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Cobrindo políticas científicas

Lição 7
Cobrindo políticas científicas

Hepeng Jia e Richard Stone


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Curso On-line de Jornalismo Científico

7.1 Por que devemos nos importar com política científica?

O ônibus espacial Columbia se desintegra durante o retorno: quem é o culpado?

A primeira nave espacial chinesa a chegar à Lua envia uma imagem impressionante. Mas questões
sobre a autenticidade da imagem logo aparecem na internet. Isso é liberdade de expressão ou, como
um cientista chinês colocou, um “ataque à nação”?

A usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, explode e libera uma onda de radiatividade pela Europa:
qual é o risco?

Um especialista em malária fala do atraso no envio de mosquiteiros para a África como “um dos crimes
chocantes do nosso tempo”. Mas os mosquiteiros são uma solução universal para esse flagelo mortal?

Um painel da Organização das Nações Unidas formado por 2 mil cientistas determinou que os gases
de efeito estufa produzidos pela ação humana são o estopim do aquecimento global recente. Já
começamos uma avalanche lenta, porém rígida, de mudanças? Se sim, como a sociedade deve agir?

O que essas histórias têm em comum?

Todas se referem à política científica. E, para cobrir e escrever com autoridade sobre esses e outros
acontecimentos no mundo da ciência, você deve ter domínio das questões básicas da política científica.

Ao completar esta lição, você terá uma boa ideia de onde encontrar notícias sobre política científica,
quem você deve entrevistar para um ângulo de abordagem mais político, como organizar e equilibrar
uma matéria sobre política e como lidar com desafios como incomodar funcionários do governo. Se
você for suficientemente persistente, poderá ser acusado ou acusada de revelar segredos de Estado!
Será uma honra.

7.2 O que é política científica, afinal?

Cientistas não trabalham no vácuo ou num laboratório à parte do mundo real – embora alguns
assim desejassem. A grande busca e o acúmulo do conhecimento a que chamamos ciência é
inextricavelmente ligada à sociedade.

Para iniciantes, os cientistas precisam conseguir dinheiro para sua pesquisa de algum lugar. Os
recursos provenientes de impostos pagos pelos cidadãos financiam grande parte da pesquisa na
maioria dos países. E, ao passo que a curiosidade pode inspirar muitos projetos, os achados resultantes
têm consequências para a sociedade. A ciência modela nosso mundo e dá forma às decisões (algumas
vezes aparentemente irracionais) dos políticos. E políticos (às vezes aparentemente irracionais) têm
grande poder sobre que tipos de pesquisa são permitidos e receberão financiamento.

A importância da política científica e a profundidade com que você precisará abordá-la dependem de
quem são os seus leitores. Se eles forem cientistas, você deve sondar as forças sociais que influenciam sua
habilidade de conduzir pesquisas. Se eles são leigos, você deve sondar as motivações por trás das decisões
políticas que afetam a ciência e como os resultados das pesquisas, em retorno, afetam seus leitores.

Colocada de maneira simples, a política científica é a ligação entre ciência e sociedade. Ela abarca as
decisões, pequenas ou grandes, sobre a pesquisa e em qualquer plano de ação – caminhos e descaminhos.

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Como jornalista científico(a), se você estiver focado(a) apenas nos achados científicos, estará perdendo
a visão mais ampla do que acontece.

Sim, sabemos que alguns de vocês ainda estão pensando: “A política científica é chata”. Alto lá!
Vamos explorar esse tópico com alguns exemplos reais.

7.2.1 Exemplo 1: Pesquisa com células-tronco embrionárias

Em teoria, as células-tronco embrionárias podem se transmutar em qualquer tipo de célula do corpo


e, por essa razão, muitos cientistas pensam que essas células poderiam eventualmente ser utilizadas
para tratar doenças como diabetes e mal de Parkinson. Seu uso é controverso porque as células são
extraídas de embriões humanos que são destruídos durante o processo.

Explicar a ciência por trás das células-tronco embrionárias já é difícil. Mas é também um campo
delicado em relação à moral, e os políticos estão divididos. Em 2001, o então presidente dos Estados
Unidos, George Bush, determinou que os pesquisadores do governo só poderiam trabalhar com
linhagens de células-tronco criadas antes de seu decreto. Muitos pesquisadores norte-americanos se
sentiram prejudicados por essas regras, deixando a porta aberta para países como Cingapura, que têm
menos restrições à pesquisa com células-tronco, tomarem a liderança.

A questão aqui é que entender a ciência não é suficiente. Um jornalista científico deve ser versado nas
questões políticas e morais que envolvem a pesquisa em células-tronco para escrever sobre esse tema
com autoridade.

7.2.2 Exemplo 2: Defendendo a terra de asteroides errantes

Cerca de 10 milhões de asteroides e cometas circulam em nosso sistema solar. A cada cem milhões
de anos ou algo assim, a Terra é atingida por uma pedra enorme que induz uma tempestade de fogo,
destruindo a maior parte da vida no planeta. É uma teoria geralmente aceita que um asteroide ou
cometa de seis milhas matou os dinossauros há 65 milhões de anos.

O que aconteceria se os astrônomos identificassem um asteroide com o nosso nome escrito? Quer
dizer, um asteroide que atingisse a Terra daqui a poucos anos? Relaxe, até onde sabemos, estaremos
seguros por algum tempo. Estamos falando hipoteticamente!

Como jornalista científico(a), espera-se que você explique as consequências do impacto desse
asteroide, sua dinâmica orbital e estratégias técnicas para desviar ou explodir a pedra. Muito disso
vai ser explicar uma ciência complexa de maneira simples – o que você já está treinado ou treinada
a fazer. Mas há também enormes questões sociais. Como os governos vão decidir agir? Que país vai
tomar a liderança? Se o asteroide for tão grande que a única opção for uma arma nuclear, quem vai
puxar o gatilho? Essas são questões de política científica.

Você ainda acha que a política científica é chata?

7.3 Uma regra fundamental

Aqui está uma regra fundamental: toda matéria de ciência tem um ângulo de abordagem político.
(Admitamos que, às vezes, você tem que procurar muito!) Tenha três coisas na cabeça:

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A. Em toda matéria há mais de um lado. Um jornalista deve buscar diferentes pontos de vista,
especialmente opiniões contraditórias, e seu artigo deve refletir a diversidade de opiniões.

B. Toda matéria tem um contexto. Se tiver tempo suficiente, você deve considerar, se não investigar,
as motivações dos cientistas e das organizações sobre que está escrevendo. Descubra seu cão de
caça interior: jornalistas são treinados para seguir o dinheiro. Dinheiro e personalidade modelam as
pesquisas e as decisões que organizam as agendas de pesquisa.

