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Manual de handebol

Instituto Phorte Educação


Phorte Editora

Diretor-Presidente
Fabio Mazzonetto

Diretora-Executiva
Vânia M. V. Mazzonetto

Editor-Executivo
Tulio Loyelo
Manual de handebol
Da iniciação ao alto nível

Pablo Juan Greco


Juan J. Fernández Romero
(orgs.)

São Paulo, 2010


Manual de handebol: da iniciação ao alto nível
Copyright © 2010 by Phorte Editora

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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Manoel Luiz de Oliveira

Apresentação

O Ponto de partida... concepção pedagógica para a formação de joga-


dores de Handebol no Brasil, criar uma “Escola
Este livro é uma adaptação e ampliação em de Handebol Brasileiro”. Analisaram-se diferentes
língua portuguesa da publicação do livro Ba- propostas e escolas de formação, tais como a es-
lonmán: Manual Básico (1999), organizado por cola espanhola, a escola francesa, a escola alemã.
Juan J. Fernández Romero, Luis Casais Martinez, Surge assim, com renovada ansiedade, a ideia de
Helena Vila Suárez e José María Canela Carral, se publicar uma obra que refletisse em seus temas
publicado na Espanha, em galego, pela editora a realidade do handebol brasileiro, um handebol
Lea. Também se tornou como referência o texto ligado à cultura, aos costumes e caracterizado pela
Balonmano, organizado por Javier Garcia Cuesta,1 filosofia de vida do brasileiro.
(1991) que, na época, era treinador da Real Fede- Assim, conforme debatido no VI Encontro
ración Española de Balonmano, e publicado por de Professores de Handebol das Instituições de
essa federação, com patrocínio da empresa Corte Ensino Superior em Educação Física (2007) orga-
Inglés, em razão das Olimpíadas de Barcelona, nizado pela Confederação Brasileira de Handebol
com o intuito de popularizar o esporte nesse país. (CBHb), considerou-se importante referenciar a
Os motivos que levaram a decisão de con- concepção pedagógica do processo da criação da
siderar essas obras como ponto de partida para a escola brasileira de handebol no modelo de forma-
concepção de um texto de referência para a área ção proposto pela Escola Espanhola de Balonma-
apoiam-se, por um lado, na falta de publicações no, respeitando nossa idiossincrasia, característi-
sobre handebol em língua portuguesa direciona- cas culturais e, principalmente, as potencialidades
das a estudantes de Educação Física, professores de desenvolvimento da modalidade em todas as
e treinadores que desenvolvem a modalidade nos suas formas de expressão, ou seja, sem ser dire-
diferentes campos de atuação e, por outro lado, cionada somente à concepção do esporte de ren-
na decisão da Confederação Brasileira de Han- dimento e alto rendimento. Assim, as duas obras
debol (CBHb) presidida pelo professor Mano- citadas anteriormente e um conjunto de textos já
el Luiz Oliveira, que objetivava consolidar uma publicados no Brasil como, por exemplo, Manual
1
Cuesta J. G. Livro de handebol – treinamento de base para crianças e
adolescentes (autoria de Ehret, Späte, Schubert & pêndio ou manual específico sobre o handebol.
Roth) (inserir nota de rodapé: 2Ehret, A.; Späte, A concepção dos textos permite, após a leitura,
D. Schubert & Roth, K. Livro Manual),2 servi- a busca de outras referências (algumas citadas),
ram de ponto de partida para conceber este livro. de forma a conseguir, posteriormente, organizar
Assim, Balomman, considerado referência básica e aprofundar sua formação profissional e, enfim,
para este livro, foi traduzido do galego para o por- saciar a sede de conhecimentos do handebol.
tuguês. A obra foi ampliada e incorporaram-se Destaca-se que este livro não esgota todos
novos capítulos, inovadores em seu conteúdo, que os temas relacionados ao handebol, porém, re-
abrangem a modalidade handebol nos diferentes úne grande parte desses temas em um só volu-
campos de atuação do professor e profissional de me. Possibilita-se, assim, a orientação do leitor
Educação Física. na matéria, direcionando de forma pedagógica
Neste livro, reúnem-se aportes de diferentes o processo de aprendizagem e otimizando sua
autores, pesquisadores, professores universitários, formação profissional. Mas este livro se consti-
treinadores, enfim, personalidades que atuam na tui em testemunho principal da constante busca
modalidade em suas diferentes vertentes, todos pelo conhecimento de todos aqueles que gostam
com ampla experiência na área, sejam jogadores da modalidade. Todo professor responsável de sua
ou militantes na beira da quadra nos diferentes função social no exercício da sua práxis sabe da
níveis de expressão e organizacionais da modali- necessidade de contar com obras que reúnam te-
dade. mas importantes da modalidade e da importância
Reitera-se que, neste livro, procura-se reunir de contribuir com mais leituras e com ações con-
o conhecimento da modalidade handebol em suas cretas de investigação e práxis para seu aperfeiço-
diferentes formas de expressão do rendimento. Por amento profissional.
esse motivo, este livro está dividido em oito partes O handebol como uma das modalidades es-
(História, Perfil do Atleta, Técnica, Tática, Go- portivas de quadra mais praticadas por crianças
leiro, Tática Coletiva, Sistemas de Jogo, Sistema e jovens não delimita sua presença somente aos
de Formação de Jogadores, Formas de Manifes- diferentes níveis e categorias de competição. Pelo
tação do Esporte), cada uma delas versando sobre contrário, neste livro as diferentes facetas da mo-
diferentes aspectos relacionados com o handebol. dalidade handebol, desde suas origens históricas
Assim, em cada área, são apresentados diferentes a uma concepção pedagógica de sua prática nos
capítulos que levam ao leitor, gradativamente, o diferentes níveis de expressão do rendimento, são
conhecimento específico produzido no handebol, relacionadas de forma didática.
ao mesmo tempo que o convida a pesquisar de Nesta obra, reúnem-se os esforços da Con-
forma mais aprofundada sobre eles. Este livro se federação Brasileira de Handebol (CBHb), enti-
constitui em uma referência geral, em um com- dade que rege o esporte de competição no Brasil,
mas o texto perpassa essa fonte de informação e handebol. No capítulo 2, procura-se descrever o
visa contribuir nos diferentes níveis da concretude processo histórico da modalidade handebol com
da práxis do handebol. a “gênese do handebol: primeiras aproximações”
São tratados os diferentes aspectos que ca- e, posteriormente, a explanação do desenvolvi-
racterizam a modalidade. As oito partes do livro mento do handebol no Brasil, com o tema “Me-
reúnem um total de 28 capítulos, com 41 figuras, mórias do handebol no Brasil: construindo uma
126 desenhos e 47 quadros que visam fornecer história”. Ambos os capítulos foram escritos pela
informação de qualidade. Prof.ª Dr.ª Heloisa Baldi dos Reis (UNICAMP).
As oito partes deste livro são as seguintes: A seguir, apresenta-se o capítulo 3: a “História do
handebol de praia no Brasil”, um aporte da Prof.ª
I) Handebol: sua história e sua evolução Claudia Monteiro do Nascimento (ex-treinadora
(ou seja, do passado e da história pro- da CBHb) e Arline Porto Ribeiro (CBHb), uma
jeta-se o futuro) das precursoras sobre essa forma de manifestação
II) O perfil motor do atleta de handebol do jogo de handebol no Brasil. Seguidamente, no
(preparação física aplicada ao hande- capítulo 4, aborda-se o tema “Caracterização e
bol) classificação do jogo de handebol”, de autoria dos
III) Técnica (fundamentos técnico-táticos professores Pablo J. Greco, do acadêmico Fernan-
individuais de ataque, defesa e goleiro) do L. Greco (ambos da UFMG) e da Prof.ª Ms.
IV) Tática coletiva (tática de grupo de ata- Siomara A. Silva (UFOP). O capítulo é comple-
que e defesa) tado com o aporte que destaca a importância de
V) Sistemas de jogo no handebol (ataque, considerar “o handebol em uma visão sistêmica”,
defesa e contra-ataque) de autoria do Prof. Ms. Rudney Uezu (sub-item
VI) O sistema de formação e treinamento 4.2). A caracterização da modalidade leva a com-
esportivo: por uma pedagogia da ini- preender melhor as necessidades do esporte e de-
ciação ao alto rendimento esportivo terminar princípios para os processos de ensino-
(da iniciação ao campeão) aprendizado e treinamento que se relacionem com
VII) Parâmetros de análise do rendimento elas (parte VI), bem como tratar de compreender
(detecção de talentos e observação de “O jogo no ataque” e “O jogo na defesa”, de auto-
jogo) ria do Prof. Juan J. Fernández Romero e Pablo J.
VIII) As diferentes formas de manifestação Greco. Destacam-se os aspectos que corroboram
do handebol o processo de caracterização do jogo de handebol.
Nesses dois aportes, apresentam-se as caracterís-
Na parte I, o capítulo 1 oferece uma in- ticas gerais do jogo em suas fases ou momentos,
trodução sobre o esporte e sua interação com o bem como, sucintamente, quais os fundamentos
técnicos (de ataque e defesa, respectivamente) e os colaboradores, com aportes do professor Pablo J.
meios táticos coletivos da defesa e ataque necessá- Greco e do acadêmico Fernando L. Greco (ambos
rios a prática do handebol com sucesso. UFMG). Já no capítulo 11 são explanados os as-
Na parte II, trata-se sobre o perfil motor do pectos das ações técnico-táticas do goleiro, da sua
atleta de handebol. Inicia-se com o capítulo sínte- técnica defensiva às técnicas ofensivas, de autoria
se, desenvolvido pelo professor Rudney Uezu, so- do professor Pablo J. Greco (UFMG), Siomara A.
bre o perfil motor do atleta de handebol. A seguir, Silva (UFOP) e do acadêmico Fernando L. Greco
no capítulo 6, apresenta-se uma inovadora forma (UFMG).
de concepção da preparação física no handebol, de Na parte IV, que se inicia com o capítulo
autoria dos professores Francisco Seirul-lo (Univ. 12, são relacionados os meios técnico-táticos de
Barcelona) e Juan J. Fernández Romero (Univ. A grupo de ataque, das tabelas à ponte aérea, e, no
Corunha). Relacionam a metodologia do treina- capítulo 13, são relatados e explicados os meios
mento com as teorias cognitivas, o que se consti- técnico-táticos de grupo de defesa, desde a bas-
tui em uma rica forma de considerar o processo culação ao contrabloqueio. Os textos foram redi-
de formação e desenvolvimento das capacidades gidos pelo professor Juan J. Fernández Romero
biomotoras do atleta de handebol. Continua-se (Univ. A Corunha) e colaboradores, com aportes
com o capítulo 7, direcionado ao treinamento de de Pablo J. Greco (UFMG), Siomara A. Silva
coordenação, redigido pelos professores Pablo J. (UFOP) e Fernando L. Greco (UFMG).
Greco (UFMG), Siomara A. Silva (UFOP) e o Na parte V, o professor Juan J. Fernández
acadêmico Fernando L. Greco (UFMG). Romero (Univ. A Corunha) e colaboradores apre-
Na parte III, são abordadas as capacidades sentam os sistemas de jogo no handebol. Assim,
técnicas do handebol. No capitulo 8, descrevem- o capítulo 14 e seus sub-itens referem-se aos siste-
se os fundamentos técnico-táticos individuais mas de ataque. Já no capítulo 15, explicam-se os
comuns ao ataque e à defesa, a partir das posi- sistemas defensivos individuais, zonais e mistos,
ções de base e os deslocamentos, redigidos pelo com especial ênfase na evolução recomendada
professor Juan J. Fernández Romero (Univ. A para o ensino da defesa, proposta defendida por
Corunha). A seguir, no capítulo 9, são descritos autores como Klaus Feldmann, da escola alemã,
os fundamentos técnico-táticos individuais no e Pablo J. Greco, pesquisador na área dos jogos
ataque, começando com a recepção da bola até as esportivos coletivos (pedagogia e metodologia de
fintas. No capítulo 10, são relacionados e expli- ensino). Apresenta-se também uma clara concei-
cados os fundamentos técnico-táticos individuais tuação das vantagens e desvantagens de cada um
de defesa, da marcação à tomada da posse da bola. dos sistemas defensivos zonais. Esses capítulos
Todos esses temas foram escritos pelo professor contam com o aporte no sistema defensivo 3:2:1
Juan J. Fernández Romero (Univ. A Corunha) e do professor Pablo J. Greco (UFMG), da Prof.ª
Siomara Silva (UFOP) e do acadêmico Fernando ros que destes surgem para o planejamento do
L. Greco (UFMG). No capítulo 16, são expla- treinamento, aspectos pesquisados pelo Prof. Dr.
nados os conceitos relacionados com as fases de Lucidio Rocha Santos (UFAM) em sua tese de
transição no jogo (contra-ataque e retorno defen- doutorado, reunindo a informação de forma clara
sivo), que são importantíssimas no handebol de e consistente.
alto nível de rendimento (autoria de Pablo J. Gre- A parte VIII começa com o capítulo 23, em
co, Siomara A. Silva e Fernando L. Greco). que vários autores apresentam sua colaboração
A parte VI se inicia com o capítulo 17, de- para explanar as diferentes formas de manifesta-
senvolvido pelo professor Pablo J. Greco (UFMG) ção da práxis do handebol. Neste capítulo se des-
e pela prof.ª Siomara A. Silva (UFOP), com a taca o texto “Valores, valoração e educação: uma
colaboração do acadêmico Fernando L. Greco necessidade na pratica do handebol”, do professor
(UFMG), no qual se descreve a concepção peda- Dourivaldo Teixeira (UEM), que tem ampla ex-
gógica do sistema de formação e treinamento es- periência em projetos sociais e projetos de forma-
portivo, que serve de orientação para a formação ção de atletas relacionados com o handebol. No
de jogadores e de praticantes da modalidade no capítulo 24, o professor Francisco de Assis Faria
Brasil. Assim, são tratados os aspectos inerentes (UFAL), ex-treinador das seleções femininas do
ao sistema de formação e treinamento esportivo Brasil por mais de uma década, apresenta sua con-
e a necessidade de sua concepção pedagógica, na tribuição relatando sua criação, o handebol mas-
visão das estruturas temporal-metodológica-subs- ter, o jogo para os ex-atletas de todos os níveis
tantiva. O capítulo 18 apresenta uma síntese dos de rendimento, comentando sobre o regulamen-
métodos de ensino do handebol para diferentes to do jogo. No capítulo 25, os professores Décio
alternativas e ambientes pedagógicos. No capítulo Callegari, José Irineu Gorla e Paulo Araújo rela-
19, a prof.ª Siomara A. Silva (UFOP) trata dos jo- tam sobre a criação e a divulgação do handebol
gos de iniciação e do aprendizado das regras e, no em cadeira de rodas, tema inclusive apresentado
capítulo 20, os professores Claudia Nascimento, nas paraolimpíadas de Pequim e incluído no pro-
Philipe Matos e Antônio Lara Junior explanam grama dos jogos, sendo um aporte do handebol
sobre a estrutura do ensino de handebol de praia. brasileiro para o contexto internacional. No capí-
A parte VII se inicia com o capítulo 21, no tulo 26 se apresentam os projetos mini-handebol
qual se descrevem os diferentes caminhos do pro- e caça-talentos, oferecidos em todo Brasil pela
cesso de seleção de talentos. Esse importante tema CBHb com apoio de diferentes patrocinadores.
foi pesquisado e escrito pelos professores Juan J. Assim, o leitor poderá compreender e aplicar em
Fernández (Univ. A Corunha) e Randeantoni do seu cotidiano essas ações da CBHb. No capitulo
Nascimento (UFS). No capítulo 22 é tratado um 27, o professor Marcos Valentim traz sua criação,
tema direcionado à análise de jogos e dos núme- registrando os objetivos e regras do handebol na
terceira idade. Fechando o bloco, o capítulo 28
trata sobre o handebol de areia, escrito pelos pro-
fessores Claudia M. Nascimento, Alexandre
Almeida e Clodoaldo Dechechi (ex-treinadores
da seleção de Handebol Beach da CBHb).
Muitos outros capítulos serão escritos, desta
vez pelos leitores, aos quais fica o desafio de conti-
nuar desenvolvendo cada vez mais esta modalidade.
Desta forma, os autores desejam que a leitura
seja agradável, que este livro seja fonte renovada
de consulta e que muitas sugestões sejam enviadas
à CBHb para incentivar a criação de uma nova
coleção de textos direcionados à modalidade. Boa
leitura, muito sucesso e bom trabalho!
Sumário

Parte I – Handebol: Sua história e evolução 13


1 Introdução 15
2 A gênese do handebol: primeiras aproximações 17
3 Memórias do handebol no Brasil: construindo uma história 19
4 Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 27

Parte II – Perfil motor do atleta de handebol 47


5 Caracterização do perfil Físico-motor do atleta de handebol 49
6 Preparação física aplicada aos esportes coletivos: exemplo para o handebol
7 O treinamento da coordenação no handebol 73

Parte III – Técnica 89


8 Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 91
9 Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 101
10 Fundamentos técnico-táticos 125
11 Fundamentos técnico-táticos do goleiro* 133

Parte IV – Tática 147


12 Meios técnico-taticos de grupo no ataque 149
13 Meios tecnicos táticos de grupo na defesa 165
14 Sistemas de jogo no ataque 175
15 Sistemas de jogo na defesa 187
16 Fases de transição 213

Parte VI – O sistema de formação e treinamento esportivo: por uma pedagogia da iniciação


ao alto rendimento esportivo 219
17 O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 221
18 Métodos de ensino no handebol: do incidental ao intencional 237
19 O ensino das regras do handebol: da necessidade à compreensão 251
20 Proposta de um processo pedagógico de aprendizagem do handebol de areia 257

Parte VII – Parâmetros de análise de rendimento 267


21 A detecção do talento esportivo no handebol 269
22 Análise e observação de jogos no handebol: dos números ao treinamento 275

Parte viii – As diferentes formas de manifestação do handebol 287


23 Valores, valoração e educação: uma necessidade na prática do handebol 289
24 Handebol master para ex-atletas: uma proposta de inclusão 309
25 Handebol em cadeira de rodas 317
26 Projeto mini-handebol e caça-talentos no Brasil 323
27 Handebol na terceira idade 327
28 O handebol de areia 337
Manual de handebol 13

Parte I
Handebol: Sua história
e evolução
Pablo Juan Greco; Juan J. Fernandez

1 Introdução

O esporte é considerado, hoje, como um cura do rendimento na competição


dos fenômenos sociais mais importantes da hu- e para isso se exercita, se treina e
manidade. Sua presença na mídia, seja escrita, ra- reserva-se um pedaço da vida. (...)
dial, televisiva, internet etc. desperta o interesse e
a curiosidade no mundo todo. Grandes eventos, Nas raízes do esporte – o fenômeno espor-
como as Olimpíadas e Campeonatos Mundiais, tivo –, sua essência vincula-se à ética da humani-
atraem multidões. Os protagonistas nesses even- dade relacionando-se com a cultura, com a plura-
tos abrangem, além dos atletas e/ou equipes par- lidade ideológica e religiosa, com a compreensão
ticipantes (treinador, preparador físico, médico/ das variadas acepções das classes econômicas e so-
fisioterapeuta etc.), as confederações, federações, ciais. O esporte tem, no entanto, particularmente
clubes, os espectadores, os voluntários e pessoas para nós, professores, enorme potencialidade pe-
que trabalham na teia do esporte. Enfim, pessoas dagógica. Sua prática oportuniza seu mais preza-
que se “vestem” de festa imbuídas do espírito do do dom: as opções pedagógicas. Aproveitando as
esporte. opções pedagógicas que se apresentam na prática
O esporte é indicado para todos os indi- ou em situações criadas pelo professor, o esporte
víduos, independentemente de classe, condição desenvolve o conhecimento da pessoa em relação
física, crença ou religião. O esporte se constitui aos outros e permite que a pessoa se conheça. No
em fator de educação, ou, de acordo com as esporte, a pessoa desenvolve suas capacidades,
palavras de Bento,1 habilidades, competências. A práxis solicita com-
portamento, atitudes, valores, ética, moral, ou
qualificação da cidadania e da vida seja, aspectos de personalidade que contribuem
(...) O esporte é pedagógico e edu- para formar o conceito de cidadania. Através da
cativo quando proporciona oportu- prática do esporte, a pessoa aprende a ser, a co-
nidades, coloca obstáculos, desafios nhecer, a fazer, a conviver; em síntese, aprende-se
e exigências para se experimentar, a aprender para ser um cidadão ativo e compreen-
observando regras e lidando com der o seu destino.
os outros, quando fomenta a pro-
16 Manual de Handebol

O esporte pode ser concebido, conforme também, as consequências no deterioramento de


Bento1,2,3 e também Gaya,4 como um fenômeno suas saúdes. A falta de movimento, de atividade
cultural, global, plurívoco e polissêmico. Cultu- esportiva, as pressões de tempo e o tipo de vida
ral, pois o esporte faz parte da cultura dos povos moderno indicam a necessidade de se pensar o
desde as mais antigas civilizações. O esporte fun- esporte de forma global, reclamando flexibilida-
damenta-se pela e na cultura. Global, pois se en- de, inovação e variabilidade nas concepções me-
contra nos mais distintos pontos do planeta. Os todológicas vigentes. Nesse sentido, o handebol
campeonatos de handebol são disputados em di- se apresenta como uma excelente alternativa, pois
versos países, estando presente também nas Olim- é um jogo simples, que reúne habilidades moto-
píadas. É plurívoco, pois apresenta pluralidade de ras simples como correr, saltar, lançar, passar. Sua
sentidos e é integrador, permitindo diferentes for- prática possibilita a aproximação dos jovens à mo-
mas de recordação. É polissêmico, pois apresenta dalidade, oportunizando sua inclusão social, sua
muitos significados para seus participantes, sejam aderência a programas de prática, sua identificação
estes ativos praticantes ou os mais distantes espec- com grupos, pessoas, enfim, sua interação social,
tadores. sua compreensão da cidadania plena. Sem dúvida,
O handebol se integra no conjunto das mo- a incubação do “vírus” de jogar handebol é um
dalidades esportivas coletivas, nos denominados desafio para professores e treinadores da modali-
esportes de invasão. No Brasil, é comum nas aulas dade, bem como um caminho, uma opção para se
de Educação Física. No esporte e, particularmen- vencer as dificuldades reconhecidas na sociedade
te, no handebol, apresentam-se diferentes formas contemporânea. Neste livro, espera-se contribuir
de expressão, isto é, diferentes níveis de rendi- com aqueles que gostam da modalidade para uma
mento – esporte escolar (de, para e na escola), melhor qualidade de prática, para uma formação
reabilitação, saúde, lazer-recreação, rendimento, de jogadores de handebol, de cidadãos plenos e
alto nível de rendimento e esporte profissional. O que sejam exemplos em nosso Brasil.
handebol é um dos esportes mais praticados nas
escolas no Brasil. É jogado na praia, em cadeira de
rodas, na terceira idade, no máster; logo, é um es-
porte no qual todos os que o praticam encontram
um grupo que tenha seus interesses e vocações.
Esse é um dos fatores que fazem do handebol um
dos esportes mais populares no Brasil.
Pesquisas recentes apresentam dados irre-
futáveis em relação à falta de atividade física das
crianças e jovens nos dias de hoje, e prognosticam,
Heloisa helena Baldy dos Reis

A gênese do handebol:
2 primeiras aproximações

O handebol é originário de diversos passa- próprias e que foram internacionalizadas e unifi-


tempos (jogos) dos séculos XIX e XX. Um des- cadas no Congresso, as quais a Federação Interna-
tes tornou-se esporte no século XX, recebendo o cional celebrou em 1934, em Estocolmo, inician-
nome de handebol de salão, designação que per- do, assim, o movimento internacional, único no
durou enquanto coexistiu com outro esporte de- handebol de salão.2,7
nominado handebol de campo. A Sociologia do Esporte tem como para-
Fortes indícios indicam que a Suécia foi o digma para a definição dos esportes modernos a
país “criador” do handebol (contemporâneo) em institucionalização do jogo. Assim, para que um
razão da semelhança das regras atuais com o jogo jogo se torne esporte, é necessária a criação de
praticado na década de 1930 naquele país. Coro- uma instituição responsável pela sua regulamen-
nado e González6 afirmam que foi na Dinamarca, tação, normatização, divulgação e supervisão da
com a fundação da IHF em 1946 sob presidência sua prática. Esse tipo de instituição é, em geral,
do sueco Gösta Björk,1 que se aprovaram as regras denominado Federação Internacional (em âmbi-
do handebol. As informações a esse respeito, no to mundial) e de Federação ou Confederação (em
entanto, contradizem as encontradas em Ferreira.7 âmbito nacional).
Segundo Ferreira (p. 16),7 os primeiros As principais características, segundo Dun-
campeonatos suecos de handebol ocorreram en- ning,8 dos denominados esportes modernos são:
tre 1931 e 1932, com regras bastante similares ao
handebol praticado atualmente, como a permis-  a diminuição da violência por parte dos jo-
são da posse de bola sem drible por, no máximo, gadores e espectadores;
cinco segundos; a existência de uma área circular  o aumento do autocontrole;
medindo seis metros; sete jogadores por equipe;  a forte regulamentação – regras escritas
e a permissão do drible. Para ele, o handebol de (delimitação do campo de jogo, número
salão surgiu antes do de campo, porém sua prática de jogadores, tempo de jogo).
ficou limitada aos países escandinavos, com regras 2
Esta informação é a mais provável de ser correta (em contra-
posição a Coronado e González)6 por ter havido um primeiro
1
Gösta Björk comandou a entidade de 1946 a 1950 e já havia campeonato mundial de handebol masculino na Alemanha, em
sido presidente da Federação em 1939.9 1918.
18 Manual de Handebol

Todas essas características estão presentes no O primeiro campeonato mundial de hande-


handebol em relação aos jogos que o antecederam. bol ocorreu na Alemanha em 19386 apenas para
Handebol de salão foi o nome dado ao esporte pra- a categoria masculina e teve a anfitriã como cam-
ticado em quadra (coberta/ginásio), que ficou até peã7 (Coronado e González,6 p. 23).
1946 sob supervisão da International Handball O primeiro mundial na categoria feminina
Amauteur Federation (IHAF). Após esta data, foi realizado em 1957,8 apenas 19 anos depois da
esteve sob supervisão da recém-criada Internatio- masculina, na Iugoslávia, sagrando-se campeã a
nal Handball Federation (IHF).3 O handebol4 é seleção da Tchecoslováquia (Coronato e Gonzá-
o mais jovem dos esportes coletivos tradicionais. lez, p. 23).6
Em analogia à história do futebol,5 pode-se A organização técnica do desenvolvimento
inferir que o handebol foi uma invenção sueca em da competição de handebol9 nos Jogos Olímpi-
virtude do pioneirismo da sua federação quanto à cos é de responsabilidade da IHF. O handebol
normatização e à organização do handebol. Outro foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Muni-
indício que sustenta essa tese é a presença da Sué- que em 1972 apenas na categoria masculina.
cia na fundação da IHF e o fato de a primeira pre- Em seguida, nos Jogos Olímpicos de Montreal,
sidência ter sido exercida pelo sueco Gösta Björk. em 1976, foi introduzida, também, a categoria
Quase todos os esportes coletivos são ori- feminina.
ginários de jogos que, em algum momento his- Entende-se que, atualmente, a definição do
tórico, foram institucionalizados e, portanto, país criador do handebol não seja de interesse po-
receberam o nome de esportes. Isso significa que lítico da entidade internacional, porém é dever
passaram a ter instituições responsáveis pela sua dos estudiosos do esporte e, particularmente, de
regularização, normatização, divulgação e su- historiadores e sociólogos esportivos pesquisarem
pervisão de prática. Essas instituições são geral- e apontarem caminhos para a compreensão da gê-
mente denominadas federações internacionais no nese dos esportes modernos.
âmbito mundial e federações ou confederações no
âmbito nacional.

3
Fundada em 12 de abril em 1946 em Copenhague (Dinamar- 6
O último campeonato de handebol de campo masculino foi
ca) para reger os dois esportes (handebol de salão e de campo), em 1966.
onde permaneceu até 1956, quando sua sede foi transferida 7
Este foi organizado pela IHFA, já que a IHF foi fundada ape-
para Basileia (Suíça). Ambos eram, anteriormente, de respon- nas em 1946. Por isso, são necessários mais estudos para cotejar
sabilidade da Federación International de Balonmano Amateur a informação de Coronado e González sobre a normatização do
(FIHA).6,8 handebol apenas pela IHF em 1946.
4
Denominação que prevaleceu após o término (a partir de 1976) 8 O último campeonato de handebol de campo feminino foi
das competições internacionais de handebol de campo. realizado em 1960.
5
A Sociologia do Esporte atribui a origem do futebol como um 9
Estamos nos referindo ao handebol jogado em ginásio por
esporte moderno a partir da fundação, na Inglaterra, da Football sete jogadores titulares, pois o jogo praticado em campo (por
Association em 1863, entidade pioneira na publicação das regras onze jogadores) foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Ber-
do futebol. lim, em 1936.
Heloisa helena Baldy dos Reis

Memórias do handebol no Brasil:


3 construindo uma história

O handebol é um jogo relativamente jovem debol na Romênia. Esse grupo foi apontado pelos
se comparado a outros esportes coletivos tradicio- especialistas entrevistados como o impulsionador
nais, e sua prática no Brasil é recente. Essa pesqui- da qualidade técnica do handebol brasileiro.IV A
sa comprovou que foi trazido ao Brasil por Au- seleção brasileira juvenil excursionou com os pro-
guste Listello em 1952, ano em que o professor fessores como equipe de aplicação.V
francês lecionou para a APEF-SP (Associação dos Os campeonatos brasileiros adultos de han-
Professores de Educação Física) na cidade de San- debol iniciaram-se com a categoria de handebol
tos, em São Paulo.I masculino em 1974. Em 1978, ocorreu o primei-
O esporte se disseminou pelo país predo- ro campeonato de handebol feminino, enquan-
minantemente por meio de seu ensino nas es- to os campeonatos nacionais de outros esportes
colas. Esse esporte despertou nos adolescentes coletivos tradicionais iniciaram-se em 1905, com
uma grande atração e interesse, fazendo que fos- o futebol masculino. Em 2007, inicia-se o campe-
se incluído como uma modalidade esportiva no onato de futebol feminino (Copa do Brasil); em
III Jogos Estudantis Brasileiros (JEBs), realiza- 1925, basquetebol masculino; em 1940, o cam-
do, em 1971, em Belo Horizonte. A partir desse peonato de basquetebol feminino; e, em 1944,
ano, os JEBs tornaram-se o principal propagador iniciam-se os campeonatos de voleibol masculino
do handebol.II e feminino. O I Torneio Aberto de Handebol foi
Em 1975, um grupo de 19 professores brasi- realizado pela Federação Paulista de Handebol,
leirosIII foi enviado para um curso técnico de han- em 1954.
I
O curso de aperfeiçoamento técnico-pedagógico foi sobre o Lima Rosa (SP); Santo Baldacin (SP); Mauro Rodinski (PR);
ensino dos esportes coletivo, e o professor Listello utilizou o Nivaldo (o padre); Luiz Celso Giacomini (RS); José Maria Tei-
handebol como modelo. xeira (AL – 2º Pres. da CBHb e 1º Pres. da Federação de Han-
II
Sob a coordenação do professor José Maria Teixeira (do remo), debol do Estado do Rio de Janeiro, fundada em 1978); Manoel
que, posteriormente, se tornou o segundo presidente da CBHb. Luiz – SE (atual presidente da CBHb); Homero José Alcântara
Um dos responsáveis pela inclusão do handebol nos referidos Ribeiro (SE).
jogos foi Ari Façanha de Sá, juntamente com três mineiros que IV
Ary Façanha de Sá foi o idealizador da viagem e o responsável
foram os responsáveis técnicos.9 pela elaboração da lista dos integrantes da comitiva.
III
Os integrantes do grupo eram: Otávio Catanete Fanali (AM); V
Minas Gerais: Ricardo Avelino Trade – Baka, Carlos Eustaquio
Sérgio Guimarães da Costa Flórido (PE); Oliveiro Gomes da Brum da Silveira – Jamanta, Guilherme Angelo Raso – Toco,
Silva (RN); Antônio Luiz Cabral (PB); Wilson de Matos (RJ); Gilberto – Boi; São Paulo: Luiz – Luizinho, Manoel – Mane-
William Felippe (RJ); Athaíde Lacerda (MG); Wilson Bonfim zinho, Paulo – Paulinho, Roni; Rio de Janeiro: Sergio – Sergi-
(MG); Arcílio Tavares (SP); Waldir de Castro Gomes Ribeiro nho; Paraiba: Denilson Bonates Galvão; Paraná: Kusmam, Julio,
– SP (Indicado por Darcymires do Rêgo Barros no momento Eniel Carazzai – Peninha; Rio Grande do Sul: Luis Osório – Li-
da digitação da lista por Ary Façanha de Sá, no RJ); Roberto de gadão, Otto; Maranhão: Gilson – Gilsinho; Amazonas: Bosco.
20 Manual de Handebol

O handebol foi institucionalizado no Bra- Todas as evidências apontam São Paulo


sil em âmbito nacional em 1979, com a criação, como o Estado pioneiro no handebol, denomi-
em 11 de junho, da Confederação Brasileira de nado, à época, de handebol de salão, a partir da
Handebol (CBHb). Seu 1º presidente foi Jamil exposição feita pelo professor francês Auguste
André,VI eleito em assembleia em 22 de agosto de Listello no curso de aperfeiçoamento técnico-pe-
1979, fixando sua primeira sede na cidade de São dagógico promovido pela APEF-SP em 1952, na
Paulo. Antes da fundação da CBHb, o handebol cidade de Santos. A Federação Paulista de Hande-
era organizado em âmbito nacional pelo Conse- bol (FPHb) havia sido criada em 1940 para gerir
lho Técnico de Assessores para o Handebol, da apenas o handebol de campoVIII e, já em 1954,
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), antes mesmo da fundação da CBHb, já organiza-
conselho presidido pelo professor Jamil André e va o primeiro torneio de handebol (de salão). Em
do qual fazia parte o professor Eurípedes Mattos virtude da inexistência de uma federação nacional
Carmo e, mais tarde, os professores Darcymires e do interesse da FPHb, o Brasil filiou-se à Inter-
do Rêgo Barros e Pedro Moraes Sobrinho (Silva).9 national Handball Federation (IHF) em 1954, por
Atualmente, o handebol no Brasil é de res- meio da FPHb.
ponsabilidade da Confederação Brasileira de Han- O handebol foi incluído como disciplina no
debol (CBHb), com sede em Aracaju. Em outros curso da Escola de Educação Física do Estado de
Estados, o handebol é organizado pelas federações São Paulo – USP por volta de 1959.IX
estaduais (totalizando 27), e, em algumas cidades O Estado também foi pioneiro no ofereci-
ou regiões, existem Ligas de handebol. mento da disciplina para alunos do curso de for-
As memórias do handebol nos Estados e no mação de professores de Educação Física.
Brasil começou a ser elaborada por mim como um No Estado de São Paulo, considera-
projeto de pesquisa na Unicamp em 2005. Em se que um dos principais impulsionadores
2007, a CBHb manifestou o interesse em recons- do handebol foi o Trófeu Bandeirantes de
truir o caminho percorrido pelo esporte no país Handebol,X criado em 1973.7
durante o V Encontro Nacional de Professores Segundo Silva,9 em 1954, os professores Eu-
de Handebol das Instituições de Ensino Superior rípedes Mattos Carmo (que iniciou o ensino em
Brasileiras,VII em Florianópolis. Nessa ocasião, tive Esporte praticado em campo por 11 jogadores em cada equipe.
VIII

IX
Informação prestada pelo ex-aluno e ex-professor da EEFE/
a incumbência de sistematizar os dados coletados USP, professor Antônio Boaventura da Silva, em entrevista a Sil-
pelos outros colegas em seus Estados, o que possi- va, 1995. Antes da criação da cadeira de handebol, a modalidade
era ensinada na disciplina de Educação Física Geral desde 1951.9
bilitou o resgate de alguns fatos importantes para a Inicialmente, a disciplina foi oferecida apenas para homens; para
mulheres, a inclusão ocorreu apenas alguns anos depois. (Infor-
compreensão da expansão do handebol no Brasil. mação prestada pelo ex-aluno e professor aposentado da EEFE/
USP Emedio Bonjardim).
VI
Professor da Escola de Educação Física e Esporte da Universi- X
O I Trófeu Bandeirantes de Handebol foi disputado em São
dade de São Paulo – EEFE/USP. José do Rio Preto. Segundo Ferreira,7 a competição foi criada
VII
Evento promovido anualmente pela CBHb a partir de 2002. para incentivar a prática da modalidade no interior do estado.
Memórias do handebol no Brasil 21

Campo Grande, RJ), Cássio Rothier do Amaral professor Dimas, a introdução do handebol
e Enéas da Silva (Niterói – Centro Educacional) no Maranhão após este assistir à modalida-
participaram de um curso em Santos. Estes foram de no JEBs de 1971, em BH, e ter levado
os divulgadores do handebol nas escolas em que bolas doadas por Ary Façanha de Sá para o
lecionavam no Estado do Rio de Janeiro. Maranhão. O desenvolvimento no Maranhão
Em 1966, o handebol foi incluído como também é atribuído ao professor Dimas e ao
modalidade no I Campeonato Intercolegial do professor Laércio Elias Pereira, paulista de
Estado da Guanabara (denominação do atual Es- São Caetano do Sul que se radicou naquele
tado do Rio de Janeiro até 1976), o que estimulou Estado no ano de 1973.XII
os professores a procurarem cursos de handebol. Tem-se notícia de que, em 1967, em Pal-
Porém, o primeiro curso oficial de handebol no meira dos Índios (AL), o professor Luiz Freire e
Estado foi em 1967, ministrado por Darcymi- a pedagoga e diretora de escola (Colégio Cristo
res do Rêgo Barros (especialista em ginástica) e Redentor), irmã Marcelina Dantas, promoveram
Eurípedes Mattos Carmo, que já lecionavam o handebol. Em Maceió, o handebol foi praticado
handebol como conteúdo de outros cursos no em 1968 nas escolas em que lecionavam os pro-
Departamento de Educação Física do Ministério fessores Belmiro Alves (Colégio Sagrada Família)
da Educação e Cultura DEF/MEC.9 No ano de e Josefa Alves (Colégio Bom Conselho).
1972, o handebol foi incluído como disciplina na Foi pela coordenação do professor alagoano
grade curricular da Escola de Educação Física e José Maria Teixeira que o handebol foi incluído
Desportos da Universidade Federal do Rio de Ja- no JEBs realizado na cidade de Belo Horizonte
neiro EEFD/UFRJ. em 1971. No ano seguinte, a cidade de Maceió
A Federação de Handebol do Estado do foi sede do 4º JEBs. Porém, apenas em 25 de mar-
Rio de Janeiro foi fundada apenas em 1978. Em ço de 1980 foi criada a Federação Alagoana de
1981, o Rio de Janeiro recebeu o professor alemão Handebol.
Horst Käsler para ministrar um curso.XI No Estado do Piauí, os registros apontam
Em 23 de setembro de 1960, no Maranhão, que, entre os dias 15 de fevereiro e 5 de março
os professores Luiz Gonzaga Braga e José Rosa da de 1970, realizou-se em Teresina o primeiro cur-
Escola Técnica Federal do Maranhão (ETFM, so de avaliação básica em handebol. O primeiro
hoje denominada de CEFET) promoveram um jogo realizou-se em 15 de maio de 1970 entre
jogo para demonstração de handebol no aniver- duas equipes do Colégio Helvídio Nunes, que
sário da escola. tinham como treinadores os professores Antônio
Porém, credita-se a Antonio Maria Za- Sarmento de Araújo Costa e o professor Péricles
charias Bezerra de Araújo, conhecido como Freitas Avelino.
XII
Formado pela EEFE/USP em 1970 e preparador físico da
XI
Autor do livro Handebol, publicado pela editora Ao Livro Técnico. seleção brasileira comandada por seu ex- professor, Jamil André.
22 Manual de Handebol

Em julho de 1971, o professor Péricles Frei- Barcelona, conseguindo a 11ª colocação; a estreia da
tas Avelino ministrou o primeiro Curso Básico de seleção brasileira de handebol feminina em Olimpí-
Educação Física em Handebol para professores adas se deu apenas no ano de 2000, nos Jogos Olím-
da capital e do interior do Piauí. Esse curso foi picos de Sidney, classificando-se em 8o lugar.
promovido pela Inspetoria Seccional de Educação Os principais resultados obtidos pela seleção
Física do Piauí, em convênio com a Secretaria de adulta masculina brasileira em certames interna-
Educação e Cultura. cionais foram: vice-campeão masculino, em 1981,
A primeira participação do Piauí em JEBs da Taça Latina e do Campeonato Sul-Americano;
foi em 1972 em Maceió, e teve como técnicos os terceiro colocado nos jogos Pan-Americanos, em
professores Péricles Freitas Avelino (masculino) e 1987; segundo colocado em 2002; campeão sul-
Jovita Maria Ayres Lima Cavalcante (feminina). americano em 2000, 2001 e 2003; e primeiro co-
Em 21 de novembro 1980, foi criada a Federação locado nos Jogos pan-americanos de 2000, 2001,
de Handebol do Estado do Piauí. 2003, 2006 e 2008.
O handebol em Santa Catarina foi implan- Os principais resultados obtidos pelo Brasil
tado na década de 1970 na área de Florianópolis, em certames internacionais na categoria adulta fe-
e, no 1º semestre de 1971, realizou-se o 1º cam- minina foram: campeão pan-americano em 1997,
peonato regional escolar. A Federação Catarinen- 1999, 2000, 2003, 2005 e 2007; e campeão sul-
se de handebol foi criada em 27 de setembro de americano em 1998.
1974. Os melhores resultados de ambas as seleções
O Brasil começou a participar de competi- nacionais em Jogos Olímpicos foram em Atenas,
ções internacionais em 1958 (na República De- em 2004, quando a equipe masculina conquistou a
mocrática Alemã) no 3º Campeonato Mundial 10ª colocação, e a seleção feminina, a 7ª colocação.
(iniciado em 1938). A seleção convocada para era Os resultados dos Jogos Olímpicos têm
formada apenas por jogadores paulistas.XIII Em servido para impulsionar o handebol no Bra-
1966, por iniciativa do Conselho Técnico de As- sil. A partir do ano 2000, as TVs ESPN Brasil
sessores para o handebol da CBD, deu-se a 1ª par- e SPORTV têm dado apoio ao handebol trans-
ticipação brasileira nos III Jogos Luso-Brasileiros mitindo jogos, e, mais recentemente, também a
em Angola (Silva).9 Em 1970, o Brasil participou Bandeirantes, fato que consideramos fundamen-
pela primeira vez da III Taça Latina realizada em tal para o incentivo e crescimento no número de
Portugal (Ferreira).7 praticantes do handebol. Em julho de 2005, pela
Em 1992, a seleção brasileira masculina par- primeira vez, um jogo de handebol foi transmiti-
ticipou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos em do pela Rede Globo em cadeia nacional, porém
a emissora exigiu que o tempo de jogo fosse re-
Provavelmente porque quem representava o Brasil no âmbito
XIII

internacional era a FPBh. duzido para 20 minutos. A CBHb e a Petrobrás,


Memórias do handebol no Brasil 23

principal patrocinadora do handebol nacional e ro de 1994 ocorre, na Faculdade de Ciência do


do evento, aceitaram essa exigência, o que rendeu Desporto e Educação Física do Porto (FADEUP),
ao esporte, ainda, uma participação de destaque um encontro para refletir sobre as regras do beach
no Jornal Nacional, com a inclusão de uma en- handball. Nesse evento, estavam presentes os pro-
trevista com um atleta. Essas informações são im- fessores Antônio Luiz “Lula” Cabral, então técni-
portantes, porque registram acontecimentos mar- co do Estado da Paraíba, e o Prof. Almir Liberato
cantes do handebol nacional. Essas transmissões da Silva (UFAM), que cursava doutorado naquela
contribuem para que, em um futuro próximo, o instituição. Em setembro do mesmo ano, ocorre
handebol receba a mesma atenção da mídia que o XXV Congresso da Federação Internacional de
os outros esportes coletivos de quadra. Isso, em Handebol (IHF), em Noordwijik, Holanda, com
nosso modo de ver, contribuirá para a populariza- a apresentação do handebol de areia para os par-
ção da sua prática. ticipantes de todo o mundo, e foi realizada uma
Esses registros datados são interessantes para partida de demonstração entre Holanda e Itália
comprovar o pouco tempo de prática desse esporte (Ribeiro e Ribeiro).10
no Brasil, em relação a outros esportes coletivos. O presidente da Confederação Brasileira
de Handebol (CBHb), o professor Manoel Luiz
Oliveira, participou do XXV Congresso da IHF
3.1 História do handebol de praia e interessou-se pela modalidade e angariou recur-
no Brasil sos junto ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
para, em 1995, no Brasil, realizar o I Torneio In-
Arline Pinto Ribeiro; ternacional de Handebol de Areia entre seleções
Cláudia Monteiro do Nascimento masculinas, com a participação de Brasil (cam-
peão), Argentina, Itália e Portugal (Ribeiro e Ri-
O handebol de areia (beach handball) teve beiro).10 No mesmo ano, uma resolução do Con-
origem no início da década de 1990, na Itália, selho da IHF adota oficialmente o handebol de
com adaptações de regras do handebol de quadra, areia. As primeiras regras oficiais foram apresen-
visando tornar o jogo na areia mais dinâmico. Po- tadas em 1996, no XXVII Congresso da IHF, em
rém, essas regras não foram publicadas oficialmen- Hilton Head, Estados Unidos, e divulgadas em
te. Já em 1992, as primeiras partidas e torneios uma publicação da IHF (Beach Handball – Rules
foram disputados também na Itália, obedecendo of the Game). Em 2001, o Handebol de Areia foi
a essas regras não oficiais. Entretanto, no mesmo incluído no “World Games” de Akita, Japão, com-
ano, esse jogo também era praticado nas praias petição organizada pelo Comitê Olímpico Inter-
francesas, sob a denominação de Sandball, e, na nacional (COI). Os campeões foram a Bielorrús-
Holanda, como handball on the beach. Em janei- sia, no masculino, e a Ucrânia, no feminino. O
24 Manual de Handebol

primeiro Campeonato Mundial de Handebol de Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do


Areia, organizado pela IHF, foi realizado no Egi- Norte, Rio de Janeiro e Espírito Santo. No en-
to, em 2004, sendo vencido por Egito e Rússia, tanto, tratava-se de um jogo com as mesmas re-
no masculino e no feminino, respectivamente. gras da quadra. Porém, oficialmente, o hande-
No handebol de areia, os Campeonatos do bol de areia tem início com sua introdução no
Mundo adulto são realizados a cada dois anos, e as Festival Olímpico de Verão, em 1995 (Ribeiro e
competições para homens e mulheres acontecem Ribeiro).10 Nessa competição, surgiu a primei-
no mesmo local e data, simultaneamente. A Cro- ra Seleção Brasileira, comandada pelo professor
ácia é a atual campeã mundial tanto no masculino Leoni Nascimento, que venceu o então Torneio
como no feminino, em 2008. O mesmo destaque Internacional de Handebol de Praia.
teve o Brasil quando conquistou títulos mundiais De 10 a 15 de setembro de 1996, na Praia
nos dois naipes em 2006 (Quadro 3.1). do Forte, Rio de Janeiro, foi realizado o I Cam-
peonato Brasileiro de Handebol de Areia, dispu-
Quadro 3.1 – Os campeões mundiais de hande- tado entre seleções estaduais masculinas, tendo
bol de areia (IHF) como campeão o Paraná. Em dezembro do mes-
Campeão mo ano, foi disputada a primeira edição dessa
Ano País
Masculino Feminino competição para mulheres, e o Estado campeão
2004 Egito Egito Rússia
foi o Rio de Janeiro.
2006 Brasil Brasil Brasil
Em 2001, o Brasil participou da estreia do
2008 Espanha Croácia Croácia
handebol de areia no “World Games”, em Akita,
Japão, e ficou com a medalha de bronze tanto
O handebol de areia não é esporte olímpi- no masculino quanto no feminino. Em 2005,
co, porém já fez parte das três últimas edições do em Duisburg, Alemanha, o Brasil ficou em 9º
“World Games” (2001, 2005 e 2009), competição colocado no masculino e conquistou a medalha
organizada pelo Comitê Olímpico Internacional de ouro no feminino. Em 2009, na cidade de
(COI). Em Duisburg, Alemanha, a Rússia con- Kaohsiung, China, a equipe masculina do Bra-
quistou, em 2005, a medalha de ouro no mascu- sil sagrou-se campeã desse torneio pela primeira
lino e o Brasil, no feminino. vez, enquanto a equipe feminina ficou em ter-
ceiro lugar (Quadro 3.2). Assim, o Brasil figura
como uma potência mundial, pois foi a única
3.1.1 O Handebol de Areia no Brasil equipe a conquistar títulos nas duas competi-
ções mais importantes da modalidade.
O handebol era jogado nas praias brasi-
leiras desde a década de 1980, nos Estados da
Memórias do handebol no Brasil 25

Quadro 3.2 – O handebol de areia nos “World como uma possibilidade de lazer, recreação e saú-
Games” (COI) de, que pode ser praticado na praia, na areia, na
Medalha de Ouro escola, na praça, no gramado de casa etc.
Ano Cidade – País
Masculino Feminino
2001 Akita – Japão Bielorrússia Ucrânia
Duisburg –
2005 Rússia Brasil
Alemanha
2009 Kaohsiung – China Brasil Itália

No I Campeonato Mundial de Handebol de


Areia no Egito, em 2004, o Brasil esteve presen-
te com as seleções masculina e feminina, ficando
com a 9ª e a 6ª colocação, respectivamente. Em
2006, jogando em casa, o Brasil sagrou-se cam-
peão no masculino e no feminino. Na edição de
2008, na Espanha, o masculino foi vice-campeão
e o feminino ficou em 3º lugar.
O handebol de areia é uma modalidade
nova, porém conquistou muitos adeptos ao redor
do mundo pela dinâmica apresentada pelo jogo.
Tal dinâmica é possibilitada pelas suas regras, que
foram cuidadosamente discutidas e desenvolvidas
ao longo do tempo por seus praticantes organi-
zadores. Apesar do pouco investimento, o Brasil,
assim como em outros esportes de praia, é con-
siderado potência mundial e vem se mantendo,
desde as primeiras competições, entre os primei-
ros colocados nos mais importantes eventos inter-
nacionais.
O caráter lúdico e criativo valorizado pelas
regras do handebol de areia faz dela uma moda-
lidade cada vez mais atrativa e praticada ao redor
do mundo. Basta pensar no handebol de areia não
apenas como uma modalidade competitiva, mas
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

Identificação, caracterização e
4 classificação do jogo de handebol

Uma compreensão ampla do fenômeno es- finidas pela posse ou não da bola, estão relaciona-
porte inicia-se com a consideração das caracterís- das e inseparavelmente ligadas, assim como a atu-
ticas da modalidade. Assim, observam-se espor- ação dos jogadores/equipes. Dessa forma, quando
tes individuais, de conjunto, de rede, de parede, a posse de bola muda de um time para outro, os
de invasão, em espaço específico, de rebatida, de jogadores trocam imediatamente de função, pas-
campo, de sala etc. Segundo Guia, Ferreira e Pei- sando de atacantes a defensores e vice-versa.
xoto11, um jogo esportivo coletivo “apresenta um Em uma partida de handebol, o comporta-
conjunto de indivíduos em interação mútua, com mento dos atletas se fundamenta nos princípios
relações e interrelações coerentes e consequentes, do jogo, que podem ser conforme a fase ofensi-
com objetivos convencionados e funções especí- va: conservar a posse de bola, progredir até o alvo
ficas definidas”. O handebol se encaixa nessas ca- e, por último, buscar a finalização; e defensiva:
racterísticas, apresentando elementos comuns às recuperar a posse da bola, evitar a progressão do
outras modalidades esportivas coletivas: um ter- adversário e evitar a finalização do adversário
reno de jogo, onde se desenvolvem ações individu- (Moreno).15 O handebol apresenta outras carac-
ais, em grupo e coletivas direcionadas a uma meta, terísticas específicas, por meio de uma estrutura
que deve ser atacada ou defendida pelos compa- organizacional conhecida pelos jogadores a partir
nheiros de equipe. Um objeto de jogo a bola, que das regras do jogo que expõem o que é ou não
é movimentada com as mãos pelos integrantes da permitido. Os conteúdos e ações (individuais ou
equipe, que cooperam buscando alcançar os obje- coletivas) acontecem em um contexto de elevada
tivos do jogo: fazer o gol, o que lhes que solicita variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, o
a superação das ações de oposição dos adversários, que dificulta sua antecipação dos fatos e, parale-
considerando as regras do jogo (Bayer; Gargan- lamente, exige dos atletas uma permanente atitu-
ta).12,13 A movimentação pelo terreno de jogo de tático-estratégica (Garganta).13,14,16 Em termos
ocorre de forma particular, nas denominadas fases práticos, essa atitude pode ser representada na so-
ou ciclo do jogo (uma alternância do poder no licitação de respostas variadas, velozes, precisas e
jogo: quem está com a bola ataca e procura fazer o complexas, realizadas, muitas vezes, sob uma ele-
gol) na busca pela vitória. Essas fases do jogo, de- vada pressão de tempo (Greco).17 Por esse motivo,
28 Manual de Handebol

é de suma importância que, nos processos de ensi- Quadro 4.1 – Relação de categorias e formas de
no-aprendizagem-treinamento (EAT), as ações dos classificação da modalidade (Graça e Oliveira)18
jogadores sejam orientadas para resoluções velozes e Categorias Classificação Handebol

adequadas de situações de jogo, que se apresentam Aeróbico, anaeró- Aeróbico, anaeró-


Fontes energéticas
bico, misto bico, misto
ininterruptamente. Essas situações exigem compor-
Ocupação do De invasão, de
tamento tático flexível, variado repertório motor, De invasão
espaço não invasão.
com diversas soluções técnicas, entre os quais os atle- De disputa direta,
Disputa de bola De disputa direta
tas devem escolher, no menor tempo possível, a so- de disputa indireta

lução que considerar mais adequada. Essas escolhas Trajetórias predo- De troca de bola, de De circulação de
minantes circulação de bola bola
são efetuadas por meio do desenvolvimento dos pro-
cessos cognitivos subjacentes à tomada de decisão,
que estão intimamente ligados à capacidade tática Quadro 4.2 – Síntese das características do han-
que o atleta detém. No jogo, as decisões dos joga- debol (com base em Graça e Oliveira)18
dores são velozes, parecem intuitivos, pois o tempo Plano Características

para “pensar” é muito escasso. Para se conseguir essa


O espaço disponível por jogador é de 80 m2,
forma de ação, é necessário um adequado processo com restrição (área do goleiro)
de EAT, de forma a automatizar a descoberta dos O regulamento prevê existência de faltas acu-
Regula-
mulativas, individuais e por equipe
sinais relevantes para a situação e, assim, decidir de mentar
Descontos de tempo e um número ilimitado
forma intuitiva, ou seja, antecipando o resultado. de substituições de jogadores
Tempo de jogo contínuo (cronometrado)
Graça e Oliveira18 sugerem que, para me-
lhor compreensão de uma modalidade, seja tra- Esforço de natureza intermitente e aleatória
Mudanças de direção e sentido muito frequentes
çado seu perfil, observando o conjunto de cate-
Número ilimitado de substituições, permitin-
Energético
gorias que determinam, a posteriori, a possível do a recuperação dos atletas e possibilitando
a manutenção ou aumento do ritmo do jogo
forma de classificação/divisão da modalidade no
conforme necessidade tática
marco dos jogos esportivos coletivos.
Essas categorias e sua classificação se relacionam Elevada velocidade de execução de gestos técnicos
Controle da bola com a mão
e dependem muito dos espaços de que o jogador dis- Técnico Elevado número de contatos com a bola por
põe no terreno de jogo, que, no caso do handebol, jogador, assim como de situações de finaliza-
ção em uma partida
representam 57 m2 por jogador para desenvolver suas
ações, totalizando 800 m2 do campo de jogo. Utilização do goleiro como um elemento in-
tegrante do processo ofensivo
Outra consideração surge dos conteúdos que
Rápida alternância entre as situações de ata-
Tático
se apresentam nos planos regulamentares, energéti- que e defesa
Crescente exigência de jogadores polivalentes,
cos, técnicos e táticos constitutivos de uma modali-
com uma elevada capacidade e rapidez de decisão
dade, conforme descritos no Quadro 4.2, a seguir.
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 29

CAM
Nessas categorias, ainda se inter-relacionam Companheiro - Adversário - Meio Ambiente

um conjunto de parâmetros: situação, objetivo,


Espaço Participação
características, formas de comportamento tático,
características e tipo de ações individuais, grupais Separado Comum Simultânea Alternada

e coletivas, que compõe o marco de perspectivas HANDEBOL


das decisões (táticas) e perspectiva de comunica- BB/FB/FS
Hockey
ção entre os jogadores (técnica).
Squash
Considerando essas características do
Voleibol/Tênis
jogo, pode-se tomar, inicialmente, como refe- Badminton
rência para classificar o handebol no conjunto
dos esportes a proposta de Parlebas,19 comple-
mentada com os estudos realizados por More- Figura 4.1 – Classificação dos esportes de cooperação/
no,15 incluindo dois importantes elementos na oposição, segundo Moreno.15
compreensão do handebol: um com relação à
forma com que os participantes utilizam o es- É necessário, além disso, fazer constar a esse
paço e outro com relação à participação dos jo- respeito o estudo de Favre,20 que demonstra que,
gadores. Dessa forma, é possível diferenciar o em todos os jogos esportivos, existe uma constan-
grupo dos jogos esportivos coletivos nos quais te entre:
se joga em um espaço padronizado (separado/
comum) com participação (simultânea/alter-  intensidade da carga autorizada pelo regu-
nada) (vide Figura 4.1). Para Moreno,15 os es- lamento (pelas regras);
portes de cooperação/oposição são aqueles nos  possibilidade de progredir com a bola se-
quais a ação de jogo é produto das interações gundo o regulamento (as regras).
entre os participantes, realizadas de maneira
que uma equipe coopere entre si para se opor a A possibilidade de carga e seu “grau de vio-
outra que atua também em cooperação e que, lência” foi proposta pela primeira vez por Parle-
por sua vez, se opõe à anterior. Segundo esse bas19 em uma análise, na qual se faz referência ao
autor, o handebol se insere no grupo dos jogos espaço que cada jogador comporta com os outros,
esportivos coletivos ou esportes de equipe de depois de uma correlação de distintas variáveis e
cooperação/oposição em que os jogadores de- de seu tratamento estatístico com ajuda do índice
senvolvem suas ações em um espaço comum. de Kendall. Assim, parece que:
30 Manual de Handebol

 quanto mais espaço dispõe o jogador, mais Quadro 4.4 – Características do ataque e defesa
violenta é a carga; nos jogos esportivos coletivos de invasão (adapta-
 quanto mais próxima a carga, mais violenta é; do de Bayer, p. 53).12
 quanto mais próxima a carga e, portanto, Ataque Defesa

mais violenta, mais fácil é controlar tecni- Conservação da bola Recuperação da bola
Progressão dos jogadores e da Impedir a progressão dos joga-
camente a bola (Parlebas).19
bola para a meta adversária. dores e da bola até meu gol.
Atacar à meta contrária, ou
Sendo assim, apresentamos, a seguir, as ca- Proteger a meta ou o campo.
seja, marcar um ponto.
racterísticas das principais modalidades esportivas
de acordo com as considerações realizadas por A participação para a obtenção da posse de
Parlebas (Quadro 4.3).19 bola é simultânea, ou seja, as duas equipes podem
atuar simultaneamente pela posse sem esperar a
Quadro 4.3 – Características dos jogos esporti- ação final do adversário. A partir do momento
vos coletivos de acordo com a carga permitida e em que uma das equipes tem o controle da bola,
o transporte da bola (adaptado de Bayer, p. 52).12 tem-se em vista atingir o objetivo final do jogo
Possibilidade de pro- (marcar ponto). Caso não tenha a posse da bola,
Modalidade Tipo de carga
gressão
objetiva-se recuperar seu controle, tirando-a da
Não existe progressão
Voleibol Não há carga outra equipe e, dessa forma, marcar o ponto. A
com a bola.

Progressão com a bola


partir dessa concepção do jogo, pode ser consi-
Basquetebol Pequena carga
delicada. derado o ciclo do jogo nas duas fases de ataque e
Carga mais forte Progressão com a bola defesa e seus respectivos conteúdos (Figura 4.2).
Handebol
(severa) mais fácil.
Considerando os procedimentos de ataque
Progressão com a bola
e defesa com ou sem pose de bola, as ações dos
Futebol Carga viril de forma livre, mas com
esta sempre junto ao pé. jogadores podem ser agrupadas em ações táticas
Progressão com a bola de individuais, de grupo ou de conjunto, como pode
Rúgbi Carga máxima forma livre, sendo que ser observado na Figura 4.3.
esta pode ser elevada.


A lógica do jogo de handebol é semelhan-
te aos jogos esportivos coletivos de invasão/
oposição simultânea. Conforme Bayer,12 (p. 53)
caracteriza-se pela progressão do ataque e a
oposição defensiva.
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 31

Sequencia do jogo no Handebol

Equipe em posse da bola

Individual
Ataque Meios Fazer
Grupal Objetivo
técnico-táticos
Coletivo

Equipe sem posse da bola Gol

Individual
Defesa Meios Grupal
Objetivo
técnico-táticos Coletivo Evitar

Figura 4.2 – A sequência do jogo nos jogos esportivos coletivos (Greco).21

Jogador Tática Individual

Jogador+Jogador Tática Individual

Jogador+Jogador+Jogador Tática Individual

Equipe

Organização
Distribuição de
Responsabilidades

Sistema de Jogo

Ofensivo Defensivo

Figura 4.3 – Integração de ações como elemento de formação da equipe e sua relação com os sistemas de jogo (Greco).21

Por sua vez, deve-se observar que o jogo de terreno de jogo, que estão descritos na Figura 4.4
handebol se desenvolve conforme princípios tá- (segundo Bayer, p. 144):12
ticos gerais que as equipes apresentam dentro do
32 Manual de Handebol

Equipe em posse de bola ou Equipe sem posse de bola


Ataque Defesa
e Um companheiro e
e ou e
(Re) Posiciono consegue Procuramos repurerá-la ou
• Para receber a bola: dissuadir os passes
Correndo para o gol e
Em um espaço livre
e Eu consigo Não consigo e minha
• Levando em conta:
os compamnheiros e equipe também não
os adversários Procuro
e
o gol
ou
(Ruptura de alinhamento) e ou
ou
Ajudar ou Ajudo
Se eu a Passá-la Tirar Desdobrar
ou recebo (1x1)
Se um Crio Ataco o portador
companheiro a alinhamento da bola ou o
e
recebe defensivo controlo para dar
Depois de ter para facilidade à minha
Se um me informado
ou recuperá-la equipe
adversário a
em
recupera

ou

Figura 4.4 – Interações do jogo de handebol (Bayer, p. 144).12

4.1 Características do jogo de handebol na interação ataque-defesa, na qual se apoia a


estrutura funcional que destaca a relação espa-
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, ço-temporal, relações entre colegas, adversários
Fernando Lucas Greco e bola, e as regras, limitando e condicionando
essa interação.
O handebol apresenta-se como uma disci- A lógica funcional dos jogos esportivos
plina esportiva na qual elementos próprios dos (García)22 mostra as relações entre os sistemas de
âmbitos cognitivos, físicos, técnicos, táticos e jogo, os meios táticos para alcançá-los, as inten-
psicológicos se relacionam de forma dinâmi- ções dos atletas, que são subordinadas aos prin-
ca e complexa. As principais características do cípios do jogo e estes, por sua vez, determinados
jogo de handebol assentam-se nomeadamente com base nas regras do esporte em seus objetivos.
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 33

Sistemas de jogo

Meios
táticos
Intenções

Princípios

Objetivos

Ataque Defesa
Ataque X defesa

Figura 4.5 – As relações entre os componentes que constituem a lógica do jogo de handebol (García).22

Defesa Impedir Gol Obter Ataque

Lançamento
Intervenção da melhor posição
do goleiro RE-organizar a RE-organizar o
defesa ataque Organizar o
Lançar nas ataque
piores condições

Progredir para
Evitar a portaria contrária
progressão da
outra equipe
Conservar a
bola
Retorno da
bola Retorno Contra-ataque
defensivo

Figura 4.6 – Fases do jogo de handebol e seus objetivos, com base em Coronado.23

Por sua vez, Coronado23 apresenta uma ex- Tais classificações servem como auxilio para
plicação mais detalhada dos objetivos do jogo de identificarmos o handebol como um jogo espor-
handebol nas duas diferentes fases. tivo coletivo que solicita uma visão sistêmica dos
34 Manual de Handebol

seus componentes, o que gera consequências para A leitura deste texto representa um convite
os processos de EAT. para que se evite, sem prévia análise, a aceitação
de verdades absolutas ou certezas (paradigmas)
“confirmadas”, considerando que a verdade pode
4.2 O handebol em uma visão sistêmica ser relativa à representação individual das pessoas
e que seus alicerces relacionam-se com as justifi-
Rudney Uezu cativas que fundamentam o estímulo que induz a
estarmos sempre com nossa mente aberta a novas
O handebol é caracterizado pela aplicação ideias e mudanças de paradigmas.
de técnicas de movimentos específicas da moda- Os paradigmas podem ser entendidos como
lidade, que precisam ser adequadas às diferentes conjunto de regras, modelos, padrões, visões de
situações encontradas no jogo. Nesse sentido, mundo. O tempo todo percebemos o mundo
faz-se necessário o entendimento da modalidade conforme nossos paradigmas, que acabam sele-
segundo uma perspectiva integrada relacionando cionando o que percebemos e reconhecemos. As-
os aspectos físicos, psicológicos, técnicos e táticos sim, eles nos levam a recusar ou distorcer os dados
independentemente do nível de desempenho es- que não combinam com as expectativas criadas
portivo, ou seja, faz-se necessária uma mudança previamente em nossa mente. Os paradigmas de
no paradigma de entendimento da modalidade. uma sociedade, por exemplo, influenciam nossa
A palavra paradigma apresenta-se como um vida de forma direta, levam-nos a fazer acreditar
termo bastante difundido em nosso cotidiano, que a forma como entendemos os fatos são “cor-
podendo ser utilizada em diversas áreas do conhe- retos” ou o “único jeito de fazer”, impedindo, as-
cimento. Ao longo de nossa história, os paradig- sim, que outras ideias possam ser aceitas de forma
mas do conhecimento foram sendo substituídos a nos tornar resistentes a mudanças e com pouca
conforme as inquietações de algumas pessoas in- flexibilidade comportamental.
conformadas com as regras e normas de conduta Hoje, em pesquisa cientifica, o paradigma
vigentes na época. denominado “sistêmico” vem sendo a referência
Porém, como será que esse paradigma atu- para substituir a chamada “modernidade” pela
al e o que está emergindo podem influenciar o “pós-modernidade”. Esse paradigma sistêmico
entendimento do esporte e, mais especificamente, parte do princípio de que não é possível fragmen-
do handebol? Quais são as possíveis implicações tar a totalidade em partes isoladas para entendê-la,
práticas? Será que a mudança de paradigmas em já que, desse modo, as interações entre as partes
relação à conceituação do handebol pode aportar são desconsideradas, impossibilitando, assim, sua
uma visão diferenciada dos processos de ensino- compreensão. O termo sistêmico vem de sistema,
aprendizagem e treinamento do handebol? que foi conceituado como “complexo de elemen-
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 35

tos em interação” ou “conjunto de componentes partes que o constituem interagem com o meio
em estado de interação”. A existência das intera- ambiente; e complexo porque existem muitas
ções ou relações entre os componentes represen- características que nele influem, além do gran-
tam o aspecto central que identifica a existência de número de interações (aspectos físicos in-
do sistema como entidade, diferenciando-o de um fluenciam a realização de uma técnica no final
aglomerado de partes independentes. Portanto, os do jogo, ou táticos, quando o defensor chega
fenômenos são analisados de maneira globalizada, a fechar o espaço) que podem ocorrer entre as
sem a fragmentação das partes que o compõem, partes que o compõem.
considerando, assim, as interações existentes entre Os sistemas abertos trocam matéria/energia
as partes na composição da totalidade. e informação com o meio ambiente. Já os com-
Segundo Tani e Correa,26 as modalida- plexos apresentam grande número de fatores que
des esportivas coletivas podem ser classificadas nele influem, assim como o grande volume de
como sistemas abertos e complexos, incluindo, interações que podem ocorrer. A Figura 4.7 apre-
assim, o handebol. Portanto, para se compre- senta uma análise que considera duas equipes, o
ender e analisar o jogo de handebol, pode-se número de jogadores envolvidos e as possibilida-
recorrer à visão sistêmica, pois o handebol é des de ações ofensivas que cada atacante pode re-
sistema aberto e complexo: aberto porque as alizar individualmente.

Jogos Coletivos

Equipe A Equipe B

Jog. 1 Jog. 2 Jog. 3 Jog. 4 Jog. 5 Jog. 6 Jog. 7

Deslocamento Drible Recepção Passe Finta Arremesso

Figura 4.7 – Análise de duas equipes, do número de jogadores envolvidos e das possibilidades de ações ofensivas que
cada atacante pode realizar individualmente.
36 Manual de Handebol

No processo de ensino-aprendizagem do Provavelmente, a principal dificuldade


handebol, as habilidades motoras especializa- que o aluno apresentará será na coordenação
das da modalidade, também chamadas de fun- entre os três movimentos, ou seja, nas intera-
damentos, técnicas ou elementos, ou, na visão ções existentes entre eles na realização do passe
sistêmica, de meios técnico/táticos individuais, com salto e na interação com outros elementos
podem ser consideradas e analisadas segundo as que sejam agregados em sequência (anteriores
duas concepções. Por sua vez, os meios técnico/ ou a posteriori).
táticos individuais (os de grupo e os de conjun- Já na abordagem sistêmica, o passe com
to seguem a mesma lógica) poderão ser treina- salto seria estimulado desde o início para ser re-
dos a partir da concepção teórica que se adota alizado na sua totalidade gestual; seriam obser-
e do referencial que lhes dá sustentação, isto é, vadas as modificações nos graus de liberdade do
o processo de ensino-aprendizagem resultante movimento conforme a situação que se apre-
será escolhido conforme a visão de mundo (sis- senta no ambiente e colocada ênfase em cada
têmica ou cartesiana, no exemplo aqui exposto) etapa da aprendizagem. Nesse sentido, teríamos
em que o treinador acredita. combinações entre a corrida e o passe, a corrida
Tomemos como exemplo o ensino do pas- e o salto e o salto e o passe, considerando, dessa
se com salto conforme uma abordagem carte- forma, as interações entre os três componentes.
siana, que se expressa no uso do método analí- Em uma partida de handebol, atacantes e
tico. Ao aluno seriam ensinadas, inicialmente, defensores, no campo de jogo, se organizam ta-
a corrida e as três passadas. Após o domínio da ticamente para obter o gol, ou evitá-lo. Assim,
forma “correta” da corrida e das passadas, vem, a equipe em posse de bola, ou que apresenta
a seguir, o ensino do salto, a questão da busca condições de obter sua posse, está no ataque e
de altura, o não impulsionamento para frente a outra, em defesa. Ocorre, consequentemente,
etc. Somente quando esses aspectos estiverem uma série de ações de oposição entre atacantes
“mecanizados”, serão estimuladas e oportuni- e defensores e de colaboração entre colegas da
zadas as situações de passe com exercícios que mesma equipe. Essa característica do handebol
combinem esse fundamento, ou meio técnico- oferece um importante papel educacional, pois
tático individual, com outras ações (fintas sem os jogadores aprendem a cooperar uns com os
bola etc.). Por fim, após trabalhar cada compo- outros e, também, a se superar de forma cons-
nente isoladamente, serão realizadas as combi- tante, superando os obstáculos que os adversá-
nações necessárias até que os três movimentos rios, momentaneamente, lhes colocam, na bus-
constitutivos – a corrida, o salto e, finalmente, ca também da vitória.
o passe – sejam possíveis de se concretizar com Durante o processo de ensino-aprendiza-
fluência pelo aprendiz. gem e treinamento do handebol, a estimulação
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 37

de aspectos táticos (quando e por que fazer) e dinâmica de movimentação de um gol a ou-
técnicos (como fazer) deve ocorrer concomi- tro, conforme discutido nas diferentes fases do
tantemente, já que, ao mesmo tempo que o jogo. O nível organizacional equipe é constitu-
praticante entende a lógica do jogo e se com- ído pelos jogadores que compõem as equipes e
porta com autonomia e independência, preci- sua respectiva distribuição espacial pela quadra
sa aprender os diferentes procedimentos que de jogo, segundo os conceitos de largura e pro-
podem ser realizados durante o jogo. A partir fundidade, na criação e ocupação de espaços e
do momento em que o aprendiz entende o que suporte ao jogador com bola. Já o nível parcial
fazer, são impostas as decisões de quando e por considera os jogadores diretamente envolvidos
que aplicar os procedimentos técnico-táticos. nas ações, conforme conceitos de tática grupal
Esse aspecto leva a afirmar que os fundamentos e tática coletiva, nos quais são consideradas as
ou técnicas do handebol devem ser denomina- opções de interações que podem ocorrem entre
dos ações técnico-táticas individuais, já que a dois a três jogadores, seja no ataque ou na de-
execução de um passe, por exemplo, depende fesa. Para finalizar, o nível primário considera
da decisão de o que fazer (se passar ou lançar), a unidade mínima de oposição entre dois jo-
isto é, o aprendiz considera primeiro o que fa- gadores, ou seja, um atacante com bola e seu
zer e, assim, conclui o como executar, quando, correspondente na defesa.
para quem e em qual momento ele será realiza- O jogo pode ser entendido como o nível
do. Ações em esporte se orientam pelos objeti- de organização mais complexo, e seu resultado
vos táticos e requerem a técnica para sua con- depende das interações ocorridas nos demais
cretude, ou seja, no handebol a ação é tática e níveis de organização. Seu entendimento pode
técnica simultaneamente. Pode ser considerado explicar o resultado de uma partida. A Figura
que, mentalmente, primeiro se decide o que fa- 4.8 ilustra as possibilidades de interação entre
zer (tática) e, depois, como fazer (técnica), mas um jogador com bola e seus companheiros de
ambas as decisões ocorrem simultaneamente na equipe, assim como com seu adversário direto.
execução.
Gréghaine e Goudbout26 sugeriram que,
na lógica de um jogo coletivo onde ocorra opo-
sição entre duas equipes, faz-se necessário con-
siderar diferentes níveis de organização: jogo,
equipes, parcial e primário.
O nível jogo representa o confronto dire-
to entre as duas equipes que se opõem durante
a partida. Tal oposição pode ser expressa pela
38 Manual de Handebol

Deslocamentos Passes

Criação e Companheiro
ocupação de desmarcado
espaços

Após Manter a
Recepção Atacante posse de bola Dribles
desmarque

Superar um Superar um
adversário adversário

Arremessos Fintas

Figura 4.8 – Interação do jogador com bola no handebol dentro do sistema de jogo.

Para que as possibilidades de interações pos- (aspecto técnico), caso ele não saiba o momento e
sam ocorrer de forma organizada, existe a necessi- o local mais adequado para tal ação.
dade de considerar, de maneira integrada, as ações Ao se considerar o nível parcial, podemos
técnicas e táticas do handebol. Por exemplo, em entender as interações que podem ocorrem entre
situações de jogo, não basta que um atleta domine dois ou três jogadores, e a Figura 4.9 ilustra as
somente a forma de execução de um arremesso possibilidades entre dois atacantes.

Tabelas

Cruzamentos Bloqueios

2
Atacantes

Pantalhas Permutas

Ponte Aérea

Figura 4.9 – Possibilidade entre dois atacantes dentro do jogo de handebol.


Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 39

Acredita-se que o processo de ensino-apren- ambos, apresenta-se a mudança de compor-


dizagem e treinamento do handebol deva conside- tamento do jogador, por exemplo, da defesa
rar uma integração entre aspectos técnicos (como saindo para o ataque e, no caso do ataque para
fazer) e táticos (quando e por que fazer), que, por a defesa ao perder a bola, realizando-se o re-
sua vez, são influenciados pelos aspectos de cons- torno defensivo. O primeiro é a parte do jogo
tituição corporal e aptidão física dos praticantes. mais espetacular e atraente para o fã apaixo-
Nesse sentido, para a prática do handebol, nado, pois seu objetivo é conseguir o gol na
não basta apenas que o praticante tenha domínio meta adversária, superando as ações defensivas
dos aspectos técnicos da modalidade e como rea- do rival. O ataque, aparentemente, começa
lizar adequadamente o movimento do arremesso, quando se entra em posse de bola. Entretanto,
por exemplo, se ele não souber o momento mais os jogadores já mudam seu comportamento ao
adequado ou o local mais indicado para cada situa- anteciparem a perda ou a tomada da bola da
ção de arremesso. Conforme citado anteriormente, posse adversária.
o jogo de handebol apresenta alta complexidade, Como todo jogo coletivo, baseia-se no ga-
e sua dinâmica consiste em uma série de situações nho da posição e na ocupação de espaços úteis
praticamente imprevisíveis pelas quais os jogadores para ganhar a maior vantagem possível; os espaços
têm que se adaptar constantemente para conseguir ofensivos dividem-se:
seus objetivos, seja no ataque ou na defesa.
Assim, deve-se buscar a formação de joga-  segundo a profundidade, estabelecendo-
dores com autonomia para analisar as diferentes -se duas linhas de ataque; a primeira li-
situações de jogo, interpretá-las, tomar as deci- nha a contar do meio do campo, que,
sões corretas e utilizar as técnicas adequadas em geralmente, é ocupado pelos armadores
função de cada situação específica de jogo. do jogo, e uma segunda linha de ataque,
ocupada pelos jogadores nas funções de
pontas e pivôs;
4.3 O jogo no ataque  segundo a largura, estabelecendo-se três
zonas: central, lateral esquerda e lateral
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila direita.

