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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 4 • Número 12 • maio 2014
Edição Especial • Homenageado
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RESUMO: Este texto discorre sobre as origens da Sociolinguística, com referência aos fatores de caráter
historiográfico que deram oportunidade a seu surgimento como área específica da Linguística no século
XX. Em aditamento, o texto oferece um breve panorama da Sociolinguística no Brasil, suas vertentes
teóricas, sua presença no ensino da língua vernácula e na formação do professor de português.
ABSTRACT: This text discusses the origins of sociolinguistics, with reference to the main
historiographical factors that gave opportunity to its emergence as a specific área of linguistics in the
20thcentury. In addition, the text offers a brief overview of sociolinguistics in Brazil, including its
theoretical aspects, its presence in the teaching of vernacular language and in the training of language
teachers.
1
No original, “the past is soon forgotten, and people are happy to be part of a trendy present which holds
out the promise of becoming the future”.
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Atribui-se ao texto The Social Stratification of English in New York City (1966), publicado por Labov na
década dos anos 60, o ponto de partida da Sociologia variacionista, que viria a ser mais sedimentada
teoricamente no texto Sociolinguistic Patterns (1972).
3
Esta corrente, pautada nas teses de Basil Bernstein (1960) sobre comportamento humano e padrões de
linguagem, gerou vários trabalhos na área da criminologia, em frequente associação com princípios
comportamentais agasalhados pela Psicolinguística (Cf. Brown, 1990). Sobre a visão sociolinguística de
Bernstein e seus conflitos com a Linguística teórica, leia Atkinson (1985).
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Em especial, a obra de Hymes (1977, 1983).
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A fala não é propriedade pessoal, mas social; ela pertence não ao indivíduo,
mas ao membro da sociedade. Nenhum elemento de uma língua existente
resulta do indivíduo; por tal motivo, podemos enfaticamente asseverar que
tal elemento não pertence à língua enquanto não for aceito e utilizado pelos
demais membros da sociedade. O desenvolvimento total da fala, embora
deflagrado por atos individuais, é operado pela comunidade 6
5
Tem-se acatado a hipótese de que Saussure tomou ciência do conceito de fait social não em Durkheim,
mas pela leitura da obra de Whitney (cf. Koerner, 1973), mas não se pode asseverar que a mera omissão
de Durkheim em Saussure signifique que o mestre genebrino desconhecia a obra do sociólogo francês.
6
No original: “Speech is not a personal possession, but a social; it belongs, not to the individual, but to
the member of society. No item of existing language is the work of an individual; for what we may
severally choose to say is not language until it be accepted and employed by our fellows. The whole
development of speech, though initiated by the acts of individuals, is wrought out by the community”.
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Geografia linguística do século XIX, aqui entendida em sentido lato, que envolve
igualmente os trabalhos na área da Antropologia Linguística e da Etnolinguística, os
quais buscavam, em perspectiva histórica, descrever a formação da civilização ao longo
do tempo. Destaquem-se, assim, no tocante à participação da Linguística nesse cenário
tão amplo e diversificado, os estudos dialetológicos, intimamente ligados às questões
macroculturais que estavam no escopo dos cientistas, tais como religião, arte e moral.
Entender as variantes linguísticas decerto contribuía para o igual entendimento dos
valores que conferiam distinção entre povos e mesmo entre grupos étnicos dentro de
uma mesma comunidade social7.
7
Uma preciosa bibliografia sobre a relação entre a Linguística, a Antropologia e a Etnologia (até os anos
60 do século passado) é oferecida por Goodell (1964).
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No original, “Labov, like Meillet and Martinet, has always been particularly interested in questions of
language change”.
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De Whitney a Labov
Whitney
Saussure
Meillet
Martinet
Weinreich
Labov
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O próprio Konrad Koerner reconhece a relativa “simplicidade” desta relação genealógica entre a
Geografia linguística e a Sociolinguística, que se revela carente de maiores evidências biográficas e
bibliográficas. A proposta, entretanto, a par de sua verossimilhança histórica, respalda-se nas reiteradas
referências e agradecimentos que Labov dedica em sua obra às figuras de Weinreich, Meillet e Saussure.
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Não poucos a denominam “pancrônica”. Nessa linha, leia Borba (1967:44).
