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A TV PELO OLHAR
DE QUEM VÊ
Ano XX Boletim 13 - Setembro 2010
Proposta da série
A TV pelo olhar de quem vê .......................................................................................................... 5
Rosalia Duarte
Texto 3 – As crianças e a TV
Televisão: apenas um dos canais de dialogia entre o adulto, a criança e o mundo .............. 26
Katia de Souza e Almeida Bizzo
No momento em que, no programa Salto posta da série, citando Jesús Martín-Barbe-
para o Futuro, da TV Escola, finalizamos a ro, é preciso parar de perguntar o que a mí-
produção da série A TV pelo olhar de quem vê, dia faz com as pessoas e perguntar o que as
que inclui os textos desta publicação eletrô- pessoas fazem com a mídia.
nica e os programas televisivos correspon- 3
Para Barbero (2001:28) ,
dentes, os resultados parciais de mais uma
pesquisa sobre a influência da TV na vida (...) a comunicação se tornou para nós
das crianças foram divulgados com desta- questão de mediações mais do que de
que pela mídia. Desta vez, a investigação meios, questão de cultura e, portanto,
foi coordenada pela Universidade de Mon- não só de conhecimentos mas de re-co-
treal, no Canadá. No Brasil, vários jornais de nhecimento. Um reconhecimento que
grande circulação repercutiram as opiniões foi, de início, operação de deslocamen- 3
expressas na reportagem do periódico inglês to metodológico para re-ver o processo
The independent, traduzindo assim o título inteiro da comunicação, a partir de seu
da matéria: “Ver TV emburrece”. A polêmi- outro lado, o da recepção, o das resistên-
ca, aqui entre nós, foi logo associada a uma cias que aí têm seu lugar, o da apropria-
canção de sucesso do grupo Titãs. Quem não ção a partir de seus usos.
se lembra de “a televisão me deixou burro,
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muito burro demais... ”. A TV e a vida cotidiana; a emergência do es-
pectador; as crianças e a TV: esses são os te-
Mas, para esse debate, podemos trazer tam-
mas que compõem a série A TV pelo olhar de
bém Hanoi-Hanoi, em Fanzine: “ninguém
2 quem vê. Essa iniciativa representa mais um
fica burro demais só porque viu TV... ”.
esforço da TV Escola, por meio do programa
Como enfatiza a consultora especialmente Salto para o Futuro, no sentido de colocar
convidada Rosalia Duarte (PUC-Rio), na pro- no centro do debate com professores e pro-
rer à publicidade, exceto no caso de emis- milhões de telespectadores diários, com bai-
1 Mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas, RJ. Doutora em Educação pela PUC-RJ. Atualmente é
professor associado da PUC-RJ. Consultora da série.
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TEXTOS DA SÉRIE A TV PELO OLHAR DE QUEM VÊ
A série tem como proposta analisar e discutir o lugar ocupado pela televisão na vida cotidiana,
tendo em vista que esta é a mídia mais utilizada pela maioria da população brasileira. A tevê in-
tegra o cotidiano de milhões de pessoas, atravessa a formação e a prática profissional, é parte
da vida política e é presença importante nas relações familiares. Pretende-se abordar a questão
privilegiando o ponto de vista dos espectadores. Também se busca analisar as contribuições
que a tevê oferece e que pode vir a oferecer à educação em geral e à escola em particular.
2 Estes textos são referenciais para a série A TV pelo olhar de quem vê, que será veiculada no programa Salto
para o Futuro/TV Escola de 20 a 24 de setembro de 2010.
No segundo texto da série, discute-se a emergência do espectador, tendo em vista que no sé-
culo XXI, com a grande acessibilidade das tecnologias de captura, produção, edição e difusão
de imagens em movimento, surge um novo espectador: alguém que, além de ver, deseja tam-
bém produzir conteúdos audiovisuais, realizar e divulgar seus próprios vídeos tanto quanto
seus materiais escritos ou sonoros. Para as novas gerações, interagir não é apenas ver, ouvir,
navegar e comentar, é fundamentalmente fazer e “postar”, produzir e divulgar – querem ver e
querem ser vistos como produtores de imagens, textos e sons. E isso interfere na competência
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para ver: quem sabe como é feito e faz tende a ter um olhar mais crítico sobre o que é visto. O
segundo texto da série trata dessa temática: o ensino/aprendizagem da produção de materiais
audiovisuais no contexto da formação de futuros professores, voltado para ampliação da capa-
cidade de crítica, para a autoria e para a criatividade.
