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Desenvolvimento territorial

organizações e gestão

Brasília, 2006
Prof. Dr. Naomar de Almeida Filho Prof. Dr. Antônio Nazareno Guimarães Mendes Prof. Dr. Paulo Speller
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REVISOR
Leonardo Menezes
Sumár io

Apresentação ................................................................................ 7
Ícones Organizadores ................................................................... 9

Tema 1 Território e ambiente organizacional 11


1.1 Organizações e Ambiente: conceitos e significados................. 11
1.2 Território: conceitos e dimensões de espaço e tempo.............. 17
1.3 Território Organizacional............................................................ 21
1.4 Considerações finais.................................................................. 23

Tema 2 Gestão Contemporânea e Gestão Social 27


2.1 O que significa gestão?.............................................................. 27
2.2 Eficiência, eficácia e efetividade: palavras-chave na gestão.... 30
2.2.1 Existe receita para fazer uma gestão eficiente,
eficaz e efetiva?............................................................. 31
2.3 Gestão social: conceitos e significados..................................... 34
2.4 Campos da Gestão Social e Interorganizações........................ 37
2.5 Desafios e proposições na gestão do desenvolvimento social. 42
2.6 Quem é e qual o perfil para o gestor do desenvolvimento social?.. 45
2.7 Considerações finais........................................................................... 48

Tema 3 Desenvolvimento e Industrialização 51


3.1 Desenvolvimento como crescimento econômico....................... 51
3.1.1 Primeira revolução industrial........................................... 52
3.1.2 Primeira revolução industrial........................................... 53
3.2 Desenvolvimento e desequilíbrio............................................... 54
3.3 Desenvolvimento local, integrado e sustentável........................ 56
3.4 Conceitos relevantes para compreender o desenvolvimento
territorial.................................................................................... 59
3.4.1 Região............................................................................. 59
3.4.2 Primeira revolução industria............................................ 60
3.4.3 Capital social................................................................... 63
3.4.4 Governança..................................................................... 64
3.4.5 Infra-estrutura.................................................................. 66
3.4.6 Indicador de desenvolvimento humano.......................... 66
3.5 Sistematizando o conceito de desenvolvimento territorial......... 68

Tema 4 Interorganizações e Gestão do Desenvolvimento 75


4.1 Desenvolvimento sócio-territorial, escalas de gestão e interor-
ganizações — uma introdução.................................................. 75
4.2 Principais teorias que explicam as interorganizações............... 77
4.3 Em síntese.................................................................................. 85

Tema 5 Estado, Sociedade e Desenvolvimento 89


5.1 Desenvolvimento como crescimento econômico....................... 89
5.2 Definindo o que é a Sociedade Civil.......................................... 90
5.3 Breve histórico da formação do Estado..................................... 91
5.3.1 Do Estado Liberal ao Estado Intervencionista................ 92
5.3.2 A entrada em cena do Estado neoliberal........................ 93
5.4 Estado no Brasil: O caráter patrimonialista............................... 95
5.4.1 O Estado no Brasil: dos anos 30 aos anos 80................ 96
5.4.2 O Estado no Brasil: Dos Anos 90 em Diante................. 96
5.5 Estado e Sociedade no Brasil: O cenário atual......................... 97
5.6 Considerações Finais................................................................. 98

Tema 6 Sustentabilidade nos Negócios Orientados para p Desenvolvimento 103


6.1 Desenvolvimento sustentável: retrospectiva histórica............... 104
6.2 Desenvolvimento Sustentável: Um Conceito “Multiuso”............ 106
6.3 Sustentabilidade nos Negócios: Um imperativo e uma oportu-
nidade........................................................................................ 108
6.4 O Bom Negócio da Sustentabilidade......................................... 110
6.4.1 Forças de Pressão Externas........................................... 110
6.4.2 Forças de Pressão Internas............................................ 111
6.5 Conclusão................................................................................... 113

Referências....................................................................................... 117
Apresentação

Caro (a) aluno (a)


A idéia central desta primeira disciplina é que você tenha uma
visão geral sobre os assuntos relativos ao Desenvolvimento Re-
gional Sustentável, que serão abordados durante o nosso MBA.
Vários dos temas aqui tratados serão recorrentes durante todo
o curso.
Território, ambiente, interorganizações, arranjos produtivos, eco-
nomia solidária, parcerias, redes, entre outras, são palavras que
escutamos no nosso cotidiano e que vêm fazendo parte do vo-
cabulário do gestor contemporâneo. Tais palavras devem cada
vez mais ser internalizadas e compreendidas em seus sentidos
amplo e específico, a fim de promovermos uma sociedade justa,
economicamente viável e ambientalmente sustentável.
Nesse módulo, buscamos esclarecer alguns conceitos básicos re-
lacionados ao desenvolvimento territorial, organizações e gestão.
No tema 1, Território e ambiente organizacional, são apresen-
tados os conceitos de organizações e território, mostrando suas
diferentes formas e estruturas. Para isso, são explicadas como
se configuram em distintas escalas de espaço e tempo.
No tema 2, Gestão Contemporânea e Gestão Social, é inicial-
mente questionado o que é gestão moderna e quais suas dife-
renças com a gestão clássica. Destacam-se as palavras-chave
do gestor: eficiência, eficácia e efetividade. A gestão social, em-
preendida no Estado, mercado e sociedade civil é caracterizada
como definição emergente da contemporaneidade, sendo deta-
lhados seus fundamentos e dimensões no sentido da gerenciar
o desenvolvimento social e as interorganizações. Neste contex-
to, são destacadas as habilidades e competências necessárias
ao gestor social do desenvolvimento.
No tema 3, Desenvolvimento territorial: conceitos e dimen-
sões, são detalhados os aspectos históricos do desenvolvimen-
to, a partir da Revolução Industrial, mostrando suas diferentes
vertentes desde o crescimento econômico à noção de desenvol-
vimento local, integrado e sustentável. Apresentam-se também
outros conceitos básicos necessários para a compreensão do
desenvolvimento territorial, tais como: região, territorialidade, ca-
pital social, infra-estrutura, entre outros.
No tema 4, Interorganizações e Gestão do Desenvolvimento
Sócio-territorial, aprofundamos tais conceitos, já trabalhados
no tema 2 e 3. Estudaremos as principais teorias que contri-
buem para a formação do conceito de interorganizações, citan-
do as novas formas organizacionais que emergem no contexto
do desenvolvimento territorial.
No tema 5, Estado, sociedade e desenvolvimento, consolida-
mos as bases para compreensão dos processos de desenvolvi-
mento. Conceitua-se e caracteriza-se o Estado e a sociedade
civil, que são os principais elementos no processo desenvolvi-
mentista. São apresentadas as transformações ocorridas nes-
tas entidades, enfatizando a ampliação do espaço público e os
novos atores sociais na promoção do desenvolvimento.
Por fim, no tema 6, Sustentabilidade nos negócios orien-
tados para o desenvolvimento, falamos de outro segmento,
além do Estado e da sociedade civil, responsável pela promoção
do desenvolvimento. Trata-se do mercado, que possui um papel
fundamental neste contexto e deve basear-se nas noções de
sustentabilidade.
Após concluir o estudo desta apostila, conjuntamente com as
videoaulas e realização das atividades no ambiente virtual ao
longo da disciplina, pretende-se que você esteja apto a identifi-
car os diferentes conceitos relacionados às organizações e terri-
tórios, situando o campo da gestão social do desenvolvimento.

Tânia Fischer
Ícones organizadore s

Conhecimentos, habilidades e Espaço reservado para você


atitudes a serem desenvolvidos fazer anotações relativas ao
por você. tema estudado.

Conceitos ou idéias que Pensamento aprofundado de


merecem destaque. pontos importantes.

Após a leitura do tema, é Após finalização do tema,


solicitado que você siga para a recomendamos que você faça
videoaula do tema em estudo. uma síntese dos assuntos
estudados para consolidação
da aprendizagem.
Tema 1
Território e Ambiente Organizacional

Uma palavrinha inicial


Nesse tema, trataremos dos conceitos de território e de am-
biente organizacional, buscando demonstrar qual o campo de
atuação dos processos de desenvolvimento regional sustentá-
vel, foco do nosso curso. Mostraremos, nesse contexto, como
se configuram as dimensões, formas e estruturas organizacio-
nais e dos territórios, em diferentes escalas, espaços e tempos.

Ao final desse estudo você deverá:


• Reconhecer os conceitos de organizações e território
• Identificar como se configuram os ambientes organiza-
cionais e territoriais em diferentes escalas (micro, mes-
mo e macro)

1.1 Organizações e Ambiente: conceitos e significados


Alguns significados são normalmente atribuídos à palavra orga-
nização:

ato ou efeito de organizar(-se); modo pelo qual


um ser vivo é organizado; conformação, estrutura;
modo pelo qual se organiza um sistema; associa-
ção ou instituição com objetivos definidos; orga-
nismo; a designação oficial de certos organismos;
planejamento, preparo (FERREIRA, 1999).

As organizações, enquanto objeto de estudo das Ciências Hu-


manas e Sociais, configuram-se de diferentes formas e caracte-
rizam-se sob diferentes acepções. Dentre elas, podemos citar:
12 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

1. Organização como ordem, significando ordenar: a or-


ganização de tarefas, a organização do tempo, a orga-
nização do espaço etc..

2. Organização como entidade, que é o mesmo que or-


ganismo e, de modo geral, instituições formalizadas,
por exemplo: as organizações ou instituições religiosas
(igrejas), de ensino (escolas, faculdades, universida-
des), de saúde, financeiras (bancos); as organizações
públicas e privadas; as empresas, etc.

3. Organização como processo, isto é: como processo


social e como resultado desse processo, configurando
o conjunto e produto de relações sociais. Podem ser
citados os mesmos exemplos das organizações como
entidade, considerando também o processo que esta-
belece a dinâmica e a vida da organização.
A organização como ordem, remete à função gerencial de
organizar determinadas estruturas, materiais e pessoas com
vistas a se atingir determinado objetivo. Ou seja, consiste no
estabelecimento da forma e estrutura de como deve funcionar
determinado processo.
A organização como entidade ou instituição, é uma das con-
cepções mais analisadas, tendo em vista a diversidade de formas
e especificidades de atuação que possuem, seja na área pública
ou privada. Os termos organização e instituição freqüentemente
vêm sendo utilizados como sinônimos, porém convém explicar a
dualidade presente no próprio emprego corrente destes termos,
com base na Sociologia e na Teoria Organizacional.
Um dos conceitos clássicos de organização é estabelecido por
Talcot Parsons apud Menegasso (2002, p. 108), como “unidades
sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente constru-
ídas e reconstruídas, com vistas a alcançar objetivos específi-
cos”. Tal conceito é aceito por autores como Etzioni (1974) que
analisa as organizações complexas com características burocrá-
ticas, voltadas para a consecução de metas específicas.
Lapassade (1983) diferencia grupos, organizações e instituições
como níveis do sistema social, elucidando os diferentes momen-
tos em que se constituem. Considera que os grupos formam o
nível da “base” e da vida cotidiana das instituições. O segundo
nível é o da organização ou do grupo que se rege, por novas
normas, sendo este o nível da burocracia. O terceiro nível, da
instituição, compreende, portanto, ao mesmo tempo, grupos
sociais oficiais (empresas, escolas, sindicatos) e “sistemas de
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 13

regras que determinam a vida desses grupos”. Ressalta que


o conceito de instituição modificou-se desde o Século XIX, em
que foi utilizado de diferentes formas na área jurídica e na antro-
pologia, passando a ser, a partir do começo do Século XX, com
Durkheim, um conceito central na Sociologia.
Oliveira (2002, p. 13-14) explicita a relação entre os conceitos
de organização e instituição de forma bastante clara, afirmando
que a instituição é o suporte das organizações. Estas constituem
sua parte visível, mutável, em torno do cumprimento de funções
comuns às sociedades, definidas mais abstratamente enquanto
instituições sociais: socialização dos membros jovens, ou edu-
cação; defesa; reprodução biológica, produção da vida material,
entre outras. Nesse sentido, a autora se refere à existência de
uma parte institucional inconsciente, fruto do “conjunto de me-
mórias, comportamentos e ações que um determinado grupo so-
cial foi acumulando ao longo dos séculos e referente à resolução
dos principais problemas da vida humana”.
Weber apud Motta (1987), em sua Teoria da Burocracia (basea- Este é o sentido original
da no tipo ideal de racionalidade instrumental, normatização me- do conceito weberiano
diante regras e estatutos, hierarquia funcional e especialização de burocracia. No
profissional, dentro de princípios de subordinação e de continui- senso comum, porém, é
dade dos funcionários que a compõem) considera a organização compreendida apenas pelas
como relação dinâmica entre meios e recursos utilizados para suas disfunções, tomando
que os objetivos sejam alcançados eficientemente. muitas vezes um caráter
pejorativo (MOTTA, 1987.;
Tendo em vista as diferenciações feitas até aqui, justifica-se a
MENEGASSO, 2002).
assertiva sociológica de Etzioni de que “muitas instituições são
organizações, mas nem toda organização é uma instituição”
(MENEGASSO, 2002, p. 112). Assertivas como esta, em con-
junto com o caráter “abstrato” apontado para a instituição, pela
maioria dos autores, torna difícil, para o “senso comum”, a com-
preensão de sua distinção em relação às organizações “concre-
tas”, “do plano da subjetividade”, o que acaba por gerar um uso
relativamente indiferenciado dos dois termos.
14 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Passemos agora à análise da organização como processo.


Há uma tendência a se privilegiar essa concepção, conceben-
do-se a organização como algo dinâmico que está sempre se
construindo, reconstruindo-se, transformando-se e mudando.
Nesse direcionamento também há uma tendência a se superar
a idéia de organização como algo absolutamente racional, dada
a natureza do homem, cuja racionalidade é evidentemente limi-
tada, e como tal, produz entidades que, apesar dos esforços,
fogem aos padrões racionais.
A organização é concebida, portanto, como algo que possui uma
racionalidade limitada. Por fim, reconhece-se geralmente que a
organização não é algo simples, mas complexo, porque é proces-
so antes de ser instituição, e sua racionalidade é limitada, bem
como porque envolve diversas dimensões e elementos. Como
processo, pode também ser concebida enquanto sistema aberto
em que há finalidades (públicas ou privadas) a serem atingidas
e, para tanto, possui entradas (matérias-primas, informações,
recursos financeiros etc.), que passam por transformações em
vários subsistemas (marketing, produção, administração etc.) e
Para dar conta dessa resultam em produtos e serviços para a sociedade. Assim, a
complexidade, o campo organização constitui-se como um sistema complexo:
dos estudos organizacionais
• possui objetivos múltiplos, objetos empíricos e proces-
integrou outros campos de
conhecimento, tais como os
sos sociais (CLEGG, 1996);
da Sociologia, da Psicologia, • compõe-se além de recursos materiais, financeiros e
da Política, da Antropologia,
informacionais, de indivíduos, com seus sentimentos,
da Comunicação, da
conhecimentos, motivações, ações, relações, etc. e de
Informática, da Engenharia,
da Lingüística, da Semiótica,
grupos de indivíduos ou grupos sociais, bem como de
da Filosofia, etc. relações interpessoais e sociais entre esses;

• é, na sua totalidade, uma organização social, econômi-


ca, política e cultural;

• mantém, com outras organizações e com a realidade


em geral, relações sociais, econômicas, políticas, cul-
turais, institucionais, etc.
Pode-se afirmar, portanto, que as organizações atuam nos mais
diferentes campos necessários à vida humana e que se concre-
tizam a partir das demandas da sociedade, que vão gerando a
cada dia novas formas organizacionais (CLEGG, 1996). Nesse
sentido, Hardy e Clegg (1996) definem as organizações como

espaços de ação social, mais ou menos abertas,


onde se distinguem campos disciplinares e de prá-
ticas definidas como Marketing, Produção e outros;
bem como tópicos de caráter fluido e interdiscipli-
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 15

nar como gênero e cultura que remetem a campos


disciplinares e a conexões interdisciplinares como
Antropologia, Sociologia, Política e várias outras
disciplinas. (HARDY e CLEGG, 1996).

A partir de tal definição, podemos inferir que ao longo da traje-


tória da humanidade, as organizações cresceram em número,
em diversidade e, por conseguinte, em importância. A realidade
humana tornou-se, assim, uma realidade organizacional. O ho-
mem contemporâneo, desde o seu nascimento até a sua morte,
relaciona-se com (e integra-se a) inúmeras organizações (desde
a família, as empresas, organizações públicas, ONGs, etc.) com
diferentes finalidades, de modo que esse homem pode ser con-
siderado, em certa medida, um ser organizacional inserido em
um dado ambiente.

Para dar início ao entendimento do que seja ambiente, podemos


recorrer a um dicionário como o Novo Aurélio, no qual encon-
tram-se os seguintes significados:

aquilo que cerca ou envolve os seres vivos ou as


coisas; meio ambiente; lugar, sítio, espaço, recin-
to; meio; conjunto de condições materiais e mo-
rais que envolvem alguém; atmosfera; ambiência Faça uma comparação dos
(arquitetura); num enunciado, a vizinhança de um ambientes que você freqüenta
dado elemento lingüístico (lingüística); conjunto de (no trabalho, em casa, com os
características gerais de um computador, sistema
operacional, ou programa; configuração (informáti- amigos, etc.) e perceba suas
ca) (FERREIRA, 1999). características.

Como se pode ver, assim como o termo ‘organização’, o ambiente


é hoje amplamente empregado sob os mais diversos significados,
dentre os quais se destacam os que apresentaremos a seguir.
Quando indagamos a alguém o que entende por ambiente, a res-
posta quase sempre faz referência ao ambiente natural, à nature-
za. Nesse sentido, considera-se que o ambiente é composto pelo
ar, a água e o solo, além de tudo que nele é tido como natural.
Também é entendido como ambiente aquele que resulta dos va-
lores, crenças e diferentes manifestações humanas, chamado
de ambiente cultural.
O ambiente natural e o ambiente cultural compõem juntos o
meio ambiente, que idealmente devem estar em equilíbrio.
Ambiente pode ser ainda entendido como tudo aquilo que é
próprio de um lugar específico, como as condições que fazem
daquele lugar algo desejável ou indesejável, adequado ou ina-
dequado. Nessa perspectiva, são identificados o ambiente da
festa, o ambiente da rua, o ambiente do prédio, o ambiente do
trabalho, etc.
16 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

O conceito de ambiente organizacional surgiu com a concepção


sistêmica de organização, isto é, a organização como um con-
junto de partes articuladas entre si, um sistema organizacional.
O sistema organizacional está inserido em um sistema mais am-
plo, o sistema ambiental, com o qual se relaciona.
Na relação entre o sistema organizacional e o sistema ambien-
tal, identifica-se uma outra característica do sistema organizacio-
nal, que é a de ser aberto. Mas, ao conceituarmos a organização
como um sistema aberto, torna-se difícil definir quais são os limi-
tes da própria organização, e estabelecer onde começam ou onde
terminam o sistema organizacional e o sistema ambiental. Sendo
assim, considera-se que aquilo que integra o sistema organiza-
cional de certa forma integra também o sistema ambiental. Por
exemplo, cada indivíduo que integra um sistema organizacional
integra também um sistema ambiental, porque esse indivíduo é
parte da sociedade mais ampla. É por isso que se entende que o
sistema organizacional, ao ser social, é também aberto.
Considerando tais significados, podemos induzir o que vem a
ser o ambiente organizacional. Podemos pensar em ambiente
organizacional como aquele ambiente no qual a organização se
insere, ou como algo que envolve a organização. Constitui-se
como a interação dos diversos elementos internos que compõem
a organização, como proprietários, colaboradores, estrutura físi-
ca, etc. (ambiente interno); bem como a relação desses com os
elementos externos que interagem direta ou indiretamente com
a organização, tais como: competidores, clientes, parceiros, for-
necedores, regulamentações políticas, ambientais, econômicas,
etc. (ambiente externo).
A relação entre organização e ambiente pode ser concebida de
três formas, em função da influência de cada um dos lados so-
bre o outro:

• A primeira concepção, que tem origem na teoria da


contingência, considera que o ambiente determina a
organização, restando a esta última adaptar-se a ele.
Segundo esse ponto de vista, é o ambiente que impõe
as mudanças organizacionais.

• A segunda concepção é diametralmente oposta à pri-


meira: considera que a organização é capaz de de-
terminar inteiramente o ambiente e impor mudanças
ambientais que atendam a necessidades ou interesses
dela própria.

• A terceira concepção representa um meio termo entre


as duas primeiras, ao estabelecer uma relação dialé-
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 17

tica entre a organização e o ambiente. Segundo esse


ponto de vista, o ambiente influencia fortemente a orga-
nização, chegando eventualmente a impor mudanças
mas, por outro lado, o ambiente pode ser influenciado
pela organização a ponto de sofrer também mudanças
provocadas por ela.
Desenvolvendo ainda mais o conceito de ambiente, podemos
fazer uma distinção entre o ambiente intra-organizacional e o
ambiente interorganizacional.

O sistema organizacional, ou a organização, pode ser um ambiente intra-organizacional


quando a organização for apenas uma, ou ambiente interorganizacional quando o
sistema for composto por mais de uma organização, como as redes organizacionais.
Vale observar que os dois arranjos organizacionais irão definir os tipos de estrutura.

O sistema ambiental é sempre o ambiente interorganizacional,


porque é composto por várias organizações independentes e in-
tegradas, como por exemplo as redes organizacionais. Nesse
caso, é possível identificar fatores sociais, econômicos, políticos,
culturais, tecnológicos, institucionais, espaciais, etc.; mercado,
clientes, fornecedores, agências reguladoras, etc.; concorren-
tes, novos entrantes ou entrantes potenciais, produtos substitu-
tos, fornecedores e compradores; acionistas, força de trabalho,
fornecedores e clientes; e partes interessadas (stakeholders).

1.2 Território: conceitos e dimensões de espaço e tempo


O termo ‘território’ não é tão usado quanto ‘ambiente’, mas é O Brasil é o quinto maior
geralmente entendido como uma porção de solo, água e ar den- país do mundo em superfície,
tro de limites relativamente definidos, que pertence a um país, a com uma área total de
um Estado, ou a uma nação. O povo ou a sociedade — do país, 8.547.403,5 km2 e 175
do Estado, da nação — possui o território, ao mesmo tempo em milhões de habitantes.
que pertence a ele. O território nacional e federal brasileiro
está divido em territórios estaduais e municipais, bem como em
territórios regionais e locais.
Genericamente, a idéia de território refere-se à parcela ge-
ográfica apropriada por um grupo humano ou animal, ou por
um indivíduo, visando assegurar sua reprodução e satisfa-
ção de suas necessidades vitais. Há vários sentidos figura-
dos da palavra território; todos conservam a idéia de domí-
nio pessoal ou coletivo, remetendo a diferentes contextos e
escalas: a casa, o escritório, o bairro, a cidade, a região, a
nação, o planeta. Cada território é conseqüentemente mol-
18 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

dado a partir da combinação de condições e forças internas


e externas, devendo ser compreendido como parte de uma
totalidade espaço-temporal.
Para Vieira e Vieira (2002, p. 47) os conceitos de espaço e tem-
po têm recebido um amplo tratamento teórico, particularmente
nos estudos geográficos. Os autores afirmam que

o espaço e o tempo constituem categorias analíti-


cas importantes nos estudos econômicos e geográ-
ficos. Há uma indissociabilidade na noção espaço-
tempo, principalmente, considerando a origem do
espaço e do tempo atribuída pela física teórica e
experimental. Para a física moderna, principalmen-
te após Einstein (1905), a matéria cria o espaço e o
movimento da matéria cria o tempo. Como ambos
formam uma indissociabilidade, tem-se a configura-
ção da unidade espaço-tempo. (VIEIRA e VIEIRA,
2002, p. 47).

A conceituação de espaço-tempo está, portanto, ligada à idéia


de um universo dinâmico. Segundo Hawking apud Vieira e Vieira
(2002, p. 47):

o espaço e o tempo são atualmente considerados


quantidades dinâmicas: quando um corpo se move,
ou uma força atua, afeta a curva do espaço e do
tempo e, por sua vez, a estrutura do espaço-tem-
po afeta a forma como os corpos se movem e as
forças atuam. Espaço e tempo não apenas afetam,
mas também são afetados por qualquer coisa que
aconteça no universo. (HAWKING apud VIEIRA e
VIEIRA, 2002, p. 47):

Para Santos (1996, p.252), há uma “multiplicidade de ações fa-


zendo do espaço um campo de forças multicomplexo, graças à
individualização e especialização minuciosa dos elementos do
espaço”. O espaço econômico parece assumir, presentemente,
uma proeminência em relação aos demais: espaço social, es-
paço cultural, espaço político, etc. A espacialidade mundial, na
nova economia, destaca o papel do lugar, que embora constru-
ído por singularidades próprias é, dela, parte irrefutável, justifi-
cando a afirmação de Souza (1995) de que “todos os lugares
são virtualmente mundiais”. Na nova configuração da espacia-
lidade econômica global há uma redescoberta da dimensão do
lugar, conforme Fischer (1994).