C. Para toda decisão política, há um ângulo científico. (Sim, de novo, às vezes você precisa procurar
muito.) Descobertas científicas são usadas para apoiar ou derrubar a formulação de políticas em cada
nível do governo, seja no conselho de sua cidade ou na Organização das Nações Unidas. É importante
descobrir se a pesquisa sobre a qual você está escrevendo está sendo usada para fins políticos.

7.4 Entrando de cabeça

Como jornalista científico(a), você deve se esforçar para aprender sobre política científica, mesmo que
você não escreva sobre isso. Para iniciantes no campo, leva algum tempo para conhecer as estruturas
nacionais e internacionais, instituições e seus acrônimos – frequentemente confusos. Não desanime!
Use o tempo que precisar. Faça perguntas. Leia. A internet, claro, é um recurso fantástico para
conseguir uma visão mais ampla. Vá ao Google e digite como termos de busca “science policy Africa”
(política científica África). O primeiro endereço que aparece é um link para o programa de política
científica e desenvolvimento sustentável da Unesco [http://www.unesco.org/science/psd]. Visite o site
para uma breve introdução desse e de outros programas de ciência da Unesco e você terá feito parte
do seu dever de casa sobre política científica.

Esse esforço, alguns minutos por dia, com certeza valerá a pena. Você vai encontrar ideias de pautas
e outras minas de informação escondidas. Na página da Unesco, encontramos o registro de uma
conferência chamada “Science with Africa” (Ciência com África), ocorrida em março de 2008
[http://www.sciencewithafrica.com]. Nós não sabíamos desse evento e apostamos que você também
não! Quem disse que navegar na internet é perda de tempo?

Tenha em mente, porém, que a profundidade e extensão da informação variam muito de instituição
para instituição e de país para país. Para uma melhor compreensão das instituições de políticas
científicas e os últimos acontecimentos envolvendo essas instituições, consulte especialistas. Muitos
colegas veteranos do jornalismo científico poderão trocar ideias com você. E, claro, deixe que os
cientistas expliquem as coisas para você. Se você visitar um ou uma cientista em seu laboratório, pode
sobrar um tempo no final da entrevista para fazer algumas perguntas sobre as questões de política
científica com as quais ele se preocupa. Políticos e legisladores podem ter pouco tempo para você
– a menos que você seja do The New York Times, por exemplo, ou da Xinhua News Agency. Mas sua
equipe trabalha com jornalistas e fornece informações para a imprensa. Em longo prazo, você deverá
trabalhar para conhecer as personalidades e suas equipes se elas estiverem relacionados à sua área.

Sabemos que esta lição está voltada ao jornalismo impresso e on-line. Mas os mesmos
princípios se aplicam a rádio e TV também. Como sempre, em rádio e TV, o desafio é encontrar
as imagens ou personalidades que dão vida a uma matéria. Para um exemplo de como isso é
feito em relação à política científica, veja esta reportagem da TV Globo sobre o uso de dinheiro
público para financiar pesquisas com células-tronco nos Estados Unidos: [http://video.globo.com/
Videos/Player/Noticias/0,,GIM979431-7823-DINHEIRO+PUBLICO+PODE+FINANCIAR+PESQUISAS+CO
M+CELUASTRONCOS+NOS+EUA,00.html].

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7.5 Os corredores da política científica

Aqui há alguns caminhos por onde um jornalista pode encontrar política científica:

Caminho Explicação

Questões científicas e orçamentos são discutidos em audiências


no congresso e parlamento, além de encontros de diretorias
consultivas e órgãos reguladores. Nos Estados Unidos, um bom
Trabalhos do governo recurso para acompanhar eventos que estão para acontecer é
o Registro Federal [http://www.gpoaccess.gov/fr/index.html].
No Brasil, os jornalistas podem acessar o site da Câmara dos
Deputados [http://www2.camara.gov.br/].

Candidatos frequentemente abordam questões de política


Campanhas políticas
científica em seus discursos ou reuniões de partido.

Sociedades como a Sociedade de Neurociência [http://www.sfn.


org/] e a União Europeia de Geociências [http://www.egu.eu/]
Encontros de associações
têm encontros anuais com sessões dedicadas à política científica
científicas
que afeta seus campos de pesquisa. Em encontros científicos
maiores, líderes políticos frequentemente fazem discursos nos
quais revelam novas políticas e programas.

A Organização das Nações Unidas [http://www.un.org/] e


outras organizações internacionais têm papel de liderança na
Negociações internacionais
formulação de políticas sobre questões globais, como formas
de mitigar os efeitos do aquecimento global e como proteger
a biodiversidade.

Organizações sem fins Grupos de cidadãos, entidades profissionais e ativistas ajudam a


lucrativos moldar a política científica por meio de seus relatórios e eventos
com a imprensa.

Grandes empresas apoiam esforços de pesquisa e


Atividades corporativas
desenvolvimento e buscam influenciar os regulamentos de base
científica a seu favor.

Revistas líderes como Nature [http://www.nature.com/index.


html] e Science [http://www.scienceonline.org/] moldam a
Revistas científicas
política científica por meio de seus editoriais e fóruns políticos
gerados por cientistas.

7.6 Diferentes tipos de cobertura da política científica


Existem diferentes tipos de matérias sobre política científica, sendo as mais básicas as notícias curtas
que relatam o lançamento de certas políticas. Esse tipo de matéria parece simples, mas não é fácil
resumir as informações mais importantes em apenas algumas frases. Além disso, é importante dar aos
leitores, em poucas frases, alguma informação básica sobre o contexto em que se insere a notícia.

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Outros tipos de matérias sobre política científica são reportagens especiais e notícias que detalham
o apelo e debate a favor ou contra certas políticas ou analisam o impacto das políticas sobre seus
leitores. Uma reportagem especial, como em outras áreas, deve ser profunda e informativa, ainda que
não possa cobrir tudo – mesmo numa reportagem longa. Então, você ainda precisa definir quais são as
informações mais importantes.

Um bom exemplo disso é esta reportagem publicada na revista eletrônica ComCiência:

Brasil e Estados Unidos: até onde vai a união?


[http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=23&id=259&tipo=0]

Embora se espere que os jornalistas escrevam notícias, às vezes eles têm que escrever opiniões
ou editoriais e, nesse caso, as políticas são grande parte do foco. Há muitas maneiras de fazer isso
(como vimos na Lição 4, “A arte de escrever”), mas lembre-se: você é jornalista e deve ter informações
baseadas em análises positivas e negativas. Nunca deixe isso de lado. Tente listar os pontos que
sustentam uma política e, depois, argumente em contrário, em vez de deixá-los intocados.

Escrever artigos de opinião sobre política científica frequentemente é uma chance de o


jornalista científico promover sua reputação com um veículo de comunicação. Nem sempre a
ciência é mote de editoriais ou comentários. Repórteres de ciência podem aproveitar a política
científica como oportunidade de ouro para invadir páginas e programas de política.

