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ÁFRICA: DAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES ATÉ A MODERNIDADE

CONTEÚDOS

 O berço da humanidade
 As primeiras civilizações do norte da África
 As primeiras civilizações do centro-sul da África
 A escravidão do povo africano
 Cultura, arte e religião

AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS

A África é um continente que caracteriza-se pela diversidade cultural. A sua história


é rica, porém ainda pouco conhecida mas, mesmo assim, ela está intimamente ligada à
formação cultural do Brasil. Lembre-se que os africanos, trazidos para a América como
escravos, entre os séculos 16 e 19, formaram a matriz étnica brasileira e com os seus
costumes, artes, rituais religiosos, culinária, danças, etc. foram responsáveis por um
sincretismo que marca o legado desses povos para o Brasil.
Dessa forma, é importante resgatar a história e a cultura dos povos da África,
conhecer seu passado e romper preconceitos. Infelizmente, esse continente é visto por
muitos como um lugar de paisagens exóticas, riquezas naturais e extrema pobreza, mas se
dedicarmos um estudo mais atento, observaremos que a África supera essas expectativas.

Figura 1 – Zebras e elefantes na savana africana


Fonte: Wikimedia Commons
Para tanto, é importante conhecer com um pouco mais de profundidade a evolução
dos povos do continente africano, ao longo dos tempos, pensando em como eles se
organizavam em sociedades, suas práticas econômicas, seus rituais religiosos, e a sua rica
produção mitológica e artística.

O berço da humanidade
Os estudos históricos e arqueológicos nos mostram que a África foi a região em que
a humanidade provavelmente surgiu. Foi nesse continente, que se encontraram os mais
antigos registros da presença dos primeiros hominídeos e, também, do homem moderno.
A evolução humana, na África, ocorreu há cerca de 200 mil anos atrás e, a partir
daí, iniciou-se um processo de migração e ocupação de outros territórios em outras partes
do mundo, expandindo-se demograficamente e conquistando esses novos espaços de
maneira progressiva. Desse modo, pode-se afirmar que todo ser humano,
independentemente de ser negro, branco, amarelo ou vermelho, tem suas raízes ligadas a
um passado africano.
Os hábitos nômades, desse período, podem ter deslocado grupos humanos que
buscavam por regiões com maior fartura de alimento ou de segurança. Assim, pode-se
explicar a propagação da espécie humana pela sua alta capacidade adaptativa para se
proteger dos rigores do meio ambiente e acessar as mais variadas fontes de alimentação.
Com a descoberta da agricultura, alguns desses grupos se sedentarizaram e, alguns
séculos depois, formaram as primeiras civilizações do mundo antigo, como já foi discutido
no Tema de Estudo de História - Conceitos e Pré-história.

Curiosidade: Durante a fase pré-histórica da África, acredita-se que alguns grupos


humanos viviam nas proximidades do deserto da Líbia e que foram eles que deixaram
gravações rupestres em rochas (chamadas de petroglífos) e, também, grandes colunas
de pedras formando portais rudimentares (esse tipo de construção recebe, atualmente,
o nome de megalitos). Essas evidências arqueológicas atestam a existência de
povoações caçadoras-coletoras nas savanas secas dessa região, durante a última
glaciação. Outro grupo que também viveu nesse período foi o que ocupou a região do
atual deserto do Saara. Em alguns estudos, arqueólogos encontraram evidências
materiais desses povos e sua cultura ficou conhecida pela produção de cerâmica
ornamentada por linhas onduladas. Atualmente, sabe-se que essa região foi um dos
primeiros locais onde se praticou a agricultura na África.
As primeiras civilizações do norte da África
O continente africano é marcado pela presença de grandes desertos, como é o caso
do Saara, que praticamente isola o norte do território africano do centro-sul do continente.
Essa espécie de barreira natural dificultava algumas importantes civilizações da Idade
Antiga de ocuparem áreas muito além das banhadas pelo Mar Mediterrâneo.