TEXTO 3: AS CRIANÇAS E A TV
O terceiro texto da série tem por objetivo propor reflexões sobre a relação da criança com a
televisão e também discutir o papel dos adultos nessa relação. Para tanto, é preciso refletir
sobre a forma como as diferentes infâncias são olhadas e percebidas pela sociedade e qual o
lugar que os programas televisivos ocupam nesse entorno social, nos dias de hoje. Segundo a
autora do texto “ jamais poderemos, nós, adultos, assumir o ponto de vista das crianças e (...)
não há perguntas certeiras para se atingir esse fim, mas há a necessidade de escutá-las e de
buscar diálogos que enriqueçam as possibilidades de nossas reflexões, interagindo, ao menos,
com suas vozes e nossas interpretações”.
TV e vida cotidiana
Em países onde a televisão atua como principal fonte de acesso a informações, notícias, entre-
tenimento e bens culturais, como é o caso do Brasil, a participação da TV na vida cotidiana é
muito mais do que simples presença, é mediação ou, como acontece em outros países no caso
da internet, midiatização. No cotidiano familiar, muitas vezes o conteúdo televisivo pauta os
temas das conversas e a grade da programação delimita horários de encontros e momentos
de silêncio; nas ruas, nos locais de trabalho, nos restaurantes, na escola e até mesmo nos
púlpitos das igrejas, o que está “passando na TV” ganha lugar de destaque e, quase sempre,
provoca debates acalorados e polêmicas intermináveis. Esse lugar importante ocupado pela
TV na vida das pessoas também é objeto de grande preocupação, principalmente entre os que
se ocupam da educação de crianças e jovens, pois acredita-se que a linguagem audiovisual,
a partir da qual são produzidos os programas televisivos, tem mais influência que as outras
(sonora, escrita, digital etc.) sobre o modo de pensar e agir dos mais jovens. Isso pode ser
verdadeiro em parte, no que se refere, por exemplo, a um maior encantamento e a uma mais
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forte impressão de realidade produzidos pela imagem em movimento, mas não significa de
modo algum passividade: o espectador dialoga com o conteúdo do que vê tanto quanto dialo-
ga com o que lê ou ouve.
Muitas vezes nos perguntamos como traba- que veem com mais frequência, como esco-
lhar analiticamente diferentes gêneros tele- lhem o que assistem, com quem veem seus
visivos em sala de aula. Programas de audi- programas prediletos etc.) e rejeições (o
tório, comerciais, telenovelas, telejornais, que nunca veem, do que não gostam, por
filmes, desenhos animados, realities, seria- que não gostam e assim por diante).
dos, videoclipes e tantos outros são comu-
mente assistidos por nossos alunos. Por que Esta postura investigativa pode ser conside-
não trazermos esses produtos para dentro rada o coração das práticas mídia-educati-
das atividades pedagógicas regulares? A pri- vas. Elaborar questões para o questionário
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meira sugestão para a realização desse tipo inicial pode ser, inclusive, feito em parceria
de trabalho passa pela realização de uma com os próprios alunos. Após a sondagem,
sondagem com as turmas. Dessa forma, cada turma terá um mapeamento dos seus
o professor pode, a partir de um pequeno usos de mídia e de suas práticas com a te-
questionário, formular perguntas aos alu- levisão, sendo possível identificar dentre os
nos acerca do modo como eles organizam gêneros listados que programas ou produtos
seu tempo na relação com as diferentes mí- são mais assistidos e elencados como prefe-
dias (que tempo dedicam a cada uma delas, ridos.
quanto tempo passam vendo tevê ou nave-
gando na internet, se ouvem rádio ou colo- Vale lembrar que partir do interesse dos alu-
cam músicas no ipod etc.) e, em especial, a nos não precisa ser visto como “perda de
relação que eles têm com a TV, procurando tempo”, “ocupação do espaço pedagógico
identificar preferências (do que gostam, o para o estudo de obras de menor valor cul-
1 Pedagoga, especialista em Mídia-Educação pela Università Cattolica di Milano, Itália, mestre e doutoranda
em Educação pela PUC-Rio. Pesquisadora da Cátedra Unesco de Leitura e professora dos cursos de especialização e
extensão em Educação e Mídia da PUC-Rio, investiga a escrita digital de nativos digitais, oferecendo consultoria para
escolas. Membro do GRUPEM – Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia, coordena os sites: www.midiaedu.com.br
e www.midiaedu.ning.com
que é prazeroso. Essa dica é dada por Robert ao nível da escola secundária.