7.7 Encontrando pautas de política científica

7.7.1 Cobrindo a maioria dos encontros científicos

Antes de ir a um evento, prepare-se: quem são os principais palestrantes? Que políticas eles vão
abordar? Quem mais estará lá? Se possível, converse com os organizadores do evento ou com os
principais palestrantes. Além disso, é útil conversar com outros jornalistas sobre que novidades eles
esperam ver no encontro.

Uma vez que você já está no encontro, concentre-se nas falas de formuladores de políticas. Fique
atento para dicas sobre mudança de políticas ou reclamações sobre políticas importantes!

Podem ser funcionários mais velhos comentando novas orientações em relação às políticas – mais
do que líderes ministeriais, cujos discursos costumam ser vazios e mais sobre princípios do que
sobre ações específicas. Tente encontrar o que fará a diferença. Quando você ouvir os pontos mais
importantes da política, peça que pesquisadores de políticas familiarizados com aquele campo
expliquem uma ou duas propostas de política que estão sendo feitas. Muitas das questões terão
sido discutidas antes do anúncio da nova política. Você também pode pedir que outras pessoas de
destaque deem seus comentários sobre as políticas reveladas pelas autoridades.

Se você ouvir algo essencial, siga os palestrantes mais relevantes assim que eles acabarem suas
conferências. Quanto mais rápido você conseguir chegar perto deles, melhor. Se necessário, peça-lhes
que esclareçam o que disseram.

Peça comentários de outros participantes da conferência. Pergunte a outros jornalistas sobre suas opiniões.

E nunca se esqueça que, como repórter, você é quem decide o que é importante e o que deve ser relatado!

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Sempre que possível, participe de encontros profissionais de menor escala relacionados à política
científica. Você pode ter que prometer aos organizadores que não publicará nada. Mas, usando o
que você descobrir como informação de segundo plano exclusiva, você sempre pode encontrar uma
oportunidade de escrever sobre o tópico.

Um exemplo disso pode ser visto, em inglês, em:


China proposes cooperative renewables research
(China propõe pesquisa cooperativa sobre renováveis)
[http://www.scidev.net/News/index.cfm?fuseaction=readNews&itemid=3907&language=1]

Em seu discurso de abertura no Congresso Solar Mundial, o vice-ministro de ciência da China mencionou
que seu ministério estava tentando formar um sistema de cooperação internacional sobre energias
sustentáveis. Isso é inédito na China, e é importante porque a China enfrenta muita pressão para reduzir
suas emissões de carbono. Era difícil conseguir que o vice-ministro desse uma entrevista, mas havia
muitas pessoas importantes na conferência que fizeram comentários importantes para os leitores.

7.7.2 Projetos de pesquisa

Nos principais projetos de pesquisa, os aspectos políticos mais importantes são sua missão,
financiamento e medidas de continuidade em comercialização / aplicações. Em geral, esses projetos
não aparecem do dia para a noite, mas são desenvolvidos ao longo de algum tempo. Tente segui-los
desde a primeira vez que você ouvir falar sobre eles.

Queixas de problemas, apelos para novas políticas ou atualizações / revisões e debates a favor ou
contra certas políticas são grandes fontes de matérias sobre política científica. Comparados às novas
políticas “acidentalmente” reveladas pelos funcionários dos governos, os debates e queixas são mais
fáceis de ouvir, então seja seletivo na investigação dos comentários relativos a políticas realmente
importantes ou comentários realmente novos, ao menos para a sua audiência.

Por exemplo, reclamações sobre a distribuição injusta dos fundos para a ciência são frequentes. Essas
queixas, em si, não são novas, mas se você ouvir que, em certo projeto importante, os cientistas estão
protestando que há muito dinheiro gasto em equipamento inútil, isso pode render uma boa matéria.

Pesquisas sobre política relatadas em revistas especializadas e realizadas em centros de excelência


são outra fonte de pautas. Mas, como esses relatos são frequentemente baseados em estudos de caso
realizados previamente, eles podem não ser suficientemente novos do ponto de vista jornalístico. Uma
solução possível é ver se os relatórios são significativos em relação a temas quentes na atualidade.

7.7.3 Controvérsias

Controvérsias por trás das políticas científicas e grandes projetos de ciência são frequentemente
interessantes, porém são mais relevantes para veículos profissionais, como as seções de notícias da
Nature e da Science.

Ao contrário de outras áreas da política em que os debates são feitos em linguagem aberta e
clara, as políticas e projetos científicos às vezes são debatidos de maneira obscura em revistas
e encontros profissionais. Em sistemas científicos mais hierarquizados, comuns em países em
desenvolvimento, faltam debates abertos. Nesse caso, você pode ter que recorrer às seguintes
fontes em busca de controvérsias:

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1. Revistas acadêmicas (mas não de pesquisa sobre políticas) do campo, em que os debates são
expressos em linguagem técnica (que pode ser apropriada para o público-alvo, mas significa que são
menos acessíveis a leitores não-especializados).

2. Revistas estrangeiras e relatórios de mídia.

3. Encontros locais – eles podem apresentar debates científicos em certas questões específicas; por
exemplo, a reunião de ambientalistas próximo a um rio pode ser a origem de um debate sobre o
projeto de uma grande barragem.

4. Encontros profissionais de pequeno porte e/ou conversas com os cientistas da área.

Um exemplo é o especial da Science sobre o enorme projeto chinês de desvio de cursos de água do sul
para o norte do país. Na China, debates abertos sobre um grande projeto iniciado por líderes do Estado
são raros, sobretudo depois que o projeto já foi lançado. Porém, uma análise da literatura acadêmica
pode revelar descrições de áreas possivelmente problemáticas que, em vez de criticar diretamente o
projeto de desvio de águas, avaliam questões relacionadas, como a ecologia dos rios afetados, o impacto
da remoção de moradores das áreas afetadas e a distribuição dos recursos hídricos.

O artigo (em inglês) pode ser lido gratuitamente no site da União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN, na sigla em inglês):
[http://www.iucn.org/reuters/2006/articles/going_against_flow.pdf ]

7.8 Entrevistas para a cobertura de política científica

7.8.1 Preparação e primeiras perguntas

Antes de ir para uma entrevista sobre política científica, consiga informações sobre seu contexto
e qualquer apelo ou debate prévio, descubra quem assumiu que posição e identifique duas ou
três opiniões e propostas representativas. Aprenda as principais opiniões de outros cientistas /
formuladores de políticas / cientistas políticos além de seu entrevistado. Conheça as instituições
políticas mais apropriadas. Se estiver trabalhando em uma política controversa, você precisará, pelo
menos, checar como os representantes do governo decidiram defender suas políticas anteriormente.

Para entrevistas curtas na esteira de eventos maiores em que representantes mencionaram algo
importante, você precisa rapidamente preparar três perguntas-chave antes de abordar o entrevistado:

1. Se os representantes mencionaram planos para fazer algo grandioso, mas foram vagos demais, sua
primeira pergunta pode forçá-los a ser mais específicos.

