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aula
07
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Diversidade química do ambiente / Ademir Oliveira da Silva, Otom Anselmo de Oliveira. – Natal, RN, :
EDUFRN, 2006.
292 p. : il
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação
Nesta aula, iniciaremos os estudos dos compostos de coordenação, abordando aspectos
históricos e apresentando as regras usadas para representação através de fórmulas e
nomenclatura de tais compostos.
Esses compostos podem ser iônicos ou não iônicos, e as espécies químicas coordenadas
que os constituem podem ser definidas como espécies formadas por um átomo central (que
geralmente é um metal) ligado por meio de ligações coordenativas a um conjunto de íons,
moléculas ou átomos, formando estruturas catiônicas ou aniônicas – como o [Cu(NH3)4]2+
e o [Fe(CN)6]4– – ou estruturas não iônicas – como o [F3BNH3] e o [Zn(NH3)2Cl2].
Quando essas espécies são iônicas, recebem a denominação genérica de íons complexos,
em virtude da complexidade das suas fórmulas, e os sais formados por esses íons – como o
[Cu(NH3)4]Cl2 e o K4[Fe(CN)6], por exemplo – são chamados de sais complexos. Quando
as espécies coordenadas são neutras – como o [F3 BN H3 ] e o [Zn(N H3 )2 Cl2 ] –, recebem
a denominação genérica de adutos.
Nas interações entre os constituintes dos íons complexos ou dos adutos, o átomo central
quase sempre funciona como ácido de Lewis, enquanto os grupos a ele ligados funcionam
como bases de Lewis, e essas bases recebem a denominação genérica de ligantes.
Pelas particularidades que os compostos de coordenação apresentam, o seu estudo (que
ora se inicia) continuará até a aula 15 desta disciplina, e logo você perceberá a importância
desse tipo de composto em laboratório ou em processos que acontecem na natureza.
Objetivos
Ao concluir esta aula, você deverá conhecer aspectos históricos
importantes sobre os compostos de coordenação, descrever os
seus constituintes e algumas das suas propriedades gerais, e aplicar
as regras utilizadas para se formular e nomear esses compostos.
n a respiração, ou seja, a troca do gás carbônico pelo oxigênio no organismo, tem como
responsável maior a hemoglobina – o pigmento vermelho do sangue – que é um
complexo que tem o ferro (II) como elemento central;
n a produção do polietileno, que é um dos plásticos mais usados no mundo, seria inviável
se os catalisadores de Ziegler-Natta (compostos de coordenação capazes de polimerizar
o eteno) não tivessem sido criados.
Esses fatos, associados a outros de grande importância para a sociedade, fizeram com
que a maior parte dos trabalhos realizados sobre Química Inorgânica em décadas recentes
tivesse como tema os compostos de coordenação.
Tais estudos, juntamente com outros realizados ao longo do tempo, mostraram que as
propriedades desses compostos variam bastante, verificando-se, por exemplo, que:
b) na forma pura, alguns são estáveis apenas a baixas temperaturas, enquanto outros mantêm
suas identidades mesmo a altas temperaturas, podendo até serem volatilizados;
c) alguns dos compostos que têm elementos de transição como átomo central são
paramagnéticos paramagnéticos, enquanto aqueles que têm elementos representativos como átomo
O paramagnetismo indica
central são sempre diamagnéticos;
a existência de elétrons
desemparelhados, o que pode
d) muitos dos compostos que são formados pelos metais de transição são coloridos (o
acontecer nos elementos de fenômeno do aparecimento de cores será estudado na aula 10 desta disciplina – Teoria
transição. do campo cristalino – TCC), enquanto os formados pelos elementos representativos
são brancos.
Apesar dessas diferenças, existe suficiente convergência nos métodos de preparação,
nas estruturas e no comportamento químico, o que permite estudar esses compostos como
constituintes de uma classe de substâncias. Continuaremos a fazer isso nesta disciplina,
abordando os diversos temas e seguindo a ordem cronológica das suas ocorrências,
sempre que possível.
N
ão existe consenso entre os historiadores da Química sobre a data de descoberta do
primeiro composto de coordenação. No entanto, se os corantes à base de alizarina
forem considerados como compostos de coordenação, essa descoberta remonta aos
tempos bíblicos. Se a referência for descrição com base em conhecimentos mais consistentes, o
2+
primeiro composto de coordenação passa a ser um sal do íon tetramincobre(II), [Cu(N H3 )4 ]
, descrito por Andréas Libau, ou Libavius (1540-1616), em 1597, no livro Alchemia de sua
autoria, que é considerado o primeiro texto de Química. Existem, ainda, alguns estudiosos que
consideram o azul da Prússia, F e4 [F e(CN )6 ]3, sintetizado por Diesbach em 1704, como o
primeiro composto de coordenação a ter sua síntese reportada.
