
Galiléia”, começou em 1982, quando as forças de Israel penetraram no Líbano com o
objetivo de aniquilar a estrutura da OLP, que desde a expulsão da Jordânia (Setembro
Negro) passaram a operar na região. O governo israelense sempre sustentou que o território
libanês era a base de operação para inúmeros ataques terroristas à Galiléia (onde fica a
fronteira entre Israel e Líbano), e decidiu invadir o país. No entanto, desde a independência
de Israel, milhares de civis palestinos imigraram para dentro das fronteiras libanesas,
desequilibrando o poder local, já que os islâmicos passaram a ser maioria no país.

Quando a guerra (ou a operação de paz) começou, em 82, o Líbano já vivia, há pelo menos
20 anos, uma devastadora guerra civil. Cinco facções religiosas – os cristãos maronitas, os
cristãos ortodoxos, os muçulmanos sunitas, os drusos e os xiitas – disputavam o poder na
região. Em 1958 os Estados Unidos fizeram uma intervenção no Líbano, impedindo que o
país se desfizesse em pequenos territórios. Uma nova forma de poder foi proposta pela
ONU, que sugeria um governo formado pelos chefes de cada grupo religioso.

A fórmula das Nações Unidas fracassou e em 1975 a guerra civil recomeçou. O estopim
para o reinicio do conflito foi um atentado perpetrado pelos cristãos maronitas, facção que
se opunha mais violentamente à presença dos muçulmanos no Líbano. O ataque deixou
dezenas de palestinos e libaneses islâmicos mortos. A Organização para a Libertação da
Palestina era forte no país, e a sua presença marcante. Então, a Síria rompeu laços com a
OLP e passou a apoiar os (cristãos) maronitas, o que desencadeou fervorosos protestos no
mundo árabe. Para impedir mais derramamento de sangue, Estados Unidos, França e União
Soviética enviaram uma missão à zona de conflito e pressionaram a Síria a retirar suas
tropas da região e voltar a conversar com os palestinos. A situação permaneceu tensa até
que a violência explodiu de vez em 1977, quando o líder druso Kamal Jumblatt foi
assassinado.

Em meio à guerra civil, o poder da guerrilha da OLP aumentava, e Israel começou a


preparar uma ofensiva militar para destruir a organização de Yasser Arafat. Segundo o
Estado judeu, os combatentes da OLP eram os mesmos que executavam os ataques
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 14
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terroristas na Galiléia. Alguns destes atentados foram de fato perpetrados por homens
ligados direta ou indiretamente a membros da organização, mas a maioria dos palestinos
que viviam no Líbano era civil.

Israel invadiu o país em junho e seguiram-se dois meses de intensos combates. Os


israelenses sitiaram a parte muçulmana de Beirute, cortando o fornecimento de água e
energia. Em fins de agosto, Beirute estava arrasada, e os americanos convenceram Arafat e
os combatentes da OLP a deixar o Líbano. Esta não foi uma decisão fácil, pois a maioria
dos países árabes se recusava a recebê-los. No fim, quase todos foram para Tunísia,
deixando suas famílias para trás.

Como a situação permanecia tensa, um destacamento militar estadunidense foi enviado à


capital libanesa. Os palestinos remanescentes eram centenas de milhares de civis, que
continuaram morando nos campos de refugiados. Em dois destes campos, Sabra e Chatila,
cerca de 800 civis palestinos, indefesos sem a guerrilha da OLP, foram massacrados pelos
cristãos maronitas. O ex-secretário de Estado americano no período de 1989-1992, George
Shultz, define assim o episódio:

“Quando os soldados (americanos) partiram, eles queriam assegurar a


segurança das mulheres e crianças que haviam ficado nos campos, e achamos
que tínhamos conseguido isso. Quando os israelenses deixaram os libaneses
(maronitas) invadirem os campos, sabendo que haveria um massacre, nós nos
sentimos traídos. Foi um momento muito baixo.”

No mesmo ano (1982), com o apoio norte-americano, o líder maronita Amin Gemayel
assumiu o poder, mas sucumbiu aos drusos em 1988, depois que os Estados Unidos e Israel
se retiraram do Líbano.

A Intifada

Com a saída da OLP do Líbano, muitos de seus membros se dispersaram. Enquanto Arafat
permanecia exilado em Túnis (capital da Tunísia), e continuava firme em sua intenção de
negociar a Questão Palestina por vias diplomáticas, Abu Mussa, um outro alto funcionário
da organização, com ideais mais radicais, criou uma sisão no movimento. Mas Yasser
Arafat tinha vínculos valorosos e com o apoio do presidente do Egito, Hosni Mubarak, e do
rei Hussei da Jordânia, se reelegeu presidente da OLP em 1984. No ano seguinte Arafat e
Hussein elaboraram uma proposta de paz, que previa a retirada de Israel dos territórios
ocupados. O documento foi rejeitado.

Diante de um futuro incerto, os palestinos foram às ruas de Gaza. Em 1987 estourou o


primeiro grande levante popular contra a ocupação israelense, e foi chamado de “Intifada”.
A revolta foi desencadeada quando quatro palestinos morreram atropelados por um
caminhão do exército de Israel.

A ação dos militares israelenses, que usavam artilharia contra os adolescentes palestinos,
armados com paus e pedras, foi condenada pelo mundo ocidental. Em face dessa simpatia
da opinião pública mundial, a OLP se fortaleceu. Os ricos países do Golfo Pérsico passaram
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 15
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a enviar ajuda financeira ao movimento de Arafat, e ele a usou para estabelecer fortes bases
de operação na Cisjordânia e na Faixa e Gaza. Abdel Barri Atwan, editor-chefe do jornal Al
Quds Al Arabi explica a situação da seguinte forma:

“Arafat era muito inteligente e, como artista da sobrevivência, conseguiu


aproveitar o fenômeno da Intifada. Ele investiu muito, gastou muito dinheiro,
milhões de dólares, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para montar uma base
forte na Intifada. E foi bem-sucedido.”

O levante serviu também para unir as facções da OLP. A partir de então, Arafat começou a
planejar uma forma de usar a credibilidade adquirida pela Intifada para cumprir as
exigências israelenses e americanas - reconhecendo o Estado judeu e renunciando ao
terrorismo - e ao mesmo tempo satisfazer os interesses dos palestinos. As manobras do líder
da OLP deram certo. Os árabes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza apoiaram Arafat e, em
novembro de 1988, ele anunciou, no exílio, a criação do Estado palestino, aceitando
também as exigências de Israel relativas ao terror. As suas declarações foram
imediatamente aceitas pelos países árabes, mas rejeitadas por Israel e vistas com
indiferença pelos EUA.

A Intifada terminou em 1993, quando as conversações de Oslo resultaram em um acordo de


paz assinado por Yasser Arafat e pelo então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, sob
mediação do presidente americano Bill Clinton (ver O Processo de Paz, mais adiante).

A Guerra do Golfo

Em agosto de 1991 o Iraque, sob o comando do ditador Saddam Hussein, invade o Kwait.
A ameaça relativa à questão do petróleo mobilizou não só as potências ocidentais, mas
também diversos países árabes – tais como o Egito, a Síria, o Marrocos, a Arábia Saudita e
os Emirados Árabes Unidos – que vendiam óleo para os americanos, e por isso se
colocaram ao lado de seus aliados econômicos e contra o Iraque. O país, contudo, sempre
foi colaborador da causa palestina, e estava na lista de nações que patrocinava a OLP. Além
disso, o povo palestino estava a favor dos iraquianos e contra os Estados Unidos, que por
sua vez apoiavam Israel. Dividido entre o povo palestino, que admirava a iniciativa do
Iraque, e aliados importantes, como a Arábia Saudita, Arafat escolheu o seu povo e
Saddam. O depoimento de Abdel Barri Atwan nos ajuda a entender os motivos que levaram
o líder palestino a fazer essa opção.

“Eu disse ‘Escute, Arafat, não ache que você e Saddam vão derrotar os EUA.
Ele será derrotado e você também. Já pensou nisso?’ E ele disse que sim e me
falou: ‘Estou sempre observando as ruas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Preciso estar com o povo. Se não fizer isso será o meu fim.’”

Em março de 1991 o Iraque foi derrotado e o Kwait estava desocupado. Arafat havia
escolhido o lado fracassado. O mundo árabe estava dividido e confuso. Observando que o
poder americano sobre o Oriente Médio aumentara, o então presidente George Bush deu
uma declaração incentivando os países árabes a aceitar Israel. Isso nunca aconteceu de fato,
mas as tensões entre o Estado judeu entre as ricas nações árabes do Golfo se amenizaram.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 16
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Ao mesmo tempo, Arafat tornava-se persona non grata nesses países, por ter apoiado
Saddam. Aos poucos, os fundos da OLP começaram a escassear.

A Segunda Intifada

Em fins de 1993, com os acordos de Oslo, parecia que finalmente a luz tinha aparecido no
fim do túnel. Quando Yitzhak Rabin foi assassinado, entretanto, a esperança de uma
Palestina livre foi morta com ele. Rabin foi atacado por um judeu extremista que via como
traição os termos de paz. A resposta árabe foi violenta. Um grupo islâmico, o Hamas
(Movimento de Resistência Palestina), iniciou uma onda de atentados em Israel. A
segurança absoluta dos cidadãos israelenses era a prioridade da campanha do direitista
Benjamim Natanyahu, que se elegeu primeiro-ministro em 1996. Natanyahu praticamente
interrompeu a devolução de terras palestinas, que haviam sido determinadas nas
negociações entre Arafat e Rabin. Como se não bastasse, Israel continuou a construir
assentamentos judeus em território árabe.

À medida que o acordo de Oslo fracassava, os palestinos eram expulsos de suas áreas, e as
suas casas destruídas por tanques e escavadeiras. Os ataques suicidas se tornavam mais
freqüentes e as retaliações israelenses colocavam os dois povos em um ciclo crescente de
violência. Em setembro de 2000 estourou uma segunda revolta popular, basicamente contra
a construção de assentamentos. À exemplo da Intifada anterior, árabes armados com paus e
pedras enfrentam soldados israelenses, mas desta vez os ataques acontecem principalmente
nas fronteiras dos territórios ocupados, nos postos de controle do exército e nas
proximidades das colônias judaicas. O jornalista Alain Gresh, editor do Le Monde
Diplomatique, define a situação dos assentamentos da seguinte forma:

“Todas elas estão situadas dentro de territórios palestinos incontestados,


essas colônias concentram os pontos de atrito mais sangrento da nova Intifada.
Pois o principal objetivo dos insurrectos é cristalino. Israel deve escolher entre
a paz e as colônias, colônias essas que os estatutos do Tribunal Penal Internacional,
aprovados em Roma em julho de 1998, classificam de “crime de guerra”.

O objetivo do levante é tornar insustentável a vida dos israelenses, tanto nas colônias
quanto nas cidades. Os ataques aos assentamentos são, por assim dizer, mais “legítimos”.
Por outro lado, os atentados terroristas em cidades reconhecidamente israelenses têm o
único objetivo de levar aos judeus o mesmo sofrimento que lhes é imposto nos territórios
ocupados. A tática do terror (que será abordada em detalhes mais adiante neste estudo),
ainda que se esconda sob uma cortina ideológica, é puramente uma forma de clamar
vingança. E essa tática também se aplica ao terrorismo de Estado israelense, que ataca
campos de refugiados em retaliação à atentados suicidas.

A Segunda Intifada, assim como a primeira, é um levante popular espontâneo. No entanto,


Yasser Arafat e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), criada em 1994, tornaram-se
ícones dessa revolta, e o líder palestino virou o principal alvo das críticas israelenses, que o
acusam de ser o principal responsável pelo terror. O jornalista Graham Usher compara
assim as duas Intifadas:

“Fundamentalmente, participam dela (a Segunda Intifada) o Fatah – organização a


O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 17
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que pertence Yasser Arafat – e os quadros médios surgidos quando da primeira


Intifada. Todas as organizações nacionais e islâmicas, inclusive o Hamas e a
Jihad Islâmica, estão reunidos sob uma direção comum, o que não ocorreu
em 1987, e reconhecem a liderança do Fatah. A originalidade deste movimento
está no uso da violência, inclusive armada, contra a presença israelense nos
territórios ocupados, tanto contra soldados quanto contra colonos.”

Vale lembrar que durante a Primeira Intifada, Arafat estava exilado em Túnis, e só retornou
em 1994 à Palestina, na época da criação na ANP.

Apesar do mandato do direitista Benjamim Natanyahu, a revolta só estourou mesmo em


2000 (como já foi mencionado), durante o governo de Ehud Barak. O premiê, como todos
os que o procederam, aprovou a ampliação dos assentamentos e destinou US$ 500 milhões
no orçamento de 2001 para as colônias. Depois, com o fracasso das negociações de Camp
David, Barak foi criticado por não ser capaz de pôr fim à violência. O primeiro-ministro
aceitou a realização de um plebiscito onde a população decidiria se ele deveria ou não
permanecer no poder. Mais uma vez o ciclo direita – esquerda se sucedeu em Israel. Barak
foi derrubado e Ariel Sharon, um ex-general e político “linha dura” chegou ao poder do
Estado judeu. Desde então, a opressão e a violência, dos dois lados, cresceram
enormemente.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, enviou representantes ao Oriente


Médio. As primeiras conclusões vieram na forma de um documento elaborado pelo diretor
da CIA, George Tenet. Segundo o Plano Tenet, Israel deveria parar de construir
assentamentos em áreas palestinas, e os árabes tinham que renunciar a todas as formas de
terrorismo, interrompendo os ataques à civis israelenses.