4.3.1 Características gerais

O jogo de handebol é um todo coberto


pela dupla vertente: o ataque e a defesa. Entre
40 Manual de Handebol

Segunda linha ofensiva


Lateral Lateral
Primeira linha ofensiva
Central

Segunda linha: pontas de pivô

Primeira linha: armadores

Figura 4.10 – Linhas ofensivas no handebol.

A ocupação dos espaços deve se realizar uti-  Com a posse de bola: deve-se manter a pos-
lizando as zonas que se correspondem com postos se desta, progredir até o objetivo, dar con-
específicos. Para isso, no ataque, conformam-se tinuidade ao ataque habilitando, mediante
duas linhas de jogo. A primeira linha ofensiva é um passe, outro companheiro ou finalizar
contada a partir do meio do campo de ataque. a ação por meio do lançamento;
Nela se posicionam os jogadores responsáveis  Sem a posse de bola: a missão principal é
pela armação do jogo. Na segunda linha ofensiva, apoiar o companheiro com a bola, saindo
situada entre as linhas de 6 e 9 metros, posicio- da marcação, e, também, atuar procurando
nam-se os pontas e o pivô. No sistema padrão de espaços livres úteis;
ataque, definido como 3:3, representa-se, na sua
primeira linha, por um central e dois laterais e, na Com respeito ao jogo em conjunto, distin-
segunda, por um pivô e dois pontas (extremos), guem-se várias fases:
estabelecendo-se zonas de lançamento próximas
(6 a 9 m), que incluem lançamentos no ar dentro  Contra-ataque: fase rápida de ataque, aprovei-
da área de 6 m, e zonas de lançamento afastadas tando-se a surpresa e desorganização defensiva
(7,5 – 14 m). com o objetivo de aproveitar a superioridade
numérica que supõe um grande espaço que se
deve ocupar. Distinguem-se em duas subfases:
4.3.2 Fases e formas de jogo contra-ataque propriamente dito (1a e 2a on-
das) e contra-ataque sustentado (3a onda);
No jogo de ataque distinguem-se, basica-  Ataque posicional: fase na qual os jogadores
mente, dois tipos de situações para um jogador: atuam em seus postos específicos, aprovei-
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 41

tando os espaços do campo na largura e jogadores, assim como o local de definição


profundidade e graças a seus movimentos do ataque estão previamente acordados. O
objetivam o lançamento a gol (subfase de que mais ocorre no jogo atual são as equi-
organização e execução). pes se apoiarem em “conceitos de ataque”
nos quais a movimentação dos jogadores e
Em todo caso, o jogo de ataque deve seguir uma a forma de ocupação de espaços seguem a
série de princípios táticos específicos do handebol: lógica da troca de número de atacantes nos
espaços da primeira linha para ocupar na
 garantir a posse de bola ate encontrar es- segunda linha de ataque. Isso ocorre pela
paços livre; troca de passes e conforme a situação na
 entrar nos espaços entre dois jogadores; qual se realiza a definição.
 reconhecer espaços;
 buscar a superioridade numérica;
 manter a largura e a profundidade, utili- 4.3.3 Fundamentos técnico-táticos do
zando todo o espaço de jogo; jogador em ataque
 variedade e alternância nas ações;
 trocar de velocidade e de ritmo no trans- Para levar a cabo com êxito o jogo no ataque,
porte da bola. o jogador deve ser capaz de conseguir os seguintes
objetivos ligados aos fundamentos técnicos:
O jogo de ataque apresenta-se de várias formas:
 desmarcar-se para receber (deslocamento
 Jogo livre: não se define previamente a cir- sem bola, usando-se da troca de velocidade
culação de jogadores nem da bola. e/ou de direção);
 Jogo dirigido (orientado): as circulações ou  receber a bola (recepção e adaptação da bola);
deslocamentos dos jogadores estão definidos  passar ao companheiro desmarcado (ma-
em algumas zonas, apesar de a movimenta- nejo e posse de bola);
ção da bola ser livre. Pode-se desenvolver  dominar o dribling;
por meio de jogo posicional (os jogadores  dominar as distintas formas de lançamento;
não mudam os seus postos específicos) ou  decidir: passar ou progredir (avançar), pas-
em circulação (mudam de posição). sar ou penetrar, passar ou lançar etc.;
 Jogo estruturado: os deslocamentos dos jo-  ser capaz de se desmarcar com a bola (fin-
gadores e da bola estão perfeitamente de- ta), ou seja, superar o adversário;
finidos. Por exemplo, as “jogadas ensaia-  ser capaz de colaborar com o companheiro
das” predefinem o percurso da bola e dos (fixação, bloqueio etc.).
42 Manual de Handebol

4.3.4 Meios básico-táticos coletivos em


laboração e na ocupação dos espaços (situação)
ataque
e deveria se basear em uma filosofia de ação e
O êxito do jogo em ataque passa por uma iniciativa dos jogadores, para a qual se deveria
estreita colaboração e interação entre todos os ensinar a defender atacando (atacar a posição do
companheiros em busca do gol. Para isso, o joga- rival); segundo Bárcenas e Roman-Seco,27 “ata-
dor deve dominar meios básico- táticos de ataque, car ao atacante”. Desde o momento em que não
que são estruturas simples de colaboração, quase se pode recuperar a bola, os jogadores dispõem-
sempre entre dois jogadores, e que constituem o se segundo um sistema defensivo, sendo o jogo
pilar para a construção do jogo coletivo. Entre defensivo uma tarefa permanente e coletiva, res-
eles, encontram-se: guardando sempre a zona na qual se encontra a
bola e sua relação com o gol.
 tabela ou passa-e-vai (give and go); Os espaços defensivos que teremos em
 apoios sucessivos; conta são:
 cruzamentos;
 permutas;  Zona de atraso: quando se tenta impedir ou
 bloqueios; dificultar o contra-ataque. Nesta zona, tem
 pantalhas; de se deixar um jogador o mais próximo
 cortinas; possível à situação da bola.
 ponte aérea.  Zona de balance defensivo: em torno do
meio do campo, onde se deve situar, pelo
menos, um jogador a mais que os que há
4.4 O jogo na defesa na equipe adversária.
 Zona de adaptação: o objetivo é o equilíbrio
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila do espaço, rompendo (evitando), a todo
custo, a situação de progressão da bola.
 Zona proibitiva: é a zona central mais pró-
4.4.1 Características gerais xima do gol. Sempre deve estar ocupada.
 Zona preventiva: está nas laterais, é a de
A defesa é uma ação do jogador de oposi- menor ângulo de lançamento e à qual deve
ção ao ataque encaminhada para recuperar a bola ser forçada a equipe adversária, ainda que
e evitar o gol. Começa no momento em que se também devêssemos ocupá-la.
perde a posse da bola. Atualmente, é uma parte
do jogo que está adquirindo cada vez maior im- Outros conceitos importantes em quanto ao
portância e relevância. Também se centra na co- espaço defensivo são:
IdentIfIcação, caracterIzação e classIfIcação do jogo de handebol 43

linhas defensivas

Primeira linha
Segunda linha
Lateral Lateral
Central Terceira linha

fIgura 4.11: linhas defensivas no handebol.

Durante o jogo, os jogadores de campo atu-

C A
am conjuntamente e se relacionam entre as linhas
de jogo. Por exemplo, no sistema defensivo 6:0,
existem dois defensores centrais, dois laterais, dois
E
D extremos (pontas), unidos, em todo caso, em co-
F
laboração com o goleiro.

fIgura 12: Distribuição dos espaços defensivos em re- C


B A

lação à profundidade e à largura.

D F
 Largura: distinguindo-se uma zona central,
duas laterais e duas externas.
 Profundidade: refere-se ao distanciamento
da área de meta, distinguindo-se em uma
zona de tiro próxima (até 8 m) e uma fIgura 13: Distribuição dos jogadores em sistema de-
zona de tiro afastada (até 14 m). Em ge- fensivo 6:0 contra o ataque 3:3.
ral, considera-se que as defesas podem ter
três linhas ou barreiras para confrontar o
ataque. As linhas se contam a partir da li- 4.4.2 Fases e formas de jogo
nha de gol. A primeira linha próxima aos
6 metros, a segunda, entre 7 e 9 metros e a Em defesa, podemos distinguir diferentes
terceira, entre 8 e 10 metros. comportamentos quando o adversário direto do
44 Manual de handebol

defensor possui ou não a bola. No primeiro caso,  Defesa em zona: o defensor responsabiliza-
o defensor deverá evitar o lançamento, tentando o se por uma zona e do atacante que nela se
bloqueio da bola ou tomá-la, evitando a progres- encontra.
são do atacante. No segundo caso, deve-se vigiá-  Defesa individual: o defensor responsabili-
lo, dissuadi-lo para que não receba a bola, colocá- za-se do jogador que se emparelha de for-
lo em situação de pressão para que, caso a receba, ma constante no jogo defensivo.
não tenha opções de passe ou finta.
As fases da ação defensiva podem-se consi-
derar como:

 Fase de recuperação: imediatamente depois


de perder a bola, tentando recuperar a si-
tuação defensiva o mais rápido possível,
ainda que seja em zonas de ataque.
 Fase de temporalização: já no meio campo,
com o objetivo de resguardar a zona central
da defesa.
 Fase de organização defensiva: busca-se fIgura 4.14 – Defesa individual.
o equilíbrio dos jogadores, que passam a
ocupar os postos específicos na defesa.  Defesa mista: é uma combinação das op-
 Fase de desenvolvimento do sistema defensivo: os ções anteriores nas quais uns jogadores de-
jogadores dispõem-se a executar os meios tá- fendem individualmente e outros em zona.
ticos específicos do sistema de jogo definido.

Durante o jogo, a ação defensiva pode dife-


renciar-se em:

 Balance defensivo: fase na qual se tenta difi-


cultar o contra-ataque e formar a defesa no
menor tempo possível.
 Defesa estabelecida: na qual se tenta exe-
cutar (efetivar) os objetivos básicos do
jogo defensivo. Pode desenvolver-se de
três formas: fIgura 4.15 – Defesa mista.
Identificação, caracterização e classificação do jogo de handebol 45

4.4.3 Fundamentos técnico-táticos do 4.4.4 Meios básico-táticos coletivos em


jogador em defesa defesa

Cada jogador em defesa tem alguns objeti- O jogo defensivo solicita dos jogadores da
vos básicos ligados estreitamente aos fundamen- equipe uma ação comum e plural para conseguir
tos defensivos, como: êxito. Sem dúvida, sem uma boa colaboração e
uma atitude positiva com o jogo defensivo, é di-
 dominar os deslocamentos defensivos (des- fícil obter o objetivo. Entre os meios coletivos, de
locamentos); grupo ou grupais, que o jogador deve dominar,
 desenvolver a posição e a atitude defensiva encontram-se:
(posição básica);
 efetivar sua responsabilidade de marcação  basculações;
sobre o oponente que lhe corresponde;  dobras (2x1);
 atuar sobre o jogador sem bola (dissuasão,  troca de oponentes;
interceptação, pressão);  deslocamentos;
 atuar sobre o jogador com bola (bloqueio  contrabloqueios etc.
do lançamento, toma da bola, evitar a
progressão);
 colaborar com os companheiros na defesa
(fechar os espaços, cobertura, ajuda, dobra).

Referências
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10 Ribeiro, A. P.; Ribeiro, M. A. Surgimento e
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23 Coronado, J. F. O. Curso de Solidariedade
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14 ______. Modelação tática do jogo de futebol: es-
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17 Greco, P. J. Métodos de ensino – aprendi-


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2001. p. 48-72.
caracterIzação do PerfIl físIco-Motor do atleta de handebol 47

Parte II
Perfil motor do atleta
de handebol
Rudney Uezu

Caracterização do perfil Físico-motor


5 do atleta de handebol

Os aspectos de constituição corporal (biotipo- nas categorias júnior e adulto. Por meio da análise
logia, somatotipologia, entre outros) e de aptidão das informações deste quadro, observa-se que a
física influenciam diretamente o desempenho espor- maioria dos estudos buscou descrever o padrão an-
tivo nas diferentes modalidades esportivas. As carac- tropométrico dos atletas participantes de diversas
terísticas específicas em relação ao tipo de solicita- competições nacionais, e o somatotipo foi a estraté-
ções de cada modalidade, suas regras e especificidade gia mais utilizada para a descrição do perfil corporal
dos contextos ambientais parecem determinar um do atleta de handebol, sendo que o predomínio da
padrão corporal mais adequado para que os atletas mesomsorfia foi evidente em todas as investigações.
obtenham cada vez mais melhores rendimentos. Entretanto, ao se considerar as características
Assim, a observação de padrões de referên- antropométricas e de aptidão física para tentar
cia específicos em função da modalidade espor- encontrar diferenças significativas entre atletas de
tiva representa um aspecto que pode auxiliar na níveis competitivos distintos, não foi encontrada
formação das futuras gerações esportivas. Ao se uma tendência de determinadas variáveis, ou seja,
identificar um perfil específico de características as características relevantes na diferenciação entre
de constituição corporal e aptidão física de atletas os grupo variavam conforme a amostra adotada.
de diferentes modalidades esportivas, os técnicos Com relação a aspectos fisiológicos relacio-
esportivos teriam um banco de dados para auxi- nados à prática do handebol, os estudos de Eleno,
liar em sua prática profissional. Barela e Kokubun1 e Barbosa e Oliveira2 sugeri-
Nesse sentido, a comparação dos jovens atle- ram que componentes aeróbicos e anaeróbicos
tas com padrões específicos podem representar são relevantes para o desempenho no handebol,
um aspecto relevante na identificação e promoção fato evidenciado empiricamente no trabalho de
de talentos esportivos no handebol, na planifica- Paes Neto,3 que encontrou frequência cardíaca
ção do processo de treinamento, na adaptação das média entre 158 e 167 durante jogos oficiais.
cargas de treinamento, entre outros fatores. Um aspecto que chama a atenção se refere à
O Quadro 5.1 apresenta os trabalhos de inves- predominância de investigações que analisaram atle-
tigação que buscaram descrever aspectos antropo- tas do sexo masculino, fato que sugere a necessidade
métricos e de aptidão física em atletas de handebol e relevância de estudos com atletas do sexo feminino.
50 Manual de Handebol

Quadro 5.1 – Resumo dos estudos com atletas das categorias júnior e adulto
Autor Objetivo Conclusões
Verificar a influência do handebol na aptidão Aumentos na força de preensão manual e nos períme-
André4
física. tros de braço e antebraço.
Analisar o somatotipo de atletas da Taça Brasil Perfil mesomorfo balanceado, não sendo encontradas
Profeta5
de clubes e seleção brasileira júnior masculina. diferenças significativas entre os postos específicos.
Pires Neto,6 Descrição de características antropométricas Elaboração de padrões de referência e sugestão de no-
Pires Neto e Profeta7 da seleção brasileira júnior masculino. vas investigações.
Analisar o somatotipo de universitários das re- Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas diferenças
Silva8
giões Norte, Nordeste e Centro-sul do Brasil. significativas entre as posições de jogo e região geográfica.
Analisar o somatotipo de atletas da primeira
Maia9 Predominância mesomórfica.
divisão portuguesa.
Descrever o somatotipo e a composição cor- Predominância endo-mesomórfica em todos os postos
Gonçalves e
poral de participantes dos jogos abertos pa- específicos e não foram encontradas diferenças signifi-
Dourado10
ranaenses. cativas na composição corporal.
Gonçalves, Osiec, Determinar o perfil cineantropométrico da Perfil endomesomórfico, não sendo encontradas dife-
Tsuneta e Zamberlan seleção brasileira feminina de 1989.
11
renças significativas entre os postos específicos.
Valores superiores dos atletas em todas as característi-
Araújo, Comparação de aspectos cineantropométricos cas e sugestão de importância das variáveis na seguinte
Andrade e Matsudo12 de universitários com a média populacional. ordem: força de membros superiores, inferiores e ab-
dominal, potência aeróbica e agilidade.
Os melhores atletas do campeonato apresentaram
Comparação do perfil morfológico de atletas maiores valores em relação aos demais atletas, espe-
Glaner13 participantes do x jogos Pan-Americanos por cialmente na estatura, envergadura, comprimento de
posto específico. membros inferiores e menores valores de percentual
de gordura e massa corporal magra.
Determinação da intensidade de esforço a partir Caracterização do esforço como misto aeróbico-anae-
Paes Neto3 da frequência cardíaca em atletas do sexo mas- róbico com a média da frequência cardíaca entre 157
culino participantes do Jogos Regionais de SP. a 168 durante três jogos oficiais.
Gorostiaga, Verificar as diferenças na antropometria e ap- Identificação de valores superiores dos atletas profissio-
Granados, Ibañes e tidão física entre atletas profissionais e ama- nais na massa corporal, massa magra, potência muscu-
Izquierdo14 dores da segunda divisão da Liga Espanhola. lar, potência de arremesso parado e apos a progressão.
Vasques, Os atletas das equipes melhores classificadas apresen-
Comparação morfológica de atletas partici-
Antunes, taram valores superiores na na estatura, envergadura,
pantes dos Jogos Abertos de SC.
Duarte e Lopes15 altura troncocefálica e diâmetro palmar.
Caracterização dermatoglífica, somatotípica, Somatotipo mesomorfo balanceado, limiar ventilató-
Cunha Junior, Cunha,
fisiológica e psicológicas de atletas da seleção rio a 90% do consumo máximo de oxigênio e tempe-
Schneider e Dantas16
feminina adulta. ramento sanguíneo.
Os atletas da seleção do torneio não apresentaram per-
Caracterização antropométrica de atletas da
fil antropométrico conforme sugerido pela literatura,
Bezerra e Simão17 Taça Amazônica adulto masculino e compa-
com exceção dos extremas esquerda e direita e arma-
rar os valores com a seleção do torneio.
dor central no percentual de gordura.
continua
Caracterização do perfil Físico-motor do atleta de handebol 51

continuação

Autor Objetivo Conclusões


Os extremas apresentaram valores inferiores nas carac-
Caracterização antropométrica de atletas da
Vasques, Mafra, terísticas (massa corporal, comprimentos, diâmetros e
Liga Petrobrás 2006 e comparar as equipes
Gomes, Fróes e Lopes18 perímetros), e os goleiros apresentaram maior percen-
conforme sua classificação
tual de gordura corporal.
Caracterização antropométrica e do somatoti- Somatotipo meso-ectomorfo e baixo percentual de
Pelegrini e Silva19
po da seleção júnior masculina. gordura (9,98%).

O Quadro 5.2 apresenta os trabalhos de in- pométricos e de aptidão física em atletas de han-
vestigação que buscaram descrever aspectos antro- debol nas categorias de base.

Quadro 5.2 – Resumo dos estudos com atletas das categorias de base
Autor Objetivo Conclusões
Analisar características antropométricas e de Identificação da estatura, altura troncocefálica, peso e
Gaya, Cardoso,
aptidão física de atletas participantes dos Jo- resistência abdominal como características relevantes
Torres e Siqueira20
gos da Juventude. para o handebol.
Szmurchrowski; Avaliar a aptidão física de participantes dos Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel21 Jogos da Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Avaliar características antropométricas de partici- Estabeleceram padrões de referência nas medidas con-
Menzel22
pantes dos Jogos da Juventude de ambos os sexos. sideradas.
Identificação do peso, estatura, agilidade, velocidade
Acompanhar a estabilidade de características e potencia aeróbica como variáveis que apresentaram
Raso, França e
antropométricas e de aptidão física de jovens estabilidade, e, por esse fato, os autores sugeriram que
Matsudo23
atletas do sexo feminino. o talento no handebol feminino pode ser predito a
partir de idades precoces.
Determinação de valores da potência aeróbica, limiar de
Avaliar aspectos metabólicos de atletas france-
Rannou 24
lactato e potência anaeróbica, com destaque para a rele-
ses do sexo masculino.
vância do componente anaeróbico para o handebol.
O drible não representou sobrecarga fisiológica adi-
Avaliar a frequência cardíaca e o lactato san-
Eleno e Kokubun 25
cional ao deslocamento, independentemente do nível
guíneo durante a execução do drible.
competitivo.
Os extremas apresentaram menor estatura, perímetro
Comparação do perfil morfológico em fun- de antebraço, massa corporal e massa corporal magra.
Vasques, Antunes,
ção dos postos específicos ofensivos e defensi- Já nos postos defensivos, foram observados aumentos
Silva e Lopes26
vos de atletas juvenis de SC. nas variáveis quando os atletas atuam nas regiões cen-
trais da quadra (posição 3).
Críticas à utilização das características consideradas
Lidor, Falk, Verificar a importância das características mo- na comparação de níveis competitivos diferentes, e
Arnon, Cohen toras, físicas e técnicas na formação de jovens os autores ressaltaram a necessidade de procedimento
e Segal27 talentos de 13 e 14 anos do sexo masculino. com maior validade ecológica e considerar o nível de
maturação biológica dos jovens atletas.
continua
52 Manual de Handebol

continuação

Autor Objetivo Conclusões


Valorização de um perfil antropométrico em função
Farto, Perez e Analisar características antropométricas de
do posto específico, com a necessidade de pivôs e late-
Alvarez28 atletas cadetes masculino portugueses.
rais altos, sendo os extremas os jogadores mais baixos.
Verificar quais características antropométri-
Identificação da estatura como fator mais relevante,
Uezu, Paes, cas, de aptidão física e nível de conhecimento
porém em combinação com a força de membros infe-
Böhme e Massa29 tático poderiam discriminar atletas federados
riores, inferiores e agilidade.
de escolares na categoria infantil masculino.

Os estudos realizados com atletas das cate- indicaram que os jogadores da seleção do campe-
gorias de base buscaram identificar característi- onato (189,51 ± 6,38) eram mais altos do que a
cas antropométricas e de aptidão física relevantes média das equipes (184,42 ± 6,78).
para o handebol, assim como uma caracterização Foram verificados valores de estatura acima
geral e em função dos postos específicos. da média tanto na escola (valor máximo de 182
Lidor et al.27 criticaram a maneira como as cm) quanto no clube (valor máximo de 187,50
medidas antropométricas vêm sendo utilizadas e cm). Em relação aos valores mínimos, o escore
reforçaram a necessidade de procedimentos com apresentado pelo clube (154,40 cm) foi inferior
maior validade ecológica, destacando a importân- ao da escola (155,60 cm), ou seja, o menor atle-
cia dos aspectos de maturação biológica e sua in- ta da escola era maior do que o menor atleta do
fluência nos resultados encontrados. clube. Esse fato questiona a afirmação de que a es-
Já Uezu et al.29 destacaram a importância de tatura representa um fator relevante na seleção de
procedimentos multidisciplinares para o entendi- jovens para o esporte de rendimento, uma vez que
mento dos fatores que podem discriminar jovens a média do clube foi significativamente diferente.
atletas de níveis competitivos diferentes, ao com- Ao analisar sua amostra, foram encontrados
parar atletas federados com escolares que disputa- atletas na escola com estatura mais elevada quan-
vam competições escolares oficiais. do comparados aos atletas federados. Porém, pa-
Os federados eram mais altos do que os esco- rece que a estatura considerada de maneira isolada
lares, o que pode sugerir que, quanto maior o ní- pode levar a tomadas de decisão equivocadas ao
vel competitivo, maior a estatura dos atletas. Esses padronizar um perfil dessa variável na seleção de
resultados corroboram Glaner,13 que realizou um seus praticantes.
estudo com 96 atletas adultos que disputaram um Já a análise do somatotipo classificou os
campeonato pan-americano de seleções e compa- federados como ectomesomorfos (3,25 – 4,42 –
rou a média das equipes com os valores dos atletas 3,79) e os escolares como endomesomorfos (3,37
considerados os melhores da competição, ou seja, – 5,07 – 3,14), ou seja, com características corpo-
a seleção do campeonato. Os resultados obtidos rais diferenciadas quando observado o conjunto.
Caracterização do perfil Físico-motor do atleta de handebol 53

Nesse sentido, quando as características dos in- podem ser compensados por outras variáveis de
divíduos foram analisadas de forma isolada, não maneira individual ou integrada.
foram encontradas diferenças significativas; en- Por se tratar de um esporte coletivo, existe
tretanto, quando ao se analisar maneira integra- ainda um agravante referente ao ajuste dos dife-
da, como no somatotipo, a constituição corporal rentes padrões de composição e comportamento
passou a ser diferente. para a montagem de uma equipe, que apresenta
Hoje, um dos grandes desafios dos pesquisa- a necessidade de uma interação entre as caracte-
dores da área do talento e desempenho esportivo rísticas pessoais para um desempenho individual,
e dos técnicos consiste a compreensão da natureza além da necessidade de integração com os outros
heterogênea do padrão apresentado por atletas de indivíduos que compõem o grupo.
alto desempenho esportivo, ao se considerar que
não existe necessariamente um padrão ideal, mas,
talvez, vários padrões ou até mesmo a inexistência
de um perfil, já que os atletas não apresentam ne-
cessariamente as mesmas características.
Nesse sentido, cabe ressaltar que grandes
atletas de handebol, como Vranjes, ou Swensson
(Suécia), Balic (Croácia), Duschebaiev (Rússia,
naturalizado espanhol posteriormente) e Richards-
son, ou Gille, ou Karabatic (França), Kehrmann,
Schwarzer, ou Lenz (Alemanha), entre outros
atletas, não apresentavam características físicas e
motoras acima da média encontrada em atletas de
handebol, porém sempre se destacaram por suas
atuações em competições internacionais, sendo
alguns deles considerados os melhores do mundo
em suas posições.
Acredita-se que, por mais que sejam enten-
didos os fatores que diferenciam níveis competi-
tivos diferentes na combinação das variáveis que
seriam relevantes, não apresentam um padrão en-
tre si, existindo, assim, várias composições indi-
viduais a partir de características individuais dis-
tintas. Escores individuais considerados inferiores
Francisco Seirul-lo

Preparação física aplicada aos esportes


6 coletivos: exemplo para o handebol

Apresenta-se, agora, uma filosofia inovadora da e com pouco grau de incerteza entre os parti-
sobre o treinamento nos esportes de equipe e nos cipantes.
esportes coletivos, incluindo o handebol. Trata- A seguir, apresenta-se uma revisão geral do
mos dos esportes de equipe, pois, até o presente que a corrente conductista tem aportado ou pode
momento, estes não tinham uma filosofia própria aportar ao esporte, para, assim, a partir dessa
para o treinamento das capacidades físicas. Em base, criticá-las, oportunizando a construção de
geral, procedia-se a uma adaptação dos conceitos um modelo alternativo sobre outra base teórica
utilizados nos esportes individuais. A seguir, será (cognitivismo).
demonstrada a diferença existente entre os mode-
los de treinamentos que devem e têm de existir,
basicamente, em virtude de dois conceitos fun- 6.1 O treinamento esportivo com base
damentais que diferenciam ambas as formas de no conductismo
modalidades esportivas:
Até os anos 1980, o sujeito tem sido con-
 Interação grupal; siderado como uma globalidade composta por
 Incerteza espacial. partes. Assim, cada disciplina atuava por conta
própria e não existia quase comunicação entre
Até hoje, a filosofia de treinamento utiliza- elas, ou seja, na prática não existia globalidade.
da era aquela que tinha como referencial as te- Aportavam-se conhecimentos do ponto de vista
orias conductistas, behavioristas, provavelmente das “pluridisciplinas”; seguidamente, encontra-se
porque as primeiras disciplinas que estudaram o a “interdisciplinariedade”, que é a fonte de ori-
fenômeno esportivo (Psicologia, Pedagogia, Teo- gem do problema de que não somos capazes de
logia etc.) se fundamentavam no conductismo. As ver mais longe, além de nossos horizontes, pen-
características específicas dessa teoria psicológica sando na possibilidade de aparição de novas áreas.
que servem para avaliar os fenômenos esporti- O conductismo remete a um tipo de esporte
vos são adequadas para modalidades nas quais se que está altamente organizado e que solicita o es-
apresenta uma situação estável, claramente defini- tabelecimento de um modelo ideal de jogo. Nes-
56 Manual de Handebol

sa concepção, o treinamento global de um esporte  é válido para os esportes em que o entor-


se entende como treinamento físico, técnico, táti- no apresenta-se estável e os elementos que
co e psicológico. Todo o problema do treinamen- o compõem não contam ou apresentam
to está atomizado em distintas áreas concretas pouca interação;
(pluridisciplinariedade). Como consequência, no  predominam nos jogadores as motivações
conductismo: extrínsecas: prêmios, dinheiro, reconhe-
cimento social etc. (imitar um modelo ini-
 observa-se o comportamento do esportista be a liberdade motriz do indivíduo);
e se avalia o que ele é capaz de fazer na si-  os modelos modificam-se de forma utópica;
tuação (conduta observada); quando um indivíduo quebra o modelo e
 criam-se situações concretas, bem defini- elabora outro mais pessoal, precisa ser, poste-
das, para realizar as observações (técnicas riormente, justificado cientificamente e cons-
de observação que, cumpridas pelo atleta, tituído como outro modelo a ser imitado.
apresentem fiabilidade científica);
 comprovam-se os tipos de comportamen- De tal forma, a aprendizagem conductista
tos que são mais úteis, aqueles que permi- consta no seguinte: segundo as últimas teorias
tem melhor rendimento (definem-se a efi- conductistas dos anos 1980, uma aprendizagem
ciência e, conforme o estímulo-resposta, se motriz consiste em se mudar da atitude ao hábito
tiram as conclusões); motriz. Como se muda? A chave é: repetição este-
 definem-se e se desenvolvem “técnicas” reotipada de movimentos, um estereótipo em que
para o atleta ser mais eficaz e obter o me- os parâmetros motrizes-espaciais-temporais se re-
lhor resultado nessas situações estáveis (en- petem exatamente igual. Assim, dessa repetição
sino por modelos); homogênea e invariável se muda de uma atitude
 o sujeito submete-se ao processo de apren- motriz para um hábito motriz. Na área da pre-
der essas técnicas (constrói-se um modelo paração física, o conductismo desencadeia uma
pedagógico para aprender mais rapidamente condição física específica:
e que permita, paralelamente, a estabilidade
e os resultados: progressões, reforços positi-  Elaboram-se exercícios analíticos para o
vos e reforço negativo, transferências etc.); desenvolvimento dos grupos musculares
 o homem adapta-se ao “modelo” construído que participam no modelo que é conheci-
segundo as necessidades do esporte e sua es- do pelo treinador;
pecialidade (adaptar as potencialidades);  Descrevem-se os exercícios e a situação em
 conduz a “modelos” preestabelecidos que que se deve praticar, e o esportista os exe-
exigem e solicitam a adaptação do atleta; cuta. A modificação dos exercícios realiza-
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 57

se em função da situação: diferentes exercí- mente ao resultado final, aparecem as teorias


cios, diferentes formas de aplicação; cognitivas, preocupadas com os processos que de-
 Constata-se o progresso na qualidade com correm dentro do indivíduo para que este consiga
que se realiza o exercício, aplicando-se testes reproduzir o modelo necessário à ação esportiva,
de controle (observa-se a conduta). Avaliam- um modelo mais situacionalmente pensado.
se, assim, aspectos concretos do modelo; Nas teorias cognitivas, o sujeito atua depen-
 Desenvolvem-se sistemas de treinamento dendo, isto é, relacionando com o que se sucede
válidos para determinada qualidade, que no seu entorno. As teorias cognitivas, portanto,
se aplicam indiscriminadamente a todos os permitem analisar como o indivíduo processa a
esportistas que necessitem dessa qualidade informação que se reflete do ambiente e da tarefa
em seu modelo; a realizar.
 Cada treinador tem seu “método”, apoiado A isso se agrega e se relaciona o estrutura-
em sua própria interpretação do modelo da lismo, que nos diz que a inteligência humana se
técnica, e o esportista deve adaptar-se a ele; constitui de uma estrutura composta por uma sé-
 A evolução do treinamento está em relação rie de fatores, e a modificação de um deles altera
com as formas em que o esportista pode se todos os outros, fazendo que o efeito que se dese-
adaptar em maior ou menor medida. java não se apresente de forma isolada, mas como
outro mais global. O próprio indivíduo pode se
O maior problema desse modelo é que ele so- autoestruturar para fazer que aquilo que antes
mente é perfeito caso, nessa modalidade esportiva, possuía determinado significado tenha, agora, um
o ambiente não mude, não varie e seja constante, significado diferente.
e se os elementos não interagem entre si. Portan- Por isso, a aprendizagem cognitiva é mais
to, quanto mais aportes das ciências ocorram, mais adequada do que a conductista no que se refere
difíceis apresentam-se as alternativas de determina- à aprendizagem dos diferentes movimentos que
ção do modelo. Ou seja, nos esportes de equipe, os compõem a técnica dos esportes de equipe, apre-
modelos conductistas não são válidos sentando-se com maior validade.

6.2 O treinamento esportivo com 6.2.1 Características do cognitivismo


base em uma concepção cogni-
tiva: novas alternativas  Interessa-se pelo que sucede no interior do
esportista depois de analisar as condições
Contrapondo-se ao conductismo com base do ambiente em que ele deve realizar sua
nos princípios estímulo-resposta, que visam so- atividade competitiva: como processa a in-
58 Manual de Handebol

formação, o que observa do oponente, do  Predominam nos atletas as motivações in-


espaço, suas motivações, como se relaciona trínsecas: a satisfação pessoal pela tarefa
com o objeto de jogo etc. bem realizada, afinco de investigar o que se
 Modificando a organização dos acon- passa, a autoestima etc. Essas motivações
tecimentos e as situações do ambiente, são mais perduráveis do que as extrínsecas
estimula-se o esportista a elaborar novos e produzem outro tipo de fenômenos na
comportamentos, que são o produto da personalidade.
interpretação pessoal daqueles aconteci-  As relações professor-aluno, treinador-
mentos (não são situações padronizadas esportista permitem obter resultados da
nem comportamentos homogêneos). pessoa que compete e não do modelo de
 O que se tenta melhorar é a interpre- competição em que se joga.
tação do sujeito, para que isso ocasione  O esportista vai se autoformando nessa
a modificação da conduta externa (não determinada especialidade segundo seus
se centra no produto, mas no processo, próprios interesses e não como o treinador
para conseguir uma maior disponibilida- entende que deve ser.
de motora).
 Conseguem-se atitudes motrizes que são Conforme colocado, no handebol é funda-
“esquemas motores”, aplicáveis a situa- mental procurar por uma forma de preparação
ções variáveis, não adquirindo modelos física integrada, globalizada, pois não se melhora
estereotipados de conduta. Assim, cria- apenas uma única capacidade condicional, coor-
se uma motricidade mais coerente com a denativa ou cognitiva. Quando a treinamos, deve-
situação interpretada. se relacioná-la com as outras capacidades, ao invés
 A evolução da aprendizagem está centrada de treiná-la isoladamente.
na capacidade que o esportista tem para
analisar sinais do ambiente, saber inter-
pretá-las e tomar decisões motrizes varia- 6.2.2 Construção do modelo de treina-
das, sendo estas cada vez mais ajustadas à mento cognitivista
suas necessidades e interesses particulares.
 Deve-se ter em conta muito mais as neces- Apresenta-se a necessidade de otimizar
sidades do esportista, pois a pessoa é prio- as capacidades de rendimento que o esportista
ritária à atividade desportiva. possui, porém considerando a estrutura hu-
 É mais válido para os esportes em que as mana de forma homogênea. Por isso, temos de
situações de competição não são estáveis e diferenciar, no modelo cognitivo, os seguintes
apresenta-se grande interação. fatores:
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 59

Cognitivas Ao se elaborar determinado modelo com


Capacidades psicológicas
determinada estrutura, ou seja, quando se modi-
ficam aspectos condicionais, deve-se considerar
Condicionais Coordenativas
Coordenação Força que também se modificam os componentes co-
Resistência Velocidade Diferente orientação espacial
Flexibilidade ordenativos e cognitivos. É necessário conhecer
os diferentes parâmetros que constituem cada
Tarefa Gesto elemento condicional, coordenativo e cognitivo.
Trabalho Movimento O preparador físico de uma equipe tem de saber
como potencializar os fenômenos condicionais,
Figura 6.1 – Fatores que diferenciam o modelo cogni- porém nunca se esquecer dos outros dois (coor-
tivo de treinamento. denativos e cognitivos). O treinamento terá uma
estrutura conforme a Figura 6.3:

Condicional Coordenativo
Condicional

Cognitivo
Coordenativo/Cognitivo

Figura 6.2 – Interação das estruturas que compõem o Figura 6.3 – Estrutura do treinamento no modelo
modelo cognitivo de treinamento. cognitivo.

Portanto, sempre que se tenha intenção de Isso significa que metade ou mais da metade
enfatizar um aspecto qualquer – seja condicional, da necessidade de treinamento tem de estar cen-
coordenativo ou cognitivo –, não se pode se es- trada no aspecto condicional, porém sem se es-
quecer de trabalhar de forma homogênea com os quecer da parte coordenativa e da cognitiva.
outros dois aspectos. Nas fases iniciais de uma atividade de aper-
Fundamental, e mais importante no pro- feiçoamento da condição física, teria de ser algo
cesso dessa concepção, para estruturar o treina- como na Figura 6.4:
mento, consiste na necessidade de coerência entre
Coordenativo
os três elementos anteriormente citados. Nesse
aspecto é que reside, na realidade, o grande pro-
blema da transferência que existia nos modelos
Condicional/Cognitivo
conductistas, pois não se consideravam as inte-
rações dos três elementos fundamentais do jogo: Figura 6.4 – Sequência inicial de treinamento para o
condicional, coordenativo, cognitivo. aperfeiçoamento da condição física.
60 Manual de Handebol

continuação
Ao longo do processo de treinamento, mo-
Quantidade de quilos deslocados
dificar-se-ão em distintas proporcionalidades de Aspectos de
Situação em relação à carga geral
acordo com cada caso, mas sempre combinando sobrecarga

os três componentes, já que são o fundamento Forma de contato

dessa estrutura, que é a estrutura complexa dos Número de Repetições

sistemas de treinamento. Por isso, é muito im- Condições tentativas Séries


quantita-
portante que o preparador físico e o treinador, ao
tivas de Micropausa (-2 s)
tratar de terminologia conductista, sintonizem tempo de
Pausa Macropausa (+2 s)
prática
com essa mesma forma de entender a preparação
Sem pausa
física dos esportes de equipe, porque, do contrá-
rio, o treinador estará, continuamente, alegando
que o preparador físico se intromete em assuntos b) Melhorar as capacidades coordenativas:
que não são exclusivamente do campo físico, e
isto é totalmente negativo. Portanto, a filosofia do Tabela 6.2 – Como melhorar as capacidades co-
treinador e do preparador físico tem de coincidir ordenativas, segundo abordagem cognitivista do
com a Teoria Cognitivista. treinamento
Nuances (mais forte, mais fraco,
mais rápido, mais devagar etc.)
Variações na execução Amplitude (encadeados, não en-
6.2.2.1 Elementos a ter em conta para do movimento cadeados etc.)
Simetrização (localização quanto
ao eixo corporal)
a) Melhorar as capacidades condicionais:
Sucessivos
Combinação de
Alternados
movimentos
Tabela 6.1 – Elementos que compõem a melhora das Simétricos

capacidades condicionais na abordagem cognitivista Orientação


Variações espaciais
Naturais Direcionados
na execução
Móveis
Recursos Instrumentais
do am- Próprio corpo Antecipação
Variações temporais
biente Adaptação
Lugar na execução
Variações de ritmo
Grupo de treinamento
Por excesso de informação
Tipo de contração Tarefas em estado
Caracte- Cansaço fisiológico
de fadiga
rísticas da Número de grupos musculares Acúmulo de tarefas
atividade Ângulo e localização
muscular
Velocidade de contração
continua
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 61

6.3 Treinamento da força  Localizar as investigações e a avaliação.


 Primeiro nível – força geral

6.3.1 Níveis de aproximação Quadro 6.2 – Detalhes do primeiro nível de trei-


namento de força (força geral)
Para fazer que uma capacidade básica (força)  Instrumentos não similares
aos do jogo
seja aplicada pelo jogador naquilo que ele quer
Recursos do
 Próprio corpo
(por exemplo: lançamento em suspensão), o joga- ambiente
 Lugar não específico
dor deve ter passado por uma série de fases, cujo
 Grupos variados
processo denominaremos a seguir.
 Todo tipo de contrações
Caracte-
 Todos os grupos musculares
rísticas da
contração  0% de trabalho semelhante
Tarefa:
6.3.1.1 Distintos níveis de aproximação muscular
trabalho  Distintas velocidades de
de carga contração
Qualidade básica Efeito específico
 Peso (kg) de acordo com as
possibilidades pessoais
Figura 6.5 – Níveis de aproximação. Aspectos de
sobrecarga  Variadas colocações da C.G.

 Formas de contato semelhante


Existem quatro níveis de aproximação que
 Nº de tentativas segundo as
permitirão, no momento da planificação, progra-
Condições possibilidades pessoais
mar e organizar: Quantitativas  Pausas variadas segundo
necessidade dos sistemas

Quadro 6.1 – Níveis de aproximação da força no Gesto: mo- Variações na  Amplitude


vimento execução
plano de treino  Simetrização

Força Força Força Força de  Sucessivas uniões, específi-


Combinação
Geral Específica Dirigida Competição cas e não específicas
de Movi-
Coor- mentos  Movimentos simultâneos
denação específicos e não específicos
Em cada nível de aproximação, dão-se as  Equipamentos distintos
Variações
três categorias de força do handebol: força de luta, espaciais  Modificações na orientação
força de salto e força de lançamento. Esses níveis
de aproximação permitirão: Os exercícios gerais podem ser:
 compensatórios;
 Desenvolver os aspectos, condicionais e co-  orientados;
ordenativos  não orientados (atividades coordenativas
 Alcançar estados de forma não próprias ao esporte praticado).
62 Manual de Handebol

 Segundo nível – força dirigida Os exercícios dirigidos podem ser:


 de ação indireta (somente combinam um
Permite melhorar o rendimento da ação téc- elemento coordenativo e um condicional);
nico-táctica geral da capacidade.  de ação direta (combinam vários);
 de situação parcializada (criamos uma situ-
Quadro 6.3 – Detalhes do segundo nível de trei- ação que simula uma situação real de jogo).
namento de força (força dirigida).
 Instrumentos parecidos  Terceiro nível – força especial
Recursos do
 Lugares específicos
ambiente
 Grupo estável

 Contrações parecidas
Quadro 6.4 – Detalhes do terceiro nível de treina-
Caracte-
 Grupos musculares prota- mento de força (força especial)
rísticas da
gonistas da ação Recursos do  Instrumentos desenhados
contração
 0% de trabalho parecido ambiente  Lugares específicos de prática
Tarefa: muscular
 Velocidades similares
trabalho Caracte-  Contrações idênticas
da carga  Peso (kg) de acordo com as rísticas da  Grupos específicos
Aspectos
necessidades do gesto contração  Objetos idênticos reforçados
de sobre-
 Colocação ajustada da C.G. muscular  Velocidade específica
carga
 Formas de contato adequadas Tarefa:
trabalho  Peso (kg) de acordo com a
Condições  Tentativas ajustadas às Aspectos de qualidade específica
com carga
quantita- necessidades do esporte sobrecarga  Colocação da C.G. idêntica
tivas do  Pausas ajustadas ao sistema  Contatos específicos
tempo de adaptação ao esporte
Condições
 Diferenciação  Recuperação conjugando
Variações quantita-
 Amplitude sistema e participação
na execução tivas do
 Simetrização (bilateralidade) específica
tempo
 Sucessivos específicos Variações  Complexidade aumentada
Combina-
 Simultâneos específicos na execução do nível 2 (força dirigida)
ção de mo-
 Alternativos específicos e
Gesto: vimentos Combina-
não específicos  Complexidade aumentada
movimento ção de mo-
 Equipamentos semelhantes do nível 2 (força dirigida)
e coordena- Gesto: vimentos
ção  Orientação preferencial (em
movimento e Variações
função da posição específica)  Variações rítmicas criativas
Variações coordenação espaciais e
 Variações no ritmo de  Antecipação
espaciais e temporais
execução (nos permite di-
temporais
ferenciação e bilateralidade Tarefas em  Por acumulação de tarefas
de uma vez) estado de específicas ou não específicas
 Adaptação a um ritmo fatiga  Cansaço fisiológico
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 63

Os exercícios especiais podem ser: Os exercícios competitivos podem ser:

 de variação espacial;  competitivos “especiais” (porque tem uma


 de controle tátil-cinestésico (relação entre sucessão de jogo que não se pode categori-
o tato e a cinestesia, aproveitando a força zar nas três categorias de força);
adversária para próprio benefício);  de ação “diferencial” (possibilidade de tro-
 de hiperestimulação setorial (relação força- car em maior ou menor rapidez os dese-
-peso do instrumento). nhos do jogo);
 de supercomplexidade tática.
 Quarto nível – força de competição

É aquele que tem de desenvolver, por sua 6.3.1.2 Aplicação prática do trabalho de força
vez, o preparador físico e o treinador, já que se
necessitam de componentes táticos. O quadro seguinte é um resumo dos distin-
tos trabalhos que devem ser realizados para chegar
Quadro 6.5 – Detalhes do quarto nível de treina- aos níveis de aproximação das diferentes manifes-
mento de força (força de competição) tações da força.
Tarefa, carga, Como os exercícios especiais, mas dificul-
trabalho tando as condições do ambiente.
Iguais às do terceiro nível, incluindo-se:
Gesto: fadiga por excesso de informação, que se
Movimento necessita para o jogo; dificuldade crescen-
coordenação te mesclando dois ou três fatores por vez
(combinação + tempo + espaço).

Quadro 6.6 – Detalhes dos distintos trabalhos de treinamento de força


Força Geral Dirigida Especial Competição
 Pull over
 Multilançamentos  Multilançamentos  Lançamentos específicos
 Variações de press
Lança-  Estáticos-Dinâmicos  Estático-Dinâmico  Distância
 Tríceps
mento  Apoio-suspensão  Apoio-Suspensão  Velocidade
 Munhecas
(2 kg + 2 mãos)  (2 mãos - 1 kg; 1 mão - 800 g)  Act. diferencial (400 g)
 Dedos
 Variações do squat  Multissaltos  Lançamentos em suspensão
Salto  1\2 squat + salto  Multissaltos  Encadeados + tarefas específicas  Saltos, bloqueios sucessivos
 Pliometria  Simultâneos + tarefas específicas  Modificação da trajetória
 Arrancada  Rosca  Exercícios de simulação com  Jogo específico:
 Dois tempos  Leves (-10 kg) sobrecarga (mais ou menos  Diferencia do princípio
Luta
 Giros em desloca-  Pesadas (-25 kg) 8-10 kg de acordo com o peso defesa-ataque
mento  Estático-dinâmico dos jogadores 10%-15% p.c)  Defender sucessivamente
64 Manual de Handebol

6.3.1.3 Uma aproximação da planificação do  Os que se encontram na parte final de


trabalho de força ao longo de uma temporada sua carreira esportiva eliminam o traba-
lho de força geral e de competição, re-
A distribuição do trabalho de força deve ser alizando um suporte de força dirigida e
feito em função da temporada e da equipe. Divide- específica exclusivamente.
se em meses todo o período competitivo, e cada mês
em semanas. Em função de como for a competição,
periodiza-se o trabalho de força, planificando dois 6.4 Treinamento da resistência
ou mais picos de forma ao longo da temporada.

6.4.1 Categorias de resistência


Planificação do Trabalho de Força

O trabalho de resistência que propomos está


construído igual a todo trabalho de força já visto.
Força Força Força Força A partir das necessidades específicas do jogador,
Geral Dirigida Específica Competição
desenvolvemos uma forma de treinamento que
satisfaça às necessidades energéticas necessárias
Figura 6.6 – Distribuição do trabalho de força. para um jogador de handebol em todas as catego-
Todo o trabalho de força estará relacionado rias e manifestações da resistência.
com o trabalho técnico-tático e em função dos sis- No Quadro 6.7, da escola italiana, vemos a
temas a serem utilizados, sobretudo os defensivos. denominação de diferentes categorias da capaci-
A força de competição se manifesta nos jo- dade ou potência de resistência, ou potência-ca-
gos desde o princípio da temporada, e isso é algo pacidade nessa sequência, e as condições em que
que se deve levar em conta. se manifesta:
O trabalho sempre se faz em função do jogador:
Quadro 6.7 – Denominação das diferentes cate-
 Os indivíduos que iniciam este tipo de tra- gorias da resistência
balho não devem trabalhar em treinamen- Via energética Potência Capacidade

tos da força de competição (que será visto De Repetições de 7 s ou


Anaeróbica alática
nas competições), somente um pouco de 0 a 7- 8 s de 7 a 15 s

força específica. Entre Repetições de 25 - 30 s


Anaeróbica lática
15 - 45 s ou de 45 s a 2 min
 Os que estão em pleno apogeu de sua car-
reira realizam todo tipo de trabalho de for- De Repetições de 3 min
Aeróbica
2 a 3 min ou mais de 15 min
ça nos treinamentos.
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 65

a) Ciclo anaeróbico alático quando se exige trabalhar a velocidade máxima


durante esses tempos, sucede esses tipos de re-
No trabalho puro de velocidade, da potência sistências, assim denominadas: com duas opções
anaeróbica alática, não se produz ácido lático, o anaeróbicas aláticas, duas opções anaeróbicas láti-
que acontece em condições de anaerobiose. Está- cas e duas opções aeróbicas.
-se no limite máximo de 7 a 8 s, obtendo-se a Isso foi pesquisado na escola italiana sobre
máxima velocidade de deslocamento. Quando fa- indivíduos que correm na máxima velocidade
zemos repetições nesse período, ou realizamos um possível. Entretanto, devemos imaginar que um
trabalho de duração entre 8 e 15 s (em indivíduos indivíduo, além de correr, move os braços, desloca
treinados; em jogadores não treinadores, seria de uma bola etc. Esses tempos devem se modificar
10 a 11 s) à velocidade máxima, estamos traba- ou reduzir. Por quê?
lhando no limite do trabalho alático. Esse método Em 15 a 20 s correndo, o trabalho é pura-
se denomina capacidade anaeróbica lática. mente anaeróbico alático; de 10 a 11 s é o limite
de capacidade anaeróbica alática, em que, fre-
b) Ciclo do acido lático quentemente, aparece entre 4,5 a 5 mmol de con-
centração de ácido lático. É a partir dessa taxa que
Entre 15 e 45 s, trabalhamos a potência ana- passamos a considerá-lo no âmbito de lactademia.
eróbica lática. Trabalha-se quase ao mesmo tempo Evidentemente, devemos estar por baixo, porque
da velocidade máxima. Acumula-se uma quan- o volume da atividade muscular que gera a prática
tidade de ácido lático no sangue. O trabalho de de handebol é muito mais do que somente correr,
capacidade anaeróbica lática se levará com séries já que ativamos os braços, realizamos trabalhos 1
repetidas de 25 a 30 s ou realizar trabalhos com x 1, deve-se saltar etc. Logo, o que foi investiga-
uma duração de 45 s a 2 min. Nesse tipo de traba- do sobre as atividades de corrida não valem para
lho, obteremos os picos de lactato mais elevados. esse esporte, mas apenas para determinar algumas
bases. Porém, os tempos de participação em cada
c) Ciclo aeróbico uma delas, para nós, sempre serão modificados
em função da atividade, já que há maior número
O período entre 2 a 3 min é o limiar final, de solicitação muscular.
quando aparece o limiar anaeróbico, chamado po- Assim, centrando-se no handebol, podemos
tência aeróbica. Quando realizamos séries de 2 a 3 dizer que o primeiro e o último dos grupos defi-
min, ou passamos de 4 a 5 min e até 15 min ou nidos anteriormente não existem, já que não reali-
mais, chamamos esse ciclo de capacidade aeróbica. zamos uma ação de 8 s ao máximo e não voltamos
Essa classificação dos distintos estados ener- a intervir até que se tenham passados 3 min, e,
géticos que suportam a participação do jogador, também, não podemos pensar que um jogador
66 Manual de Handebol

atuará a uma velocidade média durante mais de 6.4.2 Tipos de trabalho de resistência
15 min ou repetições de 3 min.
O jogador de handebol na competição está a) Capacidade anaeróbica alática
exposto a tempos de trabalho nos quais sua con-
centração de ácido lático aumenta muito, o que Quadro 6.8 – Trabalho de resistência para capaci-
dificulta a atividade motora. Nessa ação, entramos dade anaeróbica alática
com uma dívida. Entretanto, a capacidade anae- Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
róbica lática é necessária porque dependemos dos
 8 a 10 s (máxi-  Pode-se asso-  Gesto específico
momentos de participação, e se o oponente, por ma velocidade ciar ao tempo  Corrida de
sua vez, não tiver participado da ação anterior, ne- de execução - de trabalho recuperação
90% ou +) ou ao de recu-  Tarefa com-
cessariamente deve-se responder a níveis suficientes
 1 a 1min30s peração (mais plementar de
de oposição, luta etc. e suportar o trabalho lático, de recuperação aconselhável recuperação
ainda que não deseje. Necessitamos bastante da po- ativa para se centrar
 Nº de vezes em no elemento
tência como uma capacidade, mais a potência do função da posi- coordenativo
que a capacidade. ção específica durante o
e do momento trabalho)
Também devemos potencializar em um joga-
da temporada
dor, de preferência, a capacidade anaeróbica aláti-
ca, ou seja, podem-se repetir muitas vezes partici-
pações de 6 a 7 s com um alto nível de velocidade,
com tempos de trabalho e de pausa de forma quase 6.4.2.1 Estrutura condicional
nunca homogênea. Além disso, a potência anaeró-
bica servirá para ressintetizar mais rapidamente os Como temos visto, deve-se ampliar o tempo
resíduos láticos de uma atividade que se pode dar. de trabalho até 8 a 10 s, quase sempre ao topo, de
Na prática dos sistemas de treinamento de 90% a 100%, com uma recuperação máxima de
resistência, devemos planificar tipos de resistência 1min30s. Nessas condições, a PC (fosfocreatina),
anaeróbica alática, componente lático e, também, que é o substrato orgânico que permite trabalho
potência aeróbica, que é o oxigênio de que se necessi- alático, regenera-se em 80% do que fora gasto em
ta para manter uma prática anaeróbica lática, que é nível muscular, segundo os grupos musculares
o metabolismo que prevalece nesta prática esportiva que participam. Assim, asseguramos o trabalho
sobre o resto. Para resumir, deve-se desenvolver: seguinte neste âmbito metabólico. O número de
repetições variará em função da posição específica,
 sistemas de capacidade anaeróbica alática. do peso do jogador e do momento da temporada.
 potência e capacidade lática. Não depende de nenhum dos sistemas tradicio-
 potência aeróbica. nais de treinamento, mas do que foi exposto anterior-
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 67

mente, já que cada posição específica solicitará mais o 6.4.2.4 Estrutura condicional
trabalho de alguns grupos musculares concretos para
essa posição específica; no entanto, o momento da tem- A potência anaeróbica lática melhora a
porada em que nos encontramos também é decisivo. condição das enzimas glicolíticas dos grupos
musculares que participam, sobretudo das per-
nas. Essas enzimas favorecem a destruição do
6.4.2.2 Estrutura coordenativa ácido lático.
As ações que faremos serão mais específicas e
Consiste em realizar sempre o gesto específico deverão fazer-se na mais alta velocidade possível.
durante o trabalho. Durante o tempo de recupera- Desse modo, estaremos, continuamente, media-
ção ativa, existem duas opções: realizar corrida de dos pela estrutura coordenativa.
recuperação ou uma tarefa complementar, poden- Entre 20 e 35 s, à máxima velocidade, deve-
do ser o quique da bola, passes em duplas etc. -se realizar não mais que 4 a 8 repetições, com re-
cuperações entre 4 a 5 min. Esse tipo de trabalho
suporta altas concentrações de ácido lático: de 6,5
6.4.2.3 Componente cognitivo a 8 mmol/mL.

Neste sistema, o componente cognitivo é asso-


ciado tanto ao trabalho quanto ao tempo de recupe- 6.4.2.5 Estrutura coordenativa
ração ativa. De preferência, deve-se fazê-lo no tempo
de recuperação ativa e menos durante o trabalho, já Passará progressivamente de tarefas inespecí-
que este é um sistema no qual devemos localizar, ficas à específicas. Não se pode chegar a uma alta
fundamentalmente, o gesto coordenativo específico. velocidade específica se não se dispõem do gesto
coordenativo específico.
b) Potência anaeróbica lática Devem-se levar sempre tarefas conhecidas
pelos jogadores para poder realizá-las na máxima
Quadro 6.9 – Trabalho de potência anaeróbica lática velocidade, do contrário, não se estaria trabalhan-
Estrutura Componente Estrutura do a potência anaeróbica lática. A recuperação se
condicional cognitivo coordenativa
realizará sempre de forma ativa.
 Ações na maior velo-  De pouco  Passar de
cidade possível significado tarefas
 Tempo de execução: 20 inespecíficas
a 35 s a tarefas
6.4.2.6 Componente cognitivo
 Repetições: de 4 a 8 específicas,
 Recuperação: 4 a 5 min progressiva-
 Ativa mente. De pouco significado.
68 Manual de Handebol

c) Capacidade anaeróbica lática Velocidade alta, com 1 a 2 min. Realizam-se


de 2 a 6 repetições com recuperação suficiente, de
Quadro 6.10 – Trabalho de capacidade anaeró- mais de 6 min. Nesse primeiro nível, já se deve
bica lática criar a capacidade de tamponar a acidose meta-
Estrutura Componente Estrutura bólica para que, durante o treinamento específico
condicional cognitivo coordenativa
A: De pouca Componentes
da temporada, já se tenham os recursos metabóli-
 Alta velocidade relevância. Se específicos, de cos suficientes para suportar esse tipo de trabalho.
 Tempo de execução: fizermos inter- menos a mais,
Um dos erros mais cometidos na preparação física
1 a 2 min. pretar e elabo- encadeados
 Repetições: de 2 a 6. rar respostas (força de luta, na pré-temporada é que, enquanto ela acontece,
 Recuperação: mais de alternativas a de salto, de não se trabalha nada da capacidade anaeróbica lá-
6 min. essas situações, lançamento)
 Trabalha-se durante a velocidade tica, mas tão somente a potência aeróbica (correr,
a pré-temporada de execução correr e correr); quando chegam os primeiros dias
para criar a capa- diminui mui-
em que se trabalha com bola, os jogadores se en-
cidade para logo to, e o que
fazer. nos interessa é contram esgotados. Na pré-temporada, também
B: a capacidade se devem ter em conta trabalhos específicos de
 Velocidade submá- fisiológica.
xima. Isso significa campo e, inclusive, podem-se fazer trabalhos de
 Tempo de execução: que não existe, técnica com muitas repetições e trabalhos de ele-
30 a 45 s. ainda que esta
mentos da tática básica, que serão utilizados nesta
 Repetições: de 3 a 7. seja elementar
 Recuperação: menos e de pouca temporada.
de 3 min, diminuin- relevância.
do progressivamente.
 Mantém-se durante 2. Velocidade muito próxima da máxima, tem-
todo o período de po de realização menor que 1 min: entre 30 e
competição.
45 s, aumenta-se o número de repetições até
O trabalho A pode e deve ser prévio ao B, 8, sendo, normalmente, de 3 a 7, e a recupe-
porque o tempo total de realização é maior. ração ocorre de 3 min para menos. O ideal
é que a distribuição dessas repetições possa
ser feita em blocos, por exemplo, 2 blocos de
6.4.2.7 Estrutura condicional 3 repetições. No primeiro bloco, 3 min de
recuperação e, no segundo 3, 2 e 1 minuto
Apresentam-se duas opções: de recuperação para aumentar, ao máximo,
a reatividade orgânica do sujeito, para que
1. Pode ser prévio a B, porque o tempo total de provoque mais substâncias tampões do ácido
realização é maior. Utiliza-se durante a pré- lático. Nesse tipo de treinamento, chega-se
-temporada. aos 10 mmol/mL.
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 69

continuação
6.4.2.8 Estrutura coordenativa Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
 Repetições: nº de
Componentes específicos de menos a mais.
vezes de acordo
com o tempo real
do jogo.
 Recuperação: 30 s a
6.4.2.9 Componente cognitivo 1 min.
 Ativa.

Devem-se apresentar poucas complicações


para evitar que a atenção e a concentração para
manter altas velocidades não se reduzam. Mas isso 6.4.2.10 Estrutura condicional
não significa que não existam, pois, nos passes
com bola, por exemplo, deverão ser usados quatro O trabalho de potência aeróbica será funda-
tipos de passes distintos. Logo, já há certo compo- mentado em forma de corrida ou deslocamentos.
nente cognitivo, que é elementar. Serão realizados, no início, trabalhos de corrida
Outro exemplo: se se deve desviar de cones, que logo passarão a ser desenvolvidos junto com
o deslocamento entra cada cone se realizará de os deslocamentos. Terão duração de 2 a 3 minu-
forma distinta. É muito importante fazer que esse tos, recuperação ativa de 30 segundos a 1 minu-
pequeno elemento de tomada de decisão não seja to e número de vezes de acordo com o tempo
esquecido pelos jogadores. de jogo, porque a potência aeróbica será utiliza-
da como via de ressíntese dos restos de lactato e
d) Potência aeróbica outros resíduos. Portanto, é necessário superar o
tempo real de jogo.
Quadro 6.11 – Trabalho de potência aeróbica
Estrutura Componente Estrutura
condicional cognitivo coordenativa
 Tarefas
6.4.2.11 Estrutura coordenativa
 Corrida ou deslo- específicas,
camentos contí- progresiva-
As tarefas são específicas e progressivamente
nuos (em período mente ajus-
preparatório, cor- tadas. ajustadas. No princípio da temporada, 80% do
rida; a medida que  Material trabalho será corrida, em distintas velocidades de
se avança a tempo-  Associado. específico do
rada, cada vez mais jogo.
execução, mas, progressivamente, se transforma
deslocamentos  Espaço es- em uma tarefa específica do jogador (quicar, pas-
específicos). pecífico nas
sar e driblar, fundamentalmente): trabalho especí-
 Tempo de execução: trajetórias
2 a 3 min. de postos fico do jogo. Nesse tipo de sistema, nas pré-tem-
específicos. poradas, podem-se usar jogos de basquetebol,
continuação
70 Manual de Handebol

futebol etc. para, posteriormente, como última Portanto, devem-se utilizar diferentes meios
aproximação coordenativa, utilizar o espaço espe- ao longo dos períodos, dois deles, fundamental-
cífico dentro da quadra com as trajetórias mais mente, ao longo do período preparatório:
utilizadas nas posições específicas de cada jogador
(no caso de correr por toda a quadra, os pontas o  Aquele que permite ressintetizar os altos
farão pelas laterais, o central e o pivô pelo centro níveis de ácido lático, no nível de trabalho
etc.), realizando tarefas de acordo com estas posi- aeróbico. A potência aeróbica será a resis-
ções específicas. tência preferencialmente utilizada durante
o período de preparação;
 A fase lática: a capacidade “a” dentro da ca-
6.4.2.12 Componente cognitivo pacidade anaeróbica lática.

Está associado às tarefas específicas. Uma vez que temos, basicamente, desenvol-
vidas essas duas vias (potência aeróbica e capaci-
dade anaeróbica lática “a”) de resistência, devem
6.5 Periodização da resistência aparecer e continuar ao longo de toda temporada
de competições as outras vias que faltavam, a po-
Graças a essas três categorias, podemos ela- tência anaeróbica lática e as capacidades anaeróbi-
borar, ao longo da temporada, um espectro de cas alática e lática “b”.
meios de treinamento da resistência. Assim, existe um momento final da cha-
Na planificação do nosso esporte, dividimos mada pré-temporada, que é crítico na troca dos
a temporada em dois períodos: um período pre- meios de treinamento da resistência e o mais di-
paratório, com duração de 4 a 5 semanas; e um fícil, porque, além disso, teremos de incluir as
período competitivo, que se estende por 7 meses. primeiras competições, e, em função da posição
específica e de como cada um tenha assumido es-
Tabela 6.1 – planejamento do treinamento de re- ses treinamentos de resistência, cada um vai usar
sistência ao longo de uma temporada competitiva mais um tipo de metabolismo que outro. Nes-
Período preparatório Período competitivo sas primeiras competições, se tiverem assumido
Capacidade muito bem o trabalho aeróbico, irão muito bem
anaeróbica alática
na 1a parte; na 2a parte, não poderão se mover,
Potência aeróbica
pois haverá muito ácido lático acumulado. Isso
Potência anaeróbica lática
se vê claramente nas partidas anteriores ao início
Capacidade anaeróbica Capacidade anaeróbica
lática “a” lática “b” da temporada competitiva oficial.
Preparação física aplicada aos esportes coletivos 71

Quando vão se equilibrando as quatro vias


de resistência, elas irão se homogeneizando, che-
gando-se à forma ótima na competição.
Entretanto, devemos observar a sequência
em que vamos utilizá-la e em todo o momento
que elevam, no início do período de competição,
as quatro vias.
É praticamente a partir desse instante que
desaparece a potência aeróbica, aparecendo aos
poucos nos momento em que houver muita
carga de competições. O fundamento será ca-
pacidade anaeróbica alática e potência anaeró-
bica lática como suporte da opção “b” da capa-
cidade anaeróbica alática, e, de vez em quando,
potência aeróbica.
Ao longo da temporada, sobretudo na po-
tência anaeróbica lática, trabalhar-se-á mais no
treinamento técnico e tático. Assim, basicamen-
te, os trabalhos de ataque-defesa e contra-ataque
podem ser classificados como físico-táticos. Desse
modo, a proposta tem de ser comum entre ambos
os treinadores, para que, dessa forma, possamos
assegurar que é um treinamento de potência ana-
eróbica lática.
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

7 O treinamento da coordenação no handebol

O nível de conhecimento das capacidades co- assim, poder explicar melhor as diferenças inte-
ordenativas não é tão diferenciado e teoricamente rindividuais de rendimento.31 As capacidades são
comprovado como o das capacidades condicionais entendidas como a característica que torna possí-
força e resistência. As dúvidas são determinadas vel o desempenho de alta qualidade, nas diversas
fundamentalmente na dificuldade de se obter pro- atividades humanas, propiciando o alcance do
gressos sobre aspectos neurofisiológicos e seus res- sucesso. As capacidades coordenativas traduzem a
pectivos correlatos em níveis corticais (por meio de organização e o controle de movimentos por meio
um procedimento dedutivo de pesquisa). Observa- das propriedades dinâmicas do sistema efetor. A
-se também que as pesquisas no plano de observa- análise de ações coordenadas como soluções nas
ção do comportamento coordenativo (por meio de tarefas motoras práticas contribui com possíveis
um procedimento indutivo de pesquisa) têm apon- respostas às “controvérsias entre a teoria motora e
tado resultados contraditórios.30 Assim, os conheci- a da ação”,32 com uma visão dos velhos problemas
mentos adquiridos até hoje na área das capacidades em um novo contexto.
coordenativas apresentam várias dúvidas e muitas No marco das capacidades inerentes ao ren-
hipóteses, sendo alguns deles somente gerais. A dimento esportivo, as capacidades coordenativas
execução de uma ação, em especial a esportiva, é possuem caráter geral, ou seja, elas são pré-requi-
compreendida como um processo sistêmico e inte- sitos de ordenamento e estruturação para deter-
grado, organizado e relacionado ao contexto situa- minada classe de tarefas motoras, que, em certos
cional (pessoa – ambiente – tarefa). Nesse sentido, momentos ou situações no esporte, colaboram na
existe um conjunto de capacidades que interage execução de uma técnica específica da modalida-
mutua e complexamente, na busca de um objetivo. de. Ou seja, as capacidades coordenativas servem
O termo capacidade deriva das bases teóri- de base para as habilidades técnicas e estas, por
cas da psicologia diferencial, que observa fatores sua vez, para a aprendizagem da técnica, isto é, do
como a inteligência e a personalidade do sujeito. gesto específico da modalidade (por exemplo, o
São traços (traits) latentes, disposições ou, ainda, lançamento em suspensão ou a realização de uma
construtos que são herdados, definidos por meio “rosca” no lançamento do ponta, na parada de
de um processo de constante construção para, uma bola com uma técnica de side-quick do golei-
74 Manual de Handebol

ro e muitas outras). Na presente proposta, o con- sempre um complexo rendimento da persona-


ceito de habilidade é ajustado aos jogos esportivos lidade como um todo, que abrange todos os
coletivos e se distancia do conceito comumente processos de regulação do comportamento nos
utilizado nos estudos de aprendizagem motora. níveis de controle do movimento – intelectual,
emocional, automático –, que são necessários
para a organização e obtenção do objetivo.48
7.1 Revisão teórica As capacidades coordenativas são propriedades
qualitativas do nível de rendimento de um ser
As capacidades coordenativas estão com- humano e pré-requisitos de rendimento que ca-
postas por um conjunto de processos e subpro- pacitam o atleta para realizar ações. As capacida-
cessos que provoca bastante controvérsia acadê- des coordenativas são consideradas como equi-
mica quanto a seus alcances, limites e conteúdos. valentes ao construto inteligência, isto é, como
Conforme o ponto de vista em que é considera- representantes da inteligência motora.
da, toma-se um plano de análise diferente. Os O treinamento da coordenação, portanto,
trabalhos de pesquisa mais importantes sobre as se relaciona com o desenvolvimento da capa-
capacidades coordenativas são, entre outros, os de cidade de realizar movimentos, de adaptá-los à
Bernstein,33 Hirtz,34,35 Neumaier e Mechling,36,37 situação, de contribuir no aprimoramento da
Roth,38,40 Schmidt,41,43 Zimmermann,44 entre ou- imagem corporal, de uma percepção sensorial
tros autores. diferenciada, da melhora dos processos de pro-
Coordenar significa, etimologicamente, priocepção (necessários à condução ou à adapta-
ordenar junto. No handebol, essa característica ção de movimentos). Lamentavelmente, obser-
se agrega à função de direcionar, regular e har- va-se, na prática do professor, que o treinamento
monizar os processos parciais do movimento, os das capacidades coordenativas e da coordenação
quais, tendo em vista o objetivo da ação, permi- é esquecido ou “sacrificado” na errada procura
tem que este seja alcançado com o menor gasto por uma performance ou aperfeiçoamento do ní-
energético possível. As capacidades coordenati- vel técnico de forma veloz.
vas estão em princípio determinadas pelos pro- Um processo de ensino-aprendizagem-trei-
cessos de regulação e orientação do movimento, namento em longo prazo na formação de joga-
oportunizam que o atleta domine, de forma se- dores de handebol inteligentes e criativos solicita
gura e econômica, ações motoras em situações que a coordenação se relacione com o treinamen-
previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adap- to da percepção geral e, posteriormente, à percep-
tação), sendo fundamentais para aprender movi- ção específica, com atividades que possibilitem
mentos esportivos. Do ponto de vista da “Teoria o desenvolvimento do conhecimento tático e da
da Ação”,45,46 a coordenação de movimentos é tomada de decisão, seguindo três princípios:
O treinamento da coordenação no handebol 75

 Modificar a dificuldade/aumentar a difi- mente fértil, relacionando tais exigências à realiza-


culdade. ção de movimentos. Os aspectos inerentes aos pro-
 Modificar a complexidade/aumentar a cessos de recepção da informação nas vias aferentes
complexidade. são caracterizados pela recepção de informação por
 Esses princípios mencionados, simultane- meio dos diferentes órgãos dos sentidos: visual,
amente. acústico, tátil, cinestésico, vestibular ou de equilí-
brio, bem como os processos eferentes (parâmetros
Considera-se de fundamental importância de pressão da motricidade) por meio da motricida-
que as atividades a serem oferecidas às crianças de ampla e fina (caracterizadas pelo volume e pela
para aprimorar a coordenação tenham uma es- quantidade dos agrupamentos musculares necessá-
truturação didática em que seja considerado um rios à ação), que é submetida a diferentes condicio-
processo de aumento gradativo e permanente na nantes de pressão: tempo, precisão, complexidade,
exigência de organização interna do movimento. organização, variabilidade e carga, que constituem
Portanto, recomendamos uma progressão em que a base teórica para organizar um modelo de treina-
se exploram todas as possibilidades que cada ele- mento da coordenação no handebol.
mento oferece e desenvolve nas faixas etárias, de Na parte inferior do modelo (vide Figura
acordo com a sequência proposta a seguir: 7.1), os condicionantes da ação, isto é, as restrições
típicas da ação esportiva, permitem estabelecer os
 6-8 anos: atividades com um elemento parâmetros perante os quais o desempenho coorde-
(exemplo corda, bastão ou bola). nativo deve ser treinado. Os parâmetros de pressão
 8-10 anos: atividades com dois elementos das capacidades coordenativas são variáveis confor-
(exemplo: corda e bola). me a situação específica que se pretende resolver na
 10-12 anos: atividades com três elementos prática esportiva. Esses parâmetros foram determi-
(exemplo: corda, bola e bastão). nados a partir da comparação de mais de 20 for-
mas de abstrações de utilização do conceito de ca-
Na fórmula para se treinar as capacidades co- pacidade coordenativa (Neumaier e Mechling).36,37
ordenativas, sugere-se aplicar a proposta apresenta- Os seis parâmetros de pressão – tempo, precisão,
da por Neumaier e Mechling,36,37 Roth47 e Kröger organização, complexidade, carga e variabilidade
e Roth,31,48 já experimentada com sucesso pelos – constituem as dimensões das capacidades co-
autores deste aporte no Brasil. As faixas etárias des- ordenativas relacionadas a motricidade, execução
critas são sugeridas como elemento de referência. motora, elementos característicos da motricidade
Assim, para o ensino-aprendizagem-treina- no momento da realização do movimento coorde-
mento das capacidades coordenativas, sugere-se nado, isto é a execução de uma técnica especifica
uma alternativa metodológica e didática extrema- (lançamento em suspensão, passe, “rosca” etc.)
76 Manual de Handebol

Exigências Coordenativas nas Tarefas


de Movimentos

Elaboração de Informação

Eferente Aferente
Motricidade grossa e fina Ótico, acústico, tátil,
cinéstesico, vestibular

Pressão do Tempo

Pressão da Precisão

Pressão da complexidade

Pressão da organização

Pressão da variabilidade

Pressão da carga

Baixa Alta

Figura 7.1 – Exigências coordenativas.31

O Quadro 7.1 esclarece quais são os parâ- e Roth,32 o que representa o ponto de vista da exi-
metros de pressão conforme colocados por Kröger gência motora e um exemplo prático.

Quadro 7.1 – Elementos de pressão da motricidade31,36


Tarefas coordenativas nas quais é
Parâmetros de pressão Exemplos
necessário
Minimizar o tempo ou maximizar a No contra-ataque, receber e fazer o passe ao colega que
Tempo
velocidade de execução. corre no espaço livre.
Precisão A maior exatidão possível. Lançamento a gol fora do alcance do goleiro.
Realizar uma finta dupla, com câmbio de direção e
Resolver sequências de exigências su-
Complexidade posterior salto em suspensão, fingir lançamento e pas-
cessivas, uma depois de outra.
sar ao pivô.
Superar exigências simultâneas, ao mes- Receber a bola fintando a linha de corrida e, paralela-
Organização
mo tempo. mente, saltar.
Superar exigências ambientais variá- Realizar diferente tipo de fintas caindo com dois pés,
Variabilidade
veis e situações diferentes. com um pé, giro.
Superar exigências de tipo físico-con-
Carga Lançamento em suspensão no final do jogo.
dicionais ou psíquicas.
O treinamento da coordenação no handebol 77

7.2 O treinamento da coordenação Portanto, deve-se observar, ao se oferecer


no handebol exercícios (que depois são integrados em jogos
e formas jogadas de aplicação do aprendido),
A fórmula para treinar a coordenação in- que a recepção de informação por meio dos
clusive no handebol parte das habilidades básicas analisadores (tátil, acústico, visual, cinestési-
correr, saltar, empurrar, tracionar etc., que podem co, vestibular ou de equilíbrio) seja colocada
ser agrupadas em manuais: lançar (arremessar), em situação de pressão motora (tempo, preci-
driblar, receber, rebater etc.; pedais: chutar, con- são, organização, complexidade, variabilidade
duzir, receber com os pés; e com elementos (raque- e carga).
te ou bastão). Na realização das habilidades, suge- A proposta expressa na fórmula de trei-
re-se combiná-las com elementos diversos, como, namento da coordenação na qual se combi-
por exemplo, a bola junto das habilidades pedáli- na a recepção de informação com a pressão
cas e manuais, a bola e um bambolê, um manual na motricidade nas atividades, nos exercícios
(girar o bambolê no braço) e, simultaneamente, propostos, leva a criança à execução de tare-
um pedálico (condução da bola). A fórmula para fas que, sistematizadas pelo professor, visam
o treinamento da coordenação no handebol deve oportunizar a melhora do seu desempenho
priorizar as atividades com bola e sua combina- motor, otimizando o desenvolvimento das ca-
ções com outros elementos, ou seja: pacidades de coordenação.