2. Se os representantes já mencionaram políticas ou medidas concretas, sua primeira pergunta deve


ser: “Quando?”.

3. Depois de conseguir as respostas para as duas perguntas acima, você pode querer perguntar
“quanto dinheiro está envolvido?” e “quão ampla é a cobertura dessas políticas?”.

Existem questões sempre necessárias e significativas sobre como implementar as políticas e qual
o impacto que elas podem ter. Essas perguntas são longas demais para serem respondidas numa
entrevista rápida. Para aproveitar melhor o tempo, uma boa opção é citar uma dificuldade principal e

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perguntar se ela pode se tornar um obstáculo, ou citar alguns impactos possíveis e perguntar como
lidar com eles.

Um exemplo é a entrevista feita pela repórter Ana Cecília Americano, da Gazeta Mercantil, com o
ministro da Ciência e Tecnologia brasileiro, Sergio Rezende:
[http://www.gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?Parms=2409461,25,50,1,1]

7.8.2 Cavando mais fundo

Numa entrevista planejada, exclusiva ou coletiva, você deve ter tempo suficiente para perguntar as
mesmas questões citadas anteriormente – cobrindo o quê, quando, quanto dinheiro envolvido e como
vencer dificuldades –, porém em mais detalhes. (Veja também a Lição 3 deste curso, “A entrevista”).

1. É sempre bom dar aos formuladores de políticas diferentes opções de resposta; por exemplo,
fazendo uma lista de dificuldades ou problemas e dizendo: “Ouvi dizer que há uma dificuldade X para
as políticas propostas, como você lida com isso?”.

2. Uma estratégia inteligente numa entrevista é citar alguém cujas opiniões são diferentes das do
entrevistado e – de forma educada, é claro – pedir a ele ou ela que responda. (Em outras situações ou
culturas, pode ser melhor que o entrevistador ou entrevistadora coloque a outra opinião como parte
da pergunta – sem apresentá-la como sua opinião pessoal, claro.)

3. Outra tática – baseada em conhecimentos básicos da área – é perguntar sobre os fundamentos


das novas políticas. Diga, por exemplo: “Sabemos que este problema já existe há algum tempo (os
formuladores de políticas devem saber bem disso), mas, até agora, nenhuma política foi efetivamente
capaz de enfrentar a questão. Como você (formulador de política) pode ter certeza de que esta política
(ou projeto) será mais bem sucedida?”.

Um ótimo exemplo aconteceu no encontro do Centro Internacional de Pesquisas Florestais (CIFOR, na


sigla em inglês), que discutiu uma iniciativa de pesquisa sobre florestas e mudanças climáticas do CIFOR.
O repórter perguntou: “O papel das florestas na luta contra as mudanças climáticas é bem conhecido,
mas não tem havido ações para conservar as florestas a fim de combater o aquecimento global. Você
espera que a sua iniciativa vença as barreiras que desencorajam ações nesse sentido? Por que você tem
certeza disso?”.

As questões estimularam uma descrição muito específica da iniciativa, possibilitando aos leitores
compreender a situação. Isso, junto com outras informações, levou à seguinte matéria (em inglês):

Plans to curb deforestation need more consideration


(Planos para conter o desmatamento precisam de mais consideração)
[http://www.scidev.net/en/news/plans-to-curb-deforestation-need-more-consideratio.html]

Numa entrevista coletiva sobre uma nova política, tente sempre fazer perguntas diferentes de
questões mais comuns sobre a política em si. Uma estratégia comum é perguntar sobre os possíveis
impactos e efeitos negativos da nova política, ou sobre alguma área que você acha que a política não
cobre. Mas certifique-se de que o estilo da sua pergunta não é muito crítico nas entrevistas coletivas
com pessoas importantes.

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7.8.3 Pesquisadores de políticas e outras partes interessadas

É sempre útil fazer entrevistas adicionais com outras pessoas que estão familiarizadas com a política,
como cientistas políticos e/ou partes interessadas que podem ser afetadas pela política.

O tamanho e o detalhamento da entrevista dependem do artigo que você está produzindo. Se você
está só pedindo por um breve comentário, primeiro resuma os pontos-chave da nova política (ou
pontos relacionados às partes interessadas). Depois, talvez você possa descrever alguns impactos
possíveis e perguntar ao cientista político se eles estão realmente ocorrendo. Os entrevistados podem
não estar preparados para analisar a política em detalhes, então suas perguntas precisam “inspirá-los”.

Nunca se esqueça de pensar sobre as pessoas que podem ser afetadas por uma nova política científica.
Empresas? ONGs? Fazendeiros? Médicos? É importante incluir seus pontos de vista na matéria.

Você pode precisar entrevistar mais pessoas afetadas pela política do que esperava. Mas nem sempre
é fácil encontrar um ou uma cientista que esteja disposto(a) a dar um comentário – eles não são
políticos e tendem a dizer “não” se fizer perguntas que estão fora de seu campo de expertise. Porém,
você sempre pode pedir a eles que indiquem outras pessoas para falar – ou pedir que eles mesmos
falem “em off”.

Se você entrevistou pessoas que criticaram uma política, tente retornar às pessoas envolvidas em tal
política para perguntar-lhes sobre sua resposta a essas críticas.

Um exemplo é a já mencionada reportagem especial publicada na Science sobre o enorme projeto de


desvio de águas do sul para o norte da China. Os repórteres, notando alguns comentários negativos
em relação ao projeto, puderam voltar aos representantes do ministério responsável pelo setor hídrico
para uma explicação em resposta às críticas. Depois, então, buscaram mais informações com os críticos,
mostrando que as medidas com as quais se pretendia enfrentar os problemas não eram suficientes.

7.9 Escrevendo sobre política científica

7.9.1 Para começar


Escrever sobre política científica não é como escrever uma notícia sobre uma pesquisa, o que, ao
menos para os repórteres, envolve um processo relativamente direto e linear. Escrever sobre política
científica requer um equilíbrio mais complicado das visões de diferentes partes interessadas e uma
ligação entre a situação atual, o conteúdo da política e seus impactos pretendidos.

Uma matéria típica de SciDev.Net menciona a política e um de seus principais impactos no lide, ou cita
um dos objetivos principais e depois menciona a política. Veja o exemplo, disponível em espanhol:

Brasil y China serán socios en nuevas tecnologías


(Brasil e China serão parceiros em novas tecnologias)
[http://www.scidev.net/es/climate-change-and-energy/climate-policy/news/brasil-y-china-ser-n-
socios-en-nuevas-tecnolog-as.html]

[RIO DE JANEIRO] Brasil y China acordaron colaborar en el desarrollo de tecnologías para hacer frente a los
problemas energéticos y del cambio climático.
(Brasil e China acordaram colaborar no desenvolvimento de tecnologias para enfrentar os problemas
energéticos e as mudanças climáticas.)

