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Planejamento da Pesquisa
Estatística e Experimentação Zootécnica
Prof. Eduardo Shiguero Sakaguti

1. Introdução

O propósito e a importância do planejamento na pesquisa científica se equivalem


aos do planejamento em qualquer outra atividade (por exemplo: construção de uma casa,
realização de um evento, estabelecimento de uma empresa etc.). Com o planejamento
pode-se, além de outras coisas, fazer previsão e correção de falhas, otimizando todo o
processo de pesquisa.

2. Etapas do Planejamento de uma Pesquisa

Em síntese, o planejamento do experimento é uma seqüência de etapas, tomadas


de antemão, visando dar eficiência e credibilidade à pesquisa.

1ª etapa: Definição do problema


Nesta primeira etapa, o pesquisador tem a oportunidade de melhorar sua
compreensão do problema. Para tal, ele deve fazer uma profunda e cautelosa análise do
fato que motivou seu(s) questionamento(s), utilizando-se de pensamentos reflexivos,
consultas a outros pesquisadores e revisões de pesquisas já realizadas.
Segundo René Descartes (1596-1650), os problemas devem ser divididos em tantas
partes quantas necessárias para resolvê-las adequadamente.
Uma boa revisão de literatura embasa e dá credibilidade à pesquisa. O objetivo da
revisão bibliográfica é fazer um mapeamento da situação atual do conhecimento e
identificar os acertos/erros das pesquisas na área. Assim, em muitos casos, é importante
se fazer um rastreamento até as primeiras pesquisas relacionadas ao fato, identificando e
conhecendo as pesquisas que tiveram maior impacto.
Atualmente existem ótimas ferramentas para se fazer revisão de literatura, como os
sítios de procura da internet e os catálogos eletrônicos. Artigos de revisões de literatura
podem ser muito úteis para se fazer o mapeamento do conhecimento. Pode-se, também,
partir das referências bibliográficas de artigos mais recentes, procurando sempre fazer uma
análise crítica da qualidade, aplicabilidade e atualização dos artigos e ter uma visão geral e
não-tendenciosa.
Na seleção dos artigos, deve-se descartar os que trazem apenas informações
insignificantes, sem nenhuma contribuição efetiva à pesquisa e dar preferência às fontes
cientificamente reconhecidas, avaliando sempre a veracidade das informações.
Para se avaliar um trabalho, deve-se considerar as condições em que ele foi
realizado (época, local, tratamentos, unidades experimentais, tamanhos da amostra,
análises, etc.) e verificar se as conclusões são condizentes com os resultados do
experimento.
A classificação dos artigos por tema, objetivos, ou data de publicação pode facilitar a
comparação dos resultados e a avaliação da evolução do conhecimento.
Os formatos atuais de projetos e artigos científicos reservam espaço limitado para a
apresentação de revisões de literatura. Assim, o autor deve selecionar as informações que
são prioritárias e estritamente pertinentes e sintetizá-las de forma que não haja perda de
informações importantes e nem distorções.
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Ao se definir o fato que motivou a investigação, de forma adequada e precisa, pode-
se demonstrar (ou justificar) mais facilmente a necessidade de se alcançar novos
conhecimentos relacionados ao fato.

2ª etapa: Formulação da(s) hipótese(s)


Após análise profunda do problema, deve-se formular a(s) hipótese(s). Esta etapa é
fundamental para a delimitação da abrangência da pesquisa e para o estabelecimento dos
objetivos.
Para estabelecer uma hipótese, o investigador pode se basear na sua imaginação
criadora, nos seus conhecimentos prévios na área relacionada à observação do fenômeno
e na busca de analogia entre o fato e outros de seu conhecimento.
As hipóteses têm que apresentar as seguintes características:
i) Poder ser testada: esta é a principal característica, pois sem ela o processo
de investigação é interrompido;
ii) Estabelecer relações lógicas: pois, para ter credibilidade de que vale a pena
ser testada, a hipótese tem que se sustentar em lógicas estabelecidas por
teorias e leis já aceitas pela comunidade.
iii) Ter relevância: para justificar os custos de seus testes.
iv) Ser simples: de forma a facilitar a condução do experimento e as conclusões.
v) Ter especificidade: para ser viável e ter valor científico.
vi) Ter clareza: para evitar confusão da proposta de investigação.
vii) Ser original: para gerar novos conhecimentos úteis.

