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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO – HABILITAÇÃO: COMÉRCIO EXTERIOR

Antonio Neves – RA: 16009847


Camila Leandro Merhi – RA: 18139618
Gustavo Mencarini Orlando – RA: 16140832
Leonardo Gomes – RA: 16143208
Letícia – RA: 15100381
Nick – RA: 16235350
Pedro Moro – RA: 15130370
Thaís Tenorio – RA: 16105884

Seminário de Antropologia B:

A humanidade em movimento

Tempos Líquidos – Zygmunt Bauman

Campinas

2018
O capitalismo denota aparente fragilidade. Ele não apenas alimenta-se
de instituições não capitalistas para sua existência, pois a decadência delas é o
que condiciona a sua ascensão; como também se alimenta de si próprio, uma
vez que a lógica de acumulação e maximização dos lucros ignora que os
recursos são finitos, fazendo com que o sistema busque a produção de riqueza
a partir da própria riqueza já existente. Assim sendo, conforme avança, o
capitalismo submete milhões de pessoas à pobreza, falta de terras e
degradação ambiental e de outros inúmeros recursos, constituindo graves
consequências para a humanidade.

E quais são essas consequências? Pode-se primeiramente apontar o


que o autor chama de obstrução dos antigos escoadouros externos para a
remoção do “lixo humano” e a sequencial não substituição desses
escoadouros, uma vez que o capitalismo e seus efeitos alastram-se por todo o
globo terrestre. Por lixo humano entende-se: excedente populacional, a parte
que não consegue ser reinserida na lógica de um novo padrão de vida e,
portanto, deixam de ser “úteis” na sociedade. E, então, migram: não à toa os
Estados Unidos deixam, no fenômeno de globalização do capital, de ter as
únicas capitais cosmopolitas. A densa mistura de culturas passa a acontecer
também em outros países. Esse movimento leva, ainda, à existência de um
exército de reserva de mão de obra, isto é, aquele excedente populacional que
anseia pela sua reinserção no mercado de trabalho e, logo, no sistema social
do capital como um todo.

Sob essa dinâmica, cresce a desigualdade. Se antigamente, diante de


uma mínima desigualdade, os governos resolviam a questão mais facilmente,
pois era um problema menor e local, agora o desafio torna-se muito maior, uma
vez que se dá em escala global – e é muito difícil tentar resolver um problema
global com soluções locais. A respeito, temos:

“Quanto mais a população "em excesso" permanece do


lado de dentro e anda ao lado dos "úteis" e "legítimos"
restantes, menos claras e tranquilizadoras parecem as
linhas que separam a "normalidade" da "anormalidade" e
a incapacidade temporária da destinação final ao
depósito de lixo” (BAUMAN, 2006, p. 38).
Esse excedente populacional, aquele que não é absorvido dentro das
normativas do sistema, acaba sendo atraídos pelo mundo do crime e das
drogas, que, ao contrário das outras instituições sociais, aceitam recepcioná-
los. São, portanto, “quase-soluções locais para problemas globais” (BAUMAN,
2006, p. 39).

Aprofundando-se na análise do autor, entende-se que a dinâmica do


capitalismo produz, ainda, vítimas de guerras, os refugiados (em especial vindo
de países retardatários ou periféricos do sistema), que se veem obrigados a
transpor fronteiras. Ironicamente, os líderes globais – aqueles dos países
ocidentais ou centrais do sistema – tentam tratar de maneiras locais os
problemas desse público construindo, por exemplo, refúgios, ao invés de
absorver essa população em suas sociedades (pioneiras da modernidade), o
que constituiria uma solução global e, portanto, efetiva – e problemas globais
só se resolvem com soluções globais.

Ao mesmo tempo em que o poder e a riqueza daqueles que os detêm


ditam a dinâmica global, a globalização produz Estados enfraquecidos em meio
aos conflitos inerentes a ela, dando margem ao surgimento de entidades não
estatais que, muitas vezes, protagonizam os conflitos bélicos de proporções
globais. As leis do Estado tornam-se, portanto, inúteis nesse cenário. Diante
disso, a população, com medo, opta por fugir das áreas de guerra ou
hostilidade, momento no qual se depara com a anarquia das fronteiras globais:
tornam-se não apenas refugiados de guerra, mas, também, pessoas sem
Estado, uma vez que no Sistema Internacional não há um Estado
declaradamente soberano que assuma essa população para si e, portanto,
proteja-a e garanta seus direitos. Uma vez fora de seus territórios de origem e
estando estes em situação de conflito, na qual fica comprometido o
funcionamento do Estado, essas pessoas vivem no “limbo” do sistema,
completamente desprovida de quaisquer direitos.

Assim surgem os campos de refugiados, que deveriam ser transitórios e


temporários, mas tornam-se permanentes, tal como se torna o status de
“refugiado”, por uma questão geográfica de destruição do lugar de onde veio e
para o qual, portanto, não pode voltar. Contraditoriamente, a partir do momento
que as instâncias maiores de poder decidem que “já é seguro” a essas pessoas
voltarem para o que um dia chamaram de casa, ainda que o ambiente esteja
destruído, elas deixam de ser consideradas refugiadas e, portanto, perdem a
ajuda humanitária, como forma de serem obrigadas a voltar. Nos campos de
refugiados, então, são fechados os hospitais, destruídos os poços e
interrompida a entrega de comida, fazendo com que esses espaços, que
deveriam ser sinônimo de segurança e alívio, tornem-se o mesmo que os
antigos lares dessas pessoas: destruídos.

