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PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTORIA: MEMORIAS/IDENTIDADES DE ENSINO E FORMACAO DE PROFESSORES' Ika Miglio de Mesquita FACEB/IBPAC ilkamiglio@smail.com No final dos anos de 1980 professores formadores de professores de Historia otganizaram esse encontro para apresentar ¢ discutir experiéncias, produgdes e pesquisas relativas ao ensino de Historia, Assim, organizamos neste texto a narrativa histérica do nascimento do Perspectivas do Ensino de Historia, bem como a importéncia desse férum académico constituido de memérias/identidades sobre ensino ¢ formagio de professores de Histéria. Nascido da observagio, da audigdo, da discussdo, da apresentagdo ¢ da escrita, esse forum académico foi construido pela expressio de historiadores/educadores, constituidos pela diferenga, em relagdo ao trabalho com objetos © problemiticas relacionadas ao ensino e formagio de professores de Historia, Enfim, nas identidades que se constituiram pelo diélogo e interlocugdo nas varias préticas de memérias, Essas experigncias vividas, concentradas nas discussdes sobre o ensino de Histéria no espago/tempo criado para essas manifestagdes, fazem com que, historicamente, produza um movimento de constituigo de identidade, Que identidade ¢ essa? Lembramos que no se trata de uma identidade mesmidade, fixa ou singular, mas construida no préprio movimento de deslocamento de subversio dos limites tervitoriais, do cruzamento de fronteiras para zonas intersticiais, de entre-lugar ou ponte, (HALL, 2000 e 2005; SILVA, 2000; BHABHA, 2005). Nesse sentido, sio diferengas marcadas na maneira de produzir e praticar a propria Historia. Sao identidades estratégicas e posicionais, constituidas pelo trabalho realizado noipara 0 ensino e formagdo de professores de Histéria, Para melhor evidenciar a constituigdio de memérias/identidades sobre 0 ensino € formagdo de professores de Histéria, buscamos na rememoragao dos professores colaboradores deste trabalho, a partir de entrevistas*, de Anais e Cademos de Resumos dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histéria, Parafraseando Walter Benjamin, incorporamos 4 nossa prépria experiéncia a relatada pelos outros e, das coisas narradas, & experiéncia dos ouvintes, Assim, para cada questo colocada no momento da entrevista, buscamos nas palavras ditas as experiéneias vividas no sentido de incorpord-las ao ritmo do ‘movimento narrativo desta tessitura. Para tanto, algumas questdes nos valeram: Como nasceu 0 encontto Perspectivas do Ensino de Histéria? Quem se manifesta nesses encontros ¢ como se manifesta? Qual a importincia e/ou papel desse frum nacional para a producdo/difusio das questdes do ensino e formagao de professores de Histéria? Perspectivas do Ensino de Histéria... Na inguietagdo provocada pelas Propostas de Reformulagao Curricular de Sio Paulo da década de 1980, promovidas pela Coordenadoria de Estudos ¢ Normas Pedagégicas (CENP), 0 ensino de Historia tomou-se paleo de discusses acirradas tomando-se explicita uma diversi ide de posigdes © concepgdes acerca da di iplina histérica, As discussées ganham dimensdo em espacos associativo cientifico (ANPUH, SBPC) e sindical (APEOESP) a partir de congressos, semindrios ¢ debates. Por outro lado, além dos féruns de discussdes ocorreram confrontos entre posigdes assumidas pelos assessores da reforma curricular de Histéria, os Professores Déa Ribeiro Fenelon € Marcos Antonio da Silva, universidade e grande imprensa. Quanto ao trabalho desenvolvido pela assessoria da reforma, a partir de 1986, tratava-se essencialmente em problematizar o ensino de Histéria no sentido de repensar questdes como a dissociagao ensino/pesquisa, a relagdo com o saber e 0 fazer Histéria, a distancia que separa a universidade e a realidade da escola basica. Além do rompimento com a hierarquizagdo do trabalho académico, pretendia-se promover mudangas no fazer histérico da sala de