3ª etapa: Estabelecimento dos objetivos


Considerando a hipótese, as condições experimentais disponíveis e a importância de
determinados tipos de informação, definem-se os principais pontos a serem alcançados
durante a execução do experimento.
É importante procurar aproveitar um experimento para se obter ao máximo as
informações relevantes. Entretanto, deve-se tomar cuidado com a ambição excessiva. Em
muitos casos, não é possível resolver todos os problemas relacionados ao fato em estudo
em um único experimento. Experimentos muito abrangentes correm o risco de serem
pouco precisos e/ou eficientes.
Projetos que objetivam alcançar resultados expressivos, com grandes impactos no
meio ou nas pesquisas da área ou da comunidade em geral, são mais facilmente apoiados.
Contudo, os objetivos almejados devem estar de acordo da realidade dos recursos
disponíveis.

4ª etapa: Definição dos tratamentos e das unidades experimentais


Na experimentação, comparam-se grupos e não unidades isoladamente. O termo
tratamento é empregado para definir os grupos experimentais. As unidades de cada grupo
não devem ser necessariamente idênticas, com exceção ao fator de formação do grupo.
Por exemplo, se o objetivo de um experimento é comparar diferentes raças, cada
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tratamento deve ser composto por animais de uma mesma raça, sendo que esses animais
não precisam ser idênticos.
Em muitos experimentos, a utilização de um grupo controle, também conhecido
como tratamento controle ou testemunha, é indispensável para que se possa tirar
conclusões confiáveis. O tratamento testemunha é a base de comparação dos demais
tratamentos e pode ser representado por um grupo que não recebeu nenhum tipo de
tratamento (placebo) ou por um grupo que recebeu um tratamento tradicionalmente
empregado nas pesquisas da área.
Em muitos casos, os tratamentos são níveis, quantidades, gradações ou
intensidades de um mesmo fator. Por exemplo, níveis de proteína (5, 10, 15 e 20%),
quantidade de adubo (50, 100, 150 kg/ha), tempos de processamento (5, 10, 15 min), etc.
Nesses casos, deve-se selecionar uma amplitude que abranja o fenômeno de estudo e que
as subclasses permitam um detalhamento razoável.
As unidades experimentais de um mesmo grupo (tratamento) são conhecidas
como repetições. No exemplo de comparação de raças, as unidades experimentais são os
animais, ou seja, cada animal representa uma repetição (observação) da sua raça.
As repetições devem tentar reproduzir a realidade do grupo ao qual estão
representando. Assim, se existe variabilidade dentro do grupo, esta variabilidade deve ser
representada pelas suas repetições. Em geral, as repetições de um tratamento são
formadas por uma amostra da população de unidades daquele tratamento.
Em alguns experimentos, os tratamentos são formados a partir de um conjunto de
unidades experimentais. Por exemplo, para se comparar as três diferentes rações em
novilhos, define-se primeiro as unidades experimentais (que pode ser os animais) e depois
se formam os tratamentos, por meio sorteio das unidades experimentais.
Cada unidade experimental (UE) também pode ser formada pelo agrupamento de
subunidades, que pode ser conhecida como amostra composta. Por exemplo, em
determinados experimentos, um grupo de animais de uma baia, curral, piquete, gaiola ou
tanque representa uma única repetição. Da mesma forma, as plantas de uma determinada
área e as duplicatas ou triplicatas de uma amostra de material também podem ser as
subunidades de uma repetição.
A definição do que deve constituir a UE nem sempre é trivial. Essa definição deve se
basear no objetivo da pesquisa e nas pressuposições dos testes estatísticos. Como as
análises estatísticas, em geral, requerem que as repetições de um mesmo tratamento
sejam independentes entre si, se todos os animais de um curral, gaiola, ou tanque
receberem o mesmo tratamento, a UE deve ser representada pela média ou soma do
grupo, pois os animais de um mesmo grupo estão sujeitas aos mesmos efeitos comuns do
grupo, o que faz com que suas medidas sejam correlacionadas.
Quando a mensuração de uma variável em um indivíduo é pouco precisa, ou seja,
apresenta grande variação, é aconselhável compor a UE com a média de várias medidas
no mesmo indivíduo. Como exemplo, pode-se tomar as medidas de batimentos cardíacos e
freqüências respiratórias de animais de temperamento instável.
A definição de quais e quantos tratamentos ou repetições devem ser empregados
no experimento deve ser baseada principalmente na(s) hipótese(s) e no(s) objetivo(s) da
pesquisa. Naturalmente, existem restrições físicas, operacionais ou financeiras que,
juntamente com o delineamento estatístico, devem ser consideradas para a seleção dos
tratamentos e das unidades experimentais. Essas restrições podem limitar a abrangência
e/ou a confiabilidade da pesquisa.
Nas instituições de pesquisa, é comum se ter um número limite de unidades
experimentais que pode ser utilizado em um experimento. Nesses casos, o pesquisador
deve ponderar a sua decisão sobre a quantidade de tratamentos e de repetições entre a
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representatividade, dada pelas repetições, e pela abrangência da pesquisa, dada pelos
tratamentos.
A redução do número de tratamentos, provavelmente, reduz a abrangência da
pesquisa. Contudo, de nada valerá um experimento abrangente se seus resultados não
forem confiáveis.
Se a população de unidades experimentais for muito heterogênea, será necessário
um número elevado de repetições para que se tenha uma representatividade razoável.
Assim, em muitos casos, quando o número de repetições é limitado, é recomendável se
fazer a estratificação da população para se ter representatividade. Por exemplo, considere
que seja interessante estudar o efeito de alguns tratamentos sobre uma espécie animal,
mas há limitação do número de repetições e há grande variação entre os animais. Assim,
pode-se fazer o estudo em partes, estudando, em princípio, animais de uma idade restrita,
ou de apenas um sexo.