Figura 2 – Barreiras naturais do continente africano nas Idades Antiga e Média


Fonte: Fundação Bradesco

Os fenícios, os gregos, os macedônicos, os cartagineses e os romanos, todos esses


povos ocuparam os territórios do norte da África, fundando colônias em distintos momentos
da Idade Antiga. Nessa região norte da África, essas civilizações conseguiam manter o
comércio com suas metrópoles, assim como, elas também conseguiam ter acesso aos
produtos dos povos da região do Sudão, que atravessavam o deserto para estabelecer um
rico e lucrativo comércio.
Os egípcios também se concentraram nessa região do nordeste africano e, apesar
de ocuparem uma área bastante árida, eles podiam contar com a região do Crescente Fértil
do rio Nilo, para a produção de alimentos que era fundamental para o desenvolvimento
desse império.
Com a queda do Império Romano do Ocidente e o avançar da Idade Média, essa
região do norte da África foi novamente ocupada, devido à expansão do Império Islâmico.
Assim, os muçulmanos passaram a controlar a região influenciando-a quanto à cultura,
artes, ciências e religião. O domínio islâmico fez com que esses territórios evitassem o
atraso que o feudalismo representou. Isso explica porque, durante as grandes navegações,
essa região detinha maiores conhecimentos científicos e náuticos que os europeus.

As primeiras civilizações do centro-sul da África

Os núbios, por volta do século 18 a.C., conseguiram libertar-se do domínio egípcio


e organizar-se em um império forte e centralizado, chamado de Império Cuche. Durante
essa primeira fase, eles viviam em grandes centros urbanos, apresentavam uma sociedade
letrada e investiam na construção de grandes sepulturas (maiores que as egípcias). A
agricultura e o comércio proporcionaram para os monarcas desse império grandes riquezas
materiais que chamaram a atenção de outros povos.

Figura 3 – Pirâmides cuchitas no atual Sudão


Fonte: Wikimedia Commons

Durante o século 16 a.C., os egípcios invadem e dominam essa região, forçando os


núbios a migrarem para o sul onde reestruturam o Império Cuche. Essa segunda fase foi
um pouco mais modesta. Recuperaram-se algumas de suas importantes cidades por meio
de uma expansão territorial, além de expandirem seus domínios ao sul. A agricultura
passou a ter menor importância devido às dificuldades da geografia física da região (terreno
acidentado, cataratas e clima árido). Dessa forma, eles passaram a se dedicar mais às
rotas comerciais que ligavam a sua região com os povos que viviam no mediterrâneo (por
exemplo, os fenícios). Essa civilização sobreviveu até o século 4 a.C. quando passaram a
ser dominados pelo Império Axum.
O povo Axum tem origem arábica e chegou à África no século 5 a.C., por meio de
migrações, provavelmente buscando por melhores territórios para a agricultura.
Inicialmente, fundaram cidades e constituíram um pequeno império próximo ao Mar
Vermelho, mas foi com o desenvolvimento do comércio que eles passaram a expandir o
seu território. Assim, foi durante o século 4 a.C., que eles conquistaram o Império Cuche e
passaram a ocupar o território que, hoje, corresponde ao Sudão, à parte do Sudão do Sul
e ao norte da Etiópia.
O apogeu do Império Axum deu-se entre os séculos 1 d.C. e 4 d.C., quando se
tornaram um grande centro comercial do mar vermelho por onde passavam as caravanas
romanas com destino ao oriente. As atividades comerciais, nesse império, tornaram-se tão
intensas que eles chegaram a cunhar moedas em ouro, prata e bronze.

