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All content following this page was uploaded by Denis Roberto Zamignani on 24 November 2015.
ISSN 2176-3445
Coordenação Editorial
Roberta Kovac
Assistentes Editoriais
Bernardo Dutra Rodrigues
Ila Marques Porto Linares
Revisão
Dante Marino Malavazzi
Ilustração da capa: Silvia Amstalden Comissão Executiva
Roberta Kovac
Joana Singer Vermes
Denis Zamignani
Roberto Alves Banaco
Candido Pessôa
Na Estante 11
Resenha do livro B. F. Skinner: Uma Perspectiva Europeia, de Marc N. Richelle.
EdUFSCar (São Carlos), 2014
Bernardo Dutra Rodrigues
Paradigma Entrevista 13
Roberta Kovac entrevista Denis Zamignani
História de Vida 17
Deisy das Graças de Souza
por Ila Marques Porto Linares
Aplicação 20
A experiência do Método FRIENDS: Uma possibilidade de prevenção e de
promoção de "saúde mental" em larga escala no Brasil?
Larissa Zeggio, Yara Nico e Jan Leonardi
Comportamento em Cena 28
Um Divã para Dois: Discutindo estilos terapêuticos
Mariana Rezende e Thiago Monteleone
teoria e aplicação 3
critos nas categorias constituem as habilidades A conexão afetiva – interação genuína entre
necessárias para conduzir o processo terapêuti- os membros do grupo – é a chave para o suces-
co analítico-comportamental. Uma vez especi- so nesta modalidade de intervenção. Na tera-
ficadas, elas podem ser melhor estudadas para pia de casal ou de família, é necessário abertura
o aprimoramento da tecnologia. para o diálogo e para a intimidade, em busca de
Alguns autores debruçaram-se sobre o pro- novas formas de interação. Para isso, deve-se
cesso terapêutico analítico-comportamental em abrir mão de padrões já estabelecidos e enfren-
grupo, a fim de identificar suas particularidades tar temas evitados ao longo da convivência. Na
ou de compará-lo à terapia individual, partindo terapia em grupo, é a construção dessa cone-
das categorias do SiMCCIT (Melo, Aureliano xão afetiva que permite o desenvolvimento e
& Zamignani, 2014; Silveira-Fogaça, Meyer & a experimentação in loco de novos padrões de
Bolsoni-Silva, 2014). Esses autores descreveram interação, num verdadeiro laboratório de expe-
aspectos importantes das habilidades terapêuti- riências afetivas.
cas neste contexto, explorados adiante. Uma vez iniciada esta conexão, é possível
avançar para o segundo objetivo terapêutico: a
O que Buscamos ao Trabalhar com Grupo? comunicação efetiva. Geralmente, os casais e as
Há muitas razões pelas quais a intervenção em famílias que buscam terapia apresentam uma
grupo pode se mostrar mais efetiva que a indivi- história de tentativas frustradas de interação,
dual (Jacobs, Masson & Harvill, 2006) para lidar fruto de processos de comunicação desastro-
com diferentes questões, principalmente quando sos. O trabalho do terapeuta, portanto, precisa
o foco é relacionamento (Jacobson & Christensen, ter como foco o desenvolvimento de estratégias
1998; Minuchin, Lee & Simon, 2008; Patterson, efetivas de comunicação entre os membros do
Williams, Grauf-Grounds & Chamow, 1998). grupo, mais que a resolução do problema em
A literatura de terapia em grupo destaca si (Pearl & Kassan, 2012). O foco terapêutico
três objetivos complementares: recai sobre a função dos padrões de comuni-
cação, enquanto o conteúdo assume um papel
secundário na resolução de conflitos. Na tera-
pia em grupo, de modo semelhante, a comu-
nicação direta, assertiva e consistente é parte
importante do repertório social a ser modelado
e pré-requisito para o desenvolvimento de pa-
drões de interação mais satisfatórios.
O terceiro objetivo do processo terapêu-
tico em grupo é a construção de interações
não coercitivas. Grande parte dos problemas
de relacionamento envolve histórias de vida
marcadas por coerção. Skinner (1953/1989) e
Sidman (1989/1995) apresentaram as conse-
quências negativas desse tipo de controle so-
cial, infelizmente presente em quase todos os
âmbitos da cultura. Sem notar, os indivíduos
4 boletim paradigma
tendem a adotá-lo no dia a dia, reproduzindo para diminuir a sensação de singularidade,
os conflitos e o sofrimento já tão conhecidos. de que o indivíduo está "só em sua desgra-
Identificar esses padrões e construir alternati- ça" (Yalom, 2006).
vas de interação baseadas no reforço positivo
• Partilha de informações: presente em qual-
mútuo é parte fundamental da mudança tera-
quer processo terapêutico, a partilha de
pêutica, e o grupo é um contexto favorável para
informações é um fator importante no tra-
o indivíduo experimentar os efeitos desta nova
balho em grupo, especialmente para estabe-
forma de se relacionar.
lecer intimidade entre os membros com pou-
co entrosamento. Embora a Recomendação
Fatores Terapêuticos e Habilidades
seja pouco eficaz como estratégia de mudan-
Relacionadas
ça, ao contribuírem com recomendações, os
A literatura de terapia em grupo considera
membros do grupo mostram interesse e cui-
algumas classes de respostas (i.e., fatores tera-
dado com os demais, o que pode favorecer
pêuticos) essenciais para a intervenção alcan-
o relacionamento entre eles (Yalom, 2006).
çar seus objetivos. Entre elas, segundo Yalom
(2006), a instilação de esperança, a universali-
O terapeuta como mediador
dade e a partilha de informações. Neste tópico,
Comparada à terapia individual, a principal
trataremos de cada uma delas e de como as
vantagem da terapia em grupo é ampliar as
habilidades terapêuticas podem ser aplicadas
possibilidades de interação cliente-terapeuta e
para a sua promoção. Elas são descritas da se-
cliente-cliente, nas quais os membros do gru-
guinte maneira:
po incentivam, dão feedback, oferecem mode-
• Instilação de esperança: por instilação de lo, ensinam, identificam avanços e cobram os
esperança, entende-se a promoção de uma outros participantes por metas não cumpridas
boa expectativa com relação ao sucesso do (Silveira-Fogaça et al., 2014; Yalom, 2006).
trabalho terapêutico, o que se dá por meio Nessa situação, o terapeuta não é a única fon-
de alguns processos: (a) ajuste de objetivos te de influência sobre o comportamento dos
e metas, (b) alinhamento de expectativas participantes e pode observar diretamente as
em relação ao grupo e (c) contato com ou- interações entre os membros do grupo, inter-
tros indivíduos que apresentem problemas ferindo imediatamente sobre elas, modelando
semelhantes e que melhoraram com a tera- ou fornecendo modelos de interação.
pia (Yalom, 2006). Em grupo, o terapeuta é um mediador
capaz de promover interações em que o com-
• Universalidade: por universalidade, enten-
portamento de cada participante seja a variá-
de-se a busca por fatores comuns entre os
vel terapêutica a agir sobre os outros membros
participantes, de modo a promover a coe-
(Harris, 1977). Assim, o terapeuta contribui
são, a afinidade e o sentimento de perten-
para os participantes do grupo vivenciarem
cimento ao grupo. A possibilidade de inte-
novas formas de interação e terem contato
ragir com pessoas que também apresentam
imediato com as consequências sociais de seus
sentimentos negativos, pensamentos per-
comportamentos, num tipo de interação mais
turbadores, problemas, impulsos, fantasias,
próxima daquelas que ocorrem em seu am-
desejos, metas e vivências pode contribuir
teoria e aplicação 5
biente social, tornando o grupo um autêntico tipo Cliente-Recomendação e Cliente-Empatia
laboratório de experiências (cf. Kohlenberg – que, por sua vez, envolveriam o cliente alvo
[1991], sobre a interação terapeuta-cliente na da análise na exploração de alternativas para
psicoterapia individual). O preparo do terapeu- seus problemas, assim como os outros mem-
ta de grupo, casal e família é voltado, portanto, bros do grupo na aceitação e no direcionamen-
ao desenvolvimento de estratégias e habilida- to do problema do outro como tarefa própria
des que buscam esta mediação. dentro do trabalho terapêutico, fortalecendo a
Em revisão de um processo terapêutico universalidade e a coesão.
