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Diretor-Presidente
Fabio Mazzonetto
Diretora-Executiva
Vânia M. V. Mazzonetto
Editor-Executivo
Tulio Loyelo
Manual de handebol
Da iniciação ao alto nível
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios
eletrônico, mecânico, fotocopiado, gravado ou outro, sem autorização prévia por escrito da Phorte Editora Ltda.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Manoel Luiz de Oliveira
Apresentação
Parte I
Handebol: Sua história
e evolução
Pablo Juan Greco; Juan J. Fernandez
1 Introdução
A gênese do handebol:
2 primeiras aproximações
3
Fundada em 12 de abril em 1946 em Copenhague (Dinamar- 6
O último campeonato de handebol de campo masculino foi
ca) para reger os dois esportes (handebol de salão e de campo), em 1966.
onde permaneceu até 1956, quando sua sede foi transferida 7
Este foi organizado pela IHFA, já que a IHF foi fundada ape-
para Basileia (Suíça). Ambos eram, anteriormente, de respon- nas em 1946. Por isso, são necessários mais estudos para cotejar
sabilidade da Federación International de Balonmano Amateur a informação de Coronado e González sobre a normatização do
(FIHA).6,8 handebol apenas pela IHF em 1946.
4
Denominação que prevaleceu após o término (a partir de 1976) 8 O último campeonato de handebol de campo feminino foi
das competições internacionais de handebol de campo. realizado em 1960.
5
A Sociologia do Esporte atribui a origem do futebol como um 9
Estamos nos referindo ao handebol jogado em ginásio por
esporte moderno a partir da fundação, na Inglaterra, da Football sete jogadores titulares, pois o jogo praticado em campo (por
Association em 1863, entidade pioneira na publicação das regras onze jogadores) foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Ber-
do futebol. lim, em 1936.
Heloisa helena Baldy dos Reis
O handebol é um jogo relativamente jovem debol na Romênia. Esse grupo foi apontado pelos
se comparado a outros esportes coletivos tradicio- especialistas entrevistados como o impulsionador
nais, e sua prática no Brasil é recente. Essa pesqui- da qualidade técnica do handebol brasileiro.IV A
sa comprovou que foi trazido ao Brasil por Au- seleção brasileira juvenil excursionou com os pro-
guste Listello em 1952, ano em que o professor fessores como equipe de aplicação.V
francês lecionou para a APEF-SP (Associação dos Os campeonatos brasileiros adultos de han-
Professores de Educação Física) na cidade de San- debol iniciaram-se com a categoria de handebol
tos, em São Paulo.I masculino em 1974. Em 1978, ocorreu o primei-
O esporte se disseminou pelo país predo- ro campeonato de handebol feminino, enquan-
minantemente por meio de seu ensino nas es- to os campeonatos nacionais de outros esportes
colas. Esse esporte despertou nos adolescentes coletivos tradicionais iniciaram-se em 1905, com
uma grande atração e interesse, fazendo que fos- o futebol masculino. Em 2007, inicia-se o campe-
se incluído como uma modalidade esportiva no onato de futebol feminino (Copa do Brasil); em
III Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), realiza- 1925, basquetebol masculino; em 1940, o cam-
do, em 1971, em Belo Horizonte. A partir desse peonato de basquetebol feminino; e, em 1944,
ano, os JEBs tornaram-se o principal propagador iniciam-se os campeonatos de voleibol masculino
do handebol.II e feminino. O I Torneio Aberto de Handebol foi
Em 1975, um grupo de 19 professores brasi- realizado pela Federação Paulista de Handebol,
leirosIII foi enviado para um curso técnico de han- em 1954.
I
O curso de aperfeiçoamento técnico-pedagógico foi sobre o Lima Rosa (SP); Santo Baldacin (SP); Mauro Rodinski (PR);
ensino dos esportes coletivo, e o professor Listello utilizou o Nivaldo (o padre); Luiz Celso Giacomini (RS); José Maria Tei-
handebol como modelo. xeira (AL – 2º Pres. da CBHb e 1º Pres. da Federação de Han-
II
Sob a coordenação do professor José Maria Teixeira (do remo), debol do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 1978); Manoel
que, posteriormente, se tornou o segundo presidente da CBHb. Luiz – SE (atual presidente da CBHb); Homero José Alcântara
Um dos responsáveis pela inclusão do handebol nos referidos Ribeiro (SE).
jogos foi Ari Façanha de Sá, juntamente com três mineiros que IV
Ary Façanha de Sá foi o idealizador da viagem e o responsável
foram os responsáveis técnicos.9 pela elaboração da lista dos integrantes da comitiva.
III
Os integrantes do grupo eram: Otávio Catanete Fanali (AM); V
Minas Gerais: Ricardo Avelino Trade – Baka, Carlos Eustaquio
Sérgio Guimarães da Costa Flórido (PE); Oliveiro Gomes da Brum da Silveira – Jamanta, Guilherme Angelo Raso – Toco,
Silva (RN); Antônio Luiz Cabral (PB); Wilson de Matos (RJ); Gilberto – Boi; São Paulo: Luiz – Luizinho, Manoel – Mane-
William Felippe (RJ); Athaíde Lacerda (MG); Wilson Bonfim zinho, Paulo – Paulinho, Roni; Rio de Janeiro: Sergio – Sergi-
(MG); Arcílio Tavares (SP); Waldir de Castro Gomes Ribeiro nho; Paraiba: Denilson Bonates Galvão; Paraná: Kusmam, Julio,
– SP (Indicado por Darcymires do Rêgo Barros no momento Eniel Carazzai – Peninha; Rio Grande do Sul: Luis Osório – Li-
da digitação da lista por Ary Façanha de Sá, no RJ); Roberto de gadão, Otto; Maranhão: Gilson – Gilsinho; Amazonas: Bosco.
20 Manual de Handebol
IX
Informação prestada pelo ex-aluno e ex-professor da EEFE/
a incumbência de sistematizar os dados coletados USP, professor Antônio Boaventura da Silva, em entrevista a Sil-
pelos outros colegas em seus Estados, o que possi- va, 1995. Antes da criação da cadeira de handebol, a modalidade
era ensinada na disciplina de Educação Física Geral desde 1951.9
bilitou o resgate de alguns fatos importantes para a Inicialmente, a disciplina foi oferecida apenas para homens; para
mulheres, a inclusão ocorreu apenas alguns anos depois. (Infor-
compreensão da expansão do handebol no Brasil. mação prestada pelo ex-aluno e professor aposentado da EEFE/
USP Emedio Bonjardim).
VI
Professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universi- X
O I Trófeu Bandeirantes de Handebol foi disputado em São
dade de São Paulo – EEFE/USP. José do Rio Preto. Segundo Ferreira,7 a competição foi criada
VII
Evento promovido anualmente pela CBHb a partir de 2002. para incentivar a prática da modalidade no interior do estado.
Memórias do handebol no Brasil 21
Campo Grande, RJ), Cássio Rothier do Amaral professor Dimas, a introdução do handebol
e Enéas da Silva (Niterói – Centro Educacional) no Maranhão após este assistir à modalida-
participaram de um curso em Santos. Estes foram de no JEBs de 1971, em BH, e ter levado
os divulgadores do handebol nas escolas em que bolas doadas por Ary Façanha de Sá para o
lecionavam no Estado do Rio de Janeiro. Maranhão. O desenvolvimento no Maranhão
Em 1966, o handebol foi incluído como também é atribuído ao professor Dimas e ao
modalidade no I Campeonato Intercolegial do professor Laércio Elias Pereira, paulista de
Estado da Guanabara (denominação do atual Es- São Caetano do Sul que se radicou naquele
tado do Rio de Janeiro até 1976), o que estimulou Estado no ano de 1973.XII
os professores a procurarem cursos de handebol. Tem-se notícia de que, em 1967, em Pal-
Porém, o primeiro curso oficial de handebol no meira dos Índios (AL), o professor Luiz Freire e
Estado foi em 1967, ministrado por Darcymi- a pedagoga e diretora de escola (Colégio Cristo
res do Rêgo Barros (especialista em ginástica) e Redentor), irmã Marcelina Dantas, promoveram
Eurípedes Mattos Carmo, que já lecionavam o handebol. Em Maceió, o handebol foi praticado
handebol como conteúdo de outros cursos no em 1968 nas escolas em que lecionavam os pro-
Departamento de Educação Física do Ministério fessores Belmiro Alves (Colégio Sagrada Família)
da Educação e Cultura DEF/MEC.9 No ano de e Josefa Alves (Colégio Bom Conselho).
1972, o handebol foi incluído como disciplina na Foi pela coordenação do professor alagoano
grade curricular da Escola de Educação Física e José Maria Teixeira que o handebol foi incluído
Desportos da Universidade Federal do Rio de Ja- no JEBs realizado na cidade de Belo Horizonte
neiro EEFD/UFRJ. em 1971. No ano seguinte, a cidade de Maceió
A Federação de Handebol do Estado do foi sede do 4º JEBs. Porém, apenas em 25 de mar-
Rio de Janeiro foi fundada apenas em 1978. Em ço de 1980 foi criada a Federação Alagoana de
1981, o Rio de Janeiro recebeu o professor alemão Handebol.
Horst Käsler para ministrar um curso.XI No Estado do Piauí, os registros apontam
Em 23 de setembro de 1960, no Maranhão, que, entre os dias 15 de fevereiro e 5 de março
os professores Luiz Gonzaga Braga e José Rosa da de 1970, realizou-se em Teresina o primeiro cur-
Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFM, so de avaliação básica em handebol. O primeiro
hoje denominada de CEFET) promoveram um jogo realizou-se em 15 de maio de 1970 entre
jogo para demonstração de handebol no aniver- duas equipes do Colégio Helvídio Nunes, que
sário da escola. tinham como treinadores os professores Antônio
Porém, credita-se a Antonio Maria Za- Sarmento de Araújo Costa e o professor Péricles
charias Bezerra de Araújo, conhecido como Freitas Avelino.
XII
Formado pela EEFE/USP em 1970 e preparador físico da
XI
Autor do livro Handebol, publicado pela editora Ao Livro Técnico. seleção brasileira comandada por seu ex- professor, Jamil André.
22 Manual de Handebol
Em julho de 1971, o professor Péricles Frei- Barcelona, conseguindo a 11ª colocação; a estreia da
tas Avelino ministrou o primeiro Curso Básico de seleção brasileira de handebol feminina em Olimpí-
Educação Física em Handebol para professores adas se deu apenas no ano de 2000, nos Jogos Olím-
da capital e do interior do Piauí. Esse curso foi picos de Sidney, classificando-se em 8o lugar.
promovido pela Inspetoria Seccional de Educação Os principais resultados obtidos pela seleção
Física do Piauí, em convênio com a Secretaria de adulta masculina brasileira em certames interna-
Educação e Cultura. cionais foram: vice-campeão masculino, em 1981,
A primeira participação do Piauí em JEBs da Taça Latina e do Campeonato Sul-Americano;
foi em 1972 em Maceió, e teve como técnicos os terceiro colocado nos jogos Pan-Americanos, em
professores Péricles Freitas Avelino (masculino) e 1987; segundo colocado em 2002; campeão sul-
Jovita Maria Ayres Lima Cavalcante (feminina). americano em 2000, 2001 e 2003; e primeiro co-
Em 21 de novembro 1980, foi criada a Federação locado nos Jogos pan-americanos de 2000, 2001,
de Handebol do Estado do Piauí. 2003, 2006 e 2008.
O handebol em Santa Catarina foi implan- Os principais resultados obtidos pelo Brasil
tado na década de 1970 na área de Florianópolis, em certames internacionais na categoria adulta fe-
e, no 1º semestre de 1971, realizou-se o 1º cam- minina foram: campeão pan-americano em 1997,
peonato regional escolar. A Federação Catarinen- 1999, 2000, 2003, 2005 e 2007; e campeão sul-
se de handebol foi criada em 27 de setembro de americano em 1998.
1974. Os melhores resultados de ambas as seleções
O Brasil começou a participar de competi- nacionais em Jogos Olímpicos foram em Atenas,
ções internacionais em 1958 (na República De- em 2004, quando a equipe masculina conquistou a
mocrática Alemã) no 3º Campeonato Mundial 10ª colocação, e a seleção feminina, a 7ª colocação.
(iniciado em 1938). A seleção convocada para era Os resultados dos Jogos Olímpicos têm
formada apenas por jogadores paulistas.XIII Em servido para impulsionar o handebol no Bra-
1966, por iniciativa do Conselho Técnico de As- sil. A partir do ano 2000, as TVs ESPN Brasil
sessores para o handebol da CBD, deu-se a 1ª par- e SPORTV têm dado apoio ao handebol trans-
ticipação brasileira nos III Jogos Luso-Brasileiros mitindo jogos, e, mais recentemente, também a
em Angola (Silva).9 Em 1970, o Brasil participou Bandeirantes, fato que consideramos fundamen-
pela primeira vez da III Taça Latina realizada em tal para o incentivo e crescimento no número de
Portugal (Ferreira).7 praticantes do handebol. Em julho de 2005, pela
Em 1992, a seleção brasileira masculina par- primeira vez, um jogo de handebol foi transmiti-
ticipou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos em do pela Rede Globo em cadeia nacional, porém
a emissora exigiu que o tempo de jogo fosse re-
Provavelmente porque quem representava o Brasil no âmbito
XIII
Quadro 3.2 – O handebol de areia nos “World como uma possibilidade de lazer, recreação e saú-
Games” (COI) de, que pode ser praticado na praia, na areia, na
Medalha de Ouro escola, na praça, no gramado de casa etc.
Ano Cidade – País
Masculino Feminino
2001 Akita – Japão Bielorrússia Ucrânia
Duisburg –
2005 Rússia Brasil
Alemanha
2009 Kaohsiung – China Brasil Itália
Identificação, caracterização e
4 classificação do jogo de handebol
Uma compreensão ampla do fenômeno es- finidas pela posse ou não da bola, estão relaciona-
porte inicia-se com a consideração das caracterís- das e inseparavelmente ligadas, assim como a atu-
ticas da modalidade. Assim, observam-se espor- ação dos jogadores/equipes. Dessa forma, quando
tes individuais, de conjunto, de rede, de parede, a posse de bola muda de um time para outro, os
de invasão, em espaço específico, de rebatida, de jogadores trocam imediatamente de função, pas-
campo, de sala etc. Segundo Guia, Ferreira e Pei- sando de atacantes a defensores e vice-versa.
xoto11, um jogo esportivo coletivo “apresenta um Em uma partida de handebol, o comporta-
conjunto de indivíduos em interação mútua, com mento dos atletas se fundamenta nos princípios
relações e interrelações coerentes e consequentes, do jogo, que podem ser conforme a fase ofensi-
com objetivos convencionados e funções especí- va: conservar a posse de bola, progredir até o alvo
ficas definidas”. O handebol se encaixa nessas ca- e, por último, buscar a finalização; e defensiva:
racterísticas, apresentando elementos comuns às recuperar a posse da bola, evitar a progressão do
outras modalidades esportivas coletivas: um ter- adversário e evitar a finalização do adversário
reno de jogo, onde se desenvolvem ações individu- (Moreno).15 O handebol apresenta outras carac-
ais, em grupo e coletivas direcionadas a uma meta, terísticas específicas, por meio de uma estrutura
que deve ser atacada ou defendida pelos compa- organizacional conhecida pelos jogadores a partir
nheiros de equipe. Um objeto de jogo a bola, que das regras do jogo que expõem o que é ou não
é movimentada com as mãos pelos integrantes da permitido. Os conteúdos e ações (individuais ou
equipe, que cooperam buscando alcançar os obje- coletivas) acontecem em um contexto de elevada
tivos do jogo: fazer o gol, o que lhes que solicita variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, o
a superação das ações de oposição dos adversários, que dificulta sua antecipação dos fatos e, parale-
considerando as regras do jogo (Bayer; Gargan- lamente, exige dos atletas uma permanente atitu-
ta).12,13 A movimentação pelo terreno de jogo de tático-estratégica (Garganta).13,14,16 Em termos
ocorre de forma particular, nas denominadas fases práticos, essa atitude pode ser representada na so-
ou ciclo do jogo (uma alternância do poder no licitação de respostas variadas, velozes, precisas e
jogo: quem está com a bola ataca e procura fazer o complexas, realizadas, muitas vezes, sob uma ele-
gol) na busca pela vitória. Essas fases do jogo, de- vada pressão de tempo (Greco).17 Por esse motivo,
28 Manual de Handebol
é de suma importância que, nos processos de ensi- Quadro 4.1 – Relação de categorias e formas de
no-aprendizagem-treinamento (EAT), as ações dos classificação da modalidade (Graça e Oliveira)18
jogadores sejam orientadas para resoluções velozes e Categorias Classificação Handebol
lução que considerar mais adequada. Essas escolhas Trajetórias predo- De troca de bola, de De circulação de
minantes circulação de bola bola
são efetuadas por meio do desenvolvimento dos pro-
cessos cognitivos subjacentes à tomada de decisão,
que estão intimamente ligados à capacidade tática Quadro 4.2 – Síntese das características do han-
que o atleta detém. No jogo, as decisões dos joga- debol (com base em Graça e Oliveira)18
dores são velozes, parecem intuitivos, pois o tempo Plano Características
CAM
Nessas categorias, ainda se inter-relacionam Companheiro - Adversário - Meio Ambiente
quanto mais espaço dispõe o jogador, mais Quadro 4.4 – Características do ataque e defesa
violenta é a carga; nos jogos esportivos coletivos de invasão (adapta-
quanto mais próxima a carga, mais violenta é; do de Bayer, p. 53).12
quanto mais próxima a carga e, portanto, Ataque Defesa
mais violenta, mais fácil é controlar tecni- Conservação da bola Recuperação da bola
Progressão dos jogadores e da Impedir a progressão dos joga-
camente a bola (Parlebas).19
bola para a meta adversária. dores e da bola até meu gol.
Atacar à meta contrária, ou
Sendo assim, apresentamos, a seguir, as ca- Proteger a meta ou o campo.
seja, marcar um ponto.
racterísticas das principais modalidades esportivas
de acordo com as considerações realizadas por A participação para a obtenção da posse de
Parlebas (Quadro 4.3).19 bola é simultânea, ou seja, as duas equipes podem
atuar simultaneamente pela posse sem esperar a
Quadro 4.3 – Características dos jogos esporti- ação final do adversário. A partir do momento
vos coletivos de acordo com a carga permitida e em que uma das equipes tem o controle da bola,
o transporte da bola (adaptado de Bayer, p. 52).12 tem-se em vista atingir o objetivo final do jogo
Possibilidade de pro- (marcar ponto). Caso não tenha a posse da bola,
Modalidade Tipo de carga
gressão
objetiva-se recuperar seu controle, tirando-a da
Não existe progressão
Voleibol Não há carga outra equipe e, dessa forma, marcar o ponto. A
com a bola.
A lógica do jogo de handebol é semelhan-
te aos jogos esportivos coletivos de invasão/
oposição simultânea. Conforme Bayer,12 (p. 53)
caracteriza-se pela progressão do ataque e a
oposição defensiva.
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 31
Individual
Ataque Meios Fazer
Grupal Objetivo
técnico-táticos
Coletivo
Individual
Defesa Meios Grupal
Objetivo
técnico-táticos Coletivo Evitar
Equipe
Organização
Distribuição de
Responsabilidades
Sistema de Jogo
Ofensivo Defensivo
Figura 4.3 – Integração de ações como elemento de formação da equipe e sua relação com os sistemas de jogo (Greco).21
Por sua vez, deve-se observar que o jogo de terreno de jogo, que estão descritos na Figura 4.4
handebol se desenvolve conforme princípios tá- (segundo Bayer, p. 144):12
ticos gerais que as equipes apresentam dentro do
32 Manual de Handebol
ou
Sistemas de jogo
Meios
táticos
Intenções
Princípios
Objetivos
Ataque Defesa
Ataque X defesa
Figura 4.5 – As relações entre os componentes que constituem a lógica do jogo de handebol (García).22
Lançamento
Intervenção da melhor posição
do goleiro RE-organizar a RE-organizar o
defesa ataque Organizar o
Lançar nas ataque
piores condições
Progredir para
Evitar a portaria contrária
progressão da
outra equipe
Conservar a
bola
Retorno da
bola Retorno Contra-ataque
defensivo
Figura 4.6 – Fases do jogo de handebol e seus objetivos, com base em Coronado.23
Por sua vez, Coronado23 apresenta uma ex- Tais classificações servem como auxilio para
plicação mais detalhada dos objetivos do jogo de identificarmos o handebol como um jogo espor-
handebol nas duas diferentes fases. tivo coletivo que solicita uma visão sistêmica dos
34 Manual de Handebol
seus componentes, o que gera consequências para A leitura deste texto representa um convite
os processos de EAT. para que se evite, sem prévia análise, a aceitação
de verdades absolutas ou certezas (paradigmas)
“confirmadas”, considerando que a verdade pode
4.2 O handebol em uma visão sistêmica ser relativa à representação individual das pessoas
e que seus alicerces relacionam-se com as justifi-
Rudney Uezu cativas que fundamentam o estímulo que induz a
estarmos sempre com nossa mente aberta a novas
O handebol é caracterizado pela aplicação ideias e mudanças de paradigmas.
de técnicas de movimentos específicas da moda- Os paradigmas podem ser entendidos como
lidade, que precisam ser adequadas às diferentes conjunto de regras, modelos, padrões, visões de
situações encontradas no jogo. Nesse sentido, mundo. O tempo todo percebemos o mundo
faz-se necessário o entendimento da modalidade conforme nossos paradigmas, que acabam sele-
segundo uma perspectiva integrada relacionando cionando o que percebemos e reconhecemos. As-
os aspectos físicos, psicológicos, técnicos e táticos sim, eles nos levam a recusar ou distorcer os dados
independentemente do nível de desempenho es- que não combinam com as expectativas criadas
portivo, ou seja, faz-se necessária uma mudança previamente em nossa mente. Os paradigmas de
no paradigma de entendimento da modalidade. uma sociedade, por exemplo, influenciam nossa
A palavra paradigma apresenta-se como um vida de forma direta, levam-nos a fazer acreditar
termo bastante difundido em nosso cotidiano, que a forma como entendemos os fatos são “cor-
podendo ser utilizada em diversas áreas do conhe- retos” ou o “único jeito de fazer”, impedindo, as-
cimento. Ao longo de nossa história, os paradig- sim, que outras ideias possam ser aceitas de forma
mas do conhecimento foram sendo substituídos a nos tornar resistentes a mudanças e com pouca
conforme as inquietações de algumas pessoas in- flexibilidade comportamental.
conformadas com as regras e normas de conduta Hoje, em pesquisa cientifica, o paradigma
vigentes na época. denominado “sistêmico” vem sendo a referência
Porém, como será que esse paradigma atu- para substituir a chamada “modernidade” pela
al e o que está emergindo podem influenciar o “pós-modernidade”. Esse paradigma sistêmico
entendimento do esporte e, mais especificamente, parte do princípio de que não é possível fragmen-
do handebol? Quais são as possíveis implicações tar a totalidade em partes isoladas para entendê-la,
práticas? Será que a mudança de paradigmas em já que, desse modo, as interações entre as partes
relação à conceituação do handebol pode aportar são desconsideradas, impossibilitando, assim, sua
uma visão diferenciada dos processos de ensino- compreensão. O termo sistêmico vem de sistema,
aprendizagem e treinamento do handebol? que foi conceituado como “complexo de elemen-
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 35
tos em interação” ou “conjunto de componentes partes que o constituem interagem com o meio
em estado de interação”. A existência das intera- ambiente; e complexo porque existem muitas
ções ou relações entre os componentes represen- características que nele influem, além do gran-
tam o aspecto central que identifica a existência de número de interações (aspectos físicos in-
do sistema como entidade, diferenciando-o de um fluenciam a realização de uma técnica no final
aglomerado de partes independentes. Portanto, os do jogo, ou táticos, quando o defensor chega
fenômenos são analisados de maneira globalizada, a fechar o espaço) que podem ocorrer entre as
sem a fragmentação das partes que o compõem, partes que o compõem.
considerando, assim, as interações existentes entre Os sistemas abertos trocam matéria/energia
as partes na composição da totalidade. e informação com o meio ambiente. Já os com-
Segundo Tani e Correa,26 as modalida- plexos apresentam grande número de fatores que
des esportivas coletivas podem ser classificadas nele influem, assim como o grande volume de
como sistemas abertos e complexos, incluindo, interações que podem ocorrer. A Figura 4.7 apre-
assim, o handebol. Portanto, para se compre- senta uma análise que considera duas equipes, o
ender e analisar o jogo de handebol, pode-se número de jogadores envolvidos e as possibilida-
recorrer à visão sistêmica, pois o handebol é des de ações ofensivas que cada atacante pode re-
sistema aberto e complexo: aberto porque as alizar individualmente.
Jogos Coletivos
Equipe A Equipe B
Figura 4.7 – Análise de duas equipes, do número de jogadores envolvidos e das possibilidades de ações ofensivas que
cada atacante pode realizar individualmente.
36 Manual de Handebol
de aspectos táticos (quando e por que fazer) e dinâmica de movimentação de um gol a ou-
técnicos (como fazer) deve ocorrer concomi- tro, conforme discutido nas diferentes fases do
tantemente, já que, ao mesmo tempo que o jogo. O nível organizacional equipe é constitu-
praticante entende a lógica do jogo e se com- ído pelos jogadores que compõem as equipes e
porta com autonomia e independência, preci- sua respectiva distribuição espacial pela quadra
sa aprender os diferentes procedimentos que de jogo, segundo os conceitos de largura e pro-
podem ser realizados durante o jogo. A partir fundidade, na criação e ocupação de espaços e
do momento em que o aprendiz entende o que suporte ao jogador com bola. Já o nível parcial
fazer, são impostas as decisões de quando e por considera os jogadores diretamente envolvidos
que aplicar os procedimentos técnico-táticos. nas ações, conforme conceitos de tática grupal
Esse aspecto leva a afirmar que os fundamentos e tática coletiva, nos quais são consideradas as
ou técnicas do handebol devem ser denomina- opções de interações que podem ocorrem entre
dos ações técnico-táticas individuais, já que a dois a três jogadores, seja no ataque ou na de-
execução de um passe, por exemplo, depende fesa. Para finalizar, o nível primário considera
da decisão de o que fazer (se passar ou lançar), a unidade mínima de oposição entre dois jo-
isto é, o aprendiz considera primeiro o que fa- gadores, ou seja, um atacante com bola e seu
zer e, assim, conclui o como executar, quando, correspondente na defesa.
para quem e em qual momento ele será realiza- O jogo pode ser entendido como o nível
do. Ações em esporte se orientam pelos objeti- de organização mais complexo, e seu resultado
vos táticos e requerem a técnica para sua con- depende das interações ocorridas nos demais
cretude, ou seja, no handebol a ação é tática e níveis de organização. Seu entendimento pode
técnica simultaneamente. Pode ser considerado explicar o resultado de uma partida. A Figura
que, mentalmente, primeiro se decide o que fa- 4.8 ilustra as possibilidades de interação entre
zer (tática) e, depois, como fazer (técnica), mas um jogador com bola e seus companheiros de
ambas as decisões ocorrem simultaneamente na equipe, assim como com seu adversário direto.
execução.
Gréghaine e Goudbout26 sugeriram que,
na lógica de um jogo coletivo onde ocorra opo-
sição entre duas equipes, faz-se necessário con-
siderar diferentes níveis de organização: jogo,
equipes, parcial e primário.
O nível jogo representa o confronto dire-
to entre as duas equipes que se opõem durante
a partida. Tal oposição pode ser expressa pela
38 Manual de Handebol
Deslocamentos Passes
Criação e Companheiro
ocupação de desmarcado
espaços
Após Manter a
Recepção Atacante posse de bola Dribles
desmarque
Superar um Superar um
adversário adversário
Arremessos Fintas
Figura 4.8 – Interação do jogador com bola no handebol dentro do sistema de jogo.
Para que as possibilidades de interações pos- (aspecto técnico), caso ele não saiba o momento e
sam ocorrer de forma organizada, existe a necessi- o local mais adequado para tal ação.
dade de considerar, de maneira integrada, as ações Ao se considerar o nível parcial, podemos
técnicas e táticas do handebol. Por exemplo, em entender as interações que podem ocorrem entre
situações de jogo, não basta que um atleta domine dois ou três jogadores, e a Figura 4.9 ilustra as
somente a forma de execução de um arremesso possibilidades entre dois atacantes.
Tabelas
Cruzamentos Bloqueios
2
Atacantes
Pantalhas Permutas
Ponte Aérea
A ocupação dos espaços deve se realizar uti- Com a posse de bola: deve-se manter a pos-
lizando as zonas que se correspondem com postos se desta, progredir até o objetivo, dar con-
específicos. Para isso, no ataque, conformam-se tinuidade ao ataque habilitando, mediante
duas linhas de jogo. A primeira linha ofensiva é um passe, outro companheiro ou finalizar
contada a partir do meio do campo de ataque. a ação por meio do lançamento;
Nela se posicionam os jogadores responsáveis Sem a posse de bola: a missão principal é
pela armação do jogo. Na segunda linha ofensiva, apoiar o companheiro com a bola, saindo
situada entre as linhas de 6 e 9 metros, posicio- da marcação, e, também, atuar procurando
nam-se os pontas e o pivô. No sistema padrão de espaços livres úteis;
ataque, definido como 3:3, representa-se, na sua
primeira linha, por um central e dois laterais e, na Com respeito ao jogo em conjunto, distin-
segunda, por um pivô e dois pontas (extremos), guem-se várias fases:
estabelecendo-se zonas de lançamento próximas
(6 a 9 m), que incluem lançamentos no ar dentro Contra-ataque: fase rápida de ataque, aprovei-
da área de 6 m, e zonas de lançamento afastadas tando-se a surpresa e desorganização defensiva
(7,5 – 14 m). com o objetivo de aproveitar a superioridade
numérica que supõe um grande espaço que se
deve ocupar. Distinguem-se em duas subfases:
4.3.2 Fases e formas de jogo contra-ataque propriamente dito (1a e 2a on-
das) e contra-ataque sustentado (3a onda);
No jogo de ataque distinguem-se, basica- Ataque posicional: fase na qual os jogadores
mente, dois tipos de situações para um jogador: atuam em seus postos específicos, aprovei-
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 41
linhas defensivas
Primeira linha
Segunda linha
Lateral Lateral
Central Terceira linha
C A
am conjuntamente e se relacionam entre as linhas
de jogo. Por exemplo, no sistema defensivo 6:0,
existem dois defensores centrais, dois laterais, dois
E
D extremos (pontas), unidos, em todo caso, em co-
F
laboração com o goleiro.
D F
Largura: distinguindo-se uma zona central,
duas laterais e duas externas.
Profundidade: refere-se ao distanciamento
da área de meta, distinguindo-se em uma
zona de tiro próxima (até 8 m) e uma fIgura 13: Distribuição dos jogadores em sistema de-
zona de tiro afastada (até 14 m). Em ge- fensivo 6:0 contra o ataque 3:3.
ral, considera-se que as defesas podem ter
três linhas ou barreiras para confrontar o
ataque. As linhas se contam a partir da li- 4.4.2 Fases e formas de jogo
nha de gol. A primeira linha próxima aos
6 metros, a segunda, entre 7 e 9 metros e a Em defesa, podemos distinguir diferentes
terceira, entre 8 e 10 metros. comportamentos quando o adversário direto do
44 Manual de handebol
defensor possui ou não a bola. No primeiro caso, Defesa em zona: o defensor responsabiliza-
o defensor deverá evitar o lançamento, tentando o se por uma zona e do atacante que nela se
bloqueio da bola ou tomá-la, evitando a progres- encontra.
são do atacante. No segundo caso, deve-se vigiá- Defesa individual: o defensor responsabili-
lo, dissuadi-lo para que não receba a bola, colocá- za-se do jogador que se emparelha de for-
lo em situação de pressão para que, caso a receba, ma constante no jogo defensivo.
não tenha opções de passe ou finta.
As fases da ação defensiva podem-se consi-
derar como:
Cada jogador em defesa tem alguns objeti- O jogo defensivo solicita dos jogadores da
vos básicos ligados estreitamente aos fundamen- equipe uma ação comum e plural para conseguir
tos defensivos, como: êxito. Sem dúvida, sem uma boa colaboração e
uma atitude positiva com o jogo defensivo, é di-
dominar os deslocamentos defensivos (des- fícil obter o objetivo. Entre os meios coletivos, de
locamentos); grupo ou grupais, que o jogador deve dominar,
desenvolver a posição e a atitude defensiva encontram-se:
(posição básica);
efetivar sua responsabilidade de marcação basculações;
sobre o oponente que lhe corresponde; dobras (2x1);
atuar sobre o jogador sem bola (dissuasão, troca de oponentes;
interceptação, pressão); deslocamentos;
atuar sobre o jogador com bola (bloqueio contrabloqueios etc.
do lançamento, toma da bola, evitar a
progressão);
colaborar com os companheiros na defesa
(fechar os espaços, cobertura, ajuda, dobra).
Referências
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In: Gaya, A. C.; Marques, A.; Tani, G. Des- to para crianças e jovens: razões e finalidades.
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46 Manual de Handebol
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bol no Rio de Janeiro. Dissertação (mestra- 20 Favre, J. P. Remarques sur les sports colleficts.
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10 Ribeiro, A. P.; Ribeiro, M. A. Surgimento e
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11 Guia, N.; Ferreira, N.; Peixoto C. A eficácia
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23 Coronado, J. F. O. Curso de Solidariedade
12 Bayer, C. La enseñanza en los juegos deportivos Olímpica. São Paulo: s. e., 2002.
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13 Garganta, J. O ensino do futebol. In: Oli- mas. Petrópolis: Vozes, 2008.
veira, A. G. O ensino dos jogos deportivos. J.
25 Tani G. & Correa (2006)
Porto: FCDEF, 1998.
Parte II
Perfil motor do atleta
de handebol
Rudney Uezu
Os aspectos de constituição corporal (biotipo- nas categorias júnior e adulto. Por meio da análise
logia, somatotipologia, entre outros) e de aptidão das informações deste quadro, observa-se que a
física influenciam diretamente o desempenho espor- maioria dos estudos buscou descrever o padrão an-
tivo nas diferentes modalidades esportivas. As carac- tropométrico dos atletas participantes de diversas
terísticas específicas em relação ao tipo de solicita- competições nacionais, e o somatotipo foi a estraté-
ções de cada modalidade, suas regras e especificidade gia mais utilizada para a descrição do perfil corporal
dos contextos ambientais parecem determinar um do atleta de handebol, sendo que o predomínio da
padrão corporal mais adequado para que os atletas mesomsorfia foi evidente em todas as investigações.
obtenham cada vez mais melhores rendimentos. Entretanto, ao se considerar as características
Assim, a observação de padrões de referên- antropométricas e de aptidão física para tentar
cia específicos em função da modalidade espor- encontrar diferenças significativas entre atletas de
tiva representa um aspecto que pode auxiliar na níveis competitivos distintos, não foi encontrada
formação das futuras gerações esportivas. Ao se uma tendência de determinadas variáveis, ou seja,
identificar um perfil específico de características as características relevantes na diferenciação entre
de constituição corporal e aptidão física de atletas os grupo variavam conforme a amostra adotada.
de diferentes modalidades esportivas, os técnicos Com relação a aspectos fisiológicos relacio-
esportivos teriam um banco de dados para auxi- nados à prática do handebol, os estudos de Eleno,
liar em sua prática profissional. Barela e Kokubun1 e Barbosa e Oliveira2 sugeri-
Nesse sentido, a comparação dos jovens atle- ram que componentes aeróbicos e anaeróbicos
tas com padrões específicos podem representar são relevantes para o desempenho no handebol,
um aspecto relevante na identificação e promoção fato evidenciado empiricamente no trabalho de
de talentos esportivos no handebol, na planifica- Paes Neto,3 que encontrou frequência cardíaca
ção do processo de treinamento, na adaptação das média entre 158 e 167 durante jogos oficiais.
cargas de treinamento, entre outros fatores. Um aspecto que chama a atenção se refere à
O Quadro 5.1 apresenta os trabalhos de inves- predominância de investigações que analisaram atle-
tigação que buscaram descrever aspectos antropo- tas do sexo masculino, fato que sugere a necessidade
métricos e de aptidão física em atletas de handebol e relevância de estudos com atletas do sexo feminino.