Figura 5 – Obelisco de Axum na atual Etiópia


Fonte: Wikimedia Commons
Com a crise do Baixo Império Romano, o comércio entre oriente e ocidente foi
ficando cada vez mais reduzido nessa região e esse fator acabou empobrecendo o Império
Axum. A conversão ao cristianismo foi outro fator que contribuiu para a queda desse
império, uma vez que os povos vizinhos, que eram politeístas, passaram a desconfiar das
suas intenções religiosas.
Menores, porém não menos importantes, existiam os berberes que eram povos
nômades do deserto do Saara. Eles tinham vastos conhecimentos de localização e
orientação para atravessar o deserto, com suas caravanas, com uma certa precisão.
Costumavam comercializar diversos produtos, tais como: objetos de ouro e cobre, sal,
artesanato, temperos, vidro, plumas, pedras preciosas etc. Durante as viagens, os berberes
levavam e traziam informações e aspectos culturais, contribuindo assim, para as trocas
culturais entre os povos que viviam ao norte e ao sul do Saara.
Observe o esquema a seguir que indica a localização aproximada desses povos:

Figura 6 – Povos africanos na Idade Antiga e Média


Fonte: Fundação Bradesco, 2016

Os povos que viviam mais próximos ao oceano atlântico, acabaram por se destacar
por meio do comércio das riquezas naturais dessa região, como por exemplo o ouro. Assim,
conforme eles se desenvolviam e se tornavam sociedades mais complexas surgia a
necessidade de se criar estruturas administrativas também mais complexas, nascendo daí
grandes impérios como o Reino de Gana do século 3 d.C.
O luxo, a grandeza e o glamour dos monarcas de Gana ganharam grande fama pelo
mundo. Seus palácios eram ornamentados com ouro e marfim e, quando morriam, eram
celebrados grandes funerais. Apesar de toda essa riqueza, o Reino de Gana tinha uma
agricultura pouco significativa dada a aridez do seu solo e clima. Esse império sobreviveu
até o século 14 d.C., quando foi dominado pelo recém surgido Império Mali.
Os bantos habitavam a região da atual Nigéria, Mali, Mauritânia e Camarões. Ao
contrário dos berberes, os bantos eram agricultores. Viviam também da caça e da pesca.
Eles conheciam a metalurgia, fato que deu grande vantagem a este povo na conquista de
povos vizinhos. Chegaram a formar um vasto reino (reino do Congo) que dominava grande
parte do noroeste do continente.
O reino do Congo era organizado em aldeias comandadas por um chefe. O rei banto,
também conhecido como manicongo, cobrava impostos em forma de mercadorias e
alimentos de todas as tribos que formavam seu reino. O manicongo gastava parte do que
arrecadava com os impostos para manter um exército particular, que garantia sua proteção,
e funcionários reais. Os habitantes do reino acreditavam que o manicongo possuía poderes
sagrados e que influenciava nas colheitas, guerras e saúde do povo.
Outros povos, desse período histórico, não se desenvolveram a ponto de formar
grandes impérios e, por isso, se mantiveram organizados em uma estrutura tribal e
rudimentar.

A escravidão do povo africano


Ao estudar a história da África, é relevante enfatizar que a escravidão negra não foi
inventada pelos europeus. Essa modalidade de trabalho compulsório já era explorada no
continente africano. Muitas tribos inimigas capturavam os guerreiros e os reduziam a
prisioneiros, ou seja, escravos. A diferença é que, nessa modalidade, os cativos passavam
a trabalhar no campo ou em afazeres domésticos, ou seja, essa exploração da mão de obra
não tinha por finalidade os ganhos de venda e compra do escravo como mercadoria.
No caso da colonização da América, a relação com os escravos foi bem mais
comercial, já que os escravos eram um produto de grande valor, capaz de gerar altos lucros
para aqueles que os comercializassem. Assim, na busca por braços africanos para as
lavouras americanas, muitos mercadores europeus passaram a estabelecer relações
comerciais com alguns reinos africanos que seriam bons fornecedores de escravos.
Exatamente por essa diferença cultural, os europeus conseguiam comprar os
escravos africanos (que na verdade eram os prisioneiros das tribos inimigas) em troca de
fumo e cachaça, o que era relativamente barato para os padrões da época.
Observe, na tabela a seguir, alguns reinos africanos que, durante a Idade Moderna,
passaram a fornecer escravos para a América:

Constituíram um reino centralizado próximo ao antigo reino de Gana.


