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Ainda que a Norma de Desempenho seja recente, dada sua importância para o setor,

diversas são as pesquisas setoriais e científicas que abordam os impactos e graus de


atendimento às suas diretrizes. Este tópico discorrerá sobre as investigações que
exploraram no âmbito macro a implementação da ABNT NBR 15575:2013.

Tratando da primeira versão da Norma de Desempenho, a análise de Oliveira, Souza


e Mitidieri Filho (2010) acerca da aplicação da normativa em projetos de vedações
verticais demonstrou que, nos estudos de casos efetuados, a consideração dos
requisitos, critérios e métodos de avaliação de desempenho não era prática rotineira
das empresas, com exceção dos relativos à segurança estrutural.

No ano seguinte, a pesquisa de Miranda e Correa (2011) com 16 escritórios de


arquitetura de Pelotas/RS identificou que o conhecimento destes agentes acerca da
Norma de Desempenho ainda era incipiente.

Um ano após entrar em vigor a versão atual da Norma de Desempenho, de acordo com
Okamoto e Melhado (2014) as empresas ainda não executavam ações efetivas para
atender às exigências da Norma.

O estudo de caso de Okamoto (2015) com 06 empresas construtoras identificou que


de forma geral, as empresas ainda não haviam desenvolvido planos de ações para
adequação de seus produtos e processos às exigências da Norma. No entanto, 05 das
empresas estudadas criaram comitês internos para avaliar as alterações necessárias em
seus processos. Dentro desse conjunto, 04 empresas estavam caracterizando o
desempenho de seus empreendimentos através da execução de ensaios de desempenho
e da solicitação de laudos comprobatórios aos fabricantes.

Em um contexto mais amplo, a pesquisa realizada pelo CTE (2016) com 145
representantes de empresas construtoras, incorporadoras, projetistas e fabricantes do
setor da construção civil, dentre as quais 90 já haviam participado de atividades de
capacitação sobre a Norma de Desempenho, revelou que 48% dos participantes só
tiveram conhecimento da norma de desempenho a partir de 2013.
Por outro lado, a pesquisa realizada por Otero e Sposto (2016) em sete empresas
construtoras e incorporadoras da região metropolitana de Goiana/GO mostrou que
numa escala de 0 a 10, o nível de preocupação com a Norma de Desempenho das
empresas pesquisadas foi de 7,86.

Do mesmo modo, a pesquisa de Santos et al. (2016), citada no Capítulo 1 da presente


dissertação, identificou que as empresas do setor têm procurado obter conhecimento e
implementar as diretrizes da Norma de Desempenho. Porém, têm encontrado
dificuldades quanto ao estabelecimento de rotinas para atender à normativa.

Endossando a dificuldade de implementação, a pesquisa de Moura, Santos e Pinheiro


(2016), também citada no Capítulo 1, identificou que apenas 3 das 10 empresas
construtoras e incorporadoras entrevistados conheciam a ABNT NBR 15575:2013.

Percebe-se que, de forma geral, a partir da publicação da versão atual em 2013, as


empresas passaram a ter maior conhecimento acerca da Norma de Desempenho. A
exigência legal do atendimento à normativa é um dos fatores que impulsionaram este
interesse.

No entanto, mesmo nas pesquisas mais recentes, as empresas ainda não possuem uma
articulação precisa das atividades que devem ser desenvolvidas para implementar a
Norma. Isto porque, tendo em vista que o ciclo de produção de uma edificação
compreende um período de 3 a 5 anos, muitos dos projetos que estavam em execução
haviam sido protocolado antes da Norma de Desempenho entrar em vigor.

Diante da dificuldade de sistematização das atividades no âmbito macro, estudos mais


recentes buscaram aprofundar a compreensão sobre o nível de atendimento às
diretrizes da Norma em relação aos requisitos e critérios da Norma.

A exemplo de Santos et al. (2016) que identificaram que os itens sobre os quais os
intervenientes apresentam maior domínio são o desempenho estrutural e a segurança
no uso e na operação.
Já a pesquisa realizada por Otero e Sposto (2016) mostrou que o aspecto da Norma
sobre o qual as empresas tem maior compreensão é a funcionalidade e acessibilidade.
Em contrapartida, os aspectos de desempenho, sobre os quais as empresas relataram
menor conhecimento foram a segurança no uso e operação, o conforto tátil e
antropodinâmico, o desempenho térmico e o desempenho acústico.

Ainda de acordo com a pesquisa dos supracitados autores, o maior nível de


preocupação das empresas consultadas foi relativo ao desempenho acústico. Apesar
de não ter sido citado como um dos aspectos mais preocupantes pelos entrevistados, o
maior número de falhas registradas pelas empresas são relacionadas à estanqueidade.
De forma geral, as empresas investigadas acreditam que atendem à maior parte das
diretrizes da normativa devido a qualidade de seus projetos.