Habilidade básica
com bola

Variabilidade
(exigências aferentes e eferentes) Treinamento da coordenação
com bola

Situação de pressão
(do tempo, da precisão,
da complexidade, da organização,
da variabilidade, da carga)

Figura 7.2 – Fórmula básica do treinamento da coordenação.31


78 Manual de handebol

7.3 Atividades sugeridas para o de- desenvolvimento da capacidade tática como ele-
senvolvimento da coordenação mento de motivação e de aquecimento no início

com bola para a iniciação (não da aula e, posteriormente, realizar um trabalho de


aproximadamente 15 minutos de treinamento da
somente) ao handebol
coordenação. Não é recomendado, na faixa etária
A seguir se apresentam atividades para o da pré-adolescência e no treinamento com ini-
treinamento da coordenação já descritas em outra ciantes, trabalhar a coordenação quando os parti-
publicação,49 que podem ser exemplo para a orga- cipantes estão cansados.
nização de diferentes programas de treinamento.
Em geral, recomenda-se que o treinamento da
coordenação não seja realizado somente pelos go- 7.3.1 Idade: 6-8 anos, 1 elemento
leiros, mas por todos os jogadores, de preferência
após um jogo, no início do treinamento, consi- Material: bola
derando-se, assim, a realização de um jogo para o

Quadro 7.2 – exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos


Analisador Condicionantes Exercício

Rolar a bola no chão,


Cinestésico Tempo correr, ultrapassá-la,
detê-la com a testa.

Conduzir a bola,
rolando-a com a mão
(utilizar as duas mãos)
Tátil Precisão
no chão, em diversas
direções e em determi-
nados percursos.

Lançar a bola para


o alto com as mãos,
simultaneamente, e
Visual Tempo segurá-la após um
quique no chão e,
posteriormente, sem
tocar no chão.
Rolar a bola no chão,
enquanto o compa-
Tátil Tempo
nheiro tenta chegar à
frente dela, correndo.
o treInaMento da coordenação no handebol 79

Material: bambolê

Quadro 7.3 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o bambolê
Analisador Condicionantes Exercício

Andar quicando
uma bola e, simul-
taneamente, puxar o
Cinestésico Precisão companheiro que está
dentro de um bam-
bolê o com os olhos
fechados.

Material: pneu

Quadro 7.4 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando o material pneu
Analisador Condicionantes Exercício

Passar por dentro do


Tátil Complexidade
pneu de várias formas.

Os companheiros,
segurando-se mutua-
mente por um bambo-
lê, devem andar pisan-
do acima de uma fileira
Vestibular Carga de pneus, quicando
uma bola, saltando
sobre o pneu que se
encontra no chão até
que o último do grupo
chegue à “terra firme”.
80 Manual de handebol

Material: banco sueco, bola, arcos ou bambolês

Quadro 7.5 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 6-8 anos utilizando os materiais banco sueco,
bola, arcos ou bambolês
Analisador Condicionantes Exercício

Andar acima de um
banco sueco invertido
Vestibular Precisão e quicar uma bola
dentro de bambolês
colocados no chão.

Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
Amarrar o pé direito
de um companheiro
ao pé esquerdo do ou-
Vestibular Complexidade
tro e fazer que, juntos,
corram e driblem cada
um uma bola.
o treInaMento da coordenação no handebol 81

7.3.2 Idade: 8-10 anos, 2 elementos

Material: bolas

Quadro 7.6 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bolas
Analisador Condicionantes Exercício
Rolar duas bolas iguais
Visual Tempo no chão, correr, ultra-
passá-las e segurá-las.

Quicar duas bolas


diferentes, simultanea-
Cinestésico Organização mente, caminhando e
correndo em diferentes
direções.

Material: bola e arco

Quadro 7.7 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 8-10 anos utilizando bola e arco
Analisador Condicionantes Exercício

Quicar a bola uma vez


dentro e outra fora
Cinestésico Precisão de um arco no chão,
variando o braço alea-
toriamente.

Enquanto o compa-
nheiro rola o arco no
chão, quicar a bola,
Visual Precisão
passando por dentro
do arco de um lado
para o outro.
82 Manual de handebol

7.3.3 Idade: 10-12 anos, 3 elementos

Material: bola, bastão e arco

Quadro 7.8 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e arco
Analisador Condicionantes Exercício

Puxar um arco por um


bastão (um de cada
Cinestésico Complexidade lado), enquanto quica
uma bola com a outra
mão.

Puxar um pneu por


uma corda (um de
cada lado), enquanto
Cinestésico Complexidade
passa a bola entre si,
com as mãos desocu-
padas.

Material: bola, bastão e pneu

Quadro 7.9 – Exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, bastão e pneu
Analisador Condicionantes Exercício

Puxar um pneu por


um bastão (um de
Cinestésico Complexidade cada lado), enquanto
se conduz uma bola
com os pés.
o treInaMento da coordenação no handebol 83

Quadro 7.10 – exemplo de atividades para a faixa etária de 10-12 anos utilizando bola, corda e arco
Analisador Condicionantes Exercício

Pendurar um arco,
com uma corda no gol.
Balançar o arco e lan-
çar bolas para acertar
Visual Organização
no alvo móvel. Depois
colocar dois arcos que
balancem em sentidos
contrários

7.4 Conclusões

O processo de aprendizagem motora no decisão específicas para resolver as situações


handebol se apoia no desenvolvimento da co- de jogo, destacando que estas são semelhantes
ordenação e nas capacidades inerentes à reali- às que se encontram no jogo formal. Essas ati-
zação das ações motoras basicas para a melhora vidades solicitam dos alunos a alternância da
da motricidade. Portanto, é necessário formular atenção e da dissociação de segmentos muscu-
uma adequada sistematização do processo de lares, ou ambos simultaneamente, no momento
ensino-aprendizagem das capacidades coorde- da realização das suas ações motoras, que é um
nativas. Assim, para melhorar as capacidades dos aspectos fundamentais no handebol (por
coordenativas, é necessária a adequada sequ- exemplo, como se observam nas exigências do
ência de exercícios que focalizam os diferentes movimento de engajamento).
condicionantes de pressão (são seis) da motri- Deve-se destacar o potencial de combina-
cidade. O processo de aprendizagem motora se ções possíveis nas atividades a serem realizadas,
complementa com jogos a serem propostos nas por exemplo: analisador visual, com pressão de
denominadas estruturas funcionais, nas quais o tempo, de precisão e assim por diante. As ativida-
esporte é vivenciado a partir de formas de jogo des devem ser realizadas, em todas as faixas etárias,
reduzidas, com menos jogadores, mas que, pela com mãos, pés e com raquete-bastão, resultando,
sua manipulação didática em relação à quanti- assim, em uma fabulosa combinação.
dade de jogadores, uso do espaço, do curinga Um analisador (exemplo visual) x 6 condi-
etc., é possível aumentar o desenvolvimento cionantes de pressão x 3 formas de realizar a ação
das capacidades perceptivas e de tomada de (pé-mão, raquete/bastão) significa que se têm 18
84 Manual de Handebol

possibilidades de realizar a mesma atividade, de variada. Diferentes fatores limitam o desenvol-


forma igual, porém sempre de forma diferente... vimento das capacidades coordenativas. Entre
Quando se combinam dois analisadores estes, os mais importantes são: a quantidade de
(por exemplo, visual e vestibular), encontramos coordenações intra e intermusculares solicitadas
um maior número de atividades plausíveis de se- no movimento, a condição dos analisadores, ou
rem pensadas. O resultado final é quase infinito, seja, o estado dos órgãos dos sentidos no mo-
pois se pode usar, ainda, materiais como bolas, mento de receber a informação do próprio cor-
bastões, arcos, pneus, entre outros. po e do ambiente, a situação da aprendizagem,
Em relação às exigências coordenativas que a experiência e o repertório de movimentos ad-
se apresentam no handebol, observa-se que estas quiridos anteriormente, bem como as condições
são gerais para as diferentes modalidades cole- ambientais do processo de aprendizagem.
tivas de invasão, ou seja, são gerais em relação Qualquer processo pedagógico não se resu-
aos esportes e influenciam o nível de condução me, simplesmente, ao ato de ensino-aprendizado,
e regulação dos movimentos voluntários, tanto bem como o ensino-aprendizado não constitui,
nos esportes quanto na vida cotidiana. As capa- isoladamente, o processo pedagógico. O ato de
cidades coordenativas apresentam alto nível de ensinar e treinar implica oportunizar o desenvol-
treinabilidade e, para as crianças e adolescentes, vimento do indivíduo, potencializar suas capaci-
constituem uma base para o desenvolvimento dades, habilidades, competências e, paralelamen-
da inteligência motora31 e das técnicas especí- te, compreender as formas de manifestação do
ficas do esporte posteriormente. São altamente comportamento, atitudes e valores implícitos em
dependentes da herança genética, porém, são suas ações. Portanto, é fundamental a orientação
modificadas por meio do processo de ensino- pedagógica da práxis educativa em qualquer con-
-aprendizagem e do treinamento. As capacidades teúdo que se proponha trabalhar. Em todas as for-
coordenativas constituem o pré-requisito para mas de manifestação do esporte, o eixo norteador
mais de uma estrutura de diferentes movimen- da ação do professor situa-se, por excelência, no
tos e apresentam uma amplitude e generalização rol pedagógico.
O treinamento da coordenação no handebol 85

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fundaMentos técnIco-tátIcos IndIvIduaIs coMuns de ataque e defesa 89

Parte III
Técnica
Juan J. Fernández, José M. Miragaya, Randeantony do Nascimento

Fundamentos técnico-táticos individuais


8 comuns de ataque e defesa

8.1 Posições de base librada e cômoda, que facilite intervenções em


ações posteriores de forma continuada, à veloci-
dade conveniente e no momento oportuno.
8.1.1 Definição A posição de base necessita de uma tensão
regulada que favoreça a contração da musculatu-
Considera-se como posição de base “o ges- ra. A atenção à situação da bola e aos jogadores
to que o jogador adota para desenvolver, a par- deve manter-se de forma contínua, predispondo
tir dele, qualquer ação técnica” (Bárcenas e Ro- (antecipando) o jogador para a jogada posterior
mán Seco);1 “é a gesto-forma que devem adotar (implica o princípio da responsabilidade).
os jogadores de campo para a sua predisposição A aquisição de uma técnica básica ofere-
diante das intervenções futuras” (Falkowski e En- ce melhores possibilidades no que diz respeito à
ríquez);2 “a postura que o jogador adota, a partir velocidade de reação e à velocidade contrátil do
da qual atua ou intervém, permitindo fazê-lo o músculo, facilitando, assim, a entrada em ação do
mais rápido possível, como ponto de partida de jogador no jogo.
qualquer intervenção” (VVAA).3
Uma vez assumida a posição básica, começa
para o jogador a responsabilidade de assumir in- 8.1.3 Descrição do gesto técnico
tenções táticas, sejam elas ofensivas ou defensivas.
As posições de base que se adotam antes e depois No ataque, existem duas posições:
de todos os deslocamentos são de grande impor-
tância para as ações posteriores.  Estática:
a) Cabeça: erguida com naturalidade;
b) Tronco: ligeiramente inclinado para frente;
8.1.2 Princípios fundamentais c) Pernas: ligeiramente flexionadas, as-
simétricas e em situação cômoda, se-
Segundo Bárcenas e Román Seco,4 os princí- guindo o princípio da perna contrária
pios fundamentais são: adotar uma posição equi- ao braço de lançamento à frente;
92 Manual de Handebol

d) Braços: com os cotovelos flexionados a  Caso se adote a posição durante muito


90o e com a parte radial girada acima e tempo, esta produz diminuição do rendi-
ligeiramente separados do corpo; mento em razão do cansaço produzido pela
e) Mãos: com os dedos estendidos e sepa- tensão muscular.
rados, em atitude apropriada para rece-
ber a bola.
8.2 Os deslocamentos
 Dinâmica:
a) Pernas: simétricas, em suspensão alternada;
b) Pés: com apoios alternados sobre o 8.2.1 Deslocamentos sem bola
metatarso.

Na defesa: 8.2.1.1 Definição

 Cabeça: erguida, permitindo uma boa vi- Pode-se definir o deslocamento como “todo
são periférica; o percurso corporal de um lugar ao outro do cam-
 Tronco: ligeiramente flexionado; po utilizando como meio o movimento” (Antón)5
 Pernas: colocadas simétricas ou assimétri- ou “a ação de se deslocar (mover-se) de um lugar
cas, segundo a necessidade do momento a outro pelo espaço de jogo sem estar em posse de
do jogo; bola” (Lasierra, Ponz e Andrés).6,7
 Braços: com os cotovelos flexionados a Os deslocamentos são o suporte do resto das
120o e com a parte radial girada acima e ações, tanto de ataque quanto de defesa, já que
ligeiramente separados do corpo; uma alta porcentagem dessas ações é realizada em
 Mãos: com a face palmar dando frente ao opo- movimento. Devem ser efetuados de forma equi-
nente e com os dedos abertos e estendidos. librada para obter êxito nas ações posteriores.
Os deslocamentos são formas de movimen-
O objetivo da posição de base consiste em to que o jogador, sem estar em posse da bola, uti-
oportunizar, a partir da antecipação corporal, a liza para se deslocar de um lugar a outro do cam-
ação a ser concretizada e, portanto, beneficiar a po, tanto ofensiva quanto defensivamente. Seu
rapidez de execução do movimento posterior. objetivo principal é tratar de ocupar e abandonar
Encontramo-nos com dois inconvenientes espaços, assim como alcançar uma antecipação
para a realização desse gesto técnico: postural: chegar antes que o adversário. Iniciam-
se depois de ter adotada uma posição de base. O
 Paradas súbitas depois dos deslocamentos; tipo e a forma de deslocamento determinam o
Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 93

momento do jogo em que nos encontramos. As


paradas estão diretamente relacionadas a isso.

8.2.1.2 Princípios fundamentais

Para a realização dos deslocamentos, o jogador


tem de adotar posições equilibradas que facilitem: Figura 8.1 – Deslocamento para frente.

 a iniciação do deslocamento (arrancadas);  Frontais para trás: dando as costas à traje-


 as mudanças de direção e sentido; tória adotada (escolhida, realizada);
 as mudanças de ritmo (aceleração – desa-
celeração);
 os equilíbrios – desequilíbrios;
 as paradas.

A visão periférica mantém-se em todo momento


durante os deslocamentos, procurando obter um gran-
de campo visual para facilitar a tomada de decisão.
Deve-se buscar a orientação e o equilíbrio
nos deslocamentos. De preferência, o jogador não Figura 8.2 – Deslocamento para trás.
deve cruzar as pernas nos deslocamentos para tro-
car de direção.  Laterais para o lado direito e esquerdo: de
lado à trajetória escolhida.

8.2.1.3 Classificação

Segundo as propostas de Bárcenas e Román


Seco:4

(1) Pela trajetória escolhida:

 Frontais para frente: dando frente (de frente)


à trajetória adotada (escolhida, realizada); Figura 8.3 – Deslocamento para o lado.
94 Manual de Handebol

(2) Pela técnica de execução: (3) Pela trajetória adotada:

 Em forma de marcha: quando há suspen-  Retilínea:


são da perna de impulso, a outra perna está
em contato com o chão;
 Em forma de corrida: cada impulso rea-
lizado pela perna gera suspensão no jo-
gador. Depende da amplitude (influen-
ciada pela força e direção do impulso) e
da frequência (dependente da coordena- Figura 8.5 – Trajetória retilínea.
ção neuromuscular).
 Em forma de deslizamento: os impulsos  Curvilíneas:
sucedem-se sem que os pés percam o con-
tato com o chão. As pernas aproximam-se
e separam-se sem chegar a se cruzar em ne-
nhum momento. Este tipo de deslocamen-
to garante a máxima estabilidade, sendo,
portanto, muito utilizado nos deslocamen-
tos defensivos. Figura 8.6 – Trajetória curvilínea.

Figura 8.4 – Recepção de bola correndo para frente.


Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 95

Também podemos considerar dentro dos Trata-se de obter a maior eficácia levando à prática o
deslocamentos: conceito fundamental da antecipação postural.
Quando a posição das pernas é simétrica,
 a mudança de direção: utilização de traje- cumpre, para começar o ciclo de iniciação do des-
tórias distintas sem paradas (interrupções); locamento, suspender e projetar à frente a perna
 a troca (mudança) de sentido: utilização da contrária à de impulso.
mesma trajetória na direção adotada para Para interromper o deslocamento e ado-
voltar à posição inicial; tar uma posição de base, o jogador apoiará uma
 as paradas: com elas, é necessário baixar o perna no chão com a força suficiente como se
centro de gravidade, flexionando os mem- tentasse realizar um deslocamento para trás, di-
bros inferiores e, se o deslocamento é em minuindo, ao mesmo tempo, a inclinação do
grande velocidade, levar o tronco ligeira- tronco para frente.
mente atrás. Os pés podem tomar contato A perna que tentar deter o impulso da pro-
no chão simultânea ou alternadamente. gressão deve ser:

 A que no momento do impulso esteja em


8.2.1.4 Descrição do gesto técnico suspensão;

(4) Deslocamento frontal para frente e parada

Se a posição de pernas é assimétrica, levanta-


-se o calcanhar da perna de trás para impulsiona-se
com a parte do pé que continua apoiada no chão.
Em deslocamentos em forma de marcha e
deslizando, assim como nos deslocamentos curtos
correndo, é conveniente que os braços se colo-
quem na posição de base recomendada de acordo
com a fase ofensiva ou defensiva em que se encon-
tre o jogador.
Em deslocamentos longos, convém mudar a
posição dos braços indicada nas trajetórias longas
pelas posições de base correspondentes, quando o
jogador se encontra próximo do objetivo, ou seja,
com a proximidade (possibilidade) de receber a bola. Figura 8.7 – Recepção em suspensão.
96 Manual de Handebol

 Se o jogador está em suspensão, tomará a separação entre ambas as pernas ficar exagerada,
contato com o chão de forma alternada, modifica-se imediatamente a situação da perna de
sendo a perna mais adiantada (à frente), cor- trás, para obter uma posição equilibrada.
respondente ao último passo, a que inter-
vém, necessitando tentar parar o percurso; (5) Deslocamento frontal para trás e parada

Se a posição das pernas é assimétrica, freia-se


totalmente com o pé correspondente à perna de
trás, tanto na forma de marcha quanto na corrida
e no deslizamento.
O começo dos outros ciclos determina-
-se por um novo impulso da perna de trás. O
tronco projeta-se muito ligeiramente na posi-
ção do deslocamento, adotando, praticamente
a posição vertical que facilite a velocidade e
evite a perda de equilíbrio. Essas possibilidades
não poderão ser alcançadas tentando-se man-
ter a postura do tronco para trás, acentuando o
abandono da vertical.
O deslocamento em questão se realiza em
forma de deslizamento; convém pontualizar que
Figura 8.8 – Recepção da bola alta na corrida. o grau de inclinação do tronco para frente é o
mesmo preconizado para a posição de base.
 Nos casos em que o deslocamento seja des- Na posição simétrica das pernas, é neces-
lizando e, portanto, não exista nenhuma sário, para iniciar o ciclo de deslocamento, sus-
perna em suspensão, a ação da parada será pender e projetar para trás a perna contrária à
efetuada, logicamente, com a perna mais de impulso. Com referência aos braços, devem
próxima à direção de transição. manter-se as mesmas recomendações indicadas
no deslocamento frontal para frente.
Nas posições indicadas, se a força de impulso Para interromper o deslocamento e adotar a
não permite obter a parada imediata com o apoio posição de base, o jogador freará o seu impulso,
recomendado, deve-se conseguir definitivamente apoiando no chão com suficiente força a perna
após mais um passo de um novo contato com o correspondente, como se na tentativa de se rela-
chão da perna que não interveio no princípio. Se cionar a uma progressão para frente.
Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 97

De modo sincronizado se efetuará uma re- encontra apoiada no chão; é igual na forma de
ação regulada no sentido contrário à trajetória marcha, de corrida ou de deslizamento.
adotada anteriormente. O apoio indicado será Novos impulsos sucessivos sobre a perna de
realizado com o tornozelo levantado. trás supõem o começo de outros ciclos para conti-
Com respeito à perna que intervém na de- nuar o deslocamento.
tenção da progressão, é necessário observar as se- Seja qual seja a direção escolhida, a perna
guintes normas: de trás situa-se à altura daquela que está à frente
(adiantada), mas sempre sem se cruzarem.
 Deve-se utilizar a perna que, no momento Com respeito à perna que intervém na de-
da ação, se encontra em suspensão (deslo- tenção do deslocamento, é recomendado que:
cando-se em forma de marcha ou corrida);
a perna indicada deve colocar-se para trás  se a perna adiantada estiver em contato
da situada em contato com o chão; com o chão, apoia-se a outra perna à al-
 Estando o jogador em suspensão (corrida), tura da primeira, ampliando, seguidamen-
tomará contato com o chão de forma al- te, a abertura mediante uma retificação da
ternada, sendo a perna adiantada à frente, perna à frente. Se a perna situada em sus-
correspondente ao último passo, a que in- pensão é a que estiver à frente, esta deverá
tervém em primeiro lugar para tentar deter tomar contato com o chão energicamente;
a progressão.  Se o jogador se encontrar em fase de suspen-
 Quando o deslocamento é deslizante, a para- são no deslocamento, a tomada de contato
da tentará ser igualmente com a perna mais com o chão efetuar-se-á alternadamente;
adiantada (à frente) na direção do deslocamen-  No deslocamento deslizante, a tentativa
to. Deverão ser levadas em conta as recomen- de parada efetua-se com a perna adiantada
dações específicas no deslocamento frontal com respeito à direção empreendida.
para a frente, fazendo as correções oportunas
na colocação das pernas, para tentar a deten- (7) Troca de sentido sem mudar a orientação
ção (parada) definitiva, supondo não conse-
guir no primeiro momento (tentativa). Em qualquer deslocamento, deve-se impul-
sionar-se com a perna mais adiantada (à frente),
(6) Deslocamento lateral e parada respeitando a direção seguida antes de produzir
a mudança de direção, em forma de marcha, de
Tanto na posição simétrica como na assimé- corrida como deslizante.
trica, eleva-se ligeiramente o tornozelo da perna No deslocamento para frente e para trás, a
de trás, impulsionando com a parte do pé que se perna de impulso será a direita ou a esquerda, in-
98 Manual de Handebol

distintivamente. Nos deslocamentos laterais, será um lugar a outro do campo de jogo, de forma regu-
a perna esquerda para o lado direito e a direita lamentada, estando em posse de bola, tanto dentro
para a esquerda. quanto fora do local específico e sem utilizar o qui-
que como recurso” (Falkowski e Enríquez).2
(8) Troca de direção sem mudar a orientação O objetivo principal será a penetração, o en-
gajamento, ou, na sua impossibilidade, manter a
Realiza-se igualmente impulsionando com posse da bola, mas tendo sempre que considerar a
a perna mais à frente (adiantada) com respeito à característica do jogo em profundidade.
direção escolhida antes de se produzir a troca de A técnica de deslocamento em posse de bola
direção, tanto nos deslocamentos frontais quanto está limitada pelo que marca o regulamento do
nos laterais. É necessário levar em conta a força do jogo, em parte, pelo número máximo de passos e,
impulso para facilitar a aceleração. finalmente, pelo uso do dribling e a sua repercus-
são no ciclo de passadas. Portanto, pode-se dizer
(9) Troca de direção e mudança de sentido varian- que, depois do terceiro passo, não é permitido
do a orientação realizar um novo contato com o chão se, previa-
mente, o jogador não se desprender da bola ou
No deslocamento, seja frontal ou lateral, impul- não utilizou a ação de bote.
siona-se com a perna que está adiantada mais à frente Ainda que o princípio da técnica deter-
respeitando a direção adotada, antes de se produzir mine que o final do deslocamento com bola a
mudança de direção, tanto em deslocamentos em for- perna à frente deve ser a contrária ao braço que
ma de marcha quanto nos de corrida ou deslizamen- controla a bola (deslocamentos fundamentais),
to. Coincidindo com o impulso, tem de se realizar um as possibilidades do jogador devem ser mais nu-
giro com o pé correspondente para trocar (mudar) a merosas para poder atender a qualquer exigência
orientação de que se trata, coordenando tudo com o do jogo de ataque (deslocamentos especiais). Por
resto do corpo. A nova orientação origina, logicamen- consequência, os movimentos escolhidos podem
te, um deslocamento frontal ou lateral. terminar com a perna do lado do braço que con-
trola a bola adiantada, mesmo com as pernas em
posição simétrica.
8.2.2 Deslocamentos com bola Definição do ciclo de passos:
Ciclo = 3 passos para o jogador com bola.
8.2.2.1Definição Utiliza-se o dribling em qualquer momento,
possibilitando um novo ciclo de passadas.
São “os movimentos que o jogador que está Exemplo da possibilidade máxima:
em posse de bola realiza” ou a “ação de se mover de 3 passos - bote - 3 passos
Fundamentos técnico-táticos individuais comuns de ataque e defesa 99

Inicialmente, resultam válidas as classifica- Deslocamento lateral:


ções realizadas para os deslocamentos sem bola,
exceto por duas pequenas diferenças:
1 1 0 2 1 0
0

 Os deslocamentos se realizam estando em 2 2 1 0 1 0 0

posse de bola, sendo permitidos três passos


2 1 0 0 2
1

com ela; 0

 Em alguns momentos concretos, para ga- Figura 8.10 – Deslocamento lateral.


nhar mais espaço ou velocidade, alguns
passos podem converter-se em saltos.

8.2.2.2 Descrição do gesto técnico

Deslocamento frontal para frente:

3 3

2 2

2 2 2

1 1

0 0 0

0 0 0 0

Figura 8.9 – Deslocamento frontal.


Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila, Luis Casáis, José M. Cancela

Fundamentos técnico-táticos
9 individuais no ataque I

9.1 A recepção da bola 9.1.2 Princípios fundamentais

Não se deve olhar de forma contínua para


9.1.1 Definição quem possui a bola, mas se deve manter o contato
visual com a bola quando se dirigir ao receptor.
Define-se como “a ação de tomada de conta- Em qualquer circunstância, deve-se asse-
to com a bola com o objetivo de apoderar-se dela, gurar o máximo a posse de bola e, se necessário,
controlando-a para realizar na continuação outra perder possibilidades de êxito ou retificar a po-
ação”. (Falkowski e Enríquez).2 É a ação específica sição inicial.
e o efeito de receber a bola, assim como o gesto/ Sempre se deve colocar o corpo entre a bola
forma empregado para fazê-la. e o adversário, particularmente logo após recep-
A recepção supõe um dos elementos técnicos cioná-la, iniciando-se o dribling.
mais importantes, já que possibilita a posse de bola. Deve-se manter a atenção dividida entre a
É, pois, um ponto-chave para desenvolver todo o bola e o campo visual do jogo.
processo técnico seguinte, posto que seu domínio
permite o êxito em intervenções posteriores, no
momento oportuno e na velocidade conveniente. 9.1.3 Classificação
O seu trabalho deve centrar-se no princípio
da segurança, relacionado diretamente com a ve- Segundo a direção do passe e do receptor:
locidade do passe e a de deslocamento do receptor.  Frontais.
Este meio técnico está intimamente ligado  Diagonais para frente.
ao passe, pelo qual se desenvolverão conjunta-  Laterais.
mente e, se possível, também com diferentes des-  Diagonais para trás.
locamentos.  Por trás.
A trajetória, a altura e o tipo de passe, assim
como a posição dos jogadores e ações posteriores, Segundo a altura do passe:
determinarão o tipo de recepção.  Intermediárias.
102 Manual de Handebol

 Altas. ber a bola. A tomada de contato com a bola será


 Baixas. produzida, aproximadamente, no centro da tra-
jetória compreendida entre a primeira elevação
Especiais: dos braços e a posição vertical (movimento de
 Rodadas. flexão-extensão).
 De bate-pronto.
Recepção frontal intermediária: os braços
estendem-se para frente. De forma contínua, o
9.1.4 Descrição do gesto técnico receptor os flexionará, acompanhando o percurso
da bola. A colocação das mãos faz-se com os de-
Recepção frontal alta: os braços elevam-se dos orientados para cima e na posição recomen-
estendidos à altura da cabeça, de tal forma que a dada para receber a bola. A tomada de contato
bola se encontre dentro do campo visual do re- com a bola será realizada, aproximadamente, no
ceptor. Sem interrupção, acompanhando a bola centro da trajetória compreendida entre os movi-
no seu percurso, segue-se elevando os braços até mentos de flexão-extensão dos braços.
alcançar praticamente a vertical. A colocação das
mãos será com os dedos orientados com a face
para cima e na posição recomendada para rece-

Figura 9.2 – Recepção frontal intermediária.

Recepção frontal baixa: os braços estendem-


-se para baixo. De maneira continuada, o recep-
tor irá flexioná-los, acompanhando a bola e sua
Figura 9.1 – Recepção frontal alta. trajetória. A colocação das mãos far-se-á com os
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 103

dedos orientados para baixo e na posição reco- pelo jogador para não modificar o gesto normal
mendada para receber a bola. O contato com do deslocamento e a velocidade da corrida fron-
a bola realiza-se no centro aproximado da tra- tal, com o fim de não perder a força dos objeti-
jetória compreendida entre os movimentos de vos sucessivos e alcançá-los o quanto antes, deve
extensão-flexão dos braços. considerar-se transcendental, se queremos aplicar o
As posições indicadas nas recepções frontais, princípio fundamental básico da técnica: o jogador
seja qual for a sua altura, são aplicadas também deve estar disposto, em cada momento, para inter-
para as recepções: vir de forma imediata na ação posterior mais eficaz.
 diagonais.
 laterais. Recepções com a bola no chão:
 por trás.
 Bola e jogador estáticos: devem ser
Mais que isso, incorpora-se um novo gesto: aplicadas as normas indicadas no capí-
rotação do tronco para o lado de onde vem a bola, tulo de adaptação da bola, assegurando
movimento do qual se acentuará progressivamen- a sua posse com uma ou duas mãos.
te até alcançar o nível máximo das recepções por
trás. Dessa forma, não se modifica a força do des-
locamento e melhora-se a disposição para intervir
na ação posterior.
Sobre as recepções por trás, e concretamente
sobre a tomada de contato com a bola, convém
ter presente as seguintes considerações:

Alturas altas, intermediárias e baixas:

 Lado do braço executor: recebe com


a mão contrária ao braço executor; a
outra assegura a posse da bola. Figura 9.3 – Recepção com a bola no chão.
 Lado contrário ao braço executor: re-
cebe com a mão do braço executor; a  Bola parada e jogador em deslo-
outra assegura a posse da bola. camento frontal: deve utilizar-se o
procedimento chamado de “colher”,
Nas recepções diagonais, laterais e por trás, impulsionando a bola para frente no
o movimento de rotação que tem de ser realizado momento de adaptá-la com a mão do
104 Manual de Handebol

braço executor. A outra mão, situada  Bolas não controladas: a mão do bra-
frontalmente à primeira, deve assegu- ço executor acompanha a bola na sua
rar a posse da bola tomando o contato trajetória descendente, logicamente
com ela imediatamente depois da pri- coma a face palmar orientada para
meira ação. baixo. Depois do quique, a bola não
 Bola e jogador em movimento, na retrocederá ligeiramente, tomando
mesma direção e sentido: deve uti- contato com a bola imediatamente
lizar-se o procedimento igual ao da depois, reduzindo, consequentemen-
“colher”. No entanto, neste caso, para te, a força da reação do impacto. A ou-
assegurar a posse da bola, a ação do tra mão, com a palma orientada para
impulso deve ser realizada para trás, cima, assegurará a posse da bola.
adaptando-a com a mão contrária ao
braço executor. A outra mão assegu-
rará a posse da bola imediatamente
depois da primeira ação.
 A utilização do procedimento de “co-
lher” leva implícita, ainda mais, a pos-
sibilidade de manter a velocidade má-
xima do jogador no seu deslocamento.

Para colher a bola nas recepções com a bola


no chão, tendo em conta a distância até o chão, é
melhor fazê-lo com uma flexão de tronco ao invés
de flexão de pernas.

Recepção com quique:

Em algumas ocasiões, o jogador vê-se obri-


gado a receber bolas quando se encontra no ar Figura 9.4 – Recepção com passe quicado/indireto.
e muito próximas do chão, não havendo tempo
praticamente de recebê-las nas devidas condições  Bolas controladas procedentes de pas-
até depois que as quiquem. A este tipo de recep- ses indiretos: a mão do braço executor,
ção denomina-se de “bote-pronto” e os movimen- com a face palmar para a bola, chega
tos que se recomendam para efetuá-la são: praticamente ao local de impacto so-
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 105

bre o chão para acompanhá-la na sua  A orientação do jogador não está con-
trajetória. A outra mão, com a face dicionada à trajetória do passe.
palmar para baixo, assegurará a posse
da bola. Quando os passes não são corretos em rela-
 Nas recepções de quique pronto (rápi- ção à situação do receptor, o que obriga a realizar
do), convém flexionar o tronco, como uma postura forçada, o jogado deve retificar a sua
nas recepções com a bola no chão, situação, mesmo perdendo eficácia, em benefício
para poder intervir com prontidão na da segurança.
ação posterior.

Até agora, tratamos das recepções com o jo- 9.2 Adaptação à bola
gador em apoio. Só faltam, para finalizar as recep-
ções, aquelas nas quais o jogador se encontra em
suspensão, dada a altura do passe, que denomina- 9.2.1 Definição
remos de salto.
A adaptação da bola é um conceito de or-
Finalmente, como normas comuns para re- dem técnica dentro da relação jogador-bola: “É a
alizar a recepção, concordamos com Bárcenas e forma específica de colher e receber a bola com o
Román Seco:1 objetivo de abranger a maior parte dela” (Falko-
wski e Enríquez).2
 Em recepções estáticas, a perna con- Trata-se do domínio que possibilita a rapi-
trária ao braço executor deve estar dez dos gestos técnicos posteriores, e seu objetivo
adiantada, posição que favorece a con- é dar segurança à ação posterior.
tinuidade imediata para intervir na
ação posterior.
 Nas recepções estáticas e em relação à 9.2.2 Princípios fundamentais
posição das pernas e do tronco, é con-
veniente cumprir as indicações expos-  Não olhar a bola;
tas na posição de base ofensiva.  A face palmar da mão não deve tocar
 Nas recepções em deslocamento, a a bola;
posição de pernas e do tronco está re-  Utilizar, preferencialmente, as duas
lacionada com gestos técnicos de qui- mãos para realizar a adaptação da bola.
que, passe e lançamento.
106 Manual de Handebol

Figura 9.5 – Adaptação à bola.

9.2.3 Descrição do gesto técnico os lados de um triângulo com o indicador, que


toma essa forma com o polegar e o indicador da
A bola é recebida com a face palmar mé- outra mão. Tem de ficar, entre a superfície da bola
dia e as últimas falanges (pontas dos dedos). Os e da mão, um espaço (a face palmar nunca toca
dedos estão estendidos e abertos para abranger a a bola). Deve-se pressionar a bola com os dedos
maior superfície da bola. O polegar e o mínimo e mantê-los com firmeza para assegurar a posse,
estão em oposição; o polegar forma, por sua vez, mas sem rigidez para facilitar o manejo posterior.

Figura 9.6 – Recepção da bola.


Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 107

Não se deve confundir adaptação com re-  Obter facilidade para trocar o tipo de
cepção (tomada de contato com a bola), já que, gesto;
mais propriamente, a adaptação é a fase final da  Fazer possíveis mudanças de ritmo no
recepção. Tudo isso deve facilitar os movimentos jogo (rápido-lento/lento-rápido);
naturais e coordenados do pulso para dar sequência  Variedade das ações técnicas;
ao gesto técnico seguinte, que é o manejo (quando  Permitir um movimento natural e
estariam implicados o antebraço e o braço). continuado.

9.3 Manejo da bola 9.3.3 Princípios fundamentais

 Devem-se realizar os movimentos jus-


9.3.1 Definição tos e necessários;
 Realizar os movimentos com destreza
É o uso geral do braço executor (o braço que e espontaneidade;
adaptou a bola). Pode-se definir como “o conjun-  Todas as ações devem ser contínuas
to de todos os movimentos que o jogador tem que (coordenar ações técnicas).
realizar com o braço executor desde o momento
de controle da bola até que se desprende dela”
(Bárcenas e Román Seco).4 9.3.4 Descrição do gesto técnico
A partir do momento em que se recepciona
a bola, todo o manejo se realiza com um só braço. O manejo da bola permite todas as possibi-
Com a adaptação, evitamos que a bola caia; com lidades de movimento e amplitude do braço; as-
manejo, realizamos as ações técnicas posteriores. sim, depois de executar um controle com o braço,
Dado que, no jogo, se utiliza preponderantemen- pode-se realizar:
te com uma só mão, o manejo da bola é um fator
essencial da técnica que permite aumentar a efi-  elevação do braço (anterior, posterior,
cácia ofensiva e a qualidade das ações do jogador. lateral direita e lateral esquerda);
 flexão - extensão do cotovelo;
 pronação - supinação do antebraço;
9.3.2 Objetivos  flexão, extensão, abdução e adução do
pulso;
 Um bom manejo apresenta maior des-  giro do braço e pulso;
treza e domínio da bola;  circundução completa etc.
108 Manual de Handebol

Um bom manejo consegue-se:

 sem que o braço esteja rígido ou esten-


dido;
 mantendo-se o ângulo no cotovelo e
o braço “armado” para o lançamento;
 não deixando o pulso rígido.

No plano frontal, pode-se falar dos estereó-


tipos de manejo denominados armação do braço,
diferenciando-se quatro posições:

 Alto: o braço segue a prolongação da


linha do corpo e mantém um ângu-
lo em relação ao cotovelo; braço não
Figura 9.7 – Manejo da bola alta. estendido (braço com ligeira flexão).
Adaptação da mão com os dedos vira-
dos para cima.

Figura 9.8 – Posicionamento alto para o manejo da bola.


Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 109

Clássico: é o mais utilizado tanto em passes Altura intermediária: o braço prepara-se


quanto em lançamentos. É o mais fácil de assimilar como continuação da linha dos ombros. Adap-
em crianças. Adaptação com a mão virada para cima tação com os dedos virados para fora e ângulo de
e o braço e o antebraço formam um ângulo de 90o. 180o no cotovelo.

Figura 9.9 – Posicionamento clássico para o manejo Figura 9.10 – Posicionamento intermediário para o
da bola. manejo da bola.
110 Manual de Handebol

Altura do quadril: é mais baixo que o inter- jogador o máximo de possibilidades de progressão
mediário. Adaptação com os dedos virados para espacial com a bola, que amplia as oportunidades
baixo. Dar o passe caracteriza este tipo pelo fato de realizar deslocamentos rápidos e de culminar
de ter que ser realizado na altura do quadril. este tipo de ação. Marca a estreita relação sujeito-
-bola, tanto em habilidades e destrezas como em
recursos fundamentais, em função das faltas re-
gulamentares e dos encadeamentos com outros
conteúdos técnicos.

Figura 9.11 – Posicionamento na altura do quadril


para o manejo da bola.

Quando se falar em coordenação, é importan-


te levar em conta a cadeia cinética, já que, no mo- Figura 9.12 – Dribling.
mento de lançar, grande parte da força que damos à
bola sai dos impulsos coordenados de todo o corpo.
9.4.2 Princípios fundamentais

9.4 O dribling O uso de ambas as mãos, de forma alterna-


da, é imprescindível no quicar da bola, atendendo
9.4.1 Definição ao princípio do afastamento da bola com respeito
ao defensor.
O dribling define-se como “a ação de lançar
a bola contra o chão sem que exista perda de con-  Basicamente, o jogador não deve olhar
trole sobre ela”.3 É a ação técnica que oferece ao a bola;
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 111

 Mantém-se o princípio permanente  dar tempo para que os companheiros


do “campo visual”; se situem e organizem o ataque;
 Em nenhum caso, o uso do quique  progredir dentro de uma distância es-
deve provocar a diminuição desneces- timada maior que a dos três passos.
sária do ritmo coletivo.

Deve-se proteger a bola ante a um adversário


próximo, para o qual o jogador tem que se colocar
entre a bola e o adversário. Este recurso técnico
só deve ser executado quando estiver plenamen-
te justificado, já que seu uso indevido supõe um
freio em determinados momentos próprios do es-
porte coletivo no qual a velocidade de transição
da bola é o nexo mais eficaz entre os atacantes;
ou seja, não se pode progredir quicando a bola
se existe um companheiro desmarcado e em boa
posição para receber a bola.
Não obstante, aparecem situações concretas
que requerem a execução e a oportuna utilização Figura 9.13 – .
do quique usados contextualmente com outros
recursos técnicos do jogador para:
9.4.3 Classificação
 saídas de fintas;
 atrair o adversário; Adotando as propostas de Bárcenas e Ro-
 se afastar do oponente; mán,4 deverá ser:
 evitar a perda da bola, uma vez dados
os três passos regulamentares; Em função da distância que tem de percorrer:
 evitar a retenção da bola;  unitário (um só quique ou bote): apli-
 mudanças (trocas) de ritmo; ca-se para unir dois ciclos de passos;
 cadenciar o jogo em algumas circuns-  continuado (vários quiques).
tâncias;
 desdobrar (superar) o adversário; Em função da altura:
 se aproximar à distância de lançamen-  alto;
to (tiro);  baixo.
112 Manual de Handebol

Em função da trajetória da bola: Dribling baixo:


 vertical;
 oblíqua.

9.4.4 Descrição do gesto técnico

Dribling alto vertical:

 Cabeça: erguida, obtendo em todo


momento o campo visual útil;
 Tronco: em posição natural ou ligeira-
mente flexionado (se o quique é baixo,
a flexão se acentua mais);
 Braço executor: antebraço ligeiramen-
te flexionado sobre o braço e separado
do corpo; Figura 9.14 – Dribling baixo.
 Pernas: flexionadas, tanto simétrica
como assimetricamente; neste caso,  Cabeça: tentando obter um campo vi-
adiantar a perna contrária ao braço sual amplo;
executor;  Tronco: semiflexionados;
 Controle do dribling: o contato da  Pernas: em posição assimétrica, adian-
bola efetua-se com a mão aberta, tando a perna contrária ao braço exe-
sendo os dedos e a face média da cutor. Em comparação com o bote
palma a superfície de contato, com alto oblíquo, a flexão acentua e am-
movimento coordenado do braço plia, de forma regulada, a separação
executor efetuando uma elevação do das pernas, pois, ao se chegar o tronco
antebraço e uma flexão-extensão do no chão colocando o peso do corpo
pulso. É utilizado para deslocamen- na perna adiantada, produz-se certa
tos em forma de marcha ou em caso descompensação que deve ser corrigi-
de botes unitários. da abrindo-se o compasso das pernas
para manter o equilíbrio;
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 113

Figura 9.15 – . Figura 9.16 – .

 Controle do dribling: se a ação é con- Dribling oblíquo:


tinuada, devemos manter o indica-  Cabeça: ligeiramente flexionada;
do para o bote vertical oblíquo, mas  Braço executor: produz-se uma maior
com trajetória menos acentuada, ou extensão do antebraço e a bola proje-
se efetua o bote com menor altura e ta-se para frente;
mantém-se reduzida a trajetória da  Pernas: de acordo com a corrida;
bola. A força do golpe deve diminuir  Controle do dribling: o impulso da
consecutivamente. bola deve ser elevado para assegurar
 No bote baixo, em que existe uma uma trajetória suficientemente oblí-
grande inclinação do tronco, deve-se qua e regulada, na direção em que se
evitar um aumento exagerado da fle- desloca o jogador e que melhor permi-
xão das pernas, já que isso atrapalharia ta a progressão;
a velocidade de deslocamento.  Este tipo de dribling pode regularizar-
-se em benefício da velocidade, com
intervalos amplos que permitam in-
tercalar vários passos entre cada con-
tato com a bola.
114 Manual de Handebol

Mudança de direção no dribling: 9.5 O desmarque (jogar sem bola)


 Jogador destro que modifica sua dire-
ção para o lado direito: toma impul- 9.5.1 Definição
so com a perna esquerda, muda de
orientação, dirige a bola para a nova O desmarque define-se como a “ação suces-
direção, mantendo o dribling. Segui- siva que persegue a ocupação de um espaço eficaz
damente, volta a utilizar a mão do antes que o defensor eluda sua marcação” (Trosse).8
princípio; Desmarcar-se é “escapar” das possibilidades de
 Jogador destro que modifica sua di- intervenção dos defensores, com o fim de se encontrar
reção para o lado esquerdo: impulso livre para atuar, mas, também, deve resultar acessível a
dado com a perna direita, mudando outro colega para participar na conservação e na pro-
de orientação e dirigindo a bola para a gressão da bola ou na realização de um gol. Esta ação
nova direção sem trocar de mão. está intimamente ligada à recepção, já que o desmar-
que é fundamental para poder receber a bola. Para se
Mudança de sentido no dribling: desmarcar, o jogador realiza duas ações: oferecer-se no
 Giro para o lado direito: impulso com espaço e se orientar em relação à situação de jogo, gol
a mão esquerda mudando de orien- adversário, companheiros de time.
tação, dirigindo a bola para a nova
trajetória, ajudando-se com a mão
esquerda e golpeando em ação de dri- 9.5.2 Objetivos
bling contínuo. Seguidamente, volta a
utilizar a mão do início;  Esquivar-se da marcação ou, em seu
 Giro para o lado esquerdo: impul- efeito, reduzi-la para eficácia pela ob-
so sobre a perna direita trocando de tenção de uma ligeira vantagem den-
orientação e dirigindo a bola para a tro dos espaços de manobra mais vari-
nova trajetória sem trocar de mão; áveis em função da distância.
 As indicações específicas anteriores  Superar a vigilância de um ou vários
são válidas para os jogadores canho- adversários para provocar, coletiva-
tos, tendo em conta que o bote se rea- mente, uma situação de superiorieda-
liza com a mão esquerda. de numérica que facilite a conclusão
do ataque e crie as condições favorá-
veis para a ação final.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 115

 Buscar espaços livres no jogo de ata- Em função da trajetória empregada:


que, bem como para receber a bola ou
facilitar a ação dos companheiros.  desmarque em profundidade: deslo-
 Oferecer-se como opção de passe ao car-se para o objetivo, o gol, ou espa-
colega com bola. ços vários próximos a este, utilizando-se
trajetórias retilíneas e curvilíneas;

9.5.3 Princípios fundamentais

O desmarque terá êxito se conseguirmos


certa vantagem sobre o defensor para poder re-
ceber a bola, para o qual devemos nos afastar da
zona de atuação deste.
O campo visual deve concentrar-se em um
lugar alheio ao objetivo previsto, com o fim de Figura 9.17 – Desmarque em profundidade com tra-
conseguir maior informação global do jogo e não jetória retilínea.
dar pistas ao oponente.
Realizá-lo no momento oportuno e à velo-  desmarque em apoio: deslocando-se
cidade conveniente; recomenda-se a realização de para assegurar a conservação da bola
troca de direção e de velocidade da ação. e criar espaços para os companheiros,
A chave do desmarque reside em observar a utilizando-se trajetórias retilíneas e cur-
distância adequada, evitando o contato físico com vilíneas, mas com mudanças de direção.
o defensor.

9.5.4 Classificação

Em função da situação do defensor:

 desmarque direto, buscando-se a pene-


tração ante ao desequilíbrio do defensor.
 desmarque com mudança de direção,
quando o desequilíbrio inicial do defensor
não é tão grande e, portanto, insuficiente. Figura 9.18 – Desmarque em apoio.
116 Manual de Handebol

9.5.5 Descrição do gesto técnico É considerado uma das habilidades funda-


mentais para o jogo, já que permite a comunicação
A realização do desmarque depende, fun- entre jogadores que estão realizando ações coleti-
damentalmente, dos deslocamentos sem bola do vas. Este elemento é fundamental ou se concreti-
possível atacante receptor; para isso, deve situar-se za no vínculo de relação entre os jogadores. Deve
oportunamente sobre o campo de jogo, fazer pos- realizar-se sempre com as máximas garantias de se-
síveis transmissões e facilitar, assim, a circulação gurança para alcançar a continuidade no jogo.
da bola e sair das zonas possíveis de interceptação
e de oposição ocorridas pela vigilância dos adver-
sários. Não se deve adotar a imobilidade, mas, 9.6.2 Princípios fundamentais
com seus deslocamentos, tem de se situar em uma
zona favorável para a transmissão da bola. Deve Deve ser realizado sobre o jogador situado
consegui-lo descentrando-se, momentaneamente, nas condições mais favoráveis para que a ação pos-
da bola para se informar sobre as zonas nas quais terior adquira a maior eficácia.
ele poderá desenvolver a sua ação (espaços livres). Deve-se dominar o maior número de tipos
A esse conjunto de ações prévias ao recebimento de passe, selecionando o mais adequado a cada
da bola denomina-se corrida de desmarcação. Es- situação de jogo.
tas dependerão de uma trajetória específica que o Tem de ser realizado com suficientes garan-
atacante sem bola empregue para ocupar as possí- tias de posse. Recomenda-se ao jogador com posse
veis zonas de recepção e ajustar-se aos princípios de bola que comprove previamente e com rapidez
dos deslocamentos. a situação dos oponentes mais próximos ao recep-
tor e suas possibilidades de cortar a trajetória do
passe. Antes de se realizar um passe deficiente ou
9.6 O passe inútil, em que a bola não chegará ao seu destino,
é preferível trocar sua direção, ainda que esta nova
ação não tenha maior transcendência.
9.6.1 Definição Durante a sua execução, não se fixa o olhar
para o possível receptor, ainda que previamente
O passe é “a ação de transladar ou enviar tenha de se estabelecer contato visual com ele.
a bola de um jogador a outro” (Trosse),8 assim Deve realizar-se com tensão adequada. A
como “o gesto/forma apropriado que se pode força deve regular-se em função da distância exis-
empregar” para transportar a bola de um local a tente entre o passador e o receptor. Não devemos
outro da quadra. nos esquecer de que a bola no ar não prejudica o
defensor e é totalmente necessário que, além do
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 117

seu translado, chegue ao seu destino no tempo  por cima do ombro do braço executor.
mais breve possível.  deixada.
Deve fazer-se com precisão. Um passe mal-  retificado.
dirigido obriga a modificar posições adotadas,  entre as pernas.
atrasando a intervenção do jogador e, como con-
sequência, a da equipe. Geralmente, se o receptor Em contato com o chão (com as duas mãos):
é marcado próximo, a direção é ao ombro do bra-  de peito;
ço executor. Se for marcado à distância, o passe  por cima da cabeça.
será feito ao espaço livre de marcação. Se o recep-
tor está em deslocamento, a direção será sempre Em suspensão (com uma mão):
ligeiramente por diante do receptor.  frontal;
Com oponente próximo, deve-se proteger a  lateral.
bola colocando-se entre ela e o adversário.
A utilização de um tipo de passe ou outro
está determinado pelo(a): 9.6.4 Descrição do gesto técnico

 altura da recepção; Suporemos que o jogador executante seja


 situação do adversário; destro.
 tipo de ação posterior;
 velocidade de execução coletiva;  Passes em com contato com o chão (Com uma
 posição do corpo em relação ao braço mão) ou passe em apoio:
dominante.
Clássico frontal (altura do ombro do braço
executor): o braço coloca-se em posição horizon-
9.6.3 Classificação tal (altura do ombro) e o antebraço, semiflexio-
nado, em posição vertical orientado para cima. O
Em contato com chão (com uma mão): braço e o antebraço formam, praticamente, um
 clássico (frontal e lateral). ângulo reto. A face palmar da mão que controla a
 altura intermediária ombro-quadril bola situa-se dando frente à direção do passe com
(frontal e dorsal). os dedos orientados para cima. Ligeira rotação do
 altura baixa (frontal e lateral). tronco ao mesmo tempo que se projeta o braço
 em pronação (frontais, laterais, e para executor na direção do lançamento.
trás).
 por trás do corpo (frontais e laterais).
118 Manual de Handebol

Figura 9.16 – Passe clássico frontal. (FOTO PÁGINA uma nova rotação do tronco para o lado do lan-
75, Livro Balonmán) çamento, projetando o braço executor na direção
do passe.
Clássico lateral para o lado direito (altura do Altura baixa (frontal): a posição correspon-
ombro do braço executor): igual disposição da uti- de ao passe clássico frontal, altura intermediária,
lizada para o passe clássico frontal, mas acentuando com lógica variação na altura de iniciação do
a rotação do tronco. Não se realiza desrotação. gesto que obriga uma maior inclinação do tron-
Clássico lateral para o lado esquerdo (altura co. Este movimento converte-se em semiflexão
do ombro do braço executor): posição igual à do à medida que a posição de início se aproximada
passe clássico frontal. A partir deste momento, ro- do chão, uma vez que o braço executor perde
tação, desrotação e nova rotação do tronco para o horizontalidade.
lado do lançamento, projetando o braço executor Altura baixa (lateral para a direita): acentu-
na direção do passe. ando a inclinação do tronco para o lado do braço
Altura intermediária, ombro-quadril (fron- executor, a posição corresponde à do passe clássi-
tal): o antebraço coloca-se ligeiramente flexionado co lateral para o lado direito, altura intermediária.
sobre o braço, com a extremidade radial orientada Diferencia-se pela altura da posição inicial, que,
para cima. A face palmar deve estar em direção ao neste caso, por ser mais baixa em relação ao braço
passe, com os dedos orientados lateralmente. O executor, descende perdendo a horizontalidade.
tronco deve estar ligeiramente inclinado e roda- Altura baixa (lateral para a esquerda): par-
do para o lado do braço executor. A continuação tindo da posição do passe clássico frontal, altura
desfaz a rotação do tronco e projeta-se o braço na baixa, produz-se rotação, desrotação e nova rota-
direção do passe. ção do tronco para o lado de lançamento, proje-
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral tando o braço executor na direção do passe.
para o lado direito): com exceção da inclinação De pronação frontal (altura intermediária):
do tronco, a posição corresponde ao passe clássico a bola adapta-se às duas mãos (altura do abdô-
frontal, altura intermediária, mas aumentando a men, aproximadamente). Os antebraços colo-
rotação do tronco para o lado do braço executor. cam-se ligeiramente flexionados sobre os braços,
Não se desfaz a rotação do tronco. Projeção do com a extremidade radial virada para cima. O
braço executor na direção do passe. tronco se mantém ligeiramente inclinado para
Altura intermediária, ombro-quadril (lateral frente. No momento em que a mão contrária ao
para o lado esquerdo): posição igual à do passe braço executor perde contato com a bola, aquele
clássico frontal, altura intermediária. A partir des- se estende na direção do passe, efetuando-o, ao
te momento, efetua-se uma rotação, desrotação e mesmo tempo que se produz um movimento de
pronação para facilitar a impulsão do lançamento.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 119

Na altura baixa, realiza-se da mesma forma. Neste do tronco é mais articulada e o movimento de su-
caso, a bola parte de uma posição mais próxima pinação, mais acentuado.
do chão e, em conseqüência, a inclinação do cor- Por cima do ombro do braço executor: o bra-
po é maior (pronunciada). ço executor, em semiflexão, coloca-se à altura da
De pronação lateral para a direita (altura in- cabeça, aproximadamente. A palma da mão que
termediária): a posição de início é similar à indi- controla a bola fica orientada para cima. Ligeira ro-
cada no passe de pronação frontal, por exceção do tação do tronco, para o lado do braço executor, com
braço executor na direção do passe. Realiza-se da uma suave inclinação. Efetua-se o passe mediante
mesma forma na altura baixa e, consequentemen- impulso dado pelo braço executor, acentuando-se,
te, a inclinação do tronco é maior. neste momento, a rotação do tronco e orientando
De pronação lateral para trás (altura interme- a face palmar da mão na direção do passe. Neste
diária): a posição de início é similar à indicada no lançamento, pode fazer-se lateral ou frontal. Disso
passe de pronação frontal. Devemos realizar um dependerá o grau de rotação do tronco.
movimento de rotação do tronco para o lado do Deixada (vaselina): efetua-se uma rotação
braço executor no momento em que se efetua a ex- do tronco para o lado do braço executor, que se
tensão e a pronação do braço na direção do passe. estende para trás com a palma da mão que con-
trola a bola orientada para cima. Seguidamente,
Figura 9.17 – Passe pronado lateral para trás. (FOTO abre-se a mão, com a qual a bola fica sem susten-
PÁGINA 77, Livro Balonmán) tação sobre a face palmar modelada como ban-
deja, efetuando-se ligeiro impulso para cima ao
Por trás, lateral para a esquerda: orientado tempo em que se retira, de forma súbita, a mão.
para baixo, o antebraço coloca-se ligeiramente fle- Retificado: efetua-se uma flexão de tronco
xionado sobre o braço e à altura do quadril. A pal- para o lado contrário ao braço executor, e este rea-
ma da mão controla a bola de frente para o corpo. liza um movimento de flexão por trás da cabeça e
O tronco mantém-se ligeiramente inclinado para a posterior extensão para se desfazer da bola.
frente. Coincidindo com uma rotação e ligeira in-
clinação do tronco para o lado contrário do braço Figura 9.18 – Passe retificado. (FOTO PÁGINA 78,
executor, projeta-se este por trás, como se tentás- Livro Balonmán)
semos abraçar o próprio corpo. Neste momento,
o jogador, com a linha dos ombros orientada na Entre as pernas: realiza-se com o último pas-
direção do passe, culminará a ação do lançamento so mais longo do que o habitual; quando se apoia
com movimento de supinação. Este passe realiza- o pé no chão, o braço oscila para o centro, entre
-se, também, frontalmente. Neste caso, a rotação as pernas, efetuado o passe.
120 Manual de Handebol

 Passe em contato com o chão (com as duas mãos) alcançar a máxima altura. O gesto total deverá ser
acompanhado de uma desrotação do tronco para
De peito frontal: os braços semiflexionados o lado do braço executor. O lançamento efetua-se
e recolhidos próximos ao corpo adotam a técnica projetando o braço na direção do passe, coincidin-
de adaptação da bola com as duas mãos. O tron- do com uma desrotação do tronco. Pode estabele-
co mantém-se ligeiramente inclinado para frente. cer-se igualmente a suspensão impulsionando-se
Estendem-se os braços para frente na direção do simultaneamente com as duas pernas, ainda que,
passe, efetuando, ao mesmo tempo, o impulso neste caso, a disposição do braço executor deva
da bola mediante um movimento de pronação conseguir-se mediante uma trajetória vertical.
simultânea com ambos os braços. Se o passe for Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
lateral, será necessário acrescentar uma rotação do indicações especificadas no passe clássico frontal,
tronco para o lado do passe. mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
Por cima da cabeça: os braços ficam ligeira- vimento de pronação do braço. Não se desfaz a
mente flexionados e dirigidos para cima. As mãos rotação do tronco.
colocam-se na posição recomendada na técnica de Lateral para a direita: mantêm-se as mesmas
adaptação da bola com as duas mãos. O tronco indicações especificadas no passe clássico frontal,
mantém-se erguido. Impulsiona-se a bola na di- mas, na execução, devemos acrescentar um mo-
reção do passe, projetando os braços para frente e vimento de pronação do braço. No momento do
inclinando, às vezes, o tronco, na mesma direção. passe, produz-se uma ligeira rotação para o lado
No caso de passe lateral, deverá haver uma rota- oposto do braço executor.
ção do tronco para o lado do passe.

 Passe em suspensão (com uma mão) 9.7 O lançamento ao gol

Frontal: o impulso começa na perna contrá-


ria do braço executor, flexionando-a ligeiramente 9.7.1 Definição
para incrementar o impulso; eleva-se o corpo e o
braço que controla a bola verticalmente até alcan- Define-se como “a ação de aplicar um im-
çar a máxima extensão do braço, ou, também, se pulso à bola de forma que percorra uma distância
pode alcançar mediante um movimento de cir- determinada em direção ao gol, procurando supe-
culação. A superfície palmar da mão orienta-se rar o goleiro e conseguir o gol”.3
na direção do passe. No momento do impulso, É a ação técnica com a qual culmina o jogo
a perna do braço executor flexiona-se para cima no ataque. Resulta da coordenação de ações indi-
para favorecer a rapidez da suspensão (do salto) e viduais, grupais ou coletivas e das contribuições
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 121

técnicas dos jogadores no ataque que dirigem os  Que a bola percorra a trajetória esco-
seus esforços para conseguir o gol, considerado lhida no mínimo espaço de tempo.
objetivo fundamental. Encontrar a situação ide-
al para o lançamento ao gol é a tarefa básica do O lançamento deve responder ao denomi-
jogo ofensivo, que finaliza com essa ação e que, nador comum da precisão, não isento de rapidez,
de certa forma, supõe o fracasso ou êxito do jogo escolhendo a trajetória adequada dentro do ângu-
anteriormente elaborado. lo de tiro que se apresenta.

9.7.2 Princípios fundamentais 9.7.3 Classificação

O lançamento deve ser realizado quando se Em função da altura do lançamento, para


conseguir trajetórias livres de marcação. Conside- efeitos de localização das zonas onde se dirige a
ra-se que o jogador obteve estas possibilidades: bola, divide-se a altura do gol em três partes:

 quando entre o atacante e o gol não  Zona número 1: altura superior;


existem mais obstáculos que o goleiro;  Zona número 2: altura intermediária;
 quando entre o atacante e o gol se en-  Zona número 3: altura baixa.
contram vários jogadores de campo,
oponentes à distância, mas existem
trajetórias livres de marcação;
 quando entre o atacante e o gol se
encontra um oponente em marcação
próxima, mas se obtêm trajetórias li-
vres de marcação modificando a altu-
ra ou o tipo de lançamento e, como
consequência, a situação primária do
braço executor.

O lançamento deve ser rápido nas suas duas Figura 9.19 – Divisões do gol.
vertentes fundamentais:
A altura do lançamento pode ser determi-
 Mínimo de espaço de tempo na sua nada por:
execução.
122 Manual de Handebol

 características antropométricas do goleiro; Com base na linha de jogo, os motivos de


 características físicas do goleiro; interpretação do jogador que se consideram lan-
 situação e posição do goleiro. çamentos importantes são os seguintes:

Nos lançamentos desde a linha da área de Quadro 9.1 – Tipos de lançamentos no handebol
gol, é recomendável escolher a trajetória corres- Tipo de
Primeira linha Segunda linha
lançamento /
pondente ao lado em que se encontra apoiada (Armadores) (pontas e pivô)
linha ofensiva
uma perna do goleiro se a outra estiver em sus- Altura do ombro
Clássico Altura do quadril Altura do quadril
pensão.
Altura baixa Altura baixa
Deve proceder-se da mesma forma se o lan- Lado contrário do Lado contrário do
çamento se realiza desde um posto específico da braço sem queda braço sem queda
Lado contrário do Lado contrário do
ponta. Neste caso, não importa se a perna que Retificado
braço com queda braço com queda
está apoiada pelo goleiro é a correspondente ao Mesmo lado do Mesmo lado do
ângulo menos amplo sempre e quando exista en- braço com queda braço com queda
Adquirindo a Adquirindo a
tre ela e o poste mais próximo a distância mínima
Suspensão maior altura maior altura
para que passe a bola. possível possível
Se o goleiro, além de intervir em suspensão, Sem queda, ad- Sem queda, ad-
quirindo a máxi- quirindo a máxi-
realiza uma progressão de fechamento ao executor
ma profundidade ma profundidade
do lançamento, convém escolher uma trajetória Salto Salto com queda
parabólica. Salto sem queda
Caindo sem salto
É imprescindível que o jogador domine
Caindo com salto
a ação de retardar o lançamento ao gol quando
existirem tais circunstâncias. Não devemos nos
esquecer de que o goleiro tenta sempre intuir, Além desses lançamentos durante o jogo
antecipadamente, a trajetória da bola escolhida, posicional, ainda existe o lançamento de sete me-
tanto em direção como em altura. tros, que ocorre quando o atacante sofre uma falta
Isso oferece a possibilidade de mudar ime- quando está em clara chance de gol.
diatamente a trajetória pensada no início, circuns-
tância que se torna fundamental na observação
específica, no domínio da bola, manejando-a com 9.7.4 Descrição do gesto técnico
destreza, na coordenação de movimentos que im-
plicitamente apresentam as mudanças súbitas de  Primeira linha
gesto/forma.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 123

Clássico (altura do ombro do braço executor): colocando o corpo quase na horizontal. Depois
realiza-se da mesma forma que o passe clássico fron- do lançamento, a mão contrária à do braço execu-
tal, mas com uma armação mais ampla, a rotação do tor coloca-se no chão.
tronco mais acentuada e uma desrotação instantânea.
Foto 9.24 – Lançamento retificado pelo lado contrá-
Foto 9.20 – Lançamento clássico. (FOTO PÁGINA rio ao braço executor. (FOTO PÁGINA 85, Livro Ba-
84, Livro Balonmán) lonmán)

Altura intermediária: dão-se as mesmas con- Retificado pelo mesmo lado do braço execu-
siderações que para o passe, com as observações tor (com queda): partindo de uma posição de lan-
expostas anteriormente. çamento com armação para o lançamento interme-
diário, produz-se uma flexão e rotação do tronco
Foto 9.21 – Lançamento da altura quadril. (FOTO para o lado do braço executor, que, no momento
PÁGINA 84, Livro Balonmán) da armação, se projeta para trás. O lançamento
produz-se por meio de uma desrotação do tronco,
Altura baixa: idem. e o corpo fica sobre o chão em contato dorsal.

Figura 9.22 – Lançamento de altura baixa. (FOTO  Primeira e segunda linha


PÁGINA 84, Livro Balonmán)
Em suspensão: a sua execução corresponde-
Retificado pelo lado contrário ao braço exe- -se com a do passe frontal em suspensão, mas com
cutor (sem queda): partindo de uma posição de uma rotação mais acentuada. A armação pode
lançamento clássico ao gol, efetua-se uma incli- produzir-se igual ou bem no que se denomina
nação do tronco ao mesmo tempo que se produz “armação em aspas”, elevando o braço mediante
uma abdução do braço executor com a extremi- um movimento de circundunção. No momento
dade cubital virada para cima e situando-se por do lançamento, produz-se uma flexão e rotação
trás da cabeça. Finalmente, produz-se, desde essa do tronco.
posição, uma rotação e desrotação do tronco. Em salto (sem queda): impulsiona-se com
a perna mais adiantada, buscando profundidade.
Figura 9.23 – Lançamento retificado sob o braço. Coincidindo com salto, produz-se uma rotação
(FOTO PÁGINA 85, Livro Balonmán) de tronco e correspondente armação. Este tipo de
lançamento sofre modificações segundo o posto
Retificado pelo lado contrário do braço exe- específico de que se trata. Desde a ponta e com
cutor (com queda): dá-se uma inclinação maior, lado bom, deve ampliar-se o ângulo de lançamen-
124 Manual de Handebol

to e, desde o lado mal, produzir uma inclinação controlada na altura do abdômen, dando frente
do tronco e uma armação por trás da cabeça. ao gol. Seguidamente, o jogador deixa-se cair ao
mesmo tempo que eleva ligeiramente o braço exe-
 Segunda linha (pontas) cutor para lançar.
Em queda (com salto): efetua-se de forma
Em salto (com queda): é um lançamento ca- idêntica, ainda que com maior impulso de pernas
racterístico dos pontas. A sequência de execução para obter maior penetração.
é a seguinte: De acordo com as exigências do jogo, em
muitas ocasiões o jogador não pode nem deve
 Recepção: o mais próximo da linha de atender aos princípios básicos de colocação das
6 metros, com uma aproximação rápida pernas. Em consequência, o lançamento deve ser
a ela. realizado com posições especiais de pernas; ou
 Batida: o mais próximo da linha, de seja, efetuando o lançamento ao gol com a per-
forma explosiva e enérgica, com tra- na do braço executor adiantada (lançamento em
jetória para a linha de 7 metros e ga- apoio) ou depois impulsionar com a perna corres-
nhando profundidade e altura no salto. ponde à do braço executor (lançamento em sus-
 voo: o mais longo possível para au- pensão ou salto).
mentar o ângulo de lançamento. A Os lançamentos que partem de uma posi-
armação do braço produz-se o mais ção baixa realizam-se mediante uma inclinação
tarde possível para que a bola não seja do tronco, sem aumentar a flexão das pernas ou
interceptada pelos defensores e o go- abrindo o compasso normal destas para chegar-se
leiro a veja durante pouco tempo. ao chão. Trata-se de evitar que as possibilidades de
 armação: não há estereótipos. Depen- intervenção posterior do lançador sejam negati-
de da posição do goleiro. vas, já que uma maior flexão de pernas dificultaria
 trajetória: normal, parabólica ou em a intervenção imediata do jogador em outra ação
rosca (com efeito). consecutiva.
 queda: rodando (rolamento) ou des- Para cumprir o princípio fundamental de
lizando. intervenção oportuna à velocidade conveniente,
é necessário que o jogador, depois de realizar o
 Segunda linha (pivôs) lançamento, adquira uma postura equilibrada o
quanto antes, para poder responder, no momento
Em queda (sem salto): é um lançamento preciso, a posteriores exigências do jogo.
característico dos pivôs, com apoio em um pé O jogador deve dedicar uma atenção espe-
ou nos dois, flexionando as pernas e com a bola cial a não pisar na linha da área de gol quando
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 125

executar o lançamento nas suas proximidades. O único obstáculo para que o jogador em posse de
esforço realizado individual e coletivamente pode bola possa tratar de alcançar o gol.
se reduzir a uma perda da bola. Desde as proximi-
dades da área de gol, antes de realizar o lançamen-  Lançamento de 7 metros
to, o jogador deve olhar a situação da linha.
Quanto à forma de estabelecer as quedas no Partindo das limitações regulamentadas, a
lançamento, a experiência demonstrou que cada execução deste lançamento vai acompanhada de
jogador adapta seu corpo para amortecer o cho- movimentações e fintas para enganar o goleiro.
que. Não obstante, o deslizamento peitoral pela
área ou queda com rolamento dorsal com contato
no chão representam as formas mais usuais para 9.8 A finta
reduzir os impactos que nos ocupam.
Em geral, o lançamento ao gol deve estar
dominado pela potência. O jogador deve desen- 9.8.1 Definição
volver a sua força à máxima velocidade, mediante
realização explosiva do gesto total de cada lança- A finta define-se como “uma ação realizada
mento. pelo jogador com bola que, por meio de um en-
Em comparação com o passe, a projeção do gano, tenta iludir uma marcação em proximidade
braço executor para trás tem de ser mais aguda do oponente direto”.5 É “um gesto mediante o
para obter um movimento uniformemente acele- qual o atacante com bola tenta superar um defen-
rado, mais amplo na execução do lançamento, e, sor, realizando uma ação prévia de engano e uma
assim, incrementar a velocidade da bola na sua posterior para aproveitar o dito engano”.3d O seu
trajetória. objetivo mecânico é provocar um desequilíbrio
Como em definitivo se trata de que a exe- corporal do rival (contrapé).9
cução do lançamento e a trajetória da bola sejam É um elemento técnico muito utilizado no
rápidas, tem de se buscar o equilíbrio na projeção jogo um contra um, observando que sempre é o
do braço executor ao se realizar a armação para o que se encontra atrás do adversário fintado. No
lançamento. jogo um contra dois, utiliza-se para alcançar um
O executor de um lançamento ao gol deve deslocamento de engano entre dois defensores.
concentrar a sua atenção nos movimentos e nos É importante diferenciar de outros elemen-
deslocamentos na intervenção do goleiro. Temos tos técnicos como a desmarcação (que se realiza
de pensar que, uma vez obtidas as possibilidades sem bola), ou a troca de direção (não possui fase
de lançamento, é lógico concentrar todos os es- de freada, se realiza sem a bola). Como elemento
forços em surpreender o goleiro, que constitui o diferenciador, uma finta exige:
126 Manual de Handebol

Estar em posse da bola:


 uma progressão que permita pelo me-
 Proximidade do defensor. nos igualar em profundidade a situa-
 Deslocamento de engano: com uma fase ção do defensor;
de freada acompanhada de uma flexão  fixar o defensor;
de tronco e orientação frontal para a tra-  desequilibrar o defensor;
jetória de saída, protegendo a bola com  iludir/esquivar a oposição ou contato
as duas mãos na altura do abdômen. Se de um adversário.
o defensor não “cai” na finta, continua-
-se a trajetória inicial (lado falso).
 Fase de saída, já com o braço armado. 9.8.2 Princípios fundamentais

O aspecto perceptivo é de grande importân- A trajetória de engano deve oferecer uma


cia, para o qual, antes de realizá-lo, devemos ana- possibilidade eficaz que resulte perigosa para o
lisar a situação periférica. A ordem de observação defensor.
dos espaços é a seguinte: A finta tem de ser determinante para o de-
fensor, pelo qual não se deve repetir de forma exa-
 Possível posição de lançamento. gerada.
 Passe a um jogador desmarcado. Deve adaptar-se às possíveis respostas do de-
 Finta. fensor ante a finta, para o qual o atacante deve
 Lançamento. possuir: velocidade de reação, troca de ritmo e
campo visual útil.
Devemos observar ainda: Outros pontos que se devem ter em conta são:

 espaço entre o jogador fintador e o  A finta é uma opção tática dentro do


defensor; jogo geral do 1 x 1.
 espaço atrás do defensor;  Não realizar se as possibilidades obser-
 relação do gol e do goleiro: ângulo de vadas são nulas.
lançamento, situação do goleiro, posi-  Não buscar o contato com o oponen-
ção de lançamento etc. te. Atacar o espaço. Forçar o defensor
a se desdobrar no espaço.
O objetivo fundamental da finta é superar o  A proteção da bola realiza-se sempre
defensor mediante um engano para posteriormen- com o braço na posição de lançamen-
te penetrar, mas, além disso, também se busca: to e não à altura do abdômen.
Fundamentos técnico-táticos individuais no ataqueI 127

 A coordenação dos passos no deslo- Outra forma de classificar as fintas é dada


camento é dada pelo resultado do en- por Greco:10
gano (fintar sem bola), procurando-se
sempre não ir sobre outro defensor.
 A perna de freio deve ser sempre con-
trária à de saída.