Culturalmente, são conhecidos como o berço do Candomblé de onde
Iorubá nasceram a maioria dos Orixás.
e Praticavam a olaria e a tecelagem como sua principal atividade, mas
Ashanti também desenvolveram a fundição do bronze.
O contato com os Europeus e os conflitos com as tribos vizinhas tornaram
esses povos importantes fornecedores de escravos.
Formaram um grande império militarizado e de tendência expansionista
Mali na região localizada entre os rios Níger e Senegal.
e Desenvolveram um tipo de agricultura irrigada e grandes conhecimentos
Songai em astronomia.
No campo religioso, tinham grande influência do Islamismo.
Nasceram dos povos Bantos antigos, mas ao se organizarem
politicamente, constituíram um governo centralizado nos moldes do
Congo absolutismo europeu.
e Esse império tinha uma fundição bem desenvolvida e ficou famoso pela
Monomotapa exportação do bronze, ouro, marfim e pérolas.
Foi o principal posto de catequese jesuítica na África e, também, uma
importante área fornecedora de escravos.
Organizou-se nos territórios do sul da África e, por anos, lutou,
combatendo o expansionismo do Império Congo. Sua organização
Zulu política era dada na forma de clãs familiares e seu líder era o Sobá.
Devido a estrutura física do seu povo ser constituída por homens altos,
os zulus foram uns dos principais povos a serem escravizados.

Os pigmeus não constituíram um reino, viviam em meio às florestas com uma


organização ainda muito primitiva e tribal. Sua economia era baseada na caça e coleta de
alimentos e, por isso, muitas vezes tinham comportamento nômade. Esse povo ficou
famoso pela sua baixa estatura (um pigmeu adulto tem em média 1,40m apenas).

Cultura, arte e religião


A cultura africana é bastante rica e variada. Famosos pela sua musicalidade, os
africanos destacavam-se pelos seus diversos instrumentos de percussão que eram
capazes de impor um ritmo bastante envolvente e contagiante para quem os ouvia. Talvez
seja por esse fator, que a Igreja Católica Europeia chegou a considerar (de forma bastante
equivocada) os tambores africanos como instrumentos capazes de evocar o diabo.
Conheça algumas das principais divindades africanas a seguir:

Orixá dos mares e da limpeza. Orixá mensageiro, guia dos caminhos. Orixá do trovão e da guerra.

Figura 7 – Iemanjá Figura 8 – Exu Figura 9 – Xangô


Fonte: Vetorial net Fonte: The orixas br Fonte: Luz e vida

Orixá da paz, do branco e da luz. Orixá do pântano, da lama e da morte. Orixá do ferro e da agricultura.

Figura 10 – Oxalá Figura 11 – Nanã Figura 12 – Ogum


Fonte: Clube Caiubi ning Fonte: Printerest Fonte: Antropologia simétrica
As diversas religiões, principalmente as politeístas, foram outro ponto de embate do
mundo com os africanos. Em geral, tanto os cristãos (sejam católicos ou protestantes)
quanto os muçulmanos, tentaram impor sua fé aos povos africanos, perseguindo as demais
religiões e seus ritos. Apesar disso, muitos cultos africanos conseguiram ser preservados
entre as tribos mais primitivas que tinham menos contato com os colonizadores do
continente. Outro fator de preservação dessa religiosidade africana foi a transferência de
escravos para a América. Por exemplo, no Brasil, algumas dessas religiões afro
misturaram-se com algumas ideias do catolicismo e deram origem ao candomblé e à
umbanda. Já no Haiti, essas religiões afro deram origem ao vodu.
Em algumas tribos, era comum a produção de máscaras ornamentais para
cerimônias religiosas, ritos de passagem e festividades comemorativas. Acreditava-se que
algumas dessas máscaras tinham poderes sobrenaturais e poderiam afastar os maus
espíritos. A produção de cerâmica também é bem rica e se destaca desde a produção de
utensílios domésticos, estatuetas de suas principais divindades até urnas funerárias.
A capoeira africana era considerada uma arte marcial de luta e defesa, por isso, ela
não apresentava a mesma ginga e musicalidade que se observa na capoeira brasileira. A
diferença, nesse caso, deu-se pelo fato dos escravos, no Brasil, precisarem de disfarçar a
luta no formato de uma dança para não serem punidos pelos seus feitores. Outro
instrumento de defesa, muito comum entre os africanos, eram as longas lanças que
permitiam o ataque a uma distância segura do inimigo. Essas lanças, muitas vezes, eram
ornamentadas, demonstrando o poder e a influência de um guerreiro frente a sua
sociedade.