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Uma política ou proposta de política frequentemente tem muitos aspectos. Uma notícia deve focar
apenas nos aspectos realmente novos e significativos para sua audiência ou naqueles que terão as
consequências mais graves.

Quase todas as políticas são áridas em suas descrições literais. Então, torne-as mais atraentes por meio
de descrição completa do problema, possíveis soluções contidas na política e novos problemas ou
limitações que podem surgir como resultado das novas diretrizes. O estilo específico depende do tipo
de matéria que você está produzindo e seu contexto. Sempre procure detalhes e histórias que podem
tornar sua matéria mais viva e direta.

Veja, por exemplo, o artigo publicado no JC E-mail sobre o incentivo ao uso de energia eólica no Brasil:

Ministério do Meio Ambiente vai incentivar geração de energia eólica


[http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=62296]

Para uma matéria de rádio ou TV sobre políticas científicas, embora os repórteres tenham mais
ferramentas para dar vida à reportagem, como as expressões e gestos dos entrevistados, uma
abordagem narrativa semelhante também seria útil, começando com a descrição completa do
problema, seguida das possíveis soluções contidas na política e dos novos problemas e limitações que
podem surgir como resultados das novas diretrizes.

Em muitas situações, o relato de novas políticas não tem um fim determinado. Em vez disso, depois de
ponderar diferentes lados de uma política (ou debate), a matéria pode concluir com uma citação de
alguém sobre o futuro ou uma pergunta sobre o efeito da política.

7.9.2 Estruturando textos longos

Contar histórias é muito importante se você está escrevendo uma reportagem especial. Essas matérias
tendem a ter muito mais espaço e geralmente são publicadas algum tempo (pelo menos alguns dias)
depois do anúncio ou debate sobre a nova política. Elas podem focar mais no impacto da política (ou
em projetos científicos relacionados).

Segue uma sugestão de como estruturar uma boa reportagem especial sobre política científica (veja
também a Lição 4, “A arte de escrever”):

1. Um lide mais leve não é essencial, mas é muito usado. Uma estratégia comum é descrever alguém
que é, ou será em breve, afetado pela política.

2. Depois, é preciso fazer uma transição do lide (e talvez um ou dois parágrafos seguintes), que
descreve uma ação nova e individual, para falar da situação de forma mais abrangente. Uma frase
de ligação típica poderia começar com “XX é uma das pessoas que serão afetadas ou que estão
esperando por uma política de...”.

3. Depois da transição, é preciso resumir a política, o debate ou o apelo político, mas apenas seus
pontos principais, e não uma explicação abrangente.

4. Em seguida apresenta-se o contexto, os principais problemas a resolver e passos mais importantes


na formulação da nova política.

5. Você pode, então, dar mais detalhes da política e confrontá-la com essas questões.

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6. O próximo passo é apresentar qualquer consequência positiva ou negativa da política.

7. Apresente os argumentos a favor e contra a política ou apelo. Ou, se estiver falando de uma nova
política, fale sobre suas limitações e dificuldades de implementação.

8. Para terminar, você pode voltar aos formuladores de políticas, deixando que eles expliquem,
defendam ou antecipem o que virá a seguir.

A estrutura apresentada anteriormente não é uma receita de bolo, mas ajuda os novos redatores a ter
uma noção do enredo ou trama que pode ser criado.

Um exemplo é a matéria de SciDev.Net, em espanhol, sobre o corte no orçamento destinado à ciência


no Equador:

Nuevo recorte de presupuesto científico en Ecuador


(Novo corte no orçamento da ciência no Equador)
[http://www.scidev.net/es/science-and-innovation-policy/governance/news/nuevo-recorte-de-
presupuesto-cient-fico-en-ecuador.html]

Para matérias sobre políticas em rádio e TV, uma ordem semelhante pode ser usada para expressar
o senso de drama, com a vantagem de que há mais chances de as pessoas envolvidas na matéria
falarem diretamente, em vez de serem citadas como na mídia impressa.

7.9.3 Controvérsias e contexto científico

Em certas situações, sobretudo na cobertura de uma controvérsia recente ou de um grande evento,


um estilo de reportagem mais direto funciona muito bem, já que a própria controvérsia será cheia de
altos e baixos, opondo argumentos e impactos em curto e longo prazo. É importante que a descrição
seja o mais equilibrada possível, ainda que siga uma linha condutora do início ao fim, que geralmente
é o principal problema a ser resolvido.

Uma matéria da Agência Fapesp, sobre a elevada proporção de pesquisas sobre a Amazônia que são
feitas por estrangeiros, é um exemplo.
Perda de soberania
[http://www.agencia.fapesp.br/materia/4036/noticias/perda-de-soberania.htm]

Matérias sobre políticas científicas não precisam conter o mesmo nível de explicação de termos
científicos dos relatos de descobertas científicas, mas isso não significa que eles não requerem
informações científicas. Diferentes das políticas sociais ou de mercado, as políticas científicas são
geralmente baseadas em problemas enfrentados por campos da pesquisa, então pode ser necessário
mergulhar um pouco na literatura acadêmica para conseguir informações que complementem o
texto. Ao contrário do que acontece nas matérias de ciência, as informações acadêmicas aqui devem
ser mais claramente explicadas.

Um exemplo é a aprovação, pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos, de um produto químico que os cientistas afirmam ser perigoso. Leia a matéria, em inglês:

Chemists challenge EPA pesticide decision


(Químicos questionam decisão da EPA sobre pesticida)
[http://www.rsc.org/chemistryworld/News/2007/October/10100702.asp]

138
Cobrindo políticas científicas

Trabalhe cuidadosamente com os editores para certificar-se de que os debates contra certas políticas
não são muito arriscados ou provocativos politicamente. Geralmente os editores têm uma noção
melhor disso do que os repórteres.

Cheque as aspas mais delicadas com os entrevistados quando necessário. Diferentemente do que
acontece em matérias sobre ciência, alguns comentários contra certas políticas podem trazer prejuízos
para as pessoas que os fazem. Se os entrevistados não ficarem satisfeitos com a citação que você
escolheu, discuta com eles se a informação pode ser expressa de maneira mais moderada ou disfarçada.

Com a mesma sensibilidade política, esteja preparado ou preparada para fazer grandes mudanças
e revisões em seu artigo. A melhor maneira é finalizar a matéria tão cedo quanto possível antes do
prazo: assim, você terá tempo de fazer as mudanças, adicionar informações e equilibrar o lado crítico
do texto.

