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REFLEXÕES SOBRE O MULTICULTURALIS O NA ESCOLA E NA

FORMAÇÃO DOCENTE1
(REFLECTION ABOUT MULTICULTURALlSM IN SCHOOL ANO IN THE
FORMATION OF TEACHERS)

ANA CANEN"
k .ró: '10 hÁ VIO BARBOSA MOREIRA 3

RESUMO INTRODUÇÃO

o artigo focaliza o multiculturalismo e suas im- A pluralidade de culturas, etnias, religiões, visões de
plicações para o currículo da escola e da formação mundo e outras dimensões identitárias tem sido cada
docente. Apresenta a emergência de preocupações vez mais reconhecida nos di ersos campos da vida
multiculturais, examina abordagens teóricas, discute contemporânea. A complexidade das relações, tensões
princípios e estratégias de um enfoque multicultural e conflitos advindos de choques e entrechoques des-
na educação, bem como analisa questionamentos que sas identidades plurais e de suas lutas por afirmação e
têm sido feitos ao multiculturalismo. O argumento cen- representação em políticas e práticas sociais extrapola
tral é que as tensões e os questionamentos dirigidos ao o âmbito da mera reflexão acadêmica. Esse panorama
multiculturalismo não inviabilizam o projeto multi- invade nosso cotidiano, evidenciando-se nos noticiá-
cultural; ao contrário, podemfavorecer o avanço teó- rios repletos de preconceitos, xenofobia e guerras, nos
rico e o desenvolvimento de propostas curriculares espaços virtuais, em que cada vez mais se difundem
pautadas em uma orientação multicultural. mensagens racistas e discriminatórias, bem como em
qualquer local em que se expresse a face desumana
Palavras-chave: multiculturalismo, cultura, educa- do ódio, da exclusão ou do desprezo ao "outro", per-
ção multicultural, currículo, formação docente cebido e tratado como diferente.
Considerar a plural idade cultural no âmbito da
educação e da formação docente implica, portanto,
ABSTRACT pensar formas de se valorizar e se incorporar as iden-
tidades plurais em políticas e práticas curriculares.
The article focuses on multiculturalism and its Implica, também, refletir sobre mecanismos discrimi-
implications to school curriculum and teacher training natórios ou silenciadores da pluralidade cultural, que
courses curriculum. II presents the emergence of tanto negam voz a diferentes identidades culturais,
multicultural concerns, examines theoretical silenciando manifestações e conflitos culturais, como
approaches and discusses principies and strategies buscam homogeneizá-Ias em conformidade com uma
of a multiculturally oriented education. It also perspectiva monocultural. A partir de tais reflexões,
analyses main challenges to multiculturalism. 1t is ao mesmo tempo amplamente defendidas e criticadas,
argued that despite all the tensions and questionings constitui-se a base do que tem sido denominado de
involved in multicultural theorizing and practice, multiculturalismo em educação. Difundem-se, então,
mu/ticultural initiatives are feasible. The tensions and as discussões sobre os objetivos e as possibilidades
questionings are even seen as favouring both the de uma prática pedagógica multiculturalmente orien-
theoretical and practical development of the field. tada, sobre as divergências teóricas e metodológicas
referentes à própria concepção de multiculturalismo,
Keywords: multiculturalism - culture - multicultural bem como sobre os diversos contextos do multicultu-
education - curriculum - teacher training ralismo e suas especificidades.

I O presente texto constitui versão modificada de texto de apoio utilizado no minicurso Multiculturalismo, currículo e formação
docente, ministrado pelos autores na XXII Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, 26 a 30 de setembro de 1999
2 Professora Adjunta da Faculdade de Educação da UFRJ. Doutora em Educação pela Universidade de Glasgow
3 Professor Titular da Faculdade de Educação da UFRJ. Doutor em Educação pela Universidade de Londres

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Ao mesmo tempo, os debates recaem, muitas dem palavras como agricultura, floricultura.
vezes, ora em metadiscussões que pouco contribuem suinocultura.
para a construção de currículos multiculturais, ora em O segundo significado emerge no início do
radicalismos e posições dogmáticas que contradizem século XVI, estendendo a idéia de cultivo da terra
o fundamento ético, a verdadeira condição de exis- e de animais para a mente humana. Ou seja, fala-
tência do multiculturalismo - a presença do diálogo se em mente humana cultivada, chegando-se a con-
(Gutmann, 1994). Em decorrência de todas essas po- cluir que somente alguns indivíduos, grupos ou
lêmicas, pode ser útil situar a emergência do classes sociais apresentam mentes e maneiras cul-
mu\ticu\tura\ismo, clarificar suas abordagens teóricas tivadas e que somente algumas nações apresentam
e possíveis desdobramentos curriculares, identificar elevado padrão de cultura ou civilização. No sé-
tensões e discutir as possibilidades de uma aborda- culo XVIII, consolida-se o caráter classista da idéia
gem multicultural na promoção de uma educação de cultura, evidenciado na idéia de que somente as
democratizadora,' crítica e comprometida com o de- classes privilegiadas da sociedade européia poderi-
senvolvimento de uma cidadania plural e participativa. am aspirar ao nível de refinamento que as caracte-
São esses os objetivos do presente trabalho, que se rizaria como cultas. O sentidoainda hoje empregado
estrutura em quatro partes. Na primeira, apresenta-se de cultura, que a associa às artes, tem suas origens
o conceito de cultura do qual se parte, bem como suas nessa segunda concepção: cultura, tal como a con-
implicações para a concepção de currículo adotada. cebem as elites, corresponde ao bem apreciar mú-
Na segunda, discute-se o conceito de multicul- sica, literatura, cinema, teatro, pintura, escultura,
turalismo, situando-se sua emergência em diferentes filosofia etc.
contextos e sua constituição em campo de estudos No século XX, a noção de cultura passa a in-
acadêmicos. Na terceira, caracterizam-se as diferen- cluir a cultura popular, hoje penetrada pelos conteú-
tes abordagens de multiculturalismo e analisam-se suas dos dos meios de comunicação de massa. Distinções
possíveis contribuições para a materialização de uma e tensões entre os significados de cultura elevada e de
educação escolar crítica e transformadora. Na quarta, cultura popular acentuam-se, acarretando um uso do
focalizam-se possíveis princípios de uma abordagem termo cultura no qual valorizações e avaliações se en-
multicultural nos campos do currículo e da formação contram inevitavelmente presentes.
docente. Na quinta, discutem-se experiências de edu- Um terceiro sentido da palavra cultura, origi-
cação multicultural. Por fim, apresentam-se desafios nado no Iluminismo, a associa a um processo secular
e questionamentos ao multiculturalismo, sugerindo- geral de desenvolvimento social. Esse significado é
se caminhos para o desenvolvimento de pesquisas comum nas ciências sociais, apontando para a crença
multiculturalmente orientadas. Argumenta-se que, lon- em um processo unilinear e histórico de autode-
ge de inviabilizarem o projeto multicultural, as ten- senvolvimento da humanidade, peloqual todas as so-
sões e as críticas a ele dirigi das podem tanto favorecer ciedades inevitavelmente passam. Vale acrescentar que
o avanço do conhecimento na área, como estimular tal processo termina por equivaler aos rumos seguidos
propostas curriculares renovadas que visem a prepa- pelas sociedades européias, as únicas a atingirem o grau
rar cidadãos e docentes capazes de bem viver e atuar mais elevado de desenvolvimento.
em sociedades cada vez mais multiculturais. Em um quarto sentido, a palavra "culturas" (no
plural) indica os distintos modos de vida, valores e
significados compartilhados por diferentes grupos (na-
CONCEPÇÕES DE CULTURA E IMPLICAÇÕES ções, classes sociais, subculruras) e períodos históri-
PARA AS REFLEXÕES SOBRE CURRíCULO cos. Trata-se da visão antropológica de cultura,
correspondente aos significados que os grupos com-
Os sentidos atribuídos ao termo cultura têm partilham, ou seja, aos conteúdos culturais. Cultura
variado ao longo do tempo, particularmente no perío- identifica-se, assim, com aforma geral de vida de um
do da transição de formações sociais tradicionais para dado grupo social.
a modernidade. Com o apoio de Bocock (1995), apre- Finalmente, um quinto significado tem tido con-
sentam-se alguns deles. siderável impacto nas ciências sociais e nas humani-
O primeiro e mais antigo significado de cultu- dades em geral. Deriva da antropologia social e
ra encontra-se na literatura do século XV, em que a também se refere a significados compartilhados. Di-
palavra refere-se a cultivo da terra, de plantações e ferentemente da concepção anterior, porém, enfatiza
de animais. É nesse sentido que ainda hoje se enten- a dimensão simbólica, o que a cultura faz, em vez de

