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CAPÍTULO 2 1 1

Abordagem Cognitiva do Protocolo Verbal na


Confirmação de Termos para a Construção
de Linguagem Documentária em
Inteligência Competitiva

Mariângeln Spotti Lopes Fujitn


Brígida Maria Nogucfra Cervantes

Introdução
O conhecimento produzido pelo indivíduo e seu grupo, quan-
do compartilhado, transforma-se c1n infonnação. A informação, por
sua vez, que é fruto resultante de conhccin1cnto, sendo convcnicntc-
menlc absorvida, altera o conteúdo infonnacional do indivíduo e
seu grupo provocando-lhe inquietaçücs, que coadunadas, propor-
cionam a geração de novos conhecimentos, e assim sucessivamente
se compõe cm un1 processo de transferência da infonnaçtlo.
J\ informaç<lo indica un1 conteúdo que se encontra disponível
nos n1ais variados meios e suportes e, quando incorporada aos sis-
tcrnas de infonnaçâo, esta se <1cumula e agrega·-sc em um<l estrutura
ou repositório. Para que exista a cmnunicaçâo deste conteúdo, é
in1portantc considerar que o sislcnrn de infonnação, que a disponi-
biliza, esteja amparado por instrumentos capazes de con1patibilizar
a linguagein adotada no sisten1a cmn a linguagem de busca utilizada
pelo usuário de un1a área especializada.
A proposta deste estudo tem vínculo com a abordagem cog-
nitiva en1 vista da necessidade de acesso ao conhecimento dos
especialistas e profissionais da informação cm inteligência con1-
petitiva, uma área de assunto em desenvolvimento com de111anda
para a sua representação em linguagen1 documcntária. Para realizar
a abordagen1 cognitiva na construçtlo da linguage1n documcntcíria
en1 inteligência con1pctitiva e obter o relato dos especialistas e
30 Métodos qualitativos de pes11ui.rn em OfocÍil da lllfon11aç1lo

profissionais da informação sobre o processo de categorização na


delimitação de dmnínio, coleta e confirmação de tennos para a
construção de linguagen1 documcntária, adotou-se a metodologia
do protocolo verbal.
O uso do protocolo verbal ainda está carente de estudos cien-
tíficos na construção de linguagens docun1cntárias tnoti .'0 pelo qual
1 1

se decidiu analisar os resultados da sua aplicabilidade no que tange


ao processo de categorização para delimitação de domínio, coleta
e confinnaçào de termos.
Em busca de aprimoramento, optou-se pela aplicação conver-
gente das recomendações n1ctodológicas <la Tcrn1inologia) tendo-se
corno foco a 'teoria do conceito' que orienta a coleta dos termos
ancorada no contexto de uso da metodologia do protocolo verbal
'pensar alto', no intuito de verificar o processo de catcgorizaçào para
dcli1nitaçiio de domínio, coleta e confirmação de tern1os que podem
ser utilizados para a construção de linguagens docun1entárias con1-
patíveis con1 a tern1inologia do domínio do usuário.
Com o entendimento da in1portância da construçào de lin-
guagc1n docun1cntária compatível com a linguagem de busca, do
usue:lrio do sistema de recuperação de informação de área especia-
lizada, supõe-se que os referenciais teórico-n1etodológicos da Tcr-
1ninologia, da linguagem docun1entúria em conjunto com a meto-
dologia do protocolo verbal 'pensar alto', possam contribuir para
aprin1orar as n1ctodologias existentes para a construçao de lingua-
gen1 document<Íria.
Vale destacar que se trata de un1a pesquisa aplicada que tcrn
por objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática e solução
de problcnrns definidos. Quanto à abordagem, caracteriza-se como
um tipo de pesquisa qualitativa para melhor con1prcender e classi-
ficar os processos relativos ao te1na en1 estudo.

2 Abordagem Cognitiva em Ciência da Informação


A abordagen1 cognitiva refere-se, de forma mais simples, aos
estudos que consideram o conhecimento humano, tanto sob ponto
de vista de processa1nento quanto de representação, conH1 parâme-
tro para análise e elaboração de teorias e n1etodologias. O foco,
Abmdngnn wgn<tim do prntornlo '''"""'· 31

portanto, é a cognição - o processo de conhecer humano que ofe-


rece uma pcrspcctiva de investigação baseada na compreensão, no
processan1ento e na representação.
A partir disso, os enfoques principais das pesquisas de aborda-
gc1n cognitiva são a percepção, a cognição) a conceilualização, a
compreensão, o pensan1ento, e a função da linguagem, ao passo que
o conceito fundamental é a representação proveniente do estudo da
estrutura de conhecimento humano.
/\ Ciência <la Informação tem como objetos de estudo a
informação e o conhecin1ento que são, fundainenta!mcnlc, inter-
disciplinares e, por isso, discute com outras ciênci;::s que possuem
fundanientos teóricos iinportantcs. Ingwcrscn ( 1992), cm seu
estudo sobre a interação da recuperação da infonnação, investigou
a visJo da Ciência da Informação como ciência cognitiva e, a este
respeito, afirma que a Ciência da Infonnação pode ser basican1ente
vista como urna ciência cognitiva, considerando-se a inl1uência de
disciplinas científicas con10 Con1unicação, Ciência da Computaç<lo,
Psicologia, Lingüística, Matcmútica, Inteligência Artificial, Sociolo-
gia e Epistcn1ologia de onde ela obteve principal inspiração e sub-
sídios teóricos.
Dentro <leste an1plo e complexo contexto de interdisciplinari-
dade científica, lngwcrsen ( 1992, p.20) considera ünportante distin-
guir as correntes teóricas de conccpção cognitiva do cognitivismo
dentro das ciências cognitivas. A diferença entre uma corrente
e outra eslá na n1anif"eslação do processamento humano de infor-
111ações. O cognitivismo considera que (todas) as atividades mentais
humanas sc1o realizadas corno se estivessem sendo processadas em
computador. Entretanto, a concepção cognitiva nasceu da investi-
gação do con1portan1ento mcntnl humano, portanto exislc uma
diferença de concepçao. Com isso, a conccpção cognitiva aborda o
modelo de processan1ento <la infornrnção relativamente a categorias
e conceitos no estado n1ental de consciência, acarretando a pro-
priedade do signiCicado náo simplesmente como manipulação de
shnbolos. Nessa pcrspecliva, as n1úquinas não são capazes de com-
preender significados, manipular conceitos, pensar, processar conhe-
cimento, criar, exceto quando apoiadas por humanos (INGWERSEN,
1992, p.21).
32 Métodos qualitativos de pesquisa cm Ciência da Informação

Borges et ai. (2003), do Grupo de Pesquisa de Estudos Cogni-


tivos em Ciência da Informação da UFMG, relatam que o cognitivis-
mo, prinJeira corrente das ciências cognitivas, tem como modelo a
máquina e considera"[ ... ] a mente humana equivalente a um com-
putador que possui um repertório de instrumentos (um mapa de
representações do mundo e a linguagem) que lhe permitem resolver
problemas". Assim, no cognitivismo, a concepção de representação
na mente humana é inata e a mente tem a finalidade de processa-
mento de informações. Borges et ai. (2003) entendem que o cogni-
tivismo está presente nas idéias sobre o conhecimento em Ciência
da Informação.
Por outro lado1 assim como Ingwersen insiste em apontar adi-
ferença entre cognitivismo e concepção cognitiva, entendemos que a
concepção cognitiva, na visão de Borges et ai. (2003), está nos funda-
mentos biológicos da cognição da teoria da Biologia do Conhecer,
desenvolvida por Maturana e Varela ( 1984 apud BORGES, et ai. 2003)
com base nos sistemas auto-organizados decorrentes do conexionisn10,
a segunda corrente das ciências cognitivas.
Na 'biologia do conhecer', os seres vivos precisam interagir cmn
o meio para conhecer, ao contrário da recepção e en1íssão passiva de
informações originadas no meio externo entendidas pela conccpção
sistémica. Assim, 'A cognição é uma ação e a aprendizagen1 é uma
1