Quando a situação parecia ficar mais branda, os atentados de 11 de setembro às Torres


Gêmeas e ao Pentágono mudaram o rumo das coisas. Bush declarou guerra ao terrorismo, o
que deu mais liberdade a Ariel Sharon para reprimir violentamente os atentados suicidas. A
Guerra ao Terror deixou o governo americano de mãos atadas diante dos ataques do
exército de Israel contra objetivos palestinos, que segundo eles eram “alvos terroristas”.
Mas aos poucos, a opinião pública mundial percebeu que sem a mediação estadunidense, a
situação se tornaria insustentável, e um genocídio poderia estar a caminho.

Depois de um terrível atentado durante a Páscoa judaica, Israel deflagrou a operação “Muro
de Defesa” na Cisjordânia, invadindo cidades e campos de refugiados, matando civis,
destruindo casas e cercando o quartel-general de Arafat. O líder palestino ficou mais de um
mês confinado, até que foi libertado depois de entregar às autoridades internacionais seis
homens acusados de ter assassinado o ministro do Turismo de Israel, Rehavam Zeevi.
Entidades humanitárias tentaram visitar as cidades sitiadas, mas foram impedidas de entrar.
A comunidade internacional condenou a ação israelense, e o presidente George W. Bush
avisou que Ariel Sharon deveria retirar suas tropas da Cisjordânia. No entanto, o premiê se
negou, dizendo que o exército deixaria a região “em breve, quando a operação fosse
concluída”. A ofensiva israelense terminou no início de maio de 2002, mas a crise continua
na região.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 18
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A decisão de Arafat de entregar os suspeitos palestinos abalou a sua liderança. Além disso,
a ANP é vista como uma entidade corrupta, e continua existindo graças ao apoio
americano, que ainda vê em Arafat o melhor parceiro para a paz. O próprio Ariel Sharon,
em entrevista à rede de TV CNN, não soube indicar o nome de um outro possível líder
palestino com quem Israel estaria disposto a negociar.

BIOGRAFIAS

Yasser Arafat

O presidente da Autoridade Nacional Palestina nasceu com o nome de Mohammed Abdel-


Raouf Arafat, no Cairo, Egito, em 24 de agosto de 1929. Yasser é uma designação árabe
para “fácil”, ou seja, uma pessoa de bom senso, com a qual não é difícil conviver. Filho de
um comerciante, Mohammed perdeu a mãe quando tinha apenas quatro anos e foi morar
com o tio em Jerusalém, época em que a Palestina estava sob a tutela britânica. Nesta
época, Arafat teve contato, pela primeira vez, com os atritos entre os árabes que ocupavam
a região e os judeus, que começavam a imigrar em massa para o Oriente Médio.

Quando Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a casa onde Arafat vivia foi destruída,
e seus tios o levaram de volta para o Egito. Lá, o jovem árabe ingressou na Universidade do
Cairo, onde cursou engenharia civil. Também estudou bastante sobre a questão judaica,
incluindo obras sionistas como as de Theodor Herzl. Em 1946, com apenas 17 anos,
tornou-se um defensor da causa árabe e começou a comprar armas no Egito para
contrabandeá-las para a Palestina.

O gatuno virou guerreiro em 1948. Quando a Guerra de Independência de Israel foi


declarada, Arafat viajou para a região do conflito, para lutar contra os israelenses. Mais
tarde, em 1950, ingressou no exército voluntário do Egito e tomou parte nas batalhas da
Guerra de Suez. Ao fim do conflito, deu baixa do exército e foi morar no Kwait, onde
trabalhou como engenheiro. Nessa época se associou a outros palestinos e fundou o
movimento hoje conhecido como “Fatah”, destinado a recuperar a terra dos árabes na
Palestina. A Fatah, que mais tarde seria uma das facções a integrar a OLP, passou a ocupar
100% do tempo de Arafat, e em 1965 a organização tornou-se um grupo guerrilheiro.

Yasser Arafat ganhou fama internacional quando, em 1968, um ano depois da Guerra dos
Seis Dias, liderou um grupo que infringiu significativas derrotas aos soldados israelenses
que tentavam penetrar na Jordânia, que na época abrigava bases da Organização para a
Libertação da Palestina. As atividades palestinas no país irritaram o rei Hussein, que os
forçou a deixa a região. A OLP estabeleceu então células de controle no Líbano, e
continuou a executar ações guerrilheiras contra Israel.

Em 1974 Arafat visitou a sede das Nações Unidas e ficou conhecido internacionalmente
como representante do povo palestino. Oito anos depois, Israel invadiu o Líbano, e Arafat
exilou-se na Tunísia. Em 1988 proclamou um Estado palestino independente na Cisjordânia
e na Faixa de Gaza, e renunciou, na ONU, ao terrorismo islâmico.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 19
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A OLP reconheceu a legitimidade de Israel em 1993. Arafat e o então primeiro-ministro de


Israel, Yitzhak Rabin, apertaram as mãos nos jardins da Casa Branca, assinando o acordo
de Oslo. Os dois líderes foram premiados com o Nobel da Paz e, em 1996, Arafat foi eleito
presidente da Autoridade Palestina.

Ariel Sharon

Ariel Sharon, cujo nome verdadeiro é Sheinerman Sharon, nasceu em um estabelecimento


agrícola da localidade de Kfar Malal perto de Telaviv, em 1928. Ainda jovem, faz parte de
um exército clandestino judaico denominado Haganah, onde foi comandante de pelotão
durante a Guerra de Independência. Em 1952 ingressou na Universidade Hebraica de
Jerusalém de História e Estudos Orientais. No ano seguinte fundou e liderou o “Unit 101”,
uma unidade de elite dedicada a ataques de retaliação às ofensivas palestinas contra Israel
na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Em 1956 Sharon foi comandante de uma brigada pára-quedista. Sua falta de disciplina
durante a Guerra de Suez deixou o comando do exército irritado, e por conta disso, seu
avanço na carreira militar teve que esperar por alguns anos. Entre 1957 e 1958 estudou na
Faculdade de Camberley no Grã-Bretanha. No ano seguinte e até 1962, Sharon serviu como
comandante de uma brigada de infantaria e concluiu seus estudos na Universidade de
Telaviv.

Em dezembro de 1973 foi eleito para a lista do Likud, embora não tivesse nenhuma filiação
forte com o partido. Em 1974 renunciou e deixou a organização para se tornar, entre 1975 e
1977, o principal conselheiro de segurança do então primeiro-ministro Yitzhak Rabin.
Em 1976 ele formou um outro partido, o Shlomzion, que ganhou duas cadeiras nas eleições
de 1977. O partido desapareceria rapidamente. Sharon voltaria ao Likud e seria indicado
como ministro da Agricultura e presidente do Comitê Ministerial do Governo de Menahem
Begin até 1981. Embora ele nunca tenha sido muito religioso, apoiou o Movimento “Gush
Emunim” e se tornou patrono do movimento messiânico. Esta posição o ajudou a estimular
o estabelecimento de um denso trabalho para o povoamento judaico nos territórios
ocupados.

No segundo governo de Begin, Sharon estava presente novamente, desta vez como ministro
da Defesa, em 1981, tendo encabeçado a invasão israelense no Líbano no ano seguinte. Em
1984 Shimon Peres o indicou para o cargo de ministro do Comércio e Indústria onde ficou
até maio de 1990. Logo após ele se tornaria o Ministro da Construção até a derrota do
Likud em 1992. No Knesset (Parlamento), Sharon era membro encarregado de cuidar de
assuntos estrangeiros e do Comitê de Defesa entre 1990 e 1992. No ano de 1996, ele seria
indicado ao cargo de ministro de Infra-estrutura do governo Benjamin Netanyahu.

Após a saída de Netanyahu da liderança do Likud e sua derrota nas eleições de 17 de maio
de 1999, Ariel Sharon foi designado como substituto no cargo. Com a desaprovação
popular ao governo de Ehud Barak, ele candidatou-se ao cargo de premiê. A sua plataforma
previa o fim da violência. Elegeu-se primeiro-ministro em 6 de fevereiro de 2001 com
62,5% dos votos.
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Shimon Peres

Shimon Peres nasceu na Polônia em 1923 e veio com a família para a Palestina, quando
tinha apenas 11 anos de idade. Cresceu em um kibbutz (comunidade agrícola) e, mais tarde,
foi estudar nos Estados Unidos, nas universidades de Nova York e Harvard.

Em 1948 se tornou chefe dos serviços navais no novo Estado de Israel. Passou a ser diretor
geral no Ministério da Defesa durante o período de 1953 a 1959. Ainda em 1959, dirigiu o
serviço de inteligência. Em 1974 retoma o cargo de ministro da Defesa, sendo ainda porta-
voz e chefe do partido Trabalhista da oposição até 1984, ano em que forma-se um governo
de coalizão com o Likud.

Em 1992, forças moderadas, lideradas por Yitzahk Rabin, chegam ao poder e Shimon Peres
assume o cargo de chanceler. No ano de 1994 recebe, junto a Rabin e Yasser Arafat, o
Prêmio Nobel da Paz pelos acordos de Oslo, firmados entre Israel e a OLP. Quando Rabin é
assassinado, Peres o substitui como premiê, mas perde o mandato para o conservador
Benjamin Netanyahu em 1996, nas primeiras eleições diretas para primeiro-ministro.

Com a vitória de Ariel Sharon para o cargo de premiê, em 2001, Peres é novamente
convidado a assumir a chancelaria, e toma posse como ministro das Relações Exteriores.

Yitzahk Rabin

Yitzahk Rabin nasceu em Jerusalém em 1922. Determinado a seguir carreira militar, viajou
à Grã-Bretanha, onde recebeu treinamento do exército inglês. Ao retornar a Israel, tomou
parte na Guerra de Independência de 1948 e, em 1964, tornou-se chefe do Estado Maior.
Liderou parte das tropas israelenses durante a "Guerra dos Seis Dias", em 1967.

Deixa a vida militar em 1968, quando é convidado a ser embaixador de Israel nos Estados
Unidos, cargo que ocupa até 1973. De volta ao Oriente Médio, se integra ao partido
trabalhista e se elege primeiro-ministro em 1974. Dez anos depois, assume outra posição de
destaque como ministro da Defesa.

No ano de 1992 é novamente eleito premiê e recebe o Nobel da Paz dois anos depois, por
ter encabeçado os acordos de Oslo. Morre assassinado por um extremista judeu em 1995,
que o via como um traidor do povo israelense, por manter negociações com a OLP.

Marwan Barghouti

Marwan Barghouti é o líder da Fatah – movimento político do líder Yasser Arafat – na


Cisjordânia. Considerado uma figura carismática, popular e dinâmica, tornou-se um líder
influente durante a primeira Intifada, entre 1987 e 1993.

Barghouti é acusado por Israel de ter ligações com as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, o
braço armado da Fatah, que teria sido a responsável por numerosos atentados suicidas em
Jerusalém, Tel Aviv e outros lugares.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 21
Eduardo Spohr

Em 15 de abril de 2002, Barghouti, que é considerado próximo a Arafat, foi preso pelas
forças e defesa israelenses em Ramallah, durante a operação “Muro de Defesa”, na
Cisjordânia, que tinha por objetivo aniquilar a infra-estrutura de células terroristas na
região.

Parte 2 – O Processo de Paz


O QUE QUEREM ISRAELENSES E PALESTINOS?

Israelenses e palestinos querem basicamente a mesma coisa: a soberania total sobre a


cidade de Jerusalém. Naturalmente, não é só isso. Com a continuidade do conflito, as
exigências para concretizar um acordo definitivo de paz se ampliaram em alguns aspectos.
Por exemplo, a retirada das tropas de Israel dos territórios palestinos é hoje uma condição
importante para a paz. A maioria desses territórios, entretanto, foram ocupados em 1967,
portanto antes disso essa não era uma exigência tão relevante quanto agora.

A Cidade Santa deve ser, então, a primeira questão a ser analisada para entender os anseios
de árabes e israelitas. Ela sempre foi, e provavelmente sempre será, o centro das discussões.
Foi lá que, segundo os judeus, o profeta Abraão ergueu o seu primeiro santuário para Deus,
e foi lá também que Maomé teria subido aos céus. Por isso, os palestinos exigem que
Jerusalém seja a legítima capital do seu Estado, e da mesma forma pensam os israelenses,
que transferiram, em 1949, a sede do governo para a Cidade Sagrada. As representações
diplomáticas, no entanto, permaneceram em Tel Aviv, que é considerada a capital oficial do
Estado judeu pela comunidade internacional. Neste ponto, o governo de Israel é irredutível
– Jerusalém sempre será a capital de seu país e não deve ser dividida. Na localidade só seria
admitida uma presença religiosa (e não política) de muçulmanos e cristãos.

A ocupação também é um ponto forte nas negociações. A delegação palestina exige a


retirada das tropas dos territórios ocupados e o fim dos postos de fronteira, permitindo a
livre circulação de árabes dentro de Israel, já que muitos deles trabalham em cidades
israelenses, especialmente em Jerusalém. A questão dos refugiados é outro problema. Os
palestinos querem que eles voltem aos seus lares, de onde foram expulsos, inclusive em
Jerusalém Oriental. Alguns desses refugiados vivem em campos na Cisjordânia, na Faixa
de Gaza, e em outros países, como o Líbano. Yasser Arafat, na década de 60, resumiu
assim essa condição, ao se referir à luta da OLP contra a opressão.