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BH/UFC
destacar o que a cultura é. Nessa mudança, efetua-se MULTICULTURALISMO: CONCEPÇÕES E
um movimento do quê para o como. Concebe-se, as- SUBSTRATOS TEÓRICOS
sim, a cultura como prática social, não como coisa
(artes) ou estado de ser (civilização). Nesse enfoque, Para Kincheloe e Steinberg (1997), o rnulticul-
coisas e eventos do mundo natural existem, mas não turalismo significa tudo e ao mesmo tempo nada.
apresentam sentidos intrínsecos: os significados são Segundo os autores. não se pode falar de multicul-
atribuídos a partir da linguagem. Quando um grupo turalismo, neste final de século, sem se especificar
compartilha uma cultura, compartilha um conjunto com clareza o sentido atribuído ao termo. Falar em
de significados, construídos, ensinados e aprendidos multiculturalismo pode indicar diferentes ênfases: (a)
nas práticas de utilização da linguagem. A palavra cul- uma atitude que se pretenda ver desenvolvida em re-
tura evoca, portanto, o conjunto de práticas por meio lação à diversidade cultural; (b) uma meta a ser
das quais significados são produzidos e compartilha- alcançada em um determinado espaço social; (c) um
dos em um grupo. São os arranjos e as relações en- valor (de tolerância, de respeito) a ser desenvolvido
volvidas em um evento que passam, dominantemente, entre indivíduos; (d) uma estratégia política de reco-
a despertar a atenção dos que analisam a cultura a nhecimento da diversidade cultural e esforços de re-
partir dessa quinta perspectiva, passível de ser resu- presentação política das mesmas; (e) um corpo teórico
mida na idéia de que cultura representa um conjunto de conhecimentos que buscam entender a realidade
de práticas significantes. cultural contemporânea; (f) uma visão crítica do co-
Se entendermos o currículo, como propõe nhecimento transm itido pelas instituições organi-
Williams (1984), como uma seleção da cultura, pode- zadoras da cultura; (g) o atual caráter das sociedades
mos concebê-lo, também, como conjunto de práticas ocidentais (Kincheloe e Steinberg, 1997 ; McLaren,
que produzem significados. Nesse sentido, conside- 1997; Gonçalves e Silva, 1998).
rações de Silva (1997) podem ser úteis. Segundo o Essa última perspectiva é adotada por
autor, o currículo é o espaço em que se concentram e Kincheloe e Steinberg (1997), para quem o
se desdobram as lutas em tomo dos diferentes signifi- multiculturalismo não é algo em que se acredite ou
cados sobre o social e sobre o político. É por meio do com o qual se concorde: é algo que simplesmente é.
currículo que diferentes grupos sociais, especialmen- É a inevitável condição da vida ocidental contempo-
te os dominantes, expressam sua visão de mundo, seu rânea. Pode-se responder a essa realidade de diferen-
projeto social, sua "verdade". tes modos, mas não se pode negá-Ia ou apagá-Ia.
Apoiando-se no pensamento pós-estrutural, Multiculturalismo representa a natureza dessa respos-
Silva discute as relações entre cultura e currículo, ta, que envolve a formulação de definições conflitantes
acentuando que cultura deve ser compreendida mais de mundo social decorrentes de distintos interesses
como produção, como criação, como trabalho, e econômicos, políticos e sociais particulares. Nessa
menos como produto, como algo pronto, acabado. formulação, as relações de poder desempenham pa-
Destaca, então, a produtividade da cultura, sua ca- pel crucial, auxiliando a conformar o modo como in-
pacidade de trabalhar, constantemente, inúmeros divíduos, grupos e instituições reagem à realidade
materiais. Todo esse trabalho de desmontagem e cultural. O multiculturalismo em educação envolve a
desconstrução, bem como de remontagem e recons- natureza dessa resposta em espaços educacionais.
trução, ocorre, acrescenta o autor, em um contexto Trata-se, nesse caso, de contextualizar e de compre-
de relações sociais que envolvem conflitos, nego- ender a produção das diferenças.
ciações, acordos. Em síntese, como a cultura, o cur- O foco nas diferenças é também defendido por
rículo pode ser concebido como: (a) uma prática de Gonçalves e Silva (1998), para quem falar do multi-
significação; (b) uma prática produtiva; (c) uma re- culturalismo implica falar do jogo das diferenças, cujas
lação social; (d) uma relação de poder; (e) uma prá- regras são definidas nas lutas sociais por atores que,
tica que produz identidades sociais. por uma razão ou outra, experimentam o gosto amar-
Se o currículo constitui o cerne da relação go da discriminação e do preconceito no interior das
educativa, corporificando os nexos entre saber, poder sociedades em que vivem. Não pode haver, então,
e identidade, será em grande parte por seu intermédio educação multicultural separada dos contextos das
que as escolas buscarão atribuir novos sentidos e pro- lutas de grupos culturalmente dominados, que bus-
duzir novas identidades culturais, auxiliando a confor- cam modificar, por meio de suas ações, a lógica pela
mar novos modos de reação à realidade social qual, na sociedade, os significados são atribuídos. As
contemporânea, inescapavelmente multicultural. abordagens pedagógicas do multiculturalismo preci-

