You are on page 1of 69

PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO NACIONAL

Roberto Simões

DIRETOR PRESIDENTE
Luiz Barretto

DIRETOR TÉCNICO
Carlos Alberto dos Santos

DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS


José Claudio dos Santos

GERENTE DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL


André Silva Spínola

GERENTE ADJUNTO DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL


Augusto Togni de Almeida Abreu

COORDENAÇÃO
Carlos Eduardo Pinto Santiago
Pedro Henrique Vasconcelos e Valadares

EQUIPE UDT
André Silva Spínola
Augusto Togni de Almeida Abreu
Carlos Eduardo Pinto Santiago
Cecília Fonseca e Miranda
Gabriela Penna Rios
Israel Alves Jorge de Souza
Karina Santos de Souza
Krishna Aum de Faria
Michelle Carsten Santos
Pedro Henrique Vasconcelos e Valadares
Robson José de Carvalho Schmidt
Sabrina Carvalho do Carmo de Oliveira

ESTAGIÁRIOS
Ana Laura Sousa Custódio
Luciana Maria de Negreiros Pinto
Pedro Henrique Carvalho Souto
Sara Araújo Pereira

DIAGRAMAÇÃO
Themaz Comunicação

sebrae.com.br/desenvolvimento-territorial
territoriosemrede.com.br
youtube.com/UDTSebrae
twitter: @Sebrae_UDT
facebook.com/udt.sebrae

A Revista de Desenvolvimento Econômico Territorial tem por finalidade publicar


artigos sobre desenvolvimento econômico local com foco nos pequenos negócios
e inclusão produtiva. Esta obra está licenciada sob a licença Creative Commons
Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada. ISSN 2317-8124
Sumário

7 O Desenvolvimento Territorial Sustentável a partir da


Escala Local

21 A Experiência da Iniciativa art do PNUD na América


Latina em Desenvolvimento Econômico Local

33 Desenvolvimento Territorial e Economia Solidária


(ESOL): conexões com a geração local de trabalho
e renda

46 Agente de Desenvolvimento – um elo entre a


administração pública municipal e os pequenos
negócios

55 A Contribuição do Instituto Sicoob PR com o


Desenvolvimento Local e Sustentável por meio
da Disseminação da Cultura Cooperativista

62 NIT (Núcleo de Inteligência Territorial) –


A importância dos indicadores municipais
Apresentação

E
m tempos em que a fronteira entre o sustentabilidade dos processos de desenvolvi-
global e o territorial se torna cada vez mento local.
mais sutil, a formulação de estratégias Em outro texto repleto de exemplos prá-
de desenvolvimento que consideram interes- ticos adotados por cinco países da América La-
ses dos atores locais numa perspectiva de longo tina (Bolívia, Equador, El Salvador, Uruguai e
prazo configura-se como uma tendência e, ao República Dominicana), Olivier Hidalgo ex-
mesmo tempo, um desafio aos diversos países. põe a estratégia do Programa das Nações Uni-
Se, por um lado, os fluxos comerciais e finan- das para o Desenvolvimento para articulação
ceiros não levam em conta as configurações so- de agentes e políticas nos territórios. A Inicia-
ciais e os arranjos econômicos pré-existentes em tiva ART (Articulação de Redes Territoriais e
localidades cada vez mais expostas às incerte- Temáticas de Cooperação com o Desenvolvi-
zas globais, de outro se observa a crescente va- mento Humano) prevê, dentre outros aspec-
lorização de iniciativas autônomas e
participativas de agentes que buscam

‘‘
protagonizar o processo de desenvol-
vimento a partir de suas especificida- Estratégias de desenvolvimento que
des territoriais.
consideram interesses dos atores locais
Neste sentido, Joan Noguera

’’
faz uma reflexão acerca da sustenta- numa perspectiva de longo prazo
bilidade do desenvolvimento territo- conf igura-se como uma tendência.
rial, a partir de uma indagação funda-
mental: em que medida o processo de
descentralização protagonizado por
atores locais incorpora ferramentas,
técnicas e políticas que levem em conta os de- tos, o acompanhamento técnico aos governos
safios da mundialização? Em seu artigo, o pro- locais para o desempenho de novas responsa-
fessor do Instituto Interuniversitário de Desen- bilidades oriundas do processo de descentrali-
volvimento Local da Universidade de Valência zação política.
(Espanha) reforça a importância das estratégias A contribuição da Organização Interna-
de desenvolvimento incorporarem como obje- cional do Trabalho – outra importante institui-
tivo finalístico a manutenção ou elevação dos ção multilateral – para o debate e elaboração de
indicadores de bem-estar e qualidade de vida projetos relacionados ao desenvolvimento eco-
dos habitantes do território. Além de apresentar nômico local é abordada no artigo de Leandro
aspectos teóricos e conceituais, Noguera esbo- Moraes e Roberto DiMeglio. Os autores bus-
ça algumas propostas práticas para aumentar a cam traçar conexões entre economia solidária

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL |5


e desenvolvimento territorial, especialmente no importância da utilização de indicadores para o
que diz respeito à realização de ações locais que processo de gestão e formulação de estratégias
levam em conta as raízes das comunidades. O de desenvolvimento local. O artigo de Karina
texto também relata a iniciativa da OIT em Souza retrata de que maneira ferramentas que
propiciar um ambiente de troca de experiên- fornecem dados e informações – como o Núcleo
cias e socialização desses modos de atuação, a de Inteligência Territorial, do Sebrae – podem
Academia sobre Economia Social e Solidária. Já auxiliar atores locais a conhecerem melhor seus
foram realizadas três edições do evento, e pre- territórios e, assim, traçar caminhos de supera-
vê-se que o próximo ciclo de debates ocorrerá ção e melhoria das condições socioeconômicas
em Campinas/SP, ainda em 2014. às quais estão inseridos.
Com relação a iniciativas nacionais de
promoção do desenvolvimento territorial, des- Boa leitura!
taca-se a importância da Rede de Agentes de
Desenvolvimento, descrita no artigo de Pedro André Spínola
Valadares. O autor reforça o papel estratégi- Gerente de Desenvolvimento Territorial
co do Agente de Desenvolvimento, criado por
meio da Lei Complementar 128/2008 e que Carlos Eduardo Santiago
tem por tarefa articular setores da prefeitura Analista da Unidade de Desenvolvimento Territorial
e parceiros institucionais diversos que possam
garantir uma rede de apoio aos pequenos negó-
cios locais. Ainda em âmbito nacional, o artigo
de Emanuelle Soares apresenta os principais
projetos da Central das Cooperativas de Cré-
dito do Estado do Paraná – SICOOB Central
Paraná, bem como expõe de que forma a insti-
tuição segue os princípios do cooperativismo e
promove o desenvolvimento local.
Por fim, esta edição da Revista de De-
senvolvimento Econômico Territorial ressalta a

6 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


O Desenvolvimento
Territorial Sustentável a
partir da Escala Local

Joan Noguera Tur


Doutor em Geografia pela Universidade de Valência,
Diretor do Instituto Universitário de Desenvolvimento Local
da Universidade de Valência. Desenvolve pesquisas nos
seguintes temas: avaliação das políticas de desenvolvimento,
cooperação público-privada para o desenvolvimento, novos
fatores de desenvolvimento territorial, turismo integrado,
conhecimento e desenvolvimento territorial.

A Visão Territorial e Sustentável do cia à descentralização tenha adotado, de forma


Desenvolvimento generalizada, um vocábulo anglo-saxão, “devo-
lution”, para expressar os contextos em que as
Durante os últimos 25 anos foram mani- comunidades locais pensam sobre a situação de
festados diversos processos de descentralização desenvolvimento e pensam/atuam sobre o mo-
de competências em direção a níveis subnacio- delo de território e de sociedade que querem
nais e supranacionais, em distintos âmbitos geo- alcançar no futuro. Este quadro permite que as
gráficos e sociopolíticos (Storper, 1997). Sem sociedades locais dirijam seu desenvolvimento
entrar por hora em uma valorização de sua uti- para seus interesses e necessidades, ainda que
lidade e conveniência, que realizaremos mais com certas limitações relacionadas aos proces-
adiante, é certo que este processo fez emergir sos de classe superior que atuam sobre toda a
com força um âmbito de governança que ha- realidade territorial. A grande diferença está na
via sido pouco escutado até então: “o local”. As medida em que as sociedades locais são capazes
primeiras manifestações desta tendência cor- de modular o impacto dos processos “de cate-
respondem a países com democracias maduras, goria superior” para seus interesses (Armstrong
nos quais as sociedades adquiriram o direito de and Taylor, 2000).
assumir, não sem dificuldades, uma função ativa Outro vocábulo anglo-saxão descreve o
e ser um dos protagonistas do processo político ambiente territorial como “empowered”; ou
e de tomada de decisões estratégicas (Nogue- seja, “capacitados”. A capacitação local permite
ra, 2010). Talvez seja por isso que essa tendên- “criar” soluções eficazes aos problemas e dificul-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL |7


dades enfrentados por uma comunidade local, cionais (a União Europeia, alguns bancos pú-
e contribui para impulsionar as potencialidades blicos de desenvolvimento ibero-americanos, a
locais para alcançar uma situação “ideal” (Beer CEPAL, algumas ações do BID, entre outros),
et al. 2003). Contudo, isso só ocorre em terri- através de programas e estratégias concentra-
tórios e comunidades locais que atuam de for- dos no desenvolvimento endógeno e “de baixo
ma inteligente; ou seja, a partir de um quadro para cima”, formaram as bases e forneceram a
de reflexão e ação estratégica que inclua uma oportunidade para que os territórios sejam do-
análise rigorosa de sua situação atual e a carac- tados das estruturas e ferramentas necessárias
terização restrita da linha de base territorial, a para que se convertam em “protagonistas” de
determinação de um modelo preferido e viável seu desenvolvimento. Entretanto, a realidade é
de território para o futuro, e a identificação e que a maioria dos territórios e sociedades locais
implementação das estratégias que permitirão deixou passar, de maneira negligente, tais opor-
alcançar tal modelo (Storper, 1997). Ademais, tunidades, por estar concentrada em uma ges-
tudo isso deve ser realizado em um quadro de tão de curto prazo, que não atendeu às necessi-
honestidade institucional e pacto social. dades dos cidadãos, e mostrando-se incapaz de
A esfera local é o cenário em que se mani- construir uma ação em longo prazo, mediante
festa a maioria dos processos que afetam a vida pactos locais que permitissem superar uma dis-
das pessoas. O real, o que as mulheres e homens cussão partidária tão persistente quanto carente
consideram importante, o que os ocupa e preo- de sentido; tão improdutiva quanto prejudicial;
cupa, o que os motiva e dá esperança, ocorre tão corrompida quanto incapaz de fornecer res-
principalmente em seu ambiente imediato; no postas construtivas (Noguera, 2009b).
“local”. Contudo, até pouco tempo, a escala local Após muitos anos de esforço, por meio de
só havia contado no momento de desenvolver, ações de política regional, de coesão territorial,
planejar e administrar a ação pública, incluindo de cooperação com o desenvolvimento etc., a
aquela destinada a proporcionar seus resultados pergunta fundamental, a qual marca e marcará
no espaço local. É certo que um bom trecho do a diferença entre territórios e comunidades lo-
caminho em direção à descentralização admi- cais, não aponta à disponibilidade de recursos,
nistrativa foi percorrido. Para dar-se conta dis- a acessibilidade, a posição tecnológica ou em
so, basta olhar para trás e recordar épocas, não matéria de inovação. Tampouco aponta a espe-
tão longínquas, nas quais as sociedades locais cialização em atividades produtivas no auge, a
eram consideradas num sentido paternalista, modernização empresarial ou a singularidade.
no melhor dos casos, e não tinham acesso ou Todos e cada um desses aspectos, considerados
influência sobre a estratégia de desenvolvimen- de forma isolada, podem estar contribuindo em
to para seus territórios porque, de fato, não ha- médio e longo prazo para o desequilíbrio, a per-
via estratégia, e tampouco consciência de estar da de qualidade de vida, a exclusão, o aumento
atuando sobre realidades territoriais diferencia- do risco de exclusão, e o aumento da dependên-
das. A consolidação de sistemas democráticos e cia dos mercados e do financiamento externo.
o reconhecimento do valor da descentralização Podemos, no entanto, nos concentrar na
e a autonomia local, junto dos sucessivos impul- pergunta de outra maneira: Em que medida
sos de alguns organismos nacionais e interna- todas as oportunidades associadas aos proces-

8 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


sos de descentralização e transferência de com- aos mais poderosos, e favorece uma tendência
petências foram ou estão sendo aproveitadas de unificação da cultura e do pensamento atra-
para avançar em direção às sociedades locais vés de processos de homogeneização (Pike et al.
maduras, participativas, com um olhar estra- 2002). No quadro desse modelo, o único cami-
tégico em direção ao futuro, e com a prepara- nho que se oferece às sociedades locais é com-
ção de ferramentas técnicas e políticas que os petir mediante diversos tipos de estratégia que
permitem confrontar, com garantias, os desa- vão desde a introdução e difusão de inovações,
fios da mundialização e de seus próprios con- até a flexibilidade do sistema produtivo local
textos territoriais? A partir de uma perspecti- em função de uma demanda que costuma ser
va teórica, a escala local permite a preparação majoritariamente exógena. A ação institucional
de soluções ideais aos problemas e o impulso é orientada à utilização intensiva dos recursos
das potencialidades para alcançar uma situação locais para manter a competitividade no mer-
de desenvolvimento “sustentável”, mas isso só cado global (Malecki 1997; Chesire and Gor-
ocorre naqueles territórios em que se atua com don, 1998). É o modelo dominante sob o qual
inteligência, partindo de um reconhecimento sobrevive a maioria dos territórios. Seu desen-
rigoroso da realidade que permitirá a identifi- volvimento efetivo tem duas consequências: a
cação e o desenvolvimento de um modelo de primeira sendo a existência de crises recorrentes
território e sociedade para o futuro ao

‘‘
qual caminhará de mãos dadas com
uma estratégia compartilhada, e tudo
isso em um quadro de honestidade e
A escala local permite a preparação
concentração social. de soluções ideais aos problemas
Se nos atentarmos ao sistema e o impulso das potencialidades
político-econômico dominante, a

’’
globalização e as economias abertas
para alcançar uma situação de
de mercado são o quadro ideal para desenvolvimento “sustentável”
uma disputa não necessariamente
construtiva entre regiões e territórios.
O capitalismo aberto e a globalização favorece- causadas pela lógica de ganhadores e perdedores
ram, sem sombra de dúvida, o movimento das imposta pelo sistema capitalista e que afeta com
mercadorias, a informação e a inovação. Entre- crueldade e de forma contínua as regiões e ter-
tanto, longe de proporcionar um modelo igua- ritórios que ficam excessivamente expostos ao
litário, de equilíbrios e sustentável, este modelo endividamento e aos mercados, ou aqueles que
consolida e gera novas dependências derivadas se encontram nas etapas de maturidade e declive
da colonização econômica, propõe um modelo em suas especializações produtivas (Haughton
ambientalmente insustentável baseado no ex- and Counsell. 2004). A segunda consequência é
cesso de exploração de recursos renováveis e em que os territórios passam a dar “murro em ponta
um transporte intensivo, que é a principal causa de faca” em termos de inovação, para ganhar, ou
do superaquecimento global e do efeito estufa, ao menos manter, sua competitividade e ativi-
cria relações de dependência dos mais fracos dade econômica. É um modelo de ganhadores

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL |9


e perdedores, baseado em uma lógica insusten- tos fundamentais do processo de desenvolvi-
tável de crescimento especulativo e concentrado mento, e fica reduzida a detalhes associados às
nas necessidades dos mercados, no qual nada diferentes ideologias existentes. A partir desta
garante o bem-estar, a prosperidade e a quali- alternativa, as sociedades locais possuem um
dade de vida para qualquer território. projeto futuro; um projeto compartilhado pe-
Não parece que chegaremos muito lon- los agentes locais que se comprometeram com
ge seguindo por esse caminho. O crescimento seu desenvolvimento e gestão (Morgan, 2004).
desenfreado, que afeta o planeta, a aspiração a O governo local se transforma em um “espaço
normas de consumo que são claramente inal- institucional neutro” composto por um conjun-
cançáveis para o conjunto da humanidade, fa- to de alianças entre os representantes das sen-
zem daquele modelo uma bomba-relógio pron- sibilidades locais que tomam as decisões por
ta para ser detonada a qualquer momento e por consenso, de forma natural. O debate e a dis-
diversas causas (fome por escassez de alimentos cussão de ideias são fundamentais, mas sua re-
ou por colheitas perdidas, privatização e restri- solução acaba por ser simples, uma vez que se
ções ao consumo de água, riscos naturais com tem como ponto de referência uma estratégia
efeitos mais catastróficos que nunca devido à de desenvolvimento compartilhada e consen-
pressão sobre o território e à vulnerabilidade sual. Uma estratégia que não é propriedade de
de instalações estratégicas, problemas de segu- ninguém, mas patrimônio de todos. Uma estra-
rança e criminalidade associados aos desequi- tégia que, além do crescimento econômico, do
líbrios gerados etc.) (Krugman 1995). Pode- acesso a novos mercados, da disponibilização de
mos, como uma alternativa, optar por praticar infraestruturas ou equipamentos, da criação de
os princípios do desenvolvimento local, e em- empregos ou da inovação, tem como principal
barcar em um projeto concentrado na obtenção finalidade conquistar e manter níveis adequados
de uma sociedade local capacitada, que parti- e, se possível, crescentes, de bem-estar e qua-
cipe e seja corresponsável por seu próprio de- lidade de vida para os habitantes do território,
senvolvimento, e que possa propor e “impor” dentro de um modelo de sociedade sustentável
um “pacto” com a globalização e o sistema ca- (Noguera 2009a). E todos os demais elementos
pitalista, para evitar que, nas “crises” seguintes, mencionados adquirem maior ou menor rele-
a riqueza, o bem-estar e a prosperidade sejam vância em função de sua contribuição à finali-
devorados pelo absurdo, injusto e ineficaz fun- dade principal da estratégia de desenvolvimento
cionamento do capitalismo global. O pacto com (Izquierdo, 2002).
o sistema global implica uma série de renúncias É disso que se trata o desenvolvimento
em troca de gerar segurança, soberania e ver- local sustentável. Já em pleno século XXI, em
dadeira qualidade de vida. É então que pode- um mundo cuja população cresce de modo de-
mos começar a falar de “desenvolvimento local senfreado, onde as desigualdades aumentam dia
sustentável”, com uma sociedade responsável e após dia, em que a capacidade de transforma-
ativa, que exige capacidade, honestidade e olhar ção da tecnologia já afeta o ecossistema global
estratégico das pessoas que tomam suas deci- de forma que ainda não conhecemos bem, é o
sões (Albuquerque, 2004). A disputa partidária momento de optar por sociedades locais cor-
perde o sentido, ao menos em todos os âmbi- responsáveis e por governos que deem ênfa-

10 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


se à obtenção de espaços de sustentabilidade. prévio sobre sua viabilidade e oportunidade, e
A escala local é, sem dúvida, privilegiada para não foram inseridas em uma estratégia susten-
começar a tentá-lo (Vázquez Barquero, 2002). tável de desenvolvimento em longo prazo. Por
À medida que consigamos que os princípios do este motivo, os objetivos de desenvolvimento
desenvolvimento local sustentável sejam imple- não foram definidos adequadamente e o futu-
mentados em nossos territórios alcançaremos, ro é enfrentado de forma reativa e com gran-
pouco a pouco, um lugar mais próspero e viável des incertezas. Esta realidade impede, em mui-
para nós e para as gerações que virão a seguir tos casos, a concretização dos benefícios de um
(Noguera and Morcillo, 2012). processo de planejamento e que podem ser re-
sumidos em: redução da incerteza na tomada
E não se enganem: não há alternativa. de decisões, aumento da racionalidade nas atua-
ções, aumento da responsabilidade e implicação
Algumas propostas para aumentar dos agentes locais no processo de desenvolvi-
a sustentabilidade dos processos mento, e estímulo da participação na tomada
de desenvolvimento local de decisões da sociedade local. Para aumentar
o sucesso dos processos de planejamento estra-
Uma vez apresentados os principais as- tégico, as seguintes recomendações podem ser
pectos teóricos e conceituais da visão territorial seguidas: em primeiro lugar, priorizar o impor-
e sustentável do desenvolvimento, procede-se tante com relação ao urgente ou politicamente
à apresentação e explicação de um conjunto de rentável; em segundo lugar, alcançar um posi-
propostas e métodos cuja aplicação correta pode cionamento comum com relação aos processos
contribuir de forma determinante para o impul- e decisões de grande importância para o futuro
so e a consolidação de processos sustentáveis de do território; em terceiro lugar, concretizar esses
desenvolvimento. É importante destacar que acordos em processos de planejamento estraté-
nenhuma dessas atuações tem uma materializa- gico territorial a partir do ambiente local; em
ção imediata, mas adquirem todo seu potencial quarto lugar, trabalhar na dimensão territorial
em médio e longo prazo. Em decorrência disso, mais adequada em cada caso (município, região,
não é conveniente recorrer a elas em momentos etc.); por último, não multiplicar processos de
de crises, e sim em momentos de crescimento planejamento participativo que com frequência
econômico e social, quando podem ser realiza- se dissimulam e geram um forte desgaste nos
dos melhores ajustes e mudanças necessárias agentes locais.
para sua implementação.
b. A capacitação da sociedade local
a. A existência efetiva e onipresente de através de modelos reais de demo-
uma visão, planejamento, e gestão es- cracia participativa
tratégica com relação ao território local
O modelo territorial de futuro só pode ser
Com demasiada frequência, as ações para definido de forma compartilhada e em consen-
o desenvolvimento estabelecidas a partir de um so com os agentes do território. Isso implica na
território precisam de um processo de reflexão existência de um compromisso em nível políti-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 11


co e, portanto, na não apropriação por parte de A aposta em modelos territoriais basea-
qualquer grupo local. Por outro lado, deve existir dos na competitividade a partir do custo dos
um claro compromisso por parte das principais meios de produção é cada vez mais perigosa.
instituições e organizações do território tanto Conforme mencionado, a globalização aumen-
no processo de elaboração do modelo de futuro ta a competitividade entre territórios em esca-
como em sua posterior obtenção. Para isso, de- la mundial, e sempre haverá territórios capazes
vem ser comprometidos os recursos adequados de competir em preços e unidades de produção
em termos financeiros, materiais, de conheci- com maiores vantagens, especialmente se há o
mento, entre outros. Isso inclui tanto as insti- desejo de alcançar um nível aceitável de quali-
tuições públicas (governos) como as organiza- dade de vida para a população. Todos os terri-
ções sociais e econômicas do território. Alguns tórios possuem vantagens comparativas únicas
autores destacam as benevolências dos modelos que lhes permitem competir vantajosamente
participativos (Abeledo, 2009): em primeiro lu- quando necessário. Por isso, existem experiên-
gar, fomentar a cultura da participação cidadã cias de redes de territórios que optam por es-
e da coesão interna da comunidade local; em tratégias de qualidade territorial, consistentes
segundo lugar, reduzir o distanciamento entre no estabelecimento de parâmetros de qualida-
a Administração e a população, gerando cau- de para os produtos e serviços oferecidos pelo
sas de comunicação recíproca; em terceiro lugar, território, a partir de um enfoque estratégico e
promover a informação, educação e formação consensual entre os principais agentes socioeco-
social no novo paradigma do desenvolvimento nômicos locais. Este modelo permite melhorar
sustentável; em quarto lugar, criar as condições o posicionamento competitivo dos territórios
para a conscientização, discussão e participação que o adotam, aperfeiçoa suas potencialidades e
na definição e criação da comunidade desejada; orienta a ação em uma direção comum. No âm-
por último, envolver a comunidade local no es- bito da União Europeia, pode-se tomar como
tabelecimento de trajetórias de aprofundamen- referência a rede “qualidade territorial” (www.
to nas práticas democráticas, transformando o calidadterritorial.com).
atual modelo de democracia representativa em
um modelo de democracia participativa através d. Passar de um governo tradicional
da inovação social. Seja qual for o modelo de do território à governança em níveis
futuro, é essencial avançar em direção a mode- múltiplos
los de democracia participativa real nos quais a
atual falta de interesse da população com rela- O cenário atual de mudanças aceleradas,
ção à política dê lugar a fórmulas que permitam reações globais, competitividade crescente etc.,
a participação permanente da população na to- torna necessário um novo modelo institucio-
mada de decisões, ao menos daquelas que têm nal que seja dinâmico, flexível, desburocratiza-
um caráter mais estratégico. do, cooperativo, tecnológico, descentralizado e
territorial (Pike et al, 2002). Consequentemen-
c. Considerar a função de estratégias te, devem-se evitar configurações institucionais
territoriais baseadas na qualidade e defasadas que se caracterizam por uma hierar-
não necessariamente no crescimento quização elevada, burocracia excessiva, compar-

