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O plano de metas foi a mais sólida decisão consciente em prol da industrialização na história
econômica do Brasil. Veio como continuidade do processo de substituição de importações,
dando prioridade à industrialização.
- Não dedicou-se à transformação do setor agropecuário, já que esse não foi um entrave à
industrialização. Através da incorporação de novas terras, a oferta de alimentos e insumos
industriais de origem primária se expandiu a uma taxa maior que a do crescimento
demográfico.
A pressão que seria submetido o esquema estava na inversão na tendência do setor externo
(no qual já estava em fase de estancamento) e a inexistência de poupanças voluntárias nos
montante requeridos e canais financeiros para transferir para o setor em expansão. Como o
sistema intermediário-financeiro era basicamente para servir a economia mercantil e o setor
público era desprovido de instrumentos eficazes para captação de recursos, o financiamento
do plano iria implicar numa intensificação dos desequilíbrios já presentes no panorama
econômico.
Fatores subjetivos:
-Conscientização do problema econômico Brasileiro em termos de desenvolvimento industrial,
o que impossibilitava a política contracionista (de estabilidade). Essa conscientização era
apoiada principalmente pela bandeira do nacionalismo.
Fatores objetivos:
-Inexistia conflito entre os propósitos da política e os interesses dos setores mais dinâmicos
da classe empresarial. O financiamento expansionista, não afetaria os interesses desse setor,
pelo contrário, abriria possibilidades financeiras atraentes às empresas privadas nacionais e
estrangeiras.
Metas específicas:
Em relação ao primeiro conjuntos de metas (energia-transporte), considera-se que o Plano de
Metas era apenas uma ampliação e consolidação dos programas iniciados na primeira metade
dos anos 50. Havia chegado a uma industrialização desordenada, o desequilíbrio entre o
parque industrial privado e o sistema de transporte e de geração de energia foi realizado de
maneira defasada na expansão industrial. Quando esses desequilíbrios se tornaram críticos, foi
iniciada uma redistribuição de recursos a favor do setor público, iniciada com a criação do
BNDE, o Fundo de Reaparelhamento Econômico, em 1952, e do regime de sobretaxas
cambiais estabelecido pela instrução 70 em 1953. Porém, dada a reduzida transferência inicial
de poupanças e os longos períodos de maturação desta classe de investimentos, em 1956
persistia a necessidade de ampliar as inversões no sistema de transporte e de produção
energética.
Na questão à montagem das indústrias intermediárias básicas, existiam fortes razões para um
apoio empresarial. Os estímulos à substituição de importação, com seu caráter não seletivo,
reservou o mercado para aquilo que as autoridades cambiais consideravam pouco essencial,
gerando um setor inflado nas faixas menos relevantes e com uma dependência muito alta de
matérias primas e insumos importados. Além disso, a indústria intermediária não conseguiu
acompanhar o crescimento do setor produtor de bens de consumo.
Face a tais problemas, o setor industrial não tinha que se opor à uma correção, pelo contrário,
as inversões eram obrigadas pela dinâmica da economia. O Plano de Metas coroava um
processo pelo qual o setor privado vinha dando poderes ao governo para que fizesse frente às
tarefas de complementação industrial.
Dessa forma é fácil entender as razões pela qual a primeira parte do Plano de Metas – que
postulava inversões complementares à estrutura industrial preexistente – encontrava apoio do
setor industrial. Além disso, o esquema não prejudicava diretamente nenhum setor da
economia, e ainda tinham empresas que eram diretamente beneficiadas pela expansão dos
gastos públicos – grandes firmas empreiteiras, fornecedoras do governo, etc.
O primeiro objetivo era necessário para o sistema econômico, e o segundo encontrava apoio
no próprio processo anterior. Já a meta especial de construção da nova capital (Brasília) foi
formulada num plano de decisão autônoma do governo.
Por que o governo, apresentando plano que envolvia tão vigoroso esforço de investimento e
postulava tão profundas medidas na distribuição setorial e institucional das poupanças, não
elaborou, em simultâneo, um plano de financiamento, preferindo procurar sua solução ao
longo da execução do programa?
Um plano de financiamento poderia induzir resistências por parte do setor privado, que já
havia demonstrado não estar disposta a aceitar cortes em seus programas de expansão.
O êxito do plano atuou como fator de minimização dos desequilíbrios, dissolvendo as disputas
que poderiam impedir a solução de continuidade do Plano. O esquema de financiamento
inflacionário, adotado implicitamente pelo Plano facilitava o setor empresarial, uma vez que
em um vazio de instituições financeiras, permitia acesso aos recursos requeridos para o
financiamento de suas expansões.
Apesar da elevação observada no salário real, o processo inflacionário permitiu que a empresa
privada captasse poupanças forçadas, via altas taxas de lucro e fácil acesso ao crédito
bancário.
Em 53, o governo adotou uma política extremamente liberal em relação À incorporação das
poupanças externas, todas as transações desse setor passaram a se realizar por um mercado
financeiro onde se determinava livre formação da taxa de câmbio. A CACEX (Carteira de
Comércio Exterior) concedia um conjunto de favores a entidades públicas e empresas privadas,
que eram atraentes para o desenvolvimento da economia nacional, por meio de concessão de
câmbio de custo para a remessa de rendimentos e amortizações das inversões diretas do
exterior. O Plano de Metas utilizou destes instrumento criado pela administração anterior para
estimular a industrialização nas faixas de maior interesse. O governo podia conceder
individualmente favores adicionais ampliados às poupanças externas; assegurava taxas cambiais
favorecidas para as remessas de rendimentos das inversões diretas e amortizações e juros aos
financiamentos; garantia prioridade de remessa de câmbio para tais pagamentos.
Além dos estímulos da política de capital estrangeiro, era do governo a outra fonte de favores.
O BNDE dava acesso a créditos do exterior aos empresários e também se responsabilizava com
a liquidação do débito externo.
Ao esgotar as linhas tradicionais de crédito externo, nos anos finais da década de 50, foi criada
o swap, para solucionar temporariamente o impasse externo que podia causar danos ao Plano.
O swap funcionava com o Banco do Brasil assumindo dívidas em dólar, entregando cruzeiros aos
emprestadores, onde era assegurado a estes o direito, de em certa data, refazer a operação,
restituindo pela mesma taxa cambial, os dólares depositados. Essa prática possibilitou a coleta
de divisas adicionais, e mesmo sendo uma das práticas mais custosas de obtenção de poupanças
do exterior, serviram para minimizar um estrangulamento ameaçador.