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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES

No dia 10 de Março de 2008, o presidente Luís Inácio Lula da Silva junto com o Congresso
Nacional sancionaram a Lei nº 11645. O intuito fundamental era incluir no currículo oficial da rede
de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

Resumo da Aula 01 – O Impacto Cultural do Contato Entre Europeus e


Índios. O Século XVI.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, não encontraram o tão cobiçado ouro e nem
prata, muito menos reinos perdidos habitados por monstros gigantescos conforme
acreditavam devido as superstições e o paganismo que rondavam na Europa daquela época.
Os indígenas que habitavam o Brasil eram muito mais diversos do que os portugueses
haviam imaginado. Por isso, os colonos separaram os indígenas classificando-os em Tupi-
Guarani e Tapuias. Os Tupis foram assim classificados devido as semelhanças linguísticas e
constituía uma série de grupos que ficavam nas regiões litorâneas que são eles:
Tupinambás, Tupiniquins, Tupinaê e Guaranis. Já os Tapuias ocupavam regiões mais
interioranas. Podemos dizer que os portugueses se apropriaram na diferenciação que os
Tupi-Guaranis faziam em relação aos outros grupos.

Entre os Tupi-Guaranis, a sociedade Tupinambá acabou tornando-se uma das mais


conhecidas devido aos intensos contatos com os portugueses nos séculos XVI e XVII. A
agricultura era uma prática que diferenciava os tupinambás dos demais povos tupi-guaranis.
Para preparar o solo para a semeadura, os tupinambás desenvolveram uma técnica chamada
de coivara que rapidamente foi incorporada pelos colonos portugueses. Tal técnica é a
abertura de clareiras em determinadas áreas florestais e, em seguida, eram queimadas. As
cinzas eram utilizadas como fertilizantes do solo que, em seguida, era semeado pelas
mulheres da aldeia. Dentre os gêneros estavam o feijão, o milho, abóbora, algumas frutas e
mandioca. A mandioca foi a base da alimentação de toda a colônia. Os tupinambás eram
guerreiros e também praticavam o canibalismo que causou horror aos colonos portugueses.
O canibalismo, para os tupinambás, era um ritual antropofágico no qual o inimigo
prisioneiro de guerra e morto pela sociedade vitoriosa, tinha suas partes distribuídas dentre
os indivíduos do grupo vencedor. A ideia era se alimentar das características do oponente.

Entre os Tapuias, um dos povos mais estudados é o Aimoré devido à frequente resistência
imposta ao aldeamento e catequese portuguesa. Esses indígenas eram seminômades e não
praticavam a agricultura. A relação entre colonos e aimorés foi tão estremecida que
ocasionou em importantes rebeliões indígenas da história brasileira (a Confederação dos
Tamoios).

Por um outro lado, a nudez dos índios e a falta de algumas letras em seu alfabeto
constrangeu os colonos portugueses. Tais constatações dentre outras chamaram atenção
dos religiosos europeus. Se por um lado a Coroa Portuguesa só passou a se importar com a
colônia a partir de 1530, desde os primeiros anos de contato, diversos religiosos, sobretudo
os jesuítas, iniciaram um intenso trabalho com os grupos indígenas que ficou conhecida
como catequese. Os missionários organizaram os povos indígenas em aldeamentos para
serem batizados, e para receberem os primeiros ensinamentos católicos, além de ler e
escrever. O aldeamento era fundamental para que os índios passam a ter uma estrutura
sistemática com os preceitos cristãos. O padre Manoel da Nóbrega defendeu o aldeamento
porque, segundo ele, os índios eram tão instáveis que, com a mesma facilidade que eram
convertidos, logo voltavam para “sua rudeza e bestialidade”. O índios também eram
treinados para exercer ofícios como tecelões, carpinteiros e ferreiros. Após os treinos, os
índios passavam a trabalhar para os colonos. Em seguida, os aldeamentos passavam por
processos econômicos.

Resumo Aula 02 – O Impacto Cultural do Contato entre Europeus e Índios:


As Novas Discussões sobre o Apresamento Indígena

Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de Abril de 1500. No entanto, durante os


primeiros anos do século XVI, os portugueses estavam mais preocupados com o comércio
no Oceano Índico onde os produtos de grande valor (ouro, prata, seda e especiarias) eram
negociados.

Foi a partir de 1530 que os portugueses começaram a se dar mal nas concorrências do
comércio lá nas índias, além de perceberem também que suas terras americanas estavam
sendo invadidas por outras nações europeias. Portanto, a primeira medida tomada para não
perder os territórios americanos ocorreu em 1534, com o estabelecimento das Capitanias
Hereditárias. A América Portuguesa passou a ser dividida em dezesseis grandes faixas de
terras que são as capitanias hereditárias. Mas este lance de dividir o território em grandes
faixas de terra tornou-se ineficiente porque muitos donatários não cumpriam suas
obrigações, e tinham outros que nunca colocaram os pés no Brasil. Então, em 1548, foi
levantado o Governo-Geral que foi uma tentativa de centralizar a administração na
América Portuguesa.
Tomé de Souza foi o primeiro governador geral do Brasil e ficou responsável pela
construção da cidade de Salvador, na capitania da Bahia, onde seria a sede do governo-
geral. A capital colonial estava localizada em um ponto estratégico, pois estava mais
próximo da Metrópole e, também, mais próximo das principais regiões produtoras do
açúcar. Esta estratégia facilitou na produção e exportação do açúcar, garantindo o
exclusivismo português.

Nos primeiros anos da produção, os diferentes grupos indígenas compuseram parte


significativa de mão-de-obra escrava dos engenhos açucareiros. Os anos de 1540 até 1570
marcaram o apogeu da escravização indígena nesses engenhos. Por um outro lado,
católicos e protestantes lideraram discussões acerca da natureza dos indígenas que
marcaram o intelectualismo do século XVI. Com o resultado, a Coroa Portuguesa
sancionou a lei que proibia a escravização do gentio, com exceção os aimorés. Porque os
aimorés recusavam militarmente à conversão católica. Já os demais índios recebiam
cuidados dos jesuítas. Além disso, a Coroa Portuguesa também estava de olho no tráfico de
escravos negros africanos devido a interesses econômicos.