12 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


timentação setorial, descoordenação interdepar- ção em redes territoriais ou temáticas dos terri-
tamental, intra e interinstitucional, partidarismo tórios melhora as oportunidades de aquisição de
exacerbado, atomização e multiplicação de com- conhecimento, a transferência de experiências
petências que se dissimulam e, por diversas ve- e a difusão de inovações que podem contribuir,
zes, se contradizem. notadamente, para a obtenção de modelos de
desenvolvimento mais sustentáveis (Vázquez
e. Aperfeiçoar a estrutura e o funciona- Barquero 2002). Existem numerosas oportuni-
mento das Administrações Públicas dades através de projetos e redes de cooperação
Locais que, em todo caso, devem se sustentar em estra-
tégias de desenvolvimento comuns e não res-
Frequentemente, os recursos disponíveis ponder a ações pontuais de intercâmbio que não
nas Administrações Locais se encontram mal derivam de mudanças relevantes nos territórios.
posicionados ou não se ajustam às mutantes
necessidades de gestão. Esta situação implica g. Impulsionar a função das estruturas
uma importante redução da eficácia e eficiência técnicas de desenvolvimento em âm-
na ação. Nesses casos, é imprescindível melho- bito local
rar a estrutura e organização interna de acordo
com as necessidades de gestão e com a carga Como já foi dito, as instituições locais se
de trabalho real. Se não se conta com os recur- estruturam de forma setorial, como resultado
sos necessários, é preciso proceder à aquisição de uma larga tradição que compreende a gestão
das capacidades ou competências profissionais pública como um conjunto de âmbitos indepen-
necessárias, mediante processos de formação dentes de competitividade que se justapõem,
específica ou contratação. Dada a configuração mas que não se misturam em sua raiz. Este mo-
setorial das administrações e a escassa ou nula delo atende bem aos problemas concretos e bem
tradição de coordenação entre os departamen- delimitados, mas fracassa completamente na
tos de uma mesma instituição, é conveniente compreensão do território e da sociedade como
estabelecer métodos e protocolos de comuni- um sistema no qual todas as variáveis estão in-
cação e coordenação entre os diferentes âmbi- ter-relacionadas e no qual é muito difícil estabe-
tos da gestão local. lecer compartimentos isolados. Neste contexto,
torna-se cada vez mais necessário o estabele-
f. Integração em redes territoriais ou cimento de estruturas de gestão transversais,
temáticas cujo objetivo seja o território em seu conjunto
(Izquierdo Vallina 2002). Na esfera europeia, a
A literatura econômica demonstrou que título de exemplo, as administrações locais fo-
as redes empresariais, em seus diversos forma- ram dispondo estruturas de desenvolvimento
tos, favorecem o intercambio do conhecimen- local que atendem a este conceito, mas que, na
to e experiências, e melhoram os processos de prática, têm funções muito menos ambiciosas
aprendizagem. Esta afirmação pode ser trans- e, em todo caso, muito variadas (Agências de
ferida, com as devidas precauções, ao âmbito da Desenvolvimento Local, Grupos de Ação Local
administração pública e dos territórios. A inser- etc.). Entretanto, considera-se que esse tipo de

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 13


estrutura tem o potencial para entender a ação jetos para conseguir financiamento para suas
pública de um modo sistêmico e consequente- propostas de desenvolvimento).
mente pode abranger, potencialmente, um nú-
mero importante de competências, a saber: (i) h. Atuar sobre o sistema produtivo local
a coordenação e o apoio logístico e técnico aos
órgãos do governo, de participação e de asses- O âmbito local é mais adequado para es-
soria; (ii) o impulso de atuações estratégicas tabelecer estratégias que permitam adequar a
do processo de desenvolvimento (formulação oferta de emprego e qualificação da demanda,
do Pacto Local (compromisso) para o desen- com uma visão prospectiva baseada na estraté-
volvimento local, constituição dos órgãos do gia territorial. Para isso, é preciso valer-se dos
governo, de participação e de assessoria, e ela- recursos disponíveis para contribuir com a ge-
boração e gestão de planos estratégicos de de- ração da atividade econômica e empregos mais
senvolvimento); (iii) a mobilização e mediação “sustentáveis” (melhorar processos, qualifica-
entre recursos locais e empreendedores; (iv) a ções, orientações produtivas, qualidade e quan-
integração das políticas setoriais (melhorar sua tidade dos serviços disponíveis para empresas e
eficácia e rendimento, propor estratégias-ponte cidadãos etc.).
e convênios para estimular a cooperação entre
administrações, impulsionar o desenvolvimento i. Buscar soluções eficientes para a
de planos e projetos conjuntos, funcionar como prestação de serviços
“observatório” da realidade local); (v) a promo-
ção das redes locais de empresas (melhoria de A concentração progressiva da população
empresas locais e criação de mecanismos de em ambientes urbanos cada vez mais densos e
cooperação para configuração de redes de em- o consequente esvaziamento de uma boa parte
presas, apoio a processos de comercialização, do território supõem a consolidação de um mo-
qualidade total, formação, fomento de novos delo desequilibrado de ocupação do território
produtos, busca de mercados, tramitação de li- que provoca problemas e ineficiências tanto nos
cenças, etc.); (vi) a intervenção social, anima- lugares de esvaziamento como nos de acumula-
ção sociocultural e inovação (intervenção social ção (Gómez Orea, 2002). O pequeno tamanho
para integrar coletivos e atender problemas de dos assentamentos rurais, junto de sua elevada
marginalização ou exclusão, animação sociocul- dispersão em um território amplo, inviabilizam
tural para dinamizar associações que trabalham a prestação de alguns dos serviços básicos mais
no território, e promoção da inovação para de- importantes (atenção sanitária e educação bá-
tectar e introduzir novidades que contribuam sica de qualidade). A coesão territorial e o fu-
para aperfeiçoar o uso dos recursos de desen- turo de muitos sistemas territoriais carecem de
volvimento); (vii) captação de fundos e progra- soluções criativas para a provisão de serviços
mas de desenvolvimento (diversificar as fontes valendo-se da esfera territorial mais adequa-
de financiamento é essencial, mas enquadran- da para tornar viável e menos oneroso cada um
do-as nos objetivos do PEDL, a administração dos serviços básicos. Neste sentido, e dependen-
deve exercer a função de um escritório de pro- do da realidade territorial da qual tratamos, os
agrupamentos de municípios, a prevalência de

14 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


âmbitos funcionais, ou outras soluções seme- desenvolvimento. A atividade investigativa, de
lhantes, constituem esferas idôneas para a pro- formação e de difusão desenvolvida pelo insti-
visão de serviços, o planejamento estratégico e tuto, desde 2006, em que foram aprovados os
a cooperação. seus estatutos, tem sido intensa e em uma parte
substancial esteve orientada a gerar, a partir de
j. Ter sempre como objetivo a melhoria uma perspectiva interdisciplinar, respostas efi-
da qualidade de vida da população cazes às demandas e necessidades sociais que
surgiram com relação ao enfoque territorial e
A melhoria da qualidade de vida da socie- local do desenvolvimento sustentável, em sua
dade que habita um território é, sem sombra de tríplice vertente econômica, social e ambiental.
dúvida, o objetivo final que deve ser considera- Desde fevereiro de 2012, o Instituto de Desen-
do por qualquer atuação pública. Para isso, uma volvimento Local é dirigido pelo Professor Dr.
sábia combinação de todos os pontos anteriores Joan Noguera.
no quadro de uma estratégia de desenvolvimen- Ao longo de sua trajetória, o IIDL parti-
to territorial compartilhada por uma sociedade cipou de numerosos projetos competitivos dos
capacitada que se reconhece como tal e que é diversos programas da União Europeia, bem
parte integrante de um território de identidade como de convênios e contratos com entidades
é essencial. E quando uma ação pública se des- e organizações das esferas pública e privada,
via deste objetivo principal, perde seu sentido através dos quais é realizada a transferência de
e sua legitimidade, ainda que em curto prazo conhecimento, investigação aplicada e capaci-
possa parecer razoável e até mesmo conveniente. tação. O mapa geográfico das ações do IIDL
cobre boa parte dos países europeus e Ibero-a-
mericanos, ainda que esteja presente também
O Instituto Interuniversitário na Ásia e África. As temáticas de trabalho são
de Desenvolvimento Local da tão diversas quanto o próprio conceito de de-
Universidade de Valência: uma senvolvimento local sustentável, e englobam a
estrutura para a investigação, disposição do território, o planejamento local
capacitação e transferência de de caráter estratégico, a inovação e mobilidade
conhecimento na visão territorial e urbana, a gestão de recursos hídricos, o comér-
sustentável do desenvolvimento cio local, a cultura como elemento de desenvol-
vimento, a inclusão de tribos desfavorecidas, a
O Instituto de Desenvolvimento Local participação da população, os conflitos urbanos
da Universidade de Valência é um centro de e o novo governo, entre outros.
investigação e especialização teórica e prática O IIDL está organizado em um conjunto
no campo do desenvolvimento local, em seu de grupos de investigação que são sua principal
sentido mais abrangente. Está constituído por força. Cada grupo tem sua própria dinâmica de
investigadores especialistas nas diversas temá- trabalho, e existem espaços de cooperação no
ticas contempladas no conceito de desenvolvi- âmbito da investigação, formação, e transferên-
mento sustentável, no âmbito de execução de cia de conhecimentos. As alianças internas en-
políticas e estratégias de abordagem local do tre grupos são frequentes e isso contribui para

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 15


fortalecer a ação do Instituto e seu reconheci- de especialização competitiva e aproveitando os
mento como uma entidade de referência no de- recursos endógenos. O objetivo de investigação
senvolvimento local e territorial. do grupo, consequentemente, se concentra na
No âmbito da Disposição do Território, análise dos sistemas urbanos, nos processos de
o Instituto é um referencial em nível europeu, inovação na indústria e no planejamento de ser-
com a participação em consórcios internacio- viços públicos. Ainda na esfera urbana, o IIDL,
nais de três projetos do Observatório Territo- em colaboração com a Escola Superior de Ar-
rial Europeu (ESPON). Através desses projetos, quitetura da UPV, colocou em prática em 2011
financiados conjuntamente pela Direção Geral o espaço de investigação e reflexão “Aula Ciu-
de Política Regional e Urbana da União Euro- tat”. Trata-se de uma plataforma para refletir e
peia, são oferecidas respostas aos principais de- debater sobre a história, o presente e o futuro
safios e ameaças que afligem os diversos tipos de das cidades e, em particular, de Valência. É um
territórios europeus. A caracterização de tipos espaço aberto, sem exclusões pessoais ou temá-
de espaços não metropolitanos, e a determina- ticas, que acolhe o espirito de colaboração e que
ção das forças de mudança que os afetam com se opõe a qualquer tipo de apropriação disci-
maior intensidade é um dos exemplos de proje- plinar da cidade.
to ESPON em que participaram investigadores A água, sua disponibilidade e gestão, é um
do IIDL. Também houve interesse na caracte- dos grandes desafios globais deste século. Vozes
rização da faixa territorial na qual são estabele- autorizadas afirmaram que uma parte impor-
cidas as relações entre o espaço rural e urbano, tante dos conflitos territoriais e sociais estarão
e a proposta de mecanismos inovadores de go- relacionados, durante este século, com a água. A
verno territorial para responder às necessidades disponibilidade e gestão dos recursos hídricos é
de territórios funcionais que não se acomodam um assunto não resolvido, inclusive nos países
bem a uma institucionalidade organizada de mais avançados. Os riscos de contaminação dos
forma setorial ou em espaços administrativos. depósitos de água, seu esgotamento devido à ex-
Os ambientes urbanos e metropolitanos ploração ou regulação excessiva de muitos flu-
são foco central de atenção para os investiga- xos fluviais são apenas a ponta do iceberg de um
dores do IIDL. Deste modo, o grupo de I+D tema de investigação central no IIDL: a gestão
de Inovação e Desenvolvimento Local (INNO- dos recursos hídricos. A atividade investigativa
DES) se concentra em aspectos relacionados à do Grupo de Economia da Água (GEDEA) se
geografia econômica, disposição do território e concentra na criação de modelos matemáticos
desenvolvimento regional. A partir desse grupo para o aperfeiçoamento de tecnologias de trata-
de investigação, presta-se atenção à consolida- mento de águas residuais, a análise da eficiência
ção de novas tendências territoriais que pude- na gestão de recursos hídricos, estudos de viabi-
ram alterar a tradicional relação entre cidade e lidade econômica e ambiental para projetos de
desenvolvimento econômico. Neste novo con- reutilização e projeto de indicadores de rentabi-
texto, os centros urbanos não metropolitanos lidade econômica, social e ambiental associados
adquiriram um papel mais relevante no proces- a propostas de cunho tecnológico.
so de desenvolvimento, permitindo que tenham Os conflitos no século XXI têm uma ma-
possibilidades de competir mediante estratégias nifestação indiscutível no âmbito local. O grupo

16 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


SiCC “Spaces in Conflict and Crisis” se con- ou regional, incluindo o planejamento do de-
centra no estudo de espaços em conflito e em senvolvimento territorial, a análise de políticas
crise. Por um lado, analisa conflitos territoriais públicas, as políticas de desenvolvimento re-
e ambientais e movimentos de protesto, tanto gional e europeias, e a geografia política regio-
em áreas urbanas como em esferas rurais, com nal. Por sua vez, o grupo “Govern Local” nasce
o propósito de propor novas ferramentas e es- com o objetivo de impulsionar a inovação nos
tratégias para a gestão e governo territoriais, e processos de gestão e governo local, a atividade
por outro lado, espaços urbanos ou rurais em investigativa do grupo se orienta em direção à
crise econômica, social ou demográfica, com o análise e estudo da estrutura das administrações
propósito de oferecer alternativa de gestão. públicas locais, gestão de governos locais e par-
A cultura tem adquirido crescente rele- ticipação da população.
vância nas estratégias de desenvolvimento local. O desenvolvimento sustentável dos terri-
São cada vez mais numerosos os municípios e tórios rurais foi uma linha de investigação tra-
territórios que recorrem a seus recursos cultu- dicional e de primeiro nível no IIDL. O gru-
rais, muitas vezes ignorados ou até mesmo mal- po de investigação UDERVAL concentra seu
tratados, para impulsionar ou complementar o trabalho no desenvolvimento local e territorial,
emprego e a atividade econômica local, e para principalmente em zonas rurais, especialmente
contribuir com a geração de uma sen-

‘‘
sação de propriedade e identidade lo-
cal. Seus membros descrevem o grupo
Neste novo contexto,
Econcult como uma rede heterogênea
de investigadores de diferentes univer- os centros urbanos não
sidades e colaboradores externos dedi- metropolitanos adquiriram

’’
cados à análise da relação entre os indi-
um papel mais relevante no
víduos e a ação cultural. Essa análise se
concretiza em temas como as relações processo de desenvolvimento
entre cultura e desenvolvimento, os ter-
ritórios criativos, a música, a economia
da língua e os museus. nos processos de transformação socioeconômi-
A governança local e o governo dos ter- ca, no papel das novas atividades, no capital so-
ritórios são âmbitos de referência nos quais o cial e nos agentes na gestão do território, bem
IIDL pode apresentar importantes credenciais. como nas políticas de desenvolvimento rural.
Diversos investigadores, em caráter individual, O grupo também desenvolve pesquisas sobre
e grupos de investigação, dedicam parte de seu sistemas produtivos sociais locais em áreas ru-
esforço ao desenvolvimento de aspectos teóri- rais, investigação que complementa a análise
cos e metodológicos sobre o governo territorial, das realizações entre capital social e desenvol-
com particular atenção aos espaços locais. Nes- vimento territorial, e de forma concreta o papel
te sentido, o grupo de investigação “Desenvol- das redes sociais, as lideranças e as elites, e es-
vimento Local Sustentável” dedica sua atenção truturas de poder na dinâmica socioeconômica
ao estudo da gestão do território em escala local das zonas rurais.

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 17


O bem-estar social e a inclusão de tribos políticas públicas (sistemas de indicadores) e
desfavorecidas é uma das esferas de ação e estu- a coordenação e participação nos processos de
do mais relevantes no paradigma do desenvol- desenvolvimento local.
vimento local. O grupo de investigação SESE- Como complemento essencial de sua
CO concentra sua investigação na análise dos intensa atividade investigativa, o IIDL é res-
problemas sociais e no planejamento de serviços ponsável por três títulos oficiais de Mestrado
à Comunidade, com a finalidade de apresentar (Mestrado em Gestão e Promoção do Desen-
soluções e alternativas que contribuam com a volvimento Local, Mestrado em Cooperação
melhoria do bem-estar da população. para o Desenvolvimento, e Mestrado em Ges-
O sistema local é composto por um nú- tão de Recursos Hídricos), e por inúmeras ini-
mero elevado de variáveis que interatuam entre ciativas de pós-graduação que acompanham
si, resultando em uma realidade territorial e so- esta oferta. O programa de doutorado inte-
cial concreta. Cada uma dessas variáveis está co- runiversitário em “Desenvolvimento Local e
nectada às demais por diversas vias, algumas das Cooperação Internacional” constitui o topo do
quais permanecem ocultas. Essa visão sistêmica sistema de formação de pós-graduação do Ins-
do local e o desenvolvimento de metodologias e tituto. A formação e investigação de pós-gra-
instrumentos de intervenção para alcançar um duação é uma parte essencial do funcionamento
desenvolvimento local sustentável que funcio- do IIDL, ao passo que proporcionam a possibi-
ne sob este princípio de “sistema” constituem o lidade de transferir conhecimento proveniente
objetivo do grupo de investigação LOCSUS. das investigações e gerar uma escola de douto-
Tornam-se relevantes a análise dos elementos randos e mestres.
que intervêm no desenvolvimento sustentável Para mais informações sobre o Instituto
dos territórios e das sociedades, o desenvolvi- Interuniversitário de Desenvolvimento Local
mento de metodologias de planejamento es- da Universidade de Valência, acesse a página
tratégico, o acompanhamento e avaliação de da web: www.iidl-valencia.es

18 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Bibliografia consultada KRUGMAN, P. (1995) Development, Geo-
graphy and Economic Theory. Cambridge, MA:
ABELEDO, R. (2009) “El medio ambien- MIT Press.
te: recurso y soporte del desarrollo local”, en
Noguera, J.; Pitarch, M.D.; Esparcia, J. (Eds.) MALECKI, E. (1997) Technology and Eco-
(2009) Gestión y Promoción del Desarrollo Lo- nomic Development: The Dynamics of Local,
cal. Universitat de València, CD_Rom anexo Regional and National Competitiveness (2nd
edn). London: Addison Wesley Longman.
ALBURQUERQUE, F. (2004) Capítulo 6:
el proceso de construcción social del territo- MORGAN, K. (2004) “Sustainable regions:
rio para el desarrollo económico local. Curso governance, innovation and scale”, European
sobre Desarrollo Local. COOPNET. http:// Planning Studies 12(6): 871-889.
coopnetaldia.org
NOGUERA, J.; ESPARCIA, J. & FERRER,
ARMSTRONG, H. y TAYLOR, J. (2000) Re- V. (2004) New factors for territorial develop-
gional Economics and Policy (3rd ed.). Oxford: ment and their role in EU policy, in Procee-
Blackwell. dings of the conference Europe at the Margins:
EU Regional Policy, Peripherality and Rurality,
BEER, A., HAUGHTON, G. y MAUDE, A. 15th & 16th April 2004, University of Angers,
(2003) Developing Locally: An International Angers, France.
Comparison of Local and Regional Economic
Development. Bristol: Policy Press. NOGUERA, J. (2009a) “Pensamiento y pla-
nificación estratégica. Definición e implemen-
CHESHIRE, P. and GORDON, I. (1998) tación de estrategias de desarrollo”, en Nogue-
“Territorial competition: some lessons for po- ra, J.; Pitarch, M.D.; Esparcia, J. (Eds.) (2009)
licy”, Annals of Regional Science 32: 321-346. Gestión y Promoción del Desarrollo Local.
Universitat de València, pags. 95-122
GÓMEZ OREA, D. (2002) Ordenación Ter-
ritorial. Ed. Mundi Prensa, Madrid NOGUERA, J. (2009b) An analysis on the
subjective perception of policy action on peri-
HAUGHTON, G. and COUNSELL, D. pherality: A comparative assessment in acces-
(2004) Regions, Spatial Strategies and Sustai- sible and peripheral areas of six countries of the
nable Development. London: Routledge and EU, in Regional Science Policy & Practice, Vol.
Regional Studies Association 1, Number 2, p. 159-176

IZQUIERDO VALLINA, J. (2002) Manual NOGUERA, J. (2010) MS Comparative Cou-


para agentes de desarrollo rural. Mundi-Prensa ntry Profiles Report, EDORA Working Pa-
per 25, IIDL- Regional Development Institu-
te, University of Valencia, Spain. (http://www.
nordregio.se/edora)

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 19


Noguera, J. and Morcillo, L. (2012): “Analysis of
the diversity of European Regions”, in Copus,
A. and Hörnström, L. (Eds) The New Rural
Europe: Towards Rural Cohesion Policy. Nor-
dregio Reports 11. ISBN 978-91-89332-77-5.