aula, pela postura ativa de professores e alunos na condigio de sujeitos da produgdo do conhecimento historico para “recuperar a especificidade da Histéria enquanto campo de agdo ¢ reflexdo, trazendo a tona os problemas concementes a abordagens, contetidos, periodizagées, temas, ampliago das fontes ¢ documentos.” (REIS, 2001, p. 30), Nesse sentido, problematizagdes referentes & histéria ensinada tomaram-se, para os assessores, essenciais para se pensar a disciplina histérica, trabalhar contra a sua descaracterizagdo e repensar a sua forma de produgdo/difusdo a partir de atitude critica e de reflexao diante do conhecimento produzido para ser re- construido na ago pedagégica e historiogréfica na sala de aula. Para tanto, a opedo metodolégica da proposta seria o trabalho a partir de eixos tematicos, tendo em vista as relagGes cotidianas do presente no sentido de didlogo com as experiéneias sociais do passado para a producdo do conhecimento histérico na sala de aula do ensino fundamental e médio. Porém, setores da academia nao viram com bons olhos tal Proposta de Reformulagdo Curricular. De acordo com suas posigdes, ndo houvera discussio suficiente e, entre outros questionamentos, expressaram sobre a impossibilidade de produgio de conhecimentos histéricos pela agdo pedagégica do professor da escola basica, 0 qual se poderia abaixar o nivel do ensino e ndo assegurar a transmissio recepgdio do conhecimento, Havia, portanto, preocupagdes em garantir que o conhecimento produzido na universidade fosse 0 proprio a ser transmitido pelos professores, determinando assim os rumos da Histéria ensinada. (FONSECA, 1993, p. 125-127). Por sua ver, as criticas & Proposta de Reformulago Curricular provenientes da imprensa diferenciaram das posigdes © apreensdes académicas, Para esse setor, a proposta tratava-se de um projeto subversivo, ideoligico ¢ de formulagdes marxistas esquemiéticas, 0 que péde revelar a falta de leitura ou risivel interpretagdo, pois, como ja fora evidenciado, essa Reformulagdo Curricular combatia claramente qualquer forma mecanicista de interpretagao histérica, ‘A Professora Déa Ribeiro Fenelon relata em suas memérias a experiéneia vivida como assessora: Eu trabalhe! numa proposta em Sao Paulo, que & “mal amada” ¢ “mal fadada". Mas foi uma experiéncia muito boa, muito interessante, Ii no tempo do ‘Montoro. Quer dizer, na década de 80. A proposta era de responsabilidade do Marcos © eu. Nés demos a assessoria para a equipe da CENP (Coordenadoria de Estudos & Normas Pedagégicas) ¢ pela primeira vez a proposta foi feita por eles, pelos (professores. Nos 86 demos assessoria. A gente cometeu 0 erro, ndo sei se 0 erro ou equivoce, de fazer uma proposta e ‘mostrar como podia ser. A gente queria que os professores escrevessem suas propostas, e fizessem. A gente falou assim: vamos fazer 0 ensino temditico. Vamos lé, vamos comegar por al... Enido, o que nés queremos? O tema é Trabalho. (..) Naquele tempo dos anos 80 a gente desdobrou o tema Trabatho para a Imigracdo. Para cada série finha um tema, um eixo temético. E nds fizemos 0 equivoco de desenvolver uma proposta completa de 1" a 8 série com um eixo temitico e com os seus desdobramentos. Para dizer assim: Veja como & possivel fazer, partindo da experiéncia dos alunos, partindo da regido, partindo de uma série de outras coisas... Ndo tem que ser necessariamente esse tema. Vocé pode criar outros. (.) Agora, eu acho que se duvidou que a equipe da CENP, que eva formada ‘por professores da rede estadual, fosse capaz de fazer uma proposta. Nés 56 assessordvamos. (..) A gente queria discutir. Fomos as regionais todas. Era uma ‘proposta para 0 Estado inteiro, (..) Sabe que a USP se rebelou contra a proposta ‘porque eles nos acusavam de estar vulgarizando 0 ensino de Historia porque a gente estava aproximando demais da Universidade, ensinando como é que vocé faz pesquisa com aluno de 5* série a 8* série. Bra isso que a gente queria que 0s alunos aprendessem