Dessa forma, gera-se o seguinte questionamento: o quão humanitário é


o serviço dos agentes humanitários, cujo trabalho é, supostamente, ajudar a
população em refúgio? Não acabam eles funcionando como mais uma força da
exclusão e, ainda, apenas para manter as aparências e a consciência dos
espectadores tranquila? Os agentes humanitários cumprem a tentativa,
portanto, de “conciliar o inconciliável: o desejo poderoso de remover o nocivo
lixo humano ao mesmo tempo em que é satisfeito o próprio e pungente desejo
de retidão moral” (BAUMAN, 2006, p. 46).

“Lixo humano” são tidos os refugiados, pois se traduzem no significado


da expressão ao não desempenharem função útil e nem terem esperança de
virem a ser assimilados ou incluídos no escopo social. Não à toa os campos
nos quais são concentrados são o mais longe possível dos centros urbanos –
refugiados são vistos como indesejáveis por serem consideradas “migrantes
econômicos” e buscarem uma forma de subsistência em locais mais
“apropriados” do que seus países de origem. Geralmente, os governos não
aceitam esta prática, de modo que há muita discriminação e perseguição para
com essas pessoas.

Nesse contexto, uma das buscas mais incessantes por parte de


europeus, por exemplo, é fortalecer as fronteiras e evitar a entrada de cidadãos
que pretendem melhorar suas condições de vida. David Blunkett, Secretário
Britânico do Interior, fez propostas nas quais estavam o retorno de todos
aqueles que procuravam abrigo aos seus países de origem. Além disso,
Blunkett sugeriu mudanças de comportamento para outros líderes europeus,
idealizando uma força-tarefa que apenas escondia toda a sua difamação contra
esses seres humanos. Essa dinâmica demonstra que governos e figuras
públicas se dispuseram a incitar preconceitos e transformar aqueles em busca
por asilo em vilões, uma versão moderna de caça às bruxas. Ataques a essas
pessoas e conflitos anti-imigrantes se tornaram cada vez mais comuns, e a
forma hostil de tratamento somado ao descaso das autoridades levaram a
deportações daqueles tidos como indesejáveis. Em um período de um ano, por
exemplo, mais de 12 mil pessoas sofreram exílio, fazendo com que figuras
como David Blunkett louvassem o poder das suas medidas contra refugiados.

Para solucionar o “problema” dos migrantes, a ideia foi isolá-los em


partes remotas de seus respectivos países e, assim, se generaliza o
pensamento que migrantes não querem ou não podem ser assimilados à vida
econômica. A preocupação é muito mais em transformar as vítimas da
desigualdade econômica e social em vilãs.

Os registros do Alto Comissariado das Nações Unidas informam que


83,2% dos refugiados estão em campos da África e 95,9% na Ásia, enquanto
na Europa são 14,3% com tendências fortes para um aumento. Todos os
refugiados vivem no meio de um fogo cruzado e ao mesmo tempo um dilema,
visto que são muitas vezes expulsos à força ou obrigados de suas nações, ao
mesmo tempo em que sua entrada em qualquer outro país é recusada. Não é
uma questão de mudar de lugar, mas sim de perder o seu lugar de origem para
serem jogados para lugar nenhum.

Há, ainda, o fato de que os locais em que essas pessoas são colocadas
deveriam ser temporários, o que não se faz possível porque suas saídas são
bloqueadas, ou seja, seus países de origem não permitem um retorno,
principalmente por motivos de destruição de casas. Ao mesmo tempo, seus
países “atuais” não são chances de uma possível acessibilidade.

Estar em um lugar ao qual você não pertence gera invisibilidade e


dualidade aos refugiados, uma vez que eles não são nem sedentários, nem
nômades. Além disso, enquanto pessoas “como nós” são elogiadas por outrem
e refletem sobre o que lhes foi dito, os refugiados não são tidos apenas como
intocáveis, mas também impensáveis, inimagináveis. Com isso, buscam
credibilidade para seus esforços imaginários.
O estado de vida para quem vive em campos de refugiados passa a ser
permanente e persistente. Nenhum fato já vivido será eterno em suas
lembranças, as consequências e sequelas não são partes da sua experiência.
Se baseiam sempre na ideia de viver um dia após o outro e não deixam a sua
vida diária afetar todo o conhecimento adquirido até ali.

Nos campos – também chamados de “guetos comunitários” ou “mini


sociedades”, assim como em qualquer outra comunidade, também existem as
elites, marcadas por pessoas que possuem mais facilidade para uma saída, de
modo que não alimentam mais nenhum tipo de mercado que tenha surgido por
ali, por exemplo. Além disso, nos refúgios passa e existir, também, o fenômeno
de “hiperguetos”, os quais não são autossustentáveis. Quando seus habitantes
deles saem, há uma suspensão de seus fios originais, o que impede uma
continuação da comunidade.

É interessante observar que, em uma união dessas divisões, há uma


combinação de forças para evitar hostilidade, isolamento, etc., o que gera
muita dificuldade de resistência por parte de quem age negativamente em
relação aos refugiados. As políticas adotadas para lidar com essa população
abrangem, em tese, a resolução do problema como um todo, seja no âmbito de
resgate, melhoria de tratamento, mais inclusão para essas pessoas, sem, claro
esquecer-se da segurança de seus países – mudanças de comportamentos
necessárias que podem ser explicadas por todos os envolvidos nesse
fenômeno imigratório.

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