“Quando uma pessoa é expulsa de seu lar, tem a obrigação e o direito de


lutar. Lutar para poder viver. Lutar para ter um futuro. Lutar por seus filhos
e pelo seu povo.”

Outra exigência árabe, mais recente, é o fim da construção de assentamentos judeus em


seus territórios. Em verdade, o que os palestinos desejam é que principio orientador das
negociações seja o intercâmbio de terras por paz e segurança.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 22
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Por fim, a ANP propõe a criação de um Estado palestino democrático, reconhecido


internacionalmente, inclusive por Israel, cuja a base territorial seria a Cisjordânia e a Faixa
de Gaza e a capital Jerusalém.

Os judeus rechaçam a maioria das propostas palestinas, principalmente as relativas a


Cidade Santa e a volta dos refugiados. Atualmente, a principal exigência dos israelenses,
para dar continuidade e legitimidade às conversações, é e segurança total e absoluta dos
cidadãos de Israel. Nisso lê-se o fim dos ataques terroristas e investidas armadas não só
contra civis mas também contra objetivos militares nos territórios ocupados.

Também faz parte da política israelense dar continuidade à construção de colônias judias, o
que bate de frente com a condição imposta pelos palestinos, referente ao fim dos
assentamentos.

CIDADANIA E NACIONALISMO

Nacionalismo

Um aspecto interessante na questão árabe-israelense é a observação do sentimento


nacionalista, que assume proporções exacerbadas entre os dois grupos em discussão. De
fato, segundo Anthony Giddens em seu Estado-Nação e a Violência, há interpretações
“psicológicas” do nacionalismo, que são claramente aplicáveis ao povo judeu e palestino.
Essas interpretações, em um caráter mais global, pressupõem:

“A ligação com uma terra natal, associada à criação e perpetuação de certos


ideais e valores distintos, que remontam a certos aspectos históricos de
experiência “nacional”- essas são algumas peculiaridades freqüentes do
nacionalismo. Muitas teorias psicológicas do nacionalismo associam estas
noções à necessidade dos indivíduos de se envolver na coletividade com a
qual eles possam se identificar.”

A busca por ideais nacionais, ligados especialmente ao passado, são usados, dos dois lados,
para justificar não só a posse da terra mas também a legitimidade da luta para conquistá-la
(ou defendê-la). Esses ideais nacionais, no caso da Palestina (que não é reconhecida
internacionalmente como uma nação), estão mais associados, naturalmente, a parâmetros
socioculturais do que políticos. Os princípios sionistas seguem muito obviamente essa
vertente, ao utilizar fatos históricos e até mitológicos para legitimar a posse de Jerusalém e
arredores a favor dos judeus. Há historiadores que sustentam que os primeiros sionistas,
como Bem Gurion, não eram sequer religiosos, mas ateus. No entanto, eles usaram,
segundo esses analistas, a religião como desculpa para concretizar o ideal de um Estado
judeu.
“Quaisquer que sejam as suas diferenças, os ideais nacionalistas tendem
a relacionar uma concepção de “terra natal” – em outras palavras, um
conceito de territorialidade – a um mito de origem, conferindo autonomia
cultural sobre a comunidade que é o suporte desses ideais.”

- Anthony Giddens, em O Estado-Nação e a Violência


O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 23
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Da mesma forma que os fascistas faziam alusão ao mito de Rômulo e Remo e ao Império
Romano, os judeus utilizam a sua própria mitologia – Abraão, Moisés, Davi – para manter
unido o Estado de Israel. Por sua vez, os islâmicos buscam no Corão e na própria bíblia a
justificativa para a posse da terra. Em, verdade, os muçulmanos não traçam a sua história na
Palestina só a partir da ascensão de Maomé aos céus (em Jerusalém). O povo árabe, filisteu,
seria descendente de Ismael, filho de Abraão com sua concubina, Agar. No livro sagrado do
Islã, Abraão é descrito como um muçulmano, não no sentido moderno e religioso, mas sim
no sentido de ter entregado “sua submissão à vontade de Deus”. De fato, a palavra “islã”
vem da palavra árabe “íslam”, que quer dizer “submissão” (a Deus).

Um fator que desempenha um papel fundamental na divisão social dos dois “Estados” é a
língua. O idioma é um símbolo, uma ligação direta com os antepassados, tantos de árabes
como de judeus, e por isso é fortemente preservado. Impõe também uma “barreira cultural”.
Muitos israelenses não falam árabe e a maioria dos palestinos não sabe hebraico. Muitas
vezes, por causa da linguagem, os dois povos, literalmente, não se entendem, o que torna
ainda mais difícil o intercâmbio sociocultural.

Cidadania

A questão da cidadania é bastante clara no caso dos palestinos; ou melhor, a luta pela
cidadania – para se tornar cidadão. Os árabes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza desejam
ter um país próprio, um Estado palestino. Isso fortalece o nacionalismo, que se torna ainda
mais acentuado quando um povo vive à sombra de uma potência inimiga (no caso, Israel).
Nessas condições, o guerreiro vira herói; o líder vira mártir. O povo se une, resgata valores
e busca uma identidade que possa caracterizá-lo. Um desses valores, essencialmente
islâmico, é a Jyhad, a Guerra Santa.

Segundo o Corão, a Jyhad é, originalmente, o nome dado à luta de Maomé contra os


governantes de Meca para obter o controle da cidade. Em 622 d.C., o profeta teria deixado
Meca, onde enfrentava grande oposição, e se dirigido para Medina. Lá, ele, segundo o livro
muçulmano, assumiu a condição de líder religioso e político. Montou um exército e, na
década seguinte, tomou Meca por meios militares e diplomáticos, subjugando grande parte
da Arábia. Muito mais tarde, o nome Jyhad, a exemplo da luta de Maomé, passou a ser
usado pelos árabes para designar qualquer guerra de caráter religioso.

Diferentemente de profetas como Jesus Cristo, que tinha uma posição pacifista mesmo
diante investidas violentas, Maomé era um profeta guerreiro. E é exatamente essa postura
que impulsiona à Jyhad certos grupos radicais islâmicos, especialmente o Hamas
(Movimento de Resistência Islâmica) e a Jyhad Islâmica. A antiga guerra de Maomé é
então resgatada dos versos do Corão e ressurge na forma de homens-bomba. A religião é
usada para justificar a batalha e a fé oblitera o medo da morte.

A cidadania, no entanto, não é apenas uma palavra escolhida para designar a condição de
cidadão. Cidadania é a capacidade de vários cidadãos, ainda que diferentes, viverem juntos,
em uma sociedade. “Semelhantes não constituem um Estado”, segundo Aristóteles. A
sociedade é necessária porque indivíduos distintos têm que criar instituições comuns para
sobreviver e progredir. Realmente, a existência de uma sociedade pode não ser agradável
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para todos, mas é, sem dúvida, uma necessidade. Palestinos e israelenses sempre vão estar
próximos, mesmo se houver dois estados. Cerca de 35% da população economicamente
ativa da Cisjordânia e da Faixa de Gaza trabalha em Israel. Muitas mesquitas ficam em
Jerusalém. A vida econômica e social dos dois povos está – e provavelmente sempre esteve
– entrelaçadas. Assim sendo, para alcançar a paz, árabes e judeus devem se esforçar para
viver juntos, cada qual respeitando um ao outro. É exatamente isso que podemos chamar de
cidadania.

Nacionalismo pela culatra

O sentimento nacionalista, ainda que possa unir um povo e mantê-lo coeso, ainda que
possa, em alguns casos, estimular o desenvolvimento de uma nação, também tem o seu
aspecto negativo. Muitas vezes, certos Estados consideram seus feitos culturais tão
característicos e maravilhosos que os colocam acima de quaisquer outros. Daí vem o
sentimento de superioridade, que confere legitimidade à dominação, seja cultural ou
política. Essa dominação assume muitas vezes a forma de um nacionalismo agressivo,
expansionista e imperialista. Assim sendo, pode-se dizer que este é um dos motivos que faz
com que povo israelense em geral reaja com indiferença em relação à ocupação. Para o
judeu comum, é indiscutível o fato de que a sua cultura é mais antiga, mais forte e mais rica
do que a cultura árabe.

ACORDOS DE PAZ

Este tópico se propõe a analisar os principais acordos e iniciativas de paz entre árabes e
judeus no Oriente Médio. A análise é cronológica, e faz uma reeleitura, mais direcionada,
da primeira parte deste estudo. Os documentos aqui observados são aqueles relativos aos
povos israelense e palestino. Estão excluídos acordos entre Israel e os Estados árabes para a
devolução de terras e territórios ocupados durante guerras como a de Suez.

Resolução 181 – Plano de Partilha da Palestina (1947)

Quando terminou o mandato britânico para a Palestina, que fora estabelecido pela Liga das
Nações após a Primeira Guerra, a ONU criou uma delegação especial, a UNSCOP (Em
inglês, Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina), para elaborar um plano de
partilha para a Palestina. Disso resultou a chamada Resolução 181, que, em 28 de
novembro de 1947, determinava, basicamente, a internacionalização de Jerusalém; a
criação de um Estado judeu; a criação de um Estado árabe.

O primeiro documento de paz do século XX para a Palestina – a Resolução 181 – resultou


em um completo fracasso. Os árabes se opuseram fortemente ao plano, alegando que este
concedia um território proporcionalmente muito avantajado aos judeus, que eram minoria
na Terra Santa. Mas Israel também desobedeceu o acordo, e proclamou Jerusalém sua
capital logo que os ingleses deixaram o Oriente Médio. Contrariados, vários países árabes
declararam guerra ao Estado judeu, o que resultou na Guerra de Independência de Israel
(ver Parte 1: História, Cultura e Política).

Resolução 242 (1967) e 338 (1973)


O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 25
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A resolução 242, de 22 de novembro de 1967, foi o documento da ONU que objetivava


organizar a situação dos territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias, em junho do
mesmo ano. Os termos da resolução, mais uma vez, não foram implementados. Eles
previam a evacuação das forças armadas israelenses das terras invadidas no conflito; a
garantia da inviolabilidade territorial e independência política de cada Estado da região –
através de medidas que incluíam a criação de zonas desmilitarizadas –; e a retomada das
conversações para estabelecer um acordo justo para o problema dos refugiados.

Desnecessário dizer que a questão dos refugiados nunca foi resolvida e que Israel ocupa,
até hoje, várias porções de terra invadidas na Guerra dos Seus Dias (ver Parte 1: História,
Cultura e Política)

A Resolução 338, de 22 de outubro de 1973, semelhante à 242, previa a devolução, à certas


nações árabes, de terras ocupadas por Israel durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973.

Conferência de Paz de Madri (1991)

As conversações de Madri aconteceram quase imediatamente após a Guerra do Golfo, em


outubro de 1991. Depois de apoiar abertamente Saddam Hussein, e ficar contra a vontade
dos ricos países árabes do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes
Unidos, Yasser Arafat estava isolado. A falta de apoio o havia deixado também sem
dinheiro e sem influência, e sua liderança era baseada em carisma e dinheiro.

Em Madri, Israel aceitou negociar com os palestinos, mas o fez com os líderes dos
territórios ocupados, pois se recusava a manter conversações com gente da OLP. Em
verdade, esses diplomatas palestinos faziam parte da organização comandada por Arafat,
mas não abertamente.

Pouca coisa foi decidida na Conferência de Paz de Madri. As conversações iniciadas na


Espanha continuaram, e seu eixo foi deslocado para Washington, mas os negociadores
passaram a tratar o problema com certa trivialidade, e os debates esfriaram. Madri serviu,
em síntese, para preparar o terreno para as negociações de Oslo, dois anos depois.

Acordos de Oslo (1993)

Em julho de 1992, forças moderadas assumiram o poder em Israel, com Yitzhak Rabin. O
ex-primeiro ministro, Yitzhak Shamir, o direitista implacável, havia sido substituído.
Rabim, ex-general que lutara contra os palestinos na Guerra dos Seis Dias, agora achava
vantajoso negociar com Yasser Arafat. Hanan Ashrawi, chefe da delegação palestina,
explica as motivações no novo premiê:

“Rabin sabia que a OLP estava à beira do colapso e ofereceu uma solução para
a instituição e para os indivíduos, mas não para a causa nacional.”

Arafat viu, nas atitudes de Rabin, a chance de reavivar o processo de paz. Secretamente, em
Oslo, a equipe do líder palestino começou a negociar com oficiais israelenses, que
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propuseram um acordo que lhes favorecia: paz para eles e um pouco de terra para os
palestinos. No entanto, a violência continuava. O poder dos grupos radicais islâmicos
crescia, especialmente do Hamas, que não estava sob o controle da OLP. Mesmo assim, a
grande maioria do povo palestino continuava a apoiar Arafat, e por isso ele era, para o
então governo israelense, o homem certo para conversar.

