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Psicologia Positiva 9
______________________________________Disponível em www.scielo.br/paideia____________________________________
Nos últimos anos, muitas tragédias têm sido 2003; Lopez & Snyder, 2003; Peterson & Seligman,
anunciadas pelos principais meios de comunicação 2004; Schmuck & Sheldon, 2001; Snyder & Lopez,
em todo o mundo - guerras, criminalidade, doenças, 2002); são muitas as conferências, cursos, financia-
pobreza, tráfico de drogas, mortalidade infantil, entre mentos e prêmios oferecidos a pesquisadores do
outros. Devido a tal evidência, o destaque a esses mundo inteiro a fim de fortalecer e divulgar o estudo
eventos parece contraditório aos aspectos positivos empírico e teórico. A Psicologia Positiva está, pois,
da natureza humana. Pergunta-se, então, como a ciên- em pleno processo de expansão dentro da ciência
cia poderia investigar as causas da felicidade se exis- psicológica, a qual possibilita uma reavaliação das
tem, por exemplo, outros fatores mais emergentes, potencialidades e virtudes humanas por meio do es-
como as causas da depressão? Mas, será que o pro- tudo das condições e processos que contribuem para
gresso da ciência deve ser orientado somente pelas a prosperidade.
emergências? Ou pode se ocupar de outros temas? De acordo com essa nova visão, o conheci-
Como primeira resposta, tem-se a Psicologia mento das forças e virtudes poderia propiciar o
abordando essas questões dentro de um novo movi- “florescimento” (flourishing) das pessoas, comuni-
mento científico intitulado Psicologia Positiva, que, dades e instituições. E florescimento tem sido um ter-
nessa nova proposta científica promete melhorar a qua- mo bastante utilizado na Psicologia Positiva, sendo
lidade de vida dos indivíduos e prevenir as patologias. definido por Keyes e Haidt (2003), como uma condi-
O movimento pela Psicologia Positiva teve iní- ção que permite o desenvolvimento pleno, saudável e
cio em 1998, quando o psicólogo Martin Seligman positivo dos aspectos psicológicos, biológicos e soci-
assumiu a presidência da American Psychological ais dos seres humanos. Keyes e Haidt (2003) salien-
Association (APA). Segundo ele, a ciência psicoló- tam, ainda, que o florescimento significa um estado
gica vinha negligenciando o estudo dos aspectos vir- no qual os indivíduos sentem uma emoção positiva
tuosos da natureza humana, o que pode ser confir- pela vida, apresentam um ótimo funcionamento emo-
mado por uma simples pesquisa no banco de dados cional e social e não possuem problemas relaciona-
da PsycInfo. Ao utilizar a palavra-chave “depres- dos à saúde mental, o que não quer dizer ser um
são” são encontrados 110382 artigos entre os anos “super-homem ou super-mulher”, mas indivíduos con-
de 1970 e 2006, por outro lado, a palavra-chave “fe- siderados em pleno florescimento são aqueles que
licidade” indica apenas 4711 artigos publicados no vivem intensamente mais do que meramente existem
mesmo período, ou seja, menos da metade. (Keyes & Haidt, 2003).
Para evidenciar a realidade da produção O processo histórico
cientifica em Psicologia, Seligman e Czikszentmihalyi A negligência ao estudo dos aspectos positivos
publicaram uma edição especial da American e virtuosos dos seres humanos pela Ciência Psicoló-
Psychologist em janeiro de 2000, na qual enfatizaram gica, de acordo com Seligman (2002), baseou-se his-
que a Psicologia não produzia conhecimento sufici- toricamente no pensamento dominante na Psicologia
ente sobre os aspectos virtuosos e as forças pesso- direcionado ao estudo dos aspectos “anormais”. Pa-
ais que todos seres humanos possuem. Nessa impor- rece que o fator mais intrigante no estudo do com-
tante publicação, apontaram as lacunas presentes nas portamento humano não era representado pela mé-
investigações psicológicas e destacaram a necessi- dia da população, mas o improvável e o diferente.