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Nas palavras de Martinet, a concepção realista da estrutura linguística como traço distintivo da
realidade da língua corre o perigo de ser confundida com a ingênua suposição de que tudo que está
fisicamente presente na língua é parte dessa realidade, sem leva em conta se exerce uma função e qual é
essa função (1971, p. 18).
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Nas palavras de Martinet, a concepção realista da estrutura linguística como traço distintivo da realidade
da língua corre o perigo de ser confundida com a ingênua suposição de que tudo que está fisicamente
presente na língua é parte dessa realidade, sem leva em conta se exerce uma função e qual é essa função
(1971, p. 18).
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O Funcionalismo europeu distingue-se do denominado “Funcionalismo Baseado no Uso” ou
Funcionalismo da Costa Oeste Norte-Americana, conforme afirma Joan Bybee (1999), por uma distinção
teleológica: enquanto o Funcionalismo europeu atribui o desempenho linguístico do falante às
possibilidades que lhe confere o sistema, o Funcionalismo Norte-Americano acredita que é o sistema se
amolda à maneira como a língua é usada pelo falante.
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Leia, a respeito Feuillard (2012). Advirta-se, entretanto, não haver, do ponto de vista biográfico,
qualquer evidência de um contato direto entre Coseriu e Martinet.
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Dos nomes até aqui citados, muitos tornaram-se fonte doutrinária direta dos
estudos sociolinguísticos no Brasil. A influência sobretudo de Coseriu e sua visão
linguística tridimensional em “sistema, norma e fala” (1979) deixa marcas teoréticas
bem nítidas na produção linguística brasileira do final do século XX, pelo que se
percebe, por exemplo, em Bechara (1999), cujas teses sobre descrição linguística
seguem os parâmetros estabelecidos pelo mestre romeno, sobretudo quanto à presença
de uma exemplaridade normativa no corpo da sociedade, que se expressa por um
conjunto de isoglossas consolidado historicamente e que se estabiliza pela escolha de
gerações sucessivas por cumprir o papel de comunicação mais eficientemente.
15
Cite-se aqui o Projeto de Estudo da Norma Linguística Culta de Algumas das Principais Capitais do
Brasil. Implantado no Brasil sob inspiração do Proyecto de Estudio Del Habla Culta de lãs Principales
Ciudades de Hisponamerica, idealizado por Juan Blanch, o Projeto Nurc, como ficou posteriormente
conhecido, instalou-se sob coordenação geral de Nélson Rossi e, no Rio de Janeiro, sob responsabilidade
de Celso Cunha (1917-1989). Um relato sobre a formação do Nurc encontra-se em Silva (1996); em
aditamento, faculta-se ao consulente a consulta ao corpus do Nurc do Rio de Janeiro em
http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/.
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posteriormente, uma ampla construção de corpora de pesquisa em língua oral que até
hoje vêm sendo usados em trabalhos de descrição linguística.
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Um tentáculo da Sociolinguística variacionista se estende na Sociolinguística quantitativa, campo em
que se desenvolvem instrumentos estatísticos destinados ao tratamento dos dados obtidos em pesquisa.
Sobre o tema, leia necessariamente Zilles e Guy (2007).
17
Sobre grupos de pesquisa brasileiros dedicados à Sociolinguística variacionista, leia Salomão (2011).
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Entrevista à Revista Icarahy. Niterói: Universidade Federal Fluminense, n. 5, 2011.
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um perfil mais amplo aos domínios da Sociolinguística brasileira, nos quais se inscreve
uma macroárea que inclui a dialectologia, a crioulística, o bilinguismo e
multilinguismo e a linguística histórica. A presença da linguística histórica na ótica de
Roncarati talvez se justifique em face das recentes aplicações de conceitos
sociolinguísticos à sócio-história do português do Brasil, campo de ampla e pujante
produção nos últimos anos19.
19
Sobre o tema, leia-se especialmente Roncarati e Abraçado (2003), Mattos e Silva (2004).
20
Entre as inúmeras obras dedicadas a esta vertente, cite-se Possenti (1996), Bagno (2001), Silva e Moura
(2002) e Bortoni-Ricardo (2004) e Scherre (2005).
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