As negociações de Oslo deram origem a um documento que previa um programa de cinco


anos para a retirada das forças de Israel dos territórios ocupados. Na verdade, o acordo
tinha falhas porque não era absolutamente claro quanto às datas da retirada e quanto às
porções exatas de terra que deveriam ser desocupadas. Assim, muitos palestinos radicais,
dentro e fora da OLP, opunham-se às concessões que haviam sido feitas. A assinatura do
acordo entre Rabin e Arafat, considerado histórico, aconteceu nos jardins da Casa Branca, e
contou com a presença do então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e do chanceler
de Israel, Shimon Peres.
“O acordo foi feito pelo lado fraco da Palestina e imposto pelo lado forte de
Israel. O acordo dava a Israel poderes irrestritos e reconhecia sua existência
nas terras que eles nos haviam roubado. Para o povo palestino o tratado não
era uma conquista.”
- Sheik Ahmad, líder do Hamas

“Não há referência à autonomia ou ao fim da ocupação. Não há luz no fim do


túnel. Mesmo aqueles que apoiavam o acordo reconheciam aí uma grande
falha nesse documento.”
- Edward Said, autor de “The End of Peace Process”

Outra grande falha, do ponto de vista palestino, é que Israel continuou a construir
assentamentos judaicos em seus territórios. Dia após dia, tanques e escavadeiras israelenses
destruíam cidades árabes e confiscavam propriedades rurais. Os protestos eram inúteis. Os
palestinos ficaram frustrados, inclusive em questões como a retirada de tropas. A situação
só não atingiu níveis críticos porque, em 1994, Arafat finalmente retornou à Palestina,
depois de quase 50 anos de exílio, sendo recebido com um herói. Poucos meses depois,
entretanto, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi assassinado, o que pôs em cheque o
processo de paz. Shimon Peres assumiu a chefia do governo, mas foi substituído, em 1996,
pelo direitista Benjamim Netanyahu, que se opunha à devolução das propriedades árabes.

Wye Plantation (1998)

Em 1998, o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton recebeu Yasser Arafat e o então
primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, em Wye Mills, no estado americano de
Maryland, para uma conferência de nove dias. Ao final do encontro foi elaborado o “Wye
River Memorandum”, ou os acordos de Wye, que estabeleciam o seguinte:

• A criação de um plano de segurança para acabar com o terrorismo palestino


• O recuo das tropas israelenses de 13,1% dos territórios ocupados na Cisjordânia
• A transferência do controle de 14,2% da Cisjordânia para as mãos palestinas
• A revogação de clausulas palestinas em acordos anteriores, que fossem prejudiciais a
Israel
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• A garantia de um corredor seguro que ligasse a Cisjordânia à Faixa de Gaza


• A libertação de 750 prisioneiros palestinos
• A abertura de um aeroporto palestino em Gaza

O acordo foi paralisado por Netanyahu dois meses após ser assinado, pois o premiê alegou
que os palestinos falharam em cumprir as exigências relativas à segurança – que, por sinal,
era a prioridade de sua plataforma de governo.

Em 13 de setembro de 1999, o novo primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak, assinou com


Arafat um acordo modificado e renegociado do memorando original, fixando a data de 13
de setembro de 2000 como prazo final para o cumprimento dos termos do tratado. Nesse
mesmo mês, (setembro de 2000), estouraria a Segunda Intifada.

Camp David (2000)

Apesar dos conturbados acordos de Wye Plantation, o Partido Trabalhista do primeiro-


ministro israelense Ehud Barak começou a pleitear um novo tratado de paz com os
palestinos, baseando-se na antiga premissa conhecida como “terra por paz”, ou seja, a
concessão de terras aos árabes em troca do fim da violência e do terrorismo islâmico. Nessa
mesma época, Barak iniciou negociações com a Síria, e concluiu a retirada total das tropas
de Israel do sul do Líbano.

Em março de 2000 começou uma série de negociações que tinha por objetivo definir o
estatuto final da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. No dia 21 desse mesmo mês, Israel
transfere mais 6,1% da Cisjordânia para os palestinos, que agora controlam 40% da região.
Entrementes, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) anuncia que um Estado palestino
independente, com capital em Jerusalém, será proclamado em setembro.

O centro das negociações é então deslocado para os Estados Unidos, e Arafat e Barak
aceitam a proposta presidente americano Bill Clinton para iniciar novas conversações em
Camp David, em julho. Ao mesmo tempo, a organização Fatah, movimento político de
Yasser Arafat, alerta os seus seguidores para um possível confronto com os israelenses,
caso fracasse a cúpula. As reuniões começam a 12 de julho e seguem até o dia 24.

Diferentemente dos acordos de Oslo, que foram assinados mas não foram levados a cabo,
os tratados de Camp David foram imediatamente rejeitados pelo líder palestino Yasser
Arafat. Em 25 de julho, Clinton admite o fracasso do encontro e, nas ruas de Gaza, centenas
de palestinos realizam uma gigantesca marcha contra o Estado judeu. Essas manifestações,
que também aconteceram no Líbano, país com a maior concentração de refugiados
palestinos, pediam a devolução das terras árabes e incitaram o início de um segundo levante
popular contra a ocupação israelense.

YASSER ARAFAT E A ONU

Criminoso ou herói? Terrorista ou Pacifista? Seja qual for a opinião que se tenha a respeito
de Yasser Arafat, uma coisa é certa: foi ele quem abriu os olhos da opinião pública
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internacional para a chamada “Tragédia Palestina”. Arafat é a incorporação e a idealização


do palestino médio, e a mais proeminente figura árabe da região, ou, pelo menos, a mais
reconhecida. Ele é um símbolo da identidade palestina. Por meio das lutas da OLP, com
todos os seus erros, o mundo hoje reconhece os palestinos e há um grande apoio e
solidariedade para com a sua causa.

Em 1974, os Estados árabes reconheceram a OLP como única representante do povo


palestino. Em outubro do mesmo ano, Arafat foi às Nações Unidas, em Nova York, a
convite dos países que o apoiavam. Houve muitos protestos na cidade, especialmente da
comunidade judaica, contra a sua presença. Todos no Primeiro Mundo queriam acreditar
que Arafat era um terrorista perigoso, mas nos países subdesenvolvidos ele era visto como
chefe de Estado.

“Quando ele ergueu as mãos, seu casaco subiu e havia uma pistola, ou
melhor, um coldre, sob o paletó. Todos perceberam e ninguém mais se
importou com o discurso. Todos se concentraram nesse líder que comparecia
armado à reunião. O coldre estava vazio. A pistola havia sido tirada na
entrada da assembléia geral.”

- Sir Brian Urquhari, assistente do secretário-geral da ONU entre 1972 e 1974,


sobre a visita de Arafat às Nações Unidas

O líder palestino queria dizer ao mundo que podia oferecer uma solução pacífica, assim
como uma violenta, para o conflito árabe-israelense. Ele declarou: “Eu ergo o ramo de oliva
em uma das mãos e a arma para proteger esse ramo.” Mas o problema para Arafat era não
poder - ou não querer - reconhecer que Israel tinha o direto de existir. Se fizesse isso, seus
seguidores se voltariam contra ele. Então, os Estados Unidos e Israel o isolaram.
Secretamente, membros da OLP, como Said Hammami e Issam Sartawi fizeram, a pedido
de Arafat, contato com os israelenses. Ambos foram assassinados por palestinos, que os
consideravam traidores.

Quando a Primeira Intifada teve início, Arafat estava exilado em Túnis, capital da Tunísia.
Há anos longe de sua terra, o líder palestino percebeu que a repercussão que o levante
estava tomando na mídia poderia beneficiá-lo. Ele planejava usar a revolta popular para
levar adiante as suas idéias de paz, e ser ouvido pelas nações ocidentais. Arafat queria
aproveitar da credibilidade que ganhou com o movimento para cumprir as exigências dos
Estados Unidos e de Israel – reconhecendo o Estado judeu e rechaçando o terrorismo – e ao
mesmo tempo agradar o seu povo.

Em 1988, as idéias de Yasser Arafat sobre o entendimento foram publicadas pela imprensa
norte-americana. Ele sabia que muitos palestinos iriam se opor a elas, e por isso passou a
responsabilidade a outra pessoas. O texto foi assinado por um de seus assessores, Bassam
Abu Sharif, que o distribuiu primeiramente no encontro de Argel, no mês de junho. O
documento teve grande repercussão e alguns palestinos chegaram a acusar Sharif de
traição. No entanto, os métodos de Arafat começavam a dar certo. A sua popularidade
cresceu entre o seu povo e também na esfera mundial.
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No mesmo ano (1988), com a moral cada vez mais alta, Arafat planejava apresentar suas
propostas na assembléia geral da ONU, em Nova York, mas encontrou um obstáculo. O
seqüestro do navio de passageiros Achille Lauro, em 1985, em que um judeu americano em
cadeira de rodas foi morto e jogado ao mar, Leon Klinghoffer, foi atribuído a terroristas
ligados à OLP, organização de Arafat. Assim, o então secretário de Estado dos EUA,
George Shultz, preferiu enquadrá-lo na categoria de “terrorista” e o negou o visto. Mesmo
assim, muitos queriam ouvir o que o líder palestino tinha a dizer. A assembléia foi então
deslocada para Genebra. Lá, ele divulgou o seu novo plano – a solução dos dois Estados. A
proposta previa a oficialização do Estado palestino lado a lado com Israel, e o fim do
terrorismo.

Na suíça, Arafat fez um discurso para satisfazer os Estados Unidos, mas o governo
americano considerou as suas declarações meio dúbias. Ele não tinha ido “direto ao ponto”,
e iria ter que tentar novamente se quisesse um entendimento com os estadunidenses. Shultz
o sugeriu então que ele que declarasse o seguinte: (1) a OLP renunciaria ao terrorismo; e
(2) reconheceria o direito de Israel de estabelecer fronteiras com segurança e viver com paz
e estabilidade. Se ele dissesse isso, os EUA aceitariam a legitimidade da Organização para
a Libertação da Palestina e iniciariam um diálogo. No fim, Arafat fez uma declaração clara,
inequívoca e direta: “Nós, total e absolutamente, renunciamos a todas as formas de
terrorismo.”

O discurso de Arafat foi bem aceito. Em geral, a comunidade internacional achava que ele
tinha feito o que era preciso. Até mesmo o governo Thatcher o recebeu, enviando o então
Ministro das Relações Exteriores, William Waldergrave (1988-1990), para um encontro
com o chefe da OLP. O líder palestino parecia, por fim, um homem respeitável.

“Ele era um homem formidável e dominante. A questão era saber se, tendo vivido
tanto tempo em um mundo de acordos sujos e intrigas, ele seria capaz de passar à
próxima etapa da maneira convencional, como um chefe de Estado, um político.”

- William Waldergrave

O FATOR TERRORISMO

O terrorismo, por definição, é a ação de grupos que, escondidos sob bandeiras ideológicas,
efetuam ataques contra alvos civis. Exatamente por isso, a tática do terror é sempre
covarde, e é usada regularmente para chocar, para abrir os olhos do inimigo (e algumas
vezes da comunidade internacional) para uma causa, que muitas vezes assume um caráter
nacionalista – observado com freqüência nas organizações radicais islâmicas (Hamas, Jihad
Islâmica, Hezbollah), na facção irlandesa IRA, grupo basco ETA e nas Farc, colombiana.
Por isso, a maioria dos ataques terroristas não escolhe vítimas específicas, como acontece
muitas vezes em crimes comuns. O objetivo é atingir um determinado grupo (étnico,
religioso ou social) e não um indivíduo em particular.

A justificativa do terror é simples: os cidadãos comuns são escolhidos exatamente devido à


incapacidade das redes terroristas em combater diretamente os grupos que os enfrentam.
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Esses grupos são freqüentemente governos nacionais, apoiados pelas forças armadas. A
guerrilha age então a partir da ótica do nivelamento. Atacar civis deixa de ser um ato
covarde justamente devido ao esmagador poder de um exército nacional, inimigo, que os
combate.

Terrorismo e Guerrilha

Há uma linha tênue entre um terrorista e um guerrilheiro. A guerrilha se forma quando um


aglomerado de pessoas, sem qualquer vínculo com uma instituição nacional, pega em armas
para combater. Normalmente essas pessoas estão juntas e lutam por um ideal, que na
grande maioria das vezes é a libertação de seu povo ou a deposição de um determinado
líder ou partido que encontra-se no poder. Logo depois da criação do Estado de Israel, as
guerrilhas palestinas – conjunto de homens que se uniram para enfrentar a opressão
israelense – começaram a agir. A principio, o seu objetivo era impedir que os judeus
tomassem seus territórios. A maioria desses combates nada tinha de terrorista, pois as
batalhas eram travadas contra tanques e soldados israelenses. Em 1964, por exemplo, os
guerrilheiros palestinos estavam na Síria, e formaram uma organização armada denominada
Fedayeen, os “Soldados da Liberdade”. Esse grupo conduziu, na década de 60, inúmeros
ataques contra as tropas israelenses, avançando pela fronteira entre Jordânia e Síria. Em
outra ocasião, no ano de 1968, soldados de Israel entraram na Jordânia e seguiram em
direção à cidade de Karama, que abrigava um centro de resistência palestina. A guerrilha
teve muitas baixas mas lutou bravamente até que os israelenses iniciassem a retirada. Até
hoje o episódio é lembrado com orgulho pelos árabes.

O perigo de sustentar a guerrilha é que a falta de uma união institucional permite que
indivíduos cometam atos essencialmente terroristas. Muitas guerrilhas também, enquanto
na necessidade de arrecadar fundos para financiar armas e interesses diversos, se
distanciam de suas ideologias, e formam alianças duvidosas, como é o caso das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e das suas ligações com o tráfico de
drogas.