50 Manual de Handebol
Quadro 5.1 – Resumo dos estudos com atletas das categorias júnior e adulto
Autor Objetivo Conclusões
Verificar a influência do handebol na aptidão Aumentos na força de preensão manual e nos períme-
André4
física. tros de braço e antebraço.
Analisar o somatotipo de atletas da Taça Brasil Perfil mesomorfo balanceado, não sendo encontradas
Profeta5
de clubes e seleção brasileira júnior masculina. diferenças significativas entre os postos específicos.
Pires Neto,6 Descrição de características antropométricas Elaboração de padrões de referência e sugestão de no-
Pires Neto e Profeta7 da seleção brasileira júnior masculino. vas investigações.
Analisar o somatotipo de universitários das re- Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas diferenças
Silva8
giões Norte, Nordeste e Centro-sul do Brasil. significativas entre as posições de jogo e região geográfica.
Analisar o somatotipo de atletas da primeira
Maia9 Predominância mesomórfica.
divisão portuguesa.
Descrever o somatotipo e a composição cor- Predominância endo-mesomórfica em todos os postos
Gonçalves e
poral de participantes dos jogos abertos pa- específicos e não foram encontradas diferenças signifi-
Dourado10
ranaenses. cativas na composição corporal.
Gonçalves, Osiec, Determinar o perfil cineantropométrico da Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas dife-
Tsuneta e Zamberlan seleção brasileira feminina de 1989.
11
renças significativas entre os postos específicos.
Valores superiores dos atletas em todas as característi-
Araújo, Comparação de aspectos cineantropométricos cas e sugestão de importância das variáveis na seguinte
Andrade e Matsudo12 de universitários com a média populacional. ordem: força de membros superiores, inferiores e ab-
dominal, potência aeróbica e agilidade.
Os melhores atletas do campeonato apresentaram
Comparação do perfil morfológico de atletas maiores valores em relação aos demais atletas, espe-
Glaner13 participantes do x jogos Pan-Americanos por cialmente na estatura, envergadura, comprimento de
posto específico. membros inferiores e menores valores de percentual
de gordura e massa corporal magra.
Determinação da intensidade de esforço a partir Caracterização do esforço como misto aeróbico-anae-
Paes Neto3 da frequência cardíaca em atletas do sexo mas- róbico com a média da frequência cardíaca entre 157
culino participantes do Jogos Regionais de SP. a 168 durante três jogos oficiais.
Gorostiaga, Verificar as diferenças na antropometria e ap- Identificação de valores superiores dos atletas profissio-
Granados, Ibañes e tidão física entre atletas profissionais e ama- nais na massa corporal, massa magra, potência muscu-
Izquierdo14 dores da segunda divisão da Liga Espanhola. lar, potência de arremesso parado e apos a progressão.
Vasques, Os atletas das equipes melhores classificadas apresen-
Comparação morfológica de atletas partici-
Antunes, taram valores superiores na na estatura, envergadura,
pantes dos Jogos Abertos de SC.
Duarte e Lopes15 altura troncocefálica e diâmetro palmar.
Caracterização dermatoglífica, somatotípica, Somatotipo mesomorfo balanceado, limiar ventilató-
Cunha Junior, Cunha,
fisiológica e psicológicas de atletas da seleção rio a 90% do consumo máximo de oxigênio e tempe-
Schneider e Dantas16
feminina adulta. ramento sanguíneo.
Os atletas da seleção do torneio não apresentaram per-
Caracterização antropométrica de atletas da
fil antropométrico conforme sugerido pela literatura,
Bezerra e Simão17 Taça Amazônica adulto masculino e compa-
com exceção dos extremas esquerda e direita e arma-
rar os valores com a seleção do torneio.
dor central no percentual de gordura.
continua
Caracterização do perfil Físico-motor do atleta de handebol 51
continuação
O Quadro 5.2 apresenta os trabalhos de in- pométricos e de aptidão física em atletas de han-
vestigação que buscaram descrever aspectos antro- debol nas categorias de base.
Quadro 5.2 – Resumo dos estudos com atletas das categorias de base
Autor Objetivo Conclusões
Analisar características antropométricas e de Identificação da estatura, altura troncocefálica, peso e
Gaya, Cardoso,
aptidão física de atletas participantes dos Jo- resistência abdominal como características relevantes
Torres e Siqueira20
gos da Juventude. para o handebol.
Szmurchrowski; Avaliar a aptidão física de participantes dos Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel21 Jogos da Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Avaliar características antropométricas de partici- Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel22
pantes dos Jogos da Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Identificação do peso, estatura, agilidade, velocidade
Acompanhar a estabilidade de características e potencia aeróbica como variáveis que apresentaram
Raso, França e
antropométricas e de aptidão física de jovens estabilidade, e, por esse fato, os autores sugeriram que
Matsudo23
atletas do sexo feminino. o talento no handebol feminino pode ser predito a
partir de idades precoces.
Determinação de valores da potência aeróbica, limiar de
Avaliar aspectos metabólicos de atletas france-
Rannou 24
lactato e potência anaeróbica, com destaque para a rele-
ses do sexo masculino.
vância do componente anaeróbico para o handebol.
O drible não representou sobrecarga fisiológica adi-
Avaliar a frequência cardíaca e o lactato san-
Eleno e Kokubun 25
cional ao deslocamento, independentemente do nível
guíneo durante a execução do drible.
competitivo.
Os extremas apresentaram menor estatura, perímetro
Comparação do perfil morfológico em fun- de antebraço, massa corporal e massa corporal magra.
Vasques, Antunes,
ção dos postos específicos ofensivos e defensi- Já nos postos defensivos, foram observados aumentos
Silva e Lopes26
vos de atletas juvenis de SC. nas variáveis quando os atletas atuam nas regiões cen-
trais da quadra (posição 3).
Críticas à utilização das características consideradas
Lidor, Falk, Verificar a importância das características mo- na comparação de níveis competitivos diferentes, e
Arnon, Cohen toras, físicas e técnicas na formação de jovens os autores ressaltaram a necessidade de procedimento
e Segal27 talentos de 13 e 14 anos do sexo masculino. com maior validade ecológica e considerar o nível de
maturação biológica dos jovens atletas.
continua
52 Manual de Handebol
continuação
Os estudos realizados com atletas das cate- indicaram que os jogadores da seleção do campe-
gorias de base buscaram identificar característi- onato (189,51 ± 6,38) eram mais altos do que a
cas antropométricas e de aptidão física relevantes média das equipes (184,42 ± 6,78).
para o handebol, assim como uma caracterização Foram verificados valores de estatura acima
geral e em função dos postos específicos. da média tanto na escola (valor máximo de 182
Lidor et al.27 criticaram a maneira como as cm) quanto no clube (valor máximo de 187,50
medidas antropométricas vêm sendo utilizadas e cm). Em relação aos valores mínimos, o escore
reforçaram a necessidade de procedimentos com apresentado pelo clube (154,40 cm) foi inferior
maior validade ecológica, destacando a importân- ao da escola (155,60 cm), ou seja, o menor atle-
cia dos aspectos de maturação biológica e sua in- ta da escola era maior do que o menor atleta do
fluência nos resultados encontrados. clube. Esse fato questiona a afirmação de que a es-
Já Uezu et al.29 destacaram a importância de tatura representa um fator relevante na seleção de
procedimentos multidisciplinares para o entendi- jovens para o esporte de rendimento, uma vez que
mento dos fatores que podem discriminar jovens a média do clube foi significativamente diferente.
atletas de níveis competitivos diferentes, ao com- Ao analisar sua amostra, foram encontrados
parar atletas federados com escolares que disputa- atletas na escola com estatura mais elevada quan-
vam competições escolares oficiais. do comparados aos atletas federados. Porém, pa-
Os federados eram mais altos do que os esco- rece que a estatura considerada de maneira isolada
lares, o que pode sugerir que, quanto maior o ní- pode levar a tomadas de decisão equivocadas ao
vel competitivo, maior a estatura dos atletas. Esses padronizar um perfil dessa variável na seleção de
resultados corroboram Glaner,13 que realizou um seus praticantes.
estudo com 96 atletas adultos que disputaram um Já a análise do somatotipo classificou os
campeonato pan-americano de seleções e compa- federados como ectomesomorfos (3,25 – 4,42 –
rou a média das equipes com os valores dos atletas 3,79) e os escolares como endomesomorfos (3,37
considerados os melhores da competição, ou seja, – 5,07 – 3,14), ou seja, com características corpo-
a seleção do campeonato. Os resultados obtidos rais diferenciadas quando observado o conjunto.
Caracterização do perfil Físico-motor do atleta de handebol 53
Nesse sentido, quando as características dos in- podem ser compensados por outras variáveis de
divíduos foram analisadas de forma isolada, não maneira individual ou integrada.
foram encontradas diferenças significativas; en- Por se tratar de um esporte coletivo, existe
tretanto, quando ao se analisar maneira integra- ainda um agravante referente ao ajuste dos dife-
da, como no somatotipo, a constituição corporal rentes padrões de composição e comportamento
passou a ser diferente. para a montagem de uma equipe, que apresenta
Hoje, um dos grandes desafios dos pesquisa- a necessidade de uma interação entre as caracte-
dores da área do talento e desempenho esportivo rísticas pessoais para um desempenho individual,
e dos técnicos consiste a compreensão da natureza além da necessidade de integração com os outros
heterogênea do padrão apresentado por atletas de indivíduos que compõem o grupo.
alto desempenho esportivo, ao se considerar que
não existe necessariamente um padrão ideal, mas,
talvez, vários padrões ou até mesmo a inexistência
de um perfil, já que os atletas não apresentam ne-
cessariamente as mesmas características.
Nesse sentido, cabe ressaltar que grandes
atletas de handebol, como Vranjes, ou Swensson
(Suécia), Balic (Croácia), Duschebaiev (Rússia,
naturalizado espanhol posteriormente) e Richards-
son, ou Gille, ou Karabatic (França), Kehrmann,
Schwarzer, ou Lenz (Alemanha), entre outros
atletas, não apresentavam características físicas e
motoras acima da média encontrada em atletas de
handebol, porém sempre se destacaram por suas
atuações em competições internacionais, sendo
alguns deles considerados os melhores do mundo
em suas posições.
Acredita-se que, por mais que sejam enten-
didos os fatores que diferenciam níveis competi-
tivos diferentes na combinação das variáveis que
seriam relevantes, não apresentam um padrão en-
tre si, existindo, assim, várias composições indi-
viduais a partir de características individuais dis-
tintas. Escores individuais considerados inferiores
Francisco Seirul-lo
Apresenta-se, agora, uma filosofia inovadora da e com pouco grau de incerteza entre os parti-
sobre o treinamento nos esportes de equipe e nos cipantes.
esportes coletivos, incluindo o handebol. Trata- A seguir, apresenta-se uma revisão geral do
mos dos esportes de equipe, pois, até o presente que a corrente conductista tem aportado ou pode
momento, estes não tinham uma filosofia própria aportar ao esporte, para, assim, a partir dessa
para o treinamento das capacidades físicas. Em base, criticá-las, oportunizando a construção de
geral, procedia-se a uma adaptação dos conceitos um modelo alternativo sobre outra base teórica
utilizados nos esportes individuais. A seguir, será (cognitivismo).
demonstrada a diferença existente entre os mode-
los de treinamentos que devem e têm de existir,
basicamente, em virtude de dois conceitos fun- 6.1 O treinamento esportivo com base
damentais que diferenciam ambas as formas de no conductismo
modalidades esportivas:
Até os anos 1980, o sujeito tem sido con-
Interação grupal; siderado como uma globalidade composta por
Incerteza espacial. partes. Assim, cada disciplina atuava por conta
própria e não existia quase comunicação entre
Até hoje, a filosofia de treinamento utiliza- elas, ou seja, na prática não existia globalidade.
da era aquela que tinha como referencial as te- Aportavam-se conhecimentos do ponto de vista
orias conductistas, behavioristas, provavelmente das “pluridisciplinas”; seguidamente, encontra-se
porque as primeiras disciplinas que estudaram o a “interdisciplinariedade”, que é a fonte de ori-
fenômeno esportivo (Psicologia, Pedagogia, Teo- gem do problema de que não somos capazes de
logia etc.) se fundamentavam no conductismo. As ver mais longe, além de nossos horizontes, pen-
características específicas dessa teoria psicológica sando na possibilidade de aparição de novas áreas.
que servem para avaliar os fenômenos esporti- O conductismo remete a um tipo de esporte
vos são adequadas para modalidades nas quais se que está altamente organizado e que solicita o es-
apresenta uma situação estável, claramente defini- tabelecimento de um modelo ideal de jogo. Nes-
56 Manual de Handebol
Condicional Coordenativo
Condicional
Cognitivo
Coordenativo/Cognitivo
Figura 6.2 – Interação das estruturas que compõem o Figura 6.3 – Estrutura do treinamento no modelo
modelo cognitivo de treinamento. cognitivo.
Portanto, sempre que se tenha intenção de Isso significa que metade ou mais da metade
enfatizar um aspecto qualquer – seja condicional, da necessidade de treinamento tem de estar cen-
coordenativo ou cognitivo –, não se pode se es- trada no aspecto condicional, porém sem se es-
quecer de trabalhar de forma homogênea com os quecer da parte coordenativa e da cognitiva.
outros dois aspectos. Nas fases iniciais de uma atividade de aper-
Fundamental, e mais importante no pro- feiçoamento da condição física, teria de ser algo
cesso dessa concepção, para estruturar o treina- como na Figura 6.4:
mento, consiste na necessidade de coerência entre
Coordenativo
os três elementos anteriormente citados. Nesse
aspecto é que reside, na realidade, o grande pro-
blema da transferência que existia nos modelos
Condicional/Cognitivo
conductistas, pois não se consideravam as inte-
rações dos três elementos fundamentais do jogo: Figura 6.4 – Sequência inicial de treinamento para o
condicional, coordenativo, cognitivo. aperfeiçoamento da condição física.
60 Manual de Handebol
continuação
Ao longo do processo de treinamento, mo-
Quantidade de quilos deslocados
dificar-se-ão em distintas proporcionalidades de Aspectos de
Situação em relação à carga geral
acordo com cada caso, mas sempre combinando sobrecarga
Contrações parecidas
Quadro 6.4 – Detalhes do terceiro nível de treina-
Caracte-
Grupos musculares prota- mento de força (força especial)
rísticas da
gonistas da ação Recursos do Instrumentos desenhados
contração
0% de trabalho parecido ambiente Lugares específicos de prática
Tarefa: muscular
Velocidades similares
trabalho Caracte- Contrações idênticas
da carga Peso (kg) de acordo com as rísticas da Grupos específicos
Aspectos
necessidades do gesto contração Objetos idênticos reforçados
de sobre-
Colocação ajustada da C.G. muscular Velocidade específica
carga
Formas de contato adequadas Tarefa:
trabalho Peso (kg) de acordo com a
Condições Tentativas ajustadas às Aspectos de qualidade específica
com carga
quantita- necessidades do esporte sobrecarga Colocação da C.G. idêntica
tivas do Pausas ajustadas ao sistema Contatos específicos
tempo de adaptação ao esporte
Condições
Diferenciação Recuperação conjugando
Variações quantita-
Amplitude sistema e participação
na execução tivas do
Simetrização (bilateralidade) específica
tempo
Sucessivos específicos Variações Complexidade aumentada
Combina-
Simultâneos específicos na execução do nível 2 (força dirigida)
ção de mo-
Alternativos específicos e
Gesto: vimentos Combina-
não específicos Complexidade aumentada
movimento ção de mo-
Equipamentos semelhantes do nível 2 (força dirigida)
e coordena- Gesto: vimentos
ção Orientação preferencial (em
movimento e Variações
função da posição específica) Variações rítmicas criativas
Variações coordenação espaciais e
Variações no ritmo de Antecipação
espaciais e temporais
execução (nos permite di-
temporais
ferenciação e bilateralidade Tarefas em Por acumulação de tarefas
de uma vez) estado de específicas ou não específicas
Adaptação a um ritmo fatiga Cansaço fisiológico
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 63
É aquele que tem de desenvolver, por sua 6.3.1.2 Aplicação prática do trabalho de força
vez, o preparador físico e o treinador, já que se
necessitam de componentes táticos. O quadro seguinte é um resumo dos distin-
tos trabalhos que devem ser realizados para chegar
Quadro 6.5 – Detalhes do quarto nível de treina- aos níveis de aproximação das diferentes manifes-
mento de força (força de competição) tações da força.
Tarefa, carga, Como os exercícios especiais, mas dificul-
trabalho tando as condições do ambiente.
Iguais às do terceiro nível, incluindo-se:
Gesto: fadiga por excesso de informação, que se
Movimento necessita para o jogo; dificuldade crescen-
coordenação te mesclando dois ou três fatores por vez
(combinação + tempo + espaço).
atuará a uma velocidade média durante mais de 6.4.2 Tipos de trabalho de resistência
15 min ou repetições de 3 min.
O jogador de handebol na competição está a) Capacidade anaeróbica alática
exposto a tempos de trabalho nos quais sua con-
centração de ácido lático aumenta muito, o que Quadro 6.8 – Trabalho de resistência para capaci-
dificulta a atividade motora. Nessa ação, entramos dade anaeróbica alática
com uma dívida. Entretanto, a capacidade anae- Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
róbica lática é necessária porque dependemos dos
8 a 10 s (máxi- Pode-se asso- Gesto específico
momentos de participação, e se o oponente, por ma velocidade ciar ao tempo Corrida de
sua vez, não tiver participado da ação anterior, ne- de execução - de trabalho recuperação
90% ou +) ou ao de recu- Tarefa com-
cessariamente deve-se responder a níveis suficientes
1 a 1min30s peração (mais plementar de
de oposição, luta etc. e suportar o trabalho lático, de recuperação aconselhável recuperação
ainda que não deseje. Necessitamos bastante da po- ativa para se centrar
Nº de vezes em no elemento
tência como uma capacidade, mais a potência do função da posi- coordenativo
que a capacidade. ção específica durante o
e do momento trabalho)
Também devemos potencializar em um joga-
da temporada
dor, de preferência, a capacidade anaeróbica aláti-
ca, ou seja, podem-se repetir muitas vezes partici-
pações de 6 a 7 s com um alto nível de velocidade,
com tempos de trabalho e de pausa de forma quase 6.4.2.1 Estrutura condicional
nunca homogênea. Além disso, a potência anaeró-
bica servirá para ressintetizar mais rapidamente os Como temos visto, deve-se ampliar o tempo
resíduos láticos de uma atividade que se pode dar. de trabalho até 8 a 10 s, quase sempre ao topo, de
Na prática dos sistemas de treinamento de 90% a 100%, com uma recuperação máxima de
resistência, devemos planificar tipos de resistência 1min30s. Nessas condições, a PC (fosfocreatina),
anaeróbica alática, componente lático e, também, que é o substrato orgânico que permite trabalho
potência aeróbica, que é o oxigênio de que se necessi- alático, regenera-se em 80% do que fora gasto em
ta para manter uma prática anaeróbica lática, que é nível muscular, segundo os grupos musculares
o metabolismo que prevalece nesta prática esportiva que participam. Assim, asseguramos o trabalho
sobre o resto. Para resumir, deve-se desenvolver: seguinte neste âmbito metabólico. O número de
repetições variará em função da posição específica,
sistemas de capacidade anaeróbica alática. do peso do jogador e do momento da temporada.
potência e capacidade lática. Não depende de nenhum dos sistemas tradicio-
potência aeróbica. nais de treinamento, mas do que foi exposto anterior-
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 67
mente, já que cada posição específica solicitará mais o 6.4.2.4 Estrutura condicional
trabalho de alguns grupos musculares concretos para
essa posição específica; no entanto, o momento da tem- A potência anaeróbica lática melhora a
porada em que nos encontramos também é decisivo. condição das enzimas glicolíticas dos grupos
musculares que participam, sobretudo das per-
nas. Essas enzimas favorecem a destruição do
6.4.2.2 Estrutura coordenativa ácido lático.
As ações que faremos serão mais específicas e
Consiste em realizar sempre o gesto específico deverão fazer-se na mais alta velocidade possível.
durante o trabalho. Durante o tempo de recupera- Desse modo, estaremos, continuamente, media-
ção ativa, existem duas opções: realizar corrida de dos pela estrutura coordenativa.
recuperação ou uma tarefa complementar, poden- Entre 20 e 35 s, à máxima velocidade, deve-
do ser o quique da bola, passes em duplas etc. -se realizar não mais que 4 a 8 repetições, com re-
cuperações entre 4 a 5 min. Esse tipo de trabalho
suporta altas concentrações de ácido lático: de 6,5
6.4.2.3 Componente cognitivo a 8 mmol/mL.
continuação
6.4.2.8 Estrutura coordenativa Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
Repetições: nº de
Componentes específicos de menos a mais.
vezes de acordo
com o tempo real
do jogo.
Recuperação: 30 s a
6.4.2.9 Componente cognitivo 1 min.
Ativa.
futebol etc. para, posteriormente, como última Portanto, devem-se utilizar diferentes meios
aproximação coordenativa, utilizar o espaço espe- ao longo dos períodos, dois deles, fundamental-
cífico dentro da quadra com as trajetórias mais mente, ao longo do período preparatório:
utilizadas nas posições específicas de cada jogador
(no caso de correr por toda a quadra, os pontas o Aquele que permite ressintetizar os altos
farão pelas laterais, o central e o pivô pelo centro níveis de ácido lático, no nível de trabalho
etc.), realizando tarefas de acordo com estas posi- aeróbico. A potência aeróbica será a resis-
ções específicas. tência preferencialmente utilizada durante
o período de preparação;
A fase lática: a capacidade “a” dentro da ca-
6.4.2.12 Componente cognitivo pacidade anaeróbica lática.
Está associado às tarefas específicas. Uma vez que temos, basicamente, desenvol-
vidas essas duas vias (potência aeróbica e capaci-
dade anaeróbica lática “a”) de resistência, devem
6.5 Periodização da resistência aparecer e continuar ao longo de toda temporada
de competições as outras vias que faltavam, a po-
Graças a essas três categorias, podemos ela- tência anaeróbica lática e as capacidades anaeróbi-
borar, ao longo da temporada, um espectro de cas alática e lática “b”.
meios de treinamento da resistência. Assim, existe um momento final da cha-
Na planificação do nosso esporte, dividimos mada pré-temporada, que é crítico na troca dos
a temporada em dois períodos: um período pre- meios de treinamento da resistência e o mais di-
paratório, com duração de 4 a 5 semanas; e um fícil, porque, além disso, teremos de incluir as
período competitivo, que se estende por 7 meses. primeiras competições, e, em função da posição
específica e de como cada um tenha assumido es-
Tabela 6.1 – planejamento do treinamento de re- ses treinamentos de resistência, cada um vai usar
sistência ao longo de uma temporada competitiva mais um tipo de metabolismo que outro. Nes-
Período preparatório Período competitivo sas primeiras competições, se tiverem assumido
Capacidade muito bem o trabalho aeróbico, irão muito bem
anaeróbica alática
na 1a parte; na 2a parte, não poderão se mover,
Potência aeróbica
pois haverá muito ácido lático acumulado. Isso
Potência anaeróbica lática
se vê claramente nas partidas anteriores ao início
Capacidade anaeróbica Capacidade anaeróbica
lática “a” lática “b” da temporada competitiva oficial.
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 71
O nível de conhecimento das capacidades co- assim, poder explicar melhor as diferenças inte-
ordenativas não é tão diferenciado e teoricamente rindividuais de rendimento.31 As capacidades são
comprovado como o das capacidades condicionais entendidas como a característica que torna possí-
força e resistência. As dúvidas são determinadas vel o desempenho de alta qualidade, nas diversas
fundamentalmente na dificuldade de se obter pro- atividades humanas, propiciando o alcance do
gressos sobre aspectos neurofisiológicos e seus res- sucesso. As capacidades coordenativas traduzem a
pectivos correlatos em níveis corticais (por meio de organização e o controle de movimentos por meio
um procedimento dedutivo de pesquisa). Observa- das propriedades dinâmicas do sistema efetor. A
-se também que as pesquisas no plano de observa- análise de ações coordenadas como soluções nas
ção do comportamento coordenativo (por meio de tarefas motoras práticas contribui com possíveis
um procedimento indutivo de pesquisa) têm apon- respostas às “controvérsias entre a teoria motora e
tado resultados contraditórios.30 Assim, os conheci- a da ação”,32 com uma visão dos velhos problemas
mentos adquiridos até hoje na área das capacidades em um novo contexto.
coordenativas apresentam várias dúvidas e muitas No marco das capacidades inerentes ao ren-
hipóteses, sendo alguns deles somente gerais. A dimento esportivo, as capacidades coordenativas
execução de uma ação, em especial a esportiva, é possuem caráter geral, ou seja, elas são pré-requi-
compreendida como um processo sistêmico e inte- sitos de ordenamento e estruturação para deter-
grado, organizado e relacionado ao contexto situa- minada classe de tarefas motoras, que, em certos
cional (pessoa – ambiente – tarefa). Nesse sentido, momentos ou situações no esporte, colaboram na
existe um conjunto de capacidades que interage execução de uma técnica específica da modalida-
mutua e complexamente, na busca de um objetivo. de. Ou seja, as capacidades coordenativas servem
O termo capacidade deriva das bases teóri- de base para as habilidades técnicas e estas, por
cas da psicologia diferencial, que observa fatores sua vez, para a aprendizagem da técnica, isto é, do
como a inteligência e a personalidade do sujeito. gesto específico da modalidade (por exemplo, o
São traços (traits) latentes, disposições ou, ainda, lançamento em suspensão ou a realização de uma
construtos que são herdados, definidos por meio “rosca” no lançamento do ponta, na parada de
de um processo de constante construção para, uma bola com uma técnica de side-quick do golei-
74 Manual de Handebol
Elaboração de Informação
Eferente Aferente
Motricidade grossa e fina Ótico, acústico, tátil,
cinéstesico, vestibular
Pressão do Tempo
Pressão da Precisão
Pressão da complexidade
Pressão da organização
Pressão da variabilidade
Pressão da carga
Baixa Alta
O Quadro 7.1 esclarece quais são os parâ- e Roth,32 o que representa o ponto de vista da exi-
metros de pressão conforme colocados por Kröger gência motora e um exemplo prático.
Habilidade básica
com bola
Variabilidade
(exigências aferentes e eferentes) Treinamento da coordenação
com bola
Situação de pressão
(do tempo, da precisão,
da complexidade, da organização,
da variabilidade, da carga)
7.3 Atividades sugeridas para o de- desenvolvimento da capacidade tática como ele-
senvolvimento da coordenação mento de motivação e de aquecimento no início
Conduzir a bola,
rolando-a com a mão
(utilizar as duas mãos)
Tátil Precisão
no chão, em diversas
direções e em determi-
nados percursos.
Material: bambolê
Quadro 7.3 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o bambolê
Analisador Condicionantes Exercício
Andar quicando
uma bola e, simul-
taneamente, puxar o
Cinestésico Precisão companheiro que está
dentro de um bam-
bolê o com os olhos
fechados.
Material: pneu
Quadro 7.4 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o material pneu
Analisador Condicionantes Exercício
Os companheiros,
segurando-se mutua-
mente por um bambo-
lê, devem andar pisan-
do acima de uma fileira
Vestibular Carga de pneus, quicando
uma bola, saltando
sobre o pneu que se
encontra no chão até
que o último do grupo
chegue à “terra firme”.
80 Manual de handebol
Quadro 7.5 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando os materiais banco sueco,
bola, arcos ou bambolês
Analisador Condicionantes Exercício
Andar acima de um
banco sueco invertido
Vestibular Precisão e quicar uma bola
dentro de bambolês
colocados no chão.
Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
o treInaMento da coordenação no handebol 81
Material: bolas
Quadro 7.6 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bolas
Analisador Condicionantes Exercício
Rolar duas bolas iguais
Visual Tempo no chão, correr, ultra-
passá-las e segurá-las.
Quadro 7.7 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bola e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Enquanto o compa-
nheiro rola o arco no
chão, quicar a bola,
Visual Precisão
passando por dentro
do arco de um lado
para o outro.
82 Manual de handebol
Quadro 7.8 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Quadro 7.9 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e pneu
Analisador Condicionantes Exercício
Quadro 7.10 – exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, corda e arco
Analisador Condicionantes Exercício
Pendurar um arco,
com uma corda no gol.
Balançar o arco e lan-
çar bolas para acertar
Visual Organização
no alvo móvel. Depois
colocar dois arcos que
balancem em sentidos
contrários
7.4 Conclusões
Referências
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Parte III
Técnica
Juan J. Fernández, José M. Miragaya, Randeantony do Nascimento
Cabeça: erguida, permitindo uma boa vi- Pode-se definir o deslocamento como “todo
são periférica; o percurso corporal de um lugar ao outro do cam-
Tronco: ligeiramente flexionado; po utilizando como meio o movimento” (Antón)5
Pernas: colocadas simétricas ou assimétri- ou “a ação de se deslocar (mover-se) de um lugar
cas, segundo a necessidade do momento a outro pelo espaço de jogo sem estar em posse de
do jogo; bola” (Lasierra, Ponz e Andrés).6,7
Braços: com os cotovelos flexionados a Os deslocamentos são o suporte do resto das
120o e com a parte radial girada acima e ações, tanto de ataque quanto de defesa, já que
ligeiramente separados do corpo; uma alta porcentagem dessas ações é realizada em
Mãos: com a face palmar dando frente ao opo- movimento. Devem ser efetuados de forma equi-
nente e com os dedos abertos e estendidos. librada para obter êxito nas ações posteriores.
Os deslocamentos são formas de movimen-
O objetivo da posição de base consiste em to que o jogador, sem estar em posse da bola, uti-
oportunizar, a partir da antecipação corporal, a liza para se deslocar de um lugar a outro do cam-
ação a ser concretizada e, portanto, beneficiar a po, tanto ofensiva quanto defensivamente. Seu
rapidez de execução do movimento posterior. objetivo principal é tratar de ocupar e abandonar
Encontramo-nos com dois inconvenientes espaços, assim como alcançar uma antecipação
para a realização desse gesto técnico: postural: chegar antes que o adversário. Iniciam-
se depois de ter adotada uma posição de base. O
Paradas súbitas depois dos deslocamentos; tipo e a forma de deslocamento determinam o
Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 93
8.2.1.3 Classificação
Também podemos considerar dentro dos Trata-se de obter a maior eficácia levando à prática o
deslocamentos: conceito fundamental da antecipação postural.
Quando a posição das pernas é simétrica,
a mudança de direção: utilização de traje- cumpre, para começar o ciclo de iniciação do des-
tórias distintas sem paradas (interrupções); locamento, suspender e projetar à frente a perna
a troca (mudança) de sentido: utilização da contrária à de impulso.
mesma trajetória na direção adotada para Para interromper o deslocamento e ado-
voltar à posição inicial; tar uma posição de base, o jogador apoiará uma
as paradas: com elas, é necessário baixar o perna no chão com a força suficiente como se
centro de gravidade, flexionando os mem- tentasse realizar um deslocamento para trás, di-
bros inferiores e, se o deslocamento é em minuindo, ao mesmo tempo, a inclinação do
grande velocidade, levar o tronco ligeira- tronco para frente.
mente atrás. Os pés podem tomar contato A perna que tentar deter o impulso da pro-
no chão simultânea ou alternadamente. gressão deve ser:
Se o jogador está em suspensão, tomará a separação entre ambas as pernas ficar exagerada,
contato com o chão de forma alternada, modifica-se imediatamente a situação da perna de
sendo a perna mais adiantada (à frente), cor- trás, para obter uma posição equilibrada.
respondente ao último passo, a que inter-
vém, necessitando tentar parar o percurso; (5) Deslocamento frontal para trás e parada
De modo sincronizado se efetuará uma re- encontra apoiada no chão; é igual na forma de
ação regulada no sentido contrário à trajetória marcha, de corrida ou de deslizamento.
adotada anteriormente. O apoio indicado será Novos impulsos sucessivos sobre a perna de
realizado com o tornozelo levantado. trás supõem o começo de outros ciclos para conti-
Com respeito à perna que intervém na de- nuar o deslocamento.
tenção da progressão, é necessário observar as se- Seja qual seja a direção escolhida, a perna
guintes normas: de trás situa-se à altura daquela que está à frente
(adiantada), mas sempre sem se cruzarem.
Deve-se utilizar a perna que, no momento Com respeito à perna que intervém na de-
da ação, se encontra em suspensão (deslo- tenção do deslocamento, é recomendado que:
cando-se em forma de marcha ou corrida);
a perna indicada deve colocar-se para trás se a perna adiantada estiver em contato
da situada em contato com o chão; com o chão, apoia-se a outra perna à al-
Estando o jogador em suspensão (corrida), tura da primeira, ampliando, seguidamen-
tomará contato com o chão de forma al- te, a abertura mediante uma retificação da
ternada, sendo a perna adiantada à frente, perna à frente. Se a perna situada em sus-
correspondente ao último passo, a que in- pensão é a que estiver à frente, esta deverá
tervém em primeiro lugar para tentar deter tomar contato com o chão energicamente;
a progressão. Se o jogador se encontrar em fase de suspen-
Quando o deslocamento é deslizante, a para- são no deslocamento, a tomada de contato
da tentará ser igualmente com a perna mais com o chão efetuar-se-á alternadamente;
adiantada (à frente) na direção do deslocamen- No deslocamento deslizante, a tentativa
to. Deverão ser levadas em conta as recomen- de parada efetua-se com a perna adiantada
dações específicas no deslocamento frontal com respeito à direção empreendida.
para a frente, fazendo as correções oportunas
na colocação das pernas, para tentar a deten- (7) Troca de sentido sem mudar a orientação
ção (parada) definitiva, supondo não conse-
guir no primeiro momento (tentativa). Em qualquer deslocamento, deve-se impul-
sionar-se com a perna mais adiantada (à frente),
(6) Deslocamento lateral e parada respeitando a direção seguida antes de produzir
a mudança de direção, em forma de marcha, de
Tanto na posição simétrica como na assimé- corrida como deslizante.
trica, eleva-se ligeiramente o tornozelo da perna No deslocamento para frente e para trás, a
de trás, impulsionando com a parte do pé que se perna de impulso será a direita ou a esquerda, in-
98 Manual de Handebol
distintivamente. Nos deslocamentos laterais, será um lugar a outro do campo de jogo, de forma regu-
a perna esquerda para o lado direito e a direita lamentada, estando em posse de bola, tanto dentro
para a esquerda. quanto fora do local específico e sem utilizar o qui-
que como recurso” (Falkowski e Enríquez).2
(8) Troca de direção sem mudar a orientação O objetivo principal será a penetração, o en-
gajamento, ou, na sua impossibilidade, manter a
Realiza-se igualmente impulsionando com posse da bola, mas tendo sempre que considerar a
a perna mais à frente (adiantada) com respeito à característica do jogo em profundidade.
direção escolhida antes de se produzir a troca de A técnica de deslocamento em posse de bola
direção, tanto nos deslocamentos frontais quanto está limitada pelo que marca o regulamento do
nos laterais. É necessário levar em conta a força do jogo, em parte, pelo número máximo de passos e,
impulso para facilitar a aceleração. finalmente, pelo uso do dribling e a sua repercus-
são no ciclo de passadas. Portanto, pode-se dizer
(9) Troca de direção e mudança de sentido varian- que, depois do terceiro passo, não é permitido
do a orientação realizar um novo contato com o chão se, previa-
mente, o jogador não se desprender da bola ou
No deslocamento, seja frontal ou lateral, impul- não utilizou a ação de bote.
siona-se com a perna que está adiantada mais à frente Ainda que o princípio da técnica deter-
respeitando a direção adotada, antes de se produzir mine que o final do deslocamento com bola a
mudança de direção, tanto em deslocamentos em for- perna à frente deve ser a contrária ao braço que
ma de marcha quanto nos de corrida ou deslizamen- controla a bola (deslocamentos fundamentais),
to. Coincidindo com o impulso, tem de se realizar um as possibilidades do jogador devem ser mais nu-
giro com o pé correspondente para trocar (mudar) a merosas para poder atender a qualquer exigência
orientação de que se trata, coordenando tudo com o do jogo de ataque (deslocamentos especiais). Por
resto do corpo. A nova orientação origina, logicamen- consequência, os movimentos escolhidos podem
te, um deslocamento frontal ou lateral. terminar com a perna do lado do braço que con-
trola a bola adiantada, mesmo com as pernas em
posição simétrica.