Se para os jesuítas e para a Coroa Portuguesa os índios eram como gentios (passíveis de
salvação), para os colonos das capitanias de São Tomé e São Vicente (autóctones) os índios
passaram a ser vistos como negros da terra. Portanto, os índios foram escravizados na
expansão territorial levada a cabo pelos colonos paulistas. Nas Capitanias do Sul, a Lei de
Liberdade do Gentio (de 1570) foi algo insignificante. De acordo com o historiador John
Monteiro, entre os séculos XVI e XVIII, era cada vez mais frequente o número de
expedições que assaltavam aldeias escravizando os indígenas. Isso porque os paulistas não
se inseriram no circuito comercial Atlântico, procurando eles mesmos os braços que iriam
trabalhar em suas lavouras.

Entre os anos 1591 e 1601, o governador geral D. Francisco de Souza armou uma série de
expedições em busca de metais preciosos. A vertente paulista, chefiada por João Pereira
Botafogo conseguiu encontrar algumas minas próximas à cidade de São Paulo, engordando
o olho português. Ainda que o ouro e a prata não tenham sido encontrados em
abundância, as expedições apresentou um produto para os colonos: os escravos indígenas.
Então, a busca pelo ouro deu lugar ao aprisionamento dos índios, pois a procura por
metais preciosos frente à Coroa Portuguesa baixava inúmeras leis proibindo a escravização
de indígenas. Os colonos de São Paulo fizeram de suas expedições em verdadeiras
empreitadas escravizadoras. Praticamente toda a mão-de-obra das capitanias do sul era
formada por índios escravizados.
Diante dessas circunstâncias, os maiores opositores das expedições foram os jesuítas e
outros religiosos responsáveis pela evangelização dos índios. Embora os índios
trabalhassem em condições ruins nas missões e aldeamento, ali não havia um discurso ou
prática da escravização. Centenas de aldeias foram destruídas e milhares de índios foram
reduzidos ao cativeiro. O padre Lourenço de Mendonça registrou que as expedições no Rio
de Janeiro levaram 60 mil guaranis para São Paulo como escravos. As campanhas realizadas
por colonos paulistas ficaram conhecidos como Movimento Bandeirante. Por um outro
lado, crescia também o movimento de oposição chefiado pelos missionários recorrendo
diversas vezes ao rei português a fim de denunciarem os abusos cometidos pelos paulistas.
Um outro fator que também começou a dificultar o movimento Bandeirante foi o aumento
das distâncias. O sertão era cada vez mais distante, o que encarecia muito a organização das
expedições que necessitavam de pólvora, chumbo, correntes e índios escravizados.

Resumo da Aula 03 – Mão de Obra Indígena e Africana e a Formação do


Sistema Escravista

A cana-de-açúcar foi o primeiro gênero produzido em larga escala na América Portuguesa


por duas razões principais:

O açúcar produzido da cana era um gênero tropical e por isso mesmo teria grande
demanda na Europa;

Os portugueses já possuíam conhecimento do fabrico de açúcar de cana graças à


colonização das Ilhas Canárias, Madeira, Açores e Cabo Verde, todas localizadas no
Atlântico Norte;

A região nordeste da colônia acabou se tornando a principal produtora de açúcar devido às


suas condições naturais:

Grandes propriedades de terra;

Clima quente;

Chuvas constantes;

Solo fértil;

Abundância de rios;
As árvores da mata atlântica – ideais para a construção das moendas;

A localização das capitanias do nordeste, que estavam mais próximas ao mercado


consumidor do produto – a Europa;

O engenho era a unidade produtiva do açúcar dividido em:

Canavial – onde a cana era cultivada;

A casa de moenda – onde era extraído o açúcar da cana;

A casa de purgar – onde o caldo era transformado em melaço;

A residência do senhor – conhecida como Casa-Grande;

A residência dos demais trabalhadores;

Por um outro lado, para que todo esse empreendimento desse lucro, era necessário que a
produção fosse a mais barata possível. E foi no contexto mercantilista que a escravização
era a melhor opção para a produção do açúcar. A escravidão foi uma instituição que
ordenou boa parte das dinâmicas da sociedade da América Portuguesa. De um lado temos
os índios escravizados utilizados em pequenas e médias produções e, do outro, os africanos
e seus descendentes utilizados nas atividades envolvidas com o mercado externo, como a
produção do açúcar e a mineração.

A partir do último quartel do século XVI, a escravidão indígena passou a ser, em parte,
substituída pelos africanos escravizados devido aos seguintes fatores:

A fragilidade dos grupos indígenas em relação às inúmeras epidemias que assolaram os


engenhos açucareiros;

A grande circulação de dinheiro promovida pelo tráfico transatlântico de africanos


escravizados;

O valor do escravo africano, em meados do século XVI, era relativamente baixo, o que o
tornava acessível para muitas pessoas. E, além disso, o escravo africano representava um
investimento, pois, depois de três ou quatro anos, o senhor conseguia recuperar, por meio
do trabalho escravo, o que havia pagado por ele e continuava usufruindo do seu trabalho
por muito mais tempo. Lembrando que em uma terra totalmente desconhecida, o escravo
africano também tinha dificuldades de realizar fugas ou revoltas. Em relação aos escravos
africanos, a Igreja Católica acreditava que os negros africanos não tinham alma. Por isso, o
trabalho como escravo seria uma espécie de purgatório em vida para que depois da morte
esses homens e mulheres pudessem subir ao reino dos céus.
Após a longa travessia do tráfico negreiro, a situação de boa parte dos africanos era
péssima. Os que conseguiam chegar “bem”, passavam por um breve exame médico e eram
rapidamente vendidos. Já os mais fragilizados, principalmente aqueles que haviam
contraído escorbuto, passavam por um processo de quarentena em galpões localizadas na
região portuária. Eles eram tratados para recuperar suas forças o mais rápido possível.
Quando recuperados, eram levados para os mercados onde seriam comprados. Devido as
condições precárias da viagem, muitos escravos preferiram a morte do que trabalhar como
escravo, pois acreditavam que a morte significava o retorno à sua terra natal, junto a seus
ancestrais. Logo, os escravos recebiam ensinamentos básicos do catolicismo em termos de
conduta e, também, algumas palavras em português.

