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ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE
ENGENHARIA E
CONSUL TORIA
ESTRUTURAL
São Paulo, 15 de março de 2018

A ABECE – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural, no papel


de entidade representativa dos engenheiros estruturais, sente-se obrigada a
colaborar com as ações necessárias para restabelecer a confiança nas estruturas
que passa pelo atendimento dos requisitos de segurança necessários ao seu
funcionamento.

Recebemos a solicitação da empresa Incortel Incorporações e Construções Ltda.,


incorporadora do Condomínio Grand Parc Residencial Resort, para emitir um
parecer sobre os relatórios de verificação do projeto estrutural apresentados por
profissionais contratados pela incorporadora, tendo em vista o sinistro ocorrido
em 19 de julho de 2016 no pavimento de uso comum (PUC) do Edifício Grand Parc
Residencial Resort, localizado na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, nº 581,
Enseada do Suá, Vitória, Espírito Santo.

Após convocação do conselho deliberativo da associação, para deliberar a respeito


da solicitação, instituiu-se um comitê ao qual seus membros foram aprovados pelo
conselho, para a referida análise.

A instauração do comitê para elaboração do presente trabalho é uma ação da


ABECE no sentido de atender às solicitações da sociedade e do meio técnico para
que se pronunciasse quanto aos documentos de verificação e avaliação técnica do
projeto estrutural de forma totalmente isenta das partes envolvidas. Os trabalhos
do comitê terão continuidade objetivando a elaboração de uma recomendação de
ações buscando medidas que evitem novos acontecimentos como estes.

Esclarecemos ainda que os relatórios e documentos analisados são de propriedade


privada e foram disponibilizados apenas para análise e parecer técnico do comitê
instituído para esse fim, não tendo a associação poder para disponibilizá-los ou
torna-los públicos.

Sendo assim, compete à entidade divulgar e informar seus associados sobre


trabalho realizado a respeito do sinistro ocorrido e o parecer emitido pelo comitê.

Atenciosamente,

Jefferson Dias de Souza


Presidente - ABECE

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1993 . cj. 61 - CEP 01452-001 - São Paulo - SP - Fone: (11) 3938.9400 - Fax: (11) 3938.9407
abece@abece.com.br
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Parecer Técnico ABECE


Pavimento de Uso Comum (PUC) do Edifício Grand
Parc Residencial Resort

1) Objetivo

A ABECE - Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural instituiu


um comitê, formado após reunião de seu conselho, para emitir um parecer sobre
os relatórios de verificação do projeto estrutural apresentados, tendo em vista o
sinistro ocorrido, no dia 19 de julho de 2016, no pavimento de uso comum (PUC)
do Edifício Grand Parc Residencial Resort, localizado na Avenida Nossa Senhora dos
Navegantes, nº 581, Enseada do Suá, Vitória, Espírito Santo.

A instauração do comitê para elaboração do presente trabalho é uma ação da


ABECE no sentido de atender às solicitações da sociedade e do meio técnico para
que se pronunciasse quanto aos documentos de verificação e avaliação técnica do
projeto estrutural, abaixo listados, emitidos por engenheiros estruturalistas.

2) Material Disponibilizado

a) Relatório técnico da verificação analítica do projeto estrutural da laje


protendida do “PUC”, do “Grand Parc Residencial Resort”, sito à Av. Nossa
Senhora dos Navegantes, 581, na enseada do Suá – Vitória/ES. Autoria:
Costa Negraes Engenharia e Consultoria Ltda. Responsável Técnico: Engº.
Antônio Carlos Costa Negraes, CREA nº 0600215835. Arquivo eletrônico:
CNEC-RT-034ª/17.pdf. Data: 19/04/2017;
b) Verificação do Projeto Estrutural da Laje do Piso do PUC do
Empreendimento Grand Parc Residencial Resort, Vitória, Espírito Santo.
Autoria: Projest. Responsáveis Técnicos: Gilberto M.B do Valle, CREA nº
7924D-5ºRegião e Marcello G.C. do Valle, CREA RJ nº 1987100490. Arquivo
eletrônico: projest-062.pdf; Data: 04/2017
c) Avaliação Técnica do Projeto de Estrutura de Concreto – Empreendimento:
Grand Parc Residencial Resort – Vitória – ES – Região Analisada:
Embasamento na projeção da área de lazer. Incorporadora: Vix One
Empreendimento Imobiliário SPE Ltda - Construtora: Incortel – Projetista:
MCA Estruturas – Autoria: França & Associados Projetos estruturais – Data:
agosto de 2017
d) Apresentação - Sequência de Eventos Grand Parc - HUDSON E GAIOFATO.
Autoria: Reggis Engenharia e ESEEL – Espírito Santo Engenharia Estrutural.

