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Coordenador do Projeto: Humberto Schubert Coelho
Data: 22/04/2016
Número de inscrição:
Projeto: O conceito de liberdade política e os problemas filosóficos a ela relacionados
Professor: Humberto Schubert Coelho
1 . Justificativa/Caracterização do Problema
CARACTERIZAÇÃO
Uma vez que o conceito de liberdade política não pode ser pensado sem a fundamentação
metafísica do conceito de liberdade em geral, do qual decorre, o interesse social sobre os problemas
relacionados à liberdade política não podem ignorar a dimensão eminentemente filosófica da teoria
política. Sendo um dos ramos mais práticos e imediatamente perceptíveis da árvore conceitual da
liberdade, a liberdade política adquiriu acentuada independência; mas esta não é possível ou factível
enquanto desvinculada da consciência de que ela deriva e se associa estreitamente à ética e à
metafísica da liberdade. Tal desvinculação histórica propiciou o surgimento de uma esquizofrenia do
conceito de liberdade política, agora potencialmente manipulável segundo agendas ideológicas as
mais diversas, notadamente o relativismo.
A fim de confrontar a fragmentação da dimensão humanística ampla e complexa do conceito de
liberdade conforme sua aplicação pelo senso comum, faz-se necessária uma investigação histórico-
crítica do conceito de liberdade entre o Renascimento e o Iluminismo, quando a massa crítica dos
trabalhos filosóficos sobre o tema foi apresentada. Na impossibilidade de uma definição meramente
autoral – até porque a mesma facilitaria a recaída em noções ideologicamente enviesadas –
tentaremos oferecer ao aluno de graduação a perspectiva histórica da evolução do conceito nos
séculos XVI a XVIII, entendendo que a erudição histórica sobre esta fase crítica é propiciadora de
consciência suficiente para a formação do juízo instruído sobre a questão.
JUSTIFICATIVA
Social: Toda a teoria política moderna deriva imediatamente do conceito de liberdade. Sem ele,
o conceito de democracia, o de participação popular ou o de representatividade seriam ausentes de
qualquer significado; as noções de direitos fundamentais careceriam de fundamento; a própria
dignidade da pessoa humana estaria ameaçada. Apesar de evidentes, estas constatações parecem
não ser suficientes para estimular na sociedade a discussão mais ampla sobre a liberdade, o que se
justifica pela dificuldade conceitual de sua fundamentação metafísica na Modernidade nascente. Cabe
à academia refazer as pontes naturais e necessárias entre o conceito de liberdade e os elementos
imprescindíveis à manutenção da sociedade aberta, inclusiva e civilizada através da pesquisa de
graduação. Com isso transporta-se a discussão da obscuridade da investigação especializada para
uma forma mais acessível e ampla.
Teórica: Por sua função pragmática o conceito de liberdade política é facilmente desvinculável
do conceito de liberdade em geral. Logicamente, contudo, essa desvinculação é impossível, o que nos
cabe demonstrar, e, praticamente, as consequências dessa desvinculação são perigosas e danosas.
Dito de forma direta: não há liberdade sem responsabilidade; as concessões sócio-políticas em favor
da liberdade de ação sem o devido respaldo ético da imputabilidade moral e legal atentam contra o
bem-estar geral.
Pessoal: O conceito moderno de liberdade, incluindo seu ramo político, desenvolveu-se entre o
Renascimento e o final do século XVIII, período em que se concentram meus estudos.
Consequentemente, os autores por mim trabalhados não apenas se dedicam teoricamente ao
desenvolvimento do conceito de liberdade, como, não raro, participaram política e socialmente da
transformação das instituições públicas. Os problemas relacionados à liberdade são, portanto, parte
essencial e incontornável de meu trabalho como educador e como pesquisador. Como cidadão, sinto-
me no dever de difundir essa meditação e torná-la mais acessível, entendendo que a consciência e a
ética são os pilares de todos os progressos da sociedade.
Institucional: O Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora articula um
programa de pós-graduação (Mestrado). Tal projeto exige de minha parte o desenvolvimento de uma
linha de pesquisas, e a experiência de orientação. O tema e os objetivos da presente investigação
também o qualificam como pesquisa de resultados práticos, ressaltando a vocação da universidade
pública de estender à sociedade os frutos do trabalho teórico.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em uma das principais obras sobre a liberdade já escritas, John Stuart Mill afirma que “a
Liberdade, como um princípio, não tem qualquer aplicação no estado de coisas anterior ao tempo em
que a humanidade se tornou capaz de ser aperfeiçoada pela discussão livre e equânime.” (MILL, 2005,
p. 6) Benjamin Constant de Rebeque já afirmara que o desenvolvimento das potencialidades humanas
decorre da quantidade de informação e perspectivas disponíveis sobre essa informação, de modo que
o homem julga e amadurece de acordo com o acesso que tem aos problemas em questão e as
múltiplas considerações pertinentes a ele. Em outras palavras, como ocorre com a ciência, a liberdade
investigativa e crítica é o fundamento de todo aperfeiçoamento possível em matéria política, religiosa
ou ética. Ao menos na medida em que estas matérias tenham um trato racional. (CONSTANT DE
REBEQUE, 1970, p. XXVII-XXVIII; 126)
Do Humanismo de Petrarca, passando pela controvérsia sobre a liberdade na Reforma, até
ética científica de Bruno, o confronto social que caracteriza a mentalidade moderna em seu
nascimento se dá no esforço pela emancipação das várias esferas reguladoras da vida humana. A
história da cultura identifica nesse período o grito de independência do espírito humano (CASSIRER,
1918) (DURANT, 2002) (ACTON, 2005), do qual os frutos mais claramente discerníveis do método
científico, da diversidade religiosa e da governabilidade dos povos são consequências. Este princípio
da liberdade de consciência, o qual é metafisicamente fundado, torna-se um dos temas capitais do
primeiro período moderno, entre 1640 e 1760, subdividindo-se nas discussões sobre o determinismo,
que situam a liberdade no terreno natural, e nas discussões sobre a liberdade política, que situam a
liberdade no campo ético-moral. Acompanhando as análises histórico-culturais de autores como
Cassirer, Dilthey, Constant, Troeltsch, Durant, Tocqueville e Staël, poderíamos reconstruir algo como
uma história do desenvolvimento da liberdade política como derivação da história da liberdade em
geral; história esta que se confunde com a caracterização da Modernidade.