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Na técnica “Sound and Image”, o professor O momento “Top and Tail” tem como fun-
cobre a tela, aumenta o som e pede para que ção mostrar os créditos e tentar extrair to-
os alunos ouçam os sons muito atentamen- das as informações possíveis do texto, seus
te. Os jovens percebem que os sons, sobre- autores, diretores, etc.
tudo a música, podem regular a dramatici-
dade de um texto audiovisual e estabelecer O título de um programa audiovisual sugere
a sua identidade de gênero (comédia, aven- muito sobre a identidade do texto, pois tenta 14
tura, etc.). O silêncio, inclusive, pode ter um “vendê-lo” ao público, suscitando interesse;
papel preponderante na interpretação da se- é também explícito em relação ao gênero,
quência e esses aspectos são vistos em sala. conteúdo, público-alvo, etc. Embora a esco-
Eles recebem uma ficha para que anotem e la possa colocar foco na análise da TV, esta-
percebam a diferença e o papel da música, mos vivendo hoje em um período de forte
dos efeitos sonoros, dos diálogos e do silên- convergência de mídias (Jenkins, 2008). Isso
cio em cada caso. significa que o professor deve analisar um
programa de TV levando em consideração
Quando os professores exploram a técnica como o mesmo se apresenta na internet.
“Spot the shot”, o programa televisivo ou
filme é exibido uma segunda e depois uma Após esse círculo analítico, as técnicas ga-
terceira vez. Na segunda exibição, os alunos nham um tom de simulação. “The attrac-
devem assinalar todas as passagens de uma ting audiences”, por exemplo, propõe que a
STORY (HISTÓRIA)
CONTEXT (CONTEXTO)
SOUND (SONS)
Quando você escuta a música sem a imagem você pode imaginar o que está
acontecendo?
Quantos diferentes sons são percebidos (silêncio, música, vozes e efeitos sono-
ros)? Por que e quando são utilizados? Como interferem na narrativa?
CHARACTER (PERSONAGENS)
CAMERA (CÂMERA)
(AUDIÊNCIA)
Acredito que o domínio da linguagem au- ideias e práticas associadas àquelas que os
diovisual seja tão importante quanto o da professores já desenvolvem em suas aulas.
linguagem escrita e, por isso, a formação
de professores para o desenvolvimento de BIBLIOGRAFIA
atividades de análise audiovisual com o
aluno é necessária e urgente, mas isso não British Film Institute. Look Again! A teaching
significa que a solução de problemas educa- Guide to using film and Television to three to
cionais possa advir do incentivo à análise e seven years old. London: BFI Education, 2002.
à reflexão a partir de produtos midiáticos.
As sugestões deixadas ao longo desse texto British Film Institute. Moving Images in the
podem servir como disparadoras de novas Classroom. London: BFI Education, 2003,
A emergência do espectador
Ao que tudo indica, superamos a ideia de que espectadores são massa de modelar, seres abso-
lutamente passivos diante de poderosos meios de comunicação que fazem deles o que querem
e podem, inclusive, determinar o que pensam e sentem e mesmo seus modos de agir. Espec-
tadores não são caixas vazias, são sujeitos sociais, com crenças, costumes, histórias e pensa-
mentos próprios, que interagem com o que veem, são influenciados e influenciam também.
O século XXI e a grande acessibilidade das tecnologias de captura, produção, edição e difusão
de imagens em movimento fizeram surgir um novo espectador: alguém que, além de ver, de-
seja também produzir conteúdos audiovisuais, realizar e divulgar seus próprios vídeos tanto
quanto seus materiais escritos ou sonoros. Para as novas gerações, interagir não é apenas ver,
ouvir, navegar e comentar, é fundamentalmente fazer e “postar”, produzir e divulgar – que-
rem ver e querem ser vistos como produtores de imagens, textos e sons. E isso interfere na 18
competência para ver: quem sabe como é feito e faz tende a ter um olhar mais crítico sobre
o que é visto.