O movimento Fatah, que em árabe quer dizer “conquista”, fundado por Yasser Arafat,
assumiu um caráter puramente guerrilheiro no início, mas muitos palestinos ligados a ele
cometeram, ao longo dos 50 anos de conflito, atos claros de terrorismo. Da mesma forma,
não há provas de que Arafat participou, pessoalmente, de ações terroristas, mas muitos
homens ligados a ele sim, tais como Abu Abbas, líder da Frente de Libertação da Palestina
(FLP), responsável pelo famoso seqüestro do navio Achille Lauro, em 1985. Mamdouh
Nofal, líder militar da antiga OLP, classifica os atentados terroristas como “um erro”.

“Eu não vou negar que algumas de nossas ações eram terroristas; inclusive o
seqüestro de aviões que os grupos palestinos realizaram, assim como alguns
ataques contra civis israelenses. Tudo isso é verdade. Mas éramos um
movimento de libertação nacional, e dentro das operações militares palestinas
cometíamos erros. Algumas investidas pareciam atos terroristas mas os
israelenses faziam terrorismo de Estado.”

Setembro Negro
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 31
Eduardo Spohr

Em 1970, a guerrilha palestina estava concentrada no Vale do Jordão, na margem oposta a


Israel. Lá, a força dos combatentes islâmicos tornava-se uma ameaça crescente não só para
os israelenses mas também para o rei Hussein da Jordânia, que via a sua autoridade sendo
abalada por um movimento estrangeiro que se desenvolvia dentro de seu país. Não
obstante, a guerrilha tornava-se mais forte do que as tropas regulares jordanianas e as
autoridades percebiam que podiam, em breve, perder o controle da situação. O rei foi
pressionado para tomar uma atitude, mas relutou a princípio. A gota d’água foi o seqüestro
de quatro aviões comerciais, levados para uma pista de pouso na Jordânia, em setembro de
1970.

O episódio deixou Hussein revoltado e iniciou-se uma operação para minar a presença da
guerrilha palestina no território jordaniano. O grupo responsável pelo seqüestro, a Frente
Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), era uma organização fora do alcance de
Arafat, então líder da OLP. Mesmo assim, a credibilidade do líder palestino ficou
seriamente abalada e o seu movimento teve que deixar a região e se transferir para o
Líbano.

“Todos pagaram por isso. Os palestinos pagaram e os jordanianos também.


A história entre esses dois povos – os jordanianos e os palestinos – teria
sido totalmente diferente sem aquele seqüestro e sem o Setembro Negro.”

- Shimon Peres, ministro israelense das Relações Exteriores

Líbano

Depois que deixaram a Jordânia, os guerrilheiros da OLP, determinados a continuar a


guerra contra Israel, formalizaram um acordo com o fraco governo de Beirute. Esse acordo
permitiu que parte do Líbano se tornasse área livre para a guerrilha árabe. A região ficou
conhecida como “Terra da Fatah”. Lá, os palestinos se reagruparam e voltaram a promover
ataques às fronteiras israelenses. Nesses ataques eram comuns as baixas entre os civis,
como foi o caso de Ma’alot, ao norte de Israel, onde crianças de uma escola foram
vitimadas. Arafat tornou-se rapidamente uma figura demoníaca entre os israelenses. Yael
Dayan, membro do Knesset, o Parlamento de Israel, define assim o líder palestino:

“A sua imagem era de terror, de intransigência. Enviou seus homens para


matar mulheres e crianças. Nós não podemos rescrever a história.”

Olimpíadas de Munique, 1972

Os terroristas palestinos voltariam a ganhar destaque internacional em 1972, quando um


grupo radical islâmico denominado Setembro Negro, em homenagem ao atentado com os
aviões na Jordânia, invadiu a vila olímpica em Munique, fez nove atletas israelenses reféns
e matou outros dois. Uma tentativa frustrada de resgate realizada pela polícia alemã causou
a morte de todos os reféns israelenses e de cinco terroristas.

O Setembro Negro foi apontado, na época, como uma rede fortemente ligada ao movimento
Fatah, de Yasser Arafat.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 32
Eduardo Spohr

Achille Lauro, 1985

A Frente de Libertação da Palestina (FLP) entrou secretamente no navio Achille Lauro, em


outubro de 1985, e atacou um americano, o que causou grande reboliço na opinião pública
estadunidense. Leon Klinghoffer, um turista judeu em cadeira de rodas, foi baleado na
cabeça depois que a embarcação deixou o porto de Said, no Mediterrâneo. O seu corpo foi
jogado ao mar.

Quatro palestinos foram presos quando um barco da marinha americana interceptou o


navio. O mentor da ação, no entanto, o terrorista Abu Abbas, que também era o líder da
FLP, escapou. Anos mais tarde ele viria a dizer que se arrependia pelo assassinato.

Massacre do Aeroporto, Roma e Viena, 1985

Em dezembro de 1985, terroristas árabes atacaram o aeroporto de Roma com granadas e


rifles automáticos matando 15 pessoas e ferindo outras 73. Desse total, cinco civis eram
americanos incluindo uma menina de 11 anos.

Minutos mais tarde, o mesmo grupo praticou um atentado no aeroporto de Viena, na


Áustria, deixando três mortos e 41 feridos.

O Terrorismo Suicida

O terrorismo suicida não é uma tática nova, mas tem ganhado cada vez mais adeptos no
atual conflito. Os palestinos sabiam que, muitas vezes, Israel utilizava a busca pelos autores
de ataques à bomba como desculpa para invadir zonas árabes e capturar dezenas de
palestinos. Assim, a “solução” dos atentados suicidas veio como uma forma de impedir, ou
ao menos de amainar, a retaliação israelense.

Para praticar atos como esses, tão inaceitáveis aos olhos ocidentais, os radicais buscam
inspiração na religião, na Jyhad histórica, na promessa de uma salvação, na vida após a
morte. A ideologia transforma os suicidas em mártires, estimulando a criação de mais e
mais homens-bomba. Assim como qualquer religioso, os extremistas buscam a felicidade
eterna, porém através de um meio violento e contraditório. Para levar a cabo os atentados
suicidas, os terroristas se apoiam em uma causa que mistura nacionalismo e religião,
patriotismo e fanatismo.

Em face disso, é bem provável que a promessa de uma vida eterna junto às cem virgens seja
uma desculpa, um meio encontrado pelos terroristas para se autoconvencer a efetuar os seus
ataques. A verdadeira causa está no sentimento de vingança, de revolta contra o assédio
israelense e contra o Estado judeu, que os assalta e os oprime. A verdadeira causa é, como
já foi dito antes, o ódio, o ódio puro e intenso resultante das constantes agressões a que os
árabes são submetidos a cada dia, sob a ocupação israelense.

Terrorismo de Estado
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 33
Eduardo Spohr

Se, por definição, o terrorismo é o ataque de grupos armados contra alvos civis, então o
terrorismo de Estado é praticamente uma instituição em Israel. Relatos de tropas israelenses
e de massacres contra os árabes são comuns, e foram perpetrados desde a criação do Estado
judeu. Logo depois da independência de Israel, a política de expulsão dos palestinos de
Jerusalém e arredores – a “teoria da transferência” – foi usada como justificativa para a
prática de genocídios como o de Deir Yassin, em abril de 1948, quando 250 palestinos
foram assassinados, entre eles mulheres e crianças; ou o de Dawaymeth (outubro de 1948),
que deixou um saldo de 580 mortos em uma aldeia entre Ramallah e Jerusalém. Mais tarde,
episódios como os de Sabra e Chatila voltaram a chocar o mundo.

Israel deixa absolutamente claro que comete ações terroristas quando anuncia “retaliações”
aos atentados suicidas palestinos. Retaliações contra quem? Quem deve pagar pelo ataque
se o seu autor é mortos no instante da explosão? Os grupos que os apoiam? Como saber
quem são os verdadeiros terroristas? E se os israelenses sabem, por que não acabam com
eles de uma vez. Ao contrário disso, as investidas de Israel se produzem logo após os
atentados, portanto só tem um motivo claro: vingar os civis mortos matando mais civis
palestinos – é olho por olho, dente por dente.

Em verdade, se a questão é o número de mortos, as estatísticas falam por si. Quase 70% das
vítimas da Segunda Intifada são palestinos, a maioria civis. Por isso, as retaliações
israelenses são atos de terror, de vingança, tão cruéis e bárbaros quanto qualquer homem-
bomba.

Parte 3 – Confronto de Ideologias


OS DISCURSOS ISRAELENSE E PALESTINO

Muitas questões estão no rol das discussões entre israelenses e palestinos no Oriente
Médio, e diversas delas já foram levantadas nesse estudo. Para entendê-las em sua
totalidade, porém, é necessário voltar ao ponto-chave da questão, ou seja, à posse da terra –
a quem pertence de fato a Terra Santa e, mais precisamente, Jerusalém. É um problema
difícil de avaliar. Ao invés de tirarmos conclusões pessoais sobre o assunto, é necessário
observar os dois discursos – árabe e judeu – sobre a legitimidade do território.

Os israelenses acreditam que a totalidade da terra pertence a eles – e só a eles. Algumas


figuras, como o atual premiê Ariel Sharon, já sustentaram que os palestinos podem
conviver harmoniosamente com os judeus, mas esta é uma postura puramente política,
adotada para agradar à comunidade internacional. Para os israelenses, a justificativa para a
legitimidade da terra está baseada em fatos históricos e mitológicos. Os judeus viveram, no
passado, na região da Palestina e foram os primeiros a se fixar no lugar, estabelecendo uma
sociedade. Não obstante, o lugar teria sido prometido ao seu povo pelo próprio Deus. A
premissa judaica está apoiada na tradição, na concretização de promessas e valores antigos,
tão velhos quanto a própria humanidade. Assim, a diáspora foi, na visão dos israelitas, uma
dispersão temporária, pois eles tinham planos para voltar aos seus lares.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 34
Eduardo Spohr

Na época que os judeus se espalharam pelo mundo, pouco a pouco, a população árabe
começou a crescer na região e, mais tarde, com o islamismo, os muçulmanos ocuparam
largamente toda a Palestina, tornando-se maioria esmagadora (ver a Parte 1: História,
Cultura e Política). Após a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, os
britânicos assumiram a administração da região e os judeus receberam oportunidades de
voltar à Terra Prometida. A idéia sionista – que defendia um lar judeu na Palestina –
ganhou força e a imigração começou. Nessa época, os árabes estavam espalhados, já há
muitos séculos, por todo o lugar, e então os conflitos começaram.

Para os palestinos, o seu povo tem sido expulso da terra que, por gerações, foi sua - o lar de
seus pais e avós. Eles não estão preocupados com a história bíblica, e sim com o que vem
acontecendo há 80 anos. Para eles, Abraão, Moisés e Davi são apenas nomes rabiscados em
um livro religioso; mas os seus avós, que deixaram seus lares e tornaram-se refugiados, são
reais, são de carne e osso, e alguns ainda seguem com vida, para relatar o tormento real a
que foram submetidos. Para os árabes, os judeus são um povo que morou nas suas terras em
tempos imemoriais, e agora voltou de muito longe para tirar-lhes a casa e o sustento. O
texto abaixo foi tirado do folheto “Os Fatos sobre Israel e sobre o Conflito no Oriente
Médio” elaborado pelo Museu Judaico do Rio de Janeiro, distribuído em março de 2002,
junto com o jornal “O Globo”. Ele detalha a visão judaica para a posse da terra.
“Não há como os árabes palestinos basearem seu suposto ‘direito’ exclusivo
de realização nacional na Palestina em função de sua presença. Se for para
prevalecer a anterioridade da presença, o judeus já viviam lá muito antes dos
árabes, que só chegaram à região 1.700 anos depois de os judeus já viverem
em Canaã. A presença árabe foi intermitente, e nunca com caráter de identidade
nacional. E se prevalecer a ulterioridade da presença, como anular ou descartar
a atual presença de uma maioria judaica?”

Na visão islâmica, os judeus declararam uma guerra, sem que os árabes os tivessem lesado.
Um argumento muito usado pelos intelectuais palestinos da atualidade sustenta que os
primeiros sionistas, tais como Ben Gurion, nem sequer eram religiosos, mas souberam usar
a questão religiosa e mística para construir uma tese que justificasse o sionismo.

O Status de Jerusalém

Jerusalém, o centro das disputas entre árabes e judeus, é também o ponto mais controverso
da discussão, e que gera mais questionamentos do que soluções. Grande parte dos acordos
de paz não foi fechado por causa da cidade sacra, ou melhor, devido à partilha da
localidade.

Segundo a Resolução 181 da ONU, de 1948, Jerusalém deveria ser colocada sob controle
internacional. A negativa árabe à resolução desencadeou a Guerra de Independência de
Israel. Os israelenses venceram o confronto e tomaram controle de Jerusalém Ocidental,
onde morava a maior parte dos judeus, e a declararam capital do país. Mais tarde, em 1967,
depois da Guerra dos Seis Dias, a parte oriental da cidade também foi anexada. Apesar de
Israel ser considerado um Estado pela comunidade internacional, até hoje a capital, aos
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 35
Eduardo Spohr

olhos do mundo, é Tel Aviv, onde estão as embaixadas. A sede do governo, contudo, está
na cidade sagrada.