5ª etapa: Definição das medições a serem feitas


As variáveis medidas em um experimento podem ser classificadas em dependentes
e independentes. As variáveis dependentes, também conhecidas como características,
caracteres ou variáveis respostas, são constituídas pelas medidas realizadas nas unidades
experimentais, após estas terem sido submetidas aos tratamentos. Por exemplo, o ganho
de peso, peso de abate e rendimento de carcaça são variáveis dependentes de um
experimento que comparou diferentes tipos de ração fornecida para bovinos em
confinamento.
As variáveis independentes são aquelas que, potencialmente, exercem influência
sobre as variáveis dependentes. Assim, os tratamentos constituem as variáveis
independentes, que também recebem a denominação de fator. Algumas medidas, tomadas
no início ou durante o experimento e que não sofrem influência dos tratamentos também
podem ser empregadas como variáveis auxiliares na avaliação dos resultados. Essas
variáveis auxiliares são conhecidas como covariáveis e, por definição, são variáveis
independentes ou fatores. Por exemplo, o peso dos animais no primeiro dia de experimento
pode ser empregado nas análises como covariável no experimento de confinamento.
Nos experimentos com animais, o ganho de peso e a produção de leite ou de ovos
são medidas tradicionalmente empregadas para se avaliar o efeito dos tratamentos.
Entretanto, em alguns casos, o teor de algum nutriente no sangue pode ser bem mais
informativo e esclarecedor do problema investigado. Por outro lado, o comprimento da
cauda pode não trazer nenhuma contribuição para a investigação e pode dar muito trabalho
para ser medido.
Pesquisadores iniciantes, na carreira ou no assunto, costumam fazer medições em
grande quantidade de variáveis. Contudo, a falta de objetividade pode fazer com que
detalhes importantes passem despercebidos no meio de tanta informação desnecessária
ou insignificante.
Quanto mais medições forem efetuadas, mais informações estarão disponíveis.
Contudo, deve-se ter consciência de que as medições demandam esforço, tempo, material
e equipamentos, os quais podem ter custos expressivos e devem ser otimizados. Assim,
para cada variável deve se avaliar:
i) Qual a sua relação com o problema;
ii) Se ela é pertinente aos objetivos do projeto;
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iii) Qual nível de precisão do(s) equipamento(s) e/ou da(s) metodologia(s)
disponíveis para sua medição;
iv) Qual a variabilidade comumente encontrada entre as unidades experimentais;
v) Que tipo de análise estatística será necessária; e
vi) Que tipo de conclusões poderá ser tirado, caso se observe um efeito
significativo dos tratamentos nesta variável.

