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A Teoria dos Jogos e sua aplicabilidade na resolução de conflitos

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jogos-e-sua-aplicabilidade-na-resolucao-de-conflitos

Publicado por Rebeca Barbosa

INTRODUÇÃO

Os meios alternativos de resolução de conflitos, tais como a


mediação, a conciliação e a arbitragem tem adquirido crescente
importância no direito brasileiro. A visão concebida pela experiência e
pelo senso comum quanto à resolução de conflitos por estes meios tem
possibilitado o seu reconhecimento como instrumentos eficazes e mais
rápidos do que a via conflituosa.

Todavia, ainda é necessário que se difunda de forma mais efetiva


uma “cultura” a favor da mediação e da conciliação na população. Tendo
em vista estes meios de solução de conflitos são instrumentos que visam
o bem de todos e a supremacia do bem-estar social, e considerando as
dificuldades enfrentadas pelo judiciário brasileiro carente de mão-de-
obra, a adoção destes métodos extrajudiciais pode ser extremamente
benéfica.

A partir do momento em que as partes se conscientizarem de que


a cooperação pode ser mais vantajosa para ambos o conflito poderá ser
resolvido com maior facilidade.

É neste viés que a Teoria dos Jogos se apresenta, tendo como


objeto de estudo o conflito e baseando-se em cálculos matemáticos e
dados comportamentais, John Nash desenvolveu a ideia de cooperação
demonstrando matematicamente que a cooperação com o adversário
poderia possibilitar a maximização de ganhos individuais.

Conceito, histórico e aplicação


Primeiramente, deve-se destacar que a teoria dos jogos faz parte
de um dos ramos da matemática aplicada e da economia que tem por
objetivo o estudo de situações estratégicas na qual os participantes
utilizam-se de um processo consistente da análise de decisões, baseando
a sua conduta na expectativa de comportamento da pessoa com quem se
interage.

Essa abordagem de interações teve seu desenvolvimento


basicamente no século XX, após a Primeira Guerra Mundial, sendo que
o seu objeto de estudo sempre foi o conflito. Na teoria dos jogos o
conflito pode ser interpretado como uma situação na qual duas ou mais
pessoas devem utilizar-se de estratégias para maximizar seus ganhos, ou
seja, o ganho de ambas, e não apenas de uma das partes.

Foram de suma importância para a estruturação da teoria dos


jogos o estudo do matemático Émile Borel, que iniciou seus trabalhos
através do estudo do pôquer, tendo dado atenção especial para o
problema do blefe, bem como da visão que um jogador deve ter para
tentar imaginar as possibilidades de jogada de seu adversário.
Formulou-se uma noção da seguinte maneira: “eu penso que você pensa
que eu penso que você pensa...”, sendo uma argumentação infinita, que
foi solucionada na década de 1950 por John F. Nash que elaborou o
conceito de Equilíbrio de Nash.

John Nash trouxe novos horizontes para a teoria dos jogos com o
seu conceito de equilíbrio, e ainda rompeu com o paradigma econômico,
criado por Adam Smith, que se baseia puramente na competição. Para
Adam Smith se cada um lutar para garantir uma melhor parte para si, os
competidores mais qualificados ganhariam um maior quinhão.

Ainda, para John Von Neumann, professor de John Nash, um dos


competidores para ganhar, deveria necessariamente levar o adversário a
derrota, de certa forma concordando com a teoria de Adam Smith.

Porém, John Nash, introduziu o elemento cooperativo na teoria


dos jogos, ideia que não é totalmente incompatível com o pensamento
de ganho individual, já que o entendimento é de que é possível
maximizar os ganhos individuais cooperando com o adversário, assim os
jogadores devem pensar no individual e no coletivo ao formular sua
estratégia.

O equilíbrio de Nash
O princípio do equilíbrio criado por John Nash é baseado em um
par de estratégias em que cada uma é a melhor resposta à outra, ou seja,
é uma espécie de meio termo que permite que ambos possam auferir
ganhos. Assim, o equilíbrio de Nash seria a solução conceitual para o
qual os comportamentos se estabilizam em resultados nos quais os
jogadores não se arrependem, em uma análise posterior do jogo,
levando em consideração a jogada apresentada pela parte adversária.

Não se pode afirmar que tal teoria é ingênua pois “ Se todos


fizerem o melhor para si e para os outros, todos ganham”.