PIKE, A.; RODRÍGUEZ POSE, A. y TO-


MANEY, J. (2002) Local and regional deve-
lopment, Routledge, 298 p.

STORPER, M. (1997) The Regional World:


Territorial Development in a Global Economy.
London: Guilford.

VÁZQUEZ BARQUERO, A. (2002) En-


dogenous development. Networking, innova-
tion, institutions and cities, Routledge Studies
in Development Economics no 26, Rouledge,
224 p.

20 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


A EXPERIÊNCIA
DA INICIATIVA
ART DO PNUD NA
AMÉRICA LATINA EM
DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO LOCAL

Por Olivier Hidalgo


Mestre em Cooperação Internacional e Desenvolvimento
pelo Instituto de Estudos Políticos de Bordeaux e Diretor de
Planejamento Estratégico do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD). Atua na coordenação da
Iniciativa ART (Articulação de Redes Territoriais e Temáticas
de Cooperação com o Desenvolvimento Humano) na Bolívia.

Este artigo recupera elementos do docu- moção de um desenvolvimento sustentável, o


mento “A Iniciativa ART e o Desenvolvimento reforço de uma governança democrática inclusi-
Econômico Local: Experiências Bem-Sucedi- va e a construção de resiliência. Nesse quadro, a
das na América Latina”, que apresenta o enfo- Estratégia de Governança Local e Desenvolvi-
que promovido pelo PNUD-ART em matéria mento Local (LGLD) é instaurada, consideran-
de Desenvolvimento Econômico Local, desta- do a descentralização e a governança local como
cando as boas práticas que podem ser reprodu- eixos fundamentais a serem desenvolvidos.
zidas em outros contextos. Nesse contexto, destaca-se a importância
de apoiar os governos subnacionais para prestar
O PNUD e a Estratégia serviços públicos de qualidade, promover uma
de Governança Local e participação ativa da sociedade civil nos pro-
Desenvolvimento Local cessos de desenvolvimento e apostar no desen-
volvimento econômico local. Essa estratégia,
O novo Plano Estratégico do PNUD que começará a ser desenvolvida em 2014 em
para o período de 2014-2017 enfatiza a pro- uma série de países-piloto (Bolívia, Equador, El

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 21


Salvador e Uruguai, na América Latina) e que igualmente fundamental garantir as condições
pretende harmonizar as intervenções na área de para uma participação ativa e genuína nos as-
desenvolvimento local do PNUD, UNCDF e suntos do cotidiano da comunidade, assumindo
UNV, é concebida como um meio para facili- um papel de grande importância nas decisões
tar processos de desenvolvimento territorial que que afetam suas vidas.
dão força aos agentes locais, por meio de uma
participação social ativa e de um crescimento Por que apostar na promoção
econômico inclusivo. Tratar-se-á, entre outras, do Desenvolvimento Econômico
de apoiar os quadros desenvolvidos pelos Pro- Local?
gramas ART em curso, com o intuito de refor-
çar uma articulação horizontal e vertical que São inúmeros os países na América La-
favoreça um vínculo eficaz entre os diferentes tina que optaram por adotar, nos últimos anos,
níveis de governo. cada vez mais processos de desconcentração ou
descentralização, que conferem uma importân-
A Iniciativa ART cia maior ao papel dos territórios na definição
das políticas públicas e de prestação de serviços.
A Iniciativa ART (Articulação de Redes O desafio está na capacidade de superar o en-
Territoriais e Temáticas de Cooperação com o foque de territorialização de políticas, no qual
Desenvolvimento Humano) surgiu em 2004, o governo central determina o curso e a insti-
quando o Programa das Nações Unidas para o tuição local o executa, para consolidar um mo-
Desenvolvimento (PNUD) e diversas agências delo de políticas territoriais em que as políti-
da ONU firmaram um acordo para o seu lan- cas nacionais e territoriais convirjam por meio
çamento. A ação tem por objetivo a promoção de uma articulação gerada a partir dos próprios
de um novo multilateralismo, que facilite a ar- agentes locais.
ticulação de agentes e políticas nos territórios. Os Programas ART interferem dire-
Atualmente, a iniciativa está presente em 22 tamente na consolidação desses processos de
países, nove deles na América Latina. transferência de competências e de recursos
A ART concentra seus esforços funda- do nível central ao territorial, por meio de um
mentalmente na promoção do desenvolvimen- acompanhamento técnico com os governos lo-
to econômico local e da governança multinível cais para o desempenho de suas novas respon-
como condicionantes fundamentais para um sabilidades e com o Estado central para evitar
desenvolvimento humano sustentável. O en- um desenvolvimento territorial desproporcio-
foque no desenvolvimento humano promovido nal e desequilibrado.
pelo PNUD coloca as pessoas no centro do pro- Nesse quadro, interferir na promoção de
cesso de desenvolvimento. Além disso, busca-se um desenvolvimento econômico local endóge-
ampliar as opções e oportunidades das pessoas, no é apostar na sustentabilidade dos processos
melhorando as capacidades humanas, a fim de ao valorizar as potencialidades dos territórios.
que possam viver de forma saudável e digna, Além disso, os benefícios que o dinamismo do
com acesso à educação, saúde, moradia, tecno- desenvolvimento econômico territorial oferece
logia, inclusão social e igualdade de gênero. É permitem uma melhor prestação de serviços so-

22 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


ciais à comunidade, bem como uma maior coe- que, por sua vez, é enriquecido com os avanços
são social no território, o que atesta a importân- individuais registrados pelos membros da co-
cia primordial de não negligenciar o DEL como munidade.
motor do desenvolvimento de uma localidade. Os Programas PNUD-ART pretendem
O desafio está em ser capaz de construir acompanhar os territórios na definição de estra-
um modelo em que os empreendimentos se ar- tégias de desenvolvimento econômico, que são
ticulem e gerem uma lógica de desenvolvimento elaboradas de forma participativa a partir de po-
local e não exclusivamente de crescimento de tencialidades e recursos endógenos, levando em
empresas desligadas do território. Definitiva- consideração as particularidades políticas, eco-
mente, deve-se favorecer uma articulação entre nômicas, sociais e culturais dos territórios, bem
a lógica produtivista e a coesão social, na qual o como as políticas nacionais. A finalidade desse
emprego deve constituir um elemento articula- exercício é fortalecer os territórios com capaci-
dor desses processos. dades próprias para a geração de emprego dig-
no e igualdade social, alcançando o bem-estar
Enfoque do trabalho no DEL da da população. Trata-se de um exercício de prio-
Iniciativa ART rização fundamental que permite a orientação
dos recursos públicos e privados destinados ao
O Desenvolvimento Econômico Local desenvolvimento do território.
(DEL) é um dos eixos fundamentais do tra- É especialmente importante a utilização
balho da Iniciativa ART. Ela estabeleceu um de instrumentos e ferramentas como as Agên-
enfoque inovador com relação à

‘‘
promoção e ao apoio de um DEL
sustentável e inclusivo nos diferen-
tes países, a partir de diversos anos
interferir na promoção de um
de ensinos e aprendizagens em vá- desenvolvimento econômico local
rios países e territórios. A iniciati- endógeno é apostar na sustentabilidade
va fomenta a experiência de soluções

’’
práticas e alternativas em nível local,
dos processos ao valorizar as
cujos resultados em campo permi- potencialidades dos territórios
tem a retroalimentação teórica em
nível global.
O Desenvolvimento Econômico Local cias de Desenvolvimento Econômico Local
para a Iniciativa ART não é concebido como (ADEL). O objetivo é estabelecer um siste-
um objetivo ou fim em si, mas como um meio ma de associação público-privada de serviços
para alcançar o desenvolvimento humano sus- técnicos e financeiros para o desenvolvimento
tentável, que se concretiza em nível local, mas econômico e social do território, atendendo às
que está em constante articulação com os níveis necessidades, não somente da população, mas de
nacional e internacional. Para o PNUD-ART, empresas e instituições locais. Definitivamen-
as oportunidades dos indivíduos crescem por te, trata-se de possibilitar que cada agente pos-
meio do desenvolvimento comunitário e local, sa desempenhar seu papel no desenvolvimento

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 23


econômico do território, favorecendo sinergias tante. Essas empresas desempenham um papel
e unindo esforços em direção a um objetivo co- crucial com relação à promoção do emprego
mum, com base nas características do território em nível local e garantem, da mesma forma,
e em fatores de oportunidade. o dinamismo dos mercados locais e reforçam
O ART reforça a parceria local, unindo o a coesão social do território, devido aos altos
conjunto de agentes do território (agentes pú- níveis de correlação com a sociedade civil das
blicos, setor privado, sociedade civil) para definir localidades em que se desenvolvem. Sua maior
uma visão conjunta, fixando metas de desenvol- flexibilidade ou capacidade de adaptação à
vimento compartilhadas por meio de estratégias mudança as brindam com algumas vantagens
de marketing territorial, entre outros meios. Um frente às grandes empresas.
exemplo de mecanismo de sucesso no assunto A iniciativa ART trabalha de forma ativa
é a formação de cadeias de valor, as quais agru- para promover a especialização e complemen-
pam micro e pequenas empresas, bem como tariedade das Micro e Pequenas Empresas no
cooperativas e outras formas de economia social. quadro de acordos e aglomerações territoriais
Da mesma forma, destaca-se o trabalho ou clusters. O ambiente de inovação, funda-
da Iniciativa de prover força aos agentes e a for- mental para o êxito dessas empresas, deve ser o
mação de capacidades específicas, para formar resultado de um processo de negociação estra-
agentes de desenvolvimento local, capazes de tégica dos agentes locais e de uma articulação
acompanhar processos de dinamização da ati- eficaz entre os diferentes níveis da institucio-
vidade econômica de um território com ampla nalidade pública nacional, regional e local.
participação de todas as categorias de agentes Os programas ART também tratam de
incluídos. É, entre outros, papel dos Grupos de apoiar a institucionalidade local no fomento
Trabalho, no qual é crucial o estabelecimento e apoio desses pequenos negócios, mediante
de um acordo entre diversos agentes para im- uma atitude proativa para o desenvolvimento
plementar estratégias e ações. Nessa estratégia, da atividade empresarial, buscando uma nego-
criam-se processos de aprendizagem coletiva, ciação entre agentes do território, que permita
que permanecem no território após a finaliza- superar a tradicional desconfiança que caracte-
ção dos programas de cooperação. riza, no geral, a relação entre Micro e Pequenas
Empresas. Em síntese, trata-se de consolidar
A importância da Micro e Pequena um círculo virtuoso, no qual as empresas são
Empresa para o desenvolvimento tão competitivas quanto seu território circun-
territorial dante e vice-versa.
A seguir são resgatados os principais re-
As Micro e Pequenas Empresas em pra- sultados obtidos pelos diferentes Programas
ticamente todos os países da América Latina ART da América Latina nos últimos tempos,
constituem a maioria das empresas existentes a partir de experiências impulsionadas pelo
e são responsáveis pela maior parte dos empre- conjunto de agentes do território e em harmo-
gos. O vínculo dessas empresas com o espaço nia com as políticas públicas nacionais.
onde estão e, portanto, com o conjunto dos
agentes do território é particularmente impor-

24 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Boas Práticas em DEL agrupadas vil com relação ao projeto de Lei de Terras e
por países onde se implementa a Desenvolvimento Rural foram apoiados. Es-
Iniciativa ART na América Latina pecificamente, sete foros territoriais, em coor-
denação com a Rede Nacional de Agências de
Impacto nas Políticas Públicas Nacionais Desenvolvimento Local (ADELCO), possibi-
litaram que 1.100 pessoas de aproximadamen-
A Iniciativa ART é caracterizada por te 150 organizações participassem ativamen-
seu enfoque territorial e por abranger os pro- te da discussão do projeto de lei. Da mesma
blemas do desenvolvimento local. Não obstan- forma, em parceria com a ADELCO, foram
te, no desenvolvimento local é essencial a arti- organizados, em dez cidades, espaços para
culação com as orientações e políticas do nível discussão, a fim de que mais de 1.600 pessoas
nacional. Nesse sentido, os Programas ART, debatessem sobre propostas para a formulação
em diversos países da região, contribuem para do Conselho Nacional de Política Econômi-
o projeto e implementação de políticas públi- ca e Social de Desenvolvimento Local junto à
cas que respeitem e valorizem as prioridades e Direção Nacional de Planejamento.
oportunidades dos territórios onde são imple- O Programa ART Equador apoiou o
mentadas. processo de descentralização de competências
Destaca-se a experiência desenvolvida de fomento produtivo e planejamento do de-
pelo PNUD-ART Bolívia no desenvolvimen- senvolvimento. Nesse sentido, desenvolveu-se
to da Estratégia do Ministério de Desenvolvi- um trabalho com a Secretaria Nacional de
mento Produtivo e Economia Plural, por meio Planejamento e Desenvolvimento (SENPLA-
do Conselho de Coordenação Setorial em DES), por meio da elaboração de uma Es-
Desenvolvimento Produtivo em seis depar- tratégia Territorial Nacional, a qual permite
tamentos do país. Essa instância facilita uma articular políticas públicas às condições e ca-
melhor articulação entre as políticas setoriais racterísticas próprias dos territórios. Também
impulsionadas pelo Ministério e as prioridades com a SENPLADES, e em acordo com as as-
dos territórios, além de uma mobilização efeti- sociações nacionais dos três níveis de governos
va do investimento público na área de atuação. subnacionais, procedeu-se a sistematização de
O Conselho é parte integrante da equi- boas práticas de gestão descentralizada e na-
pe técnica que acompanha e ajuda na coorde- cional do Desenvolvimento Econômico Local,
nação da Agenda Patriótica do Bicentenário o que constitui um valioso investimento para
2025, proposta pelo Governo Nacional, com o a tomada de decisões de política pública em
objetivo de construir políticas nacionais em fa- matéria de DEL em médio prazo.
vor do desenvolvimento do país. Nesse proces- Em El Salvador, o Programa ART, em
so, foram priorizados 39 projetos estratégicos conjunto com a Secretaria Técnica da Presi-
de cinco Governos e 100 Governos Autôno- dência, o Vice Ministério de Cooperação ao
mos Municipais, com um orçamento aproxi- Desenvolvimento, o Ministério da Economia,
mado de 452,19 milhões de bolivianos. a Comissão Nacional para a Micro, Pequena e
Na Colômbia, 17 espaços para discussão Média Empresa, o Ministério da Agricultura, o
e apresentação de propostas da sociedade ci- Ministério do Turismo e o Vice Ministério de

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 25


Salvadorenhos no Exterior, promoveu a cria- so Internacional sobre Laticínios, o que possi-
ção da Comissão Interinstitucional para o De- bilitará uma experiência de gestão da indústria,
senvolvimento Econômico Local (CIADEL). escolhida pelo PNUD como uma referência de
Trata-se de um mecanismo de articulação de cooperação Sul-Sul na América Latina.
políticas nacionais de fomento econômico e A Iniciativa ART no Uruguai, por meio
produtivo, focalizando-as nos territórios de da Direção Nacional de Emprego (DINAE),
intervenção e na promoção das ADEL. construiu a primeira agenda territorial de em-
Destaca-se, ademais, a incorporação do prego do país, em conjunto com o nível subna-
programa presidencial Cidade Mulher à me- cional, empresas, sindicatos, associações civis
todologia territorial do ART, para a promo- e a Organização Internacional do Trabalho.
ção da autonomia econômica das mulheres. Da Essa articulação permite a criação de projeto
mesma forma, duas políticas nacionais (Centros de políticas ativas de formação de emprego em
de Desenvolvimento Empresarial e Promoção função de cadeias de valor local priorizadas no
Turística de Povos Vivos) são implementadas norte do país, com enfoque na indústria flores-
por meio de três ADEL (Morazan, Sonsonate tal madeireira.
e La Unión). Atualmente, vem-se trabalhando na sis-
O Programa ART na República Domini- tematização da experiência para avaliar sua
cana negociou com o Vice Ministério de Peque- reprodução em outros departamentos do país.
nas e Médias Empresas a implementação de um Junto ao Ministério da Indústria, Energia e
programa de apoio às Pequenas e Médias Em- Minério (MIEM), a Iniciativa ART desen-
presas com enfoque no desenvolvimento terri- volveu e co-implementou a Mesa Interinsti-
torial, em parceria com as ADEL, por meio de tucional de Desenvolvimento Local. A Mesa
sua Rede. A criação de novas ADEL em todo tem como objetivo principal gerar um âmbito
o país para a prestação de serviços empresariais de coordenação entre as diferentes institui-
em nível local foi promovida e a Rede ADEL- ções envolvidas no apoio às Micro, Pequenas
DOM foi impulsionada para a gestão da ação e Médias Empresas. Atualmente, estão sendo
de tornar territoriais as políticas públicas com implementados três projetos conjuntos inter-
foco em pequenas e médias empresas. ministeriais.
Através dessa parceria, conseguiu-se mais
de 15 acordos com entidades nacionais para a Apoio a Estratégias de Desenvolvimento
implementação de projetos de desenvolvimen- Econômico Territorial:
to econômico local nos territórios. Além dis-
so, o Programa ART implementa, desde 2008, Os diferentes Programas ART na Amé-
um projeto-piloto na gestão integrada da po- rica Latina apoiam tanto ministérios nacionais
lítica setorial da indústria láctea. A indústria como governos subnacionais na definição de es-
láctea foi organizada em 6 províncias domini- tratégias acordadas pelo conjunto dos agentes,
canas, por meio de grupos de articulação local por meio da priorização. Essas estratégias de-
das instâncias nacionais referentes ao setor. Em vem ser concretizadas em iniciativas de impac-
outubro de 2013, a Rede da ADEL organizou, to, que gerem uma mudança no território e que
com todas as autoridades do setor, o Congres-

26 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


promovam a importante confiança na totalidade mulheres). Como parte desse esforço, 18 en-
dos agentes sobre a pertinência da metodologia. tidades financeiras locais e três Agências de
O PNUD-ART Bolívia apoiou alguns Desenvolvimento Econômico Local foram
territórios de intervenção na elaboração de do- fortalecidas para que forneçam serviços aos jo-
cumentos estratégicos caracterizados pela alta vens em nível local nas províncias de Carchi,
participação dos agentes dos territórios e pela El Oro e Loja.
assimilação do processo por parte da institu- O Programa em El Salvador apoiou,
cionalidade local. É o caso do Departamento com assistência técnica, a Comissão Intermi-
de Tarija, por exemplo, que atuou mediante nisterial DEL na implementação da Estra-
a elaboração da Estratégia Público-Privada tégia Nacional de desenvolvimento da Fran-
para o Desenvolvimento Produtivo e Geração ja Costera Marina nos cinco departamentos
de Emprego ou do município de El Alto, que costeiros. A elaboração de plataformas de-
desenvolveu o trabalho por meio das Linhas partamentais DEL recebeu apoio, enfatizan-
Estratégicas de Desenvolvimento Econômico do especialmente a promoção da autonomia
Local. econômica das mulheres, a inserção de jovens
No ART Colômbia, conseguiu-se inci- em risco (violência, gangues), o tecido econô-
dir sobre temas DEL em diferentes Planos de mico e a tecnologia em nível territorial, bem
Desenvolvimento Departamental e Munici- como a articulação com a diáspora (migração
pal. Desenvolveu-se um interessante trabalho e desenvolvimento). Ademais, o Programa é
com relação à construção da política pública articulador das iniciativas que acompanharão
de desenvolvimento econômico rural com um o desempenho da segunda fase do programa
enfoque territorial. Um exemplo dos alcances Iniciativa Conjunta de Migração e Desenvol-
desse processo é a estruturação do Plano Re- vimento ( JMDI) financiado em nove países
gional de Competitividade de Nariño 2010- pela UE e COSUDE.
2032 (Comissão Regional de Competitividade O Programa ART na República Do-
de Nariño). minicana apoiou as províncias de Dajabón,
O PNUD-ART Equador está apoian- Monte Plata, Valverde, Bahoruco, El Seibo e
do a implementação territorial da política na- Sánchez Ramírez no desenvolvimento, colo-
cional de transformação da matriz produtiva cando em prática os Marcos Estratégicos no
mediante a criação de um Parque Ecológico Desenvolvimento Econômico Local. Foram
Agroindustrial na Província de El Oro, com identificadas as potencialidades dos territórios
um enfoque regional. O Programa assumiu o e priorizadas de forma participativa, as cadeias
papel de coordenador na plataforma de im- de valor do território e os serviços em desen-
plementação do Projeto Conjunto “Juventude, volvimento empresarial. Essa ação foi a base
Emprego e Migração”, que contribuiu para o estrutural para a territorialização de mais de
desenvolvimento inclusivo por meio da gera- 15 projetos e programas nacionais dirigidos
ção de 1.134 empreendimentos para jovens à pequena e média produção em nível local,
(dos quais 570 são liderados por mulheres) e aproveitando as plataformas de trabalho im-
assistência financeira e não financeira a 1.479 pulsionadas pelo PNUD.
negócios de jovens (dos quais 1.142 são jovens Da mesma forma, melhoraram-se subs-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 27


tancialmente as capacidades individuais e co- recursos para apoiar as iniciativas delineadas
letivas das instituições territoriais para colocar no plano.
em prática as estratégias territoriais com o
envolvimento e o financiamento dos agentes Agências de Desenvolvimento
da região, incorporando o enfoque de gênero Econômico Local:
nas estratégias DEL. Atualmente, o Ministé-
rio da Indústria e Comércio incorporou o pro- A Iniciativa ART promove, desde suas
cesso de planejamento do enfoque territorial origens, a emergência de Agências de Desen-
no desenvolvimento econômico local e inicia volvimento Econômico Local, espaços de ar-
um processo de identificação das potencialida- ticulação público-privada e instrumentos de
des do país, a partir das potencialidades locais, governança local flexível e participativa. Ela
encadeamentos produtivos e as demandas de tem por objetivo maximizar o potencial eco-
serviços para o desenvolvimento empresarial, nômico endógeno e as vantagens competitivas
de acordo com as dinâmicas regionais. de um território. Destaca-se igualmente o pa-
O PNUD-ART Uruguai destaca a ela- pel catalisador desenvolvido pelas ADEL ao
boração do Plano Estratégico Departamental juntar e harmonizar os interesses e aspirações
de Artigas (2012-2025), que constitui uma de todos os agentes do desenvolvimento local.
iniciativa inovadora no país, com uma partici- Além disso, a Iniciativa ART fomenta siste-
pação ativa dos setores público e privado e da maticamente o intercâmbio de experiências e
sociedade civil. No quadro dessa ação, criou-se boas práticas entre as diferentes ADEL.
um Conselho de Cooperação Departamental, Em um trabalho em conjunto com a
representando os interesses de uma diversida- Agência de Desenvolvimento Econômico
de de setores e territórios para garantir a parti- Local de La Paz, a Iniciativa ART na Bolívia
cipação em igualdade de condições na tomada apoiou a elaboração de uma estratégia desen-
de decisões com relação à elaboração do Plano. volvida para a construção de uma Marca Ter-
Atualmente, mais de dez programas pú- ritorial para a área metropolitana de La Paz.
blicos setoriais se encarregam da execução das Além disso, o programa oferece assistência téc-
diferentes ações priorizadas, desde a infraes- nica e metodológica para posicionar a ADEL
trutura até o fomento das diferentes cadeias de de La Paz como uma referência Departamen-
valor departamentais. Cabe, da mesma forma, tal em matéria de articulação público-privada.
destacar a elaboração do Plano Climático da O PNUD-ART Colômbia apoiou a
região metropolitana, que constitui uma pri- consolidação das ADEL e a Rede ADELCO
meira experiência de desenvolvimento de uma como ferramenta eficaz para a geração de em-
estratégia em nível subnacional e regional no prego e a incidência em políticas públicas lo-
Uruguai de mudança climática, com o objetivo cais de DEL em quatro territórios. Fortaleceu-
de reduzir as emissões de carbono e medidas -se, de maneira técnica, diferentes ADEL do
de adaptação dentro das prioridades nacionais. território nacional e um dos maiores efeitos foi
É especialmente relevante a articulação alcan- a vinculação bem-sucedida de mais de 1.600
çada entre o nível departamental e o programa famílias em programas de melhoria de capa-
de Presidência, com a intenção de mobilizar cidades produtivas e da geração de ingressos