grupal com base no SiMCCIT, Silveira-Fogaça, Já na terapia de casal, parece haver dife-
Meyer e Bolsoni-Silva (2014) observaram que o renças entre os padrões de interação que ocor-
terapeuta atinge seus objetivos por meio de clas- rem nas primeiras sessões e em sessões mais
ses de respostas bastante específicas. De acordo avançadas. De acordo com o estudo de Melo,
com as autoras, o terapeuta de grupo tende a Aureliano e Zamignani (2014), nas primeiras
utilizar um tipo específico de Recomendação, a sessões, o terapeuta apresenta mais frequen-
qual promove a participação dos clientes como temente classes de respostas de Solicitação de
coterapeutas. A universalidade seria promo- Relato, Interpretação e Empatia. Segundo os
vida com verbalizações do tipo Solicitação de autores, o acesso direto do terapeuta às intera-
Aprovação e Solicitação de Reprovação, dirigi- ções que ocorrem entre os membros do casal
das aos membros do grupo, perante determi- propicia, já nas primeiras sessões, a identifica-
nadas revelações de um cliente específico. Tal ção de alguns padrões básicos de interação e fa-
consequenciação provida
pelos membros do grupo Comparada à terapia individual, a principal vantagem da
faz com que a partilha de terapia em grupo é ampliar as possibilidades de interação
informações do cliente seja cliente-terapeuta e cliente-cliente, nas quais os membros do
submetida a um processo grupo incentivam, dão feedback, oferecem modelo, ensinam,
de discriminação simples. identificam avanços e cobram os outros participantes por
Perguntas tais como "O que metas não cumpridas.
há de positivo e/ou de nega-
tivo no que ele disse?", incluídas nessas catego- cilita a explicitação destes padrões por meio de
rias, dirigiriam a análise para este tipo de resul- Interpretação. As verbalizações de Empatia ga-
tado. A coesão seria promovida pela categoria rantem o acolhimento necessário para a conso-
Solicitação de Recomendação, por meio da qual lidação da relação terapêutica. Em sessões mais
o terapeuta envolve os demais membros do gru- adiantadas no processo terapêutico, Solicitação
po no relato que acabou de ocorrer. Perguntas de Relato e Interpretação continuam frequen-
tais como "O que vocês fariam nessa situação?" tes, mas Solicitação de Reflexão passa a ser a
seriam um exemplo desta classe de respostas categoria prevalente, indicando o progresso
(Silveira-Fogaça et al., 2014). obtido na relação terapêutica e buscando neste
O terapeuta pode ainda fazer uso de momento promover a auto-observação do ca-
Solicitação de Reflexão para promover a uni- sal, a identificação de padrões de interação e o
versalidade. Esta classe de respostas do terapeu- desenvolvimento de autorregras que evoquem
ta poderia evocar verbalizações do cliente do ações mais efetivas.
6 boletim paradigma
Estabelecendo conexões uma inferência, "quase como se estivésse-
O psicanalista Louis Ormont apresenta contri- mos tirando uma conclusão precipitada".
buições bastante úteis e compatíveis com uma Um exemplo desta classe de respostas seria:
terapia analítico-comportamental em grupo. "Parece que você está achando que o Miguel
Segundo Ormont (1992), o terapeuta deve está incomodado com o que você acabou de
promover conexões (bridging) entre os mem- dizer". Este tipo de questão incentivaria os
bros do grupo, levando-os a expor suas expe- membros do grupo a estabelecer suas pró-
riências uns aos outros e a revelar o que não prias relações a respeito do tema.
é comum numa conversa habitual. Para isso,
o terapeuta deve formular diferentes tipos de Ormont (1992) destaca ainda episódios nos
perguntas – o que, de acordo com o SiMCCIT, quais a intervenção terapêutica, ao estabelecer
envolveria as categorias Solicitação de Relato, conexões, é especialmente útil. Quando há
Solicitação de Reflexão e Interpretação. Elas um período de silêncio e o grupo parece não
podem ser apresentadas com várias topogra- encontrar caminhos para interrompê-lo, uma
fias. Por exemplo: pergunta do terapeuta pode proporcionar a
retomada do diálogo. Quando algum membro
• Questões abertas: tipo de Solicitação de
do grupo está falando excessivamente sobre si
Reflexão, esta classe de respostas envolve
mesmo, podendo tornar a interação desinteres-
questionar um cliente sobre o que ele ima-
sante para os outros membros e desviar o foco
gina que outro membro do grupo esteja
do grupo, a pergunta do terapeuta pode trazer
sentindo, de modo a promover consciência
o tema para o foco da interação, especialmente
a respeito do outro. Este tipo de questão
porque este tipo de direção que a sessão toma
aberta poderia favorecer a universalidade e
afeta a coesão grupal.
a coesão do grupo, ao estimular o desenvol-
Também é importante estabelecer conexões
vimento de empatia e o compartilhamento
quando o terapeuta percebe que o tema de um
de emoções. Um exemplo de questão aber-
subgrupo domina, deixando outros membros
ta deste tipo seria: "O que vocês sentiriam
excluídos ou desinteressados. Exceção a essa
nessa situação pela qual o Paulo está pas-
regra é quando o terapeuta percebe que dois
sando?". Outro tipo de questão aberta que
membros do grupo acabam de "se descobrir"
favorece a interação do grupo é questionar
e estão explorando suas histórias. Nesse caso,
um cliente sobre a interação que ocorre
não é apropriado introduzir um terceiro na
entre outros dois membros, favorecendo
conversação, pois isso poderia interromper esse
a integração do restante do grupo. Essas
processo de conhecimento mútuo. Contudo,
são perguntas com a seguinte topografia:
Ormont (1992) ressalta que não costuma ser
"Como você percebe o que está ocorrendo
útil para a conexão apenas apontar temas em
entre Laura e Paulo?".
comum entre os membros ou coincidências nas
• Questionamento direto: também voltada a histórias. Tal estratégia, em vez de promover a
promover o diálogo sobre emoções e experi- conexão, pode impedir que os membros com-
ências presentes na interação do grupo, esta partilhem suas experiências por conta própria,
classe de respostas é apresentada como um pressionando para que o grupo funcione sob as
tipo de Interpretação. Consiste em elaborar premissas do terapeuta.
teoria e aplicação 7
Há também momentos em que não é re- sociais – seja em grupos já formados quando
comendado que o terapeuta promova cone- entram em terapia (e.g., casais e famílias), seja
xões (Ormont, 1992). Um deles é quando um com pessoas que ainda não se conhecem.
membro do grupo está claramente alterado, O SiMCCIT tem sido uma ferramenta im-
tendendo à agressividade. Neste caso, trazer o portante nos estudos de processo e resultado,
tema para o grupo pode potencializar a reação ao revelar ações típicas do terapeuta e do clien-
agressiva desse indivíduo ou disseminá-la entre te e suas interações. No estudo da terapia indi-
os outros membros. O mesmo vale quando al- vidual, diversos aspectos da interação também
guns membros do grupo mostram-se hostis e o têm sido elucidados (e.g., Zamignani & Meyer,
terapeuta se vê sob ataque, temendo que a situ- 2014), permitindo o desenvolvimento de uma
ação possa piorar. "Chamar reforço" trazendo o tecnologia mais efetiva. Ainda há poucos estu-
problema para o grupo pode tornar a situação dos estendendo esses achados para os proces-
ainda mais aversiva e, neste caso, lidar com o sos grupais, mas os dados até agora encontra-
problema diretamente pode ser mais efetivo. dos são promissores.