dade de pesquisas sobre aspectos positivos como, por Embora tenham surgido psicólogos humanistas como,
exemplo, esperança, criatividade, coragem, sabedo- Abraham Maslow (1954) e Carl Rogers (1959), com-
ria, espiritualidade, felicidade. prometidos com uma nova visão e perspectiva sobre
No entanto, em cinco anos, houve grande ex- o comportamento humano, suas idéias não parece-
pansão e muito tem acontecido nesse movimento ci- ram ser suficientemente atrativas e, conseqüentemen-
entífico; é grande o número de artigos e livros publi- te, não produziram dados empíricos suficientes para
cados, conforme mostra a literatura (Aspinwall & dar força a uma visão mais positiva do ser humano.
Staudinger, 2003; Compton, 2005; Keyes & Haidt, Seligman e Csikszentmihalyi (2000) apontam a falta
Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 11
de rigor metodológico e a inconsistência dos resulta- no “reparo” dos danos e prejuízos provocados pelas
dos como principais responsáveis pelo enfraquecimen- patologias, de acordo com um modelo de doença do
to da Psicologia Humanista. Talvez esses autores funcionamento humano. Esse movimento trouxe be-
estivessem à frente de seu tempo e, por isso, suas nefícios importantes para o fortalecimento e o aper-
idéias não foram reconhecidas como necessárias à feiçoamento das terapias e tratamentos para as do-
Psicologia, naquele momento. enças mentais, mas ao mesmo tempo, enfraqueceu
Existem importantes discussões sobre as as investigações sobre os aspectos virtuosos dos se-
interlocuções e as aproximações teóricas e conceituais res humanos.
entre a Psicologia Humanista e a Psicologia Positiva. Como outros psicólogos, Seligman devotou sua
Hernandez (2003) apresenta as diferentes manifes- carreira ao estudo das doenças mentais, especialmente
tações sobre a origem das idéias que fundamentam da depressão. Ao assumir a presidência da APA,
essa nova abordagem psicológica. Os pesquisadores enfatizou os avanços que a Ciência Psicológica havia
humanistas dividem-se em dois grandes grupos, aque- obtido nos últimos anos; ele salientou que não havia
les que questionam as proposições de Seligman tratamentos disponíveis para nenhuma doença men-
(Resnick, Warmoth & Serlin, 2001; Taylor, 2001) e tal no ano de 1947 e que, nos anos 90, 14 diferentes
aqueles que as aceitam (Pajares, 2001; Sollod, 2000). doenças já podiam ser tratadas através de psicoterapia
Certamente o movimento da Psicologia Positiva com- e psicofarmacologia, ou ambas, o que era uma notá-
partilha e resgata conceitos e objetivos propostos pela vel vantagem trazida pelo estudo das patologias. No
terceira força em Psicologia. Hernandez (2003) pro- entanto, a Psicologia ainda não era capaz de ofere-
põe uma parceria entre as novas idéias do presente e cer ferramentas para ajudar os indivíduos a prospe-
as novas idéias do passado e sugere a necessidade rarem e a florescerem. Segundo Seligman (2002), a
de estudos que explorem essas relações. Psicologia deveria possibilitar muito mais do que ape-
É importante reconhecer que a Psicologia nas reparar o que está errado, devendo identificar e
Humanista enfatizou aspectos positivos do desenvol- fortalecer o que está bom. A partir desse desequilíbrio,
vimento humano, no entanto, suas contribuições ci- Seligman juntamente com Csikszentmihalyi iniciam o
entíficas receberam pouca atenção no passado. Inú- movimento da Psicologia Positiva.