28 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


das ADEL Boyacá, Adeproa, Nariño e Casa to, como instâncias que canalizam as demandas
del Agua. dos territórios perante o Sistema Nacional de
O Programa no Equador reforçou várias Investimento Público.
Agências de Desenvolvimento Local/Territo- As agências conduzem um portfólio mé-
rial em diferentes províncias (Carchi, El Oro dio anual de projetos de implementação de 2,5
e Esmeraldas), por meio de assistência técnica milhões de dólares e conseguiram canalizar pro-
especializada e sua vinculação com os Docu- jetos para os territórios com mais de 15 insti-
mentos de Prioridades, a fim de promover a tuições nacionais. As ADEL de Monte Plata e
articulação público-privada em torno das prio- Dajabón recebem mais de USD 1.250.000 do
ridades de desenvolvimento territorial e alcan- Fundo Especial para o Desenvolvimento Agro-
çar um desenvolvimento humano sustentável, pecuário.A ADEL Valverde recebeu em 2013 o
igualitário e integral. “Selo de Qualidade” por parte da ILS/LEDA.
Em El Salvador, as ADEL foram institu- O Programa ART apoia de forma técnica
cionalizadas pelo CIADEL como mecanismo a Rede de ADEL dominicanas (ADELDOM)
para a dinamização econômica territorial e a na gestão de projetos e articulação interinstitu-
implementação de políticas públicas nacionais, cional para a implementação de diferentes ini-
estando, nesse momento, na fase de cobertura ciativas, como o Programa OVOP (Um povo,
nos cinco departamentos da costa. Um produto) da Cooperação Japonesa, o desen-
O Programa acompanha, junto à Comis- volvimento de uma Graduação em Formulação
são Nacional DEL, a implementação de novas e Gestão de Projetos e outros cursos especializa-
ADEL na região costeira, tendo sido constituí- dos nas cadeias de produção nos territórios por
da em 2012 a ADEL do departamento de La meio do Programa + Pymes (Pequenas e mé-
Unión e Sonsonate e estando em processo de dias empresas) financiado pela União Europeia.
constituição as ADEL dos departamentos de O Programa PNUD-ART no Uruguai
La Paz e La Libertad. As ADEL terão como está em pleno processo de articulação com 10
estratégia-chave a articulação com a progra- ADEL e o governo nacional, departamental e
mação nacional de aposta na Franja Costera de intermediação com âmbito internacional,
Marina e o fomento dos ativos tecnológicos promovendo o desenvolvimento econômico. As
(Portos de La Unión, Acajutla, Aeroporto In- ADEL adquiriram um papel de protagonista
ternacional Comalapa) e com a estratégia de na geração de diálogo com Programas Nacio-
economia inclusiva versus grandes projetos de nais e participação ativa na aplicação de políti-
investimento nacional e estrangeiro (Associa- cas territoriais.
ção para o Crescimento). Da mesma forma, fortaleceu-se tecnica-
Na República Dominicana, existem seis mente a Rede de Agências de Desenvolvimen-
ADEL em pleno funcionamento, apoiadas pelo to Econômico Local (RADEL), em matéria
Ministério da Economia, Planejamento e De- de gestão do conhecimento, fortalecimento
senvolvimento e o Ministério da Indústria e das capacidades locais, construção de redes e
Comércio. As ADEL fazem parte dos Con- articulação de agentes públicos e privados no
selhos de Desenvolvimento Territorial, meca- território. Mais de 2.400 pessoas foram capa-
nismos contemplados na Lei de Planejamen- citadas no quadro da RADEL e conta-se com

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 29


a mobilização de mais de 10 programas nacio- articular setores e agentes públicos e privados.
nais e mais de 75 projetos de execução direta Trabalhou-se na identificação de prioridades
por parte das agências. para o desenvolvimento integral de um territó-
rio, compiladas em Documento de Prioridades.
Grupos de Trabalho: Esses documentos são entendidos como ferra-
mentas de gestão do desenvolvimento territo-
Os Grupos de Trabalho constituem rial, alinhados com o Plano Nacional de De-
uma das ferramentas fundamentais da Inicia- senvolvimento.
tiva ART. Essa iniciativa pretende sentar-se A raiz da implementação dos grupos de
à mesma mesa em conjunto com os agentes trabalho em nível territorial, o Programa ART
e forças vivas de um território para a tomada na República Dominicana, em especial nas Pro-
de decisão conjunta e o desenvolvimento de víncias de Dajabón e Monte Plata, possibilitou
sinergias. Promove-se a participação ativa do a criação dos Conselhos de Desenvolvimento
setor público, tanto nacional como regional ou Territorial, instrumentos consultivos contem-
local, do setor privado, da sociedade civil, da plados pela Lei para a canalização das princi-
academia. É no seio desses Grupos de Traba- pais demandas dos cidadãos e instituições locais
lho que são elaboradas, de forma participativa, no Sistema Nacional de Investimento Público
as estratégias de desenvolvimento econômi- Nacional.
co territorial. Tais espaços têm por vocação a Os Conselhos na Província de Dajabón,
constituição desde o primeiro momento como com o apoio conjunto do ART e o PDLT (Pro-
ferramenta contínua do território. grama de Desenvolvimento Local Transfron-
Dos diferentes Grupos de Trabalho teiriço) do PNUD e DECADA da JICA, im-
apoiados pela Iniciativa ART na Bolívia, pulsionaram diferentes mesas temáticas, o que
destaca-se a experiência no Departamento permitiu vincular as instituições nacionais à di-
de Oruro, no quadro do projeto PET-MAN nâmica local e em função dos principais proje-
(Planejamento Produtivo Econômico Territo- tos do território.
rial em Fundos Comuns do Departamento de A ADET de Dajabón, na mesa de com-
Oruro). Quatro Grupos de Trabalho multia- petitividade e produtividade, participa ativa-
gente foram criados e estão em funcionamento mente do processo e apoia o desenvolvimento
em quatro mancomunidades do Departamen- e a implementação de projetos na esfera pro-
to de Oruro, onde foi possível a articulação de vincial para conseguir uma coordenação efetiva
estratégias e ações de desenvolvimento social e articulação em favor da população local, com
e econômico entre agentes privados e públi- uma importante participação do Ministério da
cos do território, a Direção de Fortalecimento Indústria e Comércio nesta gestão.
Municipal e a Secretaria de Planejamento do
Governo. Reforço de capacidades
O Programa ART no Equador desen-
volveu, em sete províncias e dois cantões, 10 O reforço de capacidades trata-se de um
Ciclos de Programação Local – processos par- dos componentes fundamentais da Iniciativa.
ticipativos comunitários – com o objetivo de Os diferentes Programas ART na América La-

30 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


tina tratam de criar capacidades, especialmente senvolvimento Econômico Local Sustentável”,
em nível local, por meio da transferência da me- que permitiu que cinco instituições nacionais
todologia do Programa e o intercâmbio de boas articulassem suas respectivas políticas públicas.
práticas. Para a sustentabilidade dos processos, Essa experiência está em fase de execução e sis-
é fundamental que, desde o primeiro momen- tematização para ser replicada em nível nacional
to, trabalhe-se a partir do ponto de vista do fa- por parte do Ministério do Meio Ambiente e
vorecimento da apropriação nacional e local. Recursos Naturais.
Nesse sentido, durante o ano de 2012, o O Programa ART da República Domi-
Programa ART na Bolívia organizou a fase pre- nicana promoveu mecanismos de governança
sencial de um mestrado em Cooperação Inter- como as Mancomunidades, Conselhos de De-
nacional e Desenvolvimento Econômico Local, senvolvimento e Agências de Desenvolvimen-
em acordo com a Universidade Pablo de Olavi- to Econômico Local, nas quais gerou capacida-
de. A iniciativa permitiu a reunião de aproxima- des para a mobilização de fundos e articulação
damente 40 participantes, representando cerca com instituições nacionais e cooperação inter-
de 10 instituições públicas, privadas e de quatro nacional. Foram realizadas 24 capacitações so-
departamentos da Bolívia. O sucesso da inicia- bre metodologia de grupos de investimento e
tiva residiu no feito de ter provocado a criação economia com a participação de 605 pessoas
de um espaço de intercâmbio entre instituições em cinco províncias.
não habituadas a interagir, superando diferenças Da mesma forma, formulou-se uma par-
políticas tradicionais. ceria com universidades locais e internacionais
Na Colômbia, está disponível a metodo- para o planejamento estratégico territorial com
logia pedagógica online “Curso em Desenvol- metodologia SIG e mapas visuais. Por meio de
vimento humano local com ênfase na metodo- diferentes intercâmbios internacionais de coo-
logia do programa ART”. peração, o Programa ART promoveu capaci-
No ART Equador, as capacidades na- dades em todos os níveis de gestão. A seleção
cionais e territoriais de desenvolvimento eco- e apresentação de boas práticas em cooperação
nômico local foram fortalecidas por meio de Sul-Sul entre a Rede de ADEL e o CENSA de
múltiplos intercâmbios de experiências e boas Cuba na Feira do Saber do Sul do Panamá, em
práticas dentro do país e com especialistas in- 2012, sobre o desenvolvimento da indústria lác-
ternacionais que resultou, entre outros, no avan- tea reflete os importantes resultados neste tema.
ço de um Parque Ecológico Agroindustrial em
El Oro e um marco conceitual que sustente Conclusões
a ancoragem da descentralização do fomento
produtivo com o modelo produtivo estabeleci- Os programas ART alcançaram, depois
do na Constituição e no Plano Nacional para de três anos de implementação de sua metodo-
Bem Viver. logia em países diferentes, resultados concretos
No Programa ART de El Salvador, o gru- em âmbitos que vão além do desenvolvimento
po de trabalho do departamento de Morazan é econômico local. De fato, ações em direção ao
um modelo nacional para a implementação da reforço da governança multinível e de diferen-
estratégia “Gestão dos Recursos Hídricos e De- tes agentes, por meio da criação de espaços de

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 31


articulação entre agentes e diferentes níveis de cal, celebrado na cidade brasileira de Foz do
governo permitiram uma maior eficácia das in- Iguaçu em novembro de 2013, estabeleceu-se
tervenções nos territórios, evitando a dispersão uma rede regional e global para a promoção de
e garantindo que as políticas setoriais de minis- reflexões e intercâmbios em matéria de desen-
térios nacionais respondam verdadeiramente às volvimento econômico local. Nessa linha, a Ini-
necessidades e oportunidades dos territórios. É ciativa ART estabeleceu parcerias estratégicas
importante ajustar o papel transcendental que a com diferentes órgãos, entre os quais se destaca
cooperação descentralizada vem desempenhan- o SEBRAE, por sua trajetória de apoio à pe-
do, fundamentalmente a espanhola e a italiana, quena e média empresa do Brasil e por sua vi-
no marco dos Programas ART no que se re- são de enfoque territorial.
fere à promoção de intercâmbios e saber fazer, O ART continua participando de for-
especificamente, na área do desenvolvimento ma ativa e liderando as discussões sobre o de-
econômico local. senvolvimento econômico local, intervindo em
Nessa mesma lógica de intercâmbio de eventos internacionais como a última reunião
boas práticas, o Plano Estratégico 2014-2017 do grupo de trabalho de composição aberta so-
do PNUD define como uma de suas prioridades bre os objetivos de desenvolvimento sustentável,
a promoção de cooperação triangular e Sul-Sul. celebrado em Nova York em janeiro de 2014,
Para responder a essa preocupação, a Iniciativa os Dias Europeus Sobre Desenvolvimento de
ART está em processo de ajuste de uma pla- novembro de 2013, ou a reunião de Cidades e
taforma territorial na América Latina, para, a Governos Locais Unidos de Rabat, em outu-
partir dos diferentes Programas ART no con- bro de 2013.
tinente, desenvolver intercâmbios entre países Todos esses encontros internacionais per-
e governos subnacionais. mitem, entre outros objetivos, refletir sobre a
Ao dividir os agentes de desafios e pro- agenda de desenvolvimento pós-2015 e a ne-
blemáticos, muitas vezes bastante similares, é cessidade de repensar novos objetivos de de-
muito interessante poder intercambiar soluções senvolvimento onde o espaço local e regional
e inovações em temas como capacidades lo- adquire um papel mais relevante. Colocar em
cais, prestação de serviços básicos, governança prática instrumentos e mecanismos para pro-
urbana ou desenvolvimento econômico local. mover um enfoque territorial do desenvolvi-
Cabe destacar que durante a Global South- mento, onde a articulação em diversos níveis e
-South Development Expo, realizada em Naio- de diversos agentes se torna essencial para en-
bi em novembro de 2013, uma experiência de carar com sucesso a complexidade de problemas
intercâmbios de desenvolvimento econômico globais localizados nos territórios.
local entre os países de El Salvador e Repú-
blica Dominicana foi premiada, confirmando
assim a potencialidade que podem desenvolver
os Programas ART na promoção de coopera-
ção Sul-Sul.
Como resultado do Segundo Fórum
Mundial de Desenvolvimento Econômico Lo-

32 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Desenvolvimento
Territorial e Economia
Solidária (ESOL):
conexões com a geração
local de trabalho e renda

Leandro Pereira Morais


Doutor em Economia pela UNICAMP. Professor da
PUCCAMPINAS e FACAMP. Consultor do Instituto Polis
e do Centro de Formação Internacional da Organização
Internacional do Trabalho, OIT-ONU.

Roberto Di Meglio
Economista, Especialista da Área de Desenvolvimento
Territorial e Economia Social da Organização Internacional
do Trabalho – OIT - Genebra.

Introdução Como se tentará mostrar neste artigo, o


desenvolvimento territorial parte da ideia de
Entende-se que a geração local de tra- que mesmo pequenas ações podem contribuir
balho e renda, a partir de instrumentos da eco- com a melhoria da dinâmica socioeconômica
nomia solidária (ESOL), constitui-se um dos de alguns territórios1, antes fadados à total fal-
elementos que pode contribuir para o desenvol- ta de perspectiva e de meios de sobrevivência.
vimento territorial, uma vez que gera dinâmica Nesta perspectiva, este artigo tem como
econômica, sobretudo em regiões mais perifé- intuito: a) realizar uma discussão teórico-con-
ricas, com baixo dinamismo econômico e alto ceitual acerca do tema desenvolvimento terri-
índice de pobreza. torial; b) discutir suas conexões com a ESOL

1 Para se ter uma ideia, no Brasil, cita-se o Programa “Territórios da Cidadania”, que tem como objetivos, promover o desenvolvimento econômico e universa-
lizar programas básicos de cidadania, por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial sustentável. A participação social e a integração de ações
entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a construção dessa estratégia. Informações adicionais, consultar: http://www.territo-
riosdacidadania.gov.br/.

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 33


e o fortalecimento dos vínculos territoriais; c) Nesta perspectiva, conforme advertira
apresentar o papel e a contribuição da Organi- Putnam (2000), a explicação fundamental para
zação Internacional do Trabalho (OIT) nestas o desenvolvimento endógeno está no elevado
temáticas e d) mostrar algumas experiências grau de capital social encontrado nas comuni-
internacionais. dades em que ações são praticadas. Ou seja, a
capacidade organizativa da sociedade é funda-
Desenvolvimento Territorial: mental para seu processo de desenvolvimen-
em busca de um conceito e de to. Por “capital social”, o autor entende como
instrumentos de apoio e de ação o “capital” que diz respeito a características de
organização social, como a confiança, normas e
O conceito de “território”, cada vez mais sistemas que contribuem para o aumento da efi-
utilizado e mencionado, adquiriu um caráter ciência da sociedade, facilitando as ações coor-
“polissêmico” (Ortega, 2008, p. 51). Cassiolato denadas. Em sua visão, mais que identificar um
& Szapiro (2003) concebem a territorialidade a elevado capital social, o importante é saber se a
partir da ideia de “interdependências específicas organização social-local-territorial suscita uma
da vida econômica”, não apenas definida como forte capacidade de cooperação em torno do
localização da atividade econômica. Na visão projeto coletivo.
dos autores, uma atividade é totalmente terri- Em outros termos, ao se referir ao desen-
torializada quando sua viabilidade econômica volvimento territorial há que considerar a im-
está enraizada em “ativos”, que incluem práticas portância das seguintes dimensões: a) econô-
e relações sociais, não disponíveis em outros lo- mica: relacionada com a criação, acumulação e
cais e que não podem, instantaneamente, serem distribuição da riqueza; b) social e cultural: im-
criadas ou imitadas em lugares que não as tem. plica qualidade de vida, equidade e integração
Trata-se, portanto, do desenvolvimento social; c) ambiental: se refere aos recursos natu-
“endógeno” de economias de dinâmicas territo- rais e a sustentabilidade dos modelos de médio
rializadas, assentadas na cooperação, na apren- e longo prazo e d) política: trata-se de aspectos
dizagem, nos conhecimentos tácitos, nas cul- relacionados à governança territorial, bem como
turas técnicas específicas e nas inter-relações ao projeto coletivo independente e sustentável.
sinérgicas. A ideia do desenvolvimento endó- Do ponto de vista histórico, a impor-
geno baseia-se, portanto, na visão que os siste- tância do enfoque territorial parece associar-se
mas produtivos consistem em um conjunto de à crise capitalista das décadas de 1970 e 1980.
fatores materiais e imateriais que permitem que Já em se tratando de correntes de pensamento,
as economias locais e regionais adotem cami- de acordo com Ortega (2008, p. 55), o enfoque
nhos diferentes para o crescimento econômico territorial do desenvolvimento “seguiu dois ca-
e o desenvolvimento social. As trajetórias a se- minhos paralelos”: a corrente de tradição alemã,
rem seguidas por essas economias dependem fundada nos fatores de localização e a corrente
tanto dos recursos internos como sua adaptação que se baseia na análise dos distritos industriais,
e/ou aproveitamento dos estímulos das políti- dos clusters, dos learning regions e dos entornos
cas macro, regional, industrial e demais políti- competitivos.
cas setoriais.