9.8.3 Classificação

Segundo Bárcenas & Román2:

Segundo o momento da recepção: Figura 9.25 – Tipos de fintas no handebol.


 em contato com o chão.
 em suspensão. As fintas de queda sobre um pé são utiliza-
 segundo a orientação prévia: das quando o defensor está a uma distância que
 de frente para o oponente. não lhe é possível fazer contato com o atacante.
 de costas. São mais rápidas e têm semelhança com a troca
 de lado. de direção e velocidade. Pode ser realizada com-
 combinado. binando as passadas e saindo sobre ou contra o
braço de lançamento. As fintas de queda de re-
Segundo a trajetória de saída: cepção e de queda com os dois pés paralelos são
 normal. utilizadas quando o defensor está próximo e na
 falsa. frente do atacante, em uma distância que seja pos-
sível o contato corporal entre atacante e defen-
Segundo o número de trocas de direção: sor. Podem ser realizadas com uma, duas ou três
 simples. passadas, saindo contra ou a favor do braço de
 dupla. lançamento. Os giros são fintas pouco utilizadas
atualmente no handebol, porém uma boa técnica
Segundo o momento da troca de direção: para pontas e pivôs.
 no ponto certo.
 no primeiro passo.
 no segundo passo.
 no terceiro passo.
128 Manual de Handebol

9.8.4 Descrição do gesto técnico

O movimento global de uma finta consta de


várias fases ou momentos:

 Deslocamento de engano: realiza-se um


deslocamento para algum lugar deter-
minado, afastado do defensor e, usu-
almente, para o lado contrário pelo
qual se tenta sair da finta.
 Fase de freada: produz-se uma flexão
de tronco, com orientação frontal do
corpo para a trajetória de saída, prote-
gendo a bola e levando o braço à posi-
ção de lançamento (“armar o braço”).
Se o defensor não cai na finta, isto é,
não varia a sua posição para o lado do
deslocamento de engano, continua-se
pela trajetória inicial. É o que deno-
minamos de finta pelo lado falso.
 Fase de saída: uma vez superado o de-
fensor, aproveita-se a vantagem, com
o braço armado, pronto para lança-
mento ou passe tudo isto realizado
com a máxima velocidade.
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila, Luis Casáis, José M. Cancela

Fundamentos técnico-táticos
10 individuais na defesa

10.1 A marcação  A marcação produz-se ganhando a


ação do atacante, atuando de forma
antecipativa. A antecipação tampouco
10.1.1 Definição deve ser muito exagerada, pois o ata-
cante poderá trocar de direção e evitar
É a ação individual defensiva na qual, utili- a marcação.
zando como base os deslocamentos e as posições  Controlar os mínimos movimentos
básicas na defesa, se pretende, como conceito ge- do oponente em ataque com a máxi-
ral, responder à ação ofensiva do atacante e limi- ma atenção, para poder reagir de for-
tar suas possibilidades de intervenção. ma contínua e com gesto adequado.
 Estudar as características do oponente
em ataque para poder contra-atacar os
10.1.2 Objetivos seus pontos fortes.
 Dominar o maior campo visual possível.
 Cortar a progressão do atacante sem bola;
 Evitar o lançamento ao gol;
 Em último caso, levar a situação para o blo- 10.1.4 Classificação
queio contra um lançamento já efetuado.
Segundo a distância:

10.1.3 Princípios fundamentais  Marcação à distância.


 Marcação em proximidade.
 Adquirir a posição de base aceitável,
procurando, com isso, predispor-se da Segundo a posse ou não da bola:
posição postural correta para realizar
uma intervenção oportuna com máxi-  Marcação ao oponente com a bola.
ma velocidade.  Marcação ao oponente sem a bola.
130 Manual de Handebol

10.1.5 Descrição do gesto técnico  Deslocamentos: em qualquer caso, é


necessária a antecipação das intenções
a) Marcação ao oponente sem a bola. do ataque e o defensor tem de se en-
contrar próximo ao atacante para evi-
 Marcação à distância: tar as progressões posteriores ou, em
último caso, retardar tais ações.
 Controle: controlar o atacante por meio
de contatos visuais, visando a todos os Para impedir a recepção e uma posterior progressão:
movimentos do oponente para decidir Atacante fora da linha da área de gol e de
sobre o momento correto de intervenção. frente para o adversário e defensor posicionado
 Situação: sempre entre o oponente e entre o atacante e o gol. Diante dessa situação, a
o gol. marcação realiza-se da seguinte forma:
 Posição de base na defesa.
 Deslocamentos: em função das trocas  Perna: adianta-se aquela que está do
de situação do atacante, a resposta do lado onde se situa a bola;
defensor se realiza em deslocamen-  Braço do mesmo lado: colocada entre
tos suaves e deslizantes, tanto laterais o oponente e a bola;
quanto frontais, e dentro das trajetó-  Braço do lado contrário: em contato,
rias eficazes de cada posição. contra o quadril do atacante, altura da
crista ilíaca.
 Marcação em proximidade.
Atacante posicionado na linha de 6 m de
Para impedir uma progressão perigosa: costas para o adversário e o defensor posicionado
 Situação: o defensor deve colocar-se entre o atacante e o gol:
entre o atacante e o gol, mas com uma
ligeira inclinação de situação para um  Perna: adianta-se aquela que está do
dos lados do oponente, geralmente lado onde se situa a bola;
para o lado forte, para o lado do bra-  Braço do mesmo lado: colocada entre
ço de lançamento, tentando reduzir o oponente e a bola;
as suas possibilidades, impedindo ou  Braço do lado contrário: em contato,
retardando a ação ofensiva. contra as costas do atacante na altura
 Posição: de base defensiva com a per- do quadril.
na correspondente ao lado de inclina-
ção adiantada.
Fundamentos técnico-táticos individuais na defesa 131

Figura 10.1 – Posicionamento do defensor, posicionado entre o atacante e o gol, quando aquele está posicionado
na linha de 6 m de costas para o adversário.

Atacante posicionado na linha de 6 m de  Perna contrária do braço executor: li-


costas ou de lado para o gol e o defensor posicio- geiramente adiantada;
nado entre o atacante e a bola:  Braço do mesmo lado: colocado entre
o adversário e a bola;
 Perna: posição assimétrica, estando  Braço do lado contrário: em contato
mais para trás aquela que corresponde com o adversário.
ao lado onde se encontra a bola;
 Braço do mesmo lado: estendido para b) Marcação ao oponente sem a bola
trás, situando-o entre o atacante e a bola.
Atacante posicionado frontalmente ou de
Atacante posicionado na linha de 6 m per- lado para o defensor, em contato com o chão:
pendicular ao defensor (em linha) e o defensor
posicionado à sua frente:  O defensor deve adiantar a perna cor-
respondente ao braço executor do ata-
 Perna: posição assimétrica; cante. Situar-se entre o oponente e o
 Braços: ligeiramente estendidos para trás. gol, mas com uma ligeira inclinação
para o lado da bola;
Atacante posicionado na linha de 6 m per-  O braço correspondente à perna adianta-
pendicular ao defensor (em linha) e o defensor da projeta-se para cima do braço executor
posicionado atrás do mesmo: do atacante, obtendo a máxima aproxi-
132 Manual de Handebol

mação, tratando de reduzir ou evitar sua Atacante em suspensão: tronco do defensor


trajetória frontal com a mão estendida em linha com o do atacante.
para cima e os dedos abertos e a mão con- Atacante posicionado na linha de 6m em
trária em contato com o abdômen. suspensão:

Atacante posicionado de costas para o de-  O defensor posicionado do lado do


fensor, em contato com o chão: braço executor do atacante: interven-
ção em suspensão com uma só mão,
 Colocação simétrica das pernas; atacando a bola com a mesma esten-
 Posicionar-se entre o atacante e o gol, dida e os dedos abertos;
com predisposição para se inclinar e  O defensor posicionado no lado con-
mudar de situação para o lado contrá- trário ao braço executor do atacante;
rio do lado executor;  A intervenção do defensor será em
 Os braços estendidos para frente, suspensão com as duas mãos, ten-
atacando de forma decisiva a bola, tando alcançar a trajetória do lan-
controlando, ao mesmo tempo, os çamento.
possíveis deslocamentos laterais do
atacante. Atacante posicionado frontalmente: apoia-
do no chão, em atitude de lançamento baixo:
Atacante posicionado frontalmente e em tronco do defensor entre o ombro de braço exe-
suspensão: cutor e o gol.

 Colocação em suspensão, situando-se


entre o atacante e o gol; 10.2 O bloqueio do lançamento
 Braço correspondente ao do atacante
com a bola estendido para cima e para
a bola, com a mão aberta e os dedos 10.2.1 Definição
separados de frente para a bola;
 Braço contrário tendo controle sobre É a ação de cortar, em última instância,
o quadril do oponente. a trajetória da bola lançada ao gol, utilizando
uma ação com os braços do defensor em dire-
Atacante posicionado frontalmente e em ção à bola para evitar seu objetivo de alcançar
contato com o chão: tronco do defensor entre o o gol.
ombro do braço executor do atacante e o gol.
Fundamentos técnico-táticos individuais na defesa 133

10.2.2 Objetivos pés em contato com o chão, igual o


defensor que realizará o bloqueio;
 Cortar a trajetória da bola;  Bloqueio em salto, quando o lançador
 Desviar a trajetória da bola suficien- realiza um lançamento em salto, para
temente para impedir que esta chegue o qual o defensor deverá coordenar a
ao gol. sua ação com o salto.

10.2.3 Princípios fundamentais 10.2.5 Descrição do gesto técnico

O bloqueio depende da posição específica Para sua realização, devemos partir da posi-
do lançador ou do procedimento de lançamento, ção de base, a partir da qual se levantam os bra-
podendo ser em apoio ou em suspensão, ou retifi- ços juntos e estendidos, sempre sem cruzá-los no
cado, devendo-se adotar uma posição dinâmica e momento do lançamento, ou antes, dirigindo-se
de rápida intervenção. frontalmente para a bola. A perna do defensor
Em qualquer caso, sempre colocaremos o que corresponde ao lado forte do atacante deve
nosso tronco entre o gol e o ombro do braço estar ligeiramente adiantada, levantando o calca-
de lançamento do executor. O domínio do blo- nhar da perna contrária, ao mesmo tempo, para se
queio exigirá, por um lado, rapidez para modifi- obter uma maior aproximação com o braço exe-
car a posição e situação adquirida diante de uma cutor do atacante.
mudança súbita do gesto do lançamento ao gol, Para os lançamentos em suspensão, o de-
tanto em apoio quanto em suspensão, e, por ou- fensor deve impulsionar-se imediatamente depois
tro lado, controle visual reduzido à bola, com que o atacante o fizer, e não antes.
atenção especial ao movimento da articulação do Em todos os casos, o bloqueio da bola reali-
pulso que a controla. Não se deve esquecer de za-se com as duas mãos, com exceção dos lança-
que é o último movimento que precede o tiro. mentos baixos, que serão feitos com apenas uma
mão no momento de lançar.
É conveniente que o defensor domine uma
10.2.4 Classificação mudança rápida de posição das mãos, em respos-
ta às mudanças de trajetória que adote o atacante
Em função da posição do lançador: com seu braço executor.
Deve-se esperar na posição básica até que se
 Bloqueio em apoio, quando o lança- esteja seguro de que o atacante lançará.
dor realizar um lançamento com os
134 Manual de Handebol

10.3 A interceptação da bola 10.3.3Princípios fundamentais

Para facilitar a interceptação, é recomenda-


10.3.1 Definição do que se prolongue a duração da trajetória da
bola e, assim que possível, interceptá-la o mais
Pode-se definir a interceptação como o ato próximo possível do receptor.
de cortar um envio da bola em determinado es- Para poder interceptar, deve-se perceber a
paço livre, atuando sobre a possível trajetória da possível trajetória da bola, buscando uma orienta-
bola entre o passador e o possível receptor. A in- ção que permita ter focalizados, dentro do campo
terceptação é um gesto técnico defensivo derivado visual, o passador e o receptor.
diretamente da marcação. Nela se destaca o prin- Para que a interceptação tenha êxito, o de-
cípio defensivo da antecipação, tanto em sentido fensor deve realizar uma boa avaliação do tempo,
temporal como espacial. de forma que, se atuar demasiadamente rápido,
Mediante a interceptação, consegue-se a provocará uma dissuasão do passe, e, se o fizer de-
ocupação do espaço, que coincidirá com a trajetó- masiadamente tarde, não evitará o passe.
ria da bola quando esta se desloca. Esse gesto pode Antes de realizar a interceptação, é conve-
interpretar-se desde uma dupla vertente: intercep- niente um controle sobre o possível receptor, para
tando-se bem a linha de passe, quando o defensor que não se possa realizar um desmarque. Se a in-
atua mais próximo do passador que do receptor, terceptação não obtiver êxito e o receptor alcan-
bem próximo à linha de recepção, quando a atu- çar a bola, o defensor deve ocupar rapidamente
ação se desenvolve mais próxima do receptor que a sua posição defensiva e encadear outros gestos
do passador, sempre ocupando a linha de passe técnicos defensivos como a marcação, a tomada
(mais comum). da bola etc.

10.3.2 Objetivos 10.3.4 Descrição do gesto técnico

 Recuperar a bola (ação prioritária); Sua realização técnica é mais singela que a
 Dificultar a progressão ou a circulação dos outros gestos defensivos.
da bola; Podemos entender duas ações ao mesmo
 Proteger o gol. gesto defensivo: correr para a bola, buscando-a
com as pernas e não com o tronco, o que implica
risco de uma projeção do corpo para frente e um
mau controle da ação dos braços, com o tronco
Fundamentos técnico-táticos individuais na defesa 135

fixo, por intermédio da pelve sobre as extremida- Temos, quando o atacante abusa do quique,
des inferiores na recepção da bola. uma situação vantajosa ou quando, esgotado o ci-
Utilizam-se duas formas de se apoderar da clo de passos regulamentados, utiliza o bote como
bola quando está em trajetória aérea: desviá-la recurso imprescindível para obter uma situação
para continuar quicando ou fazer o controle da benéfica, ou, simplesmente, diante de uma per-
bola com as mãos e, depois, continuar qualquer seguição do adversário que se escapa driblando.
gesto de ataque. Essa interpretação dá-se comu- Assim, vemo-nos obrigados a ampliar as
mente no espaço próximo ao receptor e, para sua fronteiras de interpretação deste recurso técnico
realização, é necessário um bom conhecimento e podemos determinar que a tomada da posse da
das capacidades motrizes próprias, já que um dos bola não se relaciona somente com a possibilidade
princípios que se deve seguir é “não chegar tarde”. de evitar um lançamento ao gol, mas, também,
Se isso ocorrer, devemos adotar uma conduta de com a pretensão de evitar uma progressão, o meio
dissuasão, controlando a bola e o receptor. de desenvolvimento do qual se utiliza o quique.

10.4 A tomada da posse da bola 10.4.2 Objetivos


(roubar a bola)
 Evitar o lançamento.
 Impedir a progressão perigosa.
10.4.1 Definição

A tomada (ou roubo) da bola refere-se às 10.4.3 Princípios fundamentais


ações precisas que se devem realizar para desviar
ou tirar a bola do adversário, dentro das margens Na tomada de bola, durante o quique, a
estritamente regulamentadas. ação será mais efetiva se tentarmos realizá-la na
Tradicionalmente, interpreta-se essa ação trajetória descendente da bola, já que teremos
como definitiva, com os gestos ou movimentos mais tempo, e o controle posterior da bola será
precisos para roubar a bola do adversário em mais fácil.
plena fase de lançamento quando este se realiza
nas proximidades da linha de 6 m. No entanto,
existem outros diversos movimentos durante o 10.4.4 Descrição do gesto técnico
jogo, nos quais é preciso desviar ou tirar a bola
do oponente caso se queira conseguir eficácia no É importante ter em conta o que diz a re-
jogo defensivo. gra: “É permitido tirar a bola do adversário com
136 Manual de Handebol

a mão aberta e a partir qualquer direção, sem


violência.” Para uma realização correta dos mo-
vimentos e gestos específicos da tomada de bola,
é importante uma preparação para todas as ações
para não infringir as regras do jogo, pois a téc-
nica que irá se empregar é realmente peculiar e
difícil de executar.
Quando o atacante tem a bola adaptada, o
defensor deverá aproximar a mão suficientemen-
te estendida, próxima à bola, que está presa por
ele, e evitar a utilização de golpes (movimentos)
violentos.
Quando a bola não está em contato com o
atacante ou está em ação de quique, tenta-se tirá-
la no momento ascendente ou descendente do
quique com a mão aberta, suficientemente esten-
dida e o mais próxima do lugar do quique.
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

11 Fundamentos técnico-táticos do goleiro*

11.1 Introdução e concentração absoluta sobre o atacante que está


de posse de bola a fim de que tenha capacidade
No jogo de handebol, existe uma posição de responder ao lançamento, inclusive antes do
que exige um atleta de especiais características, momento que o atacante solta a bola. Necessita
ocupando o principal posto específico dentro de intuição para jogar, possuindo conhecimento
da equipe. Sua tarefa fundamental como último sobre o adversário, com informações sobre os ti-
defensor é, basicamente, evitar o gol, corrigindo, pos de lançamentos que realiza e a situação por
com suas defesas, os erros de seus companheiros zona predileta do gol, trabalhando sempre com
e, como iniciador do ataque, organizar e facilitar muita segurança (confiança) e disposição, visando
a possibilidade de contra-atacar de forma eficaz. obrigar o adversário a lançar com pouca precisão,
Cada bola defendida deve ser um momento de permitindo-lhe maiores chances de defesa ou,
alegria ao goleiro e cada gol sofrido deverá passar mesmo, desencorajar o lançamento por medo de
de forma natural para a equipe. O trabalho do falhas. Um goleiro de handebol se vê submetido
goleiro é difícil e de enorme responsabilidade. Por a seguidos esforços durante o jogo (violência do
meio de seu desempenho, comportamento e in- lançamento, bola pequena e dura, proximidade
tervenções seguras, principalmente nos momen- das ações em relação ao adversário, chão duro
tos difíceis, fortalece sua equipe, favorecendo a etc.); entretanto, possui vantagens e privilégios
segurança e o rendimento de seus companheiros, aos quais deve ter conhecimento e dos quais deve
estimulando e consolidando a combatividade da saber tirar proveito: utilização de todo o corpo
equipe e influenciando, decididamente, no resul- para a realização de seu trabalho e área de restrita
tado do jogo. Suas falhas são irreparáveis, pois ele de atuação. A disposição para ser goleiro, aliada ao
não tem ajuda ou alguém que possa cobrir sua treinamento dos gestos específicos da técnica, leva
falha ou erro. A diferença em relação aos outros ao sucesso. A condição para a aquisição da técnica
jogadores é que não pode se permitir ao erro, pois é a prática, e esta, aliada à qualidade do treino,
será castigado com o gol. Deverá atuar sem titu- leva à otimização das capacidades e habilidades
beios, devendo estar sempre vigilante e atento, específicas de um bom goleiro. A sorte não é obra
tendo domínio do seu corpo e das suas emoções do acaso, pois quem deseja ser goleiro deve desen-
* Texto modificado com base so livro Caderno de rendimento do goleiro de handebol. Greco, P. J. Org., 2002.
138 Manual de Handebol

volver todas as capacidades necessárias à função e namento de base, dentro do trabalho de aprendi-
assim terá sorte. zagem motora, os pontos fundamentais a serem
trabalhados são o equilíbrio dinâmico, a destre-
za e a manipulação com bola, a dissociação de
11.2 Características membros, a coordenação dinâmica geral, a noção
espaço-temporal e a coordenação com pressão de
Conforme as regras do jogo, o goleiro de tempo e com pressão de organização (duas ações
handebol executa, em sua área específica, tarefas simultâneas).
diferentes em relação aos seus companheiros.
Entre todas as características necessárias para
realizar com êxito suas funções, o goleiro deve ter 11.3 Aspectos gerais da técnica
o domínio dos gestos técnicos, e a inteligência
tática merece uma especial atenção. No processo A técnica específica em relação à posição de
de treinamento da antecipação e percepção, assim base deverá ser equilibrada, cômoda e deve facili-
como da velocidade de pensamento para decidir tar a chegada a todas as zonas do gol com eficiência e
e executar prontamente, sem hesitação, a resposta velocidade. Deverá, também, ser ajustada às suas
para a situação de jogo, a visão global de jogo, características biotipológicas, psicológicas e físi-
a atenção múltipla, por meio da observação da cas, respeitando seu estilo e individualidade. Em
bola, a movimentação dos atacantes e dos pró- geral, o apoio é sobre a planta dos pés, com os
prios companheiros, facilitando as possibilidades calcanhares ligeiramente levantados e os pés ali-
de uma intervenção segura e precisa, fazem que o nhados com a largura dos ombros.
goleiro seja quem lidera tanto a defesa quanto a É necessário adotar uma técnica definida e
saída para o contra-ataque. Isso ocorre pelo fato específica para poder ter o efeito adequado às exi-
de ele ter todo o campo de jogo sobre seu coman- gências do jogo. A técnica do goleiro se divide em
do, colaborando de forma primordial com sua defensiva e ofensiva. Nas ações defensivas, o golei-
equipe. A capacidade de concentração para acom- ro deve interceptar ou cortar a trajetória da bola,
panhar o jogo e ordenar rapidamente suas respos- depois controlá-la e realizar o passe aos seus com-
tas está presente nos sessenta minutos de jogo. panheiros. Nas técnicas ofensivas, deve ser um
O desenvolvimento das capacidades de fle- grande passador de longa distância. Conhecer e
xibilidade e alongamento, velocidade de desloca- treinar as técnicas individuais de cada jogador de
mentos, reação e ação, força explosiva e resistência campo, com passes rápidos, curtos e executados
são fundamentais e imprescindíveis para o sucesso com qualidade e precisão, pode iniciar ataques de
do goleiro, influenciando diretamente na técnica muito êxito, garantindo um contra-ataque rápido
específica a ser trabalhada. No processo de trei- e efetivo para sua equipe.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 139

11.3.1 Técnica defensiva forme sua estatura, variando de 0,5 a 1,5 metro.
Deve-se manter a cabeça erguida com naturalida-
Considerado o primeiro e o último defensor, o de, orientação frontal ao portador da bola, com
goleiro atua coordenando e colaborando com os joga- total controle do campo visual da bola, olhos
dores de quadra, organizando e orientando a defesa em em sua trajetória, tronco ligeiramente inclinado
relação ao seu posicionamento, trabalhando em con- à frente, pernas simétricas, afastadas à largura
junto com o bloqueio e com o marcador dos pontas. dos ombros, ligeiramente flexionadas e peso do
corpo dividido uniformemente; pés totalmente
 Posições e situações em função da cir- apoiados no solo (base firme de sustentação), des-
culação de bola, ante o deslocamento locamentos curtos, rápidos e deslizantes, com lar-
dos atacantes. gura cômoda propiciando possibilidades de ação
 Momento da intervenção: ante os lança- posterior rápida; braços de acordo com a postura
mentos entre 6 m e 9 m (pontas, pivô, adotada, devendo se sentir à vontade. As mãos se
infiltração dos armadores), fora dos 9 m, mantêm naturalmente abertas e voltadas para o
nos 7 m e na iniciação do contra-ataque. objetivo. Toda a atitude deve ser relaxada e des-
 Atuação fora da área de 6 m, inter- contraída. Nunca deve segurar a bola, mas, sem-
ceptação do contra-ataque (dissuadir, pre que possível, utilizar as duas mãos nos movi-
retardar ou interceptar) partindo ve- mentos, assegurando o sucesso e a continuidade
lozmente sem indecisão, procurando de ações.
chegar primeiro ou ao mesmo tempo,
criar indecisão. Realizar a intercepta-
ção do contra-ataque, pois a bola de
gol a gol vale 1 gol, e se o atacante
receber a bola livre e o goleiro não
sair, as suas chances são poucas. Essa
antecipação visa não só cortar o passe,
mas, também, evitá-lo e retardá-lo, ou
forçar o erro de passe do adversário.

Figura 11.1 – Posição de base.


11.3.2 Posição de base
Na figura 11.1, observam-se três cones co-
De modo geral, esta posição será ao centro locados de forma que o goleiro se desloque entre
do gol, um pouco adiantado da linha de gol, con- eles, mantendo a posição básica.
140 Manual de Handebol

2 a 3m

11.3.3 Situação de posição na ação 2 a 3m

É a posição assumida pelo goleiro em rela-


ção ao lançamento. É o lugar que o goleiro ocupa
em cada momento, devendo estar situado no eixo
entre a bola e o gol, no centro da bissetriz entre os
postes e a bola.
Sua atenção e concentração devem estar volta-
das para o atacante de posse de bola e sua circulação.
A situação do goleiro poderá variar de acor-
do com a distância em relação à linha de gol. Para
diminuir ângulos de lançamento, o goleiro sai do
0,5
gol, diminuindo sua distância em relação ao ata-
cante, com o intuito de prejudicar a qualidade do 1,50,5
seu lançamento, surpreendendo-o, induzindo-o a
1,5
fim de tirar proveito. Quando sair? No momento
do lançamento.

 Zona central (1,5 m).


 Zona lateral (1,0 m).
 Zona extrema (0,5 m).
 Tiro de 7 m (até 4 metros, até a linha Figura 11.2 – Situação do goleiro em relação à linha
demarcatória). de gol.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 141

Para favorecer sua ação e sua velocidade de 11.3.4 Deslocamentos


reação e de movimento, o goleiro toma a posição
coincidindo com a linha de gol. Estão determinados em função da situação e
da atitude do jogador atacante. Os específicos são
curtos, rápidos e deslizantes, com a finalidade de
estar em posição de base o maior tempo possível.
Poderão ser executados com os pés em movimen-
tos alternados ou simultâneos, de forma semicir-
cular e frontalmente para frente e para trás, para
obter a situação ótima de intervenção. O raio da
trajetória é definido em função de qualidades an-
tropométricas. O goleiro se desloca procurando
anteceder aos movimentos e estabilizar-se antes
Figura 11.3 – Posição do goleiro no momento de che- do lançamento, avaliando as possibilidades do
gar à trave, na situação de lançamento do ponta. ataque, a posição do atacante segundo seu setor
de eficácia, a qualidade do seu lançamento e a si-
tuação da defesa para reposição de bola e contra-
-ataque.

11.3.5 Formas de intervenção

11.3.5.1 Em relação aos diferentes segmen-


tos do corpo

Defesa com a mão


Figura 11.4 – Deslocamento do goleiro para chegar à bola.
Para lançamentos aos ângulos superiores, se
No deslocamento para se chegar à bola, o elevará rapidamente uma mão, executando um
goleiro deve estar preparado para defender; por- pequeno passo com o pé do mesmo lado. Para
tanto, a perna do lado do deslocamento deve ser maior segurança, poderão ser utilizadas ambas as
a que chega à bola, e a outra serve como apoio, mãos para bolas com menor potência e maior dis-
conforme demonstrado na Figura 11.4. tância. Em nenhum caso deve se segurar a bola,
142 Manual de Handebol

ela deve ser rebatida na área de onde pode ser


recuperada ou por cima da linha do gol. Desta
maneira além de se evitar o gol, se impede que a
bola possa cair em posse do adversário. O corpo e
os braços devem formar uma linha direta com os
pés e a perna de apoio.

Figura 11.6 – Posicionamento do goleiro para defesa


com os pés no ângulo inferior.

Defesa com o tronco

Para os lançamentos dirigidos diretamente


ao tronco do goleiro, quando não existe outra pos-
sibilidade, deve-se defender com o tronco. Ocor-
re normalmente ou por erro no lançamento feito
Figura 11.5 – Posicionamento do goleiro para defesa pelo adversário, desvio da bola pelos defensores
com as mãos no ângulo superior. ou ainda pelo mal-posicionamento no momen-
to de defesa do lançamento por parte do goleiro.
Defesa com o pé Além de uma boa condição muscular abdominal,
são recomendáveis espumas de proteção e outros
Para lançamentos baixos nos ângulos inferio- componentes que completam a vestimenta do go-
res, o goleiro defende com o pé, acompanhado com leiro, principalmente no handebol feminino.
a mão. Para este ato, deve realizar um passo lateral
com a perna do lado do lançamento (espacato), gi-
rando o pé de maneira que sua parte interna esteja 11.3.5.2 Em relação à trajetória da bola
na direção da bola, para opor a ela a maior superfície
possível de contato. Durante a extensão da perna, o Defesa de bola alta
pé não deve ser elevado do solo excessivamente. O
regulamento permite a possibilidade de defender o Arremesso de cima para baixo, em suspen-
lançamento com pernas, joelhos e coxas. são. A bola vem de uma altura superior à trave.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 143

Impulsão no pé contrário (o pé mais afastado de propiciar o ataque à bola. Para defesas a meia
da trajetória da bola, sem deslocamento). A altura altas e longas, utilizam-se os dois braços,
outra perna, em suspensão, se deslocará lateral- não havendo elevação da perna, mas um ataque
mente para atingir o ponto de contato com a em diagonal à fundo com inclinação do tronco e
bola, juntamente com a elevação do braço cor- para defesas curtas, com um braço só. É necessá-
respondente à altura adequada, projetando-o rio muito trabalho de mobilidade na articulação
ligeiramente para frente. Cobertura maior do coxo-femoral.
ângulo. Não girar o tronco. Posicionar de fren-
te para a bola. Pés direcionados para frente. Na
elevação de um braço na bola, o ganho de altu-
ra é maior, porque o deslocamento da cintura
escapular, elevando-se do lado que elevamos o
braço, permite isso. Se levantarmos a perna do
lado, deslocamos, também, a cintura pélvica, e
esse ganho em alcance aumentará, favorecendo,
também, a intervenção para defesas em qual-
quer altura. Em qualquer sentido do movimen-
to a situação é a mesma, sobretudo em sentido
diagonal, em que, para se levar os dois braços,
tornam-se necessários uma torção do tronco e
um ligeiro atraso de movimentos. A diferença
talvez não vá além de um palmo, mas é o bas-
tante para defender certas bolas que de outra
maneira entrariam. A defesa deve ser realizada
apenas no sentido de desviar a bola. Deve-s es-
perar e não sair para frente.
Figura 11.7 – Posicionamento do goleiro para defesa
Defesa de bola de média altura de bola de média altura com as duas mãos.

Braço e perna correspondentes, realizan-


do a impulsão na perna contrária (a fundo ou
elevação). O braço contrário ao da defesa atua-
rá como ponto de equilíbrio no contato com a
bola. Braços sempre à frente dos joelhos, a fim
144 Manual de Handebol

Figura 11.8 – Posicionamento do goleiro para defesa Figura 11.9 – Posicionamento do goleiro para defesa
de bola de média altura com uma mão. de bola baixa.

Defesa de bola baixa Movimentos de espacato e queda com meio


rolamento para trás são também muito utilizados
A característica principal é realizar a defesa nesse tipo de defesa.
com auxílio das pernas e dos pés. Olha-se para
a bola, desloca-se o corpo todo, o trabalho de
pernas é em diagonal, dando-se preferência ao
trabalho com as mãos, deixando-se o braço livre
à frente das pernas e visando-se atacar a bola.
Para os goleiros com dificuldades em defesas bai-
xas, deve-se utilizar maior afastamento dos pés,
mantendo o posicionamento entre eles igual, va-
riando, ainda, com movimento de flexão do joe- Figura 11.10 – Posicionamento do goleiro para defesa
lho lateral para bolas entre as pernas. Os goleiros de bola baixa (final da ação).
não muito altos devem flexionar um pouco mais
as pernas para, por meio de um pequeno salto, Defesa de bola quicada
realizar o movimento com maior amplitude e
melhor impulsão. A mão faz parte do movimen- Quando se trata de lançamentos à meia al-
to de defesa, trabalhando como recurso para au- tura ou de quadril do atacante, especialmente nos
mentar o contato e a superfície de defesa da bola. casos de bolas picadas na frente do goleiro, é ab-
O equilíbrio ao movimento é dado com o braço solutamente conveniente combinar a defesa com
contrário quando da utilização de um só braço o pé e com a mão. O alcance da bola deve ser o
no movimento, senão é com a projeção e incli- mais próximo possível do solo, em razão da maior
nação do tronco à frente. dificuldade de controlar as trajetórias ascenden-
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 145

tes. Olhar para a bola é fundamental, bem como


fazer a flexão e a queda do corpo.

Figura 11.12 – Posicionamento do goleiro para defesa


na posição central.

Posições externas (pontas)


Figura 11.11 – Posicionamento do goleiro para defesa
de bola quicada. O goleiro se posiciona no poste correspon-
dente, cobrindo completamente o primeiro poste,
com o braço levantado deste lado. Os lançamen-
11.3.5.3 Em relação à distância dos lançamentos tos executados no segundo poste serão defendidos
com o outro braço, tronco ou pés. O corpo do go-
Defesa dos lançamentos de curta distância leiro estará direcionado permanentemente para o
lançador, e os movimentos são executados para o
Posições centrais outro lado lateral, ou seja, para o centro da quadra
e não para trás ou para a largura da linha de gol.
São os mais difíceis de deter, pois oferecem Uma corrida para frente produz êxito, no caso
o maior ângulo de lançamento. Neste caso, é van- de lançamentos potentes, pois reduz mais ainda
tajoso reduzir o ângulo mediante uma corrida o escasso ângulo de lançamento. Movimentos de
para frente, encurtar a distância, ficando de 1 a 3 pés são caracterizados por passos curtos, acom-
metros de distância do lançador, e, no momento panhando o salto do arremessador dos extremos.
do lançamento, o movimento para frente deve ser O movimento de defesa é curto e rápido, pois o
parado e estar na posição fundamental de defesa. goleiro não sai muito. Situado no momento do
Sair com o corpo, deixar os braços abertos e voltar lançamento, tranquilo, calmo, sem movimento.
a atacar; saída pelo lado contrário, ataca com o Deve mover-se antes e se posicionar, pois o ata-
tronco a bola, naturalmente voltar e atacar. Obri- cante quer que o goleiro tome a iniciativa. No tra-
ga o pivô a retificar o lançamento, não permitin- balho em conjunto com o defensor, não permitir
do o lançamento reto (mais forte). o lançamento; realizar o lançamento com menor
146 Manual de Handebol

ângulo; não tocar no arremessador (muda a traje- de salto. A movimentação dos braços é de bai-
tória do salto e conseqüentemente o lançamento). xo para cima e acompanha a perna flexionada.
Quanto o adversário estiver mais próximo do
gol, os movimentos deverão ser mais amplos e,
quanto mais à frente, mais curtos e próximos do
corpo. Deve o goleiro ter a capacidade de reagir
no ar para qualquer movimento variado em re-
lação à trajetória da bola realizado pelo ataque.
Neste tipo de defesa, o goleiro perde a condição
futura de uma nova reação rápida e sequencial.
Não deve ser utilizada como técnica básica, re-
petindo-a em cada ação. A tática defensiva do
goleiro na defesa do contra-ataque é a mesma
dos lançamentos de 6 metros, o movimento se
inicia com uma saída para a frente e defesa late-
ral, fechando o ângulo.

Figura 11.13 – Posicionamento do goleiro para defesa


de lançamento dos pontas.

Defesa dos lançamentos de contra-ataque

O recurso utilizado, o qual denominamos Figura 11.14 – Posicionamento do goleiro para defesa
defesa em “Y”, é realizado com ou sem execução de lançamento de contra-ataque.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 147

Defesa dos lançamentos de sete metros O goleiro pode ou não realizar uma pré-
-defesa, em função do nível de dificuldade de sua
Para defender, o goleiro deve estar preparado intervenção. Sua posição fundamental poderá di-
para o jogo sabendo para quem e onde lançar. minuir ou não a distância com o atacante, deslo-
cando-se ou posicionando-se à sua frente.
O posicionamento inicial mais utilizado,
antes da autorização do árbitro, é de 4 a 5 metros
Até 4 metros
do executante. No primeiro caso, o executante se
dá conta da posição imediatamente e, no segundo
caso, é perturbado em sua concentração, distrain-
do-se naquilo que previa realizar. O importante é
que, no momento do lançamento, o goleiro obte-
nha a sua posição fundamental básica para poder
reagir rápido o suficiente em todas as direções e
movimentos.
Figura 11.15 – Posicionamento do goleiro para defesa O conhecimento do jogador adversário em
de lançamento de 7 metros. relação às suas características e possibilidades pode
favorecer e determinar ao goleiro a escolha da me-
O jogador tem, no máximo, 3 ou 4 tipos de lhor forma defensiva de sua atuação, relacionadas
lançamentos e locais em que gosta de lançar (1 ou com diferentes distâncias e posições iniciais. Na
2 é o normal). cobrança realizada por jogadores armadores, o
O goleiro tem opções de: goleiro poderá sair mais e, no caso de lançadores
pontas ou pivô, poderá esperar mais. Por exem-
 deixar o atacante lançar onde ele pre- plo, para lançamentos precisos e não potentes,
fere; permanecer na linha de gol e esperar o lançamen-
 enganar o atacante, levantando uma to; permanecer na posição básica e no momento
perna e retornando; levantando uma do lançamento saltar contra o lançador; perma-
perna e um braço junto com o pé de necer 1 a 2 metros à frente do lançador de forma
apoio; e levantando uma perna e tro- passiva e com uma posição básica; lançar-se sobre
car saltando, saindo à frente. o lançamento; estar a 3 metros da linha de gol e
saltar contra o lançador; estar a 4 metros da linha
Figura 11.16 – Opções do goleiro para defesa de lan- de gol e deixar lançar ou provocar um lançamento
çamento de 7 metros. de cobertura; preparar armadilhas, obrigando ou
induzindo o atacante ao lançamento. Estar tranqui-
148 Manual de Handebol

lo e não fintar com demasiada antecipação é funda-  De cima para baixo.


mental, além de observar que, nos lançamentos com  Em cima de um lado para o outro.
queda, deve reagir ao braço do lançamento e não so-
bre o corpo. No jogo psicológico com o atacante, ter Fintas para eleger a altura do lançamento:
uma tática, buscar a sua forma de comportamento,  Saída e retorno.
encontrar a melhor forma de atuar.  Definição de um pé de apoio.

11.3.6 Fintas 11.3.7 Técnicas ofensivas

Nem sempre o goleiro deve esperar tranqui- Logo após uma defesa com êxito, o goleiro
lo ou passivo pelas possíveis ações dos adversários. deve colocar a bola em jogo em diferentes veloci-
Poderá provocar determinada direção do lança- dades, conforme o placar do jogo. Se a equipe está
mento do jogador adversário, escolher o ângulo e perdendo, realiza-se o mais rapidamente possível,
a altura com a utilização de fintas. É muito prová- ou lentamente, quando a equipe está “curtindo”
vel a obtenção do êxito se utilizar estas fintas. Es- o momento se se encontrar à frente do marcador.
tas não devem ser realizadas com demasiada ante- Deve realizar, de preferência, passes longos, ao
cipação, pois simulam ações e atitudes, induzindo meio campo, possibilitando um ataque rápido.
ao lançamento para provocar erros do atacante. A Somente realizará um passe curto quando o lon-
finta será tática e tecnicamente perfeita quando go for taticamente inadequado ou arriscado pela
for obtida depois do movimento de engano, con- posição de defensores que possam interceptá-los.
dição de voltar à posição inicial correta, e a partir É considerado o iniciador do ataque e, também, o
daí, reagir. Prioritariamente, deverá ser utilizada último atacante, pois é responsável pela reposição
nos lançamentos de 7 m e 6 m das zonas centrais de bola e início do contra-ataque, podendo tam-
(de curta distância). A mesma finta não deve ser bém atuar como sétimo jogador.
repetida, ou, pelo menos, não imediatamente. No
duelo goleiro x atacante, triunfará o jogador psi-  Recuperação da Bola
cologicamente mais forte.
a) recepcionar – controle total da bola;
b) amortecer – médio controle;
11.3.6.1 Tipos de fintas c) deslocar/rebater – difícil controle.

Fintas para eleger um ângulo:  Reposição da Bola


 Direita para a esquerda.
Fundamentos técnico-táticos do goleiro 149

Rápido controle da bola após o lançamento, Os deslocamentos realizados deverão ser


realizando o passe ao companheiro mais próximo com movimentos de passo normal, para se posi-
de sua área desmarcado e, a seguir, o apoio ime- cionar o mais rápido possível com duplo apoio.
diato saindo da área para jogar 2 x 1. Os saltos poderão ser realizados com impulso em
uma ou duas pernas. As quedas, em algumas situ-
 Lançamento de contra-ataque ações de jogo, são empregadas como recursos, não
sendo fundamentais. Nos casos de inferioridade
O passe deve ser feito ao jogador livre, des- numérica e finais de partida, o goleiro, se for um
marcado e mais adiantado, de qualquer local da bom jogador e com extraordinária prudência, po-
área. São feitos passes longos, de meia distância, e derá intervir na circulação de bola, participando
lançamentos diretos ao gol adversário. do jogo ofensivo.
De maneira geral, a maior preocupação do
 Participação no ataque goleiro deverá ser a de adequar a técnica a ser
utilizada na defesa do lançamento e planejar o
Como jogador de quadra, auxilia a equipe trabalho a ser desenvolvido durante os treinos
no apoio na saída de bola, no caso de bolas perdi- para, de acordo com os conhecimentos sobre
das, na cobrança de tiros livres e lateral próximos o adversário e, principalmente, atender às ca-
de seu gol, em superioridade e inferioridade nu- racterísticas próprias de se organizar estruturas
mérica, ou defesas individuais. Também deve ser para o próximo jogo. Busca-se, cada vez mais,
treinada a saída de bola rápida com passes curtos, enriquecer a gama de movimentos, aumentan-
geralmente para a lateral perto da área de 9 m, do suas possibilidades de intervenção e trabalhar
para organizar o contra-ataque sustentado. paralelamente com as tendências e inovações
dentro do handebol, principalmente em rela-
ção aos sistemas ofensivos e aos atacantes. Tais
11.4 Considerações finais afirmações são preocupações inerentes a relação
goleiro-treinador.
Deverá o goleiro ter consciência clara de que Independentemente do conhecimento
a função de defesa de lançamentos apenas inicia o das técnicas apresentadas, parte-se do princí-
trabalho a ser realizado por ele e que a mudança pio de que “o que não se quer melhorar deixa
de defensor para atacante deverá ser rápida: de- de ser bom”. Devemos estar atentos, de olhos
fesa – posse de bola – equilíbrio – passe potente, bem abertos, abrindo novos horizontes, ob-
preciso para saída da bola da área conforme a si- servando novos goleiros, novas tendências e
tuação com passes curtos ou longos. influências.
150 Manual de Handebol

Referências
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Ejercicios y juegos aplicados al balonmano: fun-
damentos y ejercicios individuales. Barcelo-
na: Paidotribo, 1992. v. 1.
fundaMentos da tátIca coletIva no ataqueI 151

Parte IV
Tática
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Simonara Silva, Fernando Greco

12 Meios técnico-taticos de grupo no ataque

O handebol é um esporte que se caracteri- uma intenção tática; portanto, os níveis das capacida-
za pela presença simultânea de ações de ataque e des técnicas de um jogador e, também, de uma equi-
defesa, em espaços comuns que determinam a sua pe se manifestam por meio das ações dos jogadores,
luta. Assim, durante o jogo, as ações individuais se conforme as intenções táticas no momento do jogo.
concatenam com as ações de grupo e de conjunto, Os meios táticos de grupo se caracterizam pela
tanto de ataque quanto de defesa. As ações técnico- solicitação do apoio do colega na realização da ação;
-táticas a serem realizadas para resolver as situações somente serão finalizadas com sucesso caso essas con-
de jogo são denominadas meios técnico-táticos, dutas estejam concatenadas entre os jogadores. Os
que, conforme a situação, são considerados de ata- atacantes sem a bola devem favorecer, em todo mo-
que ou defesa, nas diferentes fases do jogo. mento, o jogo daquele que possui a bola, oferecendo-
lhe ocasiões e condições para um passe eficaz após um
desmarque ou criando espaços para ele ou para outros
que possam ser beneficiados por sua movimentação
sem bola. Como se observa, no handebol é funda-
mental organizar as ações de jogo, observando os parâ-
metros da conduta individual no tempo e no espaço.
Trata-se da aplicação dos deslocamentos por
parte de todos os jogadores na ação ofensiva coletiva,
com o objetivo de obter situações favoráveis de recep-
ção distribuídas equilibradamente ao redor da bola
em qualquer fase do ataque. Nesta situação, o jogador
Figura 12.1 – Meios táticos de grupo no handebol com a bola tem de ir para as zonas nas quais se encon-
(modificado de Antón).1,2 tram mais apoios e melhores possibilidades de passe.
Os fatores que se deve ter em conta para ob-
Os meios táticos de ataque e defesa solicitam de ter o êxito nesta criação são: as mudanças de dire-
ações técnico-táticas. Como fora anteriormente colo- ção e de ritmo de corrida ou da velocidade, além
cado, no handebol, a técnica sempre está a serviço de da distância com o defensor.
154 Manual de Handebol

12.1 Tabela (give and go – passe e vai)  Buscar, de forma secundária, a penetra-
ção e aproximação da meta adversária;

12.1.1 Definição
12.1.3 Terminologia específica e classifi-
A tabela é uma ação que se realiza visando cação
oportunizar ao atacante em posse de bola a supe-
ração de seu defensor direto. Participam de uma ação de tabela dois joga-
Este meio tático grupal inclui várias formas dores, sendo:
de realização e procedimento:
 um jogador com bola: aquele que ini-
 Passe e vai: é a estrutura básica de inte- cia a ação da tabela com um passe para
ração entre dois atacantes. É utilizado um segundo jogador;
quando o possuidor da bola não con-  um jogador sem bola: também deno-
segue superar o seu oponente no jogo minado jogador resposta, este é o res-
1 x 1 e passa a um companheiro. Este, ponsável por se deslocar sem bola se
em seguida, se desmarca para, poste- desmarcar e receber o passe do joga-
riormente, voltar a receber a bola em dor com bola, para devolver o
melhores condições.
 Passe e volta: é uma sequência do
jogo com um duplo passe de ida e 12.1.4 Considerações
volta entre dois jogadores, com o ob-
jetivo de assegurar a posse da bola e Para se realizar a tabela, deve-se levar em con-
dar continuidade ao jogo de ataque. sideração que ambos os jogadores envolvidos em
 Passe e segue: estabelece-se para dar tal ação ofensiva devem realizar deslocamentos sem
continuidade ao jogo por meio da cir- bola, oferecendo-se para receber e orientando-se no
culação da bola. Encadeiam-se, assim, espaço e com os colegas livres da ação do defensor,
vários passes entre atacantes, dando para que se inicie e se termine a ação. Além disso,
início ao jogo posicional. eles devem garantir a continuidade das ações. Po-
rém, os demais atletas da equipe devem estar aten-
tos e devem, também, se oferecer para receber um
12.1.2 Objetivos possível passe e dar continuidade ao ataque quando
o jogador iniciador da tabela não puder concluir
 Conseguir superar o defensor direto; ou receber a devolução do jogador resposta.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 155

O jogador com bola deve realizar determi- 12.2 engajamento, as progressões, pe-
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: netrações ou apoios sucessivos,
em ataque no intervalo
 fixar o defensor e ver a proximidade
com ele; Juan J. Fernández, Helena Vila,
 passar a bola ao colaborador; Randeantoni do Nascimento
 sair da marcação após passar a bola;
 fintar sempre na direção de corrida;
 usar a troca de velocidade na ação de 12.2.1Definição
sair da marcação;
 apresentar qualidade e variação no Por meio de uma estrutura de jogo com
tipo de passe. base nas progressões ou penetrações sucessivas,
podem-se estabelecer conceitos como os de am-
O jogador com bola deve realizar determi- plitude e profundidade em ataque, conseguindo
nadas ações para o sucesso da tabela, tais como: a máxima utilização do espaço possível regula-
mentado.
 oferecer-se para receber; Podemos conceitualizá-los como sendo a
 perceber a ação do colega; soma dos pontos de apoios dinâmicos. Penetrar
 receber em espaço que permita a sequ- é “entrar por” e realiza-se pelos espaços livres.
ência de ações; Quando um atacante penetra entre dois defen-
 fixar o adversário; sores e atrai a atenção dos deles, um compa-
 apresentar qualidade e variação no nheiro atacante fica sozinho. Esta é a base das
tipo de passe na devolução. progressões sucessivas, já que, a partir daqui, a
sequência se repete até esgotar as possíveis ajudas
É importante, todavia, que os demais atle- da defesa e obter a superioridade numérica que
tas da equipe estejam atentos à situação criada dê lugar a um possível 1 x 0.
pela tabela entre esses dois jogadores e fixem a
atenção de seus defensores diretos, realizando
ações sem a bola. Além disso, devem observar a 12.2.2 Objetivos
proximidade com o jogador que realiza a tabela
para evitar que se feche o espaço deste, realizar  Conseguir a penetração na defesa
fintas e mudanças de direção e sentido em suas quando se está em igualdade de nú-
linhas de corrida. mero de jogadores no campo;
 Melhorar a distância do lançamento;
156 Manual de Handebol

 Organizar o jogo posicional com o in- soltando-a no momento certo antes do


tuito de deslocar a defesa para aprovei- seu contato com o defensor.
tar a ação na sua sequência.  O receptor (jogador resposta) deve
tentar receber o passe em corrida de
forma gradual, com mudança de dire-
12.2.3 Considerações ção e velocidade prévia e um desloca-
mento paralelo ao do seu antecessor. A
Realiza-se de forma frontal à meta ou ao gol premissa seguinte é a mesma.
adversário e de modo escalonado, ou seja, um joga-
dor após o outro, sempre em corrida e em progres- Alcança-se, assim, o conceito de amplitude
são para o gol. Quando o jogador com a bola chega e profundidade no ataque por meio da “recepção
à metade de sua trajetória, o companheiro do posto e vou”, ou seja, o jogador que recebe desmarca-se
específico começa a sua corrida. Este é o meio mais novamente com a bola até obter a superioridade
difícil de ser aprendido, pois exige muita colabora- numérica (1 x 0).
ção e timing entre os jogadores participantes.
Para estabelecer e aplicar os princípios do
ataque a intervalos encadeados, ou engajamento,
devemos considerar o seguinte:

 O possuidor da bola (jogador iniciador)


deve atacar sempre o espaço vazio entre
dois defensores e sem buscar o contato,
tentando fazer que o defensor, que não
é seu oponente direto, realize um des-
locamento para oferecer uma ajuda ao
defensor par do atacante. Quando isso Figura 12.2 – Progressões sucessivas em busca de uma
acontece e fica anulada a possibilida- superioridade numérica iniciada pelo jogador C, que
de de penetração do atacante iniciador engaja e atrai o seu defensor par. A ação de B inicia com
com a bola, deve-se efetuar um passe troca de direção e aproveitamento do bloqueio realizado
para o companheiro, de modo a manter pelo jogador E; ao entrar entre o defensor 5 e 6, cria es-
a circulação da bola. Esse passe é funda- paço para o jogador A. Caso o defensor 7 feche o espaço
mentalmente clássico lateral, devendo- na ajuda de 6, o jogador F fica livre de marcação, e o jo-
-se evitar os passes de pronação. O jo- gador A deve passar-lhe a bola; caso contrário, o jogador
gador com bola tem de proteger a bola A estará em condições de lançar ao gol sem oposição.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 157

12.3 A noção par-ímpar em linha de lançamento, ou seja, dá-se um empa-


relhamento do atacante e defensor bem definido.

12.3.1 Definição

Pode-se definir como a situação básica entre


atacantes e defensores com a finalidade de conseguir
um espaço para penetração ou, pelo menos, liberar
um espaço que seja suscetível de ser utilizado por um
companheiro. A partir da menor unidade do jogo,
construímos o resto dos procedimentos coletivos.
O conceito ímpar significa que um atacante
conseguiu a oposição do defensor que não é o seu
direto, ou seja, centrar a atenção ou conseguir a
fixação do oponente não direto. Figura 12.4 – Ataque utilizando o conceito par com
finalização. No conceito par, a resposta do jogador be-
neficiado pela ação do jogador iniciador é realizar o
cruzamento com ele.

12.3.2 Objetivos

Pretende-se a fixação dos defensores para obter


superioridade numérica e alcançar, na continuação:

 a penetração;
Figura 12.3 – Ataque com base no conceito ímpar com  a progressão, por falta de êxito do pri-
finalização da zona exterior esquerda ao se conseguir su- meiro objetivo.
perioridade. No conceito ímpar, a resposta do jogador
beneficiado pela ação do jogador iniciador é atacar em
paralelo, ou em engajamento ou apoio sucessivo. 12.3.3 Considerações

O conceito par significa que um atacante Esta noção ofensiva demonstra as condu-
conseguiu uma situação frontal com seu oponente tas fundamentais que têm de se desenvolver em
158 Manual de Handebol

uma situação 2 x 2, 3 x 3 etc. O jogador, ao ini-


ciar a ação ofensiva, deve atacar sempre o espa-
ço compreendido entre dois defensores (também
denominado ataque ao intervalo), procurando ser
perigoso na busca da penetração para chamar a
atenção dos defensores mais próximos. Aparece,
assim, o conceito de fixação. Não podemos nos
esquecer de que o handebol é, fundamentalmen-
te, uma luta pelos espaços de penetração. Nesta
luta, o beneficiado pode ser o jogador iniciador,
mas, na maioria das vezes, será o jogador resposta Figura 12.6 – Ataque utilizando o conceito par com
que se beneficia da nossa ação. Portanto, devemos finalização mediante um cruzamento.
tentar, na ação coletiva, liberar espaço que possa
ser aproveitado pelo nosso companheiro. O joga-
dor resposta deve observar e atuar no momento 12.4 Os cruzamentos
oportuno para aproveitar a fixação do iniciador.
Quando o jogador iniciador fixa o ímpar,
o jogador resposta aproveita a situação mediante 12.4.1 Definição
uma mudança de direção, dando lugar às progres-
sões sucessivas. Quando o jogador iniciador fixa o Define-se como a ação de troca entre dois ou
par, a resposta ofensiva é o cruzamento. mais jogadores de forma escalonada, premeditada ou
encontrada, para que, por meio da fixação realizada
pelo primeiro atacante em posse da bola, possa-se
originar um erro na defesa e, assim, um companhei-
ro possa aproveitar essa circunstância passando atrás
do colega de posse da bola, liberando, desse modo,
com mais facilidade o seu braço de lançamento.

12.4.2 Objetivos

 Conseguir a penetração;
 Melhorar a distância e a condição do
Figura 12.5 – Ataque utilizando o conceito ímpar. lançamento;
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 159

 Fixar ao máximo o oponente;


 Buscar o erro ou o atraso na ação de-
fensiva, objetivando a superioridade
numérica em um local específico.

12.4.3 Classificação

Cruzamento com bola:

a) Simples: é o cruzamento gradual e Figura 12.8 – Cruzamento duplo.


premeditado entre dois jogadores
com trajetórias específicas. c) Múltiplo: quando se realizam mais de
duas trajetórias de cruzamento.

Cruzamento sem bola:

Ocorre quando o jogador que inicia não está


em posse da bola, mas o jogador que responde ou
recebe de um terceiro.

Figura 12.7 – Cruzamento simples.

b) Duplo: quando não se obtêm resul-


tados com o simples, o jogador que
atacou por último emenda um segun-
do cruzamento para tentar obter um
espaço livre. Figura 12.9 – Cruzamento sem bola.
160 Manual de Handebol

12.4.4 Considerações  As ações devem ser coordenadas em es-


paço e tempo por todos os jogadores.
Os cruzamentos tendem a se realizar entre joga-  Se for alcançado o objetivo, não são
dores de primeira linha, mas podem ser utilizados por necessárias situações de troca.
qualquer jogador em qualquer linha de jogo entre elas.  O segundo jogador busca a ocupação
São empregados para romper a relação de do setor do iniciador.
marcação dos defensores, de forma que os atacan-  O cruzamento é mais aconselhado
tes cruzam as suas trajetórias e, deste modo, um quando os defensores estão em linha.
dos dois fica mediante a fixação dos defensores.
O jogador que inicia fixa o oponente par
mediante uma trajetória que o desloque para o 14.5 As permutas
posto específico defensivo colidente. Como con-
sequência desta trajetória, provoca-se uma dú-
vida defensiva entre o oponente direto e o opo- 12.5.1 Definição
nente do atacante no posto específico defensivo
colidente. O continuador aproveita o espaço de A permuta é um cruzamento sem bola,
penetração criado pelo iniciador e deve progre- no qual os atacantes trocam de posições em
dir por ele até melhorar a distância de arremesso. postos próximos, entre dois ou mais jogado-
Inicia-se com uma trajetória retilínea e, a partir res. Existe uma invasão de espaço no posto
da observação que o oponente direto mantém específico do colega, que ocupará o espaço li-
em sua posição, muda-se de direção e cruza-se vre. Tais ações oportunizam uma mobilidade
por detrás do iniciador, uma vez que este invada maior do ataque.
seu setor. O espaço entre ambos será mínimo e
o passe pode ser em largada, pronação para trás
ou, até mesmo, com as duas mãos girando como 12.5.2 Objetivos
na pantalha.
Um princípio básico é que o jogador atacan- Participam de uma ação de permuta:
te com a bola deve iniciar a ação de cruzamento
(com exceção do cruzamento sem bola):  jogador iniciador: é o responsável por
iniciar a ação com um passe para um
 Os jogadores em ação premeditada ou colega;
em ações improvisadas buscam a fixa-  jogador resposta: é quem realiza a ação
ção de seu oponente direto, mas ata- de cruzamento sem bola com o joga-
cando o espaço entre dois defensores. dor iniciador;
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 161

 jogador colaborador: realiza a recep- posse da bola e qualidades na fixação e continui-


ção do passe do jogador iniciador e dá dade do jogo de ataque.
sequência ao jogo.

12.6 O bloqueio
12.5.3 Terminologia específica e classificação Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

As permutas podem ocorrer de acordo com


o posicionamento dos atletas em relação à defesa: 12.6.1 Definição

 frente à defesa; O bloqueio define-se quase exclusivamente


 através da defesa; como a interrupção da trajetória do defensor por
 por dentro da defesa. parte de um atacante sem/com a posse da bola.
Realiza-se sobre qualquer defensor, ainda que sua
Participam de uma ação de permuta: maior utilização se proceda no jogo estático e quase
de forma única pelo(s) pivô(s), podendo e devendo
 jogador iniciador: é o responsável por ser feito por qualquer jogador sem restrições.
iniciar a ação com um passe para um
colega;
 jogador resposta: é quem realiza a ação 12.6.2 Objetivos
de cruzamento sem bola com o joga-
dor iniciador;  Conseguir a penetração;
 jogador colaborador: realiza a recep-  Melhorar a distância de lançamento;
ção do passe do jogador iniciador e dá  Quebrar a coordenação do sistema de-
sequência ao jogo. fensivo;
 Buscar o erro ou o atraso na ação de-
fensiva, objetivando-se a superiorida-
12.5.4 Considerações de numérica em um setor específico.

Para se realizar a permuta, são necessárias ca-


pacidades técnico-táticas individuais dos partici- 12.6.3 Terminologia específica e classificação
pantes dessa ação, tais como variedade de desloca-
mentos, eficácia e variedade de lançamentos, uma Ao denominar os jogadores que intervêm no
boa movimentação sem bola, uma boa decisão em bloqueio, distinguem-se:
162 Manual de Handebol

 bloqueador: jogador que realiza o blo-


queio (1);
 beneficiado: jogador atacante, com opo-
nente em defesa que é bloqueado (2);
 bloqueado: jogador de defesa que so-
fre o bloqueio (3);
 colaborador direto defensivo: defensor
que participa no contrabloqueio (4).

Os bloqueios podem se classificar sobre vá-


rios parâmetros (Román; Petkovic; Teixeira):3-7 Figura 12.10 – Bloqueio.

Quadro 12.1 – Tipos de classificação dos bloqueios


Tipo Modo de ação Imagem

Frontal (para frente e para trás).

Segundo a trajetória
Lateral (pela esquerda e pela direita).
da bola/defensor

Diagonal (pela frente e por trás).

Primeira linha.

Segundo a linha defensiva


em que ocorre

Segunda linha.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 163

Tipo Modo de ação Imagem

Segundo a linha defensiva


Terceira linha.
em que ocorre

Bloqueio direto ou estático, quando o beneficia-


do é quem finaliza a ação.

Segundo a ação posterior

Bloqueio indireto ou dinâmico, quando o bene-


ficiado passa a bola ao bloqueador para que este
finalize a ação.

Bloqueio simples
(um atacante atua sobre um defensor).

Segundo o número de jogadores

Bloqueio duplo
(dois atacantes atuam sobre um defensor).
164 Manual de Handebol

Tipo Modo de ação Imagem

Duplo bloqueio
Segundo o número de jogadores
(dois atacantes atuam sobre dois defensores).

Bloqueio com saída para seu lado.

Segundo a saída

Bloqueio com saída para o lado falso, ou seja,


lado contrário àquele realizado pelo bloqueador.

12.6.4 Considerações impossibilidade de utilizar os braços estendidos


ou pernas afastadas.
Para realizá-lo, o regulamento permite a A orientação do bloqueador pode ser fron-
antecipação espaço-temporal sobre o defensor, tal ou, até mesmo, dando as costas ao defensor,
em forma de choque simultâneo e com resistên- mas, em todo caso, não deve nunca perder a bola
cia mútua. Recomenda-se que o bloqueador se de vista. Somente se deve realizá-lo perante um
posicione fechando a saída do defensor bloquea- defensor que se encontra em uma linha de jogo
do a 50-70 cm dele e não indo sobre ele, a fim de distinta para se ter maior garantia de êxito, já que
evitar a falta de ataque. A respeito disto, o blo- a coordenação defensiva ficaria mais difícil em ra-
queador não pode empurrar, mas somente ofere- zão da surpresa da ação.
cer resistência corporal. O regulamente prevê a Devemos levar em conta:
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 165

 um bloqueio será eficaz se houver


coincidência espaço-temporal nas
ações dos atacantes.
 perante um bloqueio frontal, bloque-
ador e beneficiado devem coincidir no
mesmo eixo.
 uma vez produzido o bloqueio, o blo-
queador deve se desmarcar o mais rá-
pido possível no espaço livre.

O bloqueio constitui uma série de fases: Figura 12.11 – Desenvolvimento de bloqueio dinâ-
1. Iniciação: quando o principal proble- mico.
ma está na sincronização da ação do
atacante com o restante da jogada de
ataque, que estará em função da dis- 12.7 A pantalha
tância e da situação dos jogadores en- Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
tre si.
2. Realização: o bloqueador é o jogador
que começa a ação, mas em função da 12.7.1 Definição
bola, e é o primeiro que deve chegar
ao ponto escolhido. O beneficiado É um meio tático coletivo pelo qual dois ou
deve passar lateralmente o defensor, mais atacantes cortam simultaneamente a trajetória
na hora em que acontece o bloqueio, de um defensor (ou defensores) em profundidade
e o bloqueador se coloca pelo lado em para facilitar o lançamento de um companheiro.
que pretende passar o beneficiado. A pantalha é um muro que se interpõe entre os
3. Finalização: se dá quando o beneficia- defensores e um atacante para facilitar a este o lan-
do ultrapassa lateralmente a linha de çamento à distância. Pode-se considerar, também,
bloqueio (formada entre o bloqueador como a soma de dois ou mais bloqueios frontais.
e o jogador com a bola) e implica um
lançamento ao gol, uma continuação
com um passe ao bloqueador (blo- 12.7.2 Objetivos
queio dinâmico) ou uma possibili-
dade de superioridade numérica nas  Conseguir uma situação ótima para o
ações seguintes. lançamento eficaz da primeira linha;
166 Manual de Handebol

geralmente envolve um especialista vre). Contudo, exige opções de continuação dian-


que possui grande qualidade no lan- te da possibilidade de fracasso da pantalha.
çamento de média e longa distância; Devemos levar em conta que:
 Buscar, de forma secundária, a penetra-
ção pela ruptura da pantalha, ou pela  envolve uma boa estruturação espaço-
liberação do espaço do lado contrário. -temporal: ocupar o espaço da panta-
lha no momento em que o lançador
recebe a bola.
12.7.3 Classificação  deve ser adequado ao lugar em que se en-
contra o lançador, em consideração à tra-
As pantalhas são denominadas segundo o jetória do lançador e dos bloqueadores.
número de jogadores que as compõem:  os jogadores estarão próximos e não
a) Pantalhas de dois ou duplas. em graduação.
b) Pantalhas de três ou trios.  se não houver êxito na pantalha (não
c) Pantalha múltipla: normalmente uti- se chegara executar o lançamento), um
lizadas em situações especiais, como dos bloqueadores deve continuar o
no caso dos lançamentos em tiro livre jogo de pivô, aproveitando o jogo em
ou nos instantes finais da partida. profundidade (bloqueio dinâmico).
 buscar a maior profundidade por par-
Também podemos classificá-las em função te dos integrantes da pantalha para
do momento do jogo em que elas acontecem: conseguir maior efetividade e melho-
a) Pantalha dinâmica: aquela que acon- rar a distância em relação ao gol.
tece dentro da ação normal do jogo
com mais um procedimento tático.
b) Pantalha estática ou estratégica: tem
seu início em uma situação de inter-
rupção do jogo (tiro livre).

12.7.4 Considerações

Seu emprego é muito efetivo contra defesas


fechadas e de uma só linha ou, também, em ações
estratégicas do jogo (lançamento em um tiro li- Figura 12.12 – Desenvolvimento da pantalha.
Fundamentos da tática coletiva no ataqueI 167

12.8 Cortina acompanhando o movimento da bola. A movi-


Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco mentação do jogador sem bola, segundo Cuesta,9
deve ocorrer de forma que o defensor direto do
colega não perceba, ou seja, deve ser realizada por
12.8.1 Definição meio de uma surpresa do adversário.
Entretanto, tal movimentação deve ser rea-
As cortinas são ações táticas de grupo de ataque lizada observando-se alguns aspectos técnico-táti-
que objetivam interromper, momentaneamente, a cos e regulamentares do jogo, tais como:
trajetória de um defensor, evitando sua progressão
na profundidade da quadra, para beneficiar o colega  O jogador sem bola não pode realizar
com ou sem a posse da bola. É uma ação simultânea um bloqueio faltoso no defensor dire-
de dois atacantes, sendo que um protege a corrida to daquele que estará sendo beneficia-
do lançador e outro se beneficia da ação do colega. do pela ação dele;
O jogador sem bola deve realizar uma corrida  O atacante deve chegar ao espaço an-
pela frente da defesa, obstruindo a saída a frente do tes que o defensor, realizando uma
defensor direto do colega, facilitando, assim, a ação de pequena parada para “segurá-lo”, de
progressão para o lançamento ou a superioridade deste forma tal a dar “tempo” e “espaço” ao
que se beneficia da movimentação do iniciador da ação. colega;
 Quem se beneficia do bloqueio deve
perceber as melhores alternativas para
12.8.2 Objetivos finalizar ou dar sequência ao jogo
ofensivo;
 Conseguir uma situação ótima para o  Deve-se ajustar o timing da ação entre
lançamento; os dois jogadores de ataque, sendo que
 Conseguir uma situação de superiori- a trajetória do jogador deve ter sua
dade do ataque; “chegada” de forma simultânea com a
 Atrasar ou evitar a saída à frente do de- do companheiro no local de definição
fensor direto do jogador beneficiado; da ação.

12.8.3 Considerações 12.9 Ponte aérea (ou fly, ou kempa-trick)


Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco
Seu emprego é muito efetivo contra defesas
fechadas em situações de saída do defensor direto
168 Manual de Handebol

12.9.1 Definição  Utilizar o espaço nas costas da defesa


(realizando uma progressão com salto
A ponte aérea é uma ação tática de grupo de fora da área de 6 metros).
que exige interação de dois atacantes, com traje-
tórias diferentes. O primeiro, também chamado
de jogador iniciador, deve passar a bola no espa- 12.9.3 Considerações
ço da área para um segundo atacante, também
chamado de jogador resposta, evitando a ação de A utilização da ponte aérea, ou “fly”, deve acon-
interceptação do defensor direto de ambos os jo- tecer observando-se a movimentação dos defensores
gadores e do goleiro. e determinando o melhor momento tanto do passe
quanto do deslocamento do jogador sem bola.
As responsabilidades dos atletas durante
12.9.2 Objetivos uma ação de ponte aérea estão apresentadas no
Quadro 12.1:
 Liberar braço de lançamento;

Quadro 12.2 – Responsabilidades dos atletas durante uma ação de ponte aérea
Jogador iniciador Jogador receptor Jogador sem bola
Fixar a atenção dos seus defensores
Fixar o defensor direto. Perceber a ação do colega.
diretos, realizando ações sem bola.
Observar a proximidade com o jogador
Passar a bola ao colega que salta para
Oferecer-se para receber. que realiza o fly, não fechar espaço
a área.
deste.
Sair da marcação após passar a bola. Saltar de fora da área. Não se aproximar em demasia.
Fintar sempre a direção de corrida,
Recepção no ar no espaço da área, nas Desmarcar-se para ser opção de passe e
desviando atenção da defesa para o
costas da defesa. para ser um possível receptor.
local do passe.
Fintar sempre a direção de corrida e
Fixar e passar com qualidade. Observar o goleiro, tipo de ação, saída etc. trabalhar sem bola para atrair defen-
sores.
Usar a troca de velocidade na ação de Usar a troca de velocidade na ação de
sair da marcação. sair da marcação.
Qualidade e variabilidade no tipo de
Qualidade e Variação no tipo de passe. Qualidade e variação no tipo de ação.
lançamento.
Assegurar a continuidade do jogo caso
Assegurar a continuidade do jogo. Assegurar a continuidade.
não possa definir.
Juan J. Fernández, Jose M. Miragarjo, Rondeantoni do Nascimento, Helena Vila

13 Meios tecnicos táticos de grupo na defesa

13.1 Basculação, flutuação e forma- “triângulo defensivo”. Esse nome se deve a sua
ção do triângulo defensivo similaridade geométrica com essa figura. Sua mis-
são fundamental é reforçar as zonas defensivas
correspondentes à posição da bola, isto é, formar
13.1.1 Definição superioridade numérica defensiva em torno da
bola (densidade).
Por basculação entende-se uma série de
deslocamentos laterais defensivos determinados
pela posição da bola e do jogador (amplitude
defensiva), com o objetivo de se obter superio-
ridade numérica defensiva no setor em que se
encontra a bola.
Unido ao conceito de basculação defensiva,
encontramos, também, o de flutuação, que se
define como a ação de aproximação-afastamento
de um defensor frente ao seu oponente. A dis-
tância que os separa pode ser maior ou menor
dependendo da ação ou não contra o oponen- fIgura 13.1 – Triângulo defensivo.
te (profundidade defensiva). A missão funda-
mental da flutuação é jogar com espaços que se
deixam disponíveis para o atacante. Por meio 13.1.2 Objetivos
da redução, aproximamo-nos do oponente, em
uma zona eficaz de deslocamento, ou pelo seu  Impedir penetrações e progressões.
aumento, retrocedendo para bloquear a bola na  Buscar a ocupação antecipada de es-
direção que ela fosse. paços livres.
O exercício que combina flutuação e bas-  Reduzir a zona de ação eficaz do ata-
culação possibilita a formação do denominado cante no lançamento à distância.
170 Manual de Handebol

 Reforçar as zonas defensivas onde se em defesas mistas:


encontra a bola (formar igualdade ou  As mesmas considerações do caso an-
superioridade numérica defensiva). terior para aqueles que defendem em
 Jogar com espaços, aproximando- zona.
nos ou afastando-nos de nosso opo-  Realizam-se os ajustes necessários se o
nente. jogador que recebe a defesa individual
 Poder efetuar com a maior precisão a a supera.
defesa de nosso gol.
Em defesas individuais, este conceito não
tem cabimento. Recorre-se às ajudas defensivas
13.1.3 Considerações em caso de superação do defensor, ou, se for o
caso, pode-se chegar à troca de função defensiva
A disposição tática do triângulo defensivo que é conhecida como troca na marcação.
nos permite também colaborar melhor com o
goleiro. Dessa forma, podem-se estabelecer como
critérios básicos de colaboração:

 o jogador que ataca seu oponente di-


reto cobre o ângulo curto do gol;
 o jogador da base interior do triângulo
defensivo cobre o ângulo longo.

Esses meios táticos, levando em conta a ti-


pologia do sistema defensivo, utilizam-se: Figura 13.2 – Troca na marcação.

em defesas por zona:


 Perante procedimentos táticos coleti- 13.2 A dobra
vos ofensivos que buscam penetração
ou a melhora do parâmetro de pro-
fundidade. 13.2.1Definição
 Especialmente eficaz contra procedi-
mentos táticos coletivos ofensivos que É um meio tático coletivo defensivo com
buscam superioridade ofensiva no se- base na intenção técnico-tática defensiva de con-
tor em que encontra a bola. trole da distância do oponente, que busca evitar a
Fundamentos de tática coletiva na defesa 171

progressão de um jogador adversário em posse da 13.2.3 Considerações


bola que superou um companheiro em um posto
específico ao lado do seu. Também é conhecida A superação de um defensor implica uma
como ajuda ou “fechamento”. série de ajustes coletivos, mas, também, facilita as
A dobra implica atuar sobre um adversário iniciativas e a valorização de riscos nas tomadas de
em posse da bola que não seja nosso oponente di- decisão, sabendo que o companheiro vencido será
reto, o qual se torna perigoso por ter superado seu capaz, por sua vez, de acudir em ajuda defensiva.
defensor direto no setor defensivo. Em definitivo, dobrar supõe que a defesa
se adapta em inferioridade numérica, ou seja, ao
se eliminar um defensor, há mais atacantes. Para
fechar este buraco na defesa e impedir a sua utili-
zação imediata, o defensor que cobre deve neutra-
lizar completamente o atacante em posse da bola
para evitar o lançamento e permitir, assim, que a
defesa se reagrupe e se reorganize (principalmente
o companheiro vencido).
A dobra, tendo em conta a tipologia do sis-
tema defensivo, é pertinente:

Figura 13.3 – Ação de dobra por parte de um central a) em defesas por zona:
defensivo.  Superação de um companheiro em
um contra um: o companheiro que
está ao lado pelo qual foi vencido seu
13.2.2 Objetivos colega realiza a cobertura.
 Em defesa de duas ou três linhas pe-
 Ajudar a resolver as dificuldades de um rante erro na interceptação ou supe-
companheiro superado por um adver- ração pela zona externa (a dobra é um
sário com bola e ocupar o seu lugar. deslizamento).
 Neutralizar uma situação de superio-
ridade numérica ofensiva com perigo b) em defesas mistas:
iminente.  As mesmas considerações do caso ante-
 Permitir a reorganização de ações de- rior para aqueles que defendem em zona.
fensivas com posterioridade.  As mesmas situações e cadências, ou
seja, superação do homem que foi à
172 Manual de Handebol

individual e realização da dobra (mes- se apresenta como a ação técnico-tática defensiva


mo que não tinha a bola, pois está des- indicada para a sequência da marcação do opo-
marcado). nente com bola.

Em defesas individuais, seguem os princí-


pios de colaboração coletiva para se fazer a dobra. 13.3.2 Objetivos

 Manter a estrutura e o bom funciona-


13.3 A troca de oponentes e o desli- mento do sistema defensivo utilizado.
zamento  Abortar os meios táticos coletivos
ofensivos que impliquem trocas ou
permutas de postos específicos.
13.3.1 Definição  Utilizar corretamente o conceito de
ajuda defensiva.
Ambos os meios táticos defensivos coletivos
podem resumir de forma simples a ideia básica do
jogo defensivo coletivo. Essas interações defensi- 13.3.3 Classificação
vas se dão como resposta a movimentos ofensivos
com a finalidade de abortá-los ou diminuir sua A troca de oponentes pode classificar-se sob
efetividade ou consequência. vários parâmetros:
A troca do oponente é uma permuta de fun- a) Pela ocupação de espaços livres:
ções de marcação como consequência de ações dos  Troca do oponente por abandono do
atacantes com a finalidade de não romper a estru- posto específico, o qual leva a um au-
tura espacial de uma organização defensiva. Esse mento do espaço do posto específico
meio tático requer que os defensores encontrem- defensivo.
se na mesma linha defensiva para poder realizar  Troca do oponente como resposta a
a troca de oponentes. Se isso não for possível, a cruzamentos ou invasão do posto de-
resposta defensiva seria mediante o deslizamento, fensivo de outro defensor.
elemento que podemos conceituar como uma res-
posta defensiva às trocas de posicionamento dos b) Em função da distância a qual se realiza a ação
atacantes, e cada defensor acompanha o seu ad- ofensiva:
versário marcando-o de perto. Em casos em que  Troca de oponente perante ações em
não é possível a troca do oponente, mas a amplia- proximidade, na qual podemos distin-
ção do posto defensivo específico, o deslizamento guir três fases:
Fundamentos de tática coletiva na defesa 173

1. Interceptação do atacante. O defensor há de manter a marcação em


2. Acompanhamento do atacante. uma zona, sem se importar com qual atacante
3. Entrega ao companheiro e troca do oponente a está ocupando. Se este abandonar esta zona,
propriamente dito. então o defensor deve deixá-lo, conservar seu
posto específico e marcar outro oponente. Nesse
 Troca do oponente perante ações a dis- caso, estabelece-se um combinado ou uma co-
tância, também conhecida como troca municação com seus companheiros para indicar
do oponente visual. Tem objetivo tático, esta ação, frequentemente por meio da ação ver-
pois, como defensor, só posso ampliar bal “troca”, e, inclusive, chegar a fazer contato
meu posto e meu contato visual com corporal com o companheiro continuando seu
meu atacante. Como regra geral, depen- deslocamento anterior.
derá da profundidade de nossos defen- Sem impedimento, o deslizamento é uma
sores e dos movimentos dos atacantes. resposta defensiva perante trocas de posiciona-
mentos dos atacantes, nos quais não seja possível
a troca de oponentes. Perante defesa homem a
homem, os emparelhamentos são feitos de forma
nominal. Por essa razão, quando o atacante se des-
loca para outros espaços, o defensor deve segui-
lo. Perante defesas zonais, quando os atacantes se
cruzam e os defensores não se encontram em mes-
ma altura ou profundidade, a resposta defensiva
se realiza com o deslocamento em forma de desli-
zamento (daí vem sua denominação) para evitar a
superioridade da equipe atacante. Terá prioridade
Figura 13.4 – Troca do oponente. o defensor que está adiantado, já que é responsá-
vel pelo atacante com bola.
Portanto, os requisitos são:
13.3.4 Considerações
a) Câmbio ou troca de oponente
A troca de oponente funciona perfeitamente  Os defensores devem estar em mes-
quando o sistema defensivo é de natureza zonal, ma linha.
se bem que, nas primeiras fases da iniciação, tam-  Nunca deve ser realizado quando um
bém deve ser utilizado dentro das organizações de dos defensores está atuando decisiva-
funções individuais na marcação. mente contra seu oponente com bola.
174 Manual de Handebol

 Quando um dos jogadores atacantes Optaremos por deslizamento:


possui a bola, decidirá pela realização  quando os defensores não estão à mes-
do câmbio do oponente o defensor do ma altura;
jogador que não tem a bola.  quando um dos defensores está atu-
ando decisivamente contra o seu opo-
b) Deslizamento nente com a bola;
 No momento de realizá-lo, os defen-  quando existir um acordo prévio.
sores deverão estar escalonados.
 O defensor que o realiza deve fazê-lo
o mais próximo possível do seu com-
panheiro, para poder neutralizar o seu
oponente assim que possível.

Em consequência, realizaremos o câmbio de


oponentes (VVAA):12

 perante uma ação de cruzamentos dos


atacantes;
 durante o deslocamento de um atacante Figura 13.6 – Defesa mediante deslizamento.
que supere os limites da ação de outro.

Em qualquer uma das situações anteriores, 13.4 O contrabloqueio


pode-se atuar ante o oponente com ou sem a bola.

