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ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
460p.; 16x23cm.
ISBN 978-85-64586-79-6
CDU 101
CDD 100
7 Apresentação
Ester Vaisman, Miguel Vedda
11 Cenas da Vida Filosóficasob o TerceiroReich. Steding, Schmitt,
Heidegger.
Nicolas Tertulian
45 O neorrealismo e as suas consequências
Guido Oldrini
65 Sofiar es trascender. Reflexiones sobre Ia literatura trivial y Ia
literatura popular en los ensayos de Ernst Bloch
Miguel Vedda
79 O Jovem Lukács: trágico, utópico e romântico? - Outras
aproximações.
Ester Vaisman
123 A Utopia Humanista de Marshall Berman
Antonio Rago Filho
153 Trabalho de arte e ideologia da estética
Ronaldo Rosas Reis
187 O sentido e a extensão da crítica lukacsiana à ontologia de
Nicolai Hartmann
Ronaldo Vielmi Fortes
239 De Adorno a Farocki: Materialismo, estética y crítica de Ias
imágenes
Silvia Schxoarzbôck:
257 Lukács: A perspectiva ética no realismo crítico
Ana Selva Albinati
275 La reconciliación y Ia negación de Ia realidad en Teoría de Ia
novela y Significación actual del realismo crítico, de Gy6rgy
Lukács
Martín Koval e Esteban Ruiz
289 Cómo contar Ia tragedia. Sobre Ia lectura lukácsiana del Doktor
Faustus de Thomas Mann
Guadalupe Marando e Martín Salinas
301 Estética e política: equívocos e aproximações sobre a especifi-
cidade de cada esfera em Marx e Lukács
Vitor Bartoletti Sartori
337 Cinema Sem Tragédia - Um Ponto De Fuga Na Teoria DoFilme
De Siegfried Kracauer
Danielle Corpas
351 Mito y razón en Siegfried Kracauer
Francisco García Chicote e Emiliano Orlante
363 La afirmación aberrante: acerca de Las palabras, de Jean-Paul
Sartre
Silvia Nora Labado
373 Entre anjos e demônios: a música e seu ideário na Alemanha
romântica
Rainer Patriota
405 Música viva: política e ideologia no Modernismo musical
brasileiro
Leandro Candido de Souza
433 Entre realidade e mise-en-scêne: notas para uma história do
documentário
André Hallak
447 Imágenes y política. Una 'Carta desde París' (1936)de Walter
Benjamin
María Belforte e María Castel
o sentido e a extensão da crítica
lukacsiana à ontologia de
Nicolai Hartmann
2. Em outro contexto, o mesmo comenta dor escreve: "Uma das chaves do pensamento
de Lukács é sua ávida simpatia pela obra de Nicolai Hartmann e, sobretudo, pelas
suas principais obras de filosofia ontológica: Zur Grundlegung der Ontologie, que
inaugura o ciclo ontológico, e, em seguida, Der Aufbau der realen Welt e Teologisches
Denken. Essa simpatia é bastante compreensível. A existência autárquica do ser em
relação à consciência é a tese fundamental da ontologia realista, tanto a de Nicolai
Hartmann como a de Cyõrgy Lukács que, por sua vez, prefere falar em ontologia
materialista" (Tertulian, 1986: 13).
ESTER VAISMAN I MIGUEL VEDDA (ORGS.) 189
3. A tradução brasileira opta por traduzir "der Gegenstand ist das wirklich Seiende"
por "o objeto é o que realmente existe". No entanto, na sequência traduz o mesmo
termo Seiende por "ente". Julgamos que o correto é traduzir o termo, em ambos os
casos, por" ente".
190 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
10. Hegel, Ciência da lógica, primeira frase da Segunda Parte - Die Wirklichkeit e,
principalmente, capo2. Die Wirklichkeit onde claramente Hegel investiga em que
medida a possibilidade é realidade [Hegel, 1986:Il, 186].
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13. Um estudo específico sobre o problema seria de enorme relevância para a discussão
aqui em tela. a literatura sobre o problema encontramos apenas estudos esparsos.
Um dos mais significativos estudos foi desenvolvido por Wolfgang Harich em seu
livro Nicolai Harimann: Grõsse und Grenzen. Outro livro também importante, muito
embora trate do problema de maneira tópica sem se dedicar ao conjunto da obra
de Hartrnann, foi escrito por Francesco Sirchia (cf. Sirchia, 1969: 10-21). O autor
compreende Hartrnann como um pensador idealista e argumenta que este jamais
foi capaz de romper completamente com a influência de Kant.
ESTER VAISMAN I MIGUEL VEDDA (ORGS.) 207
14. Hartmann assim a define: "A atitude natural, dirigida ao objeto - a intentio recia,
por assim dizer, o endereçamento para o que faz frente ao sujeito, se apresenta
ou oferece a este, em suma, o dirigir-se no sentido do mundo em que se vive e
do que se é parte -, esta atitude fundamental é a corrente em nossa vida e segue
sendo ao longo desta. É aquela mediante a qual nos orientamos no mundo, em
virtude da qual nos adaptamos com nosso conhecimento às exigências da vida
cotidiana. Mas esta atitude é abandonada na teoria do conhecimento, na lógica
e na psicologia, para torcê-Ia em uma direção em sentido oblíquo a ela - uma
inientio oblíqua" (Hartmann, 1948:42).