7.10 Além das aparências: o que motiva suas fontes?


Qualquer bom jornalista sabe a importância de ter uma lista extensa de fontes ao alcance das mãos.
Você constrói essa lista ao longo dos anos. Algumas fontes se tornam amigos, mas, no final, todas as
pessoas com quem você falou lhe forneceram informações, que puderam ou não ser usadas. É uma
relação de trabalho. Você deve estar consciente de que suas fontes têm uma razão para lhe fornecer
informações. Talvez eles gostem e respeitem o seu trabalho – isso é ótimo! Talvez eles queiram ver
seus nomes na imprensa. Que assim seja, se suas falas forem brilhantes. Mas talvez eles tenham
motivações escondidas. Talvez eles queiram que seu artigo aumente as chances de eles conseguirem
financiamento para um projeto ou uma promoção. Conscientemente ou não, eles querem moldar
sua opinião. Sempre tenha em mente as motivações das suas fontes, sobretudo quando o seu artigo
transcende a santidade dos achados científicos e toca questões sociais.

Qualquer bom jornalista também terá uma motivação central: a busca da verdade. Às vezes, essa
busca se depara com a tendência que governos e indivíduos têm de esconder as informações que
os colocam em maus lençóis ou que eles consideram prematuras para tornar públicas. Nos Estados
Unidos, o Ato de Liberdade da Informação (FOIA, na sigla em inglês) permite que o público busque
informações específicas nas agências do governo. Jornalistas científicos, mesmo os que têm apenas
um interesse reduzido na política científica, devem requerer informações pelo FOIA regularmente. O
governo pode não responder totalmente a esses pedidos, mas vale a pena tentar.

Infelizmente, poucos outros países possuem um mecanismo similar para obter informações dos
relutantes representantes do governo. Se você não está certo do que lhe é permitido fazer nesse
sentido em seu país, converse com outros colegas. Aprenda com as experiências deles, busque
conselhos em associações nacionais e internacionais de jornalistas e, se houver questões legais, veja se
advogados podem ajudar.

Às vezes, as informações são classificadas como segredo de Estado e isso pode dificultar sua busca da
verdade. Alguns países têm uma definição ampla do que constitui um segredo de Estado. Os governos
podem insistir que certa informação é segredo de Estado mesmo que ela já esteja no domínio público,
por exemplo, na internet. É assim na China. Você pode se sentir frustrado ao falar com representantes
do governo em países assim. Não se desespere, todos nos sentimos assim em algum momento. Tente
conseguir informações com fontes não-governamentais. Quando não conseguir, deixe para lá e volte
ao seu trabalho: imagine que você é como um detetive!

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Curso On-line de Jornalismo Científico

7.11 Fontes onde você pode obter pautas sobre políticas científicas

Há algumas fontes de informação sobre ciência onde você pode obter dicas sobre políticas científicas
(veja também, a Lição 2 deste curso, “Encontrando e avaliando notícias científicas”):

EurekAlert!, que inclui não só releases de importantes artigos de pesquisa da Science, PNAS, Lancet
e outras revistas com embargo, mas também muitas iniciativas políticas ou releases sobre relatos
políticos importantes: [http://www.eurekalert.org/]. Para receber boletins por e-mail e acessar notícias
embargadas, é preciso fazer um registro. Em inglês.

Alphagalileo, cujo foco é em pesquisa e iniciativas políticas na Europa. Como os países europeus
têm muitos programas assistenciais, você também pode encontrar dicas de políticas relacionadas a
esses programas. Visite [http://www.alphagalileo.org] e faça um registro para releases diariamente
atualizados. Em inglês.

O site da Nature para a imprensa, também em inglês, é repleto de releases de artigos publicados
na Nature e em outras revistas do Nature Publishing Group, mas há também artigos de opinião e
editoriais sobre política científica. Você precisa se registrar em [http://press.nature.com/press].

O Science Media Centre, do Reino Unido, cobre achados de pesquisa e muitas discussões políticas. Visite
[http://www.sciencemediacentre.org/] frequentemente para aprender mais sobre eles. Em inglês.

No Brasil, dois exemplos de sites interessantes para buscar pautas sobre política científica são o do
Jornal da Ciência [http://www.jornaldaciencia.org.br] e o da Agência Fapesp [http://www.agencia.
fapesp.br/]. Você também pode se cadastrar para receber boletins por e-mail.

Sites de organizações como Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial da Saúde
(OMS), Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP, na sigla em inglês), Programa
Ambiental das Nações Unidas (UNEP), Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids),
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização para Cooperação
Econômica e Desenvolvimento (OECD), Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Agência
Internacional de Energia, Banco Mundial, Academia Africana de Ciências e Academia de Ciências do
Terceiro Mundo são fontes importantes para você aprender sobre políticas científicas internacionais,
mas eles não publicam notícias sobre novas políticas ou relatórios políticos, exceto a distribuição de
press releases para jornalistas cadastrados.

7.12 Questões (1-5)


Questão 1: Encontrando matérias sobre políticas
Em quais desses locais você tem mais chances de ouvir sobre o desenvolvimento de uma nova
política científica?

A. Numa reunião política em que um candidato faz um discurso


B. No encontro anual de um ministério ou agência de ciências
C. Durante a visita de um primeiro ministro a um orfanato
D. Numa revista trimestral especializada em matemática teórica
E. Numa entrevista coletiva da Microsoft sobre sua estratégia anual

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Cobrindo políticas científicas

Questão 2: Encontrando matérias sobre políticas


Você foi chamado para cobrir a 50ª Conferência Internacional de Microorganismos. Na mesa de
abertura, os cinco palestrantes são: o primeiro ministro do país que sedia o encontro, o diretor da
Sociedade Internacional de Microorganismos, o vice-ministro da Saúde do país anfitrião, o reitor
da universidade onde o encontro acontece e um prestigiado pesquisador das ciências da vida que
ganhou o Prêmio Nobel. Quem são os mais influentes? Faça uma lista dos palestrantes, ordenando-
os segundo a possibilidade de eles renderem matérias para o seu jornal, revista ou emissora de TV.
Explique que tipos de notícias podem vir de cada palestrante.

Questão 3: Encontrando o ângulo de abordagem político


Suponha que você escreva para um meio de comunicação de massa genérico e leu as afirmações
a seguir. Quais delas são mais adequadas para uma matéria sobre política científica em seu veículo
sobre o tema escolhido?

A. Um famoso pesquisador de ciências da terra reclama que o financiamento para seu campo de
trabalho tem sido muito pequeno.
B. Uma epidemiologista alerta que, se uma vacina humana contra o vírus H5N1 não for desenvolvida,
a pandemia de gripe será inevitável em sua região nos próximos meses.
C. Uma pesquisadora de ciências da vida diz que a pesquisa com células-tronco em seu país tem sido
muito restringida e que não deveria haver tantas limitações éticas.
D. Um ministro da ciência conclama seu país a ser mais inovador.
E. Um cientista diretor de um grande projeto de proteômica declara que os fundos prometidos para
seu projeto foram apropriados por outros programas de pesquisa.

