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Redes de Transporte
1. Introdução
As redes de transporte de informações (voz, dados e vídeo) são compostas de sistemas de
transmissão que interconectam os equipamentos de comutação das redes de pacotes ou das redes
de telefonia (centrais telefônicas).

Os sistemas de transmissão utilizam meios físicos fiados ("wired "), como, por exemplo, cabo coaxial e
fibras ópticas ou meios sem fio ("wireless") (espaço livre) para a transmissão das informações, como,
por exemplo, sistemas rádio.

Os primeiros sistemas de transmissão desenvolvidos eram analógicos, pois mantinham a forma


original do sinal a ser transmitido, e utilizavam a técnica de multiplexação denominada FDM
(Frequency Division Multiplex) para agregar vários canais de voz no mesmo meio de transmissão.

No FDM, cada canal de voz modula uma determinada portadora, separada da outra por 4 kHz. O
resultado é a translação das frequências de voz para um sinal composto, a banda base, que contém
a informação de todos os canais. No FDM, os sinais de voz são sempre mantidos na forma original
(somente se alteram as frequências), portanto é um sistema analógico.

A multiplexação dos canais de voz também pode ser feita em relação ao tempo, denominada TDM
(Time Division Multiplex) ou multiplexação por divisão de tempo. Nesse método, o sinal de voz é
amostrado em intervalos de tempo regulares e as amostras convertidas num código binário e
transmitidas agrupadas no meio de transmissão. No destino, outro sistema multiplex TDM recupera
os sinais de voz em sua forma original.

Os sistemas digitais TDM surgiram no início dos anos de 1970 com a técnica denominada Modulação
por Código de Pulso (PCM - Pulse Code Modulation). No PCM, os sinais de voz analógicos, que
ocupam a faixa de 300 a 3.400 Hz, são amostrados e cada amostra é digitalizada e codificada em 8
bits. De acordo com o teorema de Nyquist, a quantidade de amostras por unidade de tempo de um
sinal, denominada taxa ou frequência de amostragem, deve ser maior que o dobro da maior frequência
contida no sinal a ser amostrado, para que ele possa ser reproduzido integralmente, sem erro. Desta
forma, a taxa de amostragem do sinal de voz deve ser, no mínimo, 8 kHz (2x 4 kHz), resultando num
sinal codificado de 64 kbit/s (8 bits x 8 kHz), conforme indica a Figura 1.

Figura 1 - Codificação da voz no sistema PCM.

O primeiro sistema PCM desenvolvido no Brasil foi denominado MCP-30 e desenvolvido inicialmente
na UNICAMP e posteriormente transferido ao CPqD da Telebrás para industrialização. O MCP-30 é
um multiplexador de 30 canais de voz, Figura 2, que utiliza a tecnologia PCM/TDM (multiplexação
por código de pulso/multiplexação por divisão no tempo) e opera a uma taxa de 2,048 Mbit/s.
Destina-se a interligar centrais telefônicas em áreas urbanas e metropolitanas.
No MCP-30, cada canal de voz analógico é digitalizado pelo conversor analógico/digital (CAD) e 30
canais são entrelaçados no tempo, formando um quadro com 240 bits de informação (30 x 8 bits por
canal de voz) e 16 bits de controle (um canal de 8 bits para determinar o início do quadro e outro de
sinalização (canal livre, canal ocupado)), resultando num quadro de 256 bits transmitidos em 125 µs (8
kHz), ou seja, 2.048 Mbit/s. Nesse sistema, há também uma memória de controle e uma memória de
escrita para possibilitar a comutação entre os canais, segundo uma matriz de comutação do tipo 32 x
32.

Figura 2 - MCP - 30.

O primeiro sistema PCM mundial foi desenvolvido nos EUA e agregava 24 canais de voz (PCM-24)
em vez de 30 canais. O PCM-24 (também é denominado T1) e o PCM-30 (também denominado E1)
são conhecidos como sistemas primários, e formam a base para a Hierarquia Digital Plesiócrona
(Plesyochronous Digital Hierarchy - PDH). Na PDH, em função da quantidade de canais agregados
no feixe, bem como da taxa de bits utilizada na transmissão, várias ordens são formadas e
padronizadas internacionalmente, sendo a primeira ordem 2.048 kbits/s, 30 canais, a segunda ordem
8.448 kbit/s, 120 canais etc., conforme a Tabela 1.
Hierarquia Digital Plesiócrona
Nível da Taxa de bits Nº de Meio de
Ordem
Hierarquia em Kbit/s Canais Transmissão
1 E1 2.048 30 Cobre
2 E2 8.448 120 Cobre
2 E3 34.368 480 Fibra / Rádio
4 E4 139.264 1920 Fibra / Rádio

Tabela 1 - Níveis da PDH.