Mas, se é verdade que as novas gerações desenvolveram maior domínio da técnica para pro-
duzir imagens, pela intensificação do contato com as tecnologias digitais, cada vez mais aces-
síveis e a custos cada vez menores, é verdade também que há muito de “mais do mesmo” no
que é produzido, ou seja, repetição do padrão a partir do qual se produz o que estão acostu-
mados a ver. A tarefa da educação, nesse caso, é colocar a competência técnica a serviço do
olhar crítico, da qualidade, da inovação, da criatividade e da construção do conhecimento. E
isso exige uma formação específica.
Certa vez, um filósofo que amava o cinema no qual sessões de cinema eram exibidas se-
disse algo que hoje nos serve de inspiração manalmente, mas foi paulatinamente sendo
para escrever este breve relato: “A câmera incorporado ao cotidiano e às demandas da
funda uma consciência que se define não Faculdade, de tal maneira que se desdobrou.
pelos movimentos que é capaz de captar, Hoje apresenta seis espaços de atuação, que
mas pelas relações mentais e psicológicas serão apresentados a seguir, e é praticamen-
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nas quais é capaz de entrar ”. Este filósofo te gestado pelo entusiasmo e identificação
foi Gilles Deleuze e sua compreensão sobre dos próprios estudantes, bolsistas e voluntá-
a chamada Sétima Arte nos incita a pen- rios.
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sar o mundo como cinema, como cultura,
como arte e, sobretudo, como possibilidade É exatamente este percurso, nem sempre
de resistência. Dentro de um espaço de for- uniforme ou coeso, que parece constituir
mação, como na Faculdade de Formação de o cerne da possibilidade de sua adesão pe-
Professores da Universidade do Estado do los estudantes, que buscamos relatar aqui
Rio de Janeiro (FFP/UERJ), este movimento de modo a compartilhar esta experiência
tem expressado sua potência criativa e ex- com professores e professoras e seus res-
trapolado os muros da universidade no pro- pectivos espaços educacionais. Elencamos
jeto Laboratório Audiovisual Cinema Paraíso: três diálogos constitutivos de um dinâmico
políticas formativas no âmbito da convergên- cenário de modo a indicar, de maneira su-
cia de mídias. cinta, por onde transitamos. Inicialmente
apresentamos o cenário – uma Faculdade
O Laboratório, atualmente no seu quarto de Formação de Professores pública, situada
ano de existência, iniciou suas atividades no leste metropolitano do Estado do Rio de
em 1997, como um movimento cineclubista, Janeiro, em São Gonçalo. O primeiro diálogo
tos na web, que possibilitam dar vazão à mente, a seis linhas de atuação inter-rela-
ação política consciente dos indivíduos nos cionadas, construídas a partir da demanda
diversos ambientes reais e/ou virtuais, en- do próprio coletivo envolvido: a inclusão
gendrando, por meio da colaboração, novos do cinema como uma expressão cultural;
processos de produção do conhecimento, o incentivo à produção visual, incluindo si-
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em que o trabalho imaterial , voluntário e tes, vídeos, materiais didáticos, jogos, en-
5 Cf. Bruno, F. Tecnologias cognitivas e espaços do pensamento. In: França, R. (org.) Estudos da Comunicação.
Porto Alegre: Sulina, 2003.
6 Cf. Oliveira, L.A. Imagens do Tempo. In: Doctors, M. (org.) Tempo dos Tempos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
7 Fórmulas de fixação da memória.
8 Lazzaratto & Negri afirmam que (...) o trabalho imaterial se encontra no cruzamento (é a interface) de
uma nova relação produção e consumo. É o trabalho imaterial que ativa e organiza a relação produção/ consumo. A
ativação, seja da cooperação produtiva, seja da relação social com o consumidor, é materializada dentro e através do
processo comunicativo. É o trabalho imaterial que inova continuamente as formas e as condições da comunicação (e,
portanto, do trabalho e do consumo). Dá forma e materializa as necessidades, o imaginário e os gostos do consumidor.