Competição e cooperação
Como regra, a grande maioria das pessoas não foi estimulada,
ainda na fase da infância, a interagirem de forma cooperativa quando se
deparavam com conflitos. Tanto mediadores, como partes e advogados
não possuem enraizada a ideia da cooperação como sendo o melhor
caminho para todos. Pelo contrário, em nossa sociedade o estímulo
direciona-se para a competição desde cedo, com jogos, brincadeiras
dentro outros, nos quais há apenas um vencedor e um perdedor.

Destaca-se que quando as pessoas presumem que se encontram


em uma dinâmica competitiva passam a agir de forma não colaborativa
e por conseguinte têm resultados individuais muito inferiores aos que
poderiam obter caso tivessem adotado postura cooperativa. Claro que a
compreensão de equilíbrio de John Nash, em relações continuadas,
pressupões a racionalidade dos interessados.

Especificamente na mediação as partes são a todo momento


estimuladas a ponderarem e racionalizarem sobre suas opções e
estratégias de otimização de ganho individual, sendo que sempre a
cooperação é estimulada em detrimento da competição.
Teoria dos jogos e mediação
A teoria dos jogos apresenta-se como ma importante ferramenta
para a mediação e demais processos autocompositivos pois com ela
podemos extrair o melhor resultado dos conflitos.

A mediação, em especial, produz bons resultados quando as


partes se comportam de forma ética, e com boa intenção, visando a
solução rápida e eficiente e deixando de lado o puro interesse individual
embora não seja sob este prisma que a questão deva ser encarada. A
cooperação trata-se de fato racional e voltado para a otimização dos
resutados.

Destaca-se que em relações continuadas o equilíbrio de Nash e a


otimização de resultados a ele inerente encontra-se na cooperação.
Assim, o papel do mediador não consiste em apresentar soluções para as
partes, mas sim em agir de forma a estimular as partes a considerarem
desenvolvimentos da relação conflituosa, e dessa forma entrarem em um
consenso para que abas sejam beneficiadas.

Portanto, a relação de cooperação com competição em um


processo de resolução de disputas não deve ser tratada como um aspecto
ético da conduta dos envolvidos e sim por um prisma de racionalidade
voltada à otimização de resultados. Assim, se em uma relação
continuada uma das partes age de forma não cooperativa, esta
demonstra que desconhece a forma mais eficiente de resolução para o
seu conflito, e tal fato pode ocorrer por envolvimento emocional muito
alto com a causa, ou ainda por ausência de um processo maduro de
racionalização.

Conclui-se que as partes têm a ganhar com soluções cooperativas


para os seus litígios, ao invés de utilizar-se da competição para tentar
resolvê-los. Merece destaque também que, pensando de forma
puramente racional, as partes tendem a cooperar, mas não por razões
altruístas, mas sim visando a otimização de seus ganhos individuais.

CONCLUSÃO
A teoria dos jogos como ramo de estudo das situações estratégicas
que envolvem interações entre dois ou mais indivíduos tem por objetivo
traçar parametros comportamentais e soluções para importantes
questões envolvendo conflitos entre dois sujeitos.

Apesar de a teoria ter se iniciado com teoricos que apontavam


para um resultado baseado na derrota de uma parte e vitória da outra, a
partir de John Forbes Nash, aceitaram-se novos conceitos para a teoria,
que revolucionaram a economia com o conceito de equilíbrio. Nash
rompeu com o paradigma econômico da competição.

A maneira como a sociedade funciona pressupõe a ideia de


competição em quase todos os seus ramos, assim, o equilíbrio de Nash
surge no sentido contrário ao demonstrar matematicamente que a
cooperação entre indivíuos pode ser mais vantajosa do que a
competição. Naturalmente a cooperação não pode ser aplicada em todos
os ramos mas em termos de conflitos judicais está provada a grande
importancia deste instituto para o benefício de ambas as partes.

Podemos concluir que a teoria dos jogos é especialmente


importante para a mediação e demais processos autocompositivos por
permitir respostas a complexas questões, inclusive de cunho ético.

Com base na teoria dos jogos, pode-se perceber que nos conflitos
de relações contínuas as partes tendem a ganhar com soluções
cooperativas. É importante perceber também a racionalidade envolvida
nisto, pois independentemente de questões éticas, as partes que auferem
ganhos ao cooperar estão acima de tudo otimizando os seus ganhos
individuais.

BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma
fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. In:
AZEVEDO, André Gomma de (Org.). Estudos em arbitragem, mediação
e negociação. Brasília: Ed. Grupos de Pesquisa, 2003. V. 2.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o
desperdício da experiência. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000.

http://www.cnj.jus.br/images/programas/conciliacao/manual_mediaca
o_judicial_4ed.pdf

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