negociação entre sistema e meio. Se não há interação, não há cogni-


ção. [... J O conhecimento, então, na perspectiva da Biologia do co-
nhecer, é 'comportamento adcquadd e ação efetiva' em um contex-
1

to relacional [... ]" (BORGES et ai., 2003). Essa visão, porém, é


complementada pela importância dos princípios da representação,
com os quais somente nós, seres humanos, possuíinos a capacidade
de, além de representar como qualquer máquina, processar a infor-
mação a partir das representações de mundo que fazemos cm nossas
interações, motivadas e efetivadas por necessidades de construção de
conhecimento.
Embora a noção de representação seja o núcleo comum entre
as duas correntes teóricas cm relação à ciência cognitiva, a concepção
cognitiva acrescenta a importância do significado quando aborda a
representação. Considerando que a representação é um conceito
fundamental para a Ciência da Informação, devemos dar ênfase à
Abnrd(lgcm wg11itivo rio protocolo wrbilf... 33

abordagen1 cognitiva, quando falan1os de Ciência da Inforn1ação


con10 u1na ciência cognitiva, sobretudo no que concerne à análise
docun1entária cmno tratamento de conteúdo que envolve operações
de categorização e de indexação. Tan1bém é in1portante considerar
que, e1n Ciência da Informação, os estoques de inforn1aç:lo regi.strada
constitue1n-se em atnbicnte de interação para seus usuários, propi-
ciando o meio de interação e de modificação de suas estruturas
Je conhecimento.
Pinto Molina ( 1993 ), ao relatar que os objetivos da Psicologia
Cognitiva são os processos e cstruluras mentais envolvidos na aquisi-
ção, proccssa1ncnto e uso de conhecimento ou informação, considera
que o paradig1na do processamento da informaçao constitui um
tnarco de trabalho adequado à análise docurnentária de conteúdo por
conta dos problemas de representação <lo conhecimento, processa-
n1cnto da informação, produçao textual e outros.
Para a construção de linguagens docurnentârias são Je subs-
tancial itnportc'mcia os estudos referentes ao processamento da in-
fornrnção que envolve a observação de problctnas dedicados à repre-
sentação do conhecimento e processamento da inforn1açJo, com
destaque para a construção de categorias, considerada urna das ha-
bilidades mentais dos seres hun1anos. A construçao de categorias é
u1na atividade que exige processamento mental para an;:llisc <los
conceitos e de suas relações com outros conceitos de urna determi-
nada área de assunto. Sem dúvida, a abordagen1 cognitiva, funda-
mentada em princípios teóricos e inetodologias, é necess<iria para

i acesso ao conheciniento e processos de conhecin1entos dos especia-


listas envolvidos.
O conhccin1cnto prévio é mna condição mental de todos nós
e da qual nem sempre te1nos consciência, ou melhor, não temos
conhecimento de nosso próprio conhecin1ento. Mas, nem sc1npre
1 precisamos saber do nosso próprio conhecin1ento, pois, essa 111eta-
' cognição1 ou o conhecimento sobre o conhecimento, poderá ser
revelado em situações necessárias, tal cmno na leitura, em que acio-
nan1os estratégias para monitorar a cmnpreensão do significado do
texto que lemos. Dentro do que denominamos (nosso conhecimen-
to', existe tudo o que conseguimos compreender e representar du-
rante toda vida. Por isso, a importância de desenvolvermos pesquisas
34 11/Jdlodo~ quaf11n11vos de pcs,1111sa em C11;ncÍ11dn111forn1nplo

que explorem os aspectos cognitivos envolvidos nas atividades de


pcnsatnento para que tenhamos subsídios à investigação de prohle-
nrns e elaboração de meLodologias que faciliLem tanto a (ormaçào
quanlo à prática dos profissionais da infonnação.
Os estudos en1 cognição vêm oferecendo importantes ohser-
vaçôcs a respeito da inente humana e suas capacidades, entre as quais,
a de processamento da informação para organização do conheci-
mento prévio.
O conhecimento prévio para as atividades mentais que envul-
ve1n a compreensão depende do conhecimento existente na memó-
ria de longo prazo, um repositório de conhecimentos com lt:rnpo e
capacidade de armazenagem permanente e ilimitado e que possui
uma estrutura de conhecimento baseada cm un1a rede scn1fintica de
informações que liga seus "nós" mediante associaçücs significativas
entre conceitos, fatos, ações, etc., ali representados. Pard que se rea-
lize o processo de compreensão, isto é, para que se Caça associílç<lo
com tudo o que se estú vendo, ouvindo e lendo é preciso, também,
que a men1ória de longo prazo tenha os chamados 'esquema,..,' ou
representaçües generalizadas de a1nbientes, situaçócs familiares e
infonnações.
Esquemas são" [... ] estruturas abstratas, con.-.truídas pelo pró-
prio indivíduo, para representar a sua teoria do mundo. Na intcm-
çao com o meio, o indivíduo vai percebendo que dctermin,1das
experiências apresentarn características comuns con1 outr.is'' (LEl~h\,
1996, p.35, grifo nosso). Na mente hmnana, tudo vai sendo trans-
formado a partir do que o indivíduo já possui e, assim, os c.'>querna.'>
váo sendo incorporados na eslrulura cognitiva para cnlrcl.tçar-sc
cmn outros esquemas. Para isso, os esquen1as possuem varicívcis que
se associa1n aos diferentes aspcctos de u1na situaçüo ou problc1na;
por exemplo, o ato de vestir-se pode associar variáveis de tempcra-
t ura, cor, finalidade da atividade para a escolha de u1na roupa. Essas
variáveis são subesqucmas que constitue1n os csquen1as. J\ c.H.b vez
que acionamos un1 esquema, po<le1nos acionar subesqucmas ou
esquenias supcrordenados que comportam esquema~; c01n urna
mcsn1a característica.
Os 'csque1nas' são objeto de estudo da úrea de cogniçáo que os
vincula ao conheciinento prévio arn1azenado na n1en1ória de longo
Aborda.~cm wgnitívn do protom/u ver/)(]/, 35

prazo porque" 1 .. J são considerados como representações de padrôes


ou regularidades mais gerais que ocorrem etn nossa experiência"
(SM!Tll, 1989, p.30). Isso significa que o esquema existe por nosso
conhecin1enlo prévio e nos dá condições de prever ou de antecipar
atividades, acontecimentos, ações e informações ao considerar o
certamente provável e não o in1provávc1.
Os estudos cognitivos cm leitura pennitiram verificar que a
interação entre o texto e o leitor desenvolve-se pelo uso de estratégias.
As estratégias de leitura, ou as ações que o leitor realiza no ato de ler,
têm sido definidas por vários autores. Essas estratégias, segundo
faerch e Kaspcr ( 1980), citados por Nardi, ( 1993), são planos poten-
cialmente conscientes do leitor para resolver algo que se apresenta
con10 um problema na compreensão. Brown (1980, p.456) define
estratégia como"[ ... ] qualquer controle deliberado e plancjado de
atividade~ que levam à cmnprecnsão': Para Oxford ( 1989, apud Nardi,
1993, p.19), estralégias "sào ações direcionad<Is para um objetivo,
potencialmente observáveis, potencialmente ensin1iveis e flexíveis",
significando que, as estratégias nüo podem ser prontamente obser-
váveis e sim as ações con1portamcntais do leitor (como, por exemplo,
o virar de páginas, ou a procura <le urna palavra no dicionário), rnas
as ações mentais como associaçóes e deduçôes durante a lciturc1 iüo
podem ser vistas.
Kato (1985) dislinguc dois tipos de estratégias que definem o
con1portan1ento do leitor: as estratégias cognitiv;1s, que si10 aquelas
subconscientes, utilizadas durante a leitura fluida, ~L'm obstáculos, e
as estratégias mctacognitivas, que são ações conscientes do leitor
diante de um problema.
E1n síntese, ressaltamos que a cogniçào realiza os processos
inentais para qualquer açào que realizamos se1n que, necessariamente)
tcnha1nos a consciência controlada de todo processc1mcnto - as~in1
podemos agir e interagir de forma paralela e simultaneamente-, mas
a gestão da cognição é feita pela metacogniçclo que controla e moni-
tora nossa cogniçào por meio de açôcs n1etacognitivas, ou seja, a
n1etacognição é o conhecin1ento sobre con10 conhecemos.
Na classificação das atividades cognitivas e melacognitivas,
Lcffa (1996, p.49) propõe que sejam diferenciadas não apenas pelo
critério de envolvin1ento da consciência, mas também pelo tipo de
36 Aléíodo_-: q11ofi101ivos dcp('s11iiis11 c111 Citnrid da !nfor111r1rflo