meros motivos podem ser apontados para justificar a Diversos pesquisadores têm discutido a origem
preferência pelos aspectos negativos em detrimento e o movimento da Psicologia Positiva. Gable e Haidt
aos positivos. Primeiro, existe uma tendência para o (2005) abordam os aspectos teóricos, filosóficos e
estudo dos fatores que afligem a humanidade, e a históricos que propiciaram a visão negativa da natu-
expressão e experiência de emoções negativas são reza humana e oferecem três razões que justificari-
responsáveis pela maioria desses conflitos. Em con- am o interesse dos pesquisadores pela investigação
traste, experiências que promovem felicidade, muitas das “fraquezas” dos seres humanos. Primeiramente,
vezes, passam desapercebidas. Seligman (2002) sali- apontam a compaixão ou a necessidade de ajudar
enta a II Guerra Mundial como um marco importante outras pessoas quando essas estão sofrendo; a se-
para o estudo focado somente nas patologias. Antes gunda razão refere-se à II Guerra Mundial, e a todos
desse acontecimento, a Psicologia possuía três mis- os aspectos históricos e pragmáticos que permearam
sões: curar as doenças mentais; tornar a vida das esse acontecimento; e, por último, indicam as própri-
pessoas mais produtiva e feliz; e, identificar e criar as teorias sobre os processos psicológicos, que foca-
talentos. No entanto, após a guerra, as duas últimas lizam os eventos negativos. Os autores argumentam
missões foram esquecidas. A necessidade de tratar que esses fatores deram suporte ao desequilíbrio atu-
os veteranos de Guerra e a fundação do Instituto al nas investigações científicas, embora existam pou-
Nacional de Saúde Mental nos Estados Unidos pro- cas justificativas empíricas para a visão predominan-
piciaram vantagens econômicas, profissionais e soci- temente negativa da natureza humana. Por outro lado,
ais aos psicólogos e pesquisadores. Dessa forma, as afirmam que o movimento da Psicologia Positiva co-
pesquisas e o atendimento clínico concentraram-se labora com a evolução da ciência, sendo que em ape-
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nas cinco anos, ele cresceu rápido e começa a explo- dicar essa consciência dos aspectos positivos e ordi-
rar novas fronteiras, levando a que o reconhecimento nários no desenvolvimento dos seres humanos, por-
das virtudes humanas possa ajudar a prevenir ou a que a própria atuação dos psicólogos traz a crença
diminuir os prejuízos causados pelas patologias, pelo nas habilidades e fatores saudáveis das pessoas, pois,
estresse e pelas doenças. para que existiriam tratamentos se eles não acredi-
Assinala-se que a Psicologia Positiva preten- tassem na possibilidade de recuperação da boa quali-
de contribuir para o florescimento e o funcionamento dade de vida? Assim, afirma-se que essa mudança
saudável das pessoas, grupos e instituições, preocu- de perspectiva não é exclusiva da Psicologia Positi-
pando-se em fortalecer competências ao invés de va, bem como não se trata de algo novo ou diferente
corrigir deficiências. Sheldon e King (2001) a defi- na Ciência Psicológica, mas que resgata aspectos que,
nem como o estudo científico dos aspectos virtuosos até então, eram considerados secundários.
usuais presentes nos indivíduos, o que demonstra a O movimento científico da Psicologia Positiva
preocupação central desse movimento, que seria es-
O campo da Psicologia Positiva tem oferecido
tudar o que é típico, ordinário e usual na maioria dos
espaço para a investigação empírica dos aspectos
indivíduos. Portanto, compreendem os aspectos típi-
virtuosos a partir de métodos científicos rigorosos.
cos como sendo os positivos. Esse movimento não
Seligman (2003) identifica três importantes pilares para
implica em condenar o “resto” da Psicologia como
a investigação nessa perspectiva: 1) a experiência
negativo; ao contrário, seu objetivo não está em ne-
subjetiva; 2) as características individuais – forças
gar o que é ruim, o que vai mal, ou o que é desagra-
pessoais e virtudes; 3) as instituições e comunidades.