Dica: Para entender melhor e se aprofundar nesse assunto, faça a oficina sobre África
disponível no Portal EJ@, na seção Área do Educador do Ensino Médio, na Socialização
de Práticas Pedagógicas de Ciências Humanas:
Oficina - África

ATIVIDADES

1. Explique porque os cientistas consideram a África o berço da humanidade.


2. Analise as afirmativas a seguir e assinale “F” para as falsas e “V” para as verdadeiras:

(__) A cultura africana é muito limitada às superstições de uma cultura atrasada e de poucos
conhecimentos científicos.
(__) Na Idade Antiga e Média, existiram grandes impérios na África como o Reino de Gana,
do Congo e de Axum.
(__) A expansão do Império Islâmico, que ocorreu durante a Idade Média, influenciou a
religiosidade do norte da África.
(__) Durante a expansão do Império Romano, o território centro-sul da África foi ocupado e
colonizado com grande facilidade.
(__) A escravidão era uma prática comum entre as civilizações africanas, mesmo antes do
contato com os europeus.
(__) Conflitos e guerras não eram comuns entre os impérios africanos devido a todos os
povos falarem a mesma língua e seguirem a mesma religião.

3. (UNICAMP-2012) A longa presença de povos árabes no norte da África, mesmo antes


de Maomé, possibilitou uma interação cultural, um conhecimento das línguas e costumes,
o que facilitou posteriormente a expansão do islamismo. Por outro lado, deve-se considerar
a superioridade bélica de alguns povos africanos, como os sudaneses, que efetivaram a
conversão e a conquista de vários grupos na região da Núbia, promovendo uma expansão
do Islã que não se apoia na presença árabe.
Adaptado de Luiz Arnaut e Ana Mônica Lopes, História da África: uma introdução. Belo Horizonte:
Crisálida, 2005, p. 29-30.

Sobre a presença islâmica na África é correto afirmar que:


a) O princípio religioso do esforço de conversão, a jihad, foi marcado pela violência no norte
da África e pela aceitação do islamismo em todo o continente africano.
b) Os processos de interação cultural entre árabes e africanos, como os propiciados pelas
relações comerciais, são anteriores ao surgimento do islamismo.
c) A expansão do islamismo na África ocorreu pela ação dos árabes, suprimindo as crenças
religiosas tradicionais do continente.
d) O islamismo é a principal religião dos povos africanos e sua expansão ocorreu durante
a corrida imperialista do século XIX.
LEITURA COMPLEMENTAR

