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COLÉGIO EQUIPE DE RIO BRANCO

Língua Portuguesa (Redação)


Prof. Leonardo – 7º Ano

ALGUNS CONCEITOS PARA


INÍCIO DE CONVERSA...

1. O que é Língua?
Para compreendermos o conceito de língua, devemos considerar três pontos de vista:

a) Biológico-metal: a língua constitui-se como uma capacidade (competência linguística) biológica e


mental de produzir um infinito número de sentenças a partir de um finito número de regras e
parâmetros, sendo inata a cada ser humano, ou seja, ela já nasce com a gente. No entanto, essa
faculdade inata só se desenvolve quando a gente passa a experimentar a língua: é o contato diário
com uma determinada língua que permite à criança “construir” as regras da língua e formar o
sistema lingüístico (gramática) daquela língua em sua mente;

b) Sistêmico: trata-se de um conjunto organizado de signos que são utilizados nas interações verbais
por nós, indivíduos sociais de uma dada comunidade. Esses signos (palavras) se organizam por
meio de regras que são adquiridas ao longo do nosso desenvolvimento psicológico e mental,
sendo divididas em vários níveis:

i) Fonológico/ortográfico: corresponde ao nível dos sons (fonemas) e das letras (grafemas) de


uma determinada língua. Por exemplo, o sistema fonológico e ortográfico do português é
diferente do da língua inglesa;

ii) Morfológico: diz respeito ao nível das palavras e da formação de palavras. Cada palavra é
formada pela junção de outros elementos menores, os morfemas, que seguem algumas regras
(e.g. pescador = pesca- + -dor). Iremos observar que a formação de novas palavras
(neologismos) segue regras que são adquiridas pelas crianças ao longo de seu
desenvolvimento;

iii) Sintático: é o nível das frases e da formação das frases. Um sistema lingüístico, ou uma
gramática (que são a mesma coisa) segue regras específicas para construir frases. No
português, por exemplo, há algumas frases como “choveu ontem” que podem ser escritas sem
sujeito, fato esse não observável no inglês (It rained yesterday) e no francês (Il a plui hier).
Além disso, as frases do português obedecem, na maioria das vezes, uma ordem específica
(Sujeito + Verbo + Objeto), enquanto o latim a ordem não importa;

iv) Semântico: corresponde ao nível da significação, isto é, cada palavra é formada por uma
cadeia de letras ou sons denominada de significante (e.g. p+o+r+t+a = porta), por um
significado (porta=abertura retangular, com o lado vertical mais comprido e a base ao nível do

chão ou de um pavimento, que serve de entrada para um recinto) e por um referente ( ).

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Figura 1 - Representação do Signo linguístico e seus componentes

v) Pragmático: diz respeito ao nível do sentido que é uma significação mais elaborada. O sentido
depende do contexto da interação verbal para ser apreendido. Assim, num determinado
contexto, a palavra “porta” pode ter um sentido diferente de sua significação do dicionário;

c) Social: a língua consiste em um produto social compartilhado por uma comunidade específica.
Em outras palavras, a comunidade dos brasileiros fala o português, a comunidade dos franceses o
francês, o povo do Japão, o japonês. Dessa forma, de acordo com a comunidade em que uma
criança é inserida, ela irá adequar-se a língua falada por essa comunidade. Além disso, esse
aspecto social permite perceber as variedades linguísticas no tempo e no espaço.

Assim, a língua é, ao mesmo tempo, uma faculdade (competência) biológica e mental, um


sistema organizado e um produto social que utilizamos para diversos fins em nossas
interações verbais. Ela pode se manifestar de forma oral (língua falada ou língua oral),
utilizando o conjunto de sons da língua, ou de forma escrita (língua escrita), valendo-se do
sistema ortográfico da mesma (Lembre-se que, a partir de 2009, a língua portuguesa sofreu
algumas modificações referentes ao seu sistema ortográfico: algumas letras (grafemas) foram
incorporadas, como o K, W, Y, algumas palavras perderão o acento (e.g. ideia, voo, deem),
dentre outras).

A língua se manifesta de forma espontânea através da fala. Logo, toda língua nasceu e nasce a
partir das falas dos indivíduos. Depois é que esses mesmos indivíduos chegam a uma espécie
de acordo e criam a língua escrita. O português, por exemplo, nasceu a partir da fala de alguns
grupos que habitavam a península ibérica (Portugal e Espanha) por volta dos séculos XI, XII
e XIII d.c. No século XIII e XIV, é que começa a aparecer os primeiros textos escritos da
língua portuguesa.