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sam associar-se, então, a propósitos e esforços de cu- no papel central desempenhado pela cultura nas trans-
nho político. formações da vida local e cotidiana, acentuando que
No campo político, as discussões multiculturais as lutas pelo poder tendem a se desenrolar no campo
têm incidido sobre a necessidade de ressignificação de simbólico e discursivo, ou seja, no campo da cultura.
conceitos como direitos humanos, democracia e cida- Trata-se de uma verdadeira virada cultural, a partir
dania, de forma a articular, em suas formulações, rei- da qual se repensa o papel da cultura na formação das
vindicações identitárias, afirmação de padrões culturais identidades. Entendida em um sentido amplo, essa
singulares e garantia de representação política. Santos virada cultural corresponde ao desafio da noção de
(1997), Martuccelli (1996) e Taylor (1994) destacam- que a identidade emerge de uma essência a priori. Ao
se nessas discussões, identificando ambigüidades e ten- contrário, ela é tida como sendo construída, em gran-
sões nos debates igualdade X eqüidade, igualdade X de parte, por meio dos discursos culturais, elaborados
diferença, liberdade X diferença e liberdade X eqüida- e desenvolvidos em espaços diversificados. As iden-
de, no tratamento jurídico e legal dos direitos de gru- tidades seriam, nessa ótica, formadas culturalmente
pos culturais plurais. Tais debates questionam as (Hall, 1997a). Ou seja, a cultura constitui nossas iden-
injustiças ligadas à não consideração das necessidades tidades. A virada cultural traz, então, para o terreno
particulares de certos grupos da população em função das discussões, a necessidade de éompreensão dos
do caráter abstrato, pretensamente universal, que tais mecanismos de regulação e de poder que autorizam
conceitos assumem na política pública. Acentuam, ain- certos discursos e silenciam outros, que favorecem o
da, a necessidade de se inserir uma perspectiva crescimento de certas identidades em detrimento de
multicultural nos discursos, bem como de se outras. Não se trata, porém, cabe acrescentar, de uma
desconstrui-Ios de forma a favorecer uma efetiva re- categoria essencializada: a cultura constitui campo de
presentação de identidades culturais plurais nas insti- conflitos, constitui espaço em que se desenvolvem
tuições democráticas. Questões como igualdade de relações de poder em torno de práticas de significa-
oportunidades e ações afirmativas, como as que vi- ção e de representação.
sam a garantir uma quota fixa de vagas para minorias Tendo como principal objeto de estudo os fe-
étnicas em universidades, cursos ou outras instâncias, nômenos culturais, surgem, na Inglaterra, os Estudos
por exemplo, vêm à tona nesse âmbito de discussões. Culturais, cujas origens encontram-se na Sociologia
Como corpo teórico, o multiculturalismo ques- e que incorporam categorias já presentes na Antropo-
tiona o conhecimento transmitido nas diversas logia, bem como discursos provenientes do marxis-
instâncias produtoras e transmissoras de cultura, iden- mo, feminismo, pós-estruturalismo e pós-modernismo.
tificando etnocentrismos, visões estereotipadas de de- Conforme Nelson et aI. (1995), os Estudos Culturais
terminados grupos e buscando aberturas para a servem, hoje, como ferramenta de análise em diver-
incorporação de uma pluralidade de vozes, de formas sas áreas, fazendo com que sejam vistos como uma
diversas de se construir e interpretar a realidade. Con- disciplina não tradicional. Trata-se, no dizer dos au-
forme Gonçalves e Silva (1998), as categorias teóri- tores, de um campo "interdisciplinar, transdisciplinar
cas do multiculturalismo permitem uma leitura de e algumas vezes contra-disciplinar (...) comprometi-
mundo a partir de "procedimentos lógicos inerentes do com o estudo de todas as artes, crenças, institui-
às culturas dominadas, produzindo, assim, um novo ções e práticas comunicativas de uma sociedade" (p.
conhecimento e, por conseqüência, uma nova subjeti- 13), objetivando "teorizar e capturar as mútuas deter-
vidade descentrada e emancipada de valores suposta- minações e inter-relações das formas culturais e das
mente superiores" (p. 16). Busca-se, nessa perspectiva, forças históricas" (ibid., 9).
recuperar histórias e visões de mundo que perfazem Para Giroux (1995), os Estudos Culturais preo-
identidades plurais, buscando subverter a lógica dos cupam-se com a relação entre cultura, conhecimento
discursos culturais hegemônicos e as narrativas mes- e poder, interpretando a prática pedagógica como um
tras que se pretendem universais. terreno por meio do qual os estudantes discutem e
O multiculturalismo encontra terreno propício questionam, de modo crítico, os diversos discursos e
para desenvolver-se no momento em que a cultura as diversas práticas culturais. Dessa forma, pode-se
deixa de ser vista como pertencendo a uma superes- afirmar que o compromisso dos Estudos Culturais é
trutura ideológica, como considerava o pensamento refletir criticamente sobre os espaços e os discursos
marxista, e passa a assumir uma posição nuclear na que produzem e representam a cultura e as identida-
própria infra-estrutura das sociedades contempo- des culturais no mundo contemporâneo, questionando
râneas. Hall (1997a, 1997b) e Silva (1999) insistem as relações de poder que se encontram na base dessas