210 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
presentes. Basta citar duas leis dos axiomas da estratificação dos seres
por ele explicitadas, para demonstrar a similaridade das determinações
desenvolvidas por Lukács:
16. Quando Lukács procura elucidar sua compreensão de complexo assim como do
momento preponderante ele recorre à famosa análise marxiana das categorias
produção, consumo, distribuição e troca, em que Marx as determina como "partes
de uma totalidade, diferenciações no interior de uma unidade" (Marx, 1953:20),
atribuindo à produção o papel de elo tônico na articulação categorial do complexo
(d. Lukács, 2012:332-338).
220 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
17. Obviamente Lukács toma tal expressão diretamente da obra de Hartmann, a qual
ele considera ser uma ontologia de complexos. No entanto, aqui pretendemos
estabelecer as diferenças entre formulações genericamente similares.
ESTER VAISMAN I MIGUEL VEDDA (ORGS.) 221
18. Wolfgang Harich (Harich, 2004:32) e Wemer Jung (Jung, 2007: 120-124)insistem
em denunciar a incompreensão lukacsiana das teses de Hartmann. Para ambos,
sem que o pensador húngaro se dê conta do fato, a teoria da possibilidade de
Hartmann está muito mais próxima de suas considerações do que imagina
Lukács. Esta é sem dúvida uma questão importante, porém para os propósitos
específicos deste artigo não possui grande relevância, pois cabe aqui compreender
o modo como leu Lukács as obras do pensador alemão no intuito de determinar
as possíveis influências em suas elaborações da maturidade.
ESTER VAISMAN I MIGUEL VEDOA (ORGS.) 225
19. Philosophie der Natur foi editada em 1950,enquanto Teleologisches Denken apesar de
ter sido lançada em 1951 (um ano após a morte do autor) foi escrita em 1944.
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20. Tratei desse problema na conclusão de minha dissertação de mestra do (cf, Fortes,
2001:172-191).
21. "". dab für Hegel die Arbeit, die õkonomische Tãtigkeít des Menschen
gewissermaben die Urform des menschlichen Praxis bildet".
228 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
o valor se coloca desse modo para além das ações humanas, não
é o resultado das atividades finalistas dos homens. Essas afirmações,
muito embora se assentem sobretudo no debate dos valores morais são
válidas também para os processos naturais em geral, ou seja, também
no âmbito da natureza determinados acontecimentos (necessidade
cega) geram valores que independem completamente das finalidades
humanas. Exatamente por isso no mesmo contexto, fazendo a distinção
entre "valor" e "sentido" o autor acrescenta: "valores podem muito
bem existir também em si, e o valioso pode existir no mundo real sem
haver qualquer referência a um sujeito, enquanto que o sentido somente
pode existir para alguém" (Hartmann, 1951:112).Desse modo, embora
constituam valores não guardam qualquer relação com a teleologia. Os
homens são capazes de apreender os valores que existem em si mesmos
a priori, mas não necessariamente são os partícipes indispensáveis de
sua constituição ou de sua determinação, ainda que possam por meio
de suas ações produzir coisas que possuem valor.
As determinações de Hartmann aqui expostas constituem
apenas o início de suas elaborações e argumentos em torno no tema.
As postulações que decorrem dessa base inicial são mais complexas e
densas. No entanto, precisamente nesse I?onto aparecem as diferenças
de fundo com as considerações de Lukács. Em Lukács é precisamente
o contrário da tese de Hartmann o que se observa. A categoria valor é
específica do ser social, não podendo ser de modo algum encontrada
na natureza. Para o autor de Para uma antologia do ser social, na forma
originária vinculada à prática laborativa humana, a objetividade do
valor de uso envolve, necessariamente, a relação das propriedades
objetivas do elemento natural com as necessidades sociais. Pela
dimensão relacional que por esta via se instaura, algo pode possuir
valor sempre em referência a um pôr teleológico, ou em outras
palavras, sempre em referência a uma prática humana: "de fato a
utilidade somente em alusão a um pôr teleológico pode determinar o
230 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
Conclusão
22. Não pretendemos com isso negar ou diminuir a importância de Nicolas Tertulian
no resgate e difusão do pensamento de Cyõrgy Lukács. Apenas compreendemos
232 ARTE, FILOSOFIA E SOCIEDADE
que nesse tocante seus comentários são muitos mais fonte de mal-entendidos do
que uma efetiva compreensão das raízes ontológicas do pensamento lukacsiano.
23. Vale especificar: a crítica de Lukács à "tese megárica da possibilidade", "o
problema do estatuto ontológico das verdades matemáticas" associado à refutação
do ser ideal (do apriorismo dos valores morais) e, de uma maneira muito tópica
sem extrair as consequências mais decisivas, a incapacidade de Hartmann de
compreender a "verdadeira especificidade da história" assim como das estruturas
socais (cf.Tertulian, 2003:687-691).
ESTER VAISMAN I MIGUEL VEDDA (ORGS.) 233
Referências bibliográficas
______ . Para uma antologia do ser social lI. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2013.
MARX, Karl. Grundrisse der Kritik der politischen Okonomie. Berlin: Dietz
Verlag, 1953.