A questão de Jerusalém é polêmica especialmente por causa da Cidade Velha, onde fica a
maior parte dos santuários islâmicos. Israel não admite ceder – e nem mesmo negociar -
essa parte da localidade, e tampouco as vizinhanças palestinas que circundam Jerusalém
Ocidental – considerada pelos israelenses como o coração do sionismo e uma parte
importante da identidade judaica. Um dos motivos do fracasso da conferência de paz de
Camp David, em 2000, (ver Parte 2: O Processo de Paz) foi exatamente a recusa de Yasser
Arafat em aceitar os termos relativos aos locais sagrados e à porção ocidental da cidade.

Da mesma forma que os israelenses querem que Jerusalém seja a sua capital, os palestinos
reivindicam Jerusalém Oriental, onde antes de 1947 morava a maioria árabe, como a sede
de seu Estado.

A Questão dos Refugiados

A questão dos refugiados é, ao lado de Jerusalém, um dos pontos mais polêmicos de toda a
discussão. Depois da Guerra de Independência, a “teoria da transferência” (ver Parte 1:
História, Cultura e Política – “Teoria em Prática”) adotada por Israel fez com que milhares
de palestinos deixassem seus lares – ou fossem expulsos deles – e seguissem para campos
de refugiados no Líbano, na Síria, na Jordânia e na Cisjordânia e Gaza, criando um
gigantesco problema social e humanitário para vários países. A própria discussão de como
tudo aconteceu é polêmica. Os árabes explicam que foram retirados violentamente de suas
casas, e para provar isso se apoiam em relatos históricos, como os massacres de Deir
Yassin e Dawaymeth. No entanto, para os judeus, os palestinos abandonaram
voluntariamente os seus lares por causa do “medo” de lutar. O tópico nº 12 do folheto
judaico “Os Fatos sobre Israel e sobre o Conflito no Oriente Médio” explica o ponto de
vista israelense para a questão dos refugiados.
“O problema dos refugiados palestinos tem sido uma difícil matéria social
e humanitária no Oriente Médio durnte mais de 50 anos. A causa imediata
do problema foi a rejeição árabe da Resolução 181 (o plano de Partilha)
da Assembléia Geral da ONU em 1947 e a guerra resultante, que levou à
independência de Israel. Muitos palestinos que vivam em áreas onde se
travavam batalhas abandonaram seus lares – seja por causa da solicitação
dos líderes árabes (que lhes prometiam que iam voltar após a vitória sobre
os judeus), seja por causa do medo de lutar, ou por não querer viver sob
as regras judaicas. Mas o problema dos refugiados não teria sido criado se
esta guerra não tivesse sido forçada sobre Israel pelos países árabes e a
população árabe local. Em outras palavras, se tivessem aceitado a Resolução
181, não haveria refugiados.”

É visível no texto acima que a questão dos refugiados não está bem clara na cabeça do
judeu moderno, cidadão de uma era onde a opinião pública torna-se fiscal dos direitos
humanos. A “teoria da transferência” foi posta em prática, e não havia como faze-la por
meios pacíficos. Ao contrário, deu-se de forma violenta, e isso está evidenciado não apenas
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 36
Eduardo Spohr

nos relatos sobre os massacres, mas é uma premissa lógica: porque os palestinos lutariam
por uma terra que eles mesmos “abandonaram”?

A possibilidade de seu próprio povo ter cometido tamanha violação dos direitos humanos
causa perplexidade e estranheza em muitos judeus, que se sentem confusos e perdidos
quando o assunto é os refugiados. O texto abaixo, de 1948, foi retirado de um artigo do
escritor americano Harry Lewin.

“Pergunto a mim mesmo o que há por trás de tudo isso. Não pode se tratar
apenas do medo dos judeus (...). Há algo de misterioso na maneiro por que
fogem os árabes (...). Alguma mão invisível parece estimular o êxodo:
primeiro em Tiberíades, depois em Haifa (...). O enigma permanece.”

O problema dos refugiados também tem atravancado os acordos de paz. Uma determinação
das Nações Unidas, de 1949 (após a Guerra de Independência), legitimava a volta dos
palestinos aos seus lares, mas uma série de leis criadas pelo novo estado de Israel barrava a
reentrada dos árabes em território israelense. Até hoje, para os judeus, esse direito de
retorno é ilegítimo. Eles argumentam que a volta dos refugiados criaria um problema
demográfico para o país, e que Israel deixaria de ser uma nação judaica. O governo
israelense já sugeriu que aceitaria, como parte de um “gesto humanitário”, o retorno de 10
mil palestinos às suas famílias no interior de Israel. Atualmente, estima-se que 3,7 milhões
de refugiados estejam alojados em campos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e em outros
países árabes.

Para os palestinos, a dispersão de seu povo enfraquece a identidade nacional. Muitos árabes
acreditam que o direito de retorno vai além da resolução da ONU, e sugerem que não só os
palestinos expulsos, mas também qualquer outro, têm o direito de vivem em Jerusalém e
arredores. Ao mesmo tempo, políticos palestinos assinalam que Israel, ao aceitar os
refugiados de volta, iniciaria uma justa reaproximação dos dois povos, a medida que
reconheceria os erros cometidos no passado.

O Terrorismo Islâmico e a Segurança de Israel

A segurança do Estado de Israel e de seus cidadãos é a prioridade da maioria dos primeiros-


ministros do país, e isso inclui, na maior parte das vezes, planos que visam repelir o
terrorismo e proteger a população civil. Segundo o governo de Israel, o exército não
responde ao terrorismo com mais terror. As suas tropas não invadem campos de refugiados
com a intenção de assassinar civis palestinos, e sim desarticular a infra-estrutura terrorista
cujas células estão concentradas nesses lugares. A justificativa israelense para levar a cabo
operações militares é a incapacidade do comando da Autoridade Nacional Palestina (ANP),
e de Yasser Arafat, em dar conta dessas organizações que promovem atentados dentro do
território israelense.

As baixas civis, especialmente crianças, nas incursões do exército de Israel aos territórios
autônomos palestinos, são explicadas a partir da premissa de que a educação islâmica na
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 37
Eduardo Spohr

Palestina incita mulheres e menores de idade a se tornarem terroristas suicidas. O folheto


judaico “Os Fatos sobre Israel e sobre o Conflito no Oriente Médio”, diz o seguinte:
“O uso calculado de crianças como peões no conflito começa no sistema
educacional palestino. Livros de texto nas escolas palestinas (muitos dos
quais têm sido publicados pela própria Autoridade Palestina) ensinam
abertamente o ódio contra Israel e os israelenses. Programas infantis da
televisão palestina glorificam o martírio na luta contra Israel. Crianças palestinas
são treinadas no uso de armas de fogo em acampamentos de verão e nos
grupos juvenis. Essas táticas, que têm sido extensamente documentadas pela
mídia internacional, são grosseiras violações de todos os acordos existentes
entre Israel e os palestinos. O uso de crianças em conflitos armados é imoral
e contra a lei internacional (e mesmo islâmica).”

Não obstante, Israel também acusa a ANP de providenciar transporte para crianças à certos
lugares (geralmente postos de fronteira) com o objetivo de atacar, com pedras e bombas
incendiárias, posições militares israelenses. Ou seja, para o governo israelense, a
Autoridade Palestina é diretamente responsável pela violência ao (a) financiar o terror; (b)
não se esforçar para prender terroristas; e (c) incitar o ódio contra os judeus.

No entanto, a perspectiva palestina da questão nos abre uma nova visão dos fatos. Para eles,
os atentados terroristas são usados pelo governo de Israel com desculpa para levar adiante
um plano pré-estabelecido que teria por objetivo destruir a infra-estrutura da ANP (que é o
órgão controlador da Palestina, reconhecido internacionalmente), e não a infra-estrutura
terrorista. Com isso, o Estado judeu pretenderia impedir a criação de um Estado palestino, a
medida que destrói as bases da instituição que é, em síntese, o governo palestino.

A imprensa árabe relata que em um determinado ponto da Segunda Intifada, depois de um


terrível atentado suicida, pressionado por Israel e pelos Estados Unidos, Arafat fez um
pronunciamento para toda a Palestina pedindo o fim dos ataques terroristas, para “não dar a
Israel a desculpa para continuar com as operações militares”. O discurso de Arafat foi
convincente, e sensibilizou até mesmo grupos mais radicais, como o Hamas e a Jyhad
Islâmica. Os atentados pararam. Poucas semanas depois, porém, um navio contendo armas
contrabandeadas foi interceptado no Mar Vermelho, e o capitão da embarcação disse, sob
interrogatório, que os armamentos tinham sido encomendados por Yasser Arafat. E então as
operações militares israelenses recomeçaram. O líder palestino por sua vez rebateu, dizendo
que o local no Mar Vermelho onde o barco fora capturado era intensamente patrulhado pela
marinha de Israel, e nem mesmo um tolo contrabandearia armas ali. Assim, a dúvida
persiste: o episódio do contrabando de armas era uma ação ordenada por Arafat ou uma
manobra do governo de Israel para retomar as ofensivas nos territórios autônomos?

Muitos intelectuais palestinos questionam a generalização do terrorismo por parte dos


israelenses e alguns americanos. Como pode um povo (palestino) ser responsabilizado pela
atitude de poucos indivíduos? Como pode um trabalhador, um pai de família ou até mesmo
um estudante adolescente ser confundido com um homem-bomba? A teoria da
generalização leva a pensar que todos os palestinos são terroristas em potencial. Em
verdade, esses pequenos grupos isolados (Frente de Libertação da Palestina, Hamas, Jyhad
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 38
Eduardo Spohr

Islâmica, Hezbollah, FPLP) parecem muito maiores e numerosos a julgar pela repercussão
de suas ações brutais.

Sharon e Arafat

Os dois principais líderes de Israel e da Palestina, Ariel Sharon e Yasser Arafat,


respectivamente, são figuras polêmicas e controversas.

Yasser Arafat é visto pelos israelenses como um criminoso, um terrorista, e o principal


incentivador do terrorismo islâmico. As origens dessa fama remontam aos anos 70, quando
a sua organização, a Fatah, instalou-se no sul do Líbano. Nessa época, muitos atentados
terroristas foram conduzidos na fronteira com Israel, e os judeus até hoje culpam o líder
palestino de ser o mandante desses ataques – bem como outras numerosas ações de terror.
A Fatah, principal movimento político da ANP, é ainda considerada uma organização
terrorista pelos israelenses.

Para os palestinos, Arafat é um líder legítimo. Ainda que a sua imagem comece a
apresentar sinais de desgaste, nem os árabes nem os israelenses sabem apontar outro nome
para liderar a Palestina. Para muitos, ele também é um herói, e símbolo da identidade
palestina. Arafat começou a ser visto dessa forma no final da década de 60, quando liderou
uma guerrilha para combater o exército de Israel que penetrava na Jordânia, onde milhares
de palestinos refugiados moravam. A imagem de líder militar bem-sucedido e de político
proeminente fez dele uma personalidade venerada pelos palestinos e respeitada
internacionalmente.

Para o seu povo, Ariel Sharon é um herói, condenado injustamente pela humanidade pelos
massacres de Sabra e Chatila. Sharon foi brigadeiro e general, e tomou parte em muitas
guerras contra os árabes, dentre elas a Guerra dos Seis Dias (1967) e a do Yom Kippur
(1973), defendendo com sucesso as fronteiras de seu país. Em um artigo da revista judaica
Menorah, Aristóteles Drummond vê o premiê da seguinte forma:

“Israel finalmente está no caminho da paz, da consolidação da Nação, do


reconhecimento de seus vizinhos. Anos de estímulo ao ódio, de uso político
por parte do antigo bloco soviético, de tolerância do mundo que se dia
civilizado com terroristas, desembocou naturalmente nesta crise, com
milhares de vítimas inocentes civis, de ambos os lados.”

“Ariel Sharon é o grande herói deste momento difícil, dramático, mas que
abre perspectivas de uma paz duradoura, com dignidade, respeito e
esperança de um futuro de ordem e progresso, num Israel uno, grande e
livre.”

Para os palestinos, Sharon é um dos principais inimigos (atrás talvez apenas de Benjamim
Netanyahu) de seu povo. Ele é um assassino, e odeia o povo palestino e especialmente
Arafat, a quem diz que “se arrepende” de não ter matado em 1982, durante a Guerra do
Líbano. Nesse mesmo ano, relatos da imprensa internacional, e também do comando do
exército americano, sugerem que Ariel Sharon deixou que os cristãos maronitas entrassem
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 39
Eduardo Spohr

nos campos de refugiados palestinos no Líbano, mesmo sabendo que iria suceder um
massacre. Processos já foram abertos contra ele em tribunais internacional por crimes
contra a humanidade.

Os palestinos também acusam Sharon de incentivar o terrorismo de Estado, ao mesmo


tempo que apontam o exército clandestino Haganah, a qual pertencia antes de 1948, como
uma organização terrorista, destinada a usar o terror para expulsar ao árabes (na época
maioria em Israel) de suas casas.

A Segunda Intifada

O atual levante popular – a Segunda Intifada – foi desencadeada por palestinos ou


israelenses? Quais foram as suas causas?

A Intifada estourou (oficialmente) em setembro de 2000, quando Ariel Sharon visitou o


Monte do Templo, na Esplanada das Mesquitas, um santuário islâmico. A atitude foi
considerada pelos palestinos como um gesto de provocação, e derramou a gota d’água que
desencadeou o levante.