13.4.1 Definição

O contrabloqueio é uma situação típica


de troca de oponente como resposta defensiva
à ação ofensiva do bloqueio, geralmente em
situações de marcação zonal e espaços próxi-
mos aos nove metros e linha de lançamento
eficaz de um atacante. Consiste em uma troca
de marcação específica para a situação de blo-
Figura 13.5 – Câmbio do oponente. queio ofensivo.
Fundamentos de tática coletiva na defesa 175

13.4.2 Objetivos fensores se encontram em diferentes planos, não


será feito o câmbio de oponente.
 Abortar a utilização do jogo de blo- Outra possibilidade de solução é que o opo-
queios por parte dos atacantes. nente do bloqueador o acompanhe até o lugar do
 Solucionar uma desigualdade defensi- bloqueio, ajudando o bloqueado a ganhar a situa-
va ou um acerto ofensivo. ção, deslocando-se para trás.

13.4.3 Considerações

O jogador bloqueado realiza uma manobra


que consiste em um deslocamento para frente pri-
meiro e para trás depois, para se situar na linha
de passe do bloqueador. O defensor oponente do
bloqueador vai para o jogador com a bola, benefi-
ciário do bloqueio. Se o beneficiário sai pelo lado
falso, é o defensor bloqueado que deve responder.
Figura 13.8 – Contrabloqueio mediante deslocamen-
to diante do jogador bloqueado.

Figura 13.7 – Contrabloqueio mediante deslocamen-


to para frente do jogador bloqueado.

Uma regra geral é que, quando os defensores


estão na mesma altura, a situação se resolve por
meio de um câmbio do oponente. Mas, se os de-
176 Manual de Handebol

Referências
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Madri: Gymnos, 1998. Unisport para entrenadores de balonmano.
Málaga: Unisport, 1993.
2 ______. Balonmano: tática grupal defensiva:
concepto, estructura y metodología. Madrid: 7 Petkovic, V. La passe dans la surface de but.
Grupo Editorial Universitario, 2002. Eurohand. France: Euro-Hand, 1990.

3 Román, J. El ataque en superioridad numérica. 8 Teixeira, F. Cuadernos de balonmano: bloqueos.


Conferencia pronunciada no Curso Especial Vigo: Federación Galega de Balonmán, 1993.
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9 ______. Cuadernos de balonmano: el juego
mano. Bilbao: Real Federación Española de
entre dos. Vigo: Federación Galega de Balon-
Balonmano e Escuela Nacional de Entrena-
mán, 1995
dores, 1986.
10 R.F.E.B.M. Reglas del juego. Madri: Real Fe-
4 ______. El entrenamiento individual y de
deración Española de Balonmano, 1997.
grupo como base de los sistemas defensivos.
Conferencia pronunciada no Curso Especial 11 Cuesta, J. G. (org.) Balonmano. Madri: Co-
de Actualización para entrenadores de Balon- mité Olímpico Español y Real Federación
mano. Bilbao: Real Federación Española de Española de Balonmano, 1991.
Balonmano e Escuela Nacional de Entrena-
dores, 1986. 12 VVAA. Balonmano. Colección de los depor-
tes olímpicos. Madrid: Comité Olímpico Es-
5 ______. El juego entre líneas: entrenamiento pañol, 1991.
del pivote. El juego técnico como base de los
desplazamientos. Conferencia pronunciada
no Curso Especial de Actualización para en-
trenadores de Balonmano. Bilbao: Real Fe-
deración Española de Balonmano e Escuela
Nacional de Entrenadores, 1986.
sIsteMas de jogo no ataque 177

Parte V
Sistemas de jogo no
handebol
Juan J. Fernández, Pablo Juan Greco, Helena Vila, Rondeantony do Nascimento

14 Sistemas de jogo no ataque

14.1 Introdução aos sistemas de jogo  das características dos jogadores da


em ataque sua equipe;
 das características dos jogadores da
equipe adversária;
14.1.1 Definição  do sistema de jogo utilizado pela equi-
pe adversária;
Entende-se por sistema de jogo no ataque  das situações decisivas no decorrer da
o conjunto de medidas (técnico-táticas individu- partida.
ais e táticas coletivas) que o treinador seleciona e
ordena pra serem colocadas em prática por parte
dos jogadores, com a finalidade de impedir a pro- 14.1.2 Sistema 3:3: a estrutura básica do
gressão da equipe atacante ou a execução do gol. ataque
Quando se fala de um sistema de jogo no ataque,
faz-se referência a: 14.1.2.1 Definição e estrutura

 determinada situação ou distribuição, O ataque em 3:3 (um pivô) é um sistema


mais ou menos equilibrada no espaço, de ataque básico, no qual os jogadores realizam
dos jogadores na zona de ataque (idéia uma divisão equilibrada na zona de ataque com a
estratégica); finalidade de diminuir os espaços e assegurar uma
 uma organização das ações táticas continuidade do ataque. A partir deste sistema,
que serão colocadas na prática (idéia ocorrem variações estruturais que dão lugar a ou-
dinâmica). tros sistemas de ataque ou modificações destes.
Em suma, sua estrutura é formada por duas
Com base nisso, podemos redefinir um sis- linhas, nas quais se distribuem três jogadores em
tema de jogo ofensivo como determinada organi- cada uma delas.
zação espacial e das ações dos jogadores de uma As posições específicas de cada linha são as
equipe. Esta organização acontecerá em razão: do Quadro 14.1:
180 Manual de Handebol

Quadro 14.1 – Posições específicas de cada linha


ofensiva
Primeira linha de ataque Segunda linha de ataque
Armação central (B) Ponta esquerda (F)
Lateral esquerdo (A) Ponta direita (D)
Lateral direito (C) Pivô (E)

Figura 14.2 – sistema 3-3 normal ou fechado.

 3:3 (um pivô) aberto: nesta variação do


sistema 3:3, os dois pontas se posicio-
nam mais abertos, próximos à linha de
fundo.

Figura 14.1 – Sistema 3-3 clássico.

14.1.2.2 Classificação

Como em qualquer outro sistema, existe


uma estrutura básica e uma divisão de funções
por posição específica. A partir desta posição
inicial, pode-se ter uma série de modificações Figura 14.3 – sistema 3-3 aberto.
no sistema, o que oportuniza as seguintes va-
riações.
14.1.2.3 Posssibilidades de atuação
 3:3 (um pivô) normal ou fechado: ca-
racteriza-se pela situação de os dois A posição dos jogadores na quadra deve ser
pontas se posicionarem na mesma li- ativa e dinâmica, com constantes movimentos para
nha do pivô receber a bola, buscar se desmarcar, preparar para
infiltração, ou, para passar a bola, atuando sempre
Sistemas de jogo no ataque 181

em direção ao gol e colaborando constantemente com  Capacidade de dificultar a movimen-


o restante dos companheiros da sua equipe. tação defensiva por meio de bloqueios.
 Atitude constante de colaboração e
ajuda com os jogadores da segunda e
14.1.2.4 Função dos jogadores da primeira linha.

Em geral, e em razão da quantidade de pos- Pontas:


sibilidades de desenvolvimento que se tem neste  Realizar todas as recepções em movi-
sistema, poderíamos dizer que cada jogador deve mento e não em posição estática.
dominar o maior número de ações a partir da sua  Domínio de várias movimentações
posição específica. com o seu companheiro (F-A/C-D).
 Domínio eficaz das trajetórias dentro
 Primeira linha da sua posição específica.
 Ataque direto e perpendicular em di-  Capacidade de atrair a atenção, mes-
reção ao gol. mo de dois defensores.
 Domínio de fintas com e sem bola para
os dois lados (ponto forte e ponto fraco).
 Domínio de lançamento. 14.1.2.5 Utilização
 Domínio do jogo com pivô.
Pode ser utilizada diante de qualquer tipo de
Só devemos fazer uma observação particular defesa. A experiência nos mostra que é mais eficaz
no caso do jogador central (B), quando se busca: diante de defesas em 6:0, tanto em bloco defensi-
vo quanto em linha de tiro. Também é válido em
 sintetizar as duas zonas de ataque. situações de superioridade numérica.
 ser perigoso (ofensivo) em ambas as Devemos nos lembrar, de todas as formas,
trajetória. de que a equipe deve conhecer procedimentos
 ser capaz de jogar para os dois lados táticos específicos, tanto contra defesas abertas
com o pivô. (bloqueio em segunda linha, cruzamentos etc.),
 dominar pelo menos o lançamento quanto contra defesas fechadas (progressões su-
entre 8 e 9 m. cessivas, mudanças no sentido da bola, bloqueios
em primeira linha defensiva etc.).1
 Segunda linha A utilização deste sistema ofensivo tem van-
Pivô: tagens e desvantagens, entre as quais podemos
 Mudança rápida de ritmo. destacar:
182 Manual de Handebol

Vantagens: de uma posição específica, o de pivô, mediante o


 É um sistema seguro (a distância entre qual se transforma o sistema de jogo ofensivo.
os passes é curta). Entre os desdobramentos mais usuais, pode-
 Há equilíbrio na ocupação do espaço mos citar o da primeira linha e o do ponta, transfor-
(largura e profundidade). mando, por exemplo, o sistema 3:3 (um pivô) a 2:4,
no primeiro caso, ou a 3:3 (2 pivôs), no segundo.
Desvantagens:
 Facilita a adaptação do sistema defen-
sivo em razão de sua estrutura (sem 14.2.2 Classificação
transformações).
Segundo a zona de procedência do jogador
onde se realiza a transformação, podemos distin-
14.2 Sistemas de transformação guir as seguintes variantes do sistema:

14.2.1 Definição e estrutura Sistema de ataque 3:3 (um pivô) - 3:3 (dois pivôs)

Podemos entender os sistemas de transforma- Acontece quando, partindo do sistema 3:3 (um
ção como sendo as mudanças de um sistema de um pivô), um ponta abandona a sua posição e se converte
jogo a outro, por modificação das linhas de jogo ou em segundo pivô, geralmente do lado contrário que
das posições específicas. Esta evolução dos sistemas de correu. Assim, a equipe passaria a atuar com dois pivôs
ataque faz com que a defesa se reorganize buscando: e ficaria sem um ponta, inicialmente. Os armadores la-
terais ficam em suas posições, ou seja, apresenta-se um
 aumento da iniciativa defensiva (maior 3:3 com uma ponta livre, sem ocupação por jogador.
antecipação);
 ocupação espacial em várias linhas
(maior profundidade);
 aumento da movimentação defensiva
(espaços mais amplos).

Contra isso, aparecem as transformações do


sistema 3:3 (um pivô). Uma das movimentações
básicas dos sistemas de jogo ofensivo é o desdo-
bramento. Este é um procedimento tático coleti- Figura 14.4 – Transformação do sistema 3:3 (um
vo que consiste no deslocamento de um jogador pivô) para o sistema 3:3 (dois pivôs).
Sistemas de jogo no ataque 183

Partindo de um sistema 3:3 (um pivô),  Um bloco de 3 x 3, outro de 2 x 2 e o


um dos jogadores da primeira linha abando- central. O bloco de 3 x 3 estaria for-
na a sua posição para se converter em segundo mado pelo ponta, o lateral e o pivô, e
pivô, e serão realizados os ajustes necessários o de 2 x 2 estaria formado pelo lateral
para que os pontas se mantenham ocupados e a e o segundo pivô.
posição deixada por aquele que penetrou como
pivô seja preenchida por um dos jogadores da Em ambos os casos, deve estar assegurada
primeira linha. a união das diferentes zonas de ataque mediante
o central, o que provocará, em muitas situações,
que se forme um triângulo na zona do centro en-
tre o central e os dois pivôs.

Sistema de ataque 3:3 (um pivô) - 2:4

O sistema deve ter agilidade suficiente para


se transformar de um 3:3 (um pivô) sem perder
opções no ataque, o qual causaria um problema
grave de adaptação para a defesa. As possibilida-
Figura 14.5 – Transformação do sistema 3:3 (um des de realização seriam:
pivô) para o sistema 2:4.
 transformação do central.
 transformação de um lateral. O cen-
14.2.3 Possibilidades de atuação tral pode ou não ocupar o espaço do
lateral em função das suas próprias ca-
Sistema de ataque 3:3 (um pivô) - 3:3 (dois pivôs) racterísticas (mais ou menos lançador,
maior ou menor qualidade técnica-
Existem duas possibilidades de atuação em -tática individual).
função da distribuição dos blocos de trabalho dos
jogadores: Na atualidade, também se usa, com certa as-
siduidade, a transformação de 3:3 (um pivô) - 3:3
 Dois blocos de 3 x 3 formados da se- (dois pivôs) - 2:4. Neste caso, parte-se do desdo-
guinte maneira: de um lado o central, bramento do ponta e dobra o pivô. Geralmente,
o lateral e o pivô; de outro, o ponta, o o lateral ocupará o seu lugar, e o central abre em
lateral e o pivô; amplitude (2:4).
184 Manual de Handebol

14.2.4 Funções dos jogadores 14.2.5 Utilização

Em geral os jogadores devem dominar o Em geral, pode-se utilizar contra todos os


momento do passe e a coordenação com os pi- sistemas defensivos, mas é especialmente eficaz
vôs. Além do mais, dependendo da posição, as contra defesas avançadas, porque a adaptação de-
necessidades provocadas pelas modificações do fensiva, neste caso, é mais complicada.
sistema seriam: Em particular, deve-se utilizar, sobretudo,
contra defesas abertas, por exemplo, 5:1 em linha
O central: de lançamento, 3:3 e, também, contra 3:2:1.
 deve coordenar totalmente o sistema.
 deve jogar em profundidade com 2
pivôs. 14.3 Ataque contra defesa individual
(da iniciação ao alto nível)
O lateral do lado em que se encontra a ponta livre
deve ter: Klaus Feldmann, Pablo Juan Greco,
 Domínio tático do jogo em profun- Fernando Lucas Greco
didade, dificultado por ter um pivô
constante na sua zona, já que tem me-
nos apoio do seu ponta. 14.3.1 Definição e estrutura
 capacidade de penetrar com efetivida-
de para a ponta. O jogo de handebol caracteriza-se pela oposi-
ção e cooperação simultânea dos jogadores em ata-
O pivô: que e defesa, com posse de bola, alternando sistema
 O pivô fixo tem a responsabilidade de ofensivo e defensivo utilizado pelas equipes.
coordenar corretamente os dois pivôs. A marcação individual é considerada como
uma das mais relevantes no processo de ensino-
O jogador que se desdobra a pivô: -aprendizagem-treinamento de crianças e jovens,
 Deve ter grande inteligência tática, sendo muito utilizada na iniciação e, em poucas si-
sobre todo o domínio do ritmo e dos tuações, mas presentes, no alto nível de rendimento.
momentos de intervenção. Equipes asiáticas e africanas, por exemplo, utilizaram
 Deve conhecer o jogo do pivô, em o sistema de marcação individual por muito tempo
geral, e o trabalho entre as linhas em em competições de alto nível de rendimento. Isso
particular. ocorreu em razão das características apresentadas por
seus jogadores em relação aos jogadores europeus.
Sistemas de jogo no ataque 185

O ataque contra a marcação individual deve 3. Dois jogadores com mais habilidade,
apresentar alguns princípios para facilitar o transporte tecnicamente, se colocam um atrás
da bola até o objetivo final do jogo, ou seja, o gol. do outro no meio do campo.
Ataque contra marcação individual define- 4. Conforme a situação e de acordo com
-se como sendo um sistema de ataque livre sem o trabalho da defesa, os jogadores 1
obrigações de ocupação de posições no qual os e 2 podem realizar o “corte” para o
jogadores movimentam-se pela quadra a fim meio, ou cruzar com o colega.
de proporcionar situações de passe ou infiltração
para o portador da bola. Sua estrutura modifica-se
em função do posicionamento da bola e do joga- 14.3.2 Classificação
dor que a possui, relacionando-se com o tempo e
espaço da quadra de jogo. O ataque contra marcação individual
Os jogadores devem iniciar o ataque con- tem como característica a presença de duas
tra a marcação individual conforme os seguintes funções, sendo:
princípios, visualizados na figura abaixo no mo-
mento de saída da bola:  Jogador com bola: é aquele que possui
a bola e a preferência para penetrações
e lançamentos ao gol.
 Jogador sem bola: são os apoios e tem a
responsabilidade de auxiliar o jogador
com bola para sua movimentação e con-
seqüente infiltração, lançamento ou passe.

14.3.3 Possibilidades de atuação

Figura 14.6 – Estrutura do ataque contra marcação Os jogadores em ataque podem realizar
individual.2 diversas ações técnico-táticas a fim de facilitar o
transporte da bola ao objetivo e, consequente-
1. Dois jogadores ocupam a posição de mente, o gol.
ponta em espera. Podem ser subdivididas em dois momentos,
2. Dois jogadores ocupam a posição no podendo ser realizadas movimentações sem bola
meio do campo junto à linha lateral e com mudança de direção e/ou sentido ou movi-
aguardam. mentações de apoio e de ajuda.
186 Manual de Handebol

Movimentações sem bola com mudança de direção  Vai e volta


e/ou sentido 1. Passe ao espaço em linha paralela.
 Sair da marcação 2. Deve ter por parte do jogador sem
1. Passe no espaço livre, utilizando as bola uma troca de direção previa
costas do defensor (passe ao espaço para poder ganhar a posição de sa-
futuro). ída do defensor.
3. Deve haver, por parte do jogador
sem bola, uma troca de direção
prévia para poder ganhar a posição
de saída do defensor.

Figura 14.8 – Mudança de direção e sentido (vai e volta).2

 “Saio para entrar”


1. Passe no espaço livre. Para sair da
“sombra” do defensor, deve-se des-
marcar na mesma linha.
2. Passe ao espaço em linha paralela.
3. Deve haver, por parte do jogador
sem bola, uma troca de direção
prévia para poder ganhar a posição
de saída do defensor.

Figura 14.7 – Saída da marcação a partir de uma mu-


dança de direção.2 Na primeira figura, observa-se a
ação de sair para entrar; na segunda, observa-se a ação Figura 14.9 – Mudança de direção e sentido (“saio
de entrar para sair. para entrar”).2
Sistemas de jogo no ataque 187

 Sair para receber


1. Pivô: passe no espaço livre, para sair
da marcação do defensor e se ofere-
cer, deslocando-se lateralmente.
2. Passe ao espaço em linha de pro-
fundidade.
3. Deve haver, por parte do jogador
sem bola, uma troca de direção Figura 14.11 – Mudança de direção e sentido (entro
previa para poder ganhar a posição para sair).2
de saída do defensor.
Movimentações sem bola de apoio e de ajuda

 Entrar entre dois defensores


1. O atacante em posse de bola entra
no meio de dois defensores para
chamar a marcação de ambos.
2. O colega deve se abrir em linha
diagonal para a lateral para rece-
Figura 14.10 – Mudança de direção e sentido (sair ber, após troca de direção e de ve-
para receber).2 locidade sem bola.

 Entro para sair


1. O jogador realiza uma troca de
direção saindo primeiro para logo
voltar rápido para receber.
2. Passe ao espaço em linha de pro-
fundidade.
3. Deve ter por parte do jogador sem
bola uma troca de direção previa Figura 14.12 – Movimentações sem bola de apoio e de
para poder ganhar a posição de sa- ajuda (passar entre dois).2
ída do defensor.
 Cruzamento e ataque em paralelo
1. O atacante em posse de bola fixa
seu defensor direto. O conceito de
ajuda é realizado pelos dois colegas;
um deles (1) cruza por trás do joga-
dor com bola, sempre priorizando
sobre o braço de lançamento.
2. O colega (2) deve se abrir em linha
diagonal para a lateral para receber,
após troca de direção e de ritmo.

Figura 14.13 – Movimentações sem bola de apoio e de Figura 14.14 – Movimentações do jogador sem bola
ajuda (cruzamento e ataque em paralelo).2 de apoio e de ajuda (cruzamento).2

 Cruzamento  Ajuda (novo início da ação)


1. O atacante em posse de bola fixa 1. O atacante que vai receber a bola
seu defensor direto. O conceito deve ter sempre as opções de pas-
de ajuda é realizado pelos dois se. Quando ele, eventualmente,
colegas cruzando por trás do jo- fixar seu defensor, a ajuda é reali-
gador com bola. zada pelos dois colegas.
2. O colega deve se abrir em linha 2. O jogador próximo se prepara
diagonal para a lateral para receber. para o cruzamento por trás do jo-
Recebe quem chega primeiro do gador com bola.
lado fácil para passar. 3. O jogador mais distante corre
para atrair a marcação e abrir es-
paços.
Sistemas de jogo no ataque 189

 Os jogadores sem bola devem abrir os


espaços centrais e servir de apoio/aju-
da para o jogador com bola.

Figura 14.16 – Movimentação dos jogadores sem bola


para criar o espaço na área central da quadra.2

 Nenhum jogador deve ficar parado,


Figura 14.15 – Movimentações sem bola de apoio e de ou seja, aceitar passivamente a mar-
ajuda (cruzamento).2 cação do adversário. Pelo contrário,
devem realizar trocas e mudanças de
direção e/ou sentido em suas trajetó-
14.3.4 Funções dos jogadores rias de corrida, bem como mudanças
na velocidade de deslocamento.
Em geral, os jogadores devem dominar o  Levar o jogo para um canto da quadra,
momento do passe e a coordenação espaço-tem- atraindo a atenção da defesa e crian-
poral para decidir entre progressão com a bola ou do espaços livres na outra metade do
sem ela e o uso do dribling. No ataque contra a campo.
marcação individual, definem-se princípios de  Usar a profundidade.
ação dos jogadores para que se alcance o gol de  Trabalhar de poste (pivotar).
forma mais eficiente, tais como:  Passar ao espaço futuro.
 “Passe e vai”.
 O jogador em posse de bola sempre
tem a preferência de utilizar o espaço
central da largura da quadra quando
progride usando o dribling.
Juan J. Fernández, Helena Vila, Luis Casáis, José M. Cancela

15 Sistemas de jogo na defesa

15.1 Introdução aos sistemas de jogo  impedir a construção de ações ofen-


na defesa sivas.
 anular ou evitar ações de finalização.
 impedir a finalização com êxito.
15.1.1 Definição e características

Sabemos que a defesa é uma fase do jogo de 15.1.2 Classificação


handebol, que se caracteriza pela ausência da pos-
se de bola, e a equipe adversária com a posse de Para diferenciar e classificar os sistemas de-
bola tem a possibilidade de conseguir o objetivo fensivos, devemos ter claros os seguintes concei-
principal do handebol: o gol. tos: amplitude, profundidade e densidade.
Para evitar isso, a defesa possui alguns A amplitude define-se como a distribuição
princípios gerais de atuação universalmente re- espacial dos jogadores da equipe defensora com
conhecidos:3 a finalidade de evitar lançamentos de 6 m. Em
função disso, podemos classificar os sistemas em:
 Recuperação da bola.
 Impedir a progressão dos jogadores  defesa em bloco defensivo: seu objetivo
adversários em profundidade e o lan- é conseguir superioridade numérica
çamento ao gol. defensiva no lugar da bola; para isso,
 Proteger o gol (evitá-lo). os jogadores se deslocam seguindo o
movimento da bola (basculação de-
Os sistemas de jogo defensivos caracterizam fensiva).
configurações espaço-temporais que uma equipe  defesa em linha de tiro: quando os
adota para impedir a progressão da equipe atacan- jogadores são responsáveis por deter-
te e, consequentemente, o gol.4 minada zona e pelo jogador que ali se
Os sistemas defensivos acontecem para con- encontra, sem realizar deslocamentos
trapor o ataque, buscando:3 laterais importantes e definidos.
192 Manual de Handebol

A profundidade define-se como a distribui-


ção espacial dos jogadores defensivos com o pro-
B
pósito de evitar lançamentos de longa distância,
C 7 A
pois a sua condição será afastada em relação à li-
nha dos 6 m. Em função da profundidade, pode- 5 6
D 3 E F
mos classificar os sistemas em:
2 4

 sistemas abertos, nos quais os defen-


sores estão situados longe da própria
linha dos 6 m, estruturando-se em vá- Figura 15.1 – Sistema 3:2:1.
rias linhas de jogo.
 sistemas fechados, nos quais se pro- Sistema 3:3
duz uma aglomeração de jogadores Organiza-se um adiantamento dos defensores
perto da linha dos 6 m, evitando, laterais, estabelecendo-se duas linhas defensivas. A
assim, a penetração dos jogadores pressão sobre a primeira linha do ataque adversário
adversários. é máxima, acarretando uma situação de desvanta-
gem posicional em torno da linha dos 6 m, já que o
A densidade pode ser definida como a ca- espaço para defender é maior. Podemos considerar
pacidade para acumular jogadores em uma zona essa defesa mais profunda, pouco ampla e densa.
de espaço com a finalidade de recuperar a bola ou
evitar a progressão do ataque.
Atendendo aos três critérios anteriores, po-
B
demos diferenciar os seguintes tipos de sistemas
C A
de defesa:
7
5 6
D 3 F
Sistema 3:2:1 E
2 4
É uma defesa em três linhas estruturada,
fundamentalmente em função da bola. É uma
defesa mais profunda e densa, mas pouco ampla.
Em virtude do posicionamento de defensores Figura 15.2 – Sistema 3:3.
avançados, favorece o desenvolvimento do con-
tra-ataque. Sistema 4:2
São estabelecidas duas linhas defensivas, a
primeira com quatro jogadores perto da linha dos
Sistemas de jogo na defesa 193

6 m e a segunda com dois defensores perto da Sistema 6:0


linha dos 8-9 m. Como defesa por zona, sua uti- É o sistema defensivo considerado por mui-
lização é mais reduzida e limitada. Podemos con- tos como o principal ou padrão. Consiste só de
siderá-la profunda, densa e de média amplitude. uma linha defensiva, muito próxima da linha dos
6 m. É um sistema muito fechado. Tem como ob-
jetivo evitar, fundamentalmente, a penetração do
adversário com a bola, permitindo o lançamento
B
de longa distância. Os deslocamentos utilizados
C A
são, principalmente, os laterais, saindo a marcar o
7 6
adversário direto. Podemos considerá-la profun-
D 3 4 E F da, densa e ampla.
5
2

Figura 15.3 – Sistema 4:2.


C B A

Sistema 5:1
D 3 4 E 5 F
São estabelecidas duas linhas defensivas, sendo 6
a segunda formada por apenas um jogador, denomi- 2 7

nado avançado, que tem como principal função difi-


cultar a circulação da bola na primeira linha ofensiva,
assim como a responsabilidade de marcar o central. Figura 15.5 – Sistema 6:0.
Podemos considerá-la profunda, densa e ampla.

15.2 Evolução dos sistemas defensivos


B
Klaus Feldmann, Pablo Juan Greco,
C 7 A
Fernando Lucas Greco

D 4 E F
3 5 Para uma melhor realização de um sistema
2 6 defensivo no alto nível de rendimento no hande-
bol, é importante seguir uma lógica de ensino-
-aprendizagem-treinamento visando favorecer o
Figura 15.4 – Sistema 5:1. aprendizado completo dos componentes técnico-
194 Manual de Handebol

-táticos individuais, de grupo e coletivos. O ensino do adversário, bloqueio de lançamentos). Os ele-


dá-se na sequência de defesas abertas para defesas mentos necessários à compreensão individual do
fechadas. Sendo assim, Feldmann5 propõe o ensi- jogo defensivo na iniciação técnico-tática podem
no dos sistemas defensivos de acordo com as faixas ser didaticamente divididos em atividades para
etárias dos alunos/atletas, os quais, em princípio, compreender.
decorrem de forma paralela à sua experiência. Sentido da defesa: posicionamento defensivo,
Nas ações defensivas, é importante que tomada da marcação, organização defensiva, jogar
os iniciantes (principalmente as crianças entre aprendendo as regras táticas de troca de marcação
6-10/12 anos) compreendam o denominado (passo por trás do colega “acompanhado”, passo
“sentido da defesa” (posicionamento defensivo, pela frente do colega “troco a marcação”), que
tomada da marcação, organização defensiva, serão solicitadas nas marcações zonais em idades
jogo no sistema defensivo), bem como dominem posteriores.
os fundamentos técnico-táticos que permitem Recuperar a posse de bola: ações de antecipa-
recuperar a posse da bola (antecipação/intercep- ção, interceptação, dissuasão, pressão, recuperar a
tação/dissuasão/pressão; recuperação da bola, bola no momento do dribling ou do lançamento
seja no drible ou no momento do lançamento do adversário, bloqueio de lançamentos.

Marcação individual Marcação Zonal Marcação Zonal


menores 1-5
júnior e adulto

Mini
individual 08-10 12-14

cadete 3-3

Mini
individual
14-16

juvenil 3-2-1

Mini
individual 12-14

16-18

Figura 15.6 – Evolução do ensino dos sistemas defensivos no handebol.5


Sistemas de jogo na defesa 195

Tática individual

Ações defensivas

Sentido da defesa Recuperar a posse da bola


• Posicionamento defensivo • Antecipação
• Deslocamentos defensivos • Interceptação
• Posições de base • Dissuasão
• Uso do corpo • Pressão
• Organização defensiva • Flutuação
• Jogo no Sistema defensivo • Recuperar/lutar a posse de bola
o drible, no lançamento
• Bloqueios de lançamentos

Figura 15.7 – Componentes do ensino dos meios técnico-táticos individuais .

15.3 Sistemas zonais, mistos e indi- os erros e as responsabilidades individuais, mas


viduais também se criam novas.
Em sua dissertação no congresso internacio-
15.3.1 Defesa individual nal para técnicos de handebol em agosto de 1970,
em Estocolmo, Werner Vick, técnico da seleção
15.3.1.1 Definição e características alemã na época, relatou que não se deve deixar
de realçar a importância que possui o trabalho de
Atualmente, no handebol de alto nível de marcação individual na formação técnica do jo-
rendimento, as equipes tendem a praticar as defesas gador, sua formação em relação ao jogo limpo e
zonais, adotando as defesas individuais em poucas ao correto trabalho defensivo, fundamentalmente
ocasiões. Em momentos muito concretos ou sobre em relação a aspectos didáticos como:
um jogador de grande qualidade, seja de lança-
mento ou de armação de jogo o uso de sistemas de-  Defender sempre sobre o braço de
fensivos mistos também é praticado no handebol. lançamento.
No processo de EAT, ao experimentar a de-  A concentração sobre a bola.
fesa individual, em geral, observa-se uma série de  A correta apreciação e evolução da capa-
carências técnico-táticas individuais que permi- cidade de deslocamento (timing) do rival.
tem justificar a utilização de defesas zonais que,
por terem um caráter estrutural mais defensivo, É um sistema no qual cada defensor se
permitem mais ajuda e, desse modo, diminuem-se encarrega de um atacante e não de uma zona
196 Manual de Handebol

concreta, como ocorre nos demais sistemas tra-  Na própria linha de nove metros
tados.1 A sua finalidade pode-se resumir nos se- (por exemplo, em situações padrões
guintes pontos: como nos tiros laterais e tiros livre
ao realizar o chamado pressing ou,
 Dificultar a criação e o ritmo do ataque. por exemplo, ao aplicar um sistema
 Levar o ataque para zonas não pe- 1-5 que é, por suas características,
rigosas. um sistema de marcação individual
 Recuperar a posse da bola mediante o em zona).
roubo da bola ou a finalização rápida
do ataque em zonas desvantajosas.
15.3.1.2 Classificação
Por isso, é imprescindível o trabalho de
marcação individual nas divisões inferiores, nos Podemos apresentar diferentes tipos de
mini e nos infantis. Atualmente, todo jogador defesa individual em função do espaço no qual
de handebol sabe que as formações defensivas se utiliza:
zonais são a base do sistema defensivo. Mas de
que serve “um perfeito sistema defensivo se a Defesa individual na quadra inteira
técnica individual não é realizada com perfei-
ção”? Com essa definição, estão praticamente Os defensores têm de encontrar o seu
claros e com absoluta precisão o valor, o sentido oponente rapidamente e realizar uma marca-
e a tática da marcação individual. Restaria dei- ção muito estrita por todo o terreno, indepen-
xar claro, com caráter didático-metodológico, dentemente da zona que ocupa o adversário
os seguintes aspectos: e mantendo, além disso, certa atenção sobre
a bola.
 Formas de marcação individual. O objetivo estrito é abalar a colaboração do
 Princípios da marcação individual. ataque e provocar erros, seja por andadas, três se-
 Aspectos táticos a levar em conta. gundos, passes ruins etc., ou seja, que o adversá-
 Capacidades táticas básicas do defensor. rio cometa um erro técnico-tático no controle da
 Formas de marcação individual. bola, logo, um erro regulamentado.

Pode realizar marcação individual em:

 Todo o campo.
 A partir da metade da quadra.
Sistemas de jogo na defesa 197

Figura 15.8 – Defesa individual quadra inteira.


A marcação deve ser mais estrita, pelo maior
Defesa individual na metade da quadra grau de proximidade com o gol, diminuindo-a
quando o atacante retrocede ao seu próprio cam-
A diferença com a anterior é escassa, deven- po defensivo.
do fazer-se o emparelhamento partindo de uma Os objetivos são os mesmos que na defesa
defesa zonal ou sobre meia quadra. individual quadra inteira.

Figura 15.9 – Defesa individual na metade da quadra.


198 Manual de Handebol

Defesa individual por aglomeração  Nominal: cada jogador deve saber qual
adversário defenderá de forma concre-
A defesa parte da zona e não se arrisca além ta e direta.
dos 10-11 m para, deste modo, não se separar uns  Zonal: a responsabilidade estabelece-
dos outros e poder garantir ajuda, assim como -se em função do posto que o jogador
evitar as penetrações. ocupa no ataque, organizando-se um
Uma vez estabelecido o emparelhamento, as sistema de contagem que se inicia si-
marcações são mais estritas sobre o jogador com a bola multaneamente pelos pontas e que se
e igualmente sobre os jogadores perigosos (geralmente finaliza no centro.
aqueles mais habilidosos ou com melhor eficiência de
lançamento), e a marcação é em linha de passe e vigi-
lância quando a bola está mais afastada. Geralmente 15.3.1.3 funcionamento do sistema
se utiliza quando a bola se encontra nos pontas e a e
equipe contrária está em inferioridade numérica. O funcionamento deste sistema carac-
teriza-se por marcar os seus defensores cor-
respondentes a todos ou vários jogadores da
equipe adversária de forma individual. O tipo
B
de marcação realizada pelos defensores estará
C 7 A
5 relacionado com o sistema de defesa individual
6 utilizado.
D 2 3 E F
4

15.3.1.4 Função dos jogadores

Figura 15.10 – Defesa individual por aglomeração ou As funções que têm de desempenhar os jo-
defesa individual fechada. gadores da defesa estarão relacionadas com a va-
riante do sistema defensivo individual eleito; em
O objetivo fundamental encontra-se em anular geral, as prioridades de atuação defensiva são:
os homens mais perigosos, ilhar as coordenações de
ataque, garantir as ajudas e impedir as penetrações.  Oponente direto (evitar ser superado
A forma de marcação que será utilizada e por ele).
seu desenvolvimento se baseiam em duas formas  Bola (evitar o passe, a recepção e bus-
de emparelhamento, previamente definidas e que car a interceptação ou tomada da pos-
serão aplicadas: se da bola.
Sistemas de jogo na defesa 199

 Deslocamentos dos outros atacantes  A característica dos jogadores que es-


(dissuadir o jogador com bola, evitar tão no campo e quais são necessárias
bloqueios etc.). para a marcação dos adversários.
 Eventuais apoios que possas surgir  A reação que se espera do rival, refletir
(dobra e ajuda). se este tem jogadores habilidosos, se tem
experiência contra esse tipo de marcação,
como se comportaria o goleiro rival etc.
15.3.1.5 Aspectos táticos  A reação dos juízes: apitam mais seve-
ramente? Param o jogo?
É comum a aplicação da marcação individual
quando, nos últimos minutos, uma equipe procura, Com base nesses e muitos outros conceitos,
por meio de retenção de jogo, manter a vantagem deverá decidir-se desde o banco até a ordem de
no marcador. A equipe na defesa está pressionada marcação individual em alguma de suas variantes.
pelo tempo e procura, por meio dessa medida, ob-
ter a bola. O risco é evidente, a abertura da defesa Capacidades táticas do defensor
oferece grandes buracos ao rival, que pode condu-
zir ao gol. A vantagem surge na surpresa que pode Para a aplicação da marcação individual, o
ocasionar esta medida tática, provocando erros téc- defensor deve possuir, entre outras, as seguintes
nicos do ataque que aumentam a ansiedade pela capacidades táticas de base:
posse da bola. Os aspectos que o técnico deverá ter
em conta para ordenar a marcação individual são:  Capacidade de percepção de jogo.
 Capacidade de antecipação à ação do
 Qualidade individual da equipe para rival e a situação do jogo.
essa ação.  Visão periférica da situação de jogo.
 O momento: isto depende da relação en-  Capacidade de decisão: tomar deci-
tre o resultado e o tempo de jogo restante. sões em velocidade.
 As reservas físicas da equipe.
 O tipo de marcação individual que
deverá fazer: por exemplo, faltam pou- 15.3.1.6 Princípios para a utilização da mar-
cos minutos, com os seis jogadores, e cação individual
se está em desvantagem por um gol ou
dois. Com cinco jogadores e um líbero, Apesar de existirem critérios táticos diferen-
fica-se em superioridade numérica dei- tes, de acordo com a forma de marcação individual,
xando livre o rival menos habilidoso. existem princípios gerais que devem ser respei-
200 Manual de Handebol

tados para a conquista do êxito. Esses princípios sistema defensivo misto, pois existe um jogador
devem ser transmitidos ao jogador em forma sis- que marca individual ao pivô, seus colegas maram
temática, pois fazem a didática e a metodologia em zona avançadas nos 9 metros.
da educação. Devem ser exercitados sistemática e
metodologicamente por meio de trabalhos espe-
ciais em treinamento. Eles são: 15.3.2.2 Funcionamento do sistema

 posição frente ao atacante: entre ele e  É um sistema ideal para a iniciação.


o gol e orientado sobre seu braço de  A passagem da marcação individual
lançamento. para a zonal é facilitada.
 atitude frente ao rival: em possessão  Sistema em que se combate o atacante.
da bola, pressionando-o; sem posses-  É uma defesa ativa.
são da bola, em pré-ação.  O iniciante descobre regras de com-
 adaptar-se à corrida do rival e às suas portamento tático ao longo do jogo.
mudanças de direção.
 forçar a corrida do rival para posições
desfavoráveis. 15.3.2.3 Função dos jogadores
 combater a possessão da bola, por
meio do trabalho de braços e pernas,  Todos os jogadores são responsáveis por
antecipar, interceptar ou pressionar na um adversário, sempre em um setor.
recepção do rival.

15.3.2 Síntese da estrutura do sistema 1:5

Klaus Feldmann, Pablo Juan Greco,


Fernando Lucas Greco

15.3.2.1 Definição e características Figura 15.11 – Responsabilidades de cada jogador na

defesa 1:5.

Pode ser considerado um sistema defensi-


vo ideal para se fazer a transição entre as defesas  Defender de forma ativa, atacar o ata-

ofensivas, individuais e os sistemas zonais. É um cante! Evitar o jogo de passes rápido.


Sistemas de jogo na defesa 201

Figura 15.12 – Defesa ativa dos jogadores no sistema 1:5. Figura 15.14 – Ações de deslizamento no sistema 1:5.

 Dificultar as linhas de passe, provocar  Quando alguém da defesa errar, ou


os passes longos. quando for superado pelo atacante,
todos marcam em função da bola (re-
alizar a dobra ou ajuda).

Figura 15.13 – Ações de dissuasão no sistema 1:5.

 Acompanhar o atacante no setor de Figura 15.15 – Movimentação de ajuda e cobertura


seis metros, lembrando-se sempre da quando um defensor é superado no sistema 1:5.
regra de troca e deslizamento, ou seja,
quando o atacante passa por trás do
colega na defesa, deve-se acompanhá-lo. 15.3.2.4 Utilização
Caso contrário, quando o atacante
passar pela frente do colega em defesa,  É recomendada para equipes infantis
realiza-se a troca. e iniciantes;
 Utiliza-se como forma de transição
para os sistemas zonais.
202 Manual de Handebol

15.3.3 Síntese da estrutura do sistema 3:3 15.3.3.2 Função dos jogadores

Juan J. Fernández, Helena Vila  As funções dos jogadores se consideram


a partir da posição da bola e do jogador
com bola. Sempre deve haver dois joga-
15.3.3.1 Definição e características dores perto para oferecer a cobertura.
 Solicita dos defensores muita discipli-
O sistema 3:3 clássico foi jogado pela pri- na tática, deslocamentos, trabalho de
meira vez pelas equipes da Romênia e da Iugos- braços bem como coesão tática.
lávia. Um dos objetivos era evitar os lançamentos
de fora dos 9 metros.
É um sistema defensivo de duas linhas, muito 15.3.3.3 Utilização
flexível, apresentando boa profundidade e “densi-
dade” no setor da bola, mas não tem muita largura. É um sistema defensivo muito utilizado por
Apresenta boas alternativas para a saída em equipes de baixa estatura e grande mobilidade pe-
contra-ataque, pois tem duas linhas defensivas. rante adversários com bons lançadores.
Foi reintroduzido principalmente pelas
equipes femininas asiáticas perante equipes euro-
peias. As equipes masculinas africanas, principal- 15.3.4 Síntese da estrutura do sistema 4:2
mente (Egito e Argélia), têm aplicado variações
interessantes para evitar o armado de jogo e a ve- No sistema 4:2, estabelecem-se duas linhas
locidade de bola das equipes europeias. defensivas, assim como no sistema 3:3. A primei-
ra com quatro jogadores perto da linha dos 6 m
e a segunda com dois defensores perto da linha
dos 8-9 m. Os princípios de utilização, objetivos e
função dos jogadores assemelham-se aos presentes
no sistema 3:3. A grande diferença desta variante
defensiva encontra-se em sua escolha dentro de
um jogo. A sua utilização é recomendada contra
equipes que tenham dois bons lançadores de nove
metros, geralmente os armadores laterais, e um
Figura 15.16 – Estrutura do sistema defensivo 3:3. armador passador, ou quando a equipe desdobra-
-se de uma formação ofensiva 3:3 para 2:4, princi-
palmente quando se marca no sistema 3:3.
Sistemas de jogo na defesa 203

Sua utilização é mais reduzida e limitada que sempre adaptada às possibilidades técnico-táticas
a do sistema 3:3. Podemos considerá-la profunda, da própria equipe ou equipe adversária.
densa e de média amplitude. É um sistema que está constituído por três
linhas, das quais a primeira se encontra formada
por três jogadores, a segunda linha compõe-se de
dois jogadores entre as linhas e a terceira é cons-
B
tituída por um só jogador que se situa diante da
C A
linha de lançamento franco.
7 6
Basicamente é uma defesa muito profunda e
D 3 4 E F densa, mas pouco ampla.
5
2

B
Figura 15.17 – Sistema 4:2.
C 7 A

5 6
3 E
15.3.5 Síntese da estrutura do sistema 3:2:1
2 4

Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, D F

Fernando Lucas Greco


Figura 15.18 – Estrutura do sistema 3:2:1.

15.3.5.1 Definição e características O sistema defensivo 3:2:1 é um sistema zo-


nal que se estrutura em função da bola, distin-
Desde a chegada desta defesa em zona gra- guindo-se três linhas de ações básicas:
dual, surgida nos anos 1970, jogada pela equipe
nacional iugoslava de Vlado Stenzel com grande 1ª linha
êxito, muito se escreveu e, sem dúvida, se escreve- Constitui-se por três jogadores na zona de 6 m,
rá por múltiplos autores de todos os países sobre cuja missão principal é neutralizar a segunda li-
este tema. nha de ataque (pontas e pivô).
Este sistema defensivo apresenta eficácia
contra adversários com jogadores de bom lança- 2ª linha
mento de 9 m e é empregada conforme múltiplos Constituída pelos dois jogadores situados
arranjos táticos (mais passiva ou mais agressiva) e sobre 8-9 m, a atividade deles consiste em impe-
204 Manual de Handebol

dir os lançamentos desde a linha dos 8-10 m dos 15.3.5.2 Funcionamento do sistema
laterais atacantes, criar obstáculos com os deslo-
camentos dos atacantes da primeira e da segunda Esta defesa implica grande atividade e exige
linha ofensiva e evitar passes sobre os jogadores uma perfeita coesão dos jogadores com o fim de
situados na segunda linha ofensiva (pivôs). adotar uma posição adequada em relação com a
posição e situação da bola.
3ª linha Esta estrutura defensiva origina-se da im-
Trata-se do avanço na defesa. A sua tarefa portância de, no handebol atual, se possuir capa-
principal é impedir passes, lançamentos, desloca- cidade de lançamento da primeira linha de ata-
mentos e penetrações do jogador central e, assim que; portanto, dá-se menor importância a todos
mesmo, colaborar para fechar as linhas de passe aqueles espaços que se produzam em uma zona
dos jogadores em 6 m. mais afastada do lugar onde se está desenvolven-
O objetivo principal desta defesa é im- do o jogo com a bola. Normalmente, estes espa-
pedir o adversário de organizar e conduzir um ços serão criados nas zonas mais externas da área
ataque coletivo, deslocando-se o conjunto sem- (pontas).
pre em relação com a posição na qual está a
bola e em virtude do seu possuidor. Baseia-se
em uma grande atividade e exige uma perfei- 15.3.5.3 Função dos jogadores
ta coesão dos jogadores, implicando domínio
exemplar dos fundamentos técnico-táticos in- As funções de cada jogador estão definidas,
dividuais defensivos. pelo que se reduzem as tomadas de decisão e, por-
tanto, o desgaste psíquico. De todas as formas, tem
de se indicar que, na atualidade, algumas variantes
do sistema e, sobretudo, alguns pontos concretos,
B
requerem mais capacidade de decisão que antes.
C 7 A
Pelo contrário, ao existir muita ajuda, o des-
5 6 gaste físico é bastante elevado. Esta é uma das razões
3 E
pelas quais não se recomenda manter essa defesa ao
2 4 longo da partida. Atualmente, essa afirmação é mais
D F discutível em razão, fundamentalmente, da maior
qualidade físico-tática dos defensores e da possibi-
Figura 15.19 – Linhas defensivas no sistema 3:2:1. lidade de utilizar trocas contínuas de ataque-defesa.
Em relação às três linhas de ataque do sistema,
podemos dizer que as funções dos jogadores são:
Sistemas de jogo na defesa 205

1ª linha A distribuição de tarefas é clara e os desloca-


Os jogadores que se encontram sobre a linha mentos são curtos e muito esquemáticos.
de 6 m (2, 3, 4), executam tarefas similares e deslo- Os movimentos básicos dentro do sistema
cam-se de forma análoga. Trata-se, na maior parte são de fácil automatização e não requerem gran-
do tempo, de deslocamentos laterais que impeçam, des esforços a nível cognoscitivo dos jogadores.
na medida do possível, o trabalho de ataque do pivô É um sistema extremamente ofensivo e com-
e dos pontas e seus possíveis lançamentos ao gol. bativo que, por isso, possui a vantagem de saída
veloz ao contragolpe.
2ª linha
Encontram-se próximos à linha de 8-9 m e
também há tarefas análogas entre eles. Realizam 15.3.5.5 Desvantagens da defesa 3:2:1 clássica
deslocamentos em profundidade (9-10 m) neu-
tralizando as ações dos lançadores a distância, Requer uma excelente condição física dos
assim como intervenções eventuais sobre o pivô, jogadores e um alto nível de comprometimento
recuando até a linha de 6-7 m. técnico-tático individual.
O êxito depende do efetivo trabalho corporal
3ª linha e do emprego do choque/contato regulamentado.
O jogador avançado opõe-se aos lançamen- É variável em sua aplicação, mas diante de
tos a distância e tenta impedir os passes para o equipes que circulam a bola com precisão e ve-
pivô. Os deslocamentos vão desde uma profun- locidade, ou seja, contra equipes com qualidade
didade máxima de 11 m até uma mínima de 8 tecnica de passe não oferece garantias.
m, quando a bola está situada em um dos pontas. Em sua largura defensiva se observam falhas
que, para equipes com pontas habilidosas, colo-
cam este sistema em sérias dificuldades.
15.3.5.4 Vantagens da defesa 3:2:1 clássica Para equipes que dominam a criação de su-
perioridade numérica por meio da fixação de de-
O sistema 3:2:1 é recomendado contra equi- fensores, ou o uso da finta, este sistema diminui
pes que não mudam a formação de ataque é o sua efetividade.
sistema que mais se adapta a de jogadores mudan-
ças, mantendo um equilíbrio entre a largura e a
profundidade defensiva. 15.3.5.6 Utilização
O possuidor da bola, em exceção dos pontas,
é tomado sempre entre os defensores, no raio de É recomendada para equipes que possuem
ação destes. lançadores de qualidade mediana, contra equipes
206 Manual de Handebol

que possuem bons lançadores de primeira linha possibilidade de descobrir como se trabalha neste
e com pivôs e pontas de baixa qualidade, contra nível e poder adaptar, assim, o que é visto ao nos-
equipes que baseiam seu ataque em um ou dois so meio.
lançadores de distância e contra equipes que não Vamos descrever aqui duas possibilidades
possuem bom domínio de técnicas básicas (finta,
passe e recepção etc.). Também é válida contra  3:2:1 com pontas ofensivas.
equipes que se reiteram em suas ações ofensivas  3:2:1 com líbero.
com jogadas pré-estabelecidas, quer seja com fi-
nalizações fixa ou variável. Primeiramente, faremos algumas análises,
como ajuda para a memória, por meio de dois
gráficos, nos quais se veem as desvantagens da de-
15.3.5.7 Variantes táticas na aplicação deste fesa 3:2:1.
sistema A figura abaixo nos mostra os buracos que
produzem na defesa para a posição ofensiva dos
Temos falado de um sistema defensivo 3:2:1 defensores laterais.
clássico. Ocorre que todo sistema possui seus de-
feitos e é com base nestes que o rival estrutura Figura 15.20 – Espaços originados no avanço dos
suas ações ofensivas. O estudo das variantes, de laterais defensivos no sistema 3:2:1. (FIGURA STA-
novas técnicas e combinações táticas na aplicação DIUM NUMERO 9)
de todo os sistema defensivo, se baseia em pon-
tos fortes do rival ou na busca de surpreendê-lo, Por sua vez, a figura seguinte nos mostra o
provocando-o e induzindo-o ao erro. outro ponto fraco deste sistema: a amplitude de-
As variantes a apresentar deverão ser estuda- fensiva produzida pelo escalonamento da defesa.
das pelo técnico e se basear no material humano
disponível no grupo, podendo ou não ser aplica- Figura 15.21 – Espaços originados da amplitude no
das ou treinadas. Nossa ideia é que a defesa deve sistema 3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 10)
agir, não reagir. Sintetizando, a defesa deve atacar
o atacante para dificultar sua ação. Submetê-lo a Dizemos que a defesa 3:2:1 se baseia no con-
um “pressing”, não especular, pensando em roubar ceito de tomada do homem na zona, que se trans-
a bola, mas tomar os cuidados necessários para forma em um sistema 3:3 e 4:2, que precisa de uma
poder antecipar o passe com base na pressão que boa condição física para o trabalho de 1 x 1. Cria-se
executa no setor cercado por seu companheiro. uma barreira óptica ao possuidor da bola.
A literatura existente, como também as aná-
lises de vídeos de partidas internacionais, dá a
Sistemas de jogo na defesa 207

Sistema 3:2:1 com pontas ofensivos do ponta em defesa de forma antecipada – aproxi-
Feita uma ligeira análise das desvantagens madamente quando o armador central no ataque
do sistema 3:2:1, vemos que as pontas compõem passa a bola ao armador lateral – na frente de ata-
um dos “tendões de Aquiles” desta defesa. O que que do rival. A análise qualitativa desta variante
proporemos supõe uma forma de contrariar estas nos mostra em que medida a ação defensiva pro-
desvantagens. voca a reação do ataque que encontra diminuída
As vantagens que oferece são: sua profundidade e, por sua vez, cortada sua flui-
dez . A exigência na área cognitiva do jogador em
 abafar as pontas rivais de forma tal termos de percepção, análise do jogo, elaboração
que não recebam a bola ou, se recebe- mental e análise da situação do jogo são de valores
rem, não prosseguirem com ela. muito altos, o que obriga a um trabalho de treina-
 submeter o rival a uma “pressão” que mento constante sobre pressão.
o desgasta física e psiquicamente.
 obrigar o rival a buscar variantes que Figura 15.22 – Ação de “pressing” dos pontas no siste-
não estão em seu repertório, forçando-o, ma 3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 11)
deste modo, a situações desconhecidas.
 efetuar sobre o armador possuidor da O princípio do “pressing” se baseia no mes-
bola uma “pressão”, uma marcação mo princípio técnico-tático defensivo utilizado
pressionada, que o obriga a aprimorar no basquetebol. É importante a postura corporal
e identificar o melhor momento e tipo do ponta em diagonal em relação a seu oponente
de passe. direto, com o braço dele lado do pé adiantado,
 interromper uma fluida circulação como uma ação prévia em busca de antecipar um
da bola. passe e, por sua vez, “assegurar” o rival neste setor.
 utilizar o efeito surpresa para produ- O pé adiantado será sempre o que está mais pró-
zir o erro técnico. ximo do meio da quadra.
 é ideal para aplicar quando se está em
superioridade numérica. Sistema 3:2:1 com líbero
Esta variante defensiva foi praticada com
As desvantagens são caracterizadas pelo am- êxito pelo “M.T.S.V. Schwabing” da primeira
plo espaço livre nas costas dos defensores avan- divisão da República Federal Alemã, em meados
çados, o que permite o deslocamento do pivô ou dos anos 1980-1990.
outro atacante em circulação e/ou o uso da finta. O interesse aqui é relatar alguns aspectos
A figura abaixo nos mostra a forma em que importantes desta variante. É impossível resumir
se abafa o ataque rival, como se diminui a saída todos os detalhes, assim exporemos os pontos im-
208 Manual de Handebol

portantes. O leitor deverá buscar as formas me- Quadro 15.1 – Características do libero na de-
todológicas para a realização dos objetivos que se fesa 3:2:1
pretendem com este sistema defensivo. Capacidades Capacidades Capacidades
físicas técnico-táticas psíquicas
A função mais importante nesta variante de-
Resistência Experiência
fensiva é cumprida pelo defensor central, o líbero, Visão de jogo
aeróbica de jogo
que, por sua função, caracteriza o sistema defen- Resistência Sentido de Transmissão
sivo. É o defensor central (ao qual chamaremos, anaeróbica marcação de confiança

daqui por diante, de líbero) que cobre os buracos Velocidade de Capacidade de Ser respeitado
reação antecipação pelo rival
defensivos. Ele deve, igual a um líbero no futebol,
Segurança na
barrar a amplitude defensiva dando segurança a Velocidade de Ascendente sobre
tomada de bola
deslocamento seus companheiros
seus companheiros e cobertura, ou seja, cobrindo do rival

os buracos e os espaços livres de possibilidades do


ataque.
O objetivo desta variante é, fundamental- Na figura 15.23, vemos como o líbero deve
mente, submeter a um severo “pressing” o possui- cobrir o espaço entre o ponta na defesa e o defen-
dor da bola e seus companheiros mais próximos, sor lateral. O pivô será, neste caso, tomado pelo
obrigando-os, desta forma, a reter a bola ou rea- defensor lateral do lado oposto da bola. Todos os
lizar passes longos, o que supõe grandes riscos de defensores devem movimentar-se em diagonal,
antecipação defensiva. orientando-se corporalmente com a bola e obser-
As opções para o uso da finta são reduzidas vando seu rival direto em sua visão periférica.
pela presença do líbero atrás dos defensores.
Esta variante se baseia em dois princípios: Figura 15.23 – Ação de cobertura do líbero no sistema
3:2:1. (FIGURA STADIUM NUMERO 12)
 Comportamento ofensivo antecipado
em relação ao possuidor da bola. O objetivo desta situação é impedir o pas-
 Em relação ao espaço, a defesa se com- se direto e o movimento de avanço do ponta ao
porta extremamente orientada pela bola. armador lateral. A ideia é que este atacante deva
frear sua corrida para o gol para não ser pego pelo
pressing do defensor direto. O objetivo secundá-
15.3.5.8 Funcionamento contra um ataque 3:3 rio seria obrigar o ponta a um passe longo, que
é sempre factível de ser antecipado pelo defensor
Neste caso, é o defensor central que ocupa avançado.
a função de líbero. Este líbero deve possuir, entre O ponta deverá abafar e pressionar seu rival
outras, as seguintes qualidades: direto, forçando-o ao passe e evitando ser des-
Sistemas de jogo na defesa 209

bordado por ele em 1 x 1; a observação da figura Nos casos em que o pivô se deslocar com a
brindará o resto dos detalhes importantes desta bola, a ação da defesa será favorecida, pois con-
forma de defesa. centra maior quantidade de jogadores em um
É fundamental o trabalho de braços do opo- setor, reduz espaços de movimento ao atacante e
nente direto ao possuidor da bola, como também favorece o pressing, em consequência.
do defensor adiantado e do líbero.
O objetivo é levar o armador lateral a posi-
ções desfavoráveis; caso se desloque para o centro 15.5.3.9 Desvantagens desta variante
para lançar, deslocar-se-ia para uma zona onde
três defensores, sendo o oponente direto, o defen- É arriscado para pivôs que continuam o des-
sor adiantado e o líbero os que podem bloquear. locamento do líbero, se os defensores laterais, por
No movimento do passe do armador esquerdo desatenção ou por tentar roubar a bola, são desar-
para o armador central, é aquele em que o avan- mados por seus oponentes diretos, para defenso-
çado se adiantará para interceptar. res que não estão convencidos do êxito deste siste-
Temos dito que o líbero deve cobrir os bu- ma (disciplina tática – convencimento psíquico);
racos, ou seja, as costas de seus colegas. Isso supõe para equipes em que os defensores e o técnico
que, em algum momento, o pivô não será toma- têm medo de ver o pivô livre (a propósito destes,
do por este. Muitos pensaram que é uma situação não nos esquecemos de que o atacante deve ler a
muito difícil quando o pivô se encontra do lado resposta correta); para defensores que, em vez de
contrário à posição da bola, mas não é assim. Não pressing, especulam em “pescar” a bola.
podemos nos esquecer de que o êxito defensivo se
baseia no correto funcionamento dos executores,
isto é: 15.3.6 Síntese da estrutura do sistema 5:1

 Efetivo “pressing”. Juan J. Fernández, Helena Vila


 Cobertura de espaços livres.
 ativo trabalho de braços para dificul-
tar passes e visão periférica. 15.3.6.1 Definição e características
 Velocidade de deslocamento para chegar
ao rival no momento de sua recepção. Este sistema surgiu após décadas de uso do
 Convencimento psíquico do jogador sistema 6:0, com o propósito de reduzir as possi-
para realizar sua tarefa. bilidades de circulação da bola do ataque adversá-
 Disciplina tática. rio no jogo posicional e dificultar a construção do
jogo ofensivo da equipe adversária.
210 Manual de Handebol

Posteriormente, e em virtude de evoluções 15.3.6.2 Classificação


dos sistemas de jogo em ataque, empregou-se a de-
fesa 5:1 com a finalidade de obrigar a concentrar a A grande utilização desse sistema de jogo deu
atividade da equipe atacante em uma zona ofensiva lugar a diversas variantes. Neste trabalho, dare-
para diminuir a eficácia dos lançamentos ou, tam- mos constância às mais relevantes e que têm, na
bém, para destruir a boa estruturação do ataque. sua constante utilização e interpretação, motivo de
Podemos definir o sistema 5:1, desde uma surgimento de novas alternativas (5:1 com reforço
perspectiva tradicional, como uma defesa relati- lateral ou 5:1 indiano).
vamente pouco profunda, densa e ampla. Este sis-
tema defensivo é formado por cinco jogadores na 5:1 misto ou combinado
primeira linha defensiva e um jogador na segunda Esta variante do sistema 5:1 tradicional
linha defensiva. Este último ocupará uma zona do caracteriza-se por ser uma combinação das duas
terreno de jogo (9 m) com o propósito de romper formas de responsabilidade na marcação (zonal e
a circulação da bola e/ou a construção do jogo individual). A distribuição deste sistema de jogo
ofensivo. se define pela colocação de cinco jogadores na pri-
meira linha defensiva com responsabilidade zonal
 Ponta esquerda. e um jogador (avançado), situado na segunda li-
 Lateral esquerdo. nha defensiva, com responsabilidade individual.
 Central. Os cinco jogadores de primeira linha atuam
 Lateral direito. como em uma defesa 6:0 (quase sempre traba-
 Ponta direita. lhando em bloco), na medida em que o avançado
 Avançado. tem a responsabilidade direta sobre um oponente
determinado e deve controlá-lo em todo momen-
to, independentemente do lugar onde estiver.

B
C A
C
7 7 B A

E 4 5
3
2 6 D E
3 4 5 F
D F
2 6

Figura 15.24 – Sistema defensivo 5:1 (tradicional).


Figura 15.25 – Sistema defensivo 5:1 (misto).
Sistemas de jogo na defesa 211

5:1 zonal nam inicialmente na primeira linha defensiva,


Baseia-se na realização de uma defesa em ou seja, na linha de 6 m.
uma zona determinada ou posto específico, sem Cada jogador tem predeterminada uma
importar qual jogador está ocupando este posto. zona de atuação (posição específica). A defesa 6:0
O seu objetivo geral é obrigar a concentrar a é uma formação defensiva fechada e se caracteri-
atividade defensiva em uma zona do ataque, com za por um sistema muito amplo, denso e pouco
o fim de romper o esquema de construção do jogo profundo.
ou orientar a finalização do ataque por uma zona Situação dos jogadores e denominação das
de baixa efetividade. posições que ocupam:
 ponta esquerda.
 defensor lateral esquerdo.
 defensor central esquerdo.
B A  defensor central direito.
C
 defensor central direito.
7
 ponta direita.
D E
3 4 5 F
2 6

C B A
Figura 15.26 – Sistema defensivo 5:1 (zonal).

3 4 E 5
6
15.3.7 Síntese da estrutura do sistema no 6:0 2 7
D F
Juan J. Fernández, Helena Vila, Pablo Juan Greco
Figura 15.27 – Estrutura do sistema 6:0.

15.3.7.1 Definição e características


15.3.7.2 Classificação
É um sistema defensivo muito utilizado
no handebol de alto nível de rendimento em Sistema defensivo 6:0 (bloco defensivo)
virtude da apresentação de objetivos claramen- Entre as duas variações, é a concepção mais
te definidos para cada jogador na sua posição. tradicional do 6:0. Baseia-se no deslocamento de
É formada por seis jogadores que se posicio- todos os defensores de acordo com a posição da
212 Manual de Handebol

bola, com a intenção de gerar superioridade de- pelo atacante com bola (superioridade numérica
fensiva na zona com bola e, consequentemente, defensiva).
inferioridade numérica nas zonas sem bola.
Concluímos, assim, que é um sistema de- Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento- tiro)
fensivo amplo e denso (respeitando o número de Além das considerações já citadas para o sis-
defensores na zona com bola), e o companheiro tema defensivo 6:0 em bloco, devemos entender
fica com pouca profundidade defensiva. que, para o bom funcionamento deste sistema,
deve-se evitar erros nas trocas de marcadores em
Sistema defensivo 6:0 (em linha de lançamento) relação ao pivô, sobretudo entre os defensores
A defesa 6:0 em linha de lançamento (tiro) centrais 3 e 4 e entre o 5 e 6. As responsabilida-
é uma concepção mais moderna desse sistema de- des devem estar bem definidas, permitindo que
fensivo. É um sistema amplo, que possui o concei- o defensor possa realizar os deslocamentos sufi-
to de deslocamento em função da bola (tentando cientemente rápidos para cumprir o seu papel de
criar superioridade numérica na posição da bola), antecipação (eliminar a dúvida, a incerteza).
ainda que menos que na 6:0 em bloco. Ao contrá- O jogador que atua na marcação próxima
rio, aumenta a profundidade defensiva. Partindo ao atacante deve impedir o jogo em profundidade
da situação inicial que este sistema propõe, os jo- deste, quanto ao passe e à penetração.
gadores, em suas intervenções defensivas, podem Os jogadores que se deslocam na segunda
se deslocar até os 9-10 m. linha defensiva devem recuperar a sua posição
inicial quando o seu oponente direto passa a bola.
Mas isso não acontece quando o lateral realiza um
15.3.7.3 Funcionamento do sistema passe para a ponta e recebe a bola novamente; nes-
se caso, o defensor lateral deve se posicionar em
Sistema defensivo 6:0 (bloco defensivo) uma zona intermediária.
Para se conseguir um bom funcionamento
desta variação do sistema 6:0, devemos levar em
conta as seguintes considerações: deve-se evitar a 15.3.7.4 Funções dos jogadores
circulação dos jogadores da segunda linha (pontas
direito e esquerdo), e, dentro desta ideia, ainda é As responsabilidades defensivas dos jogadores
mais importante evitar a circulação atrás da pri- podem ser agrupadas, levando em consideração:
meira linha defensiva.
Deve-se realizar o triângulo defensivo quan- Jogadores que defendem na ponta 2 e 7:
do o adversário direto está em posse da bola. Isso  impedir os lançamentos nas suas zo-
implica que haverá três defensores responsáveis nas (cobrir linha de tiro).
Sistemas de jogo na defesa 213

 impedir a penetração das pontas. Se es-  possuem jogadores que lançam de dis-
tes conseguirem se deslocar para a zona tância (9 m).
central, devem ser marcados e, se não  possuem grande qualidade técnico-tá-
conseguirem, devem trocar a marcação. tica na segunda linha do ataque, tanto
 impedir a circulação das pontas. por parte do pivô, quanto dos pontas.
 colaborar com os defensores laterais  como recurso quando não se têm
deslocando-se para a zona central bons defensores.
quando a bola está do lado contrário.
 estarem preparados para o contra ata- Devemos considerar que se reduzem as pos-
que em primeira onda. sibilidades de contra-ataque em primeira onda, já
que a disposição tática dos jogadores, com esse
Os defensores centrais: 3, 4, 5 e 6: tipo de defesa, obriga os jogadores a se posiciona-
 Ações de frente para o adversário a rem perto da linha dos 6 m.
distância; se este não estiver em posse Além disso, este sistema pode ser adaptado
da bola, o defensor deve estar se movi- contra qualquer sistema ofensivo.
mentando na linha dos 6 m na direção
da bola. Quando o adversário direto Sistema defensivo 6:0 (linha de lançamento-tiro)
tem a posse da bola, primeiro deve-se
posicionar na linha de lançamento e, Este sistema deve ser utilizado quando:
depois, subir na segunda linha defen-  a primeira linha de ataque se compõe
siva (8-9 m) para evitar o lançamento por bons lançadores e os da segun-
ou a progressão do atacante. da linha não são tecnicamente bons,
 Ações diante do pivô: realizar marca- principalmente o pivô;
ção individual, acompanhar e realizar  dentro do sistema defensivo 6:0 se
a troca da marcação. Além disso, o utiliza a ideia de maior nível de agres-
defensor que marca o pivô deve estar sividade;
posicionado entre o pivô e o gol.  pode ser utilizada contra qualquer sis-
tema ofensivo. Além disso, adapta-se
com facilidade às transformações ou
15.3.7.5Utilização desdobramentos da equipe atacante;
 a responsabilidade mais importante
Sistema defensivo 6:0(bloco defensivo) é a do adversário direto (com ou sem
Este sistema deve ser adotado perante equi- bola), mas sem se esquecer da ajuda
pes que: mútua.
214 Manual de Handebol

15.3.8 Sistemas mistos 15.3.8.2 Funcionamento do sistema

Neste sistema defensivo, devem-se diferen-


15.3.8.1 Síntese da estrutura do sistema 5+1 ciar claramente duas zonas, ainda que relaciona-
das entre si, muito diferentes quanto às funções
Caracteriza-se pelo fato de o avançado ter que as orientam:
comportamento peculiar que se define pelos Primeira linha defensiva: orientada pelos
deslocamentos contínuos por todos os postos cinco membros restantes da equipe; a sua função
específicos da primeira linha ofensiva em razão principal é impedir a penetração (bloco defensi-
da situação da bola e da sua própria iniciativa. vo) e os lançamentos de fora (linha de tiro).
Assim mesmo, deve haver uma grande coorde- Segunda linha defensiva: o jogador avançado
nação entre os jogadores situados em 6 m e o tem como objetivo interromper a circulação da
jogador avançado, em razão das constantes mu- bola e as ações de construção do jogo por par-
danças de definição de marcação e os procedi- te do central. Estará definida segundo a variante
mentos táticos coletivos que a equipe atacante utilizada.
empregará.
Esta variante pode ter efeitos de surpresa,
sobretudo contra atacantes inexperientes e desa- 15.3.8.3 Função dos jogadores
tentos. É útil também contra equipes que ata-
cam mediante um jogo com combinações fixas e As responsabilidades defensivas no sistema
preestabelecidas. 5:1 (tradicional) podem ser agrupadas tendo em
conta a sua colocação no terreno de jogo:
Jogador avançado: este jogador está coloca-
do sobre a linha de 9 m, marcando um jogador
B
C A que ocupa o posto específico de central atacante.

7 A distância de 9 m e a linha de 7 m são os limi-


tes da sua profundidade defensiva, assim como os
D E 4 F
3 5 deslocamentos laterais que estão limitados entre
2 6 dois ou três metros.
As funções principais deste jogador baseiam-se
em atrapalhar as funções de ataque do central no
Figura 15.28 – Sistema defensivo 5+1. aspecto de construção do jogo e na sua finalização.
Jogadores situados próximos à linha de gol: de-
vem realizar constantes basculações laterais para
Sistemas de jogo na defesa 215

a posição da bola, não devendo nunca romper  A equipe atacante basear seu jogo fun-
o bloco defensivo e atuar em profundidade me- damentalmente na primeira linha e,
diante uma marcação em proximidade contra um sobretudo, em um dos seus jogadores,
ataque perigoso. seja por eficácia no lançamento ou
A sua atenção à bola é máxima, bloqueando pela direção do jogo de ataque.
os lançamentos ao gol, evitando passes e circula-
ção pela linha de seis metros, assim como as pene- Devemos levar em conta as diferentes for-
trações dos atacantes. mas de atuação do sistema em relação à primeira
linha defensiva:

15.3.8.4 Utilização  Em bloco defensivo: utiliza-se contra


equipes sem lançadores de 9m ou com
É um sistema defensivo que pretende pro- um bom pivô.
teger ao máximo uma zona concreta (onde se lo-  Em linha de tiro: utiliza-se contra equi-
caliza o avançado), evitando a circulação rápida pes com bons lançadores, com pouca
da bola, a construção do jogo, os lançamentos do mobilidade e com baixa qualidade da
jogador central e as penetrações. segunda linha ofensiva.
Somente se utiliza esse tipo de defesa quando:

 A equipe contrária possui grandes lan-


çadores desde o ponto específico do
central.
 O central atacante atua em profundi-
dade, com grande qualidade de fixação.
 A equipe adversária tiver laterais efi-
cazes a distância e utilizar trajetórias
invadindo a zona central.
 Romper o ritmo da circulação da bola
da primeira linha ofensiva.
 Se utilizar frente a equipes de menor
perigo na segunda linha ofensiva.
 For contra equipes que possuem um
bom organizador de jogo.
Juan J. Fernández, Helena Vila, Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

16 Fases de transição

O handebol é um jogo esportivo coletivo dividi- fase ofensiva importante para se conseguir
do em dois momentos que ocorrem simultaneamente o triunfo em uma partida. Existem diversos
no campo. Conforme a posse de bola, uma equipe modos de se definir o contra-ataque; assim,
entra em ataque e a outra, em defesa. Porém, no ca- existem autores que se concentram no objeti-
minho de troca entre esses dois momentos, ocorrem vo final: “O contra-ataque é o caminho mais
duas fases de transição, o contra-ataque e o retorno curto de conseguir o gol”, 6 ainda que outros
(ou balanço) defensivo, expostas na Figura 16.1: definem esse conceito tendo em conta como se
leva o desenvolvimento da sua ação: “É o pas-
Retorno
defensivo so da defesa ao ataque da forma mais rápida”.1

Ataque Defesa Consideramos o contra-ataque como a soma


de ambos os processos e, assim, definimos
Contra
como “a ação ofensiva que se inicia quando a
ataque
equipe adversária perde a posse da bola e que
Figura 16.1 – Fases de transição no handebol. finaliza quando se produz um lançamento ou
a defesa se organiza”.
Em seguida, descreveremos os dois momen- A realização do contra-ataque não é produto
tos de transição para maior entendimento deles e da causalidade; pelo contrário, surge de uma boa
sua relevância dentro do jogo de handebol. ação defensiva e uma predisposição dos jogadores
para efetuá-lo.

16.1 O contra-ataque
16.1.2 Objetivos

16.1.1 Definição e características  Conseguir uma situação de superiori-


dade numérica ou, ao menos, igualda-
Ao longo dos anos, a concepção do con- de numérica em um espaço amplo.
tra-ataque evoluiu, sendo, hoje em dia, uma
218 Manual de Handebol

 Aproveitar a desorganização defensiva 16.1.4 Subfases do contra-ataque


na fase de transição para alcançar uma
situação ótima de finalização. Tendo em conta a concepção tradicional do
ataque, podem-se definir duas subfases do contra-
-ataque que estão relacionadas:
16.1.3 Princípios fundamentais  Contra-ataque propriamente dito (re-
laciona-se com a primeira e a segunda
Segundo Czerwinski,7 podemos dizer que, onda).
para ter êxito nesta fase do jogo, deve-se:  Contra-ataque sustentado (ou terceira
onda).
 Evitar que os defensores possam fazer
uma falta para retardar nossas ações
ou interromper o jogo. 16.1.4.1 Contra-ataque
 Manter os parâmetros de profundida-
de e amplitude em relação ao espaço Independentemente de como for e de quan-
de jogo, para dispersar a atenção dos tos jogadores a realizarem, trata-se de passar da
adversários. defesa para o ataque no menor tempo possível.
 Manter uma situação sequencial no Sua realização depende de que nos encontremos
desenvolvimento dessa fase do jogo, em uma situação de superioridade ou igualdade
para assegurar várias linhas de passe e, numérica ao superar a linha central da quadra,
assim, dificultar as ações ofensivas. exista ou não superioridade numérica.
 Evitar o uso abusivo do dribling, exce-
to quando a linha de progressão para
o gol esteja livre (1 x 0). 16.1.4.2 Contra-ataque sustentado
 Realizar o lançamento, sempre que
possível, nas zonas centrais em razão Se a primeira subfase não obtiver êxito, ou
do maior ângulo de lançamento. seja, lançar em boas condições, a ação tende a per-
der ritmo, observando-se que a defesa está desor-
Devem-se evitar os passes em suspensão em ganizada ou em igualdade ou inferioridade numé-
razão das possibilidades dos defensores de fechar rica. Esta subfase está sendo muito protagonizada
as linhas de passe e, consequentemente, duplar na atualidade e marca o caminho de evolução
(andar) ao tocar o chão. Devem ser realizados cor- tática das equipes nesta primeira fase do ataque.
rendo e em contato com o chão, o qual sempre Em relação às sub-fases, podemos dividir o de-
permitirá retificar a nossa ação. senvolvimento do contra-ataque em três momentos:
Fases de transição 219

 Início ou abertura: quando a equipe de descrevê-las, ainda que, na realidade, funcionem


atacante perde a posse da bola em ra- como um todo intimamente relacionado entre si.
zão de uma boa ocupação do espaço Segundo o momento no qual se encontra o
por parte da equipe defensora. desenvolvimento do contra-ataque, podemos dis-
 Transição: uma vez que a equipe está tinguir as seguintes formas:
em posse da bola, deve tentar mover-se
ao gol adversário o mais rapidamente
possível. Distinguem-se duas situações: 16.2.1 Primeira onda
‚‚ Transição não estruturada: é
uma situação que surge segundo Está composta pelos jogadores que iniciam
a dinâmica do jogo de forma li- em primeiro lugar o contra-ataque. Intervêm como
vre, dando lugar a momentos de mínimo os dois pontas mais um jogador, que tra-
igualdade (1 x 1, 2 x 2 etc.) ou de dicionalmente era o mais avançado do sistema
superioridade numérica (1 x 0, 2 defensivo ou numa defesa 6:0 seria aquele que se
x 1 etc.). adiantou para evitar o lançamento. Estes jogadores
‚‚ Transição estruturada: movimento não esperam para ver o resultado do lançamento
prefixado e estudado de antemão. para começar suas ações. Geralmente, esta fase ca-
racteriza-se por estar limitada a um ou dois passes.
 Finalização ou conclusão: quando a
transição for efetiva, produzir-se-á um
lançamento ou uma reorganização do 16.2.2 Segunda onda
ataque. Quando podemos terminar o
contra-ataque com lançamentos, de- Praticamente coincide no tempo com a primei-
vemos procurar que estes se realizem ra, com a segurança de que a equipe tem a posse da
nas zonas de maior verticalidade de bola, e só assim correm os jogadores da segunda onda.
lançamento (zona central).

16.2 Estrutura do contra-ataque

Atualmente, fala-se de uma estrutura do con-


tra-ataque em blocos ou fases que são denominadas
ondas (primeira, segunda e terceira). Mas não de-
vemos nos esquecer de que essa é uma forma clara Figura 16.2 – Contra-ataque em primeira onda.