O sinal ou feixe agregado de cada ordem é formado pela união de quatro feixes tributários da ordem
imediatamente inferior, Figura 3, mediante o entrelaçamento de bits, ou seja, um bit do tributário 1 é
seguido por um bit do tributário 2 e assim por diante.

A taxa de bits do sinal agregado é sempre superior ao quádruplo da taxa de bits dos tributários que o
compõem. Isso ocorre devido à necessidade de adição de bits em cada feixe, a fim de sincronizá-lo
para que a multiplexação possa ser efetuada. Na PDH, embora todos os feixes possuam a mesma
taxa nominal de bits, eles são plesiócronos, ou seja, apresentam taxas de bits ligeiramente diferentes
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entre si, devido a serem controlados por relógios independentes que podem variar suas frequências
dentro de certas tolerâncias.

Figura 3 - Multiplexação na PDH.

Para serem levados a uma taxa de bits comum, utiliza-se a técnica de justificação de bits (bit
stuffing), mediante inserção, em determinada posição do quadro, de um bit de enchimento ou de
justificação, Figura 4.

Figura 4 - Justificação de bits na PDH.

Devido à possibilidade de esse bit ser ou não inserido, em função da frequência instantânea de cada
tributário, torna-se necessário incluir no quadro informações sobre a condição do bit situado na
referida posição, ou seja, informar quando se trata de um bit de justificação ou não. Tal informação
está nos bits de controle de justificação inseridos nos quadros das diversas ordens hierárquicas.

As hierarquias de multiplexação PDH desenvolveram-se independentemente umas das outras na


América do Norte (padrão ANSI), no Japão e na Europa (padrão ITU-T, utilizado no Brasil), conforme
indica a Figura 5.

O ITU-T padronizou a interface de 2.048 Mbit/s na norma G.703 e ela tem sido muito utilizada nos
últimos anos para transmissão de voz e dados. A G.703 trata das especificações do PCM para
transmissão à taxa de 2.048 Mbit/s (E1).
Figura 5 - As três PDH padronizadas.

A principal dificuldade do sistema PDH é que, a partir do segundo nível hierárquico E2, os canais são
entrelaçados, resultando na dificuldade de inserção/derivação dos tributários em trechos
intermediários da rede. Com isso, para inserir/derivar canais tributários de um sistema PDH, é
necessário demultiplexar o feixe agregado, tornando a técnica pouco flexível e de alto custo. Além
disso, possui pouca capacidade de gerenciamento de rede e falta de padronização.
A falta de uma padronização completa dos equipamentos faz com que a interconexão de sistemas de
fornecedores diferentes se torne cara e ineficiente. Devido a esses problemas operacionais, um
sistema mais flexível, com maior capacidade de gerenciamento e compatível com o sistema PDH, foi
padronizado pelo ITU-T na década de 1980. Esse sistema é denominado SDH (Synchronous Digital
Hierarchy) ou Hierarquia Digital Síncrona.
Os primeiros esforços de desenvolvimento dessa nova hierarquia de transmissão foram feitos no
Bellcore (Bell Communications Research) através do sistema denominado SONET (Synchronous
Optical Network), pois ele utilizava um padrão para as interfaces ópticas. O primeiro nível hierárquico
do SONET foi padronizado à taxa de 51,84 Mbit/s, ligeiramente superior à dos sistemas PDH
americanos de 45 Mbit/s (terceiro nível) que eram amplamente difundidos no país. A seguir, o ITU-T
padronizou o SDH, inicialmente, à taxa primária de 155 Mbit/s e compatível com o SONET a partir do
terceiro nível (51 Mbit/s x 3 =~ 155 Mbits). Atualmente a interface de 51 Mbit/s também é
padronizada na SDH.
O SDH provê às redes de transmissão altas taxas de bits e a possibilidade de gerenciamento
centralizado de forma muito eficiente, tornando-os altamente confiáveis. Além disso, os
equipamentos da SDH podem ser integrados aos sistemas de transmissão ópticos totalmente
padronizados pelo ITU-T. O esquema de multiplexação, o desempenho, a segurança e a
confiabilidade das redes SDH são regidos segundo as normas da ITU-T de acordo com a Tabela 2.

Normas Descrição
Estrutura de multiplexação, formação do quadro,
G.707
ponteiros, cabeçalhos etc.
G.783 Tipos de equipamentos SDH e suas funções
G.784, G.774 G.773 Gerência de recursos da rede
G.803 Tipos de configurações de rede
G.813 Sincronismo
G.841-2 Proteção da rede em anéis
G.957-8 Descrição da camada física

Tabela 2 - Normas da ITU-T para o sistema SDH.