Pigmeus africanos, um símbolo da capacidade humana de adaptação


Os baka, um grupo étnico que vive no Oeste da África equatorial, nascem com um
tamanho dentro do padrão das populações europeias mas depois crescem pouco até os
três anos, enquanto os pigmeus da zona Leste da África equatorial vêm ao mundo já com
um tamanho reduzido e vão crescendo de forma lenta. Estas duas formas de evolução
distintas têm o mesmo objetivo: a adaptação a uma vida na floresta.
Já sabíamos que o tamanho pequeno destas populações africanas se explicava
pela genética, mas os investigadores não tinham dados fiáveis para analisarem o seu
crescimento. Agora, os registos recolhidos na missão católica de Moange-le-Bosquet, nos
Camarões, permitiram o estudo da etnia baka, cujos resultados foram publicados na última
edição da revista Nature Communications. Os cientistas utilizaram registos de nascimentos
realizados pelas enfermeiras da missão católica ao longo da década de 70 e, depois, entre
1985 e 2007, bem como registos feitos pela própria equipe entre 2007 e 2014. No total, os
registos tinham informação sobre mais de mil membros da etnia baka, até os 25 anos, o
que permitiu fazer as primeiras curvas de crescimento dos pigmeus africanos. Desses
dados sobressai que a morfologia destas populações resulta de dois mecanismos
diferentes. Trata-se de uma evolução convergente em resposta a um ambiente semelhante
– a floresta equatorial.
As populações de pigmeus africanos, nas quais um adulto tem em média 1,55
metros, partilham um antepassado comum há cerca de 60.000 e ter-se-ão separado em
dois grupos principais há aproximadamente 20.000 anos, segundo o estudo na Nature
Communications.
Um dos grupos está Ruanda, Uganda e no Leste da República Democrática do
Congo (no Leste africano), enquanto o outro, onde se incluem os baka, se encontra nos
Camarões, na República Centro Africana, no Congo, Gabão e no Oeste da República
Democrática do Congo (no Oeste africano).
“Populações humanas de pequena estatura existem em todos os continentes. O
termo ‘pigmeu’ tem sido largamente usado para todas elas sem um fundamento biológico”,
lê-se no artigo. “[Mas] como os estudos genéticos têm sugerido que os pigmeus africanos
partilham um antepassado comum, há uma fundamentação biológica para a palavra
‘pigmeu’ se for restringida às populações africanas”, acrescenta-se. “Embora outros grupos
de pequena estatura vivam em ambientes diferentes, a restrição do uso de ‘pigmeu’ a
grupos que partilham padrões socioeconômicos e comportamentos culturais e que vivem
num ambiente similar fornece uma base para investigar a sua adaptação anatômica. ”
Uma vez que as populações de pigmeus africanos se separaram há cerca de 20 mil
anos, as diferenças na forma como cada uma delas crescem, evoluíram há relativamente
pouco tempo. “Talvez seja uma capacidade reservada à nossa espécie”, diz um dos
coautores do artigo, Victor Ramirez Rozzi, do Centro Nacional de Investigação Científica
francês, em Paris.
Segundo o estudo, esta plasticidade no crescimento – a capacidade de mudança –
teve um papel determinante na expansão do Homo sapiens fora de África, ao permitir-lhe
adaptar-se rapidamente a novos ambientes.
“O nosso antepassado saiu de África há cerca de 60.000 anos e alguns milhares de
anos mais tarde ocupava todo o planeta, ao contrário de outras espécies de hominídeos
que tiveram uma distribuição geográfica limitada ou mesmo muito limitada”, refere Victor
Ramirez Rozzi. “Claro que a cultura tem um grande papel na evolução, tal como a
capacidade de os nossos antepassados se adaptarem fisicamente a ambientes hostis”.
O PÚBLICO DIGITAL. Caderno de Ciências, publicado em 30/07/2015.
Disponível em: <https://www.publico.pt/ciencia/noticia/pigmeus-africanos-um-simbolo-da-
capacidade-humana-de-adaptacao-1703556>. Acesso em: 29 jan. 2016. 16h.

Figura 13 – Casal de pigmeus ao lado de um europeu


Fonte: Wikimedia Commons
INDICAÇÕES

FUNDAÇÃO BRADESCO. Planos de aula: Oficinas - África. Disponível em:


<http://www.eja.educacao.org.br/areadoeducador/Socializao%20de%20Prticas%20
Pedaggicas/Planos%20de%20Aula%20–%20Oficinas%20–%20EM/CH%20–%20%20EM/
Oficina_Africa_CH_EM_ALUNO.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2016. 14h.

REFERÊNCIAS

ANTROPOLOGIA SIMETRICA. Ogum. Disponível em:


<http://antroposimetrica.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html>. Acesso em: 28 jan.
2016. 10h15min.