6ª etapa: Definição do local, época e duração do experimento


Em muitos casos, o pesquisador tem estabelecido o local (laboratório de análises,
campo experimental ou estações de teste) onde todas as suas pesquisas são realizadas.
Entretanto, algumas pesquisas podem ser conduzidas em laboratório, em campos
experimentais ou em propriedades particulares.
Pesquisas aplicadas procuram ser conduzidas em condições mais próximas da
realidade, entretanto, não se pode esquecer que, em uma experimentação, é preciso ter
controle dos principais fatores que podem afetar as variáveis respostas. Como, na
experimentação agrícola, as condições ambientais, em geral, exercem grande influência
nos resultados experimentais, deve-se procurar ter um bom controle ou acompanhamento
desses fatores, principalmente em pesquisas em campo.
A duração do experimento deve ser suficiente para permitir a observação de todos,
ou dos principais, fenômenos que são relacionados ao fato em estudo. O pesquisador deve
considerar se existe a necessidade de períodos de adaptação e a possibilidade de
repetição de algumas etapas do experimento, em função de falhas ou necessidade de
confirmação dos resultados. Contudo, muitos projetos de pesquisa possuem prazos pré-
determinados, principalmente pelos órgãos financiadores. Nesses casos o pesquisador
deve planejar quais variáveis deverão ser observadas e definir prioridades.
O planejamento também deve prever qual a melhor época para o experimento ser
conduzido, principalmente em pesquisas realizadas sob condições naturais. Em muitas
pesquisas agrícolas, é fundamental se levar em consideração as condições climáticas, a
disponibilidade de equipamentos e instalações e a sazonalidade de determinadas
atividades ou fenômenos da época em que o experimento será conduzido.

7ª etapa: Exame do material experimental


Para diminuir os riscos da ocorrência de imprevistos que provoquem a interrupção
do experimento ou qualquer outro tipo de prejuízo, é importante que o pesquisador faça
uma verificação prévia da quantidade e qualidade do material necessário para a condução
do experimento. Entre outras coisas, o pesquisador deve fazer um levantamento da
quantidade e a natureza disponível:
i) das unidades experimentais;
ii) dos ingredientes que compõem os tratamentos;
iii) dos insumos e equipamentos necessários às medições;
iv) dos reagentes das análises químicas; e
v) dos computadores e programas para as análises estatísticas.
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8ª etapa: Seleção do delineamento experimental


O desenho ou delineamento experimental é uma esquematização padronizada de
como as unidades experimentais devem ser distribuídas nos tratamentos. Assim, a
experimentação deve ser conduzida segundo algum delineamento.
A função do delineamento experimental é tentar reduzir as falhas experimentais,
dando maior precisão e validade às informações geradas na experimentação. Para tal, o
delineamento experimental considera três componentes: a repetição, a casualização e o
controle local.
No delineamento, a repetição tem como principal finalidade permitir o conhecimento
da variação entre as medidas e, conseqüentemente, permitir a realização dos testes
estatísticos.
Através da casualização se busca dar igual oportunidade às unidades
experimentais de receberem qualquer um dos tratamentos, tentando-se evitar que algum
tratamento seja favorecido. Assim, pode-se dizer que a casualização dá validade aos testes
estatísticos.
O controle local é a forma de restrição aplicada ao processo de casualização,
visando deixar o delineamento mais eficiente. Na verdade, o controle local é que define o
delineamento.
Quando as unidades experimentais são homogêneas, de tal forma que nenhuma
restrição se faz necessária na casualização, pode-se aplicar o delineamento inteiramente
casualizado. Entretanto, em alguns casos, a casualização deve ser realizada dentro de
grupos de unidades experimentais homogêneas.
Os delineamentos experimentais mais empregados na experimentação zootécnica
são:
i) Delineamento Inteiramente Casualizado, quando as unidades experimentais são
mais homogêneas;
ii) Delineamento em Blocos Casualizados, quando há necessidade de composição
de blocos de unidades experimentais homogêneas;
iii) Delineamento em Parcelas Subdivididas, quando há necessidade de subdivisão
das unidades experimentais; e
iv) Delineamento em Quadrados Latinos; quando há limitação de quantidade de
unidades experimentais.