dável na vida dos seres humanos, porque reconhece
a existência do sofrimento humano, situações de ris- A experiência subjetiva refere-se aos estudos
co e as patologias, entretanto pretende investigar a sobre o bem-estar subjetivo, experiências positivas
outra face dessas questões como, por exemplo, a felicida- ocorridas no passado (Diener, 2000), emoções positi-
de e o altruísmo. Essa mudança de abordagem oferece vas (Frederickson, 2002b); e, no presente, a aspectos
novas possibilidades de resposta às antigas questões. como felicidade (Myers, 2000; Seligman &
Csikszentmihalyi, 2000) e transcendência – flow
Seligman (2002) afirma que é chegado o mo-
(Nakamura & Csikszentmihalyi, 2002); assim como,
mento para a Psicologia Positiva. Sua principal preo-
no futuro, às relacionadas à esperança (Snyder, Rand &
cupação é ampliar o campo e modificar o foco dos
Sigmon, 2002) e ao otimismo (Carver & Scheier, 2002).
estudos, ou seja, a Psicologia não estar restrita ape-
nas a reparar o que está errado ou ruim, mas Em relação às características individuais, são
(re)construir qualidades positivas; ele afirma que o focalizados os estudos relacionados às capacidades
tratamento psicológico e as pesquisas não devem pre- para o afeto (Hendrick & Hendrick, 2002), o perdão
tender apenas consertar ou descobrir o que está “que- (McCullough & Witvliet, 2002), a espiritualidade
brado” ou não funciona, mas fomentar e nutrir o que (Pargament & Mahoney, 2002), o talento e a sabedo-
existe de melhor nos indivíduos. Para o autor a Psi- ria (Baltes, Gluck & Kunzmann, 2002).
cologia não é apenas uma filial da Medicina, preocu- E, no nível relacionado ao funcionamento dos
pada com a doença e a saúde, mas é muito mais do grupos, é incentivado o estudo sobre as virtudes cívi-
que isso, envolvendo também o trabalho, a educação, cas e instituições que possibilitam mudanças dos indi-
o afeto, a superação e o crescimento, fatores que víduos como melhores cidadãos, com o foco
estão intimamente ligados às possibilidades cotidia- direcionado para a responsabilidade, o altruísmo, a
nas e comuns que passam desapercebidas diante das tolerância (Turner, Barling & Zacharatos, 2002) e a éti-
investigações empíricas. Estudar o comum e o positi- ca no trabalho (Handelsman, Knapp & Gottlieb, 2002).
vo pode propiciar o entendimento do que adoeceu ou Investigar esses fatores pode ser eficaz na pre-
não vai bem. Porque, caso contrário, parece que a venção de problemas relacionados ao comportamen-
Psicologia se “esquece” de sua premissa básica, uma to humano. Nos últimos 50 anos, muitos foram os
vez que a atividade profissional indica ou deveria in- estudos e pesquisas sobre as diferentes patologias e
Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 13
modelos de doença. Entretanto, pouco se conhece essas forças são conhecidas pela própria pessoa ape-
sobre prevenção, o que se confirma pela escassez de nas nos momentos adversos. Para compreender a
trabalhos sobre os aspectos saudáveis, mantidos du- resiliência, segundo Rutter (1993), é preciso saber a
rante o desenvolvimento da doença. Com certeza, o dinâmica das características protetoras, ou seja, como
principal progresso dado à prevenção tem ocorrido a se desenvolveu e modificou a trajetória do indivíduo.
partir da construção de competências. Pesquisado- Nesse sentido, pode-se perceber a importância do
res reconhecem que as virtudes e as forças pessoais reconhecimento das habilidades e capacidades indi-
atuam como agentes protetores e preventivos nas viduais. E Seligman (2003) salienta que para alcan-
doenças mentais. Conhecer os danos e as fraquezas çar sucesso em prevenção é necessário e emergente
pessoais não se mostra suficiente para promover a o investimento no conhecimento científico sobre as
prevenção. É necessário fortalecer as pesquisas e o virtudes e forças pessoais, o que pode ser uma con-
trabalho clínico sobre as habilidades e as capacida- tribuição da Psicologia Positiva.