8.2.2 Deslocamentos com bola Definição do ciclo de passos:
Ciclo = 3 passos para o jogador com bola.
8.2.2.1Definição Utiliza-se o dribling em qualquer momento,
possibilitando um novo ciclo de passadas.
São “os movimentos que o jogador que está Exemplo da possibilidade máxima:
em posse de bola realiza” ou a “ação de se mover de 3 passos - bote - 3 passos
Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 99
com ela; 0
3 3
2 2
2 2 2
1 1
0 0 0
0 0 0 0
Fundamentos técnico-táticos
9 individuais no ataque I
dedos orientados para baixo e na posição reco- pelo jogador para não modificar o gesto normal
mendada para receber a bola. O contato com do deslocamento e a velocidade da corrida fron-
a bola realiza-se no centro aproximado da tra- tal, com o fim de não perder a força dos objeti-
jetória compreendida entre os movimentos de vos sucessivos e alcançá-los o quanto antes, deve
extensão-flexão dos braços. considerar-se transcendental, se queremos aplicar o
As posições indicadas nas recepções frontais, princípio fundamental básico da técnica: o jogador
seja qual for a sua altura, são aplicadas também deve estar disposto, em cada momento, para inter-
para as recepções: vir de forma imediata na ação posterior mais eficaz.
diagonais.
laterais. Recepções com a bola no chão:
por trás.
Bola e jogador estáticos: devem ser
Mais que isso, incorpora-se um novo gesto: aplicadas as normas indicadas no capí-
rotação do tronco para o lado de onde vem a bola, tulo de adaptação da bola, assegurando
movimento do qual se acentuará progressivamen- a sua posse com uma ou duas mãos.
te até alcançar o nível máximo das recepções por
trás. Dessa forma, não se modifica a força do des-
locamento e melhora-se a disposição para intervir
na ação posterior.
Sobre as recepções por trás, e concretamente
sobre a tomada de contato com a bola, convém
ter presente as seguintes considerações:
braço executor. A outra mão, situada Bolas não controladas: a mão do bra-
frontalmente à primeira, deve assegu- ço executor acompanha a bola na sua
rar a posse da bola tomando o contato trajetória descendente, logicamente
com ela imediatamente depois da pri- coma a face palmar orientada para
meira ação. baixo. Depois do quique, a bola não
Bola e jogador em movimento, na retrocederá ligeiramente, tomando
mesma direção e sentido: deve uti- contato com a bola imediatamente
lizar-se o procedimento igual ao da depois, reduzindo, consequentemen-
“colher”. No entanto, neste caso, para te, a força da reação do impacto. A ou-
assegurar a posse da bola, a ação do tra mão, com a palma orientada para
impulso deve ser realizada para trás, cima, assegurará a posse da bola.
adaptando-a com a mão contrária ao
braço executor. A outra mão assegu-
rará a posse da bola imediatamente
depois da primeira ação.
A utilização do procedimento de “co-
lher” leva implícita, ainda mais, a pos-
sibilidade de manter a velocidade má-
xima do jogador no seu deslocamento.
bre o chão para acompanhá-la na sua A orientação do jogador não está con-
trajetória. A outra mão, com a face dicionada à trajetória do passe.
palmar para baixo, assegurará a posse
da bola. Quando os passes não são corretos em rela-
Nas recepções de quique pronto (rápi- ção à situação do receptor, o que obriga a realizar
do), convém flexionar o tronco, como uma postura forçada, o jogado deve retificar a sua
nas recepções com a bola no chão, situação, mesmo perdendo eficácia, em benefício
para poder intervir com prontidão na da segurança.
ação posterior.
Até agora, tratamos das recepções com o jo- 9.2 Adaptação à bola
gador em apoio. Só faltam, para finalizar as recep-
ções, aquelas nas quais o jogador se encontra em
suspensão, dada a altura do passe, que denomina- 9.2.1 Definição
remos de salto.
A adaptação da bola é um conceito de or-
Finalmente, como normas comuns para re- dem técnica dentro da relação jogador-bola: “É a
alizar a recepção, concordamos com Bárcenas e forma específica de colher e receber a bola com o
Román Seco:1 objetivo de abranger a maior parte dela” (Falko-
wski e Enríquez).2
Em recepções estáticas, a perna con- Trata-se do domínio que possibilita a rapi-
trária ao braço executor deve estar dez dos gestos técnicos posteriores, e seu objetivo
adiantada, posição que favorece a con- é dar segurança à ação posterior.
tinuidade imediata para intervir na
ação posterior.
Nas recepções estáticas e em relação à 9.2.2 Princípios fundamentais
posição das pernas e do tronco, é con-
veniente cumprir as indicações expos- Não olhar a bola;
tas na posição de base ofensiva. A face palmar da mão não deve tocar
Nas recepções em deslocamento, a a bola;
posição de pernas e do tronco está re- Utilizar, preferencialmente, as duas
lacionada com gestos técnicos de qui- mãos para realizar a adaptação da bola.
que, passe e lançamento.
106 Manual de Handebol
Não se deve confundir adaptação com re- Obter facilidade para trocar o tipo de
cepção (tomada de contato com a bola), já que, gesto;
mais propriamente, a adaptação é a fase final da Fazer possíveis mudanças de ritmo no
recepção. Tudo isso deve facilitar os movimentos jogo (rápido-lento/lento-rápido);
naturais e coordenados do pulso para dar sequência Variedade das ações técnicas;
ao gesto técnico seguinte, que é o manejo (quando Permitir um movimento natural e
estariam implicados o antebraço e o braço). continuado.
Figura 9.9 – Posicionamento clássico para o manejo Figura 9.10 – Posicionamento intermediário para o
da bola. manejo da bola.
110 Manual de Handebol
Altura do quadril: é mais baixo que o inter- jogador o máximo de possibilidades de progressão
mediário. Adaptação com os dedos virados para espacial com a bola, que amplia as oportunidades
baixo. Dar o passe caracteriza este tipo pelo fato de realizar deslocamentos rápidos e de culminar
de ter que ser realizado na altura do quadril. este tipo de ação. Marca a estreita relação sujeito-
-bola, tanto em habilidades e destrezas como em
recursos fundamentais, em função das faltas re-
gulamentares e dos encadeamentos com outros
conteúdos técnicos.
9.5.4 Classificação
seu translado, chegue ao seu destino no tempo por cima do ombro do braço executor.
mais breve possível. deixada.
Deve fazer-se com precisão. Um passe mal- retificado.
dirigido obriga a modificar posições adotadas, entre as pernas.
atrasando a intervenção do jogador e, como con-
sequência, a da equipe. Geralmente, se o receptor Em contato com o chão (com as duas mãos):
é marcado próximo, a direção é ao ombro do bra- de peito;
ço executor. Se for marcado à distância, o passe por cima da cabeça.
será feito ao espaço livre de marcação. Se o recep-
tor está em deslocamento, a direção será sempre Em suspensão (com uma mão):
ligeiramente por diante do receptor. frontal;
Com oponente próximo, deve-se proteger a lateral.
bola colocando-se entre ela e o adversário.
A utilização de um tipo de passe ou outro
está determinado pelo(a): 9.6.4 Descrição do gesto técnico
Figura 9.16 – Passe clássico frontal. (FOTO PÁGINA uma nova rotação do tronco para o lado do lan-
75, Livro Balonmán) çamento, projetando o braço executor na direção
do passe.
Clássico lateral para o lado direito (altura do Altura baixa (frontal): a posição correspon-
ombro do braço executor): igual disposição da uti- de ao passe clássico frontal, altura intermediária,
lizada para o passe clássico frontal, mas acentuando com lógica variação na altura de iniciação do
a rotação do tronco. Não se realiza desrotação. gesto que obriga uma maior inclinação do tron-
Clássico lateral para o lado esquerdo (altura co. Este movimento converte-se em semiflexão
do ombro do braço executor): posição igual à do à medida que a posição de início se aproximada
passe clássico frontal. A partir deste momento, ro- do chão, uma vez que o braço executor perde
tação, desrotação e nova rotação do tronco para o horizontalidade.
lado do lançamento, projetando o braço executor Altura baixa (lateral para a direita): acentu-
na direção do passe. ando a inclinação do tronco para o lado do braço
Altura intermediária, ombro-quadril (fron- executor, a posição corresponde à do passe clássi-
tal): o antebraço coloca-se ligeiramente flexionado co lateral para o lado direito, altura intermediária.
sobre o braço, com a extremidade radial orientada Diferencia-se pela altura da posição inicial, que,
para cima. A face palmar deve estar em direção ao neste caso, por ser mais baixa em relação ao braço
passe, com os dedos orientados lateralmente. O executor, descende perdendo a horizontalidade.
tronco deve estar ligeiramente inclinado e roda- Altura baixa (lateral para a esquerda): par-
do para o lado do braço executor. A continuação tindo da posição do passe clássico frontal, altura
desfaz a rotação do tronco e projeta-se o braço na baixa, produz-se rotação, desrotação e nova rota-
direção do passe. ção do tronco para o lado de lançamento, proje-
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral tando o braço executor na direção do passe.
para o lado direito): com exceção da inclinação De pronação frontal (altura intermediária):
do tronco, a posição corresponde ao passe clássico a bola adapta-se às duas mãos (altura do abdô-
frontal, altura intermediária, mas aumentando a men, aproximadamente). Os antebraços colo-
rotação do tronco para o lado do braço executor. cam-se ligeiramente flexionados sobre os braços,
Não se desfaz a rotação do tronco. Projeção do com a extremidade radial virada para cima. O
braço executor na direção do passe. tronco se mantém ligeiramente inclinado para
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral frente. No momento em que a mão contrária ao
para o lado esquerdo): posição igual à do passe braço executor perde contato com a bola, aquele
clássico frontal, altura intermediária. A partir des- se estende na direção do passe, efetuando-o, ao
te momento, efetua-se uma rotação, desrotação e mesmo tempo que se produz um movimento de
pronação para facilitar a impulsão do lançamento.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 119
Na altura baixa, realiza-se da mesma forma. Neste do tronco é mais articulada e o movimento de su-
caso, a bola parte de uma posição mais próxima pinação, mais acentuado.
do chão e, em conseqüência, a inclinação do cor- Por cima do ombro do braço executor: o bra-
po é maior (pronunciada). ço executor, em semiflexão, coloca-se à altura da
De pronação lateral para a direita (altura in- cabeça, aproximadamente. A palma da mão que
termediária): a posição de início é similar à indi- controla a bola fica orientada para cima. Ligeira ro-
cada no passe de pronação frontal, por exceção do tação do tronco, para o lado do braço executor, com
braço executor na direção do passe. Realiza-se da uma suave inclinação. Efetua-se o passe mediante
mesma forma na altura baixa e, consequentemen- impulso dado pelo braço executor, acentuando-se,
te, a inclinação do tronco é maior. neste momento, a rotação do tronco e orientando
De pronação lateral para trás (altura interme- a face palmar da mão na direção do passe. Neste
diária): a posição de início é similar à indicada no lançamento, pode fazer-se lateral ou frontal. Disso
passe de pronação frontal. Devemos realizar um dependerá o grau de rotação do tronco.
movimento de rotação do tronco para o lado do Deixada (vaselina): efetua-se uma rotação
braço executor no momento em que se efetua a ex- do tronco para o lado do braço executor, que se
tensão e a pronação do braço na direção do passe. estende para trás com a palma da mão que con-
trola a bola orientada para cima. Seguidamente,
Figura 9.17 – Passe pronado lateral para trás. (FOTO abre-se a mão, com a qual a bola fica sem susten-
PÁGINA 77, Livro Balonmán) tação sobre a face palmar modelada como ban-
deja, efetuando-se ligeiro impulso para cima ao
Por trás, lateral para a esquerda: orientado tempo em que se retira, de forma súbita, a mão.
para baixo, o antebraço coloca-se ligeiramente fle- Retificado: efetua-se uma flexão de tronco
xionado sobre o braço e à altura do quadril. A pal- para o lado contrário ao braço executor, e este rea-
ma da mão controla a bola de frente para o corpo. liza um movimento de flexão por trás da cabeça e
O tronco mantém-se ligeiramente inclinado para a posterior extensão para se desfazer da bola.
frente. Coincidindo com uma rotação e ligeira in-
clinação do tronco para o lado contrário do braço Figura 9.18 – Passe retificado. (FOTO PÁGINA 78,
executor, projeta-se este por trás, como se tentás- Livro Balonmán)
semos abraçar o próprio corpo. Neste momento,
o jogador, com a linha dos ombros orientada na Entre as pernas: realiza-se com o último pas-
direção do passe, culminará a ação do lançamento so mais longo do que o habitual; quando se apoia
com movimento de supinação. Este passe realiza- o pé no chão, o braço oscila para o centro, entre
-se, também, frontalmente. Neste caso, a rotação as pernas, efetuado o passe.
120 Manual de Handebol
Passe em contato com o chão (com as duas mãos) alcançar a máxima altura. O gesto total deverá ser
acompanhado de uma desrotação do tronco para
De peito frontal: os braços semiflexionados o lado do braço executor. O lançamento efetua-se
e recolhidos próximos ao corpo adotam a técnica projetando o braço na direção do passe, coincidin-
de adaptação da bola com as duas mãos. O tron- do com uma desrotação do tronco. Pode estabele-
co mantém-se ligeiramente inclinado para frente. cer-se igualmente a suspensão impulsionando-se
Estendem-se os braços para frente na direção do simultaneamente com as duas pernas, ainda que,
passe, efetuando, ao mesmo tempo, o impulso neste caso, a disposição do braço executor deva
da bola mediante um movimento de pronação conseguir-se mediante uma trajetória vertical.
simultânea com ambos os braços. Se o passe for Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
lateral, será necessário acrescentar uma rotação do indicações especificadas no passe clássico frontal,
tronco para o lado do passe. mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
Por cima da cabeça: os braços ficam ligeira- vimento de pronação do braço. Não se desfaz a
mente flexionados e dirigidos para cima. As mãos rotação do tronco.
colocam-se na posição recomendada na técnica de Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
adaptação da bola com as duas mãos. O tronco indicações especificadas no passe clássico frontal,
mantém-se erguido. Impulsiona-se a bola na di- mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
reção do passe, projetando os braços para frente e vimento de pronação do braço. No momento do
inclinando, às vezes, o tronco, na mesma direção. passe, produz-se uma ligeira rotação para o lado
No caso de passe lateral, deverá haver uma rota- oposto do braço executor.
ção do tronco para o lado do passe.
técnicas dos jogadores no ataque que dirigem os Que a bola percorra a trajetória esco-
seus esforços para conseguir o gol, considerado lhida no mínimo espaço de tempo.
objetivo fundamental. Encontrar a situação ide-
al para o lançamento ao gol é a tarefa básica do O lançamento deve responder ao denomi-
jogo ofensivo, que finaliza com essa ação e que, nador comum da precisão, não isento de rapidez,
de certa forma, supõe o fracasso ou êxito do jogo escolhendo a trajetória adequada dentro do ângu-
anteriormente elaborado. lo de tiro que se apresenta.
O lançamento deve ser rápido nas suas duas Figura 9.19 – Divisões do gol.
vertentes fundamentais:
A altura do lançamento pode ser determi-
Mínimo de espaço de tempo na sua nada por:
execução.
122 Manual de Handebol
Nos lançamentos desde a linha da área de Quadro 9.1 – Tipos de lançamentos no handebol
gol, é recomendável escolher a trajetória corres- Tipo de
Primeira linha Segunda linha
lançamento /
pondente ao lado em que se encontra apoiada (Armadores) (pontas e pivô)
linha ofensiva
uma perna do goleiro se a outra estiver em sus- Altura do ombro
Clássico Altura do quadril Altura do quadril
pensão.
Altura baixa Altura baixa
Deve proceder-se da mesma forma se o lan- Lado contrário do Lado contrário do
çamento se realiza desde um posto específico da braço sem queda braço sem queda
Lado contrário do Lado contrário do
ponta. Neste caso, não importa se a perna que Retificado
braço com queda braço com queda
está apoiada pelo goleiro é a correspondente ao Mesmo lado do Mesmo lado do
ângulo menos amplo sempre e quando exista en- braço com queda braço com queda
Adquirindo a Adquirindo a
tre ela e o poste mais próximo a distância mínima
Suspensão maior altura maior altura
para que passe a bola. possível possível
Se o goleiro, além de intervir em suspensão, Sem queda, ad- Sem queda, ad-
quirindo a máxi- quirindo a máxi-
realiza uma progressão de fechamento ao executor
ma profundidade ma profundidade
do lançamento, convém escolher uma trajetória Salto Salto com queda
parabólica. Salto sem queda
Caindo sem salto
É imprescindível que o jogador domine
Caindo com salto
a ação de retardar o lançamento ao gol quando
existirem tais circunstâncias. Não devemos nos
esquecer de que o goleiro tenta sempre intuir, Além desses lançamentos durante o jogo
antecipadamente, a trajetória da bola escolhida, posicional, ainda existe o lançamento de sete me-
tanto em direção como em altura. tros, que ocorre quando o atacante sofre uma falta
Isso oferece a possibilidade de mudar ime- quando está em clara chance de gol.
diatamente a trajetória pensada no início, circuns-
tância que se torna fundamental na observação
específica, no domínio da bola, manejando-a com 9.7.4 Descrição do gesto técnico
destreza, na coordenação de movimentos que im-
plicitamente apresentam as mudanças súbitas de Primeira linha
gesto/forma.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 123
Clássico (altura do ombro do braço executor): colocando o corpo quase na horizontal. Depois
realiza-se da mesma forma que o passe clássico fron- do lançamento, a mão contrária à do braço execu-
tal, mas com uma armação mais ampla, a rotação do tor coloca-se no chão.
tronco mais acentuada e uma desrotação instantânea.
Foto 9.24 – Lançamento retificado pelo lado contrá-
Foto 9.20 – Lançamento clássico. (FOTO PÁGINA rio ao braço executor. (FOTO PÁGINA 85, Livro Ba-
84, Livro Balonmán) lonmán)
Altura intermediária: dão-se as mesmas con- Retificado pelo mesmo lado do braço execu-
siderações que para o passe, com as observações tor (com queda): partindo de uma posição de lan-
expostas anteriormente. çamento com armação para o lançamento interme-
diário, produz-se uma flexão e rotação do tronco
Foto 9.21 – Lançamento da altura quadril. (FOTO para o lado do braço executor, que, no momento
PÁGINA 84, Livro Balonmán) da armação, se projeta para trás. O lançamento
produz-se por meio de uma desrotação do tronco,
Altura baixa: idem. e o corpo fica sobre o chão em contato dorsal.
to e, desde o lado mal, produzir uma inclinação controlada na altura do abdômen, dando frente
do tronco e uma armação por trás da cabeça. ao gol. Seguidamente, o jogador deixa-se cair ao
mesmo tempo que eleva ligeiramente o braço exe-
Segunda linha (pontas) cutor para lançar.
Em queda (com salto): efetua-se de forma
Em salto (com queda): é um lançamento ca- idêntica, ainda que com maior impulso de pernas
racterístico dos pontas. A sequência de execução para obter maior penetração.
é a seguinte: De acordo com as exigências do jogo, em
muitas ocasiões o jogador não pode nem deve
Recepção: o mais próximo da linha de atender aos princípios básicos de colocação das
6 metros, com uma aproximação rápida pernas. Em consequência, o lançamento deve ser
a ela. realizado com posições especiais de pernas; ou
Batida: o mais próximo da linha, de seja, efetuando o lançamento ao gol com a per-
forma explosiva e enérgica, com tra- na do braço executor adiantada (lançamento em
jetória para a linha de 7 metros e ga- apoio) ou depois impulsionar com a perna corres-
nhando profundidade e altura no salto. ponde à do braço executor (lançamento em sus-
voo: o mais longo possível para au- pensão ou salto).
mentar o ângulo de lançamento. A Os lançamentos que partem de uma posi-
armação do braço produz-se o mais ção baixa realizam-se mediante uma inclinação
tarde possível para que a bola não seja do tronco, sem aumentar a flexão das pernas ou
interceptada pelos defensores e o go- abrindo o compasso normal destas para chegar-se
leiro a veja durante pouco tempo. ao chão. Trata-se de evitar que as possibilidades de
armação: não há estereótipos. Depen- intervenção posterior do lançador sejam negati-
de da posição do goleiro. vas, já que uma maior flexão de pernas dificultaria
trajetória: normal, parabólica ou em a intervenção imediata do jogador em outra ação
rosca (com efeito). consecutiva.
queda: rodando (rolamento) ou des- Para cumprir o princípio fundamental de
lizando. intervenção oportuna à velocidade conveniente,
é necessário que o jogador, depois de realizar o
Segunda linha (pivôs) lançamento, adquira uma postura equilibrada o
quanto antes, para poder responder, no momento
Em queda (sem salto): é um lançamento preciso, a posteriores exigências do jogo.
característico dos pivôs, com apoio em um pé O jogador deve dedicar uma atenção espe-
ou nos dois, flexionando as pernas e com a bola cial a não pisar na linha da área de gol quando
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 125
executar o lançamento nas suas proximidades. O único obstáculo para que o jogador em posse de
esforço realizado individual e coletivamente pode bola possa tratar de alcançar o gol.
se reduzir a uma perda da bola. Desde as proximi-
dades da área de gol, antes de realizar o lançamen- Lançamento de 7 metros
to, o jogador deve olhar a situação da linha.
Quanto à forma de estabelecer as quedas no Partindo das limitações regulamentadas, a
lançamento, a experiência demonstrou que cada execução deste lançamento vai acompanhada de
jogador adapta seu corpo para amortecer o cho- movimentações e fintas para enganar o goleiro.
que. Não obstante, o deslizamento peitoral pela
área ou queda com rolamento dorsal com contato
no chão representam as formas mais usuais para 9.8 A finta
reduzir os impactos que nos ocupam.
Em geral, o lançamento ao gol deve estar
dominado pela potência. O jogador deve desen- 9.8.1 Definição
volver a sua força à máxima velocidade, mediante
realização explosiva do gesto total de cada lança- A finta define-se como “uma ação realizada
mento. pelo jogador com bola que, por meio de um en-
Em comparação com o passe, a projeção do gano, tenta iludir uma marcação em proximidade
braço executor para trás tem de ser mais aguda do oponente direto”.5 É “um gesto mediante o
para obter um movimento uniformemente acele- qual o atacante com bola tenta superar um defen-
rado, mais amplo na execução do lançamento, e, sor, realizando uma ação prévia de engano e uma
assim, incrementar a velocidade da bola na sua posterior para aproveitar o dito engano”.3d O seu
trajetória. objetivo mecânico é provocar um desequilíbrio
Como em definitivo se trata de que a exe- corporal do rival (contrapé).9
cução do lançamento e a trajetória da bola sejam É um elemento técnico muito utilizado no
rápidas, tem de se buscar o equilíbrio na projeção jogo um contra um, observando que sempre é o
do braço executor ao se realizar a armação para o que se encontra atrás do adversário fintado. No
lançamento. jogo um contra dois, utiliza-se para alcançar um
O executor de um lançamento ao gol deve deslocamento de engano entre dois defensores.
concentrar a sua atenção nos movimentos e nos É importante diferenciar de outros elemen-
deslocamentos na intervenção do goleiro. Temos tos técnicos como a desmarcação (que se realiza
de pensar que, uma vez obtidas as possibilidades sem bola), ou a troca de direção (não possui fase
de lançamento, é lógico concentrar todos os es- de freada, se realiza sem a bola). Como elemento
forços em surpreender o goleiro, que constitui o diferenciador, uma finta exige:
126 Manual de Handebol
9.8.3 Classificação
Fundamentos técnico-táticos
10 individuais na defesa
Figura 10.1 – Posicionamento do defensor, posicionado entre o atacante e o gol, quando aquele está posicionado
na linha de 6 m de costas para o adversário.
O bloqueio depende da posição específica Para sua realização, devemos partir da posi-
do lançador ou do procedimento de lançamento, ção de base, a partir da qual se levantam os bra-
podendo ser em apoio ou em suspensão, ou retifi- ços juntos e estendidos, sempre sem cruzá-los no
cado, devendo-se adotar uma posição dinâmica e momento do lançamento, ou antes, dirigindo-se
de rápida intervenção. frontalmente para a bola. A perna do defensor
Em qualquer caso, sempre colocaremos o que corresponde ao lado forte do atacante deve
nosso tronco entre o gol e o ombro do braço estar ligeiramente adiantada, levantando o calca-
de lançamento do executor. O domínio do blo- nhar da perna contrária, ao mesmo tempo, para se
queio exigirá, por um lado, rapidez para modifi- obter uma maior aproximação com o braço exe-
car a posição e situação adquirida diante de uma cutor do atacante.
mudança súbita do gesto do lançamento ao gol, Para os lançamentos em suspensão, o de-
tanto em apoio quanto em suspensão, e, por ou- fensor deve impulsionar-se imediatamente depois
tro lado, controle visual reduzido à bola, com que o atacante o fizer, e não antes.
atenção especial ao movimento da articulação do Em todos os casos, o bloqueio da bola reali-
pulso que a controla. Não se deve esquecer de za-se com as duas mãos, com exceção dos lança-
que é o último movimento que precede o tiro. mentos baixos, que serão feitos com apenas uma
mão no momento de lançar.
É conveniente que o defensor domine uma
10.2.4 Classificação mudança rápida de posição das mãos, em respos-
ta às mudanças de trajetória que adote o atacante
Em função da posição do lançador: com seu braço executor.
Deve-se esperar na posição básica até que se
Bloqueio em apoio, quando o lança- esteja seguro de que o atacante lançará.
dor realizar um lançamento com os
134 Manual de Handebol
Recuperar a bola (ação prioritária); Sua realização técnica é mais singela que a
Dificultar a progressão ou a circulação dos outros gestos defensivos.
da bola; Podemos entender duas ações ao mesmo
Proteger o gol. gesto defensivo: correr para a bola, buscando-a
com as pernas e não com o tronco, o que implica
risco de uma projeção do corpo para frente e um
mau controle da ação dos braços, com o tronco
Fundamentos técnico-táticos individuais na defesa 135
fixo, por intermédio da pelve sobre as extremida- Temos, quando o atacante abusa do quique,
des inferiores na recepção da bola. uma situação vantajosa ou quando, esgotado o ci-
Utilizam-se duas formas de se apoderar da clo de passos regulamentados, utiliza o bote como
bola quando está em trajetória aérea: desviá-la recurso imprescindível para obter uma situação
para continuar quicando ou fazer o controle da benéfica, ou, simplesmente, diante de uma per-
bola com as mãos e, depois, continuar qualquer seguição do adversário que se escapa driblando.
gesto de ataque. Essa interpretação dá-se comu- Assim, vemo-nos obrigados a ampliar as
mente no espaço próximo ao receptor e, para sua fronteiras de interpretação deste recurso técnico
realização, é necessário um bom conhecimento e podemos determinar que a tomada da posse da
das capacidades motrizes próprias, já que um dos bola não se relaciona somente com a possibilidade
princípios que se deve seguir é “não chegar tarde”. de evitar um lançamento ao gol, mas, também,
Se isso ocorrer, devemos adotar uma conduta de com a pretensão de evitar uma progressão, o meio
dissuasão, controlando a bola e o receptor. de desenvolvimento do qual se utiliza o quique.
volver todas as capacidades necessárias à função e namento de base, dentro do trabalho de aprendi-
assim terá sorte. zagem motora, os pontos fundamentais a serem
trabalhados são o equilíbrio dinâmico, a destre-
za e a manipulação com bola, a dissociação de
11.2 Características membros, a coordenação dinâmica geral, a noção
espaço-temporal e a coordenação com pressão de
Conforme as regras do jogo, o goleiro de tempo e com pressão de organização (duas ações
handebol executa, em sua área específica, tarefas simultâneas).
diferentes em relação aos seus companheiros.
Entre todas as características necessárias para
realizar com êxito suas funções, o goleiro deve ter 11.3 Aspectos gerais da técnica
o domínio dos gestos técnicos, e a inteligência
tática merece uma especial atenção. No processo A técnica específica em relação à posição de
de treinamento da antecipação e percepção, assim base deverá ser equilibrada, cômoda e deve facili-
como da velocidade de pensamento para decidir tar a chegada a todas as zonas do gol com eficiência e
e executar prontamente, sem hesitação, a resposta velocidade. Deverá, também, ser ajustada às suas
para a situação de jogo, a visão global de jogo, características biotipológicas, psicológicas e físi-
a atenção múltipla, por meio da observação da cas, respeitando seu estilo e individualidade. Em
bola, a movimentação dos atacantes e dos pró- geral, o apoio é sobre a planta dos pés, com os
prios companheiros, facilitando as possibilidades calcanhares ligeiramente levantados e os pés ali-
de uma intervenção segura e precisa, fazem que o nhados com a largura dos ombros.
goleiro seja quem lidera tanto a defesa quanto a É necessário adotar uma técnica definida e
saída para o contra-ataque. Isso ocorre pelo fato específica para poder ter o efeito adequado às exi-
de ele ter todo o campo de jogo sobre seu coman- gências do jogo. A técnica do goleiro se divide em
do, colaborando de forma primordial com sua defensiva e ofensiva. Nas ações defensivas, o golei-
equipe. A capacidade de concentração para acom- ro deve interceptar ou cortar a trajetória da bola,
panhar o jogo e ordenar rapidamente suas respos- depois controlá-la e realizar o passe aos seus com-
tas está presente nos sessenta minutos de jogo. panheiros. Nas técnicas ofensivas, deve ser um
O desenvolvimento das capacidades de fle- grande passador de longa distância. Conhecer e
xibilidade e alongamento, velocidade de desloca- treinar as técnicas individuais de cada jogador de
mentos, reação e ação, força explosiva e resistência campo, com passes rápidos, curtos e executados
são fundamentais e imprescindíveis para o sucesso com qualidade e precisão, pode iniciar ataques de
do goleiro, influenciando diretamente na técnica muito êxito, garantindo um contra-ataque rápido
específica a ser trabalhada. No processo de trei- e efetivo para sua equipe.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 139
11.3.1 Técnica defensiva forme sua estatura, variando de 0,5 a 1,5 metro.
Deve-se manter a cabeça erguida com naturalida-
Considerado o primeiro e o último defensor, o de, orientação frontal ao portador da bola, com
goleiro atua coordenando e colaborando com os joga- total controle do campo visual da bola, olhos
dores de quadra, organizando e orientando a defesa em em sua trajetória, tronco ligeiramente inclinado
relação ao seu posicionamento, trabalhando em con- à frente, pernas simétricas, afastadas à largura
junto com o bloqueio e com o marcador dos pontas. dos ombros, ligeiramente flexionadas e peso do
corpo dividido uniformemente; pés totalmente
Posições e situações em função da cir- apoiados no solo (base firme de sustentação), des-
culação de bola, ante o deslocamento locamentos curtos, rápidos e deslizantes, com lar-
dos atacantes. gura cômoda propiciando possibilidades de ação
Momento da intervenção: ante os lança- posterior rápida; braços de acordo com a postura
mentos entre 6 m e 9 m (pontas, pivô, adotada, devendo se sentir à vontade. As mãos se
infiltração dos armadores), fora dos 9 m, mantêm naturalmente abertas e voltadas para o
nos 7 m e na iniciação do contra-ataque. objetivo. Toda a atitude deve ser relaxada e des-
Atuação fora da área de 6 m, inter- contraída. Nunca deve segurar a bola, mas, sem-
ceptação do contra-ataque (dissuadir, pre que possível, utilizar as duas mãos nos movi-
retardar ou interceptar) partindo ve- mentos, assegurando o sucesso e a continuidade
lozmente sem indecisão, procurando de ações.
chegar primeiro ou ao mesmo tempo,
criar indecisão. Realizar a intercepta-
ção do contra-ataque, pois a bola de
gol a gol vale 1 gol, e se o atacante
receber a bola livre e o goleiro não
sair, as suas chances são poucas. Essa
antecipação visa não só cortar o passe,
mas, também, evitá-lo e retardá-lo, ou
forçar o erro de passe do adversário.
2 a 3m
Impulsão no pé contrário (o pé mais afastado de propiciar o ataque à bola. Para defesas a meia
da trajetória da bola, sem deslocamento). A altura altas e longas, utilizam-se os dois braços,
outra perna, em suspensão, se deslocará lateral- não havendo elevação da perna, mas um ataque
mente para atingir o ponto de contato com a em diagonal à fundo com inclinação do tronco e
bola, juntamente com a elevação do braço cor- para defesas curtas, com um braço só. É necessá-
respondente à altura adequada, projetando-o rio muito trabalho de mobilidade na articulação
ligeiramente para frente. Cobertura maior do coxo-femoral.
ângulo. Não girar o tronco. Posicionar de fren-
te para a bola. Pés direcionados para frente. Na
elevação de um braço na bola, o ganho de altu-
ra é maior, porque o deslocamento da cintura
escapular, elevando-se do lado que elevamos o
braço, permite isso. Se levantarmos a perna do
lado, deslocamos, também, a cintura pélvica, e
esse ganho em alcance aumentará, favorecendo,
também, a intervenção para defesas em qual-
quer altura. Em qualquer sentido do movimen-
to a situação é a mesma, sobretudo em sentido
diagonal, em que, para se levar os dois braços,
tornam-se necessários uma torção do tronco e
um ligeiro atraso de movimentos. A diferença
talvez não vá além de um palmo, mas é o bas-
tante para defender certas bolas que de outra
maneira entrariam. A defesa deve ser realizada
apenas no sentido de desviar a bola. Deve-s es-
perar e não sair para frente.
Figura 11.7 – Posicionamento do goleiro para defesa
Defesa de bola de média altura de bola de média altura com as duas mãos.
Figura 11.8 – Posicionamento do goleiro para defesa Figura 11.9 – Posicionamento do goleiro para defesa
de bola de média altura com uma mão. de bola baixa.
ângulo; não tocar no arremessador (muda a traje- de salto. A movimentação dos braços é de bai-
tória do salto e conseqüentemente o lançamento). xo para cima e acompanha a perna flexionada.
Quanto o adversário estiver mais próximo do
gol, os movimentos deverão ser mais amplos e,
quanto mais à frente, mais curtos e próximos do
corpo. Deve o goleiro ter a capacidade de reagir
no ar para qualquer movimento variado em re-
lação à trajetória da bola realizado pelo ataque.
Neste tipo de defesa, o goleiro perde a condição
futura de uma nova reação rápida e sequencial.
Não deve ser utilizada como técnica básica, re-
petindo-a em cada ação. A tática defensiva do
goleiro na defesa do contra-ataque é a mesma
dos lançamentos de 6 metros, o movimento se
inicia com uma saída para a frente e defesa late-
ral, fechando o ângulo.