34 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Navarro-Yañes (1998) realizou um pro- organização de produtores, cooperativas, sindi-
fuso levantamento bibliográfico sobre o tema e, catos, associações empresariais etc).
a partir deste levantamento, apontou três linhas Tecidas estas considerações iniciais, acre-
principais de argumentação para mostrar a im- dita-se que é possível avançarmos rumo a uma
portância do local nas novas oportunidades para concepção sistêmica de desenvolvimento ter-
o desenvolvimento: a) ligada ao reconhecimen- ritorial, ou, conforme se referiu Paula (2008),
to das bases sociais para o desenvolvimento e “Desenvolvimento Local Integrado e Susten-
seus conhecimentos acerca das capacidades lo- tável – DLIS”. Em sua visão:
cais; b) referente à relevância de uma identidade
local, fundamental para o estabelecimento do “DLIS é uma sigla. Significa: Desen-
volvimento Local Integrado e Susten-
que Abramovay (1999) chamou de “ideia guia”,
tável. Pretende representar um novo
em torno da qual deve ocorrer o pacto territo- conceito de desenvolvimento e uma
rial da comunidade na busca pelo desenvolvi- nova estratégia para sua implantação.
mento e c) ligada à ação do Estado no sentido O conceito de DLIS parte do pres-
da descentralização das políticas públicas para suposto de que o crescimento econô-
mico é necessário, mas não é suficien-
o âmbito local.
te para promover o desenvolvimento.
De acordo com Ortega (2008, p.74): O desenvolvimento é um fenômeno
que ultrapassa o econômico. O senti-
“na base desse desenvolvimento terri- do do desenvolvimento deve ser o de
torial estaria, portanto, a identificação melhorar a qualidade de vida das pes-
ou criação de uma cultura no territó- soas (desenvolvimento humano), to-
rio centrada na crença em uma pers- das as pessoas (desenvolvimento so-
pectiva de desenvolvimento, alicerçada cial), as pessoas que estão vivas hoje e
em capacidades e recursos existentes as que viverão no futuro (desenvolvi-
em nível territorial, no aproveitamento mento sustentável). Fazer o desenvol-
de recursos humanos, na mobilização vimento humano, social e sustentável,
de atitudes e valores, com o objetivo nos desafia a pensar um novo conceito
de criar uma trajetória de desenvol- de desenvolvimento que articula a di-
vimento”. namização do crescimento econômico
com outros fatores como o capital hu-
mano, o capital social, o capital empre-
É neste contexto que ganha ênfase as po-
sarial e o capital natural” (p.5).
líticas aptas a estimular uma trajetória de de-
senvolvimento, sendo as políticas públicas o
Nesta perspectiva, entende-se o desenvol-
instrumento de fortalecimento ou mesmo de
vimento territorial (sustentável e integrado), a
formação de uma cultura pró-ativa de desen-
partir do tripé: a) aumento do “capital social”;
volvimento a partir de uma base local. Nesses
b) desenvolvimento econômico e c) conserva-
termos, o foco inovador de tais políticas públicas
ção dos recursos naturais.
estaria centrado, de um lado, na ideia de que o
projeto de desenvolvimento deve ser construído
de “baixo para cima” e, por outro, deve basear-se
em um “pacto territorial”, mediado e impulsio-
nado pela articulação de atores-chave (governo,

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 35


Desenvolvimento Territorial e
ESOL: potenciais conexões “Mais do que simplesmente uma po-
lítica de geração de trabalho e renda
para parcelas marginalizadas da socie-
A ESOL constitui-se um campo de dade, trata-se, portanto, de uma con-
crescente importância na Agenda de discus- cepção de política estratégica, na me-
sões e práticas, seja em âmbito governamental, dida em que pensa o desenvolvimento
das políticas públicas em suas diversas instân- centrado em contextos territoriais es-
pecíficos. Além disso, tal desenvolvi-
cias, dos organismos multilaterais, bem como
mento não é considerado apenas como
dos pesquisadores da área, no Brasil e no mun- simplesmente um fortalecimento de
do. No entanto, não existe consenso acerca de empreendimentos econômicos locais.
sua definição, mensuração e organizações que Trata-se de pensar a construção de ini-
ciativas econômicas articuladas em cir-
as compreende. Nesta perspectiva, adota-se
cuitos socioprodutivos locais e ainda
neste trabalho, a definição proposta por Mo- integradas a outras formas de inicia-
rais (2013), onde a ESOL se refere aos Em- tivas locais, visando ao fortalecimento
preendimentos Econômicos Solidários (EES) (além do econômico) das dimensões
e às políticas de apoio à inserção sociolaboral social, política, cultural e ambiental
num determinado contexto espacial”
de grupos desfavorecidos econômica e social-
(França Filho, 2006 a, p 262).
mente2.
Conforme Fraisse (2006), a emergência
Percebe-se, portanto, que as políticas de
de políticas territoriais de ESOL representa um
ESOL representam uma forma específica de
caso interessante de construção de uma “nova”
operar ações de geração de trabalho e renda, pois
área da ação pública local. Em sua visão, a emer-
estão assentadas em uma “concepção estratégi-
gência de políticas territoriais de ESOL oferece
ca de desenvolvimento territorial”. O conceito
a “oportunidade histórica” de consolidação e de
estratégico advém da ideia de que o desenvol-
renovação que deem todo o seu lugar à ESOL
vimento territorial é fruto de ações conjuntas,
como um “componente legítimo da economia
colaborativas e participativas, de mobilização
plural apto a ter um peso nas lógicas de desen-
social e produtiva do território, com impactos
volvimento local” (p.243).
socioeconômicos e políticos mais amplos que se
Nesta perspectiva, França Filho (2006),
articulam em um território específico.
ao relacionar políticas públicas para o desen-
Na visão de Silva (2009), os EES têm
volvimento territorial e a ESOL, afirma que se
por base a ação local enraizada na comunida-
trata de uma concepção que incide sobre a cons-
de, compreendida como partilha de um mesmo
trução de estratégias territoriais de desenvolvi-
território e pertencente a uma rede de relações
mento em torno do fomento de outra dinâmica
comuns, o que favorece uma estratégia de de-
econômica, baseada na construção e no forta-
senvolvimento local a partir de seu fortaleci-
lecimento de “circuitos socioprodutivos locais”
mento. E é justamente esse enraizamento que
integrados ao tecido das relações sociais, polí-
eles apresentam com o espaço local no qual se
ticas e culturais de um lugar. Segundo o autor:

2 Para uma discussão mais detalhada, consultar Morais (2013).

36 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


inserem que vai permitir a estes empreendi- Desenvolvimento Territorial e
mentos possuírem uma relação direta com o Economia Social e Solidária (ESS)3
desenvolvimento da localidade, potencializando para a geração de renda e criação
as capacidades e os recursos humanos e mate- de emprego: o papel da OIT e sua
riais endógenos. experiência no tema
No entanto, é mister frisar que tal ideia
não deve negligenciar a importância das polí- O Desenvolvimento Territorial ou De-
ticas econômicas adotadas em âmbito federal. senvolvimento Econômico Local (DEL) é en-
Muito pelo contrário, estas devem ser pensa- tendido, pela OIT como um processo de de-
das e implementadas de modo a contribuírem senvolvimento participativo que estimula as
para a exitosa consecução das políticas territo- associações entre os principais atores sociais
riais. Afinal, questões cruciais como taxa de ju- públicos e privados em um território definido,
ros, nível de investimento, taxa de câmbio, bem permitindo tanto o desenho como a implemen-
como percentual de repasses aos municípios e tação de uma estratégia de desenvolvimento
de gastos em determinadas políticas locais, são comum, que se utiliza dos recursos e vantagens
decisões tomadas em âmbito federal e que po- competitivas locais em um contexto global, com
dem ajudar ou inviabilizar ações, programas e o objetivo de criar trabalho decente e estimular
projetos de desenvolvimento territorial. a atividade econômica (Gasser, et al, 2004). Indo
Na práxis, este “novo” fundamento de além desta definição, vale mencionar a perspec-
atuação para o desenvolvimento, tem como tiva política que se propõe o enfoque de DEL
base, a inter-relação de, principalmente, três sugerido pela OIT (www.ilo.org/led).
modalidades de políticas: a) setoriais: objeti- Nesta perspectiva, a promoção do DEL
vando melhoras permanentes da eficiência e leva em conta a participação de atores tais como
da produtividade dos setores produtivos, a par- o Estado, os governos subnacionais, os cidadãos
tir de ações para a qualificação, formação, ino- e suas respectivas formas de representação e de
vações tecnológicas etc; b) territoriais: formas organização para a produção, em âmbitos inter-
de administrar e gerir os recursos endógenos nacional, nacional e local, assim como os dife-
(mão-de-obra, recursos naturais e infraestru- rentes organismos internacionais de cooperação.
tura), visando a criação de um entorno local Desta forma, entende-se também que promo-
favorável e c) meio ambientais: a partir de ver a participação dos diferentes atores públi-
ações para conservação dos recursos naturais cos e privados para o desenho e a realização de
e do respeito ao ecológico, tido como valor es- estratégias integradas e consensuadas de DEL
tratégico em questões de desenvolvimento de contribui para o estabelecimento de mecanis-
localidades. mos de espaços de diálogo social, permitindo
maior legitimidade, pertinência e sustentabili-
dade aos projetos que se querem realizar. Para
a OIT, o diálogo social é um instrumento fun-

3 Frente à falta de consenso na definição sobre Economia Social e Solidária, com o intuito de abarcar a amplitude de organizações em diferentes países, a
OIT utiliza o termo Economia Social e Solidária, conforme definição contida em seu reader de 2010, que pode ser acessado no site “collective brain” men-
cionado posteriormente.

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 37


damental para promover melhores condições de Outro aspecto que deve ser ressaltado re-
trabalho e, neste sentido, o DEL pode apontar, fere-se ao fato de que, ademais dos impactos
através de um processo inclusivo, a criação de em âmbito econômico e social, as iniciativas de
trabalho decente. DEL apresentam também contribuições para a
Vale lembrar que, a partir dos anos 1990, dimensão ambiental. Para se ter uma ideia, no
a OIT e suas contribuições para o mercado de Informe V, intitulado “El desarrollo sostenible,
trabalho, estreitou relações com os governos lo- el trabajo decente y los empleos verdes”, apre-
cais, para a elaboração de propostas de temas sentado na Conferência Internacional do Tra-
vinculados ao desenvolvimento econômico e a balho em 20135:
geração de trabalho, emprego e renda. É neste
momento que a OIT inicia sua experiência em “los enfoques integrados que tienen
como eje la protección social y la pro-
temas concernentes ao DEL, implementando
moción del empleo, están demostran-
muitos projetos de cooperação técnica em diver- do su eficacia. Pueden aplicarse a gran
sos países do mundo. Em geral, as experiências escala, como parte de planes naciona-
concretas de promoção do DEL apontam para les, o de forma específica en el marco
o fato de que, sobretudo em contextos marca- de iniciativas de desarrollo económico
local, ya que los desafíos y las oportu-
dos por altos níveis de pobreza institucional e
nidades que plantea la adaptación al
individual, as formas empresariais baseadas na cambio climático dependen en gran
ESS apresentam um papel muito importante medida de las características de cada
para se estruturar processos de desenvolvimen- lugar. Si los mandantes de la OIT par-
ticiparan más en la formulación de los
to inclusivos.
programas nacionales de acción para la
Como exemplo, citam-se os impactos das adaptación y en los programas cone-
intervenções da OIT na América Central, pro- xos, aportarían una valiosa informa-
movendo o DEL a partir dos anos de 1990. ción social y de mercado de trabajo al
Mais de vinte anos depois, atualmente, obser- proceso de planificación, harían par-
tícipes a todas las personas interesa-
vam-se resultados satisfatórios, em termos de
das directamente en su ejecución en
criação e consolidação de organizações para a la toma de decisiones y, de este modo,
promoção de estratégias de DEL. Nesse sentido, aumentarían el grado de implicación
é importante ressaltar como as formas associa- y la relevancia de las empresas y los
tivas, as cooperativas e outras organizações sem trabajadores en dichos programas, así
como las sinergias entre las inversiones
fins lucrativos tiveram um papel determinante
públicas y privadas”.
naquele cenário e ainda mantém uma presença
significativa na atualidade. É interessante men-
Mais especificamente em se tratando das
cionar as Agências de DEL (ADEL)4, forma-
relações entre o DEL e a ESS, a OIT, confor-
das institucionalmente por organizações e em-
me já enunciado anteriormente, há alguns anos,
preendimentos da ESS.
vem contribuindo para os aspectos normativos,
relativos às cooperativas, bem como para a exe-

4 Para informações adicionais, vale visitar as experiências em El Salvador, como: (www.adelmorazan.org/) e (www.adelchalatenango.org.sv/).
5 Informe V, El desarrollo sostenible, el trabajo decente y los empleos verdes, Conferencia Internacional del Trabajo, 102a reunión, 2013.

38 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


cução de projetos de cooperação técnica (assis- atuação. Posteriormente, a 2a Academia se rea-
tência e formação), seja em temas de DEL, seja lizou no Canadá, em outubro de 2011, tendo
em temas de ESS e afins. Há, inclusive, diver- como parceiros institucionais o Chantier de
sas informações disponíveis em sítios web, tais l’Economie Social, CIRIEC – Internacional
como: www.ilo.org/led; www.ledknowledge.org e o Comitê Econômico e Social Europeu. A
e www.itcilo.org/socialeconomy. Em sua visão, 3a Academia ocorreu no Marrocos, em 2013,
a conexão entre DEL e ESS se dá, dentre ou- com a parceria do REMESS, uma rede marro-
tros aspectos, no sentido de que as formas de quina de ESS, conjuntamente com os já men-
organização da ESS nascem “espontaneamente” cionados CIRIEC – Internacional e o Comitê
no momento de se levar a cabo mecanismos de Econômico e Social Europeu.
geração de trabalho e renda em locais marca- Para cada Academia preparou-se, com o
dos pela pobreza e exclusão social. A necessi- apoio de um grupo de especialistas internacio-
dade em se reduzir a distância entre indivíduos, nais, um Documento Base (Reader), que estão
empreendimentos e territórios com e sem con- disponíveis, em vários idiomas, em: www.itci-
dições de avançarem em seus projetos e ações, lo.org/socialeconomy. Nesta perspectiva, tam-
num cenário de polarização social e territorial, bém se criou o “collective brain” (http://www.
explica o papel da OIT em promover estraté- sseacb.net), como um novo espaço coletivo que
gias de desenvolvimento territorial. permite aos participantes de todas as Acade-
Nesse sentido, a OIT realiza um con- mias, bem como outras pessoas interessadas,
junto de ações para criar oportunidades que envolverem-se, cooperarem, socializarem in-
permitam a geração de ideias e propostas, com formações, experiências e conhecimentos.
o propósito de promover a discussão relacio- Com o intuito de complementar a ati-
nada a novos modelos de produção e consumo, vidade presencial, a OIT está desenhando um
que possam contribuir ao desenho de políticas instrumento formativo à distância sobre Eco-
públicas inovadoras, capazes de enfrentarem a nomia Social e Solidária, com previsão de lan-
crise econômica e social atual. çamento em finais de 2013. Provavelmente, a
No que tange especificamente à ESS, próxima Academia se realizará no Brasil, em
para a OIT, o conceito utilizado é transversal julho de 2014 e será sediada pela Faculdade
às quatro dimensões do Programa de Trabalho de Campinas – FACAMP, com o apoio de
Decente, sendo que um programa de capaci- importantes instituições, que já manifestaram
tação de alto nível sobre ESOL foi proposto, interesse, tais como a SENAES, o SEBRAE e
na ocasião da Conferência Regional da OIT, o BNDES.
celebrada em Johannesburgo, no Sul da Áfri- Entende-se que a necessidade de se pen-
ca, em outubro de 2009. Adicionalmente, a 1a sar em formas de superação da crise através de
Academia sobre Economia Social e Solidária formas de participação que permitam fomentar
da OIT teve lugar em Turin, Itália, em outubro a coesão social, bem como reforçar as relações
de 2010 e revelou uma oportunidade única de de confiança e contribuir para o incremento do
formação interregional, reunindo mais de 70 capital social do território, nos parece um cami-
profissionais de todo o mundo para socializar nho que se deve percorrer, quando se pretende
suas experiências e seus diferentes modos de

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 39


construir novas formas de relacionamento social Cocco (2006) caracteriza estas experiên-
e econômico mais sustentáveis e includentes. cias como uma “multidão produtiva” e “radical-
Atualmente, a ESS é uma realidade na mente democrática”, num “conjunto de singu-
vida de muitas pessoas ao longo do mundo. Para laridades que cooperam entre si”, se alinham
a OIT, o seu avanço se baseia, inclusive, na De- com a ideia de mobilização produtiva dos ter-
claração de 2008, sobre justiça social para uma ritórios, visando o desenvolvimento socioterri-
globalização equitativa, onde se afirma que, em torial a partir da emergência de novos sujeitos
um mundo globalizado, “as empresas produ- políticos e da constituição do comum.
tivas, rentáveis e sustentáveis, junto com uma Tais iniciativas locais remetem a um con-
economia social e solidária sólida e um setor junto de conhecimentos, habilidades, noções e
público viável, são fundamentais para um de- princípios adquiridos ao longo do tempo e que
senvolvimento econômico e oportunidades de dão um “sentido” e “identidade” a um conjunto
emprego sustentáveis”. de práticas que geram dinâmicas econômicas,
organizativas e de articulação política. Tais ex-
Algumas experiências periências emergiram em diferentes contextos
internacionais locais e caracterizam-se por um enriquecido
repertório de práticas técnico-produtivas e de
É possível observar a existência de algu- organização econômica e social.
mas experiências que vêm se multiplicando e Em âmbito internacional, alguns paí-
se espraiando em muitos territórios6. Elas ex- ses nos permitem verificar, na prática, algumas
pressam as tentativas da sociedade de buscar experiências que, a partir de instrumentos da
novos caminhos de enfrentamento do desem- ESOL, contribuem para o desenvolvimento ter-
prego, da falta de renda, bem como da falta de ritorial. Seguem alguns exemplos:
oportunidades nas esferas tradicionais. a) Na Argentina, é interessante citar o
Para Coraggio (2013), a “economia popu- Plano Nacional de Desenvolvimento Local
lar” realmente existente nos territórios, negada e Economia Social, intitulado “Manos a La
ou relegada com adjetivos como “subterrânea”, Obra”, cuja implementação, coordenação e su-
“negra”, “informal”, sempre existiu, entretanto, pervisão estão a cargo da Secretaria de Políti-
ganha força neste momento frente à persistên- cas Sociais do Ministério de Desenvolvimento
cia e gravidade da crise e se orienta, progressi- Social. Conforme já apresentado, este progra-
vamente, pela necessidade de sobrevivência dos ma tem como objetivo apoiar iniciativas de
excluídos. Neste contexto, a economia popular desenvolvimento socioeconômico local de se-
começa a registrar estratégias empiricamente tores com poucos recursos, visando a melhoria
aprendidas, difundindo modelos de ação que de renda desta população. Dentre as principais
permitem dar algumas respostas a demandas ferramentas estão o apoio econômico e finan-
elementares em seus respectivos territórios. ceiro dos empreendimentos produtivos e co-

6 Para o caso brasileiro, a partir do Projeto “Novos Paradigmas de Produção e Consumo”, realizado pelo Instituto Pólis, é possível analisar 11 interessantes
experiências em desenvolvimento territorial, que ocorrem em todas as regiões do país. Grande parte do material de pesquisa foi compilado em uma publi-
cação, intitulada: “Novos Paradigmas de Produção e Consumo: experiências inovadoras” (2010), organizada por Leandro Morais e Adriano Borges, que
atuaram como coordenadores do Projeto.

40 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


munitários que apresentem viabilidade e sus- a educação para o consumo. Esta experiência
tentabilidade; o fortalecimento institucional surgiu e se desenvolveu a partir da comunida-
aos conselhos consultivos, espaços associativos de, sem grande apoio do poder público. Hoje, o
e organizações da sociedade civil e assistência Banco Palmas tem também uma forte atuação
técnica e capacitação aos seus participantes; política no campo das micro-finanças, buscando
b) No México, a UNIMOSS, onde a par- seu reconhecimento e criação de marcos legais.
ticipação de seus membros é voluntária e cola- Esta experiência já foi bastante estudada e
borativa, todas as ações são guiadas pela ideia nos permite entender os desafios atuais ligados
de uma “estrategia general de desarrollo econô- aos bancos comunitários, bem como a existência
mico y social” de redes que estão distribuídas de elementos para a disseminação de políticas
em todo o território nacional. Outro aspecto públicas territoriais que apontem a um sistema
trata-se dos Solidarity Exchange Groups, que de acesso ao crédito mais inclusivo e diferen-
tem como função fomentar o desenvolvimen- te do tradicional. Também, vale notar que mais
to de práticas de trocas solidárias de produtos, que um banco comunitário, é uma plataforma
serviços e conhecimento e de estimular uma de desenvolvimento local comunitário.
identidade comum e de relações internas à co- Já em se referindo ao Banco dos Cocais,
munidade, fortalecendo, assim, as relações do esta experiência contempla um banco comuni-
território com as instituições públicas e propi- tário inaugurado em 12 de dezembro de 2007,
ciando o aparecimento de projetos produtivos que fornece microcrédito em moeda social7, lo-
e comerciais sustentáveis, especificamente para calizado em São João do Arraial, no Estado do
a produção de alimentos. Piauí, município de cerca de 8 mil habitantes,
Em se tratando das práticas comunitá- localizado no norte piauiense, a 186 quilôme-
rias de emissão e circulação de moedas, cabe tros de Teresina. Este foi o primeiro banco co-
mencionar outras interessantes experiências já munitário do Piauí, que hoje já conta com ou-
em andamento, tais como as do Banco Palmas tras duas iniciativas neste campo. Em relação à
e do Banco dos Cocais, no Brasil e as “commu- pioneira experiência do Banco Palmas, anterior-
nal money” na Venezuela. mente mencionado, vale notar que o Banco dos
c) No Brasil, o Banco Palmas é conside- Cocais apresenta uma diferença, uma vez que
rado como o banco comunitário mais famoso possui forte apoio do poder público municipal
e bem sucedido do país, que criou um mode- e também por grande parte dos comerciantes
lo bastante reaplicado no Brasil e no exterior. locais, visto que em 2 anos a moeda social já é
Trata-se de um programa de desenvolvimento aceita em mais de 90% dos estabelecimentos
territorial que envolve o microcrédito, as moe- comerciais do município (Borges, 2010).
das sociais, a criação de empreendimentos eco- De forma geral, o Banco dos Cocais atua
nômicos solidários, a capacitação profissional e em quatro frentes de ação, que formam um sis-

7 Por “moeda social” entende-se uma forma de moeda paralela criada e administrada por seus próprios usuários, com emissão originada na esfera privada
da economia. Em outros termos, é um meio de troca criado por uma determinada comunidade. No caso da moeda “cocal”, para cada cocal colocado em
circulação, há o valor correspondente em um fundo, que garante o valor da moeda social. Assim, a nota de cocal apenas representa um determinado valor
em real e um banco comunitário só pode emitir um circulante local quando ele tem o recurso para lastreá-lo. Além de lastreado, o cocal é também indexado
ao real, no valor C$1,00 por R$1,00. Ou seja, o câmbio de C$ para R$ ou de R$ para C$ é sempre fixado em um para um. Esta troca entre as moedas é
feita no Banco dos Cocais, sendo que qualquer pessoa pode trocar R$ por C$, mas apenas comerciantes podem trocar C$ por R$ (Borges, 2010).

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 41


tema integrado de crédito, produção, comércio e cipais a implementar a “Lei Geral da Micro e
consumo, a saber: a) gestão de uma moeda social Pequena Empresa”, principalmente no que toca
que circula e é aceita apenas no município de às facilidades para o microempreendedor Indi-
São João do Arraial: o cocal (C$); b) concessão vidual e às compras públicas feitas localmente.
de microcrédito em Real e em Cocal, para fi- d) Nos EUA, a “Community Reinvest-
nanciar consumo e investimentos em produção; ment Act”, aprovada em 1977 e revisada em
c) correspondente bancário do Banco Popular 1995, estabelece que as instituições bancárias
do Brasil (BPB) e d) assessoria e levantamento satisfaçam parte das necessidades financeiras
de necessidades aos empreendimentos e gru- das comunidades onde atuam, incentivando que
pos solidários. os bancos criem sociedades com as associações
Ainda no Brasil, é importante mencionar locais para gerir fundos que beneficiem iniciati-
o apoio do SEBRAE (Serviço Brasileiro de vas de ESOL. Um Fundo federal injeta recursos
Apoio às Micros e Pequenas Empresas) para o em fundos locais que oferecem subsídios para
fortalecimento de pequenos negócios no terri- o desenvolvimento de negócios comunitários
tório, a partir de programas que promovem a e assistência técnica a iniciativas de pequenos
formalização e a capacitação de beneficiários de negócios;
programas de transferência de renda com perfil e) Na Nova Zelândia, é interessante re-
empreendedor. Os Microempreendedores In- lembrar o “Community Economic Develop-
dividuais que integram o cadastro de beneficiá- ment Action Research Project”, que apoia a
rios do programa Bolsa Família são pessoas que formulação de projetos comunitários locais e
precisam de apoio para se qualificar, aprender a é considerado como um “key proyect” do De-
gerir seus negócios, sobreviver no mercado e partament of Labour do país. No âmbito deste
crescer. A atuação do SEBRAE acontece com programa, o Departamento de Trabalho realiza
o programa “Negócio a Negócio” em cidades intercâmbio entre práticas de gestão governa-
mapeadas pelo governo com o maior volume mentais e empresariais e as transferem às comu-
de famílias carentes e, também, nos municípios nidades, além de mapearem local opportunities
médios e pequenos com o programa SEBRAE para o desenvolvimento de atividades nos ter-
nos já mencionados “Territórios da Cidadania”. ritórios. No âmbito deste programa, a própria
Segundo informações do próprio site10, o pro- comunidade é a responsável pelo planejamen-
grama oferece um Agente de Orientação Em- to, pela implementação e pelo controle do seu
presarial que realizará visitas na empresa e apli- processo de desenvolvimento, bem como pela
ca um diagnóstico de gestão básica, que formação de suas redes e relações com o setor
abrange questões de mercado, finanças e ope- público e demais instituições.
ração do negócio. Em seguida sugere soluções f ) Na Itália, governos regionais e locais
para melhoria do negócio. O empreendimento têm atuado através do desenvolvimento de mo-
ou o microempresário recebem atendimento delos de relacionamento inovadores, cujas orga-
especializado do SEBRAE, com foco em ges- nizações operam, sobretudo, a nível local. Como
tão empresarial, de forma presencial, gratuita e estas comunidades estão enraizadas em comu-
continuada. Nos Territórios da Cidadania, o nidades locais, além de conhecerem a realidade
SEBRAE incentiva os agentes políticos muni- do território, realizam também ações em prol

42 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


do desenvolvimento da educação formal e de pecial aos negócios que fortaleçam os vínculos
estabelecimento de redes de atores participan- territoriais.
tes deste processo e de troca de experiências e No entanto, assim como nos atentou
conhecimento. Boaventura de Sousa Santos (2002), o êxito
g) Em Portugal, em algumas regiões, ve- destas experiências alternativas de produção
rificam-se experiências que se orientam em di- e de organização comunitária nos territórios,
reção à satisfação de bens e serviços de interes- depende, em boa medida, de sua capacidade
se social e perspectiva de sustentabilidade, com de integrar processos de transformação eco-
base na valorização de suas capacidades e de nômica e mudanças culturais, sociais e políti-
modo a privilegiar a “qualidade social” de suas cas, construindo redes de colaboração e apoio
comunidades.