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Arquivo eletrônico: 17-02-22 Apresentação - Sequência de Eventos Grand
Parc - HUDSON E GAIOFATO.ppsx. Data: 26/10/2016;
e) Projetos estruturais. Autoria: MCA Estruturas. Data: Anos 2008 e 2009. Obs.:
Não foram disponibilizados os projetos executivos de traçados dos cabos de
protensão;
f) Projetos de arquitetura, paisagismo, instalação de gás natural, instalações
hidráulicas, prevenção e combate a incêndio e instalações sanitárias.

3) Considerações

O segmento analisado do PUC localiza-se exteriormente à projeção da torre-


tipo do edifício, estruturalmente separado desta por uma junta estrutural. Trata-
se de uma região especial, que comporta piscinas, espelhos d’água, jardins,
rebaixos e aberturas.

O edifício estava pronto e ocupado por aproximadamente seis anos quando


da ocorrência da ruína do trecho em questão. A estrutura do PUC estava então
submetida a carregamentos permanentes elevados, característicos de ocupações
dessa natureza, devidos às impermeabilizações, enchimentos, revestimentos, solo
das jardineiras, elementos de conformação do paisagismo, água das piscinas e
espelhos d’água, entre outros.

Para o estudo deste pavimento pelo Comitê, foram minuciosamente


considerados os carregamentos representados pelos elementos e indicações
contidas no projeto arquitetônico e no projeto de paisagismo, adotando-se o que
prescreve a NBR 6120:1980 Cargas para o cálculo de estruturas de edificações
quanto aos materiais empregados e ocupações dos espaços. No desenvolvimento
desse trabalho, atuou-se com cautela para que não fossem considerados valores
de carregamento superiores aos mínimos que o projetista da estrutura deveria
adotar.

A parte da estrutura em estudo foi adequadamente modelada e analisada.


Foram avaliados os resultados, considerando os estados limites último e de serviço
(ELU e ELS), conforme critérios e parâmetros da NBR 6118:2007 Projeto de
estruturas de concreto – Procedimento, versão 2003, válida à época do
desenvolvimento do projeto.

Os resultados obtidos foram confrontados com as seções especificadas e


armações detalhadas. Por não se dispor do projeto executivo dos cabos de
protensão, definiu-se, para efeito desta avaliação, os traçados das cordoalhas com

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base nas informações do projeto básico de protensão, que é parte integrante do
projeto estrutural.

O presente trabalho não contempla eventuais ocorrências de falhas


executivas, condições de obra e deficiências dos materiais empregados, atendo-
se, tão somente, ao projeto estrutural.

4) Análise Estrutural

No desenvolvimento dos trabalhos de avaliação foram aplicadas as


prescrições técnicas e empregados os recursos de análise estrutural consideradas
pelo Comitê as mais modernas e apropriadas, permitindo avaliar com adequada
precisão o comportamento em serviço e a capacidade resistente da estrutura em
questão.

Elaborou-se um modelo de pórtico espacial para a análise do pavimento,


voltado a avaliar o comportamento estrutural. Neste modelo, as lajes foram
integralmente consideradas, junto com as vigas e os apoios formados pelos pilares
existentes. Com o modelo integrado, a contribuição de cada elemento que compõe
o pavimento fica caracterizada e, dessa forma, os esforços e os deslocamentos
determinados tendem a ser mais precisos e mais próximos dos valores reais.

Para a avaliação das deformações do pavimento em serviço, as análises


levaram em conta os efeitos da protensão, tanto no que se refere às forças normais
de compressão quanto às forças de alívio (desvio e momentos de excentricidade).
Foram ainda adotadas considerações relativas à simulação da não-linearidade
física, como a redução da inércia a torção e flexão nas seções mais solicitadas, nos
estádios II e III.