O recurso utilizado, o qual denominamos Figura 11.14 – Posicionamento do goleiro para defesa
defesa em “Y”, é realizado com ou sem execução de lançamento de contra-ataque.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 147
Defesa dos lançamentos de sete metros O goleiro pode ou não realizar uma pré-
-defesa, em função do nível de dificuldade de sua
Para defender, o goleiro deve estar preparado intervenção. Sua posição fundamental poderá di-
para o jogo sabendo para quem e onde lançar. minuir ou não a distância com o atacante, deslo-
cando-se ou posicionando-se à sua frente.
O posicionamento inicial mais utilizado,
antes da autorização do árbitro, é de 4 a 5 metros
Até 4 metros
do executante. No primeiro caso, o executante se
dá conta da posição imediatamente e, no segundo
caso, é perturbado em sua concentração, distrain-
do-se naquilo que previa realizar. O importante é
que, no momento do lançamento, o goleiro obte-
nha a sua posição fundamental básica para poder
reagir rápido o suficiente em todas as direções e
movimentos.
Figura 11.15 – Posicionamento do goleiro para defesa O conhecimento do jogador adversário em
de lançamento de 7 metros. relação às suas características e possibilidades pode
favorecer e determinar ao goleiro a escolha da me-
O jogador tem, no máximo, 3 ou 4 tipos de lhor forma defensiva de sua atuação, relacionadas
lançamentos e locais em que gosta de lançar (1 ou com diferentes distâncias e posições iniciais. Na
2 é o normal). cobrança realizada por jogadores armadores, o
O goleiro tem opções de: goleiro poderá sair mais e, no caso de lançadores
pontas ou pivô, poderá esperar mais. Por exem-
deixar o atacante lançar onde ele pre- plo, para lançamentos precisos e não potentes,
fere; permanecer na linha de gol e esperar o lançamen-
enganar o atacante, levantando uma to; permanecer na posição básica e no momento
perna e retornando; levantando uma do lançamento saltar contra o lançador; perma-
perna e um braço junto com o pé de necer 1 a 2 metros à frente do lançador de forma
apoio; e levantando uma perna e tro- passiva e com uma posição básica; lançar-se sobre
car saltando, saindo à frente. o lançamento; estar a 3 metros da linha de gol e
saltar contra o lançador; estar a 4 metros da linha
Figura 11.16 – Opções do goleiro para defesa de lan- de gol e deixar lançar ou provocar um lançamento
çamento de 7 metros. de cobertura; preparar armadilhas, obrigando ou
induzindo o atacante ao lançamento. Estar tranqui-
148 Manual de Handebol
Nem sempre o goleiro deve esperar tranqui- Logo após uma defesa com êxito, o goleiro
lo ou passivo pelas possíveis ações dos adversários. deve colocar a bola em jogo em diferentes veloci-
Poderá provocar determinada direção do lança- dades, conforme o placar do jogo. Se a equipe está
mento do jogador adversário, escolher o ângulo e perdendo, realiza-se o mais rapidamente possível,
a altura com a utilização de fintas. É muito prová- ou lentamente, quando a equipe está “curtindo”
vel a obtenção do êxito se utilizar estas fintas. Es- o momento se se encontrar à frente do marcador.
tas não devem ser realizadas com demasiada ante- Deve realizar, de preferência, passes longos, ao
cipação, pois simulam ações e atitudes, induzindo meio campo, possibilitando um ataque rápido.
ao lançamento para provocar erros do atacante. A Somente realizará um passe curto quando o lon-
finta será tática e tecnicamente perfeita quando go for taticamente inadequado ou arriscado pela
for obtida depois do movimento de engano, con- posição de defensores que possam interceptá-los.
dição de voltar à posição inicial correta, e a partir É considerado o iniciador do ataque e, também, o
daí, reagir. Prioritariamente, deverá ser utilizada último atacante, pois é responsável pela reposição
nos lançamentos de 7 m e 6 m das zonas centrais de bola e início do contra-ataque, podendo tam-
(de curta distância). A mesma finta não deve ser bém atuar como sétimo jogador.
repetida, ou, pelo menos, não imediatamente. No
duelo goleiro x atacante, triunfará o jogador psi- Recuperação da Bola
cologicamente mais forte.
a) recepcionar – controle total da bola;
b) amortecer – médio controle;
11.3.6.1 Tipos de fintas c) deslocar/rebater – difícil controle.
Referências
1 Bárcenas, D.; Román Seco, J. D. R. Técni- 7 Lasierra, G.; Ponz, J. M.; Andrés, F. 1013
cas de balonmano. Madri: Gymnos, 1995. Ejercicios y juegos aplicados al balonmano: fun-
damentos y ejercicios individuales. Barcelo-
2 Falkowski, M. M.; Enríquez, E. Estudio mo- na: Paidotribo, 1992. v. 2.
nográfico de los jugadores de campo: aspectos
técnicos. Madri: Esteban Sanz, 1982. v. 1. 8 Trosse, H. D. Balonmano: entrenamiento,
técnica y tática. Barcelona: Martínez Roca,
3 VVAA. Balonmano. Colección de los depor- 1993.
tes olímpicos. Madri: Comité Olímpico Es-
pañol, 1991. 9 Greco, P. J.; Maluf, E. Handbol: de la escue-
la al club. Buenos Aires: Ediciones Lidium,
4 Bárcenas, D.; Román Seco, J. D. R. Balon- 1989.
mano: técnica y metodología. Madri: Gym-
nos, 1991. 10 Greco, P. J. Caderno de rendimento do atleta
de handebol. Belo Horizonte: Health, 2000.
5 Antón, J. L. Balonmano: metodología y alto
rendimiento. Barcelona: Paidotribo, 1994. 11 ______. Caderno de Rendimento do Goleiro de
handebol. Belo Horizonte: Health, 2002.
6 Lasierra, G.; Ponz, J. M.; Andrés, F. 1013
Ejercicios y juegos aplicados al balonmano: fun-
damentos y ejercicios individuales. Barcelo-
na: Paidotribo, 1992. v. 1.
fundaMentos da tátIca coletIva no ataqueI 151
Parte IV
Tática
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Simonara Silva, Fernando Greco
O handebol é um esporte que se caracteri- uma intenção tática; portanto, os níveis das capacida-
za pela presença simultânea de ações de ataque e des técnicas de um jogador e, também, de uma equi-
defesa, em espaços comuns que determinam a sua pe se manifestam por meio das ações dos jogadores,
luta. Assim, durante o jogo, as ações individuais se conforme as intenções táticas no momento do jogo.
concatenam com as ações de grupo e de conjunto, Os meios táticos de grupo se caracterizam pela
tanto de ataque quanto de defesa. As ações técnico- solicitação do apoio do colega na realização da ação;
-táticas a serem realizadas para resolver as situações somente serão finalizadas com sucesso caso essas con-
de jogo são denominadas meios técnico-táticos, dutas estejam concatenadas entre os jogadores. Os
que, conforme a situação, são considerados de ata- atacantes sem a bola devem favorecer, em todo mo-
que ou defesa, nas diferentes fases do jogo. mento, o jogo daquele que possui a bola, oferecendo-
lhe ocasiões e condições para um passe eficaz após um
desmarque ou criando espaços para ele ou para outros
que possam ser beneficiados por sua movimentação
sem bola. Como se observa, no handebol é funda-
mental organizar as ações de jogo, observando os parâ-
metros da conduta individual no tempo e no espaço.
Trata-se da aplicação dos deslocamentos por
parte de todos os jogadores na ação ofensiva coletiva,
com o objetivo de obter situações favoráveis de recep-
ção distribuídas equilibradamente ao redor da bola
em qualquer fase do ataque. Nesta situação, o jogador
Figura 12.1 – Meios táticos de grupo no handebol com a bola tem de ir para as zonas nas quais se encon-
(modificado de Antón).1,2 tram mais apoios e melhores possibilidades de passe.
Os fatores que se deve ter em conta para ob-
Os meios táticos de ataque e defesa solicitam de ter o êxito nesta criação são: as mudanças de dire-
ações técnico-táticas. Como fora anteriormente colo- ção e de ritmo de corrida ou da velocidade, além
cado, no handebol, a técnica sempre está a serviço de da distância com o defensor.
154 Manual de Handebol
12.1 Tabela (give and go – passe e vai) Buscar, de forma secundária, a penetra-
ção e aproximação da meta adversária;
12.1.1 Definição
12.1.3 Terminologia específica e classifi-
A tabela é uma ação que se realiza visando cação
oportunizar ao atacante em posse de bola a supe-
ração de seu defensor direto. Participam de uma ação de tabela dois joga-
Este meio tático grupal inclui várias formas dores, sendo:
de realização e procedimento:
um jogador com bola: aquele que ini-
Passe e vai: é a estrutura básica de inte- cia a ação da tabela com um passe para
ração entre dois atacantes. É utilizado um segundo jogador;
quando o possuidor da bola não con- um jogador sem bola: também deno-
segue superar o seu oponente no jogo minado jogador resposta, este é o res-
1 x 1 e passa a um companheiro. Este, ponsável por se deslocar sem bola se
em seguida, se desmarca para, poste- desmarcar e receber o passe do joga-
riormente, voltar a receber a bola em dor com bola, para devolver o
melhores condições.
Passe e volta: é uma sequência do
jogo com um duplo passe de ida e 12.1.4 Considerações
volta entre dois jogadores, com o ob-
jetivo de assegurar a posse da bola e Para se realizar a tabela, deve-se levar em con-
dar continuidade ao jogo de ataque. sideração que ambos os jogadores envolvidos em
Passe e segue: estabelece-se para dar tal ação ofensiva devem realizar deslocamentos sem
continuidade ao jogo por meio da cir- bola, oferecendo-se para receber e orientando-se no
culação da bola. Encadeiam-se, assim, espaço e com os colegas livres da ação do defensor,
vários passes entre atacantes, dando para que se inicie e se termine a ação. Além disso,
início ao jogo posicional. eles devem garantir a continuidade das ações. Po-
rém, os demais atletas da equipe devem estar aten-
tos e devem, também, se oferecer para receber um
12.1.2 Objetivos possível passe e dar continuidade ao ataque quando
o jogador iniciador da tabela não puder concluir
Conseguir superar o defensor direto; ou receber a devolução do jogador resposta.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 155
O jogador com bola deve realizar determi- 12.2 engajamento, as progressões, pe-
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: netrações ou apoios sucessivos,
em ataque no intervalo
fixar o defensor e ver a proximidade
com ele; Juan J. Fernández, Helena Vila,
passar a bola ao colaborador; Randeantoni do Nascimento
sair da marcação após passar a bola;
fintar sempre na direção de corrida;
usar a troca de velocidade na ação de 12.2.1Definição
sair da marcação;
apresentar qualidade e variação no Por meio de uma estrutura de jogo com
tipo de passe. base nas progressões ou penetrações sucessivas,
podem-se estabelecer conceitos como os de am-
O jogador com bola deve realizar determi- plitude e profundidade em ataque, conseguindo
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: a máxima utilização do espaço possível regula-
mentado.
oferecer-se para receber; Podemos conceitualizá-los como sendo a
perceber a ação do colega; soma dos pontos de apoios dinâmicos. Penetrar
receber em espaço que permita a sequ- é “entrar por” e realiza-se pelos espaços livres.
ência de ações; Quando um atacante penetra entre dois defen-
fixar o adversário; sores e atrai a atenção dos deles, um compa-
apresentar qualidade e variação no nheiro atacante fica sozinho. Esta é a base das
tipo de passe na devolução. progressões sucessivas, já que, a partir daqui, a
sequência se repete até esgotar as possíveis ajudas
É importante, todavia, que os demais atle- da defesa e obter a superioridade numérica que
tas da equipe estejam atentos à situação criada dê lugar a um possível 1 x 0.
pela tabela entre esses dois jogadores e fixem a
atenção de seus defensores diretos, realizando
ações sem a bola. Além disso, devem observar a 12.2.2 Objetivos
proximidade com o jogador que realiza a tabela
para evitar que se feche o espaço deste, realizar Conseguir a penetração na defesa
fintas e mudanças de direção e sentido em suas quando se está em igualdade de nú-
linhas de corrida. mero de jogadores no campo;
Melhorar a distância do lançamento;
156 Manual de Handebol
12.3.1 Definição
12.3.2 Objetivos
a penetração;
Figura 12.3 – Ataque com base no conceito ímpar com a progressão, por falta de êxito do pri-
finalização da zona exterior esquerda ao se conseguir su- meiro objetivo.
perioridade. No conceito ímpar, a resposta do jogador
beneficiado pela ação do jogador iniciador é atacar em
paralelo, ou em engajamento ou apoio sucessivo. 12.3.3 Considerações
O conceito par significa que um atacante Esta noção ofensiva demonstra as condu-
conseguiu uma situação frontal com seu oponente tas fundamentais que têm de se desenvolver em
158 Manual de Handebol
12.4.2 Objetivos
Conseguir a penetração;
Melhorar a distância e a condição do
Figura 12.5 – Ataque utilizando o conceito ímpar. lançamento;
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 159
12.4.3 Classificação
12.6 O bloqueio
12.5.3 Terminologia específica e classificação Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
Segundo a trajetória
Lateral (pela esquerda e pela direita).
da bola/defensor
Primeira linha.
Segunda linha.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 163
Bloqueio simples
(um atacante atua sobre um defensor).
Bloqueio duplo
(dois atacantes atuam sobre um defensor).
164 Manual de Handebol
Duplo bloqueio
Segundo o número de jogadores
(dois atacantes atuam sobre dois defensores).
Segundo a saída
O bloqueio constitui uma série de fases: Figura 12.11 – Desenvolvimento de bloqueio dinâ-
1. Iniciação: quando o principal proble- mico.
ma está na sincronização da ação do
atacante com o restante da jogada de
ataque, que estará em função da dis- 12.7 A pantalha
tância e da situação dos jogadores en- Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
tre si.
2. Realização: o bloqueador é o jogador
que começa a ação, mas em função da 12.7.1 Definição
bola, e é o primeiro que deve chegar
ao ponto escolhido. O beneficiado É um meio tático coletivo pelo qual dois ou
deve passar lateralmente o defensor, mais atacantes cortam simultaneamente a trajetória
na hora em que acontece o bloqueio, de um defensor (ou defensores) em profundidade
e o bloqueador se coloca pelo lado em para facilitar o lançamento de um companheiro.
que pretende passar o beneficiado. A pantalha é um muro que se interpõe entre os
3. Finalização: se dá quando o beneficia- defensores e um atacante para facilitar a este o lan-
do ultrapassa lateralmente a linha de çamento à distância. Pode-se considerar, também,
bloqueio (formada entre o bloqueador como a soma de dois ou mais bloqueios frontais.
e o jogador com a bola) e implica um
lançamento ao gol, uma continuação
com um passe ao bloqueador (blo- 12.7.2 Objetivos
queio dinâmico) ou uma possibili-
dade de superioridade numérica nas Conseguir uma situação ótima para o
ações seguintes. lançamento eficaz da primeira linha;
166 Manual de Handebol
12.7.4 Considerações
Quadro 12.2 – Responsabilidades dos atletas durante uma ação de ponte aérea
Jogador iniciador Jogador receptor Jogador sem bola
Fixar a atenção dos seus defensores
Fixar o defensor direto. Perceber a ação do colega.
diretos, realizando ações sem bola.
Observar a proximidade com o jogador
Passar a bola ao colega que salta para
Oferecer-se para receber. que realiza o fly, não fechar espaço
a área.
deste.
Sair da marcação após passar a bola. Saltar de fora da área. Não se aproximar em demasia.
Fintar sempre a direção de corrida,
Recepção no ar no espaço da área, nas Desmarcar-se para ser opção de passe e
desviando atenção da defesa para o
costas da defesa. para ser um possível receptor.
local do passe.
Fintar sempre a direção de corrida e
Fixar e passar com qualidade. Observar o goleiro, tipo de ação, saída etc. trabalhar sem bola para atrair defen-
sores.
Usar a troca de velocidade na ação de Usar a troca de velocidade na ação de
sair da marcação. sair da marcação.
Qualidade e variabilidade no tipo de
Qualidade e Variação no tipo de passe. Qualidade e variação no tipo de ação.
lançamento.
Assegurar a continuidade do jogo caso
Assegurar a continuidade do jogo. Assegurar a continuidade.
não possa definir.
Juan J. Fernández, Jose M. Miragarjo, Rondeantoni do Nascimento, Helena Vila
13.1 Basculação, flutuação e forma- “triângulo defensivo”. Esse nome se deve a sua
ção do triângulo defensivo similaridade geométrica com essa figura. Sua mis-
são fundamental é reforçar as zonas defensivas
correspondentes à posição da bola, isto é, formar
13.1.1 Definição superioridade numérica defensiva em torno da
bola (densidade).
Por basculação entende-se uma série de
deslocamentos laterais defensivos determinados
pela posição da bola e do jogador (amplitude
defensiva), com o objetivo de se obter superio-
ridade numérica defensiva no setor em que se
encontra a bola.
Unido ao conceito de basculação defensiva,
encontramos, também, o de flutuação, que se
define como a ação de aproximação-afastamento
de um defensor frente ao seu oponente. A dis-
tância que os separa pode ser maior ou menor
dependendo da ação ou não contra o oponen- fIgura 13.1 – Triângulo defensivo.
te (profundidade defensiva). A missão funda-
mental da flutuação é jogar com espaços que se
deixam disponíveis para o atacante. Por meio 13.1.2 Objetivos
da redução, aproximamo-nos do oponente, em
uma zona eficaz de deslocamento, ou pelo seu Impedir penetrações e progressões.
aumento, retrocedendo para bloquear a bola na Buscar a ocupação antecipada de es-
direção que ela fosse. paços livres.
O exercício que combina flutuação e bas- Reduzir a zona de ação eficaz do ata-
culação possibilita a formação do denominado cante no lançamento à distância.
170 Manual de Handebol
Figura 13.3 – Ação de dobra por parte de um central a) em defesas por zona:
defensivo. Superação de um companheiro em
um contra um: o companheiro que
está ao lado pelo qual foi vencido seu
13.2.2 Objetivos colega realiza a cobertura.
Em defesa de duas ou três linhas pe-
Ajudar a resolver as dificuldades de um rante erro na interceptação ou supe-
companheiro superado por um adver- ração pela zona externa (a dobra é um
sário com bola e ocupar o seu lugar. deslizamento).
Neutralizar uma situação de superio-
ridade numérica ofensiva com perigo b) em defesas mistas:
iminente. As mesmas considerações do caso ante-
Permitir a reorganização de ações de- rior para aqueles que defendem em zona.
fensivas com posterioridade. As mesmas situações e cadências, ou
seja, superação do homem que foi à
172 Manual de Handebol
13.4.1 Definição
13.4.3 Considerações
Referências
1 Antón, J. Balonmano: tática grupal ofensiva. 6 Román, J. El juego del pivote. V Jornadas
Madri: Gymnos, 1998. Unisport para entrenadores de balonmano.
Málaga: Unisport, 1993.
2 ______. Balonmano: tática grupal defensiva:
concepto, estructura y metodología. Madrid: 7 Petkovic, V. La passe dans la surface de but.
Grupo Editorial Universitario, 2002. Eurohand. France: Euro-Hand, 1990.
Parte V
Sistemas de jogo no
handebol
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila, Rondeantony do Nascimento
14.1.2.2 Classificação
14.2.1 Definição e estrutura Sistema de ataque 3:3 (um pivô) - 3:3 (dois pivôs)
Podemos entender os sistemas de transforma- Acontece quando, partindo do sistema 3:3 (um
ção como sendo as mudanças de um sistema de um pivô), um ponta abandona a sua posição e se converte
jogo a outro, por modificação das linhas de jogo ou em segundo pivô, geralmente do lado contrário que
das posições específicas. Esta evolução dos sistemas de correu. Assim, a equipe passaria a atuar com dois pivôs
ataque faz com que a defesa se reorganize buscando: e ficaria sem um ponta, inicialmente. Os armadores la-
terais ficam em suas posições, ou seja, apresenta-se um
aumento da iniciativa defensiva (maior 3:3 com uma ponta livre, sem ocupação por jogador.
antecipação);
ocupação espacial em várias linhas
(maior profundidade);
aumento da movimentação defensiva
(espaços mais amplos).
O ataque contra a marcação individual deve 3. Dois jogadores com mais habilidade,
apresentar alguns princípios para facilitar o transporte tecnicamente, se colocam um atrás
da bola até o objetivo final do jogo, ou seja, o gol. do outro no meio do campo.
Ataque contra marcação individual define- 4. Conforme a situação e de acordo com
-se como sendo um sistema de ataque livre sem o trabalho da defesa, os jogadores 1
obrigações de ocupação de posições no qual os e 2 podem realizar o “corte” para o
jogadores movimentam-se pela quadra a fim meio, ou cruzar com o colega.
de proporcionar situações de passe ou infiltração
para o portador da bola. Sua estrutura modifica-se
em função do posicionamento da bola e do joga- 14.3.2 Classificação
dor que a possui, relacionando-se com o tempo e
espaço da quadra de jogo. O ataque contra marcação individual
Os jogadores devem iniciar o ataque con- tem como característica a presença de duas
tra a marcação individual conforme os seguintes funções, sendo:
princípios, visualizados na figura abaixo no mo-
mento de saída da bola: Jogador com bola: é aquele que possui
a bola e a preferência para penetrações
e lançamentos ao gol.
Jogador sem bola: são os apoios e tem a
responsabilidade de auxiliar o jogador
com bola para sua movimentação e con-
seqüente infiltração, lançamento ou passe.
Figura 14.6 – Estrutura do ataque contra marcação Os jogadores em ataque podem realizar
individual.2 diversas ações técnico-táticas a fim de facilitar o
transporte da bola ao objetivo e, consequente-
1. Dois jogadores ocupam a posição de mente, o gol.
ponta em espera. Podem ser subdivididas em dois momentos,
2. Dois jogadores ocupam a posição no podendo ser realizadas movimentações sem bola
meio do campo junto à linha lateral e com mudança de direção e/ou sentido ou movi-
aguardam. mentações de apoio e de ajuda.
186 Manual de Handebol
Figura 14.13 – Movimentações sem bola de apoio e de Figura 14.14 – Movimentações do jogador sem bola
ajuda (cruzamento e ataque em paralelo).2 de apoio e de ajuda (cruzamento).2
Sistema 5:1
D 3 4 E 5 F
São estabelecidas duas linhas defensivas, sendo 6
a segunda formada por apenas um jogador, denomi- 2 7
D 4 E F
3 5 Para uma melhor realização de um sistema
2 6 defensivo no alto nível de rendimento no hande-
bol, é importante seguir uma lógica de ensino-
-aprendizagem-treinamento visando favorecer o
Figura 15.4 – Sistema 5:1. aprendizado completo dos componentes técnico-
194 Manual de Handebol
Mini
individual 08-10 12-14
cadete 3-3
Mini
individual
14-16
juvenil 3-2-1
Mini
individual 12-14
16-18
Tática individual
Ações defensivas
concreta, como ocorre nos demais sistemas tra- Na própria linha de nove metros
tados.1 A sua finalidade pode-se resumir nos se- (por exemplo, em situações padrões
guintes pontos: como nos tiros laterais e tiros livre
ao realizar o chamado pressing ou,
Dificultar a criação e o ritmo do ataque. por exemplo, ao aplicar um sistema
Levar o ataque para zonas não pe- 1-5 que é, por suas características,
rigosas. um sistema de marcação individual
Recuperar a posse da bola mediante o em zona).
roubo da bola ou a finalização rápida
do ataque em zonas desvantajosas.
15.3.1.2 Classificação
Por isso, é imprescindível o trabalho de
marcação individual nas divisões inferiores, nos Podemos apresentar diferentes tipos de
mini e nos infantis. Atualmente, todo jogador defesa individual em função do espaço no qual
de handebol sabe que as formações defensivas se utiliza:
zonais são a base do sistema defensivo. Mas de
que serve “um perfeito sistema defensivo se a Defesa individual na quadra inteira
técnica individual não é realizada com perfei-
ção”? Com essa definição, estão praticamente Os defensores têm de encontrar o seu
claros e com absoluta precisão o valor, o sentido oponente rapidamente e realizar uma marca-
e a tática da marcação individual. Restaria dei- ção muito estrita por todo o terreno, indepen-
xar claro, com caráter didático-metodológico, dentemente da zona que ocupa o adversário
os seguintes aspectos: e mantendo, além disso, certa atenção sobre
a bola.
Formas de marcação individual. O objetivo estrito é abalar a colaboração do
Princípios da marcação individual. ataque e provocar erros, seja por andadas, três se-
Aspectos táticos a levar em conta. gundos, passes ruins etc., ou seja, que o adversá-
Capacidades táticas básicas do defensor. rio cometa um erro técnico-tático no controle da
Formas de marcação individual. bola, logo, um erro regulamentado.
Todo o campo.
A partir da metade da quadra.
Sistemas de jogo na defesa 197
Defesa individual por aglomeração Nominal: cada jogador deve saber qual
adversário defenderá de forma concre-
A defesa parte da zona e não se arrisca além ta e direta.
dos 10-11 m para, deste modo, não se separar uns Zonal: a responsabilidade estabelece-
dos outros e poder garantir ajuda, assim como -se em função do posto que o jogador
evitar as penetrações. ocupa no ataque, organizando-se um
Uma vez estabelecido o emparelhamento, as sistema de contagem que se inicia si-
marcações são mais estritas sobre o jogador com a bola multaneamente pelos pontas e que se
e igualmente sobre os jogadores perigosos (geralmente finaliza no centro.
aqueles mais habilidosos ou com melhor eficiência de
lançamento), e a marcação é em linha de passe e vigi-
lância quando a bola está mais afastada. Geralmente 15.3.1.3 funcionamento do sistema
se utiliza quando a bola se encontra nos pontas e a e
equipe contrária está em inferioridade numérica. O funcionamento deste sistema carac-
teriza-se por marcar os seus defensores cor-
respondentes a todos ou vários jogadores da
equipe adversária de forma individual. O tipo
B
de marcação realizada pelos defensores estará
C 7 A
5 relacionado com o sistema de defesa individual
6 utilizado.
D 2 3 E F
4
Figura 15.10 – Defesa individual por aglomeração ou As funções que têm de desempenhar os jo-
defesa individual fechada. gadores da defesa estarão relacionadas com a va-
riante do sistema defensivo individual eleito; em
O objetivo fundamental encontra-se em anular geral, as prioridades de atuação defensiva são:
os homens mais perigosos, ilhar as coordenações de
ataque, garantir as ajudas e impedir as penetrações. Oponente direto (evitar ser superado
A forma de marcação que será utilizada e por ele).
seu desenvolvimento se baseiam em duas formas Bola (evitar o passe, a recepção e bus-
de emparelhamento, previamente definidas e que car a interceptação ou tomada da pos-
serão aplicadas: se da bola.
Sistemas de jogo na defesa 199
tados para a conquista do êxito. Esses princípios sistema defensivo misto, pois existe um jogador
devem ser transmitidos ao jogador em forma sis- que marca individual ao pivô, seus colegas maram
temática, pois fazem a didática e a metodologia em zona avançadas nos 9 metros.
da educação. Devem ser exercitados sistemática e
metodologicamente por meio de trabalhos espe-
ciais em treinamento. Eles são: 15.3.2.2 Funcionamento do sistema
defesa 1:5.
Figura 15.12 – Defesa ativa dos jogadores no sistema 1:5. Figura 15.14 – Ações de deslizamento no sistema 1:5.
Sua utilização é mais reduzida e limitada que sempre adaptada às possibilidades técnico-táticas
a do sistema 3:3. Podemos considerá-la profunda, da própria equipe ou equipe adversária.
densa e de média amplitude. É um sistema que está constituído por três
linhas, das quais a primeira se encontra formada
por três jogadores, a segunda linha compõe-se de
dois jogadores entre as linhas e a terceira é cons-
B
tituída por um só jogador que se situa diante da
C A
linha de lançamento franco.
7 6
Basicamente é uma defesa muito profunda e
D 3 4 E F densa, mas pouco ampla.
5
2
B
Figura 15.17 – Sistema 4:2.
C 7 A
5 6
3 E
15.3.5 Síntese da estrutura do sistema 3:2:1
2 4
dir os lançamentos desde a linha dos 8-10 m dos 15.3.5.2 Funcionamento do sistema
laterais atacantes, criar obstáculos com os deslo-
camentos dos atacantes da primeira e da segunda Esta defesa implica grande atividade e exige
linha ofensiva e evitar passes sobre os jogadores uma perfeita coesão dos jogadores com o fim de
situados na segunda linha ofensiva (pivôs). adotar uma posição adequada em relação com a
posição e situação da bola.
3ª linha Esta estrutura defensiva origina-se da im-
Trata-se do avanço na defesa. A sua tarefa portância de, no handebol atual, se possuir capa-
principal é impedir passes, lançamentos, desloca- cidade de lançamento da primeira linha de ata-
mentos e penetrações do jogador central e, assim que; portanto, dá-se menor importância a todos
mesmo, colaborar para fechar as linhas de passe aqueles espaços que se produzam em uma zona
dos jogadores em 6 m. mais afastada do lugar onde se está desenvolven-
O objetivo principal desta defesa é im- do o jogo com a bola. Normalmente, estes espa-
pedir o adversário de organizar e conduzir um ços serão criados nas zonas mais externas da área
ataque coletivo, deslocando-se o conjunto sem- (pontas).
pre em relação com a posição na qual está a
bola e em virtude do seu possuidor. Baseia-se
em uma grande atividade e exige uma perfei- 15.3.5.3 Função dos jogadores
ta coesão dos jogadores, implicando domínio
exemplar dos fundamentos técnico-táticos in- As funções de cada jogador estão definidas,
dividuais defensivos. pelo que se reduzem as tomadas de decisão e, por-
tanto, o desgaste psíquico. De todas as formas, tem
de se indicar que, na atualidade, algumas variantes
do sistema e, sobretudo, alguns pontos concretos,
B
requerem mais capacidade de decisão que antes.
C 7 A
Pelo contrário, ao existir muita ajuda, o des-
5 6 gaste físico é bastante elevado. Esta é uma das razões
3 E
pelas quais não se recomenda manter essa defesa ao
2 4 longo da partida. Atualmente, essa afirmação é mais
D F discutível em razão, fundamentalmente, da maior
qualidade físico-tática dos defensores e da possibi-
Figura 15.19 – Linhas defensivas no sistema 3:2:1. lidade de utilizar trocas contínuas de ataque-defesa.
Em relação às três linhas de ataque do sistema,
podemos dizer que as funções dos jogadores são:
Sistemas de jogo na defesa 205
que possuem bons lançadores de primeira linha possibilidade de descobrir como se trabalha neste
e com pivôs e pontas de baixa qualidade, contra nível e poder adaptar, assim, o que é visto ao nos-
equipes que baseiam seu ataque em um ou dois so meio.
lançadores de distância e contra equipes que não Vamos descrever aqui duas possibilidades
possuem bom domínio de técnicas básicas (finta,
passe e recepção etc.). Também é válida contra 3:2:1 com pontas ofensivas.
equipes que se reiteram em suas ações ofensivas 3:2:1 com líbero.
com jogadas pré-estabelecidas, quer seja com fi-
nalizações fixa ou variável. Primeiramente, faremos algumas análises,
como ajuda para a memória, por meio de dois
gráficos, nos quais se veem as desvantagens da de-
15.3.5.7 Variantes táticas na aplicação deste fesa 3:2:1.
sistema A figura abaixo nos mostra os buracos que
produzem na defesa para a posição ofensiva dos
Temos falado de um sistema defensivo 3:2:1 defensores laterais.
clássico. Ocorre que todo sistema possui seus de-
feitos e é com base nestes que o rival estrutura Figura 15.20 – Espaços originados no avanço dos
suas ações ofensivas. O estudo das variantes, de laterais defensivos no sistema 3:2:1. (FIGURA STA-
novas técnicas e combinações táticas na aplicação DIUM NUMERO 9)
de todo os sistema defensivo, se baseia em pon-
tos fortes do rival ou na busca de surpreendê-lo, Por sua vez, a figura seguinte nos mostra o
provocando-o e induzindo-o ao erro. outro ponto fraco deste sistema: a amplitude de-
As variantes a apresentar deverão ser estuda- fensiva produzida pelo escalonamento da defesa.
das pelo técnico e se basear no material humano
disponível no grupo, podendo ou não ser aplica- Figura 15.21 – Espaços originados da amplitude no
das ou treinadas. Nossa ideia é que a defesa deve sistema 3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 10)
agir, não reagir. Sintetizando, a defesa deve atacar
o atacante para dificultar sua ação. Submetê-lo a Dizemos que a defesa 3:2:1 se baseia no con-
um “pressing”, não especular, pensando em roubar ceito de tomada do homem na zona, que se trans-
a bola, mas tomar os cuidados necessários para forma em um sistema 3:3 e 4:2, que precisa de uma
poder antecipar o passe com base na pressão que boa condição física para o trabalho de 1 x 1. Cria-se
executa no setor cercado por seu companheiro. uma barreira óptica ao possuidor da bola.
A literatura existente, como também as aná-
lises de vídeos de partidas internacionais, dá a
Sistemas de jogo na defesa 207
Sistema 3:2:1 com pontas ofensivos do ponta em defesa de forma antecipada – aproxi-
Feita uma ligeira análise das desvantagens madamente quando o armador central no ataque
do sistema 3:2:1, vemos que as pontas compõem passa a bola ao armador lateral – na frente de ata-
um dos “tendões de Aquiles” desta defesa. O que que do rival. A análise qualitativa desta variante
proporemos supõe uma forma de contrariar estas nos mostra em que medida a ação defensiva pro-
desvantagens. voca a reação do ataque que encontra diminuída
As vantagens que oferece são: sua profundidade e, por sua vez, cortada sua flui-
dez . A exigência na área cognitiva do jogador em
abafar as pontas rivais de forma tal termos de percepção, análise do jogo, elaboração
que não recebam a bola ou, se recebe- mental e análise da situação do jogo são de valores
rem, não prosseguirem com ela. muito altos, o que obriga a um trabalho de treina-
submeter o rival a uma “pressão” que mento constante sobre pressão.
o desgasta física e psiquicamente.
obrigar o rival a buscar variantes que Figura 15.22 – Ação de “pressing” dos pontas no siste-
não estão em seu repertório, forçando-o, ma 3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 11)
deste modo, a situações desconhecidas.
efetuar sobre o armador possuidor da O princípio do “pressing” se baseia no mes-
bola uma “pressão”, uma marcação mo princípio técnico-tático defensivo utilizado
pressionada, que o obriga a aprimorar no basquetebol. É importante a postura corporal
e identificar o melhor momento e tipo do ponta em diagonal em relação a seu oponente
de passe. direto, com o braço dele lado do pé adiantado,
interromper uma fluida circulação como uma ação prévia em busca de antecipar um
da bola. passe e, por sua vez, “assegurar” o rival neste setor.
utilizar o efeito surpresa para produ- O pé adiantado será sempre o que está mais pró-
zir o erro técnico. ximo do meio da quadra.