9ª etapa: Seleção do modelo matemático e do nível de significância


A maioria das pesquisas agrícolas deve incluir análises estatísticas dos resultados
para que estas sejam aceitas pela comunidade científica. Para se fazer uma análise
estatística é necessário se ter um modelo matemático que tente “explicar” como aquele
resultado (observação) foi obtido. O modelo matemático de uma pesquisa é também
conhecido como modelo estatístico por apresentar um componente associado à uma
distribuição de probabilidade, o erro experimental.
O modelo estatístico deve conter os principais fatores que podem influenciar os
resultados, sendo dependente do tipo de delineamento experimental empregado.
Com a definição do modelo estatístico, pode-se fazer uma esquematização das
análises estatísticas que serão realizadas, o que pode ser muito útil na detecção de
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problemas como a necessidade de se mudar o delineamento experimental ou de se ter um
maior número de unidades experimentais.
O nível de significância dos testes estatísticos define as conclusões do experimento.
Por exemplo, dois tratamentos podem diferir significativamente, ao nível de 20% de
probabilidade, e não, ao nível de 10% de probabilidade. Assim, para se evitar conclusões
tendenciosas, o nível de significância deve ser definido “a priori”.
Os níveis de significância tradicionalmente empregados nas pesquisas agrícolas são
0,05 e 0,01. Contudo, dependendo do tipo de pesquisa, são recomendáveis níveis acima
ou abaixo dos citados.
Atualmente, como os programas de análises estatísticas disponibilizam o valor de
significância de cada teste, muitos pesquisadores têm empregado esse valor em suas
discussões dos resultados. Entretanto, o nível de significância e o tipo de comparações
estatísticas devem ser determinados antes que os resultados experimentais sejam
observados.

3. Projeto de Pesquisa

O projeto de pesquisa é um documento oficial que procura justificar a pesquisa e


descrever detalhadamente os procedimentos necessários à experimentação. A elaboração
de um projeto de pesquisa pode ter as seguintes finalidades:
i) Aprimoramento dos conhecimentos: ajuda o pesquisador a ter um melhor e mais
profundo entendimento do problema e das formas de resolve-lo.
ii) Captação de recursos: é o principal documento requerido e analisado pelos
órgãos financiadores de pesquisa.
iii) Administração e controle: identifica a época e a ordem das atividades.
iv) Continuidade: facilita a continuidade da pesquisa em caso de afastamento do(s)
responsável(is).
v) Confecção de relatórios e publicações: facilita a preparação de relatórios e serve
de base para publicações de divulgação dos resultados.

Apesar das particularidades de cada instituição de pesquisa, em geral, os projetos


de pesquisa agrícola apresentam os seguintes itens:

3.1. Identificação
São informações que identificam as principais características do projeto, o que pode
auxiliar a triagem e a classificação do projeto. A folha de identificação, em geral, apresenta
os seguintes itens:
i) Título do projeto;
ii) Área e/ou linha de pesquisa;
iii) Responsável ou coordenador;
iv) Participantes ou colaboradores;
v) Instituição(ões) proponente(s);
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vi) Palavras-chaves;
vii) Resumo;
viii) Local execução;
ix) Datas de início e término; e
x) Custo Global.