No caso de pacientes tímidos, Ormont Novos estudos com essa ferramenta de-
(1992) aponta que qualquer tentativa de atrair verão indicar sob controle de quais compor-
o indivíduo para se expor pode levá-lo ainda tamentos dos clientes os terapeutas deveriam
mais à introspecção. Neste caso, recomenda- responder na emissão de cada um dos com-
-se uma abordagem cautelosa, deixando claro portamentos descritos no SiMCCIT. Devem
ao participante que ele tem o direito de não se também ser objeto de estudo situações nas
pronunciar: em vez de "O que você pensa sobre quais determinadas classes de respostas não
o que está acontecendo?", é melhor dizer "Você seriam indicadas e/ou requereriam parcimô-
tem alguma opinião sobre o que está aconte- nia, conforme já sugerido por Ormont (1992).
cendo agora?". É importante cuidar ainda para À medida que os estudos avançarem, os mi-
que haja tempo para que a fala do participante croprocessos serão cada vez mais especifica-
seja acolhida, caso ele se pronuncie, pois se isso dos, oferecendo diretrizes para uma condução
não ocorrer o comportamento do indivíduo se- segura da terapia em grupo.
ria exposto à extinção ou à punição, podendo
evocar sentimentos de rejeição ou negligência.
Os exemplos levantados por Ormont
(1992) são algumas das possibilidades a se-
rem exploradas e estudadas pela pesquisa de
processo-resultado na interação grupal. Tais
Denis Roberto Zamignani é coordenador do Mestra-
estudos permitiriam identificar comportamen- do Profissional em Análise do Comportamento Aplica-
tos do terapeuta e do cliente e especificar suas da, professor e supervisor da Qualificação em Clínica
variáveis de controle. Analítico-Comportamental na Associação Paradigma.
Atua como terapeuta em consultório particular.
Indicações Técnicas
Roberto Alves Banaco é coordenador, professor
A condução terapêutica voltada à promoção da e supervisor da Qualificação em Clínica Analítico-
interação entre os membros do grupo é fun- Comportamental na Associação Paradigma. Atua
damental para o desenvolvimento de relações como terapeuta em consultório particular.
8 boletim paradigma
Referências search. Journal of Consulting and Clinical Psychology,
54 (1), 16-21.
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Group, 36, 3-18. Paradigma de Análise do Comportamento.
teoria e aplicação 9
ISSN 2177-3548
AcompAnhAmento terApêutico
e Atendimento extrAconsultório
em Análise do comportAmento
modalidade presencial
início
coordenação fevereiro de 2016
FernAndo A. cAssAs
robertA KovAc
público-alvo
carga horária total de 130,5 horas
profissionais e estudantes
módulo teórico de 59,5 horas
das áreas de saúde e
educação módulo prático de 71 horas
www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672 0194
CRP 06/5164-J
Na Estante
Resenha do livro B. F. Skinner: Uma Perspectiva Europeia,
de Marc N. Richelle. EdUFSCar (São Carlos), 2014
Bernardo Dutra Rodrigues
na estante 11
A Parte 2, intitulada "Skinner e a Tradição seção obrigatória aos interessados na discussão
Europeia: Pavlov, Freud, Lorenz e Piaget", é for- de problemas sociais à luz do behaviorismo.
mada por quatro capítulos. Cada um deles bus- Apesar de a obra original datar de 1993, o
ca comparar a obra Skinneriana à de um dos leitor perceberá que o título envelheceu bem.
autores citados. Destacam-
se os capítulos que abordam À medida que Richelle descreve as contribuições de Skinner
a etologia (Lorenz) e o cons- para o estudo do comportamento, também apresenta o
trutivismo (Piaget), inter- homem atrás da teoria.
locuções não tão comuns
quanto as outras e marcadas por conclusões A abordagem dos temas continua atual, o que
curiosas. Por exemplo, o leitor pode se surpre- o torna uma boa introdução ao aluno que está
ender ao notar que existem mais interseções começando a se aprofundar na teoria e quer se
entre as teorias de Skinner e de Piaget, quan- aventurar em temas mais complexos. Trata-se,
do comparadas à de Pavlov,
embora seja mais frequente O leitor pode se surpreender ao notar que existem mais
abordar o fisiólogo russo interseções entre as teorias de Skinner e de Piaget, quando
nos cursos de psicologia. comparadas à de Pavlov.
A Parte 3, "Pedras de To-
que do Behaviorismo Radical: Cérebro, Cog- portanto, de um livro obrigatório na estan-
nição, Linguagem e Criatividade", trata de as- te dos interessados em estudar o pensamento
suntos tão importantes quanto delicados para Skinneriano.
o analista do comportamento. Richelle discorre
sobre o problema do "biologicismo" e do men-
talismo na explicação do comportamento, bem
como resgata o clássico debate entre Skinner e
Chomsky sobre linguagem, esclarecendo a vi-
são comportamental acerca dos processos ditos
cognitivos.
O autor termina o livro com a Parte 4, "O Referência
Interesse pela Vida Real: Uma Aventura em Richelle, M. N. (2014). B. F. Skinner: Uma perspec-
Direção à Utopia". Esta unidade discute os tiva europeia (Marina S. L. B. Castro, Trad.). São
temas historicamente caros à análise do com- Carlos�������������������������������������������
, SP: EdUFSCar. (Trabalho originalmente pu-
portamento, tais como saúde mental, educa- blicado em 1993.)
ção, vida em grupo e cultura. Todavia, Richelle
foge do lugar comum e aborda nuances dessas
questões dentro da proposta do behaviorismo
radical. O papel da mulher na sociedade, a de-
Bernardo Dutra Rodrigues é psicólogo pela UNAMA
mocracia, a política e o poder são apenas al-
e mestre em Psicologia Experimental pela UFPA. Es-
guns exemplos. A familiaridade do autor com pecialista em Clínica Analítico-Comportamental pelo
a obra Skinneriana permite que ele passeie por Núcleo Paradigma, atua como AT e terapeuta em
temas diversos com clareza, tornando esta uma consultório particular.
paradigma entrevista 13
é necessário exercer ou estar envolvido com a a acreditação os programas de duas disciplinas
análise do comportamento há pelo menos dois que ele tenha desenvolvido, relatando a análise
anos. Esse tempo permite que alguma produção que conduziu à proposta da disciplina, como
ou trabalho seja apresentado, confirmando a ele a conduziu, a metodologia de ensino e de
atuação como analista do comportamento. Se avaliação, esclarecendo assim a forma como a
uma pessoa eventualmente não for acreditada, análise do comportamento foi pensada naquela
isso não significa que ela não seja uma analis- disciplina. O que não se espera é que a pessoa
ta do comportamento. A ideia é oferecer uma apenas compile alguns conceitos da análise do
espécie de "selo de qualidade" da ABPMC para comportamento e os coloque em sequência,
quem for acreditado. Por meio da acreditação, a mas sim que realmente conduza a disciplina
ABPMC reconhece aquele indivíduo como ana- como analista do comportamento e tenha um
lista do comportamento, de acordo com os crité- raciocínio analítico-comportamental sobre a
rios da associação. Isso também não quer dizer avaliação e a metodologia de ensino.
que outros processos de acreditação não possam Ao mesmo tempo, um indivíduo que atue
ser adotados e reconhecidos pela comunidade. profissionalmente e que não tenha uma pro-
dução escrita sobre análise do comportamen-
Paradigma: Então alunos recém-formados são ex-
to precisa elaborar um relato de intervenção.
cluídos?
Nele, deve-se descrever o processo de inter-
Denis Zamignani: Sim, mas esses alunos estão
venção, qual tipo de medida de resultado foi
em processo de consolidar sua atuação pro-
adotado, que tipo de avaliação comportamen-
fissional, para ter uma produção com vistas à
tal foi elaborado, como se desenvolveu a aná-
acreditação.
lise funcional e como esta análise conduziu a
Paradigma: Quais os critérios para a acreditação um modelo de intervenção. É preciso descre-
ser concedida, além de dois anos de prática? ver pelos menos duas situações de interven-
Denis Zamignani: O Certificado de Acreditação ção (dois casos clínicos, duas intervenções em
é emitido com base em comportamento que empresas, etc.).
indique engajamento da pessoa na formação
Paradigma: Quem integra a Comissão atualmente?
crescente em análise do comportamento e na
Denis Zamignani: A primeira Comissão foi elei-
participação ativa dentro da abordagem, nos
ta pela comunidade de analistas do comporta-
últimos 10 anos. Entre os pré-requisitos encon-
mentos por meio de uma votação online. Não
tram-se publicações, apresentações em eventos,
havia candidatos para essa eleição; qualquer
teses, dissertações e outras produções que mos-
um poderia ser votado. Foram eleitos Roberto
trem que o profissional atua como analista do
Banaco, Hélio Guilhardi, Silvio Botomé,
comportamento. Existem também as condições
Emmanuel Tourinho e eu, Denis Zamignani.