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representações e buscando alternativas de intervenção Às situações de violência real devem-se acres-
em projetos de mudanças culturais. Nesse sentido, centar os efeitos da violência simbólica decorrentes
Giroux defende uma visão de Estudos Culturais em do processo de globalização excludente que, ao procu-
consonância com a perspectiva de Agger (1992), para rar homogeneizar manifestações culturais, termina por
quem há de se rejeitar toda tentativa de transformar os anular vozes e experiências de grupos oprimidos. As
Estudos Culturais em uma simples metodologia de lei- reflexões multiculturais que sugerem estratégias de re-
tura de textos culturais e de esvaziá-los de seu neces- sistências e de afirmação identitária, acabam, nesse
sário comprometimento político. contexto, significativamente estimuladas.
O multiculturalismo pode ser visto como cons- À reflexão sobre histórias de âmbito mundial
tituindo uma das preocupações dos Estudos Culturais. deve-se acrescentar a preocupação em compreender
A multiplicidade de culturas, constitutivas de identi- traduções locais de mo imentos de afirmação
dades plurais, sempre em movimento e em relações identitária e em contextualizar esforços multicul-
assimétricas de poder, traz a necessidade de se turalmente orientados. Considerando a Europa, Fleuri
desconstruírem discursos e se desafiarem práticas (1998) argumenta que o multiculturalismo tem sido
silenciadoras de determinadas identidades culturais. analisado a partir da intenção de integrar imigrantes
Preconiza-se, também, a relevância de se compreen- ao país hospedeiro. Nesse sentido, tal como a cultura
der a identidade como um processo, como fluida, como contemporânea, o multiculturalismo apresenta-se
multifacetada, o que implica rejeitar todo esforço fei- ambíguo por poder ser visto, em muitos casos, como
to no sentido de reduzi-Ia a uma de suas partes e de forma de aculturar imigrantes, como possível solução
congelá-Ia em estereótipos. para os problemas que a presença de grupos étnicos
Os Estudos Culturais focalizam, assim, estra- diversos causa nos países de Primeiro Mundo (Silva,
tégias de significação e de produção das diferenças. 1999). Por outro lado, além da preocupação com flu-
Podem ser entendidos como multiculturalismo quan- xos migratórios, o multiculturalismo pode constituir
do deslocam o foco dessas estratégias para o contexto movimento de reivindicação de determinados grupos,
das identidades culturais representadas, estereotipa- visando, então, a afirmação de identidades culturais
das ou silenciadas. Essa distinção, contudo, somente específicas. É essa a perspectiva presente na elabora-
se faz para fins didáticos, uma vez que nem sempre se ção de propostas de educação multicultural que se
identificam, com clareza, as fronteiras que demarcam voltam para a preservação da identidade e da cultura
estudos multiculturais de outros estudos no âmbito dos gaélica. Ainda no Reino Unido, fortemente marcado
Estudos Culturais. pela influência inglesa, também associam-se ao
multiculturalismo a tentativa de valorização da iden-
tidade escocesa, bem como as lutas de membros de
MULTICULTURALlSMO: CONTEXTO ex-colônias por sobrevivência digna na sociedade 1
MUNDIAL E INSERÇÕES LOCAIS glesa. Na Espanha, os acontecimentos que envolve ,.,
as minorias basca e catalã constituem outro exemplo
Se o substrato teórico para a reflexão acadêmi- de movimentos multiculturalmente orientados e ilus-
ca sobre o multiculturalismo pode ser identificado como, tram as dificuldades presentes na concretização da
em grande parte, situado na matriz da virada cultural e União Européia, constituída de fato por verdadeiro
dos Estudos Culturais, sua existência é percebida na mosaico de culturas nem sempre abertas ao diálogo
dinâmica de acontecimentos mundiais nos quais se evi- (Grant, 1997).
dencia a central idade da categoria cultura em movi- Na América Latina, a preocupação com a desi-
mentos de afirmação e de resistência, que buscam gualdade e a exclusão que atingem grupos étnicos e
responder a processos de exclusão e de aniquilamento culturais marginalizados, tais como indígenas, negros
de identidades culturais. O holocausto que atingiu seis e camadas populares, fazem emergir movimentos de
milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial e as resistência a iniciativas homogeneizadoras, inspiram
atrocidades étnicas nos Bálcãs são emblemáticos da propostas multiculturais comprometidas com a valo-
relevância do multiculturalismo como estratégia políti- rização e a representação dessas identidades culturais
ca e como campo de conhecimentos, de forma a pre- em práticas sociais, culturais e políticas. No Brasil,
parar futuras gerações tanto para a rejeição de práticas os movimentos sociais que têm proliferado a partir
etnocêntricas, xenófobas e de intolerância para com o dos anos 80 têm sido particularmente relevantes no
outro, como para uma participação efetiva no proces- desenvolvimento do multiculturalismo. A partir de-
so de construção de democracias plurais. les, denuncia-se a mobilidade social diferenciada para

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brancos e negros, aponta-se a falácia da democracia tratado, então, de forma exótica, folclórica, limitando-
racial brasileira, assim como desafia-se o mito da uni- se à promoção de práticas de reconhecimento de pa-
dade linguística, apontando-se, por exemplo, para a drões culturais diversificados, com seus ritos, costumes,
presença de 206 etnias indígenas no país, cada uma culinária, etc. A idéia é que a sensibilidade à plural idade
com suas formas linguísticas e dialetais, bem como cultural passa pelo conhecimento e pela aceitação da
com traços culturais distintos. diversidade, sem que se faça necessário o
Presente em todos esses esforços multiculturais questionamento dos mecanismos pelos quais se esta-
encontram-se as aspirações, já expressas por Paulo belecem as diferenças, as discriminações e as exclu-
Freire, de dar voz aos silenciados nas histórias ofici- sões (Canen, 1997a, 1997b; Moreira, 1999).
ais, de dialogar com suas culturas, de facilitar a cons- Um segundo enfoque corresponde a uma visão
trução de uma cidadania multicultural e crítica. Como mais crítica do multiculturalismo, sendo denominado
conseqüência, a pressão por representação de diferen- de multiculturalismo crítico, interculturalismo crítico
tes identidades culturais em políticas e discursos nas ou perspectiva intercultural crítica. Nesse enfoque, a
diversas instâncias da vida pública tem tido forte im- partir de aportes da teoria crítica, as relações entre
pacto na educação, particularmente nos estudos sobre cultura e poder são trazidas à tona. Busca-se trabalhar
currículo e formação docente. Pode-se verificar que a no sentido de abrir espaço para vozes culturais anteri-
educação multicultural não é uma concessão, mas sim ormente silenciadas em currículos e práticas pedagó-
o resultado de lutas iniciadas no âmbito de movimen- gicas, desafiar preconceitos, identificar origens
tos sociais e populares visando a uma participação históricas e promover um horizonte emancipatório e
mais igualitária na vida social e cultural. transformador.
Além do espaço conquistado nessas lutas, o Críticas de autores pós-modernos e pós-
multiculturalismo também encontra terreno fértil no colonialistas têm incentivado o refinamento da perspec-
pensamento acadêmico, que cada vez mais se abre para tiva intercultural crítica. Essas críticas atingem os
a crítica cultural. Com o apoio dos Estudos Culturais, princípios centrais da teoria crítica, tais como a crença
estimulam-se reflexões sobre a constituição de iden- na possibilidade de emancipação, no progresso da soci-
tidades e sobre formas de se construírem discursos edade, no indivíduo consciente e centrado, nas grandes
que superem o congelamento de identidades e a tenta- narrativas, no indiscutível valor do conhecimento cien-
tiva de universalizar valores culturais dominantes. tífico etc, contribuindo para a reconfiguração do
multiculturalismo crítico. Novas ênfases se fazem então
sentir nas pesquisas, que passam a focalizar as formas
DO EXOTISMO DA DIVERSIDADE AO discursivas de produção das diferenças em currículos e
DESAFIO DAS DIFERENÇAS:ABORDAGENS em práticas pedagógicas. Tais estudos evidenciam sen-
MULTICULTURAIS EM EDUCAÇÃO sibilidade tanto à pluralidade de dimensões que constitu-
em nossas identidades, o que implica não defini-Ias
Conforme estudos anteriores (Canen, 1999a, unicamente por "rnarcadores-mestres" (gênero, raça,
1999b; Moreira, 1999), a identificação da abordagem classe social, nacionalidade, religião, língua etc), como
de multiculturalismo adotada é crucial para que se de- ao processo de hibridização, tido como responsável pelo
tecte em que medida o discurso de valorização da caráter difuso dos fenômenos culturais contemporâneos
pluralidade cultural supera ou apenas mascara, no ter- (García Canclini, 1990; Dussel, Tiramonti e Birgin,
reno da educação, as desigualdades e as exclusões de 1998). Tais estudos costumam refletir também a busca
identidades culturais. de formas discursivas alternativas.
Dentre as categorizações apresentadas na lite- As categorias acima mencionadas, ao serem in-
ratura, autores como Grant (1993) e McLaren (1997) corporadas ao pensamento multicultural crítico, permi-
têm proposto classificações de abordagens multi- tem fazer face às limitações de projetos multiculturais
culturais que, embora com certas distinções, parecem que analisam as identidades a partir de um marcador
convergir para o reconhecimento de tendências único, homogeneizando, equivocadamente, determi-
multiculturalis liberais ou "folclóricas", de um lado, nados grupos culturais. Tais propostas tratam do ne-
e tendências multiculturais mais críticas, de outro. No gro, do índio, da mulher e, embora defendendo a
primeiro grupo estão as concepções multiculturais que plural idade cultural, acabam por restringir-se a práti-
não problematizam as relações desiguais de poder ou cas discursivas mono lógicas.
os mecanismos discriminatórios que inferiorizam iden- O ponto de vista de que não existem comunida-
tidades culturais específicas. O multiculturalismo é des homogêneas, unificadas, localizáveis, é também