Com base na idéia de espacialidade, o território pode se compre-


endido sob diferentes dimensões (ALBAGLI e BRITO, 2003):
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 19

(a) física – refere-se a suas características e condições


naturais (clima, solo, relevo, vegetação) e daquelas re-
sultantes dos usos e práticas territoriais por parte dos
grupos sociais;

(b) econômica – organização espacial dos processos de pro-


dução econômica – o que, como e quem nele produz;

(c) simbólica – as ligações afetivas, culturais e de iden-


tidade do indivíduo ou grupo social com seu espaço
geográfico;

(d) sócio-política – meio para interações sociais e relações


de dominação e poder – quem e como o domina ou in-
fluencia.

Ao analisarmos tais dimensões, percebemos que a noção do Qual a importância de


senso comum sobre o território apenas como o espaço físico participar de um espaço social,
que está sob o poder, ou domínio, ou mesmo sob controle levando em consideração os
do Estado deve ser ampliada. No território de um Estado, valores coletivos no qual você
além do próprio poder e de espaço físico, encontram-se so- se insere.

ciedades, economias, culturas, instituições, etc. Esse terri-


tório não é só espaço físico, mas, também, espaço social
que possui diferentes escalas de tamanho e abrangência.
Logo, o território pode ser conceituado como o resultado da
relação entre homem e espaço, isto é: Território = Homem
+ Espaço. Homem entendido como o indivíduo e coletivida-
de, grupo social, organização, sociedade, etc.; espaço como
espaço geográfico, que por sua vez é espaço físico e espaço
social, e, sendo social, também é espaço econômico, políti-
co, cultural, institucional etc.
Cabe aqui estabelecer as diferenças entre espaço físico e es-
paço social: l) na relação sociedade/espaço, se reconhece uma
ordem e uma hierarquia a partir do papel ativo desempenhado
pelos homens com respeito ao meio físico; 2) o estudo do espa-
ço em seu aspecto físico não permite analisar todos os proces-
sos sociais nele sintetizados; 3) somente quando compreendido
como produto global de estruturas e práticas sociais dialéticas
articuladas é que o espaço construído se converte em poderoso
instrumento de mudança social. As três diferenciações estabele-
cidas ressaltam a importância do meio físico como suporte para
a construção do espaço social e econômico, ou seja, o espaço
construído, e que gera processos evolutivos na relação socieda-
de/natureza (BARRIOS apud VIEIRA, VIEIRA, 2002).
Os espaços podem ser caracterizados em diferentes escalas, ou
seja, instrumentos conceituais, metodológicos e técnicos necessá-
20 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

rios para alcançar a interpretação entre um objeto e seu observa-


dor. As escalas são categorias dimensionais e formas de concei-
tualização que envolvem conceitos multidisciplinares relacionados
a espaço, tempo, natureza e lugar (REBORATTI, 2001).
Além de medir em termos técnicos, por exemplo, uma superfície
ou uma distância num território físico, as escalas possuem dife-
rentes tamanhos (do micro ao macro) e dependem da relação
dos objetos que analisamos para delimitar um território.
Na Sociologia e Demografia, por exemplo, há uma tendência
à focalização da ótica dos problemas no nível micro, que tem
gerado uma série de ações com relação ao que chamamos de
local em contraponto com o global. Outro exemplo, são as clas-
sificações sobre as escalas entre o urbano e o rural, o nacional
e o multinacional. Deve-se atentar que embora essas estejam
claras em sua primeira compreensão, muitas vezes são difusas
quando analisamos algumas especificidades territoriais. Se fa-
larmos de um pequeno povoado com 300 habitantes, está claro
que nos referimos ao local, bem como se falamos sobre uma in-
dústria petrolífera internacional instalada nas proximidades des-
sa população, estamos enfocando o global. Porém, o que se
passa entre um e outro? O sentido comum geográfico, portanto,
não consegue explicar o que acontece entre o local, o regional,
o nacional e multinacional, o continental e o mundial.
Outro exemplo, é quando indagamos: o que seria o local numa
grande metrópole na América Latina, com 10 a 12 milhões de
habitantes? Quais os critérios que são utilizados para delimitar
no Brasil as chamadas mesorregiões? O que é local num con-
texto de globalização econômica?
Com a nova ordem econômica internacional, os lugares passaram
a desempenhar um importante papel na definição das estratégias
globais. Os lugares são disputados pela posição estratégica, pelas
vantagens oferecidas, pela logística instalada e pela infra-estrutura,
elementos que permitem realizar, com eficiência e custos reduzidos,
as operações produtivas e circulatórias no processo de globalização.
Vieira e Vieira (2003) destacam que dentro da nova categorização de
lugar, podem-se perceber os lugares-locais e os lugares-globais. O
lugar-local é o espaço da herança histórica, base de sustentação do
território organizado; dele se projeta a percepção de realidades cons-
truídas no passado, modernizadas de acordo com os ritmos econômi-
cos e renovadas com os avanços culturais. O lugar-global é a defini-
ção do espaço em função do processo de globalização da economia;
é o espaço para as estratégias mundiais das grandes corporações
multinacionais, estabelecendo redefinições territoriais e mudanças
nos procedimentos de gestão. A gestão do território, na nova dimen-
são dos lugares, depende das forças que sobre ele atuam.
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 21

Para discutir os espaços territoriais orientadas para o desenvolvimen-


to regional sustentável, é preciso também compreender que existem
poderes espacialmente localizados, com sua fragmentação e recon-
figuração multiescalares em cidades, regiões e outros recortes orga-
nizacionais (FISCHER, 2002). No tema 3, adiante, aprofundaremos
a relação entre os poderes locais/globais e territórios.

1.3 Território Organizacional


As definições de território o associam sempre ao Estado, como
nação ou país, o que pode ser estendido aos estados e municí-
pios, mas não permite compreender o território organizacional.
Dessa forma, analisados os conceitos de organização, ambiente
e território, cabe agora associá-las para compreender a noção
de território organizacional.
O desenvolvimento dos conceitos de ambiente organizacional e
de território organizacional permite-nos ampliar nossa capacida-
de de análise e de gestão da realidade organizacional.
O conceito de território organizacional pode ser entendido, tal
qual o ambiente, na perspectiva sistêmica, dentro da qual são
definidos o sistema do território organizacional e o sistema do
território ambiental.
O território organizacional, um sistema aberto, está inserido em
um sistema mais amplo, o território ambiental, com o qual ele se
relaciona. Ao se relacionar com o território ambiental, o territó-
rio organizacional alimenta o seu processo de produção com a
obtenção de insumos do território ambiental e destina o produto
desse processo para o próprio território ambiental.
No campo dos estudos organizacionais, é possível pensar a relação
entre território-organização e território-ambiente de duas formas:

• o território-ambiente determina o território-organiza-


ção, restando a esse adaptar-se ao primeiro;

• o território-ambiente pode influenciar o território-orga-


nização, assim como o território-organização pode in-
fluenciar o território-ambiente.

Pode-se conceituar território organizacional como aquele território que pertence


a uma organização, ou do qual a organização faz parte. Assim, é um produto de
relações entre a organização, com todos que a integram, e o espaço (físico e social);
sendo essas relações sociais, econômicas, políticas, culturais, institucionais, etc.
22 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Desse modo, por exemplo, é suficiente existir um indivíduo mem-


bro de uma organização se relacionando por meio da internet
com outros membros da própria organização ou com pessoas
outras que não pertençam à organização para que se configure
um território organizacional.

O conceito de território organizacional, além de possibilitar a


análise e a gestão organizacional, ainda possibilita a expansão
da realidade organizacional, com continuidade e sem limites,
em função do próprio conceito de espaço em termos ampliados
(MAC-ALLISTER, 2003).
Ao trazer para a análise e para a gestão da realidade organiza-
cional o conceito de território organizacional e, em correlato, o
conceito de espaço organizacional, possibilita-se a revisão da
dimensão espaço-temporal da referida realidade. Para a revisão
da dimensão espaço-temporal da realidade organizacional, po-
demos recorrer a Milton Santos (1994):

[...] a questão do tempo pode ser trabalhada ao me-


nos segundo dois eixos – um é o eixo das suces-
sões e o outro é o eixo das coexistências. O tempo
flui e por conseguinte um fenômeno vem depois de
outro fenômeno. [...] A cada momento se estabele-
cem sistemas do acontecer social que caracterizam
e distinguem tempos diferentes, permitindo falar de
hoje e de ontem. Esse é o eixo das sucessões. Te-
mos também o eixo das coexistências, da simulta-
neidade. Em um lugar, em uma área, o tempo das
diversas ações e dos diversos agentes, a maneira
como utilizam o tempo não é a mesma. Os respec-
tivos fenômenos não são apenas sucessivos, mas
concomitantes, no viver de cada hora. Para os di-
versos agentes sociais, as temporalidades variam,
mas se dão de modo simultâneo. [...] Poderíamos
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 23

mesmo dizer com certa ênfase, talvez com um certo


exagero, que o tempo como sucessão é abstrato e
o tempo como simultaneidade é o tempo concreto,
já que é o tempo da vida de todos. O espaço é que
reúne a todos, com suas diferenças, suas possibi-
lidades diferentes do uso do espaço (do território)
relacionadas com possibilidades diferentes de uso
de tempo (SANTOS, 1994).

A partir dessa perspectiva de Milton Santos sobre a dimensão


espaço-temporal, podemos reconhecer a realidade organizacio-
nal como possuindo diversos espaços (ou territórios) e tempos,
e diferentes possibilidades de uso do espaço (ou território), rela-
cionadas com as diferentes possibilidades de uso do tempo. Em
função dessa diversidade, cada realidade organizacional requer
análises específicas e gestões adequadas.
Esse ponto de vista permite-nos questionar, por exemplo, a cren-
ça de que a globalização e a crescente instabilidade ambiental
impõem mudanças organizacionais tais como a flexibilização de
sua estrutura, para uma maior adaptação ao ambiente. Dessa
forma podemos ponderar que:

• o ambiente, ainda que globalizado e instável, pode


apresentar várias situações e diversos ritmos;

• a organização pode desenvolver processos diferencia-


dos em momentos também diferenciados;

• diante da globalização e da instabilidade ambiental,


cada organização, na sua totalidade ou em parte, isto
é, cada território organizacional, pode encontrar a sua
forma específica e adequada de se definir ou de se
posicionar.

1.4 Considerações finais


Podemos compreender neste tema que a organização foi defi-
nida como entidade e processo de racionalidade limitada e com-
plexa, que se compõe de indivíduos (com seus sentimentos,
conhecimentos, motivações, ações, relações, etc.) e de grupos
de indivíduos ou grupos sociais, bem como de relações inter-
pessoais e sociais; é, na sua totalidade, uma organização social,
econômica, política, cultural, institucional, etc; e mantém, com
outras organizações e com a realidade em geral, relações so-
ciais, econômicas, políticas, culturais, institucionais, etc.
O ambiente organizacional foi conceituado em função da re-
lação entre a organização, um sistema aberto, e o ambiente,
o sistema no qual a organização se insere, considerando-se a
24 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

possibilidade do ambiente determinar a organização e a organi-


zação adaptar-se ao ambiente, e a possibilidade da organização
e o ambiente influenciarem um ao outro.
O território diz respeito ao produto de relações, por um lado,
entre indivíduos, coletividades, grupos sociais, organizações,
sociedades, etc., e, por outro lado, o espaço como espaço físico
e social, sendo essas relações sociais, econômicas, políticas,
culturais, institucionais, etc.

Diante os três conceitos anteriores, definimos como território organizacional um


produto de relações, por um lado, entre a organização, com todos que a integram,
e, por outro lado, o espaço como espaço físico e social, sendo essas relações
sociais, econômicas, políticas, culturais, institucionais, etc.

Os conceitos de ambiente organizacional e território organiza-


cional, juntamente com os conceitos de espaço e tempo, permi-
tem ampliar a capacidade de análise de modo a compreender
melhor a diversidade, a dinâmica e a complexidade da realidade
organizacional e, ao mesmo tempo, ampliar a capacidade de
gestão dessa realidade.

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema
1. Lembre-se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para
consolidação de aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 1. Portanto, agora


está na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
TEMA 1 TERRITÓRIO E AMBIENTE ORGANIZACIONAL 25

TEMA 1

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Tema 2
Gestão Contemporânea e Gestão Social

Uma palavrinha inicial


Em que consiste a gestão contemporânea? O que é gestão so-
cial? Como a gestão pode servir aos objetivos de transformar a
sociedade, promovendo o desenvolvimento?
A complexidade dos processos de gestão de organizações na
contemporaneidade requer gestores competentes, ou seja, ca-
pazes de dar respostas aos problemas econômicos, políticos e
sociais.
Neste texto discutiremos o campo da gestão social e seus desa-
fios, relacionando-o com os ideais de desenvolvimento, postos
em prática por processos que se propõem a mudar e reestru-
turar a sociedade. Discutem-se os requisitos da gestão social,
concluindo-se com premissas sobre um possível perfil de gesto-
res sociais.

Ao final desse estudo você deverá:


• Conhecer e diferenciar gestão moderna e gestão clás-
sica;
• Reconhecer as definições de eficiência, eficácia e efe-
tividade para a gestão;
• Reconhecer as habilidades e competências necessá-
rias ao gestor social do desenvolvimento;
• Identificar os campos da gestão social, interorganiza-
ções e seus desafios.

2.1 O que significa gestão?


Ao falarmos em gestão, as primeiras idéias que vêm a nossa
mente são relacionadas a administrar ou gerenciar organiza-
28 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

ções públicas ou privadas. A gestão pode ser vista como arte,


processo, ação e ciência.
Para Tenório (2001), gerenciar “é a ação de estabelecer ou inter-
pretar objetivos e de alocar recursos para atingir uma finalidade
previamente determinada”. Motta (2001) denomina como gestão
“a arte de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer aconte-
cer, de obter resultados” . Em ambas as definições, podemos
entender que tal conceito sempre está voltado para a consecu-
ção de objetivos previamente definidos, utilizando as melhores
formas possíveis para tal.
Tradicionalmente, a gestão está associada aos atos de exercer
funções gerenciais para alcançar determinados fins nas orga-
nizações. Assim, gerenciar é também o processo de planejar,
organizar, dirigir e controlar. Tenório (2001) explica as funções
gerenciais como sendo:
• Planejar: determinar a finalidade e os objetivos da or-
ganização, prevendo as atividades, os recursos e os
meios necessários para atingir os objetivos no tempo
desejado.
• Organizar: agrupar pessoas e recursos, definir atribui-
ções, responsabilidades e normas para atingir o que
foi planejado.
• Dirigir: conduzir e motivar as pessoas a cumprirem as
atividades planejadas conforme previsto.
• Controlar: comparar os objetivos e os recursos previs-
tos com os objetivos realmente alcançados e os re-
cursos efetivamente consumidos, a fim de corrigir ou
mudar os rumos fixados e os processos sucessivos de
“planejamento, organização, direção e controle”.
Tais funções gerenciais já eram destacadas nas duas primeiras
Jules Henri Fayol décadas do Século XX, por Henry Fayol, na Teoria Clássica da
(29/07/1841 - 19/11/1925) foi Administração, sendo denominadas como funções administra-
um dos teóricos clássicos da tivas, remetendo à previsão, divisão do trabalho, execução e
Ciência da Administração, acompanhamento.
sendo o fundador da Teoria
Clássica da Administração
Contemporaneamente, Fischer (2002) conceitua a gestão como
e autor de Administração
“um ato relacional que se estabelece entre pessoas, em espaços
Industrial e Geral.
e tempos relativamente delimitados, objetivando realizações e
expressando interesses de indivíduos, grupos e coletividades”.
Tal conceito remete ao gerenciamento como processo dinâmi-
co, constituído por ações mobilizadoras por parte de múltiplas
origens e tendo muitas direções, nas quais as dimensões da
prática e da teoria estão entrelaçadas. Nesse sentido, apren-
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 29

de-se a gerenciar com a prática e o conhecimento se organiza


para iluminá-la. Articular prática e teoria é desafio no campo
da gestão.
Mas em que tipo de espaços, coletividades ou processos ocorre
a gestão?
É claro que cada um de nós “administra”, de certa forma, sua
própria vida e seus afazeres particulares, mas a gestão torna-se
tanto mais necessária à medida que os sistemas sociais tornam-
se mais complexos. Assim, “administrar” nossa rotina pessoal
ou nosso grupo familiar demanda certamente menos esforços e
recursos que administrar uma secretaria estadual, uma entidade
filantrópica ou uma empresa multinacional.
Nesse sentido, é importante lembrar que as organizações de todos
os tipos, sejam elas organizações públicas, privadas ou da socie-
dade civil (como as ONGs) são criadas justamente para que as
pessoas alcancem objetivos que sozinhas não poderiam alcançar.

Desta maneira, os processos de gerenciamento são vistos como


fenômenos sociais que ensejam a emergência de desenhos or-
ganizacionais complexos e formas de gestão associadas a uma
pedagogia social em que se aprende, talvez, mais pelos erros do
que pelos acertos.
A gestão pressupõe liderança e mandato, tensões permanentes
entre construção e desconstrução, assimetria e contradições. Toda
a ação gestora, seja ela exercida por indivíduos ou coletividades,
orienta-se por princípios de mudança e desenvolvimento, seja de mi-
30 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

cro-unidades organizacionais, seja de organizações com alto grau


de complexidade. Devemos lembrar que quando falamos em orga-
nizações complexas, remetemos àquelas que permeiam todos os
aspectos da vida social da sociedade moderna, como, por exem-
plo, as empresas de negócios, as escolas, os hospitais, as igrejas,
as prisões, o exército, os órgãos do governo, os partidos políticos,
as fundações empresariais, as organizações não-governamentais,
os sindicatos, etc. Tais organizações requerem, portanto, processos
de gestão que viabilizem o alcance dos objetivos desejados. Deste
conjunto, cabe aqui destacar aquelas que atuam no campo social,
quer sejam ONGs, fundações empresariais, programas e projetos
governamentais interinstitucionais, ações de responsabilidade social
empresarial, movimentos sociais, entre outras.
Para fecharmos as primeiras idéias apresentadas até então, pode-
mos afirmar sinteticamente que a gestão contemporânea remete a:

• um processo social que implica em negociação e cons-


trução de significados sobre “as coisas que devem ser
feitas”;

• um componente central das organizações formais e,


como tal, depende da hierarquia que limita autoridade
e visibilidade;

• está dentro de contextos sócio-econômicos externos à


organização, contribuindo para a transformação sócio-
econômica e cultural destes;

• uma função, identificada com a pessoa do gerente,


mas passível de ser exercida por outras pessoas e
grupos circunstancialmente;

• Tem uma dimensão substantiva e outra simbólica, que


se traduzem em atos, pensamentos, valores, emoções,
ideologias; contribuindo para produzir não apenas bens
e serviços, mas identidades e subjetividades.

2.2 Eficiência, eficácia e efetividade: palavras-chave na gestão


Conforme já vimos anteriormente, as organizações são criadas
para que as pessoas alcancem objetivos que, sozinhas, não
poderiam alcançar; existem organizações privadas (empresas),
públicas (órgãos públicos) e da sociedade civil (como, por exem-
plo, as organizações não-governamentais). Tais organizações
requerem, portanto, processos de gestão que viabilizem o alcan-
ce dos objetivos desejados. Para tanto, necessitam trabalhar de
modo eficiente, eficaz e efetivo.
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 31

A eficiência diz respeito à alocação de recursos da melhor forma possível, com


menor consumo; a melhor forma de fazer algo com os recursos existentes; é como
fazer as coisas corretamente, ou seja, refere-se aos meios que utilizamos para atingir
objetivos. A eficácia refere-se à capacidade de cumprir o objetivo determinado; fazer
o que tem que ser feito; refere-se aos fins. A efetividade refere-se a capacidade
de efetivar resultados de modo eficiente, no tempo devido, tendo a capacidade de
atender às expectativas e demandas da sociedade (TENÓRIO, 2001).

Mediante os conceitos apresentados, podemos afirmar que se


pode ter uma ação gestora eficiente e não eficaz, bem como, efi-
caz e pouco eficiente. Além disso, podem ocorrer a eficiência
e eficácia, porém sem efetividade. Por exemplo, uma empresa
multinacional atuante na área de petróleo que se instale numa pe-
quena comunidade ribeirinha de baixa renda, tem como objetivos
além do lucro, gerar emprego e renda para tal população. Num
primeiro ano de funcionamento a companhia acaba empregando
vários dos moradores da comunidade local em seu quadro fun-
cional, capacita-os para as funções de modo eficiente, consegue
atingir metas estabelecidas quanto à produção de derivados do
petróleo. Um fato que ocorre, no entanto, é que mesmo diante
toda a eficiência e eficácia da gestão, acaba poluindo o rio, que
continua a ser a principal fonte de subsistência na região. Pode-
se, assim, questionar se a empresa foi efetiva.
Eficiência e eficácia vêm sendo comumente usadas como pala-
vras-chave do gestor. A efetividade, porém, nem tanto, embora
seja também fundamental e jamais deve ser esquecida, princi-
palmente quando tratamos a gestão no campo social.

2.2.1 Existe receita para fazer uma gestão eficiente, eficaz e


efetiva?
Até agora, tudo o que vimos remete a uma dimensão essen-
cialmente racional e técnica da atuação do administrador. A im-
pressão que fica é a de que se o gestor cumprir essas funções à
risca, terá sucesso. Sabemos “o que fazer” e “por que fazer”, e li-
vros que abordam “o como fazer”, do tipo “Como ser um gerente
eficaz”, “Como vender mais”, etc., são cada vez mais vendidos.
O que nós vemos é que, apesar do campo da administração
ser permeado por teorias e técnicas, não existe receita para o
sucesso. É evidente que há comportamentos gerenciais que são
comuns entre gerentes de sucesso, decorrentes de habilidades
que podem ser assimiladas e conquistadas na experiência co-
tidiana. Há técnicas que foram experimentadas, deram certo e
podem servir de referência, mas nunca reproduzidas totalmente
iguais, porque cada realidade é específica.
32 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Vale ressaltar, contudo, que existe uma dimensão não-técnica


que permeia a função gerencial. Acumular conhecimento sobre
administração é importante, mas por si só não garante a ação
desejada. Motta (2001) dá um exemplo simples que ilustra isso:
muitos médicos sabem que fumar prejudica a saúde e fumam;
o mesmo pode acontecer com o gestor: ele tem conhecimento
sobre liderança, mas isso não significa que na prática ele vai
liderar melhor.
Voltemos à definição de Motta (2001) sobre gerência: “a arte
de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer acontecer, de
obter resultados”. A palavra “arte” remete ao lado intuitivo, do
improviso, da criatividade que permeia os processos de gestão.
Isso porque as coisas não acontecem necessariamente como
se pensa, como se planeja, como se espera: o ambiente muda,
surgem coisas novas.
A atuação do dirigente é híbrida no sentido de mesclar a visão
prescritiva (ideal) da gerência — que se caracteriza pela racio-
nalidade administrativa, o planejamento, a formalidade — e a
visão realista da gerência — que trabalha com incertezas, frag-
mentação, pressões políticas, imediatismo, etc.
Considerando tudo isso, senso comum não basta, é necessário
sim buscar a formação. Neste sentido, Motta (2001) enfatiza que
o aprendizado gerencial envolve as seguintes dimensões: habili-
dades cognitivas, analíticas, comportamentais e de ação.
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 33

Quadro 1 – Habilidades Gerenciais

Desenvolver
Significa... Para...
a habilidade
Aprender sobre administração Saber categorizar
a partir do estoque de problemas administrativos
conhecimentos existentes e ver relações entre
sobre definição de objetivos e categorias. Compreender
Cognitiva formulação de políticas e as o particular por meio do
idéias sistematizadas sobre conhecimento do geral
estruturas, processos, técnicas e
comportamentos organizacionais
Aprender a decompor problemas
Saber a utilidade e a
administrativos, identificar
potencialidade das
variáveis fundamentais,
técnicas administrativas
Analítica estabelecer relações de causa
e adquirir mais realismo,
e efeito na busca de novas
profundidade e criatividade
soluções, objetivos, prioridades
na solução de problemas
e alternativas de ação
Aprender novas maneiras Comportar-se de forma
de interação humana dentre diferente do acostumado
padrões alternativos conhecidos para obter respostas
e validados socialmente, como comportamentais mais
Comportamental novas formas de comunicação, consistentes com objetivos
de interação grupal ou de de eficiência, eficácia,
exercer ou lidar com poder e satisfação e segurança no
autoridade trabalho
Aprender sobre si próprio, sobre Desenvolver capacidade de
sua função e sobre os objetivos interferir intencionalmente
e condições operacionais de no sistema organizacional,
De Ação sua organização. Desenvolver ou seja, de transformar
comprometimento com a missão objetivos, valores e
sócio-econômica da instituição conhecimentos em formas
em que trabalha efetivas de ação

Fonte: MOTTA, 2001, p. 29

O desenvolvimento de habilidades remete a conhecimentos que


se complementam e sobre liderança e relações interpessoais,
processo decisório, motivação, estratégia, poder, cultura e ao
desenvolvimento de criatividade e espírito de inovação. Ressal-
tando-se sempre que tudo isso envolve as dimensões da lógi-
ca/racionalidade e da intuição, do planejado e do inesperado,
enfim, das limitações do ser humano que é gestor.
O aprendizado é importante tanto para dirigentes de alto nível
hierárquico (nível estratégico) quanto para gerentes de nível in-
termediário (nível tático) ou para os níveis de supervisão (nível
operacional). Quanto mais conhecimento, mais a comunicação
ocorre de fato (as pessoas entendem umas às outras, a partir
34 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

de uma linguagem comum, de uma mesma significação para as


palavras) e os objetivos da organização podem ser alcançados
com mais facilidade.