de professores universitários e de pessoas que
As discussões ocorreram por um ano, até o re-
atuam profissionalmente com base na análise
gulamento ser votado no Encontro da ABPMC
do comportamento, mas não estão diretamente
de 2014. João Ilo também participou das dis-
envolvidas com a produção acadêmica.
cussões, não como membro da Comissão,
Um professor universitário, mesmo que
mas como então presidente da ABPMC. A
não tenha publicações ou apresentações em
Comissão é constituída por seis membros e
eventos, pode apresentar como requisito para
14 boletim paradigma
cada mandato tem a duração de dois anos. Será Paradigma: A quem deve interessar ser acreditado
feito um rodízio no qual, a cada ano, serão elei- como analista do comportamento pela ABPMC?
tos três novos membros e três membros antigos Denis Zamignani: À medida que as pessoas co-
sairão. Assim, a Comissão nunca será consti- mecem a solicitar a acreditação e obtenham o
tuída por pessoas totalmente inexperientes no Certificado, ele deve adquirir valor como di-
processo, existindo sempre três membros re- ferencial de qualidade reconhecido por uma
manescentes para compartilhar com os novos associação com o valor da ABPMC. Com a di-
membros o conhecimento. Os membros serão vulgação para a comunidade em geral, espera-
eleitos anualmente na Assembleia Ordinária da -se que esta passe a exigir dos profissionais a
ABPMC. No Encontro de 2014, em Fortaleza, acreditação, como um atestado de qualidade.
precisei sair da Comissão por ter me candida- Imagino que cursos de formação de análise
do comportamento, aos
Com a divulgação para a comunidade em geral, espera-se que poucos, buscarão divulgar
esta passe a exigir dos profissionais a acreditação, como um a acreditação pela ABPMC
atestado de qualidade. como um diferencial de
seus docentes, o mesmo po-
tado à presidência e o Emmanuel também pre- dendo ocorrer com universidades, que podem
cisou sair por razões profissionais. Vera Otero, considerar a acreditação um diferencial na se-
Denise Vilas Boas e João Ilo foram então eleitos leção de um professor. Quanto mais a comu-
e os membros da Comissão elegeram João Ilo nidade de analistas do comportamento aderir
como presidente da Comissão. Dessa forma, a ao movimento da acreditação, mais fortalecerá
Comissão é atualmente composta por Roberto a si mesma e ao próprio título de acreditação.
Banaco, Silvio Botomé, Hélio Guilhardi, Vera Deve-se destacar que todo o ganho financei-
Otero, Denise Vilas Boas e João Ilo. ro proveniente da acreditação será revertido
para financiar o processo de acreditação em si
Paradigma: O que o interessado na acreditação
e também para investir na formação de profis-
precisa fazer agora?
sionais. A ABPMC pretende oferecer formação,
Denis Zamignani: Os interessados já podem so-
preferencialmente por ensino a distância, para
licitar o processo de acreditação. É necessário
o aprimoramento de seus associados.
escanear os documentos requeridos e preen-
cher os dados no site da acreditação. Os do- Paradigma: Qual é o valor da acreditação?
cumentos deverão ser anexados ao processo, Denis Zamignani: O valor para não sócio equi-
conforme informado. Não é necessário ser só- vale a três anuidades da categoria profissional,
cio da ABPMC para solicitar a acreditação, mas sendo que há um valor diferenciado para só-
sócios da ABPMC têm um abatimento no va- cios da ABPMC.
lor. A previsão é de que a decisão da Comissão
Paradigma: Você falou sobre a importância da acre-
seja comunicada em 30 dias. Nesse intervalo,
ditação como um diferencial para o profissional.
a Comissão pode requerer algum documento
Você acha que a acreditação poderá valer como
adicional ou esclarecimento. Se a resposta for
outras acreditações que já existem, como a BCBA?
negativa, o candidato pode pedir revisão apre-
Denis Zamignani: A questão do BCBA foi am-
sentando documentos adicionais.
plamente discutida no Brasil, tanto antes quan-
paradigma entrevista 15
to durante a reflexão sobre a acreditação. O acessado por nossa secretária e também pelo
BCBA é um processo bem consolidado, volta- presidente da Comissão. Também é possível
do para pessoas que trabalham com desenvol- entrar em contato pelo telefone da ABPMC:
vimento atípico em outros países e envolve a (11) 3675-2325.
realização de uma prova, bem como o cumpri-
Paradigma: Você gostaria de fazer mais alguma
mento de outros critérios de avaliação.
consideração?
O processo de construção do nosso modelo
Denis Zamignani: A acreditação é uma conquis-
de acreditação baseou-se no fato de que a análi-
ta da comunidade de analistas do comporta-
se do comportamento no Brasil tem caracterís-
mento brasileiros, fundamental para a conso-
ticas singulares. Diferentemente do que ocorre
lidação da abordagem no Brasil. Esse processo,
em outros países em que a análise do compor-
entretanto, depende de um investimento ini-
tamento tem como a maior área de atuação
cial, de um engajamento da comunidade. É
o desenvolvimento atípico, no Brasil a área é
este engajamento que irá estabelecer o valor do
bastante plural quanto à aplicação, ao ensino e
processo, para a própria associação e, por con-
à pesquisa. Entendemos que nosso processo de
seguinte, para cada indivíduo acreditado.
acreditação deve dar conta dessa pluralidade,
Acredito que temos, como grupo, a opor-
refletindo a realidade da ABPMC e da comuni-
tunidade de mostrar nossa força. A análise do
dade brasileira. Foi também uma premissa da
comportamento brasileira tem especificida-
Comissão que o processo não envolvesse uma
des que nos diferenciam de qualquer lugar do
prova escrita. Pretendia-se com isso evitar a
mundo, sendo reconhecida pela qualidade e
proliferação de "cursos pré-acreditação", que
dimensão de sua produção. Diante disso, aos
oferecessem apenas o conteúdo da avaliação
poucos, a acreditação brasileira pode se desta-
e dessem margem à aprovação de pessoas sem
car como um modelo a ser seguido por outros
afinidade com a área.
países. Por fim, vale destacar que o processo
Paradigma: Os membros da Comissão já são acre- de acreditação certamente irá requerer apri-
ditados? moramento e, aos poucos, o feedback da pró-
Denis Zamignani: Sim, os cinco primeiros mem- pria comunidade nos indicará o caminho para
bros que elaboraram a acreditação e os atuais isso. O processo de acreditação é de todos nós.
membros foram acreditados por aclamação Assim, a Diretoria, o Conselho e a Comissão
na Assembleia Ordinária da ABPMC. Se a de Acreditação continuarão abertos ao diálogo
comunidade entende que esses membros têm e ao debate construtivos.
competência para desenvolver um processo de
acreditação, pressupõe-se que eles são publica-
mente reconhecidos como analistas do com-
portamento.
Paradigma: Se alguém tiver alguma dúvida, como Roberta Kovac é psicóloga e mestre em Psicologia
Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-
deve proceder?