conhecimento utilizado para executar a atividade. Dessa forma, in-


dica dois tipos de conhecimento: declarativo e processual.
O conhecimento processual é mn tipo de conhecimento utilizado
para realizar a atividade, e o conhecimento declarativo faz parle das
atividades cognitivas envolvendo a consciência apenas da tarefa a .ser
executada, ou seja, usamos o conhccin1ento, por exemplo, para ler um
livro, pois ternos conhecimento que sabemos ler.
Con1 o conhccin1cnto processual, porém, a consciência vai além
da tarefa a ser executada; o leitor tem a consciência de sua própria
consciência, ou seja, tem controle do próprio conhecimento e do
processo que deve seguir para atingir o resultado. O conhecimento
processual permite que a leitura seja consciente e que o leitor perce-
ba a forma como o texto está sendo lido e o nível de compreens<lo
que está sendo atingido por ele. Cavalcanti (1989) considera que as
estratégias se tornan1 rnais observáveis quando ocorre algum tipo de
ruptura na compreensão, momento cm que o leitor deverá desa-
celerar a leitura e tornar-se metacognitivo. Essa ruptura pode ser
causada por un1 déficlt em algun1 dos componentes lingüisticos
da competência comunicativa.
Bernard (1995) ressalta a abordagem sobre os tipos de conhe-
cimento declarativo e processual, entrctanlo, acrescenta o conheci-
mento mctacognilivo, ou"[ ... ] o conhecimento sobre o próprio
111odo de conhecer (o que o sujeito sabe sobre o que faz qu;mdo
pensa e sobre seu próprio pensamento)" e considera que o mcta-
cognitivo influencia e arcta ambos.
Quanto ao conhecimento declarativo, ou 'o que st1bcrnos',
Rernar<l (1995) esclarece, também, que este serve para s<1bcrmos
con10 são as coisas e o mundo que nos rodeia e, por isso, é rcprc-
sentacional e está armazenado no que já entendemos con10 memó-
ria de longo prazo e na forma de esqucmus, quando utiliza1nos
os códigos verbais e gráficos de pensa1nento. No conhecin1ento
procedimental, ou 'como sabemos', explica que csti10 contidos
os procedimentos que empregamos para alcançar os conhcci111cntos
e recuperá-los quando tên1 de ser utilizados. O conhecimento rne-
tacognitivo, ou 'o que conhecemos sobre o nosso próprio processo de
pensar' analisa o conhecimento que o sujeito tem de si mcsn10 e
de suas próprias potencialidades de pensan1e11to, tais corno seus
/\bordngc111 mg11111vn do pro10111/o vnhr1l ... 37

recursos de conhecimento, pontos fortes e fracos, quais condiçóes


ternos para alcance dos nossos objetivos etc.
Con1 a abordagen1 cognitiva, a Ciência da Infonnação tem uin
enorme potencial a ser explorado e considerado em suas pesquisas
qualitativas: o conhccin1ento de seus profissionais e especialistas que
poderão fornecer uma nova visão de suas interações c01n o meio, de
seus procedimentos para a resolução de tart.:fas, de suas representa-
ções acerca do conhecitnento assimilado e do modo con10 organiza1n
seu próprio conhccüncnto, revelando, assin1, Jspectos que nao estão
explícitos, n1as que <lerivan1 de inúmeras e rápidas associações de-
correntes das açôes e interações para a construção de conhecimento.
A subjetividade de nossas atividades mentais em nossa atuação pro-
fissional pode ser cada vez mais desvendada desde que pesquisas
qualitativas em Ciência da Informação se proponham a conhecer o
conhecimento.
C01n esta proposição, encaminhan1os nossas pesquisds em
busca da observação do conhecin1cnto, iniciahnente, de indexadores
experientes quê, por definição) são bons processadores de informa-
ção e, pelo conhecimento 111etacognitivo deles, encaminhamos bons
resultados para pesquisas voltadas para a formação de indexadores.
J\ seguir, mostraren1os como é possível ao pesquisador observar o
conhecimento, com protocolo verbal, por meio dos relatos que os
sujeitos fazem quando monitoran1 suas atividades mentais durante
o dcsenvolvünento de atividades profissionais.

3 Protocolo Verbal na Observação e Relato da


Cognição Humana: implicações válidas
para a Ciência da Informação
J\ análise de protocolo verbal é urna metodologia freqüentc-
mente usada en1 psicologia cognitiva e educação para observação e
investigação dos processos mentais, principaln1ente) de representação
da inforrnaçáo e de uso de estratégias.
O protocolo verbal ou 'pensar alto' é un1a técnica introspectiva
de coleta de dados que consiste na verbalização dos pensamentos dos
wjeitos. Introspecçào, segundo Cavalcanti ( 1989), é um exame de pro-
38 Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Inj(mnaçtlo

cessas mentais em virtude do qual o sujeito promove uma análise de


seu próprio processo de pensamento. À medida que o sujeito realiza
uma tarefa, no caso desta pesquisa, a confirmação de termos, ele ver-
baliza como resolve os problemas em relação ao vocabulário e a com-
preensão das idéias principais do texto.
Por isso, Cohen (1984) refere-se a técnicas introspectivas como
medidas mentalísticas indicando três tipos básicos de dados prove-
nientes de técnicas introspectivas: auto-relato, auto-observação e
auto-revelação. Cavalcanti ( 1989) considera que os três grupos fazem
parte de. um continuum que vai desde a introspecção até a psicaná-
lise e, por esse motivo, entende que os protocolos verbais promovem
relatos semelhantes aos da Psicanálise.
Ericsson e Simon {1987), precursores da metodologia de proto-
colo verbal para a observação da atividade de leitura, referem-se a
observações de processo que fornecem informações sobre os passos
de processamento individual, durante a realização de uma tarefa, du-
rante a qual o indivíduo é capaz de exteriorizar seus processos mentais
mantendo a seqüência de informações processadas.
Para Cavalcanti e Zanotto {1994 apud NARDI, 1999, p.123 ), o
'pensar alto' ou protocolo verbal (nos moldes de Ericsson e Simon,
1987) "foi introduzido na pesquisa qualitativa em Psicologia a
partir de 1980 e desde então sua validade para revelar processos
mentais tem sido questionada': Seu uso foi interrompido durante a
fase behaviorista. De acordo com Ericsson e Simon ( 1987), voltou
à cena com o cognitivismo, como o principal instrumento de cole-
ta de dados. Este retorno aconteceu dentro do arcabouço teórico do
processamento da informação, relacionado principalmente com
estudos de resolução de problemas que evoluiu, na concepção cog-
nitiva, com a observação participante de Spradley (1980), utilizada
por Nardi (1999) em proposta de interação entre observador e
participante.
Conforme Ericsson e Simon (1987) existem dois tipos de
dados: Talk aloud e Think aloud. Para os autores, no Talk aloud, o
sujeito simplesmente vocaliza espontaneamente sua fala interna,
sem análise. Enquanto, no Think aloud, as suas verbalizações são
mais conscientes.
Nardi {1993, 1999) acredita, com base em seus diversos estudos,
J\lmrd1Jgc111 cog11i11va do pmtowlo verbo/.. 39