No ápice da produção do açúcar (século XVI) e do café (século XIX), e no auge do


período aurífero (século XVIII), a exploração do escravo era tamanha que a média de vida
ativa do cativo variava entre sete e dez anos. A partir do terceiro ano de trabalho, tudo o
que era produzido pelo cativo representava lucro ao senhor. Este rápido retorno fez com
que o escravo fosse visto como uma boa forma de investimento. Isso alimentou e muito o
tráfico intercontinental de africanos por três séculos.

A alimentação desses escravos era composta apenas por farinha de mandioca ou milho,
uma porção de carne salgada e, as vezes, um pouco de feijão – o básico para o sustento
humano. As roupas eram feitas de panos de algodão simples e deveriam durar ao menos
um ano. O escravo que adoecia era deixado à própria sorte, pois era mais vantajoso
comprar um novo cativo do que cuidar do enfermo. Além dos acidentes e as condições
insalubres de trabalho, o escravo ainda recebia chibatada caso não alcançasse a quantidade
estipulada de feixes de cana ou cestos de grãos de café. Nas regiões mineradoras, o escravo
era obrigado a passar o dia inteiro com parte do corpo submersa nos rios e córregos para
realizar o garimpo do ouro.

Resumo da Aula 04 – A Resistência à Escravidão: Religiosidade

A Igreja Católica foi uma das mais importantes instituições da história do Brasil. É possível
afirmar que ela foi uma das responsáveis pela chegada dos portugueses no Novo Mundo,
bem como por parte das políticas coloniais adotadas pela metrópole. Desta forma, todos os
que habitassem a América Portuguesa – índios, africanos, portugueses, escravos e livres –
deveriam ser católicos. As intervenções da inquisição durante o período colonial apontam
que a Igreja levava a sério a obrigação de cuidar de seu rebanho e de assegurar que ninguém
desviaria dos propósitos divinos. Grupos indígenas eram catequizados (as vezes à força), e
os africanos eram batizados e recebiam um nome cristão que deveriam levar até a morte.

A instauração do sistema escravista na colonização da América Portuguesa (e sua


manutenção no Império do Brasil) acabou abrindo flanco para formas de resistência. A
resistência ao cativeiro se fazia dia a dia, da hora em que se levantava para trabalhar até o
momento de se recolher para dormir. Tal resistência foi experimentada em diferentes níveis
durante toda a história da escravidão no Brasil. Os indígenas, por exemplo, decidiram
rumar para regiões de difícil acesso, guiando-se pelos cursos dos rios. Mas havia outros
índios que resolveram ir a luta aberta e fizeram da religião uma importante arma.

O índio que recebia o título de pajé ou de xamã devido às suas relações com forças
sobrenaturais, gozava de posição de prestígio entre os seus, o que fazia deles um dos
principais inimigos do movimento de catequese. Ainda que os missionários tentassem
acabar com os poderes que os pajés tinham, eles não conseguiram desconstruir os rituais
religiosos de muitos indígenas com os quais entraram em contato. Houve então uma
espécie de sincretismo entre os propósitos cristãos com as crenças e práticas indígenas
originando-se a “Santidade”. Este fenômeno era um culto sincrético e messiânico onde os
índios questionavam o Deus católico e posicionavam-se contra os senhores brancos. Esses
“santos” teriam poderes de vitalizar os idosos ou fazer as enxadas trabalhares sozinhas.
Para chegar a esse nível, era necessário entoar cantos e realizar cerimônias que podiam
durar dias com muita bebidas alcoólicas e o uso de tabaco. O mais interessante é
reconhecer as contribuições católicas deste movimento. A “Santidade” demonstrou como
os índios entraram em contato com os portugueses e souberam reler os interesses e crenças
cristãos sob uma nova ótica. Com o tempo, os escravos africanos aumentaram e as
epidemias também. Então, a “Santidade” foi perdendo parte de seus seguidores, dando
lugar a outras formas de resistência indígena.

Os escravos africanos também levantaram uma série de práticas que visava resistir à
escravidão por meio de releituras religiosas. A história das Irmandades Religiosas remonta à
Idade Média – onde devotos de determinados santos criaram, com o aval da Igreja
Católica, organizações com o objetivo era fazer caridade e ampliar a fé cristã. As
Irmandades Negras criadas no período colonial seguiram o mesmo ritmo, levantando
ofertas que seriam revertidos em festas, rituais fúnebres e missas das igrejas. A grande
diferença dessas irmandades é que a maioria eram escravos e/ou libertos e, também,
adoravam santos negros com Nossa Senhora do Rosário, Santo Elesbão, Santa Ifigênia e
São Benedito. Muitos senhores e a própria Igreja Católica viam com bons olhos a formação
das Irmandades Negras, pois acreditavam que esta era mais uma forma de controlar a
população escrava e liberta, já que os negros passariam a compartilhar a mesma religião que
seus proprietários ou ex-senhores. As Irmandades também foram importantes espaços de
sociabilidade para negros cativos e alforriados. Os membros criavam laços de amizades,
parentesco e, sobretudo, solidariedade.

Em determinadas situações, esses escravos também cultuavam entidades religiosas


africanas ou atribuíam as mesmas características de deuses da sua terra de origem a santos
católicos, como a forte relação estabelecida entre São Jorge e orixá Ogum. Anualmente,
cada irmandade fazia a festa para seu santo padroeiro. Esse era o momento mais
importante de cada irmandade. Tal comemoração era composta por uma longa procissão,
missa solene e grande festa com muita música, dança e batuque. Além disso, os africanos e
crioulos escravizados conseguiram desenvolver uma ideia de família muito próxima
encontrada em diferentes regiões africanas: a família extensa. Já que os laços de parentescos
haviam sido rompidos pelo processo de escravização, muitos cativos encontraram no
apadrinhamento uma forma eficaz e legítima de reconstruirem suas redes de parentesco.