220 Manual de Handebol

As funções dos jogadores caracterizam-se por: encontram-se, em sua maioria, na estrutura e, es-
pecialmente, na continuidade do que se denomi-
 Quando os pontas e o jogador mais nou terceira onda do contra-ataque.
adiantado já saíram, devem modificar a A realidade é que o ritmo e velocidade de jogo
sua posição de costas à posição de lateral ofensivo caminha em uma linha ascendente, enten-
para poder observar a localização da bola. dendo que cada vez mais equipes unem os contra-
 Uma vez assegurada a posse da bola, -ataques como tal com o jogo posicional, deixando
iniciam a corrida de forma lateral, as- de realizar a tradicional fase de organização da escola
segurando contato visual com o golei- romena, cada vez mais em desuso.8
ro, quem pode dar o passe para a pri- A onda de contra-ataque busca continuar
meira ou a segunda onda. A segunda o alto ritmo e intensidade dos blocos anteriores
onda é fundamentalmente finalizado- para aproveitar a descoordenação defensiva. As
ra quando existe igualdade numérica. razões não são outras a não ser a de não ter se es-
Também se encarrega da construção tabelecido o sistema defensivo e não haver tempo
do contra-ataque, observando onde de realizar as mudanças de ataque-defesa para a
pode estar a superioridade numérica, participação dos jogadores especialistas em defesa.
quando existir. Nesta onda, participam todos os jogadores,
e os seus movimentos respondem basicamente a
duas possibilidades:

D  Jogo livre: soluções táticas individuais


C B
A ou coletivas em função das situações
E encontradas.
F
 Situações estruturadas: soluções com
base em movimentos dos jogadores
fixados de antemão.

Figura 16.3 – Contra-ataque em segunda onda.


16.2.4 Utilização

16.2.3 Terceira onda A utilização do contra-ataque não está


condicionada por nenhum sistema defensivo.
Nos últimos anos, a estrutura do contra-ata- Adota-se seu uso quando a equipe adversária pos-
que evoluiu consideravelmente. As mudanças sui uma boa defesa posicional ou tem balanço de-
Fases de transição 221

fensivo deficiente. Existem sistemas defensivos 16.3.3 Fases


que favorecem o desenvolvimento dos contra-
-ataques. Quanto mais profundo é o sistema Como se mencionou anteriormente, a defe-
defensivo, mais possibilidade de contra-ataque. sa consiste em duas fases:
Podemos destacar, entre eles, os sistemas 5:1,
3:3 e 3:2:1.  Balanço ou retorno defensivo.
 Defesa posicional ou em sistema.

16.3 O retorno (ou balanço) defensivo Afirma-se que a defesa está para o ataque como
o balanço defensivo está para o contra-ataque.
Não podemos falar de uma fase ou subfase
16.3.1 Definição e características quanto ao seu desenvolvimento da forma como
ocorre no contra-ataque. Tentaremos, simplesmen-
Pelo fato de, no resultado final das partidas de te, conseguir os objetivos marcados ao longo dessa
handebol, os contra-ataques terem mais importân- fase de transição. Tudo o que se supõe para evitar
cia pelo grande número de gols que conseguem, o o contra-ataque direto ou que não tenha êxito na
balanço defensivo (ou retorno defensivo) converte- fase presente deste, podemos considerá-la como
-se no meio para impedir seu desenvolvimento. um êxito. Um balanço defensivo de qualidade deve
O balanço defensivo pode ser considerado, impedir não só a culminação rápida do contra-ata-
de uma maneira elementar, como o passo do ata- que, mas, também, evitar que o adversário possa
que para a defesa de forma rápida e está conforma- aproveitar o desequilíbrio que supõe a organização
da pelos movimentos imediatamente anteriores à do bloco defensivo.9
organização do bloco defensivo.9

16.3.4 Estrutura
16.3.2 Objetivos
O balanço defensivo tem lugar uma vez que
 Anular as possibilidades de êxito do a equipe atacante perde a bola, e a equipe defen-
contra-ataque da equipe adversária. sora, até este momento, inicia o contra-ataque. O
 Recuperar a posse da bola, se possível. desenvolvimento do balanço ofensivo pode levar-
 Buscar a realização de uma falta tática -se por meio de três modos:
para cortar as possibilidades espaço-
-temporais de realização do contra-  Estruturado: a equipe que realiza o
-ataque. retorno defensivo tem alguns pontos
222 Manual de Handebol

básicos específicos para que seus joga- o caminho mais curto – a linha reta –
dores impeçam o contra-ataque. para o posto específico na defesa.
 Semiestruturados: algum membro da
equipe defensora tem função específi-
ca uma vez que inicia o contra-ataque 16.3.5 Utilização
por parte da equipe adversária. Esta
situação estará condicionada pelos jo- Assim como no contra-ataque a premissa de
gadores que realizam o contra-ataque realizá-lo é uma decisão própria, no balanço de-
adversário. fensivo não existe tal iniciativa, já que dependerá
 Não estruturado: os jogadores que rea- das características do jogo ofensivo adversário.
lizam o balanço defensivo não seguem Como norma geral, os sistemas ofensivos que
nenhuma norma e cada um tenta evi- aglutinam (concentram) jogadores próximos à li-
tar o contra-ataque. Sempre que as cir- nha de 6 m terão mais dificuldades em razão do
cunstâncias permitirem, utilizaremos espaço que terão de percorrer até a meta adversária.

Referências
1 VVAA. Balonmano: colección de los deportes 7 Czerwinski, J. El ataque posicional: comuni-
olímpicos. Madrid: Comité Olímpico Es- cación técnica. n. 36. Madrid: Real Federaci-
pañol, 1991. ón Española de Balonmano, 1976.

2 Feldman 2002 8 Román, J. Reflexiones y tendencias del ba-


lonmano a partir de Egipto ’99. Comunica-
3 Antón, J. Balonmano: metodología y alto ción técnica n. 191. Revista Área de Balonma-
rendimiento. Barcelona: Paidotribo, 1994. no, Barcelona, n. 12, 1999.

4 Espina, J. J. Balonmano: introducción a los 9 Martínez, I.; De Paz, J. El balance defensi-


sistemas de juego. Valência: Generalitat Va- vo en balonmano actual: importancia y en-
lenciana, Consellería de Cultura, Educación trenamiento. Comunicación técnica n. 190.
y Ciencia, 1989. Revista Área de Balonmano, Barcelona, n. 11,
1999.
5 Feldmann 2000

6 VVAA. Curso de balonmano. Escola Galega


do deporte. Vigo: Consellería de Cultura e
Benestar Social, 1985.
o sIsteMa de forMação e treInaMento esPortIvo no handebol brasIleIro (sfte-hb) 223

Parte VI
O sistema de formação e
treinamento esportivo:
por uma pedagogia da iniciação
ao alto rendimento esportivo
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

O sistema de formação e treinamento


17 esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB)

No processo de Formação e Treinamento mento. A relação entre os processos de formação


Esportivo no Handebol (SFTE-HB), destacam- (ensino-aprendizagem) e de rendimento (treina-
-se as interações entre as diferentes formas de mento) caracterizam-se como uma via de mão
manifestação dos níveis de rendimento esportivo dupla, com interações nos fluxos de influências.
com os papéis e funções pedagógicas do professor. Formação e treinamento esportivo no handebol
Portanto, o papel e a ênfase na formação da per- constituem um processo contínuo, denominado
sonalidade do participante devem ser o objetivo ensino-aprendizagem-treinamento (EAT). Trata-
principal da prática do handebol. Todas as formas -se de um processo sistêmico, pedagogicamente
de prática esportiva no handebol se relacionam construído, planificado e estruturado em diferen-
entre si e confluem para a mais importante carac- tes estágios e etapas, com conteúdos específicos a
terística da prática esportiva: oportunizar o de- serem oportunizados em cada uma delas. Assim,
senvolvimento e da personalidade do praticante. “jogar handebol” deve ser considerado sempre nas
Neste capítulo, consideram-se como formas de interações de cada parte (ensino-aprendizagem e
manifestação dos níveis de rendimento: hande- treinamento) com o todo.
bol escolar (de, para e na escola), na reabilitação, A regulação do processo de ensino-apren-
saúde, lazer-recreação, rendimento, alto nível de dizagem-treinamento (EAT) tem como objetivo
rendimento e esporte profissional. aperfeiçoar os processos existentes por meio da
Nesta visão, os polos de rendimento ensi- aplicação efetiva de diferentes meios de avaliação
no-aprendizagem e treinamento influenciam-se (análise da modalidade, planejamento, execução,
reciprocamente, apresentam-se integrados, não controle, avaliação).
sendo possível se considerar uma formação dire- A concepção pedagógica do ensino do han-
cionada específica e unilateralmente ao handebol debol não pode reduzir-se ao ensino de várias téc-
de alto rendimento, bem como não é acessível nicas, alcançar uma competência técnica ou social
um adequado processo de formação (particular- de organizar grupos, interagir e competir, e sim
mente quanto às pesquisas relacionadas com os promover a relação pedagógica, a comunicação
métodos de ensino-aprendizagem) sem um cons- e entender este processo, sobretudo, como “uma
tante feedback oriundo do esporte de alto rendi- competência cultural, alicerçada no conhecimento,
226 Manual de Handebol

na compreensão e na identificação com o sentido e uma orientada e sistemática influência sobre a


os valores iminentes da atividade esportiva”.1 Essa pessoa toda”.2
é a função “chave” do professor. O processo de EAT apoia-se em uma visão
Descreveremos, neste aporte, uma concep- politeórica e interdisciplinar sobre o fenômeno
ção do processo de formação de um jogador de do desenvolvimento humano e, consequente-
handebol e caracterizaremos as relações das estru- mente, da formação de um jogador de handebol.
turas inerentes aos diferentes estágios e etapas no Solicita-se do professor, paralelamente, um ade-
SFTE-HB. O processo de EAT integrado para quado conhecimento técnico-tático e domínio
oportunizar a construção e o desenvolvimento das exigências que se apresentam ao participante
ao longo do tempo (estrutura temporal – quan- nos diferentes níveis de rendimento na tomada de
do desenvolver) das capacidades necessárias (es- decisão no jogo. Essas exigências devem ser inte-
trutura substantiva – o que desenvolver) à prática gradas e relacionadas nos processos de EAT; por-
do handebol. Tanto a estrutura temporal quanto tanto, o paradigma teórico do processo de EAT
a substantiva são, portanto, relacionadas a partir está referenciado na Teoria da Ação.3,4 Esta é con-
do processo metodológico (estrutura pedagógico- siderada uma teoria cognitivo-ecológica. A pessoa
metodológica), ou seja, como conduzir. Também participa, por meio de sua ação no jogo, em in-
se descrevem, no próximo capítulo, sugestões de teração com o ambiente e a tarefa a ser realizada.
distribuição dos conteúdos específicos de ataque Formula-se um envolvimento triádico entre a pes-
e defesa, bem como as linhas gerais do contexto soa, a tarefa e determinado contexto ou ambiente,
pedagógico para os diferentes estágios e etapas da criando a relação pessoa-tarefa-ambiente. Nessa
formação conforme as categorias (faixas etárias) relação, o indivíduo quando joga handebol apre-
do handebol. senta uma intencionalidade (tática) na sua ação.
O SFTE-HB representa-se como um ciclo As ações dos jogadores no handebol são intencio-
evolutivo, no qual uma tríade de parâmetros é in- nais, por isso são ações táticas a partir da execução
dissociável. O EAT é “um processo complexo e de uma técnica. As ações não são delimitadas a
planejado com o objetivo de obter uma melhora priori, mas a partir da vivência que a pessoa detém
no rendimento (em alguma das formas de expres- da modalidade. No handebol, encontra-se alta
são do esporte) de mantê-lo ou reduzi-lo. Desde variabilidade da técnica,5 imprevisibilidade do
um ponto de vista médico-biológico, serão apli- contexto ambiental, riqueza, aleatoriedade e mul-
cados, de forma sistemática e dirigida, estímulos tiplicidade de situações,6 condições estas que, se-
específicos com o objetivo de conduzir e produzir gundo Garganta,7 caracterizam o constante “apelo
adaptações morfológicas a funcionais. Do pon- à inteligência, enquanto capacidade de adaptação
to de vista pedagógico e psicológico (Teoria a contextos em permanente mudança” na procura
da Ação), exerce-se, por meio do treinamento, dos objetivos desejados no jogo. A complexidade
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 227

das tarefas e os problemas situacionais decorrentes Figura 17.1 – Capacidades inerentes ao rendimento
do jogo de handebol fazem que os participantes esportivo no handebol.
estejam permanentemente adotando compor-
tamentos táticos. Assim, a ação no handebol é Queremos, assim, destacar que essas seis
sempre uma ação tática, portanto esta capacidade capacidades apresentam-se em permanente inte-
assume um papel relevante no processo de EAT. ração entre si, portanto, não podem ser compre-
Para jogar handebol, é necessário muito mais endidas como componentes isolados e divididos
que simplesmente aprender um conjunto de técni- entre si, principalmente quando se elaboram os
cas de forma perfeita, de jogadas ensaiadas e realiza- processos de EAT. A organização pedagógica deve
das de forma ideal nos treinamentos. Jogar é relacio- considerar as partes na função específica do todo,
nar a complexidade, as facetas dessa complexidade na sua composição global, total.9 Afirma-se que
no jogo de forma inteligente.8 o processo de EAT deve ser considerado como
Os elementos constitutivos da estrutura uma unidade sistêmica, composto por unidades e
substantiva – que caracterizam “o que” – se des- subunidades, sistemas e subsistemas que se com-
crevem a partir do conjunto das capacidades que põem de diferentes etapas, que estão em coopera-
caracterizam o rendimento esportivo. Referimo- ção e em interação sistêmica, preservando a con-
-nos às capacidades técnicas, táticas, físicas, psi- figuração da estrutura e dos comportamentos que
cológicas, biotipológicas, socioambientais. A se desejam formar.
Figura 17.1 visa descrever as interações entre as A intencionalidade pedagógica deve mudar
capacidades inerentes ao rendimento esportivo no a orientação, considerando os momentos do en-
handebol. Ou seja, no lançamento em suspensão, sino-aprendizagem-treinamento conforme as for-
pode aparentar que a força de impulsão é decisi- mas de manifestação do rendimento almejadas. O
va, porém se sabe que esta sempre estará determi- processo de desenvolvimento da forma esportiva
nada, situacionalmente, pelo momento do jogo, se concretizapor meio de uma estrutura denomi-
pela biotipologia do jogador, pela sua capacida- nada temporal, ou seja, significa que o desenvolvi-
de psicológica de concentração no momento do mento decorre ao longo do tempo.
jogo, taticamente, pela escolha da melhor opção O desenvolvimento, bem como a maturi-
(passar ou realmente lançar? como lançar? – em dade da criança, apresenta-se gradativamente, em
suspensão ou com apoio – etc.), bem como por diferentes estágios da vida, e estas não são iguais
fatores socioambientais que também conjugam para todos. Aqui, são apresentadas como marco
nessa decisão, por exemplo: “estou bem colocado de referência conforme a sua dificuldade, somente
ou há colega em melhor condição de lançamento com o intuito de auxiliar a elaboração e planeja-
nesse momento do jogo?”, entre outros fatores. mento da práxis.
228 Manual de Handebol

A estrutura temporal abrange a sequência aprendizagem tática e da aprendizagem


de estágios e etapas que caracterizam e compõem motora como prévios o treinamento
o SFTE. Apresentam-se solicitações e níveis de tática e técnica, respectivamente:
rendimento conforme as diferentes faixas etárias, xx da aprendizagem tática ao treina-
de acordo com o acervo de experiências dos indi- mento tático;
víduos em cada estágio e fase. Em cada nível de xx da aprendizagem motora ao trei-
desempenho, devem-se considerar fatores como: namento técnico.
história de aprendizado do grupo, relações cul-  Temporal: refere-se aos estágios que,
turais e valores sociais do ambiente, objetivos, com suas respectivas etapas, caracte-
conteúdos, métodos, experiência motora anterior, rizam os diferentes momentos da for-
horas de dedicação, material etc. mação de um jogador de handebol,
A seguir, apresentamos, na Figura 17.2, o em um A-B-C-D, um continuum.
resumo da concepção do sistema de formação
e treinamento esportivo com suas estruturas, os a) Estágio de formação:
subsistemas e as etapas que constituem os níveis  Pré-escolar: faixa de 4-6 anos.
de rendimento esportivo. Estes serão descritos na  Universal I: faixa de 6-8 anos.
análise da estrutura temporal.  Universal II: faixa de 8-10 anos.

Figura 17.2 – Concepção do sistema de formação e b) Estágio de transição:


treinamento esportivo.  Universalidade esportiva: faixa de 10-
12 anos, ou seja, categoria mirim.
Nesta proposta, observam-se três estruturas:  Orientação: faixa de 12-14 anos, ou
seja, categoria infantil.
 Substantiva: compreende as diferentes  Direção: faixa de 14-16 anos, ou seja,
capacidades que compõem o rendi- categoria cadete.
mento em esportes.
 Metodológica: compreende o concei- c) Estágio de decisão: prática de esporte na
to dos processos de EAT a serem es- vertente saúde-lazer-recreação ou rendimento
colhidos para o desenvolvimento das (neste caso, iniciam-se as etapas de especializa-
capacidades inerentes ao rendimento ção-aproximação- alto nível de rendimento que
esportivo presentes na estrutura subs- se correspondem com as categorias juvenil 16-
tantiva. Segue um princípio de jogar 18 anos, categoria junior 18 a 21 ano, e adulto,
para aprender e aprender jogando. a partir dos 21 anos de idade).
Assim se estruturam os conteúdos da
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 229

SFTE

Subsistema de Formação

Subsistema de Transição

Subsistema de Decisão
Subsistema de Subsistema de
Saúde-lazer-recreação Alto Nível de
Subsistema de Rendimento
Readaptação

Figura 17.3 – O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol e as opções que se desprendem no
estagio de decisão em relação a forma da pratica e seus correspondentes níveis de rendimento..

Na figura 17.3, apresenta-se a estrutura Figura 17.4 – Estágios do processo de formação e suas
temporal com seus estágios e fases inerentes à for- respectivas etapas relacionadas com as idades e catego-
mação específica de um jogador de handebol. rias de formação conforme a CBHb.
Complementando a informação, na Figura
17.4, observam-se, em cada estágio, as diferentes Não adianta se treinar muito sem se estru-
etapas e suas relações com as categorias competiti- turar de forma adequada os aspectos constitutivos
vas presentes na Confederação Brasileira de Han- do treinamento, isto é, objetivos, conteúdos e mé-
debol, tais como mirim, infantil, cadete, juvenil, todos. Estes devem ser permanentemente integra-
júnior e adulto. dos em uma cíclica planificação-execução-avaliação
Quando a decisão do participante for pelo do treinamento. Já no quesito competição, deve ser
esporte de rendimento, na elaboração do pro- estruturada a participação em competições que,
cesso de treinamento, consideram-se, de forma gradativamente, aumentem o nível de solicita-
mais enfática, os fatores inerentes à competição ção e de exigência dos participantes (que deverá,
e as exigências específicas do esporte competitivo. também, ser adequada ao nível de rendimento
Portanto, a planificação incorpora a sistematiza- geral da equipe), ou seja, considerar competições
ção de três componentes, uma tríade vital para se preparatórias-classificatórias-finais etc. que possibi-
obter sucesso nesta etapa. Referimo-nos aos con- litem o crescimento do rendimento do esportista.
teúdos: treinamento-competição-regeneração. Na realidade, a competição e seu nível de exigên-
230 Manual de Handebol

cia são elementos constitutivos fundamentais do isto é oportunizar de forma sistematizada proces-
processo de treinamento e da preparação para sos de avaliação e re-organização do E-A-T, para
elevar os níveis de rendimento. Mas não se pode concretizar adequadamente o desenvolvimento
esquecer que todo processo de treinamento e de da forma esportiva. Frequentemente, concretiza-
competição solicita adequados momentos de re- -se um processo direcionado e com exigências de
generação (nos quais diferentes aspectos devem ser resultados que levam à especialização precoce; o
contemplados, não se devendo pensar, somente, resultado da competição, “ser campeão”, passa a
em férias para o atleta...). ser uma necessidade, mais dos adultos (pais, trei-
Todo processo de EAT objetiva a melhora nador) do que das crianças praticantes. A relação
do nível de desempenho na atividade esportiva carga-volume-intensidade dos treinamentos não
escolhida. Lamentavelmente, ocorre que estágios respeita a individualidade biológica nem leva em
e fases do desenvolvimento não são respeitados, conta necessidades psicossociais da criança, es-
pois não são consideradas na prática. O resultado tágios, etapas e aumento da participação do jo-
é o “fim”, a finalidade do processo, e não consi- vem. Concretamente, a formação se caracteriza
deram o processo de treinamento em uma visão como um processo que não pode ser copiado dos
pedagógica, o processo de treinamento como um moldes do adulto, do esporte formal e de alto
meio pedagógico de formação de personalidade, rendimento.

Sistema de Treinamento Esportivo

Rendimento Treinamento

Perfil de exigência Objetivos


Ação de rendimento Conteúdos/métodos
Interação
Nível de rendimento Carga
Condicionantes do Condução/regulação
rendimento

Competição

Perfil de exigência
Estratégia
Tática
Condução/Regulação

Figura 17.5 – Conteúdos do processo de formação e treinamento esportivo.


O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 231

Treinamento Esportivo no A.N.

Alto Nível de Rendimento


Especialização: 16-18 anos (Categoria Juvenil)
Aproximação: 18 a 21anos (Categoria Júnior)
Alto nível após dos 21 anos (Categoria Adulto)

Competição Treinamento

Iniciais
Preparatórias Planificação
Avaliação
Seletivas Regeneração
Principais Métodos Execução

Biomédicos

Psicofisiológicos

Figura 17.6 – O subsistema de alto nível de rendimento no handebol a partir do estágio de decisão.

O treinamento de alto nível de rendimento Na realização do treinamento, devem ser


no handebol se estrutura, realiza e avalia, em uma considerados os métodos de treinamento direcio-
tríade de parâmetros que determinam os contor- nados a cada finalidade e sua variabilidade (por
nos da planificação. exemplo, para melhora da resistência aeróbica,
Portanto, devem ser considerados momentos considera-se não somente os métodos contínuos,
que caracterizam a planificação e o diagnóstico do mas se integram métodos fracionados, extensivos
rendimento, estabelecendo um prognóstico de rendi- e intensivos), sempre na visão didática do proces-
mento para os diferentes momentos e ciclos (geral- so. As avaliações devem ser periódicas e sempre
mente denominados de periodizações) e adequando-o pensadas na visão holística do ser humano que
aos princípios (da carga, da ciclização, da organização realiza o desempenho.
e pedagógicos) do treinamento esportivo.
232 Manual de Handebol

Planejamento Realização

Diagnóstico Prognóstico Métodos Meios

Princípios Didática

Avaliação
Biomecânica Nutricional

Motora

Psicológica Médica

Outras...

Figura 17.7 – Tríade dos componentes do treinamento no esporte de alto nível de rendimento.

Resumindo, no handebol brasileiro, o proces-


so de formação de jogadores tem um sentido muito Já no estágio de decisão, os objetivos para o
amplo, pois se apoia no conceito de EAT, uma vi- treinamento são:
são sistêmica, com fundamentos pedagógicos que
caracterizam a formação de personalidade através  Aperfeiçoar e maximizar o nível de
do esporte. Os estágios de formação esportiva defi- rendimento esportivo.
nem-se com o objetivo de:  Otimizar a performance esportiva.
 Melhorar e aperfeiçoar a técnica es-
 Oportunizar o desenvolvimento do portiva.
potencial do indivíduo em relação ao  Maximizar o desenvolvimento das
conjunto de capacidades necessárias às capacidades inerentes ao rendimento
práticas esportivas. esportivo.
 Promover a formação humana geral
do indivíduo por meio da prática es-
portiva consciente. 17.1 Fases e etapas da formação do joga-
 Despertar para a prática de atividades dor no handebol
físicas de forma organizada, porém lú-
dica, que aumente o interesse e o gos- Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva,
to pelo esporte. Fernando Lucas Greco
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 233

17.1.1 Introdução des, mas por uma adequada progressão do EAT


conforme as dificuldades táticas e técnicas que se
Este capítulo direciona-se a professores que apresentam nas diferentes categorias. De acordo
desenvolvem um sistemático processo pedagógico com a cultura local, o ambiente social e a história
de ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) na de aprendizado dos diferentes grupos, podem-se
modalidade de handebol visando à formação de apresentar variações, às quais o professor deverá
jogadores e, principalmente, à orientação da for- estar atento para melhor regulação do processo de
mação da personalidade de crianças e adolescen- ensino-aprendizagem-treinamento (EAT). Parti-
tes por meio do esporte, nos diferentes níveis de cipantes que não tenham tido oportunidade de
manifestação do rendimento esportivo. desenvolver seu potencial de forma sistemática –
Os estágios da estrutura temporal descrita isto é, passam por diferentes motivos e entram no
anteriormente se consolidam nas interações das processo de EAT mais tardiamente – solicitam e
diferentes etapas nas quais se organizam, peda- exigem do professor um carinho e dedicação es-
gogicamente, os conteúdos de ataque e defesa pecial, pois o conceito de inclusão nas atividades
necessarias à formação de jogadores de hande- é fundamental em todo processo educativo. A
bol. Portanto, sugerem-se alternativas de distri- interação entre tarefas-esporte, aluno-professor,
buição dos conteúdos táticos de defesa e ataque aluno-ambiente deve se orientar com o processo
por meio de quadros sinópticos que contêm um e não com o produto final. Devem-se estimular
resumo dos objetivos a serem propostos em um os alunos e praticantes em geral a se apoiar mu-
planejamento em longo prazo. Os eixos norteado- tuamente, criando um ambiente de participação
res desses quadros sinópticos são as linhas gerais e motivação para e pelo jogo, da alegria de par-
do planejamento (para adequar à proposta pe- ticipar e jogar para aprender, aprender e compre-
dagógica), os conteúdos de defesa e ataque (para ender. Compreender é desenvolver o senso críti-
contextualizar os possíveis níveis de dificuldades co. Todos os participantes, sem discriminação de
e progressão de ensino-aprendizado), bem como sexo, níveis de rendimento, aptidão e destreza ou
uma quarta coluna com as atividades-chave (ti- habilidade, deverão ser incluídos e motivados à
pos de jogos e atividades relevantes conforme o prática. O importante será descobrir, juntos, o
nível de dificuldade técnico-tática da categoria). prazer de jogar handebol.
Os quadros seguem uma progressão de dificulda-
de com base nas características do jogo nas cate-
gorias mirim, infantil, cadetes, juvenil, júnior e
adulto da Confederação Brasileira de Handebol e
suas correspondentes faixas etárias. Vale ressaltar
que os quadros não estão caracterizados pelas ida-
234 Manual de Handebol

Quadro 17.1 – Estágio de formação no mini-handebol na faixa etária de 8 a 10 anos de idade. Etapa de
priorizar o jogar e a combinação de habilidades técnicas em situações táticas de jogos com bola de dife-
rentes tipos
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Objetiva-se desenvolver as Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos de estafetas ou de per-
capacidades táticas básicas mas mais variadas possíveis, sicas dos fundamentos técnico- seguição com tarefas duplas:
relacionadas com a ideia dos de preferência modificando os táticos individuais de ataque. percepção e ação simultâneas.
jogos de invasão, priorizando- espaços de jogo. Técnica individual com bola: dri- Quem realiza a ação tem tarefa
se, assim, a aquisição de co- Trabalhos em grupos de 2 x 2 e bling, passe, lançamento, fintas. dupla.
nhecimento tático processual 3 x 3 com as variações do uso Técnica individual sem bola: Jogos de estafetas com distri-
de forma incidental. do curinga de defesa. principalmente trabalhos visan- buição da atenção. Quem está
O princípio do estágio será Combinar a marcação indivi- do à troca de direção, de veloci- na fila faz tarefa dupla.
jogar para aprender. dual com formas de defesa a dade, giro etc. Jogos para desenvolver a inteli-
Jogos relacionados com as ca- pressão em situações de 1 x 1. Técnica individual sem bola: gência tática.
pacidades táticas básicas: Desenvolver a capacidade de noções de sair da marcação, ofe- Exemplo: “jogo da velha.”
 Acertar o alvo. deslocamento e de posiciona- recer-se, orientar-se, cortes em “Some 3.”
 Transportar a bola mento defensivo. “V”, “vai e volta”, “sair-entrar.” Jogos de perseguição em duplas,
 Jogo em conjunto. Tática individual defensiva: Priorizar jogos nas estruturas em trios, em pequenos grupos
 Criar sup. numérica. Sentido da defesa, recuperação funcionais simplificadas com e (tipo pegador na corrente) com
 Reconhecer espaços. da bola, tomada da marcação, sem curinga: e sem bola que oportunizem a
 Oferecer-se e orientar-se. interceptação de passes, ante- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + 1. melhora das habilidades de des-
 Superar o adversário.29 cipação. A movimentação do jogador sem locamentos.
Defesa ativa, ou seja, o espaço bola no espaço livre é uma das Todas as atividades possíveis de-
Priorizar e enfatizar o desen- livre só pode ser visto pelo ata- atitudes a serem consideradas. vem ser realizadas com mão, pé
volvimento das capacidades que na frente deles. A movimentação do jogador e raquete-bastão para ampliar a
coordenativas e das habilida- Regras básicas do comporta- com bola em direção ao gol e vivência de movimentos.
des técnicas como base para a mento no jogo 1 x 1 contra sempre no espaço entre defen- Objetos em movimento, de for-
aprendizagem motora. jogador com bola e contra jo- sores é uma das atitudes a serem ma simultânea com o jogo de
Apresentar atividades que gador sem bola. consideradas. estafeta.
solicitem a distribuição da Destacar a importância do Tática individual ofensiva; re- Atividades que solicitem o
atenção e a dissociação de “jogo limpo” na defesa. Marcar gras básicas do comportamento equilíbrio, como andar sobre
segmentos musculares sem fazer falta. Luta pela bola no jogo 1 x 1. pneus, bastões etc. constituem
Uso do curinga nas “Estrutu- ou pelo espaço e não “contra” interessantes desafios.
ras Funcionais”, incentivando o adversário. As atividades de coordenação
jogos de 2 x 2 + 1... não se reduzem a exercícios
Objetivo de jogo: 3x3. (Com com bola. Corda, bambolê,
ou sem goleiro fixo). bastão, são muito importantes.

O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 235

O princípio pedagógico do processo de EAT cícios de coordenação com um/dois/três elementos


no estágio de formação que abrange a faixas dos 8 organizados sistematicamente permitem a melhoria
aos 10 anos de idade consiste em jogar para aprender. da coordenação. Os exercícios devem ser colocados
As atividades direcionam-se a ampliar as experiên- de forma a oportunizar situações de pressão da mo-
cias de movimentos das crianças. A aprendizagem tricidade (tempo, precisão, organização, sequência,
se inicia com o jogo e tem a finalidade de desen- variabilidade, carga). Sugere-se a leitura do texto Es-
volver, primeiramente, a capacidade tática, portan- cola da Bola. Um ABC para iniciantes, de Kröger e
to, caracteriza-se pela ênfase na apresentação de jo- Roth,29 publicado pela Phorte Editora.
gos que desenvolvam a ideia do jogo de handebol. O processo de EAT na categoria a seguir já
Esta fase é fundamental aprender a fazer; portanto faz parte do estágio de transição; assim, os conte-
o desenvolvimento das capacidades coordenativas é údos sugeridos para essa categoria encontram-se a
a base do processo de aprendizagem motora. Exer- seguir (Quadro 17.2).

Quadro 17.2 – Estágio de transição, categoria mirim, faixa etária de 10 a 12 anos. Etapa da universalidade esportiva
EAT linhas gerais Conteúdos de defesa Conteúdos de ataque Atividades sugeridas
Aprendizagem tática: jogar Marcação individual nas for- Desenvolver formas gestuais bá- Jogos gerais para desenvolver
nas diferentes constelações mas mais variadas possíveis: sicas das técnicas de ataque. a inteligência tática. Exemplo:
das “estruturas funcionais” quadra inteira, meia quadra, Técnica individual com bola: jogo dos 10 passes com tarefas
com e sem curingas. em 12 metros etc. Passe, lançamento, finta, re- duplas, com duas bolas, com
Aprendizagem motora: de- Combinar no momento do cepção, dribling etc. em jogos e superioridade numérica da de-
senvolver a coordenação e as jogo formal, no treinamento, exercícios combinando elemen- fesa etc.
habilidades técnicas29 neces- momentos de marcação indivi- tos perceptivos e tomada de de- Jogar com as estruturas funcio-
sárias ao posterior treinamen- dual e momentos de uma equi- cisão. nais com e sem curinga, orga-
to da técnica específica do pe jogar com defesas zonais Técnica individual sem bola: nizando a atividade para que
handebol. ofensivas: 1:5; 3:3; 4:2. sair da marcação, oferecer-se, todos os jogadores passem por
Jogos de estafetas ou de per- Tática individual defensiva: orientar-se, cortes em “V”, “vai todas as posições.
seguição com tarefas duplas: Sentido da defesa, tomada da e volta”. Combinar, por exemplo, jogo
percepção e ação simultâneas. marcação, luta pela posse da Jogo em conjunto em estruturas 3 x 3 na largura e na profundi-
Priorizar o jogo de handebol bola. funcionais com e sem curinga: dade.
na formação 4x4 (Com ou Tática defensiva de grupo: tro- 1 x 0; 2 x 2 + 1; 3 x 2; 3 x 3 + Desenvolver as capacidades per-
sem goleiro fixo). ca de marcação, seguimento. 1 etc. ceptivas nas diferentes posições,
Jogo sem esquemas previa- Basculação, Tática individual ofensiva; re- descoberta de sinais relevantes.
mente estabelecidos sem joga- coberturas, triângulo defensivo gras básicas do comportamento Trabalhar atividades em for-
das, sem pressão de resultado. e o conceito de ajuda. no jogo 1 x 1 perante defensor ma de jogos 3 x 3 com ou sem
Regras básicas do comporta- conforme a distância que se en- curinga com tarefas táticas espe-
mento no jogo 1 x 1 perante contra o atacante do gol. cificas para cada posição.
jogador com bola e perante Jogos em que o atacante é for-
jogador sem bola. Considerar çado a ir a confrontos de 1 x 1 e
as distâncias do gol para adotar solicitar solução com a colabo-
posicionamento defensivo. ração do colega.
236 Manual de Handebol

Acentua-se, nessa etapa da aprendizagem + 1 x 0; 1 + 1 x 1; 1 x 1; 2 x 1; 2 + 1 x 2; 2 x 2; 3


e particularmente na seguinte dos 12- aos 14 x 2; 3 + 1 x 3; 3 x 3, entre outras formas). Uma
anos, ou seja categoria menores, iniciar odesen- alternativa didática consiste em apresentar nas es-
volvimento de sistemas defensivos derivados das truturas funcionais, como:
formas de marcação individual, de preferência
defesas ofensivas de combate de forma ativa no  diminuição da ação do adversário (deve
atacante com ou sem bola, interceptando-se e an- marcar somente usando o corpo e, para
tecipando- se passes, como ser o 1-5 e 0 3-3. A tal, leva uma bola sobre a cabeça).
mentalidade do trabalho defensivo é, portanto,  Diminuição do apoio do colega (so-
agir sobre o atacante em vez de reagir! mente passe quicado).
Os jogos oferecidos devem promover a foca-  Simplificação do meio ambiente (jogo
lização, a distribuição e a alternância da atenção, 3 x 3 com sem curinga).
jogos com tarefas duplas (dual-task). Recorrer às  Simplificação das regras de jogo (an-
estruturas funcionais com e sem curinga: 1 x 0; 1 dar, invasão, duplo dribling etc.).

Quadro 17.3 – Estágio de transição, categoria menores, faixa etária de 12 a 14 anos. Etapa de iniciação tática defen-
siva e ofensiva especifica no handebol
Conteúdos de
Linhas gerais Conteúdos de defesa Atividades sugeridas
ataque
Desenvolver as capacidades cog- Marcação com sistemas zonais Iniciação no jogo posicional na Jogos para desenvolver a inteli-
nitivas (percepção, antecipação, ofensivos: formação de ataque 3:3. gência tática.
tomada de decisão) conforme os 1:5; 3:3; 3:2:1. Desenvolver o sentido das mu- Exemplo: jogos com duas bo-
espaços no campo de jogo. Desenvolver a capacidade tática danças de posição na largura e las. Jogo do “Go”.
Nenhuma especialização em po- individual defensiva: o conceito na profundidade da quadra. Jogo de handebol nas posições
sições de jogo. de antecipar a ação do ataque e Tática de grupo: lateral-ponta; ponta lateral
Dar ênfase ao desenvolvimento de atacar o atacante.  Tabelas. pivô, em trios e duplas, lado
das capacidades táticas indivi-  Tomar a marcação.  Cruzamentos. direito e esquerdo da quadra.
duais, e procurar a compreensão  Posição do corpo e dos braços.  Permutas. Estruturas Funcionais com sem
das ações táticas de grupo.  Tirar a bola do adversário.  Cortinas. curinga, com tarefas específicas
Iniciação no jogo posicional. Como tática de grupo de defesa  Conceito par e ímpar ne- por posição para o desenvolvi-
Compreensão dos conceitos: a iniciação na marcação zonal cessário ao jogo posicional. mento da capacidade tática e
par-ímpar, quando se usa cada solicita: Regras de comportamento táti- técnica de forma situacional.
um.  Troca de marcação co em situações 1x1 e 2x1. Atividades para desenvolver
Continuar o treinamento da co-  Seguimento as capacidades coordenativas
ordenação; ampliar as ofertas de  Deslizamento e exercícios para iniciação do
exercícios para distribuir a atenção Regras de comportamento táti- treinamento técnico (muitas
e dissociação de segmentos mus- co em situações 1 x 1 e 1 x 2. atividades com tarefas duplas,
culares (pressão de organização). com diferentes elementos-bas-
tão, bola, bambolê, corda etc.).
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 237

Nesta categoria, começam a ser introduzidas  Individuais.


as defesas zonais ofensivas, portanto, a partir das  Grupo.
estruturas funcionais (isto é, jogar 2x2 / 3x3 etc.,  Conjunto.
reforçam-se as alternativas de aplicação dos meios
táticos de grupo de ataque (tabelas, cruzamen- No estágio de transição (Quadro 17.4), é
tos, engajamento, par e ímpar, sem descuidar do importante, na faixa etária de 14 a 16 anos, o
importante trabalho de assistências, do jogo com professor caracterizar o processo de orientação
o pivô). constituem-se tríades na estrutura fun- na modalidade. A realização dos meios táticos
cional: ponta-armador lateral-pivô; na estrutura de grupo de ataque e defesa devem ser conso-
lateral-central-pivô; e ponta-armador-pivô, com e lidados por volume e qualidade no EAT. Os
sem curingas ou passadores, para melhora da per- conceitos de eficiência e eficácia da execução
cepção nas posições. técnica devem estar presentes no processo de
Desde o ponto de vista dos conteúdos ineren- EAT. Desenvolve-se uma metodologia que te-
tes ao processo da aprendizagem motora, a fase do nha equilíbrio nos processos de aprendizagem
treinamento da técnica se inicia com a correção da incidental-intencional
forma global do gesto. Enfatiza-se a compreensão e
posterior realização das ações táticas de defesa e do
ataque diferenciando-se os meios táticos:

Quadro 17.4 – Estágio de transição, categoria cadete, faixa etária de 14 a 16 anos. Etapa de orientação esportiva
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Iniciação na compreensão dos Sistema defensivo 3:2:1 ofensivo e Tática individual específica em Jogos para desenvolver a inte-
princípios do no jogo posicio- 3:2:1 com líbero. cada posição do ataque visando ligência tática. Exemplo: passe
nal, porém em todas as posi- Modificação e também manuten- à melhora da percepção tempo- livre com duas bolas.
ções (All Rounder). ção do sistema defensivo 3:2:1 espaço. Estruturas funcionais 3 x 3 com
Desenvolver as capacidades téc- frente a desdobramentos e trocas Integrar tática individual a tática e sem curinga nas diferentes po-
nicas e táticas necessárias às exi- de formação do ataque (trabalhar de grupo. sições da quadra e com diferen-
gências nas diferentes posições com as estruturas funcionais de 3 Jogo posicional: tática de grupo, tes constelações de defesas.
e funções na equipe. x 3 ou 4 x 4. nas estruturas funcionais. Jogo Se desmarcar para ser opção
Continuar a desenvolver as No jogo posicional, ações anteci- de 3 x 3 com sem curingas e 4 x de passe, sair da marcação.
capacidades cognitivas: percep- pativas sobre os armadores adver- 4 com desdobramentos. Para ser possível receptor, tra-
ção, antecipação e tomada de sários (duplar, pressão, flutuação) Formas básicas de desdobra- balhar este princípio ao longo
decisão nas diferentes posições. Tática defensiva de grupo: bascu- mentos nas estruturas funcionais de jogos
Usar a troca de velocidade na lação, coberturas de espaço, trocar com 3 ou 4 jogadores. O treinamento do goleiro
ação de sair da marcação. a marcação, deslizamentos, blo- Fixar a atenção dos seus defenso- deve ser integrado com o trei-
Utilizar princípios defensivos queios de lançamentos. Conceito res diretos, realizando ações sem namento de lançamento e de
de “jogar com o atacante”. de ajuda. bola. defesa.
238 Manual de Handebol

As atividades devem desenvolver a ideia -táticas no jogo constituem os procedimentos


da sequência do jogo, isto é, quem está na táticos que, somados à distribuição dos joga-
defesa deve ter a possibilidade de iniciar o dores e determinação de funções específicas.
contra-ataque e quem está no ataque, retornar consolidam o trabalho dos meios táticos de
à defesa. As inter-relações das ações técnico- ataque e defesa.

Quadro 17.5 – Estágio de decisão, categoria juvenil, faixa etária entre 16 a 18 anos de idade. Etapa de ênfase na
especialização esportiva
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Sistema defensivo 3:2:1, de forma O tema principal passa a ser a Jogos para desenvolver a inteli-
que e de defesa, porém sem es- mais frequente e funcionamento preocupação com obter sequên- gência tática.
pecialização nas posições. deste sistema frente a mudanças cia do ataque. Exemplo: fute-hande-rúgbi-bun-
da formação de ataque. da-gol; cangurú-gol.
Ampliar o conceito de jogado- Princípio da continuidade do
res All Rounder. Jogadores que Sistema defensivo 5:1 nas dife- jogo, particularmente após des-
jogam em varias posições, prin- rentes formas de aplicação: de- dobramentos (3:3 à 2:4).
cipalmente em ataque e defesa. fensivo – ofensivo - antecipativo.
Diminuir o tempo de duração do
Desenvolver a capacidade de Aplicação de diferentes forma- ataque no jogo posicional. Variar
jogo individual e grupal contra ções defensivas de forma ade- o tipo de combinações de ataque.
diferentes sistemas defensivos. quada à situação de jogo.
Qualidade e variação no o tipo
Domínio das fintas antes de se Troca de formação defensiva e de passe e de lançamentos.
realizar uma ação tática. Troca ensaios de marcação individual
de direção e velocidade na cor- combinada com defesas ofensivas. Continuar o jogo posicional em
rida. forma dinâmica após o contra-
ataque, sem “frear” o jogo.
O sistema de formação e treinamento esportivo no handebol brasileiro (SFTE-HB) 239

Quadro 17.6 – Estágio de decisão, faixa etária entre 18 a 21 anos de idade. Etapa de aproximação da forma
esportiva solicitada no alto nível de rendimento
Linhas gerais Conteúdo de defesa Conteúdo de ataque Atividades sugeridas
Trabalhar nas posições de ata- Jogar, de preferência, com sistema O tema principal continua Jogos para desenvolver a in-
que e de defesa. Iniciar a espe- 5:1. Sistemas ofensivos (3:3 e 4:2) sendo a preocupação com ob- teligência tática.
cialização nas posições. devem ser aplicados no treinamento ter Sequência do ataque. Exemplo: “salada” de gols.
Continuar com o conceito de para tê-los sempre presentes e poder Princípio da continuidade do Trabalhar nas diferentes li-
jogadores All Rounder. aplicá-los no jogo competitivo jogo, particularmente após nhas do ataque, aumentar a
Jogadores que jogam em varias Funcionamento frente a mudanças da desdobramentos (3:3 a 2:4). especialização nas posições.
posições, em ataque e defesa. formação de ataque. Diminuir o tempo de duração Iniciar o EAT de tomada de
Desenvolver a capacidade de Sistema defensivo 5:1 nas diferentes do ataque no jogo posicional. decisão.
jogo individual e grupal contra formas de aplicação: defensivo - ofen- (variar o tipo de combinações “Learning by doing”.
diferentes sistemas defensivos. sivo- antecipativo. de ataque).
Domínio das fintas antes de se Trabalhar o funcionamento do siste- Troca de formação dinâmica
realizar uma ação tática. Tro- ma defensivo 5:1 frente a mudanças após o contra-ataque. Conti-
ca de direção e velocidade na da formação de ataque (troca para nuar com o jogo posicional em
corrida 6:0/manter o 5:1?). forma dinâmica após o contra-
Treinamento de diferentes formações ataque, sem “frear” o jogo.
defensivas perante situações especiais: Trabalho ofensivo em situa-
superioridade e inferioridade. ções especiais de superioridade
Aplicação de diferentes formações de- e inferioridade numérica.
fensivas de forma adequada à situação Qualidade e Variação no o tipo
de jogo. de passe e de lançamentos.
Troca de formação defensiva e ensaios
de marcação individual ou de siste-
mas mistos de forma ofensiva.

Neste capítulo, a partir dos quadros sinóp- sentes nos torneios organizados pela Confedera-
ticos apresentados, foram caracterizados os possí- ção Brasileira de Handebol.
veis formas de organizar e distribuir os conteúdos Sua leitura oportuniza a tomada de consci-
inerentes ao jogo de handebol. Portanto foram ência das possibilidades pedagógicas na elabora-
adaptados objetivos e conteúdos para formação ção de processos de ensino-aprendizagem-treina-
de jogadores conforme as categorias de jogo pre- mento na modalidade.
Pablo Juan Greco, Siomara A. Silva, Fernando Lucas Greco

Métodos de ensino no handebol:


18 do incidental ao intencional

Um olhar para algumas décadas passadas tereotipadas, pouco criativas em geral. Assim,
permite observar que a iniciação esportiva ocor- inverteu-se o processo, aprende-se para jogar, e,
ria de forma espontânea nos locais onde crianças em muitos casos, esse processo resulta em espe-
brincavam; faziam do tempo e do espaço disponí- cialização precoce nas diversas modalidades es-
veis o “seu espaço” e o “seu tempo” para se diver- portivas com a busca de rendimento conforme
tir. Jogavam para aprender, não aprendiam para o conceito “quanto mais jovem treinar, melhor”.
jogar, não treinavam com um professor para ga- Assim, crianças passaram a serem consideradas
nhar como única meta. A prática era lúdica, sem o como “adultos em miniaturas”10 e “treinadas an-
objetivo formal de se aprender, os jogos e as brin- tes de aprenderem a jogar”.11 Os motivos dessas
cadeiras eram transformados conforme a realida- mudanças foram diversos e as consequências ne-
de situacional, isto é, eram três crianças, jogava-se gativas foram analisadas e debatidas por diversos
1 x 1 e um no gol, sempre com a troca de funções estudos no Brasil.12-20
combinada. As regras eram criadas e a dinâmica, O objetivo deste capítulo é submeter a co-
as tarefas e as funções do jogo eram adaptadas munidade do handebol a uma proposta para o
para se poder jogar e brincar. Ao se reunir, surgia ensino-aprendizagem da modalidade, afastada
um jogo, e assim, consequentemente, uma rica e conceitualmente dos modelos tradicionais de en-
variada quantidade de experiências motoras era sino-aprendizagem dos esportes vigentes na práxis
apreendida, sendo base para posterior aprendiza- hoje, e relacioná-la com o modelo de formação e
gem nos esportes. Dessa forma se alinhavavam as treinamento esportivo para o handebol brasileiro
experiências que possibilitavam o desenvolvimen- proposto no capítulo anterior.
to da capacidade de jogo. O método de ensino-aprendizagem-treina-
Esta prática foi sendo substituída, grada- mento se constitui, portanto, em uma das gran-
tivamente em alguns locais, rapidamente por des ferramentas às quais o professor pode recorrer
outras, formais e intencionais, visando formar para organizar sua planificação e construir seu
atletas e selecionar talentos. As práticas foram processo de ensino-aprendizado-treinamento na
direcionadas para o desenvolvimento da capa- escola, no clube e na instituição que desenvolve
cidade técnica, o que leva a realizar ações es- sua ação pedagógica no ensino do handebol.
242 Manual de Handebol

Os métodos de ensino dos esportes se analítico, enquanto a teoria psicológica da Ges-


apoiam em diferentes teorias psicológicas. Nos es- talt apresenta princípios que apOiam e sustentam
portes coletivos, esses métodos ainda se derivam, relações com o método Global.21 Os métodos
em geral, de processos de treinamento das moda- tradicionais caracterizam-se pela utilização da ins-
lidades esportivas individuais (principalmente do trução direta, com base na estruturação do ensino
atletismo, da natação e das ginásticas), nas quais por meio de uma sequência de exercícios em série
a técnica apresenta alto valor para a obtenção do que levam o aluno, de forma progressiva, ao al-
resultado e portanto não são apropriados para o cance da meta prevista, centrando-se no professor,
ensino do handebol. Os métodos de ensino dos autoritário e analítico, reservando um papel pas-
esportes podem ser divididos em: sivo ao aluno.22 Neste sentido, o professor assume
a tarefa de explicar o gesto motor, demonstrar o
 métodos tradicionais: em sua aborda- movimento e, ainda, ordenar aos alunos que o re-
gem, apresenta-se ênfase na aprendi- pitam durante um tempo. Resta ao aluno assimi-
zagem da técnica em primeiro mo- lar o que foi passado e repetir e repetir...3
mento, ou do jogo na sua íntegra. As aulas com base na abordagem tradicional
Destacam-se os métodos analítico, geralmente possuem fases clássicas, iniciando com
global e misto. uma atividade introdutória ou demonstração,
 métodos ativos: invertem o conceito de seguido de exercícios para desenvolver o gesto
ensino dos esportes e partem da apren- técnico e finalizando no jogo formal, para que o
dizagem tática do jogo. Nesta con- aluno coloque em prática o movimento treinado
cepção, apresentam-se duas vertentes, separadamente. A ideia central dessa sequência de
conforme a ênfase proposta na apren- atividades parte do princípio do simples (partes)
dizagem, ou seja, métodos formais-in- para o complexo (todo), sendo o gesto técnico
tencionais e métodos incidentais. uma parte extraída do jogo, privilegiando, assim,
a dimensão da eficiência (forma de realizar) em
Os métodos de ensino-aprendizagem ba- detrimento da eficácia (finalidade).24 A concep-
seiam-se em teorias psicológicas que refletem o ção dominante é que, para se aprender a jogar,
estado do conhecimento à época. Assim, o mé- é necessário, primeiro, dominar certo número
todo analítico-sintético se contrapõe ao método de movimentos e gestos técnicos específicos, que
global. Já no método misto, procura-se reunir as serão divididos para, depois, ao serem unidos,
vantagens de cada um desses conceitos. Cada mé- promoverem melhor desenvolvimento de ações e
todo de ensino reúne um conjunto de princípios; dos padrões do movimento. Bunker e Thorpe25
assim, a corrente associacionista e sua relação com sinalizaram alguns dos problemas dos métodos
a escola behaviorista se relacionam com o método tradicionais:
Métodos de ensino no handebol 243

 Grande porcentagem das crianças dores “com conhecimento”, em uma


consegue ter pouco sucesso em virtu- época em que os jogos (e o esporte)
de da ênfase no desempenho, isto é, são uma forma importante de entrete-
no “fazer”. nimento na indústria do lazer.
 A maioria dos alunos “conhece” muito
pouco sobre jogos. Na Figura 18.1, destacam-se, graficamente,
 Produção de jogadores supostamente os modelos analítico e global, com destaque para
“habilidosos” que, de fato, possuem as características do exercício e dos jogos como
somente técnicas inflexíveis e uma po- elementos para chegar ao esporte conforme o
bre capacidade de tomada de decisão. conceito de cada método.
 Desenvolvimento de “atletas” depen- Pesquisas relacionadas com a eficiência e a
dentes do professor/técnico. eficácia dos métodos de ensino-aprendizagem
 Não há interesse para desenvolver es- confirmam que as formas metodológicas tradicio-
pectadores “pensantes” e administra- nais estão sendo hoje substituídas.25,27,28,29,30

Figura 18.1 – À esquerda, o método analítico, progressão de exercícios. À direita, o método global funcional, pro-
gressão de jogos (com base em Dietrich, Durrwachter e Schaller).26
244 Manual de Handebol

Uma proposta metodológica integrada na são” (TGFU), conforme formulado por Bunker e
concepção de um Sistema de Formação e Trei- Thorpe,25 Thorpe, Bunker e Almond.34
namento Esportivo no Handebol (SFTE-HB) Pesquisas mostram que, das formas de
sugere um processo metodológico que enfatiza o aprendizagem a serem oportunizadas na infân-
jogar, ou seja, inicialmente, o professor orienta a cia, se destacam os progressos que os alunos
sua metodologia de ensino conforme o conceito demonstram quando se recorre à aplicação de
de “jogar para aprender” (estágio de formação) e, métodos incidentais de aprendizagem, ou seja,
posteriormente, em um segundo momento (já no os iniciantes aprendem sem saber que estão
estágio de transição), “jogar para aprender”. aprendendo, sem essa intencionalidade (mais
Na Figura 18.2, observam-se as sugestões própria do adolescente e do adulto). O jogo
metodológicas conforme a díade dos processos de e o jogar se constituem em uma das melhores
aprendizagem intencional-incidental, com os au- formas de aprendizado incidental. Portanto, o
tores e data de publicação das obras. professor deve observar, de forma sistemática,
Nos métodos formais, também se destacam que os jogos e as atividades propostas tenham
as propostas de Siedentop,31,32 com o denominado uma sequência adequada para produzir os efei-
“Modelo de Educação Desportiva”, e o “Modelo tos de aprendizado desejados. Assim, a propos-
Desenvolvimentista”, proposto por Rink.33 Nes- ta indica que se priorize o jogar para aprender,
te aporte, desenvolve-se o conceito proposto no de forma a concretizar a aprendizagem tática,
“Modelo de ensino dos jogos para a Compreen- primeiro objetivo do processo de ensino. Para-

Figura 18.2 – Novas correntes metodológicas no ensino dos esportes (com base em Mesquita e Graça).1
Métodos de ensino no handebol 245

lelamente, os jogos devem ser complementados e motor como pré-requisitos para o treinamento
com atividades que oportunizem o processo de tático-técnico.
aprendizagem motora, isto é, jogos e atividades O processo de aprendizagem tática com-
que permitam o desenvolvimento das capacida- põe-se de três pilares: as capacidades táticas
des coordenativas e de um conjunto de habili- (básicas), adaptado de Kröger e Roth,29 os jo-
dades técnicas. Portanto, a proposta se organiza gos para desenvolver a inteligência tática e as
da seguinte forma: estruturas funcionais conforme sugeridas por
Greco.21,35 Pretende-se, basicamente, a partir
a) Da aprendizagem tática ao treinamento tático: dos elementos comuns dos Jogos Esportivos
Coletivos,36 construir um processo de aprendi-
 Ensino-aprendizagem-treinamento zagem que decorre do ensino implícito ao ex-
das capacidades táticas básicas (até 10 plícito (formal). Regras de comportamento tá-
anos). tico podem ser apreendidas de forma implícita,
 Estruturas funcionais (8-10 anos em seguindo o princípio de experimentar jogando,
diante). quando o que importa é oportunizar ideias e a
 Jogos para desenvolver a inteligência criatividade.
tática (8 anos em diante). As faixas etárias devem ser somente toma-
das como referência, cabendo ao professor aplicar
b) Da aprendizagem motora ao treinamento técnico: ou não atividades relacionadas a esses conteúdos
 Ensino-aprendizagem-treinamento conforme o desenvolvimento da sua turma. No
das capacidades coordenativas (até Quadro 18.1, apresentam-se as capacidades táti-
12-14 anos). cas básicas modificadas com base em proposta de
6-8 anos  um elemento. Kroger e Roth29 e jogos sugeridos para seu desen-
8-10 anos  dois elementos. volvimento.
10-12 anos  três elementos (da coordena-
ção geral à específica).

 Ensino-aprendizagem-treinamento
das habilidades (até 10-12 anos).

Os processos de aprendizagem se caracteri-


zam no estágio para proceder ao desenvolvimento
da capacidade de jogo. Deve-se consolidar o pro-
cesso de ensino-aprendizagem-treinamento tático
246 Manual de handebol

Quadro 18.1 – Capacidades táticas básicas e exemplos de jogos e atividades para seu desenvolvimento
Parâmetro Atividades/tarefas táticas Jogos sugeridos
Deve-se lançar uma bola a um alvo (de preferência, Jogos de lançamento a alvos fixos e
Acertar o alvo
o gol), para que atinja um local escolhido. em movimento.
Transportar a bola para o Objetiva-se transportar, jogar, fazer a bola chegar a
Jogo dos bambolês no chão.
objetivo um objetivo determinado.
O importante é receber a bola do colega ou passar a
Jogo coletivo Jogo dos 10 passes.
bola para este.
O importante é, por meio do jogo conjunto com o Jogos de 2 x 1, tipo “bobinho”.
Criar superioridade numérica colega, conseguir um ponto, gol ou preparar o pon- Jogos de setores com apoios de
to, gol para o outro (assistência). curingas.
O importante é que quem estiver sem a bola seja
Sair da marcação (oferecer- Jogos com marcação individual,
“visto” pelo colega, deslocando-se e oferecendo-se
-se, orientar-se) jogos em zonas delimitadas.
para receber.
No confronto com o adversário, consegue-se assegu- Jogos com fintas com e sem bola
Superar o adversário
rar a posse da bola. para chegar a lançamento
Modificado de Kröger e Roth.29

Quadro 18.2 – Exemplo de jogo para o desenvolvimento da capacidade tática


Parâmetro Atividade/Descrição
Transportar Distribuem-se bambolês em diferentes lugares do campo. As equipes são formadas pela mesma quantidade
a bola para o de membros para cada equipe. O objetivo do jogo consiste em obter um ponto recebendo um passe do
objetivo colega e cair com um pé dentro de um dos bambolês espalhados pelo campo. Os defensores podem inter-
ceptar passes para recuperar a bola. Para evitar o gol, os defensores devem colocar o pé dentro do bambolê
Jogo coletivo simultaneamente com a recepção do atacante.
Variação: colocar bambolês de duas cores. Cada equipe somente pode fazer o gol na cor que lhe for designada. Dessa forma,
incentiva-se a procura de espaços, a orientação.
Métodos de ensino no handebol 247

O segundo conteúdo denominado estruturas campo (maior ou menor); a complexidade (nú-


funcionais objetiva apresentar o jogo para as crian- mero de jogadores); as combinações técnicas (ti-
ças da mesma forma como elas o praticam sem a pos de passes permitidos); o número de decisões
presença de adultos. A ideia se apoia em oportu- a serem tomadas (número de objetivos); o tipo
nizar que as crianças joguem, com o jogo aconte- de combinações táticas (cruzamento, tabelas, blo-
cendo em uma situação real. Daí o nome “jogos queios); e as opções de comportamento tático. No
situacionais”. Incentiva-se a jogar com diferentes caso de variações do comportamento tático, po-
estruturas funcionais de jogo: 1 x 1 + 1; 1 x 1; 2 de-se proceder à diminuição da ação do colega, da
x 1; 2 x 2 + 1; 2 x 2; 3 x 2; 3 x 3 + 1; 3 x 3 (entre ação do oponente ou simplificar o meio ambiente
outras formas). Essas formas de organização apre- (número de jogadores ou as regras do jogo).
sentam situações com igualdade, inferioridade ou No handebol, o ataque pode acontecer se-
superioridade numérica (as atividades com curin- gundo os princípios de uso do campo na largura
ga “+1” são ofertadas antes que as situações de ou na profundidade com a troca de formação, que
igualdade numérica). Para facilitar a compreensão consiste na combinação de jogo na largura e na
do jogo e sua prática, sugere-se a sistematização profundidade.37,38,39
da ação do “curinga”, que pode ser um ou vários O terceiro pilar na construção e no desen-
colegas que apoiam a ação do atacante (ou do de- volvimento do processo de aprendizagem tática se
fensor), mas que não podem fazer gol, pois são constitui na apresentação de Jogos para Desenvolver
somente apoios (como era usado o meio-fio/guia a Inteligência Tática (JDIT). Nesses jogos, procura-
nas brincadeiras de futebol na rua). Os curingas -se a maior variedade de situações (táticas), oportu-
podem estar em locais fixos, dentro ou fora do nizando o aumento da capacidade de atenção (sua
campo (nas laterais, em espaços demarcados), ou amplitude e sua mudança rápida). São jogos que
seja, existem diferentes alternativas didáticas e exigem do participante seu pensamento divergente
metodológicas, sendo importante destacar que a e convergente, base da criatividade tática. É im-
função destes é auxiliar no transporte da bola da portante que existam situações de oposição, com o
equipe em ataque e na organização de ações táti- aumento gradativo de participantes, a variabilida-
cas. Essa intervenção é uma das características que de técnica e a diversidade de decisões (mais de um
diferencia a IEU-EB de outras propostas seme- alvo, diferentes formas de marcar ponto, com o pé,
lhantes.36,27,25 A ideia, o caráter e os objetivos do com a cabeça). Dessa forma, enfatiza-se a exigência
jogo não são alterados, mas o método de “deixar nos processos cognitivos. Um exemplo desses jo-
jogar” e de “aprender fazendo” são priorizados. gos pode ser as adaptações do jogo da velha na for-
Nos jogos orientados nas estruturas funcio- ma de estafetas, o jogo de “rouba bandeira” ou de
nais, as atividades permitem modificar: o espaço “Bente Altas”, como se conhece em Minas Gerais,
do jogo (largura + profundidade); o tamanho do ou “Taco” no Rio Grande do Sul etc.
248 Manual de Handebol

Para se complementar o processo de apren- Quadro 18.3 – Receptores de informação, fatores


dizagem tática, é necessário se oportunizar for- de pressão e características da motricidade
mas de desenvolvimento das capacidades moto- Receptores de
informação Fatores de Características
ras, ou seja, organizar a aprendizagem motora.
Analisadores pressão40 da Motricidade
Neste sentido, recomenda-se trabalhar os con- (percepção)40

teúdos relacionados com as capacidades coorde- Minimização do tempo


Visual Tempo ou maximização da
nativas e com as habilidades técnicas, conforme
velocidade.
alternativa a seguir.
É necessária a maior
Acústico Precisão
exatidão possível.

 Ensino-aprendizagem-treinamento das capaci- Devem ser resolvidas


Tátil Organização sequências de exigências
dades coordenativas:
sucessivas.
Apresenta-se a necessi-
Complexi-
Esta proposta apoia-se em pesquisa de Neu- Cinestésico dade de superação de
dade
exigências simultâneas.
maier e Mechling,40 na qual, para desenvolver a
Há necessidade de se su-
coordenação, é fundamental apresentar atividades
perar exigências ambien-
Variabilidade
e jogos nos quais se relacionem, simultaneamen- tais variáveis e situações
te, os receptores de informação (os sentidos) e a Vestibular diferentes.
(equilíbrio) Existe exigência de tipo
motricidade (a ação motora resultante), em con-
Carga físico-condicionais ou
dições de pressão. psíquicas.
Logo, os sentidos recebem informação do
ambiente (percepção) e nosso organismo deve
executar uma ação motora em resposta à situação A fórmula para o ensino-aprendizagem-trei-
apresentada. Essa resposta motora deve ser condi- namento das capacidades coordenativas consiste
cionada pelos mesmos elementos de dificuldade em se apresentar habilidades simples (com/sem
que se encontram presentes nas modalidades es- bola), relacioná-las com os elementos de pressão
portivas no momento de executar ações. São os da percepção, dos sentidos que procedem à recep-
denominados condicionantes da motricidade, ou ção da informação, e que a resposta motora a ser
fatores de pressão presentes em todas as modali- realizada seja colocada, também, em situação de
dades esportivas, de forma isolada ou em combi- pressão semelhante às que acontecem nas modali-
nações entre estes (Quadro 18.3). dades esportivas. O Quadro 18.4 apresenta exem-
plos dessa combinação na prática.
Métodos de ensIno no handebol 249

Quadro 18.4 – Exemplo de atividades para o ensino-aprendizagem-treinamento da coordenação


Pressão de organização
Lançar a bola para cima e pegá-la após um giro completo sobre o eixo longitudinal.
Circundução dos braços simultaneamente e em sentido contrário.
Andar paralelo a uma linha reta e, simultaneamente, cruzar os braços, abrir e fechar as pernas e pés.
Balançar-se acima de um banco sueco e conduzir uma bola.
Jogo da sombra com o colega quicando uma bola.
Dançar com bolas conforme a música.
Balançar-se acima de um banco sueco, lançar e pegar uma bola.
Analisador vestibular (equilíbrio)
250 Manual de Handebol

O segundo pilar que apoia o processo de técnicas”.29 Basicamente, devem ser oferecidos até
aprendizagem motora se caracteriza por apre- 10-12 anos de idade, ou seja, na categoria mini.
sentar, no ensino-aprendizagem-treinamento, um No quadro a seguir, são descritas as habili-
conjunto de parâmetros que, oferecidos em au- dades técnicas conforme comprovadas por Hoss-
las e treinos de forma sistematizada, permite o ner46 e reagrupadas por Kröger e Roth:29
desenvolvimento das denominadas “habilidades

Quadro 18.5 – Habilidades técnicas e seus objetivos


Habilidades técnicas Objetivos (definição e exemplo)
Organizar, regular e conduzir de forma precisa à direção de uma bola lançada,
Organização dos ângulos
chutada ou rebatida.
Controlar, conduzir, regular de forma precisa a força de uma bola lançada, chu-
Controle (regulação) da força
tada ou rebatida.
Determinar o momento espacial para passar, chutar ou rebater uma bola de forma
Determinar o tempo de passe e da bola
precisa.
Determinar linhas de corrida e tempo Determinar com precisão a direção e a velocidade de uma bola que é enviada na
da bola sua direção no momento de correr e pegar.
O importante é se oferecer, se preparar ou iniciar a condução de movimento no
Oferecer-se (preparar-se)
momento certo.
Determinar a correta direção e distância de uma bola passada, prevendo-a corre-
Antecipar a direção e distância do passe
tamente.
Antecipação da posição defensiva Antecipar, prever a real posição de um ou vários defensores.
Observar deslocamentos Perceber os movimentos, deslocamentos de um ou vários adversários.
Métodos de ensIno no handebol 251

No Quadro 18.6, apresenta-se um exemplo de


como podem ser desenvolvidos os parâmetros orga-
nização dos ângulos e controle da força, tendo como
referência um tipo de brincadeira com raquete.