CLUBE CAIUBI NING. Oxalá. Disponível em:


<http://clubecaiubi.ning.com/profiles/blog/list?month=03&year=2013>. Acesso em: 28 jan.
2016. 9h45min.

CONVEST. Prova de Primeira Fase do Vestibular da Unicamp de 2012. Disponível em:


<https:// www.comvest.unicamp.br/vest2012/F1/f12012QZ.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2016.
9h.

COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

COSTA E SILVA, Alberto da. A manilha e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a


África e o Rio de Janeiro. Séculos XVIII e XIX. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.

LUZ E VIDA. Xangô. Disponível em: <http://blogluzevida.blogspot.com.br/2012/11/orixas-


universais-xango.html>. Acesso em: 28 jan. 2016. 9h30min.

M´BOKOLO, Elikia. África negra – história e civilizações. Trad. Alfredo Margarido. Editora
Vulgata, 2003.
O PÚBLICO DIGITAL. Pigmeus africanos, um símbolo da capacidade humana de
adaptação. Caderno de Ciências, publicado em 30/07/2015. Disponível em:
<https://www.publico.pt/ciencia/noticia/pigmeus-africanos-um-simbolo-da-capacidade-
humana-de-adaptacao-1703556>. Acesso em: 29 jan. 2016. 16h.

PRINTEREST. Nanã. Disponível em: <https://br.pinterest.com/orixatradition/orixas-nana/>.


Acesso em: 28 jan. 2016. 10h.

PRIORE, Mary Del; VENANCIO, R. P. Ancestrais: uma introdução à história da África


Atlântica. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

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THE ORIXA BR. Exú. Disponível em: <http://theorixasbr.blogspot.com.br/p/exu.html>.


Acesso em: 28 jan. 2016. 9h15min.

THORNTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico: 1400 –


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WIKIMEDIA COMMONS. Pirâmides cuchitas no atual Sudão. Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sudan_Meroe_Pyramids_2001.JPG>. Acesso
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WIKIMEDIA COMMONS. Zebras e elefantes na savana africana. Disponível em:


<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Zebras,_Serengeti_savana_plains,_Tanzania.
jpg>. Acesso em: 25 jan. 2016. 9h.
WIKIMEDIA COMMONS. Casal de pigmeus ao lado de um europeu. Disponível em:
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:African_Pigmies_CNE-v1-p58-B.jpg?uselang=pt-
br>. Acesso em: 25 jan. 2016. 16h.

GABARITO

1. Comentário: Ao estudar a origem dos humanos, os cientistas descobriram que as


evidências mais antigas da presença humana concentravam-se na África. Assim, com base
em uma série de estudos, foi possível concluir que a espécie humana deve ter surgido na
África há cerca de 200 mil anos e, de lá, ela se espalhou pelo resto do mundo por meio das
migrações. Os grupos que permaneceram na África evoluíram a partir da descoberta da
agricultura, sendo possível observarmos civilizações muito antigas nesse continente.

2.
F – A cultura africana é extremamente rica e diversificada. Povos da África desenvolveram
vários conhecimentos arquitetônicos, matemáticos, astronômicos e cartográficos.
V
V
F – O Império Romano conquistou todo o norte da África e também os territórios do antigo
Egito, porém, eles se limitaram a não ultrapassar a região demarcada pelo Saara.
V
F – As guerras entre os diversos povos africanos eram bastante comuns e não existia uma
única língua ou religião. Mesmo que algumas línguas tivessem a mesma raiz, elas eram
diferentes e variavam de povo para povo, assim como as suas concepções religiosas.

3. Alternativa B.
Comentário: Os povos africanos praticavam o comércio com o oriente desde a idade antiga.
Povos que viviam nas proximidades do Mar Vermelho relacionavam-se, mais diretamente,
com os povos árabes e indianos. Assim, o intercâmbio cultural dessas civilizações sempre
foi intenso.

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