a fazer histéria, pudessem fazer vérias histérias, Nos estévamos ‘mostrando como se pode consiruir uma proposta. (..) Foi muito interessante, mas no era tradicional, ndo tina uma lista de contetidos. E, no fim nao aconteceu. A proposta foi negada pela diretoria da CENP que & 0 redo de normas pedagégicas. Nés ndo tivemos forga para manter, ndo tivemos mesmo. (.) Num contexto de ressentimentos, debates, conflitos nasce o Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Historia, na Faculdade de Educagdo da USP, em 30/06 de 1988, colocando o ensino de Histéria no lugar de fronteira, configurado no intersticio da Historia ciéneia © da Histéria enquanto disciplina escolar. Lécus disputado por historiadores, professores, te6ricos, politicos, midias ¢ projetos de mudangas dos rumos a serem eguidos pelo ensino da Histéria. Participaram da Comissio de Planejamento: ‘Ana Maria Lucchesi Carvalho, Circe Maria Fernandes Bittencourt, Elza Nadai, Emesta Zamboni, Helenice Ciampi, Katia Abud, Maria do Carmo Ferraz Tedesco, Raquel Glezer e Zilda Maria Gricoli Tokoi Nesse sentido, ouvir as vozes de quem participou e de quem trabalhou no projeto de organizagdo do “Seminério Perspectivas do Ensino de Histéria”, assim chamado na sua primeira versio, traz a riqueza da experiéncia vivida e é possivel entendermos melhor o porqué do nascimento de um forum dedicado exclusivamente as questdes do ensino de Histéria, que se tomou um dos principais tempo/espago de se pensar a Histéria e sua disciplina, Na vor da Professora Selva Guimariies Fonseca: Veja, a sensagio que eu tive naquele primeiro encontro Perspectivas foi mais ‘ou menos como uma grande resposta da Universidade de Sao Paulo e da Faculdade de Educago, que mobilizou outras departamentos como 0 Departamento de Histéria da USP, i polémica criada em torno da proposta curricular da CENP. E um encontro de natureza distinta, porque ele reunia ndo sé pesquisadores, mas professores de primeiro © segundo graus, editores, produtores de livros didticos, pesquisadores da drea da Historia e da Educagdo que ndo se dedicavam & causa do Ensino de Historia. Os Anais desse primeiro encontro revelam isso Na voz da Professora Katia Maria Abud 0 Perspectivas teve origem agui na Faculdade de Educagdo da USP. Até era um encontro das Metodologias da Faculdade de Educagdo que algumas diseiplinas ‘mantém. Até hoje se faz, de dois em dois anos, Perspectivas do Ensino de Ciéncias, Perspectivas do Ensino de Biologia... De Ensino de Historia foi diferente, pois foi aberto para outros lugares. Entdo, o I Perspectivas foi feito em 1988 com a Elza Nadai coordenando. Em 1988, eu era professora em Franca ¢ participei da comissio organizadora (..) Era uma comissao bem ampliada para pensar nomes, a organizacdo, ax oficinas, cursos, quem Lficaria responsével por isso, por aquilo. Um formato até interessante. Na voz da Professora Ana Maria Monteiro: A criagdo do Perspectivas do Ensino de Histéria foi em 1988. Foi um ‘movimento que partiu da Elza Nadai, que criou 0 espago. Acho que foi uma iniciativa ‘muito importante para 0 nosso campo, que & um espaco integralmente voltado para a discussdo do ensino e para acolher 0 professor que quer ter acesso aos novos conhecimentos ¢ as novas discussbes. Quando en fui ao primeiro Perspectivas em 1988 era um momento de uma euforia enorme, porque era o momento das reformas curriculares. Sao Paulo foi muito traumética, teve gente apaixonada e uma reagdo violenta contra, Na voz da Professora Circe Maria Fernandes Bittencourt: Por que aconteceu 0 Perspectivas? Eu estava trabathando aqui desde 1985, como professora de Prética de Ensino de Histéria com a Elza Nadai. Eramos duas professoras de Pritica de Ensino agui na USP ¢ ai nds sempre enfrentamos um problema muito complicado: eram muitos alunos, cerca de 150 alunos nos Cursos de Prética de Ensino de Historia. (..) Eu conversava muito com a Elza, pois jd que nés tinhamos o estigio, jd que nds tinhamos