que quando solicitado a 'pensar alto', un1 indivíduo po<lc fornecer os


dois tipos de dados: o de Talk aloud e o de Think aloud, devido ao
seu envolvimento con1 a tarefa, por abranger desde a introspecção
até a retrospccção.
Alén1 da Psicologia Cognitiva, eles passaran1 a ser utilizados na
Lingüística Aplicada, área en1 que marcaram forte presença na pes-
quisa sobre leitura. O trabalho de Hosenfcld (1977) foi um dos
primeiros a relatar o uso do protocolo verbal e a focalizar a identifi-
cação de estratégias de leitura de aprendizes con1 desempenho bom
e fraco a partir de dados provenientes da utilização da técnica de
'pensar alto'.
Ericsson e Simon ( 1987) asscvcran1 que alguns autores critican1
a técnica do 'pensar alto' por acreditarem que ela pode alterar os
processos 111entais, fazendo com que as informações dos sujcilos não
seja1n precisas, completas e confiáveis. En1 defesa dessa técnica, os
autores apóiam-se na teoria do processamento da infonnação e
argun1cntam que a informação é annazenada cm: 111emórh1 de curto
prazo (STM) - com capacidade limitada, duraçao intermediária de
retenção e acesso rápido à informação; memória de longo prazo (LTM)
~ con1 grande capacidade de armazenagem e duraç;lo relativamente
pern1anerlle, e com certa lentidão na recuperação da informação.
Essa teoria prevê que a informação recentemente apreendida
pelo processador central é mantida na rnemória de curto prazo por
algun1 tcn1po e é diretamente acessível para processa1ncnto subse-
qüente (ex.: para produzir relatos verbais), enquanto que a informa-
ção na 1ne1nória de longo prazo precisa ser recuperada (transferida
para a de curto prazo) antes de ser relatada. Cabe ao pesquisador o
desafio de tentar obter infonnações enquanto elas ainda forem aces-
síveis e estivcrcin na n1c1nória de curto prazo, obtendo, dessa forma,
acesso ao conhecin1ento processual e n1etacognitivo.
Quanto à questao da validade/confiabilidade dos clados de
introspccçao, Cavalcanti ( 1989, p.197) argumenta ser esse um pro-
b!ema de outras lécnicas tainbém. Para a autora, a confiabilidade
dos dados é uma questão que pode estar relacionada a fatores psicoló-
gicos ou sociais tais como a motivação, a Luniliarida<le co1n a técnica
e o 'ditna' <la interação entre pesquisador e sujeito, aspcctos que
dcvcn1 ser considerados por todo pesquisador.
40 lvlàodo~ ri1111/1t11tnm de pc<:1j11Í<:1J c111 Ciéncw cfo !11jum111ç!lo

Fujila, Nardi e Pagundes (2003) consideram que a técnica in-


trospectiva de 'pensar alto', ou protocolo verbal, revela a introspccçJo
do leitor de forma natural, con1 vantagens sobre outros tipos de
técnicas tais con10 diários, questionários ou entrevistas, porque é
a única que fornece acesso direto ao processo mental de leitlir,1
enquanto cstú sendo realizado pelo leitor, diferente das nutras que
rcvelan1 apenas a reflexão após o processo de leitura. Dessa forma,
a técnica de 'pensar alto' é a única técnica propriamente introspcctiva
enquanto as outras são de natureza rctrospcctiva.
O uso <lesta metodologia cm estudos de informaçào c biblio-
Leca, contudo, ainda é muito limitado. Conforme Fujita, N;udi,
Fagundes (2003), no âmbito da Ciência da lnfornwção, <t técnica
do 'pensar alto' tem sido usada ern pesquisas de recuperaç<lo da in-
formação, desde a década de 70. Por exemplo, nos t1abalhos de
Ingwcrscn ( l 977; 1982) que, no primeiro, aplicou a técnica de 'pen-
sar alto' para obter informaçao sobre o processo de negoci._lç<lo Ja
qucstao para busca de informação e, no segundo) reLita os principais
resultados da investigação conduzida por seu grupo de pesquisa no
período de 1976 a 1980. As autoras argumentam que lng\vcrscn fCz
uso da técnica de 'pensar alto' focalizando o processo de rccupcrnçào
da informação.
No mesmo trabalho, Fujita, Nardi, hlgundes (200:o ), eviden-
ciam que a técnica de 'pensar alto' continuou sendo utilizada 110
contexto dd Ciência da fnformação, cm diversos estudos, incluindo
processos profissiondis de elaboração de resumos. Por exemplo,
Endres-Niggemeycr e Ncugehaucr ( 1998), cm seu trabalho, focaliza-
ram o processo de elaboração de resumos. Assim, a pesquisa realizada
por Endres-Niggemeyer e Neugebauer (1998) concentra-se no pro-
cesso de leitura para propósito de indexação e constitni umc1 novi-
dade na área de Informação.
Cabe destacar que, cm Lennos de Brasil, são pioneiros os estu-
dos coordenados por fujita quanto"[ ... ] a observaçáo do processo
de leitura document<iria utilizando a metodologia introspectiva do
protocolo verbal e obtenção de relato verbal do processo mental de
leitura e análise de tcxlos para fins de indexação" (FUJITA, 1999, 2003;
FUJITA; NARDI; FACUNDES, 2003).
Fujita, Nardi e Fagundes (2003) descrevem detalhes dos pro-
/\bordage111 D\~llitiva do p.-utorolo verbo/.. 41

cedimentos metodológicos e resultados da análise dos dados obtidos


da aplicação de protocolo verbal adotados em cinco estudos de caso
desenvolvidos durnnle o desenvolvimento do projeto de pesquisa
"Leitura ern Análise Docun1cntária"_ A investigaçao Coi conduzida
com a colaboração de indexadores experientes das instituiçôes que
possuem serviços de informação: BIREME/SDO/USF, CIN/CNEN,
CENAGRI, e o jornal "O Estado de São Paulo".
O processo de observação adotado foi importantíssimo, pois
respaldou o depoitnento dos indexadores entrevistados, possibili-
tando a comparação das diferentes estratégias utilizadas por eles
durante a leitura docun1entária_ Os dados coletados fora1n trans-
critos e analisados, observando-se o processo de cada indexador
durante a leitura o uso ou não de estratégias e quais foram utili-
1

zadas, e revelaram resultados ünportantes e uma quantidade muito


rica de dados que puderam ser analisados n1ediante outros aspcctos
teóricos e n1etodológicos.
Os resultados desses estudos ofereceran1 subsídios importantes
das estratégias de leitura docu1nentária de indexadores experientes
para a orientação de indexadores principiantes cm situaçào de apren-
dizage1n para investigação na variável de uso cm outra n1odalidade
de protocolo verbal, o intcrativo cmno recurso de aprcndizagcn1 de
1

indexadores aprendizes no desenvolvimento de investigação para a


fürn1ação de indexadores em outro projeto de pesquisa.
De outro 1nodo, tan1bén1 foi possível analisar, cn1 pesquisa
de Rubi (2004), o contexto do indexador e investigar seu conheci-
mento sobre política de indcxaçào por tneio da metodologia Jc
leitura como evento social utilizando-se outra modalidade de pro-
tocolo verbal, o e1n grupo. Os resultados obtidos demonstraram que
a metodologia pode ser utilizada por sistemas de informaçào para
que se tenha acesso ao conhecimento do indexador e, assim, propi-
ciar a geração de conhecin1ento organizacional do sistcn1a.
O protocolo verbal tem sido muito usado como fonte de
dados ein processos de atividades de questionamento c1n leitura,
redação e resolução de problenrns, e nas pesquisas e1n Ciência da
Jnforn1ação é um método qualitativo investigado em recuperaçào
da informação (INGWERSEN, 1982),indcxaçao (GOTOH, 1983 ),leitura
documentária (FUJITA, 2003; FUflTA; NAlUJI; FAGUNDES, 2003; NAVES,
42 Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Informação