2.3 Gestão social: conceitos e significados


Agora que já apresentamos algumas definições do conceito de
gestão nas quais são as funções gerenciais básicas, e discuti-
mos as principais habilidades que devem ser desenvolvidas na
formação do gerente, falaremos sobre a gestão contemporânea
configurada com gestão social.
Seja no âmbito das organizações do Estado, do mercado ou da
sociedade civil, tem-se enfatizado bastante nos dias atuais a im-
portância dos valores éticos e solidários, traduzidos na prática
por meio de ações sociais. No mundo empresarial, por exemplo,
a responsabilidade social corporativa é um tema recorrente, tra-
zendo a noção de que a atividade empresarial envolve compro-
missos com todas as partes interessadas da empresa: clientes,
funcionários e fornecedores, além das comunidades, meio am-
biente, governo e sociedade (SCHOMMER, 2000). O discurso
do combate à fome e à miséria adquiriu força nos últimos anos
não apenas devido à força da sociedade civil, por meio das con-
quistas de grupos e movimentos sociais, mas também devido
às necessidades do próprio mercado, uma vez que a pobreza, a
fome, o analfabetismo e a violência têm se tornado obstáculos à
lucratividade (GOHN, 1997).
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 35

Percebe-se, portanto, que o foco nas questões sociais deixa,


cada vez mais, de ser uma preocupação apenas do Estado ou
de organizações não-governamentais e passa a ser de todas as
organizações. Desta forma, pauta-se a discussão sobre o que
chamamos de gestão social, tema que tem sido evocado nos
últimos anos para acentuar a importância das questões sociais
para os sistemas-governo, sobretudo na implementação de po-
líticas públicas, assim como dos sistemas-empresa no gerencia-
mento de seus negócios (TENÓRIO, 2001). Trata-se de justificar
a presença do Estado-mínimo na atenção focalizada, por meio
de políticas sociais; e, ao mesmo tempo, fomentá-lo flexibilizan-
do as relações de trabalho e de produção dos agentes econômi-
cos. “Em ambos os casos, o que se tem observado é uma teoria
e prática de gestão social muito mais coerente com a gestão
estratégica do que aquelas consentâneas com sociedades de-
mocráticas e solidárias” (TENÓRIO, 2001).
Vale salientar que, já nos anos 20 do século passado, a norte-
americana Mary Parker Follett, conhecida como a “profeta do
gerenciamento”, autora de diversos livros sobre administração,
democracia e relações humanas, defendia o papel social dos
cidadãos e das empresas, numa época em que a visão predo-
minante considerava a empresa como instituição meramente
econômica. Follet, ao contrário, via a empresa como um serviço
prestado à sociedade:

Se um homem pensa a respeito de sua empresa


como um serviço, certamente não aumentará seus
lucros particulares à custa do bem público. Além
disso, a “empresa como um serviço” tende a acabar
com aquela concepção que era muito infeliz. Anti-
gamente, havia a idéia de que um homem ganhava
dinheiro durante o dia. À noite, prestava seu serviço
à comunidade, por se sentar à mesa de direção da
escola ou de algum comitê cívico. De outro modo,
ele poderia ocupar sua vida durante a juventude
a ganhar dinheiro, passando a prestar seu servi-
ço mais tarde, por gastar seu dinheiro de modo útil
para a comunidade. Isso, se não morresse antes!
A idéia muito mais salutar, que temos agora, é a
de que nosso trabalho em si deve ser nosso maior
serviço para a comunidade (GRAHAM,1997).

Follett entendia o gerenciamento como uma função, não como


uma ferramenta. O gerenciamento, em qualquer organização —
fosse em uma empresa tradicional, uma associação, uma escola
ou no governo — tinha como finalidade tornar a sociedade mais
justa (GRAHAM, 1997).
Se entendermos organização desta forma, a distinção entre or-
ganizações pertencentes à esfera do mercado, do Estado ou da
36 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

sociedade civil torna-se irrelevante, afinal, conclui-se que todas


as organizações devem ser orientadas para e pelo social. É isto
que se admite para o entendimento do conceito de gestão so-
cial, que pode ser definido como “o processo intersubjetivo que
preside a ação da cidadania tanto na esfera privada quanto na
esfera pública” (TENÓRIO, 1998).
Alguns autores, porém, focalizam o conceito de gestão social,
muito mais aplicado para a gestão das organizações da socie-
dade civil, ou para a gestão das políticas públicas desenvolvi-
das pelo Estado. Por exemplo, Carvalho (1999, p. 19) associa
a gestão social à “gestão das ações sociais públicas”, ou seja,
“a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos”. Para
França Filho (2003), este é um conceito complexo que necessita
ser desconstruído e reconstruído, já que de um lado, existem
aqueles que o identificam a uma problemática de sociedade, e
de outro, aqueles que o associam a uma modalidade específica
de gestão. Deste modo, a gestão social pode ser vista pela sua
finalidade (voltada para o social), bem como pelas dimensões e
processos que opera.
Pode-se caracterizar o campo da gestão social como um híbrido
de componentes societais, oriundo do Estado (também chama-
do primeiro setor), Mercado (segundo setor) e Sociedade Civil
(terceiro setor), associados aos requisitos de legitimidade e aos
imperativos da eficiência, eficácia e efetividade. Ao adotar o con-
ceito de campo (e não o de setor) para orientar esta discussão,
pode-se olhar os fenômenos gerenciais como dinâmicas sociais
que ocorrem em espaços articuladores de organizações gover-
namentais, de mercado e aquelas originadas na sociedade civil,
com as variações e a diversidade que este espectro tão amplo
apresenta (FISCHER, 2002).
Podemos inferir, portanto, que a gestão social é a gestão do de-
senvolvimento e que ocorre no âmbito público e privado, entre
as organizações do Estado, mercado e sociedade civil, tendo
como finalidades precípuas o desenvolvimento social. O desen-
volvimento pode ser entendido como uma série de processos
articulados de recursos e poderes individuais e coletivos nos ter-
ritórios, voltados para sua melhoria econômica e social. Desta
forma, concretiza-se como desenvolvimento local, integrado e
sustentável, tema que detalharemos no tema 3.
O campo da gestão social, portanto, é o campo da gestão do
que é conceituado como interorganizações, ou seja, organiza-
ções que trabalham juntas ou interorganizadas cuja principal
característica é a hibridização e a complexidade. As interorgani-
zações são constituídas por organizações diferenciadas, conec-
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 37

tadas por propósitos comuns, isto é, integradas. A associação se


faz pela complementaridade – portanto, pela busca do diferente
que possa cooperar para se atingir um resultado. Um exemplo
de interorganizações existentes na área social são programas
e projetos interinstitucionais executados por governos e ONGs,
que articulam-se entre si mas também com organizações per-
tencentes a outras escalas de poder, tais como agências inter-
nacionais, redes de ação social e movimentos sociais.
Ao considerarmos as articulações interorganizacionais na ges-
tão social, temos que considerar a existência de:

• Objetivos múltiplos e potencialmente competitivos/co-


operativos;

• Componentes estruturais essencialmente diferenciados;

• Diversas lógicas sociais em confronto e coalizão;

• Disputas por recursos e espaços;

• Estilos de liderança e tecnologias de ação social diferentes;

• Especificidades culturais em cada um dos enclaves ou


suborganizações que integram o complexo.
A figura a seguir demonstra a noção de gestão social explicada
nesta seção:

FONTE: FISCHER ( 2003)

2.4 Campos da Gestão Social e Interorganizações


A construção social do desenvolvimento é forjada por interor-
ganizações que refletem os interesses plurais das instituições
que operam no espaço público. Governo local, empresas, or-
38 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

ganizações sociais articulam-se dentro de uma trama singular


de interesses criando modelos de ações coletivas, traduzidos
em desenhos organizativos complexos, em que o poder flui di-
ferentemente conforme a verticalização ou horizontalização das
relações, guardadas as contradições destes processos e jogos
de interesses dos atores (FISCHER, 2002).
A transversalidade ou a complexidade das relações entre domi-
nantes e dominados - com tensões, avanços e recuos perma-
nentes, com ganhos e perdas reais e simbólicas que podem ser
avaliados diferentemente conforme a perspectiva - faz com que
se reconheça a crescente pluralidade do poder espacialmente lo-
calizado, exercido nos chamados espaços públicos. Assim, a ges-
tão social atua nos campos das interorganizações. Mas, como se
configuram as interorganizações que atuam no desenvolvimento
de territórios? Podemos representá-las pela figura abaixo, como
uma rede em três níveis de complexidade: o primeiro nível é o das
organizações; o segundo, das formas organizacionais articuladas
em redes; e o terceiro, das redes de redes.

FONTE: FISCHER (2006)

Organizações de primeiro nível são as organizações associati-


vas, organizações de governo e empresas, bem como agentes
financiadores, consultorias, fundações, bancos de desenvolvi-
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 39

mento e outras organizações discretas, que desenvolvem ações


estratégicas sobre o território. Assumindo a forma de programas
e projetos conjuntos, parcerias, cooperativas, as organizações
articulam-se em um segundo nível: o das redes.
Organizações associativas podem articular redes temáticas en-
tre si, focalizando temas específicos como saúde, infância, gê-
nero, etc. Podem também articular redes na forma de parcerias
e alianças no desenvolvimento de programas e projetos, que
contam com ONGs como nós de tramas sócio-produtivas.
As redes de redes têm um grau maior de complexidade e podem
ser representadas por fóruns e consórcios, associados a recor-
tes territoriais na forma de arranjos sócio-produtivos a espaços
virtuais (websites).

A ação das ONGs em rede supõe configurações articuladas e ações estratégicas


compartilhadas. Por exemplo, uma ONG pode ter como área de abrangência
um recorte territorial como um bairro, uma favela, um logradouro e se articular
em parcerias para desenvolver programas setoriais que compreendam a cidade
(mesolocal) ou uma área metropolítica (macrolocal).

A mesma ONG pode integrar um fórum regional e fazer parte de


alianças e movimentos nacionais e internacionais. As organiza-
ções de caráter associativo designadas por ONGs são atores
paradoxais na articulação de interorganizações orientadas ao
desenvolvimento.
Na figura abaixo, ilustra-se a indissociabilidade entre configura-
ções organizacionais e interorganizacionais, processos de ges-
tão e as escalas territoriais em que são exercidos, representan-
do as conceituações descritas que são envolvidas no campo da
gestão social.
40 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Sainsaulieu (2001) chama a atenção para as diferenças entre


a situação em que há necessidade de alianças de negociação
e de regulação e aquelas em que os jogos de poder conduzem
a exigências de dominação, de contrapoder ou a antagonismos
recorrentes. No primeiro caso, pode-se chegar a formas de coo-
peração aceitáveis entre atores, grupos e organizações. No se-
gundo caso, os indivíduos e coletivos chegarão à confrontação,
conflito, ou usarão estratégias de ignorância mútua. As situa-
ções concretas de gestão social podem produzir crises ou iden-
tidades no firmar acordos e regulações sociais legítimas (SAIN-
SAULIEU, op. cit.).
Complexidade e diferenciação/conexão são chamados de pro-
priedades estruturais das interorganizações por Alter e Hage
(1993), agregando a essas duas a centralidade, que depende
de coordenação ou gestão.
Articulação estratégica é o ponto focal do conceito. Desenvolvi-
mento compreende, ao mesmo tempo, processos compartilhados
e resultados atingidos; visões de futuro ou utopias construídas
por coletivos organizacionais e ações concretas de mudança.
Trata-se, portanto, de estratégias processuais, isto é, que se
inscrevem no paradigma da racionalidade processual e contex-
tual (MARTINET e THIETHART, 2001). Estratégias processuais
— ou tateantes, na concepção de Avenier (1997) — “são ações
orientadas a fins potencialmente evolutivos, estabelecidos den-
tro de uma dialética permanente entre meios e fins em contextos
que permitem o uso dos meios e a consecução dos fins”. Acei-
tando-se esse conceito, visão e ação estratégica são, simultane-
amente, processo e resultado, concretude e utopia, atendendo
aos princípios de totalidade, transformação e auto-regulação,
citados anteriormente.
Portanto, processos de gestão verticais, horizontais ou trans-
versais exercidos em escalas territoriais variáveis ocorrem em
organizações e interorganizações por meio de ações articuladas
cooperativas e/ou competitivas, como ilustrado a seguir.
Interorganizações atuam sobre escalas territoriais que vão de
micro-local ao internacional e global, de forma sincrônica. Inte-
rorganizações têm texturas e configurações diversas desde or-
ganizações hibridizadas, como as ONGs, até o formato em rede.
Conheça mais sobre o Estas interorganizações podem se converter em redes de redes,
assunto visitando o portal quer para a mobilização coletiva, quer para compartilhar e difun-
www.gestaosocial.org.br dir informações, concretizadas em websites.
Fóruns em escala regional, nacional ou internacional para a pro-
moção de desenvolvimento territorial assumem formas diversas,
tais como os consórcios intermunicipais. São exemplares os fó-
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 41

runs de economia solidária de âmbito nacional e estadual e os


chamados sistemas produtivos locais.
Yoguel, Novick e Martin (2001) referem-se aos conjuntos de
“agentes inter-relacionados” (clusters, sistemas locais ou mi-
lieu), presentes na literatura sobre as novas formas de organi-
zação dos sistemas produtivos, e propõem o conceito de “trama
produtiva”, isto é, de articulação entre “agentes de desenvolvi-
mento, atividades inovadoras e tecnologias de gestão social, o
que inclui a organização do processo de trabalho e o modelo de
relações trabalhistas vigentes”(YOGEL et al, apud GUIMARÃES
e MARTIN, 2001).
A expressão mais recente das tramas produtivas é o “arranjo As empresas que
produtivo local” (APL) desenvolvido pela Redesist (Lastres e compõem um APL, além
Cassiolato, 2002) e incorporado em políticas do governo brasi- da proximidade física e
leiro no âmbito federal (Ministério de Integração e de Ciência e da forte relação com os
Tecnologia, entre outros), nos estados e municípios. O sistema agentes da localidade, têm
S, especialmente o SEBRAE, bem como agências (como a SU- em comum uma mesma
DENE) e bancos de desenvolvimento adotaram os APLs como dinâmica econômica.
estrutura em rede, bem como governos estaduais e municipais. Contudo, tal dinâmica pode
ser determinada por razões
Sob a designação de empreendimentos solidários podem-se no-
bastante diversas.
mear formas associativas de produção promovidas por ONGs,
comunidades, movimentos sociais e setores governamentais; di-
nâmicas locais de orientação ecológica e sustentável (a despei-
to das críticas e dissensões); movimentos feministas, voltados
para a inclusão das mulheres nos processos de desenvolvimen-
to; mecanismos para concessão de microcrédito e, finalmente,
movimentos sociais em prol dos direitos à terra e à habitação
(FRANÇA, 2004; 2003; 2002).
Confrontadas as vertentes da competitividade e da solidarieda-
de, há diferenças óbvias e superposições também óbvias en-
tre o que se pode chamar de perspectivas de ação. Nos dois
sentidos, pressupõe-se a existência de organizações complexas
- interorganizações - e estratégias processuais. As diferenças
encontram-se no papel e no peso dos atores envolvidos nas for-
mas de gestão e nos valores de fundo que orientam as duas
perspectivas. Mesmo percebendo-se essas diferenças, não é
trivial distinguir tais processos nas práticas sociais, correndo-se
o risco de um maniqueísmo redutor. Nos argumentos de uns e
outros, são comuns os ideais utópicos de construção social de
um futuro melhor. Sem dúvida, a Economia Solidária enfatiza
redistribuição e reciprocidade (LAVILLE, 2000), bem como redis-
cute o espaço público como espaço social, mas cabe ressalvar
que a retórica que sustenta os sistemas produtivos não descarta
o social, como pode ser constatado no documento do SEBRAE
sobre territórios de baixa densidade empresarial (SEBRAE,
42 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

2003), ou mesmo no documento sobre o desenvolvimento de


distritos industriais (SEBRAE, 2003) que apresenta o programa
APL como “parte de um programa redistributivo”.
Os conceitos de MEDIAÇÕES E TRANVERSALIDADE são co-
muns às configurações organizacionais e interorganizacionais
complexas. As mediações são realizadas por atores sociais, en-
tendidos como indivíduos ou instituições gestoras.
Cooperar e competir são agenciamentos polares, mas não ex-
cludentes nas políticas de gestão territorial. Temos aí um duplo
movimento da parte ao todo e do todo (escala internacional e glo-
bal) às partes, ao local. As disputas por recursos e as estratégias
de sustentabilidade levam, inevitavelmente, à competição. De
outra parte, as associações entre iguais e diferentes são orienta-
das por lógicas de cooperação, formando-se alianças, parcerias,
pactos, consórcios.
Os processos de gestão em organizações complexas fluem em
diferentes direções -verticais, horizontais, transversais -, pois or-
ganizações e redes organizacionais encontram-se para cooperar,
mas, em paralelo, estabelecem convenções para mitigar efeitos
e regular competição. A transversalidade dos processos de ges-
tão ocorre entre organizações/interorganizações, entre escalas
de poder, entre movimentos de natureza mais cooperativa ou
competitiva. A transversalidade é propriedade das redes, metá-
fora mais recorrente no estudo de tramas sócio-produtivas.

2.5 Desafios e proposições na gestão do desenvolvimento social


Pelo que vimos até aqui, podemos sistematizar algumas idéias
centrais que nos remetem aos seus principais desafios e propo-
sições da gestão social do desenvolvimento, que:

• é um campo de conhecimento e espaço de práticas híbridas e


contraditórias;

• é um processo de mediação que articula múltiplos níveis de poder individual


e social;

• é gestão de redes, de relações sociais, mutáveis e emergentes, afetadas por


estilos de pessoas e comportamento, pela história do gestor, pela capacidade
de interação e por toda subjetividade presente nas relações humanas;

• é um processo embebido em contextos culturais que o confrontam e para os


quais contribui, refletindo e transformando esses contextos de forma tangível
e intangível;
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 43

• para ser legítima deve ser eficiente e para ser eficiente, deve se legitimar,
criando círculos virtuosos na lógica social que orienta a ação;

• requer competências e qualificações tácitas e uso de tecnologias de ação


social;

• deve ser apropriada em contextos de formação/capacitação que articulem


reflexão e prática;

• requer instrumentos de coordenação e regulação articulados e convergentes;

• é um desafio à criatividade.

Fischer (2001) faz cinco proposições a respeito da gestão do


desenvolvimento social, que detalhamos a seguir:

Primeira proposição
A gestão do desenvolvimento social é um processo de mediação
que articula múltiplos níveis de poder individual e social. Sendo
um processo social e envolvendo negociação de significados so-
bre O QUE deve ser feito, POR QUE e PARA QUEM, a gestão
não é uma função exercida apenas por um gestor, mas por um
coletivo que pode atuar em grau maior ou menor de simetria/as-
simetria e delegação, o que traz uma carga potencial de conflito
de interesses entre atores envolvidos e entre escalas de poder.
A fragilidade dos processos de desenvolvimento social pode tan-
to ser atribuída à falta de competência dos gestores para fazê-
los avançarem e promoverem mudanças efetivas de um lado
e, de outro, ao papel exageradamente protagonista dos líderes
carismáticos, que criam dependência nas comunidades e põem
em risco a continuidade de projetos.
A passagem de uma configuração política baseada na predomi-
nância da ação governamental sobre o local para um policen-
trismo do poder é o traço mais característico da década de 90.
Muda também o estilo de gestão dos governos locais. Ser pre-
feito hoje é bastante diferente do que foi há dez anos. Mudam os
critérios de avaliação do que é uma “boa gestão”, as exigências
sobre a melhoria de qualidade são maiores e os papéis em que
se desdobram os gestores também são em maior número. O
jogo político é também feito por um maior número de interes-
sados, estando as elites urbanas mais visíveis na vida pública;
a multiplicidade de agentes e iniciativas torna-as, praticamente,
ingovernáveis, no sentido tradicional. A participação comunitária
é valorizada desde a concepção de estratégias até o desenho
de estruturas, desenvolvimento e avaliação, sendo um elemento
44 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

fundamental das best practices internacionalmente laureadas. O


espectro de iniciativas que vai dos arranjos competitivos à eco-
nomia solidária não é linear. Os nós e conexões organizativos
não são discretos, as estratégias são híbridas e dependem de
indivíduos, grupos e coletivos mais amplos.

Segunda proposição
A gestão do desenvolvimento social é um campo de conheci-
mento e um espaço híbrido e contraditório de práticas. A coo-
peração não exclui a competição; a competitividade pressupõe
articulações, alianças e pactos. Fazendo parte, essencialmente,
do ser e agir humanos, o conflito de percepções e interesses
está presente também em formas organizativas solidárias que,
por sua vez, estão embebidas em contextos capitalistas ociden-
tais. Como projetos de resistência e contradependência desses
contextos, são experiências de ruptura e de construção de no-
vos paradigmas do agir social e, como tal, são “organizações
de aprendizagem” da gestão do desenvolvimento. Não é fácil
compartilhar o poder e, muito menos, construir organizações e
interorganizações, estratégias e estruturas eticamente relacio-
nais e eficazes.

Terceira proposição
Orientada por valores e pela ética da responsabilidade, a ges-
tão do desenvolvimento social deve atender aos imperativos
da eficácia e eficiência. O que é uma gestão eficaz e eficiente
neste campo? Caracterizadas por fluidez, agilidade e inovação,
as organizações e interorganizações de cunho social enfrentam
desafios e correm sérios riscos de insustentabilidade e extinção.
Como quaisquer outras organizações, devem mapear necessi-
dades, delinear estratégias conseqüentes, desenvolver planos,
gerir recursos escassos, gerir pessoas, comunicar-se e difundir
resultados, construindo a identidade e preservando a imagem
da organização. Prestar contas à sociedade, avaliar processos
e resultados e regular ações são também tarefas essenciais do
gestor eficaz. No caso de organizações de desenvolvimento so-
cial, a eficiência é função de efetividade social, isto é, da legiti-
midade conquistada.

Quarta proposição
A gestão do desenvolvimento social é gestão, também, de redes,
de relações sociais, mutáveis e emergentes, afetadas por estilos
de pessoas e comportamentos, pela história do gestor, pela ca-
pacidade de interação e por toda a subjetividade presente nas
relações humanas. Há um viés de análise dessas organizações
que privilegia as dimensões sociais, minimizando ou excluindo as
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 45

dimensões subjetivas. O retorno do ator, como lembrou Alain Tou-


raine (1978), é um imperativo do momento, reconhecendo-se o
indivíduo como líder de transformações sociais ou como gestor.

Quinta proposição
A gestão do desenvolvimento social é um processo embebido
em contextos culturais que o conformam e para os quais con-
tribui, refletindo e transformando esses contextos de forma tan-
gível e intangível. O gestor social é gestor do simbólico e do
valorativo, especialmente quando se trata de culturas locais e da
construção de identidades.
Apesar da banalização instrumental do conceito de capital social,
presente na retórica do atual desenvolvimentismo,,é inegável o
efeito inercial e cumulativo nas comunidades de experiências
bem (e mal) sucedidas. Ou seja, aprende-se com o sucesso,
mas também com o fracasso. A pedagogia social é imanente aos
processos de desenvolvimento social, à constituição de “organi-
zações de aprendizagem”.