Segundo os árabes, a causa essencial da revolta foi o congelamento, por Netanyahu, da


devolução de terras prevista nos acordos de Oslo de 1993. No entanto, a causa mais
aparente do levante foi a atitude de Israel de continuar construindo assentamentos
(colônias) em áreas palestinas, à medida que tanques e escavadeiras destruíam as casas dos
árabes. O sentimento do povo palestino era de frustração, ao ver que os termos do tratado
de Oslo iam por água abaixo. Além disso, as conversações de paz de Camp David também
haviam fracassado. O acordo foi considerado bom no tocante à devolução das terras, mas
confuso em relação ao status de Jerusalém e à volta dos refugiados.

Para os israelenses, a visita de Sharon ao Monte do Templo não tinha a intenção de


provocar os palestinos. Tratava-se uma disputa de poder dentro do próprio partido (o
Likud). Sharon queria mostrar a Benjamim Netanyahu quem era o mais forte, e os árabes
usaram isso, segundo os judeus, como desculpa para começar o levante.

Israel também critica fortemente Arafat por não ter aceitado os termos do acordo de Camp
David, proposto pelo então primeiro-ministro Ehud Barak, um plano considerado ousado
pelos próprios judeus. Para os israelenses, os palestinos simplesmente não querem a paz ou
a convivência pacífica com os judeus. Ao invés disso, o seu objetivo é destruir totalmente o
Estado de Israel.

A ATUAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS

Os Estados Unidos são os principais padrinhos econômicos de Israel, e assim tem sido
desde a criação do Estado judeu, em 1948. Desde a imigração do início do século XX, a
comunidade judaica é atuante e relevante na sociedade americana, encontrando
representações na vida política, econômica e na mídia. Exatamente por isso, a tendência do
governo americano é apoiar o Estado de Israel, enviado dinheiro e material bélico ao
Oriente Médio.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 40
Eduardo Spohr

Diante do conflito árabe-israelense, a atuação dos Estados Unidos depende muito do


presidente que está no poder. Nos últimos anos, o mais significativo mandatário a se
mobilizar nesse sentido foi Bill Clinton, que levou as duas parte a assinar o Acordo de Oslo
e incentivou a cúpula de Camp David em 2000. O atual presidente, no entanto, George W.
Bush, assumiu uma postura menos comprometida, mas mesmo assim, diante da
continuidade da Intifada, elaborou o Plano Tenet (formulado pelo diretor da CIA, George
Tenet) e o Relatório Mitchell, que prevê os primeiros passos para a consolidação da paz e o
fim da Intifada. O relatório recomenda basicamente o fim da construção de assentamentos
judeus em terras palestinas e o término incondicional dos atentados terroristas.

Como ambos os lados não foram capazes de cumprir os termos do relatório, o presidente
Bush enviou um representante à região, o general Anthony Zinni, para tentar retomar o
processo de paz. Quando tudo parecia caminhar para um entendimento, os atentados de 11
de setembro às Torres Gêmeas do WTC e ao Pentágono levaram os EUA a declarar guerra
ao terror. Isso deixou o governo americano sem moral para criticar as investidas militares
israelenses nos territórios autônomos, que operavam sob o pretexto de aniquilar focos
terroristas. A situação se complicou para o lado palestino, até que alcançou níveis
insustentáveis e culminou com uma gigantesca operação militar na Cisjordânia, que deixou
centenas de mortos e incalculáveis danos materiais à população civil e à infra-estrutura da
ANP.

OS PAÍSES ÁRABES

Um leigo, uma pessoa que tome conhecimento do conflito apenas superficialmente,


facilmente se perguntaria por que os países árabes não tomam uma postura mais enérgica
diante do confronto entre palestinos e israelenses. Por que essas grandes e ricas nações
“abandonaram” os palestinos à própria sorte? O que justifica a sua apatia?

Em primeiro lugar, os países árabes são perdedores. Quando foi declarado o Estado de
Israel, nações como Egito, Iraque, Jordânia e Síria lançaram-se em uma guerra contra o
recém criado país. Nessa guerra – denominada Guerra de Independência de Israel – os
árabes foram derrotados. Mas os confrontos não terminaram por aí. Em seguida veio a
Guerra de Suez, onde o principal inimigo dos judeus era o Egito. Depois estourou a Guerra
dos Seis Dias e a Guerra do Yom Kippur. Em todos esses conflitos, Israel enfrentou um
conjunto de nações árabes e saiu vencedor. A moral dos muçulmanos baixou, e eles se
deram conta de que, mesmo unidos, não seriam páreo para o Estado judeu em um confronto
militar. A tática da guerra mudou, e a Liga Árabe descobriu então que podia usar o petróleo
como arma contra os países ocidentais, dando origem à chamada Crise Mundial do
Petróleo, em 1973, mesmo ano em que teve fim a Guerra do Yom Kippur – apontada como
último conflito institucionalizado entre árabes e israelenses.

A superioridade militar de Israel se deve a vários fatores. O primeiro pode ser explicado por
uma falha operacional e logística do inimigo – os países árabes nunca tiveram uma unidade
que permitisse a plena atividade de um exército conjunto. Isso impossibilitou a criação de
uma “Força Armada Árabe”. Assim, os exércitos de cada país funcionavam como unidades
separadas, independentes, quase sem comunicação entre si e com táticas e estratégias
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 41
Eduardo Spohr

distintas. Em contrapartida, os israelenses operavam com um comando militar centralizado


e eficiente, apesar do número inferior de combatentes. Muitos dos oficiais graduados foram
treinados pela nata do exército inglês – basta lembrar que a Palestina era colônia britânica
antes de 1948. Além disso, as tropas israelenses adquiriam uma vasta e valorosa
experiência em cada conflito que se envolviam, ficando cada vez mais bem preparadas.
Mas o fator mais importante é mesmo a superioridade tecnológica – tanques, armas, caças e
navios -, conseguida com a volumosa ajuda financeira dos países ocidentais depois da
Segunda Guerra Mundial, especialmente dos Estados Unidos.

Esse exército poderoso permitiu que Israel controlasse de forma relativa as suas cercanias –
a Faixa de Gaza e a Cisjordânia – e neutralizasse parcialmente a ameaça árabe a partir de
1973. Nessa época, especialmente depois do Setembro Negro (1970), o principal inimigo
de Israel deixou de ser os países árabes e passou a ser a guerrilha árabe – grupos não
ligados oficialmente à nações islâmicas, mas apoiados claramente por elas. Dentre elas a
mais famosa é a OLP, de Yasser Arafat. Se a Liga Árabe não podia vencer diretamente os
israelenses, iria destinar uma valorosa ajuda financeira à guerrilha, que não poderia ser
“derrotada” porque não era uma instituição centralizada – como um governo estatal – mas
um inimigo “invisível”, cujos agentes estavam espalhados secretamente por todo o mundo
islâmico. Esta forma a Fatah conseguiu um território livre para suas operações no Líbano,
depois do expurgo da Jordânia.

Em 1991, porém, ocorreu um episódio que é a principal chave para se compreender a apatia
dos países árabes diante do atual conflito entre palestinos e israelenses. O presidente do
Iraque, Saddam Hussein, invadiu o Kwait, desafiando os ricos países árabes do golfo,
exportadores de petróleo, tais como a Arábia Saudita. No conflito, conhecido como a
Guerra do Golfo, Yasser Arafat, então líder da OLP, preferiu apoiar Saddam indo contra
muitas nações árabes que o financiavam. Este é considerado, para muitos analistas, um erro
fatal para Arafat. Mas para o líder palestino, a sua postura foi correta porque esta era a
vontade do seu povo. A população da Cisjordânia e da Faixa de Gaza estava simpática ao
Iraque, por sua iniciativa e coragem de ir contra os interesses americanos e ocidentais.

Depois da Guerra do Golfo, a OLP perdeu muitos dos seus principais patrocinadores
árabes, e Arafat passou a ser uma figura mal vista em muitas das ricas nações islâmicas. A
Guerra do Golfo criou um sentimento de ressentimento entre esses países e os palestinos,
que é sentido até hoje.

A POSTURA EUROPÉIA

Poucos sabem, mas a União Européia é uma dos principais patrocinadores dos palestinos.
Essa verba cresceu com a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), em 1993, que
antes era somente a OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Diferentemente da
OLP, que era um grupo guerrilheiro, revolucionário, a ANP é, ou tem a pretensão de ser,
um órgão nacional palestino, ou seja, o governo central dos territórios autônomos.

A Europa sempre assumiu uma postura neutra, ou melhor, de não comprometimento, no


conflito. Isso se deve em parte porque, quando o Estado de Israel foi criado e começaram os
conflitos na região, o continente estava fragilizado, se recuperando de uma guerra
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 42
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devastadora, e necessitando revolver os seus problemas internos antes de se preocupar com


a política externa. Isso fez com que os Estados Unidos, uma nação ascendente na época, e
com a economia estável, assumisse parte do controle da situação, e acabou por se tornar o
principal interventor externo na área.

Quando a Europa voltou à cena, apareceu como principal força moderadora, e é assim que
age a União Européia (UE) hoje, ainda que não tenha o mesmo poder de intervenção que os
EUA têm. Ao passo que condena o terrorismo islâmico, a UE também se manifesta contra a
ocupação israelense nos territórios autônomos.

Diante dessa realidade, a Europa não tem o poder de fato mas, assim como a ONU, tem o
poder de conselho, por assim dizer. Os europeus observam e emitem a sua opinião, e cabe
aos Estados Unidos e às partes implicadas (Israel e Palestina) tomar as decisões.

Frente a posturas tão radicais, os europeus estão do lado do bom senso. Não fecham os
olhos para o terrorismo, mas sabem que os grupos radicais são uma minoria em meio a uma
maioria de civis palestinos inocentes. Entendem a vontade dos árabes no tocante à volta dos
refugiados, mas entendem que o retorno de todos eles causará um desequilíbrio
demográfico em Israel. Condenam a ocupação, mas reconhecem o direito de Israel existir,
bem como o de um futuro Estado palestino.

A ONU

O papel das Nações Unidas tem se tornado cada vez mais insignificante não só no conflito
árabe-israelense como em muitos assuntos internacionais onde predominam interesses de
potências, como os EUA. Mas apesar da gradual degradação, já em 1948, quando Israel foi
fundado, as resoluções da ONU eram ignoradas e desobedecidas tanto por israelenses como
por palestinos. A implementação da Resolução 181 – o plano de partilha da Palestina – foi
um fracasso, por questões já abordadas neste estudo. Outras resoluções como a 242 e a 338,
para a devolução das terras ocupadas por Israel nas guerras do Seis Dias e do Yom Kippur,
respectivamente, também não resolveram os impasses. Não obstante, uma série de
determinações do Conselho de Segurança relativas à Segunda Intifada – incluindo a
imediata retirada das forças israelenses dos territórios autônomos da Cisjordânia, invadidos
em abril durante a chamada “Operação Muralha” – foram ignorados pelo primeiro-ministro
Ariel Sharon. Em verdade, no caso da Operação Muralha, Sharon ignorou mesmo os
pedidos de retirada, feitos pelo presidente americano George W. Bush.

Com o fim da Guerra Fria, a verba da ONU foi diminuindo. Se antes o órgão já não tinha
poder de fato, hoje o seu papel se limita às análises e criticas especialmente do aspecto
humano do conflito. A postura das Nações Unidas, não comprometida com interesses
eleitorais (como é o caso de Bush, Sharon e Arafat), é parecida com a da União Européia:
um discurso moderado, marcado pelo bom senso e capacidade para distinguir o que é certo
e o que é errado dos dois lados.

A IMPRESA INTERNACIONAL
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 43
Eduardo Spohr

Mesmo que os meios de comunicação possam sofrer com a influência dos órgãos
governamentais, no geral não estão vinculados ou subordinados a eles. Na maioria dos
países ocidentais, a liberdade de imprensa tem sido relativamente respeitada, especialmente
nos Estados Unidos, cerne da opinião pública internacional.

Ter liberdade de imprensa, no entanto, não significa que o meio de comunicação seja um
veículo imparcial. Pelo contrário. Exatamente por não estar submetido a nenhuma censura,
os jornais, revistas, redes de televisão, etc., estão vulneráveis à vontade de um indivíduo, ou
um grupo, que os controlam. Essas pessoas freqüentemente são membros da sociedade
civil, burgueses – mais conhecidos como “a elite”.

Nos Estados Unidos, a comunidade judaica tem uma representatividade muito forte. Muitos
deles são parte dessa elite que falamos no parágrafo anterior. Ainda que sejam exageradas
as afirmações de que os judeus “controlam” a mídia estadunidense, é verdade que eles
exercem alguma influência. É verdade também que os atentados terroristas vitimaram,
desde os anos 60, milhares de pessoas, mas a propaganda israelita sustenta que todo
palestino é um terrorista em potencial – o que é incorreto e tendencioso. Essa imagem do
terrorista palestino – cuja figura chave sempre foi Yasser Arafat – foi tão realçada que
predominou no mundo ocidental (desenvolvido) até o fim dos anos 80. Nos países
subdesenvolvidos (como o Brasil) essa imagem era questionada, principalmente pelos
esquerdistas. Contudo, a esquerda latino-americana exercia pouca influência na opinião
pública internacional, e isso se devia em grande parte à repressão dos regimes militares que
predominaram na região nas décadas de 1960, 70 e 80. Os grandes meios de comunicação,
a exemplo do Brasil, expressavam muito mais a opinião da direita governamental do que da
esquerda “revolucionária”. Assim, a população, e até mesmo os próprios opositores do
regime, tinham acesso a poucas informações além daquelas fornecidas pelas agências
internacionais e filtradas pela censura. Em toda a América Latina, a imagem de Arafat
como terrorista era muito mais cômoda do que a de líder guerrilheiro. A idéia de guerrilha,
aliás, era perigosa ao regime, “subversiva”.

