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Sumário:
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reconhecimento ou não do direito de oposição e de alternância no poder, o carácter das
eleições.
De facto, uma monarquia pode, tal como uma república, constituir-se em regime
democrático ou em regime de ditadura, sem que a forma de governo de algum modo
determine uma ou outra via. Veja-se o caso dos países vizinhos Portugal e Espanha, com
regimes políticos idênticos e formas de governo diferentes (actualmente ambos democracias
representativas e com uma história de regimes políticos no século XX quase paralela, sendo
que Portugal é uma República e a Espanha uma Monarquia).
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2. Regimes políticos de Estado absoluto e de Estado autocrático
Porém, há que fazer uma nova distinção, a que se refere aos regimes políticos de
Estado absoluto e de Estado constitucional.
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2.2. Ditadura
Em certo sentido pode dizer-se que a legitimidade invocada pelas ditaduras continua
a ser uma legitimidade democrática, mas apenas no sentido de se atribuir teoricamente ao
Povo a titularidade do poder. Porém, o Povo de que se fala numa ditadura nunca é o Povo-
conjunto de todos os cidadãos próprio da democracia e que exerce o poder através de
representantes eleitos com igualdade de participação; na ditadura, de uma ou outra forma, o
conceito democrático de Povo é corrompido na medida em que na prática, e por vezes
mesmo no plano da teoria do Estado, o Povo titular do Poder numa ditadura é um Povo
identificado com uma certa raça, com um certo grupo social, com uma certa comunidade
religiosa ou uma qualquer outra entidade de contornos mais ou menos míticos.
Por outro lado, também as formas que este Povo utiliza para o exercício concreto do
poder são radicalmente distintas das formas democráticas de exercício do poder político.
Não há, em ditadura, verdadeira representação política, pois o conjunto dos cidadãos não
tem uma possibilidade efectiva de designar livremente os representantes que devem exercer
o poder em seu nome. As instituições representativas, bem como as eleições, ou não existem
pura e simplesmente ou são meros artifícios de forma, utilizados para fins de propaganda.
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restrito (ou, em última análise, de uma única pessoa) que se proclama intérprete privilegiado
ou exclusivo dos desígnios do Povo e se recusa submeter à prova de legitimação que
constitui uma eleição livre em que todos possam participar em condições de igualdade.
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Assim, a Espanha, a Bélgica ou a Holanda dos nossos dias são monarquias constitucionais;
Portugal entre 1822 e 1910 foi uma monarquia constitucional; a Inglaterra nos finais do
século XVII era já, de certa forma, apesar da não existência de uma Constituição em sentido
formal, uma monarquia constitucional.
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É que, quando aceita limitar o seu próprio poder através da sua sujeição a regras
jurídico-constitucionais previamente estabelecidas, o Rei reconhece a existência de
instituições representativas dos cidadãos e, embora continue a deter um papel determinante,
institui uma certa divisão de poderes. Ou seja, acaba por verificar-se uma dualidade de
poder ou um compromisso entre o Rei e as instituições representativas dos cidadãos: o
executivo continua a ser titulado pelo Rei, mas o legislativo passa agora a ser atribuído a um
Parlamento representativo.
Há, assim, no domínio do exercício de poderes políticos, uma dualidade entre o Rei
titular do Poder executivo e um Parlamento (poder legislativo) parcialmente electivo, em
que o Rei procura conservar a sua posição de factor político central do regime através de um
chamado poder moderador (BENJAMIN CONSTANT), isto é, um conjunto de faculdades
políticas que lhe permitem uma intervenção decisiva no exercício dos restantes poderes.
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A monarquia orleanista (designação derivada do regime do príncipe Luís Filipe,
duque de Orléans, na França de 1830) é um regime baseado, na sua origem, na existência de
um poder constituinte pactuado entre a legitimidade democrática e a legitimidade
monárquica, com a correspondente dualidade no exercício do poder.
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assinatura/promulgação que não reflecte já qualquer partilha real do poder constituinte,
antes significando o reconhecimento da soberania popular por parte de um monarca na
realidade desprovido de poder político.
Com estas características gerais, a monarquia parlamentar vai assumir uma natureza
muito diferenciada consoante se trate de monarquia parlamentar no século XIX ou
monarquia parlamentar da segunda metade do século XX e século XXI. O Reino Unido ou
a Espanha, por exemplo, são hoje monarquias parlamentares, tal como eram no século XIX;
todavia, o regime político (as relações entre governantes e governados, a estrutura do poder,
a natureza das eleições) é substancialmente diferente num caso e noutro, isto é, era um
governo representativo no século XIX e é uma democracia representativa nos dias de hoje.
Por isso, em rigor, a monarquia parlamentar não será um regime político com uma
identidade individualizada, já que tanto pode surgir como governo representativo (não se
distinguindo materialmente, nesse caso, do governo representativo republicano) ou como
democracia representativa.