Quadro 18.6 – Exemplo de atividades para a melhoria dos parâmetros organização dos ângulos e con-
trole da força (com base em Kröger e Roth)29
Parâmetros Atividade
Acertar a bola:
Dois alunos, um de cada lado de uma quadra de vôlei- peteca (rede mais baixa), um com
Controle da força
uma bola de tênis ou semelhante e uma raquete passará a bola por cima da rede.
Organização dos ângulos
O objetivo do colega que receberá e está com um bambolê é observar a bola enviada pelo
Antecipar a direção e distân-
colega do outro lado da rede, em que momento ela atinge seu ponto mais alto, calcular
cia do passe
onde cairá no próprio campo e lançar o bambolê no chão, no local onde a bola enviada
pelo colega quicará.
Variação: Os dois com raquete; quem recebe lança o bambolê e, sem perder a sequência, rebate a bola para o outro lado.
Nesse caso, teremos, também, o condicionante coordenativo pressão de tempo.
252 Manual de Handebol

No estágio de transição, a partir da etapa a resolver problemas, a entender “o que fazer?”


de orientação na categoria cadetes (14-16 anos), e “como fazer?”. Com base nos pressupostos de
inicia-se um trabalho de equilíbrio entre os pro- Bunker e Thorpe,25 é apresentado, na Figura 18.3,
cessos de aprendizagem incidental e aprendiza- o modelo que serve como parâmetro para o per-
gem intencional. Nessa faixa etária, o participante curso do aluno.
deseja jogar e aprender cada dia mais o handebol.
Começa não somente a jogar, mas deseja melho- Figura 18.3 – Modelo do Teaching Games for Unders-
rar, treinar, aprender, se superar... Neste momen- tanding (TGFU).25
to, iniciam-se os processos formais de ensino, e
pode-se recorrer ao ensino por meio da compre- No primeiro momento o aluno joga, o jogo
ensão. O ensino dos jogos por meio do TGFU é é apresentando ao aluno no espaço, com número
uma forma de transformar o que se pensa e aquilo de jogadores, bem como as regras apenas como
que se fala, “sobre” e “na própria” ação, em tudo modelo. O jogo deve ser adaptado e possuir ca-
que se expressa com o corpo, fornecendo, simul- racterísticas do modelo de handebol. Isso favorece
tânea e holisticamente, aprendizagem afetiva, ao aluno uma evolução na modalidade, por meio
social e física.42 O diferencial apresentado pelo da transferência do minijogo para o jogo formal,
TGFU se apresenta na ordem em que os conte- devendo ser adequado à idade e ao nível de expe-
údos táticos e técnicos são apresentados. Logo, é riência dos alunos.1
de crucial importância que o conhecimento tático Na segunda fase, na apreciação do jogo,
seja oferecido antes das habilidades técnicas. Es- apresenta-se um momento importante para que
tas são introduzidas no momento em que o aluno os iniciantes entendam as regras da atividade. Po-
entenda “o quando” e “o porquê” de utilizá-las.43 dem ser regras simplificadas, mas dando formato
Quando as crianças estão dialogando sobre qual ao jogo. Os praticantes devem sentir prazer du-
é a melhor resposta para o problema tático, elas rante o jogo, desenvolvendo o interesse na parti-
estão desenvolvendo estratégias coletivas, mas, cipação. As alterações nas regras, no tamanho do
também, confirmando a influência da abordagem campo e no tempo de jogo ocorrem com o objeti-
social construtivista. vo diversificar a capacidade tática.
O modelo inicialmente desenvolvido por Na terceira fase, da consciência tática, após
Bunker e Thorpe,25 autores considerados os ide- a participação no jogo é necessário maior enten-
alizadores do Teaching Games for Understanding dimento da tática utilizada durante o jogo. Com
(TGFU), também conhecido, em português, o objetivo de defender ou de atacar, as formas de
como modelo de aprendizado por meio da com- criar ou diminuir o espaço devem ser encontra-
preensão do jogo, é composto por seis fases. Em das, utilizando sempre da aproximação tática com
cada fase, o aluno será requisitado, gradualmente, outras modalidades e das alterações nas táticas,
Métodos de ensino no handebol 253

sendo estas flexíveis. É importante ressaltar que a sinais relevantes, o aluno decide qual a melhor
consciência tática deve conduzir o aluno ao reco- solução para o problema durante o momento no
nhecimento antecipado, isto é, fazê-lo prever os jogo. Assim, relacionando a situação-problema
pontos fracos do adversário.34 Em outros termos, com o “como fazer”, ainda na forma declarativa,
por meio do diálogo com os alunos, as possibi- sendo crítica a decisão a respeito de qual é o me-
lidades táticas são descobertas, desenvolvendo o lhor modo de fazer a resposta apropriada.34 Por
pensamento convergente, ou seja, quais as melho- exemplo, quando há grande espaço, mas o tempo
res alternativas, bem como o pensamento diver- é limitado, uma resposta rapidamente executada
gente, ou seja, dando visibilidade às várias opor- pode ser apropriada. Entretanto, quando o tempo
tunidades de atacar o adversário ou se defender é disponível, a exatidão se torna vital, podendo
dele, conforme a situação necessitar. Com essa ser necessário algum elemento de controle antes
consciência tática, o aluno consegue transferir o da execução.
conhecimento adquirido para outra modalidade, Na quinta fase, de habilidade de execução, a
facilitando o aprendizado. execução da habilidade é usada para descrever a
Na quarta fase, denominada tomada de de- execução do movimento requerido pelo professor,
cisão, deve-se considerar que, no jogo real, os jo- tendo como contexto a aprendizagem, embora re-
gadores têm frações de segundos para tomar de- conheça as limitações dos aprendizes.
cisões e não conseguem distinguir entre “o quê?” Na sexta fase do modelo, analisa-se o desem-
e “como fazer?”. Nessa abordagem, há uma dife- penho, isto é, o resultado observado dos processos
rença entre as decisões com base em “o que fa- prévios medidos sob critérios que são indepen-
zer?” e “como fazer?”, permitindo, assim, tanto ao dentes do aprender. Durante o jogo, adaptado ou
aluno quanto ao professor, reconhecer e atribuir não, exige-se da criança a solução dos problemas
deficiências na tomada de decisão.34 Nessa fase, encontrados nos jogos por meio da utilização e da
os alunos são confrontados com a resolução das realização de uma técnica apropriados à solução
questões citadas anteriormente, no sentido de de- da tarefa.
terminar significado ao uso da técnica em função No Teaching Games for Understanding, o alu-
dos problemas táticos que aparecem no jogo. Em no é considerado centro do processo; entretanto,
cada situação, tem de ser avaliado, durante a de- as experiências anteriores dos alunos não são con-
cisão, “o que fazer” e, assim, se complementa a sideradas importantes. Significa que, os pro-
habilidade de reconhecer as sugestões que o am- fessores devem considerar a relação entre os
biente fornece (envolvendo processos de atenção fatores cognitivo, comportamental e afetivo, e
seletiva, sugestão redundante, da percepção etc.) o ambiente selecionado para a aula e a influência
e predizer quais os resultados possíveis (envolven- de um fator no outro43 para que se possa obter um
do antecipação de vários tipos). Com base nos aprendizado satisfatório. A qualidade das questões
254 Manual de Handebol

a serem colocadas aos alunos no momento das de- nificação das atividades e sequência de jogos para
cisões táticas, isto é, no terceiro passo, são cruciais oportunizar que o iniciante aprenda sem saber que
para resolver os problemas táticos, do jogo. O pla- está aprendendo, que jogue, jogue e jogue...
nejamento que o professor realiza a partir dessa O estágio de formação inicia o processo de
situação deve ser parte constitutiva deste processo aproximação ao handebol, de forma geral e am-
de ensino aprendizado. Porém, o grande risco que pla, oportunizando jogos e o jogar handebol com
se apresenta hoje é que sem possuir conhecimento número reduzido de participantes como conteú-
apropriado sobre a estrutura tática do jogo, sem dos principais. No estágio de transição, particu-
base de conhecimento pedagógico e, também, dos larmente a partir da etapa de orientação, na cate-
princípios dos jogos, o professor será incapaz de goria cadete (14-16 anos de idade), apresenta-se
implantar esta abordagem.46 uma tendência ao equilíbrio entre os processos
incidentais de aprendizado e os processos formais-
-intencionais. Já são requisitados os métodos de
18.1 Em resumo ensino apoiados na compreensão tática. Neste
momento, a proposta do Teaching Games For Un-
O processo de aprendizagem tática apresen- derstanding (TGFU), ou seja, do aprender pela
ta-se concatenado com o treinamento tático e o compreensão, passa a ser enfatizada para otimizar
processo de aprendizagem motora, concatenado o processo de treinamento tático e técnico.
com o treinamento técnico. Para se chegar ao trei-
namento tático e técnico, é necessário passar pelos
estágios de aprendizagem tática motora e suas res-
pectivas etapas. O trabalho a ser apresentado nessas
etapas sempre priorizará o jogar antes do exercitar,
o jogo com oposição antes dos exercícios, e sem-
pre privilegiará as atividades de coordenação antes
do ensino da técnica. Os processos incidentais de
aprendizagem devem ser priorizados nas faixas
etárias iniciais. A aprendizagem incidental solicita
do professor muito conhecimento da modalida-
de e organização e planificação dos conteúdos do
processo de ensino-aprendizagem-treinamento,
ou seja, incidental para o aluno, como o aluno
aprende... Para o professor, significa elaborar um
processo de ensino intencional, uma adequada pla-
Siomara A. Silva

O ensino das regras do handebol:


19 da necessidade à compreensão

Nas diversas situações dos jogos esporti- dos obstáculos e dificuldades que se apresentam,
vos, quando um árbitro toma uma decisão (api- por um lado, para o árbitro na condução de uma
tando ou deixando a jogada seguir), sua ação partida e, por outro lado, para os jogadores na
apoia-se na interação de um processo de com- compreensão das decisões dos árbitros. A veloci-
paração entre dois polos: “pode ser” e “não pode dade de jogo, a utilização dos mesmos espaços, a
ser”. O gabarito de avaliação para estabelecer a busca de gols em situações de pressão de tempo,
comparação está contido nas regras do jogo.48 em espaços reduzidos, a luta pela posse da bola,
O trabalho do árbitro consiste, em toda situ- os contatos corporais na amplitude permitida
ação de jogo, em tomar decisões comparando pelas regras do jogo, entre outros, são parâme-
o que acontece neste (situação objetiva – real) tros que compõem e caracterizam as ações em
com o que ele carrega consigo de experiência, que os árbitros decidem no handebol.49 As situa-
fazendo de sua avaliação subjetiva o momento ções em que o árbitro deve analisar e decidir são
mais próximo possível do “real”. compostas de ações traçadas pelos atletas, que se
Segundo Bayer,36 os Jogos Esportivos Cole- ordenam no tempo (timing) e no espaço, pela
tivos (JEC) apresentam um conjunto de elemen- própria movimentação, considerando a ação do
tos comuns entre si, por exemplo: a bola, o espaço adversário direto, do colega, do adversário mais
(terreno de jogo com as zonas fixas e variáveis), os próximo, os outros componentes da equipe, do
objetivos (gols, cestas), as regras, os companheiros goleiro adversário e, se for o caso, o resultado
e os adversários. Os árbitros dos JEC representam da partida, entre outros parâmetros inerentes à
o agente que influencia e é influenciado pelo con- situação de jogo.5
texto situacional de grande complexidade.48 Este Na apresentação da ação humana, o espor-
agente é parte inerente do contexto esportivo e tista exprime suas emoções, pensamentos, senti-
suas decisões podem, muitas vezes, não ser com- mentos e atitudes intencionais por meio da ação.
preendidas pelos jogadores, público, treinadores, Nesse sentido, a ação passa a ser o meio de expres-
entre outros participantes do espetáculo. são de uma autoapresentação reflexa dos valores
A complexidade situacional presente nos internos, das normas e regras sociais que cada pes-
JEC, especialmente no handebol, constitui um soa traz consigo.1
252 Manual de Handebol

Uma pessoa só consegue perceber algo do Nome: fute-hande-rúgbi-bunda gol (jogo de criati-
qual ela tem conhecimento. Um jogador somente vidade e inteligência tática)
consegue aceitar que o árbitro apitou ou não pê- Objetivo: ensinar as regras (básicas) do handebol
nalti, por exemplo, se ele já traz consigo o concei- e desenvolver:
to, o conhecimento, a compreensão dos padrões
estabelecidos pelas regras do que é ou pode ser  capacidades coordenativas: pressão de
considerado pênalti. Por isso, o conhecimento faz tempo, pressão de organização.
parte (deve fazer), desde os primeiros momentos,  Habilidades técnicas: controle dos
da formação de um jogador (e também do árbi- ângulos, controle da força, observar
tro) que se considera como o alicerce fundamen- deslocamentos, antecipar posição dos
tal para sustentar toda sua carreira. defensores.
Para os professores e treinadores, além de  Capacidades táticas do handebol: orien-
constantes atualizações (que, no handebol, têm tação, leitura do jogo, tomada de de-
acontecido de 4 em 4 anos, sempre no ano se- cisão.
guinte aos jogos olímpicos), o ensino das regras,  Capacidades táticas básicas: acertar o
especialmente para os iniciantes, é uma tarefa alvo, transportar a bola, jogo coletivo,
muito importante e que contribui para compre- criar superioridade numérica, reco-
ensão da lógica do jogo, não somente regulamen- nhecer espaços, oferecer se orientar,
tar, bem como técnica e taticamente falando. sair da marcação.6-8
Portanto, o professor recorre à criação de jogos
em que os alunos possam experimentar situações Material: uma bola.
comuns e nos quais as ações não se desenvolvem e Descrição: joga-se em um campo onde os gols são
nem proporcionam prazer, se não tiverem regras. convertidos em qualquer setor da linha de fundo.
Regras são necessárias para o andamento do jogo, Duas equipes procuram fazer o ponto/gol jogan-
devendo traduzi-lo. Regras ensinam e conduzem do, com a bunda, a bola atrás da linha de fun-
a comportamentos para além dos esportes. Esse do, seja por meio de autopasse (1 ponto) ou do
é um dos desafios dos professores e treinadores passe de um colega (2 pontos), o passe-bunda. A
que se propõem a ensinar crianças e jovens a jogar bola pode ser conduzida com o pé (fute), driblada
bola e, por meio do jogo de bola, compreender o com a mão (hande), passada ou carregada (rúgbi).
jogo da vida. Quando a bola estiver sendo conduzida com os
Buscando contribuir para esse desafio dos pro- pés, somente quem a conduz pode pegá-la com
fissionais de Educação Física, este aporte propõe o as mãos, para evitar que um colega chute o outro.
ensino das regras do handebol através do fute-hande- O número de jogadores e o tempo de jogo podem
-rúgbi-bunda gol.6 O jogo é assim descrito: variar conforme a motivação do grupo.
O ensino das regras do handebol 253

Essas devem ser as instruções básicas a serem ções para criarem/aprenderem a se esquivar, sair
dadas para o início do jogo. O professor executa a da marcação e princípios das fintas. O professor
saída da bola com o extinto “tiro de árbitro” (saída deve estimular essas ações caso os alunos não as
do basquetebol) no centro da quadra. Desse mo- executem naturalmente.
mento em diante, as situações que acontecerem
devem ser conduzidas pelo professor à construção  Reposição da bola – quando acontece um dos
das regras, pela necessidade de continuar e evo- atos mencionados, o jogo deve reiniciar com a
luir o jogo. Seguirei com exemplos de situações cobrança de uma falta (Regra XII - Tiro Livre)
que normalmente acontecem nesse processo e de
como podemos ensinar as regras do handebol9 Nessa reposição, bem como na saída da bola
por meio dessas situações, e, com elas, as regras de pela lateral da quadra ou na saída no meio da qua-
comportamentos sociais e técnico-táticos. dra após um ponto (gol) sofrido, todos os jogado-
res da equipe adversária devem deixar o jogador
 Defensores sem ação – os jogadores da defesa que executara a reposição da bola em jogo fazê-la
na busca da posse da bola começam a agar- com liberdade. Para isso, os adversários devem
rar, empurrar, segurar, enfim, cometer faltas manter-se a, no mínimo, três metros de distância
e condutas antidesportivas (Regra VIII – Fal- de quem estiver com a bola (Regra XV – Instru-
tas e Conduta Antidesportiva). ções Gerais para a Execução dos Tiros). No exem-
plo da retomada da bola e pontuar o defensor ou
Os defensores podem obter a bola, seja in- a equipe em defesa, o jogo reinicia com um tiro
terceptando passes dos adversários ou quando, de livre no local da ação de infração.
frente ao atacante, colocam as duas mãos nos om-
bros do jogador que está de posse da bola. Nesse  Transporte da bola
caso, também marcam ponto para sua equipe, o
que significa valorizar a correta ação defensiva! Nas regras básicas do jogo, não há impedi-
Com essa “regra”, os alunos da defesa aprendem mentos no transporte da bola. Se o professor de-
a posição básica defensiva, aprendem a chegar an- sejar utilizar das regras do rúgbi, deverá instruir
tes da primeira ação do atacante, evitando entrar os alunos a passarem a bola com a mão somente
em contato com o adversário de lado ou por trás, para o colega que estiver atrás ou na mesma li-
o chamado “chegar tarde”. Quando o defensor nha da bola no sentido do ataque. Assim, a bola
“chega tarde” no contato com o atacante, existe poderá ser carregada por toda quadra, atitude
grande probabilidade de uma falta geradora de considerada infração no handebol e que torna
punição, estando o atacante em progressão. Essa o fute-hande-rugby-bunda gol um jogo que favo-
“regra” também proporciona aos atacantes situa- rece os mais velozes. Para construir esse jogo na
254 Manual de Handebol

direção das regras do handebol, quando, mais de te aporte, as linhas de fundo e as laterais devem
uma vez, os jogadores marcarem o ponto depois ser reconhecidas como limitadoras do espaço de
de terem transportado a bola como no rúgbi, im- jogo, e seus prolongamentos se estendem até o
possibilitando a defesa de lutar pela posse da bola teto do ginásio. Portanto, se a bola ultrapassar es-
sem cometer faltas, o professor deverá mostrar a sas linhas, em contato com o solo ou no ar, deve
necessidade das regras dos três passos e do drible ser considerada fora de jogo (Regra I – A quadra
para o transporte da bola (Regra VII – O Manejo de jogo). Diferentemente das linhas limítrofes das
da Bola, Jogo Passivo). Isso faz que o jogo tenha, áreas de gol, das áreas de tiro livre (vulgarmente
no ataque e na defesa, possibilidades de conquis- chamada de pontilhada), as linhas de tiro de sete
tar a posse da bola. O drible da bola, somente de- metros, de limitação do goleiro e do centro da
pois de executar os três passos, é indicado para quadra somente limitam o espaço do solo onde
evitar que os alunos driblem antes dessa regra, ato estão marcadas. Assim, na construção das nossas
que dificulta o aprendizado e a utilização das fin- regras de jogo, o espaço onde se consigna o pon-
tas em progressão e, principalmente, a percepção to deve ser modificado para uma área menor, que
das alterações das situações de jogo. Assim, o pas- pode ser a própria área de gol e/ou vários círculos
se da bola poderá ser executado para o colega que desenhados (ou bambolês) próximos à linha de
estiver na frente em direção ao ataque. fundo. A maneira (técnica) de fazer o gol tam-
Ainda propondo variações das regras do bém deve ser modificada, por exemplo, fazer gol
nosso jogo para construir as regras do handebol, com a cabeça, com o pé, com diferentes partes do
o passe também pode ser limitado a ser executado corpo, com pontuação diferente ou não. Estabe-
após um colega passar (cruzar) por trás do pas- lecida essa modificação, o professor deve observar
sador. A equipe que conseguir essa variação ga- o jogo e coibir as invasões de área, mas sempre
nha 1 ponto a cada “cruzamento” (ação tática de estimulando com pontos extras (como no hande-
grupo) realizada. Essa regra pode ser acrescida de bol de praia – beach handball) os gols realizados
outras exigências que estimulem o comportamen- no espaço aéreo da área determinada. Essa regra
to tático-técnico, como os descrito no capítulo de estimula o lançamento em suspensão e a ponte aé-
metodologia do ensino do handebol. rea, principalmente. Na continuidade dessa nova
regra, as invasões devem ser com um tiro cobrado
 Os pontos (gol) de dentro do espaço de realização do gol/ponto
(Regra XII – O Tiro de Meta).
O ponto, basicamente, é obtido com o en- Ainda na continuidade da construção dessas
vio da bola para depois da linha de fundo com a últimas regras, no espaço reservado para obter o
bunda – 1 ponto autopasse e 2 pontos para pas- gol, ainda não temos quem possa evitar que esse
se de um colega. Para o processo proposto nes- gol seja consignado. Para estimular a formação do
O ensino das regras do handebol 255

goleiro (Regra V – O Goleiro), de forma inciden- o professor/árbitro apitar, um dos atacantes com
tal, deve ser colocada a regra que após, somente a bola em mãos dá o passe para o colega fazer o
após a bola ter sido enviada para a área de gol, um bunda-gol (ou outra maneira diferente que tenha
jogador da defesa pode entrar na área, evitando um sentido lúdico para os alunos ou, até mesmo,
que a bola quique duas vezes no solo da área de mais tático-técnico, como a ponte aérea, em ida-
gol, defendendo, assim, a meta. Assim, o gol só des adequadas a essa difícil ação). Somente depois
será valido se a bola quicar duas vezes ou mais ve- do passe, o goleiro pode sair de trás da linha dos 9
zes no solo da área de meta. Na reposição de bola metros (tracejada) para a defesa.
desse ponto/gol, deve ser introduzida saída rápida No handebol, constitui-se um mito que
no centro da quadra (Regra X – O Tiro de Saída). toda falta de 7 metros deve ser acompanhada de
punições. As regras não sustentam isso. O que há
 Fazer fracassar uma clara chance de gol nas regras são punições (Regra XVI – Punições)
direcionadas a coibir atitudes que não visem à
Na introdução da área de gol e da função de bola e que, principalmente, não preservem a in-
um goleiro, pode haver situações para que a defe- tegridade física do jogador. Essas atitudes devem
sa ou mesmo quem vai atuar como goleiro evite ser punidas progressivamente. A progressividade
uma clara chance de ponto/gol no momento do das regras das punições do handebol estabelece
envio da bola para a meta ou mesmo, no nosso um caráter pedagógico muito positivo, que deve
jogo, antes do segundo quique da bola na meta. ser aproveitado pelo professor nos momentos de
Por exemplo, dois jogadores da defesa entram na estabelecer limites de tolerância de comporta-
área, impedem ou, até mesmo, dificultam de ma- mentos inadequados dos jogadores/alunos em sua
neira inadequada o envio da bola para o gol Nes- aula. Assim, o professor pode, juntamente com
sas situações, o professor, que já é percebido pelos a turma, definir que punição deve ser aplicada a
jogadores como árbitro (Regra XVII – Os Árbi- cada atitude que não conduz ao bom andamento
tros), deve construir o sentido do chamado, no do jogo.
futebol, pênalti. Em nosso processo de construção
por meio da necessidade das regras para o jogo  Tempo de jogo e jogadores
de handebol, será a cobrança do tiro de sete me-
tros (Regra XIV – O Tiro de Sete Metros). Este Em uma aula/treino, a duração do jogo é
conceito pode ser desenvolvido juntamente com sempre controlada pelo professor que mede esse
o sentido da existência da linha de tiro livre (linha tempo com os objetivos e motivação da própria
tracejada ou linha de 9 metros): o goleiro deve aula/treino, da mesma forma que o número de
ficar a três metros de distância de dois atacantes, jogadores em cada espaço de jogo. No fute-
que devem estar junto à linha da área. Quando -hande-rúgbi-bunda gol, o número de jogadores
256 Manual de Handebol

inicialmente pode ser o total de alunos da tur- como também pode ser conduzido para o ensino
ma dividida em duas equipes. Progressivamente, das regras do futsal, do rúgbi e das regras sócias
o professor deve determinar as áreas e regras do que o esporte proporciona.
handebol, como também adequar o número de Regras são limitadoras, mas traçam com-
jogadores (Regra IV – A Equipe) e a duração das portamentos adequados a uma realidade. Como
partidas (Regra II – A Duração das Partidas). A bem diz um famoso comentarista, um ex-árbi-
duração da partida pode ser, no decorrer do pro- tro, como a autora deste aporte, “a regra é clara”.
cesso de construção das regras e do jogo de han- Mas essa clareza só existe para quem tem conhe-
debol, controlada por uma dupla de alunos que, cimento dela.
por exemplo, naquele dia não podem participar Para se ensinar esporte, é necessário conhecê-lo!
ou estão aguardando sua vez. Um controla o tem-
po de jogo e o outro anota quem fez os pontos/
gols e as punições (Regra XVII – Secretário e Cro-
nometrista). Se precisar de grupos de sete jogadores,
teremos dois árbitros, três membros da mesa e mais
dois participantes controlando os bancos de suplentes
e o tempo de exclusões. Desta forma, estar-se-ia jo-
gando com três equipes, realizando-se um sistema
de rodízio.
Do jogo fute-hande-rúgbi-bunda gol ao han-
debol, existe um longo caminho. As regras do jogo
aqui tratado podem ser modificadas e alteradas a
qualquer momento para satisfazer o processo de
ensino-aprendizagem. Mas as regras do handebol,
não! Essas são mundiais e únicas para todas as ida-
des e sexos (com a adequação do tamanho da bola
somente) e todos os níveis de competições em
qualquer parte do mundo. Handebol é handebol
pelas características das regras que o compõem.
Existe o jogo de handebol adaptado a pessoas
com deficiências e aos menores, o mini-handebol.
Existem vários jogos direcionados ao ensino do
handebol. O fute-hande-rugby-bunda gol foi o
escolhido para o ensino das regras do handebol,
Cláudia Monteiro do Nascimento, Philipe Guedes Matos, Antônio Alberto de Lara Júnior

Proposta de um processo pedagógico de


20 aprendizagem do handebol de areia

20.1 Introdução nal”.26 Em todas as etapas do processo de ensino-


-aprendizagem, são respeitadas as características
O processo pedagógico de aprendizagem do físicas, cinestésicas, percepto-cognitivo e socioe-
handebol de areia descrito neste capítulo conside- mocional dos alunos.
ra os aspectos específicos da modalidade relacio- Assim, a proposta oportuniza que os profes-
nados ao desempenho físico, o desenvolvimento sores de Educação Física considerem a importân-
motor, as etapas de aprendizagem motora e os cia do ensino do handebol de areia na escola, as
métodos de ensino utilizados na Educação Física características e qualidades dessa modalidade na
escolar, que se baseiam nos PCNs do Brasil. formação do cidadão. Outro fator importante
O processo pedagógico foi dividido em cin- vale por ser o handebol de praia um esporte in-
co etapas, podendo ser executado em sequência, clusivo. Assim, segundo Nascimento,51 nesta mo-
porém não rigorosa. O professor pode aplicar e dalidade “se privilegia o raciocínio rápido, bem
combinar atividades de diferentes etapas, desde como a facilidade de tomada de decisão”.
que seu objetivo seja reforçar ou consolidar o
aprendizado da etapa atual. Todas as etapas res-
peitam uma ordenação do mais simples ao mais 20.2 O processo pedagógico de apren-
complexo, iniciando com o método de aprendiza- dizagem do handebol de areia
gem global para o método analítico sintético que,
segundo Reis, apud Damasceno,50 é “aquele em O processo inicia na etapa de adaptação,
que o professor parte dos fundamentos do jogo, quando o aluno procura se adaptar à modalidade,
como partes isoladas, e, somente após o domínio principalmente ao solo, que é a areia. Nesta etapa,
de cada um dos fundamentos, o jogo propria- atividades com jogos de desenvolvimento da inte-
mente dito é desenvolvido”. No método global, ligência tática21 e jogos pré-desportivos tornam-se
pelo contrário, são aplicados “cursos de jogos, que essenciais para a motivação, despertando o inte-
partem da simplificação de jogos esportivos de resse pela modalidade. O conceito é jogar para
acordo com a idade, por meio de um aumento de aprender e aprender jogando. No handebol de
dificuldades na formação de jogos até o jogo fi- praia o aluno necessita realizar inúmeras habilida-
258 Manual de Handebol

des motoras, tais como correr em várias direções, dizagem tática incidental (por meio de jogos) e
realizar saltos verticais e horizontais e arremessos, de exercícios específicos para a melhora da técnica
passar receber, orientar-se no espaço. Devem-se individual.
proporcionar jogos que incorporem a lógica do Na etapa de estruturação organizacional, pas-
jogo de handebol de praia: acertar o alvo (com sam a ser importantes os aspectos táticos específicos
jogos de pontaria com e sem goleiro), transportar do handebol de areia. O aluno já se adaptou ao solo,
a bola do jogo em conjunto (com jogos de pas- já domina as habilidades motoras da modalidade
se), criar superioridade numérica (jogos de perse- e já tem jogado, de forma variada, diferentes jogos
guição e de organização no espaço), oferecer-se a que permitiram a compreensão da lógica do jogo
orientar e de sair da marcação (jogos com marca- de handebol de areia. Torna-se, assim, importante
ção individual, de perseguição de troca de direção estruturar taticamente o jogo para que o aprendiz
e de velocidade), superar o adversário (jogos com tome decisões táticas durante uma partida.
fintas com bola). Atividades como essas estimu- Iniciar o processo de ensino-aprendizado
lam o aprendiz e fazem que ele se adapte à areia e pelas táticas ofensivas é mais prazeroso ao aluno,
ao espaço delimitado do jogo. O professor deve, pois ele chegará ao objetivo principal do jogo,
constantemente, realizar avaliações em relação à que é fazer pontos. No momento em que for en-
fase de desenvolvimento motor e técnico-tático sinada a tática ofensiva, as habilidades motoras
do aprendiz, verificando o estágio em que se en- (passe, recepção, arremesso etc.) já apresentam
contra, podendo, assim, avançar para o ensino das um nível de domínio especializado, que, nesta
técnicas que são exigências do jogo de handebol etapa de estruturação organizacional, será ne-
de praia. cessário, pois se pode dizer que é uma etapa de
A próxima etapa denomina-se de coordena- objetividade das habilidades aprendidas até en-
ção essencial; aqui, o aluno, por meio dos jogos, já tão, que se manifestam nas decisões táticas que o
se adaptou à areia e consegue realizar as habilida- aprendiz toma no jogo.
des motoras do handebol (passar, receber, lançar) Dentro da tática ofensiva, o aluno deve
sem restrições em relação ao solo. As habilida- posicionar-se na quadra e movimentar-se de
des motoras específicas do handebol de areia se forma objetiva. Existem algumas movimenta-
assemelham às do handebol de quadra. Assim o ções ofensivas que devem ser aprendidas, entre
aluno, agora para se sentir motivado à prática do estas o engajamento, o cruzamento e a permuta.
esporte, tem de consolidar sua aprendizagem dos De preferência, essas movimentações se desen-
gestos técnicos também trabalhados no handebol volvem utilizando o sistema ofensivo 3:1 para,
de quadra, sendo necessária a transferência delas posteriormente, usar os sistemas 4:0, 2:2 e 3:0,
ao tipo de solo. Essa é uma fase mais analítica, o que facilitará as ações ofensivas durante uma
na qual se apresenta um equilíbrio entre a apren- partida, conforme a Figura 20.1.
Proposta de um processo pedagógico de aprendizagem do handebol de areia 259

3:1 4:0 2:2 3:0

Figura 20.1 – Ilustração dos sistemas ofensivos 3:1, 4:0, 2;2 e 3:0 no handebol de areia.

No aprendizado das táticas defensivas, Jogos de perseguição e de antecipação


o aluno necessita, principalmente, de ter vi- de posição, em que o aluno tenha de se movi-
venciado, na etapa de adaptação, situações de mentar para impedir que o adversário chegue
marcação individual, para poder relembrar as a lugar determinado, podem facilitar a apren-
movimentações que lhe permitirão uma obje- dizagem. No entanto, situações mais próximas
tividade maior dentro das táticas defensivas. do jogo devem tornar o aprendizado da defesa
No handebol de areia, deve-se ensinar o alu- mais concreto. Inicialmente, devem-se utilizar
no a marcar a movimentação do atacante, suas sistemas defensivos mais simples, como o 3:0
possíveis trajetórias, de forma a não ter contato e, assim, partir para o 2:1 e o 1:2, conforme
físico direto com ele. Figura 20.2.

3:0 2:1 1:2

Figura 20.2 – Ilustração dos sistemas defensivos 3:0, 2:1 e 1:2 no handebol de areia.
260 Manual de Handebol

Nesta etapa, é fundamental a troca de in- bro inferior, de dominância similar ao


formações entre o professor e o aluno, pois, no membro superior de arremesso.
jogo, existe uma constante inferioridade numé-  Padrão nº 2: Arremesso sem apoio com
rica defensiva, já que são quatro atacantes con- giro de 360º e impulsão do membro
tra três defensores, e o espaço a deixar vago aos inferior, de dominância contrária ao
atacantes deve, de preferência, estar nas laterais membro superior de arremesso.
da quadra, e somente quando não se tem como  Padrão nº 3: Arremesso sem apoio
marcá-los. Há necessidade, também, de marcar com giro de 360º e impulsão dos
com maior atenção o goleiro atacante, pois seu membros inferiores paralelos.
gol vale dois pontos.
Outro fator importante nessa etapa são as Seguindo esses padrões, o processo de apren-
substituições, uma constante nesse esporte, e, dizado do arremesso sem apoio com giro de 360º
principalmente, ensinar como e onde os goleiros subdivide-se em três fases. Essa técnica de lança-
devem sair e entrar na quadra, detalhe importante mento específica do handebol de praia deve ser
para o bom desempenho de uma equipe. trabalhada de acordo com o conhecimento mo-
A partir de todas essas etapas, o aluno terá evo- tor do aluno, de forma que ele se sinta seguro e
luído em sua forma de jogar o handebol de areia, consiga desempenhá-la de forma satisfatória. No
mas não terá aprendido todo o esporte. Assim, con- momento inicial (1º padrão), o salto vertical deve
tinua-se o processo com a etapa de coordenação espe- acontecer com uma rotação medial do quadril,
cializada, que objetiva desenvolver habilidades mo- para que o aluno realize o giro com maior faci-
toras específicas necessárias ao melhor desempenho lidade. Em todos os três padrões, deve-se priori-
técnico. Dessas habilidades, fazem parte o arremesso zar que o aluno inicie o movimento sem bola em
sem apoio com giro de 360º e o arremesso aéreo – ponte deslocamento, após contadas as passadas, e, por
aérea, que são denominados gols espetaculares, con- fim, utilizando a bola. É claro que, se observado
cedendo dois pontos à equipe. Em consequência um aprendiz que apresente maiores dificuldades,
dessas características do jogo, o professor deverá dar o professor oportunizará sequências diferentes,
uma maior ênfase a esses aspectos nessa etapa. Com respeitando a individualidade e as limitações que
relação à defesa, o bloqueio defensivo também solicita cada um pode apresentar no decorrer do aprendi-
um trabalho específico. zado. Para o 2º padrão, considerando a mesma se-
O arremesso sem apoio com giro de 360º tem quência de aprendizagem, deve-se orientar o alu-
três padrões de realização segundo Lara e Matos:61 no para se impulsionar com uma rotação lateral
do quadril, que também facilitará o momento de
 Padrão nº 1: Arremesso sem apoio realização do giro. No 3º padrão, o professor deve
com giro de 360º e impulsão do mem- ainda transmitir a mesma sequência apresentada
Proposta de um processo pedagógico de aprendizagem do handebol de areia 261

nos outros padrões e observar que a impulsão seja dificuldade de aprendizado do arremesso com aérea
feita com os dos membros inferiores ao mesmo é o tempo de bola. O aluno deve ter boa organização
tempo, exigindo maior potência para a impulsão. espacial e temporal, saber o momento de realizar o
Como facilitação, uma informação importante salto, o momento de pegar a bola e, ainda, ter tempo
consiste em que, no momento da segunda passa- de realizar o arremesso antes da queda. O arremes-
da, o aluno realize um pequeno salto para unir os so com aérea depende de outra habilidade motora
membros inferiores seguido do salto vertical com do colega, o passe, pois é por meio dele que o arre-
giro de 360º. messo com aérea pode ser com passe direto ou com
passe parabólico.
Metodologicamente, o professor pode iniciar
União dos MMII, e Salto Vertical
com Giro de 360º
o arremesso com aérea e com passe direto, por se
tornar mais fácil a recepção de quem vai realizar o
arremesso. Assim, o aluno terá mais tempo para ana-
lisar, com mais precisão, o espaço e o tempo em que
a bola se desloca. O aluno toma conhecimento de
2ª passada e pequeno salto
quando deve saltar; se a bola virá em uma velocidade
mais rápida, ele poderá deslocar-se quase ao mesmo
tempo que o companheiro realiza o passe.
Atividades em que o aprendiz tem de pegar a
1ª passada bola, o mais alto possível, auxiliam no aprendizado
dessa habilidade motora, pois facilitam a aquisição
de noções da sua capacidade de impulsão e, tam-
Figura 20.3 – Ilustração das passadas no 3º padrão. bém, do peso da bola, se for realizar o passe, já que
o arremesso com aérea acontece de forma coletiva.
Ressaltando a importância dessa técnica Para o aprendizado do arremesso com aérea e
específica do handebol de areia, podemos desta- com passe parabólico, existe uma variação espaço-
car um dos dados encontrados na pesquisa de Lara temporal em que o aluno terá de adaptar sua corrida
Júnior e Matos:53 “Em 2006, no mundial realizado e saber o momento da impulsão. O jogador deve
no Brasil, a seleção brasileira masculina apresentou, esperar o passe e ver o momento do salto para pegar
aproximadamente, 20% dos gols espetaculares ori- a bola em tempo de realizar o arremesso.
ginados do arremesso sem apoio com giro de 360º.” Criar situações em que o aluno saia de uma
Para o arremesso na ponte aérea, o aluno pre- posição estática e realize o salto vertical e trabalhe si-
cisa de boa impulsão e já deve ter a habilidade do tuações em que ele tenha uma velocidade horizontal
arremesso coordenado com as passadas. A grande para realizar o salto vertical facilitam a sua apren-
262 Manual de Handebol

dizagem. Nessa habilidade, a bola é determinante; devem-se conhecer as possíveis dificuldades que se
então, não é possível realizar trabalhos sem bola. apresentarão para que o aprendiz atinja o objetivo.
Outra habilidade a ser ensinada nesta etapa é o As etapas sugeridas descrevem uma sistematização e
bloqueio defensivo, em que o aluno pode usar o espaço uma sequência metodológica, que o professor deve-
aéreo da área para bloquear o arremesso do adversário, rá adaptar à sua realidade, ao nível de experiência e à
e essa ação não é permitida no handebol de quadra. motivação dos seus alunos. Aprender e evoluir neste
Enfim, o aluno estará pronto para a etapa do e em qualquer esporte é uma necessidade para quem
jogo estruturado. Aqui, o professor continuará uti- deseja chegar ao profissionalismo.
lizando jogos pré-desportivos e, principalmente, O respeito às características do desenvolvi-
pequenos jogos, ataque contra defesa, chegando mento (motor, social, psicológico etc.) da criança
ao jogo de handebol de areia. são fundamentais em todo processo de aprendi-
No jogo estruturado, o aluno já conhece as zado. O professor transfere seu conhecimento da
movimentações táticas dentro das dimensões da modalidade, sempre atento às sugestões e vivên-
quadra, já domina as coordenações técnicas essen- cias dos seus alunos. Essa relação entre o espor-
ciais, conhece a lógica do jogo, seus mecanismos, te e o desenvolvimento da criança deve estar em
como atacar e defender, desenvolveu as técnicas evidência em todas as aulas de Educação Física,
específicas e agora, finalmente, jogará de forma visando à formação da personalidade do aprendiz.
estruturada taticamente o handebol de areia. Enfim, o processo de ensino de aprendizagem
do handebol de areia atrai a prática da modalidade
por ser uma novidade para os iniciantes, pelo seu
20.4 Conclusão caráter “espetacular”, que encanta os praticantes,
pela sua dinâmica de jogo e pela valorização da in-
No processo de aprendizagem do handebol de clusão, pois todos os alunos, independentemente
areia, como em todo caminho para aprendizagem, de sua biotipologia, podem jogar e se divertir.

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Professores de Handebol: das instituições
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a detecção do talento esPortIvo no handebol 267

Parte VII
Parâmetros de análise
de rendimento
Juan J. Fernández Romero, Helena Vila, Randeantoni do Nascimento

21 A detecção do talento esportivo no handebol

21.1 Introdução perspectiva científica na busca da excelência, este


se pode dividir (desdobrar) em quatro etapas
A possibilidade de encontrar sujeitos com principais: “Detecção de talentos”, Identificação
possibilidade de alcançar altos níveis de rendimen- de talentos”, “Desenvolvimento de talentos” e
to (postos), com posse de um talento específico que “Seleção de talentos”.13,14
os permita avançar, com êxito, em uma determi- A “detecção de talento” se refere ao desco-
nada área, tem ocupado o tempo e a dedicação de brimento dos possíveis intérpretes ou executantes
inúmeras investigações desde os anos 1970. que, atualmente, não participam do esporte em
As elevadas exigências do esporte de com- questão.12 A “identificação de talento” se refere ao
petição, atualmente, nos servem como ponto de processo de reconhecimento de jovens jogadores
partida para o planejamento de um processo de com potencial para se converter em jogadores de
detecção e seleção de possíveis talentos esportivos elite (alto rendimento ou esporte profissional),
e o treinamento desde a infância (ou fase infantil) o que implica o “desenvolvimento do talento”
até a juventude (ou fase juvenil). que esses jogadores possuem em um ambiente
São múltiplas as tentativas de definir o adequado de aprendizagem e recursos econômi-
“talento esportivo”.1-11 Uma definição básica de cos, sociais, psicológicos, entre outros, para que
identificação de talento se encontra no reconhe- tenham a oportunidade de concretizar esse po-
cimento de um dote natural ou na capacidade de tencial.15 Por último, a “seleção de talento” im-
uma qualidade superior. No entanto, a identifi- plica o decorrer do processo de identificação dos
cação de um talento no esporte é multifacetado e jogadores em diversas etapas que demonstram um
complexo. O talento no esporte se identifica por requisito prévio em alguns níveis de rendimento
características que são, ao menos, uma parte de para inclusão em equipes de seleção.12
carga genética, outra da influência do meio am- Associações esportivas nacionais, frequen-
biente e outra, ainda, de condições difíceis de de- temente, tentam identificar jovens atletas que
terminar com precisão. tenham maior probabilidade de êxito na moda-
Em uma revisão investigativa sobre o talen- lidade em altos níveis de rendimento. A identi-
to, Williams e Reilly12 declaram que, desde uma ficação de talentos oferece aos jovens esportistas
270 Manual de Handebol

oportunidades de alcançar o alto rendimento es-  Seleção científica, ativa ou sistemática:


portivo, por meio do apoio adicional para uma baseia-se na identificação de talentos
participação com base no esporte. Todavia, críti- em idades menores e sua posterior
cos do elitismo no esporte de base sustentam que orientação e seleção para modalidades
os modelos existentes para a identificação do ta- nas quais podem alcançar um alto ní-
lento esportivo são “baixos” preditores do êxito e, vel de rendimento.
simplesmente, servem para dissuadir ou dividir os
jovens e os participantes em selecionáveis e não A seleção de talentos esportivos se produz
selecionáveis. por meio de ambos os métodos, apesar de que
Laguna e Torrescusa16 expressam, nesse sen- não é menos certo que as exigências de determi-
tido, que “o problema real não é somente detectar nadas especialidades nos levem irredutivelmente
indivíduos com capacidades para o alto rendi- à seleção científica, em especial em esportes fun-
mento, mas, também, identificar, em uma idade damentalmente individuais, nos quais as carac-
precoce, os esportistas que, no futuro, podem terísticas morfológicas e funcionais do esportista
chegar a ter um rendimento superior aos demais”, são absolutamente determinadas para um elevado
fazendo referência que no “esporte atual, não se rendimento.
pode ser competitivo se não se acumular grande Hoje em dia, ainda podemos encontrar fu-
quantidade de trabalho, por melhores condições tebolistas, jogadores de basquete ou handebol que
naturais que se tenham”. Existem autores que saem dos estereótipos potenciais de rendimento,
apontam para a existência de uma “regra dos 10 mas, dificilmente, encontraremos atletas, ginastas
anos” de prática deliberada, considerados necessá- ou nadadores que não apresentem características
rios para alcançar o grau de expertise.17,18 morfofuncionais e psicocinéticas, a priori, ótimas.
Centrando-se na seleção científica, o primei-
ro passo para levá-la adiante é determinar os crité-
21.2 Metódos de detecção de talentos rios para a detecção de talento.
Existem numerosos estudos a respeito, ape-
Na atualidade, podemos dizer que existem, sar de ser difícil falar de critérios de seleção de
fundamentalmente, dois grandes métodos para a rendimento nos esportes, pois o principal pro-
seleção do talento esportivo:4,5,7-9 blema é, precisamente, que as provas sejam “su-
ficientemente válidas”, porque, segundo Gutiér-
 Seleção natural ou passiva: baseia-se na rez,8 “faltam estudos experimentais longitudinais
obtenção de talentos de forma natu- sérios que nos demonstrem com clareza que de-
ral, por azar, em base a uma grande terminados aspectos de fácil estudo são critérios
massa de população de esportistas. confiáveis (dignos) na identificação de talentos”.
A detecção do talento esportivo no handebol 271

É necessário, pois, determinar como iden- ou o ambiente do esportista é a causadora de seu


tificar a aptidão física favorável para uma prova e êxito, mas tratar de determinar que classes de in-
como medi-la, ao mesmo tempo que se estudam terações se produzem entre ambos os aspectos e
os resultados em médio e longo prazo. como essa relação condiciona o desenvolvimento
Pode-se falar em dois grandes paradigmas do atleta.19,20
para a busca do talento; de forma resumida, po- Também existem estudos que tratam da bus-
de-se observar que a metodologia de investigação ca do talento em uma perspectiva multidimensio-
clássica na detecção de talentos, de cima para bai- nal, tentando valorizar diferentes características
xo (top-down) (paradigma quantitativo), ou seja, a dos esportistas e descobrir e quantificar aqueles
que considera os melhores atletas como marco re- fatores que representam maior “peso” para sua de-
ferencial para realizar uma valorização de aptidão tecção.21-26
e estabelecer baterias de testes adequados e depois Nos últimos anos, tem-se empurrado com
aplicá-los aos jovens para detectá-los o mais cedo força uma corrente na qual os termos “talento”
possível, está sendo substituída por uma nova e “detecção de talento” estão sendo trocados
orientação. em termos conceituais e de interpretação práti-
Outra nova orientação metodológica pro- ca. Considera-se mais correto falar de jogadores
põe fazer a análise ao contrário, de baixo para “experts”.27-29 Esse conceito é dinâmico, no qual
cima (botton-up) (paradigma qualitativo), ou seja, se valoriza o processo final em que se exige um
tendo em conta os atletas de elite que se destaca- rendimento. Toma-se como ponto de partida
ram em seu rendimento, analisar o processo de que o esportista tenha algumas qualidades cine-
formação (que é o que tem sido feito) para poder antropométricas, condicionais, técnico-táticas e
encontrar variáveis críticas que estabelecem as di- psicológicas aptas para o rendimento esportivo,
ferenças entre os distintos esportistas. Essa nova mas prevalece sobre estas o próprio processo de
análise se pode fazer, por sua vez, diante de duas treinamento e formação na modalidade concreta
perspectivas: analisando a formação de jogadores ao longo da vida de esportista do sujeito.4
que tenham alcançado o êxito esportivo, ou, tam-
bém, comparando jogadores de distintos níveis de
rendimento, mas de mesma idade. 21.3 A identificação e detecção de ta-
Dado que nenhuma das posições, tanto o lentos no handebol
extremo genético como o extremo ambiental,
pode ser considerada concludente e suficiente, na Em se tratando de esportes de equipe, mais
atualidade, orienta-se adotar uma posição inter- concretamente de handebol, sua complexidade é
mediária entre ambas as tendências, de tal forma maior do que a de um esporte individual, já que
que a verdadeira questão não é tanto se a natureza a identificação de talentos também o é. Por isso,
272 Manual de Handebol

determinar o perfil de rendimento de um jogador herança genética, os processos de desenvolvimen-


para que chegue ao alto rendimento dentro de to evolutivo, as etapas e exigências de treinamento
8-10 anos, mais ou menos, requerem um conhe- e as propriedades psíquicas, levando a uma capa-
cimento muito profundo do esporte e de como cidade física individual que deverá estar acima da
será esse esporte em alguns anos. média para a superação de tarefas esportivo-mo-
O alto rendimento esportivo em handebol toras especiais.
integra e articula fatores de origem hereditária e O Quadro 21.1, a seguir, indica diferen-
fatores adquiridos que são constituídos por meios tes propostas das características para avaliar a
socioeducativo e cultural. detecção de talentos segundo diferentes autores
O talento esportivo se gera individualmente, de handebol.
considerando o processo de tempo em relação à

Quadro 21.1 – Propostas das características para avaliar a detecção de talentos no handebol
Autor Avaliações e testes propostos
Cercel 30
Antropométricos: tamanho, peso, envergadura e tamanho da mão.
Antropometria.
Condições físicas.
Antón31 Capacidades técnico-táticas.
Capacidade psíquica.
Condições pessoais.
Czerwinski32
Morfológicos: tamanho, peso, envergadura, perímetros e comprimento dos membros.

Antropométricos: morfologia e tamanho corporal, condicionais de alavancas e comprimentos de braços e


pernas, tamanho da mão.
Hans-Dieter33 Fatores físicos: características e fundamentos de condição física geral e especial.
Fatores técnicos: domínio de habilidades do jogo.
Fatores táticos: aplicação de habilidades em situações de competição.
Fatores psíquicos: qualidades de caráter e vontade.
Valores antropométricos.
Qualidades motrizes.
Román34
Riqueza nos níveis técnicos.
Riqueza nos conteúdos tácticos.
Qualidades psicológicas.
Fatores cognitivos: conhecimento do jogo e tomada de decisão.
Fatores antropométricos: altura, envergadura, peso, diâmetro biacromial e somatotipo.
Fatores motrizes: capacidade de realizar uma condução selecionada (técnica).
Álvaro35
Fatores condicionais: capacidade de atuar com a maior eficácia, atrasando a fadiga.
Fatores psicológicos: capacidade de ampliar a eficácia das condutas e adaptar-se às situações do jogo sem
interferências.
continua
A detecção do talento esportivo no handebol 273

continuação
Autor Avaliações e testes propostos
Características do grupo: integração, subordinação aos interesses coletivos e confiança.
Álvaro35
Ambiente: sentimento de pertencer a um projeto, respeito e apoio.
Valorização dos antecedentes esportivos: questionário.
Fernández e 22
Valorização cineantropométricas: antropometria, composição corporal e somatotipo.
Vila24 Valorização da Condição Física: Eurofit, SJ, CMJ e Abalakof.
Valorização Multidimensional: correlações.

Atualmente, a Real Federação Espanhola  Capacidade analítica (feedback in-


de Handebol (RFEBm) apresenta um programa trínseco).
de detecção de talentos, cujos responsáveis são os  A receptividade (feedback extrínseco).
professores Laguna e Torrescusa.16 Propõem-se
como qualidades a serem observadas para obter d) Qualidades para o desenvolvimento
um futuro jogador de handebol: do jogo:
 A capacidade motriz específica, con-
a) Características biológicas: substanciada na capacidade específica
 Medidas antropométricas. de deslocamento (bem como a sua
 Características biossanitárias (higiene realização lógica) e na capacidade de
e saúde geral). manuseá-la.
 Idade biológica.  A inteligência tática geral, entendida
como a capacidade de perceber e rela-
b) Qualidades físicas: cionar os diferentes elementos que in-
 Velocidade. fluenciam em uma determinada ação
 Força explosiva do membro inferior com respeito a eles e aos objetivos do
(capacidade de salto). jogo de forma eficaz.
 Força explosiva do membro superior
(capacidade de lançamento). Esses dados se expressam em escalas gradua-
 Agilidade. das de 1 a10, que são equivalentes para, poste-
riormente, construir um mapa de capacidades de
c) Características psicológicas: cada jogador e, assim, ver de maneira gráfica, vi-
 Controle emocional. sual e fácil o perfil do jogador e se há adaptação às
 Focalização da atenção. exigências da possível concorrência.
 A motivação. Os autores apontam que “observando estas
qualidades, não estamos vendo quem são os jo-
274 Manual de Handebol

gadores mais eficazes, mas quem tem melhores


condições para jogar”.16
Os autores aprofundam, talvez, um pouco
mais no verdadeiro problema da questão, que é a
avaliação das capacidades citadas. Está claro que
os aspectos biológicos e físicos são facilmente ob-
tidos, mas a dificuldade reside na quantificação
de qualidades que “só podem ocorrer por proce-
dimentos nos quais se possui a subjetividade do
observador”. Da mesma forma que em casos cita-
dos anteriormente, a solução adotada consiste na
elaboração de escalas descritivas para a quantifica-
ção da inteligência tática, a capacidade de deslo-
camento específica e a capacidade de manipulação
(manejo) específica.
Resumidamente, poderíamos dizer que os
fatores genéticos são importantes para a detecção
do talento, mas uma boa formação esportiva e um
ambiente social favorável são, também, fatores a
serem valorizados nesse processo.
Lucidio Rocha Santos

Análise e observação de jogos no handebol:


22 dos números ao treinamento

22.1 A análise do jogo As causas imediatas da não observância


desse efeito são, principalmente, a complexi-
Parece unânime que, no desporto, assim dade instrumental para se obter a medida ou,
como em qualquer atividade física sistematizada, é ainda, a não adequação da informação obti-
fundamental o acesso a um número tal de informa- da, geralmente por testes padronizados, como
ções acerca dos eventos que acabaram de acontecer questionários ou entrevistas, aos fins da avalia-
como meio de consubstanciar a avaliação daqueles, ção condutural.
além de preparar feedbacks para eventos futuros. O Nas palavras de Siguan (apud Anguera):36
objetivo é extrair dados relevantes sobre o desen-
volvimento e execução dos eventos, tanto em ca- a observação requer rigor e honestida-
ráter quantitativo quanto qualitativo, e analisá-los de intelectual, requer, por conseguin-
para, se necessário, tentar modificá-los quantitativa te, paciência e constância e, ainda,
e qualitativamente em eventos futuros. certo treinamento, ou melhor, uma
Tais informações são recolhidas, principal- larga experiência. Vale destacar, ainda,
mente, por meio da observação intencional do que supõe certa paixão por entender
evento no qual elas foram realizadas. Entretanto, a conduta alheia, certa capacidade de
para uma aproximação mais verdadeira possível introspecção.
da realidade, vale muito a experiência do observa-
dor, pela carga de subjetividade que essa ação de Logo, toda observação é sempre, em al-
interpretação carrega. guma medida, interpretativa e, ao fazê-la,
A observação está no cerne inicial da ciência, construímos um juízo de valores sobre o ob-
e as técnicas de observação devem ser utilizadas, jeto observado.
principalmente, quando as provas automáticas de A tarefa de análise do jogo torna-se dificul-
medida não são factuais. Esse pensamento revela tada, principalmente, (I) pelo elevado número de
a necessidade de construção de um instrumento elementos a observar; (II) pela variabilidade de
simples, mas exato na obtenção das medidas pro- comportamentos e ações durante um encontro
curadas e adequado aos fins da observação. esportivo, que também é grande; e (III) pela mul-
276 Manual de Handebol

tiplicidade de critérios assumidos na definição e ros. Todavia, cabe ao estudioso do jogo desenvol-
identificação dos elementos foco da observação. ver seu próprio olhar, de forma a não se deixar
As escolhas dos analistas têm recaído habitu- iludir pelo alto grau de subjetividade que toda ob-
almente sobre as regularidades ou nas invariantes servação carrega. Logo, todo processo observacio-
dos comportamentos dos jogadores, no mesmo nal deva ser sistematizado, realizado sob um cará-
ou em vários jogos. A justificativa para tal é a ter intencional e referenciado por um conjunto de
forte pressão exercida pelo aspecto regulamentar pressupostos que definam o problema a observar
do jogo, ou seja, por um conjunto de aconteci- e os objetivos dessa mesma observação. Observar
mentos próprios de cada modalidade esportiva, exige uma preparação anterior, como um conhe-
que acabam por gerar padrões sobre os quais os cimento prévio e radical sobre o objeto de obser-
jogadores condicionam seus comportamentos e vação e sobre o plano e os métodos de observação.
exprimem variações próprias. Apresentando-se como um processo dinâmi-
Porém, nos jogos desportivos coletivos co, a observação e análise do jogo têm seu desenvol-
(JDCs), em geral, e no handebol em particular, vimento caracterizado por alterações substanciais,
o que se espera é que a organização, o modelo de principalmente no que se reporta à instrumentação
jogo da equipe, sirvam como pano de fundo e que tecnológica. Paralelamente, como parte integran-
o comportamento dos jogadores se exprima entre te do contexto da competição, a análise do jogo
o preestabelecido – as regras e a improvisação –, a tem procurado responder, cada vez mais satisfato-
inovação e a novidade momentânea. riamente, aos quesitos referentes à recolha, ao tra-
As equipes variam seus padrões de jogo em tamento, ao armazenamento e à interpretação da
função da oposição oferecida pela equipe adversá- informação produzida durante as competições.
ria. Esse fato gera a necessidade de interpretação A consequência mais visível dessa evolução
dos dados recolhidos em função das características pode ser constatada por (I) um aumento quali-
das partidas, o que aumenta a importância da “re- tativo no conhecimento da organização do jogo
levância contextual” dos comportamentos dos jo- e dos fatores que concorrem ao sucesso despor-
gadores de ambas as equipes envolvidas na disputa. tivo, o que proporcionou (II) maior eficácia na
Disso, decorre a tendência para procurar construção de métodos de treino mais eficazes e
perceber os fatores que induzem perturbações ou estratégias de trabalho mais profícuas, além de
desequilíbrios na relação defesa/ataque, principal- também proporcionar (III) uma análise mais fiel
mente nas situações que produzem gols. às tendências evolutivas.
A pesquisa começou pela observação. Entre- Atualmente, a observação tem sido cada vez
tanto, a observação só se torna verdadeiramente mais utilizada como método científico, o que faz
científica quando requer um estado de atenção necessário conhecer e compreender cada vez mais
constante e parte de pressupostos expressos e cla- suas bases metodológicas. Para tal efeito, a obser-
Análise e observação de jogos no handebol 277

vação deve seguir quatro aspectos que a caracteri- análise, principalmente pelo fato de os jogos de-
zam como técnica científica: pendentes da pontuação serem, em grande parte,
caracterizados por uma sucessão estruturada de
 Servir a um objeto já formulado de eventos discretos em que a relação desses eventos
investigação. está relacionada ao oponente. Já os jogos depen-
 Ser planejada sistematicamente. dentes do tempo são de caráter evasivos e inte-
 Ser controlada e relacionada com rativos e podem ser considerados extremamente
proposições mais gerais em vez de ser condicionados pela complexidade e contingên-
apresentada como uma série de curio- cia do momento, além de envolver sempre mais
sidades interessantes. adversários e companheiros, o que faz aumentar
 Estar sujeita a comprovações de vali- a quantidade de dados.
dez e fiabilidade.

Particularmente, no caso dos JDCs, as con- 22.2 Perspectivas de análise de jogo


dições de incerteza nas quais se desenvolvem as
disputas tornam ainda mais delicada a tarefa de É fundamental que qualquer processo de
observar, o que diferencia a partida, a organiza- ensino e treino seja organizado a partir de uma
ção e escolha de métodos de recolha e de análises reflexão metódica, organizada e intencional acer-
diferentes daqueles utilizados nos desportos indi- ca do conteúdo do jogo. Aquilo que o treinador
viduais. A maior justificativa para tal é a diferen- objetiva é, segundo seus valores, adaptar e ajustar
te influência exercida pelos diversos fatores que o treino à realidade competitiva. Tudo isso a par-
compõem o rendimento em cada um dos casos. tir da sua própria análise do jogo.
A estrutura da disciplina desportiva em Leon Teodorescu, um dos primeiros estu-
questão é de fundamental importância para a diosos dos JDCs, já referia ser essa a tarefa mais
definição do modelo de observação e análise. importante e difícil que se coloca ao treinador
Existe a possibilidade de tornar os sistemas de quando do planejamento do treino e, vale acrescen-
observação preditivos e não apenas descritivos, a tar, do jogo,como a de correlacionar a lógica didática
partir da subdivisão dos JDC em: (I) jogos de- com a lógica interior do jogo. Tal tarefa deverá ser
terminados pela pontuação (voleibol, tênis etc.), executada, já que o sucesso desportivo dependerá,
por exemplo, quando o resultado final é vitória sobremaneira, da qualidade dessa correlação. Para
e derrota; e (II) jogos determinados pelo tempo tal, há três perspectivas diferentes de se realizar a
(futebol, handebol etc.), quando o resultado final análise da estrutura funcional nos JDCs: (I) análise
é a vitória, a derrota ou o empate. Essa divisão da técnica/tática; (II) análise do ataque/defesa; e (III)
é importante para a construção dos modelos de análise da cooperação/oposição.
278 Manual de Handebol

Quanto ao aspecto da análise estrutural, é conta os objetivos, a técnica-padrão, os contextos


sabido que os elementos configuracionais da es- e as características do executante.
trutura interna do JDCs, como os da sua lógica Logo, saber diagnosticar os erros, determi-
interna, são: a rede de comunicação; o sistema de nar a sua importância relativa e as suas causas,
pontuação; o sistema de escore final ou forma de além de saber corrigi-los, são algumas das princi-
ganhar e perder; o sistema de regras sociomotoras; pais responsabilidades do professor ou treinador.
o sistema de sub-regras sociomotoras; e os códigos Claro é que sem uma efetiva competência de ob-
praxêmicos e gestêmicos. servação e de correção dos atletas, os desmpenhos
Os fatores constitutivos da lógica interna não poderiam ser melhorados. Dito de outra for-
dos JDCs são: o regulamento; a técnica ou mode- ma, a possibilidade de reconhecer e identificar os
los de execução; o espaço de jogo ou sociomotor; erros de execução é um dos mais importantes e
o tempo desportivo; a comunicação motriz e a fundamentais pré-requisitos exigido a quem quei-
estratégia motriz. ra exercer a função de treinador ou professor de
Dado que todo ensino e treino se orientam Educação Física.
pelo referencial da excelência competitiva, aquilo A utilização da observação e análise como
que todo treinador, selecionador e/ou investiga- metodologia é uma estratégia particular do méto-
dor busca é o estabelecimento de um mapa, tão do científico que se propõe a quantificar o com-
rigoroso quanto possível, do conjunto multiface- portamento espontâneo que ocorre em situações
tado de competências do atleta em particular e da não preparadas, implicando, para sua consecução,
equipe. O propósito é ajustar, o melhor possível, o cumprimento de uma serie ordenada de etapas.
tais competências às exigências da sua modalida-
de, bem como aos constrangimentos competiti-
vos. É na competição que se encontra esse con- 22.3 As tendências das abordagens
junto de competências. analíticas do jogo
A valoração mediante coeficientes ofensivos e
defensivos é um novo método de estudo e análise A análise do jogo tem se apresentado, en-
do JDCs de cooperação e oposição. Essa aborda- quanto tendências investigativas, em quatro gran-
gem proporciona a recolha de informações concre- des âmbitos no universo científico. São estes:
tas sobre ações específicas do jogo e que podem ser
de interesse dos treinadores e pesquisadores.  Análise da atividade física dos joga-
A atividade pedagógica faz-se, principal- dores (caracterizar as atividades de-
mente, pelo confronto constante entre a necessi- senvolvidas pelos jogadores e pelas
dade de observar e avaliar execuções e de prescre- equipes durante as partidas para es-
ver a correção para os erros detectados, tendo em
Análise e observação de jogos no handebol 279

tabelecer perfis da sua atividade física jogo, por meio da construção de um instrumento
durante o jogo). de observação e análise do jogo que contenha os
 Análise do tempo-movimento – das indicadores que melhor traduzam os comporta-
tarefas motoras realizadas pelos jo- mentos dos jogadores e das equipes.
gadores (caracterizar as atividades É de acordo com cada situação específica e
desenvolvidas pelos jogadores e pelas a partir de cada objetivo projetado para o estudo
equipes durante as partidas para esta- em questão que devem ser constituídos sistemas
belecer perfis da sua actividade física de observação e análise que correspondam par-
durante o jogo). ticularmente a esses pressupostos. Tal fato faz
 Análise das habilidades técnicas dos que cada investigador selecione as categorias de
jogadores (análise do repertório técni- observação que se lhe afigurem mais precisas e
co desenvolvido no jogo). idôneas para seus objetivos, o que implica ser co-
 Análise técnico-tática pelos indicado- mum encontrar-se em distintos estudos sistemas
res do próprio jogo (identificar as re- de categorias equivalentes, porém diferentes, em
gularidades expressas pelos jogadores e maior ou menor medida, do tipo de categorias
pelas equipes para se tipificar as ações que inclui.
que mais se coadunam com a eficácia Todavia, nunca se pode perder de vista o
dos jogadores e das equipes ). caráter integrativo das categorias, e estas devem
estar configuradas para, objetivamente, caracteri-
Torna-se, portanto, necessária a organização zar: (I) a organização do jogo a partir das carac-
do “código de leitura”, do “sentido de jogo” que terísticas das sequências de ações das equipes em
sirva de quadro referencial na busca da compreen- confronto; (II) os tipos de sequências que geram
são da estrutura dos JDCs, já que a estrutura dos ações positivas; (III) as situações que induzam
JDCs e do handebol, em particular, se traduz na desequilíbrio no balanço ofensivo e defensivo das
prerrogativa de que a totalidade das ações indivi- equipes em confronto; e (IV) as quantidades da
duais e coletivas formam uma unidade definida. qualidade das ações do jogo.
Nessa unidade, cada elemento relaciona-se com
o todo e este só demonstra seu significado total
quando observado em seu contexto. 22.4 Seleção das categorias de obser-
O que se procura é perceber quais constran- vação e variáveis observáveis
gimentos do jogo melhor referenciam modelos de
sucesso para o ensino, para o treino e para a com- Todo sistema de categorias deve ser organiza-
petição. Daí a necessidade do estudo do jogo a do em função: (I) do nível em que se quer observar;
partir da análise dos constrangimentos do próprio (II) do âmbito da realidade à qual o objeto obser-
280 Manual de Handebol

vável pertence; e (III) do tipo de situação na qual o dessas unidades, há a possibilidade de explicar as
fenômeno ocorre. Portanto, cada investigador sele- linhas de evolução realizáveis na relação de opo-
ciona as categorias que lhe parecem mais idôneas. sição particular que a caracteriza. Corroborando
Análises bem estruturadas são aquelas que esse pensamento, podemos afirmar que, se não
privilegiam as regularidades e variações das ações houvesse algo que ligasse o jogo a um território
do jogo, bem como a eficácia ofensiva e defensi- de possíveis previsíveis, no qual pontificam os de-
va, absoluta e relativa, como forma de salientar o signados modelos ou representações, a preparação
comportamento de jogadores e equipes. Somente dos jogadores e das equipes tornar-se-ia obso-
dessa forma pode-se alcançar o caráter integrativo leta. Disso, podemos deduzir que a análise e as
e contextualizado que caracteriza um coerente e interpretações dos JDCs e da funcionalidade da
consistente sistema de observação e análise do jogo. equipe por meio do prisma da modelação asse-
guram a possibilidade de utilizar uma metodo-
logia científica na programação do treino. Isso
22.5 Análise do jogo de handebol se faz possível, também, na seleção de jogadores,
no conhecimento dos adversários, na escolha da
tática do jogo e, em geral, para toda a atividade
22.5.1 A lógica do jogo dos treinadores e das equipes.
É o estudo da organização do jogo, realizado
O problema que a dinâmica dos jogos des- por meio da observação do comportamento das
portivos coloca é o fato de não haver duas situ- equipes (sistemas), que oferecerá a possibilidade
ações de jogo absolutamente idênticas, além de de identificar e assinalar ações/sequências de jogo
que as possibilidades de combinações são inúme- que, pela sua frequência de ocorrência, ou por
ras, o que torna impossível recriá-las no âmbito induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos)
do treino. A solução a essa questão reside na utili- importantes, se constituem como aspectos a reter
zação da estratégia de ordenar coisas sensivelmen- para o ensino e treino da modalidade.
te semelhantes e/ou diferentes. Logo, a possibi- Cabe, perfeitamente, a análise dos proce-
lidade de categorizar os acontecimentos do jogo dimentos, dos métodos e, em um universo mais
de forma a que se modelem representações do restrito, das ações levadas a cabo pelas equipes
seu desenvolvimento faz o traço de união entre na procura do sucesso. Os dados obtidos possibi-
a concepção do jogo, o treino e sua planificação, litarão a percepção da forma como está constitu-
com o desempenho desportivo na competição. ída a eficácia das equipes, por exemplo, a forma
Por essa tese, torna-se fundamental fazer da com- de associação de certas características táticas que
petição um campo de análise e das equipes mais traduzem regras de funcionamento do sistema
evoluídas, referências constantes. Para cada uma ataque-defesa.
Análise e observação de jogos no handebol 281

A observação do comportamento dos joga- 22.5.2.1 O fator espaço


dores e das equipes propicia que se destaquem
quais ações/sequências de jogo permitem veri- Traduz a infinita possibilidade de combi-
ficar permanências na exibição da variabilidade nações espaciais entre os intervenientes do jogo.
sequencial ou, por induzirem desequilíbrios no Isto oferece-nos uma visão da diversidade no grau
balanço ataque/defesa, se afiguram representativas de importância das áreas do terreno de jogo. In-
da dinâmica da partida. dicadores relacionados a essa categoria aparecem
por meio de variáveis observáveis relacionadas às
zonas de finalização e zonas de obtenção de gols.
22.5.2 Parâmetros constituintes da lógi-
ca interna do jogo de handebol
22.5.2.2 O fator tempo
O desenvolvimento das ações do jogo de
handebol vem determinado por parâmetros con- Tem sua importância traduzida, principal-
figuradores da sua lógica interna, como o espaço, mente, por dois aspectos: (I) pela relação exis-
o tempo, o regulamento, a técnica ou tarefa, a tá- tente entre a execução técnico-tática ofensiva de
tica e a estratégia, também dita organização estra- manipulação da bola e o tempo, já que essa exe-
tégico-tática. Mas nem todos esses parâmetros se cução encontra-se regulamentada pela lei dos três
apresentam com o mesmo grau de importância na segundos; e (II) pela relação tempo-espaço que
configuração do máximo desempenho nos JDCs, influencia sobremaneira a eficácia da ação de jogo
já que o aspecto da estratégia/organização ocupa o pela estreita relação entre o tempo e as constantes
centro de prioridade no desenrolar do jogo. modificações no ritmo do jogo. Esse indicador
Tal afirmação pode ser demonstrada, por refere-se à duração do ataque, ao tempo de assi-
exemplo, pelo fato de as decisões tomadas pelos jo- metria numérica e ao tempo útil de jogo efetivo.
gadores apresentarem forte caráter tático-cognitivo.
Contudo, por essas decisões estarem sempre sub-
metidas aos constrangimentos espacial, temporal, 22.5.2.3 O fator regulamentar
regulamentares e das tarefas técnico-táticas do jogo,
estabelece-se um vínculo interativo da dimensão or- Traduz, sobremaneira, toda a conduta dos
ganização/estratégia com as outras dimensões orga- jogadores, estabelecendo graus de liberdade de
nizativas. Logo, podemos referir cada um dos fatores ação e os requisitos/prescrições necessários para
que compõem a lógica interna dos JDCs em geral que possam intervir nas situações do jogo. Logo,
e do handebol, especificamente, e seus indicadores considera-se que há no jogo situações especiais e
mais frequentemente encontrados na literatura. condicionadas pelo regulamento de jogo, nomea-
282 Manual de Handebol

damente, os tiros de 7 metros; os tiros de 9 metros; der de influência sobre os outros fatores, este fator
e as assimetrias numéricas, que, frequentemente, assume-se como a variável nuclear nesse âmbito
influenciam o resultado final de um encontro. de análise, pois é a partir das configurações pla-
nejadas neste aspecto que as outras categorias se
manifestam no jogo. Entre as exemplificações de
22.3.2.4 O fator tarefa técnico-tática variáveis observáveis deste fator estão as relativas
aos aspectos relacionados, basicamente, à caracte-
Circunscreve todas as ações realizadas racio- rização das formações ofensiva e defensiva.
nalmente durante as situações de jogo que con-
figuram e determinam a solução dos problemas
apresentados pelo jogo e asseguram sua continui- 2.6 Considerações finais
dade. São exemplos desse fator ações relacionadas
à eficácia de tarefas como, por exemplo, o arre- A competição pode ser descrita como uma
messo; média de falhas técnicas ou pela forma que interessante fonte de aprendizagem acerca do
se dá a perda da bola; influência do contra-ataque comportamento humano. Logo, essa é oportuni-
no sucesso desportivo; tipificação de ações defen- dade ímpar à observação e à análise dos diversos
sivas: eficácia do goleiro, eficácia de arremesso, efi- conteúdos – individuais e coletivos, do jogo, em
cácia ofensiva, zonas de finalização e meio tático. seu expectro real. Logo, a compreensão do desen-
Esse fator proporciona a ampliação significativa volvimento do jogo configura-se na procura dos
da capacidade de respostas adaptativas do jogador comportamentos que melhor traduzem a eficiên-
às situações-problema do jogo, permitindo que se cia e a eficácia de jogadores e equipes.
reconheça, oriente e regule sua ação motora. Apresentando-se como um processo dinâ-
mico, a observação e a análise do jogo têm seu
desenvolvimento caracterizado por alterações
22.3.2.5 O fator organização estratégico-tática substanciais, principalmente quanto à instru-
mentação tecnológica. Paralelamente, como parte
Conjuntamente com a tática, é a organiza- integrante do contexto da competição, a análise
ção estratégica que dá aos JDCs seu caráter pró- do jogo tem procurado responder cada vez mais
prio, pois exprime o modo como a equipe organi- satisfatoriamente aos quesitos referentes a reco-
za-se racionalmente para resolver o problema da lha, tratamento, armazenamento e interpretação
superação do adversário, expressando-se tanto no da informação produzida durante as competições.
âmbito individual quanto no coletivo, desde o as- A consequência mais visível dessa evolução pode
pecto da cooperação com os companheiros até o ser constatada por (I) um aumento qualitativo no
aspecto da oposição com os adversários. Pelo po- conhecimento da organização do jogo e dos fato-
Análise e observação de jogos no handebol 283

res que concorrem ao sucesso desportivo, o que sibilidade de reconhecer e identificar os erros de
proporcionou (II) maior eficácia na construção execução é um dos mais importantes e fundamen-
de métodos de treino mais eficientes e estratégias tais pré-requisitos exigido a quem queira exercer
de trabalho mais profícuas, além de também pro- a função de treinador ou professor de Educação
porcionar (III) uma análise mais fiel às tendências Física. (há um parágrafo igual a esse mais acima –
evolutivas. verificar se se deve tirá-lo.)
Parece claro que a atividade pedagógica faz-se Como já foi colocado anteriormente, no
principalmente pelo confronto constante entre a âmbito do desporto, aquilo que todo treinador
necessidade de observar e avaliar execuções e de busca é aproximar o seu treino, o máximo pos-
prescrever a correção para os erros detectados, sível, às exigências da competição. Para tal, há
tendo em conta os objetivos, a técnica-padrão, os que buscar o que de mais importante acontece no
contextos e as características do executante. jogo e tentar reproduzi-lo em situação de treino.
Logo, saber diagnosticar os erros, determi- Logo, é essa abordagem sistémica da análise do
nar sua importância relativa e suas causas, além de jogo para uma estruturação do treino e recriação
saber corrigi-los, são algumas das principais res- da performance no próximo evento, como o jogo,
ponsabilidades do professor ou treinador. Claro é que deve regular a prestação competitiva, e é por
que sem uma efetiva competência de observação e meio de observação, notação e análise dos dados
de correção dos atletas, as performances não pode- observados que serão obtidos os feedbacks necessá-
riam ser melhoradas. Dito de outra forma, a pos- rios para se alcançar os objetivos esperados.

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valores, valoração e educação 287

Parte VIII
As diferentes formas de
manifestação do handebol
Dourivaldo Teixeira

Valores, valoração e educação:


23 uma necessidade na prática do handebol

O objetivo deste capítulo é realizar uma experiência esportiva no handebol é a lógica dialé-
reflexão sobre o esporte. Mais especificamente, tica, que contempla uma relação ação-problema-
refletiremos sobre a modalidade de handebol em tização/reflexão-ação.
uma perspectiva que, mesmo não se restringindo
às questões técnico-táticas, não se afaste do cam-
po das vivências desta prática, campo esse que, 23.1 Fundamentos pedagógicos e dire-
sem dúvida, é repleto de amenidades/intensida- trizes para a prática do handebol
des, equilíbrios/desequilíbrios, adequações/inade-
quações, habilidades/inabilidades, acertos/erros, É fundamental que a pedagogia do hande-
vitórias/derrotas, ritmias/arritmias, risos/choros bol, assim como a de outras práticas esportivas,
etc., pois é um ambiente cheio de vida. Alme- seja arrojada e apresente consonância com polí-
jamos contribuir com as bases de uma proposta ticas esportivas nas esferas municipal, estadual
pedagógica reflexiva e crítica para a formação de e nacional. É necessário que esta pedagogia se
sujeitos pelo/para o handebol, invocando, em sua apoie em metodologias inovadoras e possíveis
estrutura e funcionalidade (campo de vivência), a que permitam orientar suas ações no sentido de
potencialidade educativa possível a partir da prá- promover a inclusão social pelo/para o esporte e
tica sistematizada. contribuir com a superação dos problemas que
Pretendemos, com o desenvolvimento do afligem as camadas menos favorecidas da popu-
tema que dá nome a este capítulo, apontar para lação. Dessa forma, em uma ação retroagente,
a necessidade de uma política específica de esti- também, poderá contribuir com a estruturação
mulação e fomento à modalidade, a importância da modalidade em nossa sociedade, da qual não
de uma abordagem pedagógica reflexiva e crítica é uma prática esportiva originária. Seu início,
e, além disso, a estruturação de metodologias que pelo menos como uma modalidade esportiva
deem conta de uma prática do handebol orienta- estruturada e regulamentada, ocorreu no cen-
da em um campo de ação que privilegie a refle- tro e norte europeus, mais especificamente na
xão sobre esta ação. Neste sentido, a lógica que Alemanha, na Dinamarca, na Suécia e na antiga
queremos ver permeando o processo de vivência e Tchecoslováquia.
290 Manual de Handebol

O entendimento da limitação do conceito  Priorizar a educação em níveis mais


de esporte educacional (handebol educacional), elevados de conhecimento e de ação
per si, pode denotar quão impactante pode ser no sentido de auxiliar na solução de
uma proposta lastreada no tripé pedagogia espor- problemas sociais presentes.
tiva, política pública e metodologia inovadora, que
incentivem a vivência rica e estimuladora da prá- Na fronte desta pedagogia, deve haver a po-
tica esportiva organizada, sistematizada e orienta- lítica específica para a modalidade que, proposta,
da, também, no sentido da massificação. apoiada, concretizada e consolidada pela Confe-
O sentido educativo no esporte e no han- deração Brasileira de Handebol (CBHb) e pelas
debol exige fundamentar os objetivos esportivo- federações estaduais, de preferência, tem de estar
educacionais nos princípios de cidadania, diver- calcada em uma política esportiva de Estado e não
sidade e democracia, fazendo, portanto, destes o apenas de governo, pois esta, na maioria das ve-
lastro para a pedagogia do handebol contemporâ- zes, se realiza de forma imediatista, eleitoreira e
neo, por contemplarem valores, hábitos e atitudes transitória, ou seja, sem continuidade, mas sem
possíveis de serem estimulados e sedimentados dispensar a frente possibilitada com a iniciativa
também por meio desta prática. privada, seja ela na condição de real investimento
Nesta proposta, o sentido educativo do han- (patrocínio) ou em campanhas de destinação tri-
debol implica: butária previstas nas legislações federal, estadual e
municipal.
 sustentar seu caráter educativo na efe- Esta política deve favorecer a concretização
tiva participação voluntária e respon- de programas visando à democratização do acesso
sável dos sujeitos, concretizando a au- ao handebol nos mais diferentes nichos de prá-
to-organização e a autodeterminação tica (tradicionalmente conhecidos como dentro
como práticas que não comprometem do ambiente escolar: contraturno letivo ou como
o caráter genuinamente nacional e po- conteúdo da Educação Física escolar; fora do
pular. ambiente escolar: clubes, associações, empresas
 promover o desenvolvimento da cul- etc.), intento que deverá ser efetivado com par-
tura corporal nacional, considerando cerias para a utilização de espaços públicos e/ou
a condição de miscigenação, que é privados para o desenvolvimento da modalidade,
marcante na sociedade brasileira. prioritariamente, com perspectivas de enriqueci-
 cultivar e incrementar atividades que mento na formação integral dos praticantes.
satisfaçam às necessidades lúdicas, es- A opção por um programa que contemple
téticas, artísticas, combativas e com- as características educativas do handebol se fun-
petitivas do sujeito praticante. damenta nos seguintes aspectos:
Valores, valoração e educação 291

 Desenvolvimento de valores sociais. da em uma política de gestão e fomento apoiada


 Melhora das capacidades físicas e ha- em propostas metodológicas inovadoras para a
bilidades motoras. estimulação e a aprendizagem da modalidade, vi-
 Melhora da qualidade de vida (auto- sando, principalmente, a crianças e adolescentes,
estima, convívio, integração social e tendo como princípios:
saúde).
 Diminuição da exposição aos riscos  Reverter o quadro atual de injustiça,
sociais (exposição da vida de crian- exclusão e vulnerabilidade social.
ças e adolescentes a perigo constante:  Propor o handebol como direito de
drogas, prostituição, gravidez precoce, cada um e dever das instituições ofi-
criminalidade, trabalho infantil). ciais que gerem a modalidade e do
 Conscientização da prática esportiva, Estado.
assegurando o exercício da cidadania.  Universalizar a prática esportiva e pro-
mover a inclusão social.
Fazer a pedagogia do handebol significa  Democratizar a gestão e a participação
compreender a ação pedagógica consubstancia- na modalidade.

Figura 23.1 – Abertura do Festival de Handebol Interpolos do CERHAND, em Maringá (PR).