2000; NEVES, 2004), política de indexação (RUBI, 2004) e construção


de linguagem documentária (CERVANTES, 2004 ).
O desenvolvimento dessas investigações tem utilizado moda-
lidades diferentes de protocolo verbal. O mais utilizado é o protoco-
lo verbal, nos moldes de Ericsson e Simon (1987) que denominamos
de protocolo verbal Individual no qual o sujeito é solicitado a 'pensar
altd, e o pesquisador apenas o acompanha sen1 nenhmna inlervenção
ou comentário.
Entretanto, o estudo de Nardi (1999) adaptou o protocolo
verbal para a investigação com grupos de pessoas envolvendo eventos
de leitura r~alizada colaborativamente para observação da cognição
socialmente construída, e o denominou de protocolo em grupo.
Além do protocolo em grupo para discussão de texto, Nardi
(1999) realizou observação participante com uso de protocolos
verbais individuais e prática de leitura colaborativa. A observação
participante, como esclarecido por Spradley (1980), abrange níveis
crescentes de participação: passiva, moderada, ativa e completa.
Nesse sentido, procura-se esclarecer os diversos tipos de participação:
na participação passiva, o pesquisador não interage com os den1ais
participantes, é mero observador; na participação moderada, o pes-
quisador alterna-se entre os papéis de observador e de participante
ativo; na participação ativa, o pesquisador procura fazer o que os
outros participantes fazem; e na participação completa, o pesquisador
é um participante comum que decide analisar os dados do grupo
(NARDl, 1999, p.121).
Com o objetivo de verificar a aplicabilidade do método de pro-
tocolo verbal, com foco na observação do processo, para a confirmação
de termos coletados, visando a construção de linguagem documcntá-
ria, Cervantes (2004) decidiu-se pela aplicação do protocolo verbal
interativo, nos moldes de Nardi (1999). A análise dos resultados obti-
dos com a aplicação do protocolo verbal interativo permitiu observar
que a ação do pesquisador e dos sujeitos representou uma interação.
Eles se comunicaram entre si e com o texto ao mesmo tempo e, assin1,
pode se definir sua participação no processo de 1noderada à ativa, ou
seja, como indivíduo em busca de aprendizagem.
Por meio da análise dos resultados ficou evidente na forma de
compartilhar o conhecimento, permitindo-se a interação, troca
J\honfogcm ws;mtivo do prorurnlo vcrhnl ... 43

de idéias para a produçao de conhecimento) a postura colaborativa


dos sujeitos observados. Isso, pode-se ver, representou u1na inovação
na fonna de observação do processo de confirmação de tern1os
coletados considerados pertinentes pelos pesquisadores e profissio-
nais da área en1 estudo.

4 Processo de Construção de Linguagem Documentária:


formulação de propostas de metodologia com base
na terminologia e no protocolo verbal
A partir de exploração teórica inlerdisciplinar revela-se a pos-
sibilidade de investigação com base na Terminologia e· na aplicação
do protocolo verbal no que concerne às contribuições metodológicas
para a construção de linguagem docun1entária. Essa possibilidade de
estudo encontra-se crnbasada nas indicações dos seguintes autores:
\Tüster, Budin, Campos, Tálan10, entre outros.
\ 1

Wüstcr (l 981, p.106 apud CAMPOS, 1995, p.6), autor Ja teoria


geral da Terminologia, afirma que há "semelhança <las tarefas reali-
zadas na elaboração de u1n tesauro e na normalização terminológica
cm geral" e admite que deveria existir maior intcrcúmbio enlrc
as áreas.
Budin (1993, p.1 apud CAMPOS, 1995, p.3) reforça essa condi-
ção quando vê a possibilidade de "estabelecer uma teoria da Termi-
nologia que resultaria da junção das teorias da Ciência da Inforrna-
ção aplicadas à construção e uso das linguagens de documentação
(sistemas de classificação, tesauros, e outros) con1 a teoria <la orga-
nização do conhecimento".
Tálamo et al. (1992, p.199) enfatizam que é preciso "estabelecer
a interface entre terminologia e análise documentúria, cujo estudo deve
subsidiar de n1ancira crescente a formulação de n1ctodologias para o
uso e a elaboração das linguagens docun1entárias". Ainda no entender
de Tálatno et al. (1992), o tesauro somente exercerá as funçües de n:-
prcscntação e de controle terminológico que lhe são conferidas se vier
acon1panhado de um conjunto de definições, pelo menos dos termos
específicos da área en1 questão.
Assim, tcn1-se o tesauro-com-base-em-conceito que, conf()rmc
44 Métodos qualitativos de pesquisa em CiC.-ncia da lnj(irmnçiio

Campos ( 1994, p.104), uma "nova metodologia para a elaboração


de tesauros, está, assim, fundamentada nas questões que envolvem
o conceito e as categorias". Tálamo et al. {1992) adotam o termo
tesauro terminológico para essa nova metodologia.
Para determinação do termo e de suas relações, Campos (2001,
p. l 00) afirma que "os princípios da teoria do conceito têm-se mostrado
úteis para a elaboração de tesauros porque fornecem bases seguras,
tanto para o estabelecimento de relações, como para sua realização no
plano verbal, ou seja, a determinação do que se denomina tern10':
É nesse contexto que atua a Terminologia, que tem como
objeto de estudo a denominação dos conceitos sob seus aspectos
teóricos e n1ctodológicos, tratando ainda de sua representação sem
ambigüidades no ân1bito das linguagens documcntárias. Sua contri-
buição para a lingüística docun1entária se traduz na fundamentação
teórica e 1netodológica de uma parte in1portantc do conjunto de
princípios que esla disciplina precisa formalizar como embasamcnto
para estabelecer os proccdin1cntos adequados à construção de lin-
guagens documentárias.
A pesquisa terminológica temática, conforme Auberl (2001,
p.47), "se propõe efetuar o levantamento do vocabulário terminoló-
gico de uma determinada atividade, especialidade, técnica". /\ pes-
quisa temática é marcada por duas características básicas: 1) o obje-
tivo, que é a investigação de forma exaustiva ou básica do conjunto
de termos cm relação a um ramo de atividades, e pode explorar
o universo de uma n1csma língua ou de duas ou mais línguas; 2) o
tempo de realização, que poderá ser nrnis ou menos prolongado,
dependendo da extensão da pesquisa.
Por se tratar de pesquisa terminológica te1nática, é preciso
definir se o tema estudado é uma área, um d01nínio, ou um subdo-
mínio. Em razão disso, utiliza-se a norma ISO 1087 (2000) para
precisar estes termos: "Área -parte do saber cujos limites são deter-
minados a partir de um ponto de vista científico ou técnico; Domínio
- subconjunto de uma área, determinado por um sistema de concei-
tos; Subdomínio - cada um dos subconjuntos de um domínio".
Para a realização desse tipo de pesquisa tcrn1inológica, faz-se
necessário seguir as recomendações propostas pela ter111inografia.
Nesse sentido, Rondcau (1984, p.70-73) sugere um conjunto de
Abordagem co,~11i11v11 do prolololo 1 (,/,,ti I ''