Para o cidadão médio americano e europeu era fácil, e de certa forma cômodo, associar a
população civil da Palestina a terroristas e vê-los todos como bárbaros sangüinários. Afinal,
os europeus e os estadunidenses eram (e são) as principais vítimas do terrorismo islâmico.
Os piores ataques desse tipo os atingiram: o massacre do aeroporto, a explosão a bordo do
vôo da TWA, o seqüestro do Achille Lauro, etc.

Em 1987, um evento iria mudar o rumo da imagem dos palestinos aos olhos do mundo. A
“Intifada” foi o primeiro grande levante popular contra a ocupação israelense. Os árabes
foram às ruas combater os soldados com paus, pedras, coquetéis molotov e com as mãos
nuas. A resposta de Israel foi violenta, e vinha sob a forma de tiros, bombas e mísseis. Em
um consenso geral, a Intifada foi considerada legítima pela opinião pública internacional –
era a população civil (e não terroristas, pois esses usam fuzis e explosivos e não pedras) que
estava revoltados com a injustiça da terra roubada. A figura do palestino terrorista começou
a se desintegrar, e um fio de bom senso começou a diferenciar os radicais islâmicos do
cidadão comum árabe. As imagens de manifestantes sendo reprimidos, e às vezes mortos,
pelos militares israelenses correu o planeta. Aos poucos, o palestino passava de assassino à
vítima. Além disso, a Guerra Fria estava nos seus últimos dias, e não era mais possível
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 44
Eduardo Spohr

associar os árabes à “ameaça vermelha” (os soviéticos patrocinaram e apoiaram as nações


árabes em guerras com a dos Seis Dias, contra Israel). Na América Latina, os regimes
militares estavam ruindo, e a censura já não era tão acirrada. Desde então, uma nova versão
da história começou a ser mostrada pela imprensa.

O mais importante de tudo não é a parcialidade dos fatos (a favor dos árabes ou dos
judeus), e sim que a Intifada tenha aberto espaço para um questionamento, para a presença
de uma segunda versão dos acontecimentos. Ora, todos têm direito a uma opinião mas é
essencial que exista uma outra visão das coisas, e que essa visão seja analisada antes da
conclusão final. A partir de 1987, essa segunda versão (a dos muçulmanos) começou a ser
discutida, questionada, analisada e conferida.

Os palestinos têm muitos motivos para se revoltar, e esses motivos foram abordados
largamente nesta monografia, mas o fato de estarem do lado mais fraco, por assim dizer, foi
um dos fatores que ajudou a trazer os formadores de opinião – a imprensa – para o seu lado.
Na Intifada, e especialmente na Segunda Intifada (o conflito atual), os veículos
internacionais de comunicação têm mostrado a ousadia, a violência e a falta de respeito do
exército de Israel para com a população palestina. As imagens são referentes à demolição
de casas, à prisão de palestinos às centenas, à destruição indiscriminada de centros de
controle da ANP, e às constantes invasões dos territórios autônomos por tropas e veículos
blindados. Diante disso, o terror não é justificado e nem mesmo aceito, mas é visto como
uma conseqüência natural das agressões do governo israelense contra a população islâmica.
Não obstante, os jornalistas passaram a ouvir mais os palestinos, tanto o povo como os
governantes. O repórter começa a ser visto, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, como uma
pessoa bem-vinda, que pode mostrar ao mundo a tragédia palestina. E o soldado israelense
se torna vilão, quando lança granadas de fumaça para impedir a observação dos repórteres e
barra a entrada dos jornalistas às áreas de conflito (por sinal, a negação da informação é
aquilo que mais irrita os jornalistas).

Uma vez que a opinião pública internacional foi capaz de distinguir terrorista e civil,
ocorreu um fenômeno interessante: a distinção do governo israelense e da população
israelense. Muitos órgãos de imprensa responsabilizam o primeiro-ministro de Israel Ariel
Sharon, seu gabinete e o partido direitista Likud, pela continuidade da violência. Outros
indicam que grande parte dos judeus, especialmente os ortodoxos, apoiam Sharon, e por
isso também são responsáveis pelo derramamento de sangue. Realmente, as pesquisas
recentes mostram que a maioria da população israelense aprova o atual governo e sua
política para os territórios ocupados. O jornalista brasileiro José Arbex Jr., membro da
delegação do Fórum Mundial Social, viajou à Cisjordânia em abril de 2002, ao fim da
invasão israelense, juntamente com outros profissionais do mundo todo. Ao receber a
imprensa brasileira, ele relatou o seguinte:

“Ariel Sharon é o grande inimigo do povo palestino e também judeu. Não


sou apenas eu que estou dizendo isso, mas um coro de ONGs israelenses
(Paz Agora, B’tselm e Comitê Israelense Contra a Demolição de Casas
Palestinas são algumas delas) e instituições internacionais que estão vendo
de perto a barbárie que o primeiro-ministro Ariel Sharon está promovendo
na região.”
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 45
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Arbex e Paulo Suess, outro brasileiro da delegação, concluíram que a comunidade


internacional deve se unir no sentido de evitar os “massacres”, enviando uma força de paz
ao Oriente Médio.

A opinião da imprensa, favorável aos palestinos, se acentuou ainda mais durante a


“Operação Muralha”, quando Sharon desafiou os estadunidenses e se negou a retirar as
tropas da Cisjordânia, conforme determinação do presidente americano George W. Bush.
Na operação houve censura, casos de câmeras apreendidas e filmes confiscados pelos por
Israel. Cidades como Ramallah e Jenin foram totalmente bloqueadas aos jornalistas e à
entrada de ajuda humanitária. Com essas atitudes, os “bárbaros sanguinários”, designação
outrora dos árabes, parecem estar, aos olhos da imprensa, em Jerusalém e Tel Aviv, e não
em Ramallah ou Gaza. Ao invadir os territórios palestinos, destruir deliberadamente casas,
matar civis e suprimir a liberdade de imprensa, Sharon retira o seu país dos rol das nações
“civilizadas”, ao violar termos de acordos internacionais fixados pelos países ocidentais,
como a Convenção de Genebra. Com isso, ao tentar preservar a segurança do povo
israelense, ele alimenta o levante. Ao tentar assegurar a soberania de Israel, afunda cada
vez mais a nação na lama da intolerância, da violência, levando consigo tanto árabes como
judeus.

Conclusão – A Paz é Possível?


Não, a paz não é possível porque Israel é um estado sionista, e uma das principais
exigências dos árabes nas negociações de paz – ao lado da condição de Jerusalém como
capital – é a volta dos refugiados palestinos para as suas casas, em territórios que hoje
pertencem aos israelenses. Para os judeus, a volta desses muçulmanos causaria um sério
problema demográfico (o que é verdade), mas o mais importante: descaracterizaria o
caráter judaico do Estado de Israel, invalidando a proposta sionista. Esta afirmação é
expressa de forma clara no folheto “Os Fatos sobre Israel e sobre o Conflito no Oriente
Médio”. Ele diz o seguinte.

“Uma população de 4.200.000 palestinos (em Israel) ante menos de


5 milhões de judeus poderia levar, em pouco tempo, pela via demográfica
ao “fim do estado sionista”, como consta nos programas e nas estratégias
palestinas.”

Ora, é bem verdade que um povo, qualquer povo, deve ter o direito de possuir seu Estado,
mas querer limitar a sua população a um determinado tipo de característica social, cultural
ou étnica é, obviamente, um ato de racismo, e como todo tipo de discriminação deve ser
condenado e, diria até, combatido. Naturalmente, todo país pode e deve impor restrições à
imigração, mas isso deve ser feito com base em elementos demográficos, que, parece, são
apenas um lado da moeda, no caso de Israel. É uma lástima que a comunidade internacional
nunca tenha aberto os olhos para isso, especialmente os Estados Unidos, cuja propaganda
sustenta que a nação é a “Terra da Liberdade”.
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Quanto a Jerusalém, existem duas alternativas possíveis, no meu entendimento. A primeira


é a internacionalização da cidade, já prevista na Resolução 181 da ONU, de 1947. Mas
ocorre que tanto palestinos quanto israelenses querem que a localidade seja capital de seu
Estado, portanto não há escolha a não ser dividir o local entre Jerusalém Ocidental (capital
de Israel) e Jerusalém Oriental (capital da Palestina). A cidade seria então um lugar
simbólico, acima de tudo, marco da convivência (supostamente pacífica) entre árabes e
judeus. A Cidade Santa se tornaria um exemplo a ser seguido nas outras regiões dos dois
estados.

Com a criação de um Estado palestino com a capital em Jerusalém (Oriental) e o fim da


ocupação, terminaria o caráter de libertação da guerrilha e os grupos radicais islâmicos não
poderiam mais operar sob a bandeira da liberdade, da luta contra o imperialismo. As
milícias, ou se integrariam ao Estado, ou seja, às forças armadas, ou deveriam ser tratadas
como terroristas, grupos criminosos que devem ser perseguidos pela polícia e punidos
adequadamente. Não que agora aqueles que planejam ações de terror não devam ser
tratados de forma semelhante, mas ocorre que a ocupação dá a eles, ao menos aos olhos da
população, um caráter de legitimidade, e a ANP, sendo um governo populista, reluta em
puni-los de forma adequada.

Mas mesmo com um entendimento entre israelenses e palestinos, a paz teria que enfrentar
um outro obstáculo: os interesses externos. Não é apenas a questão dos refugiados ou o
status de Jerusalém que atravancam as negociações, e sim fatores muito maiores, que
envolvem os ricos países desenvolvidos. O conflito move a produção bélica e acaba
enchendo os bolsos de uma pequena, mas incrivelmente influente, elite industrial, que conta
com escritórios em Wall Street e passa férias em Aspen. A venda de armamentos e de uma
série de outros produtos destinados à guerra, incluindo medicamentos, vira um forte
elemento de barganha, usado para negociar as transações envolvendo petróleo. A realidade
dos fatos, infelizmente, é bem mais ampla do que pode parecer, e está muito além da
compreensão do cidadão comum. Os verdadeiros agentes do conflito são invisíveis, se
escondem sob a máscara de políticos, industriais, diplomatas e economistas de sucesso. Os
inimigos da paz não estão em Ramallah, em Gaza, em Jerusalém ou Tel Aviv, e sim
distantes do Oriente Médio, não necessariamente nos Estados Unidos, mas em todo o
mundo ocidental industrializado. Contudo, isso não quer dizer que israelenses e palestinos
devam desistir das negociações, mas a conclusão de um plano de paz entre eles
representará, não a consolidação da paz definitiva, mas sim de uma primeira etapa para
alcançá-la.
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 47
Eduardo Spohr

Bibliografia

Livros

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2000.

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READ, Piers Paul. Os Templários. Rio de Janeiro: Imago Editora, 2000.

GIDDENS, Anthony. O Estado-Nação e a Violência. São Paulo: Editora Universidade de


São Paulo, 2001.

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CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. São Paulo: Editora Ática, 1997.

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HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX, 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.

HOBSBAWN, Eric. A Era dos Impérios: 1875-1914. São Paulo: Companhia das Letras,
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BARKER, A.J. A Guerra dos Seis Dias: A Vitória de Israel. Rio de Janeiro: Editora Renes,
1979.

Outras Publicações

A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Edições Loyola, 1995. (Livro
Sagrado)

ROITBERG, José. Os Fatos sobre Israel e sobre o Conflito no Oriente Médio: Perguntas e
Respostas. Rio de Janeiro: Museu Judaico do Rio de Janeiro, 2002. (Folheto)

Menorah: Luzes para um novo tempo. Ano 41 – nº 511 – Abril 2002. Edição Especial:
Israel 54 anos. (Revista)

SACCO, Joe. Palestina: Uma Nação Ocupada. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2000.
(Quadrinhos)

Sítios na Internet

- Judaísmo.com.br (http://www.judaismo.com.br/)
- Para Entender o Islã e os Muçulmanos (http://www.islam.org.br/CEDI_temas.htm)
- Islamismo (http://orbita.starmedia.com/~hyeros/islamismo005.html)
- Organização para a Libertação da Palestina (http://www.pna.net/plo/)
- Casa Branca (http://www.whitehouse.gov/)
- Guia del Mundo – Palestina
(http://www.eurosur.org/guiadelmundo/paises/palesti/historia.htm)
- Shimon Peres – Fundación Cidob (http://www.cidob.org/bios/castellano/lideres/p-
011.htm)
- Organização Sionista Mundial (http://www.wzo.org.il/es/)
- História Antiga e Moderna do Povo de Israel (http://www.masuah.org/historia.htm)
- Consulado de Israel no Rio de Janeiro (http://www.israel.org.br/noticias/press/site.htm)
- Site do Governo de Israel (http://www.israel-mfa.gov.il/mfa/go.asp?MFAH00ge0)
- Autoridade Nacional Palestina (http://www.pna.org/)
- Intifada Online (http://intifadaonline.com/)
O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE – IDEOLOGIA, NACIONALISMO E CIDADANIA NO ORIENTE MÉDIO 49
Eduardo Spohr

- Versão em inglês do jornal israelense Ha'aretz (http://www.haaretzdaily.com/)

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