des dos seres humanos. Um dos principais aportes O movimento da Psicologia Positiva tem pro-
teóricos que oferece espaço para o estudo dessas duzido importantes aplicações e avanços científicos.
habilidades refere-se à resiliência. Ryff e Singer (2003) Segundo Snyder e Lopez (2002), um dos passos mais
afirmam que o funcionamento positivo humano é mais importantes nessa promoção foi a independência do
evidente em contextos de mudanças significativas modelo tradicional patológico. Certamente, essa afir-
repletas de situações de risco e de adversidades. A mação demonstra uma preocupação de renomados
análise da resiliência favorece a compreensão das cientistas pelo outro lado – o lado bom dos seres hu-
forças humanas, ou seja, quando ela se expressa, as manos, embora o “lado escuro” ainda atraia atenção
virtudes e as forças pessoais tornam-se conhecidas de muitos. A Psicologia Positiva não pretende travar
e, essa possibilidade produz efeitos importantes na batalhas a fim de descobrir ou demonstrar a superio-
vida dos indivíduos, uma vez que favorece suas ridade de um ou outro modelo explicativo do compor-
potencialidades, tornando-os mais fortes e produtivos. tamento humano, mas levar a que se reconheça uma
Masten (2001) reconhece que a resiliência é nova abordagem constituída de rigorosos métodos da
um fenômeno comum e presente no desenvolvimen- ciência para a investigação dos fatores que dão signi-
to de qualquer ser humano. No entanto, geralmente, ficado ao que há de sadio no ser humano; ela pode e
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deve se ocupar de todos os passos metodológicos da dos psicólogos: o diagnóstico, o tratamento e as deci-
Ciência “tradicional” para promover o conhecimento. sões políticas baseiam-se apenas nas deficiências
Muitos pesquisadores têm feito uso dessas premissas apresentadas pelos pacientes/clientes, ao invés de
para investigar os aspectos virtuosos e as forças exis- serem consideradas as forças e as virtudes pessoais
tentes nos indivíduos, comunidades e instituições, o que do indivíduo e seu ambiente, o que indica que o foco
pode ser confirmado através do que mostra o banco está nos pontos negativos, embora como profissio-
de dados do PsychInfo, onde são encontradas 793 re- nais da saúde, tenham o conhecimento de que as pes-
ferências sobre Psicologia Positiva no período com- soas exibem uma ampla variedade de comportamen-
preendido entre o ano 2000 até 2006 (ver Figura 1). tos e capacidades saudáveis; no entanto, na sua atu-
Constata-se a existência de uma tendência ação cotidiana os aspectos doentes ainda são
positiva devido ao crescente número de publicações priorizados. Dessa forma, pesquisas têm sido realiza-
no cenário científico internacional, o que evidencia o das a fim de promover a construção de instrumentos
interesse dos pesquisadores nessas temáticas. É ine- para identificação, avaliação e classificação do posi-
gável o crescimento da área, apesar da visível queda tivo dos indivíduos, dos grupos e instituições. A Psi-
no ano de 2005. Além disso, essa ampla gama de cologia Positiva tem como principal ambição difundir
estudos demonstra a capacidade e a emergência des- esse modelo, no mesmo nível exibido pelo da doença,
se movimento em pouco tempo. indicado pelo reconhecimento do DSM.