etapas que observou nas principais pesquisas terminológicas tl'm,1


ticas desenvolvidas pelos n1ais diversos grupos, que se encontram
relacionadas da seguinte forma:
Etapa 1: Escolha do domínio e da língua do trabalho - situa-se
no don1ínio da área curricular denonünada Gestão da Tnforniação,
no ârnbito da área da Ciência da Inforn1ação. Desta fornrn, a pesqui-
sa realizou-se para atender, especialmente, aos interesses ternünoló-
gicos de docentes, discentes e profissionais que atuan1 no don1ínio
estudado. A língua portuguesa foi escolhida para a realização do
levantamento de termos;
Etapa 2: Delimitação do subdomínio - consistiu-se como sub-
don1inio o 'processo de inteligência competitiva', que perlencc ao
don1ínio da área curricular Gestão da Inforn1ação no âmbito da área
da Ciência da Infonnação;
Etapa 3: Consulta a especialistas do subdomínio - as consullas
freqüentes aos pesquisadores e profissionais do domínio foram
fundamenlais para o b01n anda1ncnlo do trabalho terminológico;
Etapa 4: Coleta do corpus do trabalho terminológico - devido
à preocupaçao con1 a confiabilidade, representatividade e atualida-
de do trabalho terminológico, o corpus constitui-se de artigos de
periódicos da área da Ciência da Informação) publicados cm língua
portuguesa entre os anos de 1999 e 2002. Estabeleceram-se como
critério os artigos identificados nos veículos Je divulgaçào citados
pelos prograinas de pós-graduação enquadrados no processo de
classificação Qualis/CAPES, em categorias indicativas de qualidade,
com pontuação A (alta) no ano de 2002 e de ámbito de circulaçáo,
em nível nacional. Com isso, elegeram-se para o trabalho as seguin-
tes publicações periódicas: Ciência da Informação; DataGrarnaZcro;
Perspectivas em Ciência da Inforn1ação; e Transinformação;
Etapa 5: Estabelecimento da árvore de domínio - em urna ten-
tativa de estabelecimento da estrutura conceitual aplicou-se, como
teste, o 'protocolo verbal interativo', nos moldes de Nardi (1999),
com o pesquisador do subdomínio de inteligência competitiva e
docente da área curricular de Gestão da lnfonnação;
Etapa 6: Expansão da representação do domínio escolhido - esta
etapa foi realizada paralelamente à etapa anterior, para elaboração
da proposta de estabelecimento da estrutura conceituai;
46 Métodos qualitativos de pesquisa cm Ciência da Informação

Etapa 7: Estabelecimento dos limites da pesquisa terminológica


- realizou-se mn levantamento básico de tennos. Fora1n pesquisados
79 artigos e coletados 189 termos;
Etapa 8: Coleta e classificação (provisória) de termos - adotou-
se como parâmetro o subdomínio: processo de inteligência compe-
titiva e como categorias foram considerados os elementos que
con1põem o subdomínio: cultura organizacional; gestão da in-
formação; gestão do conhecimento; inovação tecnológica; instru-
n1entos e tecnologias de informação; inteligência competitiva - con-
ceitos bo:lsicos; e profissional que atua no processo de inteligência
con1petiliva. O processo de coleta de termos consistiu cm realizar
uma leitura da literatura sclecionada assinalando-se as unidades
1

tern1inológicas que se encontravam acompanhadas de seu contexto


de ocorrência. O contexto visa a apresentar o termo no âmbito de
seu funcionamento conceitua!. Os termos e os contextos eram di-
gitados diretamente nas fichas de citação (FELBER, 1987, p.277).
Ainda que provisoriamente, procurou-se definir a categoria corres-
pondente ao termo;
Etapa 9: Verificação e classificação da noção/denomi11açilo -
realizou-se uma conferência para identificar possíveis falhas ocorri-
das no processo, como digitação, ortografia, entre outros e para co-
letar informações gra1naticais;
Etapa 10: Trabalhos de apresentação de dados ter111i11olôgicus
- procedeu-se a uma análise terminológica do subdmnínio proces-
so de inteligência competitiva e das categorias (elementos) que o
compõe1n. Entretanto, no que se refere a essa etapa, sentiu-se a
necessidade de observar o processo de confirmação dos termos
coletados no contexto do subdomínio processo de inteligência com-
petitiva, em busca de aprimoramento de metodologia para cons-
trução de linguagem documentária compatível com a linguagem
utilizada pelo usuário. Para a observação do processo de confirma-
ção dos termos coletados em seus contextos de ocorrência, aplicou-
se a técnica do 'protocolo verbal interativo', nos moldes de Nardi
(1999), levando-se em conta os critérios de pertinência e atualização.
A realização da análise terminológica contou com a participação do
pesquisador e do profissional do subdomínio processo de inteligên-
cia con1pctitiva. Assim, comprovou-se que o conjunto de etapas)
Abordngcm cog11i11v11 do protomlo vcrlN1l.. 47

destacadas por Rondeau (1984), complementadas com a aplicação


do protocolo verbal interativo, propiciou o essencial do trabalho
tcnninológico.

5 Metodologia cio Protocolo Verbal Interativo para


Confirmação de Termos cio Subdomínio Processo de
Inteligência Competitiva
A modalidade de protocolo verbal representa uma inovação
criada por Nardi (1999), cm que a ação do pesquisador e dos sujeitos
é de interação, de diálogo: eles se comunica111 entre si e com o texto
ao n1csmo tempo. Cabe destacar, também, que os procedimentos
descritos a seguir, encontrarn-se embasa<los no roteiro proposto por
Nardi (1999, p.126~t:l4).
A aplicação do protocolo verbal 'pensar alto' corno instrumen-
to de coleta para a confirmação de termos desenvolveu-se por meio
dos seguintes procedimentos:
Selcç?w dos sujeitos: Para a selcçJo dos sujeitos participantes da
pesquisa, decidiu-se realizar a coleta de termos com duas categorias
de sujeitos pertencentes ao subdon1ínio processo <le inteligência
con1petitiva. Como critério de scleçJo, elegeu-se un1 pesquisador do
subdomínio, lotado no Deparla1nento de Ciência da lnformaçào da
UEL, men1bro do grupo de pesquisa "Interfaces: Informação e Co-
nhccin1ento", participante do projeto de pesquisa "Inteligência C:om-
pcliliva nas Organizações Privadas <la RegUlo l\·ktropo!itana de
Londrina". O outro sujeito escolhi<lL\ representante da calcgoria
de profissional do subdomínio, atua na área de gestão de projetos,
como coordenador lécnico no Programa Londrina Tecnópolis,
vinculado à Associação de Desenvolvin1ento Tecnológico de Londrina
(ADETEC), entidade ligada à Associação Nacional de Entidades
Promotoras de En1prccndin1entos de Tecnologias Avançadas
(ANl'ROTEC) com sede em Brasília.
O Progran1a Londrina Tecnópolis desenvolve um conjunto de
ações que visa consolidar a região de Londrina até 2010, como un1
dos lrês principais pó los Je inovação tecnológica do país, por meio
da rnobilizaçúo da comunidade e o desenvolvirnento de suas con1-
peténcias locais, de forma a assegurar un1 cresci1nento sustcntúvd e
melhor qualidade de vidd para sua populaçJ.o. J\ regii'lo akndida pelo
referido progran1a compreende as cidades de Londrina, i\puc<.u<ma,
Arapongas, Rolândia, Cambé, lbiporá, Uraí, Jataizinho e Cnrnélio
Procópio com respcctivamcnte 450 mil habitantes cm Londrin.i, 900
mil hahiLmtes no eixo i\pucarnrM-Corrnélio Procópio e 2 milhües
de habitantes nun1 raio de 200 quilôrnelros. Nesse sentido, rcssc1l1a-
se que, no Progrdma Londrina Tecnópolis, diversas in:-.tituiçúcs da
regi~lo, inclusive a Universidade Estadual de Londrina, <.1parcccm
como parceiras.
Co1wcrsa Íllfonnal co//l os sujeitos: Realizou-se urn<1 convt:rs<1
informal com cad,1 sujei lo das c.1tcgorias selecionad;1s para convidj-
los a participar da pesquisa. Foram mencionados º·" objctivos
do t:studo e e\'idenciacb a sua importância para o dc.'ienvolvimento
da úrea. No n1omcnto, delineou-se a atividade que seria rcali1,td<1
esclarecendo-se que esta consistiria basicamente 11;1 lcitura do docu-
mento com objetivo de co11rirmar a pertinência e atucJlid.1de dos
termos e que, durante toda leitura, seria preciso exteriorizar .<.cus
processos mentais.
Por este motivo, comunicou-se ao.'! sujeitos que, para ;1 rcaliz,1-
ção da atividade de confirmação de terrnos, seriam n-::ccss;ínas a
gravação cm flta cassete, e sua autorizaçélo, asseverando-se que
as identidades dos sujeitos seriam preservadas. Assim, observou-se
uma forte motivaçâo dos sujeitos consultados para a partícipa~·c_lo do
estudo a ser realizado. Os dias e horários das coletas de termos foram
agendados de acordo com a disponibilidade do.'! rncsnws e cm seus
respcctivos ambientes de trab<llho.
Fr1milinriznçao com ri rcalizaçr1o da fanfa: 1\ntcs da aplicaçüo
do protocolo verbal, como instrumento de confirma<y,lo de termos,
foi realiz<tda unrn atividade para fan1iliarização da tarcC.1, utilizan-
do-se textos com "Instruções aos Sujeitos" elaborados, com o propó-
sito de apresentar os procediinentos par,1 o dt:sernpenho das tarc-
fos e ao mesmo tempo deixá-los à vontade durante a rcalizaç;10 d<t
atividade.
Gmvaçao do protocolo verbal 'pensar nl10: modalidade protocolo
interativo para co11fir11wçllu de termos: Cabe salientar que os proto-
colos foram realizados cm dois rno1ncntos distintos: primeiran1en-
te, realizou-se a coleta com o pesquisador do subdomínio, poste-
riormente com o profissional do ~uhdornínio, aplicando-se a
técnica do protocolo verbal interativo para confirmaçC10 dos tcrn1os
identificados anteriormente pelo indexador, na etapa de coleta
de tennos.
Os protocolos interativos foram gravados, realizando o pesqui-
sador e o profissional do subdomínio, a leitura do texto contido na
fichct terminológica p<trcl con(irmaçi.lo dos termos. Para ,t gravaç~to
do protocolo verbal interativo com os sujcito.<i, c1LL1 um numa .'iess<lo
individual de leitttrd, informou-se que cad,1 um poderia fozcr a
leitura naturalmente, conforme su,1 rotina de estudo, de trabalho,
lendo-se como objetivo obter os termos e as definiçóes ~ircsentes
na ficha para sua confirmação, ou seja, para saber se os termos pre-
sentes no texto silo termos adequados para representar o subdomínio.
Informou-se também que, ao se Jcparare111 com C'SSC.'i termos, pro-
curassem exteriorizar os processos mentais acionados Jurante a
realizaçJo da tarcCa.
/\ssim, a pcsquisador,1 apresentou o texto com os lermo.'i e os
contextos de ocorrência identificados no corpus do traha!ho termi-
nológico, ressaltando que os objetivos da tarefa er<1 confirmar a
pertinência e atualização dos termos coletados. Solicitou, também,
que procurassem responder às questücs presentes na f"icha termino-
lógica para confirmação de tennos.
A princípio, a inter,1çJo da pesquisadora com os sujeitos ocorreu
de forma passiva, atuando ela son1ente como observadora do proces-
so, urna vez que os sujeitos, ao se deparare1n con1 os termos en1 seus
contextos de ocorrência, exteriorizav;1m seus proces.'io~ menlais de
maneira fluente. No transcorrcr da realizaçào da tarefa ele confirmação
dos termos, a particip.1çào da pesquisadora deu-se de uma knrna mai.'i
interativa. E1n parte, isso ocorreu devido ú po.'ilurn colaborativa as.e, u-
m ida pelos sujeitos participantes da pesquisa.
'fro11scriçao dos Protocolos Vcrbnis: As transcriçüc~ dos proto-
colos verbais, na modalidade interativa, foran1 feitas de m<lncir.i a
50 .Métodos 11u11Ílt11tivo;; de pcçquisa e111 Ciênoa da lnjim11r1çâo