é ideal para aplicar quando se está em
superioridade numérica. Sistema 3:2:1 com líbero
Esta variante defensiva foi praticada com
As desvantagens são caracterizadas pelo am- êxito pelo “M.T.S.V. Schwabing” da primeira
plo espaço livre nas costas dos defensores avan- divisão da República Federal Alemã, em meados
çados, o que permite o deslocamento do pivô ou dos anos 1980-1990.
outro atacante em circulação e/ou o uso da finta. O interesse aqui é relatar alguns aspectos
A figura abaixo nos mostra a forma em que importantes desta variante. É impossível resumir
se abafa o ataque rival, como se diminui a saída todos os detalhes, assim exporemos os pontos im-
208 Manual de Handebol
portantes. O leitor deverá buscar as formas me- Quadro 15.1 – Características do libero na de-
todológicas para a realização dos objetivos que se fesa 3:2:1
pretendem com este sistema defensivo. Capacidades Capacidades Capacidades
físicas técnico-táticas psíquicas
A função mais importante nesta variante de-
Resistência Experiência
fensiva é cumprida pelo defensor central, o líbero, Visão de jogo
aeróbica de jogo
que, por sua função, caracteriza o sistema defen- Resistência Sentido de Transmissão
sivo. É o defensor central (ao qual chamaremos, anaeróbica marcação de confiança
daqui por diante, de líbero) que cobre os buracos Velocidade de Capacidade de Ser respeitado
reação antecipação pelo rival
defensivos. Ele deve, igual a um líbero no futebol,
Segurança na
barrar a amplitude defensiva dando segurança a Velocidade de Ascendente sobre
tomada de bola
deslocamento seus companheiros
seus companheiros e cobertura, ou seja, cobrindo do rival
bordado por ele em 1 x 1; a observação da figura Nos casos em que o pivô se deslocar com a
brindará o resto dos detalhes importantes desta bola, a ação da defesa será favorecida, pois con-
forma de defesa. centra maior quantidade de jogadores em um
É fundamental o trabalho de braços do opo- setor, reduz espaços de movimento ao atacante e
nente direto ao possuidor da bola, como também favorece o pressing, em consequência.
do defensor adiantado e do líbero.
O objetivo é levar o armador lateral a posi-
ções desfavoráveis; caso se desloque para o centro 15.5.3.9 Desvantagens desta variante
para lançar, deslocar-se-ia para uma zona onde
três defensores, sendo o oponente direto, o defen- É arriscado para pivôs que continuam o des-
sor adiantado e o líbero os que podem bloquear. locamento do líbero, se os defensores laterais, por
No movimento do passe do armador esquerdo desatenção ou por tentar roubar a bola, são desar-
para o armador central, é aquele em que o avan- mados por seus oponentes diretos, para defenso-
çado se adiantará para interceptar. res que não estão convencidos do êxito deste siste-
Temos dito que o líbero deve cobrir os bu- ma (disciplina tática – convencimento psíquico);
racos, ou seja, as costas de seus colegas. Isso supõe para equipes em que os defensores e o técnico
que, em algum momento, o pivô não será toma- têm medo de ver o pivô livre (a propósito destes,
do por este. Muitos pensaram que é uma situação não nos esquecemos de que o atacante deve ler a
muito difícil quando o pivô se encontra do lado resposta correta); para defensores que, em vez de
contrário à posição da bola, mas não é assim. Não pressing, especulam em “pescar” a bola.
podemos nos esquecer de que o êxito defensivo se
baseia no correto funcionamento dos executores,
isto é: 15.3.6 Síntese da estrutura do sistema 5:1
B
C A
C
7 7 B A
E 4 5
3
2 6 D E
3 4 5 F
D F
2 6
C B A
Figura 15.26 – Sistema defensivo 5:1 (zonal).
3 4 E 5
6
15.3.7 Síntese da estrutura do sistema no 6:0 2 7
D F
Juan J. Fernández, Helena Vila, Pablo Juan Greco
Figura 15.27 – Estrutura do sistema 6:0.
bola, com a intenção de gerar superioridade de- pelo atacante com bola (superioridade numérica
fensiva na zona com bola e, consequentemente, defensiva).
inferioridade numérica nas zonas sem bola.
Concluímos, assim, que é um sistema de- Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento- tiro)
fensivo amplo e denso (respeitando o número de Além das considerações já citadas para o sis-
defensores na zona com bola), e o companheiro tema defensivo 6:0 em bloco, devemos entender
fica com pouca profundidade defensiva. que, para o bom funcionamento deste sistema,
deve-se evitar erros nas trocas de marcadores em
Sistema defensivo 6:0 (em linha de lançamento) relação ao pivô, sobretudo entre os defensores
A defesa 6:0 em linha de lançamento (tiro) centrais 3 e 4 e entre o 5 e 6. As responsabilida-
é uma concepção mais moderna desse sistema de- des devem estar bem definidas, permitindo que
fensivo. É um sistema amplo, que possui o concei- o defensor possa realizar os deslocamentos sufi-
to de deslocamento em função da bola (tentando cientemente rápidos para cumprir o seu papel de
criar superioridade numérica na posição da bola), antecipação (eliminar a dúvida, a incerteza).
ainda que menos que na 6:0 em bloco. Ao contrá- O jogador que atua na marcação próxima
rio, aumenta a profundidade defensiva. Partindo ao atacante deve impedir o jogo em profundidade
da situação inicial que este sistema propõe, os jo- deste, quanto ao passe e à penetração.
gadores, em suas intervenções defensivas, podem Os jogadores que se deslocam na segunda
se deslocar até os 9-10 m. linha defensiva devem recuperar a sua posição
inicial quando o seu oponente direto passa a bola.
Mas isso não acontece quando o lateral realiza um
15.3.7.3 Funcionamento do sistema passe para a ponta e recebe a bola novamente; nes-
se caso, o defensor lateral deve se posicionar em
Sistema defensivo 6:0 (bloco defensivo) uma zona intermediária.
Para se conseguir um bom funcionamento
desta variação do sistema 6:0, devemos levar em
conta as seguintes considerações: deve-se evitar a 15.3.7.4 Funções dos jogadores
circulação dos jogadores da segunda linha (pontas
direito e esquerdo), e, dentro desta ideia, ainda é As responsabilidades defensivas dos jogadores
mais importante evitar a circulação atrás da pri- podem ser agrupadas, levando em consideração:
meira linha defensiva.
Deve-se realizar o triângulo defensivo quan- Jogadores que defendem na ponta 2 e 7:
do o adversário direto está em posse da bola. Isso impedir os lançamentos nas suas zo-
implica que haverá três defensores responsáveis nas (cobrir linha de tiro).
Sistemas de jogo na defesa 213
impedir a penetração das pontas. Se es- possuem jogadores que lançam de dis-
tes conseguirem se deslocar para a zona tância (9 m).
central, devem ser marcados e, se não possuem grande qualidade técnico-tá-
conseguirem, devem trocar a marcação. tica na segunda linha do ataque, tanto
impedir a circulação das pontas. por parte do pivô, quanto dos pontas.
colaborar com os defensores laterais como recurso quando não se têm
deslocando-se para a zona central bons defensores.
quando a bola está do lado contrário.
estarem preparados para o contra ata- Devemos considerar que se reduzem as pos-
que em primeira onda. sibilidades de contra-ataque em primeira onda, já
que a disposição tática dos jogadores, com esse
Os defensores centrais: 3, 4, 5 e 6: tipo de defesa, obriga os jogadores a se posiciona-
Ações de frente para o adversário a rem perto da linha dos 6 m.
distância; se este não estiver em posse Além disso, este sistema pode ser adaptado
da bola, o defensor deve estar se movi- contra qualquer sistema ofensivo.
mentando na linha dos 6 m na direção
da bola. Quando o adversário direto Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento-tiro)
tem a posse da bola, primeiro deve-se
posicionar na linha de lançamento e, Este sistema deve ser utilizado quando:
depois, subir na segunda linha defen- a primeira linha de ataque se compõe
siva (8-9 m) para evitar o lançamento por bons lançadores e os da segun-
ou a progressão do atacante. da linha não são tecnicamente bons,
Ações diante do pivô: realizar marca- principalmente o pivô;
ção individual, acompanhar e realizar dentro do sistema defensivo 6:0 se
a troca da marcação. Além disso, o utiliza a ideia de maior nível de agres-
defensor que marca o pivô deve estar sividade;
posicionado entre o pivô e o gol. pode ser utilizada contra qualquer sis-
tema ofensivo. Além disso, adapta-se
com facilidade às transformações ou
15.3.7.5Utilização desdobramentos da equipe atacante;
a responsabilidade mais importante
Sistema defensivo 6:0(bloco defensivo) é a do adversário direto (com ou sem
Este sistema deve ser adotado perante equi- bola), mas sem se esquecer da ajuda
pes que: mútua.
214 Manual de Handebol
a posição da bola, não devendo nunca romper A equipe atacante basear seu jogo fun-
o bloco defensivo e atuar em profundidade me- damentalmente na primeira linha e,
diante uma marcação em proximidade contra um sobretudo, em um dos seus jogadores,
ataque perigoso. seja por eficácia no lançamento ou
A sua atenção à bola é máxima, bloqueando pela direção do jogo de ataque.
os lançamentos ao gol, evitando passes e circula-
ção pela linha de seis metros, assim como as pene- Devemos levar em conta as diferentes for-
trações dos atacantes. mas de atuação do sistema em relação à primeira
linha defensiva:
16 Fases de transição
O handebol é um jogo esportivo coletivo dividi- fase ofensiva importante para se conseguir
do em dois momentos que ocorrem simultaneamente o triunfo em uma partida. Existem diversos
no campo. Conforme a posse de bola, uma equipe modos de se definir o contra-ataque; assim,
entra em ataque e a outra, em defesa. Porém, no ca- existem autores que se concentram no objeti-
minho de troca entre esses dois momentos, ocorrem vo final: “O contra-ataque é o caminho mais
duas fases de transição, o contra-ataque e o retorno curto de conseguir o gol”, 6 ainda que outros
(ou balanço) defensivo, expostas na Figura 16.1: definem esse conceito tendo em conta como se
leva o desenvolvimento da sua ação: “É o pas-
Retorno
defensivo so da defesa ao ataque da forma mais rápida”.1
16.1 O contra-ataque
16.1.2 Objetivos
As funções dos jogadores caracterizam-se por: encontram-se, em sua maioria, na estrutura e, es-
pecialmente, na continuidade do que se denomi-
Quando os pontas e o jogador mais nou terceira onda do contra-ataque.
adiantado já saíram, devem modificar a A realidade é que o ritmo e velocidade de jogo
sua posição de costas à posição de lateral ofensivo caminha em uma linha ascendente, enten-
para poder observar a localização da bola. dendo que cada vez mais equipes unem os contra-
Uma vez assegurada a posse da bola, -ataques como tal com o jogo posicional, deixando
iniciam a corrida de forma lateral, as- de realizar a tradicional fase de organização da escola
segurando contato visual com o golei- romena, cada vez mais em desuso.8
ro, quem pode dar o passe para a pri- A onda de contra-ataque busca continuar
meira ou a segunda onda. A segunda o alto ritmo e intensidade dos blocos anteriores
onda é fundamentalmente finalizado- para aproveitar a descoordenação defensiva. As
ra quando existe igualdade numérica. razões não são outras a não ser a de não ter se es-
Também se encarrega da construção tabelecido o sistema defensivo e não haver tempo
do contra-ataque, observando onde de realizar as mudanças de ataque-defesa para a
pode estar a superioridade numérica, participação dos jogadores especialistas em defesa.
quando existir. Nesta onda, participam todos os jogadores,
e os seus movimentos respondem basicamente a
duas possibilidades:
16.3 O retorno (ou balanço) defensivo Afirma-se que a defesa está para o ataque como
o balanço defensivo está para o contra-ataque.
Não podemos falar de uma fase ou subfase
16.3.1 Definição e características quanto ao seu desenvolvimento da forma como
ocorre no contra-ataque. Tentaremos, simplesmen-
Pelo fato de, no resultado final das partidas de te, conseguir os objetivos marcados ao longo dessa
handebol, os contra-ataques terem mais importân- fase de transição. Tudo o que se supõe para evitar
cia pelo grande número de gols que conseguem, o o contra-ataque direto ou que não tenha êxito na
balanço defensivo (ou retorno defensivo) converte- fase presente deste, podemos considerá-la como
-se no meio para impedir seu desenvolvimento. um êxito. Um balanço defensivo de qualidade deve
O balanço defensivo pode ser considerado, impedir não só a culminação rápida do contra-ata-
de uma maneira elementar, como o passo do ata- que, mas, também, evitar que o adversário possa
que para a defesa de forma rápida e está conforma- aproveitar o desequilíbrio que supõe a organização
da pelos movimentos imediatamente anteriores à do bloco defensivo.9
organização do bloco defensivo.9
16.3.4 Estrutura
16.3.2 Objetivos
O balanço defensivo tem lugar uma vez que
Anular as possibilidades de êxito do a equipe atacante perde a bola, e a equipe defen-
contra-ataque da equipe adversária. sora, até este momento, inicia o contra-ataque. O
Recuperar a posse da bola, se possível. desenvolvimento do balanço ofensivo pode levar-
Buscar a realização de uma falta tática -se por meio de três modos:
para cortar as possibilidades espaço-
-temporais de realização do contra- Estruturado: a equipe que realiza o
-ataque. retorno defensivo tem alguns pontos
222 Manual de Handebol
básicos específicos para que seus joga- o caminho mais curto – a linha reta –
dores impeçam o contra-ataque. para o posto específico na defesa.
Semiestruturados: algum membro da
equipe defensora tem função específi-
ca uma vez que inicia o contra-ataque 16.3.5 Utilização
por parte da equipe adversária. Esta
situação estará condicionada pelos jo- Assim como no contra-ataque a premissa de
gadores que realizam o contra-ataque realizá-lo é uma decisão própria, no balanço de-
adversário. fensivo não existe tal iniciativa, já que dependerá
Não estruturado: os jogadores que rea- das características do jogo ofensivo adversário.
lizam o balanço defensivo não seguem Como norma geral, os sistemas ofensivos que
nenhuma norma e cada um tenta evi- aglutinam (concentram) jogadores próximos à li-
tar o contra-ataque. Sempre que as cir- nha de 6 m terão mais dificuldades em razão do
cunstâncias permitirem, utilizaremos espaço que terão de percorrer até a meta adversária.
Referências
1 VVAA. Balonmano: colección de los deportes 7 Czerwinski, J. El ataque posicional: comuni-
olímpicos. Madrid: Comité Olímpico Es- cación técnica. n. 36. Madrid: Real Federaci-
pañol, 1991. ón Española de Balonmano, 1976.
Parte VI
O sistema de formação e
treinamento esportivo:
por uma pedagogia da iniciação
ao alto rendimento esportivo
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
das tarefas e os problemas situacionais decorrentes Figura 17.1 – Capacidades inerentes ao rendimento
do jogo de handebol fazem que os participantes esportivo no handebol.
estejam permanentemente adotando compor-
tamentos táticos. Assim, a ação no handebol é Queremos, assim, destacar que essas seis
sempre uma ação tática, portanto esta capacidade capacidades apresentam-se em permanente inte-
assume um papel relevante no processo de EAT. ração entre si, portanto, não podem ser compre-
Para jogar handebol, é necessário muito mais endidas como componentes isolados e divididos
que simplesmente aprender um conjunto de técni- entre si, principalmente quando se elaboram os
cas de forma perfeita, de jogadas ensaiadas e realiza- processos de EAT. A organização pedagógica deve
das de forma ideal nos treinamentos. Jogar é relacio- considerar as partes na função específica do todo,
nar a complexidade, as facetas dessa complexidade na sua composição global, total.9 Afirma-se que
no jogo de forma inteligente.8 o processo de EAT deve ser considerado como
Os elementos constitutivos da estrutura uma unidade sistêmica, composto por unidades e
substantiva – que caracterizam “o que” – se des- subunidades, sistemas e subsistemas que se com-
crevem a partir do conjunto das capacidades que põem de diferentes etapas, que estão em coopera-
caracterizam o rendimento esportivo. Referimo- ção e em interação sistêmica, preservando a con-
-nos às capacidades técnicas, táticas, físicas, psi- figuração da estrutura e dos comportamentos que
cológicas, biotipológicas, socioambientais. A se desejam formar.
Figura 17.1 visa descrever as interações entre as A intencionalidade pedagógica deve mudar
capacidades inerentes ao rendimento esportivo no a orientação, considerando os momentos do en-
handebol. Ou seja, no lançamento em suspensão, sino-aprendizagem-treinamento conforme as for-
pode aparentar que a força de impulsão é decisi- mas de manifestação do rendimento almejadas. O
va, porém se sabe que esta sempre estará determi- processo de desenvolvimento da forma esportiva
nada, situacionalmente, pelo momento do jogo, se concretizapor meio de uma estrutura denomi-
pela biotipologia do jogador, pela sua capacida- nada temporal, ou seja, significa que o desenvolvi-
de psicológica de concentração no momento do mento decorre ao longo do tempo.
jogo, taticamente, pela escolha da melhor opção O desenvolvimento, bem como a maturi-
(passar ou realmente lançar? como lançar? – em dade da criança, apresenta-se gradativamente, em
suspensão ou com apoio – etc.), bem como por diferentes estágios da vida, e estas não são iguais
fatores socioambientais que também conjugam para todos. Aqui, são apresentadas como marco
nessa decisão, por exemplo: “estou bem colocado de referência conforme a sua dificuldade, somente
ou há colega em melhor condição de lançamento com o intuito de auxiliar a elaboração e planeja-
nesse momento do jogo?”, entre outros fatores. mento da práxis.
228 Manual de Handebol
SFTE
Subsistema de Formação
Subsistema de Transição
Subsistema de Decisão
Subsistema de Subsistema de
Saúde-lazer-recreação Alto Nível de
Subsistema de Rendimento
Readaptação
Figura 17.3 – O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol e as opções que se desprendem no
estagio de decisão em relação a forma da pratica e seus correspondentes níveis de rendimento..
Na figura 17.3, apresenta-se a estrutura Figura 17.4 – Estágios do processo de formação e suas
temporal com seus estágios e fases inerentes à for- respectivas etapas relacionadas com as idades e catego-
mação específica de um jogador de handebol. rias de formação conforme a CBHb.
Complementando a informação, na Figura
17.4, observam-se, em cada estágio, as diferentes Não adianta se treinar muito sem se estru-
etapas e suas relações com as categorias competiti- turar de forma adequada os aspectos constitutivos
vas presentes na Confederação Brasileira de Han- do treinamento, isto é, objetivos, conteúdos e mé-
debol, tais como mirim, infantil, cadete, juvenil, todos. Estes devem ser permanentemente integra-
júnior e adulto. dos em uma cíclica planificação-execução-avaliação
Quando a decisão do participante for pelo do treinamento. Já no quesito competição, deve ser
esporte de rendimento, na elaboração do pro- estruturada a participação em competições que,
cesso de treinamento, consideram-se, de forma gradativamente, aumentem o nível de solicita-
mais enfática, os fatores inerentes à competição ção e de exigência dos participantes (que deverá,
e as exigências específicas do esporte competitivo. também, ser adequada ao nível de rendimento
Portanto, a planificação incorpora a sistematiza- geral da equipe), ou seja, considerar competições
ção de três componentes, uma tríade vital para se preparatórias-classificatórias-finais etc. que possibi-
obter sucesso nesta etapa. Referimo-nos aos con- litem o crescimento do rendimento do esportista.
teúdos: treinamento-competição-regeneração. Na realidade, a competição e seu nível de exigên-
230 Manual de Handebol
cia são elementos constitutivos fundamentais do isto é oportunizar de forma sistematizada proces-
processo de treinamento e da preparação para sos de avaliação e re-organização do E-A-T, para
elevar os níveis de rendimento. Mas não se pode concretizar adequadamente o desenvolvimento
esquecer que todo processo de treinamento e de da forma esportiva. Frequentemente, concretiza-
competição solicita adequados momentos de re- -se um processo direcionado e com exigências de
generação (nos quais diferentes aspectos devem ser resultados que levam à especialização precoce; o
contemplados, não se devendo pensar, somente, resultado da competição, “ser campeão”, passa a
em férias para o atleta...). ser uma necessidade, mais dos adultos (pais, trei-
Todo processo de EAT objetiva a melhora nador) do que das crianças praticantes. A relação
do nível de desempenho na atividade esportiva carga-volume-intensidade dos treinamentos não
escolhida. Lamentavelmente, ocorre que estágios respeita a individualidade biológica nem leva em
e fases do desenvolvimento não são respeitados, conta necessidades psicossociais da criança, es-
pois não são consideradas na prática. O resultado tágios, etapas e aumento da participação do jo-
é o “fim”, a finalidade do processo, e não consi- vem. Concretamente, a formação se caracteriza
deram o processo de treinamento em uma visão como um processo que não pode ser copiado dos
pedagógica, o processo de treinamento como um moldes do adulto, do esporte formal e de alto
meio pedagógico de formação de personalidade, rendimento.
Rendimento Treinamento
Competição
Perfil de exigência
Estratégia
Tática
Condução/Regulação
Competição Treinamento
Iniciais
Preparatórias Planificação
Avaliação
Seletivas Regeneração
Principais Métodos Execução
Biomédicos
Psicofisiológicos
Figura 17.6 – O subsistema de alto nível de rendimento no handebol a partir do estágio de decisão.
Planejamento Realização
Princípios Didática
Avaliação
Biomecânica Nutricional
Motora
Psicológica Médica
Outras...
Figura 17.7 – Tríade dos componentes do treinamento no esporte de alto nível de rendimento.
Quadro 17.1 – Estágio de formação no mini-handebol na faixa etária de 8 a 10 anos de idade. Etapa de
priorizar o jogar e a combinação de habilidades técnicas em situações táticas de jogos com bola de dife-
rentes tipos
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Objetiva-se desenvolver as Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos de estafetas ou de per-
capacidades táticas básicas mas mais variadas possíveis, sicas dos fundamentos técnico- seguição com tarefas duplas:
relacionadas com a ideia dos de preferência modificando os táticos individuais de ataque. percepção e ação simultâneas.
jogos de invasão, priorizando- espaços de jogo. Técnica individual com bola: dri- Quem realiza a ação tem tarefa
se, assim, a aquisição de co- Trabalhos em grupos de 2 x 2 e bling, passe, lançamento, fintas. dupla.
nhecimento tático processual 3 x 3 com as variações do uso Técnica individual sem bola: Jogos de estafetas com distri-
de forma incidental. do curinga de defesa. principalmente trabalhos visan- buição da atenção. Quem está
O princípio do estágio será Combinar a marcação indivi- do à troca de direção, de veloci- na fila faz tarefa dupla.
jogar para aprender. dual com formas de defesa a dade, giro etc. Jogos para desenvolver a inteli-
Jogos relacionados com as ca- pressão em situações de 1 x 1. Técnica individual sem bola: gência tática.
pacidades táticas básicas: Desenvolver a capacidade de noções de sair da marcação, ofe- Exemplo: “jogo da velha.”
Acertar o alvo. deslocamento e de posiciona- recer-se, orientar-se, cortes em “Some 3.”
Transportar a bola mento defensivo. “V”, “vai e volta”, “sair-entrar.” Jogos de perseguição em duplas,
Jogo em conjunto. Tática individual defensiva: Priorizar jogos nas estruturas em trios, em pequenos grupos
Criar sup. numérica. Sentido da defesa, recuperação funcionais simplificadas com e (tipo pegador na corrente) com
Reconhecer espaços. da bola, tomada da marcação, sem curinga: e sem bola que oportunizem a
Oferecer-se e orientar-se. interceptação de passes, ante- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + 1. melhora das habilidades de des-
Superar o adversário.29 cipação. A movimentação do jogador sem locamentos.
Defesa ativa, ou seja, o espaço bola no espaço livre é uma das Todas as atividades possíveis de-
Priorizar e enfatizar o desen- livre só pode ser visto pelo ata- atitudes a serem consideradas. vem ser realizadas com mão, pé
volvimento das capacidades que na frente deles. A movimentação do jogador e raquete-bastão para ampliar a
coordenativas e das habilida- Regras básicas do comporta- com bola em direção ao gol e vivência de movimentos.
des técnicas como base para a mento no jogo 1 x 1 contra sempre no espaço entre defen- Objetos em movimento, de for-
aprendizagem motora. jogador com bola e contra jo- sores é uma das atitudes a serem ma simultânea com o jogo de
Apresentar atividades que gador sem bola. consideradas. estafeta.
solicitem a distribuição da Destacar a importância do Tática individual ofensiva; re- Atividades que solicitem o
atenção e a dissociação de “jogo limpo” na defesa. Marcar gras básicas do comportamento equilíbrio, como andar sobre
segmentos musculares sem fazer falta. Luta pela bola no jogo 1 x 1. pneus, bastões etc. constituem
Uso do curinga nas “Estrutu- ou pelo espaço e não “contra” interessantes desafios.
ras Funcionais”, incentivando o adversário. As atividades de coordenação
jogos de 2 x 2 + 1... não se reduzem a exercícios
Objetivo de jogo: 3x3. (Com com bola. Corda, bambolê,
ou sem goleiro fixo). bastão, são muito importantes.
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 235
Quadro 17.2 – Estágio de transição, categoria mirim, faixa etária de 10 a 12 anos. Etapa da universalidade esportiva
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Aprendizagem tática: jogar Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos gerais para desenvolver
nas diferentes constelações mas mais variadas possíveis: sicas das técnicas de ataque. a inteligência tática. Exemplo:
das “estruturas funcionais” quadra inteira, meia quadra, Técnica individual com bola: jogo dos 10 passes com tarefas
com e sem curingas. em 12 metros etc. Passe, lançamento, finta, re- duplas, com duas bolas, com
Aprendizagem motora: de- Combinar no momento do cepção, dribling etc. em jogos e superioridade numérica da de-
senvolver a coordenação e as jogo formal, no treinamento, exercícios combinando elemen- fesa etc.
habilidades técnicas29 neces- momentos de marcação indivi- tos perceptivos e tomada de de- Jogar com as estruturas funcio-
sárias ao posterior treinamen- dual e momentos de uma equi- cisão. nais com e sem curinga, orga-
to da técnica específica do pe jogar com defesas zonais Técnica individual sem bola: nizando a atividade para que
handebol. ofensivas: 1:5; 3:3; 4:2. sair da marcação, oferecer-se, todos os jogadores passem por
Jogos de estafetas ou de per- Tática individual defensiva: orientar-se, cortes em “V”, “vai todas as posições.
seguição com tarefas duplas: Sentido da defesa, tomada da e volta”. Combinar, por exemplo, jogo
percepção e ação simultâneas. marcação, luta pela posse da Jogo em conjunto em estruturas 3 x 3 na largura e na profundi-
Priorizar o jogo de handebol bola. funcionais com e sem curinga: dade.
na formação 4x4 (Com ou Tática defensiva de grupo: tro- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + Desenvolver as capacidades per-
sem goleiro fixo). ca de marcação, seguimento. 1 etc. ceptivas nas diferentes posições,
Jogo sem esquemas previa- Basculação, Tática individual ofensiva; re- descoberta de sinais relevantes.
mente estabelecidos sem joga- coberturas, triângulo defensivo gras básicas do comportamento Trabalhar atividades em for-
das, sem pressão de resultado. e o conceito de ajuda. no jogo 1 x 1 perante defensor ma de jogos 3 x 3 com ou sem
Regras básicas do comporta- conforme a distância que se en- curinga com tarefas táticas espe-
mento no jogo 1 x 1 perante contra o atacante do gol. cificas para cada posição.
jogador com bola e perante Jogos em que o atacante é for-
jogador sem bola. Considerar çado a ir a confrontos de 1 x 1 e
as distâncias do gol para adotar solicitar solução com a colabo-
posicionamento defensivo. ração do colega.
236 Manual de Handebol
Quadro 17.3 – Estágio de transição, categoria menores, faixa etária de 12 a 14 anos. Etapa de iniciação tática defen-
siva e ofensiva especifica no handebol
Conteúdos de
Linhas gerais Conteúdos de defesa Atividades sugeridas
ataque
Desenvolver as capacidades cog- Marcação com sistemas zonais Iniciação no jogo posicional na Jogos para desenvolver a inteli-
nitivas (percepção, antecipação, ofensivos: formação de ataque 3:3. gência tática.
tomada de decisão) conforme os 1:5; 3:3; 3:2:1. Desenvolver o sentido das mu- Exemplo: jogos com duas bo-
espaços no campo de jogo. Desenvolver a capacidade tática danças de posição na largura e las. Jogo do “Go”.
Nenhuma especialização em po- individual defensiva: o conceito na profundidade da quadra. Jogo de handebol nas posições
sições de jogo. de antecipar a ação do ataque e Tática de grupo: lateral-ponta; ponta lateral
Dar ênfase ao desenvolvimento de atacar o atacante. Tabelas. pivô, em trios e duplas, lado
das capacidades táticas indivi- Tomar a marcação. Cruzamentos. direito e esquerdo da quadra.
duais, e procurar a compreensão Posição do corpo e dos braços. Permutas. Estruturas Funcionais com sem
das ações táticas de grupo. Tirar a bola do adversário. Cortinas. curinga, com tarefas específicas
Iniciação no jogo posicional. Como tática de grupo de defesa Conceito par e ímpar ne- por posição para o desenvolvi-
Compreensão dos conceitos: a iniciação na marcação zonal cessário ao jogo posicional. mento da capacidade tática e
par-ímpar, quando se usa cada solicita: Regras de comportamento táti- técnica de forma situacional.
um. Troca de marcação co em situações 1x1 e 2x1. Atividades para desenvolver
Continuar o treinamento da co- Seguimento as capacidades coordenativas
ordenação; ampliar as ofertas de Deslizamento e exercícios para iniciação do
exercícios para distribuir a atenção Regras de comportamento táti- treinamento técnico (muitas
e dissociação de segmentos mus- co em situações 1 x 1 e 1 x 2. atividades com tarefas duplas,
culares (pressão de organização). com diferentes elementos-bas-
tão, bola, bambolê, corda etc.).
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 237
Quadro 17.4 – Estágio de transição, categoria cadete, faixa etária de 14 a 16 anos. Etapa de orientação esportiva
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Iniciação na compreensão dos Sistema defensivo 3:2:1 ofensivo e Tática individual específica em Jogos para desenvolver a inte-
princípios do no jogo posicio- 3:2:1 com líbero. cada posição do ataque visando ligência tática. Exemplo: passe
nal, porém em todas as posi- Modificação e também manuten- à melhora da percepção tempo- livre com duas bolas.
ções (All Rounder). ção do sistema defensivo 3:2:1 espaço. Estruturas funcionais 3 x 3 com
Desenvolver as capacidades téc- frente a desdobramentos e trocas Integrar tática individual a tática e sem curinga nas diferentes po-
nicas e táticas necessárias às exi- de formação do ataque (trabalhar de grupo. sições da quadra e com diferen-
gências nas diferentes posições com as estruturas funcionais de 3 Jogo posicional: tática de grupo, tes constelações de defesas.
e funções na equipe. x 3 ou 4 x 4. nas estruturas funcionais. Jogo Se desmarcar para ser opção
Continuar a desenvolver as No jogo posicional, ações anteci- de 3 x 3 com sem curingas e 4 x de passe, sair da marcação.
capacidades cognitivas: percep- pativas sobre os armadores adver- 4 com desdobramentos. Para ser possível receptor, tra-
ção, antecipação e tomada de sários (duplar, pressão, flutuação) Formas básicas de desdobra- balhar este princípio ao longo
decisão nas diferentes posições. Tática defensiva de grupo: bascu- mentos nas estruturas funcionais de jogos
Usar a troca de velocidade na lação, coberturas de espaço, trocar com 3 ou 4 jogadores. O treinamento do goleiro
ação de sair da marcação. a marcação, deslizamentos, blo- Fixar a atenção dos seus defenso- deve ser integrado com o trei-
Utilizar princípios defensivos queios de lançamentos. Conceito res diretos, realizando ações sem namento de lançamento e de
de “jogar com o atacante”. de ajuda. bola. defesa.
238 Manual de Handebol
Quadro 17.5 – Estágio de decisão, categoria juvenil, faixa etária entre 16 a 18 anos de idade. Etapa de ênfase na
especialização esportiva
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Sistema defensivo 3:2:1, de forma O tema principal passa a ser a Jogos para desenvolver a inteli-
que e de defesa, porém sem es- mais frequente e funcionamento preocupação com obter sequên- gência tática.
pecialização nas posições. deste sistema frente a mudanças cia do ataque. Exemplo: fute-hande-rúgbi-bun-
da formação de ataque. da-gol; cangurú-gol.
Ampliar o conceito de jogado- Princípio da continuidade do
res All Rounder. Jogadores que Sistema defensivo 5:1 nas dife- jogo, particularmente após des-
jogam em varias posições, prin- rentes formas de aplicação: de- dobramentos (3:3 à 2:4).
cipalmente em ataque e defesa. fensivo – ofensivo - antecipativo.
Diminuir o tempo de duração do
Desenvolver a capacidade de Aplicação de diferentes forma- ataque no jogo posicional. Variar
jogo individual e grupal contra ções defensivas de forma ade- o tipo de combinações de ataque.
diferentes sistemas defensivos. quada à situação de jogo.
Qualidade e variação no o tipo
Domínio das fintas antes de se Troca de formação defensiva e de passe e de lançamentos.
realizar uma ação tática. Troca ensaios de marcação individual
de direção e velocidade na cor- combinada com defesas ofensivas. Continuar o jogo posicional em
rida. forma dinâmica após o contra-
ataque, sem “frear” o jogo.
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 239
Quadro 17.6 – Estágio de decisão, faixa etária entre 18 a 21 anos de idade. Etapa de aproximação da forma
esportiva solicitada no alto nível de rendimento
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Jogar, de preferência, com sistema O tema principal continua Jogos para desenvolver a in-
que e de defesa. Iniciar a espe- 5:1. Sistemas ofensivos (3:3 e 4:2) sendo a preocupação com ob- teligência tática.
cialização nas posições. devem ser aplicados no treinamento ter Sequência do ataque. Exemplo: “salada” de gols.
Continuar com o conceito de para tê-los sempre presentes e poder Princípio da continuidade do Trabalhar nas diferentes li-
jogadores All Rounder. aplicá-los no jogo competitivo jogo, particularmente após nhas do ataque, aumentar a
Jogadores que jogam em varias Funcionamento frente a mudanças da desdobramentos (3:3 a 2:4). especialização nas posições.
posições, em ataque e defesa. formação de ataque. Diminuir o tempo de duração Iniciar o EAT de tomada de
Desenvolver a capacidade de Sistema defensivo 5:1 nas diferentes do ataque no jogo posicional. decisão.
jogo individual e grupal contra formas de aplicação: defensivo - ofen- (variar o tipo de combinações “Learning by doing”.
diferentes sistemas defensivos. sivo- antecipativo. de ataque).
Domínio das fintas antes de se Trabalhar o funcionamento do siste- Troca de formação dinâmica
realizar uma ação tática. Tro- ma defensivo 5:1 frente a mudanças após o contra-ataque. Conti-
ca de direção e velocidade na da formação de ataque (troca para nuar com o jogo posicional em
corrida 6:0/manter o 5:1?). forma dinâmica após o contra-
Treinamento de diferentes formações ataque, sem “frear” o jogo.
defensivas perante situações especiais: Trabalho ofensivo em situa-
superioridade e inferioridade. ções especiais de superioridade
Aplicação de diferentes formações de- e inferioridade numérica.
fensivas de forma adequada à situação Qualidade e Variação no o tipo
de jogo. de passe e de lançamentos.
Troca de formação defensiva e ensaios
de marcação individual ou de siste-
mas mistos de forma ofensiva.
Neste capítulo, a partir dos quadros sinóp- sentes nos torneios organizados pela Confedera-
ticos apresentados, foram caracterizados os possí- ção Brasileira de Handebol.
veis formas de organizar e distribuir os conteúdos Sua leitura oportuniza a tomada de consci-
inerentes ao jogo de handebol. Portanto foram ência das possibilidades pedagógicas na elabora-
adaptados objetivos e conteúdos para formação ção de processos de ensino-aprendizagem-treina-
de jogadores conforme as categorias de jogo pre- mento na modalidade.