2.6 Quem é e qual o perfil para o gestor do desenvolvimento


social?
Segundo Fischer et al (2001), uma vez que identificamos o cam-
po de aplicação da gestão social como sendo aqueles espaços
híbridos, interorganizacionais e interinstitucionais, cabe-nos per-
guntar quais as capacitações que deve ter um gestor social e
quais as competências que uma gestão com tal grau de comple-
xidade requer.
Conforme Fischer (2001, 2006), o gestor social é um mediador
multiqualificado, situando-se em um contínuo que vai da capa-
cidade de dar respostas eficazes e eficientes às situações coti-
dianas à de enfrentar problemas de alta complexidade. A autora
afirma ainda que o papel do gestor social é:

• articular múltiplas escalas de poder individual e societal;

• trabalhar a identidade de projeto, refletindo e criando


pautas culturais;

• coordenar interorganizaçoes eficazes;

• promover ação e aprendizagem coletiva;

• comunicar e difundir resultados;

• prestar contas à sociedade;

• reavaliar e recriar estratégias processuais.


46 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Para tanto, verifica-se um perfil necessário a tais gestores que


devem desenvolver competências necessárias para saber ser,
saber fazer e saber gerir. Para isso, deve aprender com a prática
articulada à teoria.

Dentro deste direcionamento, Milani, Schommer e Lordêlo (2001) afirmam que o


gestor social é aquele que:

1. atua num contexto de desafios e tensões entre a eficiência (busca de


resultados) e a democracia (busca da participação social), o individual e o
coletivo, o político e o técnico;

2. deve ser ético e considerar as questões de forma integral, não fragmentada


(aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos e econômicos);

3. deve ultrapassar as tensões dicotômicas entre teoria e prática, local e


global, disciplinar e inter/transdisciplinar;

4. deve ter a capacidade de migrar entre esferas e de atuar em rede, o que


requer formação generalista e habilidade de comunicação e articulação;

5. necessita de disposição para trabalhar com a diversidade, respeitando a


cultura e a linguagem de cada local;

6. deve ter a preocupação de criar referências próprias do local, de contribuir


para a construção de sujeitos sociais em cada processo em que atua;

7. precisa avaliar as ações, para não reproduzir modelos sem efetividade;

8. deve ser um gestor de conflitos, um mediador no sentido de desenvolver


pessoas, organizações e interorganizações à sua volta.

Mas não seriam essas tendências apontadas válidas para todos


os gestores, de modo geral? Certamente sim, o que ratifica a
perspectiva segundo a qual a gestão social é simplesmente uma
qualificação, ou um traço particularmente forte, da gestão con-
temporânea.

Uma reflexão crítica pode ser feita aqui em relação ao termo


“gestão social”. O uso da palavra “social” implicaria, por acaso,
a existência de uma gestão não-social? Afinal, o adjetivo “so-
cial” indica algo que é feito para e pela sociedade. Mas isso não
deveria permear todo e qualquer processo de gestão, assim
como qualquer ação humana (BASTOS; CARVALHO, 2001)?
A respeito deste questionamento, pode-se dizer que o adjetivo
“social” funciona aqui como uma redundância proposital, um
pleonasmo voluntário, com a simples finalidade de enfatizar o
que, muitas vezes, o gestor esquece: que suas ações têm im-
pactos sobre a sociedade.
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 47

Para concluirmos esta seção, cabe ainda citarmos alguns dos


indicadores de competência, elaborados a partir das experiên-
cias de formação de gestores sociais empreendidas no âmbito
do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social, do Centro
Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (CIAGS),
da Universidade Federal da Bahia, que vem testando e validan-
do modelos de formação de gestores sociais, no nível de gra-
duação, extensão e mestrado, articulados com pesquisas sobre
diversos temas. Conforme Fischer (2002, 2006), os indicadores
de competência dos gestores sociais do desenvolvimento são:

• Eticamente orientados à promoção do desenvolvimento de indivíduos, grupos


e instituições.

• Formuladores de diagnóstico de necessidades e potencialidades territoriais.

• Formuladores de projetos de intervenção em territórios.

• Articuladores de ações em diferentes configurações sócio-produtivas


(programas, projetos e ações).

• Estrategistas da inovação e empreendedorismo no desenvolvimento


territorial.

• Facilitadores das relações entre indivíduos, grupos e coletivos.

• Hábeis no trato da interculturalidade e sensíveis às diversidades sociais;

• Mediadores de interações em diferentes escalas territoriais.

• Articuladores de redes interorganizacionais, interinstitucionais e intersetorias;

• Coordenadores de ações, projetos e programas visando pactos territoriais de


caráter sócio-produtivo.

• Facilitadores das relações entre indivíduos, grupos e coletividades e da


participação do cidadão.

• Capazes de alocar e gerir recursos e garantir sustentabilidade.

• Efetivos na consecução de resultados.

• Promotores da valorização humana e da diversidade cultural local, regional e


global.

• Transformadores das realidades sociais em escalas territoriais variadas dentro


de princípios sócio ambientais desejáveis, como mediadores de interesses
interinstitucionais.
48 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

2.7 Considerações finais


Dando continuidade à nossa série de perguntas sobre a ges-
tão contemporânea, será que os fins justificam os meios? Esta
questão é, na verdade, a grande norteadora desta reflexão fi-
nal. Globalização, competição acirrada e até mesmo a luta pela
sobrevivência não podem ser desculpas para ações egoístas e
desvinculadas de compromisso com a sociedade e com o meio
ambiente. Ao contrário, devem ser um incentivo à cooperação e
às práticas de gestão orientadas para e pela sociedade.
Se admitirmos que as organizações têm um papel predominan-
temente social e que existem a serviço do homem (e não o con-
trário), compreenderemos então que as atividades que nelas se
desenrolam causam impacto sobre clientes e usuários, sobre
as pessoas que nelas trabalham, sobre as comunidades do en-
torno, sobre o meio ambiente e sobre a sociedade em sentido
amplo. Portanto, cada ação deve ser pensada e executada con-
siderando esta realidade.
Um aspecto importante, para que essa perspectiva torne-se parte
integrante de qualquer processo de gestão nos dias de hoje, é a
necessidade de difusão de valores mais éticos e solidários. Só
assim será possível construir novos modelos organizacionais que
sejam mais cooperativos e mais pautados pelo bem comum.
Nas empresas, no Estado ou nas organizações da sociedade
civil, os gestores precisam levar em conta que “a arte de geren-
ciar” precisa ter valores e princípios que lhe confiram solidez.
Portanto, é preciso que sejam cada vez mais feitos investimen-
tos para a formação de gestores socialmente orientados para o
desenvolvimento. Este curso de MBA Executivo em Gestão e
Negócios do Desenvolvimento Regional Sustentável pode ser
visto, portanto, como um novo modelo de capacitação, voltado
para gestores sociais atuantes no setor privado.

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema
2. Lembre-se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para
consolidação de aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 2. Portanto, agora


está na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
TEMA 2 GESTÃO CONTEMPORÂNEA E GESTÃO SOCIAL 49

TEMA 2

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Tema 3
Desenvolvimento e Industrialização

Uma palavrinha inicial


Nos textos anteriores, as temáticas desenvolvimento e território já
foram abordadas como conceitos intimamente relacionados à ges-
tão contemporânea e social. Dessa maneira, você já possui uma
base para entender o que vem a ser o desenvolvimento territorial.

Ao final desse estudo você deverá:


• aprofundar a compreensão sobre as origens históricas
do desenvolvimento, desde a concepção do crescimen-
to econômico;
• compreender as idéias sobre o desenvolvimento local,
integrado e sustentável;
• buscar compreender como ocorre o desenvolvimento
territorial, tais como: região, territorialidade, capital so-
cial, infra-estrutura, entre outros.

3.1 Desenvolvimento como crescimento econômico


A definição mais difundida sobre desenvolvimento econômico
refere-se ao crescimento econômico - aumento do Produto Produto Interno Bruto (PIB)
Nacional Bruto per capita - com melhoria no padrão de vida é o valor total da produção de
da população e transformações fundamentais na estrutura de bens e serviços finais obtidos
sua economia. por um país em território
nacional, em determinado
O estudo do desenvolvimento econômico e social partiu da ve-
período de tempo, usualmente
rificação da acentuada desigualdade entre os países que se
um ano.
industrializaram e atingiram elevados padrões de bem-estar
material, compartilhados por diferentes extratos da sociedade,
e aqueles que não se industrializaram e, por isso, continua-
ram em situação de pobreza e com profundos desníveis sociais
(SANDRONI, 2001).
52 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

O desenvolvimento, à luz da definição citada, é inerente ao proces-


so de industrialização do sistema capitalista. Pela teoria econômica
tradicional é considerado o padrão universal almejado por todos
os povos. Está estreitamente vinculado à acumulação, entendida
como a necessidade de concentração e reprodução contínua do
capital, ou seja, o contínuo retorno do lucro à esfera produtiva.

A acumulação decorre da necessidade permanente de se investir o excedente


gerado com o crescimento econômico na ampliação da capacidade produtiva.
Requer paralelamente uma incessante ampliação da demanda, o que leva
a um acirramento da concorrência entre os produtores na conquista de novos
mercados.

3.1.1 Primeira revolução industrial


Na era pré-revolução industrial, a acumulação não se realizava
nas bases explicitadas anteriormente. A classe comercial era o
agente dinâmico do sistema, pois provocava a aglutinação de
unidades econômicas em mercados mais amplos, criava formas
mais complexas de divisão do trabalho e possibilitava a especia-
lização geográfica. Contudo, a acumulação dos lucros nas mãos
dos comerciantes não tinha impacto sobre as técnicas de produ-
ção. A expansão do comerciante se dava por meio da abertura
de novas frentes de trabalho (FURTADO, 1961).
A primeira revolução industrial, ocorrida na Inglaterra no final do
século XVIII, tem como principal símbolo a máquina a vapor, se-
gundo Drucker (2000), seu gatilho tecnológico. As inovações tec-
nológicas provocaram a desorganização da produção artesanal
dentro da própria Inglaterra e das colônias. A atividade têxtil se
transformou na indústria motriz, com baixa nos preços dos teci-
dos, o que motivou a busca pela conquista de novos mercados.

O desenvolvimento da máquina a vapor contribuiu para a expansão da indústria


moderna. Até então, os trabalhos eram executados na dependência exclusiva da
energia humana ou animal, do vento ou da água. Uma única máquina fornecia
a energia necessária para acionar todas as máquinas de uma fábrica. Uma
locomotiva a vapor podia deslocar cargas pesadas a grandes distâncias em um
único dia e os navios a vapor ofereciam transporte rápido, econômico e seguro.

Nessa fase, o dinamismo se dá ao lado da oferta com foco na re-


dução dos custos de produção. As técnicas de fabricação consti-
tuem o elemento crucial do sistema econômico.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 53

Podemos dizer que revolução industrial significa uma ruptura


com as formas de produção, provocada pelas inovações tec-
nológicas radicais que aumentam bruscamente a produtividade
e se difundem por todos os segmentos econômicos. O impacto
ocorre não apenas nas relações de produção como também nas
relações sociais e familiares e é um processo irreversível.
Considerando que na concepção de desenvolvimento industrial
o processo de concentração/acumulação de capital e expansão
de mercado deve ser contínuo, a certa altura o mercado inglês
era incapaz de acompanhar o rápido aumento da produção de
artigos manufaturados, daí a necessidade de extroverão da
sua economia.
No final do século XVIII e primeira metade do século XIX, a de- Politicamente, o império britânico
manda mundial era inexplorada e altamente elástica. Contudo, era motivo de satisfação e
no final do século XIX, o monopólio inglês dá lugar à concorrên- orgulho, mas os resultados
cia. A Inglaterra já não se destaca como oficina do mundo. Há econômicos foram menos
produção de tecidos de boa qualidade nos países recém-indus- impressionantes (LANDES,
trializados, a exemplo da Alemanha, Estados Unidos, Suíça, e 1994). A tarefa de conquistar
até da Índia e do Japão. novos mercados não era tão
simples como foi para os
3.1.2 Segunda revolução industrial industriais pioneiros da primeira
No segundo ciclo de progresso tecnológico, que ocorreu na se- metade do século XIX.
gunda metade do século XIX, a indústria têxtil dá lugar ao que
alguns autores batizaram de Idade do Aço (LANDES,1994).

O baixo custo do aço, a indústria de precisão e a energia elétrica


possibilitaram uma gama de bens de consumo duráveis, como A Segunda Revolução
a máquina de costura, os relógios baratos, as bicicletas, a ilumi- gerou mudanças no processo
de industrialização. Com o
nação elétrica, além de todas as demandas associadas às fer-
surgimento da eletricidade, a
rovias. Nesse aspecto, a Alemanha desponta como a principal
produção em série nas linhas
rival da Inglaterra.
de montagem proposta por
A industrialização na Alemanha começou pela indústria pesada. Henry Ford (conhecida como
Sua estrutura político institucional favoreceu a integração vertical “fordismo”) e o método de
da indústria, a formação de um capitalismo de estado, constituído administração científica baseada
por grandes empresas, adequadas à química pesada, que requeria no conhecimento de Frederick
vultosos investimentos de capital, gerava importante economia de Taylor (“taylorismo”), a produção
escala e conseqüentemente uma maior concentração de renda. industrial ganha um novo ritmo.

Na passagem do século, as maiores fábricas inglesas produziam


apenas o equivalente à produção das usinas médias alemãs.
Além do mais, na Alemanha havia elevada habilidade artesanal
para trabalhar o ferro e aço. A concorrência foi se acirrando entre
as nações industrializadas da Europa, com a introdução de ino-
vações tecnológicas de processo, produto e fontes de energia,
principalmente na França, Alemanha, Bélgica (LANDES, 1994).
54 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

A partir da 2a Guerra Mundial, fortalece-se a idéia de desenvol-


vimento. Os governos de países não-industrializados colocavam
o desenvolvimento como o objetivo de superar o atraso histórico
em que se encontravam e de alcançar, no prazo mais curto pos-
sível, o nível de bem-estar dos países desenvolvidos.

Na segunda revolução industrial, ocorrida na Europa, bem como


nos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, a estrada
A evolução da tecnologia de ferro e a indústria siderúrgica desempenharam os papéis de
ocorre interativamente com gatilho tecnológico e indústria dinâmica, respectivamente (DRU-
a dinâmica competitiva das CKER, 2000), como haviam desempenhado a máquina a vapor
empresas, determinando a e a indústria têxtil na primeira revolução industrial. Dentro dessa
evolução da mecanização e perspectiva, o computador e a tecnologia da informação consti-
da própria economia. tuem a força propulsora da 3a revolução, atualmente em curso.

3.2 Desenvolvimento e desequilíbrio

De maneira geral, as mudanças que caracterizam o desenvolvi-


mento econômico consistem:

• no aumento da atividade industrial em comparação


com a atividade agrícola;

• na migração da mão-de-obra do campo para as cidades;

• na redução das importações de produtos industrializa-


dos e das exportações de produtos primários; e

• na menor dependência de auxílio externo.

Embora a busca pelo desenvolvimento possa ser associada a


uma busca pela estabilidade, paradoxalmente o desenvolvimen-
to é um processo de desequilíbrio contínuo. Como o processo
de industrialização não ocorre de forma linear, Landes (1994),
numa tentativa de explicar um emaranhado de transformações,
sistematiza o progresso tecnológico em linhas analíticas:

a) novos materiais e novas maneiras de preparar mate-


riais antigos;

b) novas fontes de energia e força; e

c) mecanização e divisão do trabalho.

Além da agressão ao meio ambiente, no processo de industria-


lização, algumas contradições são criadas em relação ao fator
trabalho. A mão-de-obra não é um fator como os outros – ela é
ativa, tem atitude. É mais fácil medir sua produtividade que sua
eficiência.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 55

Quando a mecanização gerava aumentos espetaculares de produtividade em


comparação com o trabalho manual, a eficiência da mão-de-obra perde sua
importância relativa – e é negligenciada. No entanto, a eficiência da mão-de-obra
foi um elemento importante no ritmo e no caráter do desenvolvimento econômico.

Na busca de maior eficiência e produtividade, ocorrem transfor-


mações nas relações de trabalho e as contradições tendem a se
acentuar. O progresso tecnológico leva a uma redução de de-
manda de mão-de-obra em setores de ponta, ao mesmo tempo
em que há uma necessidade constante de se expandir a deman-
da, o que só é possível com o aumento da oferta de emprego.
Um dos argumentos da corrente de economistas liberais é que, com
a evolução tecnológica, criam-se novos postos de trabalho, mais
qualificados, havendo uma realocação dos empregos. Acontece que
este processo não é imediato e embute enormes custos sociais. Téc-
nicas espetaculares que facilitam a vida do homem criam problemas
no intricado processo de inovação e difusão tecnológica.

Com a terceira revolução industrial em curso, liderada pela infor-


mática, e a conseqüente velocidade na difusão da informação,
as transformações ocorrem num ritmo forte e o principal proble-
ma parece ser a incapacidade de se criar novos empregos na
mesma velocidade.

A elevada concentração de renda, geográfica e setorial, inerente a todo esse pro-


cesso, faz com que parte significativa da população mundial não tenha acesso aos
benefícios advindos do progresso tecnológico.
56 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

3.3 Desenvolvimento local, integrado e sustentável


Fischer (2001) afirma que na sua polissemia, desenvolvimento
é um conceito que se molda a interesses muitos diversos e a
todas as intenções, como é evidenciado historicamente. Nesta
mesma direção, Esteva (2000) diz que:

O desenvolvimento ocupa o centro de uma cons-


telação semântica incrivelmente poderosa. Não há
nenhum outro conceito no pensamento moderno
que tenha influência comparável sobre a maneira de
pensar e o comportamento humano. Ao mesmo tem-
po, poucas palavras são tão ineficazes, tão frágeis
e tão incapazes de dar significado e substância ao
pensamento e ao comportamento. (ESTEVA, 2000).

Desenvolvimento é um conceito, ou melhor, uma rede de con-


Saiba mais sobre a DLIS no
ceitos que podem estar diretamente associados, atualmente,
endereço eletrônico
aos adjetivos “local, integrado e sustentável”, que construíram
por exemplo, a senha DLIS, como ficou conhecido o processo
http://www.rededlis.org.
no Brasil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FIS-
br/proposta.asp
CHER, 2001).
De improvável execução, o modelo desenvolvimentista é alveja-
do pelo ajuste econômico da década de 80, a chamada “década
perdida”. Nos anos 90, inicia-se novo ciclo desse modelo e ve-
rifica-se um reforço à retórica da transformação. Nos anos que
se seguiram, o conceito de desenvolvimento foi acrescido de
muitos adjetivos.
O mais comum desses adjetivos, provavelmente, é o termo in-
tegrado, numa reação à camisa de força das definições eco-
nômicas do desenvolvimento, incorporando dimensões sociais
e preocupações ambientais, bem exemplificadas pelo tripé da
Os princípios da Agenda 21 Agenda 21, que Ignacy Sachs (1990) define como “prudência
sugerem que o meio ambiente ecológica, eficiência econômica e justiça social”.
não é necessariamente um
O desenvolvimento integrado é espacialmente localizado em ci-
custo; é um potencial de
dades e regiões, e programas de desenvolvimento devem ser
recursos que podem ser
sustentáveis. Lembra Acselrad (2001) que a sustentabilidade
aproveitados de maneira
deriva dos propósitos de dar durabilidade ao desenvolvimento.
econômica e ecologicamente
É, portanto, pela via da “ambientalização” que se veicula o deba-
positiva. Em outras palavras,
te sobre políticas urbanas, e pela metáfora de “cidade sustentá-
trata-se daquilo que o Banco
vel” que se defende o desenvolvimento, como ação impulsora da
Mundial denominou win-
produtividade no uso de recursos ambientais. Registra-se que a
win, ou seja, “oportunidades
dimensão tempo, associada à durabilidade, junta-se à dimensão
duplamente vencedoras”.
espaço ou localização.
O processo de desenvolvimento é mobilizado por organizações
que trabalham juntas ou por interorganizações cuja principal ca-
racterística é a hibridização ou a complexidade. As interorgani-
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 57

zações são constituídas por organizações diferenciadas, conec-


tadas por propósitos comuns, isto é, integradas. A associação se
faz pela complementaridade — portanto, pela busca do diferente
que possa cooperar para se atingir um resultado.
A noção de “local” contém duas idéias complementares em um
sentido, e antagônicas, em outro. Se o local refere-se a um âm-
bito espacial delimitado e pode ser identificado como base, terri-
tório, microrregião — podendo ainda ser indicado por outras de-
signações que sugerem constância ou certa inércia — contém,
igualmente, o sentido de espaço abstrato de relações sociais
que se quer privilegiar e, portanto, indica movimento e interação
de grupos sociais que se articulam e se opõem em torno de inte-
resses comuns (FISCHER, 1993).
Polarizando atenções de agências internacionais, nacionais e
locais, que redefinem prioridades de ação para “desenvolver o
local”, o processo é rapidamente absorvido, criando nichos de
mercado para agentes de desenvolvimento, coordenadores de
projetos, assessores e avaliadores, inspirados nos modelos de
intervenção e gestão vividos em cidades européias e america-
nas. É exemplar dessa mudança de significado (e das práticas
correspondentes) o conceito de “desenvolvimento durável” usa-
do pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE):

(...) conjunto coordenado de processos participati-


vos, permitindo progredir de modo contínuo na aná-
lise, no debate e no reforço de capacidades de pla-
nejamento e mobilização de recursos econômicos,
sociais e ambientais da sociedade a curto e longo
prazo, cujo alcance é devido às estratégias articula-
das, quando possível, e, em caso contrário, depen-
dendo de arbitragem e conciliação (OCDE, 2001).

Articulação estratégica é o ponto focal do conceito. Desenvolvi-


mento compreende, ao mesmo tempo, processos compartilhados
e resultados atingidos; visões de futuro ou utopias construídas
por coletivos organizacionais e ações concretas de mudança.
Trata-se, portanto, de estratégias processuais, isto é, que se ins-
crevem no paradigma da racionalidade processual e contextual
(MARTINET, 2001).
Estratégias processuais — ou tateantes, na concepção de Ave-
nier (1997) — “são ações orientadas a fins potencialmente evo-
lutivos, estabelecidos dentro de uma dialética permanente entre
meios e fins em contextos que permitem o uso dos meios e a
consecução dos fins”. Aceitando-se esse conceito, visão e ação
estratégica são, simultaneamente, processo e resultado, con-
cretude e utopia.
58 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Os princípios de base das estratégias de “desenvolvimento du-


rável” na perspectiva das agências internacionais são:

a) consideração das necessidades humanas de modo a


garantir efeitos benéficos a longo prazo para grupos
marginalizados;

b) uma intenção de longo prazo amplamente comparti-


lhada, dentro de espaços e tempos relativamente deli-
mitados;

c) um processo global e integrado, que concilie objeti-


vos econômicos, sociais e ambientais, com previsão
de regulação e arbitragem, mediadas por negociação
(OCDE, op. cit.).

Há, portanto, dois sentidos e significados de desenvolvimento: orientação para a


competição e orientação para a cooperação ou solidariedade, diferenças óbvias
na retórica de cada perspectiva, nas ideologias e práticas que lhes são afins.