Os africanos que vieram de regiões africanas islamizadas, continuaram acreditando no Alá e


fizeram o possível para encontrar outros muçulmanos e cultivar suas tradições e costumes.
Esses muçulmanos criaram verdadeiras redes de contato e, em diversas situações eles, aqui
no Brasil, sabiam de episódios importantes que estavam acontecendo em território ou em
outras colônias e países da América. Mas conforme ocorria na religião de diversos povos
africanos, cada pessoa tinha um orixá que lhe acompanhava durante toda a vida e, para
entrar em contato com seu orixá, a pessoa deveria passar por um ritual de possessão que
era acompanhado de música e dança. Aos poucos, a crença nos orixás foi se desenvolvendo
e, no século XIX, deu origem ao Candomblé.

Outros cultos e religiões com matriz africana também surgiram durante o período
escravista e foram fortemente combatidas, como o caso da Umbanda. Juca Rosa, um
liberto e filho de uma escrava da Costa Ocidental, é apontado pela historiografia como um
dos possíveis fundadores dos cultos que, mais tarde, daria origem à Umbanda. O feiticeiro
não era visitado apenas por escravos e libertos, mas também por muitas pessoas ilustres da
Corte do Império do Brasil para curar doenças do corpo e da alma. E, assim como Juca,
outros homens e mulheres fizeram da religião não só uma ferramenta de construção de
identidade, mas também uma forma de lutar contra uma sociedade escravista.
Resumo da Aula 05 – Formas de Resistência ao Poder Escravista: Fugas,
Rebeliões, Quilombos e Negociações – As Reações Variadas dos Detentores
do Poder

A fuga foi uma das formas mais utilizadas para resistir à escravidão, sendo uma estratégia
de resistência tão frequente que os senhores utilizaram diferentes formas de lutar contra
ela. Nas regiões rurais, haviam os capitães do mato que recapturava os escravos refugiados.
Já nos centros urbanos, a captura de escravos era trabalho da polícia. A captura de um
escravo foragido valia até recompensas. Quando o escravo era capturado, o senhor
costumava aplicar castigos físicos violentos e o obrigava a usar uma gargalheira que servia
como símbolo de escravo fugido.

As fugas tinham como objetivo a reivindicação escrava por melhores condições de vida. Os
escravos que estivessem trabalhando mais que o normal poderiam realizar pequenas
escapadas e só retornar para o seu senhor mediante algum tipo de negociação. Cativos que
também eram impedidos de festejar ou de visitar famílias também recorriam a fugas para
conseguir estabelecer acordos com seus senhores. Haviam fugas que tinham como objetivo
negar a escravidão. Os escravos abandonavam a propriedade senhorial e, individualmente
ou em grupo, iam buscar formas alternativas de viver fora do cativeiro.

Os cativos ficavam no meio do mato e lá construíam pequenas comunidades que ficaram


conhecidas como quilombos ou mocambos. Outros fugiam para lugares mais distantes,
principalmente nas grandes cidades, pois nesses espaços o escravo fugido poderia se passar
por um negro liberto.

Nos Quilombos, os escravos refaziam suas vidas construindo famílias, laços de amizades,
plantavam, criavam animais e chegavam a comercializar com povos indígenas que
habitavam as redondezas ou, então, com os vilarejos próximos. Palmares, o mais conhecido
quilombo da história brasileira, se formou durante o século XVII nas adjacências da zona
da mata pernambucana, local de intensa produção de açúcar e, consequentemente,
significativa concentração de cativos. A região das minas, que possuía maior concentração
de escravos no século XVIII, também foi palco da formação de muitos quilombos. Os
quilombos mineiros não só expunham a fragilidade do controle de escravos na região, mas
também causavam grandes transtornos para as vilas e cidades. As autoridades de Vila Rica
(atual Ouro Preto) recebiam constantes queixas de que quilombos haviam roubado
propriedades ou então estavam impedindo a passagem em algumas estradas que ligava o
perímetro urbano às fazendas produtoras de gêneros alimentícios.
Na tentativa de destruir tais comunidades, as autoridades passavam para o capitão do mato
uma figura de poder, armaram milícias compostas por homens livres e libertos, e proibiram
os comerciantes que negociassem com os quilombolas. Em momentos de crise, chegou a
ser autorizado que todo quilombola encontrado tivesse uma de suas mãos decepadas.

E, na questão dos indígenas, o contato e o processo de aldeamento indígena foram


responsáveis por diversas revoltas no período colonial. Ocorrida entre os anos de 1554 e
1567, a Confederação dos Tamoios foi uma revolta dos tupinambás contra a tentativa de
escravização levada a cabo pelos colonos portugueses. Os conflitos foram interrompidos
por um ano de paz, resultando das ações dos padres Manoel da Nóbrega e José de
Anchieta. Todavia, durante esse ano de trégua, os colonos portugueses se armaram e
reiniciaram o processo de escravização dos índios tupinambás. Nesse segundo conflito, os
Tamoios contaram com o apoio dos franceses que desembarcaram no Rio de Janeiro de
1555, e que, comandados por Villegaignon, tinham o intuito de fundar uma França
Antártica. Depois de quase um ano e, graças ao reforço também oferecido por Men de Sá,
governador-geral do Brasil, os portugueses conseguiram derrubar o líder Aimberê e a
rebelião teve seu fim em 20 de janeiro de 1567.

Voltando para os negros africanos, as rebeliões armadas também foram utilizadas junto
com os seus descendentes. A punição para os escravos e libertos envolvidos em
conspiração de levantes era extremamente violento. Os líderes recebiam a pena capital. O
trabalho forçado nas galés, a deportação para a África e a aplicação de centenas de chibatas
eram outras punições possíveis para os demais revoltosos. Podemos citar a Conjuração
Baiana, um movimento de caráter popular ocorrido na Bahia no ano de 1798 e que tinha
como inspiração os ideais defendidos na Revolução Francesa (1789). No início do século
XIX, a Bahia continuou sendo palco de diversas revoltadas chefiadas por escravos
africanos. A revolta mais importante foi a Revolta dos Malês (1835).