Para a CBIC (2016), forma geral, os itens que demandam mais atenção dos usuários
são estanqueidade; desempenho acústico; funcionalidade e acessibilidade e conforto
tátil e antropodinâmico.

A pesquisa de CTE (2016) identificou que os itens com maior taxa de atendimento
pelas empresas construtoras e incorporadoras são funcionalidade e acessibilidade;
segurança no uso e operação e desempenho ambiental. Em contrapartida, os itens com
as menores taxas de atendimento são desempenho lumínico, durabilidade e
manutenibilidade e desempenho térmico.

Apesar de apresentar alguns resultados conflitantes, o que pode ter sido influenciado
pela realidade local do contexto de elaboração de cada pesquisa, pode-se concluir dos
levantamentos descritos que o desempenho acústico e a estanqueidade são aspectos da
Norma de Desempenho que requerem atenção especial das empresas. No entanto,
ainda se faz necessário o desenvolvimento de pesquisas estatisticamente
representativas de forma a assegurar quais requisitos da Norma são mais críticos.

Em relação aos níveis de atendimento aos critérios da normativa, a pesquisa do CTE


(2016) revelou ainda que dentre as empresas construtoras, apenas 16,7% atendiam aos
níveis intermediário e superior de desempenho (Figura X). Para os autores, as
empresas construtoras e projetistas têm se preocupado em atender apenas aos níveis
mínimos das exigências da Norma. Esta prática é decorrente da carência de
conhecimento acerca do comportamento em uso dos empreendimento. Por outro lado,
os autores indicam que os fabricantes são os agentes que têm apresentando maiores
índices de atendimento aos níveis intermediário e superior da Norma.

Figura X – Atendimento aos níveis intermediário e superior

Atende aos níveis intermediário e superior de


desempenho?

Fabricantes 70.60% 29.40%

Projetistas 34.30% 65.70%

Construtoras 16.70% 83.30%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Sim Não

Fonte: Adaptado de CTE (2016)

Analogamente, a CBIC (2016) desenvolveu e aplicou em duas empresas construtoras


de edificações habitacionais multifamiliares de Fortaleza/CE, um checklist de
verificação de atendimento à Norma de Desempenho. Foram verificados, em cada
empresa, diferentes projetos e obras, em diferentes fases. Com essa escolha, os autores
objetivaram analisar o maior número possível de critérios. Os níveis de atendimento
identificados foram de 64% e 70% para cada uma das construtoras.

Observa-se que da pesquisa do CBIC (2016), ainda que abrangem um reduzido número
de empresas, que é exequível que as empresas construtoras atendam às diretrizes
mínimas da Norma que lhe competem. No entanto, conforme exposto pela pesquisa
do CTE (2016), ainda falta à esses agentes a percepção de que o atendimento aos níveis
intermediário e superior constituem diferenciais competitivos que devem nortear de
forma prioritária a competitividade no setor.
Além dos aspectos citados anteriormente, estudos ressaltam outras questões que
também permeiam o cenário atual e ajudam a identificar os pontos nos quais as
empresas precisam atuar para .implementar a ABNT NBR 15575:2013.

A pesquisa de Moura, Santos e Pinheiro (2016) com empresas construtoras e


incorporadoras de Blumenau/SC apontou que a vida útil de projeto ainda é pouco
abordada. Além disso, na percepção dos agentes supracitados, o uso do Manual de
Uso, Operação e Manutenção por partes dos usuários é incipiente.

Outro ponto foi levantado por Santos et al. (2016), os quais identificaram que, ainda
que sendo uma das principais exigência da Norma, a especificação de materiais por
parte dos projetistas, ainda não é rotineira no setor. Os autores afirmam que esta
atividade acaba sendo de responsabilidade do setor de suprimentos das empresas
construtoras.

Em contrapartida às questões levantadas tanto no âmbito técnico como no acadêmico,


diversos autores elencam uma série de orientações a serem adotadas pela indústria da
construção a fim de fomentar e facilitar as atividades de implementação.