‘‘
h) Na Hungria, a
Hungarian Association for
é insuf iciente pensar isoladamente a
Development and Huma-
nitariam Aid, formalizada sustentabilidade de cada empreendimento,
em 2003, tem como princi- como se a resolução de
pal objetivo contribuir com

’’
a formulação de uma política
problemas particulares de cada um
de cooperação ao desenvol- resultasse na sustentabilidade do todo
vimento sustentável, trans-
parente e efetivo. A Asso-
ciação tem uma relação bastante estreita com a mútuo, o que pressupõe uma progressiva parti-
estrutura governamental húngara, em suas di- cipação nas instâncias de formulação e imple-
versas instâncias. Como pontos desta “política mentação de políticas públicas, com base na
de cooperação ao desenvolvimento sustentável, ideia da co-construção destas políticas. Nesta
transparente e efetivo”, estão: promover inte- perspectiva, é interessante mencionar o pres-
resses comuns entre parceiros da sociedade ci- suposto da “ambiência”, visto que, conforme
vil e governo; sensibilizar diferentes atores em apontaram Kraychete & Santana (2012, p. 55),
temas de desenvolvimento humanitário e sus- apoiando-se em Amartya Sen:
tentável; colaborar na elaboração de políticas
públicas; além de gerar informações sobre as “é insuficiente pensar isoladamente a
sustentabilidade de cada empreendi-
possibilidades de empreendimentos econômi-
mento, como se a resolução de pro-
cos solidários etc. blemas particulares de cada um re-
sultasse na sustentabilidade do todo.
5. Considerações finais É necessário que haja uma ambiência
que contribua para a sustentabilidade
do conjunto”.
Acredita-se que a construção de novas
propostas de organização social, produtiva e
econômica locais é viável, bem como é possível
constituir políticas públicas com atenção es-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 43


Referências Bibliográficas lidária: uma perspectiva internacional. Porto
Alegre: Editora UFRGS, 2006, p. 57-72.
BORGES, A . Banco dos Cocais: uma expe-
riência inovadora. In: MORAIS,L.; BORGES, GASSER, M.; SALZANO, C.; DI ME-
A . (Orgs). Novos Paradigmas de produção e GLIO, R.; LAZARTE, A .“Desarrollo econó-
consumo: experiências inovadoras. São Paulo: mico local en situaciones de post crisis. Guía
Instituto Pólis, 2010, p. 295-342. operacional. OIT Ginebra, 2004.

CASSIOLATO. J.E.; SZAPIRO, M. Uma MORAIS, L. As políticas públicas de Econo-


caracterização dos arranjos produtivos locais mia Solidária (ESOL): avanços e limites para
de micro e pequenas empresas. In: LASTRES, a inserção sociolaboral dos grupos-problema.
H.M; CASSIOLATO, J.E.; MACIEL, M. Campinas: IE-UNICAMP (Tese de Douto-
rado), 2013.
Pequena empresa: cooperação e desenvolvi-
mento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará
NAVARRO-YAÑES, C. El nuevo localismo.
– IE-UFRJ, 2003.
Município y democracia en la sociedad global.
Córdoba, España: Diputación de Cordoba,
COCCO, G. Mobilizar os territórios produti-
1998.
vos: para além do capital social, a constituição
do comum. In: Cocco, g.; SILVA, G. In: Ter-
PAULA, J. Desenvolvimento Local Integrado
ritórios produtivos: oportunidades e desafios
e Sustentável, SEBRAE, 2008.
para o desenvolvimento local. Sebrae, 2006.

PUTNAN, R. Comunidade e democracia. A


CORAGGIO, J.L. Sobrevivencia y otras estra-
experiência da Itália moderna. 2 ed. Rio de Ja-
tégias en LAC: La perspectiva desde lo local,
neiro: FGV Editora, 2000.
2003. Disponível em:<http://www.coraggioe-
conomia.org/jlc/archivos%20para%20descar-
ORTEGA, A . C. Territórios deprimidos: de-
gar/sobrevivenciyotrasestrategias.pdf>.
safios para as políticas de desenvolvimento ru-
ral. Campinas: Editora Alínea, 2008.
FRAISSE, L. Os desafios de uma ação públi-
ca a favor da economia social e solidária. In:
SANTOS, B. Prefácio. In: SANTOS, B. Pro-
In: FRANÇA FILHO, G.; LAVILLE, J.L.;
duzir para viver: os caminhos da produção não
MEDEIROS, A.; MAGNEN, J (Orgs). Ação
capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei-
Pública e Economia Solidária: uma perspectiva
ra, 2002.
internacional. Porto Alegre: Editora UFRGS,
2006, p. 237-244.
SILVA, S. Economia Solidária e políticas pú-
blicas de desenvolvimento local: uma análise de
FRANÇA FILHO, G. Economia popular
dois programas de gestão pública no Brasil. In
e solidária no Brasil. In: FRANÇA FILHO,
Revista Perspectivas em Políticas Públicas, vol. II,
G.; LAVILLE, J.L.; MEDEIROS, A.; MAG-
no 3, p. 45-67. Belo Horizonte, jan-jun de 2009.
NEN, J (Orgs). Ação Pública e Economia So-

44 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Agente de
Desenvolvimento – um
elo entre a administração
pública municipal e os
pequenos negócios

Pedro Valadares
Formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de
Brasília, com especialização pela mesma instituição, é
analista da Unidade de Desenvolvimento Territorial (UDT)
do Sebrae e coordena a Rede Nacional de Agentes de
Desenvolvimento.É colunista da Coluna do Desenvolvimento
Local, no portaldodesenvolvimento.org.br

1. Introdução escassos recursos econômicos que se conhece”


(2011, p.92).  Ou seja, por meio da ação em-
O empreendedor exerce um papel funda- preendedora, evidenciam-se as oportunidades e
mental no desenvolvimento econômico de um os diferenciais competitivos de cada território.
território. O empreendedorismo possibilita a Quanto mais qualificado for o capital em-
cooperação e a articulação de informações que presarial de uma determinada região, mais ri-
estão dispersas na sociedade. A abertura de um queza será capaz de produzir e com isso maior
negócio envolve uma leitura das potencialida- será o bem estar da população local. Apesar da
des locais e contribui para a organização da es- importância dos empreendedores para dinami-
trutura produtiva da localidade. zação da economia, observou-se no Brasil por
Como explica o economista Ubiratan Io- muito tempo a existência de um arcabouço ju-
rio, “o processo de mercado e a função empresa- rídico que obstaculizava a abertura e a susten-
rial no contexto da ação humana, portanto, de- tabilidade dos pequenos negócios.
sencadeiam um processo de cooperação social Como destaca Iorio, “a enorme burocracia
que, por intermédio dos mecanismos de aqui- e o excesso de regras, bem como as frequentes
sição e de disseminação de novos conhecimen- mudanças nas mesmas, prejudicam os negócios
tos, representa o melhor sistema de alocação dos e inibem o empreendedorismo” (2011, p.87).

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 45


Com o advento da Lei Complementar 2. Uma lei que pega
123/2006, conhecida como Lei Geral das Mi-
cro e Pequenas Empresas, o arcabouço legal foi Para apoiar a implementação da Lei Geral
modernizado e estabeleceu uma série de dispo- da Micro e Pequena Empresa (Lei 123/2006),
sitivos para fortalecimento dos pequenos negó- foi criada, por força da Lei Complementar
cios e, consequentemente, do desenvolvimento 128/2008, a figura do Agente de Desenvolvi-
econômico local. mento Local (AD). A legislação estabelece que:
Contudo, a implementação desses dispo-
sitivos esbarra ainda em uma estrutura política A função de Agente de Desenvolvi-
mento caracteriza-se pelo exercício de
ainda muito centralizada e fragmentada, o que
articulação das ações públicas para a
muitas vezes afeta o funcionamento e a eficiên- promoção do desenvolvimento local
cia das administrações municipais para efetiva- e territorial, mediante ações locais ou
ção dos benefícios trazidos pela Lei Geral. comunitárias, individuais ou coletivas,
Como explica o sociólogo Caio Silvei- que visem ao cumprimento das dispo-
sições e diretrizes contidas nesta Lei
ra, verifica-se no Brasil uma “evidente tradição
Complementar (BRASIL,2008).
ofertista em políticas públicas, ligadas ao cen-
tralismo, ao estatismo e ao clientelismo. As ins-
A criação dessa função visou estruturar
tituições estão acostumadas a pensar a partir de
uma rede de parceiros, que velassem pelo cum-
seus portfólios, o público é visto como alvo, e
primento da Lei Geral nos municípios. Bill Slee
não como sujeito, e o local é visto como ponta,
afirma que “a cultura local media o processo de
e não como centralidade” (2007, p.39)
desenvolvimento” (2010, p.6). O Agente de De-
Diante dessa conjuntura, em 2008, por
senvolvimento, como representante local, ganha
meio da Lei Complementar 128, criou-se a
mais legitimidade, por conhecer a realidade dos
figura do Agente de Desenvolvimento Local
pequenos negócios de seu município. Assim, ele
(AD), que tem como objetivo zelar pela imple-
utiliza esse conhecimento endógeno para me-
mentação dos benefícios da Lei Geral no muni-
diar o processo de implementação da Lei Ge-
cípio, por meio, principalmente, de articulações
ral na cidade.
entre os setores da prefeitura e outros parceiros
A Lei 128/2008 buscou enfatizar essa
institucionais, fortalecendo uma rede de apoio
componente local, ao estabelecer que o Agen-
aos pequenos negócios locais.
te de Desenvolvimento deva residir na área da
O Sebrae, em parceria com entidades mu-
comunidade onde atuar. Como bem lembra Jair
nicipalistas, desenvolve uma série de ações que
do Amaral Filho, “supõe-se que as instâncias lo-
visam capacitar esses gestores públicos, forta-
cais podem captar melhor as informações, além
lecer a interação e a troca de experiências entre
de poderem manter uma interação, em tempo
eles e prover conteúdo segmentados que subsi-
real, com produtores e com consumidores fi-
diem a atuação deles no município. Este artigo
nais” (2001,p.269).
tem como objetivo fundamentar a existência da
A efetivação dos dispositivos da Lei Ge-
figura do Agente e a atuação do Sebrae no apoio
ral, como mostra Cecília Miranda, pode ser en-
à Rede Nacional de Agentes, visando intensifi-
tendida como uma política pública, tendo em
car o processo de implementação da Lei Geral.

46 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


vista que sua concepção originou-se de um pro- por excelência dos chamados “conta-
cesso de articulação entre o Estado e a socieda- tos primários”, dos laços de sangue e
de coração – está em que as relações
de civil. O Agente de Desenvolvimento é fun-
que se criam na vida doméstica sem-
damental, dessa forma, para dar capilaridade pre forneceram o modelo obrigatório
aos esforços de implementação dessa política, de qualquer composição social entre
agregando a ela as peculiaridades locais e aju- nós. Isso ocorre mesmo onde as ins-
tituições democráticas, fundadas em
dando a criar uma rede de parceiros dentro do
princípios neutros e abstratos, preten-
município para apoiar os pequenos negócios. dam assentar a sociedade em normas
Como afirma Ana Lilian Vega, o Agen- antiparticularistas (HOLANDA apud
te é alguém “capaz de observar, analisar, incluir, SILVEIRA,2011,p.8/9)
entender e traduzir muito da lógica e da racio-
nalidade de outros atores locais (políticos, so- Esse vício patrimonialista tem raízes his-
ciedade civil, industriais, sindicalistas etc) para tóricas, pois, no Brasil, o Estado se formou antes
incorporar proposta de acordo e desenvolver da sociedade. Por conta de o país ter sido uma
as atividades necessárias” (p.2 http://us.mono- colônia, ele, desde o descobrimento, foi visto
grafias.com/docs81/local-development/local- como uma propriedade particular da corte por-
-development2.shtml). Ou seja, o AD é um tuguesa e assim era administrado, como explica
articulador que visa unir forças em prol dos em- Raymundo Faoro:
preendedores locais.
Contudo, apesar dos esforços moderni- A coroa conseguiu formar, desde os
primeiros golpes da reconquista, imen-
zadores pelos quais passou a gestão pública no
so patrimônio rural (bens “requengos”,
Brasil, muitos municípios ainda sofrem com “regalengos”, “regoengos”,“regeen-
estruturas patrimonialistas, que, como destaca gos”), cuja propriedade se confundia
Sérgio Buarque de Holanda, vem sendo um tra- com o domínio da casa real, aplica-
ço característico do Estado brasileiro. do o produto nas necessidades coleti-
vas ou pessoais, sob as circunstâncias
que distinguiam mal o bem público
No Brasil, pode dizer-se que só excep-
do bem particular, privativo do prín-
cionalmente tivemos um sistema ad-
cipe [...] A propriedade do rei – suas
ministrativo e um corpo de funcioná-
terras e seus tesouros – se confundem
rios puramente dedicados a interesses
nos seus aspectos público e particu-
objetivos e fundados nesses interesses.
lar. Rendas e despesas se aplicam, sem
Ao contrário, é possível acompanhar,
discriminação normativa prévia, nos
ao longo de nossa história, o predo-
gastos da família ou em bens e servi-
mínio constante das vontades parti-
ços de utilidade geral (FAORO apud
culares que encontram seu ambiente
SILVEIRA, 2011 p. 10).
próprio em círculos fechados e pouco
acessíveis a uma ordenação impessoal.
Dentre esses círculos, foi sem dúvida Nesse contexto, o principal papel do
o da família aquele que se exprimiu Agente de Desenvolvimento é ser um trans-
com mais força e desenvoltura em nos- formador de hábitos, pois, como explica Antô-
sa sociedade. E um dos defeitos deci-
nio Vázquez Barquero, “as barreiras ao desen-
sivos da supremacia incontestável, ab-
sorvente, do núcleo familiar – a esfera, volvimento aparecem, frequentemente, como

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 47


consequência das carências e do mau funcio- bui a Constituição, foi avocando a si,
namento da rede institucional, que dificulta o ao longo dos anos, a decisão e admi-
nistração de quase todos os assuntos,
desenvolvimento de processos de crescimento
grandes ou pequenos, e esvaziando a
autossustentável” (2010, p.9/10). irrecusável autoridade dos Governos
Se junta a essas mazelas certa aversão que locais para solucionar as matérias de
o poder público por muito tempo cultivou da fi- seu imediato interesse (1984, p.17).
gura do empresário, enxergando-o como um in-
dividualista e desonesto, que atua somente bus- Quando a estratégia federal se sobrepõe
cando o benefício próprio. Essa visão, que por demasiadamente às peculiaridades locais, os
vezes se disseminou por largas parcelas da socie- municípios acabam não se apropriando do con-
dade, ajudou a reforçar, como já apontado, uma teúdo da política, o que dificulta o processo de
cultura estatista e personalista em detrimento implementação. Além disso, a descentralização
do empreendedorismo, algo que é altamente é também uma ferramenta de aprendizagem.
prejudicial à economia local, como aponta Iorio: Ela permite que o corpo técnico viva a política
pública na prática, o que contribui para agregar
Onde quer que não exista empreende- novas competências à administração municipal.
dorismo e onde quer que o arcabouço O Agente de Desenvolvimento é um
institucional prejudique a função em-
exemplo desse processo. Ele passa por capaci-
presarial não existe lugar para o pro-
gresso.  Mas, por incrível que pareça, tações sobre a Lei Geral e sobre instrumentos
nem todos pensam assim.  Em certos de planejamento municipal, elaboração de pla-
países prevalece uma aversão ao em- nos de trabalho e captação de recurso. Esse rol
preendedor, provocada por uma mistu- de conhecimentos pode ser repassado no todo
ra de influências históricas, culturais e
ou em parte para outros atores do município, o
midiáticas que forjaram durante mui-
tos anos uma mentalidade antiempre- que vai resultar em uma consciência maior so-
sarial muito forte e não temos dúvidas bre a importância dos pequenos negócios para
de que esse é um dos fatores que preju- o desenvolvimento local e vai tornar a imple-
dicam o desenvolvimento da economia
mentação da política pública mais perene e sus-
desses países (2011, p.85). 
tentável.

O Agente de Desenvolvimento tem, en- O fato de existir uma política nacional


tão, de buscar mudar mecanismos que atrapa- sobre determinado assunto não sig-
lham a implementação da Lei Geral no mu- nifica que a execução deva caber ex-
nicípio. Outro obstáculo para a condução de clusivamente à Administração Fede-
ral, nem que a aplicação dos recursos
políticas públicas em nível municipal é a cen-
fique centralizada em suas mãos. Não
tralização administrativa e tributária que ocorre significa sequer que todos os aspectos
com frequência na administração pública bra- do plano nacional sejam definidos na
sileira, como observou o ex-ministro da desbu- lei federal. O legislador federal deve ter
rocratização Hélio Beltrão: o bom senso de reconhecer a existên-
cia de diversidades regionais e pecu-
liaridades locais, e, consequentemen-
O Governo Federal, lançando mão da
te, limitar-se às normas mais gerais,
amplíssima competência que lhe atri-

48 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


abrindo espaço à autoridade estadual solver este problema satisfatoriamente.
ou municipal para regular e adminis- Inicialmente, devemos dar-nos conta
trar os pormenores da execução. (BEL- de que todas as ações são realizadas
TRÃO, 1984 ,p.24). por indivíduos. (MISES, 2010, p.70).

No caso da Lei Geral, houve a preocupa- Em muitos casos, as análises chegam


ção de estabelecer a necessidade de indicação de a conclusões erradas por não considerarem o
um representante local, o Agente de Desenvol- pressuposto de que quem age não são as enti-
vimento. A descentralização também visa dar dades coletivas, e sim cada indivíduo de forma
celeridade ao processo de implementação. A singular. Como esclarece Mises, “um conjunto
administração municipal, por atuar uma exten- coletivo é um aspecto particular das ações de
são territorial menor, tem capacidade, em tese, vários indivíduos”. (2010, p.71) Entender isso
de ser mais flexível e menos burocrática que a é fundamental, pois todo processo de mudança
esfera federal. inicia-se pela conscientização de cada ator do
Como bem salientou Beltrão, “o fenô- processo de forma individualizada.
meno da burocratização está intimamente as- Para que as prefeituras implementem a
sociado ao da dimensão. Atingida certa dimen- Lei Geral, é preciso que todos as pessoas que
são, todo organismo tende a burocratizar-se. É lá trabalham entendam os benefícios da legis-
que, com o crescimento, perde-se a dimensão lação. Qualquer estratégia que foque o todo e
humana” (1984,p.113). O Agente de Desenvol- desconsiderando a peculiaridades das partes irá
vimento é exatamente a dimensão humana da ter pouca chance de sucesso. É através das ações
implementação da Lei Geral das Micro e Pe- individuais que se chega à mudança de men-
quenas Empresas. talidade.
Em outras palavras, “a vida humana é
3. O poder do indivíduo uma sequência incessante de ações singulares.
Mas a ação singular não é, de forma alguma,
Diante dessa tarefa, surge o questiona- isolada. É um elo numa cadeia de ações que,
mento: qual o impacto que um agente indivi- juntas, formam uma ação de um nível mais ele-
dual pode gerar em uma estrutura historica- vado, objetivando um fim mais distante” (2010,
mente consolidada? Para buscar responder essa MISES, p.73).
pergunta, será usado o conceito de individualis- O Agente de Desenvolvimento pode, por
mo metodológico. O economista Ludwig Von meio de ações simples, dar início ao processo
Mises explica esse método de análise: de implementação da Lei Geral. Os resultados
dessas iniciativas podem contribuir para disse-
O individualismo metodológico longe minar a importância dos pequenos negócios em
de contestar o significado desses con-
outras áreas da prefeitura.
juntos coletivos, considera como uma
de suas principais tarefas descrever e
O caminho de grandes realizações
analisar o seu surgimento e o seu de-
sempre passa pela execução de peque-
saparecimento, as mudanças em suas
nas tarefas. Uma catedral é algo mais
estruturas e em seu funcionamento. E
do que um monte de pedras colocadas
escolhe o único método capaz de re-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 49


juntas. Mas a única maneira de cons- 4. Variáveis da implementação
truir uma catedral é colocar pedra so-
bre pedra. Para o arquiteto, o projeto
Segundo o pesquisador Petrus Brynard,
global é o principal. Para o pedreiro,
é a simples parede, é cada pedra em
a implementação de uma política pública ba-
si. O que conta para a praxeologia é o seia-se em um grupo de variáveis que ele de-
fato de que o único método para rea- nominou de 5C. São elas:
lizar tarefas maiores consiste em cons-
truir desde as fundações, passo a passo, Content – conteúdo da política em
etapa por etapa. (MISES, 2010, p.74) si; Context – a natureza do contexto
instituicional; Commitment – o com-
promisso dos responsáveis pela imple-
Porém, para que os Agentes consigam
mentação; Capacity – a capacidade ad-
exercer esse papel de indutores de mudanças ministrativa dos implementadores; e
dentro das estruturas das administrações mu- Clients e Coalitions – O apoio dos
nicipais, eles precisam estar devidamente ca- clientes e coligações. (CARVALHO
pacitados para conhecerem a Lei Geral e saber et al, 2010,p.8)

lançar mão de instrumentos de planejamento,


captação de recurso e articulação para envolver Brynard defende que o agente do po-
outras pessoas na estratégia de implementação. der público municipal, no caso da Lei Geral,
Além disso, eles precisam ter fontes de infor- o Agente de Desenvolvimento, tem um papel
mação customizada e ambientes de interação fundamental no processo, pois está em uma si-
para que possam trabalhar em rede e trocar ex- tuação de proximidade do cliente final, o que
periência. permite que ele articule a quinta variável (clien-
Como lembra Caio Silveira, “todo o pro- tes e coalizões).
cesso político de desenvolvimento territorial pa- Além disso, ele é o mais apto a interpre-
rece complicar-se caso não tenha como com- tar a variável “contexto”, porque, retomando o
ponente intrínseco a aprendizagem, entendida que disse Ana Lilian Vega, por conhecer a rea-
também como desconstrução-reconstrução de lidade local ele é capaz de adaptar as diretrizes
padrões culturais”(2007, p.38), ou seja, é preciso nacionais às peculiaridades municipais. Segun-
subsidiar os agentes locais com conhecimentos do a pesquisadora, o Agente é “um empreende-
para que eles possam ajudar a estabelecer no- dor territorial, com capacidade de tomar parte
vas padrões políticos e culturais, que servirão de (com instrumentos mais específicos, visão mais
base para um modelo de desenvolvimento local. ampla e interpretações não convencionais), nos
“Há um nexo entre processos permanentes de principais aspectos de gestão e com capacidade
aprendizagem (com ênfase na ação facilitadora) de governar o sistema de instituições públicas e
e mudança de padrões de relação política entre setoriais características de cada território” (p.1).
os atores (no sentido da gestão compartilhada e Em outras palavras, o Agente, subsidia-
participativa)” (SILVEIRA, 2007, p.39). É aqui do por informações relevantes e laçando mão
que entra o Sebrae. de seu poder de articulação, deve buscar, nas
palavras de Caio Silveira, transformar uma es-
trutura de poder-dominação, caracterizada por
ser socialmente concentrada, clientelista, cor-