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abraçado por Ellsworth (1999). A partir da constatação incentivar habilidades e atitudes necessárias ao fortale-
de que se havia esquecido, em sua tese de doutorado, cimento do poder indi idual e coletivo, bem como de
das diferenças existentes no interior da comunidade desen olver habilidades de pensamento crítico.
lésbica, a autora busca apoio no pós-modernismo para Segundo leeter e Grant (1991), fortalecimen-
afastar-se de perspectivas monoculturais e dos méto- to do poder e educação multicultural estão entrelaça-
dos de ensino e de pesquisa tradicionais. Nesse movi- dos e, juntos apontam para uma reforma escolar
mento, rejeita o adjetivo multicultural, propondo que abrangente e poderosa Para eles, educação para o for-
se utilize o substantivo multicultura, a seu ver passí- talecimento do poder significa fazer o estudante acre-
vel de designar uma "cultura" em si e ao mesmo tem- ditar em sua capacidade para agir de modo efetivo.
po multiplicar e diversificar a noção de cultura. Tal Demanda levar em conta muito seriamente as forças,
termo parece resistir a usos estáticos, unitários, ao as experiências, as estratégias e as metas dos mem-
mesmo tempo que sugere que a cultura é sempre múl- bros dos grupos oprimidos. Demanda também ajudá-
tipla, sempre em processo, sempre em construção. 10s a analisar e a compreender a estrutura social que
Nesse enfoque, o valor da pesquisa e do ensino reside os oprime e, ainda, capacitá-Ios a alcançar seus pro-
na qualidade das multiculturas que os textos e as rela- pósitos com sucesso. Em parte, significa ajudá-Ios a
ções contribuem para produzir, apoiar, ampliar. serem bem-sucedidos nas escolas e em outras insti-
Certamente já se tornam evidentes a complexi- tuições sociais. Um bom rendimento acadêmico é, as-
dade e a polissem ia envolvidas nas discussões e nas sim, visto como condição necessária para um processo
propostas multiculturais. Analisá-Ias supõe, então, em efetivo de fortalecimento do poder dos membros de
um primeiro momento, clareza em relação à concep- grupos oprimidos.
ção de multiculturalismo adotada. Caso contrário, Se na abordagem multicultural crítica enfatizam-
corre-se o risco de se colocar, sob o mesmo termo se os processos institucionais, econômicos e estrutu-
definidor, programas pouco questionadores e progra- rais que estão na base da produção das diferenças
mas efetivamente comprometidos com a superação de (Silva, 1999), o olhar intercultural crítico, tensionado
linguagens e de práticas monoculturais. Posteriormen- pelas sensibilidades pós-modernas, percebe o currí-
te, cabe sugerir princípios norteadores de estratégias. culo como uma peça: do sistema cultural mais amplo
e, portanto, como campo de conflitos em torno da re-
presentação de vozes culturais plurais e da produção
CURRíCULO E FORMAÇÃO DOCENTE: de significados. Nessa perspectiva, trata-se de vislum-
PRINcíPIOS PARAO MUlTlCUlTURALISMO brar possibilidades de questionar o pretenso "univer-
EM AÇÃO salismo" dos discursos curriculares, desafiando os
valores que os informam, os contextos em que são
Como traduzir perspectivas mais críticas do produzidos, os signos e os significados presentes em
multiculturalismo no currículo da escola e da forma- sua construção, bem como os estereótipos e os silên-
ção docente? Que experiências já apontam para a cios que os perpassam. Por outro lado, trata-se de bus-
efetivação dessas perspectivas? Como superar propos- car formas alternativas de discursos curriculares, de
tas que se limitem a apelar para o respeito, a tolerân- forma a promover tanto a representação de vozes cul-
cia e a convivência pacífica entre diferentes culturas? turais plurais como o diálogo das diferenças.
Deve-se, inicialmente, acentuar que na aborda- Embora não caibam receitas para a elaboração
gem multicultural crítica as diferenças culturais não de currículos multiculturais na escola e na formação
podem ser concebidas à parte de relações de poder docente e seja indispensável cautela em relação a qual-
(Silva, 1999). Cabe, ainda, considerar que o processo quer esforço de universalização de propostas, algu-
curricular informado por uma perspectiva multi- mas linhas gerais podem ser sugeridas.
cultural crítica visa a dois propósitos básicos: promo- Em primeiro lugar, parece necessário que o tra-
ver o respeito pela diversidade e preparar os alunos balho curricular procure articular a plural idade cultu-
para o trabalho coletivo em prol de justiça social. No ral mais ampla da sociedade à pluralidade de
primeiro caso, trata-se de reduzir preconceitos, de es- identidades presente no contexto concreto da sala de
timular atitudes positivas em relação ao "diferente", aula onde se desenvolve o processo de aprendiza-
de promover a capacidade de assumir outras perspec- gem. O propósito é evitar que, em nome de uma va-
tivas, de propiciar o desenvolvimento da empatia. No lorização da plural idade presente na sociedade, se
segundo, trata-se de evidenciar as relações de poder reduza a educação multicultural a um elenco de tópi-
envolvidas na construção da diferença, de criar opor- cos versando sobre características étnicas e culturais