certas questoes da formulagao curricular da CENP (...) A gente participava de cursos junto com a CENP, da Secretaria de Educagio, vendo a ansiedade dos rofessores em saber: afinal, nés vamos dar 0 qué? Foi aquele momento de transicao ‘muito forte. Foi quando nds resolvemos fazer 0 Encontro Perspectivas do Ensino de Historia, Vamos chamar os professores da Rede e chamar os historiadores do Departamento de Historia. (.) E 0 Perspectivas veio, naquele primeiro momento em 1988, tentar aproximar com 0 que os professores da Rede estavam sentindo e chamar historiadores para ouvi- los. A gente estava tentando ser a ponte dos professores com o Departamento de Historia, com os grandes nomes, digamos, da historiografia que estavam, evidentemente, produzindo. (..) Quando se falava em Nova Histéria Marxista, os Professores nao tinham a minima idéia do que era, Nao sabiam nem a Marxista, imagine a Nova Historia Marxista, a leitura de Thompson. Nao sabiam o que é wna Historia cultural, scio-cultural na perspectiva de Thompson...) © Perspectivas, esse primeiro, veio dessa necessidade histérica, daquele ‘momento de debates sobre 0 que ensinar de Histéria que, alids, ew acho que continua essa pergunta Na diversidade de vozes hi a unicidade de que o primeiro Perspectivas fora criado para responder, debater, discutir 0 movimento da polémica de Reformulagao Curricular da CENP ¢ 0 destino da Historia ensino, De acordo com a Apresentagio da Professora Elza Nadai dos Anais do ‘Semindrio Perspectiva do Ensino de Historia de 1988, 0 encontro teve como objetivos: CCriar oportunidade para um ampla debate a respeito das atuais condigBes do ensino de Histéria no Brasil, seus desafios, suas prioridades lacunas; refletr sobre as Tormas pelas quais o professor tem sido formado; criar condigies de divulgagio das Pritieas quotidianase de projetos de trabalho relizados na escola de I” e 2" e terceiro sraus e criar oportunidade para a atualizagdo do professor de Histria(..). (1988, p. 2 Nas consideragdes introdutérias, Elza Nadai explicitou que a Histéria ensinada na escola fundamental e média tornou-se objeto de discusses especialmente em relagdo 20 papel educativo da disciplina, expressio da totalidade de mudangas no espago escolar desde os anos de 1970, Assim sendo, coloca a problemitica de que os pesquisadores da Histéria, apontada como ciéneia que estuda o movimento das sociedades, apenas nos iltimos tempos tém se dado comta de que tratavam da meméria oficial, confundida como meméria politica, o que ndo se toma “suficiente para garantir a incorporagdo de amplos segmentos sociais que vém procurando a escola, insistindo em seu direito & ela, na construgdo de sua Histéria e na preservagdo de sua meméria.” (NADAL, 1988, p. 1). Esses questionamentos, de acordo com Elza Nadai, chegavam & escola de ensino fundamental e médio pelo movimento das reformulagdes curriculares em muitos estados brasileiros, “desde que os efeitos da ‘transigdo democritica’ penetraram nas organizagbes institucionais do ensino.” No entanto, para a autora, mesmo que o surgimento de propostas de ensino tem mostrado que a andlise da meméria oficial no seria a tinica explicagdo histérica, as novas propostas para o ensino nao tém sido suficientes “para a apreensio da totalidade social”, Portanto, afirma que a Historia enquanto disciplina escolar ¢ merecedora de reflexio 4 medida que fortalece como campo das cigncias humanas, a partir de investigagdes, metodologias de ensino e pela percepeio e incorporaggo de outras linguagens no seu ambito documental, possibilitando “a produgo de um estudo mais dindmico do social, a0 aleance da escola.” Mostra ainda a importancia da atualizagao do professor em relagao aos avangos da Histéria ciéncia para possibilitar 0 rompimento com o ensino dogmatico, apoiado na preservagio de esteredtipos, herdis ¢ mitos, no sentido de garantir um trabalho educacional voltado para 0 social, como também para ampliar a incorporagio de