A Revolta dos Malês teve a participação de escravos e libertos africanos de diferentes


origens. Após diversos encontros e reuniões marcados em becos ou em casas sublocadas
na cidade, a revolta foi marcada para o dia 25 de janeiro de 1835, dia de Nossa Senhora da
Guia. A escolha da data foi devido as festas religiosas, pois permitiam que os escravos
pudessem andar com mais facilidade pelas ruas de Salvador, o que despistaria as
autoridades. Mas, na noite anterior, a polícia tinha recebido uma queixa sobre tal revolta e
passou a caçar os revoltosos pela cidade. Diversas patrulhas foram colocadas nas ruas até
encontrarem o grupo no porão de um sobrado. Pegos de surpresa, os africanos foram
obrigados a partir para o ataque ali mesmo e saíram às ruas chamando os demais escravos
para a luta. Embora o número de escravos que aderiu à luta fosse maior, as autoridades
conseguiram controlá-los. Os líderes do movimento foram fuzilados, diversos africanos
livres foram deportados para a África e a maioria dos escravos foi açoitada em praça
pública e depois entregue aos seus senhores.
Em seguida temos o levante de São José do Queimado que foi um levante ocorrido
quatorze anos depois da Revolta dos Malês. Em 1844, chegou à freguesia o capuchinho
italiano Gregório José Maria de Bene, cuja principal obrigação era catequizar os índios da
região de São José do Queimado (atual cidade da Serra, ES). O capuchinho conseguiu
arrecadar fundos para a construção de uma igreja que foi construída com o trabalho de
muitos escravos da região. No ano de 1846, ela foi batizada de igreja São José. Com o
intuito de acelerar a construção, Gregório Bene prometeu alforria para os escravos que
ajudassem na edificação, argumentando que tinha uma grande proximidade com a Família
Real. E, na manhã em que ocorria a missa inaugural da Igreja (19/03/1849), cerca de
duzentos escravos foram ter com o padre exigindo as assinaturas das cartas de alforria.
Como era de se esperar, Gregório Bene não assinou nenhuma das cartas, o que levou os
escravos a iniciarem um levante na freguesia. Rapidamente as autoridades de Vitória
ficaram sabendo do ocorrido e, no dia seguinte, o chefe da polícia, acompanhado de uma
milícia armada e contando com o apoio da população livre, foram eficazes no confronto.
Os escravos fugiram pelas matas próximas e a caça aos cativos se iniciou. Quando os
escravos eram capturados, eles eram entregues aos seus senhores que se encarregavam
pessoalmente das punições. Todavia, João e Chico Prego, os dois escravos líderes que não
conseguiram fugir, foram enforcados. O padre Gregório acabou cedendo ao vício da
bebida e, em setembro de 1849, embarcou para a Corte.

As resistências à escravidão são inúmeras! Infelizmente não temos espaço para tratá-las de
todas aqui.

Resumo da Aula 06 – Teorias Raciais e Interpretações Sobre o Brasil

O uso dos braços escravos ainda se fazia sentir em diferentes aspectos da sociedade,
inclusive nos primeiros pelotões que compuseram o exército brasileiro no confronto bélico
que mudaria os rumos da história do Império: a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse
também foi um período de intenso debate sobre a identidade brasileira. O movimento
indianista foi uma das peculiaridades do Romantismo Brasileiro. Na falta do cavaleiro
medieval, coube ao índio (aldeado e civilizado) cumprir o papel de “bom moço” da história
brasileira, mostrando ao mundo um herói tipicamente brasileiro. No entanto, ao consagrar
o índio domesticado como símbolo do Brasil, o indianismo elegia uma determinada
memória que deixava de lado grande parcela da população brasileira, que passava a ser vista
como inferior.
Até a produção das primeiras análises da década de 1930, praticamente todas as obras que
se propunham examinar a sociedade ou a história brasileira esbarravam no problema da
raça. Esse lance de raças por meio da definição científica acabou reacendendo os debates
sobre a sua origem. O principal embate se dava entre monogenistas e poligenistas.
Enquanto os primeiros consideravam que todo homem tinha a mesma origem e que as
diferenças entre eles era resultado de uma maior ou menor proximidade do Éden (teoria
cristã), os poligenistas, baseados em estudos de cunho biológico, acreditavam na existência
de diversos núcleos de produção correspondentes aos diferentes grupos humanos.

Nomes de cientistas como Andrés Ratzius, Cesare Lombroso e Paul Broca ficaram
conhecidos na época, graças à ampla divulgação de seus estudos. Mas foi “A Origem das
Espécies” de Charles Darwin que o debate tomou novo fôlego em 1859. Então o lance de
raças sofreu duas significativas alterações. De um lado, a ideia de raça ultrapassou o campo
biológico e chegou nas discussões políticas e culturais. Por outro, o termo passou a
imprimir a noção de evolução às duas correntes que discutiam a origem do homem:
monogenismo e poligenismo.

Os poligenistas passaram a tratar a espécie humana como o gênero humano; a diversidade


cultural passou a ser entendida como diferença entre espécies. A eugenia vinha de encontro
aos interesses políticos da Europa e dos Estados Unidos. Os europeus acreditavam que
compunham um grupo humano puro, livre de hibridização, muito mais perto da perfeição
e, justamente por isso, seriam responsáveis pela civilização dos demais grupos. Já os norte-
americanos comprovaram seu desenvolvimento, principalmente por terem evitado a
miscigenação entre o branco dominador e o negro escravizado; por isso, também estavam
fadados ao progresso e à civilização.

Na realidade, a vitória do discurso científico caminhou par e passo com a construção de


uma identidade nacional brasileira. A primeira ideia de Brasil foi construída com os
primeiros museus, institutos históricos e geográficos, faculdades de direito e de medicina
em terra brasilis. Entretanto, a massa de mulatos, cafuzos, caboclos, pardos e cabras,
lembravam, a todo momento, que o Brasil era uma nação majoritariamente mestiça – o que
inviabilizava que o país galgasse o estágio supremo da civilização.

Os embates científicos se agravaram quando o Brasil proclamou a abolição da escravidão.


Os indígenas, em uma espécie de recompensa por sua dizimação, foram eternizados pelos
românticos brasileiros como símbolo de pureza nacional. Já os negros pagavam com a
escravidão a sua ligação direta com o continente africano. Mas quando as discussões de
raças e mestiçagem passaram a fazer parte da agenda dos assuntos ligados à cidadania
brasileira, a simples importação de análises científicas feitas por europeus e norte-
americanos deixou de ser suficiente.