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
Um olhar para algumas décadas passadas tereotipadas, pouco criativas em geral. Assim,
permite observar que a iniciação esportiva ocor- inverteu-se o processo, aprende-se para jogar, e,
ria de forma espontânea nos locais onde crianças em muitos casos, esse processo resulta em espe-
brincavam; faziam do tempo e do espaço disponí- cialização precoce nas diversas modalidades es-
veis o “seu espaço” e o “seu tempo” para se diver- portivas com a busca de rendimento conforme
tir. Jogavam para aprender, não aprendiam para o conceito “quanto mais jovem treinar, melhor”.
jogar, não treinavam com um professor para ga- Assim, crianças passaram a serem consideradas
nhar como única meta. A prática era lúdica, sem o como “adultos em miniaturas”10 e “treinadas an-
objetivo formal de se aprender, os jogos e as brin- tes de aprenderem a jogar”.11 Os motivos dessas
cadeiras eram transformados conforme a realida- mudanças foram diversos e as consequências ne-
de situacional, isto é, eram três crianças, jogava-se gativas foram analisadas e debatidas por diversos
1 x 1 e um no gol, sempre com a troca de funções estudos no Brasil.12-20
combinada. As regras eram criadas e a dinâmica, O objetivo deste capítulo é submeter a co-
as tarefas e as funções do jogo eram adaptadas munidade do handebol a uma proposta para o
para se poder jogar e brincar. Ao se reunir, surgia ensino-aprendizagem da modalidade, afastada
um jogo, e assim, consequentemente, uma rica e conceitualmente dos modelos tradicionais de en-
variada quantidade de experiências motoras era sino-aprendizagem dos esportes vigentes na práxis
apreendida, sendo base para posterior aprendiza- hoje, e relacioná-la com o modelo de formação e
gem nos esportes. Dessa forma se alinhavavam as treinamento esportivo para o handebol brasileiro
experiências que possibilitavam o desenvolvimen- proposto no capítulo anterior.
to da capacidade de jogo. O método de ensino-aprendizagem-treina-
Esta prática foi sendo substituída, grada- mento se constitui, portanto, em uma das gran-
tivamente em alguns locais, rapidamente por des ferramentas às quais o professor pode recorrer
outras, formais e intencionais, visando formar para organizar sua planificação e construir seu
atletas e selecionar talentos. As práticas foram processo de ensino-aprendizado-treinamento na
direcionadas para o desenvolvimento da capa- escola, no clube e na instituição que desenvolve
cidade técnica, o que leva a realizar ações es- sua ação pedagógica no ensino do handebol.
242 Manual de Handebol
Figura 18.1 – À esquerda, o método analítico, progressão de exercícios. À direita, o método global funcional, pro-
gressão de jogos (com base em Dietrich, Durrwachter e Schaller).26
244 Manual de Handebol
Uma proposta metodológica integrada na são” (TGFU), conforme formulado por Bunker e
concepção de um Sistema de Formação e Trei- Thorpe,25 Thorpe, Bunker e Almond.34
namento Esportivo no Handebol (SFTE-HB) Pesquisas mostram que, das formas de
sugere um processo metodológico que enfatiza o aprendizagem a serem oportunizadas na infân-
jogar, ou seja, inicialmente, o professor orienta a cia, se destacam os progressos que os alunos
sua metodologia de ensino conforme o conceito demonstram quando se recorre à aplicação de
de “jogar para aprender” (estágio de formação) e, métodos incidentais de aprendizagem, ou seja,
posteriormente, em um segundo momento (já no os iniciantes aprendem sem saber que estão
estágio de transição), “jogar para aprender”. aprendendo, sem essa intencionalidade (mais
Na Figura 18.2, observam-se as sugestões própria do adolescente e do adulto). O jogo
metodológicas conforme a díade dos processos de e o jogar se constituem em uma das melhores
aprendizagem intencional-incidental, com os au- formas de aprendizado incidental. Portanto, o
tores e data de publicação das obras. professor deve observar, de forma sistemática,
Nos métodos formais, também se destacam que os jogos e as atividades propostas tenham
as propostas de Siedentop,31,32 com o denominado uma sequência adequada para produzir os efei-
“Modelo de Educação Desportiva”, e o “Modelo tos de aprendizado desejados. Assim, a propos-
Desenvolvimentista”, proposto por Rink.33 Nes- ta indica que se priorize o jogar para aprender,
te aporte, desenvolve-se o conceito proposto no de forma a concretizar a aprendizagem tática,
“Modelo de ensino dos jogos para a Compreen- primeiro objetivo do processo de ensino. Para-
Figura 18.2 – Novas correntes metodológicas no ensino dos esportes (com base em Mesquita e Graça).1
Métodos de ensino no handebol 245
lelamente, os jogos devem ser complementados e motor como pré-requisitos para o treinamento
com atividades que oportunizem o processo de tático-técnico.
aprendizagem motora, isto é, jogos e atividades O processo de aprendizagem tática com-
que permitam o desenvolvimento das capacida- põe-se de três pilares: as capacidades táticas
des coordenativas e de um conjunto de habili- (básicas), adaptado de Kröger e Roth,29 os jo-
dades técnicas. Portanto, a proposta se organiza gos para desenvolver a inteligência tática e as
da seguinte forma: estruturas funcionais conforme sugeridas por
Greco.21,35 Pretende-se, basicamente, a partir
a) Da aprendizagem tática ao treinamento tático: dos elementos comuns dos Jogos Esportivos
Coletivos,36 construir um processo de aprendi-
Ensino-aprendizagem-treinamento zagem que decorre do ensino implícito ao ex-
das capacidades táticas básicas (até 10 plícito (formal). Regras de comportamento tá-
anos). tico podem ser apreendidas de forma implícita,
Estruturas funcionais (8-10 anos em seguindo o princípio de experimentar jogando,
diante). quando o que importa é oportunizar ideias e a
Jogos para desenvolver a inteligência criatividade.
tática (8 anos em diante). As faixas etárias devem ser somente toma-
das como referência, cabendo ao professor aplicar
b) Da aprendizagem motora ao treinamento técnico: ou não atividades relacionadas a esses conteúdos
Ensino-aprendizagem-treinamento conforme o desenvolvimento da sua turma. No
das capacidades coordenativas (até Quadro 18.1, apresentam-se as capacidades táti-
12-14 anos). cas básicas modificadas com base em proposta de
6-8 anos um elemento. Kroger e Roth29 e jogos sugeridos para seu desen-
8-10 anos dois elementos. volvimento.
10-12 anos três elementos (da coordena-
ção geral à específica).
Ensino-aprendizagem-treinamento
das habilidades (até 10-12 anos).
Quadro 18.1 – Capacidades táticas básicas e exemplos de jogos e atividades para seu desenvolvimento
Parâmetro Atividades/tarefas táticas Jogos sugeridos
Deve-se lançar uma bola a um alvo (de preferência, Jogos de lançamento a alvos fixos e
Acertar o alvo
o gol), para que atinja um local escolhido. em movimento.
Transportar a bola para o Objetiva-se transportar, jogar, fazer a bola chegar a
Jogo dos bambolês no chão.
objetivo um objetivo determinado.
O importante é receber a bola do colega ou passar a
Jogo coletivo Jogo dos 10 passes.
bola para este.
O importante é, por meio do jogo conjunto com o Jogos de 2 x 1, tipo “bobinho”.
Criar superioridade numérica colega, conseguir um ponto, gol ou preparar o pon- Jogos de setores com apoios de
to, gol para o outro (assistência). curingas.
O importante é que quem estiver sem a bola seja
Sair da marcação (oferecer- Jogos com marcação individual,
“visto” pelo colega, deslocando-se e oferecendo-se
-se, orientar-se) jogos em zonas delimitadas.
para receber.
No confronto com o adversário, consegue-se assegu- Jogos com fintas com e sem bola
Superar o adversário
rar a posse da bola. para chegar a lançamento
Modificado de Kröger e Roth.29
O segundo pilar que apoia o processo de técnicas”.29 Basicamente, devem ser oferecidos até
aprendizagem motora se caracteriza por apre- 10-12 anos de idade, ou seja, na categoria mini.
sentar, no ensino-aprendizagem-treinamento, um No quadro a seguir, são descritas as habili-
conjunto de parâmetros que, oferecidos em au- dades técnicas conforme comprovadas por Hoss-
las e treinos de forma sistematizada, permite o ner46 e reagrupadas por Kröger e Roth:29
desenvolvimento das denominadas “habilidades
Quadro 18.6 – Exemplo de atividades para a melhoria dos parâmetros organização dos ângulos e con-
trole da força (com base em Kröger e Roth)29
Parâmetros Atividade
Acertar a bola:
Dois alunos, um de cada lado de uma quadra de vôlei- peteca (rede mais baixa), um com
Controle da força
uma bola de tênis ou semelhante e uma raquete passará a bola por cima da rede.
Organização dos ângulos
O objetivo do colega que receberá e está com um bambolê é observar a bola enviada pelo
Antecipar a direção e distân-
colega do outro lado da rede, em que momento ela atinge seu ponto mais alto, calcular
cia do passe
onde cairá no próprio campo e lançar o bambolê no chão, no local onde a bola enviada
pelo colega quicará.
Variação: Os dois com raquete; quem recebe lança o bambolê e, sem perder a sequência, rebate a bola para o outro lado.
Nesse caso, teremos, também, o condicionante coordenativo pressão de tempo.
252 Manual de Handebol
sendo estas flexíveis. É importante ressaltar que a sinais relevantes, o aluno decide qual a melhor
consciência tática deve conduzir o aluno ao reco- solução para o problema durante o momento no
nhecimento antecipado, isto é, fazê-lo prever os jogo. Assim, relacionando a situação-problema
pontos fracos do adversário.34 Em outros termos, com o “como fazer”, ainda na forma declarativa,
por meio do diálogo com os alunos, as possibi- sendo crítica a decisão a respeito de qual é o me-
lidades táticas são descobertas, desenvolvendo o lhor modo de fazer a resposta apropriada.34 Por
pensamento convergente, ou seja, quais as melho- exemplo, quando há grande espaço, mas o tempo
res alternativas, bem como o pensamento diver- é limitado, uma resposta rapidamente executada
gente, ou seja, dando visibilidade às várias opor- pode ser apropriada. Entretanto, quando o tempo
tunidades de atacar o adversário ou se defender é disponível, a exatidão se torna vital, podendo
dele, conforme a situação necessitar. Com essa ser necessário algum elemento de controle antes
consciência tática, o aluno consegue transferir o da execução.
conhecimento adquirido para outra modalidade, Na quinta fase, de habilidade de execução, a
facilitando o aprendizado. execução da habilidade é usada para descrever a
Na quarta fase, denominada tomada de de- execução do movimento requerido pelo professor,
cisão, deve-se considerar que, no jogo real, os jo- tendo como contexto a aprendizagem, embora re-
gadores têm frações de segundos para tomar de- conheça as limitações dos aprendizes.
cisões e não conseguem distinguir entre “o quê?” Na sexta fase do modelo, analisa-se o desem-
e “como fazer?”. Nessa abordagem, há uma dife- penho, isto é, o resultado observado dos processos
rença entre as decisões com base em “o que fa- prévios medidos sob critérios que são indepen-
zer?” e “como fazer?”, permitindo, assim, tanto ao dentes do aprender. Durante o jogo, adaptado ou
aluno quanto ao professor, reconhecer e atribuir não, exige-se da criança a solução dos problemas
deficiências na tomada de decisão.34 Nessa fase, encontrados nos jogos por meio da utilização e da
os alunos são confrontados com a resolução das realização de uma técnica apropriados à solução
questões citadas anteriormente, no sentido de de- da tarefa.
terminar significado ao uso da técnica em função No Teaching Games for Understanding, o alu-
dos problemas táticos que aparecem no jogo. Em no é considerado centro do processo; entretanto,
cada situação, tem de ser avaliado, durante a de- as experiências anteriores dos alunos não são con-
cisão, “o que fazer” e, assim, se complementa a sideradas importantes. Significa que, os pro-
habilidade de reconhecer as sugestões que o am- fessores devem considerar a relação entre os
biente fornece (envolvendo processos de atenção fatores cognitivo, comportamental e afetivo, e
seletiva, sugestão redundante, da percepção etc.) o ambiente selecionado para a aula e a influência
e predizer quais os resultados possíveis (envolven- de um fator no outro43 para que se possa obter um
do antecipação de vários tipos). Com base nos aprendizado satisfatório. A qualidade das questões
254 Manual de Handebol
a serem colocadas aos alunos no momento das de- nificação das atividades e sequência de jogos para
cisões táticas, isto é, no terceiro passo, são cruciais oportunizar que o iniciante aprenda sem saber que
para resolver os problemas táticos, do jogo. O pla- está aprendendo, que jogue, jogue e jogue...
nejamento que o professor realiza a partir dessa O estágio de formação inicia o processo de
situação deve ser parte constitutiva deste processo aproximação ao handebol, de forma geral e am-
de ensino aprendizado. Porém, o grande risco que pla, oportunizando jogos e o jogar handebol com
se apresenta hoje é que sem possuir conhecimento número reduzido de participantes como conteú-
apropriado sobre a estrutura tática do jogo, sem dos principais. No estágio de transição, particu-
base de conhecimento pedagógico e, também, dos larmente a partir da etapa de orientação, na cate-
princípios dos jogos, o professor será incapaz de goria cadete (14-16 anos de idade), apresenta-se
implantar esta abordagem.46 uma tendência ao equilíbrio entre os processos
incidentais de aprendizado e os processos formais-
-intencionais. Já são requisitados os métodos de
18.1 Em resumo ensino apoiados na compreensão tática. Neste
momento, a proposta do Teaching Games For Un-
O processo de aprendizagem tática apresen- derstanding (TGFU), ou seja, do aprender pela
ta-se concatenado com o treinamento tático e o compreensão, passa a ser enfatizada para otimizar
processo de aprendizagem motora, concatenado o processo de treinamento tático e técnico.
com o treinamento técnico. Para se chegar ao trei-
namento tático e técnico, é necessário passar pelos
estágios de aprendizagem tática motora e suas res-
pectivas etapas. O trabalho a ser apresentado nessas
etapas sempre priorizará o jogar antes do exercitar,
o jogo com oposição antes dos exercícios, e sem-
pre privilegiará as atividades de coordenação antes
do ensino da técnica. Os processos incidentais de
aprendizagem devem ser priorizados nas faixas
etárias iniciais. A aprendizagem incidental solicita
do professor muito conhecimento da modalida-
de e organização e planificação dos conteúdos do
processo de ensino-aprendizagem-treinamento,
ou seja, incidental para o aluno, como o aluno
aprende... Para o professor, significa elaborar um
processo de ensino intencional, uma adequada pla-
Siomara A. Silva
Nas diversas situações dos jogos esporti- dos obstáculos e dificuldades que se apresentam,
vos, quando um árbitro toma uma decisão (api- por um lado, para o árbitro na condução de uma
tando ou deixando a jogada seguir), sua ação partida e, por outro lado, para os jogadores na
apoia-se na interação de um processo de com- compreensão das decisões dos árbitros. A veloci-
paração entre dois polos: “pode ser” e “não pode dade de jogo, a utilização dos mesmos espaços, a
ser”. O gabarito de avaliação para estabelecer a busca de gols em situações de pressão de tempo,
comparação está contido nas regras do jogo.48 em espaços reduzidos, a luta pela posse da bola,
O trabalho do árbitro consiste, em toda situ- os contatos corporais na amplitude permitida
ação de jogo, em tomar decisões comparando pelas regras do jogo, entre outros, são parâme-
o que acontece neste (situação objetiva – real) tros que compõem e caracterizam as ações em
com o que ele carrega consigo de experiência, que os árbitros decidem no handebol.49 As situa-
fazendo de sua avaliação subjetiva o momento ções em que o árbitro deve analisar e decidir são
mais próximo possível do “real”. compostas de ações traçadas pelos atletas, que se
Segundo Bayer,36 os Jogos Esportivos Cole- ordenam no tempo (timing) e no espaço, pela
tivos (JEC) apresentam um conjunto de elemen- própria movimentação, considerando a ação do
tos comuns entre si, por exemplo: a bola, o espaço adversário direto, do colega, do adversário mais
(terreno de jogo com as zonas fixas e variáveis), os próximo, os outros componentes da equipe, do
objetivos (gols, cestas), as regras, os companheiros goleiro adversário e, se for o caso, o resultado
e os adversários. Os árbitros dos JEC representam da partida, entre outros parâmetros inerentes à
o agente que influencia e é influenciado pelo con- situação de jogo.5
texto situacional de grande complexidade.48 Este Na apresentação da ação humana, o espor-
agente é parte inerente do contexto esportivo e tista exprime suas emoções, pensamentos, senti-
suas decisões podem, muitas vezes, não ser com- mentos e atitudes intencionais por meio da ação.
preendidas pelos jogadores, público, treinadores, Nesse sentido, a ação passa a ser o meio de expres-
entre outros participantes do espetáculo. são de uma autoapresentação reflexa dos valores
A complexidade situacional presente nos internos, das normas e regras sociais que cada pes-
JEC, especialmente no handebol, constitui um soa traz consigo.1
252 Manual de Handebol
Uma pessoa só consegue perceber algo do Nome: fute-hande-rúgbi-bunda gol (jogo de criati-
qual ela tem conhecimento. Um jogador somente vidade e inteligência tática)
consegue aceitar que o árbitro apitou ou não pê- Objetivo: ensinar as regras (básicas) do handebol
nalti, por exemplo, se ele já traz consigo o concei- e desenvolver:
to, o conhecimento, a compreensão dos padrões
estabelecidos pelas regras do que é ou pode ser capacidades coordenativas: pressão de
considerado pênalti. Por isso, o conhecimento faz tempo, pressão de organização.
parte (deve fazer), desde os primeiros momentos, Habilidades técnicas: controle dos
da formação de um jogador (e também do árbi- ângulos, controle da força, observar
tro) que se considera como o alicerce fundamen- deslocamentos, antecipar posição dos
tal para sustentar toda sua carreira. defensores.
Para os professores e treinadores, além de Capacidades táticas do handebol: orien-
constantes atualizações (que, no handebol, têm tação, leitura do jogo, tomada de de-
acontecido de 4 em 4 anos, sempre no ano se- cisão.
guinte aos jogos olímpicos), o ensino das regras, Capacidades táticas básicas: acertar o
especialmente para os iniciantes, é uma tarefa alvo, transportar a bola, jogo coletivo,
muito importante e que contribui para compre- criar superioridade numérica, reco-
ensão da lógica do jogo, não somente regulamen- nhecer espaços, oferecer se orientar,
tar, bem como técnica e taticamente falando. sair da marcação.6-8
Portanto, o professor recorre à criação de jogos
em que os alunos possam experimentar situações Material: uma bola.
comuns e nos quais as ações não se desenvolvem e Descrição: joga-se em um campo onde os gols são
nem proporcionam prazer, se não tiverem regras. convertidos em qualquer setor da linha de fundo.
Regras são necessárias para o andamento do jogo, Duas equipes procuram fazer o ponto/gol jogan-
devendo traduzi-lo. Regras ensinam e conduzem do, com a bunda, a bola atrás da linha de fun-
a comportamentos para além dos esportes. Esse do, seja por meio de autopasse (1 ponto) ou do
é um dos desafios dos professores e treinadores passe de um colega (2 pontos), o passe-bunda. A
que se propõem a ensinar crianças e jovens a jogar bola pode ser conduzida com o pé (fute), driblada
bola e, por meio do jogo de bola, compreender o com a mão (hande), passada ou carregada (rúgbi).
jogo da vida. Quando a bola estiver sendo conduzida com os
Buscando contribuir para esse desafio dos pro- pés, somente quem a conduz pode pegá-la com
fissionais de Educação Física, este aporte propõe o as mãos, para evitar que um colega chute o outro.
ensino das regras do handebol através do fute-hande- O número de jogadores e o tempo de jogo podem
-rúgbi-bunda gol.6 O jogo é assim descrito: variar conforme a motivação do grupo.
O ensino das regras do handebol 253
Essas devem ser as instruções básicas a serem ções para criarem/aprenderem a se esquivar, sair
dadas para o início do jogo. O professor executa a da marcação e princípios das fintas. O professor
saída da bola com o extinto “tiro de árbitro” (saída deve estimular essas ações caso os alunos não as
do basquetebol) no centro da quadra. Desse mo- executem naturalmente.
mento em diante, as situações que acontecerem
devem ser conduzidas pelo professor à construção Reposição da bola – quando acontece um dos
das regras, pela necessidade de continuar e evo- atos mencionados, o jogo deve reiniciar com a
luir o jogo. Seguirei com exemplos de situações cobrança de uma falta (Regra XII - Tiro Livre)
que normalmente acontecem nesse processo e de
como podemos ensinar as regras do handebol9 Nessa reposição, bem como na saída da bola
por meio dessas situações, e, com elas, as regras de pela lateral da quadra ou na saída no meio da qua-
comportamentos sociais e técnico-táticos. dra após um ponto (gol) sofrido, todos os jogado-
res da equipe adversária devem deixar o jogador
Defensores sem ação – os jogadores da defesa que executara a reposição da bola em jogo fazê-la
na busca da posse da bola começam a agar- com liberdade. Para isso, os adversários devem
rar, empurrar, segurar, enfim, cometer faltas manter-se a, no mínimo, três metros de distância
e condutas antidesportivas (Regra VIII – Fal- de quem estiver com a bola (Regra XV – Instru-
tas e Conduta Antidesportiva). ções Gerais para a Execução dos Tiros). No exem-
plo da retomada da bola e pontuar o defensor ou
Os defensores podem obter a bola, seja in- a equipe em defesa, o jogo reinicia com um tiro
terceptando passes dos adversários ou quando, de livre no local da ação de infração.
frente ao atacante, colocam as duas mãos nos om-
bros do jogador que está de posse da bola. Nesse Transporte da bola
caso, também marcam ponto para sua equipe, o
que significa valorizar a correta ação defensiva! Nas regras básicas do jogo, não há impedi-
Com essa “regra”, os alunos da defesa aprendem mentos no transporte da bola. Se o professor de-
a posição básica defensiva, aprendem a chegar an- sejar utilizar das regras do rúgbi, deverá instruir
tes da primeira ação do atacante, evitando entrar os alunos a passarem a bola com a mão somente
em contato com o adversário de lado ou por trás, para o colega que estiver atrás ou na mesma li-
o chamado “chegar tarde”. Quando o defensor nha da bola no sentido do ataque. Assim, a bola
“chega tarde” no contato com o atacante, existe poderá ser carregada por toda quadra, atitude
grande probabilidade de uma falta geradora de considerada infração no handebol e que torna
punição, estando o atacante em progressão. Essa o fute-hande-rugby-bunda gol um jogo que favo-
“regra” também proporciona aos atacantes situa- rece os mais velozes. Para construir esse jogo na
254 Manual de Handebol
direção das regras do handebol, quando, mais de te aporte, as linhas de fundo e as laterais devem
uma vez, os jogadores marcarem o ponto depois ser reconhecidas como limitadoras do espaço de
de terem transportado a bola como no rúgbi, im- jogo, e seus prolongamentos se estendem até o
possibilitando a defesa de lutar pela posse da bola teto do ginásio. Portanto, se a bola ultrapassar es-
sem cometer faltas, o professor deverá mostrar a sas linhas, em contato com o solo ou no ar, deve
necessidade das regras dos três passos e do drible ser considerada fora de jogo (Regra I – A quadra
para o transporte da bola (Regra VII – O Manejo de jogo). Diferentemente das linhas limítrofes das
da Bola, Jogo Passivo). Isso faz que o jogo tenha, áreas de gol, das áreas de tiro livre (vulgarmente
no ataque e na defesa, possibilidades de conquis- chamada de pontilhada), as linhas de tiro de sete
tar a posse da bola. O drible da bola, somente de- metros, de limitação do goleiro e do centro da
pois de executar os três passos, é indicado para quadra somente limitam o espaço do solo onde
evitar que os alunos driblem antes dessa regra, ato estão marcadas. Assim, na construção das nossas
que dificulta o aprendizado e a utilização das fin- regras de jogo, o espaço onde se consigna o pon-
tas em progressão e, principalmente, a percepção to deve ser modificado para uma área menor, que
das alterações das situações de jogo. Assim, o pas- pode ser a própria área de gol e/ou vários círculos
se da bola poderá ser executado para o colega que desenhados (ou bambolês) próximos à linha de
estiver na frente em direção ao ataque. fundo. A maneira (técnica) de fazer o gol tam-
Ainda propondo variações das regras do bém deve ser modificada, por exemplo, fazer gol
nosso jogo para construir as regras do handebol, com a cabeça, com o pé, com diferentes partes do
o passe também pode ser limitado a ser executado corpo, com pontuação diferente ou não. Estabe-
após um colega passar (cruzar) por trás do pas- lecida essa modificação, o professor deve observar
sador. A equipe que conseguir essa variação ga- o jogo e coibir as invasões de área, mas sempre
nha 1 ponto a cada “cruzamento” (ação tática de estimulando com pontos extras (como no hande-
grupo) realizada. Essa regra pode ser acrescida de bol de praia – beach handball) os gols realizados
outras exigências que estimulem o comportamen- no espaço aéreo da área determinada. Essa regra
to tático-técnico, como os descrito no capítulo de estimula o lançamento em suspensão e a ponte aé-
metodologia do ensino do handebol. rea, principalmente. Na continuidade dessa nova
regra, as invasões devem ser com um tiro cobrado
Os pontos (gol) de dentro do espaço de realização do gol/ponto
(Regra XII – O Tiro de Meta).
O ponto, basicamente, é obtido com o en- Ainda na continuidade da construção dessas
vio da bola para depois da linha de fundo com a últimas regras, no espaço reservado para obter o
bunda – 1 ponto autopasse e 2 pontos para pas- gol, ainda não temos quem possa evitar que esse
se de um colega. Para o processo proposto nes- gol seja consignado. Para estimular a formação do
O ensino das regras do handebol 255
goleiro (Regra V – O Goleiro), de forma inciden- o professor/árbitro apitar, um dos atacantes com
tal, deve ser colocada a regra que após, somente a bola em mãos dá o passe para o colega fazer o
após a bola ter sido enviada para a área de gol, um bunda-gol (ou outra maneira diferente que tenha
jogador da defesa pode entrar na área, evitando um sentido lúdico para os alunos ou, até mesmo,
que a bola quique duas vezes no solo da área de mais tático-técnico, como a ponte aérea, em ida-
gol, defendendo, assim, a meta. Assim, o gol só des adequadas a essa difícil ação). Somente depois
será valido se a bola quicar duas vezes ou mais ve- do passe, o goleiro pode sair de trás da linha dos 9
zes no solo da área de meta. Na reposição de bola metros (tracejada) para a defesa.
desse ponto/gol, deve ser introduzida saída rápida No handebol, constitui-se um mito que
no centro da quadra (Regra X – O Tiro de Saída). toda falta de 7 metros deve ser acompanhada de
punições. As regras não sustentam isso. O que há
Fazer fracassar uma clara chance de gol nas regras são punições (Regra XVI – Punições)
direcionadas a coibir atitudes que não visem à
Na introdução da área de gol e da função de bola e que, principalmente, não preservem a in-
um goleiro, pode haver situações para que a defe- tegridade física do jogador. Essas atitudes devem
sa ou mesmo quem vai atuar como goleiro evite ser punidas progressivamente. A progressividade
uma clara chance de ponto/gol no momento do das regras das punições do handebol estabelece
envio da bola para a meta ou mesmo, no nosso um caráter pedagógico muito positivo, que deve
jogo, antes do segundo quique da bola na meta. ser aproveitado pelo professor nos momentos de
Por exemplo, dois jogadores da defesa entram na estabelecer limites de tolerância de comporta-
área, impedem ou, até mesmo, dificultam de ma- mentos inadequados dos jogadores/alunos em sua
neira inadequada o envio da bola para o gol Nes- aula. Assim, o professor pode, juntamente com
sas situações, o professor, que já é percebido pelos a turma, definir que punição deve ser aplicada a
jogadores como árbitro (Regra XVII – Os Árbi- cada atitude que não conduz ao bom andamento
tros), deve construir o sentido do chamado, no do jogo.
futebol, pênalti. Em nosso processo de construção
por meio da necessidade das regras para o jogo Tempo de jogo e jogadores
de handebol, será a cobrança do tiro de sete me-
tros (Regra XIV – O Tiro de Sete Metros). Este Em uma aula/treino, a duração do jogo é
conceito pode ser desenvolvido juntamente com sempre controlada pelo professor que mede esse
o sentido da existência da linha de tiro livre (linha tempo com os objetivos e motivação da própria
tracejada ou linha de 9 metros): o goleiro deve aula/treino, da mesma forma que o número de
ficar a três metros de distância de dois atacantes, jogadores em cada espaço de jogo. No fute-
que devem estar junto à linha da área. Quando -hande-rúgbi-bunda gol, o número de jogadores
256 Manual de Handebol
inicialmente pode ser o total de alunos da tur- como também pode ser conduzido para o ensino
ma dividida em duas equipes. Progressivamente, das regras do futsal, do rúgbi e das regras sócias
o professor deve determinar as áreas e regras do que o esporte proporciona.
handebol, como também adequar o número de Regras são limitadoras, mas traçam com-
jogadores (Regra IV – A Equipe) e a duração das portamentos adequados a uma realidade. Como
partidas (Regra II – A Duração das Partidas). A bem diz um famoso comentarista, um ex-árbi-
duração da partida pode ser, no decorrer do pro- tro, como a autora deste aporte, “a regra é clara”.
cesso de construção das regras e do jogo de han- Mas essa clareza só existe para quem tem conhe-
debol, controlada por uma dupla de alunos que, cimento dela.
por exemplo, naquele dia não podem participar Para se ensinar esporte, é necessário conhecê-lo!
ou estão aguardando sua vez. Um controla o tem-
po de jogo e o outro anota quem fez os pontos/
gols e as punições (Regra XVII – Secretário e Cro-
nometrista). Se precisar de grupos de sete jogadores,
teremos dois árbitros, três membros da mesa e mais
dois participantes controlando os bancos de suplentes
e o tempo de exclusões. Desta forma, estar-se-ia jo-
gando com três equipes, realizando-se um sistema
de rodízio.
Do jogo fute-hande-rúgbi-bunda gol ao han-
debol, existe um longo caminho. As regras do jogo
aqui tratado podem ser modificadas e alteradas a
qualquer momento para satisfazer o processo de
ensino-aprendizagem. Mas as regras do handebol,
não! Essas são mundiais e únicas para todas as ida-
des e sexos (com a adequação do tamanho da bola
somente) e todos os níveis de competições em
qualquer parte do mundo. Handebol é handebol
pelas características das regras que o compõem.
Existe o jogo de handebol adaptado a pessoas
com deficiências e aos menores, o mini-handebol.
Existem vários jogos direcionados ao ensino do
handebol. O fute-hande-rugby-bunda gol foi o
escolhido para o ensino das regras do handebol,
Cláudia Monteiro do Nascimento, Philipe Guedes Matos, Antônio Alberto de Lara Júnior
des motoras, tais como correr em várias direções, dizagem tática incidental (por meio de jogos) e
realizar saltos verticais e horizontais e arremessos, de exercícios específicos para a melhora da técnica
passar receber, orientar-se no espaço. Devem-se individual.
proporcionar jogos que incorporem a lógica do Na etapa de estruturação organizacional, pas-
jogo de handebol de praia: acertar o alvo (com sam a ser importantes os aspectos táticos específicos
jogos de pontaria com e sem goleiro), transportar do handebol de areia. O aluno já se adaptou ao solo,
a bola do jogo em conjunto (com jogos de pas- já domina as habilidades motoras da modalidade
se), criar superioridade numérica (jogos de perse- e já tem jogado, de forma variada, diferentes jogos
guição e de organização no espaço), oferecer-se a que permitiram a compreensão da lógica do jogo
orientar e de sair da marcação (jogos com marca- de handebol de areia. Torna-se, assim, importante
ção individual, de perseguição de troca de direção estruturar taticamente o jogo para que o aprendiz
e de velocidade), superar o adversário (jogos com tome decisões táticas durante uma partida.
fintas com bola). Atividades como essas estimu- Iniciar o processo de ensino-aprendizado
lam o aprendiz e fazem que ele se adapte à areia e pelas táticas ofensivas é mais prazeroso ao aluno,
ao espaço delimitado do jogo. O professor deve, pois ele chegará ao objetivo principal do jogo,
constantemente, realizar avaliações em relação à que é fazer pontos. No momento em que for en-
fase de desenvolvimento motor e técnico-tático sinada a tática ofensiva, as habilidades motoras
do aprendiz, verificando o estágio em que se en- (passe, recepção, arremesso etc.) já apresentam
contra, podendo, assim, avançar para o ensino das um nível de domínio especializado, que, nesta
técnicas que são exigências do jogo de handebol etapa de estruturação organizacional, será ne-
de praia. cessário, pois se pode dizer que é uma etapa de
A próxima etapa denomina-se de coordena- objetividade das habilidades aprendidas até en-
ção essencial; aqui, o aluno, por meio dos jogos, já tão, que se manifestam nas decisões táticas que o
se adaptou à areia e consegue realizar as habilida- aprendiz toma no jogo.
des motoras do handebol (passar, receber, lançar) Dentro da tática ofensiva, o aluno deve
sem restrições em relação ao solo. As habilida- posicionar-se na quadra e movimentar-se de
des motoras específicas do handebol de areia se forma objetiva. Existem algumas movimenta-
assemelham às do handebol de quadra. Assim o ções ofensivas que devem ser aprendidas, entre
aluno, agora para se sentir motivado à prática do estas o engajamento, o cruzamento e a permuta.
esporte, tem de consolidar sua aprendizagem dos De preferência, essas movimentações se desen-
gestos técnicos também trabalhados no handebol volvem utilizando o sistema ofensivo 3:1 para,
de quadra, sendo necessária a transferência delas posteriormente, usar os sistemas 4:0, 2:2 e 3:0,
ao tipo de solo. Essa é uma fase mais analítica, o que facilitará as ações ofensivas durante uma
na qual se apresenta um equilíbrio entre a apren- partida, conforme a Figura 20.1.
Proposta de um processo pedagógico de aprendizagem do handebol de areia 259
Figura 20.1 – Ilustração dos sistemas ofensivos 3:1, 4:0, 2;2 e 3:0 no handebol de areia.
Figura 20.2 – Ilustração dos sistemas defensivos 3:0, 2:1 e 1:2 no handebol de areia.
260 Manual de Handebol
nos outros padrões e observar que a impulsão seja dificuldade de aprendizado do arremesso com aérea
feita com os dos membros inferiores ao mesmo é o tempo de bola. O aluno deve ter boa organização
tempo, exigindo maior potência para a impulsão. espacial e temporal, saber o momento de realizar o
Como facilitação, uma informação importante salto, o momento de pegar a bola e, ainda, ter tempo
consiste em que, no momento da segunda passa- de realizar o arremesso antes da queda. O arremes-
da, o aluno realize um pequeno salto para unir os so com aérea depende de outra habilidade motora
membros inferiores seguido do salto vertical com do colega, o passe, pois é por meio dele que o arre-
giro de 360º. messo com aérea pode ser com passe direto ou com
passe parabólico.
Metodologicamente, o professor pode iniciar
União dos MMII, e Salto Vertical
com Giro de 360º
o arremesso com aérea e com passe direto, por se
tornar mais fácil a recepção de quem vai realizar o
arremesso. Assim, o aluno terá mais tempo para ana-
lisar, com mais precisão, o espaço e o tempo em que
a bola se desloca. O aluno toma conhecimento de
2ª passada e pequeno salto
quando deve saltar; se a bola virá em uma velocidade
mais rápida, ele poderá deslocar-se quase ao mesmo
tempo que o companheiro realiza o passe.
Atividades em que o aprendiz tem de pegar a
1ª passada bola, o mais alto possível, auxiliam no aprendizado
dessa habilidade motora, pois facilitam a aquisição
de noções da sua capacidade de impulsão e, tam-
Figura 20.3 – Ilustração das passadas no 3º padrão. bém, do peso da bola, se for realizar o passe, já que
o arremesso com aérea acontece de forma coletiva.