destacar a compreensão dos sujeitos e as estratégias adotadas para a


confirmação de termos. Para melhor visualização dos processos ado-
tados pelos sujeitos, forarn adotadas as seguintes notações para as
transcrições 1:
----
itdhco ..
------------ ----- - - -
..... verbaliLaç,lo de trecho exat,1mcntc como ap,irccc no texto b.i:,e
---

- - - - - - - - - - - - -------

sublinh,1do .. .............................. reterência a um detcrmiIMdo termo 011 exprcs~iw


,____ _ _ _ _ - - - - - - - - - - - - - - - - · - -- ~·----

( ) .. ........... corncntúio::. amllíticos ou desCI it1vos ch1 pesqt11::.<1do1 a

negrito ... ............ trecho que melhm cxemplifirn o fenómeno cm descriç:w


-------- -
reticên(ias .... ......................... p.1us;1s n.i foJ;1 (.-,cm consider,1r tempo de drn,1ç<1(1)
·-------- ----------
//... .. ........................... .interrupçiio de pcnsamento/fab e ~epar,1çúo dC' d1;ilogn~
------- ------------------ -------

A seguir, dcstacarn-se alguns trechos da modalidade de prolo-


colo interativo con1 o pesquisador do subdomínio processo de inte-
ligência competitiva, para cxe1nplificação do processo de cnnfirm;1-
ção dos tcrn1os.
Pesquisador do subdomínio:
. Na categoria (Inteligência competitiva ~Conceitos Básicos), com
relação ao termo Inteligência competitiva, apresentam-se três def1n1çôes. A
primeira objetiva agregar valores à informação, forlalecendo seu caráter es-
tratégico, catalisando assim o processo de crescimento organizacional. Nesse
sentido, a coleta, tratamento. análise e contextualização da informação permi-
tem a geração de produtos de inteligência que facilitam e otimizam a tomada
de decisão no âmbito tático e estratégico. A segunda definição apresentada
está ligada á noção de processo contínuo. Sua matar complexidade está no
fato de estabelecer relações e conexões de forma a gerar inteligência para a
organização na medida em que cria estratégias para cenános futuros e pos-
sibilita a tomada de decisão mais segura e asserliva. E a última (a terceira)
trabalha com os dois fluxos de informação: formais e informais
li
.. Bom! Aqui todas as definições estão corretas. Agora, eu gosto
mais da segunda, ou seja, [está ligada ao conceito de processo contínuo],
porque a inteligência competitiva é um processo. Sua maior complexidade
está no fato de estabelecer relações e conexões, porque a l.C. se vale da
gestão da informação e da gestão do conhecimento. Na verdade ela tem

NoL1ç(Jc~ ,h.L1ptad.1s de Na1di ( 1999, 11. l _-!1(1.


i\liord11gc111 cog111111t1 do fliltomlo 1·rrh1/. 51

que estabelecer relações e conexões com esse dois níveis ou âmbitos


de gestão para poder ser inteligência competitiva. Então, me agrada
também isso! [de forma a gerar inteligência], porque a partir do momento
que você estabelece relações, entre o tácito e o explícito você consegue
gerar inteligência para a organização e fazendo isso você tem possibilidade
de auxiliar na estratégia que a organização e que as pessoas vão criar
para a sua atividade, para a própria organização, para a concorrência,
para competitividade e assim por diante. Enfim, essa segunda definição
me agrada, porque está mais completo.
E, a última (a terceira definição) está correta também, porque de fato
a inteligência competitiva trabalha tanto no fluxo formal como no informal.
Está correta, porém sintética demais ..
li
Pesquisadora
Na terceira definição quando você diz que ela está muito sintética, como
é uma característica do processo de inteligência competitiva. Em qual
definição ela poderia ser incorporada para ficar mais completa?
li
Pesquisador do subdomínio:
Poderia ser incorporada a (definição) doís e ficaria desta forma:
[Está ligada ao conceito de processo contínuo e trabalha essencialmen-
te com os fluxos formais e informais. Sua maior complexidade está no
fato de estabelecer relações e conexões de forma a gerar inteligência
para a organização, na medida em que cria estratégias para cenários
futuros e possibilita tomada de decisão de maneira mais segura e asser-
tiva.] Ela, caberia perfeitamente ali e daria uma completude maior que já
está na (definição) dois.
li