A ECO-92 foi realizada de 3 a O conceito de durável está ligado a sustentável. O termo sus-
14 de junho de 1992. A convite tentabilidade primeiramente pertencia ao campo da ecologia e
do Brasil, a cidade do Rio de da administração e se refere ao desenvolvimento de uma em-
Janeiro foi a sede do encontro presa, ramo industrial, região ou país, que, em seu processo,
que reuniu representantes de não esgota os recursos naturais que consome nem danifica o
175 países e de Organizações meio ambiente de forma a comprometer o desenvolvimento des-
Não-Governamentais (ONGs). sa atividade para as gerações futuras (SANDRONI, 2001). Hoje
Considerado o evento ambiental é inconcebível pensar em desenvolvimento na concepção mera-
mais importante do século XX, mente produtivista do crescimento econômico.
a ECO-92 foi a primeira grande
reunião internacional realizada O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
após o fim da Guerra Fria. partir de 2002, passou a calcular o IDS – Indicador de De-
senvolvimento Sustentável. A necessidade de quantificar o
problema foi estimulada pelo movimento internacional para
A Organização das Nações preservação do meio ambiente intensificado na ECO 92, co-
Unidas é uma instituição ordenado pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável
internacional formada por 192 da ONU, a fim de se consolidarem indicadores internacio-
Estados soberanos, fundada após nais compatíveis, permitindo o acompanhamento do tema
a 2ª Guerra Mundial para manter em escala mundial. Sua metodologia abrange quatro áreas
a paz e a segurança no mundo, de interesse – ambiental, social, econômica e institucional.
fomentar relações cordiais entre A publicação Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
as nações, promover progresso – Brasil 2004, desse órgão, contém um conjunto de 59 indi-
social, melhores padrões de vida cadores sobre a sustentabilidade do modelo de desenvolvi-
e direitos humanos. mento brasileiro.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 59

Sem pretender oferecer uma definição acabada de desenvolvi-


mento, Boisier (2003) considera que hoje o desenvolvimento é
entendido como a criação de um contexto que facilite o potencial
do ser humano, não apenas como homo-economicus, mas em
sua dupla dimensão biológica e espiritual.
Isto significa ampliar o conceito de desenvolvimento para uma
esfera endógena e subjetiva, diretamente dependente da auto-
confiança coletiva na capacidade de inventar recursos, mobilizar
os já existentes e atuar de forma cooperativa e solidária, desde
seu próprio território.
O economista brasileiro Celso Furtado já havia observado desde
1982 (apud BOISIER, 2003) que o verdadeiro desenvolvimento
é principalmente um processo de ativação e canalização de for-
ças sociais, de avanço da capacidade associativa, de exercício
da iniciativa e da criatividade. Portanto, trata-se de um processo
social e cultural, apenas secundariamente econômico.

Produz-se desenvolvimento quando na sociedade se manifesta uma energia capaz


de canalizar, de forma convergente, forças que estavam latentes ou dispersas.

Explicados os adjetivos local, integrado e sustentável atribuídos


ao desenvolvimento, concorda-se com a afirmação de Fischer
(2002), que este é uma “utopia mobilizadora no início da década
que inaugura o milênio.”

3.4 Conceitos relevantes para compreender o desenvolvimento


territorial
Para compreender o conceito de desenvolvimento territorial e
suas dimensões, será necessário resgatarmos o conceito de re-
gião, território e territorialidade.

3.4.1 Região
O conceito de região geralmente refere-se a uma área geográfi-
ca com certas características comuns, as quais a distinguem de
áreas adjacentes ou de outras regiões. O termo região, tradicio-
nalmente, refere-se às entidades espaciais de escala média ou
intermediária: o regional pode ser alguma parte entre o mundial
e o nacional – região continental – ou entre o nacional e o local
– região subnacional (ALBAGLI e BRITO, 2003).
60 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

A região é normalmente utilizada como unidade político-admi-


nistrativa e também econômica. Pode expressar-se tanto em
políticas públicas e outros instrumento de planejamento gover-
namental regionalizado, enquanto instrumentos de ajuste en-
tre interesses do Estado nacional e interesses territorializados,
como na forma de regionalismos, enquanto movimentos reivindi-
catórios da sociedade territorialmente organizada.
3.4.2 Território e territorialidade
Conforme já vimos no Tema 1, o território compreende o homem
e espaços físicos e sociais, com características peculiares quanto
às condições naturais, econômicas, simbólicas e sociopolíticas.
Para Fischer (2004), o território é um campo de forças, ou seja,
de exercício de poderes em diferentes escalas, que vão do mi-
cro-local ao global. Refere-se a um âmbito espacial delimitado
- um bairro, um município, uma região - podendo ainda ser in-
dicado por outras designações que sugerem uma certa inércia,
estabilidade e relativa ordenação.
Ao se definir um contorno territorial, pressupõe-se um agenciamen-
to estratégico neste recorte. Ou seja, território é concretude e for-
ma, mas também indica movimento e interação de grupos sociais
que se articulam e se opõem em torno de interesses comuns.
O território é lançado à condição de recurso específico e ator
principal do desenvolvimento econômico e deixa de ser visto
unicamente como um mero espaço ou marco de atividades eco-
nômicas ou sociais (LLORENS, 2001).
Essa transformação do território em entorno inovador, como é
bem exemplificado por experiências de regiões, cidades e bair-
ros, entre outros recortes possíveis, não é facilmente transferí-
vel, pois depende da qualidade e natureza das relações que se
estabelecem em cada local, das “estratégias de desenvolvimen-
to articuladas” (LLORENS, op. cit.) e da especificidade cultural
de cada contexto.
Lembremos aqui da categorização de lugar dada por Vieira e
Vieira (2002) destacando os lugares-locais e os lugares-globais.
Para o melhor entendimento das duas categorias, torna-se ne-
cessária uma rápida análise conceitual.

O lugar-local é o espaço da herança histórica. Dele se projeta a percepção de


realidades construídas no passado, modernizadas de acordo com os ritmos
econômicos e renovadas com os avanços culturais. O lugar-local é a base de
sustentação do território organizado.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 61

Os processos demográficos, econômicos e culturais têm caráter


histórico e fazem parte do contexto da formação econômica e
social da região de inserção. Fischer (1996) argumenta que “um
sistema de atores articulados pelo cotidiano, hierarquizados pelo
poder que detém é uma das muitas delimitações do local”. No
O lugar-global é a definição
espaço geográfico há uma razão local (SANTOS, 1996), atributo
do espaço em função do
da funcionalidade locacional, que é produto da herança histórica.
processo de globalização da
Assim, o lugar-global é a sede da ação, é onde se operacio- economia. Pode ser parte
nalizam as práticas produtivas e circulatórias; o centro da ação, do lugar-local onde a razão
contudo, pode estar muito distante, virtualizando as operações global desterritorializa o
de comando. Nos lugares-globais têm-se, quase sempre, co- espaço produtivo, no sentido
mandos subordinados. Segundo Santos (1996), a razão local e de separar o centro da ação
a razão global se superpõem em cada lugar, e, num processo da sede da ação, conforme
dialético, tanto se associam como se dissociam. Santos 1996).

O lugar-global é, portanto, o espaço para as estratégias mundiais das grandes


corporações multinacionais, estabelecendo redefinições territoriais e mudanças
nos procedimentos de gestão. A gestão do território, na nova dimensão dos
lugares, depende das forças que sobre ele atuam. A intensidade das forças está
na razão imediata do poder que emana dos interesses em jogo. Quanto maior o
poder das corporações multinacionais, maior a influência sobre a apropriação e a
gestão do território.

Passemos ao conceito de territorialidade, que se refere às re-


lações entre um indivíduo ou grupo social e seu meio de refe-
rência, manifestando-se nas várias escalas geográficas – uma
localidade, uma região ou um país – e expressando um senti-
mento de pertencimento a um modo de agir no âmbito de um
dado território.
A territorialidade reflete o convívio territorial, em toda sua abran- A territorialidade, como
gência e suas múltiplas dimensões – cultural, política, econômi- atributo humano, é
ca e social. Ela desenvolve-se a partir da existência comum dos primariamente condicionada
agentes, exercendo-se sobre um mesmo espaço geográfico, en- por normas sociais e valores
gendrando uma solidariedade orgânica do conjunto, a despeito culturais, que variam de
da diversidade de interesses dos agentes. sociedade para sociedade,
de um período para outro.
Considerando a territorialidade, o território na conformação
global não representa necessariamente áreas contíguas,
mas passa a ser representado, principalmentem por espa-
ços de interesses de produção e consumo. Passa, assim,
a ter dimensões variáveis de acordo com as ações políticas
e econômicas estabelecidas, representando novas formas
de organização, de redefinição de poder e de gestão dos
territórios.
62 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Podemos assim, falar na existência de territórios regionalizados por meio da


integração de blocos identificados em uma região econômica que vai além da
região geográfica tradicional. Como exemplos, podemos citar a criação do
Mercosul, do Nafta, Alca, União Européia – entre outros.

Interesses, recursos, valores convergentes, acordos e conven-


ções conformam interorganizações, híbridas por natureza, que
articulam Estado, mercado e a sociedade mais ou menos organi-
zada, tendo a cidade como ponto de confluência e protagonismo
no processo de desenvolvimento local, regional ou territorial.
As questões de poder revelam-se concretamente no cotidiano
dos territórios, onde formas tradicionais de planejamento, como
os planos diretores, convivem com inovações que admitem a
convivência de projetos diferentes ou de redundantes orienta-
ções sobre os mesmos espaços e objetos de decisão.
No mesmo território (Estado, cidade, região, etc.) superpõem-
se projetos e iniciativas com rótulos e fontes de financiamentos
diversos, incidindo sobre os mesmos espaços. Por exemplo, Or-
çamento Participativo, Agenda 21, Comunidade Ativa e múltiplos
conselhos, paritários ou não, podem ser encontrados em várias
cidades brasileiras (FISCHER, 2002).
O debate sobre poder local Não há um único vetor do poder local nos territórios. Existem
tem articulado e fragmentado relações transescalares entre atores interorganizacionais e in-
interesses na academia terinstitucionais, bem como as estratégias de gestão. Portanto,
e fora dela, desde que o quando se fala em local ou território, não se está circunscreven-
tema ressurgiu na agenda do o conceito à rua, ao bairro ou mesmo à cidade. O universo
acadêmica brasileira no de análise é mais amplo e abstrato, podendo estar relacionado
início dos anos 90. Naquele a várias escalas de poder, consideradas isoladamente ou em
momento, identificou-se duas conjunto, em um ou mais territórios.
vertentes desses estudos: (...) a
A opção por atuar em uma escala ou mais de poder é uma opção
primeira, é a realidade mesmo, política, que leva em conta possibilidades, condições materiais e
isto é, um cenário onde as competências de atores individuais e coletivos. “Existe um jogo de
questões do poder revelam-se escalas intrinsecamente articulado às áreas políticas e ambientais
concretamente no cotidiano produtivas. Neste jogo, as cartas podem adquirir, inclusive, a ex-
das cidades, e a segunda traordinária face de escalas forjadas, de escalas esquecidas e, até
vertente, tão importante quanto mesmo, de escalas subordinadoras” (RIBEIRO e DIAS, 2001).
a primeira, é a da rica reflexão
propiciada pelas abordagens A opção por atuar no desenvolvimento local por meio de pro-
teóricas do poder local. (...)
gramas e projetos não considera somente uma escala, espe-
(FISCHER, 1993).
cialmente no âmbito das cidades e regiões. Múltiplas escalas
estão presentes em projetos de pequeno porte que abrangem,
por exemplo, um bairro, onde os atores sociais envolvem-se em
relações com diversos níveis de governo, comunidades, agen-
tes financeiros locais, nacionais ou internacionais.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 63

3.4.3 Capital social


Outro conceito relevante para o entendimento sobre desenvolvi-
mento territorial é o de capital social, que se refere a um con-
junto de instituições formais e informais, incluindo hábitos e
normas sociais, que afetam os níveis de confiança, interação e
aprendizado em um sistema social.
A emergência do tema do capital social vincula-se ao reconheci-
mento da importância de se considerar a estrutura e as relações
sociais como fundamentais para se compreender e intervir sobre
a dinâmica econômica (ALBAGLI e BRITO, 2003).

O capital social propicia relações de cooperação que favorecem o aprendizado


interativo, bem como a construção e transmissão do conhecimento tácito. Facilita,
portanto, ações coletivas geradoras de desenvolvimento territorial (ALBAGLI e
BRITO, op. Cit.).

O conceito de capital social encontrou espaço na análise eco-


nômica apenas recentemente, embora vários de seus compo-
nentes tenham sido tratados na literatura sem uma referência
explícita ao conceito. O termo foi cunhado a partir dos trabalhos
dos sociólogos Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Put-
nam (2005).
Este último atribui o desenvolvimento significativo das regiões do
norte da Itália em relação às do sul à existência do capital social,
herdado de uma tradição republicana de participação coletiva.
Mais adiante, no corrente trabalho, discutir-se-á esta experiên-
cia como exemplo de desenvolvimento regional/territorial.
Numa comunidade, a organização de um sistema de poupan-
ça informal, por exemplo, como a associação de crédito rotati-
vo, pode sinalizar a presença de capital social. Trata-se de uma
associação formada por um grupo que concorda em contribuir
regularmente para um fundo que seja destinado integral ou par-
cialmente a cada contribuinte, alternadamente.
O capital social serve como uma espécie de garantia disponível
para os que não têm acesso aos mercados de crédito regulares.
Não dispondo de ativos para dar como garantia, os participantes
efetivamente empenham suas relações sociais (PUTNAM, 2005).
Muitas formas de capital social, como confiança, constituem
“recursos morais”, na denominação de Albert Hirschman (1984,
apud PUTNAM, 2005). Tratam-se de recursos cuja oferta au-
menta com o uso, em vez de se reduzir, e se esgotam caso não
64 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

sejam utilizados. Outras formas de capital social, como as nor-


mas de conduta e as cadeias de relações sociais, multiplicam-se
com o uso e minguam com o desuso.
Os estoques de capital social, como confiança, normas e siste-
mas de participação tendem a ser cumulativos e a reforçar-se
mutuamente. Os círculos virtuosos redundam em equilíbrios so-
ciais com elevados níveis de cooperação, confiança, reciproci-
dade, civismo e bem-estar coletivo.
Por sua vez, a ausência dessas características na comunidade
não-cívica também é algo que tende a reforçar-se. A deserção, a
desconfiança, a omissão, a exploração, o isolamento, a desordem
e a estagnação intensificam-se reciprocamente num miasma su-
focante de círculos viciosos. Nesse contexto, a tendência é haver
predominância da solução hierárquica hobbesiana para os dile-
mas da ação coletiva – coerção, exploração e dependência.
Essa situação opressiva é nitidamente inferior a uma solução
cooperativa, pois condena a sociedade a um atraso que só ten-
de a perpetuar-se. Todavia, isso é preferível ao “estado natural”
puramente anárquico, como sempre ficou claro para os italianos
meridionais desde a época medieval até os dias de hoje.
Tanto a reciprocidade/confiança quanto a dependência/explora-
ção podem manter unida a sociedade, mas com diferentes ní-
veis de eficiência e desempenho institucional. Uma vez inseri-
dos num desses dois contextos, os atores racionais têm motivos
para agir conforme suas regras.
3.4.4 Governança
Se formos identificar um conceito compreensivo para a gestão
idealizada ou para a “boa gestão”, este será o de governança.
Entendida como o poder compartilhado ou a ação coletiva ge-
renciada (HATCHUEL, 1999), governança transformou-se em
categoria analítica, associada a conceitos como participação,
parceria, aprendizagem coletiva, regulação, sinônimo de “bom
governo”, enfim, um leque para as boas práticas valorizadas
pela agências internacionais, como o orçamento participativo e
ações de desenvolvimento local e regional. Sua instrumentali-
dade é contestada, bem como o papel regulador que adquire na
sociedade, no atendimento de interesses exógenos.
Na teoria da firma, o termo governança foi primeiramente utili-
zado para descrever novos mecanismos de coordenação e con-
trole de redes internas e externas às empresas, relacionado ao
grau de hierarquização das estruturas de decisão das organiza-
ções. Posteriormente, o termo foi utilizado numa dimensão mais
ampla para designar (ALBAGLI e BRITO, 2003):
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 65

• processos complexos de tomada de decisão levando


à divisão de poder entre governantes e governados,
descentralização da autoridade e das funções ligadas
ao ato de governar, bem como parceria entre o público
e o privado;

• conjunto de redes organizadas, gestão das interações,


sistemas de regulação e mecanismos de coordenação
e negociação entre atores sociais.

Genericamente, o conceito de governança refere-se às diferentes maneiras pelas


quais os indivíduos e instituições (públicas e privadas) gerenciam seus problemas
comuns, acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações
cooperativas. É utilizado não só em relação a instituições e regimes formais de
coordenação e autoridade, mas também a sistemas informais.


Para Fischer (2002), a governança compreende uma rede de
conceitos (como desenvolvimento) que parece padecer dos ma-
les da polissemia e do uso cooperativo por várias disciplinas das
Ciências Sociais, bem como de aplicações e transferências in-
devidas em diversas situações. Guimarães e Martin (2001) en-
contram as seguintes convergências nos inúmeros estudos so-
bre governança contemporânea:

• concepção de que todos os implicados no processo de


tomada e implementação de decisões são co-respon-
sáveis e donos das decisões tomadas na qualidade de
consumidores ativos;

• concepção do processo de produção de recursos fi-


nanceiros, organizacionais e outros como resultados
de parcerias horizontais intra e interorganizacionais;

• valorização das estruturas descentralizadas e partici-


pativas que integram tomadas de decisão, implemen-
tadas e avaliadas em processo de aprendizagem orga-
nizacional.
Em se tratando do desenvolvimento local, a governança refere-se
aos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação
nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes – Esta-
do, em seus vários níveis, empresas, cidadãos e trabalhadores,
organizações não-governamentais, e das diversas atividades que
envolvem a organização dos fluxos de produção, assim como o
processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos.
66 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

3.4.5 Infra-estrutura
Apesar da relevância da governança e do capital social como
ativos intangíveis e, portanto, difíceis de serem mensurados,
identificados e controlados em determinado território, a infra-es-
trutura física não pode ser negligenciada no processo de desen-
volvimento territorial.
Toda comunidade necessita produzir riqueza para sobreviver
e conseqüentemente, além da infra-estrutura básica (energia,
saneamento, telecomunicações), precisa contar com vias para
escoamento da sua produção e acesso a mercados, fornecedo-
res e serviços. Os problemas de transporte têm se agravado no
país. Num estado grande como a Bahia, ou em qualquer outro,
não adianta implantar programas para trabalhar capital social e
a governança de uma comunidade, se suas vias de acesso não
proporcionam um custo de transporte factível.
3.4.6 Indicador de desenvolvimento humano
Não é possível falar do desenvolvimento sem referência a con-
ceitos como pobreza e exclusão, participação e solidariedade,
produção e competitividade, entre outros que se articulam e re-
forçam mutuamente ou que se opõem frontalmente. Nesse sen-
tido, é importante compreendermos alguns indicadores de de-
senvolvimento que vem sendo utilizados nos últimos anos, como
O IDH foi desenvolvido em 1990 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
pelo economista paquistanês O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida
Mahbub ul Haq e vem sendo comparativa de probreza, alfabetização, educação, expectativa
usado desde 1993 pelo de vida, natalidade e outros fatores para os diversos países do
Programa de Desenvolvimento mundo. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do
das Nações Unidas em seu bem-estar de uma população, especialmente bem-estar infantil.
relatório anual. Antes disso, a
avaliação de desenvolvimento Todo ano, os países membros da ONU são classificados de
dava maior ênfase ao acordo com essas medidas. Os países com uma classificação
crescimento econômico, elevada freqüentemente divulgam a informação, a fim de atrair
conforme discutido no item 1 do imigrantes qualificados ou desencorajar a emigração. O IDH por
presente texto. país é ilustrado no mapa apresentado a seguir. É claro que o
IDH não é homogêneo dentro de cada país, reflete apenas uma
média. Hoje, este índice é calculado por região, estado ou mu-
nicípio, divulgado pelo IBGE, pelas prefeituras, e por órgãos de
economia e estatística, a exemplo da SEI (www.sei.ba.gov.br) no
estado da Bahia.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 67

IDH ao redor do mundo. Verde escuro indica os índices mais altos (> 0,9) e marrom os mais
baixos (< 0,3)
Fonte: www.wilkipedia.org/wilki/IDH, acessado em 19/09/06.

O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1


(desenvolvimento humano total), sendo os países classificados
deste modo:

• Quando o IDH de um país está entre 0 e 0,499, é con-


siderado baixo.

• Quando o IDH de um país está entre 0,500 e 0,799, é


considerado médio.

• Quando o IDH de um país está entre 0,800 e 1, é con-


siderado alto.
Embora o Brasil esteja entre as quinze maiores economia do
mundo, no que se refere ao PIB, ocupa a 63ª posição no ranking
do IDH de 2005 (em 177 países no total), com um índice de
0,792 (médio desenvolvimento humano). Desde 1990, já subiu
14 posições. Apesar de ter melhorado nos critérios educação e
longevidade, o Brasil caiu no critério renda (www.wilkipedia.org/
wilki/IDH, acessado em 19/09/06).
Em educação, o Brasil tem uma taxa de 11,6% de analfabetismo
(91º no ranking mundial) e na taxa bruta de matrícula (um dos
melhores avanços recentes na área) o Brasil é 26º colocado no
ranking mundial. Em educação, o país tem desempenho melhor
que a média mundial e regional.
68 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

IDH dos estados do Brasil.


Dados: PNUD/2000.

O Brasil é internacionalmente conhecido por ser uma das socie-


dades mais desiguais – ou injustas – do planeta, onde a diferen-
ça na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Mas dados
estatísticos recentes, contidos na Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), mostram que o quadro começa a se alterar.
Entre 2001 e 2004, a renda dos 20% mais pobres cresceu cerca
de 5% ao ano enquanto os 20% mais ricos perderam 1%. Nes-
se mesmo período, houve queda de 1% na renda per capita e
o Produto Interno Bruto (PIB) não cresceu significativamente. A
explicação dos economistas brasileiros e também de técnicos
do Banco Mundial para a redução das desigualdades está nos
programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família.
No entanto, como mais de dois terços dos rendimentos das fa-
mílias brasileiras provém do trabalho assalariado, há necessida-
de de crescimento da economia e do mercado de trabalho.

3.5 Sistematizando o conceito de desenvolvimento territorial


Em meados da década de 90, chegam ao Brasil as práticas de
intervenção orientadas para o desenvolvimento de territórios,
especialmente cidades e regiões. Não é a primeira vez que se
fala em desenvolvimento localizado em territórios.
Na verdade, o trabalho com comunidades, nos anos 60 e 70, os
movimentos populares nos anos de 70 e 80, e, ainda, o boom
das organizações não-governamentais na década de 80 apon-
tam formas e estilos de intervenção ou, melhor dito, de gestão
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 69

de programas e projetos de caráter associativo que se propõem


a melhorar as condições de vida e democratizar a sociedade
local (FISCHER, 2002).
O território pode ser um ator de mudanças. Para tal, tem-se re-
forçado a construção de uma identidade e cidadania. Entende-
se identidade como a visão que pessoa tem de si mesma, de
suas características fundamentais como ser humano. Nas so-
ciedades tradicionais, o reconhecimento de identidades nunca
emergiu como um problema a ser tematizado. Pode-se definir
identidade em duas dimensões, no plano interno e na esfera
pública.
A política do reconhecimento igualitário e justo tem foco na esfe-
ra pública. Deve-se evitar, a todo custo, a existência de cidadão
de primeira e segunda classe (TAYLOR, 1992).
O princípio de cidadania teve como ponto de partida os movi-
mentos sociais do final do século XVIII, configurado pela con-
quista dos direitos civis e depois pelo voto para todos. O cidadão
é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado,
ou no desempenho de seus deveres para com este.

A cidadania não envolve apenas direitos, mas também deveres, respeito ao


próximo, aos limites, às regras de conduta em prol do bem estar coletivo. Os
movimentos sociais dos anos 60 nos EUA são vitoriosos ao conquistar direitos
civis para todos, incluindo os negros da região Sul.

A segunda fase dos movimentos sociais, que caracteriza a


moderna noção de identidade, deu lugar ao surgimento de
uma política de diferenças. Com a política de diferenças, o
que se deve reconhecer é a identidade particular de cada in-
divíduo ou grupo, suas características especiais em relação a
todos os outros.
Os movimentos de reforço a identidades étnicas, por exemplo,
atribuem muitas desigualdades sociais ao fato das diferenças
terem sido ignoradas e de terem sido assimiladas por uma iden-
tidade dominante (TAYLOR, 1992). Essa assimilação é conside-
rada um fator contrário ao ideal de autenticidade.
A construção de identidade e cidadania dos indivíduos em um
território aliada à presença de capital social (confiança, redes,
solidariedade, cooperação), sem negligenciar a infraestrutura fí-
sica, são determinantes do desenvolvimento local. O capital so-
cial embute o exercício da participação e da parceria, o estímulo
à cultura empreendedora.
70 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

O governo local desempenha o papel de articulador ao fomento


produtivo: micro-empresa, agricultura familiar, redes sócio-pro-
dutivas. O desenvolvimento não depende unicamente do setor
público, mas da forma como se organiza o conjunto dos atores
sociais em cada território.
Nesta nova estratégia de desenvolvimento seus agentes já não
são unicamente o Estado, as instituições federais e as grandes
empresas. Também o são os diversos níveis das administrações
públicas, municipais e estaduais, assim como as organizações
microrregionais e comunitárias que constituem a sociedade civil.
São interorganizações que forjam a construção do desenvolvi-
mento. A figura a seguir exibe os diferentes elementos que con-
tribuem para o desenvolvimento territorial.