segmentos sociais que, por sua vez, sio excluidos da escola pelo niimero alto de evasio e repeténcia, (NADAI, 1988, p. 1-2). A reflexdo sobre o ensino de Histéria pensada para 0 Seminério contou com um pliblico maior do que o previsto pelos seus organizadores, chegando, segundo dados, a 804 professores inscritos, sem contar com os professores convidados © outros participantes. (NADAI, 1988, p. 6). Para Circe Bittencourt: Naguele momento de reformulacio curricular nés quisemos trazer professores € historiadores para se encontrarem aqui. Nés imaginévamos, em 1988, fazer 0 enconiro para umas 400 pessoas. Foi assim que nds preparamos. Foi um espanto, Vieram quase mil pessoas. Veio gente do Brasil inteiro, eles telefonavam para a gente. Acho que veio até do Acre. Porque a gente mandou informes via ANPUH, que era a ‘mata direta. .) Entdo, foi mandado para quase todas os lugares do Brasil. E a gente uusou também a via de comunicacdo da Secretaria da Educacao, porque a gente queria também a presenca do professor da Rede. A Secretaria da Educagdo estava muito aberta para cursos de forma. Lembro que a Secretaria da Educagdo permitiu que os professores fossem liberados do ponto para vir participar do encontro. (..) Naguela época, ganhava certificado daqui ¢ valia ponto a participagao nos eventos. Entéio nds levamos um susto. Eu lembro que a abertura nés tinhamos feito na Escola de Aplicagdo, no anfiteatro, que cabe umas 500 pessoas. Lotou aquilo inteiro, tinha gente para fora. Nos livemos que por caixas de som para fora, agui, do lado de ci, no pétio interno da escola ¢ do lado de fora da escola. Encheu de gente isso aqui. A Elza e eu ficamos, assim, estarrecidas com a quantidade de pessoas, 0 que mostra que havia uma necessidade, Aquilo ali para nés foi um referencial da necessidade de se fazer encontros. E ‘foi um encontro mesclado, com a presenca de historiadores, com a presenga de muitos ‘professores da Rede, que vieram também do interior de Sto Paulo. As pessoas vieram, porque finka a APEOESP, nosso sindicato, que também colocou no jornal. & claro que hhavia todo interesse no debate sobre o novo curricula: por que ensinar Histéria, como ensinar. (..) E légico, o Perspectivas mostrou essa necessidade de aproximacao entre as duas dreas, que eu sempre discuto, Eu lembro que nds pegamos algumas tematicas fundamentais, mas que ainda rndo estava muito claro para a gente naquele momento de como discutir certos temas. Se vocé pega os Anais ndo tem nada sobre a pesquisa na drea de ensino. Ela estava ‘ainda comecando, © Seminério contou com um Balango critico sobre Ensino de Histéria, objeto de conferéncias e mesas-redondas as quais analisaram e debateram o ensino de Histéria na ‘Argentina (conferéncias) € na América (mesa-redonda), os problemas da formagio do Professor de Histéria (mesa-redonda) e as perspectivas do ensino de Histéria no Brasil. Contou, ainda, com cursos cujo enfoque do tema foi Histéria e Linguagens. (NADAL, 1988, p. 2-3). Na Mesa-Redonda Problemas da Formagiio do Professor de Historia, tema de interes: desta tessitura, foram debatidos os seguintes trabalhos: A Escola piiblica e a formacao do professor de Historia, de Célia Morato Gagliardi; A formacao do historiador: algumas questoes, de Edgar de Decca; A formagao do professor de Historia (resumo), de Sylvia Basseto'. Célia Morato Gagliardi apresentou consideragdes € propostas acerca do tema escola piiblica e formagao de professores, levando em consideragdo a sua experiéncia de vinte anos como professora de Histéria da Rede Publica de Sao Paulo. Assim, advogou sobre a necessidade da constante discussio do tema formacdo de professores de Histéria, afirmando que este nfo se esgota na Faculdade, portanto, & preciso acompanhar o debate cientifico e fazer a reflexio dos limites e possibilidades na pratica pedagégica cotidiana, “numa postura sempre aberta ao questionamento € & mudanga.” A autora defende 0 exercicio da docéneia na escola piblica