O título é a primeira e em alguns casos a única informação utilizada para se analisar


um projeto. Assim, ele tem que ser informativo e estimulante, descrevendo com fidelidade e
precisão o tema e a metodologia da pesquisa. O título não deve ser muito longo, que
desestimule a leitura do artigo e dificulte sua catalogação, e nem muito curto, de forma que
omita informações importantes. Bons títulos costumam ter entre 10 e 20 palavras.
Por exemplo, para uma pesquisa que tem como objetivo a comparação de duas
metodologias estatísticas na avaliação genética de dados de produção de leite, o título
“Avaliação genética da raça Gir” é pouco preciso e corre o risco de ser uma repetição do
título de muitos outros projetos.
Títulos pouco claros podem permitir a ambigüidade de interpretação do objetivo da
pesquisa, podendo fazer com que ela seja menosprezada ou criar expectativa exagerada, a
qual pode produzir indesejável frustração ao avaliador do projeto.
Curi (1997) prega o banimento das palavras “estudo” e “contribuição” do título de
artigos científicos, por considerá-las redundantes, uma vez que toda pesquisa é um estudo
ou uma contribuição. Palavras como “avaliação”, “efeito” e “aspecto” podem ou não ser
consideras como redundantes. Uma forma de se verificar isso, é excluí-las e verificar se o
sentido da frase permanece inalterado.
Por exemplo, para uma pesquisa que avaliou a composição de ácidos graxos do
leite de vacas, a palavra “avaliação” poderia ser excluída do título “Avaliação da
composição do leite...” sem que haja perda de informação. Entretanto, a palavra “avaliação”
não poderia ser excluída do título da pesquisa de avaliação genética.
As palavras-chave também servem para informar sobre o conteúdo da pesquisa.
Dessa forma, muitos autores defendem que essas palavras não podem estar contidas no
título para que haja otimização das informações. Por outro lado, algumas revistas sugerem
que as principais palavras do título (ou seus sinônimos) sejam citadas como palavras-
chave, uma vez que apenas esses termos são empregados nas suas indexação. Os termos
podem conter a espécie, as variáveis testadas e principais critérios de respostas. Os
termos devem ser retirados de listas dos órgãos indexadores da área (CAB, BIOSIS, etc.).
A ordem de apresentação das palavras-chave é bastante variável, sendo que pode
se usar a ordenação alfabética ou de importância, ou começar pelas de assunto mais geral
até às mais específicas.
Os resumos costumam conter informações sobre a justificativa, os objetivos e
materiais e métodos da pesquisa. Em geral, o conteúdo é limitado entre 100 e 300
palavras.