Por esse motivo, cnfoti;;a-sc como uma das va1ltc1gens lLl ,1pli-
caçào dessa técnicJ de colcla de dados a possibilidade do qucst io-
nan1cnlo em busca da aprendizagem visando-se ú construç,lo do
conhecimento.
CoJ11paraçtlo dos termos conjlrnuulos pelos sujeitos: Com d Jl-
nalizJçJ.o do processo '-k confirmaçtlo dos termo~ com h<l~L' nos
parc1dignL1s explicitado~: l)rcferido - krmn con-,idcrado pLTti11cnlL' L'
bastante recorrente no subdomínio processo de intc!igênci,1 com-
petitiva; l\Jào Preferido - termo considcr,1do pertinente, porem pou-
co utiliLtldo ou defasado; Dcsconhcâdo - termo nJo conhecido pl'lo
52 Métodos 1Ju1ilitMÍt'US de pesquisn em Ciência da l11form11ç11o

pesquisador ou profissional do subdomínio processo de inteligência


competitiva; Recusado - termo considerado não pertinente ao sub-
domínio processo de inteligência competitiva. Após a anúlise das
opções assinaladas, conforme os paradigmas explicitados, em cada
categoria - inteligência competitiva: conceitos bcísicos; cultura orga-
nizacional; gcstJ.o da informação; gestão do conhecimento; inovação
tecnológica; instrumento e tecnologias de informaçilo; e prollssional
que atua no processo de inteligência competitiva -, optou-se por
isolar os termos pertencentes aos paradigmas: Preferido - termo
considerado pertinente e bastante recorrente no subdomínio proces-
so de inteligência competitiva, e Não Preferido - termo considerado
pertinente, porém pouco utilizado ou defasado.
Conforme modelo abaixo (Quadro J ), realizou-se a compara-
ção dos termos confirmados pelos sujeitos (pesquisador e profissio-
nal do subdomínio processo de inteligência competitiva). Os termos
fora1n disposlos em ordem alfabética nas respcctivas categorias,
buscando-se verificar, por n1eio da linguagem expressa nos textos,
o grau de compatibilidade da linguagem utilizada pelos sujeitos
participantes da pesquisa.

-----~-- - - ------------ ----·---


----
TERMO- ENTRADA CONTEXTO DE SIGLA E FONTE p Pe Pr C
OCORRÊNCIA
·-·----- - ··----·------
_:_1
Data Minlng .. <data mining> tarefa C1INF. v29. n.3, X X
sf de estabelecer p.97, 2000
(palavra inglesa) novos padrões de
UP Mineração de conhecimento, i
dados geralmente imprevistos,
partindo-se de uma
j massa de dados
1 previamente coletada e

u
1
preparada para este fim.

Mineração de dados CilNF, v.29, n.3,


USE p.97, 2000

Data Mining

Quadro 1- Exemplo de ficha para comparação dos lermos conf"irmados


pelos sujeitos.
Calt'gorü1: INSTRlHdEN'J'OS E TEC:NOLOCIJ\S DE INFOIVvL-\(),ü
P == PrdCrido - o termo con.sidt:rado pcrtincntt: e bastante recorrente no
subdomínio.
J\/Jordogc111 wgni/11·11 do protomlo verbo/ ... 53

\IP:::;::: i\"<lo-Prdl'rido - o lerrnn consider,1do pertinente, poré111 poul..'n utilizado


nu dcfosJdo.
!\.' -= l'csquisadnr do subdomínio
Pr Prnfis.~io11;1]
do subdomínio
C : :;: : Cornp,1tibilizac;;ui da linguagem dos sujeitos

Com base no cxcn1plo <lo termo Data Mining ... <data mi-
ning> tarefa de estabelecer novos padrôcs de conhecimento, geral-
mente imprevistos, partindo-se de uma nlassa de dados previamen-
te coletada e preparada para este (lm, buscou-se evidenciar que o
conjunto de termos confirmados, no conlcxlo do subdomínio pro-
cesso de inteligência competitiva, obteve alto grau de comp;1tibilida-
de entre a linguagem do pcsquist1dor e a do profissi.:.rnal do subdo-
mínio estudado. A cxpressáo Data AJini11g (rvfincra~·ào de I\1dos)
1

apareceu no texto escrito nas línguas portuguesa e inglesa. Porém,


os sujeitos participantes da pesquisa afirmaram que a forma mais
uti!izada apresenta-se em língua inglesa.

6 Dados Terminológicos do Subdomínio Processo de


lntcligéncia Competitiva e Respectivas Catégorias
A estruturação do conjunto dos termos confirmados, rctCrentcs
ao subdomínio 'processo de inteligência competitiva', dispostos ern
ordem alfabética dos rcspcctivos elementos que o compôem: illtelig{;n-
cia cornpctitivo: conceitos básicos; cu/tum orgmlizocio1111l; gcstâo rln i11-
./iJn11açclo; gcstrlo do co11hcci111cnto; inovaçao tccnológirn; instru!llcnto e
tecnologias de in/orinação; e pn~{issional que atuo 110 prnccsso de inteli-
gência competitiva. Nesse estudo, são dcnon1inados de categorias e
encontram-se acon1panhados de seu contexto de ocorrência, da sigla
e fonte do documento e tambétn dos paradigmas Prtfcrido e Nâo-
Prcferido. Cabe salientar que o conjunto de expressões apresentadas a
seguir, constituem-se de dois dos elementos do processo de inteligên-
cia competitiva, quais sejam, illslrwncutos e tecnologias de illfónnaç?to
e profissional (]llC otua 110 processo de i11tcligê11ciu co111pctitiva.
54 Métodos qu11/i1ativos de pesquisa cm Ciêncin da l11j(1r111açilo

CATEGORIAS CONTEXTOS DE TERMOS· SIGLAS E NP


OCORRÊNCIA ENTRADA FONTE
------
INSTRUMENTOS .. <abordagem sistêmica> é o Abordagem WBIC,1,
E TECNOLOGIAS método que permite estudar a BCP, p. 3,
DE INFORMAÇÃO visão do todo em funcionamento, sistêmica 1999
pela interdependênda de suas ,/
partes

DGZ, v.2,

n.3, art.02,
p.2, 2001

constituindo uma rede


importante à inovação e
desenvolvimento

Quadro 2 - Categorias: instrumentos e tecnologias de inform<.1çôn e pro-


fissional que atua no processo de inteligência competitiva.
P:::: Preferido- tl'rrno considerado pcrtincnlc e baslanle recorrente no subdo-
mínio.
NP:::: Não-Preferido - termo considerado pertinente, porém pouco us;1do ou
dcfosado.

Considerações Finais
Os resultados obtidos co1n a aplicação do instrmncnto de co-
leta ele dados protocolo verbal interativo poden1 ser observados no
processo de confirmação de termos, pelos sujeitos participantes da
pesquisa. Cmno critério de análise considerou-se às categorias que
apresentavan1 111aior e 1nenor quantidade de termos confirmados
pelos sujeitos participantes da pesquisa. Com isso, verificou-se que
o conjunto <lc termos coletados e confirmados possibilitou traçar urn
perfil lingüístico/terminológico dos termos essenciais do subdomí-
nio: Processo de Inteligência competitiva.
Essa afirmação tornou-se possível pelas as avaliações feitas
pelos sujeitos participantes da pesquisa. A seguir, destacan1-se
os trechos referentes às observações feitas pelo pesquisador do
subdomínio.

Pesquisadora:
Após a análise das categorias e identificados os termos nos contextos de
ocorrência, você teria alguma consideração a fazer?
Ahoulngcm cog111111'n do Jnolrnulo wrb.il .. S')

li
Pesquisador do subdomínio:
... os termos refletem o que autores/correntes literárias entendem
por processo de l.C. (inteligência competitiva). Por isso mesmo, a avaliação
que faço do conjunto de termos coletados é a seguinte: o que foi obtido
me surpreende, pois a junção de vários textos trouxe, de alguma forma,
esse conjunto de elementos mencionado acima.

Cabe salientar que os resultados acima mo~tram que c1 aplica-


çáo dessa modalidade de protocolo verbal contribuiu para o proces-
so de aprendizagem, permitiu n1ainr contato com pcsquiscidores e
profissionais altamente qualificados, possibilitou a construç<.lo do
conhecimento e embasou a formulaç<lo de urna propo.su de cstahc-
lecin1ento da estrutura conceituai, ou catcgorizaçáo, do subdonlÍnio
processo de inteligência compcliliva.

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