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da população. Vale envidar esforços no sentido de nâmicas que visem a sensibilizar discentes e futuros
engajar docentes e discentes no questionamento da docentes para os diferentes aspectos envolvidos na
inserção de suas identidades culturais nesse quadro construção identitária (em contraposição a uma visão
mais amplo, analisando as desigualdades, os silêncios essencializada da mesma), ou em discussões desafia-
e as exclusões nele presentes. Pesquisar os universos doras de visões estereotipadas de grupos distintos, o
culturais dos estudantes passa, então, a ser tarefa in- diálogo oferece a base indispensável para o desenvol-
dispensável nessa abordagem, a fim de que intenções vimento de uma perspectiva multicultural no currícu-
multiculturais críticas não redundem em práticas pe- lo em ação.
dagógicas distanciadas das vivências e das culturas Em quarto lugar, é necessário acentuar que os
de alunos e de futuros professores. aspectos cognitivos envolvidos na formação docente
Em segundo lugar, vale insistir que a educação não são suficientes para estimular de fato uma postu-
multicultural não pode ser reduzida ao espaço de uma ra multicultural, não podendo, portanto, ser separa-
disciplina a ser incluída no currículo (Canen, 1997a, dos de um concomitante envolvimento afetivo. Se a
1997b, 1999). Uma perspectiva multicultural deve intenção é desafiar e transformar percepções, valo-
informar os conteúdos selecionados em todas as áre- res, sentimentos, emoções, há que se procurar, cuida-
as do conhecimento, contribuindo para ilustrar con- dosa e adequadamente, organízar a prática pedagógica
ceitos e princípios com dados provenientes de culturas de modo a atingir tanto a "mente" como o "coração"
diversificadas, focalizar as diferenças como proces- do futuro docente.
sos de construção, decodificar teorias e conceitos na
perspectiva do outro, bem como desafiar mensagens
etnocêntricas, racistas e discriminatórias presentes nos CURRíCULO E FORMAÇÃO DOCENTE:
materiais didáticos e nos discursos da sala de aula. EXPERIÊNCIAS MULTICULTURAIS
Além dos conteúdos, há que se definir estraté-
gias adequadas ao trabalho multicultural na formação Experiências multiculturais têm sido desenvol-
de professores. Encontram-se na literatura especializa- vidas dentro e fora do espaço formal da escola. Algu-
da algumas sugestões: oferta de cursos que abordem mas das que se realizam fora da escola destinam-se a
questões culturais; discussões em tomo dos elementos grupos étnicos específicos, ou seja, a comunidades de
constitutivos das identidades dos professores; deba- negros, índios, imigrantes, ciganos etc. O perigo de
tes sobre questões polêmicas envolvendo pluralidade homogeneização identitária é, nesse caso, bastante
cultural e preconceitos a ela relacionados; críticas de real. Em nome, por exemplo, de uma suposta identi-
artigos polêmicos publicados na imprensa; análises dade negra, homogênea, identificável e localizável
de situações de discriminação e elaboração de ensai- pode-se minimizar a complexidade das identidades de
os sobre as mesmas com a utilização de diferentes diferentes mulheres e homens negros, com valores
fontes; reflexões pessoais sobre a própria identidade diferenciados, formas de vida e de inserção social
e sobre como diferentes aspectos dessa identidade in- variadas. Ainda vale ressaltar o perigo de uma pers-
fluenciam as experiências e as formas de significá- pectiva que busque falar sobre negros a partir da vi-
Ias; mesas-redondas com a participação de pessoas de são de mundo dos não-negros (Gonçalves e Silva.
padrões culturais diversos; desenhos do mapa-rnúndi 1998). Importa, então, distinguir estudos negros de
questionando sua construção e o etnocentrismo nele estudos sobre negros: estes últimos são construidos a
evidenciado; oferta de cursos sobre a história de um partir de uma perspectiva externa às concepções de
grupo oprimido; organização do currículo da forma- vida próprias dos membros do grupo cultural em pauta.
ção docente a partir de categorias como cultura, co- Também no caso dos índios o mesmo dilema se
nhecimento, poder, história, linguagem, diferença, apresenta. Distinguir "educação indígena' de "edu-
discriminação, identidade; análises de etnografias de cação para o índio" é central para o desenvolvimento
escolas que atendem a estudantes de distintos grupos de programas efetivos para essas identidades cultu-
culturais; análises de autobiografias, narrativas pes- rais. Kahn (1994) afirma que o que se tem feito é, na
soais, romances, poesias, músicas, filmes, anúncios' erdade. uma educação para o índio, cujo parârnetro,
participação em experiências comunitárias e assim por seja para reproduzir, seja para contestar, tem sido a
diante (Moreira, 1999). escola formal. A autora sugere que a educação indí-
Em terceiro lugar, destaque-se a importância do gena só será possível quando os intelectuais das pró-
diálogo como elemento delineador de uma prática prias comunidades indígenas assumirem a concepção
curricular multiculturalmente orientada. Seja em di- do processo pedagógico de suas escolas.