3.2. Contexto (Problema, Justificativa, Introdução e/ou Revisão de Literatura)


No contexto se demonstra a relevância da pesquisa e a situação atual do
conhecimento sobre o problema. Nesta parte, deve-se justificar a realização do
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experimento, podendo-se ressaltar a importância das metodologias, tratamentos, unidades
experimentais e medições propostas.
O simples fato de que existem poucas ou nenhuma pesquisa sobre aquele
problema, na maioria dos casos, não justifica a realização da pesquisa.
A apresentação do problema não deve ser uma simples seqüência de resumos de
outros trabalhos (revisão de literatura), mas deve também conter análises e comentários
dos proponentes, mostrando que os trabalhos foram examinados e não somente
catalogados.
Em geral, as referências são feitas no início da frase (por exemplo: Segundo Fulano
(19XX), De acordo com Ciclano et at. (200X), etc.) ou no final com referência entre
parênteses (por exemplo: (Fulano et al., 199X)). O texto deve indicar claramente onde a
informação referenciada começa e termina, distinguindo-as das informações dos autores
do projeto.
Diferentes trabalhos, que tratam do mesmo assunto, devem ser examinados em
conjunto e apresentados, quando necessário, em ordem cronológica, respeitando-se,
obviamente, à seqüência natural do assunto.
O texto não pode conter plágios de outros trabalhos. Na revisão de literatura, o
plágio se caracteriza pela cópia de um texto, palavra por palavra, sem indicar que é uma
citação e sem referência ao autor.
Uma citação é a cópia palavra por palavra, devendo vir em destaque (entre aspas
e/ou em parágrafo recuado e separado do texto principal) e ser sempre referenciada.
A utilização de citações é permitida na maioria dos meios de publicação. Entretanto,
em muitos casos, é mais aconselhável o autor parafrasear o conteúdo de uma fonte.
Paráfrase é quando o autor apresenta com suas próprias palavras o texto de outro autor.
O ato de parafrasear é importante para facilitar a compreensão dos leitores,
demonstrando que a habilidade de síntese e/ou didática do autor. Contudo, uma paráfrase
deve ser referenciada para não ser considerada plágio.
As traduções devem ser fiéis, respeitando-se as idéias e os direitos autorais do
trabalho original. Distorções decorrentes de falhas de traduções ou interpretações podem
provocar grandes equívocos. Assim, deve-se ter cuidado com tradutores leigos e evitar
fazer referência de referências de outros trabalhos (apud), sem que o trabalho original seja
consultado. Atualmente, com os recursos de comunicação disponíveis, dificilmente um
trabalho de relevância científica não poderá ser obtido.
Referências de trabalhos não-publicados e na forma de comunicação pessoal devem
ser empregadas apenas quando a informação é indispensável e não disponível em
nenhuma publicação e quando a fonte tenha reconhecimento na área ou na sociedade em
geral.
A referência de artigos em revistas científicas é preferível, quando comparada às
monografias, dissertações ou teses, pois os primeiros têm maior circulação. Também deve
se preferir, sempre que possível, a referência de trabalhos originais no lugar de referências
de apostilas, relatórios ou livros textos.
Referências bibliográficas respeitadas e atualizadas podem dar maior credibilidade
ao projeto, mostrando que os proponentes estão bem familiarizados com o problema e
aptos a resolvê-lo.
Por outro lado, alguns assuntos já são de domínio público e dispensam a colocação
de referências, quando este não é uma cópia palavra por palavra de textos de outros
autores.
Alguns estudantes costumam apresentar, equivocadamente, o conteúdo da
introdução ou revisão de literatura de artigos científicos como sendo uma produção
científica do(s) autor(es) daquele artigo, quando na verdade se trata de assunto de domínio
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público, os quais, em muitos casos, são produções de autores de publicações clássicas na
área.
Em muitos casos, é importante que o pesquisador conheça e caracterize a
importância do problema específico do seu projeto, dentro de um sistema global. Por
exemplo, o estudo da absorção de um aminoácido pode ter impacto na lucratividade de
uma granja.
Entretanto, parágrafos de tópicos gerais e já amplamente divulgados ou rotineiros,
do tipo:
“A fome do mundo ...”
“O rebanho brasileiro é o...”
“O leite é o principal alimento...”
podem demonstrar a falta de conhecimento mais aprofundado sobre o problema ou a
insegurança sobre a importância ou eficiência do tema pesquisado.
O excesso de referências ou textos inexpressivos pode entediar e dispersar o
interesse de quem está avaliando o projeto, fazendo com que ele não reconheça o real
valor da pesquisa. Assim, o problema deve ser apresentado de forma clara, concisa e
objetiva.

3.3. Hipótese
Este item nem sempre é encontrado nos projetos de pesquisa, embora a existência
de uma hipótese seja indispensável para qualquer pesquisa. Muitas vezes, a descrição da
hipótese é feita no contexto, o que dispensa a apresentação em um item separado.
A hipótese é, em geral, expressa na forma de uma frase indicativa. Por exemplo:
“A utilização do Tratamento A produzirá um aumento de
produtividade dos animais da raça Z e idade X, em relação aos do
Tratamento Testemunha.”