Contribuições da Psicologia Positiva Recentemente, Peterson e Seligman (2004)
Entre as principais contribuições destacam-se desenvolveram um sistema de classificação para os
a construção de instrumentos de avaliação, modelos aspectos positivos, enfatizando as forças e o caráter
de intervenção e aplicação no curso desenvolvimental denominado Values in Action (VIA) – Classification
(Seligman, 2002). Trata-se de uma proposta teórica of Strengths and Virtues Manual. Os autores afir-
que pretende criar métodos preventivos através do maram que as forças poderiam ser amplamente clas-
conhecimento dos fatores protetivos, aprimorar téc- sificadas a partir de suas características emocionais,
nicas de avaliação psicológica para identificação das cognitivas, relacionais e cívicas, através de seis gru-
virtudes e dos aspectos positivos e ampliar o escopo pos de virtudes: sabedoria, coragem, humanidade, jus-
de estudo das Ciências Sociais e Humanas. Assim, tiça, temperamento e transcendência. Essa classifi-
esforços não têm sido medidos para a criação e aper- cação tem sido considerada universal, uma vez que a
feiçoamento de técnicas e instrumentos de medidas avaliação envolveu diferentes culturas, contextos e
a fim de facilitar e promover o desenvolvimento des- tempos históricos. O objetivo desse material é prover
sa nova área da ciência. A principal missão, no mo- definições, medidas e intervenções para cada uma
mento, tem sido a operacionalização de instrumentos das forças de caráter, algumas já publicadas como o
para a avaliação e a classificação das virtudes e das livro, Positive Psychology Assesment: A Handbook
forças pessoais. of Models and Measures (Lopez & Snyder, 2003).
Essa proposta surge em contraponto ao Ma- Pesquisadores e terapeutas podem utilizar esses
nual de Estatística e Diagnóstico das Desordens instrumentos para desenvolverem intervenções e
Mentais (DSM), ao possibilitar a identificação dos ajudarem as pessoas a acentuarem suas possibili-
aspectos saudáveis, mesmo avaliando as patologias. dades de florescimento.
Certamente, o DSM-IV R (American Psychiatric A terapia positiva é outra importante contribui-
Association, 2000) tem ajudado os profissionais não ção do movimento. Essa modalidade de tratamento
só a identificarem e diagnosticarem as doenças men- visa fortalecer os aspectos saudáveis e positivos dos
tais como, também, a viabilizarem tratamentos para indivíduos, (re)construir as virtudes e forças pesso-
as desordens. No entanto, conforme apontam Wright ais, e ajudar os clientes a encontrarem recursos
e Lopez (2002), a partir da discussão do modelo da inexplorados para mudança positiva. Seligman (1995)
doença, há um erro comum na prática profissional investigou a psicoterapia e notificou que 90% dos cli-
Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 15
entes sentem-se beneficiados com o tratamento. & Lopez, 2002). Os estudos enfatizam a prevenção,
Destacou, ainda, que esses benefícios não são resul- a identificação e o fortalecimento dos aspectos sau-
tados de uma forma ou modelo particular de dáveis presentes, uma vez que esses agem como fa-
psicoterapia ou da eliminação de sintomas, mas, ar- tores de proteção. Nesse sentido, as investigações
gumentou que uma boa terapia aumenta as forças oferecem técnicas e treinam os profissionais e os cli-
pessoais já existentes nos clientes, ou seja, modificar entes para construirem e solidificarem as forças e as
somente o que está ruim ou errado é apenas uma virtudes pessoais sistematicamente, numa proposta
parte do trabalho da psicoterapia, sendo preciso tam- que pretende modificar o papel de passividade do
bém reconstruir e fortalecer o que está bom. A orien- terapeuta e do cliente, existente no modelo tradicional
tação positiva da terapia reconhece que os traços da doença, e torná-los ativos no processo terapêutico.
positivos e os comportamentos adaptativos servem Outra importante contribuição da Psicologia
como fatores protetores contra os estressores e as Positiva envolve a possibilidade de abordar as ques-
dificuldades futuras. Dessa forma, ao tomar conhe- tões envolvidas no desenvolvimento das pessoas, re-
cimento dos aspectos positivos, as pessoas possuem conhecendo que elas e as experiências estão inseridas
melhor capacidade para lidar com eventos difíceis, em contextos sociais e culturais. Certamente, esse
tornando-se, assim, agentes ativos na superação da movimento não é o único que distingue a importância
vulnerabilidade e do risco. Idéias semelhantes foram do ambiente social para o comportamento humano,
abordadas no início do século XX por Adler, Jung, no entanto, produz uma mudança na teoria psicológi-
Rogers e outros teóricos humanistas, mas foram su- ca ao conceitualizá-lo como um organismo integrado.