Questão 4: Relatando o ângulo de abordagem científico


Suponha que você esteja num pequeno encontro sobre cooperação científica internacional, onde
você ouviu de um representante do Ministério da Saúde que eles estão planejando uma política para
limitar a participação de pesquisadores estrangeiros nos projetos financiados com fundos locais.
Imagine que há vários participantes desse encontro – formuladores de políticas, cientistas políticos,
cientistas. Tente encontrar três entrevistados e formular questões breves para eles sobre essa política.
Lembre-se de que seu tempo é muito limitado.

Questão 5: Lidando com informações delicadas


Uma fonte lhe conta que muitos cientistas se opõem a um grande projeto de engenharia que custa
bilhões de dólares e pode ter consequências ambientais desastrosas. Porém, ninguém está falando
abertamente sobre esse projeto. Quais são as melhores maneiras de começar a buscar informações
críticas, porém confiáveis?

A. Agendar uma entrevista oficial com representantes do ministério responsável pelo projeto.
B. Fazer uma busca no Google Acadêmico com palavras-chave relacionadas ao projeto e seus
possíveis impactos.
C. Visitar o site do ministério que apoia o projeto.
D. Ler relatos relevantes publicados na mídia.
E. Explorar os sites das agências das Nações Unidas.

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Curso On-line de Jornalismo Científico

7.13 Respostas das questões (1-5)

Questão 1: Encontrando matérias sobre políticas


A, B, E. Sobre a resposta C, embora um primeiro-ministro possa ser fonte de decisões políticas
importantes, é pouco provável que ele ou ela fale sobre isso durante a visita a um orfanato. Sobre a
resposta D, a revista sobre matemática teórica tende a ser hermética demais e com a frequência muito
baixa para conter discussões políticas noticiáveis.

Questão 2: Encontrando matérias sobre políticas


Uma possível ordem é: vice-ministro de Saúde, primeiro-ministro, reitor da universidade, diretor da
Sociedade Internacional de Microorganismos e ganhador do prêmio Nobel.

Essa ordem supõe que o seu veículo seja um veículo genérico do país que sedia o encontro. Embora
o primeiro-ministro seja uma figura política importante, pode ser que o campo da ciência seja muito
específico. Vice-ministros de Saúde geralmente assumem a responsabilidade por assuntos concretos
relacionados à epidemiologia de um país e costumam dar boas dicas de notícias em suas falas. Um reitor de
universidade local é mais noticiável do que o diretor da sociedade internacional porque os acontecimentos
locais são mais relevantes para a vida do público do que uma organização acadêmica internacional.

Mas é claro que esta não é a única resposta possível. As opções vão depender do seu veículo, da
personalidade dos palestrantes e outros fatores.

Questão 3: Encontrando o ângulo de abordagem político


Seja o público-alvo do seu veículo uma audiência geral ou mais científica, é crucial aqui explorar as
declarações mais específicas e recentes. Então, entre coisas específicas, você deve selecionar os tópicos
mais relevantes para a vida cotidiana das pessoas. Para este propósito, não há nada mais relevante do
que a gripe pandêmica da opção B. Além disso, as declarações A e D são muito gerais. A declaração C
é um pensamento comum a muitos cientistas, mas poucos expressariam isso abertamente, então, se o
cientista em questão o fez, com justificativas, isso seria noticiável para um veículo mais especializado.
A declaração E renderia uma matéria interessante, desde que não tenha sido mencionada antes, mas
seus leitores provavelmente seriam os cientistas.

Questão 4: Relatando o ângulo de abordagem científico


Para fazer essa matéria, pergunte ao palestrante quando a política será implementada e quanto tempo
a proposta deve durar. Se o representante do ministério se recusar a comentar, o que é muito provável,
você pode precisar checar com pesquisadores de políticas que estão no evento e que podem saber
mais sobre a política em questão. Suas perguntas podem incluir o quão provável é que a política entre
em vigor e quando e como ela vai afetar o campo da pesquisa. Lembre-se também de identificar
no encontro cientistas com ligações internacionais para quem a política é relevante. Sua primeira
prioridade é falar com pesquisadores de políticas, mas depois você pode falar com cientistas para
obter outros comentários sobre a política proposta.

Questão 5: Lidando com informações delicadas


Os passos B e D são promissores. Para as respostas A e C, é pouco provável que o ministério que
apoia o projeto possa ou vá revelar informações mais críticas. Sobre a resposta E, você deve lembrar
que as agências das Nações Unidas são sempre muito cautelosas e evitam comentar assuntos dos
países, e seus sites provavelmente não destacarão informações críticas sobre questões emergentes de
relevância internacional.

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Cobrindo políticas científicas

7.14 Exercícios (1–4)

Exercício 1: Encontrando o ângulo de abordagem político


Qual é o ângulo de política científica para uma matéria sobre a possibilidade iminente de um asteroide
atingir a Terra?

Aqui está uma possível resposta:

Embora muitos aspectos do possível impacto estejam fundamentados pela física ou tecnologia,
as questões sociais serão de supremo interesse para a maioria dos leitores, sobretudo se você está
escrevendo para um público geral. Se o potencial impacto não é totalmente certo, se a chance de uma
colisão é de uma em cem, os governos devem agir? Qual é o limiar de uma faixa de risco inaceitável? E
qual deve ser a ação a tomar? Explodir o asteroide ou desviar sua rota? Remover as pessoas dos locais
que podem sofrer com o impacto? As pessoas devem ser compensadas? De acordo com que padrões?

Além disso há muitas outras considerações e ângulos. Por favor, pense de maneira criativa sobre as
possibilidades e discuta-as com o seu tutor ou colegas.

Exercício 2: Defesa planetária


Voltemos ao exemplo do impacto do asteroide. Você participa de uma coletiva da NASA em que um
administrador anuncia que o asteroide Apophis, de 300 metros, tem uma chance de 1 em 37 de atingir
a Terra em 13 de abril de 2015. Os países devem agir para evitar essa catástrofe.

Tarefa 1: Faça uma lista das informações puramente científicas de que você precisa para uma matéria
(Onde o asteroide irá bater? Quais serão as consequências físicas?).

Tarefa 2: Faça uma lista das questões de política científica que você precisa explorar na matéria (Será
necessária uma arma nuclear? Que país vai liderar o esforço de defesa mundial?).

Tarefa 3: Com base em sua lista de perguntas, decida que fontes contatar.

Tarefa 4 (opcional): Divirta-se! Invente as respostas (só para esse exercício – não para publicar!) e escreva
uma matéria com algumas centenas de palavras voltadas para a audiência – e veículo – de sua escolha.
Exercício 3: Simulando uma entrevista coletiva
Imagine que a Universidade de Pequim organiza uma coletiva para anunciar a sensacional notícia de
que um de seus professores descobriu como criar ouro a partir de dois outros elementos, cobalto e
telúrio. Essa alquimia dos dias modernos foi um resultado inesperado de experimentos de rotina que
tentavam bombardear um alvo de cobalto com vários átomos pesados para ver o que era produzido
na colisão.