50 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


porativista e centralizadora, em um modelo de ticular o aspecto formativo com processos reais
poder-potência, caracterizado por ser social- de participação exige a formação e multiplica-
mente distribuído por diferentes atores locais, ção de agentes aptos a facilitar tais ações, isto
o que gera empoderamento dos habitantes do é, agentes de desenvolvimento no sentido am-
território e permite o fortalecimento da gover- plo. Tais agentes têm como referência de ação o
nança local. tecido socioterritorial na sua diversidade e nas
suas conexões, para além de sua inserção pes-
5. A Rede de Agentes de soal em uma ou outra organização específica”
Desenvolvimento e o Sebrae (2007, p.39)
Dessa forma, por meio de ferramentas
Visando dar suporte ao Agente de De- como encontros regionais e nacionais, cursos
senvolvimento, o Sebrae tem atuado, em par- de formação básica e avançada, chats e fóruns
ceria com a entidades municipalistas, em três online e conteúdo segmentado, busca-se forta-
eixos: capacitação, informação e interação, ofe- lecer e qualificar os canais entre a administra-
recendo soluções específicas para cada um dos ção pública municipal, na figura do Agente de
pilares. O objetivo é reforçar a
autonomia do AD, focando no

‘‘
papel individual, como preceitua
Mises, e reforçando as cinco va- os Agentes [...] precisam ter fontes
riáveis do modelo proposto por
Brynard.
de informação customizada e ambientes
Os três eixos relacionam-se de interação para que possam trabalhar
em rede e trocar experiência
’’
diretamente com as cinco variá-
veis, tendo em vista que a capa-
citação possibilita um melhor en-
tendimento do conteúdo da Lei
Geral, uma análise mais aprofundada do con- Desenvolvimento, e os pequenos negócios.
texto e o aprimoramento da capacidade admi- O objetivo final é contribuir para a in-
nistrativa. tensificação das articulações público-privadas
A informação dá mais subsídios para para a melhoria do ambiente de negócios para
atuar de forma estratégica, com mais capaci- os empreendedores locais e abertura de novos
dade de se antecipar às mudanças no contexto mercados, principalmente pelo estímulo do uso
e de influenciar clientes e coalizões. Já a intera- de poder de compra da prefeitura em prol do
ção, cria uma rede de cooperação, que intensifica empresariado da cidade.
o comprometimento em relação à Lei Geral e
contribui para fortalecer parcerias e colegiados 6. Conclusão
em prol dos pequenos negócios locais.
Esse ponto está em consonância com que Como apontado na parte inicial deste ar-
defende Silveira quando diz que “a busca de ar- tigo, o empreendedor é peça-chave para o de-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 51


senvolvimento local. Por meio da ação empre- valorização da função empresarial, principal-
sarial, gera-se um conjunto de informações que mente no segmento dos pequenos negócios, e
vão permitir alocar os recursos escassos da ma- assim ajudar na geração de empregado e renda
neira mais eficiente possível. por meio das potencialidades locais.
Além disso, o fortalecimento do setor Trata-se de uma forma inovadora de
empresarial gera riqueza e empregos no muni- atuação estatal, visando garantir a materializa-
cípio, o que contribui para o empoderamento ção dos benefícios previstos na Lei Geral, que
da sociedade civil. Dessa forma, retira-se essa por sua vez é fruto já de uma concertação de
função do poder público e abre-se espaço para atores que permitiu estabelecer esse novo mar-
que a administração municipal atue como arti- co legal. Os Agentes de Desenvolvimento, por
culadora e potencializadora das oportunidades sua vez, recebem o apoio de uma rede, na qual
identificadas pelos empreendedores, saindo de se insere o Sebrae, que vai proporcionar capaci-
um paradigma de ofertante de serviços para tação contínua, oferta de informação qualifica-
uma posição de parceira estratégica e apoiado- da e espaços para atuação em rede e para troca
ra de um modelo de desenvolvimento focado de experiências.
no poder-potência, caracterizado pela descen- Essa estratégia cria então um processo
tralização e pela participação plural de todos os sustentável, que permite a retenção do conhe-
setores da sociedade, contribuindo para trans- cimento nível local, gerando um processo de
formar o território em uma entidade viva e per- empoderamento e um modelo de crescimento
sonalizada. mais plural e inclusivo.
No contexto do desenvolvimento local,
criam-se então novas institucionalidades, como
aponta Silveira:

i) aqueles que se constituem como


espaço de concertação e participação
socioinstitucional (como câmaras, co-
mitês, fóruns e conselhos de desenvol-
vimento) e ii) aquelas voltadas para a
viabilização de serviços inovadores
para o desenvolvimento territorial com
graus variáveis de intersetorialidade.
(Silveira e Costa Reis apud Silveira,
2007, p.30)

É nesse cenário que se insere a figura do


Agente de Desenvolvimento, que é um ator da
administração público local, dedicado a promo-
ver articulações com as representações do ter-
ritório de modo a sedimentar um modelo de

52 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Referências nas Empresas – um olhar sobre o sistema de
monitoramento de implementação. Artigo
AMARAL FILHO, Jair. A Endogeneização disponível em: www.territoriosemrede.com.br.
no Desenvolvimento Econômico Regional e BRASIL. Serviço Brasileiro de Apoio a Micro
Local. Artigo disponível em http://www.ipea. e Pequena Empresa. Acesso agosto de 2013.
gov.br. BRASIL. Instituto de Pesquisa Econô-
mica Aplicada. Acesso em setembro de 2013. SILVEIRA, Caio. Desenvolvimento Local e
Esfera Pública. In: ZAPATA, Tânia (ORG.)
BARQUERO, Antonio Vázquez. Desarrollo et al. Desenvolvimento Local e Participação
Endogeno y Globalizacion. In: BARQUERO, Social. Recife: Instituto de Assessoria para o
Desenvolvimento Humano, 2006. cap.2, p.23-
Antonio Vásquez. Transformaciones globales,
35.
Instituciones y Políticas de desarrollo local.
Editorial Homo Sapiens, Rosario, 2001.
SLEE, Bill. Endogenous development: a con-
cept in search of a theory. Artigo disponível
BELTRÃO, Hélio. Descentralização e Liber-
dade. Rio de Janeiro: Editora Record, 1984. em http://pdfcast.org/pdf/endogenous-de-
velopment-a-concept-in-search-of-a-theory.
BRASIL. LEI COMPLEMENTAR no 128, REINO UNIDO. Departamento de Agricul-
de 19 de dezembro de 2008. Diário Oficial [da tura. Acesso em setembro 2013.
República Federativa do Brasil], Brasília, 22 de
dezembro de 2008.  VEGA, Ana Lilian. The Agent of Local De-
velopment: Concept and Majorities. Artigo
DA SILVEIRA, Daniel Barile. Patrimonialis- disponível em http://us.monografias.com.
mo e a Formação do Estado Brasileiro. Artigo Acesso em agosto de 2013.
disponível em: http://www.egov.ufsc.br. BRA-
SIL. Universidade Federal de Santa Catarina. VON MISES, Ludwig. Ação Humana: Um
Acesso em setembro de 2013. tratado de economia. São Paulo: Instituto Lu-
dwig von Mises Brasil, 2010.
DE CARVALHO, Maria de Lourdes et al.
Implementação de Política Pública: Uma
Abordagem Teórica e Crítica. Artigo dispo-
nível em: http://repositorio.ufsc.br. BRA-
SIL. Universidade Federal de Santa Catarina.
Acesso setembro 2013.

IORIO, Ubiratan. Ação, Tempo e Conheci-


mento. Um tratado de economia. São Paulo:
Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2012.

MIRANDA, Cecília. Responsividade De-


mocrática e a Lei Geral das Micro e Peque-

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 53


A Contribuição do
Instituto Sicoob PR
com o Desenvolvimento
Local e Sustentável por
meio da Disseminação
da Cultura
Cooperativista

Emanuelle Soares
Supervisora do Instituto Sicoob PR, graduada em Serviço
Social, e especialista em Gestão de Políticas Públicas e
Fundamentos em Gestão Social, e em Gestão Estratégica
em Organizações do Terceiro Setor. Atua há 10 anos
em institutos e fundações empresariais com foco no
desenvolvimento local.

Cooperativismo – História e Foi então que 27 tecelões e 1 tecelã de


Conceitos Rochdale fundaram a Sociedade Rochdale dos
Pioneiros Equitativos. Depois de acumular 28
A primeira cooperativa de que se tem libras durante um ano de trabalho, consegui-
conhecimento na história nasceu em 1844 ram abrir um armazém cooperativo para que
durante a Revolução Industrial na Inglaterra. pudessem comprar e vender mercadorias sem
Frente as péssimas condições de trabalho, bai- serem explorados pelos patrões.
xos salários, dificuldades sociais e econômicas É importante ressaltar que os princípios
enfrentadas pela população nesse período, li- e valores construídos pela Cooperativa de Ro-
deranças surgiram entre a classe trabalhadora e chdale estão presentes até os dias de hoje na
buscaram uma forma de se organizar e superar cultura cooperativista.
essas dificuldade.

54 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


De acordo com dados do Sescoop PR, o 5o – Educação, formação e informação, 6o – In-
Cooperativismo é considerado um dos maiores tercooperação, e 7o – Interesse pela comunidade.
movimentos sociais da Terra, pois está presente O movimento cooperativista teve início
em 108 países, com mais de 800 mil coopera- no Brasil a partir da constituição da Sociedade
tivas, e aproximadamente 810 milhões de coo- Cooperativa Econômica dos Funcionários Pú-
perados. Com base na participação democráti- blicos de Ouro Preto, fundada em 1889. For-
ca, solidariedade, independência e autonomia, a mada por funcionários públicos, militares, ope-
filosofia que permeia o cooperativismo propõe rários e profissionais liberais.
um modelo socioeconômico que visa equilíbrio Em Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha,
entre o desenvolvimento econômico e o desen- surgiu em 1902 a primeira cooperativa de crédi-
volvimento social. to do Brasil. Fundada pelo padre suíço Theodor
Como sistema visa união de pessoas e não Amstad, a Caixa de Economia e Empréstimos
o capital, pois o objetivo é satisfazer as necessi- Amstad destinava-se aos pequenos produtores
dades dos associados e não do lucro, com foco rurais da região.
no ganho coletivo e não individual, buscando o A OCB – Organização das Cooperativas
equilíbrio entre a dimensão social e a dimensão Brasileiras foi criada em 1969, e até hoje é a ins-
econômica. Isso é o que difere a cooperativa de tituição que representa os interesses do coope-
uma empresa mercantil. rativismo no Brasil. Em 1971 entrou em vigor
Os valores universais do cooperativismo a Lei 5.5764/71 que regulamenta a criação das
permitem seu desenvolvimento em qualquer cooperativas no pais.
lugar do mundo, ultrapassando barreiras cultu- O ex-presidente da OCB, Roberto Ro-
rais e territoriais. Tais valores, estão relacionados drigue, foi eleito em 1995 como presidente da
a ajuda mútua, responsabilidade, democracia, Aliança Cooperativista Internacional (ACI), o
igualdade, equidade e solidariedade, os quais ba- que trouxe visibilidade e reconhecimento inter-
seiam o desenvolvimento de uma Cooperativa. nacional para o cooperativismo brasileiro.
Segundo a OCB – Organização das Desde 1998 foi incorporado ao Sistema
Cooperativas do Brasil, a cooperativa é uma “S” o Sescoop – Serviço Nacional do Coopera-
organização autônoma de pessoas unidas pela tivismo, que responde em todo país pela capa-
cooperação e ajuda mútua, gerida de forma de- citação, formação, educação cooperativa e pro-
mocrática e participativa, com objetivos econô- moção social dos associados e colaboradores
micos e sociais comuns, cujos aspectos legais e das cooperativas.
doutrinários são distintos de outras sociedades.
O cooperativismo é pautado por sete Sistema Sicoob PR e Instituto
princípios, que orientam as cooperativas em Sicoob PR – História, Área de
sua prática. Tais princípios fazem parte da De- Atuação e Projetos
claração de Identidade aprovada em 1995 pela
ACI – Aliança Cooperativa Internacional, sen- O SICOOB Paraná nasceu com o intui-
do eles: 1o – Adesão voluntária e livre, 2o – Ges- to de atender às necessidades de expansão da
tão democrática, 3o – Participação econômica cooperativas de crédito no Estado do Paraná,
dos membros, 4o – Autonomia e independência, oferecendo aos cooperativistas uma gama maior

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 55


de produtos, serviços e linhas de investimentos. Apoiado fortemente pela diretriz do 7o
A constituição da Central das Cooperativas de princípio do cooperativismo – Interesse Pela
Crédito do Estado do Paraná – SICOOB Cen- Comunidade – e pela consciência do equilíbrio
tral Paraná se deu em 22 de dezembro de 2001, social, o Sicoob PR formatou o Instituto Sicoob
sendo formada inicialmente com três coopera- PR Para o Desenvolvimento Sustentável.
tivas singulares, a Credioeste de Foz do Igua- O Instituto Sicoob PR foi criado em
çu, a Cresud de Francisco Beltrão e a Creserv 2004, por iniciativa do Sicoob Metropolitano
de Dois Vizinhos. Iniciou suas atividades em que até 2008 desenvolveu ações locais em par-
05 de julho de 2002, recebendo de imediato ceria com entidades sociais. Em 2009 passou a
sua quarta cooperativa, o Sicoob Metropolita- atuar em todo Estado do Paraná com ações con-
no de Maringá. juntas e integradas com as 16 Cooperativas do
Logo outras cooperativas foram surgindo Sistema Sicoob e com a filosofia cooperativista,
dentro do sistema, sendo que o Sicoob Paraná interagindo com suas políticas e dinâmicas de
conta atualmente com 16 cooperativas de cré- desenvolvimento social, econômico e ambiental.
dito filiadas e em plena atividade, estando pre- Sua missão é: difundir a cultura coopera-
sente em 89 municípios no estado do Paraná, tivista, promovendo o desenvolvimento local e
totalizando 127 pontos de atendimento. sustentável das comunidades. Ser reconhecido
Hoje a instituição busca a organização como instituição referência na difusão da cul-
em comum e em maior escala de serviços eco- tura cooperativista e na promoção do desenvol-
nômico-financeiros e assistenciais de interesse vimento local e sustentável do Sistema Sicoob
das filiadas, integrando e orientando suas ati- e das comunidades, é a visão de futuro do Ins-
vidades, bem como facilitando a utilização re- tituto Sicoob PR.
cíproca dos serviços. Os valores de cooperação, interesse pela
O Sistema Sicoob PR tem como missão: comunidade, educação, formação e informação,
promover o desenvolvimento das comunidades compromisso socioambiental, voluntariado, em-
por meio do cooperativismo de crédito. E como preendedorismo e inovação, permeiam toda a
visão de futuro: ser a principal instituição finan- atuação da instituição.
ceira do cooperado, reconhecida pela excelên- A partir do planejamento estratégico de-
cia no atendimento, e propulsora do desenvol- senvolvido em 2012, juntamente com todo o
vimento das comunidades. Sistema Sicoob PR, foram definidos três prin-
Os valores do Sistema Sicoob PR estão cipais objetivos estratégicos: promover o desen-
relacionados a ética e transparência nas ações e volvimento local e sustentável, desenvolver lí-
nos relacionamentos; respeito, responsabilidade deres comunitários com cultura cooperativista,
e comprometimento em relação à diversidade e disseminar a cultura cooperativista.
e ao ser humano, em prol do desenvolvimento A sede administrativa do Instituto Sicoob
dos cooperados, dos colaboradores e das comu- PR se localiza em Maringá PR, no entanto as
nidade; excelência no atendimento e prestação ações e projetos acontecem nos municípios onde
de serviços; cooperativismo com obediência ao estão inseridas as 16 Cooperativas Sicoob e seus
Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil pontos de atendimento. Sendo a sede das Coo-
(SICOOB), e unicidade. perativas nos municípios de: Maringá, Parana-

56 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


vaí, Londrina, Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu, Maringá, e de Utilidade Pública Estadual pelo
Francisco Beltrão, Curitiba, Umuarama, Pato Estado do Paraná.
Branco, Assis Chateaubriand, Marechal Cân- Em 2011 ganhou o primeiro lugar no
dido Rondon, Colorado, Apucarana, Arapongas Prêmio Concred Verde, que é uma iniciativa da
e Telêmaco Borba. A diretoria é composta por Confebras (Confederação Brasileira de Coope-
Conselho de Administração e Conselho Fiscal, rativas de Crédito), como Melhor Cooperativa
ambos com 6 membros cada. em Responsabilidade Social. Em 2012 recebeu
A Coordenadoria Executiva é o órgão ad- a mesma premiação como terceiro colocado na
ministrativo do Instituto, submetida ao Conse- mesma categoria.
lho de Administração conforme Regimento In- Nos anos de 2011, 2012 e 2013 recebeu
terno, com quatro funcionários, sendo: 1 Gestor o Selo ODM pela FIEP (Federação das Indús-
Administrativo, 1 Analista Técnico, 1 Assistente trias do Estado do Paraná), como instituição
Administrativo, e 1 Estagiário. parceira que desenvolve ações em prol dos Ob-
A instituição possui também um Con- jetivos de Desenvolvimento do Milênio.
selho de Voluntários, formado por colaborado- Ainda em 2012, foi premiado pela Faciap
res, diretores e cooperados do Sistema Sicoob. – Federação das Associações Comerciais e Em-
Atualmente são 456 voluntários cadastrados por presariais do Paraná – com o prêmio de Res-
meio do Termo de Voluntariado.
As ações e projetos são

‘‘
elaborados pela Coordenado-
ria Executiva, e executados pe- Os valores de cooperação, interesse
los colaboradores voluntários de pela comunidade, educação, [...]
cada Cooperativa. Sendo que o
empreendedorismo e inovação, permeiam

’’
Instituto oferece todo o suporte
necessário como: elaboração de toda a atuação da instituição
regulamentos específicos, ma-
teriais didáticos, apresentações,
divulgação, articulação com par-
ceiros estratégicos, capacitação de voluntários, ponsabilidade Social e Desenvolvimento Sus-
terceirização de serviços, recursos financeiros, tentável na Categoria Empresa – Modalidade
e apoio técnico. Público Externo – Área de atuação Promoção
Todo o recurso utilizado para manter a da Cidadania.
instituição é proveniente do Investimento So- Desde maio de 2012 o Instituto Sicoob
cial Privado das 16 Cooperativas Sicoob no Pa- PR é signatário do Pacto Global da ONU,
raná, sendo que as mesmas fazem parte do qua- comprometido em colaborar com os 10 prin-
dro de sócios mantenedores. cípios referentes à: direitos humanos, direitos
O Instituto Sicoob é uma Associação Ci- do trabalho, proteção ambiental e combate a
vil, possuí título de OSCIP (Organização da corrupção.
Sociedade Civil de Interesse Público), título de Os principais projetos desenvolvidos pela
Utilidade Pública Municipal pelo município de instituição são:

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 57


contribuir no planejamento financeiro das
Biblioteca Digital Comunitária – 9 Sa- famílias, criando uma mentalidade adequada
las Digitais em parceria com instituições lo- e saudável sobre dinheiro, bem como fortale-
cais, que tem como objetivo oportunizar a co- cendo ações para a autodisciplina no controle
munidade local o acesso à Internet e às suas do orçamento doméstico e para a liberdade fi-
vantagens e a cursos profissionalizantes de nanceira.
qualidade, com recursos significativos para a
construção do conhecimento na área de infor- Jovem Empreendedor – Em parceria com
mática, buscando a capacitação intelectual e o Sebrae Paraná, o programa foi estruturado
profissional do público atendido. para difundir conceitos de gestão e empreen-
dedorismo por meio da metodologia de Teles-
Educação Cooperativista – Com o foco salas, onde as atividades são desenvolvidas com
em quatro frentes: Programa Cooperjovem, tele aulas e dinâmicas de grupo com facilitador
Palestras de Educação Cooperativista, Con- treinado pelo Sebrae. Inicialmente o projeto
curso Cultural Cooperativista, e Coopera- destinava-se exclusivamente a jovens entre 16
tivas de Estudantes, visa difundir a cultura e e 24 anos (filhos de cooperados e jovens de
os princípios cooperativistas nas comunidades baixa renda, ligados a entidades assistenciais).
onde estão inseridas as Cooperativas Sicoob Atualmente tem como prioridade atender o
no Paraná. público jovem, porém está aberto também para
participação de adultos conforme a demanda.
Cidadania Fiscal – O Instituto Sicoob
PR participa no processo de implantação dos Consumo Consciente – Trabalha na cons-
Observatórios Sociais locais por meio da mo- cientização dos colaboradores, cooperados e
bilização voluntária de diretores, colaboradores comunidade para o desenvolvimento sustentá-
e cooperados do Sistema Sicoob, bem como vel e para a importância do consumo respon-
na manutenção dos mesmos a partir de con- sável, por meio de duas principais ações: Papa
tribuição financeira. Os Observatórios Sociais Pilha – Campanha de arrecadação de pilhas e
não pregam somente o combate à corrupção, baterias para público interno e externo, e dis-
pois entendem que o caminho para minimi- tribuição de cartilha de Educação Ambiental.
zar os desvios dos recursos públicos passa por
avaliar e monitorar o sistema de compras das Expresso Instituto Sicoob – Ônibus de
prefeituras e câmaras de vereadores, atuando Educação Itinerante, adaptado e equipado
ativamente junto aos responsáveis pela tomada com notebooks, televisores, impressora e aces-
de decisão e autorizadores dos gastos públicos. so à internet. Oferece a comunidade cursos
realizados em uma plataforma online de edu-
Educação Financeira – Oferece por meio cação a distância. Os cursos têm conteúdos
de palestras com distribuição de cartilhas edu- complementares e introdutórios, que para se-
cativas, cofrinhos e realização de exercício rem aplicados precisam somente de um ponto
prático de preenchimento de planilha de orça- de internet, e um técnico habilitado e cadas-
mento doméstico, orientações e conceitos para trado para liberar o acesso aos participantes.