Neste contexto, três intelectuais brasileiros se destacaram no quadro das ciências sociais do
país: Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha. Tais intelectuais identificaram a
diversidade racial como o entrave para que as palavras ordem e progresso, estampadas na
bandeira do Brasil República, de fato se transformassem em prática social. Esse três autores
viam a fusão de três raças como o elemento causador da desigualdade e do atraso brasileiro:
o branqueamento foi a principal delas.

Resumo da Aula 07 – Mestiçagem Como Saída?

O médico e educador Manoel Bomfim, em 1905, publicou um estudo no qual desvinculava


o atraso do Brasil à ideia de inferioridade racial. De tal forma, Bomfim não só defendia a
miscigenação brasileira, como desacreditava na inferioridade das raças e assegurava que o
Brasil só conseguiria mudar os rumos de sua história caso fizesse uma revolução baseada na
universalização da educação. Entretanto, Silvio Romero, ainda em 1905, publicou um livro
com o mesmo título do estudo de Manoel Bomfim, no qual refutava todos os argumentos
apresentados pelo médico. A notoriedade e a forte influência de Silvio Romero deixaram
Manoel Bomfim no mar do esquecimento.

Em 1920 e 1930, Arthur Ramos de Pereira Araújo, médico baiano, defendeu a


Antropologia Participativa. E, utilizando inúmeros recursos metodológicos da psicologia e
psiquiatria, Ramos atuou em diferentes áreas das ciências humanas, consagrando-se como
um grande estudioso da cultura brasileira. Em 1934, Ramos publicou O Negro do Brasil.
Nele, o autor demonstrou a grande importância do negro na formação da sociedade
brasileira, dando especial relevo à mestiçagem e ao sincretismo religioso.

Ainda em 1930, temos o intelectual pernambucano Gilberto Freyre que levantou uma
abordagem diferenciada sobre a história do Brasil, sobretudo no que diz respeito às
relações raciais. Em 1933 publicou ele publicou uma obra chamada Casa Grande e Senzala.
Uma obra que não só rompeu com o discurso racialista reinante nas ciências sociais
brasileiras, como também apontou um novo olhar sobre o país. Freyre dizia que a
formação brasileira era um processo resultante do equilíbrio de antagonismos, fossem eles
econômicos, sociais, políticos e até mesmo geográfico. O Brasil nascera de uma tecnologia
indígena empregada na produção da mandioca, do leite das amas negras que alimentaram
os meninos das famílias tradicionais, das experiências sexuais desses mesmos meninos com
as mulatas do país. Na realidade, para Freyre, a mestiçagem era a brasilidade.

Enquanto Nina Rodrigues foi o primeiro intelectual a fazer um estudo sistêmico da


presença africana no Brasil, Freyre foi o primeiro que apresentou essa herança africana de
forma positiva e em profundo diálogo com as demais esferas formativas do país.

A Democracia Racial serviu muito bem aos interesses políticos do governo getulista que,
embora difundisse a ideia do Brasil como um país desprovido de discriminação racial,
deixava muito claro que cada raça tinha um lugar determinado a ocupar na sociedade
brasileira. Só assim, a harmonia defendida por Freyre continuaria reinando.

Os horrores da Segunda Guerra Mundial também chamaram a atenção para a problemática


do racismo em escala mundial. A UNESCO, nos anos 50, patrocinou um conjunto de
pesquisas sobre as relações raciais no Brasil. A aparente harmonia racial no Brasil fazia do
país uma espécie de “laboratório vivo” para determinar os fatores econômicos, sociais,
políticos, culturais e psicológicos que favoreciam ou não a existência de relações
harmoniosas entre raças e grupos étnicos. Parte dos estudos da UNESCO comprovou a
inexistência da Democracia Racial no Brasil. Na obra A Integração do Negro na Sociedade
de Classes (1964), Florestan Fernandes analisou os meios pelos quais parte da população
negra da cidade de São Paulo integrou-se à sociedade capitalista. O sociólogo mostrou que
homens e mulheres teve uma modesta inserção na sociedade capitalista graças à cor de sua
pele e à evidente preferência dos patrões pelos funcionários brancos.

No campo da antropologia culturalista, temos o sociólogo Oracy Nogueira que apontava


que os negros e mestiços compunham a grande maioria da população que exercia
atividades subalternas, enquanto os brancos ocupavam lugar de destaque. Para Oracy, a cor
da pele tinha forte influência no desempenho socioeconômico dos indivíduos.

Ainda que diante dos estudos apontados tenham seguidos métodos científicos distintos,
ambos foram eficazes em apontar que a harmonia das três raças brasileiras era uma farsa.
Resumo da Aula 08 – Herança Indígena e Sua Inserção Efetiva no Brasil
Contemporâneo

Em 1992, o Estado do Rio de Janeiro recebeu a ECO 92. A ECO 92 foi uma conferência
que inaugurou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla
conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de
responsabilidade dos países desenvolvidos. A questão do indígena também ganhou espaço
no debate, pois qualquer debate sobre meio ambiente no Brasil precisa levar em
consideração as agências desses sujeitos.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles encontraram um número significativo de


povos autóctones a quem chamaram de índios. O processo colonial foi extremamente
violento com as sociedades indígenas. As estimativas apontam que no início do século XVI
existiam entre 1 e 10 milhões de índios, no que hoje é o Brasil. Vimos que dezenas de
milhares de índios morreram em decorrência da colonização da América portuguesa. Gripe,
sarampo, tuberculose e varíola também fizeram a sua parte. Junto com a mortandade
causada pela falta de imunidade indígena, a efetivação do sistema colonial trouxe muitas
mudanças nos padrões organizacionais desses povos.

A catequese foi outro instrumento de colonização que desestruturou boa parte dos povos
indígenas. Embora muitos missionários objetivassem levar a verdadeira fé aos índios, e em
muitos casos tenham defendido os indígenas, a conversão ao catolicismo, a criação de uma
língua geral eram indícios de que o contato entre portugueses e índios estava criando novas
formas de sociabilidade. Os únicos grupos que não tiveram suas línguas alteradas foram os
Fulniô (de Pernambuco), os Maxakali (de Minas Gerais) e os Xokleng (de Santa Catarina).