Para Borges (2008), as seguintes ações precisam ser adotadas pela indústria da
construção de uma forma macro a fim de impulsionar o atendimento da normativa:
 Definição de objetivos de longo prazo para atendimento aos níveis mínimos de
desempenho com um horizonte de 15 ou 20 anos. Neste período caberia ainda
a elaboração de novas normas técnicas pautadas pelo conceito de desempenho;
 Criação de mecanismos de controle e responsabilização através de
penalizações pelo não cumprimento das normas técnicas. Incluem-se ações
voltadas à exigências contratuais em financiamentos; investimentos em
instrumentos de fiscalização como auditorias em projetos e ampliação de redes
de laboratório; e a criação de incentivos financeiros às empresas que atenderem
as exigência de desempenho;
 Melhoria do arcabouço normativo brasileiro pela identificação de normas
conflitantes e desatualizadas e a conscientização setorial quanto a importância
do cumprimento de normas técnicas;
 Desenvolvimento de condições que promovam o equilíbrio e desenvolvimento
técnico das empresas do setor através da elaboração de um sistema nacional de
referenciais tecnológicos;
 Estabelecimento de metas às empresas fabricantes para que estas reduzam a
quantidade de tipologias e padronizem a forma de evidenciar o desempenho de
seus produtos;
 Elaboração e promulgação como lei de uma legislação específica para a
construção civil brasileira;
 Obrigatoriedade da contratação de seguro-desempenho para toas as edificações
brasileiras.

Mahl e Andrade (2010) acreditam que a realização de avaliações pós-ocupação serão


ferramentas necessárias para avaliação do desempenho das edificações.

Paula, Uechi e Melhado (2013) recomendam que as empresas façam um diagnóstico


de sua situação atual e determinem objetivos, metas, ações e indicadores para orientar
a tomada de decisão.

Kern, Silva e Kazmierczak (2014) compararam o processo de implementação das


normas de desempenho ABNT NBR 15575:2013 e Código Técnico das Edificações
(CTE) da Espanha. Tendo em vista o êxito das atividades de implementação do CTE,
os autores descreveram que as seguintes estratégias, baseadas na experiência
espanhola, poderiam ser adotadas no Brasil:
 Implementação por etapas: Na Espanha, as necessidades dos usuários foram
exigidas gradualmente. Diferentemente do Brasil, onde todos os requisitos
tiveram cumprimento exigido a partir da mesma data;
 Desenvolvimento de um meio de comunicação entre os desenvolvedores da
ABNT NBR 15575: 2013 e os usuários: Na Espanha, foi criado um espaço de
comunicação online onde os usuários podem não só tirar dúvidas como
também fazer críticas e sugestões;
 Elaboração de documentos que auxiliem os projetistas a cumprir a Norma de
Desempenho: os autores consideram os checklists de verificação de projeto
como ferramentas fundamentais e facilitadoras para adequação à normas de
desempenho;
 Desenvolvimento de programas de divulgação e discussão junto aos diversos
fornecedores do setor: o governo espanhol concedeu incentivos através de
cursos e palestras para os fornecedores se adaptarem às diretrizes do CTE.

Otero e Sposto (2016) identificaram que as principais mudanças citadas pelas


empresas para atender à Norma de Desempenho foram: a revisão dos Manuais de
Operação, Uso e Manutenção; a elaboração de projetos de guarda-corpo; a utilização
de manta acústica em lajes; o cumprimento das diretrizes da ABNT NBR 9050:2015 -
Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos; mudanças
nas soluções para impermeabilização de lajes descobertas e o uso de metais sanitários
que reduzem o consumo de água.

Para Cotta e Andery (2016), a implementação da Norma de Desempenho exige


transformações na lógica do mercado da construção civil e a valorização da etapa de
projeto com a qualificação do projetistas e colaboração entre os intervenientes do setor.

De acordo com os supracitados autores, a elaboração de especificações técnicas por


parte dos fornecedores e o maior controle tecnológico e da qualidade de materiais e
sistemas são algumas das ações adotadas pelas empresas com vistas a atender às
diretrizes da normativa.

A pesquisa de CTE (2016) sugere ações setoriais para induzir a implementação da


Norma de Desempenho, dentre as quais destacam-se a viabilização de informações
técnicas, cursos e capacitações e qualificação de projetistas; o estabelecimento de
procedimentos padrões para comprovar o desempenho das edificações; maior
qualidade da rede de laboratórios; a revisão e produção de leis e normas; a criação de
benefícios de compras e contratações para incentivar o uso da Norma; o estímulo ao
debate das responsabilidades dos intervenientes e dos aspectos jurídicos decorrentes;
o incentivo à pesquisa e a ampla divulgação da Norma junto aos usuários.

Diante dos estudos apontados, pode-se concluir que as empresas construtoras ainda
têm dificuldades na implantação desta norma, sobretudo em seus níveis superiores.
Nos tópicos seguintes, serão discutidos os benefícios que a implementação integral da
norma de desempenho pode acarretar ao setor e os entraves que retardam o alcance
desta implementação.

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