primidas pela principal corrente psicológica da época Por isso, dedica-se, também, ao estudo do funciona-
que enfatizava a patologia. mento de grupos e instituições, por entender que es-
Atualmente, novas perspectivas teóricas e apli- ses ambientes são significativos na vida das pessoas.
cadas na clínica e no aconselhamento estão em con- Importantes contribuições têm sido feitas por
cordância com a proposta da psicoterapia da Psico- Myers (2000), que descreve como as relações soci-
logia Positiva – o foco nas virtudes e forças pessoais, ais favorecem a felicidade na vida dos indivíduos;
as capacidades para resolução de problemas e a de- Larson (2000) enfatiza as atividades voluntárias para
monstração de competência. Pesechkian (1997) de- o desenvolvimento das pessoas e Winner (2000) indi-
senvolveu um sistema de terapia denominado ca o efeito positivo das famílias sobre o florescimento
Psicoterapia Positiva baseada na hipótese de que to-
de talentos. Além desses, outros trabalhos têm
das as pessoas possuem capacidades para lidar com
enfatizado as relações saudáveis no ambiente de tra-
problemas, o que facilita o reconhecimento e o forta-
balho (Turner, Barling & Zacharatos, 2002) que pre-
lecimento delas. Robitschek (1998), Robitschek e
vinem os conhecidos riscos nele presentes, tais como
Cook (1999) propuseram uma orientação que facilita
o estresse e a depressão e, ao mesmo tempo, promo-
a identificação dos aspectos positivos na psicoterapia,
denominada Personal Growth Initiative. Essa é de- vem o bem-estar psicológico e físico. De fato, o foco
finida como o envolvimento ativo e intencional na nos aspectos positivos do trabalho humano ainda é
modificação e no desenvolvimento como pessoa. escasso na literatura, o que é corroborado pela pró-
Outros aportes teóricos e empíricos têm sido explo- pria história da investigação científica em psicologia.
rados para incrementar a terapia de orientação posi- Psicologia Positiva: influências da literatura
tiva como, por exemplo, a Hope Therapy (Lopez, internacional e avanço no Brasil
Floyd, Ulven & Snyder, 2000). No Brasil, o movimento da Psicologia Positiva
A Psicologia Positiva tem, pois, produzido mui- ainda não recebeu a devida atenção. Não são encon-
tos avanços na intervenção psicoterapêutica através trados estudos científicos ou publicações nos bancos
da construção de instrumentos psicológicos e novas de dados. Uma busca no Index Psi-Periódicos
metodologias de acesso aos seres humanos (Snyder (www.bvs-psi.org.br) aponta apenas uma referência
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a partir do descritor: Psicologia Positiva. O artigo Uma estratégia teórico-metodológica que tem
elaborado por Yunes (2003) introduz a discussão do orientado as pesquisas sobre os aspectos saudáveis
fenômeno da resiliência vinculado ao movimento da das pessoas é a Abordagem Ecológica do Desenvol-
Psicologia Positiva, uma vez que salienta um impor- vimento Humano, proposta por Bronfenbrenner (1979/
tante aspecto saudável e positivo do desenvolvimen- 1996, 1986, 1995a, 1995b), que foi reformulada mais
to humano - a superação das adversidades. O con- recentemente por Bronfenbrenner e Morris (1998) e
ceito de resiliência surgiu há pouco mais de vinte anos denominado Bioecológica. Esse modelo propõe uma
na comunidade acadêmica (Masten & Garmezy, 1985; visão mais ampla do desenvolvimento humano atra-
Rutter, 1981, 1985, 1987, 1993, 1996, 1999). vés da interação de quatro núcleos inter-relaciona-
O primeiro manuscrito sobre resiliência no Bra- dos: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo.