58 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


As pessoas atendidas tem a oportunidade de Existe um anseio por contribuir para o
fazer uso das tecnologias da informação e da desenvolvimento local das comunidades, não
comunicação digital para formação cidadã e só no Instituto Sicoob, mas também em todo
profissional, facilitando seu acesso à sociedade o Sistema Sicoob. Não só as missões institucio-
do conhecimento e ao mundo do trabalho. nais demonstram isso, mas um exemplo prático
Vale ressaltar que o fato de se tratar de é a implantação dos projetos em municípios de
um Sistema Cooperativista, faz toda a dife- baixo IDH como Carlópolis, Imbaú, Bom Su-
rença. Pois é claro o quanto os princípios do cesso do Sul e Munhoz de Melo.
cooperativismo norteiam e impulsionam a ins- Isso demonstra que a doutrina coopera-
tituição para uma prática social eficiente. tivista, que pressupõe o equilíbrio entre as di-
Dessa forma a atuação do Instituto Si- mensões social e econômica, tem sido levada a
coob vem tomando força não só dentro do Sis- sério. E existe uma busca constante para se en-
tema Sicoob PR, mas também nas comunida- contrar tal equilíbrio.
des onde esse Sistema está inserido. Ao propor o foco da instituição no de-
Os projetos desenvolvidos passam por senvolvimento local, o resultado é o desenvol-
um momento de amadurecimento, onde se vimento da própria cooperativa. A mobilização
busca o distanciamento da atuação pontual e social leva as pessoas a assumirem seu papel
fragmentada, para uma prática continua, es- relevante enquanto agentes de transformação
truturada, com a construção de indicadores e de cobrança do que a sociedade deseja e pre-
bem definidos, que levem ao alcance de resul- cisa, fazendo de cada cidadão um protagonista
tados sociais efetivos. da sua própria história.

‘‘ a doutrina cooperativista, que


pressupõe o equilíbrio entre as
dimensões social e econômica,
tem sido levada a sério
’’

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 59


Referências Bibliográficas

BIALOSKORSKI, S. N. Governança e Pers- OSLOVSKI. J. P. Autogestão nas Cooperati-


pectivas do Cooperativismo. IN: PANZUT- vas. In: OCEPAR. Propostas Cooperativistas.
TI, R. (org). Educação Cooperativista. São Curitiba: OCEPAR, 1986.
Paulo: OCESP/SESCOOP-SP, 2001.
PACHECO, B.; MIGLIORI, M. O Papel dos
GOMES, D. H.; GINI, S. Escrevendo o Pró- Institutos e Fundações na atuação Socialmen-
prio Destino do Zero ao Bilhão. Brasília: Con- te Responsável da Empresa. São Paulo: Unie-
febras, 2012. thos, 2012.

INSTITUTO ETHOS. Disponível em Portal do Cooperativismo de Crédito. Dis-


<www.ethos.org.br>. Acesso em julho de 2013. ponível em <www.cooperativismodecredito.
INSTITUTO SICOOB PR. Disponível em coop.br>. Acesso em agosto de 2013.
<www.institutosicoobpr.org.br> Acesso em SICOOB PR. Disponível em <www.sicoobpr.
agosto de 2013. com.br>. Acesso em agosto de 2013.

MACPHERSON, Ian. Princípios Coope-


rativos para o Século XXI. Santa Catarina:
OCESC, 2003.

MCKINSEY (org.); ASHOKA (org.). Em-


preendimentos Sociais Sustentáveis. São Pau-
lo: Peirópoles, 2001.

NETO, F. P. M.; BRENNAND, J. M. Empre-


sas Socialmente Sustentáveis. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2004.

OCEPAR. SESCOOP. Disponível em <www.


paranacooperativo.coop.br>. Acesso em agosto
de 2013.

OLIVEIRA, D. P. R. Manual de Gestão das


Cooperativas: uma abordagem prática. São
Paulo: Atlas, 2001.

60 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


NIT (Núcleo de
Inteligência Territorial)
– A importância dos
indicadores municipais

Karina Santos de Souza


Formada em Engenharia Florestal pela Universidade de
Brasília (UnB), Pós-graduanda (MBA) em Gerenciamento
de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas. É analista da
Unidade de Desenvolvimento Territorial (UDT) do Sebrae e
coordena o Núcleo de Inteligência Territorial (NIT).

Introdução Os indicadores são instrumentos que per-


mitem identificar e medir aspectos relacionados
Atualmente a obtenção de informações a um determinado conceito, fenômeno, proble-
consistentes tem se constituído no grande di- ma ou resultado de uma intervenção na reali-
ferencial e principal suporte para o desenvolvi- dade.
mento de qualquer tarefa ou atividade. Conco- Na fase inicial de um projeto, o planeja-
mitantemente, indicadores tem sido utilizados mento das atividades deve estar alinhado com
por diversos atores públicos e privados, como as suas reais necessidades e o uso de indicadores
insumos básicos e indispensáveis à realização torna-se um instrumento fundamental para in-
de todas as etapas de uma ação, programa ou terpretação da realidade. As informações conti-
projeto. das nos indicadores orientam o estabelecimento
Segundo Ferreira, Cassiolato e Gonzales de prioridades e a definição de objetivos claros
(2009), o indicador é uma medida, de ordem e precisos.
quantitativa ou qualitativa, dotada de significa- De acordo com o Guia Referencial para
do particular e utilizada para organizar e captar Medição de Desempenho e Manual para Cons-
as informações relevantes dos elementos que trução de Indicadores da Secretaria de Gestão
compõem o objeto da observação. Trata-se de (SEGES) do Ministério do Planejamento:
um recurso metodológico que trata empirica-
mente sobre a evolução do aspecto observado. “os indicadores possuem, minimamen-
te, duas funções básicas: a primeira é

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 61


descrever por meio da geração de in- o qual determinado município ou território está
formações o estado real dos aconte- inserido. Essas informações possibilitam a rea-
cimentos e o seu comportamento; a
lização de diagnósticos mais precisos, por meio
segunda é de caráter valorativo que
consiste em analisar as informações da identificação da atmosfera política, econô-
presentes com base nas anteriores de mica e social em que uma comunidade está en-
forma a realizar proposições valorati- volvida, de modo a aumentar a probabilidade
vas” (BRASIL, 2009b, p. 12)”.
de se planejar e realizar intervenções mais re-
levantes e efetivas.
No que se refere à fase de monitoramento, Além disso, durante o acompanhamento
os indicadores subsidiam as decisões relaciona- e avaliação das ações implementadas, indica-
das às ações que estão em andamento. Assim, é dores de diferentes tipos podem ser utilizados
possível mensurar o desempenho e o impacto para medir a eficiência, eficácia e efetividade das
das atividades e adotar os redirecionamentos atividades realizadas.
necessários. A partir da comparação entre as O Núcleo de Inteligência Territorial
metas estabelecidas e as medidas obtidas, pode- (NIT) foi concebido com o intuito de ofere-
-se ajustar o planejamento e as estratégias de- cer insumos para a implementação de planos,
finidas, com o intuito de garantir a eficiência e programas e projetos que impulsionem o De-
eficácia das atividades realizadas. É essencial a senvolvimento Territorial, por meio do apoio
utilização destas informações que orientem o aos pequenos negócios e do fortalecimento da
processo de tomada de decisões e que possibi- economia local.
litem o acompanhamento contínuo das ações O NIT é um sistema de indicadores,
desenvolvidas. que viabiliza por meio de relatórios gerenciais
Da mesma forma, durante a avaliação de a disseminação de dados e informações de for-
um projeto, os indicadores são amplamente uti- ma muito mais estratégica e precisa, gerando
lizados para aferir se os objetivos e metas pro- uma ampla visão acerca do comportamento e
postos foram alcançados e são capazes de ex- do desempenho econômico dos 5.570 municí-
pressar direta ou indiretamente os benefícios pios brasileiros.
gerados no público alvo.
A composição do NIT
A importância dos indicadores para
o Desenvolvimento Territorial Um dos critérios fundamentais para
escolha adequada dos indicadores a serem
O pontapé inicial para o desenvolvi- usados no processo de formulação, execução,
mento de um território ou região é o autoco- monitoramento e avaliação de qualquer ação,
nhecimento. Identificar necessidades, ameaças, programa ou projeto, é a análise de seus atribu-
potencialidades e oportunidades é fundamen- tos. Diversos autores como Rua (2004), Jannu-
tal para traçar uma estratégia em busca do de- zzi (2005) e Ferreira, Cassiolato e Gonzalez
senvolvimento local. (2009) consideram que as seguintes proprie-
Indicadores municipais são ferramentas dades são desejáveis aos indicadores:
essenciais para avaliação do contexto real sobre

62 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


• Validade: capacidade de representar, com • Desagregabilidade: é importante que os
a maior proximidade possível, a realidade indicadores possuam desagregabilidade
que se deseja medir e modificar. Um in- populacional e territorial. Deve ser pos-
dicador deve ser significante ao que está sível construir indicadores referidos à po-
sendo medido e manter essa significância pulação alvo dos programas e projetos, a
ao longo do tempo. espaços geográficos reduzidos, a grupos
• Confiabilidade: propriedade relacionada sociodemográficos ou a grupos vulnerá-
à qualidade do levantamento dos dados veis específicos.
empíricos. Medidas confiáveis atribuem
maior validade aos indicadores. Para a composição do NIT foi selecio-
• Simplicidade: indicadores devem ser de nado um conjunto de indicadores que reflete
fácil obtenção, construção, manutenção, estas características e que contribui para cons-
comunicação e entendimento pelo públi- trução de um retrato municipal amplo e deta-
co em geral, interno ou externo. lhado com o intuito de orientar a definição das
• Comunicabilidade: um bom indicador questões prioritárias a atender e as estratégias
deve ser facilmente compreendido, para e ações a desenvolver em prol do desenvolvi-
que possa ser legitimado tecnicamente e mento territorial.
auxilie na implementação de pro-
gramas e projetos.

‘‘
• Periodicidade na atualização: a
periodicidade com que o indica- Identif icar necessidades,
dor pode ser atualizado é impor-
ameaças, potencialidades e
tante para que se possa acompa-
nhar a mudança social, avaliar o oportunidades é fundamental
para traçar uma estratégia em

’’
efeito de programas implementa-
dos e corrigir eventuais distorções
busca do desenvolvimento local
de implantação. É fundamental
que o indicador seja disponibili-
zado em tempo eficaz para per-
mitir a tomada de decisões pertinentes. As principais fontes de dados e indicado-
• Sensibilidade: é importante dispor de res utilizadas para construção do NIT foram:
medidas capazes de refletir mudanças IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
relativas às ações previstas nos progra- tatística), MF (Ministério da Fazenda), MTE
mas e projetos, e que possibilitem avaliar (Ministério do Trabalho e Emprego), MDS
rapidamente os efeitos de determinada (Ministério do Desenvolvimento Social), Sis-
intervenção. tema FIRJAN e Sebrae (Sistema Brasileiro de
• Especificidade: é necessário utilizar me- Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Trata-
didas que possam refletir alterações estri- -se de uma base de dados secundária, em que é
tamente ligadas às mudanças relacionadas permitido o acesso a bases históricas de infor-
à dimensão de interesse. mações bem elaboradas e confiáveis.

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 63


Os 24 indicadores que fazem parte do mica atual e subsidiar tomadas de decisões es-
NIT foram classificados em 7 grupos, repre- tratégicas em prol da dinamização da econo-
sentados por áreas temáticas de grande relevân- mia local.
cia para a promoção do Desenvolvimento Ter-
ritorial, sendo eles: Indicadores Demográficos, Indicadores de Desenvolvimento
Indicadores Econômicos, Indicadores de De-
senvolvimento, Pequenos Negócios, Programas É composto por “IDH” (Índice de De-
de Inclusão Produtiva, Arrecadação Pública e senvolvimento Humano), “IFDM” (Índi-
Atendimento Sebrae. ce FIRJAN de Desenvolvimento Municipal),
“Lei Geral” e “Potencial de compras junto aos
Indicadores Demográficos pequenos negócios”. O IDH e o IFDM são
fundamentais para avaliar o nível de qualidade
Composto por “População Residente To- de vida e desenvolvimento econômico de uma
tal” e “População Residente Urbana e Rural”, população. Estes índices surgiram para avaliar
indica o porte da região em que se pretende não só o crescimento econômico de uma região,
atuar. Além disso, com a desagregação do indi- mas o seu desenvolvimento de forma bem mais
cador em população rural e urbana, obtêm-se abrangente, visto que se utiliza para sua men-
informações acerca do perfil populacional, o que suração outras dimensões como saúde e edu-
possibilita o estabelecimento de ações para pú- cação, além da variável renda. Os projetos de
blicos específicos. desenvolvimento territorial são especialmen-
te voltados para regiões de baixo índice de de-
Indicadores econômicos senvolvimento, de forma que estes indicadores
são fundamentais para apontar em que nível de
Este grupo é representado pelo PIB (Pro- desenvolvimento determinado município está.
duto Interno Bruto a preços correntes), “Dis- Os indicadores “Lei Geral” e “Potencial
tribuição setorial do valor adicionado” e “Dis- de compras junto aos pequenos negócios” apon-
tribuição dos domicílios por rendimento per tam para a evolução dos municípios brasileiros
capita”. Em termos práticos, o PIB indica o no que se refere à implementação da lei geral da
quanto um município, território ou estado pro- micro e pequena empresa. O segundo, em espe-
duz anualmente, enquanto a distribuição seto- cial, sinaliza o potencial que o governo muni-
rial do valor adicionado demonstra de que for- cipal possui para comprar das MPE’s e conse-
ma o que foi produzido está distribuído pelos quentemente indica para o empresário qual é o
grandes setores da economia (Indústria, Co- seu potencial de mercado. Estes indicadores são
mércio e serviços, Agropecuária e Setor públi- de grande importância para contribuir com o
co). fortalecimento e dinamização da economia lo-
Estes indicadores apontam essencialmen- cal por meio da formulação de ações especificas
te para a capacidade produtiva e potencialidades que contribuam para melhoria do ambiente de
da região, sendo fundamentais para propiciar negócios para as MPE’s.
uma melhor compreensão da situação econô-

64 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


Pequenos Negócios Arrecadação Pública

Este grupo é representado pelo “Nú- Este grupo é representado pelos seguintes
mero de empresas optantes pelo Simples Na- indicadores: “Arrecadação do ISS”, “Cota parte
cional”, “Número de Microempreendedores do ICMS” e “Arrecadação municipal total”. É
Individuais”, Número total de empregos e nas de fundamental importância que se tenha co-
Micro e Pequenas Empresas” e “Massa sala- nhecimento acerca da arrecadação municipal
rial total e nas Micro e Pequenas Empresas”, e que se desenvolvam ações consistentes foca-
sendo fundamental, pois fornece informações das no fortalecimento das receitas próprias do
acerca do público-alvo do Sebrae. A efetivi- município.
dade das ações e projetos de desenvolvimento
territorial pode ser aferida por meio da análise Atendimento Sebrae
do comportamento destes indicadores. É pos-
sível avaliar a necessidade de planejar ações e É composto por 4 indicadores: “Núme-
direcionar recursos em prol do fortalecimento ro de clientes atendidos”, Número de atendi-
do empresariado local. mentos realizados”, “Número de atendimentos a
MEI beneficiários do Bolsa Família” e “Número
Programas de inclusão produtiva de clientes MEI beneficiários do Bolsa Família
atendidos”. Este grupo fornece uma visão acer-
É composto pelos indicadores “Famílias ca da proporção e abrangência do público que
inscritas no CadÚnico para programas sociais” vem sendo atendido anualmente pelo Sebrae,
e “ Famílias beneficiárias do Programa Bolsa nos municípios, estados e territórios brasileiros.
Família”, a partir dos quais se gera um cenário E podem ser utilizados como insumos para o
representativo da quantidade de pessoas que monitoramento, avaliação e expansão dos pro-
são dependentes de programas de governo de jetos de atendimento.
transferência de renda.
E, também, pelo indicador “Microem- Agregação e Periodicidade dos dados
preendedores individuais beneficiários do Pro-
grama Bolsa Família”, que aponta para a par- O planejamento e a gestão de ações, pro-
cela da população que foi inserida no mercado jetos e programas que promovam o desenvolvi-
de trabalho por meio da sua formalização como mento territorial exigem um diagnóstico amplo
empresário. e continuado da realidade local. Dessa forma,
Este grupo de indicadores é de extrema a obtenção de informações desagregadas é de
importância para direcionar ações, programas fundamental importância para o acompanha-
e projetos que promovam o desenvolvimento mento e interpretação da dinâmica municipal
local por meio da inclusão da população em e territorial em seus diversos aspectos.
trabalhos compatíveis com a vocação econô- De acordo com o Guia Metodológico
mica da região. de Indicadores de Programas do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão:

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 65


serão capazes de atender à necessidade de ava-
“desagregabilidade é a capacidade de
representação regionalizada de gru-
liar diferentes localidades, possibilitando ações
pos sociodemográficos, considerando
especificas a cada grupo, segundo seus padrões
que a dimensão territorial se apresen-
de comportamento.
ta como um componente essencial na
implementação de políticas públicas” No que se refere ao nível territorial, al-
(BRASIL, 2010a, p.26). guns projetos necessitam de informações dire-
cionadas às suas regiões de atuação especificas.
Dados estatísticos referentes aos estados e Em decorrência disso, foram selecionados para
municípios brasileiros são comumente disponi- o cálculo e disponibilização dos indicadores,
bilizados em sites oficiais do governo federal e quatro recortes territoriais: as Mesorregiões e
estadual. Entretanto, existe certa dificuldade no Microrregiões do IBGE, os Territórios da Ci-
que se refere à coleta dessas informações. Isto se dadania e as Regionais do Sebrae.
deve à grande quantidade de dados disponíveis Os recortes territoriais tem a caracterís-
aliada à falta de conhecimento acerca das defini- tica de reunir municípios fisicamente próximos
ções técnicas dos indicadores e à complexidade com perfis semelhantes. A partir de uma análise
detalhada dos indicadores é possí-

‘‘
vel avaliar a efetividade das ações
A utilização de indicadores tem se e projetos implementados nestas
regiões como um todo.
constituído como ferramenta essencial Cabe destacar que ao gerar
para realizar o planejamento, dados em diferentes níveis geográ-
ficos, o NIT permite realizar inú-
monitoramento e avaliação de

’’
meras comparações. A evolução ou
qualquer ação ou projeto retrocesso de determinada locali-
dade pode ser mensurada adotan-
do-se como referência indicado-
res de municípios ou territórios de
de acesso e manuseio dos sistemas. mesmo porte, perfil ou potencial similar.
Em nível municipal, também é notória Outro fator que contribui consideravel-
a dificuldade de se conseguir dados primários mente para a análise do desempenho das loca-
consistentes nas próprias prefeituras, devido às lidades apresentadas no Núcleo de Inteligência
diferentes formas de coleta e organização das Territorial é a existência de uma série histórica,
informações. que tem inicio no ano de 1991 e se estende até
Diante disso, o NIT surge como um sis- o ano de 2013.
tema de fácil manipulação em que há possi- Segundo Jannuzzi:
bilidade de extrair indicadores nos seguintes
níveis geográficos: nacional, estadual, territo- “para que se possa acompanhar a mu-
rial e municipal (que representa o menor nível dança econômica ou social, avaliar o
efeito de programas implementados,
de granularidade). Dessa forma, os indicadores
corrigir eventuais distorções de imple-

66 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


mentação, é necessário que se disponha O Núcleo de Inteligência Territorial
de indicadores levantados com certa (NIT) é um sistema de fácil acesso e manipu-
regularidade” (2005, PP.141-142).
lação que reúne diversos indicadores em uma
única plataforma.
Por meio da análise do comportamento
Com o intuito de subsidiar os projetos
dos indicadores ao longo do tempo obtêm-se
de desenvolvimento territorial, foi selecionado
informações acerca da intensidade e frequên-
para o NIT, um número equilibrado de indica-
cia das variações ocorridas no contexto eco-
dores que abrange aspectos fundamentais para
nômico e social de uma área de interesse. Por
se formular estratégias que contribuam para o
meio da exibição das séries históricas é possí-
desenvolvimento econômico de qualquer mu-
vel avaliar a evolução, estagnação ou retrocesso
nicípio ou território.
de um município, território ou estado a partir
O Núcleo de Inteligência Territorial sur-
dos indicadores disponibilizados.
giu com o intuito de transformar dados esta-
tísticos em conhecimento, que possibilite aos
Considerações finais
atores locais maior entendimento sobre a sua
realidade e a implementação de ações que pro-
Estar sempre munido de informações
movam a dinamização da economia e a melho-
precisas e confiáveis é essencial para quem de-
ria das condições de vida da população.
seja desenvolver uma atividade. A utilização de
indicadores tem se constituído como ferramen-
ta essencial para realizar o planejamento, mo-
nitoramento e avaliação de qualquer ação ou
projeto.

REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 67


Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orça-


mento e gestão. Secretaria de Planejamento e
Investimentos Estratégicos – SPI. Indicadores
de Programas: Guia Metodológico, Brasília:
MP, 2010a.128p.

FERREIRA, H.; CASSIOLATO, M.;


GONZALEZ, R. Uma experiência de de-
senvolvimento metodológico para avaliação
de programas: o modelo lógico do programa
segundo tempo. Texto para discussão. Rio de
Janeiro: IPEA, 2009.

JANNUZZI, P. M. Considerações sobre o


uso, mau uso e abuso dos indicadores sociais
na formulação e avaliação de políticas públicas
municipais. Revista do Serviço Público, Brasí-
lia, abr/jun, 2005.

RUA, M. G. Desmistifi cando o problema:


uma rápida introdução ao estudo dos indica-
dores. Mimeo, Escola Nacional de Adminis-
tração Pública, Brasília, 2004.

68 | REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL


REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TERRITORIAL | 69

You might also like