2. O que é Linguagem?
É capacidade de comunicar ideias e sentimentos por meio de palavras, imagens, sons, gestos,
cores, expressões faciais, etc. Nesse sentido, a linguagem é a manifestação concreta da língua,
isto é, linguagem é a língua em uso. Ela pode ser de dois tipos:

a) Linguagem verbal: quando, para comunicar-se ideias e sentimentos, utilizamos as


palavras de uma determinada língua;

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b) Linguagem não-verbal: é a utilização de gestos (linguagem corporal), cores e imagens
(linguagem visual), ou sons (linguagem musical) para fins de comunicação.

Exemplo 1 - Linguagem não-verbal

Exemplo 2 - Linguagem verbal e linguagem não-verbal

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Exemplo 3 - Linguagem verbal

3. O que é Comunicação ou Interação verbal?


A interação verbal é o “dispositivo” que permite transformar a língua em linguagem, ou seja, é o
dispositivo em que a língua é usada. Nenhum uso da língua se faz sem a presença desse dispositivo
que é a interação verbal. Ele é elementar.

Dessa forma, a língua, seja como uma capacidade/faculdade mental e biológica, seja como um produto
social, só tem existência efetiva em uma situação concreta de interação verbal, isto é, a língua, isolada
de seu uso, é somente um elemento abstrato, enquanto a interação verbal (Iinguagem) é a realidade
concreta da língua.

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Figura 2 - Representação de uma interação verbal

Pela figura 2 acima, observamos que toda interação verbal é constituída por alguns elementos.
Vejamos quais são eles:

ELEMENTOS DA INTERAÇÃO VERBAL

É aquele que fala/escreve em uma interação verbal. O


locutor inicia a interação verbal utilizando a língua ou
algum outro código. Ao falar/escrever o locutor tem um
1. Locutor: determinado objetivo (intenção): ele pode desejar que o
seu interlocutor acredite no que ele fala; ele pode
objetivar falar mal de alguém; pode desejar que alguém
adquira alguma coisa para ele, etc.
É aquele a quem o locutor se dirige. O interlocutor tem o
papel de interpretar as informações do locutor e também
3. Interlocutor: de exprimir sua opinião: concorda, não concorda,
concorda em termas. Essa opinião nem sempre é
verbalizada, ela pode ocorrer somente no nível mental.
É o resultado da interação verbal, bem como o elemento
mediador (que está no meio) entre o locutor e o
interlocutor. Toda vez que o locutor inicia a interação
verbal ele tem um objetivo que se vê concretizado no
4. Texto:
texto que ele produz. O texto manifesta linguisticamente
as ideias do locutor dentro do dispositivo de interação. É
nele que encontramos a mensagem, o dito, o q é falado
ou foi falado na interação.
É a forma que o texto adquire considerando a situação de
comunicação na qual o locutor e o interlocutor estão
5. Gênero textual: inseridos. Todo texto está sempre organizado em um
gênero que possui diversas características. Exemplos de
gêneros são: diálogo, bilhete, carta, conversa de msn,

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etc.
Diz respeito aos elementos concretos na qual a interação
verbal ocorre., ou seja, os aspectos físicos, sociais,
Circunstância
temporais e espacionais da interação. Uma sala de aula,
6. sócio-histórica
com o quadro negro, as carteiras, as janelas, os cadernos,
imediata:
os livros, etc. corresponde, por exemplo, à circunstância
sócio-histórica imediata de uma aula de português.
É aquilo que uma determinada comunidade acredita. Essa
ideologia é muito importante para compreender a
interação verbal na medida em que ela nos mostra como
7. Ideologia: os objetos e os seres do mundo são “observados” por essa
comunidade. Um exemplo de ideologia pode ser
observado em relação à nossa política: nós, como
sociedade, não gostamos da corrupção. Isso é a ideologia.

Exemplo 4 - Textos e suas Ideologias

Nos textos acima, vemos que há ideologias diferentes. O primeiro exemplo é uma publicidade
da década de 1940 e nela observamos que há uma ideia, uma ideologia, quanto ao hábito da
escovação diária e do cuidado com a saúde bucal. Essa mesma ideologia não está presente no
segundo texto, que é um anúncio publicitário da atualidade. Isso nos mostra que na década de
1940 o cuidado com a saúde bucal não era ainda um hábito social e por isso a publicidade
enfatiza tal hábito. No contexto da atualidade, tal hábito já é bastante comum – na verdade é
algo que todos nós sabemos desde pequenos –, não sendo necessário ser evidenciado na
publicidade. Eis ai o exemplo de como a ideologia age em nossa vida: ela é aquilo que uma
comunidade acredita e tem como hábito.