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Apesar dos problemas mencionados, o trabalho curso de formação. de modo a sensibilizar o futuro
com grupos específicos da população constitui signifi- professor para os diferentes aspectos envolvidos na
cativo aspecto do multiculturalismo em educação. construção de ua própria identidade, a relação iden-
Cabe, porém, acompanhá-Io de movimentos multicul- tidade-diferença eu-outro, pode ser percebida de ou-
turais no âmbito da educação escolar formal. A edu- tro modo. Essa perspectiva corresponde à promoção
cação multicultural não abarca apenas o trabalho com de um projeto de competência pedagógica baseado em
grupos ou identidades marginalizadas, pretendendo um processo de "conscientização cultural", que bus-
contribuir para uma transformação social que abra es- ca desafiar preconcei os e estereótipos, bem como
paço para a diversidade. Educação multicultural, por- fornecer subsídios para a reflexão sobre formas alter-
tanto, é para todos. Nesse sentido, relatos de nativas de práticas pedagógicas que incorporem a
experiências multiculturais nesse âmbito da educação plural idade cultural em conteúdos e práticas.
são desejáveis, dada sua rara presença na literatura O horizonte é a formação de um profissional
especializada no tema. reflexivo multiculturalmente comprometido, isto é,
No que se refere à formação docente multi- aquele capaz de refletir criticamente sobre seus dis-
cultural, algumas experiências foram discutidas à luz cursos e suas práticas. Tal profissional procura per-
do olhar do multiculturalismo crítico pós-moderniza- manentemente avaliar em que medida suas aulas
do (Canen, 1999b). Enfatizando ora conteúdos, ora introduzem e desenvolvem habilidades, conceitos e
estratégias, ora atitudes fomentadas nos cursos, as questionamentos que sejam úteis para os alunos vive-
experiências evidenciaram que o projeto multicultural rem na sociedade multicultural contemporânea e bem
é possível, embora permeado de desafios. Destacam- responderem a suas características e problemas.
se, a seguir, alguns deles. O trabalho com os conteúdos também é ressal-
A intenção de preparar professores para lidar tado em programas de formação docente inspirados
com a pluralidade cultural e desafiar preconceitos em pelo multiculturalismo crítico. A intenção, nesse caso,
seus discursos e práticas esbarra, muitas vezes, em é questionar a validade das teorias à luz de um poten-
resistências a aberturas para formas plurais de se con- cial opressivo nelas inerente (Canen, 1999b). Jennings
ceber as experiências da vida; outras vezes, é prejudi- (1995) ilustra tal caminho focalizando o desenvolvi-
cada por falta de sensibilidade ao caráter híbrido e mento "saudável", tal como é apresentado nas teorias
dinâmico das identidades, como no caso de um curso do desenvolvimento em Psicologia. De fato, ao des-
em que professores eram preparados em estágios em mascarar o pretenso caráter universal de valores como
escolas que atendiam a populações aborígenes. Nes- autonomia e independência, presentes na visão que
sa experiência, desenvolvida por Finney e Orr (1995), essas teorias transmitem do "ser saudável", Jennings
ainda que os estágios supervisionados tenham sido (1995) acentua o caráter liberal do contexto em que
concentrados especificamente nesses grupos, não esses valores despontam e ressalta a necessidade de
houve um trabalho concomitante relacionado às discursos alternativos, nos quais valores como comu-
identidades dos próprios docentes em formação. A nidade e interdependência, tais como são adotados por
conseqüência foi a homogeneização dos aborígenes identidades culturais diversas, sejam também repre-
no imaginário dos futuros professores, evidenciada nos sentados no "ser saudável".
diários reflexivos que elaboravam como parte da ava- Em síntese, a concretização de currículos
liação. Foi possível constatar também que a percep- multiculturais na formação de docentes pode ser
ção do outro como "diferente" permaneceu: os favorecida pelos seguintes procedimentos: associação
licenciandos não conseguiram visualizar a dialética de elementos cognitivos e afetivos na prática pedagó-
implicada na construção das identidades e das dife- gica; sensibilização para a diversidade cultural e sua
renças, nem se mobilizaram para questionar mecanis- influência na educação; conscientização cultural; de-
mos que reforçam diferenças. senvolvimento de uma prática reflexiva multicul-
A concentração de experiências multiculturais turalmente comprometida; superação de preconceitos
em grupos étnicos específicos, embora possa propici- e estereótipos; problematização de conteúdos (espe-
ar pontos de partida para o questionamento das di- cíficos e pedagógicos); reconhecimento do caráter
mensões da identidade e da diferença em outros múltiplo e híbrido das identidades culturais.
contextos, corre o risco de cair na essencialização e As experiências apresentadas indicam possibi-
na homogeneização das identidades em pauta. No en- lidades, ao mesmo tempo que evidenciam desafios a
tanto, se a experiência é acompanhada de reflexões serem vencidos na tradução do multiculturalismo em
críticas durante o estudo das disciplinas teóricas do ação na educação escolar e na formação docente.

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r"&AI"\L.IL.I"\DO:
DESAFIOS, QUESnONAMENTOS valorização do domínio afetivo no trabalho de forma-
OTENCIAIS DO MULTICULTURALISMO NA ção docente (Moreira, 1999). Outra possível conse-
CACÃO,
. NA FORMACÃO
. DOCENTE E NA qüência dessa mesma valorização é a secundarização
QUISA da análise das relações de poder que respondem pelas
diferenças na sociedade. Tais problemas são facilmen-
Os desafios a serem enfrentados pelo multicul- te percebidos em cursos de formação docente que
ismo não são poucos. Questionamentos incidem requisitam diários reflexivos dos licenciandos, nos
o multiculturalismo como campo de conhecimen- quais os processos de construção de suas identidades
--- e sobre seus aspectos políticos e teóricos, remeten- docentes são descritos em termos individuais, intuiti-
co a alguns aspectos cruciais. Em primeiro lugar, à vos, sem articular identidade e diferença e sem
sidade,já discutida, de iluminação da polissemia interpretá-Ias como construções que se realizam em
ermo multiculturalismo e da clarificação de suas um contexto excludente e discriminador. O desafio
rdagens. Nesse sentido, críticas tais como a de que torna-se desenvolver estratégias que enfatizem ade-
lticulturalismo aborda a diversidade mas não ques- quadamente o processo de construção das diferenças
- na a construção das diferenças, por exemplo, podem nas estruturas desiguais de poder, superando, assim,
esafiadas pela abordagem crítica ou pela perspec- o foco quase exclusivo nas percepções individuais dos
.a crítica pós-modernizada do multiculturalismo, que licenciandos.
eafarizam a discussão dessa questão. Em quinto lugar, há que se ressaltar os proble-
Em segundo lugar, as críticas destacam a pos- mas que surgem em experiências dirigidas a grupos
sibilidade de o multiculturalismo reforçar as diferen- étnicos específicos. O grande dilema ocorre quando a
s e os preconceitos, ao invés de questioná-los. De proposta de valorizar e trabalhar a educação nos pa-
- ·0. tal possibilidade se torna real quando se tratam drões culturais nativos não corresponde ao que essas
- identidades culturais de forma a congelá-Ias, como populações almejam. Em outras palavras: em que
- casos de estudos e estratégias curriculares que iso- medida se deve perseguir uma educação multicultural
o negro, o índio, o judeu, o aborígene, e não se quando a educação oficial, dominante, é a requisitada
....vam em conta os movimentos e as hibridizações cul- por esses grupos? Uma possível solução pode derivar
is das identidades. Nessa mesma linha situam-se da promoção de diálogo entre os padrões culturais em
- críticas ao multiculturalismo que denunciam o de- jogo. Longe de preconizar uma "guetização" de cul-
sanarecimento da categoria classe social de muitas turas, ou seja, o isolamento de identidades culturais
ilises. O desafio, nesse caso, é como articular a pre- em seus próprios padrões, o multiculturalismo pro-
pação com a esfera econômica e as contribuições posto deve atentar para a necessidade de trocas, de
- abordagens pós-modernas e pós-estruturais nas estratégias dialógicas, em que ambas as partes parti-
is se concede central idade à dimensão cultural da cipem como produtoras de cultura e saiam com seus
iedade. Recentes estudos de Michael Apple (1996) horizontes culturais ampliados. O diálogo das dife-
em sugerir pistas. renças se impõe, apesar das dificuldades envolvidas
Em terceiro lugar, a capacidade da educação em sua concretização no cotidiano das experiências
ulticultural superar preconceitos negativos, assim educacionais. Nesse sentido, não são desejáveis pro-
orno o silêncio com relação aos estereótipos vistos postas multiculturais elaboradas por membros da eli-
orno "positivos", constituem fontes de outro impor- te sem a participação dos grupos marginalizados
tante questionamento (Cole, 1998). Por exemplo, a envolvidos.
afirmativa "os negros são bons em esportes", ainda Em sexto lugar, no campo teórico, a convivên-
que pareça elogiosa, também evidencia o congelamen- cia de discursos modernos e pós-modernos também
to identitário que precisa ser desafiado na abordagem provoca tensões no projeto multicultural. Não é fácil
multicultural em educação. Esse aspecto confirma a conciliar alternativas que preconizem a necessidade
necessidade de uma educação multicultural para to- de luta por igualdade, por acesso, por fortalecimento
dos, como se discutiu anteriormente, de uma educa- do poder e por transformações sociais e culturais, com
ção que não se limite aos espaços em que se situam a desconfiança pós-moderna em relação a essas mes-
grupos discriminados ou aos cenários em que precon- mas categorias. Ao mesmo tempo, podem ser perce-
ceitos estejam presentes. bidas com nitidez, segundo Buarque de Hollanda
Em quarto lugar, deve-se alertar para o perigo (1992), duas atitudes opostas em relação ao projeto
de se recair, em experiências multiculturais, em um moderno: uma que procura desconstruir o modernis-
psicologismo exagerado, em função da necessária mo e resistir ao status quo, e outra que repudia o mo-