SP. Na Associação Paradigma, atua como profes-
Denis Zamignani: Existe um e-mail para o qual sora no Mestrado em Análise do Comportamento
as pessoas podem escrever em caso de dúvi- Aplicada e na Qualificação em Clínica Analítico-
da: acreditação@abpmc.org.br. Esse e-mail é Comportamental.
público-alvo
psicólogos e profissionais das áreas de saúde e
educação CursO De APrimOrAmentO em OrientAçãO
PArentAl: Análises e PrOCeDimentOs
programa Uma parceria entre a Associação Paradigma e a Unidade de Psiquiatria da
carga horária total de 502 horas, divididas em Infância e Adolescência da UNIFESP
162 horas de prática supervisionada e 340 horas
teóricas Coordenação início
AnA BeAtriz D. ChAmAti fevereiro de 2016
ClArissA PereirA
dias e horários (quinzenalmente)
1º módulo Público-alvo
sexta-feira, das 16h45 às 22h profissionais e estudantes das áreas de Duração
sábado, das 9h às 16h; a partir do 2º módulo, saúde e educação 20 encontros distribuídos em 2 semestres,
das 8h às 16h quinzenalmente, das 8h às 12h15
Horários
40 horas de teoria, das 8h às 10h
40 horas de supervisão, das 10h15 às 12h15
início Atendimento clínico – 25h
agosto 2015 O atendimento clínico pode ser realizado em consultório particular ou em estágio
supervisionado (80h) na UPIA – Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UNIFESP.
duração
parceria:
www.nucleoparadigma.com.br 2 anos www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611 Rua Wanderley, 611
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672 0194 local Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672-0194
CRP 06/5164-J Associação Paradigma CRP 06/5164-J
qualificação avançada em
terapia analítico-comportamental
coordenação
jan luiz leonardi
roberto alves banaco
público-alvo
psicólogos e médicos
Integração entre filosofia, teoria e técnica com residência em
para uma formação de excelência psiquiatria
Corpo docente de altíssimo nível
Conteúdo apresentado de forma gradual em
12 disciplinas
programa
quatro módulos semestrais com Investimento
520 horas, distribuídas em: Matrícula R$ 656,00 +
340 horas de disciplinas teóricas e 23 parcelas de R$ 656,00*
atividades de pesquisa (*) parcela com desconto para
180 horas de atendimento clínico vencimento no dia 1 de cada mês a
supervisionado (60 horas de atendimento e partir de agosto.
120 horas de supervisão)
Veja também nosso plano
início de bolsa-pesquisa
agosto de 2015
dias e horários
aulas quinzenalmente, sextas das 20h às 22h;
sábados das 8h30 às 18h30 www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611
horário de supervisão quinzenalmente, sextas das 13h às 16h; Perdizes São Paulo/SP
ou terças, ou quartas, ou quintas, das 19h às 22h Tel. 11 3672-0194
CRP 06/5164-J
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jan luiz leonardi
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CRP 06/5164-J
formação em
qualificação avançada em ClíniCA AnAlítiCO-COmPOrtAmentAl inFAntil
Análise AplicAdA do comportAmento
Ao trAnstorno do espectro AutistA e coordenação
AnA BeAtriz D. ChAmAti início
AtrAso no desenvolvimento
lygiA t. DOrigOn fevereiro de 2016
JOAnA singer Vermes
coordenação datas
fevereiro a dezembro de 2016
cássiA leAl dA HorA sextas-feiras,
lygiA t. dorigon carga horária das 13h às 16h (supervisão)
50 horas de aulas teóricas (que podem das 16h30 às 19h (disciplina teórica)
objetivo ser cursadas independentemente)
O curso visa a capacitar profissionais para o 54 horas de supervisão
planejamento e a aplicação de intervenções 25 horas de prática clínica local
analítico-comportamentais em indivíduos com Associação Paradigma
diagnóstico de Transtorno do Espectro Autístico e
Atraso no Desenvolvimento. Rua Wanderley, 611 inscrições e informações
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672-0194 www.nucleoparadigma.com.br
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público-alvo
psicólogos e profissionais das áreas de saúde e
educação CursO De APrimOrAmentO em OrientAçãO
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carga horária total de 502 horas, divididas em Infância e Adolescência da UNIFESP
162 horas de prática supervisionada e 340 horas
teóricas Coordenação início
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ClArissA PereirA
dias e horários (quinzenalmente)
1º módulo Público-alvo
sexta-feira, das 16h45 às 22h profissionais e estudantes das áreas de Duração
sábado, das 9h às 16h; a partir do 2º módulo, saúde e educação 20 encontros distribuídos em 2 semestres,
das 8h às 16h quinzenalmente, das 8h às 12h15
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40 horas de teoria, das 8h às 10h
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Rua Wanderley, 611 Rua Wanderley, 611
Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672 0194 local Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672-0194
CRP 06/5164-J Associação Paradigma CRP 06/5164-J
História de Vida
Deisy das Graças de Souza
por Ila Marques Porto Linares
história de vida 17
transitam entre as áreas básica e aplicada. Uma de suas marcas corresponde à preocupa-
Aprendizagem relacional, equivalência, função ção com a formação de profissionais compe-
simbólica, aquisição de leitura e escrita, análise tentes para lidar com os desafios e as exigências
e programação de condições
de ensino são apenas alguns Em maio, Deisy foi premiada pelo grupo de interesse em
dos temas estudados por Análise Experimental do Comportamento Humano, da
seu grupo de pesquisa. Association for Behavior Analysis International (ABAI).
Em maio, Deisy foi pre- Honrada, ela atribui o prêmio à dedicação profissional, mas
miada pelo grupo de interesse afirma que ele também simboliza o reconhecimento da análise
em Análise Experimental do do comportamento no Brasil, bem como do esforço em fazer
Comportamento Humano, ciência com seriedade no país.
da Association for Behavior
Analysis International (ABAI). Honrada, ela atri- inerentes à atividade do analista do comporta-
bui o prêmio à dedicação profissional, mas afir- mento. A seriedade e o comprometimento com
ma que ele também simboliza o reconhecimento sua atividade profissional inspiram todos aque-
da análise do comportamento no Brasil, bem les que tiverem disposição de aprender.
como do esforço em fazer ci-
ência com seriedade no país.
Uma de suas marcas corresponde à preocupação com a
A professora ainda dedica o
formação de profissionais competentes para lidar com os
prêmio àqueles mestres que,
desafios e as exigências inerentes à atividade do analista do
desde o início, se empenha-
comportamento. A seriedade e o comprometimento com sua
ram na construção da análise
atividade profissional inspiram todos aqueles que tiverem
do comportamento no Brasil.
disposição de aprender.
Conforme descrito bre-
vemente, a produção científica e técnica de Nesse sentido, professora Deisy, agradeço –
Deisy é extensa, assim como seu incansável en- em meu nome e em nome de muitos colegas –
volvimento em diferentes frentes de trabalho. por contribuir diretamente à nossa formação!
data
as datas são informadas no site www.nucleoparadigma.com.br
Rua Wanderley, 611
horário Perdizes São Paulo/SP
Tel. 11 3672 0194
das 8h30 às 12h30 CRP 06/5164-J
Acesse:
somente títulos relacionados ao
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behaviorismo radical, à análise do 19
comportamento e a áreas afins.
Aplicação
A experiência do Método FRIENDS:
Uma possibilidade de prevenção e de promoção de
"saúde mental" em larga escala no Brasil?
Larissa Zeggio, Yara Nico e Jan Leonardi
20 boletim paradigma
em populações jovens têm sido desenvolvidos 2012 pelo National Registration of Evidence-
e utilizados de forma bastante satisfatória em Based Programs and Pratices (NREPP) e cita-
vários países. Determinar quais desses progra- do como prática efetiva em habilidades socio-
mas são baseados em evidências é importante emocionais no CASEL Guide da Collaborative
para assegurar que os esforços e os investimen- for Academic, Social and Emotional Learning.
tos em intervenções com esses objetivos pro- O programa vem sendo pesquisado cientifi-
piciem impacto positivo na vida das pessoas, a camente desde sua elaboração e é utilizado
um custo econômico compatível. em mais de 20 países (e.g., Suécia, Alemanha,
O Método FRIENDS é um desses pro- Holanda, México, Hong Kong, Estados
tocolos baseados em evidências científicas. Unidos, África do Sul e Portugal), em cer-
Desenvolvido na Austrália na década de 1990 ca de 900 mil crianças e jovens, além de fa-
zer parte de intervenções
O Método FRIENDS é um desses protocolos baseados em bem-sucedidas em políti-
evidências científicas. Desenvolvido na Austrália na década de cas públicas da Inglaterra,
1990 e recentemente implementado no Brasil, tem por objetivo Irlanda, Canadá, Escócia e
aumentar habilidades socioemocionais, promover resiliência e Austrália.