A particularidade da mercadoria produzida pelo trabalho imaterial (pois seu valor de uso consiste essencialmente no seu
conteúdo informativo e cultural) está no fato de que ela não se destrói no ato do consumo, mas se alarga, transforma, cria o
ambiente ideológico e cultural do consumidor. “Ela não reproduz a capacidade física da força de trabalho, mas transforma
seu utilizador.” In: LAZZARATO, M.; NEGRI, A. Trabalho Imaterial. Formas de vida e produção de subjetividades. Rio de
Janeiro: DP & A Editora, 2001, p.45-46.
debate, com a presença do diretor e de ou- difusão, transmite, também, por IPTv.
tros componentes da produção. Os espaços
denominados Em Cena e Cine Etecera ofere- No projeto desenvolvido na FFP/UERJ, no
cem clássicos do cinema nacional e interna- âmbito do Laboratório Audiovisual Paraíso,
cional, além de filmes denominados trash o cinema, o rádio e as oficinas são pensa-
ou filmes B, e funcionam nas três últimas dos em múltiplas dimensões. Nas oficinas
quintas-feiras do mês, por meio de mostras de vídeo, por exemplo, o cinema se torna
permanentes. Sente e Curta – mostra perma- objeto de conhecimento (quando é visto de
nente de curtas, na última quarta-feira do forma analítica por quem quer aprender
mês, nos três turnos, no Espaço de Convi- suas técnicas narrativas), é também um ins-
vência da Unidade, e o espaço denominado trumento (em sua utilização como meio de
Claquete, que oferece oficinas de produção estimular debates ou análises críticas sobre
visual (material didático, curta-metragem, a produção de imagens), e é tratado como
animação, roteiro etc.). Já a Webrádio Pa- um importante meio de expressão de pen-
raíso oferece oficinas de montagem, manu- samentos e sentimentos, quando os alunos
tenção e intervenção de novas arquiteturas são estimulados a criar e exibir as suas pró-
sonoras e grade de programação regular prias narrativas imagéticas no momento
9 Este espaço, que apresentava como proposta inicial a ideia do cinema como fruição, a partir da iniciativa
dos próprios estudantes, transformou-se num espaço de estudo e debate sobre o cinema, seus diretores, suas
técnicas de filmagem etc.
10 Vale observar que a procura pelas Oficinas é bastante expressiva, ultrapassando muito o número de vagas
oferecidas. Se, por um lado, ficamos angustiados por não poder dar conta da demanda, por outro o movimento
parece explicar a grande adesão por parte dos estudantes ao projeto.
meio, mas como mais uma ferramenta para já ocorre no Cinema Paraíso.
o serviço de radiodifusão e do direito de livre
comunicação, atrelado a outros modos de Um espaço livre, inventivo, experimental,
fazer e pensar rádio. Rádio-arte. colaborativo e com um elo fundamental – a
valorização da experiência estética no pro-
Realizamos no mês de novembro de 2009 a cesso formativo. Assim caminhamos, com
1ª Oficina de Webrádio, que proporcionou o inestimável apoio da FAPERJ, mais de 30
um conhecimento sobre o pensamento do estudantes, entre bolsistas e voluntários,
11 Programas em andamento: DemoShow – programa direcionado a bandas que não estão circulando nas
grandes mídias. Canal positivo para divulgação de trabalhos de bandas de garagem, bandas que tocam em bares,
para o artista do anonimato; Estômago musical – programa que une culinária variada (gente de todas as idades e
gostos indicando receitas) e música; EnQuantun – programa de entrevista com professores pesquisadores; Encontros
de Po & Sai – programa de poemas e poesias, trabalha com poetas que marcaram a história e também com poetas
da comunidade; Cinema Cego – programa que retransmite filmes em que o áudio está em destaque e debate sobre
a construção dos mesmos; Ritornelo Urbano – programa que visa debater questões sociais, culturais e políticas
nos centros e periferias urbanas; Roda Marginal – programa de entrevistas com artistas, produtores culturais etc.,
sobre a questão cultural no Estado do Rio de Janeiro, também para divulgação de trabalhos; Meio dia, Meia noite –
programa de agenda cultural; Paradigmas Verbalizados – programa para que os graduandos/pesquisadores debatam
sobre suas pesquisas e trabalhos acadêmicos.