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dernismo para celebrar o status quo. Ou seja, há um racionalidade instrumental iluminista e que se abram
pós-modernismo de reação que, liderado pelos aos conhecimentos, aos discursos e às perspectivas
neoconservadores, rejeita o modernismo em nome dos plurais podem oferecer contribuições importantes à
males da modernização e impõe uma cultura afirmati- pesquisa no âmbito do multiculturalismo. Histórias
va, e um pós-modernismo de resistência, que se preo- orais, histórias de vida, narrativas de grupos culturais
cupa com a desconstrução crítica da tradição e com a sobre suas histórias, estudos de cunho etnográfico e
crítica das origens, procurando "problematizar mais outros constituem possibilidades de pesquisa que po-
do que manipular os códigos culturais, interpelar mais dem fazer avançar a teoria e a prática multicultural.
do que disssimular as articulações políticas e sociais" Segundo Grant (1999),
(ibid., p. 9). A adoção do segundo tipo de pós-moder-
nismo pode, então, favorecer não uma ruptura com a quando os professores compartilharem
teoria crítica, mas sim uma constante negociação com com os estudantes histórias pessoais,
suas categorias e princípios. razões para suas escolhas pedagógicas,
Por fim, coloca-se a questão do universalismo e perspectivas subjacentes à construção de
do relativismo cultural. As interrogações giram em torno certos conhecimentos, paralelamente ao
da possibilidade de interpretar todas as culturas como emprego de umafilosofia de ensino que
possuidoras de posições epistemológicas aceitáveis abrace o pluralismo cultural e a eqüida-
(relativismo) ou, ao contrário, em torno da necessidade de educacional, a aprendizagem do alu-
de se estabelecerem "limites" ao reconhecimento de pa- no será facilitada. (p. 1)
drões culturais plurais, em função de um vocabulário
ético dito "universal". A questão se torna mais contun- O autor propõe ainda que os especialistas com-
dente nos casos de padrões culturais que preconizam prometidos com educação multicultural e justiça so-
práticas xenófobas, racistas ou que, de forma real ou cial ensinem e pesquisem de modo a desmistificar os
simbólica, promovem a extinção do outro. Argumenta- sistemas de racional idade que têm justificado fazer-
ções de Santos (1997) permitem que se vislumbrem mos o que temos feito. Os caminhos certamente não
possíveis saídas. Inicialmente, há que se transcender o são tranqüilos: o pesquisador que empreende sua
falso debate universalismo X relativismo cultural. Todas jornada engajado em um projeto multicultural crítico,
as culturas são relativas, mas o relativismo cultural, como desafiador de práticas homogeneizadoras e exclu-
postura filosófica, é um equívoco. Contra o relativismo, dentes, pode deparar-se com desafios institucionais e
são necessários critérios transculturais que permitam dis- éticos jamais imaginados (Canen, 1999a).
tinguir política progressista de política conservadora, for- Não é mais possível, contudo, o desprezo, na
talecimento de poder de dependência, emancipação de educação, em relação às questões multiculturais. A
regulação. Por outro lado, todas as culturas aspiram a formação das identidades docentes e discentes em so-
certos valores e ideais elevados, que tendem a ser vistos ciedades multiculturais e excludentes precisa benefi-
como superiores e universais. No entanto, o ciar-se de projetos curriculares que visem favorecer a
universalismo cultural, como postura filosófica, é um construção de uma sociedade mais democrática e mais
erro. Contra o universalismo, cabe propor diálogos plural. Na virada do século, esse desafio não pode
transculturais em torno de preocupações semelhantes, deixar de ser enfrentado.
isomórficas. Oautor reconhece as dificuldades implicadas
nesses diálogos e propõe o que denomina de hermenêutica
diatópica. Considerando que todas as culturas são in- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
completas, sugere que se levante ao máximo a consci-
ência da incompletude recíproca, por meio do AGGER, B. Cultural Studies as Critical Theory. Lon-
engajamento em diálogos que se desenvolvam com um dres: Falmer Press, 1992.
pé em uma cultura e o outro pé em outra. APPLE, M. W. Cultural Politics and Education. Nova
Pode-se argumentar que as tensões e os desafi- lorque: Teachers College Press, 1996.
os apresentados não inviabilizam o multiculturalismo; BHABHA, H. O local da cultura. Belo Horizonte:
ao contrário, representam estímulos e trajetos a se- UFMG,1998.
rem percorridos pela pesquisa na área, que deve per- BUARQUE DE HOLLANDA, H. Introdução: políti-
manentemente informar os esforços de construção e cas da teoria. In: BUARQUE DE HOLLANDA,
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