prevenir ansiedade e depressão em crianças e jovens, sendo FRIENDS é um acrôni-
recomendado pela OMS. mo que descreve os com-
portamentos ensinados no
e recentemente implementado no Brasil, tem programa. A analogia com a palavra AMIGOS
por objetivo aumentar habilidades socioemo- mostra que fazer amigos, ser um bom amigo e
cionais, promover resiliência e prevenir ansie- ter seu próprio corpo como amigo podem nos
dade e depressão em crianças e jovens, sendo ajudar a viver melhor e mais felizes. As sessões
recomendado pela OMS. Ele foi aprovado em incluem atividades lúdicas e são percebidas
Feelings
Remember to relax Atenção aos sentimentos
Inner helpful thoughts Momento de relaxar
Explore solutions and coping plans Ideias positivas
Now reward yourself Gerar solucões
Don't forget to practice Orgulhe-se do seu trabalho
Smile and stay calm Sorria e lembre-se de ficar calmo
aplicação 21
como um espaço para se fazer novos amigos Friends for Life, para escolares de 8 a 11 anos;
ou estreitar laços de amizades, facilitando o en- Nível III: My Friends Youth, para adolescentes
gajamento dos participantes e familiares. de 12 a 17 anos; Nível IV: Strong not Tough,
FRIENDS está baseado em (a) técnicas da para jovens a partir de 18 anos, inicialmente
terapia cognitivo-comporta-
mental (TCC), consideradas FRIENDS está baseado em (a) técnicas da terapia cognitivo-
padrão-ouro para prevenção comportamental (TCC), consideradas padrão-ouro para prevenção
e tratamento de ansiedade e e tratamento de ansiedade e depressão; (b) pressupostos e
depressão; (b) pressupos- técnicas da psicologia positiva, com foco em promoção de
tos e técnicas da psicologia saúde; (c) fundamentos das neurociências, que justificam o
positiva, com foco em pro- treino sistemático de práticas de vida saudável, como exercícios
moção de saúde; (c) funda- físicos regulares e exposição ao sol e à natureza, alimentação
mentos das neurociências, equilibrada e aspectos básicos de higiene do sono.
que justificam o treino sis-
temático de práticas de vida saudável, como pensado para aprofundar a participação e o
exercícios físicos regulares e exposição ao sol e treinamento de pais e cuidadores como estra-
à natureza, alimentação equilibrada e aspectos tégia de intervenção ultraprecoce.
básicos de higiene do sono. Cada faixa etária do Método possui mate-
O protocolo está organizado em 14 encon- riais estruturados direcionados ao participante
tros de 90 a 120 minutos: 10 encontros de ati- (livro de atividades) e ao facilitador (manual)
vidades para grupos de crianças e/ou jovens, responsável por mediar a intervenção. Os ma-
dois encontros posteriores de reforço e dois nuais visam a garantir a integridade de apli-
encontros para a comunidade (i.e., pais, fa- cação do protocolo e sua efetividade, embora
mília estendida, professores e cuidadores). O atividades possam ser adaptadas.
conteúdo dos 10 encontros obedece à sequ- Profissionais provenientes das áreas de saú-
ência de competências apresentadas no acrô- de e educação, desde que devidamente capaci-
nimo FRIENDS/AMIGOS. Os dois encontros tados e supervisionados, podem implementar
para a comunidade ensinam estratégias para o Método em diferentes públicos e contextos,
aumentar resiliência em casa e na escola, su- auxiliando na proposta de ação em larga escala.
porte familiar e dos pares, promoção da prática O corpo de evidências produzido sobre o
de resolução de problemas em vez da esquiva/ Método FRIENDS o coloca em posição privi-
ansiedade e estratégias parentais como reforça- legiada. Dados de sua efetividade são encon-
mento positivo, modelagem e ignorar planeja- trados em: adaptação para outros países, para
do (extinção). minorias étnico-culturais, para crianças em si-
Em relação ao público-alvo, o Método está tuação de risco econômico e social, em comu-
organizado em quatro faixas etárias que apre- nidades violentas, mediado por não psicólogos,
sentam o mesmo arcabouço teórico e técnico, fora do ambiente clínico, etc. Cerca de 13.000
mas com atividades ajustadas para realização crianças e jovens participaram dessas pesquisas
e interesse do grupo etário alvo: Nível I: Fun científicas e a eficácia em diferentes medidas
Friends, para pré-escolares e escolares sem foi avaliada, como ansiedade, depressão, resili-
completa alfabetização, de 4 a 7 anos; Nível II: ência e comportamentos pró-sociais.
22 boletim paradigma
Além dos resultados individuais de ensaios meta-análise mostrou que o FRIENDS era o
clínicos em diferentes países, meta-análises programa mais utilizado para prevenção e,
corroboram a eficácia do FRIENDS. Em 2007, apesar de efetividade vista também em outros
foram avaliados todos os programas austra- protocolos, FRIENDS era superior em efetivi-
lianos de prevenção de ansiedade e depressão dade (Fisak, Richard & Mann, 2011).
conduzidos em escolas e o FRIENDS foi o úni- Portanto, o protocolo sistematizado de-
co a apresentar resultados de efetividade 12 nominado Método FRIENDS se apresenta ao
meses após a intervenção, além de atender aos Brasil como uma alternativa plausível e basea-
critérios de qualidade e às diretrizes da Society da em evidências para prevenção e promoção
for Prevention Research (Neil & Christensen, de saúde mental. É importante investir em pes-
2007). Em 2009, meta-análise sobre progra- quisas de validação cultural do Método para a
mas de prevenção precoce no contexto escolar população brasileira e analisar a consistência
mostrou que o FRIENDS apresenta o maior de sua efetividade em nossa realidade nacio-
número de ensaios clínicos publicados, com nal. Dados preliminares no Brasil (Zeggio et
efetividade moderada imediatamente após a al., em preparação) têm mostrado perfil similar
intervenção, chegando à efetividade moderada ao encontrado em outros países, mesmo quan-
para alta (tamanho do efeito = 0.7) 36 meses do aplicado por educadores. Estudos robustos
após a intervenção (Neil & Christensen, 2009). são necessários para corroborar esses achados
Em prevenção, esses dados são interpretados preliminares e devem ser estimulados. A utili-
positivamente em vista dos fatores protetores zação do FRIENDS em ações de larga escala e
continuarem tendo poder para reduzir fatores políticas públicas se mostra promissora e deve
de risco ao longo do tempo. Em 2011, outra ser considerada com atenção.
aplicação 23
Referências
Committee on Evaluation of Children’s Health et Shonkoff, J. P. & Phillips, D. A. (Eds.). (2000). From
al. (2004). Children’s health, the nation’s wealth: neurons to neighborhoods: The science of early chil-
Assessing and improving child health. Washington, dhood development. Washington, Estados Unidos:
Estados Unidos: National Academies Press. National Academies Press.
Fisak, B. J., Richard, D. & Mann, A. (2011). The pre-
vention of child and adolescent anxiety: A meta-
-analytic review. Prevention Science, 12, 255-268.
Hidaka, B. (2012). Depression as a disease of mo-
dernity: Explanations for increasing prevalence.
Journal of Affective Disorders, 140, 205-214.
Kellam, S. G., Koretz, D. & Mościcki, E. K. (1999).
Core elements of developmental epidemiologically
based prevention research. American Journal of
Community Psychology, 27, 463-482.
Murray, C. J. L, Ezzati, M., Flaxman, A. D., Lim, S.,
Lozano, R., Michaud, C., . . . Lopez, A. D. (2012a).
GBD 2010: Design, definitions, and metrics. Lancet,
380, 2063-2066.
Murray, C. J. L, Ezzati, M., Flaxman, A. D., Lim, S., Larissa Zeggio é psicóloga, mestre em Ciências da
Lozano, R., Michaud, C., . . . Lopez, A. D. (2012b). Saúde, doutora em Ciências-Neurociência e pós-
GBD 2010: A multi-investigator collaboration for glo- -doutora em Cognição pela Unifesp. Atualmente,
bal comparative descriptive epidemiology. Lancet, é diretora-técnica do Instituto Brasileiro de
380, 2055-2058. Inteligência Emocional e Social (IBIES), coordena-
dora de pós-graduação em neuropsicologia e pro-
Murray, C. J. L., Vos, T., Lozano, R., Naghavi, M.,
fessora de neurociências do CENSUPEG.
Flaxman, A. D., Michaud, C., . . . Lopez, A. D. (2012c).