Porém, os primeiros compostos de coordenação sintetizados e estudados sistematicamente
foram o [P d(N H3 )4 ][P dCl4 ], o [Co(N H3 )6 ]2 (C2 O4 )3 ], o K3[Fe(CN)6] e o [Pt(NH3)4][PtCl4],
descobertos, respectivamente, em 1813, 1822, 1822 e 1928.
A descrição desses compostos despertou bastante interesse, motivando muitos
pesquisadores a iniciarem estudos sobre compostos desse tipo. Como resultado, os
químicos começaram a definir métodos de síntese e a descrever algumas propriedades de
tais compostos. Porém, a princípio, tanto a ocorrência como as propriedades observadas
pareciam fatos isolados e, muitas vezes, eram discordantes de um composto para outro.
Na primeira fase dos estudos, no século XIX, químicos de renome, como Gustav
Magnus, Willian C. Zeise, Thomaz Grahan, Carl E. Claus, Christian W. Blonstrand e Sophius
Jorgensen, realizaram vários trabalhos sobre compostos de coordenação. Em 1856, com um
trabalho mais sistemático, Oliver Wolcot Gibbs e Fraderick Augustus Genth publicaram uma
monografia descrevendo 35 compostos amino-cobálticos inéditos até então. Assim, foram
sendo acumuladas informações que levaram os químicos a perceber que os compostos de
coordenação integravam uma classe especial de substâncias.
Nessa época, os químicos tinham como uma de suas preocupações explicar como os
átomos se ligavam para formar as substâncias, do que resultou a criação da teoria da valência valência
(estudada na aula 8 da disciplina Arquitetura Atômica e Molecular – Ligações químicas: como
Lembre-se de que,
se formam). Nesse contexto, os compostos de coordenação passaram a ser vistos como um atualmente, valência é
importante campo de estudo para o entendimento da ligação química. Com isso, muitos um termo mais usado
com significação
químicos, entre os quais Berzerlius e Kekulé, dedicaram-se ao estudo desses compostos na
qualitativa – como nível
tentativa de elaborar teorias capazes de explicar suas formações e propriedades. ou orbitais de valência
– do que no sentido
Um dos aspectos que chamava atenção era o desacordo desses compostos com relação
quantitativo, muitas
às regras de valência que estavam em consolidação naquela época. Isso tornava os estudos vezes, usado de forma
sobre tais compostos particularmente desafiadores para os químicos, tanto sob o ponto de equivocada até para
vista experimental quanto teórico, e foi daí que surgiu o termo complexo para designar essa se referir ao número
de oxidação de um
classe de compostos. elemento.
A
maioria dos primeiros complexos foi preparada através de reações entre sais
metálicos e amônia (formando-se os amino-complexos). No entanto, logo se verificou
que muitas outras espécies químicas podiam ser usadas em sínteses de compostos
dessa natureza. Assim, foram preparados muitos complexos de CN–, NO2–, NCS– e Cl– com
sais de cobalto, cromo e platina, entre outros.
Uma das primeiras formas para se nomear esses compostos consistiu em dar-lhes os
nomes dos químicos que os prepararam, como é mostrado nos dois exemplos seguintes:
No entanto, logo se verificou que as cores não poderiam ser usadas como regra para
nomear tais compostos, visto que, além do número destes ser cada vez maior, muitos deles,
mesmo tendo composições diferentes, apresentam cores iguais. Noutros casos, espécies
de composição semelhante, e até mesmo isômeros, apresentam cores diferentes entre si.
Como exemplo, tem-se o [Co(N H3 )4 ]Cl3, que existe nas cores violeta e verde.
PtCl4.3NH3 97 2 [Pt(NH3)3Cl3]Cl
PtCl4.2NH3 0 0 [Pt(NH3)2Cl4]
Tipo de eletrólito
Solvente
1:1 1:2 ou 2:1 1:3 ou 3:1 1:4 ou 4:1
Nitrobenzeno 20 – 30 50 – 60 7 – 82 90 – 100
Faixas de valores das condutâncias em ohm-1.cm-1.mol-1. As interrogações indicam limites de valores imprecisos para as condutâncias.
Ligantes
Os ligantes geralmente funcionam como bases de Lewis e podem se ligar ao átomo
central através dos seus átomos que possuam pares de elétrons disponíveis para fazer
ligações coordenativas.
A classificação mais geral que se pode fazer sobre os ligantes relaciona-se ao número
de ligações que eles estabelecem com os átomos centrais, o que pode ocorrer de várias
maneiras, como é ilustrado na Figura 1. Assim, se a coordenação se faz, apenas, através de
um átomo, o ligante é do tipo monodentado, como acontece com Cl–, Br–, H2O, NH3, C5H5N
(piridino). Se a coordenação se faz por dois ou mais átomos, o ligante é do tipo polidentado
ou, mais especificamente: bidentado, quando existem dois átomos coordenantes, como o
N H2 CH2 CH2 N H2 (etilenodiamino) e o C10H8N2 (dipiridino); tridentado, se existem três
átomos coordenantes, como a propilenotriamina, e assim por diante.