sil foi publicado nas coletâneas da Associação Naci- Dessa forma, possibilita que a atenção investigativa
onal de Pós-graduação e Pesquisa em Psicologia seja dirigida não só para a pessoa e os ambientes
(Hutz, Koller, & Bandeira, 1996). No entanto, estes imediatos nos quais se encontra, mas também para
autores não a relacionavam diretamente com a Psi- considerar suas interações e transações com os am-
cologia Positiva. Só recentemente, foi incorporado ao bientes mais distantes, dos quais muitas vezes sequer
movimento devido ao seu enfoque nas forças pesso- participa diretamente.
ais, que Yunes adotou de Masten (2001) que ofere- Neste modelo, o processo é destacado como o
ceu uma importante contribuição ao argumentar que mecanismo responsável pelo desenvolvimento, que é
a resiliência é um processo normativo da adaptação, visto através de interação recíproca progressivamente
presente na espécie humana e aplicável ao desenvol- mais complexa de um ser humano ativo,
vimento em ambientes favoráveis ou adversos, afir- biopsicologicamente em evolução, com as pessoas,
mando que todos os seres vivos possuem “capacida- objetos e símbolos presentes no seu ambiente imedi-
de” para o desenvolvimento saudável e positivo, o ato (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Estas formas
que antes parecia ser exclusivo de alguns indivíduos.
de interação no ambiente imediato são denominadas
Essa afirmação relaciona-se aos temas centrais da
processos proximais. O segundo componente é a pes-
Psicologia Positiva. De acordo com Yunes (2003), a
soa, que é analisada através de suas características
Psicologia no Brasil também negligenciou o fenôme-
determinadas biopsicologicamente e aquelas
no humano da resiliência, essencial para a adaptação
construídas na sua interação com o ambiente. O ter-
e o desenvolvimento durante os períodos de risco,
ceiro refere-se ao contexto, é analisado através da
problemas, patologias e tratamento e ela ressalta que
interação de quatro níveis ambientais, denominados
a resiliência não emerge de qualidades raras ou es-
peciais, mas que surge de fatos cotidianos e usuais como microssistema, mesossistema, exossistema e
presentes na trajetória e nas relações das crianças, macrossistema. Finalmente, o quarto componente, o
famílias, e comunidades. Masten (2001), também, tempo, permite examinar a influência para o desen-
revela uma perspectiva mais otimista e lança o desa- volvimento humano de mudanças e continuidades que
fio da compreensão dos processos que podem favo- ocorrem ao longo do ciclo de vida (Bronfenbrenner,
recer ou diminuir o fenômeno da resiliência. 1986), sendo analisado em três níveis no modelo
bioecológico: microtempo, mesotempo e macrotempo.
O interesse pelos fenômenos positivos e as-
Diversas publicações brasileiras têm privilegiado a
pectos saudáveis têm aumentado nesses últimos anos,
utilização e a aplicação do modelo bioecológico nos
no Brasil e no mundo; e trata-se de uma mudança de
seus estudos (Koller, 2004).
olhar com relação ao humano. Essa nova lente acom-
panha os preceitos indicados pelo movimento da Psi- Por fim, a Abordagem Bioecológica do Desen-
cologia Positiva, mas ainda são escassas as informa- volvimento Humano e a Psicologia Positiva trazem à
ções sobre essa mudança expressiva que ocorre na tona importantes implicações teóricas, empíricas e
Psicologia, tendo-se uma modificação gradual dos práticas que podem e devem ser incorporadas à atu-
estudos brasileiros no seu enfoque e abordagem so- ação dos diferentes profissionais e às investigações.
bre o desenvolvimento humano. Ambas propostas possibilitam a crença no potencial
Paludo, S. S., & Koller, S. H. (2007). Psicologia Positiva 17
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