Disability-adjusted life years (DALYs) for 291 dise- Yara Nico é psicóloga e mestre em Psicologia
ases and injuries in 21 regions, 1990-2010: A sys- Experimental pela PUC-SP. Na Associação
tematic analysis for the Global Burden of Disease Paradigma, é professora da Qualificação em Clínica
Study 2010. Lancet, 380, 2197-2223. Analítico-Comportamental e integrante do Grupo
de Pesquisa sobre Responder Relacional. Atua
Neil, A. L. & Christensen, H. (2007). Australian scho-
como terapeuta em consultório particular.
ol-based prevention and early intervention progra-
ms for anxiety and depression: A systematic review.
Jan Luiz Leonardi é psicólogo pela PUC-SP, es-
The Medical Journal of Australia, 186, 305-308. pecialista em Clínica Analítico-Comportamental
Neil, A. L. & Christensen, H. (2009). Efficacy and pelo Núcleo Paradigma, mestre em Psicologia
effectiveness of school-based prevention and Experimental pela PUC-SP e doutorando
early intervention programs for anxiety. Clinical em Psicologia Clínica na USP. Na Associação
Psychology Review, 29, 208-215. Paradigma, é professor do Mestrado em Análise
do Comportamento Aplicada e coordenador da
Qualificação em Clínica Analítico-Comportamental.
Atua como terapeuta em consultório particular.
25
guês: integridade (integrity), responsabilidade do aluno em sua integralidade, com aulas de
(Responsability), empatia (Empathy), susten- diversos assuntos. O segundo período se desti-
tabilidade (Sustainability), paz (Peace), igual- na à proficiência, quando se aprimoram compe-
dade (Equality), comunidade (Community) e tências intelectuais (e.g., matemática e línguas).
confiança (Trust).
A Green School é uma Há um cuidado permanente em desenvolver habilidades que
escola preocupada em estimulem o contato do estudante consigo mesmo e com o
desenvolver seres huma- mundo exterior – tais como empatizar com o outro, respeitar as
nos comprometidos com diferenças, enfrentar situações desafiadoras, resolver problemas,
um futuro mais sustentá- pensar critica e criativamente, praticar mindfulness e se ligar à
vel para o nosso planeta. comunidade e à natureza.
Importância essa que dis-
pensa explicações. Dentre tudo o que expe- O último período foca na experiência, por meio
rienciamos, o que mais nos chamou atenção de atividades que incentivam o comportamen-
foi o processo de educação que promove tal to empreendedor. Juntas, as aulas abrangem
objetivo, que questiona "se "mais do mesmo" é várias dimensões da inteligência: (a) sinesté-
aceitável" nos dias de hoje e amplia as frontei- tica: desafios físicos; (b) emocional: desafios
ras da escola, buscando uma educação holísti- culturais e artísticos; (c) racional: desafios in-
ca e centrada nos interesses do aluno. telectuais e cognitivos e (d) espiritual: desafios
A aprendizagem é promovida por meio da intrapessoais.
integração do aluno ao seu ser como um todo,
o que envolve uma experiência sensorial, afeti-
va e social, não apenas intelectual. Há um cui-
dado permanente em desenvolver habilidades
que estimulem o contato do estudante consigo
mesmo e com o mundo exterior – tais como
empatizar com o outro, respeitar as diferenças,
enfrentar situações desafiadoras, resolver pro-
blemas, pensar crítica e criativamente, praticar
mindfulness e se ligar à comunidade e à nature-
za. Isso ocorre sem descartar o rigor acadêmico
e a aprendizagem de conteúdos fundamentais,
como matemática, línguas (inglês, indonésio e
francês), ciências, artes e "estudos verdes", atri-
buindo aos dois últimos a mesma importância
dada às outras matérias. Nota-se ainda um for-
te incentivo aos esportes, incluindo o surf.
O dia de aula de um aluno do ensino fun-
damental é dividido em três períodos. Eles
orientam a rotina da escola. O primeiro perí-
odo é voltado à integração, isto é, à expressão
26 boletim paradigma
No ensino médio, a Green School adota mó- A Green School mostra que contingências
dulos com duração de cinco semanas cada um, planejadas, sem o uso de controle aversivo,
possibilitando ao aluno elaborar seu próprio promovem comportamentos pró-ativos na
currículo com base em várias opções ofereci- aprendizagem e não geram os subprodutos do
das. A liberdade para escolher o que será estu- controle aversivo, como ansiedade e medo. Sob
estimulação aversiva (e.g.,
A rotina da escola oferece oportunidades de se fazer o que é notas baixas e recuperação),
reforçador. Alinhada à sua filosofia de educação, esta proposta os alunos estudam basica-
respeita a individualidade, instiga o enfrentamento de mente para evitar ou se li-
dificuldades e desenvolve habilidades específicas de cada aluno. vrar de punições (Sidman,
1989/1995).
dado permite um aprendizado sobre a respon- Estudos mostram que o desenvolvimento
sabilidade das próprias escolhas, pois às vezes de habilidades socioemocionais, como as cul-
a escolha não agrada quando é experienciada tivadas na Green School, diminuem a probabi-
durante um módulo. Além dos conteúdos sele- lidade de comportamentos de risco (e.g., abuso
cionados pelos alunos, existem outras matérias: de drogas e violência). Fomentar o desenvolvi-
empresa verde, artes visuais, artes performáti- mento dessas habilidades tem impacto positivo
cas, educação física e educação ambiental. no desenvolvimento infantil e de adolescentes,
Este ambiente de estudo remete ao ques- um grande benefício para todos.
tionamento de Skinner (1968): "O que reforça Como se pode notar, voltamos ao Brasil in-
o aluno quando ele estuda?" (p. 138). Ao per- trigadas sobre como a escola se organiza para
guntarmos a uma criança como era estudar na alcançar tudo o que vimos. Dúvidas a serem
Green School, ela respondeu que gostaria de ir à desvendadas numa próxima viagem . . .
escola nos finais de semana. A proposta de en-
sino consegue manter o aluno envolvido graças 1 O livro pode ser baixado gratuitamente no site: http://
às consequências naturais do comportamento educ-acao.com/o-livro/
de estudar. A rotina da escola oferece oportuni- 2 Para saber mais, acesse: http://www.greenschool.org
dades de se fazer o que é reforçador. Alinhada à
sua filosofia de educação, esta proposta respei-
ta a individualidade, instiga o enfrentamento
de dificuldades e desenvolve habilidades espe- Ana Beatriz Chamati é psicóloga pelo Mackenzie,
cíficas de cada aluno. especialista em Clínica Analítico-Comportamental
pelo Núcleo Paradigma e mestre em Psicologia
Experimental pela PUC-SP. Na Associação
Referências Paradigma, é coordenadora, professora e su-
pervisora da Formação em Clínica Analítico-
Sidman, M. (1995). Coercão e suas implicacões (M.
Comportamental Infantil. Atua como terapeuta em
A. P. A. Andery & T. M. A. P. Serio, Trads.). São Paulo,
consultório particular.
SP: Editorial Psy. (Trabalho original publicado em
1989.) Bia Alckmin é psicóloga pela PUC-SP e especialista
Skinner, B. F. (1968). The technology of teaching. em Clínica Analítico-Comportamental pelo Núcleo
New York: Appleton-Century-Crofts. Paradigma. Tutora do programa Cogmed, atua
como terapeuta em consultório particular.
29
nâmica do casal durante o período de interven- Após algumas sessões marcadas por dis-
ção. É visível o grau de aversividade presente cussões entre o casal, atritos entre Dr. Feld e
nas discussões com o terapeuta e nas tarefas e Arnold, assim como prescrições que não surti-
exercícios solicitados. Apesar do humor exis- ram efeito, mudanças na forma de intervenção
tente nas cenas em que Arnold e Kay buscam alteram consideravelmente o processo terapêu-
seguir as orientações do terapeuta, as tentativas tico. O terapeuta passa a adotar uma postura
do casal não produzem o efeito esperado por reflexiva, aqui entendida como ações do tera-
Dr. Feld, comprometendo ainda mais a inti- peuta que pretendem promover no cliente au-
midade entre eles. Além de não atingir os ob- to-observação e construção de autorregras sem
jetivos almejados nas sessões iniciais, a forma recomendações, conselhos ou regras externas
como Dr. Feld age na interação com os clientes (Rodrigues et al., 2015; Zamignani, 2007).
prejudica, também, o sucesso da terapia. Dr. Feld passa a solicitar reflexões ao ca-
Nota-se quanto o processo terapêutico é sal, isto é, explicações, detalhamentos e inter-
doloroso para Kay e Arnold pelo modo como pretações, buscando levá-los ao estabeleci-
se comportam em sessão.