3.4. Objetivos
A apresentação dos objetivos em um item próprio facilita as análises mais
superficiais e destaca a importância do projeto.
Os objetivos devem ser apresentados em frases afirmativas, precisas e claras,
evitando expressões de duplo sentido. Em geral, os objetivos são apresentados na forma
de itens e em frases iniciadas por verbos, definindo ações a serem realizadas. Por
exemplo:
“1) Avaliar a eficácia da utilização do Tratamento A sobre a produtividade
dos animais da raça Z e idade X, em relação aos do Tratamento
Testemunha.”
Os objetivos podem ser classificados em gerais e específicos ou em primários e
secundários.

3.5. Plano de Trabalho (Metodologia ou Material e Métodos)


A descrição do plano de trabalho deve ser suficiente para que o leitor, não envolvido
no projeto e com formação semelhante, possa imaginar como o trabalho será desenvolvido.
Um plano de trabalho bem apresentado fornece as informações necessárias para que
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outros pesquisadores possam reproduzir, pelo menos, os principais procedimentos do
projeto.
O plano de trabalho pode ser formado por vários itens, os quais são dependentes do
tipo de pesquisa. Contudo, em qualquer pesquisa, o material e as metodologias propostas
devem se mostrar potencialmente capazes de cumprir todos os objetivos do projeto.
Em geral, os projetos de pesquisas agrícolas apresentam a descrição detalhada dos
seguintes itens:
i) local e duração do experimento;
ii) unidades experimentais ou fonte de dados;
iii) técnicas de amostragem;
iv) tratamentos;
v) variáveis observadas;
vi) técnicas ou procedimentos;
vii) delineamento experimental;
viii) modelos, procedimentos e programas estatísticos; e
ix) análise econômica.

Em muitos casos, é bastante apropriado se incluir referências bibliográficas na


descrição de novas técnicas ou procedimentos, que ainda não são de domínio público.
Projetos que envolvem pesquisa com seres humanos, animais ou organismos
geneticamente modificados devem, na maioria das instituições, serem autorizados pelos
comitês de ética pertinentes.

3.6. Cronograma de Atividades


É um quadro demonstrativo da época e da duração de cada atividade do projeto.
Pode se discriminar as atividades por cada participante do projeto. Também, pode-se
incorporar as informações de desembolso dos recursos.
O cronograma de atividades demonstra que o projeto é fisicamente exeqüível e
auxilia no controle orçamentário e de execução de tarefas.

3.7. Referências Bibliográficas (Literatura Citada)


Referências bibliográficas são a relação de todas as literaturas citadas no projeto. As
obras devem ser apresentadas em ordem alfabética, seguindo normas científicas como as
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-NBR 6023:2000).
As informações devem ser suficientes para que pessoas não ligadas ao projeto
consigam ter acesso às bibliografias.

3.8. Orçamento
O orçamento deve conter uma previsão discriminada de todas as despesas e das
fontes de recursos.
Os custos podem ser divididos em:
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i) Material Permanente e Equipamentos;
ii) Material de Consumo; e
iii) Despesas com Pessoal.

As receitas são geralmente apresentadas, discriminando-se os órgãos financiadores


e, quando existir, as fontes geradas pelo projeto.
A precisão e adequação dessas informações contribuem para uma maior
credibilidade do projeto e do pesquisador, junto aos órgãos financiadores.

4. Experimento-Piloto
Em muitas pesquisas é fundamental a realização de um ou mais ensaios
preliminares antes que o projeto de pesquisa seja efetivamente implantado. Esses ensaios
preliminares são conhecidos como experimentos piloto e tem, entre outras, as seguintes
finalidades:
i) familiarizar o pesquisador com o tema e as metodologias;
ii) treinar técnicas;
iii) testar equipamentos;
iv) avaliar os tratamentos e as unidades experimentais;
v) conhecer a variabilidade das medições;
vi) detectar possíveis problemas de condução; e
vii) propor adequações.

O experimento-piloto sempre, que bem conduzido, fornecerá informações úteis aos


pesquisadores. Contudo, por envolver custos, os experimentos-piloto são negligenciados
em muitas pesquisas. Esse descuido pode trazer prejuízos maiores quando alguns erros,
que poderiam ser detectados em simples ensaios preliminares, comprometem os
resultados da pesquisa.

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