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As crianças e a TV
Televisão: apenas um dos canais de dialogia entre o
adulto, a criança e o mundo
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Katia de Souza e Almeida Bizzo
Este texto tem por objetivo trazer à tona a que a criança é um vir a ser, ou seja, algo que
reflexão sobre a relação da criança com a te- ainda não é.
levisão e dos adultos com essa relação. Para
tanto, é preciso refletir sobre a forma como Outra forma costumeira de perceber a infân-
as diferentes infâncias são olhadas e perce- cia é questionando o que as crianças de hoje
bidas pela sociedade e qual o lugar que os não vivem, comparando com a infância que
programas televisivos ocupam nesse entor- os adultos tiveram. A cultura de infância de
no social, nos dias de hoje. hoje, de uma forma geral, é bem diferente da
cultura de 30 anos atrás e os adultos costu-
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A história social da infância mostra que os mam lamentar essa diferença, percebendo o
mundos etários mudaram seus lugares na que atualmente se deixa de fazer quando se
sociedade no decorrer dos anos. Antigamen- é criança.
te, as crianças eram vistas como seres sem
identidade, sem sabedoria. Seres que viriam Durante muito tempo, foi costume manter a
a ser adultos, mas que ainda não tinham a criança à margem da família, longe da idade
importância de um ser humano constituído, da razão (ARROYO, 1994). A mudança de olhar
como os adultos. Na medida em que a vida para essa geração está relacionada à mudan-
foi acontecendo, a visão de infância foi se ça de outros sujeitos, como as mulheres, que
transformando. Atualmente, vivemos em também ganharam espaço de autonomia na
um período que, enquanto muitos pesquisa- sociedade e tal mudança contribuiu direta-
dores abordam o tema da infância, reconhe- mente para novas interações com as crian-
cendo-a como legítima em suas plenitudes, ças. O afastamento da mulher das atividades
complexidades e lógicas, na prática, ainda do lar, incluindo a diminuição da disponibili-
há, de forma bem contundente, a cultura de dade para educar seus filhos, fez com que a
1 Formada em Marketing e Pedagogia, especialista em Educação Infantil, pela PUC/RJ, Mestre em Educação
pela UERJ e professora de Educação Infantil na rede particular do Rio de Janeiro.
Por sua vez, nessa busca de garantir às ção também pesquisam sobre as preferên-
crianças o que os adultos consideram ade- cias infantis e as redes de televisão montam
quados para as mesmas, cria-se um abismo mapas sobre os índices de audiência das
cada vez maior entre as gerações, pois sur- diferentes faixas de telespectador em suas
gem linguagens tão próprias das infâncias programações. Pesquisas da empresa Rede
que os próprios adultos não conseguem Globo, líder do mercado nacional televisivo,
entender e, assim, as crianças são levadas a mostram que os programas mais assistidos
dialogar mais com a televisão do que com os pelas crianças nesta emissora são as teleno-
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próprios pais (BUCKINGHAM, 2007). velas , com audiência infantil maior do que
rar a influência da televisão em todas elas, mos sobre o que elas têm a nos dizer. Te-
principalmente no Brasil, onde este meio nho consciência de que jamais poderemos, 30
audiovisual se encontra em quase todos os nós, adultos, assumir o ponto de vista das
lares, de todos os cantos do nosso país. Ao crianças e de que não há perguntas certei-
mesmo tempo, ao se considerar infâncias ras para se atingir a esse fim, mas há a ne-
que nós, adultos, não vivemos, perdemos o cessidade de escutá-las e de buscar diálogos
controle sobre o que pensam, fazem ou sen- que enriqueçam as possibilidades de nossas
tem, pois não temos na nossa experiência a reflexões, interagindo, ao menos, com suas
vivência das novas infâncias. Portanto, vejo vozes e nossas interpretações.
no discurso do “fim da infância” um pouco
de angústia da geração mais antiga, por ver, Durante muitos anos e ainda presente nos
junto com esse fim, o término de um elo tempos atuais, a criança foi (e muitas vezes
de afinidades. Precisamos, então, construir ainda é) vista como um sujeito a ser cons-
novos elos, sem descartar as diferenças e a tituído, representado por suas faltas. Faço
importância da interação das distintas cate- aqui a proposta de vermos a situação por
gorias geracionais. Há de se considerar que: outro ângulo: somos nós que ainda não con-
seguimos vê-las como elas são. Neste caso,
Não podemos trazer as crianças de vol- nós somos os seres que apresentam faltas
ta ao jardim secreto da infância ou en- e que precisam vir a ser. Vir a ser mais sen-
tuação de ainda não conseguir, somos nós, os anos recentes: o estudo da recepção em
Ministério da Educação
Coordenação-geral da TV Escola
Coordenação Pedagógica
Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Grazielle Avellar Bragança
Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Setembro 2010