4. O que é texto?

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Considere os exemplos abaixo:

Você considera os exemplos acima textos? Por quê?

Texto é qualquer produção linguística, falada ou escrita, de qualquer tamanho, que possa
fazer sentido numa situação de comunicação humana. Pelo fato de fazer sentido numa
situação de interação verbal, texto é também o resultado da interação, pois é nele que se
encontram realizados as finalidades comunicativas dessa situação, bem como ele é o
mediador entre o locutor e o interlocutor. A mensagem do texto é sempre dirigida de um
locutor para um interlocutor, sendo que aquele, o locutor, considera as condições da situação
de comunicação e também o interlocutor para produzir o texto.

Assim, se consideramos os cinco exemplos acima, veremos que todos são textos. O texto 5,
por exemplo, é uma placa de pedido de silêncio que encontramos nos corredores de hospitais,
clínicas, postos de saúde, etc. Nele, percebemos que há dois indivíduos, o hospital e o leitor
da placa, que estão em interação. A placa surge como a manifestação verbal (isto é,

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manifestação que se realiza por meio da língua) da interação entre esses dois indivíduos,
tendo como objetivo o próprio pedido de silêncio. Além disso, ela está de conformidade com
a situação em que ela se encontra: no hospital é necessário fazer silêncio, pois há várias
pessoas doentes que precisam de repouso.

Um texto é sempre uma atividade verbal criativa e intencional, na qual o locutor, de


conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido (gênero e situação de
comunicação), dá a entender seus propósitos e objetivos ao seu interlocutor através da
manifestação verbal (palavras, frases, orações, períodos, etc.). Isso quer dizer que a
criatividade de um texto não pode extrapolar o limite da situação de comunicação e do gênero
textual. Por exemplo, se você, como dono de uma empresa, escrevesse uma carta de
recomendação sobre um de seus funcionários a uma outra empresa, você só poderia discorrer
sobre temas ligados às empresas e à vida profissional do funcionário. Assuntos de cunho
privado não poderiam ser colocados na carta. Além disso, como se trata do gênero textual
carta, essa teria que utilizar a organização que uma carta tem: a) local/data, b) saudação, c)
corpo da carta, d) despedida e e) assinatura.

Assim, texto:

é a manifestação linguística de uma interação verbal entre dois indivíduos dentro de uma
situação de comunicação específica, na qual o locutor deseja realizar um propósito
comunicativo ou uma intenção comunicativa enquanto o interlocutor depreende essa
intenção e emite a sua “resposta”.

A partir da noção apresentada acima, podemos depreender que:

• Todo texto é intencional, isto é, é produzido segundo uma determinada intenção:

Estou aqui para dizer o que?

• Todo texto é uma manifestação verbal; em outras palavras, utiliza-se da língua


(orações, períodos, frases, palavras, morfemas, etc.) para realizar essa intenção;

• O sentido do texto não reside em si próprio, pois o mesmo está vinculado a um


determinado gênero - que, por sua vez, está veiculado em uma situação de
comunicação -, além de ser produzido para um(s) interlocutor(es) específico(s);

• Todo texto deve ser produzido de forma a deixar claro a intenção de quem o
produz (locutor) e a se adequar a um gênero e a uma situação de comunicação
específicos;

• É uma atividade criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias


concretas de ação e a escolha de meios adequados à realização dos objetivos:

Como posso dizer o que quero dizer de forma que alcance o meu objetivo?

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5. O que é Gênero textual (ou discursivo)?

Gênero textual é uma classe de textos que possuem aspectos semelhantes entre si, o que permite dizer
que todo texto produzido em uma interação verbal está vinculado a um gênero. Sendo o texto o
resultado de uma interação verbal, logo o gênero textual está relacionado com as características dessa
interação verbal, constituindo, portanto, em um elemento sócio-interativo-comunicativo. Toda situação
de interação verbal é determinada por uma espécie de “contrato”. Assim, são as “cláusulas” desse
“contrato” que possibilitam aos falantes de uma língua utilizar os gêneros. Os gêneros são infinitos e,
de acordo com as transformações sociais, eles surgem e desaparecem.