Fonte: (www.rededlis.org.br, acessado em 19/09/06).

As políticas de desenvolvimento regional formuladas por orga-


nismos internacionais pós-consenso de Washington, a exemplo
do Banco Mundial, enfatizam o papel do capital social como fator
determinante do desenvolvimento e estimulam que se trabalhe
esse elemento para se atingir um nível mais elevado de desen-
volvimento humano. Contudo, uma questão que surge é se não
haveria uma proliferação e até mesmo uma superposição de
programas com esse foco.
O Capital Social não é facilmente construído ou controlado, por-
que depende de atributos intangíveis como a história e a cul-
tura. Modelos que deram certo em determinado território num
momento histórico raramente podem ser replicados.
TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 71

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema 3. Lembre-
se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para consolidação de
aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 3. Portanto, agora está
na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
72 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

TEMA 3

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TEMA 3 DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO 73

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Tema 4
Interorganizações e Gestão do Desenvolvimento

Uma palavrinha inicial


Atualmente, quando falamos em gestão do desenvolvimento só-
cio-territorial, é inevitável falar também sobre interorganizações,
conforme citado anteriormente. Esse fenômeno tem sido uma
das marcas principais da gestão contemporânea.

Ao fim desse estudo, você deverá:


• analisar o que significa, interorganizações e como surgiu;
• quais são as explicações teóricas para o aumento sig-
nificativo da interação e da cooperação entre os mais
variados tipos de organizações.

4.1 Desenvolvimento sócio-territorial, escalas de gestão e


interorganizações — uma introdução
No Brasil do século XXI, as organizações vivem em fluxos en-
trecortados por instabilidade e ameaças de toda a ordem, bem
como por possibilidades utópicas criativas e férteis. Toda a trans-
formação social dirige-se ao idealizado, ao utópico, mesmo que Quais sãos os desafios
os valores subjacentes sejam discutíveis. e dilemas de gestão que
propõe o desenvolvimento
Quando falamos em gestão do desenvolvimento territorial, é ine- de territórios? Como
vitável falar sobre interorganizações, ou seja, das relações es- se configuram as
interorganizações
tabelecidas entre organizações necessárias para o alcance de
no contexto do
determinados objetivos. desenvolvimento territorial?

Considera-se o conceito de interorganizações, ainda, como um “espaço de


confluência e interseção de organizações” (FISCHER, 1999). Para Alter e Hage
(1993), as interorganizações são estruturas com texturas híbridas, ou seja,
compostas por organizações diversas que tecem relações e podem criar redes.
76 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

O desenvolvimento ocorre em várias escalas (nacional, regional,


local), como utopia mobilizadora que catalisa programas e proje-
tos de governos e sociedade neste início de milênio. Constatam-
se ações articuladas entre organizações públicas e privadas,
governamentais e não-governamentais, na gestão do desenvol-
vimento territorial (FISCHER, 2004).
As redes e parcerias de todos os tipos têm sido valorizadas
de maneira crescente, no cenário atual. A descentralização da
gestão pública ocorrida nas décadas de 1980 e 1990 e o Plano
Diretor de Reforma do Estado Brasileiro, de 1995, defendem a
consolidação de parcerias público-privado.
A ênfase em novos arranjos institucionais é vista como positiva
porque permite maior sustentabilidade de políticas públicas a lon-
go prazo, uma vez que tendem a acontecer independentemente
do período de gestão de cada governo eleito (FARAH, 2001).
Deste modo, o processo de desenvolvimento tem sido cada vez
mais mobilizado e promovido por organizações que trabalham
juntas, ou por interorganizações, cuja principal característica é a
hibridização ou a complexidade.

Arranjos sócio-produtivos e empreendimentos de economia social e solidária são


exemplos de interorganizações de textura complexa, ou seja, redes de redes atuando
em espaços públicos territoriais. São articulados por interorganizações na forma de
fóruns, federações, consórcios, parcerias, alianças e conselhos, entre outras.

As redes são constituídas por organizações como ONGs, sindi-


catos, agências de desenvolvimento, empresas com ações so-
ciais, escolas e centros de formação, associações comunitárias
de gênero e outros agentes.
As interorganizações orientadas ao desenvolvimento territorial
podem operar em diferentes escalas, para cooperar e competir
com ações predominantemente sociais ou produtivas

Como se apresentam Na perspectiva da compreensão de organizações complexas,


estas três características três características são importantes para a análise das interor-
nas organizações que ganizações: totalidade, transformação e auto-regulação.
“trabalham em conjunto”, ou
seja, as interorganizações? Recuperada por Strati (2000) dos estudos de Fred Emery e Eric
Trist, de 1965, o conceito de estrutura remete a trama, a enredo,
a fios que se cruzam em processo contínuo, organizando a teia,
o texto, a textura. Antônio Strati chama atenção para a textu-
ra das organizações como uma variável analítica que auxilia a
compreensão de organizações complexas.
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 77

De maneira a definir novas “formas organizacionais” que envol-


vem múltiplos atores, deve-se buscar as características presen-
tes nesses fenômenos. A tendência apontada por Alter e Hage
- a de que cada vez mais as organizações se associam em bus-
ca de objetivos comuns - implica na necessidade de modelos de
análise para configurações.
Organizações confundem-se com os contextos em que operam,
embebidas nestes, sendo, muitas vezes, recortes superpostos
de espaços sociais. Olhar as organizações pela sua textura é
uma forma de ver configurações que se constroem, desconstro-
em e reconstroem em tempos e espaços intencionalmente deli-
mitados pela análise.

Segundo Strati (2000), o conceito de textura tem forte poder


evocativo. “Um território imaginário, um domínio circunscrito de
atores que compartilham idéias, projetos, emoções, sensibilida-
des, modelos de ação, normas, estilos, códigos de ética, senso
estético [...]”
É discutível se a mudança ocorreu nas organizações ou na for-
ma como as olhamos hoje. Não há dúvida de que a interdepen-
dência na “sociedade de organizações” em que vivemos no sé-
culo XXI é bem maior do que em meados do século XX, quando
a visão despolitizada da organização era dominante.
As redes, por exemplo, são um tipo de textura com conotação
substantiva (totalidade), supondo permanente movimento, en-
trelaçamento (transformação) e tensões entre estabilidade e
mudança (auto-regulação).

4.2 Principais teorias que explicam as interorganizações


A fim de esclarecer melhor o conceito de interorganizações e as
motivações que levam ao estabelecimento de relações interor-
ganizacionais, torna-se fundamental fazer um apanhado sobre
as teorias acerca desse assunto.
A obra de Alter e Hage (1993) é uma referência neste campo.
Esses autores apontam alguns acontecimentos que colocaram
o comportamento cooperativo em evidência, como:

• A mudança de foco da eficiência por quantidade (esca-


la) para eficiência por flexibilidade e inovação. Assim, a
grande empresa verticalizada dá lugar a firmas meno-
res e mais ágeis, atuando de forma inter-relacionada.

• A integração de objetivos econômicos e políticos, a


partir de um reconhecimento de que o mercado não é
78 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

apolítico e de que o Estado tem um papel importante


na economia, por intermédio, por exemplo, das políti-
cas nacionais de saúde e bem-estar da população.
• A valorização da cultura de confiança a partir da reali-
dade japonesa e das experiências do Vale do Silício e
Itália, baseadas em redes empresariais.
• O aumento do nível de complexidade educacional e
de cognição, o que facilita ao indivíduo compreender
as redes e implementá-las, quebrando a orientação
egoísta e estabelecendo parcerias para o alcance de
metas coletivas.
• O rápido avanço do conhecimento e da nova tecnolo-
gia, fazendo com que as organizações unam-se para
dividir custos com pesquisas e riscos diversos.
Diante deste cenário, Alter e Hage (1993) relacionam algumas
teorias que buscam explicar a formação de relações interorgani-
A teoria da ecologia zacionais. Primeiramente, destacam a Teoria da Ecologia Po-
populacional diz que o pulacional. Essa perspectiva busca explicar porque as organi-
ambiente é o fator crítico
zações crescem ou declinam ao longo do tempo, de acordo com
na definição de quais
organizações têm sucesso
mudanças ambientais.
e de quais falham. O foco
Neste processo, os sistemas de redes interorganizacionais funcio-
recai sobre a sobrevivência
do mais apto, como corolário
nam como uma forma institucional que representa uma estratégia
do Darwinismo Social, nesse de adaptação e sobrevivência. Quatro estratégias coletivas po-
caso, econômico. Nessa dem ser adotadas por organizações para gerenciar seus ambien-
observação, a teoria da tes (ASTLEY e FOMBRUN, 1983 apud ALTER e HAGE, 1993):
ecologia organizacional recria
a perspectiva da análise • Aglomeração: segundo a qual organizações pequenas
organizacional, definindo a com baixa interação articulam-se em relação às elites
relação ambiente-organização políticas para que elas regulem a atuação dos compe-
em termos de co-criação, na
tidores de larga escala.
qual um produz continuamente
o outro. • Confederação: na qual ocorre uma união de indústrias
concentradas para que alcancem metas que, sozinhas,
não alcançariam. Por exemplo, pressionarem o gover-
no na adoção de políticas favoráveis ao grupo.
• Conjugação: que representa um esforço de organiza-
ções de diferentes setores econômicos no comparti-
lhamento de recursos ou informações que melhorem
os resultados de cada organização.
• Orgânica: estratégia que envolve o nível mais maduro
de relacionamento, do tipo simbiótico, traduzindo-se
em cadeias de organizações trabalhando juntas para
o alcance de um resultado comum.
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 79

Já numa abordagem neoclássica, a Teoria da Mão Invisível pres-


supõe que a cooperação ocorre, mesmo que não intencional-
mente, porque é a base da ordem institucional. As pessoas coo-
peram entre si porque sabem que se fizerem diferente, o parceiro
pode retaliar. Assim, surge uma espécie de controle social.
Por outro lado, a Teoria da Escolha Racional não acredita que o
equilíbrio é espontâneo, mas decorre de uma escolha. Os indivíduos
não esperam obter ordem social e se afeiçoam ao comportamento
“carona”, ou seja, tirar proveito das vantagens obtidas pelo esforço
do outro. Neste caso, o que motiva a ação coletiva é a solidarieda-
de grupal. As pessoas sentem-se obrigadas a agir de acordo com
as normas de conduta coletivas para ter acesso aos recursos cole-
tivos, abrindo mão de recursos individuais, deliberadamente.
Outra teoria existente é a Teoria dos Custos de Transação, pro-
posta por Williamson, a qual pressupõe que os gestores calcu-
lam os pontos positivos e negativos das diversas possibilidades
de arranjo institucional, numa atitude consciente e racional.
Segundo Etzioni (1988 apud ALTER e HAGE, 1993), o cálculo
consciente é, contudo, uma exceção, pois a racionalidade do ser
humano é limitada. Outros fatores influenciam além da perfor-
mance, como a complexidade tecnológica ou o simples compro-
misso de ajudar, o que ele chama de dimensão moral.
Alter e Hage ratificam esta dimensão e colocam evidências da
existência de indivíduos que buscam atingir metas coletivas
mesmo quando eles próprios não são beneficiados, dando o
exemplo de médicos que se submeteram a um programa edu-
cacional que diminuiu sua autoridade tendo em vista que esta
atitude melhoraria o atendimento aos pacientes. Obviamente,
esta perspectiva vai de encontro às teorias anteriores, pois é
desinteressada em termos individuais.
Considerando as teorias expostas até aqui, percebe-se que os prin-
cipais fatores que motivam a cooperação interorganizacional são:

• a predisposição para cooperar;

• a necessidade de expertise;

• a necessidade de recurso financeiro e de compartilha-


mento de riscos (na instabilidade, as redes reduzem a
incerteza);

• a necessidade de eficiência adaptativa.


Oliver (1990) propõe uma definição de relações interorganiza-
cionais como sendo transações, fluxos e ligações relativamente
80 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

duradouras que ocorrem entre uma organização e outra ou mais


organizações no ambiente onde se encontra.
Baseada em um levantamento da literatura sobre o assunto des-
de os anos 60, a autora define seis contingências críticas que
podem determinar o relacionamento interorganizacional:

• Necessidade: as relações interorganizacionais são moti-


vadas por ordens emitidas por autoridades maiores (ex.:
legislação). Assim, não ocorrem voluntariamente, mas por
pressão. Ocorrem também relações interorganizacionais
voluntárias por necessidade, em função da escassez de
recursos (abordagem da dependência de recursos).

• Assimetria: as relações interorganizacionais são es-


timuladas pelo potencial de exercer poder ou contro-
lar outra organização ou os seus recursos. Teorias de
economia política, dependência de recursos, hegemo-
nia de classe/elitismo e controle financeiro atribuem
motivos de poder e controle para o estabelecimento de
relações interorganizacionais.

• Reciprocidade: ao contrário da contingência acima


(assimetria), uma boa parte da literatura assume que
a formação de relacionamentos baseia-se na recipro-
cidade. Neste sentido, cooperação, colaboração e co-
ordenação são mais enfatizadas do que dominação,
poder e controle.

• Eficiência: a motivação para a formação de relações


interorganizacionais é intrínseca à organização e rela-
ciona-se com o desejo de melhorar a eficiência. A teo-
ria dos custos de transação tem relação com este fator
motivacional, uma vez que as relações interorganiza-
cionais são formadas com a finalidade de economizar
nos custos de transação.

• Estabilidade: outra contingência apontada por Oliver é


a estabilidade, ou seja, a formação de relações interor-
ganizacionais é uma resposta adaptativa para ameni-
zar as incertezas do ambiente.

• Legitimidade: o estabelecimento de relações interorga-


nizacionais se dá com o objetivo da organização de-
monstrar ou aumentar sua reputação, imagem, prestí-
gio ou congruência com as normas existentes em seu
ambiente institucional.
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 81

Ainda segundo Oliver, apesar de cada fator mencionado ser su-


ficiente para, sozinho, motivar um relacionamento interorgani-
zacional, a decisão de iniciar relações com outras organizações
pode se basear em contingências múltiplas. Por exemplo, legiti-
midade e reciprocidade podem ocorrer simultaneamente.
Da mesma forma, eficiência pode interagir com estabilidade e re-
ciprocidade, Um exemplo é que para aumentar a eficiência, uma
organização pode manter relações estáveis com outra de modo
que esta estabilidade facilite a aquisição de recursos adicionais.
Alter e Hage (1993) avançam a reflexão para a perspectiva de
rede, e colocam que as redes permitem interações interorgani-
zacionais de intercâmbio, ação concertada e produção conjunta,
representando aglomerados organizativos que, por definição, são
coletivos não-hierárquicos de unidades legalmente separadas.
Na concepção de rede, a ausência de hierarquia entre os par-
ceiros é fundamental. Dois elementos essenciais compõem as
redes: os nós e seus respectivos entrelaçamentos.
Cada nó do tecido é estratégico, é fundamental para o todo, mas
eles só formam o tecido quando interligados entre si pelas li-
nhas. Além disso, como encarnam em si as idéias de origem
e de destino, os nós limitam e, ao mesmo tempo, são pontos a
partir dos quais a rede se expande.
A transformação da rede dá-se apenas pela expansão. Por isso,
não há, também, diferenças hierárquicas entre linhas e nós. Só
há diferenças de função entre eles – ligação e sustentação, res-
pectivamente – para formar o tecido. (MOURA, 1997, p. 67).
Esta terminologia transpôs-se para o campo das Ciências So-
ciais, uma vez que os atores e as organizações podem ser or-
ganizados em rede. Moura (1997), mediante uma ampla revisão
sobre o tema nesse campo, constatou que diversas são as adje-
tivações que o termo recebe, a depender da aplicação.
Da antropologia ressaltam-se, por exemplo, as redes primá-
rias para indicar formas específicas de interação entre indi-
víduos de um agrupamento. Da sociologia destacam-se as
redes sociais, para denominar as múltiplas relações tecidas
a partir das ações coletivas. Na geografia têm-se as redes
urbanas, que indicam níveis de interdependência e de fluxos
entre cidades (idem).
A perspectiva não-hierárquica da rede fica evidenciada, ainda,
na classificação e nos desenhos propostos por Van de Ven (apud
HALL, 1984), segundo os quais as relações interorganizacionais
podem ser do tipo:
82 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

• aos pares (A ↔ B);


• conjunto interorganizacional: a relação dá-se aos pares,
entre organizações e um centro, todas relacionando-se
indiretamente em conjunto para atingir um objetivo;

Figura 1 – Conjunto interorganizacional.


Fonte: VAN de VEN apud HALL, 1984.

• rede: “o padrão total de inter-relações entre um aglomera-


do de organizações que se entrelaçam num sistema social
para atingir metas coletivas e de auto-interesse ou para
solucionar problemas específicos numa população-alvo”.

Figura 2 – Rede.
Fonte: VAN de VEN apud HALL, 1984.

Crozier e Ehrard (1977 apud BALESTRIN e VARGAS, 2002)


alertam que uma rede ocorre sobre um campo de ação social
anteriormente estruturado e, assim, nenhum ator ocupa posição
neutra dentro de campo de ação da rede.
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 83

Acrescentam, ainda, que não há modelo universal de rede — sua


forma vai depender das características do campo de ação coletiva
em que se insere — e que a rede é o centro do processo coletivo
de aprendizagem que ocorre dentro do campo de ação coletiva.
Marcon e Moinet (2000 apud BALESTRIN e VARGAS, 2002)
chamam de rede um conjunto de pessoas ou organizações in-
terligadas direta ou indiretamente. Na tentativa de melhor com-
preender a diversidade no campo das relações interorganizacio-
nais, propuseram um mapa de orientação conceitual baseado
em quatro variáveis: hierarquia (rede vertical), cooperação (rede
horizontal), contrato (rede formal) e conivência (rede informal).
• Hierarquia: algumas redes têm claramente uma estru-
tura hierárquica. Por exemplo, as redes de distribuição
que adotam a estrutura de redes verticais para ter uma
maior proximidade do cliente. Esse tipo de relação ge-
ralmente é estabelecida entre distribuidor e cadeia de
distribuição e entre matriz e filial.
• Cooperação horizontal: neste tipo de rede, as organi-
zações envolvidas têm independência em relação às
outras, mas optam por atuarem em rede para criação
de novos mercados, compartilhar custos e riscos, etc.
São exemplos os consórcios de compra, as associa-
ções profissionais e as redes de lobbying.
• Contrato: as redes são constituídas formalmente via
contrato, no qual são estabelecidas regras de conduta
para os atores envolvidos. É o caso, por exemplo, das
franquias e das joint-ventures.
• Conivência: as redes de conivência são informais, per-
mitindo o encontro de atores que têm preocupações
comuns com base na livre participação.
Assim, esses autores propõem uma tipologia de redes, assumin-
do que a diversidade existente pode ser contemplada no seguin-
te modelo:

Figura 3 – Tipos de rede conforme Marcon & Moinet


Fonte: BALESTRIN e VARGAS, 2002.
84 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Alter e Hage (1993) também demonstram uma preocupação no


sentido de compreender as redes tendo em vista a diversidade
existente e propõem uma análise baseada em cinco proprieda-
des estruturais das redes: centralidade, tamanho, complexidade,
diferenciação e conectividade.

Centralidade
Há a premissa de que as redes interorganizacionais, quando
focalizadas na performance do sistema, desenvolvem núcleos
centrais dominantes. Essa centralidade pode ser detectada, por
exemplo, pelo volume de informação que passa por um dos ato-
res (o centro).
Alter e Hage analisaram um sistema de saúde em rede e consta-
taram que quando os recursos vêm de uma única fonte, a fonte
quer controlar as decisões para que possa regular objetivos e
custos da atividade, caracterizando-se como o centro da rede.
Com base em Aiken e Hage (1968 apud ALTER e HAGE, 1993),
também colocam que quanto mais o orçamento é vinculado a
uma fonte única, menor é a inovação.

Tamanho
Refere-se à quantidade de membros na rede. Alter e Hage le-
vantam as hipóteses de que quando os sistemas da rede são
verticalmente dependentes, há uma tendência da rede ter maior
tamanho para que possa prover o mix de serviços requerido e o
mesmo ocorre quando o volume de tarefas é alto.

Complexidade
Complexidade de uma rede é determinada pelo número de se-
tores de serviços ou produtos diferentes representados pelas
organizações-membros da rede. Alter e Hage levantam as mes-
mas hipóteses referentes à propriedade de tamanho para a pro-
priedade de complexidade, ou seja, quando os sistemas da rede
são verticalmente dependentes ou quando o volume de tarefas é
alto, há uma tendência da rede ter maior complexidade.

Diferenciação
O grau de especialização funcional e de serviço entre as organi-
zações membros de uma rede.

Conectividade
É o número total de ligações entre as organizações da rede. As
hipóteses levantadas para as propriedades de tamanho e com-
plexidade valem contrariamente para a propriedade de conecti-
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 85

vidade, ou seja, quando os sistemas da rede são verticalmente


dependentes ou quando o volume de tarefas é alto, há uma ten-
dência da rede ter menor conectividade.

Complementando, Alter e Hage defendem a hipótese de que,


quanto maiores a centralidade, o tamanho, a complexidade e
a diferenciação, maiores os níveis de conflito. Porém, quanto
maior a conectividade, menores os níveis de conflito.

No âmbito das redes, tendo em vista a mobilização de recursos


e os arranjos voltados para o interesse público ou coletivo, con-
forme levantamento feito por Moura (1997), são adotadas adje-
tivações como: redes sistêmicas (ALTER e HAGE, 1993); redes
de inserção local (MAUREL, 1991); redes políticas (1994); redes
de solidariedade (RANDOLPH, 1994); e redes de movimentos
(SCHERER-WARREN, 1994).

Sobre redes sistêmicas, Alter e Hage (1993) salientam que elas


emergiram nos EUA não entre firmas da iniciativa privada, mas
entre organizações de serviço público. São redes que têm como
meta solucionar problemas de ordem supra-social e na qual as
interações interorganizacionais são essenciais, envolvendo, por
exemplo, organizações voluntárias para captação de recursos,
agências estatais locais, organizações de serviço não-lucrativo
e empresas.

Redes de inserção local representam uma recomposição das


políticas sociais e do papel do Estado e da sociedade civil, ten-
do em vista uma articulação dos diversos atores em torno de
uma ação pública. Já as redes políticas representam processos
de interação regulares mas pouco formalizados envolvendo os
diversos atores interessados e impactados numa determinada
política pública; assim, a rede constitui um meio para a formula-
ção e negociação de políticas envolvendo o processamento de
divergências e conflitos.

4.3 Em síntese

Por que é tão importante entender a perspectiva interorganiza-


cional? Os argumentos elencados por Nohria (1992), expostos a
seguir, nos dão a resposta:

• Todas as organizações estão em redes sociais de re-


lacionamento e precisam ser entendidas e analisadas
como tais.

• O ambiente organizacional pode ser visto como uma


rede de outras organizações.
86 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

• As ações (atitudes e comportamentos) dos atores nas


organizações podem ser melhor explicadas em termos
de suas posições nas redes de relacionamento que es-
tabelecem.

• Redes definem ações e, por outro lado, são modela-


das por elas.

• A análise comparativa de organizações deve levar em


conta suas características de rede.

Finalmente, uma vez que estamos orientados ao desenvolvimento territorial —


sabemos que a ação dos gestores deve, necessariamente, ter esta perspectiva
—, não podemos dispensar a atuação articulada por meio de relações
interorganizacionais, capazes de fornecer a complementaridade necessária
para que as organizações possam, de forma integrada, construir e implementar
programas e projetos de desenvolvimento.

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema
4. Lembre-se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para
consolidação de aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 4. Portanto, agora


está na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
TEMA 4 INTERORGANIZAÇÕES E GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO 87

TEMA 4

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Tema 5
Estado, Sociedade e Desenvolvimento

Uma palavrinha inicial


Neste texto iremos apresentar alguns conceitos básicos sobre o
Estado, seus principais elementos constitutivos, suas transfor-
mações nos últimos tempos, e as tendências que parecem estar
delineando sua configuração futura.
Nosso objetivo central é entender e caracterizar o Estado con-
temporâneo. Porém, como o Estado não pode ser visto de modo
descolado da sociedade civil que o abriga, torna-se necessário
empreender também uma análise dessa sociedade civil.
Temos assistido, no mundo atual, a uma transformação dos pa-
péis desempenhados por diversos atores sociais - tanto do âmbito
público como privado - os quais têm passado a realizar atividades
típicas do Estado, como promover o desenvolvimento. Nosso ob-
jetivo será, entre outros, identificar esses atores e os esforços que
têm empreendido no sentido de construir o desenvolvimento.