como uma luta constante, porque 0 magistério no ensino pablico ndo ¢ prioridade para o governo que nio vé ou. "a Professora do Departamento de Histéria da FFLCH da USP no apresentou o texto completo para os Anais do Semindsio Perspectivas do Ensino de Histéria, no quer ver “as possibilidades de transformagao quando se tem um povo instruido.” (GAGLIARDI, 1988, p. 67), Nesse sentido, ressalta a experiéncia do movimento de reformulagdo curricular © continua 0 discurso, apontando que a dificil situagdo do ensino de Histéria toma-se desafiante para professores © universidades. Para enfrentar os desafios, a Professora assegurou que a conscientiza¢ao politica perpassa a formagdo profissional, além da necesséria “clareza na percepgdo de que a Histéria & coletiva, & participagdo e deve levar 4 democracia.” Indicou também que a “questo fundamental - que Historia o professor leciona - remete a um profundo ¢ necessério questionamento da concepedo que temos dela.” (GAGLIARDI, 1988, p. 69-70). E importante mencionar que a autora revela sua posigdo de apoio ao movimento de mudangas de concep¢des de formagio & ensino de Histéria contemplado pela Proposta Curricular de Historia da CENP. Contudo, nesse espago/tempo de frum académico, os manifestantes continuaram mostrando que hé um grupo especifico que se propde discutir, analisar e fazer 0 movimento para definir os caminhos do ensino de Histéria no Brasil, O Perspectivas do Ensino de Histéria continuou em suas varias versdes, trazendo temas que respondessem aos problemas do momento histérico vivido, garantindo, assim, 0 comprometimento com a permanéncia do evento e com as discusses do ensino de Historia Nesse sentido, criagdo, a construgdo € a consolidagdo do espago de reflexio, de discussdo e de aproximagdo entre os varios niveis de ensino pelo Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Histéria, evidenciando o trabalhado, ao longo dos seus mais de 20 anos, de um grupo de professores formadores de professores que trouxeram suas preocupagées em relagdo & histéria ensinada e dialogaram com os professores da escola basica, pelas pesquisas realizadas e pelos relatos de experiéncias. Contudo, & importante fazermos um balango do Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Histéria e retomar 0 seu significado e/ou papel para a produgao/difusio das questdes do ensino ¢ formagao de professores de Historia, Em relagdo 4 questao da participagao de professores da educagdo basica nos encontros, a Professora Circe Bittencourt rememora: Teve wm momento que notei, depois de 1996 principalmente, que houve um refluxo de professores nos Perspectivas. Nao sei se foi o tipo de organizagdo. Houve um momento de descrédito muito grande e que, coincidentemente, aumentou a pesquisa nna drea de ensino. Eu me lembro também do outro Perspectivas que foi feito em Curitiba, em 98, linha pouguissimos professores da Rede. Também Joi um encontro mais de -pesquisadores do que de professores, pelo menos da forma como tinkamos imaginado ‘nos dois primeiros Perspectivas. O Perspectivas é mais voltado para esse puiblico, inclusive as mesas redondas foram fetas, no Te no I, pensadas para um didlogo com 0 professor e nao para fazer com wm diélogo de coisa mais académica. Sempre que falo do Perspectivas eu insisto em todos os lugares que vou, que & chamar professor da Rede para falar. Eu lembro no Il Perspectivas, mesmo no rimeiro, a gente pés professor faiando, tinha Mesa-Redonda com professor da Rede falando dos problemas deles. Nao tinka tanto aguele ar académico, digamos assim, caquela fala mais académica. Acho que esse didlogo da Universidade com a Rede tem que fazer, tem que voltar. A Universidade deve procurar as Secretarias de Educagéo Atualmente, parece que a Universidade se limita a oferecer cursos de formaciao continuada, quando faz agueles convénios: Secretaria da Educagao e Universidade Esté se limitando a isso, Esses encontros servem para, exatamente, até fazer o balango disso: 0 que & essa formagdo continuada? Qual o papel da Universidade tanto na formaséo inicial quanto na formagao continuada? Os estigios, para que servem ou ‘para que nao servem?