Ex: gênero diário íntimo > gênero blog

• Função: o gênero tem a função de formalizar a interação verbal para que o sentido do texto
possa ser melhor apreendido e também produzido. Ao utilizar algum gênero em sua fala/escrita, o
falante tem um horizonte de expectativa em relação à produção do texto ou a interpretação do
mesmo. Em outras palavras, uma mesma informação em gêneros diferentes, tem sentidos
diferentes. Vejamos os exemplos abaixo:

IBGE aponta que a distância


entre ricos e pobres
diminuiu

Gênero: Charge Gênero: Manchete


Exemplo 5 - O sentido da informação e os gêneros

Nos exemplos acima, vemos que a informação “IBGE diz que a distância entre pobres e ricos diminui
no Brasil” ganha sentidos diferentes devido aos gêneros. No caso da Charge, a informação deve ser
interpretada como uma crítica à realidade, já que a linguagem não-verbal mostra uma informação
contraditória à linguagem verbal. No caso da Manchete, ao contrário, a informação deve ser
interpretada como verdadeira, como algo que está de fato acontecendo no país, pois nesse caso o
gênero tem um caráter de verdade.

Alguns exemplos de gêneros textuais: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance,
bilhete, reportagem jornalística, reunião de condomínio, pauta de reunião, crônica jornalística, artigo
de opinião, receita culinária, lista de compras, horóscopo, bula de remédio, cardápio de restaurante,
resenha, resumo, edital de concurso, e-mail, perfil do Orkut, bate-papo pelo MSN, etc. Todo texto,
seja ele falado ou escrito, está organizado em um gênero, que por sua vez, dá algumas características e
particularidades a esse texto.

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Gênero textual é uma classe de textos organizada a partir de características semelhantes
que os textos compartilham entre si. A função do gênero é orientar e organizar as
interações verbais, de modo que tanto o locutor quanto o interlocutor possam
compreender um ao outro.

Cada gênero possui características próprias, organizadas nas seguintes categorias:

ELEMENTOS DO GÊNERO

Cada gênero tem uma intenção específica que


tenta responder à seguinte pergunta: estamos
Finalidade (propósito
1. aqui para dizer o que? Um gênero como o
comunicativo do gênero): horóscopo tem como finalidade predizer sobre
a vida de alguém a partir do signo do zodíaco;
É sobre o quê um determinado gênero pode
falar (do que se trata o gênero?). No caso do
horóscopo, os temas são variados: amor,
família, dinheiro, saúde, trabalho. Porém,
2. Tema: quando se trata de um texto pertencente ao
gênero Procuração, o tema é a pessoa que
passa a ser o procurador e o objeto de
procuração;
São os papéis que o locutor e o interlocutor
assumem no gênero (quem fala com quem no
3. Identidade: gênero?). No gênero aula de português, o
locutor tem o papel de professor e o(s)
interlocutor(es) de aluno(s);
É o design do gênero. Um pacote de biscoito,
4. Formato: por exemplo, tem um formato diferente de
uma carta.
É o meio ou veículo que transporta o gênero.
O horóscopo geralmente é veiculado em uma
5. Suporte: revista ou jornal (suportes). Já a telenovela é
veiculada na televisão (suporte).
refere-se aos aspectos linguísticos do gênero
(como devo falar nesse gênero?). Há gêneros
que exigem um estilo mais formal, como a
6. Estilo: procuração, a bula de remédio, a declaração;
há outros que exigem um estilo mais informal,
como a charge ;
São os tipos textuais que um determinado
gênero admite ter. Por exemplo, o Perfil do
Orkut é um gênero cujo tipo textual
predominante é o tipo descritivo, enquanto
7. Tipo Textual uma Nota-Conselho tem como tipo
predominante o tipo argumentativo. Um
gênero pode ter como predominante apenas
um ou mais de um dos tipos textuais.

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Abaixo, colocamos dois exemplos de gêneros para que possamos melhor compreender o conceito.

Exemplo 6 - Gêneros textuais

6. O que é tipo textual?

Todo texto, além de estar vinculado a um gênero, é constituído por sequências linguísticas, os
chamados tipos textuais, que organizam o material linguístico (advérbios, substantivos,
orações, verbos, concordância, etc.) em função de certas finalidades: narrar, descrever,
argumentar, expor e ordenar e de certos pontos de vista.

Assim, os tipos textuais são sequências linguísticas organizadas em torno das finalidades
de narrar, descrever, argumentar, expor ou ordenar. Dessa forma, existem cinco tipos
textuais, a saber:

a) Narrativo → narrar;
b) Descritivo → descrever;
c) Argumentativo → argumentar;
d) Expositivo → expor;
e) Injuntivo → ordenar.

Um texto, devido ao seu gênero, pode fazer uso de um ou mais desses cinco tipos acima. Um
anúncio publicitário, por exemplo, faz uso do tipo Descritivo e Argumentativo na maioria dos
casos.

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