Findo do período colonial, os índios continuaram fazendo parte da história brasileira. Entre
os séculos XIX e XX, sociedades indígenas foram trabalhar na busca pelo látex, bem como
os movimentos exploratórios da região amazônica. E foi neste contexto que o positivista
Marechal Rondon despontou no quadro nacional. Rondon tornou-se responsável pela
Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Goiás ao Mato Grosso. Para isso,
Rondon abriu caminhos e desbravou terras entrando em contato com diversos povos
indígenas como os Bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, entre outros. Entre os
anos de 1907 à 1915, Rondon estava construindo a ferrovia Madeira-Mamoré, que junto
com o desbravamento e integração telegráfica ajudaram a ocupar a região do atual estado
de Rondônia. Nesse tempo, Rondon dirigiu o Serviço de Proteção aos Índios (1910) com o
objetivo de proteger os índios da escravização. Como chefe da SPI, Randon comandou e
traçou roteiro da expedição que o ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, fez pelo
interior brasileiro entre 1913 e 1914, que ficou conhecida como a Expedição Roosevelt-
Rondon. Além disso, Rondon publicou o livro Índios do Brasil, em três volumes.
Incansável defensor dos povos indígenas do Brasil ficou famoso por sua frase: “Morrer, se
preciso; matar, nunca“. Rondon teve seus trabalhos reconhecidos pelo governo brasileiro e
o estado recebeu o nome de Rondônia para a sua homenagem.

A partir de 1920 e 1930, os movimentos exploratórios da Amazônia despertaram não só


interesses econômicos, mas também chamaram a atenção de muitos intelectuais brasileiros.
Nesse período havia um forte debate sobre a identidade nacional brasileira, que passava a
encarar a mestiçagem de forma positiva. Foi devido a esses trabalhos que o índio
construído no século XIX foi desmontado. O contato com os portugueses e demais
colonos havia transformado padrões socioeconômicos e isso ficou marcado nas línguas
indígenas. Os Guaranis que vivem em diversos estados do Sul e Sudeste brasileiro e que
também conservam a sua língua, migraram do Oeste em direção ao litoral em anos
relativamente recentes. A maior parte dos indígenas que conseguiram preservar suas línguas
vive, atualmente, no Norte, no Centro-Oeste e Sul do Brasil. Nas outras regiões, os índios
foram sendo expulsos à medida que a urbanização avançava.

Em 1939 foi instituído o Conselho Nacional de Proteção aos Índios que permitiu os
antropólogos atuassem na formulação das políticas indígenas brasileiras. Além disso, a
proposta de registrar minuciosamente as expedições acabou por contribuir com a formação
da antropologia no Brasil e das coleções de cultura material indígena dos museus brasileiros
e estrangeiros. Em 1967 foi fundada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), cujo
principal objetivo era servir como tutora dos índios brasileiros. Uma das questões mais
trabalhadas pela FUNAI é a demarcação das terras indígenas. Na legislação brasileira terra
indígena é “a terra tradicionalmente ocupada pelos índios, por eles habitada em caráter
permanente, utilizada para as suas atividades produtivas, imprescindível à preservação dos
recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e para à sua reprodução física e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradições“. Por um outro lado, a noção de terra e território
dos grupos indígenas é muito mais fluída do que a lei brasileira determina. Pois a maior
parte dos índios eram nômades ou seminômades o que, por si só, já aponta outros usos e
significados da terra para esses povos.
Resumo da Aula 09 – Movimento Negro e a Busca de Outra Memória
Afrodescendente

Vocês conhecem João Cândido?

João Cândido foi um marinheiro negro que marcou uma revolta na marinha brasileira na
década de 10. Na época, o uso da chibata como castigo na Armada Brasileira já tinha sido
abolido nos primeiros atos do regime republicano. Mas, na prática, os marinheiros que
eram em sua grande maioria negros e mestiços, continuavam a receber tais punições. Era
um claro resquício da escravidão. O estopim da Revolta ocorreu no dia 16 de novembro de
1910, quando foi publicado nos jornais brasileiros que o marinheiro Marcelino Rodrigues
de Menezes havia sido punido com 250 chibatadas aplicadas na frente de toda a tripulação
do Encouraçado Minas Gerais. Seis dias depois, João Cândido, um marinheiro e filho de
ex-escravos, liderou tripulações de diferentes embarcações em todo o Brasil e fizeram um
levante por meio do qual reivindicavam a abolição da chibata na marinha. A cidade do Rio
de Janeiro estava sob a mira dos canhões da marinha e, caso as reivindicações não fossem
atendidas, a cidade seria atacada. Em meio a inúmeras tensões e negociações, as autoridades
brasileiras se comprometeram em acabar com as punições e terminaram o levante. Mas,
infelizmente, ainda que o Congresso tenha votado pela anistia dos marinheiros envolvidos,
grande parte dos sublevados foi presa ou morta pelas próprias autoridades. O líder João
Cãndido ficou alguns anos preso na Ilha das Cobras e, depois, foi expulso da marinha. Ele
faleceu em janeiro de 1969, esquecido por seus contemporâneos. A história de João
Cândido demonstra uma das milhares de lutas que milhares de afrodescendentes tiveram
que experimentar, em busca de melhores condições de vida, em um país marcado pelas
diferenças raciais.

A incerteza quanto à manutenção da escravidão facilitou a propagação dos ideais e práticas


abolicionistas. Periódicos como A Gazeta da Tarde, cujo editor era José do Patrocínio, e A
Redenção foram instrumentos importantes na luta abolicionista. E, também, o número de
associações abolicionistas cresceu. Tais organizações denunciavam a escravidão por meio
de artigos dos jornais, dos discursos em praça pública e das peças teatrais, além de
realizarem festas e reuniões nas quais arrecadavam dinheiro para ser usado na compra da
alforria de alguns escravos.