Ressaltando a importância dessa técnica Para o aprendizado do arremesso com aérea e
específica do handebol de areia, podemos desta- com passe parabólico, existe uma variação espaço-
car um dos dados encontrados na pesquisa de Lara temporal em que o aluno terá de adaptar sua corrida
Júnior e Matos:53 “Em 2006, no mundial realizado e saber o momento da impulsão. O jogador deve
no Brasil, a seleção brasileira masculina apresentou, esperar o passe e ver o momento do salto para pegar
aproximadamente, 20% dos gols espetaculares ori- a bola em tempo de realizar o arremesso.
ginados do arremesso sem apoio com giro de 360º.” Criar situações em que o aluno saia de uma
Para o arremesso na ponte aérea, o aluno pre- posição estática e realize o salto vertical e trabalhe si-
cisa de boa impulsão e já deve ter a habilidade do tuações em que ele tenha uma velocidade horizontal
arremesso coordenado com as passadas. A grande para realizar o salto vertical facilitam a sua apren-
262 Manual de Handebol
dizagem. Nessa habilidade, a bola é determinante; devem-se conhecer as possíveis dificuldades que se
então, não é possível realizar trabalhos sem bola. apresentarão para que o aprendiz atinja o objetivo.
Outra habilidade a ser ensinada nesta etapa é o As etapas sugeridas descrevem uma sistematização e
bloqueio defensivo, em que o aluno pode usar o espaço uma sequência metodológica, que o professor deve-
aéreo da área para bloquear o arremesso do adversário, rá adaptar à sua realidade, ao nível de experiência e à
e essa ação não é permitida no handebol de quadra. motivação dos seus alunos. Aprender e evoluir neste
Enfim, o aluno estará pronto para a etapa do e em qualquer esporte é uma necessidade para quem
jogo estruturado. Aqui, o professor continuará uti- deseja chegar ao profissionalismo.
lizando jogos pré-desportivos e, principalmente, O respeito às características do desenvolvi-
pequenos jogos, ataque contra defesa, chegando mento (motor, social, psicológico etc.) da criança
ao jogo de handebol de areia. são fundamentais em todo processo de aprendi-
No jogo estruturado, o aluno já conhece as zado. O professor transfere seu conhecimento da
movimentações táticas dentro das dimensões da modalidade, sempre atento às sugestões e vivên-
quadra, já domina as coordenações técnicas essen- cias dos seus alunos. Essa relação entre o espor-
ciais, conhece a lógica do jogo, seus mecanismos, te e o desenvolvimento da criança deve estar em
como atacar e defender, desenvolveu as técnicas evidência em todas as aulas de Educação Física,
específicas e agora, finalmente, jogará de forma visando à formação da personalidade do aprendiz.
estruturada taticamente o handebol de areia. Enfim, o processo de ensino de aprendizagem
do handebol de areia atrai a prática da modalidade
por ser uma novidade para os iniciantes, pelo seu
20.4 Conclusão caráter “espetacular”, que encanta os praticantes,
pela sua dinâmica de jogo e pela valorização da in-
No processo de aprendizagem do handebol de clusão, pois todos os alunos, independentemente
areia, como em todo caminho para aprendizagem, de sua biotipologia, podem jogar e se divertir.
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Parte VII
Parâmetros de análise
de rendimento
Juan J. Fernández Romero, Helena Vila, Randeantoni do Nascimento
Quadro 21.1 – Propostas das características para avaliar a detecção de talentos no handebol
Autor Avaliações e testes propostos
Cercel 30
Antropométricos: tamanho, peso, envergadura e tamanho da mão.
Antropometria.
Condições físicas.
Antón31 Capacidades técnico-táticas.
Capacidade psíquica.
Condições pessoais.
Czerwinski32
Morfológicos: tamanho, peso, envergadura, perímetros e comprimento dos membros.
continuação
Autor Avaliações e testes propostos
Características do grupo: integração, subordinação aos interesses coletivos e confiança.
Álvaro35
Ambiente: sentimento de pertencer a um projeto, respeito e apoio.
Valorização dos antecedentes esportivos: questionário.
Fernández e 22
Valorização cineantropométricas: antropometria, composição corporal e somatotipo.
Vila24 Valorização da Condição Física: Eurofit, SJ, CMJ e Abalakof.
Valorização Multidimensional: correlações.
tiplicidade de critérios assumidos na definição e ros. Todavia, cabe ao estudioso do jogo desenvol-
identificação dos elementos foco da observação. ver seu próprio olhar, de forma a não se deixar
As escolhas dos analistas têm recaído habitu- iludir pelo alto grau de subjetividade que toda ob-
almente sobre as regularidades ou nas invariantes servação carrega. Logo, todo processo observacio-
dos comportamentos dos jogadores, no mesmo nal deva ser sistematizado, realizado sob um cará-
ou em vários jogos. A justificativa para tal é a ter intencional e referenciado por um conjunto de
forte pressão exercida pelo aspecto regulamentar pressupostos que definam o problema a observar
do jogo, ou seja, por um conjunto de aconteci- e os objetivos dessa mesma observação. Observar
mentos próprios de cada modalidade esportiva, exige uma preparação anterior, como um conhe-
que acabam por gerar padrões sobre os quais os cimento prévio e radical sobre o objeto de obser-
jogadores condicionam seus comportamentos e vação e sobre o plano e os métodos de observação.
exprimem variações próprias. Apresentando-se como um processo dinâmi-
Porém, nos jogos desportivos coletivos co, a observação e análise do jogo têm seu desenvol-
(JDCs), em geral, e no handebol em particular, vimento caracterizado por alterações substanciais,
o que se espera é que a organização, o modelo de principalmente no que se reporta à instrumentação
jogo da equipe, sirvam como pano de fundo e que tecnológica. Paralelamente, como parte integran-
o comportamento dos jogadores se exprima entre te do contexto da competição, a análise do jogo
o preestabelecido – as regras e a improvisação –, a tem procurado responder, cada vez mais satisfato-
inovação e a novidade momentânea. riamente, aos quesitos referentes à recolha, ao tra-
As equipes variam seus padrões de jogo em tamento, ao armazenamento e à interpretação da
função da oposição oferecida pela equipe adversá- informação produzida durante as competições.
ria. Esse fato gera a necessidade de interpretação A consequência mais visível dessa evolução
dos dados recolhidos em função das características pode ser constatada por (I) um aumento quali-
das partidas, o que aumenta a importância da “re- tativo no conhecimento da organização do jogo
levância contextual” dos comportamentos dos jo- e dos fatores que concorrem ao sucesso despor-
gadores de ambas as equipes envolvidas na disputa. tivo, o que proporcionou (II) maior eficácia na
Disso, decorre a tendência para procurar construção de métodos de treino mais eficazes e
perceber os fatores que induzem perturbações ou estratégias de trabalho mais profícuas, além de
desequilíbrios na relação defesa/ataque, principal- também proporcionar (III) uma análise mais fiel
mente nas situações que produzem gols. às tendências evolutivas.
A pesquisa começou pela observação. Entre- Atualmente, a observação tem sido cada vez
tanto, a observação só se torna verdadeiramente mais utilizada como método científico, o que faz
científica quando requer um estado de atenção necessário conhecer e compreender cada vez mais
constante e parte de pressupostos expressos e cla- suas bases metodológicas. Para tal efeito, a obser-
Análise e observação de jogos no handebol 277
vação deve seguir quatro aspectos que a caracteri- análise, principalmente pelo fato de os jogos de-
zam como técnica científica: pendentes da pontuação serem, em grande parte,
caracterizados por uma sucessão estruturada de
Servir a um objeto já formulado de eventos discretos em que a relação desses eventos
investigação. está relacionada ao oponente. Já os jogos depen-
Ser planejada sistematicamente. dentes do tempo são de caráter evasivos e inte-
Ser controlada e relacionada com rativos e podem ser considerados extremamente
proposições mais gerais em vez de ser condicionados pela complexidade e contingên-
apresentada como uma série de curio- cia do momento, além de envolver sempre mais
sidades interessantes. adversários e companheiros, o que faz aumentar
Estar sujeita a comprovações de vali- a quantidade de dados.
dez e fiabilidade.
tabelecer perfis da sua atividade física jogo, por meio da construção de um instrumento
durante o jogo). de observação e análise do jogo que contenha os
Análise do tempo-movimento – das indicadores que melhor traduzam os comporta-
tarefas motoras realizadas pelos jo- mentos dos jogadores e das equipes.
gadores (caracterizar as atividades É de acordo com cada situação específica e
desenvolvidas pelos jogadores e pelas a partir de cada objetivo projetado para o estudo
equipes durante as partidas para esta- em questão que devem ser constituídos sistemas
belecer perfis da sua actividade física de observação e análise que correspondam par-
durante o jogo). ticularmente a esses pressupostos. Tal fato faz
Análise das habilidades técnicas dos que cada investigador selecione as categorias de
jogadores (análise do repertório técni- observação que se lhe afigurem mais precisas e
co desenvolvido no jogo). idôneas para seus objetivos, o que implica ser co-
Análise técnico-tática pelos indicado- mum encontrar-se em distintos estudos sistemas
res do próprio jogo (identificar as re- de categorias equivalentes, porém diferentes, em
gularidades expressas pelos jogadores e maior ou menor medida, do tipo de categorias
pelas equipes para se tipificar as ações que inclui.
que mais se coadunam com a eficácia Todavia, nunca se pode perder de vista o
dos jogadores e das equipes ). caráter integrativo das categorias, e estas devem
estar configuradas para, objetivamente, caracteri-
Torna-se, portanto, necessária a organização zar: (I) a organização do jogo a partir das carac-
do “código de leitura”, do “sentido de jogo” que terísticas das sequências de ações das equipes em
sirva de quadro referencial na busca da compreen- confronto; (II) os tipos de sequências que geram
são da estrutura dos JDCs, já que a estrutura dos ações positivas; (III) as situações que induzam
JDCs e do handebol, em particular, se traduz na desequilíbrio no balanço ofensivo e defensivo das
prerrogativa de que a totalidade das ações indivi- equipes em confronto; e (IV) as quantidades da
duais e coletivas formam uma unidade definida. qualidade das ações do jogo.
Nessa unidade, cada elemento relaciona-se com
o todo e este só demonstra seu significado total
quando observado em seu contexto. 22.4 Seleção das categorias de obser-
O que se procura é perceber quais constran- vação e variáveis observáveis
gimentos do jogo melhor referenciam modelos de
sucesso para o ensino, para o treino e para a com- Todo sistema de categorias deve ser organiza-
petição. Daí a necessidade do estudo do jogo a do em função: (I) do nível em que se quer observar;
partir da análise dos constrangimentos do próprio (II) do âmbito da realidade à qual o objeto obser-
280 Manual de Handebol
vável pertence; e (III) do tipo de situação na qual o dessas unidades, há a possibilidade de explicar as
fenômeno ocorre. Portanto, cada investigador sele- linhas de evolução realizáveis na relação de opo-
ciona as categorias que lhe parecem mais idôneas. sição particular que a caracteriza. Corroborando
Análises bem estruturadas são aquelas que esse pensamento, podemos afirmar que, se não
privilegiam as regularidades e variações das ações houvesse algo que ligasse o jogo a um território
do jogo, bem como a eficácia ofensiva e defensi- de possíveis previsíveis, no qual pontificam os de-
va, absoluta e relativa, como forma de salientar o signados modelos ou representações, a preparação
comportamento de jogadores e equipes. Somente dos jogadores e das equipes tornar-se-ia obso-
dessa forma pode-se alcançar o caráter integrativo leta. Disso, podemos deduzir que a análise e as
e contextualizado que caracteriza um coerente e interpretações dos JDCs e da funcionalidade da
consistente sistema de observação e análise do jogo. equipe por meio do prisma da modelação asse-
guram a possibilidade de utilizar uma metodo-
logia científica na programação do treino. Isso
22.5 Análise do jogo de handebol se faz possível, também, na seleção de jogadores,
no conhecimento dos adversários, na escolha da
tática do jogo e, em geral, para toda a atividade
22.5.1 A lógica do jogo dos treinadores e das equipes.
É o estudo da organização do jogo, realizado
O problema que a dinâmica dos jogos des- por meio da observação do comportamento das
portivos coloca é o fato de não haver duas situ- equipes (sistemas), que oferecerá a possibilidade
ações de jogo absolutamente idênticas, além de de identificar e assinalar ações/sequências de jogo
que as possibilidades de combinações são inúme- que, pela sua frequência de ocorrência, ou por
ras, o que torna impossível recriá-las no âmbito induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos)
do treino. A solução a essa questão reside na utili- importantes, se constituem como aspectos a reter
zação da estratégia de ordenar coisas sensivelmen- para o ensino e treino da modalidade.
te semelhantes e/ou diferentes. Logo, a possibi- Cabe, perfeitamente, a análise dos proce-
lidade de categorizar os acontecimentos do jogo dimentos, dos métodos e, em um universo mais
de forma a que se modelem representações do restrito, das ações levadas a cabo pelas equipes
seu desenvolvimento faz o traço de união entre na procura do sucesso. Os dados obtidos possibi-
a concepção do jogo, o treino e sua planificação, litarão a percepção da forma como está constitu-
com o desempenho desportivo na competição. ída a eficácia das equipes, por exemplo, a forma
Por essa tese, torna-se fundamental fazer da com- de associação de certas características táticas que
petição um campo de análise e das equipes mais traduzem regras de funcionamento do sistema
evoluídas, referências constantes. Para cada uma ataque-defesa.
Análise e observação de jogos no handebol 281
damente, os tiros de 7 metros; os tiros de 9 metros; der de influência sobre os outros fatores, este fator
e as assimetrias numéricas, que, frequentemente, assume-se como a variável nuclear nesse âmbito
influenciam o resultado final de um encontro. de análise, pois é a partir das configurações pla-
nejadas neste aspecto que as outras categorias se
manifestam no jogo. Entre as exemplificações de
22.3.2.4 O fator tarefa técnico-tática variáveis observáveis deste fator estão as relativas
aos aspectos relacionados, basicamente, à caracte-
Circunscreve todas as ações realizadas racio- rização das formações ofensiva e defensiva.
nalmente durante as situações de jogo que con-
figuram e determinam a solução dos problemas
apresentados pelo jogo e asseguram sua continui- 2.6 Considerações finais
dade. São exemplos desse fator ações relacionadas
à eficácia de tarefas como, por exemplo, o arre- A competição pode ser descrita como uma
messo; média de falhas técnicas ou pela forma que interessante fonte de aprendizagem acerca do
se dá a perda da bola; influência do contra-ataque comportamento humano. Logo, essa é oportuni-
no sucesso desportivo; tipificação de ações defen- dade ímpar à observação e à análise dos diversos
sivas: eficácia do goleiro, eficácia de arremesso, efi- conteúdos – individuais e coletivos, do jogo, em
cácia ofensiva, zonas de finalização e meio tático. seu expectro real. Logo, a compreensão do desen-
Esse fator proporciona a ampliação significativa volvimento do jogo configura-se na procura dos
da capacidade de respostas adaptativas do jogador comportamentos que melhor traduzem a eficiên-
às situações-problema do jogo, permitindo que se cia e a eficácia de jogadores e equipes.
reconheça, oriente e regule sua ação motora. Apresentando-se como um processo dinâ-
mico, a observação e a análise do jogo têm seu
desenvolvimento caracterizado por alterações
22.3.2.5 O fator organização estratégico-tática substanciais, principalmente quanto à instru-
mentação tecnológica. Paralelamente, como parte
Conjuntamente com a tática, é a organiza- integrante do contexto da competição, a análise
ção estratégica que dá aos JDCs seu caráter pró- do jogo tem procurado responder cada vez mais
prio, pois exprime o modo como a equipe organi- satisfatoriamente aos quesitos referentes a reco-
za-se racionalmente para resolver o problema da lha, tratamento, armazenamento e interpretação
superação do adversário, expressando-se tanto no da informação produzida durante as competições.
âmbito individual quanto no coletivo, desde o as- A consequência mais visível dessa evolução pode
pecto da cooperação com os companheiros até o ser constatada por (I) um aumento qualitativo no
aspecto da oposição com os adversários. Pelo po- conhecimento da organização do jogo e dos fato-
Análise e observação de jogos no handebol 283
res que concorrem ao sucesso desportivo, o que sibilidade de reconhecer e identificar os erros de
proporcionou (II) maior eficácia na construção execução é um dos mais importantes e fundamen-
de métodos de treino mais eficientes e estratégias tais pré-requisitos exigido a quem queira exercer
de trabalho mais profícuas, além de também pro- a função de treinador ou professor de Educação
porcionar (III) uma análise mais fiel às tendências Física. (há um parágrafo igual a esse mais acima –
evolutivas. verificar se se deve tirá-lo.)
Parece claro que a atividade pedagógica faz-se Como já foi colocado anteriormente, no
principalmente pelo confronto constante entre a âmbito do desporto, aquilo que todo treinador
necessidade de observar e avaliar execuções e de busca é aproximar o seu treino, o máximo pos-
prescrever a correção para os erros detectados, sível, às exigências da competição. Para tal, há
tendo em conta os objetivos, a técnica-padrão, os que buscar o que de mais importante acontece no
contextos e as características do executante. jogo e tentar reproduzi-lo em situação de treino.
Logo, saber diagnosticar os erros, determi- Logo, é essa abordagem sistémica da análise do
nar sua importância relativa e suas causas, além de jogo para uma estruturação do treino e recriação
saber corrigi-los, são algumas das principais res- da performance no próximo evento, como o jogo,
ponsabilidades do professor ou treinador. Claro é que deve regular a prestação competitiva, e é por
que sem uma efetiva competência de observação e meio de observação, notação e análise dos dados
de correção dos atletas, as performances não pode- observados que serão obtidos os feedbacks necessá-
riam ser melhoradas. Dito de outra forma, a pos- rios para se alcançar os objetivos esperados.
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Análise e observação de jogos no handebol 285
Parte VIII
As diferentes formas de
manifestação do handebol
Dourivaldo Teixeira
O objetivo deste capítulo é realizar uma experiência esportiva no handebol é a lógica dialé-
reflexão sobre o esporte. Mais especificamente, tica, que contempla uma relação ação-problema-
refletiremos sobre a modalidade de handebol em tização/reflexão-ação.
uma perspectiva que, mesmo não se restringindo
às questões técnico-táticas, não se afaste do cam-
po das vivências desta prática, campo esse que, 23.1 Fundamentos pedagógicos e dire-
sem dúvida, é repleto de amenidades/intensida- trizes para a prática do handebol
des, equilíbrios/desequilíbrios, adequações/inade-
quações, habilidades/inabilidades, acertos/erros, É fundamental que a pedagogia do hande-
vitórias/derrotas, ritmias/arritmias, risos/choros bol, assim como a de outras práticas esportivas,
etc., pois é um ambiente cheio de vida. Alme- seja arrojada e apresente consonância com polí-
jamos contribuir com as bases de uma proposta ticas esportivas nas esferas municipal, estadual
pedagógica reflexiva e crítica para a formação de e nacional. É necessário que esta pedagogia se
sujeitos pelo/para o handebol, invocando, em sua apoie em metodologias inovadoras e possíveis
estrutura e funcionalidade (campo de vivência), a que permitam orientar suas ações no sentido de
potencialidade educativa possível a partir da prá- promover a inclusão social pelo/para o esporte e
tica sistematizada. contribuir com a superação dos problemas que
Pretendemos, com o desenvolvimento do afligem as camadas menos favorecidas da popu-
tema que dá nome a este capítulo, apontar para lação. Dessa forma, em uma ação retroagente,
a necessidade de uma política específica de esti- também, poderá contribuir com a estruturação
mulação e fomento à modalidade, a importância da modalidade em nossa sociedade, da qual não
de uma abordagem pedagógica reflexiva e crítica é uma prática esportiva originária. Seu início,
e, além disso, a estruturação de metodologias que pelo menos como uma modalidade esportiva
deem conta de uma prática do handebol orienta- estruturada e regulamentada, ocorreu no cen-
da em um campo de ação que privilegie a refle- tro e norte europeus, mais especificamente na
xão sobre esta ação. Neste sentido, a lógica que Alemanha, na Dinamarca, na Suécia e na antiga
queremos ver permeando o processo de vivência e Tchecoslováquia.
290 Manual de Handebol
FIgura 23.2 – Atleta da Seleção Brasileira de Juniores, Henrique Selicani Teixeira, formado desde as categorias de
formação pelo Centro de Excelência Regional de Handebol da Universidade Estadual de Maringá (CERHAND),
que passou por todas as Seleções Brasileiras: infantil (13/14 anos; cadete (15/16 anos); e juvenil (17/18 anos), em
lance de jogo da Final do Campeonato Pan-Americano de 2007, no Chile.
Valores, valoração e educação 293
cipação sem qualquer distinção ou discrimina- deveria construir programas de fomento e de-
ção; garantia da integridade dos participantes; senvolvimento contemplando os centros de
fomento à participação em nível nacional e formação da modalidade em todo o país. Esses
internacional; autonomia organizacional para programas, que transcenderiam o modelo sim-
as instituições conveniadas; e descentralização plista de organizar/participar de competições,
operacional em nível de planejamento, implan- deveriam projetar os impactos diretos e indi-
tação e execução dos convênios) por meio de retos de uma prática desportiva sistematizada e
alianças e parcerias institucionais, mediante a de amplitude nacional, mas que contemplasse,
descentralização da execução orçamentária e fi- prioritariamente, os melhores centros de for-
nanceira para entes públicos e privados, com e mação da atualidade.
sem fins lucrativos. Os projetos Mini-handebol Petrobrás
As instituições responsáveis pela gestão do e Caça-Talentos, propostos pela CBHb, são
handebol (clubes, federações e confederações) exemplos, mas insuficientes tanto na sua con-
deverão lançar projetos e programas visan- cepção quanto na sua estruturação e população
do tanto à prática participativa (massificação) atendida, além de que, aparentemente, refletem
quanto educacional e de alto rendimento, além apenas o atendimento formal de uma necessi-
de procurar sistematizar esses programas focan- dade, pois há imensas dificuldades para serem
do as pontes de inter-relação e interação entre implantados e mantidos em atividade, ou seja,
eles, projetando e prevendo possíveis impactos não é uma meta prioritária da CBHb, das fe-
diretos e indiretos na visibilidade da modalida- derações e, infelizmente, de muitos clubes que
de no país. O que se configura na atualidade se limitam a buscar atletas formados em outras
é certo descaso institucional com a estrutura escolas em detrimento de investirem em sua
do handebol na esfera nacional. É claro que formação.
existem as competições regionais promovidas Esses aspectos passam, praticamente, in-
e organizadas pelas federações com apoio dos sensíveis pelas instituições que administram a
clubes e as nacionais promovidas pela confede- modalidade, mas acabam originando um ciclo
ração com apoio das federações e dos clubes, vicioso nada importante para o crescimento do
mas, além da realização das competições, não handebol em nosso país. O processo de migra-
se faz nada muito além disso. As equipes e os ção dos atletas-talento para os grandes centros
centros de formação e prática da modalidade financeiros, desguarnecendo, neste caso, os clu-
em todo o país necessitam de apoio efetivo com bes de menor poder aquisitivo, quase sempre
políticas de desenvolvimento e de fomento. do interior, geram a centralização dos investi-
A Confederação Brasileira de Handebol mentos que, invariavelmente, contribuem para
(CBHb), lastreada pelas federações estaduais, o empobrecimento dos núcleos de formação,
294 Manual de Handebol
das federações estaduais, setor no qual, das 27 23.2 Valores e objetivos no hande-
federações existentes, temos poucas em efetiva bol: a necessária reflexão/pro-
atividade de forma organizada e sistematizada. blematização
A maioria atende somente de forma parcial suas
funções organizativas e de fomento para o de- Aqui, é importante compreender que o pon-
senvolvimento da modalidade em nosso país. to de partida para esta reflexão é compreendermos
Nesse sentido, torna-se importante, como que a problemática envolvendo uma proposta de
início do processo de capacitação, refletir so- esporte educacional (esporte/educação), neste
bre tal proposta dentro de suas especificidades caso, handebol e educação, deve passar pela di-
estruturantes, organizativas e funcionais, justa- mensão dos valores, pelo processo de valoração e
mente com os responsáveis nas mais diferentes pelos objetivos já ou a serem estabelecidos. Assim,
esferas de atuação. Tal importância se confirma considerando os programas e projetos específicos
na necessidade de que estes assumam a con- da modalidade de handebol já em desenvolvimen-
dição de timoneiros neste processo, tanto no to (por municípios, clubes, Estados, pela CBHb),
que se refere às questões de gestão quanto às assim como aqueles em potenciais, esses esportes
questões pedagógico-metodológicas na aplica- deverão passar por processos de valoração e proje-
ção das atividades para crianças e adolescentes, ção de metas e objetivos contemplando as neces-
público que é a base para um programa de fo- sidades específicas de todos os locus de vivências.
mento e desenvolvimento desta modalidade es- Os espaços de vivências, salvaguardan-
portiva, contemplando desde a estimulação e a do suas especificidades e limitações, deverão ter
aprendizagem, passando pelo aperfeiçoamento como meta principal levar os participantes à com-
desta prática, até o alto rendimento, inclusive preensão de que:
em nível internacional.
Para tanto, nesta reflexão, teremos como O handebol compõe o esporte como
marco aquilo que julgamos ser de suma im- uma política social para todo cidadão
portância, ou seja, aquilo que se constitui no (Constituição Brasileira/1988).
elemento fundamental, a espinha dorsal em O handebol, como modalidade esporti-
um programa que deve anunciar “uma prática va sistematizada e regulamentada, pos-
de handebol educacional e de qualidade”: os sui componentes negativos (reprodução
valores e os objetivos. Em nossa reflexão, toma- da mídia sem reflexão dos sujeitos) e po-
remos como apoio a proposta de Saviani, 1 com sitivos (postura dos professores/monito-
o texto “Valores e objetivos na educação”, que res como agentes de mudança).
se encontra na obra Do senso comum à consciên- O conceito e a prática do handebol
cia filosófica. como uma modalidade esportiva de-
296 Manual de Handebol
necessidades que precisam ser satisfeitas e lorização da criança enquanto ser que
este fato leva à valorização e aos valores.1 age, enquanto produtor de seu jogo e
respostas de tipo novo dificilmente atingíveis de mesmo tempo que desenvolvemos a consciência
outro modo e abordar problemas que normal- de que a intenção tática individual não se esgota
mente ficariam por tratar. Reproduz tensões e em si, mas deflagra uma dinâmica na qual as dife-
contradições da vida, tornando-as suportáveis rentes intenções táticas se articulam umas com as
e resolúveis, como, por exemplo, a tensão entre outras de forma sistêmica, articulando a estrutura
ordem e desordem, que encontramos em mui- coletiva do jogo a partir da intersubjetividade.
tos jogos infantis, ou a tensão entre sucesso e O processo de valorização é constitutivo, ou
insucesso, que perpassa quase todo o desporto. seja, o homem é visto como um ser que não é in-
O jogo altera e inverte papéis e situações: quem diferente, pois se comunica entre si diretamente e
até agora perdeu pode ser, em breve, o vencedor; por meio de objetos, de tecnologias e de suas pró-
quem ganha pode estar seguro de que isso não prias criações culturais, captando e aferindo sen-
acontecerá sempre. tidos e significados para sua vida pessoal e social a
Considerando a especificidade do handebol partir de sua condição de situacionalidade e liber-
como desporto coletivo, devemos, desde a fase dade. No handebol, portanto, ao manifestar uma
de estimulação e aprendizagem, privilegiar uma intenção tática, os praticantes, nas diferentes fases
metodologia que suscite amplamente a percepção de prática, devem contemplar as intenções táticas
e a tomada de decisão (a sua decisão tática) do de seus companheiros, inclusive dos adversários,
praticante, tendo-o sempre como um ser que age, no sentido da complementaridade e da eficiência.
produzindo seu jogo e construindo seu futuro, ao O jogo desportivo coletivo, como o handebol, se
E ------ H
S ------ A
P ------ N
O ------ D
Homem R ------ E Homem 2
T ------ B
E ------ O
S ------ L
consolida como um espaço propício para as rela- ser humano – bom ou mau –, é preciso sempre
ções pessoais e sociais, pois nele se reproduzem, a intervenção da arte. Para ser homem, não basta
de uma forma peculiar e própria, as condições nascer, é necessário aprender, por meio da comu-
encontradas na realidade da vida contemporânea. nicação com os nossos semelhantes e memórias.
Do ponto de vista do esporte educacional,
o que significa, então, promover o homem? Sig-
23.6 O handebol e a dimensão esté- nifica contribuir, conjuntamente com a educação,
tica como campo de valores e para que ele seja cada vez mais conhecedor da sua
sobre todas as dimensões do seu com- as necessidades que devem ser levados
portamento e, além disso, esta ativi- em consideração não são os dos ‘indi-
te. Fala-se da natureza da criança, e que, para termos um esporte não bur-
isso é ideológico na medida em que guês, precisamos atuar sobre suas deter-
Sem considerar que diferenças entre classes tória (melhores dos piores), do esforço
sociais antagônicas definem condições específi- pessoal e individual (às vezes associado)
cas de infância. para vencer o adversário não seja seu
tem como fundamento a ideia de que sem a qual não haverá condições de so-
a criança possui uma ‘natureza’ que breviver, porque será fatalmente subme-
estática, pois “a sociedade sempre teve interesse Coloca-se aqui a necessidade de estabelecer
em priorizar certas hierarquias que correspondem a relação cabível e própria entre os fenômenos:
mais aos interesses dos seus grupos privilegiados”, handebol (esporte) e educação, quanto aos valores
pelo conceito de prioridade, mais dinâmico e e objetivos. Sem dúvida, handebol (esporte) não é
flexível. Com efeito, a prioridade é ditada pelas educação, mas, sob a preocupação de torná-lo um
condições da situação existencial concreta em que meio, um instrumento que possa ser proativo edu-
vive o homem. Exemplifiquemos. cacionalmente, é necessário ter o foco centrado nas
questões de valores e objetivos educacionais, bus-
Conceito de Hierarquia cando contribuir em nível educacional e visando à
Os objetivos indicam os alvos da ação. Eles É preciso, então, encarar o problema do pon-
constituem, como lembra o nome, a objetivação to de vista da realidade existencial concreta do
da valoração e dos valores. Poderíamos, pois, di- homem brasileiro. Qual é a situação do homem
zer que se a valoração é o próprio esforço do ho- brasileiro? Como ele valoriza os seus elementos?
mem em transformar o que é naquilo que deve ser, Como ele se utiliza deles? Uma análise mais deti-
os objetivos sintetizam o esforço do homem em da revelará que o homem brasileiro, no geral, não
transformar o que deve ser naquilo que é. A Figura sabe tirar proveito das possibilidades da situação
23.8 facilita a compreensão dessas ideias: e, por não sabê-lo frequentemente, acaba por des-
Nela, realidade 1 representa a situação origi- truí-las. Isso nos revela a necessidade de uma edu-
nal e realidade 2 representa essa mesma situação, cação para a subsistência: é preciso que o homem
porém transformada. Temos, pois, que realidade brasileiro aprenda a tirar da situação adversa os
2 = realidade 1 transformada. meios de sobreviver. Nesse caso, o handebol pode
Como a definição de objetivos educacionais ser um instrumento de preparação quando pensa-
depende das prioridades ditadas pela situação em mos na possibilidade de preparar as vivências que
que se desenvolve o processo educativo, com- envolvem o vencer e o perder como momentos
preende-se que tal definição pressupõe uma análi- balizadores para buscar as melhoras necessárias
se da situação em questão. nos diversos campos que envolvem esta prática.
Valores
(o que deve ser)
Valoração Objetivos
Realidade - 1 Realidade - 2
O que é
Mas como pode o homem utilizar os ele- no handebol tanto em nível educacional, quando
mentos da situação se ele não é capaz de intervir de participação (lazer) de alto rendimento. Daí
nela, decidir, engajar-se e assumir pessoalmente a vem o quarto objetivo: educação para a transfor-
responsabilidade de suas escolhas? Sabemos quão mação. Nesse sentido, temos de perceber as po-
precárias são as condições de liberdade do homem tencialidades pedagógicas do esporte em relação
brasileiro, marcado por uma tradição de inexpe- à formação dos sujeitos, mas, para isso, devemos
riência democrática, marginalização econômica, considerar a possibilidades de transformação do
política, cultural, daí a necessidade de uma edu- próprio handebol. O handebol é único, mas se
cação pra a libertação: é preciso saber escolher e desenvolve em várias dimensões. Na dimensão
ampliar as possibilidades de opção. Os educado- educacional, temos o handebol da escola, ou seja,
res esportivos devem estar atentos a essas questões aquele esporte que, sob o tratamento pedagógico,
para poderem, dentro do trabalho específico com pode ser modificado e transformado quanto a sua
o handebol, propor sua prática com base em um estrutura, funcionalidade e regulamentação, jus-
cunho educacional considerando a situação con- tamente porque os valores e objetivos demandam
creta de vida dos sujeitos envolvidos e consideran- um processo de valoração afinado com a educação
do os valores e os objetivos para contribuir com a para a transformação.
libertação do homem brasileiro. Considerando a problemática dos valores e
Como, porém, intervir na situação sem uma objetivos a partir da situacionalidade, da liberda-
consciência das suas possibilidades e dos seus li- de, da comunicabilidade e da dimensão estética
mites? Essa consciência só se adquire por meio da do homem brasileiro, entendemos que o esporte
comunicação. Daí vem o terceiro objetivo: educa- educacional poderá, mesmo dentro de uma es-
ção para a comunicação. É preciso que se adqui- pecificidade como o handebol, auxiliar a trans-
ram os instrumentos aptos para a comunicação formação existencial concreta de crianças e ado-
intersubjetiva. Nesse campo, o handebol como lescentes, desde que procure tratar, além de seus
modalidade de funcionalidade simples possui temas específicos (técnicas e táticas, preparação
uma grande potencialidade considerando-se que física e psicológica), temas considerados educa-
é uma linguagem universalizada e sem divisas ou cionalmente transversais, como a subsistência, a
fronteiras, ou seja, é um fenômeno mundialmente libertação, a transformação e a comunicação.
hegemônico, mas que pode ter suas regras, estru- Como, porém, realizar esses objetivos? Com
tura e funcionalidade relativizada considerando as quais instrumentos podemos contar? É preciso
diferentes etapas e dimensões de prática. buscar, na realidade vivida das vivências que pra-
Tais objetivos, contudo, só serão atingidos ticam o handebol, uma organização com planeja-
com uma mudança sensível do panorama nacio- mento e sistematização adequados que permitam
nal atual, quer geral, quer educacional, com base estruturar metodologias e estratégias adequadas
308 Manual de Handebol
a prática era proporcional ao amor pelo desporto. Começamos a elaborar regulamento nos
Comecei a pensar no que deveria fazer para conti- quais, prioritariamente, tínhamos de estabelecer
nuar a praticar o handebol e nenhuma ideia vinha a idade mínima para os dois naipes, feminino e
à cabeça. masculino, e, em seguida, começamos a convidar
Durante a participação no III Encontro Na- ex-atletas para participar do evento.
cional de Professores de Handebol das Institui- O festival, que foi realizado no dia 18 de
ções de Ensino Superior Brasileiras na cidade de dezembro de 2004, reuniu 84 ex-atletas partici-
Belo Horizonte, porém, quando da realização pantes diretos, além de centenas de espectadores.
de uma apresentação com temática relativa sobre Durante o festival, foi feita uma enquete solici-
a prática do Handebol na Terceira Idade, que ti- tando sugestões para modificações de regras para
nha como base a prática do handebol para pesso- melhor desenvolvimento do jogo.
as a partir de 60 anos, encontramos o caminho No ano seguinte, durante a realização do
que nos permitisse encontrar respostas às nossas IV Encontro Nacional de Professores de Han-
inquietações quanto à continuação da prática do debol das Instituições de Ensino Superior Brasi-
handebol após a vida adulta. leiras, em Maceió, ministrei uma palestra sobre
De volta a Maceió, trouxe esta ideia e resol- o Master Handebolc, quando, oportunamente,
vi compartilhar com os meus alunos da Disciplina foi possível colher críticas e sugestões que, desta
Metodologia do Ensino do Handebol do Curso de vez, partiram de profissionais que já atuam nessa
Educação Física da Universidade Federal de Alagoas. área do desporto. Tudo isso contribuiu para o
Após uma explanação sobre todos os aconte- melhor desenvolvimento da modalidade propos-
cimentos do referido encontro, expus minhas ideias ta e muitas delas levaram à ampliação e a modi-
por meio do regulamento do handebol para terceira ficações no seu desenvolvimento.
idade e solicitei que eles fizessem uma análise crítica Além da realização do II Festival Máster,
no sentido de colocarmos em prática a proposta de em 2006, desta feita com algumas regras modifi-
implantação desta modalidade esportiva. cadas fruto das sugestões colhidas anteriormen-
Depois das discussões em sala de aula, chega- te, procuramos realizar outras atividades com-
mos à conclusão de que, em princípio, deveríamos petitivas. Como exemplo, foram realizados dois
lançar o máster handebol através da realização de torneios, sendo um no naipe masculino e outro
um evento competitivo denominado I Festival Más- no naipe feminino.
ter de Handebol.b Os festivais e torneios do máster de handebol
em Alagoas tencionam assegurar a implantação de
uma atividade direcionada a um grupo especial
b
Vale destacar a publicação da ata de fundação da modalidade,
no Diário Oficial do Estado de Alagoas de 1º de fevereiro de
2005, e o registro em cartório datado de 26 de junho de 2006,
c
No naipe feminino, a participante deverá ter, no mínimo, 30
como direito autoral do professor Francisco de Assis Farias. anos, enquanto no naipe masculino, a idade mínima é 35 anos.