A avaliação realizada pelo Comitê da parte do projeto estrutural referente


ao pavimento PUC (fora da projeção da torre-tipo), contempla:

• Avaliação dos parâmetros básicos de projeto, tais como a Classe de


Agressividade Ambiental, cobrimentos, características do concreto
especificado, entre outros;
• Avaliação das deformações em serviço;
• Verificação dos esforços atuantes nas peças da estrutura e seu
dimensionamento;
• Avaliação do detalhamento, especificação de materiais e outras
informações de projeto;

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• Verificação das reações nos apoios para análise de punção nas lajes;
• Verificações referentes aos dispositivos de prevenção do colapso
progressivo, prescritos na NBR 6118:2007;
• Avaliação dos efeitos das ações horizontais e os efeitos de redistribuição de
esforços em toda a estrutura devido aos carregamentos verticais e de
protensão (peso próprio, cargas permanentes e acidentais).

5) Conclusões

Com base nas análises realizadas, são apresentados abaixo os principais


pontos observados:

i. Em diversas regiões, as tensões de projeto atuantes no concreto na região


de apoio das lajes sobre os pilares demonstram-se superiores aos limites
normativos. Ou seja, para esses casos, a espessura da laje na região de apoio
é insuficiente, consideradas a resistência do concreto utilizado e as
dimensões dos pilares;
ii. O projeto estrutural encontra-se em desacordo com as diretrizes da NBR
6118:2007, pois não foram previstas as necessárias armaduras de punção;
iii. O projeto estrutural avaliado não contempla as soluções previstas em norma
para o combate ao fenômeno do colapso progressivo. Tais providências
obrigatórias não visam impedir uma eventual ruína, mas cumprem a função
de restringir a abrangência dos danos;
iv. Os estudos realizados demonstram a necessidade de armadura de punção
em várias regiões da laje que entrou em colapso;
v. A ausência de armação de colapso progressivo e de punção contribuíram de
forma relevante para que o colapso se estendesse a toda a área da laje do
PUC, não se restringindo somente ao local onde ocorreu a ruína inicial;
vi. As deficiências de projeto apontadas são importantes e por si só geram
riscos à estabilidade da estrutura;
vii. Observamos, além destas, outras deficiências menos significativas no
projeto avaliado:
o Alguns itens relacionados à durabilidade da estrutura em desacordo
com os recomendados pela NBR 6118:2007;
o Deformações teóricas excessivas em alguns pontos;
o Não observância das armaduras mínimas recomendadas;
o Dimensionamento e detalhamento insuficiente de algumas peças
estruturais.

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Apesar dos itens relacionados acima não terem influência direta na
ruína da estrutura, estes podem ter contribuído em menor escala.

viii. Os três relatórios técnicos apresentados, listados nos itens 2.a, 2.b e 2.c
desse documento, foram estudados pelo Comitê e, de forma geral,
apontam os mesmos problemas essenciais acima listados, além de outras
considerações;

ix. O colapso ocorrido tem como fator relevante a deficiência do projeto


estrutural. O comitê não analisou possíveis não conformidades executivas e
de materiais.

Baseando-se nos resultados obtidos no estudo realizado por este comitê,


pode-se afirmar que as conclusões apresentadas nos relatórios confeccionados
pelas empresas Costa Negraes Engenharia e Consultoria Ltda., Projest e França e
Associados possuem embasamento técnico e assemelham-se às conclusões citadas
acima, deste comitê, formado por membros designados pela ABECE; sendo assim,
o Comitê concorda com as conclusões constantes nos relatórios das empresas
supracitadas.

Assinam este parecer:

Augusto Guimarães Pedreira de Freitas Jefferson Dias de Souza


Coordenador do Comitê Presidente da ABECE - Associação
Membros do comitê: Brasileira de Engenharia e Consultoria
Cesar Pinto Estrutural
Claudio Adler
Leonardo Braga Passos
Luiz Aurélio Fortes da Silva
Paulo Rafael Cadaval Bedê

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