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O SDH proporciona um desenvolvimento de equipamentos para uso em novas topologias, tais como
em anel, além dos poderosos recursos para a administração, manutenção e operação de forma
estruturada e permitindo a interoperabilidade e implementação de ambientes multifornecedores. Seu
funcionamento é baseado nos princípios da multiplexação síncrona, em que os sinais tributários são
inseridos diretamente em um contêiner do SDH.

O SDH é capaz de transportar todos os sinais tributários das redes PDH e tem a flexibilidade para
acomodar novos tipos de serviços. Além disso, pode ser utilizado em redes de longa distância, redes
metropolitanas e redes de acesso. O SDH torna possível uma infraestrutura de rede de transporte
unificada.

Atualmente, o cenário das redes de transmissão é constituído de redes PDH e de redes SDH
interconectadas, além dos sistemas ópticos que utilizam a técnica WDM ou multiplexação de
comprimentos de onda. Essas diversas tecnologias integradas resultam num cenário com as
seguintes características: infraestrutura simples, interfaces padronizadas, proteção total, tempo de
comutação de proteção rápido e funcionamento estável e automático. A topologia mais utilizada é em
forma de anéis autorregenerativos (self-healing), pois é a mais adequada para obter as
características anteriormente mencionadas.

Os sistemas SDH possuem tais características e têm evoluído para atender ao transporte do tráfego
de dados, além do transporte do tráfego de voz, para o qual foram originalmente concebidos. Para
isso, novos tipos de equipamentos baseados nessa nova filosofia estão aparecendo no mercado e
são denominados SDH-NG (Next Generation). A seguir, os fundamentos da tecnologia SDH são
descritos de forma sumária, bem como as novas tendências tecnológicas.

2. Redes SDH
As redes SDH possuem taxas de transmissão variando desde 51 Mbit/s (denominado STM-0) até 40
Gbit/s (STM-256) de acordo com a Tabela 3.

Nível da SDH Taxa de Bits (Mbit/s)


STM-0 51,840
STM-1 155,520
STM-4 622,080
STM-16 2.488,320
STM-64 9.953,280
STM-256 39.813,120

Tabela 3 - Taxas SDH padronizadas.

O Módulo de Transporte Síncrono (Synchronous Transport Module - STM) corresponde a uma


estrutura básica de transporte de dados do SDH, constituída de quadros (frames), no qual os dados
são armazenados. Um quadro STM-1 é composto por 2.430 bytes arranjados em uma estrutura de
270 colunas por nove linhas, representado na Figura 4.6. Os bytes são transmitidos de forma serial,
linha por linha, da esquerda para a direita, e o bit mais significativo de cada byte é transmitido
primeiro.

A duração do quadro é de 125 µs, o que corresponde a uma taxa de transmissão de 155,520 Mbit/s:
(2.430 bytes x 8 bits)/125 µs.
Figura 4.6 - Módulo de transporte STM-N.

Os módulos STM-N correspondem a n vezes o STM-1 (155,520 Mbit/s).


Quatro taxas de bit mais altas são então definidas: 622,080 Mbit/s (STM-4), 2.488,320 Mbit/s (STM-
16), 9.953,280 Mbit/s (STM-64) e 39.813,120 Mbit/s (STM-256), conforme a Figura 4.7.

O quadro STM-1 possui três campos principais:

Área de Carga Útil (Payload);


Ponteiro de AU (Administrative Unit);
SOH (Section Overhead) - composto de MSOH (Multiplex SOH) e RSOH (Regenerator SOH).

Os tributários a serem transmitidos são inseridos no campo de carga útil. O ponteiro indica o início da
carga útil dentro do quadro e os bytes de SOH são utilizados para supervisão e gerência do sistema.
O MSOH é utilizado para supervisão dos equipamentos multiplexadores terminais e o RSOH é
utilizado para supervisão dos equipamentos regeneradores de linha intermediários, quando é
necessário amplificar os sinais em longas linhas de transmissão.

Os sistemas SDH podem ser comparados aos sistemas de transporte de carga, Figura 4.7, em que
as informações a serem transmitidas, denominadas contêineres virtuais (VCs), são inseridas na
carroceria e na cabine é efetuado o controle da carga (direção, supervisão, entrega).

Figura 4.7 - Sistemas de transporte SDH.


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A estrutura de multiplexação para formação do quadro STM-N (Synchronous Transport Module) (N =


1, 4, 16, 64 e 256) está na Figura 4.9.

Figura 4.8 - Estrutura de multiplexação da SDH.

Os sinais de 2 Mbit/s, 34 Mbit/s ou 140 Mbit/s da PDH são mapeados (inseridos) individualmente em
estruturas do tipo contêineres para serem trans-portados na rede SDH, denominados C-12, C-3 e C-
4 respectivamente.

A seguir, bytes para supervisão denominados POH (Path Overhead) são adicionados a eles,
formando as estruturas denominadas contêineres virtuais (VCs).