Ao adotar estilo prescriti- As modificações nas intervenções de Dr. Feld fomentam a
vo, no entanto, o terapeuta discussão sobre o estilo terapêutico de psicólogos clínicos,
evoca assuntos difíceis e se tornando o filme recomendável não apenas para quem busca um
mostra (aparentemente) in- bom roteiro, mas também para quem almeja reflexões acerca de
sensível ao desconforto do práticas terapêuticas.
casal. Conforme já mencio-
nado, observa-se neste momento do processo mento de relações entre os fatos descritos. A
comportamentos de resistência, agressividade partir deste momento, eles começam a expor
e oposição por parte dos clientes, além de fuga insatisfações e queixas sobre o casamento.
da terapia em momentos "insustentáveis". Tais Assim, tanto Arnold quanto Kay apontam al-
comportamentos estão relacionados ao contro- gumas causas dos problemas enfrentados no
le aversivo de Dr. Feld. relacionamento.
30 boletim paradigma
Nas últimas sessões, quando passam a fre-
quentar a terapia individualmente, há aumento
Referências
na frequência das solicitações de reflexão, o que
promove resultados melhores em comparação Rodrigues, D. D., Lima, C. F., Zamignani, D. R.,
ao início do processo. Arnold, ao perceber que Malavazzi, D. M., Simões Filho, E., Del Prette, G., .
está perdendo Kay e que talvez não tenha feito . . Mangabeira, V. (2015). Efeitos de intervenções
reflexivas sobre o repertório do cliente no proces-
tudo o que poderia para salvar seu casamen-
so terapêutico analítico-comportamental. Em D.
to, tenta promover as mudanças desejadas pela
R. Zamignani & S. B. Meyer (Orgs.), A pesquisa de
companheira. Contudo, mesmo produzindo
processo em psicoterapia: Estudos a partir do ins-
uma maior aproximação de Kay, as tentativas trumento SiMCCIT – Sistema Multidimencional para
não surtem os resultados esperados. a Categorização de Comportamentos na Interação
O casal encerra o atendimento com Dr. Terapêutica (pp. 145–166). São Paulo, SP: Núcleo
Feld deixando clara a apatia e a desmotivação Paradigma.
com o insucesso da intervenção. O terapeuta, Zamignani, D. R. (2007). O desenvolvimento de um
por sua vez, ressalta a aproximação entre os sistema multidimensional para a categorização de
dois, expondo as diferenças entre o início e o comportamentos na interação terapêutica (Tese de
término do processo terapêutico, além de pro- doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
por a continuidade da intervenção com outro
profissional na cidade do casal.
De volta à rotina, Kay e Arnold permane-
cem com a frustração e, quando o casamento
está próximo do fim, o casal finalmente con-
segue ter uma noite de intimidade, o que mo-
difica completamente a relação, reacendendo a
paixão. O filme se encerra com a cerimônia de
renovação dos votos matrimoniais. Presidida
por Dr. Feld, Kay e Arnold discursam sobre as
modificações que prometem fazer para que a
relação permaneça harmônica e calorosa.
Com grandes atores e humor sutil, Um
Divã para Dois é uma ótima oportunidade de
se conhecer as particularidades de uma terapia
de casal. Ao mesmo tempo, as modificações Mariana Rezende é psicóloga pela USJT e qualificada
nas intervenções de Dr. Feld fomentam a dis- em Clínica Analítico-Comportamental pela Associação
cussão sobre o estilo terapêutico de psicólogos Paradigma. Atua como terapeuta em consultório parti-
clínicos, tornando o filme recomendável não cular e psicóloga escolar na APAE.
apenas para quem busca um bom roteiro, mas
Thiago Monteleone é psicólogo pela USJT, quali-
também para quem almeja reflexões acerca de
ficado em Clínica Analítico-Comportamental pela
práticas terapêuticas. Associação Paradigma e mestrando em Ciências do
Envelhecimento pela USJT. Atua como terapeuta em
1 Em inglês, o título original é Hope Springs. consultório particular.
comportamento em cena 31
O Cinema Paradigma abre as portas da Associação Paradigma para a
comunidade, oferecendo conhecimentos da psicologia, especialmente
da análise do comportamento, para a compreensão dos fenômenos do
cotidiano. Representa uma atividade de responsabilidade social, contribuindo
mensalmente com donativos para entidades assistenciais.
34 boletim paradigma
neira a produzir acesso a um determinado re- "conquista da bandeira de luta – terra": de que
forçador. O reforçador só pode ser produzido, forma ela retroage sobre o entrelaçamento pre-
pela definição de Melucci, pelo entrelaçamento, sente no movimento social (sobre o grupo)? E
e não pela atuação individual. Essa descrição de que forma essa consequência retroage sobre
combina em muito com os conceitos de con- o comportamento do indivíduo, não apenas
tingências entrelaçadas e de metacontingência daquele que obteve a terra, mas também dos
(Glenn, 1991). Tais conceitos podem ser uma outros manifestantes?
ferramenta útil para análise comportamental Esta é uma proposta de análise de mo-
dos movimentos sociais. vimentos sociais baseada na Análise do
Um exemplo de movimento social é o MST Comportamento. É necessária uma aplicação
que utiliza, como forma de luta, a ocupação sistemática dela para testar sua validade e pro-
de terras improdutivas – algo que transcende duzir seu refinamento. Uma forma de cons-
o limite da lei brasileira e, portanto, funciona truir esse teste seria (a) selecionar um movi-
mento social, (b) levantar a
Esta é uma proposta de análise de movimentos sociais bbaseada história desse movimento
na Análise do Comportamento. É necessária uma aplicação (por meio de fontes for-
sistemática dela para testar sua validade e produzir seu mais), (c) selecionar par-
refinamento. ticipantes do movimento
para descrever sua partici-
como ferramenta de pressão ao governo federal pação e sua história de participação política
em busca da reforma agrária. Nas ocupações em outros movimentos, (d) comparar os da-
ou manifestações do MST, é possível identificar dos obtidos dessas duas fontes e (e) organizar
um grupo de pessoas se comportando de forma as informações em termos analítico-compor-
entrelaçada – cada um servindo de condição tamentais (Cassas, 2007).
discriminativa e selecionadora para respostas Esse processo pode resultar na descrição do
dos outros –, na direção de produzir um refor- modo como os movimentos estão organizados,
çador específico. Um dos produtos desse en- bem como das formas de luta que produziram
trelaçamento é a aquisição de terra. Isso só é mais resultados. Com isso, seria possível o pla-
possível por meio desse entrelaçamento e não nejamento de ações futuras que visem a mu-
ocorreria se cada um dos indivíduos se com- danças sociais mais efetivas.
portasse sozinho. Uma questão que se coloca é
se esse produto retroage sobre o entrelaçamen-
to de forma a manter as mesmas pessoas se
comportando de forma entrelaçada. Ou seja, o
manifestante, ao conseguir a terra, permanece
no movimento? Isso leva à questão de como a
consequência, produzida pelo grupo, retroage
sobre o comportamento do indivíduo partici-
Fernando Albregard Cassas é psicólogo, mestre em
pante do movimento. Psicologia Social e doutor em Psicologia Experimental
Sendo assim, duas questões se colocam pela PUC-SP. Professor da Associação Paradigma, atua
com relação à produção da consequência como AT e terapeuta em consultório particular.
Coordenação Editorial
Roberta Kovac
Assistentes Editoriais
Bernardo Dutra Rodrigues
Ila Marques Porto Linares
Revisão
Dante Marino Malavazzi
Ilustração da capa: Silvia Amstalden Comissão Executiva
Roberta Kovac
Joana Singer Vermes
Denis Zamignani
Roberto Alves Banaco
Candido Pessôa
ISSN 2176-3445