Na coletiva, a Universidade de Pequim anuncia que o processo é economicamente viável e que a


instituição já depositou a patente do processo de produção de ouro. A universidade formou uma
empresa que se beneficiará da descoberta.

O que você perguntaria ao porta-voz da universidade durante a entrevista?

Algumas questões que vêm à mente:


• Quem terá a propriedade da patente?
• Como a universidade vai usar os benefícios da descoberta?
• O experimento foi reproduzido por um laboratório independente?

143
Curso On-line de Jornalismo Científico

Quem você contataria depois da coletiva, de volta ao seu jornal ou revista? Pense na sua audiência:
• O que seus leitores querem saber?
• Com que tipo de especialistas você vai falar? Físicos?
• Que tal um representante do mercado de metais preciosos, que possa comentar o impacto potencial
da grande oferta do ouro no preço do produto?
• Que tal entusiasmados representantes de associações de mineração de cobalto e telúrio?
Opcional: Divirta-se! Invente citações e informações e escreva uma matéria para o seu veículo.

Exercício 4: Escrevendo sobre política científica


Leia o seguinte release (em inglês) sobre um relatório da Organização para Cooperação Econômica
e Desenvolvimento (OECD) sobre a inovação na China, segundo o qual o país ainda tem um longo
caminho a seguir na construção de um sistema de inovação nacional moderno e de alta performance.
[http://www.olis.oecd.org/olis/2007doc.nsf/809a2d78518a8277c125685d005300b2/ea2542c4ef36697
0c12573440033787b/$FILE/JT03231155.PDF]

Lembre-se de que esse é um release. Por favor, tente transformá-lo numa matéria. Quando o fizer, você
deve responder às seguintes perguntas:

1. Geralmente, para uma notícia curta, identifique: que informação está faltando e quem você precisa
entrevistar para conseguir o quê? Elabore suas perguntas para a entrevista.

Resposta de referência: O release sintetizou os principais conteúdos do relatório, mas, se você for
escrever uma matéria noticiosa, vai precisar descrever pelo menos uma das falhas da China listadas no
relatório – por exemplo, como o país não conseguiu alcançar certos padrões. Quando entrevistar os
autores do relatório, pergunte por exemplos dessa falha.

Também é uma boa ideia pedir por um comentário independente, talvez de um pesquisador de
políticas chinês. Por fim, se tiver tempo, você pode também pegar aspas de cientistas chineses ou
empresários voltados para a pesquisa para comentar os resultados do relatório.

2. Suponha que você queira escrever uma reportagem especial inspirada pelo relatório da OECD por
causa de alguns dos seguintes cenários:

Cenário A: O relatório da OECD é o primeiro relatório feito por uma organização internacional por
encomenda do governo chinês (por exemplo, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia).

Cenário B: O relatório da OECD é baseado em dados fornecidos por um instituto de pesquisa chinês
que é uma organização quase oficial. O instituto tem feito muitos relatórios semelhantes, mas nenhum
deles tem a reputação do relatório da OECD.

Cenário C: O relatório da OECD é baseado em dados fornecidos por um instituto de pesquisa chinês,
mas um pesquisador importante do instituto afirmou que a OECD não usou seus dados corretamente.

Cenário D: O relatório da OECD foi rejeitado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia por ter exagerado
os problemas do sistema científico chinês.

Cenário E: Dez dias após lançar o relatório, o setor de inovação científica da OECD – responsável pelo
trabalho – voltou atrás em uma das suas principais conclusões, recusando-se a identificar as razões
para tal.

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Cobrindo políticas científicas

Por favor, identifique um ou mais cenários de acordo com o plano de matéria que você escolheu e
depois tente imaginar o que você faria nas situações que selecionou. Identifique as pessoas certas
para entrevistar e invente citações razoáveis para este exercício. Use esse material para traçar o
rascunho de uma reportagem especial (ou notícia) voltada para os leitores de seu veículo.

Respostas de referência: Não há uma receita de bolo para selecionar as situações. Mas, se você
escolheu algumas delas, você deve ser coerente na hora de organizar sua matéria. Se sua matéria
pretende fazer uma descrição mais detalhada do relatório, as situações A e B podem ser mais
apropriadas, porque lhe dão a chance de comparar, por meio de entrevistas, as diferenças entre o
relatório da OECD e os estudos prévios realizados pela China – em conteúdo, orientação, metodologia,
e assim por diante. Você vai precisar entrevistar os autores do relatório da OECD, pesquisadores
importantes das instituições colaboradoras locais e cientistas relevantes, com foco no quão novo
e relevante é o relatório da OECD. Não se esqueça de entrevistar os representantes do ministério
que encomendou a pesquisa e perguntar-lhes por que eles encomendaram comentários a uma
organização internacional.

Depois de falar com os entrevistados e conseguir informações relevantes, você pode organizar seu
especial assim:
Parte 1. Delinear os principais achados do relatório da OECD.
Parte 2. Incluir a citação de alguém sobre os dados locais.
Parte 3. Mencionar as pesquisas prévias feitas por colaboradores locais.
Parte 4. Citar representantes que digam por que a pesquisa foi encomendada a despeito das
pesquisas prévias.
Parte 5. Principais diferenças entre as pesquisas prévias e o relatório da OECD.
Parte 6. Aspas conclusivas sobre a utilidade do relatório da OECD.

Mas, se você escolheu outras situações propostas anteriormente, seria melhor escrever um especial
criticando o relatório existente ou investigando alguns fatos por trás da matéria sobre o relatório. De
qualquer forma, você precisará estudar primeiro as diferenças entre o relatório da OECD e os estudos
prévios, e depois investigar de acordo com a situação que escolheu. Por exemplo, se você escolheu
a opção C, deve fazer uma entrevista completa com os cientistas que reclamaram do mau uso das
informações. Depois, você deve voltar aos autores do relatório da OECD para perguntar os “porquês”
das diferenças apontadas. Não escreva nada, a menos que você ache que as atitudes diferentes dos
dois lados representam uma situação geral significativa. Se o mau uso é causado apenas por erros na
computação dos números, você não tem motivos para transformar isso em notícia.
Se você escolheu a situação D, sua investigação e artigo deverão ser focados no fato de que a agência
que encomendou o relatório da OECD recusou-se a aceitar seus resultados. Isso será interessante,
sobretudo se você puder encontrar histórias de fontes internas sobre as razões para isso acontecer.

Se você escolheu a situação E, terá primeiro que investigar se há problemas técnicos ou outras
razões – por exemplo, pressão do Ministério da Ciência e Tecnologia – que levaram à retirada de
algumas conclusões. Se não forem puramente razões técnicas – pouco provável na maioria dos
casos –, esse é um começo promissor para uma matéria. Esforce-se para descobrir os motivos e use
seus contatos com pesquisadores e políticos, muitos dos quais devem ter sabido do relatório da
OECD durante sua preparação.

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Curso On-line de Jornalismo Científico

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