No ano de 1871, o Senado Brasileiro aprovou A Lei do Ventre Livre que determinava que
a partir daquela data (28/09/1871) todas as crianças nascidas de ventre escravo seriam
livres. Os senhores ficavam com os recém-nascidos até completarem oito anos de idade.
Logo em seguida, o senhor de sua mãe poderia escolher receber 600 mil réis do governo e
dar a liberdade para a criança, ou utilizar os serviços dessa criança até ela completar vinte e
um anos. Apesar do direito em que o senhor tinha de ficar com a criança, a Lei do Ventre
Livre deu mais força para os abolicionistas. Em 1879, André Rebouças fundou a Sociedade
Brasileira Contra a Escravidão e Joaquim Nabuco, junto com José do Patrocínio, criou a
Confederação Abolicionista. Os poemas de Castro Alves também denunciavam as
atrocidades da escravidão transformaram em armas na luta abolicionista.

No Ceará, em 1883, os jangadeiros liderados por Francisco José do Nascimento e João


Napoleão, ex-escravos, se recusaram a transportar os cativos que desembarcavam no porto
cearense. Essa manifestação ganhou muito mais adeptos que, em 1884, o estado do Ceará
decretou o fim da escravidão quatro anos antes da extinção nacional da escravidão.

Em 1885 foi promulgado a Lei do Sexagenário que determinava que todos os escravos com
mais de sessenta anos estariam livres automaticamente. Mas essa lei pouco mudou o
quadro social fomentado pelos abolicionistas e escravos.

Por fim, no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha do Imperador D. Pedro II que
estava ausente, assinou a Lei Áurea, na qual foi “declarada extinta desde a data dessa Lei a
escravidão no Brasil“. A abolição da escravidão era apenas uma das etapas na luta por
igualdades sociorraciais no Brasil. A fim de combater práticas racistas entre o final do
século XIX e começo do século XX, trabalhadores e intelectuais negros de diferentes
localidades do Brasil começaram a se organizar para discutir a discriminação sofrida. Em
São Paulo, foram fundados o Centro Cultural Henrique Dias, a Associação dos Brasileiros
Pretos e o Grêmio Dramático Recreativo e Literário “Elite da Liberdade”. Em 1931, foi
fundada também em São Paulo, a Frente Negra Brasileira (FNB) que objetivava integrar a
população negra na sociedade, seguindo os padrões vigentes. A FNB proporcionou a
alfabetização de centenas de negros e criou cursos de costura para que as mulheres negras
pudessem se inserir no mercado de trabalho. Todavia, graças a sua vertente partidária, a
FNB, assim como outros jornais da imprensa negra, foi fechada a mando de Getúlio
Vargas em 1938.

O fechamento da FNB e dos jornais negros não representou o fim da luta da população
negra. Em 1944, Abdias do Nascimento fundo o Teatro Experimental do Negro (TEN)
recuperando heranças africanas como o candomblé, e promovendo congressos para
mostrar ao Brasil talentosos atores, poetas, bailarinos e músicos negros, incomodando
muitas emissoras de televisão e jornais do Brasil. Quatro anos depois, Abdias e outros
intelectuais negros fundaram o jornal Quilombo. Os membros do jornal tinham um grande
diálogo com os movimentos internacionais que combatiam o racismo, inclusive o Pan-
africanismo, e com importantes lideranças negras dos Estados Unidos envolvidos na luta
pelos direitos civis dos negros estadunidenses.
Em 1980, foi fundado o Movimento Negro Unificado que trabalham com a dupla
discriminação sofrida pelas mulheres negras. O combate desses movimentos fizeram com
que intelectuais negros e brancos tivessem que revisitar a história brasileira para acabar com
a ideia de que o Brasil era um país sem racismo. Outra importante ação desses movimentos
foi recuperar importantes figuras negras da história do Brasil, como Zumbi dos Palmares.

Resumo da Aula 10 – Somos Racistas?

Em 2009, uma pesquisa realizada pela USP concluiu que o Brasil não é um país racista, mas
um lugar onde existe racismo. Dentre as pessoas entrevistadas, 97% afirmaram não ter
nenhum tipo de preconceito racial, mas 98% afirmou conhecer alguém que pratica ou já
praticou discriminação racial. Tal constatação é uma contradição, que acaba se tornando a
base das relações raciais no Brasil.

A retratar a trajetória do samba no Brasil, cantor e compositor Cartola mostrou que o


ritmo musical que nasceu com as quitandeiras baianas na Praça Onze conseguiu vencer os
preconceitos e ganhar o estrangeiro. Hoje, o samba é uma das marcas do Brasil. A feijoada,
o samba e o futebol, que se tornaram símbolos do Brasil, são heranças diretas dos africanos
que para cá foram trazidos. Temos também a capoeira que, no passado, foi responsável
pela prisão de muitos escravos e libertos e, hoje, se transformou em sinônimo de esporte
brasileiro.

Maxixe, forró, maculelê, baião, frevo, pagode e o afoxé são outros ritmos musicais criados
a partir de instrumentos e ritmos vindos da África e recriados no Brasil. Com o passar dos
anos, temos também o Carnaval que foi influenciado por cada região brasileira. No campo
das artes plásticas também é possível observar forte presença da população negra, seja ela
objeto ou sujeito das obras.

Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (IBGE, IPEA, etc) indicam que a
população brasileira está cindida por uma significativa desigualdade que se expressa por
meio da cor. Os índices mostram que a diferença salarial, a população carcereira, a entrada
nas Universidades Públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo racial.
Em 1985, foi aprovada a Lei do Caô, em homenagem ao seu formulador. Esta lei inclui,
entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor,
de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei Afonso Arinos. A necessidade de
formular e aprovar tais leis, aponta que as práticas racistas ainda vigoravam no país.
Quando a liberdade política foi reinstaurada e um novo acordo social foi firmado, a luta
contra o racismo foi apontada em diferentes momentos da Constituição Brasileira de 1988.

Mediante a essas leis, temos os sistemas de cotas que reservaria uma parcela das vagas
oferecidas pelas universidades para pessoas que se auto classificassem como negras, pardas
ou indígenas. Porém, essa é uma questão que ainda está longe de ser encerrada e, cujo
debate, é fundamental para a criação de um Brasil que não faça distinções de seus
habitantes.

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