(..) Em suas rememoragdes, a Professora Circe enfatiza que a proposta inicial era possibilitar a participagio efetiva dos Professores de ensino fundamental ¢ médio, inclusive fazendo parte de Mesas-Redondas, Em relagdo aos encontros seguintes, evidenciou 0 refluxo ¢ a ndo participagdo dos professores na programagaio do evento, Insiste, portanto, que esse espago/tempo fora criado com o propésito de promover o didlogo entre Universidade © as Redes de Ensino, Nao se trata de um lécus de discussdes epistemolégicas de pesquisa académica, mas de voltar para 0 seu objetivo inicial, de discutir os problemas do ensino de Histéria © 0 curriculo ativo pelas experigncias vividas dos professores de Histéria da escola basica Assim, retomamos novamente os fios das narrativas da Professora Circe Maria Femandes Bittencourt: 0 Perspectivas veio nessa tentativa de ouvir os professores. (..) E, enti, 0 que posso dizer do I Perspectivas, que ele éum referencial.(..) Acho que, historicamente, o Perspectivas cumpre um papel. Ele continuou!(..) Se ele continuou & porque ele tem um papel a cumprir ainda e forte. Ele tem os Anais, que depois se faz as publicagdes decorrentes dele. (..) Acho que 0 Perspectivas tem que andar pelo Brasil exatamente para, em cada Ingar, os professores trazerem suas experiéncias e fer uma preacupacdo de publicacao para divulgar 0 méximo possvel. (..) Claro, 0 professor também deve ouvir wma reflexdo ¢ uma sistematicagdo, que nas somos obrigados a oferecer para ele estabelecer um didlogo, para entender o que ele estéfazendo, até de novo, de bom, para ele ter condigao de reflexdo sobre a pritica dele, sobre o saber escolar que ele esté prodvcindo ali. E, dai, nds temos que trazer ‘pessoas que estejam refletindo sobre essas questbes gerais da educagdo, os objetivos da escola e os historiadores para que temiticas Assim, ao reafirmar a proposta do Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Historia, a Professoras Circe mostra-nos a importincia desse forum, na produgdo difusdo de experincias, ou seja, dos saberes histéricos escolares. Sdo muitas questdes a serem retomadas e pensadas para que o ensino ¢ a formagdo de professores de Historia sejam projetos efetivos de produgio de saberes e de valorizagio do que & essencialmente fruto de experiéneias € construgdes de/para a sala de aula. Portanto, importa que esse forum nacional, em suas manifestagdes coletivas, trabalhe para que seu espasoitempo seja de compromisso pela busca incessante da andlise, reflexio, critica € produgdo de novas perspectivas pata o ensino de Histéria da escola basica brasileira. Referéncias Bibliogréficas: BHABA, Homi K. O local da cultura. Trad. Myriam Avila, Eliana Lourengo de Lima Reis, Glducia Renate Gongalves, 3%, Reimpressao, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. FONSECA, Selva Guimaraes. Caminhos da Historia ensinada, Campinas: Papirus, 1993 GAGLIARDI, Célia Morato. A escola piblica e a formagdo do professor de Historia In: Anais do Semindrio Perspectivas do Ensino de Historia. Sdo Paulo: FEUSP, 1988, p. 67-73. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte ¢ politica. Obras Escolhidas I. Trad Sérgio Paulo Rouanet, Sao Paulo: Brasiliense, 1985. © Narrador. Consideragdes sobre a obra de Nikolai Leskoy. In: Magia e técnica, arte e politica. Obras Escolhidas I. Sao Paulo: Brasiliense, 1985, p. 197-221. HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (org). Identidade ¢ diferenca: a perspectiva dos estudos culturais. Pett6polis: Vozes, 2000, p. 103-133. A identidade cultural na pés-modernidade. Trad.Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro, 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. NADAI, Elza, Apresentagdo. 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