Ao final desse estudo você deverá:


• conceituar e caracterizar o Estado e a sociedade civil;
• identificar as transformações ocorridas nestas entidades.

5.1 Definindo o que é o Estado


Antes de falarmos sobre o Estado moderno, vamos nos deter
em uma definição abrangente de Estado.

O Estado é a organização política que controla um território e uma população e


sobre os quais exerce o poder político.

Assim, a idéia de Estado pressupõe três elementos: poder político, povo e


território, que juntos formam uma nação.
90 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Por meio de eleições livres, os O Estado pode ser definido tanto em termos das instituições
cidadãos de uma democracia que o constituem como das funções que essas instituições de-
conferem poderes aos seus sempenham.
líderes conforme definido
em lei. Numa democracia As instituições do Estado democrático moderno compreendem
constitucional, o poder é dividido as esferas do Legislativo, do Executivo e Judiciário. Normal-
de modo que o Legislativo faz
mente se confunde o Estado com o Poder Executivo, devido ao
as leis, o Executivo obriga seu
cumprimento e as executa e o peso e à visibilidade de que o Executivo desfruta principalmen-
Judiciário funciona de forma te em sociedades menos desenvolvidas, mas esta é uma visão
independente parcial, limitada e equivocada do Estado.

As instituições estatais estão presentes em várias esferas: nacional, estadual


(regional) e municipal, o que implica na decisão de se ter arranjos políticos
mais centralizados, baseados na esfera nacional, ou mais descentralizados,
baseados nos níveis estadual e municipal (principalmente neste último).

5.2 Definindo o que é a Sociedade Civil


Se o Estado é o espaço que representa o interesse coletivo, a
sociedade civil, por sua vez, é o espaço dos interesses individu-
ais, o espaço das atividades econômicas, do jogo econômico,
do mercado.
A idéia de sociedade civil floresceu principalmente a partir do
Os burgueses eram surgimento da burguesia e do embrião do Capitalismo. Na ver-
pobres e não sonhavam dade, o conceito de sociedade civil está indissoluvelmente ligado
com enriquecer-se nem
à emergência do modo de produção capitalista. Durante a Idade
tampouco com tomar o
poder. Desprezados pelos
Média, enquanto as cidades estavam se formando e crescen-
nobres e pelos artesãos, do, artesãos e comerciantes começaram a emergir como uma
estes burgueses eram força econômica. Juntos, eles formavam guildas, associações
herdeiros da classe medieval e companhias para melhor conduzir seus negócios e promover
dos vilãos e, por falta de seus interesses, e, assim, teve origem a burguesia como clas-
alternativas, dedicaram-se ao se social. Mais tarde, esses indivíduos aliaram-se aos reis para
comércio, dando início assim
derrubar o sistema feudal, e gradualmente tornaram-se a classe
à acumulação de riquezas
que, alguns séculos mais dirigente nos Estados-nação industrializados.
tarde, serviria de base para o
Hoje, a sociedade civil é constituída não apenas pela burguesia,
surgimento do Capitalismo.
mas por diferentes classes sociais e grupos, ao passo que o Estado
é a estrutura organizacional e política da qual faz parte o governo.

É fundamental notar que o Estado é parte integrante da sociedade civil - ainda que
se distinga desta, ele faz parte da mesma.

O objetivo do Estado é fundamentalmente exercer algum tipo


de regulação sobre as atividades da sociedade civil. O Estado
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 91

é visto como a sociedade política, isto é, o espaço onde o inte-


resse coletivo entra em confronto, seja latente ou aberto, com
a sociedade civil, que por sua vez é o território dos interesses
particulares.
À medida que a vida dos seres humanos em agrupamentos e
comunidades foi se tornando mais complexa e suas atividades
mais especializadas, o mesmo se deu com a sociedade civil,
pois no momento em que interesses diferenciados surgem e se
multiplicam, é inevitável que muitos deles entrem em conflito.
Conseqüentemente, os grupos de interesses vão se constituin-
do e formando associações, os movimentos vão se instituciona-
lizando, e instâncias reguladoras vão sendo implantadas.

5.3 Breve histórico da formação do Estado

O Estado tem uma importância fundamental em nosso cotidiano, pois sua presença
se faz sentir em praticamente todos os aspectos possíveis da vida dos cidadãos
- desde o momento em que nascem (vide a obrigatoriedade das certidões de
nascimento) até a sua morte (idem as certidões de óbito).

Existem várias teorias políticas sobre a origem e formação do Rousseau (1712 – 1778)
Estado moderno. A mais recorrente delas vê o Estado como um foi uma das principais
contrato celebrado entre os membros da sociedade, aquilo que inspirações ideológicas da
segunda fase da Revolução
foi chamado de contrato social por pensadores como Hobbes,
Francesa - a última das
Locke e Rousseau. revoluções modernas. Do
Segundo essa teoria, os homens constroem um acordo entre si Contrato Social, de sua
autoria, inspirou muitos dos
– ou firmam um “contrato social” - para saírem do estado de natu-
revolucionários e regimes
reza, aquela situação em que não existe nenhuma formalização da nacionalistas e opressivos
lei e da ordem e onde, na visão do filósofo inglês Thomas Hobbes subseqüentes a esse período,
(séc. XVIII), “o homem é o lobo do próprio homem” e o que se vive por toda a Europa continental
cotidianamente é “a guerra de todos contra todos”. Como resultado
desse acordo, e como uma solução de compromisso que visa à
maior segurança de todos, os homens decidem transferir para um
monarca, de forma coletiva e concentrada, o poder que cada um
detém de forma individual e fragmentada – e portanto ineficaz.
Essa interpretação corresponde à visão teórica sobre o Estado
Absolutista, e esse Estado é construído fundamentalmente de-
vido ao medo que os homens sentem uns dos outros. Assim, o
que aproximaria os homens no sentido da construção do Estado
seria a insegurança e o temor, já que o Estado representaria
um freio aos instintos de ambição e de poder que caracteriza-
riam os homens - situação, aliás, que já havia sido percebida por
Maquiavel. As responsabilidades básicas desse Estado seriam
garantir a vida, a liberdade e a segurança de todos.
92 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

O Estado Absolutista, no entanto, se esgota no momento em


que não consegue responder aos novos interesses emergentes
na sociedade, principalmente aqueles vindos de uma burguesia
comercial em expansão. Por esse motivo surge em seu lugar,
A Revolução Gloriosa, na Inglaterra do século XVII, por meio da chamada Revolução
ocorrida em 1688, no século Gloriosa, um outro arranjo político: o chamado Estado Liberal,
XVII, representou a segunda
que tem por objetivos não só a garantia da vida e da liberdade,
manifestação da crise
do regime monárquico e
mas também da propriedade privada.
absolutista da época histórica Esta é a fase em que o Capitalismo se desenvolve, se afirma
que chamamos de Moderna.
e torna-se o modo de produção dominante. Nessa época deli-
O poder monárquico, na
Inglaterra, foi severamente neia-se a distinção clara entre Estado e sociedade civil, devido
limitado, cedendo a maior à ascensão da burguesia. Esse processo vai se consolidar efe-
parte de suas prerrogativas tivamente com a Revolução Francesa, que irá introduzir novos
ao Parlamento, e, como valores e ideais, tais como o da solidariedade e o da busca mais
conseqüência, foi instalado o efetiva da liberdade.
regime parlamentarista inglês,
que permanece até hoje. Ainda que muitos desses valores não tenham sido implantados e
consolidados de maneira universal, de qualquer modo eles lança-
ram o gérmen de um novo modelo de sociedade, na qual a questão
dos direitos humanos e da democracia passa a ser considerada.

O impulso para a afirmação desses direitos resulta de uma luta constante entre
os interesses das classes trabalhadoras de um lado, e, de outro, os interesses
dos capitalistas. Nesse processo o Estado funciona como um árbitro e, ainda que
essencialmente ligado aos interesses das classes proprietárias, desempenha
um papel de mediador, principalmente à medida que as classes trabalhadoras
constituem-se como um ator social de peso e exercem pressão sobre o Estado.

5.3.1 Do Estado Liberal ao Estado Intervencionista


O Estado Liberal repousa fundamentalmente, como vimos, nos
princípios da livre iniciativa, do livre comércio e do direito à pro-
priedade, considerando que o mercado é sempre o melhor regu-
lador e agenciador dos recursos (vide a Teoria da mão invisível,
de Adam Smith) e que, sendo assim, cabe ao Estado um papel
bastante secundário.
Porém, também esse modelo de Estado esgotou-se como resul-
tado da crise do Capitalismo de 1929 – 1933, que provocou uma
necessidade urgente de intervenção do Estado na economia. A
crise, iniciada nos Estados Unidos, irradiou-se rapidamente para
o resto do mundo, causando uma depressão que só foi freada
pela eclosão da 2ª Guerra Mundial. Foi a pior crise da história do
Capitalismo, em amplitude e duração do desemprego, empobre-
cimento em massa e destruição de valores.
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 93

Diante desta situação, começaram a surgir, no início dos anos Keynes foi um economista inglês
30, governos cujas políticas econômicas, ditas heterodoxas, iriam que, durante as primeiras décadas do
em sentido contrário àquelas do consenso liberal conservador. E, século XX, enfatizava e defendia o
papel estratégico do Estado no sentido
pela primeira vez, a economia foi resgatada da crise não pela rea-
de enfrentar as crises periódicas do
ção espontânea dos mercados, mas pela intervenção deliberada Capitalismo e assegurar a própria
do Estado, segundo o receituário preconizado por Keynes. sobrevivência desse sistema.

Na visão de Keynes, a intervenção do Estado era essencial para garantir a


demanda efetiva, mantendo a economia saudável. Essa intervenção deveria ter
um forte componente social e acabou sendo adotada no pós-guerra pelos países
de Capitalismo mais avançado, configurando assim o que passou a ser conhecido
como um novo tipo de contrato social, o Estado do Bem-Estar Social.

Nos Estados Unidos da América, uma vez superada a crise dos


anos 30, voltou a imperar o mesmo Estado Liberal. Nos paises
mais periféricos, entre eles o Brasil, ocorreu uma outra configu-
ração, de que falaremos mais adiante. Nos países onde o Es-
tado de Bem-Estar Social se implantou, a maior parte deles na
Europa Ocidental, esta nova forma de contrato social propunha
crescimento econômico com distribuição de renda, de modo a
produzir uma paz social favorável à manutenção da estabilidade
econômica.

O período em que este arranjo foi vitorioso é chamado de anos


dourados do Capitalismo, e durou basicamente de 1945 a 1975,
sendo marcado por um Estado fortemente ativo nas questões
sociais e por uma sociedade bastante politizada, principalmente
no que tange aos movimentos sindicais.

5.3.2 A entrada em cena do Estado neoliberal


A partir de 1974, com a crise do dólar e a do petróleo, encerrou-
se o ciclo dos “anos dourados”: A economia capitalista voltou a
apresentar graves oscilações conjunturais, longas e profundas
recessões, queda do ritmo de crescimento e altas taxas de de-
semprego.
Os principais fatores que contribuíram para a crise foram:

• uma forte crise fiscal do Estado;

• o esgotamento da conversão do dólar em ouro em


1971;

• os dois choques do petróleo (1973 e 1979);

• o início do fenômeno contemporâneo da globalização;


94 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

• a emergência do Japão como potência econômica


mundial;

• o avanço vertiginoso dos chamados “tigres asiáticos”


(Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura).
As lutas de classe agravaram-se nos principais países e as gre-
ves violentas chegaram ao auge. Entretanto, como a economia
era basicamente controlada por oligopólios, isso permitia que o
aumento dos custos da força de trabalho fossem simplesmente
repassados aos preços, o que fez com que a inflação subisse
vertiginosamente.
A grande transformação sistêmica acarretada por esse conjun-
to de fenômenos acabou provocando uma reviravolta ideológica,
que consistia em desafiar e atacar o Capitalismo dirigido pelo Es-
tado. As principais críticas a esse tipo de Estado baseavam-se no
seu excessivo gasto social, na sua suposta falta de sensibilidade
ao componente custo e, como prosseguimento da argumentação,
na crença de que o mercado seria o melhor alocador de recursos,
justamente por ter sensibilidade a esse componente.
A forma de desmontar o Estado de Bem-Estar Social passava
essencialmente por desmobilizar a sociedade civil, combatendo
principalmente o poder dos sindicatos e realizando um progra-
ma profundo de privatizações. Margareth Thatcher tornou-se um
ícone político do movimento ao assumir o poder na Grã-Breta-
nha e implantar o Estado Neoliberal, dando livre curso ao re-
nascimento dos antigos ideais liberais - agora, evidentemente,
adaptados a uma nova realidade.
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 95

O resultado desse processo foi um novo padrão de Estado, com O neoliberalismo nada
um componente social bem mais reduzido - levando ao que se mais é que uma retomada, a
tem chamado de Estado Mínimo. Este novo Estado acabou por partir de 1970, do liberalismo
clássico e outras formas de
disseminar-se por toda a Europa e atingiu também os países
intervencionismo econômico.
periféricos, como os da América Latina, entre eles o Brasil. Ocor- Muitos defensores de tal
reu, portanto um renascimento do liberalismo - que estava em doutrina rejeitam o termo
descrédito desde os anos 30 -, agora sob a roupagem da onda neoliberal, sendo o termo
neoliberal. mais usado pelos críticos
e principalmente pela
Esquerda. Os neoliberais
5.4 Estado no Brasil: O caráter patrimonialista preferem simplesmente o
termo liberal, pois seguem o
A partir de tudo que foi exposto até aqui, fica claro que existe liberalismo clássico
uma forte associação entre Estado, sociedade civil e Economia.
O tipo de Estado em vigor em um determinado contexto sócio-
territorial resulta do tipo de sociedade civil e da forma que a Eco-
nomia assume no desenvolvimento histórico daquele contexto,
além das próprias características do poder político instalado no
País em questão.
Sob o ponto de vista da esfera política, resumidamente, pode-
mos dizer que o Brasil foi construído dentro de uma matriz patri-
monialista herdada da colonização portuguesa.

O patrimonialismo é uma forma de dominação tradicional na qual não existe


uma distinção clara entre o que é público e o que é privado, e na qual essas duas
esferas se confundem.

No patrimonialismo a esfera pública é uma extensão da casa do soberano, da


sua esfera privada.

O patrimonialismo não se alicerça na idéia de direitos, mas sim de privilégios.


Não é o território do mérito e da racionalidade, mas sim da confiança pessoal do
governante.

O poder político não é exercido por meio da impessoalidade, mas, pelo contrário,
é marcado pelos interesses de cunho pessoal do governante.


Ainda que por um lado, sob o ponto de vista da sociedade, e prin-
cipalmente na esfera da economia, haja no Brasil um processo
de avanço crescente do Capitalismo, por outro lado, sob o ponto
de vista do Estado, isto é, do setor político, predominam ainda
no país relações do tipo neopatrimonialista. Nesse sentido, o
Brasil não é nem uma sociedade tradicional nem uma sociedade
capitalista avançada, marcada pelo imperativo da racionalidade,
mas sim uma sociedade neopatrimonialista, ou seja, ainda são
fortes os valores do patrimonialismo acima expostos.
96 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

5.4.1 O Estado no Brasil: dos anos 30 aos anos 80


A Revolução de 30 representou inquestionavelmente um pon-
to de inflexão na realidade brasileira. O Estado que começou a
ser construído a partir dela é um Estado mais ativo, resultado
também de uma sociedade mais ativa que havia sido forjada
principalmente na década de 20. O Estado torna-se, a partir da
década de 30, um ator relevante e estratégico no processo de
construção nacional.
Dada a ausência de uma burguesia mais consolidada e numero-
sa, o Estado no Brasil passa a desempenhar papéis que seriam
típicos desta. Também afetado pela crise de 1929, o Estado bra-
sileiro adota um papel mais intervencionista no plano econômi-
co, induzindo e controlando em grande parte a industrialização
do País. E aqui podemos começar a falar especificamente de
desenvolvimento.
O Estado brasileiro assume, nessa época, uma postura desen-
volvimentista. Enquanto nos países mais desenvolvidos o Estado
Welfarista - Relativo ao assumia um posicionamento muito mais “welfarista”, buscando
bem-estar social. Derivado o desenvolvimento social (e com ele, a retomada do crescimento
de Welfare State: Estado econômico), no Brasil os esforços do Estado foram no sentido
de bem-estar social. da promoção do crescimento econômico.
Essa estrutura se manteve ao longo das décadas seguintes, in-
cluindo também o período ditatorial dos governos militares. Fi-
cavam à margem dessa política, porém, a busca de um cresci-
mento capaz de realizar distribuição de renda, além de campear
a negação dos direitos civis e políticos de uma maneira geral.

Sob o ponto de vista econômico, é preciso reconhecer que o país fez progressos
apreciáveis ao longo das décadas de 50, 60 e até o final dos anos 70, tendo
construído uma indústria bem diversificada, embora com a importante característica
da proteção estatal. Esse modelo esgotou-se, porém, com as transformações
ocorridas no mundo - representadas principalmente pelo neoliberalismo e pela
globalização, que forçavam a abertura dos países ao comércio exterior - e também
pelo esgotamento das possibilidades de financiamento desse modelo.

5.4.2 O Estado no Brasil: Dos Anos 90 em Diante


O caminho adotado pelo Brasil, a partir dos anos 90, filiou-se ao
modelo de Estado neoliberal já prevalente nos países ditos do He-
misfério Norte (América do Norte, Europa, Japão, Austrália, Nova
Zelândia). Esse modelo se consolidou nos governos Collor e Fer-
nando Henrique Cardoso, tendo se desdobrado no governo Lula.
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 97

Em termos maiores, essa posição significou que as iniciativas


de reformulação do papel do Estado passaram por ações de
privatização de empresas estatais e por um projeto amplo de
reforma do Estado - mais precisamente entendido como reforma
do aparelho da administração do Poder Executivo, já que não se
estendeu às outras esferas do Estado.
Com essas mudanças, o Estado recolheu-se de sua posição de
agente ativo do desenvolvimento, passando a desempenhar um
papel predominantemente regulador. Por outro lado, recolheu-se
também de uma posição mais ativa, ainda que muito insuficiente,
na área da provisão social, transferindo para os governos locais
(municipais), ou para o mercado, atribuições que antes eram suas.
Uma justificativa recorrente para essas transformações baseia-
se na idéia da eficiência. Afirmava-se então, que o mercado é
mais eficiente que o governo central nas funções alocativas.
Da mesma forma, também o governo municipal, por estar mais
próximo de sua população, teria mais facilidades para captar e
atender suas demandas.
A reforma do Estado trabalhou igualmente com o conceito novo
do público não-estatal, ou seja, organizações privadas (as orga-
nizações não-governamentais ou ONGs), e portanto da esfera
da sociedade civil, passaram a encampar tarefas e responsa-
bilidades que antes pertenciam ao setor público. Como vemos,
ocorreu assim uma ampliação do espaço público e surgiu uma
complexidade maior sob o ponto de vista das atribuições de res-
ponsabilidades, tendo em vista que um conjunto muito mais di-
versificado de atores sociais veio a assumir papéis que antes
eram exclusivamente do Estado.

A mobilização desses novos atores também se deve a mudanças relevantes que


transcendem o âmbito nacional, e que encontram ressonância no ambiente mais
amplo do mundo ocidental. Entre essas mudanças, podemos citar a questão da
perda da centralidade do trabalho e, conseqüentemente, do movimento sindical.
Ainda dentro da mesma linha, podemos identificar igualmente a perda de
representatividade dos partidos políticos, que não conseguem mais atuar como
pontos de referência ou responder a uma agenda extremamente diversificada de
interesses e demandas populares. Isto tudo faz com que se ampliem os espaços
de luta social envolvendo outros atores, os quais buscam representar os novos
movimentos e tendências emergentes nas sociedades contemporâneas.

5.5 Estado e Sociedade no Brasil: O cenário atual


Um marco considerável na redefinição do Estado no Brasil foi
a Constituição de 1988. A luta contra o regime autoritário havia
98 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

dado origem a inúmeros grupos sociais que clamavam por maior


participação, e a nova Constituição impregnou-se bem desse
novo sentimento.
A crise dos anos 80, com seus aspectos econômicos, sociais e
Fernando Affonso Collor políticos, acabou resultando em um governo neoliberal (Fernan-
de Mello foi presidente do do Collor de Mello) que, por sua vez, ensejou uma forte crise
Brasil entre 1990 e 1992. Seu política. Todos esses componentes produziram mudanças con-
governo foi marcado pelo sideráveis na esfera da sociedade civil, e acabaram eclodindo
Plano Collor pela abertura movimentos de várias matizes.
do mercado nacional às
importações e por não ter Por outro lado, emergiram também inovações no âmbito dos go-
terminado o mandato, tendo vernos municipais, com algumas administrações buscando im-
sofrido um processo de
plementar ações mais democráticas e participativas na gestão
impeachment fundado em
acusações de corrupção
municipal, como é o caso do Orçamento Participativo. Algumas
dessas ações acabaram por migrar em direção ao Estado, sen-
do absorvidas por este, como a criação dos diversos Conselhos
de Participação Popular nas áreas da saúde, educação, meio
ambiente, crianças e adolescentes, etc.

Ainda que já se tenha um bom número de avaliações de diversas dessas


experiências, ainda fica difícil exarar um juízo mais conclusivo a respeito dos
pontos positivos e negativos das mesmas. Algumas iniciativas têm avançado no
sentido do aprofundamento da participação e da democracia, outras têm exibido
muitos vícios que tem comprometido os propósitos mais grandiosos perseguidos.

Neste contexto, é interessante chamar a atenção, como o faz


Dagnino (2002), para um reducionismo que deve ser evitado e
que consiste em identificar a sociedade civil como o “pólo de vir-
tude”, enquanto o Estado seria a “encarnação do mal”. Ainda que
o Estado tenha tido sempre muito poder na construção histórica
brasileira, e tenha primado por modalidades de ação autoritária
e conservadora, também no âmbito da sociedade civil encon-
tram-se enraizados e entrincheirados interesses da mesma lavra
– isto é, essencialmente antidemocráticos e retrógrados.,

Os males da exclusão social não podem ser atribuídos exclusivamente a um


Estado historicamente conservador, concentrador e intrinsecamente autoritário,
mas também a interesses semelhantes que se encontram encastelados na
sociedade civil.

5.6 Considerações Finais


O conjunto de reflexões expostas até aqui leva à constatação da
necessidade de construção de um projeto político que retome o
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 99

papel desenvolvimentista do Estado, o papel protagonista que o


Estado perdeu ao longo das últimas duas, quase três décadas.

O fato é que o Estado Neoliberal, mesmo com a introdução de elementos


democratizantes, entre eles a maior participação da sociedade civil, não tem sido
capaz de dar resposta às imensas necessidades da sociedade brasileira.

A partir dessa perspectiva, é preciso analisar também alguns


dos principais fenômenos da nova conjuntura em que vivemos,
alguns dos fatos e realidades que constituem, de certa forma, a
agenda de preocupações que deveríamos nos dedicar – sobre-
tudo aqueles indivíduos que atuam na capacitação de gestores
e de promotores do desenvolvimento.
Segundo Cohn (2003), esses principais fatos, ou fenômenos,
são quatro:

1. O primeiro deles diz respeito às novas configurações de exclusão social


presentes em nossa sociedade: se não mais prevalece o padrão de integração
social por meio do trabalho e se é cada vez mais comprovada a impossibilidade
– reconhecida atualmente até pelas agências multilaterais – de se estabelecer
um padrão de integração social via mercado, nos resta então detectar os novos
padrões de contratos e de solidariedade social que vêm emergindo.

2. O segundo traço característico da conjuntura contemporânea diz respeito


aos novos atores e sujeitos sociais nela presentes – ONGs, associações,
fundações, movimentos, parcerias, interorganizações, etc - assim como as
novas e numerosas configurações de sociabilidade e de atuação cidadã que
vêm emergindo no tecido social.

3. O terceiro fato, conseqüência lógica dos anteriores, remete aos novos espaços
de construção/desconstrução de identidades sociais e de direitos, isto é,
a constituição e dinâmica dos novos espaços da política, que não são mais
apenas aqueles tradicionalmente reconhecidos.