Os contêineres virtuais padronizados, que podem ser utilizados para formar o quadro STM-N, de
acordo com a estrutura de multiplexação do SDH, estão indicados na Tabela 4.4.

Tipo de VC Taxa do VC Carga Útil do VC


VC-11 1.664 kbit/s 1.600 kbit/s
VC-12 2.240 kbit/s 2.176 kbit/s
VC-2 6.848 kbit/s 6.784 kbit/s
VC-3 48.960 kbit/s 48.384 kbit/s
VC-4 150.336 kbit/s 149.760 kbit/s
VC-4.4c 601.304 kbit/s 599.040 kbit/s
VC-4.16c 2.405.376 kbit/s 2.396.160 kbit/s
VC-4.64c 9.621.504 kbit/s 9.584.640 kbit/s
VC-4.256c 38.486.016 kbit/s 38.338.560 kbit/s

Tabela 4.4 - Contêineres virtuais padronizados na SDH.

Além dos bytes de supervisão, ponteiros que indicam o início do VCs dentro do quadro também são
adicionados a cada VC, formando as unidades tributárias (TUs). Vários TUs multiplexados formam os
TUGs (Tributary Unit Groups). Por sua vez, os TUGs são inseridos em contêineres virtuais de ordem
superior (VC-3 e VC-4) e a seguir ponteiros são inseridos novamente, dando flexibilidade à estrutura.
Essa nova entidade é denominada AU (Administrative Unit). Por fim, um sinal STM-N é composto de um
agrupamento de AUs, denominado AUG-N (Administrative Unit Groups-N), em que:

a) Um AUG-256 pode consistir em:

1. quatro AUG-64;
2. um AU-4.256c.
b) Um AUG-64 pode consistir em:

1. quatro AUG-16;
2. um AU-4.64c.

c) Um AUG-16 pode consistir em:

1. quatro AUG-4;
2. um AU-4.64c.

d) Um AUG-4 pode consistir em:

1. quatro AUG-1;
2. um AU-4.4c.

e) Um AUG-1 pode consistir em:

1. um AU-4;
2. três AU-3s.

Na Figura 4.8 também são apresentadas estruturas concatenadas (c). A concatenação consiste no
agrupamento de várias estruturas básicas para transportar cargas que exijam capacidades maiores
que a das estruturas especificadas. A concatenação pode ser contígua (c) ou virtual (v). Na
concatenação contígua de um VC-4, por exemplo, um VC-4.4c, a carga útil corresponde a quatro
vezes a carga útil do VC-4. O VC-4.4c é transportado em quatro AU-4 adjacentes no mesmo sinal
STM-N.

Já na concatenação virtual, cada VC tem seu próprio POH e a adjacência dos contêineres virtuais
não é necessária, somente a sequência temporal deve ser garantida. Os VCs têm de ser
sincronizados nas terminações, para se remontar à carga útil concatenada. Esse tipo de
concatenação diminui a probabilidade de bloqueio, para grupos concatenados em que a carga de um
VC precisa ser fragmentada.

No Brasil, somente uma parte da estrutura de multiplexação padronizada pelo ITU-T é utilizada, e é
apresentada na Figura 4.9.
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Figura 4.9 - Estrutura de mutiplexação SDH adotada no Brasil.

As Figuras 4.10, 4.11 e 4.12 mostram, de forma esquemática, os processos de mapeamento dos
sinais da PDH de 2, 34 e 140 Mbit/s, respectivamente, no sistema SDH (STM-1).

Figura 4.10 - Mapeamento de 2 Mbit/s no STM-1.

Para preencher a capacidade de carga de um STM-1 (155 Mbit/s), são utilizados 63 sinais de 2
Mbit/s (63 x TU-12).
Figura 4.11 - Mapeamento de 34 Mbit/s no STM-1.

Para preencher a capacidade de carga de um STM-1 (155 Mbit/s), são utilizados três sinais de 34
Mbit/s (3 x TU-3).

Figura 4.12 - Mapeamento de 140 Mbit/s no STM-1.

Para preencher a capacidade de carga de um STM-1 (155 Mbit/s), um sinal de 140 Mbit/s é mapeado
num VC-4.

Com relação ao mapeamento de sinais sobre a rede SDH, além dos sinais tradicionais da PDH,
novos tipos de sinais orientados a dados também estão padronizados. Esses novos tipos de
mapeamentos e equipamentos SDH são denominados SDH-NG e constituem plataformas
multisserviços; serão detalhados no item 4.3.

3. Exercício
1. Um sinal STM-1 pode transportar quantos sinais de 2,34 e 140 Mbit/s (considerando
todas as combinações possíveis)? Em qual destas combinações são transmitidos
mais sinais de 2 Mbit/s em um STM-1?

2. Qual a utilidade da concatenação virtual de VCs na SDH?

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