H2 N O
CH2 C O
O O
O O
M M
C N
M NH3 CH2 N
O
H2 N O
M-EDTA
NH3 - amino C2 H8 N2 - etilenodiamino EDTA - Etilenodiamintetracetato
Além dessa classificação geral, existem várias regras de nomenclatura que são
apresentadas a seguir, juntamente com exemplos bem representativos dos principais
grupos de ligantes.
F– Fluoreto Fluoro
I –
Iodeto Iodo
SO 4
2–
Sulfato Sulfato
Por conveniência, para calcular o número de oxidação dos átomos centrais das espécies
coordenadas presentes nos complexos, radicais como esses, ou outros similares, quase
sempre são considerados como aniônicos.
H– Hidreto Hidrido
M ONO
__ –
Nitrito Nitrito
Nomenclatura e fórmulas de
espécies neutras ou catiônicas
Para se escrever fórmulas de espécies coordenadas catiônicas ou neutras, em primeiro
lugar, escreve-se o símbolo do átomo ou íon central. Em seguida, escreve-se os símbolos
dos ligantes com os respectivos coeficientes. Nas fórmulas, as espécies coordenadas são
escritas entre colchetes e os ligantes poliatômicos são escritos entre parênteses.
Fórmulas Nomes
[Ag(NH3)2]+ Diaminprata(I)
[Co(NH3)6] 3+
Hexamincobalto(III)
[Cr(H2O)6]3+ Hexaquacromo(III)
[Mn(CO)6]+ Hexacarbonilmanganês(I)
[Ni(CO)4] Tetracarbonilníquel(0)
a) usam-se os prefixos di, tri, tetra, penta etc., para indicar o número de ligantes idênticos
presentes;
Fórmulas Nomes
[AuCl2]– Dicloroaurato(I)
[Pt(CN)4]2– Tetracianoplatinato(II)
[Mn(CO)5]– Pentacarbonilmanganato(I)
[Fe(SCN)6] 3–
Hexatiocianatoferrato(III)
[UF7]3– Heptafluorouranato(IV)
[V(CO)6]– Hexacarbonilvanadato(I)
Fórmulas Nomes
[Ir(NH3)4Cl2]+ tetramindicloroirídio(III)
[Co(an)3Cl3] Triacetonitrilatriclorocobalto(III)
[ZnCl2(dmf)2] Diclorobis(dimetilformamida)zinco(II)
[CdBr3(H2O)3]- Tribromotriaquocadmiato(II)
[Ir(CO)Cl(Pφ3)2] Carbonilclorobis(trifenilfosfino)irídio(I)
Indicação de isômeros
Para nomeação de isômeros, coloca-se, antes do nome ou da fórmula, o prefixo
indicativo do tipo do isômero, escrito em itálico ou sublinhado, seguido de um hífen.
Fórmulas Nomes
mer-[RuCl3(Pet3)3] mer-triclorotris(trietilfosfino)rutênio(III)
fac-[RuCl3(Pet3)3] fac-triclorotris(trietilfosfino)rutênio(III)
cis-[Pt(NH3)2Cl2] cis-diaminodicloroplatina(II)
trans-[Pt(NH3)2Cl2] trans-diaminodicloroplatina(II)
[Fe(CO)5] Pentacabonilferro(0)
[Ni(CO)4] Tetracarbonilníquel(0)
Ligantes em ponte
Existem compostos com dois ou mais centros de coordenação e com um ou mais
ligantes fazendo pontes entre as espécies centrais. Esses ligantes são indicados pela letra
µ, seguida do seu nome. Se houver duas ou mais pontes iguais, estas são indicadas pelos
prefixos di-µ, bis-µ, tri-µ, tris-µ etc.
[(CO)5Cr-H-Cr(CO)5]- µ-hidrido-bis[(pentacarbonilcromato(0))]
O
[(H2O)4Fe Fe(H2O)4]2+ di-µ-hidroxo-bis [tetraquoferro(II)]
O
O2
a) Cloreto de tetraminplatina(II);
b) Hexaclorocobaltato(III) de potássio;
c) Diamindicloroplatina(II);
d) Hexacarbonilcromo(0);
e) Cloreto de trisetilenodiamincromo(III).
Auto-avaliação
Analise os dados contidos na Tabela 1 e apresente razões que expliquem os valores
1 das condutâncias molares dos vários compostos.
3 Para os compostos CoCl3 .3N H3 , CoCl3 .4N H3 , CoCl3 .5N H3 e CoCl3 .6N H3:
Referências
BENFEY, O. T. From vital force to structural formulas. Philadelphia: Beckman Center for the
History of Chemistry, 1992.
FARIAS, R. F. de. Para gostar de ler a história da química. Campinas: Átomo, 2003.
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fundamentos e atualidades, Campinas, SP: Átomo, 2005. cap. 2. p. 19 – 86.
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