4. E o quarto fato, ou fenômeno, diz respeito ao desafio de se buscar entender o


Estado e os processos de formulação e implementação de políticas públicas
tendo em vista a nova configuração da sociedade.
100 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema
5. Lembre-se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para
consolidação de aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 5. Portanto, agora


está na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
TEMA 5 ESTADO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO 101

TEMA 5

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Tema 6
Sustentabilidade nos Negócios Orientados
para o Desenvolvimento

Uma palavrinha inicial


Embora a importância do desenvolvimento tomado de maneira
geral, seja um objetivo perseguido por partidários das mais va-
riadas posturas políticas e ideológicas, o fato é que a multipli-
cidade de significados do conceito faz com que ele se molde a
interesses diversos e, não raro, conflitantes.
Nos dias atuais, as discussões sobre desenvolvimento susten-
tável tornaram-se o exemplo mais evidente desse embate entre
projetos de desenvolvimento que, apesar de usarem muitas ve-
zes a mesma terminologia, são movidos, contudo, por interpre-
tações radicalmente diferentes da realidade. Isso significa dizer
que se hoje, por um lado, todos se declaram unanimemente fa-
voráveis ao desenvolvimento sustentável, por outro lado qual-
quer análise mais detida das propostas avançadas no sentido de
promover esse tipo de desenvolvimento depara-se com pontos
cruciais de incompatibilidade entre elas.
Apresentaremos a seguir alguns tópicos relativos à questão do
desenvolvimento sustentável – histórico, principais conceitos e
orientações teóricas – assim como os pontos de vista mais impor-
tantes acerca do papel de destaque que compete às empresas na
realização, ou não, desse modelo ideal de desenvolvimento.

Ao final desse estudo você deverá:


• Descrever o histórico, principais conceitos e orienta-
ções teóricas relativos à questão do desenvolvimento
sustentável;
• Reconhecer os pontos de vista mais importantes refe-
rentes às empresas que realizam, ou não, esse mode-
lo ideal de desenvolvimento
104 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

6.1 Desenvolvimento sustentável: retrospectiva histórica


A preocupação da comunidade internacional com os limites eco-
lógicos do desenvolvimento se intensificou na década de 60,
quando começaram as discussões sobre os riscos possivelmen-
te irreversíveis da degradação do meio ambiente, fenômeno que
tem seguido um curso acelerado desde meados do Século XX.
A idéia de que a vida no planeta pode se extinguir se não forem to-
madas severas providências contra a utilização e gerenciamento
irresponsáveis dos recursos naturais adquiriu tamanha intensida-
de que levou a ONU a promover uma Conferência sobre o Meio
Ambiente em Estocolmo (1972). No mesmo ano, Dennis Meado-
Clube de Roma Grupo de ws e os pesquisadores do Clube de Roma publicaram o estudo
economistas e cientistas “Os Limites do Crescimento”. O estudo concluía que, mantidos
europeus, formado em 1968, os mesmos níveis de industrialização, poluição, produção de ali-
dedicado à discussão de mentos e exploração dos recursos naturais vigentes na época, o
temas de relevância política
limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo,
internacional
em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da popu-
lação mundial e da capacidade industrial. As reações contrárias
ao relatório vieram tanto de intelectuais do Primeiro Mundo (para
quem a tese de Meadows representaria o fim do crescimento da
sociedade industrial) como daqueles dos países subdesenvolvi-
dos (que acusaram os países desenvolvidos de querer “fechar a
porta” do desenvolvimento aos países pobres, valendo-se de uma
justificativa ecológica).
Em 1973, o canadense Maurice Strong, diretor executivo do
UNEP (United Nations Environment Program) usou pela primei-
ra vez o conceito de ecodesenvolvimento, cujos princípios foram
mais tarde formulados por Ignacy Sachs. Os caminhos do eco-
desenvolvimento seriam seis:

• satisfação das necessidades básicas;

• solidariedade com as gerações futuras;

• participação da população envolvida;

• preservação dos recursos naturais e do meio ambiente;

• elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança e respeito a


outras culturas;

• programas de educação.

Essa abordagem referia-se principalmente às regiões subdesen-


volvidas, envolvendo uma crítica à sociedade industrial. Foram
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 105

os debates em torno do ecodesenvolvimento, nessa época, que


abriram espaço mais tarde para o conceito de desenvolvimento
sustentável.

Outra contribuição à discussão veio em 1974 com a Declaração


de Cocoyoc (México), em colóquio organizado pelas Nações
Unidas (ONU). A Declaração afirmava que a causa da explosão Portal oficial da ONU
demográfica era a pobreza, que também gerava a destruição no Brasil, que reúne
noticiário atualizado
desenfreada dos recursos naturais. Os países industrializados
diariamente:
contribuíam para esse quadro com seus altos índices de consu- www.onu-brasil.org
mo. Segundo a ONU, não haveria apenas um patamar mínimo
de recursos necessários para proporcionar bem-estar ao indiví-
duo; haveria também um limite máximo.

Em 1975, a ONU voltou a participar na elaboração de um ou-


tro relatório, o Dag-Hammarskjöld, preparado pela fundação de
mesmo nome, em colaboração com políticos e pesquisadores
de 48 países. O Relatório Dag-Hammarskjöld completava o de
Cocoyoc ao afirmar que as potências coloniais haviam concen-
trado as melhores terras das colônias nas mãos de uma minoria,
forçando a população pobre a usar outros solos, promovendo
assim a devastação ambiental. Os dois relatórios tinham em co-
mum a exigência de mudanças nas estruturas de propriedade
no campo (reforma agrária) e o fato de terem sido rejeitados
pelos governos dos países industrializados. Ambos vinculavam
enfaticamente o tema do poder ao problema ecológico, apon-
tando para os impasses entre meio ambiente e desenvolvimento
sob o Capitalismo.

No ano de 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Am-


biente e Desenvolvimento (UNCED), presidida por Gro Harlem
Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um documento cha-
mado “Nosso Futuro Comum”, o qual se tornou mais conhecido
como relatório Brundtland. É nesse relatório que aparece, pela
primeira vez, a definição de desenvolvimento sustentável que
veio a tornar-se clássica:
106 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

“Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades


do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem
suas próprias necessidades”.

Relatório Brundtland, 1987

O relatório representou claramente uma solução de compromisso


no debate que contrapunha desenvolvimentistas e ambientalistas, e
não apresenta as críticas à sociedade industrial que caracterizaram
os documentos anteriores. Pelo contrário, demanda crescimento
tanto nos países industrializados como nos subdesenvolvidos, in-
clusive associando a superação da pobreza nestes últimos ao cres-
cimento contínuo dos primeiros. Deste modo, o relatório – graças à
sua capacidade de articulação diplomática e de neutralidade conci-
liadora - foi bem aceito pela comunidade internacional.
Alguns anos mais tarde, a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em
1992, demonstrou o crescimento da preocupação mundial com o
futuro do planeta. A partir dela, muitos países deixaram de ignorar
as relações existentes entre desenvolvimento sócio-econômico e
Considerada como o resultado modificações no meio ambiente e a assinatura da Agenda 21 por
mais importante da Eco-92, 179 países foi o resultado concreto mais importante da ECO-92.
a Agenda 21, documento A Agenda 21 é um programa das Nações Unidas que traça um
assinado por 179 países plano de ação abrangente, a ser implementado nos níveis global,
naquela ocasião, é um texto
nacional e local, em todas as áreas nas quais a atividade humana
chave com as estratégias
que devem ser adotadas
impacta o meio ambiente. O texto final da Agenda 21 foi produto
para a sustentabilidade. Leva de inúmeros esboços preliminares, consultas e negociações ini-
em conta, principalmente, ciados em 1989 e que culminaram na Conferência.
as especificidades e as
características particulares
Em 1997, o Protocolo de Kyoto foi elaborado como uma emen-
de cada localidade, de cada da ao tratado internacional conhecido como Convenção-Quadro
cidade, para planejar o que das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O Protocolo im-
deve ser desenvolvimento põe, às nações signatárias, metas obrigatórias de redução das
sustentável em cada uma emissões do gás de efeito-estufa.
delas.
Finalmente, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, ocorrida em Montreal, em 2005, foi uma das maiores
e mais importantes conferências intergovernamentais jamais re-
alizada sobre esse tema e o evento marcou a entrada em vigor
do protocolo de Kyoto.

6.2 Desenvolvimento Sustentável: Um Conceito “Multiuso”


Sob o ponto de vista teórico e prático, as características da no-
ção de desenvolvimento sustentável (DS) que primeiro saltam
aos olhos de qualquer um que pretenda entendê-la são:
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 107

a) a aceitação universal do conceito;

b) a falta de consenso sobre o que ele significa (NOBRE e AMAZONAS, 2002).

Assim, um pouco como a felicidade, que todos almejam, mas


poucos concordam sobre o que seja ou como alcançá-la, o DS é
um conceito ambíguo, de significado complexo e contestado.
Com mais de 40 definições existentes sobre sustentabilidade,
não é de se espantar que exista alguma ambigüidade sobre o
quê, exatamente, o termo significa. Afinal, como tivemos oportu-
nidade de ver nos parágrafos anteriores, onde foi apresentada
uma breve evolução histórica da questão, o tema é atravessado
por uma profunda cisão, a qual naturalmente manifesta-se tanto
no campo teórico como no campo político.
Saiba mais sobre
De um lado, temos a corrente da economia ecológica, que vê o economia ecológica no
sistema econômico como um subsistema de um todo maior que site da web:
o contém, fato que impõe, portanto uma restrição inescapável e http://www.ecoeco.org.br/
absoluta à sua expansão. Esta visão é geralmente referida como
sustentabilidade forte (ROMEIRO, 2003).
Essa perspectiva pode ser ilustrada pela definição dada por Paul
Hawken, ambientalista e autor de alguns dos livros mais influen-
tes sobre a relação entre economia e meio ambiente:

Sustentabilidade é um estado econômico no qual as demandas colocadas sobre


o meio ambiente pelas pessoas e pelo comércio podem ser atendidas sem reduzir
a capacidade do meio ambiente de atender às demandas das gerações futuras.
O conceito também pode ser expresso, em termos simples, como a regra de ouro
da “economia restauradora”: deixe o mundo melhor do que você o encontrou, não
tire mais do que você precisa, tente não fazer mal à vida dos ecossistemas – e, se
fizer, procure criar formas de compensação (HAWKEN, 1994).

De outro lado, temos a corrente da economia ambiental, se-


gundo a qual os recursos naturais não representam, a longo pra-
zo, um limite à expansão da economia, uma vez que podem ser
superados indefinidamente pelo progresso científico e tecno-
lógico. Essa concepção ficou conhecida como sustentabilidade
fraca (ROMEIRO, 2003).
Entre no site do CEBDS, e
Um excelente exemplo desta última é a definição oferecida pelo
conheça um pouco sobre o
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sus- Conselho:
tentável (CEBDS), representante brasileiro da coalizão inter- www.cebds.org.br/
108 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

nacional World Business Council for Sustainable Development


(WBCSD), que congrega cerca de 180 grandes grupos multina-
cionais e atua como porta-voz dos interesses do setor empresa-
rial em assuntos relacionados ao DS:

Desenvolvimento sustentável é um conceito que busca conciliar as necessidades


econômicas, sociais e ambientais sem comprometer o futuro de quaisquer dessas
demandas. Como impulsor da inovação, de novas tecnologias e da abertura de
novos mercados, o desenvolvimento sustentável fortalece o modelo empresarial
atual baseado em ambiente de competitividade global (CEBDS, 2006).

Como vemos, a definição do CEBDS oferece uma frase concilia-


dora de abertura, seguindo a linguagem padrão da maioria das
definições de sustentabilidade, nas quais os conceitos-chave de
necessidades e de solidariedade intergeracional são menciona-
dos. Já na segunda frase, o DS é visto não como um fim em si
mesmo, mas como um instrumento – isto é, um meio – para for-
talecer o modelo empresarial atual, este sim o fim último a ser
alcançado. Note-se também a referência às novas tecnologias e à
competitividade global, mas a ausência do conceito de limites.

A tensão entre crescimento econômico e proteção ambiental constitui, portanto,


o “nó górdio” da problemática ambiental, e o conceito de DS é uma tentativa de
resolver essa dicotomia. Cumpre reconhecer, entretanto, que até agora o resultado
da acirrada disputa política para determinar o que devam ser o conceito e a prática
da sustentabilidade tem apontado para um claro predomínio da economia.

6.3 Sustentabilidade nos Negócios: Um imperativo e uma


oportunidade
A grande maioria das empresas considera que proteger e, se
possível, multiplicar o capital econômico-financeiro é um impe-
rativo básico para qualquer negócio bem sucedido. O que elas
não reconhecem com igual facilidade, contudo, é a necessidade
de estender essa mesma noção para os recursos naturais e hu-
manos do planeta, capitais igualmente valiosos e indispensáveis
para a sobrevivência de todo negócio, a médio e longo prazos.
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 109

O fato é que o DS só pode realizar seu potencial e sua promessa


de prosperidade econômica, justiça social e equilíbrio am-
biental se houver engajamento de todos os atores sociais, grupos
e organizações, incluindo-se aí não apenas as empresas, mas
também o governo, os organismos internacionais, as instituições
da sociedade civil, as universidades e o público em geral.

Nesse sentido, é fundamental que ele seja integrado ao planejamento estratégico


e aos sistemas de controle e avaliação das organizações, de todos os setores e
de todos os tamanhos.

Para que isso aconteça na esfera do mercado, especificamente,


é preciso que o conceito de DS seja formulado em termos que
sejam familiares aos líderes empresariais. É preciso convencê-
los de que existem benefícios a serem auferidos ao optarem
pela sustentabilidade. Como reverter o entendimento corrente,
segundo o qual o DS é geralmente visto como obstáculo às ativi-
dades empresariais, e apresentá-lo, ao contrário, como a manei-
ra mais sensata de garantir os interesses da empresa e de seus
stakeholders, agora e no futuro?
Uma maneira de fazer isso é demonstrando que as empresas
podem prosperar na medida em que contribuam para a prospe-
ridade da sociedade por meio da inovação, da criação de novos
bens e serviços capazes de atender aos desafios atuais e do
atendimento a novos grupos de consumidores. Em seu livro Ca-
nibais com garfos, publicado em 1998, o consultor inglês John
Elkington lançou o conceito de triple bottom line (resultado trí-
110 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

plice), trazendo para o universo das organizações de mercado


a tripla agenda do desenvolvimento sustentável: prosperidade
econômica, qualidade ambiental e justiça social. Segundo ele,
somente as empresas capazes de alcançar resultados positivos
e equilibrados em cada uma dessas três frentes seriam capazes
de fazer face às profundas pressões e mudanças características
do século XXI, e assim garantir sua sobrevivência.

6.4 O Bom Negócio da Sustentabilidade


Vejamos a seguir de que maneira os próprios setores empresa-
riais que primeiro abraçaram a causa da sustentabilidade têm
procurado convencer seus pares de que esta é a decisão mais
sensata e também a mais lucrativa. Apoiaremos nossa expo-
sição, sobretudo nos argumentos apresentados pelo WBCSD,
considerando que foi por intermédio dessa entidade que a po-
sição das empresas em relação ao DS primeiro organizou-se,
desenvolveu-se e tem sido sistematizada e difundida.
6.4.1 Forças de Pressão Externas
Alguns dos mais importantes desafios globais da atualidade es-
tão relacionados à pobreza, à mudança climática, ao esgota-
mento dos recursos, à globalização e às transformações de-
mográficas. Segundo o WBCSD (2006), essas questões, além
de serem cruciais para o futuro do planeta, também podem ser
transformadas em lucrativas oportunidades de novos negócios.
Todos esses fatores atuam no momento como forças de pres-
são externas (isto é, elementos do contexto) sobre as empre-
sas e, independente da vontade das empresas, influenciam o
rumo e o resultado de suas atividades, seja em termos de novas
demandas, nichos de mercado, formas de regulação, riscos e in-
certezas, aumento ou redução de custos, etc. Dada a inevitabili-
dade da situação, a alternativa que se apresenta às empresas é
simples: elas podem fazer como o avestruz, e negar-se a enxer-
gar a realidade que as circunda, ou podem resolver antecipar-se
ao avanço das novas tendências e tirar delas o melhor proveito.
Os desafios colocados por problemas tais como a crescente es-
cassez de água, o desmatamento e a desertificação de extensas
áreas, a perda da biodiversidade, o esgotamento iminente das
reservas de combustíveis fósseis, a ausência de infra-estrutura
básica em inúmeras regiões, os problemas de saúde, a deman-
da por ampliação do acesso à educação e a fontes de trabalho
e renda, o aumento dos fluxos migratórios, o envelhecimento da
população, as novas redes e conexões digitais, a intensificação
e complexificação do comércio, o crescente ativismo por parte
da sociedade civil – todas essas pressões externas demandam
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 111

soluções criativas, e podem abrir as portas para uma infinida-


de de novos negócios baseados no modelo do desenvolvimento
sustentável.
6.4.2 Forças de Pressão Internas
Market share Expressão
Paralelamente, as empresas enfrentam também forças de
em inglês que significa
pressão internas, que as impulsionam a conformarem-se ao participação no mercado.
novo cenário e a preocuparem-se com a sustentabilidade. Es- É a fatia das vendas de um
sas forças internas dizem respeito à percepção, por parte das produto que cada fabricante
firmas, das recompensas que podem advir de seu engajamento detém. Um exemplo: se
e de uma atitude proativa no que diz respeito ao DS, assim como o mercado brasileiro de
dos riscos inerentes à decisão de ignorá-lo. As principais forças biscoitos é de 5 bilhões de
unidades vendidas e um dos
de pressão internas (isto é, elementos de motivação) são: a
fabricantes participa com 3
necessidade de conservar a licença para operar, a redução de bilhões de unidades, então
custos, a manutenção ou ampliação de seu market share, e a ele tem um market share de
possibilidade de criação de novos mercados. 60% e é líder deste mercado.


A licença para operar está associada à legitimidade – ou seja, a condição “que
existe quando o sistema de valores de uma entidade é congruente com o sistema
de valores do sistema social mais amplo ao qual aquela entidade pertence”
(HOOGHIEMSTRA, 2000). Quando existe uma disparidade, real ou em potencial,
entre os dois sistemas de valores, a legitimidade da entidade em questão encontra-
se ameaçada.

A legitimidade é um conceito-chave para a compreensão das


práticas de gestão da qualidade, gestão ambiental, respon-
sabilidade social e sustentabilidade corporativa em geral.
Presume-se que as empresas tentam, de algum modo, sa-
tisfazer os valores sociais das comunidades onde operam e,
pelo menos de forma ostensiva, adequar-se às normas de
comportamento julgado aceitável. O preço a ser pago por
não fazê-lo pode ir desde danos à reputação e perda de ma-
rket share até intervenções do governo, por meio de um au-
mento nos impostos, nas restrições de zoneamento e licen-
ciamento, e inúmeras outras exigências e regulamentações
sobre as atividades empresariais.

Muitas dessas medidas exercem um considerável impacto fi-


nanceiro sobre a firma, limitando a natureza de suas operações
ou a maneira como podem ser realizadas. Empresas com um
histórico ruim de atuação ambiental, por exemplo, poderão ter
dificuldades em obter os recursos e apoios necessários para
continuar operando em uma sociedade que valorize a preser-
vação do meio.
112 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

Equivale a dizer que seu “contrato social” (isto é, sua licença para operar) pode ser
rescindido, a menos que a organização adote estratégias que visem a desmentir ou
neutralizar as percepções negativas a seu respeito (WILMSHURST & FROST, 2000).


A segunda força de pressão interna, ou motivação, que tem leva-
do as empresas mais atentas a preocuparem-se com a sustenta-
bilidade é a redução de custos. As firmas percebem que existem
custos embutidos no desperdício e na degradação ambiental e
que a contínua externalização desses custos acaba fatalmente
por voltar-se contra elas, seja no presente – por conta da pobreza
reinante e do esgotamento dos recursos – seja no futuro.
O Relatório de Avaliação de Ecossistemas do Milênio, publicado
em 2005 com o apoio das Nações Unidas, revelou que 2/3 dos
serviços prestados pelos ecossistemas estão sendo degradados
ou usados de maneira insustentável. Ora, são os recursos natu-
rais e esses serviços que tornam possíveis todas as atividades
econômicas – na verdade, a própria existência da vida. Eis ape-
nas alguns exemplos dos inúmeros serviços produzidos pelos
ecossistemas naturais dos quais nós dependemos:

• provisão de água e ar limpos;

• polinização das plantações e dispersão das sementes;

• proteção contra os excessos climáticos e os raios ultra-violetas;

• controle de pragas e de organismos transmissores de doenças;

• manutenção da biodiversidade;

• provisão de valores estéticos e recreativos,


Esses serviços e recursos têm um valor econômico imenso; na
verdade, literalmente não têm preço, uma vez que não possuem
substitutos. E, no entanto, as práticas econômicas e empresa-
riais correntes não levam em consideração o valor desses bens,
já que eles “não têm dono”. Na composição do preço da gaso-
lina, por exemplo, não entra o custo da poluição do ar causada
pelo uso desse combustível, ou o custo das doenças respirató-
rias resultantes da poluição, ou o custo emocional do conges-
tionamento exasperante que impera nas grandes cidades. No
preço de um empreendimento turístico não entra o custo do des-
matamento, da perda de biodiversidade ou do prejuízo causado
à paisagem. E qual é o resultado deste cálculo distorcido quanto
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 113

ao real custo de tudo o que consumimos? O resultado é que o


capital natural está sendo velozmente degradado e liquidado,
devido ao desperdício e ao uso irresponsável de recursos tais
como energia, água, madeira, fibras, solo cultivável, etc.
As empresas que já perceberam os riscos futuros inerentes a
essa corrida predatória têm interesse em evitar que tal processo
continue, por terem consciência das economias que podem ser
alcançadas por meio da eco-eficiência (“fazer mais com menos”),
das tecnologias limpas, do consumo sustentável, das cadeias
sustentáveis de fornecimento e da substituição de produtos por
serviços (por exemplo, vender mobilidade ao invés de carros, ou
iluminação ao invés de lâmpadas).

Tanto o cuidado em proteger a licença para operar, como a adoção de iniciativas


sustentáveis que conduzam à redução de custos a curto, médio e longo prazos,
podem contribuir para a manutenção e mesmo a ampliação do market share de
uma empresa. Da mesma forma, a criatividade e a inovação podem como já vimos
levar à identificação precoce de novas necessidades e tendências, e resultar
conseqüentemente na criação ou conquista de novos mercados.

6.5 Conclusão
A importância do papel das empresas na implementação de um
desenvolvimento verdadeiramente sustentável não tem como
ser suficientemente ressaltada.
As empresas mais progressistas e mais “antenadas” com a re-
alidade dão-se conta disso, e têm procurado ganhar vantagem
competitiva mediante a adoção de estratégias de sustentabili-
dade alinhadas aos desafios e problemas contemporâneos mais
prementes. Uma firma que protege o meio ambiente está, em úl-
tima instância, protegendo também o capital natural do qual ela
depende para funcionar, e possivelmente antecipando-se às leis
e regulamentações do mercado no futuro. Uma companhia que
atua afirmativamente para promover o bem-estar humano está
contribuindo para a formação saudável de seus futuros consumi-
dores e de sua futura força de trabalho. Ignorar essas questões
pode, segundo o WBCSD (2006), fazer com que as empresas
desperdicem oportunidades de lucro ou coloquem seriamente
em risco o valor de sua imagem e reputação.
Por outro lado, não há como ignorar as críticas que são feitas
por aqueles que consideram a própria idéia de um “capitalismo
sustentável” como sendo uma contradição em termos. Segundo
eles, não há como compatibilizar sustentabilidade, uma idéia
114 DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL, ORGANIZAÇÕES E GESTÃO

inseparavelmente ligada à consciência dos limites dados pelos


recursos disponíveis no planeta, com consumismo, ou seja, a
criação e promoção incessante de novas necessidades e dese-
jos, que é a ideologia alimentada pelo Capitalismo.
Da mesma forma, dizem os críticos - que geralmente são adep-
tos da corrente da sustentabilidade forte - não é possível esti-
mular o sentimento altruísta que fundamenta a noção de soli-
dariedade e, ao mesmo tempo, aceitar a incitação permanente
à competitividade e à maximização do ganho individual – que
são marcas registradas do sistema capitalista.

Por fim, de que maneira é possível aliar a visão de longo prazo, típica da
perspectiva ecológica, com todos os cuidados e precauções que ela traz embutida,
à visão de curto prazo, característica da lógica do mercado, na qual o que conta
são os resultados imediatos e as cotações sempre em alta?

E você, o que pensa disso tudo?

Agora é a sua vez! Faça uma síntese dos assuntos estudados no Tema
6. Lembre-se: essa atividade é uma importante estratégia de estudo para
consolidação de aprendizagem, não exigindo envio à tutoria.

Você já fez a síntese? Então, finalizou o estudo do Tema 6. Portanto, agora


está na hora de você assistir a videoaula do tema abordado!
TEMA 6 SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS ORIENTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO 115

TEMA 6

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