Neste sentido, Richard Pipes relaciona o desenvolvimento das sociedades inglesa e russa,
mostrando como a propriedade individual da terra produziu a representação política na Inglaterra, e
como a sua inexistência na Rússia permitiu a perpetuação de um patrimonialismo em que o soberano
sempre teve mais força que a sociedade (PIPES, 2001, p.152-154; 195-215). Este e outros exemplos
de caso demonstram a relação direta entre o reconhecimento da liberdade individual, as discussões
teóricas a respeito dela, e consequências sócio-políticas de amplo espectro.
O esforço dos pensadores liberais iluministas e do pensamento econômico-político posterior é
de universalizar ao máximo os princípios da liberdade individual de modo a abrir espaço para o
desenvolvimento dos interesses pessoais, sem com isso recair-se no perigo de extinguir as garantias
mínimas que o Estado pode nos proporcionar enquanto mecanismo de proteção destas liberdades.
(MISES, 2005, p. 15)
Cobrindo um recorte histórico bastante ousado, entre aproximadamente 1550 e 1785, nossa
pesquisa tentará aventar quais as peculiaridades do ambiente político vivido e que consequências elas
tiveram para – ou, em alguns casos, como derivaram das – a meditação filosófica sobre a liberdade.
A escolha do recorte histórico se justifica por englobar as discussões entre Lutero e Erasmo
acerca do livre-arbítrio, e terminar com a Revolução Americana. O período inclui, adicionalmente, os
trabalhos dos grandes contratualistas (Hobbes, Locke, Rousseau), o ápice da filosofia ética e da
defesa filosófica da liberdade (Kant), e uma parte significativa do pensamento político francês e
britânico. Mesmo considerando-se que tais autores não serão estudados em particular, é importante
ressaltar que o estudo histórico do ambiente cultural contempla em volume e qualidade uma parte
substancial das teorias acerca da liberdade em geral, e da liberdade política em particular.
2 . Objetivos
Metodologia:
Devido à importância cultural dos textos selecionados, a grande maioria deles é de domínio
público e facilmente acessível em língua portuguesa, formatos digitais ou impressos.
Apesar de um estudo pormenorizado de um recorte histórico tão longo não ser factível para o
aluno de graduação, é importante ofertar-lhe o conjunto mais amplo da bibliografia sobre um tema que
engloba a filosofia, a história, os estudos políticos e, não raro, a teologia. O conhecimento dessa
diversidade bibliográfica, ainda que não passível de domínio e plena exploração por parte do
estudante, tem também caráter formativo. Com base nisso, pretendemos oferecer ao aluno um
extenso catálogo bibliográfico, que poderá estar disponível ao final da pesquisa para futuras consultas.
A UFJF conta com títulos importantes remanescentes do extinto programa de pós-graduação
em filosofia brasileira, ao passo que muitos outros livros constam em coleções populares como Os
Pensadores e Os Economistas.
O Liberty Fund, em Indianápolis, disponibiliza gratuita e digitalmente cerca de 700 obras
clássicas sobre a liberdade em variadas disciplinas, sendo a filosofia e a história da liberdade os seus
enfoques principais.
Metacrítica:
ATIVIDADES Trimestre
1 2 3 4
Busca do conceito em bases referenciais X
Elaboração do Arquivo Bibliográfico provisório X
Leitura dos abstracts dos textos X
Cruzamento de Bibliografias X
Busca nos acervos do portal periódicos, bibliotecas ou compra de obras X X
Elaboração de Arquivo de Leitura X X
Análise de consistência X
Redação de artigo X
6. Referências Bibliográficas
CHÂTELET, François. História das ideias políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
DILTHEY, Wilhelm. Gesammelte Schriften. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1968.
GLOCKNER, Hermann. Die Europäische Philosophie: Von den Anfängen bis zur Gegenwart. Stuttgart:
Reclam, 1968.
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. (Coleção Os
Pensadores) São Paulo: Abril Cultural, 1983.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. (Coleção Os Pensadores) São Paulo: Abril Cultural,
1983.
PALEY, William. The Principles of Moral and Political Philosophy. Indianapolis: Liberty Fund, 2002.
RUTHERFORD, Donald. The Cambridge Companion to Early Modern Philosophy. Cambridge:
Cambridge University Press, 2007.
SCHNEEWIND, J. B. A invenção da autonomia. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2001.
STAËL, Madame de. De l’Allemagne. 2 Volumes. Paris: Garnier-Flammarion, 1968.
TIMM, Hermann. Gott und die Freiheit : Studien zur Religionsphilosophie der Goethezeit, Bd. 1, Die
Spinozarenaissance. Frankfurt am Main: Klostermann, 1974.
TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracy in America. 4 vol. Indianapolis: Liberty Fund, 2008.
TROELTSCH, Ernst. Protestantism and Progress. New York: Williams & Norgate, 1912.
WINTER, Ernst. Erasmus and Luther: Discourse on Free Will. London: Continuum, 2007.
WOLLGAST, S. Philosophie in Deutschland zwischen Reformation und Aufklärung, 1550-1650. Berlin:
Akademie Verlag, 1988.