Handebol master para ex-atletas 311
de ex-atletas. A sua primeira edição idealizou-se No passado, valia a ideia de que envelhecer le-
sob duas perspectivas: a primeira parte do direito varia o indivíduo, após anos e anos de trabalho, a
à prática da atividade de handebol aos praticantes viver no imobilismo e ostracismo de seu lar, tudo
com faixa etária de 30 anos para o naipe feminino em virtude da ignorância quanto ao que é a velhice.
e de 35 anos para o naipe masculino; a segunda, Se antes o sujeito gozou de um status como membro
que visa garantir a sustentabilidade dos objetivos ativo da sociedade, agora ele poderá ser considerado
relacionados à incrementação do máster handebol um membro desnecessário ao convívio social.
nos cursos superiores de formação de professores Como consequência, era notável a diminui-
de Educação Física nos diversos Estados e regiões ção do número de expectativa de vida do idoso, já
brasileiras, a exemplo do Curso de Licenciatura que a sociedade o restringia de vários aspectos e
em Educação Física da Universidade Federal de condutas sociais.
Alagoas, em que consta um dos conteúdos da dis- Diante das mudanças ocorridas sobre o con-
ciplina Metodologia do Handebol. ceito de velhice nesses últimos anos, a população
idosa, mesmo com perdas na capacidade de seu or-
ganismo, permanece ativa dentro de suas limitações.
24.3 O que é envelhecimento? Em nosso ponto de vista, a maneira pela
qual as pessoas passam a encarar as características
O envelhecer é uma consequência natural do envelhecimento é que as classificam como “ve-
da vida, que não se pode evitar. Desenvolvendo- lhas”. Existem critérios que classificam o sujeito
se em torno da sexta década da vida dos seres hu- dentro de uma escala de valores sociais que mais
manos, envolve muitas variáveis (genética, estilo o cerceia de uma possibilidade de vida saudável e
de vida, doenças crônicas) que interagem influen- ativa do que o considera um sujeito experiente,
ciando a maneira pela qual envelhecemos. vivido e consciente de seu próprio corpo.
O que se deve fazer, no entanto, é procurar Envelhecer é mais uma etapa da vida, e de-
estabelecer as bases para que, nesse período, o ido- vemos nos preparar para vivê-la da melhor manei-
so possa viver nas melhores condições possíveis. ra possível. O indivíduo está em constante evolu-
Segundo Motta apud Corazza,6 o envelhecimento ção e, diariamente, seu corpo se desenvolve até se
torna-se acelerado quando o indivíduo vive em tornar adulto. Paralelamente, há um desenvolvi-
ambiente indesejado e vice-versa. mento em nível psíquico, social, afetivo e intelec-
De acordo com Mazzo,8 velhice é um termo tual. À medida que a pessoa se torna adulta, essa
impreciso e sua realidade é muito difícil de perce- evolução é mais lenta ou, ao menos, mais latente.
ber. Nada flutua mais do que os limites da velhice Em torno dos 21 anos, o crescimento cor-
em termos de complexidade fisiológica, psicoló- poral tende a diminuir e o jovem passa a estagnar
gica e social. fisicamente, embora seu organismo continue evo-
312 Manual de Handebol
luindo. Mais adiante, chega o momento em que o sobre o corpo, a saúde e até a personalidade dos
organismo começa uma fase de evolução, iniciando indivíduos na terceira idade. As suposições são as
o envelhecimento. Exteriormente, manifestam-se seguintes: para as pessoas mais idosas, a ativida-
alguns traços específicos do avanço da idade: cabe- de física ou o esporte pode ser um meio eficiente
los brancos, rugas nas mãos e no rosto, flacidez, en- contra o isolamento social e a solidão, podendo
tre outros. Os órgãos internos também começam a compensar a diminuição das relações sociais em
dar sinais de cansaço ou falta de atenção. Embora razão da aposentadoria. Muitas vezes, pode ofere-
numerosos avanços científicos tenham ocorrido cer certa substituição do status e orgulho determi-
neste contexto, alguns resultados demonstram que nado pela atividade e posição profissional.
o programa de vida inscrito em nossos genes é de- Para se obter bons resultados na atividade
senvolvido de maneira distinta e de acordo com física, é preciso que os exercícios sejam de fácil
cada individuo, além de ser consideravelmente in- entendimento, proporcionando resultados po-
fluenciado pelo meio em que vivemos. sitivos à saúde. Enfim, a atividade, ao mesmo
O envelhecimento populacional já não é tempo, deve ser prazerosa, inspirando confian-
mais uma prerrogativa dos países em desenvolvi- ça no posicionamento fundamental do corpo
mento. Desde 1960, mais da metade dos idosos diante da vida.
do mundo vive em países em desenvolvimento, São pouco abordados pela literatura os as-
sendo que as projeções indicam que esse percen- pectos referentes ao sexismo. A maior parte deles
tual, em relação a essa população, subirá para demonstra que esse fato não tem importância na
70% no ano de 2020.8 formação de programas esportivos. Todavia, a so-
De acordo com Puga Barbosa,9 o Brasil já é brecarga física e a treinabilidade diferem quanto
considerado um país envelhecido, e esse crescimento ao sexo. Acredita-se que a força e a resistência são
populacional é o mais acelerado do mundo. As pro- mais treináveis no homem e a mobilidade, nas
jeções mostram que, no ano de 2025, a proporção mulheres, que, por sua vez, estariam mais aptas a
dos idosos será de 15%, semelhante às que ocorrem, alguns processos coordenativos (que ocorrem es-
atualmente, em países europeus. Seremos, então, o pecialmente nas atividades de ginástica e dança).
sexto país em número de idosos no mundo. Outro fator importante está ligado à área de
motivação. Segundo Bauer e Egler,12 alguns dados
mostram que as mulheres são menos levadas ao
24.4 A prática da atividade física e esporte pela motivação de rendimentos em rela-
do esporte ção aos homens.
Não há dúvidas de que a atividade que con-
Autores como Otto10 e Leite11 supõem que tém uma carga de resistência aeróbica merece
o esporte ou atividade física podem surtir efeito maior atenção quanto à saúde na velhice. Sob o
Handebol master para ex-atletas 313
nima de 30 anos, enquanto no naipe masculino O jogo deve ser desenvolvido em áreas dis-
os participantes deverão ter, no mínimo, 35 anos. tintas, ou seja, em cada metade da quadra poderá
Em relação ao número de participantes, cada ter no máximo quatro e, no mínimo, dois jogado-
equipe é formada por 14 jogadores, sendo que, res de linha para cada equipe, que serão chamados
na quadra de jogo, só poderá haver, no máximo, de defensores e atacantes, além do goleiro.
oito jogadores de linha e um goleiro, para cada Se o jogador invadir a linha do meio do
equipe. Uma partida não poderá ter continuidade campo com a posse de bola, deve ser cobrado tiro
se uma das equipes ficarem reduzida a menos que livre contra sua equipe.
seis jogadores de linha. O máster handebol poderá também ser
O tempo de duração de uma partida ocorre praticado por equipes mistas, mas, para tanto, a
em dois tempos de 20 minutos, com 10 minutos equipe feminina deve sair com a bola e, em cada
de intervalo entre eles. Se, em uma partida, hou- equipe na quadra, deve permanecer o mesmo nai-
ver necessidade de se conhecer um vencedor, será pe em cada metade da quadra.
jogado um tempo extra de 5 minutos de prorro-
gação para a finalização do jogo. Se persistir o em-
pate, haverá uma série de cobrança de cinco a sete 24.5.2 Condições específicas do jogo
metros, cobrado por jogadores diferentes de for-
ma intercalada; persistindo ainda o empate, ha- Como condições específicas de jogo, a mo-
verá uma nova série de cobranças de sete metros; dalidade máster handebol ainda apresenta algu-
contudo, o vencedor agora é decidido logo que mas características que lhes são peculiares e ne-
houver um gol de diferença, após cada equipe ter cessárias ao desenvolvimento do jogo. Abaixo,
tido o mesmo número de arremessos. As cobran- destacamos algumas outras considerações que
ças de sete metros deverão ser cobradas por atletas vêm se adequar à modalidade proposta:
diferentes que estejam em condições de jogo e de
forma intercalada. Se o jogador de linha invadir a linha
O tiro de meta também é executado pelo do meio de campo sem a bola e disso
goleiro, mas ele é obrigado a passar a bola para tirar proveito, será cobrado tiro livre
os jogadores da defesa; o tiro de saída é também contra sua equipe.
executado pelo goleiro, no início do jogo e após É permitido, a ambas as equipes, apa-
cada gol sofrido, mas se deve pisar na linha de nhar a bola que esteja no ar sobre o
tolerância da execução da cobrança do tiro de sete meio de campo no qual ele não estiver
metros; o goleiro também é obrigado a passar a jogando.
bola para um dos seus companheiros que se en- A bola não poderá ser passada direta-
contra na defesa. mente do goleiro, através de um tiro de
Handebol master para ex-atletas 315
saída ou tiro de meta, para os jogadores muito embora seja necessária a adaptação à nova
que se encontram no ataque (tiro livre). modalidade em relação à técnica de arbitragem.
Os jogadores substitutos (reservas) só Como exemplo, deve a arbitragem estar
poderão entrar para participar do jogo atenta às características de esporte participativo
pelas zonas de substituições (comuns que esta modalidade oferece, em que os partici-
às duas equipes), executando a forma- pantes do máster handebol devem ter sempre em
lidade das regras oficiais do handebol mente que esta modalidade foi criada na perspec-
(exclusão de dois minutos na primeira tivas dos seus participantes jogarem “com” e não
e, nas demais, cinco minutos para o “contra”. Essa é que é a base principal do jogo.
mesmo atleta).
A primeira exclusão terá a duração de
dois minutos, mas o atleta poderá ser 24.6 Considerações finais
substituído por outro durante a exclusão.
A segunda e a terceira exclusão do Após realização de dois festivais máster de
mesmo atleta terão duração de cinco handebol e a participação em Eventos Científicos
minutos, mas também o atleta poderá e Encontros Profissionaise,f, além de garantir a in-
ser substituído durante a exclusão. As serção desta modalidade nos planos de ensino da
exclusões no máster têm o objetivo de disciplina Metodologia do Handebol do Curso
punir o atleta, não a equipe. de Educação Física da Universidade de Alagoas
É considerado jogo passivo se o atleta (UFAL), diante da aceitação e do interesse da
voltar a bola para a defesa depois de comunidade de profissionais que lidam com este
ela se encontrar no ataque. desporto, vislumbramos a realização de outros
Os gols na partida só poderão ser mar- eventos similares ao que ora propomos.
cados pelos jogadores que se encon- Sugerimos, dessa forma, que as entidades
tram no ataque. esportivas (federações e confederações) favore-
Retornar a bola que estava no ataque çam a realização de eventos dessa natureza, para
para defesa deliberadamente será con- oportunizar aos praticantes de handebol, que, na
siderado jogo passivo (tiro livre). juventude, optaram por esta modalidade, quer
na perspectiva do lazer, quer na perspectiva da
competição, a continuar sua prática esportiva de
24.5.3 A arbitragem forma participativa como preceitua esta modali-
dade esportiva.
Em relação à arbitragem, as prerrogativas são e
Encontro luso-brasileiro realizado em Maceió, em 2006.
f
IV Encontro Nacional de Professores de Handebol das Insti-
as mesmas das demais modalidades de handebol, tuições de Ensino Superior Brasileiras em Maceió, em 2005.)
316 Manual de Handebol
ternacional, tendo, inclusive, conquistado resul- O que chama a atenção no handebol dispu-
tados expressivos. Porém, como a informação é tado por DA é a utilização das mesmas regras da
verbal, não foi possível registrar dados sobre essa IHF, facilitando a integração e desenvolvimento
participação, que encontra-se registrada interna- motor do DA.
cionalmente na sequência quando se registram as
Olimpíadas Especiais.
25.2.2 Special Olympics (Olimpíadas Es-
peciais)
25.2 Iniciativas internacionais
Já nas Olimpíadas Especiais, algumas adap-
Em âmbito internacional, a pesquisa per- tações são necessárias.
mitiu identificar que existem adaptações do Inicialmente, todos devem passar por uma
handebol para surdos e deficientes mentais, e a bateria de testes classificatórios que incluem qua-
modalidade faz parte dos Deaflympics (olimpíadas tro provas: tiro ao alvo; velocidade de passe; drible
dos deficientes auditivos) e das Special Olympics e força de arremesso. Todos os jogadores fazem o
(olimpíadas especiais), em que o handebol é dis- teste e o escore da equipe é determinado pela soma
putado em três formatos diferenciados. dos 7 melhores resultados divididos por sete.
As competições são disputadas em quatro
situações diferenciadas:
25.2.1 Deaflympics – deficientes auditivos
Equipes de handebol utilizando os
Na Olimpíada para DA – deficientes au- mesmos 7 jogadores do handebol nor-
ditivos – realizada em Melbourne, Austrália, em mal, com a possibilidade de 5 reservas.
janeiro de 2005, cinco seleções masculinas dispu- Equipes com 5 jogadores e 4 reservas.
taram a medalha de ouro. Na primeira fase, as Equipes mistas com 4 DM e 3 nor-
cinco seleções jogaram entre si em turno único, mais.
e a classificação final determinou os jogos das se- Provas individuais para atletas que
mifinais (mais detalhes em: <www.deaflympics. não têm condição de participar das
com>, 2005). competições de equipes, compostas
Na disputa da medalha de bronze, a Alema- por três provas: passe com alvo, drible
nha venceu a Dinamarca por 26 x 20, e a Croácia em dez metros e arremesso. (mais de-
conquistou a medalha de ouro ao ganhar dos EUA talhes em: <www.specialolympics.
(prata) por 43 x 26 (mais detalhes em: <www.dea- org>, 2005).
flympics.com>, 2005).
Handebol em cadeira de rodas 319
25.4 Evolução e desenvolvimento do hcr tanto que já começaram a ser formadas equipes
que treinam exclusivamente o handebol em cadei-
A partir da implantação prática da modali- ra de rodas, pois o atleta que o joga não apresenta
dade no Projeto de Extensão AMA – Atividade a mesma habilidade exigida dos jogadores de bas-
Motora Adaptada –, foi formada a primeira equi- quetebol, nem comprometimento suficiente que
pe que treina exclusivamente handebol em cadei- os torne legíveis (em condição de) para o rúgbi
ra de rodas e foram iniciados os trabalhos para adaptado.
que a modalidade se desenvolvesse. Como a proposta sempre teve como hori-
A proposta de regras sugeria a construção zonte o desenvolvimento de competições, tam-
de duas modalidades: uma com sete jogadores, bém existem diferenças conceituais entre HCR7 e
que adapta as regras do handebol de salão, e ou- HCR4, pois, enquanto no HCR o foco é a inclu-
tra com quatro jogadores, que adapta as regras do são da pessoa com deficiência, no HCR4 a preocu-
handebol de areia. pação é o desenvolvimento do jogo propriamente
O HCR7 (handebol em cadeira de rodas dito, situações que são direcionadas pela Classifi-
para sete jogadores) ficou com uma formatação cação Funcional.
muito próxima ao handebol de salão. Somente Por meio da Classificação Funcional, é de-
duas modificações foram introduzidas: as cadeiras terminada uma pontuação para cada jogador, de
de rodas e a redução de trave de 2,0 m de altura acordo com o tipo de deficiência, o comprome-
para 1,60 m, por meio da implantação de uma timento motor decorrente e seu volume de jogo.
placa de ferro, que, além de dar maior continui- O valor estabelecido como máximo permitido em
dade ao jogo, tem se mostrado uma eficaz ferra- regra determinará o perfil dos jogadores que par-
menta de marketing e divulgação de eventuais pa- ticipam do jogo.
trocinadores (Figura 25.1).
A outra modalidade desenvolvida é o HCR4, Quadro 25.1 – Soma total da classificação funcio-
que exigiu uma quantidade maior de adaptações, nal dos atletas
mas que, além de possibilitar às equipes iniciantes Modalidade Soma C/F
HCR7 16
a participação em competições, tem apresentado
HCR4a 14
uma boa receptividade por parte do público que HCR4b 7
assiste às apresentações de HCR.
Cabe, ainda, salientar que ambas as propos- O quadro demonstra a soma total da clas-
tas – HCR7 e HCR4 – atendem a públicos dis- sificação funcional dos atletas que podem estar
tintos daqueles que jogam basquetebol em cadeira em quadra e refletem os princípios que determi-
de rodas e rúgbi adaptado, e isso vem se mostran- nam cada categoria, de forma que as competições
do um fator que confere credibilidade à proposta, aconteçam com maior equilíbrio.
Handebol em cadeira de rodas 321
Possibilitar o surgimento de novos ta- Petrobras Mini-Hand tem sido um dos fatores
lentos que possam integrar as equipes que contribuem, de forma decisiva, para que a
brasileiras em futuras competições in- Petrobras renove contrato de patrocínio com a
ternacionais. CBHb, pois o programa integra o elenco de pro-
jetos sociais da maior empresa brasileira.
Os fundamentos e elementos são os mesmos
26.3 Introdução do handebol, mas o número de jogadores, o ta-
manho da quadra e outros detalhes são diferencia-
Iniciar e integrar as crianças e jovens das dos. As atividades são mistas: meninos e meninas
unidades escolares brasileiras à prática do hande- podem e devem jogar juntos, desenvolvendo, as-
bol, difundir o esporte por meio da rede escolar sim, noções básicas de convivência social, disci-
de ensino estadual, municipal e particular e trans- plina e respeito. O mini-handebol constitui-se no
formar seus praticantes com grande potencial em primeiro contato com a modalidade e segue uma
atletas de ponta são os objetivos deste projeto da pedagogia desportiva moderna, que integra os ele-
Confederação Brasileira de Handebol – CBHb. mentos básicos do esporte com a criança por meio
Sabemos que não existem muitas possibili- de uma atividade lúdica e divertida.
dades de progresso no esporte se nos esquecer- Após o pontapé inicial em Sergipe, várias ci-
mos do trabalho de base que gera esperança para dades, Estados e núcleos individuais, atualmen-
o futuro. Por esse motivo, a CBHb possui alguns te, fazem parte do projeto. Até 2004, o progra-
programas para incentivar e difundir a prática ma era desenvolvido em Minas Gerais, Paraná,
do esporte, e o mini-handebol é, entre eles, um Rio de Janeiro e Sergipe. Em 2005, Amazonas
programa vitorioso. É uma atividade esportiva e Rio Grande do Sul aderiram inteiramente ao
iniciadora da modalidade, que possui um perfil projeto, e a cidade de Aracaju também ampliou
mais recreativo do que competitivo. Assim, realiza sua atuação.
também um trabalho social, ocupando o tempo Os resultados obtidos até agora vêm desper-
das crianças, tirando-as da ociosidade e melho- tando o interesse em outras regiões do país, e o
rando sua qualidade de vida. Isso faz, também, Projeto Petrobras Mini-Hand Iniciação Esporti-
que elas diminuam o contato com a marginalida- va, agora com um total de 45 núcleos, vem cres-
de e o uso de drogas. cendo muito ultimamente. Alguns Estados, como
O Projeto Mini-Handebol foi criado em Minas Gerais, ampliaram sua participação, e no-
2000 e ganhou força em 2004, passando a ser vos núcleos já foram solicitados para os Estados
conhecido como Projeto Petrobras Mini-Hand de do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São
Iniciação Esportiva. Com apoio total da empresa Paulo, Sergipe e Tocantins. Todos foram implan-
patrocinadora do handebol brasileiro, o Projeto tados em 2006.
Projeto mini-handebol e caça-talentos no Brasil 325
de proporcionar aos praticantes maior segurança poderá levá-los a conseguir desenvolver todo seu
na execução dos fundamentos e no desenvol- potencial enquanto iniciante de uma modalidade
vimento das estratégias de jogo, sem, é claro, esportiva como esta.
perder a plasticidade e o glamour que a moda-
lidade oferece.
27.3.1 Metodologia
Esta metodologia será fundamental para que A partida só iniciará com o mínimo de 10
o idoso, aos poucos e cada vez mais, vá gostando jogadores em cada equipe. No entanto, depois de
do jogo e de todas as suas facetas. iniciado, o jogo continuará mesmo com número
menor de jogadores.
As sanções pessoais aplicadas aos jogadores Utilizar os braços e as mãos para blo-
somente resultarão em redução da equipe infra- quear ou ganhar a posse de bola.
tora. A continuidade da partida não será afetada, Tirar a bola do adversário com a mão
entretanto, os jogadores excluídos, desqualifica- aberta não importando o lado.
dos ou expulsos, serão substituídos após um mi-
nuto após o jogo ter sido reiniciado.
Se um atacante invadir a área de gol (seis me- 27.4.7.2 É proibido aos atletas
tros) durante a realização de uma ação ofensiva, sua
equipe perderá a posse de bola. Porém, se a mesma Obstruir o adversário com as mãos,
infração for cometida por um defensor, será anota- braços ou pernas.
do um tiro livre para a equipe adversária. Empurrar o adversário para dentro da
O jogador que, propositalmente, arremes- área de gol.
sar a bola contra o corpo de seu oponente será Entrar em contato físico com adversário;
advertido com um cartão amarelo, e sua equipe Lançar a bola de modo perigoso para
perderá, automaticamente, a posse de bola. Se o adversário ou dirigir a bola contra
reincidido o ato, o jogador infrator será excluído ele em uma finta perigosa.
em um minuto da partida, e assim sucessivamente Colocar em perigo o goleiro.
até sua desqualificação do jogo. Segurar, abraçar ou empurrar o adversário;
No caso de desqualificação, o jogador ou Lançar-se sobre o adversário correndo
oficial infrator não participará mais do restante da ou saltando, passar-lhe a perna, atirar-
partida. Entretanto, no caso do jogador, ele po- -se diante dele ou agir de qualquer ou-
derá ser substituído por outro, depois de passado tra maneira perigosa.
um minuto depois de o jogo ser reiniciado.
Os jogadores de linha em situação normal
de jogo não poderão passar a bola para seu golei- 27.4.7.3 Tiro de saída e reposição de bola
ro, quando este estiver dentro de sua respectiva
área. Caso isso ocorra, será marcado um tiro de Minutos antes do jogo, o árbitro realizará
sete metros para a equipe adversária. o sorteio entre os capitães de ambas as equipes,
Quando houver conduta indisciplinar ou não decidindo o lado da quadra em que iniciarão a
condizente com o esporte por parte de um jogador, partida e qual equipe começará de posse de bola.
técnico ou dirigente, o infrator será expulso da parti- A partida se iniciará com a bola em posse dos ata-
da e sua equipe, punida com um tiro de sete metros. cantes da equipe que venceu o sorteio. O goleiro, de
332 Manual de Handebol
dentro de sua respectiva área, será o responsável direto 27.4.7.6 Tiro livre
pelo reinício da partida, após a realização de um gol.
A saída de bola nas laterais da quadra será ob- No caso de uma violação de regra, a equipe
servada. Para sua correta execução, o atleta deverá adversária será recompensada com um tiro livre
manter o contato de um dos pés sobre a linha lateral, em seu favor.
exatamente no local de onde saiu. Durante sua exe- Em princípio, o jogador deverá ser cobrado
cução, os jogadores adversários deverão se encontrar no local onde a violação foi cometida. Durante
a, pelo menos, três metros de distância do executante. sua execução, os jogadores da equipe executante
Na tentativa de se evitar a saída de bola pelas late- não poderão se colocar dentro da área de nove me-
rais, será permitido aos atletas que estejam com o corpo tros (área de tiro livre), ao passo que os jogadores
parcialmente fora da quadra, sendo necessário, apenas, da equipe infratora deverão estar a, pelo menos,
que não percam o contato por completo de uma das três metros de distância do jogador que efetuará
partes de seu corpo com o lado de dentro da quadra. a cobrança; porém, devem estar próximos à linha
O atleta de posse de bola, independente- da área de gol (seis metros).
mente de estar atacando ou defendendo, poderá
deslocar-se livremente pela quadra, sem que tenha
que driblá-la, mas desde que esteja dentro de seu 27.4.7.7 Tiro de sete metros
dentro de seu espaço permitido pela regra.
No entanto, ele terá até três segundos de Um tiro de sete metros será marcado toda
posse de bola enquanto estiver parado e cinco se- vez que:
gundos em deslocamento.
O defensor estiver marcando seu opo-
nente dentro da área de gol (seis metros).
27.4.7.4 O gol O defensor entrar em contato físico inten-
cional para com o seu adversário, quando
Um gol é marcado logo que a bola tenha ul- da realização de uma ação defensiva.
trapassado completamente a linha de gol. Um defensor empurrar seu oponente
para dentro da área de gol, estando ele
de posse de bola.
27.4.7.5 O goleiro Um defensor obstruir seu oponente
com mãos, braços ou pernas no mo-
O goleiro, depois de repor a bola em jogo, mento de sua finalização ao gol.
poderá atuar como jogador de linha, respeitando Um jogador, técnico ou dirigente tiver
os limites de seu campo defensivo. sido expulso da partida, por conduta
Handebol na terceira idade 333
indisciplinar ou não condizente com com a mão espalmada. Uma vez realizada a sina-
o esporte. lização, os atletas terão, no máximo, cinco segun-
um jogador de linha realizar um passe dos para finalizar a jogada. Caso isso não ocorra, a
para seu goleiro, estando ele dentro de equipe perderá a posse de bola, sendo anotado um
sua respectiva área de gol (seis metros). tiro livre para a equipe adversária.
bola, de tal modo que ela permaneça presa entre De início, a primeira impressão causada
eles por um tempo superior a três segundos. foi extremamente positiva, e a segunda aula
Uma vez assinalada pelo árbitro, a partida aconteceu dois dias após, ficando estabelecido,
será imediatamente interrompida por time out, e a partir de então, que o grupo se reuniria duas
a bola será reposta em jogo por meio de um tiro vezes por semana para as sessões de aprendiza-
livre para a equipe que estiver realizando o ataque. gem da modalidade. E assim aconteceu durante
dois meses.
Nesse período, o professor pôde estudar os
27.5 Histórico da modalidade atletas em atividade, partindo para uma esfera
maior de observações e análises, e, em seguida,
A modalidade de handebol adaptado para elaborou uma série de adaptações às regras do
terceira idade surgiu em meados de 1999, na ci- jogo, o que veio a oferecer maior segurança aos
dade de Descalvado, interior do Estado de São adeptos durante sua prática, tomando, é claro,
Paulo, onde o então professor de Educação Física todo o cuidado necessário para que tais altera-
Marcos Roberto Valentim Biazoli convidou um ções não descaracterizassem o esporte em si.
grupo de idosos participantes da Academia de Gi- O resultado foi um sucesso e o jogo, que
nástica da Terceira Idade do Município a conhe- já era bem aceito antes, transformou-se em
cer uma modalidade esportiva ainda não presente uma prática desportiva ainda mais prazerosa
em seu rol de atividades. para os idosos.
Participaram da aula demonstrativa aproxi- Surgiu então, a partir desse momento, o
madamente 23 idosos, entre homens e mulheres. Handebol Adaptado para a Terceira Idade.
Na oportunidade, foi-lhes apresentada a prática
oficial da modalidade de handebol, sem altera-
ções, sendo abordados os seguintes tópicos: 27.6 Etapas do desenvolvimento do
programa
Explanação sobre as regras e objetivos
básicos do jogo. A nova prática desportiva, rapidamente,
Demonstração dos principais funda- contagiou mais adeptos, e, em pouco tempo, o
mentos e suas variações. número de praticantes já havia dobrado. A nova
Distribuição dos atletas em quadra. prática desportiva despertou também o interesse
Abordagem geral sobre o sistema de de indivíduos de meia-idade, o que obrigou o
ataque e defesa. professor a criar três categorias distintas para a
Jogo propriamente dito. modalidade, sendo elas:
Handebol na terceira idade 335
Masters: para indivíduos dos 50 aos 59 2005, quando a Prefeitura, junto à Secretaria de
anos. Esportes, Lazer e Turismo do Município, resolveu
Sêniores: para indivíduos dos 60 aos englobar a modalidade dentro de seu rol de ati-
69 anos. vidades, passando sua coordenação e desenvolvi-
Bisas: para indivíduos acima dos 70 anos. mento a seu cargo, até os dias atuais.
28 O handebol de areia
O handebol de areia é um jogo muito dinâ- O handebol de areia foi criado tendo como
mico, atrativo ao espectador e pautado no fair play. princípio da estrutura de jogo que apresentasse
As jogadas espetaculares são muito frequentes, e o e gerasse maior quantidade de ações espetacula-
contato físico é menos acentuado do que no hande- res em relação ao handebol de quadra. Para isso,
bol de salão.14 De acordo com Duarte,15 o hande- foram desenvolvidas regras específicas em busca
bol de areia é um jogo de muitas movimentações, dessa finalidade, como alternativas de se obter
que desperta muitas emoções nos seus praticantes dois pontos em uma ação. Também houve refor-
e espectadores. Da mesma forma que o futebol e o mulação quanto às penalizações. Em contraposi-
voleibol, o handebol é mais uma modalidade que ção ao contato vigoroso presente no handebol de
sai das quadras e ganha as praias de todo o mundo. salão, diminuiu-se o número de penalizações para
De fato, a modalidade cresceu rapidamente, pois, gerar a exclusão do jogador da partida (duas, ao
na última edição do Campeonato Mundial, realiza- invés de três, como na quadra). Em 1996 foram
do em julho de 2008 na Espanha, participaram 12 publicadas, pela IHF, as primeiras regras oficiais
equipes masculinas e 12 femininas, contando com do jogo.16 Porém, essas regras sofreram algumas
seleções nacionais de todos os continentes. Isso de- modificações e, nos dias de hoje, o jogo é dispu-
monstra que o handebol de areia é uma modalida- tado em uma quadra de formato retangular (27
de com ampla aceitação no contexto dos esportes x 12 metros), que apresenta uma área de jogo e
contemporâneos. duas áreas de gol. Estas são demarcadas parale-
Neste capítulo, serão abordadas as regras do lamente à linha de fundo, a uma distância de 6
jogo, e, também, descreveremos os fundamentos metros. Nas laterais da quadra, estão localizadas
desta modalidade, suas táticas defensivas e ofen- as zonas de substituição de cada equipe, sendo
sivas mais utilizadas em alto nível de rendimen- que os goleiros podem entrar somente pela sua
to, bem como a diferenciação dos processos de área de gol na realização de uma troca. Como
preparação física, comparado com o handebol pode ser observado, as áreas de gol são retangu-
de quadra. lares, diferentemente do handebol de salão, mas
338 Manual de Handebol
mantiveram a mesma distância da linha de fundo pe que vencer a disputa de shoot out (um contra
(6 metros). o goleiro). O shoot out consiste em cinco cobranças
Uma equipe é composta por oito jogadores, alternadas, em que um jogador passa a bola para seu
sendo que, em cada equipe, podem permanecer goleiro, corre em direção ao gol adversário, recebe a
em quadra, simultaneamente, quatro jogadores, e bola e arremessa contra o goleiro da outra equipe.
um destes, necessariamente, será um goleiro (três Os gols marcados podem receber pontua-
jogadores de linha e um goleiro). Uma partida ções diferentes em todos os momentos da parti-
consiste em dois períodos de dez minutos, com da. Um gol terá pontuação adicional (gol de dois
intervalo de cinco minutos entre eles. A pontu- pontos) quando for marcado pelo goleiro, em tiro
ação de cada período é computada separada- de seis metros (o equivalente ao tiro de sete me-
mente, havendo um vencedor para cada perí- tros do handebol de quadra) ou em uma jogada
odo. Caso um período termine empatado em espetacular (“ponte aérea” e giro de 360º).
pontuação, o vencedor será determinado por Uma partida de handebol de areia é mediada
meio do denominado gol de ouro, ou seja, vence por dois árbitros, assim como no handebol de qua-
quem marcar primeiro. Se cada equipe vencer dra. Porém, alguns gestos são mais específicos para
um período, o vencedor da partida será a equi- sinalizar gol de um ponto de dois pontos e exclusões.
Área de Jogo
15 m
12 m
Área de gol
Área de gol
6m
FIgura 28.2 – Possibilidades de substituição dos goleiros para criar condição de superioridade numérica no ataque.
E E C C D D
PV PV
PE PE PD PD
AM AM
Figura 28.3 – Postos específicos de ataque (quadra à esquerda) e defesa (quadra à direita). Ponta esquerda (PE),
armador (AM), ponta direita (PD) e pivô (PV), no ataque. defensores esquerdo (E), central (C) e direito (D).
Figura 28.4 – Sistemas de ataque em superioridade numérica. Sistema 3:1 (quadra à esquerda) com o goleiro-atacante
(círculo aberto) jogando como armador. Sistema 4:0 (quadra à direita) com o goleiro-atacante de ponta esquerda.
342 Manual de Handebol
a) b)
Figura 28.5 – Sistemas de defesa por zona. Sistema 3:0. Sistema 2:1 com o defensor central avançado na segunda
linha defensiva
O handebol de areia 343
energia elástica como, também, perda de energia. minhada em areia apresenta um gasto energético
Essas condições biomecânicas e fisiológicas têm de 1,8 a 2,7 vezes maior em relação a superfícies
sido consideradas as causas pelo maior gasto de firmes,20,22 enquanto as corridas em areia apresen-
energia na areia em relação a superfícies firmes tam um gasto energético de 1,2 a 1,6 vez superior
na corrida.21 Alguns estudos relataram que a ca- em relação a superfícies firmes.20,22,23
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12 Itani, D. E.; Araujo, P. F.; Almeida, J. J. G.
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boa: Dinalivro, 1994.
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sica. 1. ed. São Paulo: Phorte, 2001. Makron Books do Brasil, 2000.
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