292 Manual de handebol

Portanto, o principal objetivo é a demo- caráter concreto da vida social-produtiva, além


cratização do acesso ao handebol educacional de dar mais visibilidade à proposta de massifi-
de qualidade como forma de inclusão social, cação, podendo (por que não?) se transformar
ocupando o tempo ocioso de crianças e ado- em uma meta para os praticantes que, passan-
lescentes em situação de risco social e, mais do pelas fases de estimulação, aprendizagem e
especificamente, oferecer práticas de handebol aperfeiçoamento técnico, tático e físico, se sin-
com características educacionais, estimulando tam motivados a buscar os requisitos básicos à
crianças e adolescentes a manter uma interação prática em nível de excelência.
efetiva que contribua para o seu desenvolvi- A estratégia principal de gestão visando à
mento integral. O projeto de handebol de alto massificação e ao fomento da prática do han-
rendimento, além disso, deve existir para con- debol, também em nível educacional, implica
solidar a integralidade do programa e atingir o a democratização de sua própria gestão (parti-

FIgura 23.2 – Atleta da Seleção Brasileira de Juniores, Henrique Selicani Teixeira, formado desde as categorias de
formação pelo Centro de Excelência Regional de Handebol da Universidade Estadual de Maringá (CERHAND),
que passou por todas as Seleções Brasileiras: infantil (13/14 anos; cadete (15/16 anos); e juvenil (17/18 anos), em
lance de jogo da Final do Campeonato Pan-Americano de 2007, no Chile.
Valores, valoração e educação 293

cipação sem qualquer distinção ou discrimina- deveria construir programas de fomento e de-
ção; garantia da integridade dos participantes; senvolvimento contemplando os centros de
fomento à participação em nível nacional e formação da modalidade em todo o país. Esses
internacional; autonomia organizacional para programas, que transcenderiam o modelo sim-
as instituições conveniadas; e descentralização plista de organizar/participar de competições,
operacional em nível de planejamento, implan- deveriam projetar os impactos diretos e indi-
tação e execução dos convênios) por meio de retos de uma prática desportiva sistematizada e
alianças e parcerias institucionais, mediante a de amplitude nacional, mas que contemplasse,
descentralização da execução orçamentária e fi- prioritariamente, os melhores centros de for-
nanceira para entes públicos e privados, com e mação da atualidade.
sem fins lucrativos. Os projetos Mini-handebol Petrobrás
As instituições responsáveis pela gestão do e Caça-Talentos, propostos pela CBHb, são
handebol (clubes, federações e confederações) exemplos, mas insuficientes tanto na sua con-
deverão lançar projetos e programas visan- cepção quanto na sua estruturação e população
do tanto à prática participativa (massificação) atendida, além de que, aparentemente, refletem
quanto educacional e de alto rendimento, além apenas o atendimento formal de uma necessi-
de procurar sistematizar esses programas focan- dade, pois há imensas dificuldades para serem
do as pontes de inter-relação e interação entre implantados e mantidos em atividade, ou seja,
eles, projetando e prevendo possíveis impactos não é uma meta prioritária da CBHb, das fe-
diretos e indiretos na visibilidade da modalida- derações e, infelizmente, de muitos clubes que
de no país. O que se configura na atualidade se limitam a buscar atletas formados em outras
é certo descaso institucional com a estrutura escolas em detrimento de investirem em sua
do handebol na esfera nacional. É claro que formação.
existem as competições regionais promovidas Esses aspectos passam, praticamente, in-
e organizadas pelas federações com apoio dos sensíveis pelas instituições que administram a
clubes e as nacionais promovidas pela confede- modalidade, mas acabam originando um ciclo
ração com apoio das federações e dos clubes, vicioso nada importante para o crescimento do
mas, além da realização das competições, não handebol em nosso país. O processo de migra-
se faz nada muito além disso. As equipes e os ção dos atletas-talento para os grandes centros
centros de formação e prática da modalidade financeiros, desguarnecendo, neste caso, os clu-
em todo o país necessitam de apoio efetivo com bes de menor poder aquisitivo, quase sempre
políticas de desenvolvimento e de fomento. do interior, geram a centralização dos investi-
A Confederação Brasileira de Handebol mentos que, invariavelmente, contribuem para
(CBHb), lastreada pelas federações estaduais, o empobrecimento dos núcleos de formação,
294 Manual de Handebol

Figura 23.3 – Projeto Caça-Talentos e Mini-handebol – CBHb (com apoio da Petrobras).

limitando tanto a quantidade quanto a quali- plitude do programa; melhorar a infraestrutu-


dade dos atletas na modalidade. ra para o ensino, aprendizagem e treinamento
Com os investimentos focados na for- do handebol, principalmente no sistema pú-
mação integral do praticante de handebol, blico de ensino e na comunidade em geral.
devem-se considerar os seguintes aspectos Na gestão da modalidade, é preciso estar
como impactos diretos: interação entre os consciente da importância e da seriedade com
participantes e destes com a sua realidade lo- que devem ser estruturados, organizados e im-
cal; melhora da autoestima dos participantes; plementados tais programas de fomento e de-
melhora das capacidades esportivas educacio- senvolvimento, investindo, simultaneamente,
nais; melhora das capacidades e habilidades na qualificação do atendimento de instituições
motoras dos praticantes; aumento do número e órgãos que administram o handebol e no qua-
de praticantes de handebol em níveis educa- dro de recursos humanos no campo técnico e
cional, participação e de alto rendimento; me- tático, ou seja, técnicos, treinadores, prepara-
lhora da qualificação de professores, técnicos dores físicos etc. Pelo menos em nível adminis-
e estagiários de Educação Física (pedagogia do trativo, a CBHb já evidencia tal preocupação
esporte). Os impactos indiretos podem ser as- em razão da utilização de índices qualificado-
sim apontados: amenizar os riscos sociais pelos res, como os do sistema ISO como modelo de
praticantes; otimizar o rendimento escolar aos qualidade em produção, instalação e serviços,
alunos envolvidos; diminuir a evasão escolar mas tal preocupação não alcança a realidade das
nas escolas contempladas com o programa; federações e, principalmente, dos clubes nacio-
ampliar uma oferta de trabalho no setor de nais. Caberia mudar a realidade quando toma-
Educação Física e esportes considerando a am- mos por base o funcionamento e a estruturação
Valores, valoração e educação 295

das federações estaduais, setor no qual, das 27 23.2 Valores e objetivos no hande-
federações existentes, temos poucas em efetiva bol: a necessária reflexão/pro-
atividade de forma organizada e sistematizada. blematização
A maioria atende somente de forma parcial suas
funções organizativas e de fomento para o de- Aqui, é importante compreender que o pon-
senvolvimento da modalidade em nosso país. to de partida para esta reflexão é compreendermos
Nesse sentido, torna-se importante, como que a problemática envolvendo uma proposta de
início do processo de capacitação, refletir so- esporte educacional (esporte/educação), neste
bre tal proposta dentro de suas especificidades caso, handebol e educação, deve passar pela di-
estruturantes, organizativas e funcionais, justa- mensão dos valores, pelo processo de valoração e
mente com os responsáveis nas mais diferentes pelos objetivos já ou a serem estabelecidos. Assim,
esferas de atuação. Tal importância se confirma considerando os programas e projetos específicos
na necessidade de que estes assumam a con- da modalidade de handebol já em desenvolvimen-
dição de timoneiros neste processo, tanto no to (por municípios, clubes, Estados, pela CBHb),
que se refere às questões de gestão quanto às assim como aqueles em potenciais, esses esportes
questões pedagógico-metodológicas na aplica- deverão passar por processos de valoração e proje-
ção das atividades para crianças e adolescentes, ção de metas e objetivos contemplando as neces-
público que é a base para um programa de fo- sidades específicas de todos os locus de vivências.
mento e desenvolvimento desta modalidade es- Os espaços de vivências, salvaguardan-
portiva, contemplando desde a estimulação e a do suas especificidades e limitações, deverão ter
aprendizagem, passando pelo aperfeiçoamento como meta principal levar os participantes à com-
desta prática, até o alto rendimento, inclusive preensão de que:
em nível internacional.
Para tanto, nesta reflexão, teremos como  O handebol compõe o esporte como
marco aquilo que julgamos ser de suma im- uma política social para todo cidadão
portância, ou seja, aquilo que se constitui no (Constituição Brasileira/1988).
elemento fundamental, a espinha dorsal em  O handebol, como modalidade esporti-
um programa que deve anunciar “uma prática va sistematizada e regulamentada, pos-
de handebol educacional e de qualidade”: os sui componentes negativos (reprodução
valores e os objetivos. Em nossa reflexão, toma- da mídia sem reflexão dos sujeitos) e po-
remos como apoio a proposta de Saviani, 1 com sitivos (postura dos professores/monito-
o texto “Valores e objetivos na educação”, que res como agentes de mudança).
se encontra na obra Do senso comum à consciên-  O conceito e a prática do handebol
cia filosófica. como uma modalidade esportiva de-
296 Manual de Handebol

vem considerar suas três dimensões: mente (uma situação conscientizadora


educacional, de participação e lazer e da necessidade) e é assumida subjeti-
de alto rendimento. vamente (tomar consciência de uma

 O handebol como esporte escolar situação de necessidade).1


deve rever e reformular sua estrutura
piramidal. Ou seja, no caso do fenômeno esportivo, não
 O handebol, como uma modalidade podemos vê-lo, abordá-lo ou vivenciá-lo como
esportiva, é um direito da criança e do uma hegemonia, como algo dado, vindo de outro
adolescente, devendo ser promovido universo e sob uma visão maniqueísta (tudo que é
para todos, sem seletividade. bom tem relação com ele e tudo que é pernicioso
e/ou maléfico não tem essa relação), mas como um
Esta problemática, na especificidade do sistema, no qual o ser humano pode alcançar sua
handebol, deve ser tratada, trabalhada e desen- unicidade ou dualidade, um campo essencialmen-
volvida tendo como base conceitos como: políti- te relacional (interpessoal) em que a lógica é a da
ca social (de Governo  de Estado); eliminação construção coletiva e social, aquela em que se pode
da visão maniqueísta do esporte (o esporte não dar a relação dialética que leva à construção, à his-
é, em si, bom ou mau, mas é o que se faz ou se tórica trajetória do progresso humano.
fizer com ele); diferentes dimensões de esporte; Na prática do handebol, isso se dá de forma
tratamento pedagógico do esporte; o direito ao constitutiva em virtude da pouca visibilidade des-
esporte; e a seletividade no esporte Desse modo, se esporte e o consequente baixo investimento por
deve-se fazer que a prática do handebol em qual- patrocinadores. Nesta conjuntura, são comuns os
quer dimensão e nível contribua com algo que projetos, os clubes e as equipes subsistirem, no
seja mais do que formar campeões e acumular meio esportivo, tendo como base o trabalho cole-
troféus, por um lado, ou rotular e massacrar tivo e a adesão de voluntários e amantes da moda-
como derrotados e acumuladores de derrotas, lidade, bem ao “estilo amadorista” que permeava
por outro lado. a prática esportiva de vinte ou trinta anos atrás.
Aqui, estamos partindo do entendimento de Este estilo, sem dúvida, proporciona maior cons-
“problema” como: ciência do processo de construção que requer en-
gajamento coletivo, tonificando a postura parti-
“Algo que é ignorado, alguma coisa cipativa e democrática, mas coloca as questões de
que se precise saber e que indique uma fomento/investimento na modalidade em nível
situação de impasse. O problema, tam- filantrópico ou assistencialista, perdendo espaço
bém, deve ser entendido como uma para outras práticas no campo dos investimentos
necessidade que se impõe objetiva- visando ao marketing industrial e comercial.
Valores, valoração e educação 297

A reflexão/problematização sobre as carac- de diferentes pessoas, podendo permear suas vi-


terísticas educativas do esporte, mais especifica- vências desde a fase de estimulação/aprendiza-
mente do handebol, inevitavelmente nos levará gem, passando, talvez, pelas etapas de definição
à questão dos valores. Com efeito, se esses pro- e aperfeiçoamento, de treinamento e alto rendi-
blemas trazem a necessidade de uma reformu- mento, até a fase de “destreinamento” (veteranos),
lação da ação, torna-se necessário saber ao que ou seja, caracterizando uma prática permanente
se visa com essa ação, ou seja, quais são os seus de esporte ou, ainda, a prática do handebol “para
objetivos. Determinar objetivos implica definir a vida”, concordamos com Nietzsche no sentido
prioridades, decidir sobre o que é válido e o que de nos conscientizarmos de que, neste campo de
não é. Além disso, todos concordamos que, se a vivência, também viveremos as experiências de
educação visa ao homem, como nos diz Savia- valorações.
ni,1 o esporte (handebol) educacional deverá vi- Sendo a experiência axiológica tipicamente
sar, necessariamente, ao homem. E que sentido humana, é a partir do conhecimento da realidade
terá o esporte (handebol) se não estiver, assim humana que podemos entender o problema dos
como a educação, voltado para a promoção do valores e dos objetivos. Como o esporte educacio-
homem? A visão histórica do esporte (handebol) nal (esporte/educação) se destina (se não de fato,
e da educação mostra como estes estiveram sem- pelo menos de direito) à promoção do homem,
pre preocupados em formar determinado tipo de percebe-se já a condição básica para alguém ser
homem. Há diferentes tipos de pessoas para as educador esportivo: conhecer profundamente o
diferentes exigências de cada momento histórico homem. Na especificidade do handebol, conhecer
vivido. Porém, a preocupação com o homem de- profundamente as crianças, adolescentes e adultos
verá ser uma constante, não importando quando participantes de uma modalidade que não possui
ou onde. ainda o adequado status sociocultural em nossa
Para Nietzsche, apud Saviani,1 a palavra ho- sociedade.
mem significa exatamente aquele que avalia. A Mas... O que é o homem? Aqui, faremos um
cada momento, avaliamos tudo e a todos; valori- tratamento preliminar e até superficial do tema
zar é algo constitutivo do ser humano, “embora o visando à abordagem dos valores e objetivos na
problema dos valores seja considerado como uma prática do esporte educacional, mais especifica-
das questões mais complexas da filosofia atual”. mente na modalidade do handebol. A complexi-
Sabemos muito bem quão trivial é a experiência dade do tema exige uma abordagem mais rigorosa
da valoração: a cada momento, nós somos sujeitos e exaustiva, o que não será possível considerando
ou testemunhas dessa experiência. Considerando a limitação deste capítulo. Aqui nos centraremos
uma proposta esportiva no handebol que preserve a estabelecer um ponto de partida necessário à co-
os diferentes momentos e dimensões de prática locação do problema dos valores e objetivos no es-
298 Manual de Handebol

porte educacional, nas características promissoras


do handebol como agente educativo.
Homem
O contexto de Tempo
vivência no
handebol deve Situado
privilegiar
Espaço
23.3 A situcionalidade do homem como
campo de valores e objetivos
Figura 23.4 – Homem situado no tempo e espaço.
O homem tem, como sua expressão no mun-
do, seu corpo. Como um corpo vivo, ele situa-se, A situacionalidade do homem e seu aparato
em sua existência, em espaço e tempo definidores mental e de consciência permite que ele exerça a
de seu meio, um meio eco-bio-sociocultural que o atitude axiológica perante tudo que o cerca desde
condiciona e o determina em todas as suas mani- sua chegada, e isso demonstra que o homem não
festações. Este caráter de dependência do homem é um ser indiferente às coisas e aos outros. A com-
se verifica, inicialmente, em relação à natureza plexidade dos meios cultural e natural passa a ter
(entendida como tudo que existe independente- sentidos para ele, pois, a princípio, sem o homem,
mente de sua ação). esses meios, em si mesmos, não valem nem mais,
O homem depende tanto do meio natural nem menos; eles simplesmente estão aí e é para o
(espaço físico, clima, vegetação, fauna, solo e homem, com sua atitude de valorizar, que tudo
subsolo) quanto do meio cultural (língua, tra- passa a ter significado e a valer. Assim, sem dúvi-
dição, costumes e crenças, instituições, vida da, é com o esporte e em sua prática educacional
econômica, forma de governo, esporte, música que a complexidade do fenômeno esportivo pode
etc.), e é nesta condição de dependência que passar a ser encarada como um conhecimento a
o homem vem ao mundo, para se enquadrar e ser socializado na busca dos sentidos e significa-
se situar. A situacionalidade do homem é uma dos possíveis para os sujeitos tidos como frutos
condição necessária de possibilidade da sua da cultura de massa, mas que podem ser protago-
existência, o que leva a humanidade a valori- nistas de cultura, contemplando, dessa forma, a
zar o meio ambiente: água, terra, fauna, flora subjetividade dos sujeitos.
etc. (no domínio da natureza) e as instituições, Portanto, o valor é
as ciências, as técnicas, a educação, o esporte
(o handebol, especificamente) no domínio da uma relação de não indiferença entre o
cultura. Vejamos a situacionalidade do homem homem e os elementos com que se de-
como campo de valores e objetivos: fronta. A situação abre, pois, ao homem

um campo imenso de valores: é o domí-

nio do prático-utilitário. O homem tem


Valores, valoração e educação 299

necessidades que precisam ser satisfeitas e lorização da criança enquanto ser que

este fato leva à valorização e aos valores.1 age, enquanto produtor de seu jogo e

construtor do seu futuro.

Com fins ilustrativos, dirigimo-nos a Bayer,2


que propõe, em sua obra O ensino dos desportos co- O homem reage às coisas, não fica passivo.
letivos, “uma pedagogia das intenções” em contra- Ele atua intervindo diretamente, aceitando, rejei-
partida aos métodos tradicionais ou didáticos. O tando ou transformando a situação em que se en-
autor considera que estes, com seus princípios de contra. A cultura (o esporte, a educação) é, por um
simplicidade, análise e progressão (fragmentação lado, a transformação que o homem propõe/opera
do conteúdo) fundamentados nos processos de sobre seu meio, e, por outro lado, os resultados dessa
memorização e repetição, visam moldar a criança transformação, que deve ser almejada também na
ao modelo do adulto, ou seja, a criança se diverte proposição e prática, na pedagogia de iniciação e na
na prática do handebol passe a ser considerada nas metodologia do treino, na vivência como espetáculo
mesmas condições do atleta adulto que trabalha no e na estruturação, organização e gestão do handebol
alto rendimento. Em sua proposição, o autor se ba- como uma modalidade esportiva potencializada des-
seia no conceito de intencionalidade, inspirado na ta transformação do homem e da sociedade.
fenomenologia com aproximação ao universo des-
portivo realizada por Rioux e Chappuis, citado por
Bayer (1994) para marcar que o jogador imerso no 23.4 A liberdade do homem como
acontecimento que vive, ou seja, situado no tempo campo de valores e objetivos
e espaço de um jogo repleto de “elementos flutuan-
tes, verdadeiro bombardeamento de estímulos”, re- Embora sob os condicionamentos da situa-
agirá intencionalmente tentando a modificação do ção, o homem consegue a superação, não se en-
desfecho da situação em seu favor ou de sua coleti- contra totalmente determinado, preserva sua au-
vidade. Os comportamentos realizados a partir da tonomia e a sua liberdade. O homem livre é ávido
sensibilidade são pessoais e subjetivos. São reações pela valorização e pelos valores.
visíveis do exterior, ou seja, são os vetores da inten- A liberdade é pessoal e intransferível, portanto,
cionalidade do jogador e oriundos das significações impõe-se aqui o respeito à pessoa humana; e, como
e importância dadas, por este jogador, aos diferen- sujeito, é capaz de tomar posições, avaliar, fazer op-
tes elementos do jogo. Acentua Bayer2 que ções e engajar-se por elas, considerando aquele que
vive ao seu lado, perto ou longe, pois é igualmente
este tipo de pedagogia solicita ao má- um sujeito e não um objeto. Sendo a liberdade sem-
ximo os poderes decisórios dos joga- pre situada, este segundo campo conjuga-se com o
dores (a sua reflexão táctica). É a reva- primeiro. A liberdade é pessoal e intransferível:
300 Manual de Handebol

23.5 A colaboração e a comunicação


no esporte como campo de va-
O contexto de
Homem
Lúdico
lores e objetivos
vivência no
handebol deve Situado
privilegiar
Liberdade
O domínio do prático-utilitário tem seus li-
mites no domínio humano, do mesmo modo que
este tem seus limites naquele. Dialeticamente, o
Figura 23.5 – Elementos de liberdade no contexto domínio prático-utilitário se amplia com a am-
esportivo. pliação da liberdade humana, do mesmo modo
que o domínio humano se amplia a partir da am-
A potencialidade das vivências na práti- pliação das potencialidades da situação.1
ca esportiva, indiferentemente da modalida- A liberdade do homem é pessoal e intransfe-
de, pode propiciar momentos de retomada rível, mas não pode e não deve impedir a possível
da consciência, sendo, ainda, que a prática relação horizontal. Ao contrário, o homem não
fundamentada na dimensão do lúdico pode é indiferente a outrem, reconhecendo seu valor
acentuar a noção de liberdade, espontaneida- e sua liberdade, o que demonstra sua capacidade
de e criatividade. de transcender sua situação e opções pessoais para
O caráter concreto vivido pelo sujeito em nivelar seu ponto de vista com o outro, se comu-
sua condição de ser situado o faz exercer um nicar e agir em comum, privilegiando uma leitu-
domínio sobre as coisas, subordinando-as aos ra objetiva da realidade. Uma leitura em comum
seus desígnios e criando uma relação vertical significa aceitar o valor da verdade, que aparece a
de dominação que jamais poderá, contudo, ser partir do olhar objetivo, que transcende as pessoas
entendida como possível no sentido horizon- como tais, tornando-se fonte de comunicação e
tal, nas relações de homem para homem. Esta entendimento entre os homens.
relação vertical e hierárquica com a natureza e Podemos afirmar, a partir de Bento,4 que o
com o ecossistema já tem mostrado que está jogo desportivo é uma rara oportunidade de o ho-
nos levando para o caos, para o fim. Se ultra- mem reencontrar e assumir a variedade e natura-
passarmos os limites de sustentação da nature- lidade de acepções do ser humano, especialmente
za, que estão sendo anunciados a cada dia pela a da humildade resultante do confronto com as
mídia, os prejuízos para a vida humana serão dificuldades de sua inabilidade e incapacidade,
irrecuperáveis e, então, veremos mais uma vez como fermento da aceitação de si e dos outros.
a grande camada, a população mais pobre da É uma ação renovadora e enriquecedora, porque
humanidade sofrer as mais terríveis agruras, até permite experimentar ações sem as consequências
serem levadas à morte. que teriam em um ato sério; permite acumular
Valores, valoração e educação 301

respostas de tipo novo dificilmente atingíveis de mesmo tempo que desenvolvemos a consciência
outro modo e abordar problemas que normal- de que a intenção tática individual não se esgota
mente ficariam por tratar. Reproduz tensões e em si, mas deflagra uma dinâmica na qual as dife-
contradições da vida, tornando-as suportáveis rentes intenções táticas se articulam umas com as
e resolúveis, como, por exemplo, a tensão entre outras de forma sistêmica, articulando a estrutura
ordem e desordem, que encontramos em mui- coletiva do jogo a partir da intersubjetividade.
tos jogos infantis, ou a tensão entre sucesso e O processo de valorização é constitutivo, ou
insucesso, que perpassa quase todo o desporto. seja, o homem é visto como um ser que não é in-
O jogo altera e inverte papéis e situações: quem diferente, pois se comunica entre si diretamente e
até agora perdeu pode ser, em breve, o vencedor; por meio de objetos, de tecnologias e de suas pró-
quem ganha pode estar seguro de que isso não prias criações culturais, captando e aferindo sen-
acontecerá sempre. tidos e significados para sua vida pessoal e social a
Considerando a especificidade do handebol partir de sua condição de situacionalidade e liber-
como desporto coletivo, devemos, desde a fase dade. No handebol, portanto, ao manifestar uma
de estimulação e aprendizagem, privilegiar uma intenção tática, os praticantes, nas diferentes fases
metodologia que suscite amplamente a percepção de prática, devem contemplar as intenções táticas
e a tomada de decisão (a sua decisão tática) do de seus companheiros, inclusive dos adversários,
praticante, tendo-o sempre como um ser que age, no sentido da complementaridade e da eficiência.
produzindo seu jogo e construindo seu futuro, ao O jogo desportivo coletivo, como o handebol, se

E ------ H
S ------ A
P ------ N
O ------ D
Homem R ------ E Homem 2
T ------ B
E ------ O
S ------ L

Figura 23.6 – Transformação do homem.


302 Manual de Handebol

consolida como um espaço propício para as rela- ser humano – bom ou mau –, é preciso sempre
ções pessoais e sociais, pois nele se reproduzem, a intervenção da arte. Para ser homem, não basta
de uma forma peculiar e própria, as condições nascer, é necessário aprender, por meio da comu-
encontradas na realidade da vida contemporânea. nicação com os nossos semelhantes e memórias.
Do ponto de vista do esporte educacional,
o que significa, então, promover o homem? Sig-
23.6 O handebol e a dimensão esté- nifica contribuir, conjuntamente com a educação,
tica como campo de valores e para que ele seja cada vez mais conhecedor da sua

objetivos realidade concreta (situada) para transformá-la,


ampliando a liberdade, a comunicação e a colabo-
Com uma relação vertical/dominação do ração. Para isso, antes mesmo da escolha de meto-
homem para com as coisas/natureza e uma pre- dologia, é necessário que se combata o individua-
tensa relação horizontal de solidariedade (de cola- lismo e a hipercompetitividade, que estão presentes
boração para com o outro em determinada situ- em nossa sociedade, depondo contra as manifesta-
ação, comunicando-se entre si, com determinada ções e atitudes que colocam a competição a favor e
liberdade situacional) para com o outro, o homem não contra o humano. É preciso colocar uma base
percebe que é para além do prático-utilitário, ou pedagógica que se fundamente em uma visão críti-
seja, o “o homem é aquele animal para o qual o ca de sociedade, de esporte e de esporte na socieda-
supérfluo é necessário”.1 A partir daí, abre-se ao ho- de contemporânea. Assim, não nos parece fora de
mem outro campo para a valoração e os valores, questão relembrar Bracht,5 quando diz que:
que podemos sintetizar na “apreciação das coisas
e das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem sendo o movimento humano e sen-
outro objetivo senão o de se relacionar com elas”. do o homem um ser eminentemente
Em outras palavras: são as formas estéticas, as sen- social, a motricidade transcende os
sibilidades, as subjetividades. preceitos da biologia, alcançando sua
Como diz Bento,4 ao chegarmos ao mundo, condição histórica e social. O movi-
o fazemos “demasiado pequeno e com uma invali- mento é interdependente com todas
dez originária”, solicitando toda uma gama de arti- as dimensões humanas. A consequ-
fícios protéticos para preencher nossas limitações. ência disso para a ação pedagógica é
Nascemos para ser humanos. Nascemos de que (...) devemos objetivar muito
para a humanidade. Ou seja, a nossa natureza mais do que a aptidão física, a apren-
biologicamente humana carece de ser confirmada dizagem motora, a destreza desportiva
por um segundo nascimento, pelo contágio social etc.; (...) o movimento que a criança
e cultural; requer-se a deliberação artificial. Para realiza em um jogo tem repercussões
Valores, valoração e educação 303

sobre todas as dimensões do seu com- as necessidades que devem ser levados

portamento e, além disso, esta ativi- em consideração não são os dos ‘indi-

dade veicula e faz a criança introjetar víduos’, mas os de classe.

determinados valores e normas de

comportamento. O esporte é burguês, não porque

essa é sua essência, mas porque suas

fala-se da criança em si, e não de uma múltiplas determinações lhe fornecem

criança situada social e historicamen- as características para tal, de maneira

te. Fala-se da natureza da criança, e que, para termos um esporte não bur-

isso é ideológico na medida em que guês, precisamos atuar sobre suas deter-

encobre as diferenças produzidas pela minações (...). Ao procurar desenvolver

condição social destas crianças. um esporte em que o princípio do ren-

dimento e da competição discrimina-

Sem considerar que diferenças entre classes tória (melhores dos piores), do esforço
sociais antagônicas definem condições específi- pessoal e individual (às vezes associado)
cas de infância. para vencer o adversário não seja seu

norteador principal, desenvolvendo um

os valores e as normas de compor- esporte em que se busca o jogar com e

tamento introjetados pela condição não contra o adversário, um esporte em

econômica e pela posição na estrutura que se busca insistentemente o desen-

de classes na nossa sociedade volvimento do coletivismo (priorização

do coletivo ao individual, incluindo o

é que determinará o uso que o indivíduo fará do ‘adversário/companheiro’), estaremos,


movimento nas suas diferentes possibilidades e fins. na verdade, descaracterizando o esporte

burguês e lançando e criando as bases

A postura de que o educador de um novo esporte que, por sua vez,

deve apenas facilitar o desenvolvi- somente se consolidará com a criação,

mento das potencialidades da criança também, de uma nova ordem social,

tem como fundamento a ideia de que sem a qual não haverá condições de so-

a criança possui uma ‘natureza’ que breviver, porque será fatalmente subme-

é fundamentalmente boa, bastando tido à ordem burguesa.

permitir que isso se manifestasse. Se

assumirmos uma postura de classe O que se almeja na prática do handebol é


social para a educação, os interesses e caminhar pela contramão do processo de exclusão
304 Manual de Handebol

da maioria, ou seja, teremos de promover o espor- do demissionismo e do cinzentismo.


te, ensinando-o a todos, o que não implica ultra- Tudo sugere que a bandeira do discur-
passar a simples transmissão e ensinamento de téc- so sobre os princípios e valores, seja
nicas visando às competições. O que nos interessa no desporto, seja nas outras coisas da
é promover uma transformação didático-pedagógica vida, se encontra arriada.
nesta modalidade, contemplando e fazendo a re-
lação desta com as condições em que se apresenta Trata-se, pois, de uma tarefa que deve ser re-
na sociedade contemporânea: uma sociedade que alizada na prática do esporte com características
produz mercadorias transforma tudo em merca- educacionais. Isso é o que já vínhamos apontan-
dorias, e a instituição esportiva assim age em vir- do e nos permite perceber a função da valoração
tude do processo de mercantilização da sociedade e dos valores na vida humana. De acordo com
em geral, especificamente do esporte, instituída Saviani,1 os valores indicam as expectativas, as as-
historicamente, promovendo a troca e a venda de pirações que caracterizam o homem em seu esfor-
imagem, produtos, atletas e tantas outras mercado- ço de transcender-se a si mesmo e à sua situação
rias no esporte e por meio dele. histórica; como tal, marcam aquilo que deve ser
em contraposição àquilo que é. A valoração é o
próprio esforço do homem em transformar o que
23.7 Esclarecendo o processo de va- é naquilo que deve ser. Essa distância entre o que
loração: valores e objetivos para é e o que deve ser constitui o próprio espaço vital

o handebol da existência humana; com efeito, a coincidência


total constitui o próprio espaço vital da existência
Temos consciência de que vivemos, nas últi- humana e entre o ser e o dever ser, bem como
mas décadas, em nível mundial (apesar de, no Bra- a impossibilidade total dessa coincidência seria
sil, esse ser um mal crônico e histórico), uma crise igualmente fatal para o homem.
da ideologia e da axiologia. Se não podemos ser tão Valores e valoração estão intimamente rela-
contundentes assim sobre este tema, podemos, sem cionados; sem os valores, a valoração seria desti-
receio, dizer que há um forte menosprezo com rela- tuída de sentido; em contrapartida, sem a valo-
ção a ideias, valores e princípios humanistas. ração, os valores não existiriam. Desvincular os
Segundo Bento:4 valores da valoração equivalerá a transformá-los
em arquétipos de caráter estático e abstrato, dis-
É como se os tivéssemos expulso do postos em uma hierarquia estabelecida a priori.
elenco das razões que comandam a O caráter concreto da experiência axiológica nos
vida e nos tivéssemos deitado nos bra- permite substituir o conceito de hierarquia, tra-
ços do determinismo, da indiferença, dicionalmente ligado a uma concepção rígida e
Valores, valoração e educação 305

estática, pois “a sociedade sempre teve interesse Coloca-se aqui a necessidade de estabelecer
em priorizar certas hierarquias que correspondem a relação cabível e própria entre os fenômenos:
mais aos interesses dos seus grupos privilegiados”, handebol (esporte) e educação, quanto aos valores
pelo conceito de prioridade, mais dinâmico e e objetivos. Sem dúvida, handebol (esporte) não é
flexível. Com efeito, a prioridade é ditada pelas educação, mas, sob a preocupação de torná-lo um
condições da situação existencial concreta em que meio, um instrumento que possa ser proativo edu-
vive o homem. Exemplifiquemos. cacionalmente, é necessário ter o foco centrado nas
questões de valores e objetivos educacionais, bus-
Conceito de Hierarquia cando contribuir em nível educacional e visando à

Corresponde aos interesses formação integral da criança e do adolescente.


de grupos privilegiados. Assim, se vou educar, seja em um bairro de
elite, seja em uma favela, sempre darei mais ênfase
aos valores intelectuais em relação aos econômi-
cos. No entanto, a nossa experiência da valoração
Conceito de Prioridade nos mostra que, na favela, os valores econômicos

Corresponde às condições da tornam-se prioritários, dadas às necessidades de


situação concreta em que o
sobrevivência, ao passo que, em um bairro de eli-
homem vive.
te, assumem prioridade os valores morais, dada a
Figura 23.7 – Conceitos de prioridade e hierarquia. necessidade de se enfatizar a responsabilidade pe-
rante a sociedade como um todo, a importância
De acordo com a noção de hierarquia, os da pessoa humana e o direito de todos de parti-
valores intelectuais seriam, por si mesmos, supe- cipar igualmente dos progressos da humanidade.
riores aos valores econômicos. Podemos citar a Indicando-nos aquilo que deve ser, os va-
hierarquia proposta por Scheler (Morente, 1966, lores nos colocam diante do problema dos ob-
p. 300, apud Saviani)1 como a mais generalizada e jetivos. Com efeito, um objetivo é exatamente
aceita correntemente: aquilo que ainda não foi, mas que deve ser al-
cançado. A partir da valoração, é possível definir
Quadro 23.1 – Hierarquia dos valores proposta objetivos para a educação. Considerando-se que
por Scheler. a educação visa à promoção do homem, são as
Ordem Valores necessidades humanas que determinarão os ob-
A Úteis ou econômicos
jetivos educacionais. Essas necessidades devem
B Vitais ou afetivos
C Lógicos ou intelectuais ser consideradas concretamente, pois a ação edu-
D Estéticos cativa será sempre desenvolvida em um contexto
E Éticos ou morais
existencial real.
F Religiosos
306 Manual de Handebol

Os objetivos indicam os alvos da ação. Eles É preciso, então, encarar o problema do pon-
constituem, como lembra o nome, a objetivação to de vista da realidade existencial concreta do
da valoração e dos valores. Poderíamos, pois, di- homem brasileiro. Qual é a situação do homem
zer que se a valoração é o próprio esforço do ho- brasileiro? Como ele valoriza os seus elementos?
mem em transformar o que é naquilo que deve ser, Como ele se utiliza deles? Uma análise mais deti-
os objetivos sintetizam o esforço do homem em da revelará que o homem brasileiro, no geral, não
transformar o que deve ser naquilo que é. A Figura sabe tirar proveito das possibilidades da situação
23.8 facilita a compreensão dessas ideias: e, por não sabê-lo frequentemente, acaba por des-
Nela, realidade 1 representa a situação origi- truí-las. Isso nos revela a necessidade de uma edu-
nal e realidade 2 representa essa mesma situação, cação para a subsistência: é preciso que o homem
porém transformada. Temos, pois, que realidade brasileiro aprenda a tirar da situação adversa os
2 = realidade 1 transformada. meios de sobreviver. Nesse caso, o handebol pode
Como a definição de objetivos educacionais ser um instrumento de preparação quando pensa-
depende das prioridades ditadas pela situação em mos na possibilidade de preparar as vivências que
que se desenvolve o processo educativo, com- envolvem o vencer e o perder como momentos
preende-se que tal definição pressupõe uma análi- balizadores para buscar as melhoras necessárias
se da situação em questão. nos diversos campos que envolvem esta prática.

Valores
(o que deve ser)

Valoração Objetivos

Realidade - 1 Realidade - 2

O que é

Figura 23.8 – Esquema da objetivação do processo de valoração. Adaptado de Saviani.1


Valores, valoração e educação 307

Mas como pode o homem utilizar os ele- no handebol tanto em nível educacional, quando
mentos da situação se ele não é capaz de intervir de participação (lazer) de alto rendimento. Daí
nela, decidir, engajar-se e assumir pessoalmente a vem o quarto objetivo: educação para a transfor-
responsabilidade de suas escolhas? Sabemos quão mação. Nesse sentido, temos de perceber as po-
precárias são as condições de liberdade do homem tencialidades pedagógicas do esporte em relação
brasileiro, marcado por uma tradição de inexpe- à formação dos sujeitos, mas, para isso, devemos
riência democrática, marginalização econômica, considerar a possibilidades de transformação do
política, cultural, daí a necessidade de uma edu- próprio handebol. O handebol é único, mas se
cação pra a libertação: é preciso saber escolher e desenvolve em várias dimensões. Na dimensão
ampliar as possibilidades de opção. Os educado- educacional, temos o handebol da escola, ou seja,
res esportivos devem estar atentos a essas questões aquele esporte que, sob o tratamento pedagógico,
para poderem, dentro do trabalho específico com pode ser modificado e transformado quanto a sua
o handebol, propor sua prática com base em um estrutura, funcionalidade e regulamentação, jus-
cunho educacional considerando a situação con- tamente porque os valores e objetivos demandam
creta de vida dos sujeitos envolvidos e consideran- um processo de valoração afinado com a educação
do os valores e os objetivos para contribuir com a para a transformação.
libertação do homem brasileiro. Considerando a problemática dos valores e
Como, porém, intervir na situação sem uma objetivos a partir da situacionalidade, da liberda-
consciência das suas possibilidades e dos seus li- de, da comunicabilidade e da dimensão estética
mites? Essa consciência só se adquire por meio da do homem brasileiro, entendemos que o esporte
comunicação. Daí vem o terceiro objetivo: educa- educacional poderá, mesmo dentro de uma es-
ção para a comunicação. É preciso que se adqui- pecificidade como o handebol, auxiliar a trans-
ram os instrumentos aptos para a comunicação formação existencial concreta de crianças e ado-
intersubjetiva. Nesse campo, o handebol como lescentes, desde que procure tratar, além de seus
modalidade de funcionalidade simples possui temas específicos (técnicas e táticas, preparação
uma grande potencialidade considerando-se que física e psicológica), temas considerados educa-
é uma linguagem universalizada e sem divisas ou cionalmente transversais, como a subsistência, a
fronteiras, ou seja, é um fenômeno mundialmente libertação, a transformação e a comunicação.
hegemônico, mas que pode ter suas regras, estru- Como, porém, realizar esses objetivos? Com
tura e funcionalidade relativizada considerando as quais instrumentos podemos contar? É preciso
diferentes etapas e dimensões de prática. buscar, na realidade vivida das vivências que pra-
Tais objetivos, contudo, só serão atingidos ticam o handebol, uma organização com planeja-
com uma mudança sensível do panorama nacio- mento e sistematização adequados que permitam
nal atual, quer geral, quer educacional, com base estruturar metodologias e estratégias adequadas
308 Manual de Handebol

para se atingir tais objetivos. Essas são as expec-


tativas presentes tanto quando da criação de um
novo projeto ou programa envolvendo o hande-
bol como quando da continuidade daqueles exis-
tentes. Essas são as expectativas apresentadas por
crianças praticantes, professores, técnicos, atletas
das diversas categorias quando pensam nos ór-
gãos e instituições que administram o handebol
brasileiro e, principalmente, aqueles que recebem
fomentos públicos dos governos municipal, esta-
dual ou federal.
Francisco de Assis Farias

Handebol master para ex-atletas:


24 uma proposta de inclusão

24.1 Introdução nuidade da prática do handebol para adultos que


estão fora dos espaços de competições, mas, tam-
O máster handebol, modalidade esportiva bém, para a consolidação do desporto, bem como
implantada em 18 de dezembro de 2004, por para a permanência dos praticantes e difusão do
meio do I Festival Máster de Handebol, em Ma- desporto. Isso oportuniza a adequação do tempo
ceió (AL), teve como perspectiva, inicialmente, livre, apresentando-se como mais uma alternativa,
oportunizar os ex-praticantes da modalidade de dando, desse modo, destaque à proposta didática
handebol a permanecerem praticando uma ativi- do handebol máster. A democratização do lazer
dade física a partir dos 30 anos, para as mulheres, está associada à oportunidade de realização dos
e 35 anos, para os homens, de maneira partici- anseios de diferentes tipos de pessoas nas vastas
pativa, superando, assim, o enfoque presente nos comunidades, respeitando interesses e objetivos
altos níveis de competição. de cada grupo para os quais as atividades serão
Neste capítulo, pretende-se apresentar uma desenvolvidas.
proposta de intervenção socioeducativa voltada Esse pensamento se caracteriza, obrigatoria-
para a prática do handebol para sujeitos pratican- mente, pela necessidade de massificação da moda-
tes dessa modalidade com idade acima de 30 anos. lidade máster, mas, sobretudo, estabelece normas
Esta proposta surge a partir da vivência em classes que visam atender a grupos diferenciados, gerando,
do Curso de Licenciatura em Educação Física da assim, novos níveis de aspirações, motivações, envol-
Universidade Federal de Alagoas (UFAL) duran- vimento e manutenção a um estilo de vida saudável.
te quase dez anos de trabalho com o ensino da
modalidade. Neste contexto, estiveram envolvi-
dos os alunos matriculados, à época, na disciplina 24.2 A contextualização do hande-
Metodologia do Handebol.a Entende-se que esse bol máster
tipo de proposição favorece não somente a conti-
Sendo um adepto de handebol e praticante
a
Colaboraram na construção da proposição metodológica e na
realização do evento inicial os alunos Alan Robério Soares Bis- desde 1972, como o tempo não “perdoa” e a idade
po, Alexandre Adelino Oliveira, Fernando Ítalo Costa Brandão,
Késsia de Sales Braga e Laura Luiza Vieira da Silva. avança a cada momento, a vontade de continuar
310 Manual de Handebol

a prática era proporcional ao amor pelo desporto. Começamos a elaborar regulamento nos
Comecei a pensar no que deveria fazer para conti- quais, prioritariamente, tínhamos de estabelecer
nuar a praticar o handebol e nenhuma ideia vinha a idade mínima para os dois naipes, feminino e
à cabeça. masculino, e, em seguida, começamos a convidar
Durante a participação no III Encontro Na- ex-atletas para participar do evento.
cional de Professores de Handebol das Institui- O festival, que foi realizado no dia 18 de
ções de Ensino Superior Brasileiras na cidade de dezembro de 2004, reuniu 84 ex-atletas partici-
Belo Horizonte, porém, quando da realização pantes diretos, além de centenas de espectadores.
de uma apresentação com temática relativa sobre Durante o festival, foi feita uma enquete solici-
a prática do Handebol na Terceira Idade, que ti- tando sugestões para modificações de regras para
nha como base a prática do handebol para pesso- melhor desenvolvimento do jogo.
as a partir de 60 anos, encontramos o caminho No ano seguinte, durante a realização do
que nos permitisse encontrar respostas às nossas IV Encontro Nacional de Professores de Han-
inquietações quanto à continuação da prática do debol das Instituições de Ensino Superior Brasi-
handebol após a vida adulta. leiras, em Maceió, ministrei uma palestra sobre
De volta a Maceió, trouxe esta ideia e resol- o Master Handebolc, quando, oportunamente,
vi compartilhar com os meus alunos da Disciplina foi possível colher críticas e sugestões que, desta
Metodologia do Ensino do Handebol do Curso de vez, partiram de profissionais que já atuam nessa
Educação Física da Universidade Federal de Alagoas. área do desporto. Tudo isso contribuiu para o
Após uma explanação sobre todos os aconte- melhor desenvolvimento da modalidade propos-
cimentos do referido encontro, expus minhas ideias ta e muitas delas levaram à ampliação e a modi-
por meio do regulamento do handebol para terceira ficações no seu desenvolvimento.
idade e solicitei que eles fizessem uma análise crítica Além da realização do II Festival Máster,
no sentido de colocarmos em prática a proposta de em 2006, desta feita com algumas regras modifi-
implantação desta modalidade esportiva. cadas fruto das sugestões colhidas anteriormen-
Depois das discussões em sala de aula, chega- te, procuramos realizar outras atividades com-
mos à conclusão de que, em princípio, deveríamos petitivas. Como exemplo, foram realizados dois
lançar o máster handebol através da realização de torneios, sendo um no naipe masculino e outro
um evento competitivo denominado I Festival Más- no naipe feminino.
ter de Handebol.b Os festivais e torneios do máster de handebol
em Alagoas tencionam assegurar a implantação de
uma atividade direcionada a um grupo especial
b
Vale destacar a publicação da ata de fundação da modalidade,
no Diário Oficial do Estado de Alagoas de 1º de fevereiro de
2005, e o registro em cartório datado de 26 de junho de 2006,
c
No naipe feminino, a participante deverá ter, no mínimo, 30
como direito autoral do professor Francisco de Assis Farias. anos, enquanto no naipe masculino, a idade mínima é 35 anos.
Handebol master para ex-atletas 311

de ex-atletas. A sua primeira edição idealizou-se No passado, valia a ideia de que envelhecer le-
sob duas perspectivas: a primeira parte do direito varia o indivíduo, após anos e anos de trabalho, a
à prática da atividade de handebol aos praticantes viver no imobilismo e ostracismo de seu lar, tudo
com faixa etária de 30 anos para o naipe feminino em virtude da ignorância quanto ao que é a velhice.
e de 35 anos para o naipe masculino; a segunda, Se antes o sujeito gozou de um status como membro
que visa garantir a sustentabilidade dos objetivos ativo da sociedade, agora ele poderá ser considerado
relacionados à incrementação do máster handebol um membro desnecessário ao convívio social.
nos cursos superiores de formação de professores Como consequência, era notável a diminui-
de Educação Física nos diversos Estados e regiões ção do número de expectativa de vida do idoso, já
brasileiras, a exemplo do Curso de Licenciatura que a sociedade o restringia de vários aspectos e
em Educação Física da Universidade Federal de condutas sociais.
Alagoas, em que consta um dos conteúdos da dis- Diante das mudanças ocorridas sobre o con-
ciplina Metodologia do Handebol. ceito de velhice nesses últimos anos, a população
idosa, mesmo com perdas na capacidade de seu or-
ganismo, permanece ativa dentro de suas limitações.
24.3 O que é envelhecimento? Em nosso ponto de vista, a maneira pela
qual as pessoas passam a encarar as características
O envelhecer é uma consequência natural do envelhecimento é que as classificam como “ve-
da vida, que não se pode evitar. Desenvolvendo- lhas”. Existem critérios que classificam o sujeito
se em torno da sexta década da vida dos seres hu- dentro de uma escala de valores sociais que mais
manos, envolve muitas variáveis (genética, estilo o cerceia de uma possibilidade de vida saudável e
de vida, doenças crônicas) que interagem influen- ativa do que o considera um sujeito experiente,
ciando a maneira pela qual envelhecemos. vivido e consciente de seu próprio corpo.
O que se deve fazer, no entanto, é procurar Envelhecer é mais uma etapa da vida, e de-
estabelecer as bases para que, nesse período, o ido- vemos nos preparar para vivê-la da melhor manei-
so possa viver nas melhores condições possíveis. ra possível. O indivíduo está em constante evolu-
Segundo Motta apud Corazza,6 o envelhecimento ção e, diariamente, seu corpo se desenvolve até se
torna-se acelerado quando o indivíduo vive em tornar adulto. Paralelamente, há um desenvolvi-
ambiente indesejado e vice-versa. mento em nível psíquico, social, afetivo e intelec-
De acordo com Mazzo,8 velhice é um termo tual. À medida que a pessoa se torna adulta, essa
impreciso e sua realidade é muito difícil de perce- evolução é mais lenta ou, ao menos, mais latente.
ber. Nada flutua mais do que os limites da velhice Em torno dos 21 anos, o crescimento cor-
em termos de complexidade fisiológica, psicoló- poral tende a diminuir e o jovem passa a estagnar
gica e social. fisicamente, embora seu organismo continue evo-
312 Manual de Handebol

luindo. Mais adiante, chega o momento em que o sobre o corpo, a saúde e até a personalidade dos
organismo começa uma fase de evolução, iniciando indivíduos na terceira idade. As suposições são as
o envelhecimento. Exteriormente, manifestam-se seguintes: para as pessoas mais idosas, a ativida-
alguns traços específicos do avanço da idade: cabe- de física ou o esporte pode ser um meio eficiente
los brancos, rugas nas mãos e no rosto, flacidez, en- contra o isolamento social e a solidão, podendo
tre outros. Os órgãos internos também começam a compensar a diminuição das relações sociais em
dar sinais de cansaço ou falta de atenção. Embora razão da aposentadoria. Muitas vezes, pode ofere-
numerosos avanços científicos tenham ocorrido cer certa substituição do status e orgulho determi-
neste contexto, alguns resultados demonstram que nado pela atividade e posição profissional.
o programa de vida inscrito em nossos genes é de- Para se obter bons resultados na atividade
senvolvido de maneira distinta e de acordo com física, é preciso que os exercícios sejam de fácil
cada individuo, além de ser consideravelmente in- entendimento, proporcionando resultados po-
fluenciado pelo meio em que vivemos. sitivos à saúde. Enfim, a atividade, ao mesmo
O envelhecimento populacional já não é tempo, deve ser prazerosa, inspirando confian-
mais uma prerrogativa dos países em desenvolvi- ça no posicionamento fundamental do corpo
mento. Desde 1960, mais da metade dos idosos diante da vida.
do mundo vive em países em desenvolvimento, São pouco abordados pela literatura os as-
sendo que as projeções indicam que esse percen- pectos referentes ao sexismo. A maior parte deles
tual, em relação a essa população, subirá para demonstra que esse fato não tem importância na
70% no ano de 2020.8 formação de programas esportivos. Todavia, a so-
De acordo com Puga Barbosa,9 o Brasil já é brecarga física e a treinabilidade diferem quanto
considerado um país envelhecido, e esse crescimento ao sexo. Acredita-se que a força e a resistência são
populacional é o mais acelerado do mundo. As pro- mais treináveis no homem e a mobilidade, nas
jeções mostram que, no ano de 2025, a proporção mulheres, que, por sua vez, estariam mais aptas a
dos idosos será de 15%, semelhante às que ocorrem, alguns processos coordenativos (que ocorrem es-
atualmente, em países europeus. Seremos, então, o pecialmente nas atividades de ginástica e dança).
sexto país em número de idosos no mundo. Outro fator importante está ligado à área de
motivação. Segundo Bauer e Egler,12 alguns dados
mostram que as mulheres são menos levadas ao
24.4 A prática da atividade física e esporte pela motivação de rendimentos em rela-
do esporte ção aos homens.
Não há dúvidas de que a atividade que con-
Autores como Otto10 e Leite11 supõem que tém uma carga de resistência aeróbica merece
o esporte ou atividade física podem surtir efeito maior atenção quanto à saúde na velhice. Sob o
Handebol master para ex-atletas 313

aspecto de prevenção de sintomas de deficiências de e energia, melhor sono, menor inci-


movimentos, a carga de resistência aeróbica ocupa dência de artrose, lesões musculares e
vantagem; no entanto, as formas de cargas diferen- quedas. Isso significa melhor qualida-
tes não devem ser desconsideradas. O programa re- de de vida, autossuficiência e melhor
gular de atividade deve ser formado de tal maneira saúde física e mental.11
que sejam fortalecidas as musculaturas do tronco,  Praticar, sistematicamente, esporte ou
braços e pernas, e que contenham, também, certo quaisquer outras atividades físicas é
grau de mobilidade articular dos ombros e quadris. excelente para a manutenção da saú-
As atividades físicas que enfatizam a flexibi- de. Os exercícios devem seguir uma
lidade e o alongamento beneficiam significativa- sequência e certos níveis de exigência,
mente a variação da mobilidade articular, incluin- em que os estímulos a serem solicita-
do pescoço, ombros, cotovelos, dorso, quadril, dos no organismo sejam mais fortes
joelho e tornozelo. do que os comumente realizados. As-
Nosso corpo está para o movimento, não para sim, ele se adaptará a novas cargas, su-
o descanso. O sistema cardiocirculatório e seu me- portando facilmente aqueles já prati-
tabolismo, os ossos e, principalmente, os músculos, cados no dia a dia. Esses efeitos devem
estão fisicamente adaptados a realizar diariamente estar relacionados a outros fatores, tais
as mais variadas atividades, em qualquer idade. como: estado de saúde, motivação, re-
O idoso deve se movimentar e estimular gularidade, prazer.
seus reflexos – participar. O desenvolvimento téc-
nico e científico da sociedade hoje nos acostumou
à vida sem esforços. 24.5 Como se desenvolve o máster
A exemplo, Otto10 afirma que, além de tra- handebol
balhar o corpo e aumentar a capacidade aeróbi-
ca, o esporte e a dança são uma forma alegre de
se exercitar. Nessas atividades, pode-se trabalhar 24.5.1 Condições gerais
com diferentes intensidades, a depender da ca-
pacidade física de cada um. Além disso, o mais O máster handebol tem como base as regras
importante é o fato de também proporcionar uma do handebol indoord respeitando as peculiaridades
distensão emocional e mental e a alegria de poder inerentes à modalidade.
expressar as suas próprias capacidades: Em relação às faixas etárias, no naipe femi-
nino poderão participar ex-atletas com idade mí-
 A atividade física regular torna o idoso d
Handebol praticado em ginásios de esportes, em ambiente
mais dinâmico, com maior vitalidade fechado.
314 Manual de Handebol

nima de 30 anos, enquanto no naipe masculino O jogo deve ser desenvolvido em áreas dis-
os participantes deverão ter, no mínimo, 35 anos. tintas, ou seja, em cada metade da quadra poderá
Em relação ao número de participantes, cada ter no máximo quatro e, no mínimo, dois jogado-
equipe é formada por 14 jogadores, sendo que, res de linha para cada equipe, que serão chamados
na quadra de jogo, só poderá haver, no máximo, de defensores e atacantes, além do goleiro.
oito jogadores de linha e um goleiro, para cada Se o jogador invadir a linha do meio do
equipe. Uma partida não poderá ter continuidade campo com a posse de bola, deve ser cobrado tiro
se uma das equipes ficarem reduzida a menos que livre contra sua equipe.
seis jogadores de linha. O máster handebol poderá também ser
O tempo de duração de uma partida ocorre praticado por equipes mistas, mas, para tanto, a
em dois tempos de 20 minutos, com 10 minutos equipe feminina deve sair com a bola e, em cada
de intervalo entre eles. Se, em uma partida, hou- equipe na quadra, deve permanecer o mesmo nai-
ver necessidade de se conhecer um vencedor, será pe em cada metade da quadra.
jogado um tempo extra de 5 minutos de prorro-
gação para a finalização do jogo. Se persistir o em-
pate, haverá uma série de cobrança de cinco a sete 24.5.2 Condições específicas do jogo
metros, cobrado por jogadores diferentes de for-
ma intercalada; persistindo ainda o empate, ha- Como condições específicas de jogo, a mo-
verá uma nova série de cobranças de sete metros; dalidade máster handebol ainda apresenta algu-
contudo, o vencedor agora é decidido logo que mas características que lhes são peculiares e ne-
houver um gol de diferença, após cada equipe ter cessárias ao desenvolvimento do jogo. Abaixo,
tido o mesmo número de arremessos. As cobran- destacamos algumas outras considerações que
ças de sete metros deverão ser cobradas por atletas vêm se adequar à modalidade proposta:
diferentes que estejam em condições de jogo e de
forma intercalada.  Se o jogador de linha invadir a linha
O tiro de meta também é executado pelo do meio de campo sem a bola e disso
goleiro, mas ele é obrigado a passar a bola para tirar proveito, será cobrado tiro livre
os jogadores da defesa; o tiro de saída é também contra sua equipe.
executado pelo goleiro, no início do jogo e após  É permitido, a ambas as equipes, apa-
cada gol sofrido, mas se deve pisar na linha de nhar a bola que esteja no ar sobre o
tolerância da execução da cobrança do tiro de sete meio de campo no qual ele não estiver
metros; o goleiro também é obrigado a passar a jogando.
bola para um dos seus companheiros que se en-  A bola não poderá ser passada direta-
contra na defesa. mente do goleiro, através de um tiro de
Handebol master para ex-atletas 315

saída ou tiro de meta, para os jogadores muito embora seja necessária a adaptação à nova
que se encontram no ataque (tiro livre). modalidade em relação à técnica de arbitragem.
 Os jogadores substitutos (reservas) só Como exemplo, deve a arbitragem estar
poderão entrar para participar do jogo atenta às características de esporte participativo
pelas zonas de substituições (comuns que esta modalidade oferece, em que os partici-
às duas equipes), executando a forma- pantes do máster handebol devem ter sempre em
lidade das regras oficiais do handebol mente que esta modalidade foi criada na perspec-
(exclusão de dois minutos na primeira tivas dos seus participantes jogarem “com” e não
e, nas demais, cinco minutos para o “contra”. Essa é que é a base principal do jogo.
mesmo atleta).
 A primeira exclusão terá a duração de
dois minutos, mas o atleta poderá ser 24.6 Considerações finais
substituído por outro durante a exclusão.
 A segunda e a terceira exclusão do Após realização de dois festivais máster de
mesmo atleta terão duração de cinco handebol e a participação em Eventos Científicos
minutos, mas também o atleta poderá e Encontros Profissionaise,f, além de garantir a in-
ser substituído durante a exclusão. As serção desta modalidade nos planos de ensino da
exclusões no máster têm o objetivo de disciplina Metodologia do Handebol do Curso
punir o atleta, não a equipe. de Educação Física da Universidade de Alagoas
 É considerado jogo passivo se o atleta (UFAL), diante da aceitação e do interesse da
voltar a bola para a defesa depois de comunidade de profissionais que lidam com este
ela se encontrar no ataque. desporto, vislumbramos a realização de outros
 Os gols na partida só poderão ser mar- eventos similares ao que ora propomos.
cados pelos jogadores que se encon- Sugerimos, dessa forma, que as entidades
tram no ataque. esportivas (federações e confederações) favore-
 Retornar a bola que estava no ataque çam a realização de eventos dessa natureza, para
para defesa deliberadamente será con- oportunizar aos praticantes de handebol, que, na
siderado jogo passivo (tiro livre). juventude, optaram por esta modalidade, quer
na perspectiva do lazer, quer na perspectiva da
competição, a continuar sua prática esportiva de
24.5.3 A arbitragem forma participativa como preceitua esta modali-
dade esportiva.
Em relação à arbitragem, as prerrogativas são e
Encontro luso-brasileiro realizado em Maceió, em 2006.
f
IV Encontro Nacional de Professores de Handebol das Insti-
as mesmas das demais modalidades de handebol, tuições de Ensino Superior Brasileiras em Maceió, em 2005.)
316 Manual de Handebol

Outra alternativa de difusão desta modali-


dade é a possibilidade de envolvimento de outras
instituições de Ensino Superior que ofertam cur-
sos de licenciatura em Educação Física na inclu-
são desta proposta como conteúdo obrigatório
nas disciplinas correlatas ao estudo do esporte. É
o que se preconiza a partir da iniciativa já experi-
mentada no Curso de Educação Física da Univer-
sidade Federal de Alagoas.
Prof. Ms. Décio Roberto Callegari, Prof. Dr. José Irineu Gorla, Prof. Dr. Paulo Ferreira de Araújo

25 Handebol em cadeira de rodas

O fato gerador do interesse em resgatar as debol adaptado para cadeirantes utilizando-se de


ações práticas que tiveram por objetivo adaptar mecanismos de busca (sites como Google, Yahoo,
o jogo de handebol para pessoas portadoras de Cadê etc.).
deficiência foi o encontro de três trajetórias pro- Cabe registrar que este não é um texto definiti-
fissionais: a vivência do Prof. Ms. Décio Roberto vo sobre o assunto, e se alguém teve uma experiência
Callegari na modalidade, em que já exerceu as de adaptação do handebol e gostaria de registrá-la,
funções de atleta, árbitro, treinador e dirigente, basta enviar um e-mail com documentos, fotos e
e o prazer proporcionado pelo desenvolvimen- depoimentos para que seja incluída neste histórico.
to de trabalhos com portadores de necessidades Seguem as principais iniciativas identificadas,
especiais, a partir da implantação do Projeto de tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Atividades Motoras Adaptadas (Projeto AMA),
idealizado pelo Prof. Dr. José Irineu Gorla jun-
to ao Curso de Educação Física da Universidade 25.1 Iniciativas nacionais
Paranaense, coordenado pelo professor Ricardo
Alexandre Carminato junto ao Curso de Educa-
ção Física da Universidade Paranaense – Unipar 25.1.1 Handebol na terceira idade
campus Toledo.
Inicialmente, foi produzido um estudo ex- Em âmbito nacional, foram identificadas
ploratório que, além de identificar as iniciativas ações de desenvolvimento de handebol para a ter-
que já existiam nesta modalidade, pretendeu es- ceira idade nas cidades de Itajaí (SC), Descalvado
tabelecer parâmetros iniciais para a inclusão da (SP) e na Universidade Metodista de São Paulo.
modalidade no Projeto AMA e a construção de
referencial teórico e técnico para implantação e
evolução da modalidade no âmbito do Movimen- 25.1.2 Handebol especial
to Paraolímpico Nacional e Internacional.
A estratégia inicial foi identificar, na inter- Tem-se conhecimento de uma equipe de
net, as iniciativas que preveem a utilização do han- Curitiba que teria disputado uma competição in-
318 Manual de Handebol

ternacional, tendo, inclusive, conquistado resul- O que chama a atenção no handebol dispu-
tados expressivos. Porém, como a informação é tado por DA é a utilização das mesmas regras da
verbal, não foi possível registrar dados sobre essa IHF, facilitando a integração e desenvolvimento
participação, que encontra-se registrada interna- motor do DA.
cionalmente na sequência quando se registram as
Olimpíadas Especiais.
25.2.2 Special Olympics (Olimpíadas Es-
peciais)
25.2 Iniciativas internacionais
Já nas Olimpíadas Especiais, algumas adap-
Em âmbito internacional, a pesquisa per- tações são necessárias.
mitiu identificar que existem adaptações do Inicialmente, todos devem passar por uma
handebol para surdos e deficientes mentais, e a bateria de testes classificatórios que incluem qua-
modalidade faz parte dos Deaflympics (olimpíadas tro provas: tiro ao alvo; velocidade de passe; drible
dos deficientes auditivos) e das Special Olympics e força de arremesso. Todos os jogadores fazem o
(olimpíadas especiais), em que o handebol é dis- teste e o escore da equipe é determinado pela soma
putado em três formatos diferenciados. dos 7 melhores resultados divididos por sete.
As competições são disputadas em quatro
situações diferenciadas:
25.2.1 Deaflympics – deficientes auditivos
 Equipes de handebol utilizando os
Na Olimpíada para DA – deficientes au- mesmos 7 jogadores do handebol nor-
ditivos – realizada em Melbourne, Austrália, em mal, com a possibilidade de 5 reservas.
janeiro de 2005, cinco seleções masculinas dispu-  Equipes com 5 jogadores e 4 reservas.
taram a medalha de ouro. Na primeira fase, as  Equipes mistas com 4 DM e 3 nor-
cinco seleções jogaram entre si em turno único, mais.
e a classificação final determinou os jogos das se-  Provas individuais para atletas que
mifinais (mais detalhes em: <www.deaflympics. não têm condição de participar das
com>, 2005). competições de equipes, compostas
Na disputa da medalha de bronze, a Alema- por três provas: passe com alvo, drible
nha venceu a Dinamarca por 26 x 20, e a Croácia em dez metros e arremesso. (mais de-
conquistou a medalha de ouro ao ganhar dos EUA talhes em: <www.specialolympics.
(prata) por 43 x 26 (mais detalhes em: <www.dea- org>, 2005).
flympics.com>, 2005).
Handebol em cadeira de rodas 319

25.3 Precursores do handebol em Também foram identificadas ações de prá-


cadeira de rodas tica do handebol em cadeira de rodas no Rio de
Janeiro, protagonizadas pelos professores Sandra
A bibliografia que serviu de base para o Perez e Pablo Alves Jr., mas, apesar dos insisten-
desenvolvimento deste estudo foi um artigo pu- tes apelos para o envio de material, ainda não se
blicado pela acadêmica Daniela Eiko Itani, sob a recebeu nenhum relato desse trabalho, que possui
orientação dos professores doutores Paulo Ferreira até uma comunidade no site de relacionamentos
de Araújo e José Julio Gavião, em que a acadêmi- Orkut que, infelizmente, não agrega informações.
ca apresenta as condições em que se desenvolveu a Depois de iniciadas as atividades, foram des-
prática do handebol para cadeirantes na Unicamp. cobertas mais três iniciativas internacionais: uma
Ao adaptar as regras às condições dos defi- na Espanha, uma na Austrália e outra da Federa-
cientes, Itani13 relaciona, entre as principais difi- ção Europeia de Handebol.
culdades encontradas pelos praticantes, o tama- A iniciativa espanhola é proposta pelo pro-
nho da quadra e a quantidade de jogadores, que fessor de Educação Física José Manuel Rivas Cle-
sofria grande variação, impedindo a prática do mente, que é secretário da Federação Madrilenha
jogo com sete jogadores. de Esportes para Deficientes, e também foi lan-
Uma dúvida que não fica esclarecida em seu çada em 2005. A única diferença da proposta de-
artigo diz respeito aos impulsos na cadeira, que, senvolvida no Brasil é que o goleiro não joga em
levando em consideração que poderiam ser dados cadeira de rodas, o que fez que a altura do traves-
três impulsos, proporcionaria um grande desloca- são fosse reduzida para 1,20 m (borda interna) ou
mento para o jogador. 1,28 cm (borda externa). Desde 2005, é disputa-
Essas informações foram destacadas porque do anualmente em Madri um torneio que envolve
foram fundamentais no desenvolvimento da pro- equipes de basquetebol em cadeira de rodas.
posta implantada no Projeto AMA – Atividade As outras iniciativas (Federação Europeia
Motora Adaptada, desenvolvido pela Universida- e Austrália) apresentam similaridades, sendo, na
de Paranaense em Toledo (PR). primeira, o fato de as equipes disputarem os jogos
Foram identificadas iniciativas isoladas das com seis jogadores em quadra. A iniciativa austra-
Prefeituras de Santos, São Sebastião e Jundiaí, no liana é capitaneada pelo professor George Costas
Estado de São Paulo, no Estado do Rio de Janei- que, em 2006, publicou sua proposta de regras.
ro, por parte da Prefeitura da Capital e do Centro Na Federação Europeia, quem estão à frente
Educacional Santa Mônica, na Bahia, por meio do desenvolvimento do Handebol em Cadeira de
do Núcleo de Educação Física e Esporte Adapta- Rodas são os professores Frantisek Taborski, da
do de Feira de Santana e na Sociedade Hípica de República Tcheca, e Nicole Huang, da Federação
Campinas (SP). Europeia de Handebol.
320 Manual de Handebol

25.4 Evolução e desenvolvimento do hcr tanto que já começaram a ser formadas equipes
que treinam exclusivamente o handebol em cadei-
A partir da implantação prática da modali- ra de rodas, pois o atleta que o joga não apresenta
dade no Projeto de Extensão AMA – Atividade a mesma habilidade exigida dos jogadores de bas-
Motora Adaptada –, foi formada a primeira equi- quetebol, nem comprometimento suficiente que
pe que treina exclusivamente handebol em cadei- os torne legíveis (em condição de) para o rúgbi
ra de rodas e foram iniciados os trabalhos para adaptado.
que a modalidade se desenvolvesse. Como a proposta sempre teve como hori-
A proposta de regras sugeria a construção zonte o desenvolvimento de competições, tam-
de duas modalidades: uma com sete jogadores, bém existem diferenças conceituais entre HCR7 e
que adapta as regras do handebol de salão, e ou- HCR4, pois, enquanto no HCR o foco é a inclu-
tra com quatro jogadores, que adapta as regras do são da pessoa com deficiência, no HCR4 a preocu-
handebol de areia. pação é o desenvolvimento do jogo propriamente
O HCR7 (handebol em cadeira de rodas dito, situações que são direcionadas pela Classifi-
para sete jogadores) ficou com uma formatação cação Funcional.
muito próxima ao handebol de salão. Somente Por meio da Classificação Funcional, é de-
duas modificações foram introduzidas: as cadeiras terminada uma pontuação para cada jogador, de
de rodas e a redução de trave de 2,0 m de altura acordo com o tipo de deficiência, o comprome-
para 1,60 m, por meio da implantação de uma timento motor decorrente e seu volume de jogo.
placa de ferro, que, além de dar maior continui- O valor estabelecido como máximo permitido em
dade ao jogo, tem se mostrado uma eficaz ferra- regra determinará o perfil dos jogadores que par-
menta de marketing e divulgação de eventuais pa- ticipam do jogo.
trocinadores (Figura 25.1).
A outra modalidade desenvolvida é o HCR4, Quadro 25.1 – Soma total da classificação funcio-
que exigiu uma quantidade maior de adaptações, nal dos atletas
mas que, além de possibilitar às equipes iniciantes Modalidade Soma C/F
HCR7 16
a participação em competições, tem apresentado
HCR4a 14
uma boa receptividade por parte do público que HCR4b 7
assiste às apresentações de HCR.
Cabe, ainda, salientar que ambas as propos- O quadro demonstra a soma total da clas-
tas – HCR7 e HCR4 – atendem a públicos dis- sificação funcional dos atletas que podem estar
tintos daqueles que jogam basquetebol em cadeira em quadra e refletem os princípios que determi-
de rodas e rúgbi adaptado, e isso vem se mostran- nam cada categoria, de forma que as competições
do um fator que confere credibilidade à proposta, aconteçam com maior equilíbrio.
Handebol em cadeira de rodas 321

Em termos práticos, no HCR7, geralmente, As regras do HCR4 envolvem uma quanti-


participam dois jogadores com pontuação alta (3 dade maior de adaptações, que não caberiam ser
a 5) e os demais jogadores com pontuação baixa discutidas neste espaço. Recomendamos a visita
(0,5 a 2,5). A Classificação Funcional, além de ao endereço eletrônico <www.hcrbrasil.com.br>.
ser uma importante ferramenta de equilíbrio na
competição, também assume uma função tática,
que pode influenciar o resultado das competições. 25.4.2 Perspectivas de futuro para o hcr
As regras oficiais estão publicadas no se-
guinte endereço eletrônico: <www.hcrbrasil. Atualmente, somente o Brasil realiza com-
com.br>, de forma que, aqui, serão somente petições de handebol em cadeira de rodas. A equi-
apresentadas as principais adaptações de cada pe da ATACAR (Associação Toledense de Atletas
modalidade. em Cadeira de Rodas) já realizou três edições da-
quela que pode ser considerada a primeira compe-
tição de handebol em cadeira de rodas do Brasil:
25.4.1 Principais adaptações das regras a Copa Oeste, disputada em 2006, 2007 e 2008.
do hcr Ainda em 2008, a modalidade foi incluída no
programa da Itajaí Handball Cup, o que impul-
As regras do handebol em cadeira de rodas sionou a formação da primeira equipe de HCR
são muito semelhantes às do jogo de tradicional. de Santa Catarina, o Clube Roda Solta, de Ita-
São feitas apenas algumas modificações, que le- jaí. O evento marcou, também, a realização da
vam em consideração a cadeira de rodas, a mecâ- primeira partida de HCR entre mulheres, com a
nica da sua locomoção e a necessidade de se jogar realização de dois jogos de HCR4.
sentado. A formação de equipes de HCR na Unicamp,
Pode ser destacada a redução da trave, por que já realizou um curso de arbitragem em HCR
meio da implantação de uma placa que amplia o e a realização de jogos entre a Unicamp e Indaia-
travessão superior de 0,08 cm para 0,48 cm, fazen- tuba, equipe de basquete em cadeira de rodas que
do que a altura da trave seja de 1,60 m, o que per- veio a Campinas para conhecer o HCR, serviu de
mite que o goleiro possa jogar na cadeira de rodas. estímulo para que a Universidade Metodista, de
As demais regras são similares às do hande- São Bernardo do Campo, também formasse uma
bol de salão, inclusive a possibilidade de realizar equipe dedicada exclusivamente ao HCR que, no
somente três propulsões na cadeira, caso o atleta dia dois de dezembro de 2008, disputou o primei-
esteja em posse de bola, que seria correspondente ro jogo oficial de HCR nos estado de São Paulo.
aos três passos. Também cabe ressaltar que a bola A realização de um Seminário Internacional
não pode ser conduzida sobre as pernas. sobre o handebol em cadeira de rodas, realizado
322 Manual de Handebol

no mês de outubro na Áustria, com a realização o Simpósio Internacional de Atividade Motora


de um jogo internacional entre Áustria e Suécia, Adaptada, realizado anualmente pelo SESC de
também representa um marco no desenvolvimen- São Carlos (SP). Ainda em 2006, foram realiza-
to da modalidade, apesar das grandes diferenças dos dois cursos de arbitragem em Toledo/PR, na
de regras entre as duas propostas. Unipar, e em Campinas, na Unicamp.
No âmbito acadêmico, as constantes pro- Os professores Décio Roberto Calegari, da
duções científicas dão respaldo e credibilidade à Unipar, e José Irineu Gorla, da Unicamp, têm re-
proposta desenvolvida no Brasil, que já foi apre- alizado palestras sobre a modalidade por todo o
sentada em eventos de porte, como a Reunião Brasil, e professores de vários Estados já manifes-
Anual da SBPC – Sociedade Brasileira para o Pro- taram interesse em iniciar a formação de equipes
gresso da Ciência (2005 e 2006), Congresso Brasi- de HCR.
leiro de Atividade Motora Adaptada, promovido Toda essa movimentação permite prever
pela Sobama – Sociedade Brasileira de Atividade a realização de Campeonatos Estaduais em São
Motora Adaptada (2005), Congresso Brasileiro Paulo e no Paraná em 2009 e a viabilização do
de Ciências do Esporte, promovido pelo CBCE – Primeiro Campeonato Brasileiro também no
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (2005), mesmo ano.
Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, Em âmbito internacional, um marco no
promovido pelo CELAFISCS – Centro de Estu- desenvolvimento da modalidade foi a visita rea-
dos do Laboratório de Atividade Física e Saúde lizada pela atleta cadeirante Catalina Jimeno, que
de São Caetano do Sul (SP) (2006, 2007, 2008), esteve em Toledo acompanhada do jogador de
no ISAPA – Simpósio Internacional de Atividade handebol Francisco Cortez para conhecer o traba-
Física Adaptada –, realizado em Rio Claro (SP) e lho desenvolvido pela equipe da Atacar/Unipar/
promovido pela IFAPA – Federação Internacional Toledo, em fevereiro de 2008, e, ao retornarem
de Atividade Física Adaptada (2007) e do ICSEMIS ao Chile, formaram a primeira equipe de HCR
2008 – Convenção Internacional em Ciência, naquele país, com apoio da Universidad Católica
Educação e Medicina no Esporte, realizado em de Santiago.
Guangzouh, na China, uma semana antes do iní- A repercussão do trabalho apresentado no
cio das Olimpíadas de Pequim (2008). Os profes- Congresso Pré-Olímpico (ICSEMIS, 2008) levou
sores responsáveis pela formatação da proposta já os organizadores a agendarem a realização do pri-
inscreveram um trabalho para o ISAPA 2009, que meiro evento Internacional do HCR para julho
será realizado na Suécia, em junho de 2009. de 2010 em Foz do Iguaçu (PR).
A capacitação de professores para atuar com
o HCR, no Brasil, acontece desde 2006, quando
a modalidade foi tema de um minicurso durante
Confederação Brasileira de Handebol

26 Projeto mini-handebol e caça-talentos no Brasil

A Confederação Brasileira de Handebol tem como fator de desenvolvimento edu-


como objetivo primordial, com a execução do cacional e veículo de formação física,
Projeto Petrobras Mini-hand/iniciação esportiva, intelectual e social das crianças.
oferecer uma oportunidade de prática esportiva
formativa a crianças de comunidades de risco so-
cial, tendo como referência um esporte vencedor, 26.2 Objetivos específicos
que possibilita o desenvolvimento das capacida-
des e habilidades motoras das crianças na faixa  Atender às necessidades esportivas das
etária de 8 a 12 anos, com atividades lúdicas que crianças, ampliando o número de nú-
auxiliam na formação integral do ser humano em cleos de mini-hand/iniciação esportiva
suas relações consigo mesmo e com o mundo. em todo o território nacional.
Esse projeto, já em desenvolvimento em  Ocupar o tempo livre das crianças
diversas regiões do país, se encontra em fase de com atividades sadias, evitando os pe-
reestruturação. rigos da ociosidade.
 Oferecer às crianças a possibilidade
de, ao praticar o mini-hand, conhecer
26.1 Objetivos gerais um desporto agradável de jogar, de
hábitos saudáveis, disciplina e respei-
 Iniciar e democratizar a prática do to que contribuem para formação de
mini-hand/iniciação esportiva entre as cidadãos conscientes.
crianças das unidades escolares públi-  Manter o handebol no status de espor-
cas municipais e estaduais, buscando a te olímpico mais praticado nas escolas.
ocupação do tempo livre, evitando-se  Possibilitar o surgimento de novos
o agravamento de distorções sociais e, atletas e equipes que, no futuro,
dessa forma, os perigos da ociosidade; possam participar de eventos espor-
 Introduzir o mini-handebol no conte- tivos de handebol, em níveis esta-
údo da disciplina de Educação Física, dual e nacional.
324 Manual de Handebol

 Possibilitar o surgimento de novos ta- Petrobras Mini-Hand  tem sido um dos fatores
lentos que possam integrar as equipes que contribuem, de forma decisiva, para que a
brasileiras em futuras competições in- Petrobras renove contrato de patrocínio com a
ternacionais. CBHb, pois o programa integra o elenco de pro-
jetos sociais da maior empresa brasileira.
Os fundamentos e elementos são os mesmos
26.3 Introdução do handebol, mas o número de jogadores, o ta-
manho da quadra e outros detalhes são diferencia-
Iniciar e integrar as crianças e jovens das dos. As atividades são mistas: meninos e meninas
unidades escolares brasileiras à prática do hande- podem e devem jogar juntos, desenvolvendo, as-
bol, difundir o esporte por meio da rede escolar sim, noções básicas de convivência social, disci-
de ensino estadual, municipal e particular e trans- plina e respeito. O mini-handebol constitui-se no
formar seus praticantes com grande potencial em primeiro contato com a modalidade e segue uma
atletas de ponta são os objetivos deste projeto da pedagogia desportiva moderna, que integra os ele-
Confederação Brasileira de Handebol – CBHb. mentos básicos do esporte com a criança por meio
Sabemos que não existem muitas possibili- de uma atividade lúdica e divertida.
dades de progresso no esporte se nos esquecer- Após o pontapé inicial em Sergipe, várias ci-
mos do trabalho de base que gera esperança para dades, Estados e núcleos individuais, atualmen-
o futuro.  Por esse motivo, a CBHb possui alguns te, fazem parte do projeto. Até 2004, o progra-
programas para incentivar  e difundir a prática ma era desenvolvido em Minas Gerais, Paraná,
do esporte, e o mini-handebol é, entre eles, um Rio de Janeiro e Sergipe. Em 2005, Amazonas
programa vitorioso. É uma atividade esportiva e Rio Grande do Sul aderiram inteiramente ao
iniciadora da modalidade, que possui um perfil projeto, e a cidade de Aracaju também ampliou
mais recreativo do que competitivo. Assim, realiza sua atuação.
também um trabalho social, ocupando o tempo Os resultados obtidos até agora vêm desper-
das crianças, tirando-as da ociosidade e melho- tando o interesse em outras regiões do país, e o
rando sua qualidade de vida. Isso faz, também, Projeto Petrobras Mini-Hand Iniciação Esporti-
que elas diminuam o contato com a marginalida- va, agora com um total de 45 núcleos, vem cres-
de e o uso de drogas. cendo muito ultimamente. Alguns Estados, como
O Projeto Mini-Handebol foi criado em Minas Gerais, ampliaram sua participação, e no-
2000 e ganhou força em 2004, passando a ser vos núcleos já foram solicitados para os Estados
conhecido como Projeto Petrobras Mini-Hand de do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São
Iniciação Esportiva. Com apoio total da empresa Paulo, Sergipe e Tocantins. Todos foram implan-
patrocinadora do handebol brasileiro, o Projeto tados em 2006.
Projeto mini-handebol e caça-talentos no Brasil 325

26.4 Como se tornar um parceiro


neste projeto

O interessado deverá enviar à Confede-


ração Brasileira de Handebol ofício ou e-mail
(<minihand@brasilhandebol.com.br>) demons-
trando sua intenção em participar do projeto, de-
vendo comprovar:

 ter entidade voltada para o atendi-


mento comunitário, devidamente
constituída.
 possuir espaço físico para o desenvol-
vimento das atividades.
 possuir docente capacitado ou a ser
capacitado pela CBHb para ministrar
as atividades.
 previsão de alunos a serem atendidos.
 previsão de horários das atividades.
 as despesas do instrutor para capa-
citação docente e do supervisor (ao
menos uma vez durante a vigência do
convênio), o que deverá ser de respon-
sabilidade do conveniado.
Marcos Roberto Valentim

27 Handebol na terceira idade

27.1 Introdução 27.2 Handebol adaptado para tercei-


ra idade
Faz parte do passado a ideia de que idoso é o
indivíduo que, após anos e anos de trabalho, está O handebol adaptado para a terceira idade é
condenado a viver no imobilismo e ostracismo de considerado uma atividade desportiva altamente
seu lar, tudo em nome da falsa concepção de ve- versátil, em razão da grande diversidade de movi-
lhice como doença. mentos exigidos na execução de seus fundamen-
É bem verdade que o organismo se desgas- tos. Dinâmica e empolgante, suas características
ta com o tempo, sofrendo perdas na área motora visam atender aos limites e necessidades inerentes
que alteram seu ritmo e lhe impõem limitações no ao corpo do idoso, em que a simples realização de
seu dia a dia. Porém, se essas limitações não estão seus fundamentos favorece a agradável execução
associadas a algum processo patológico, não são, de movimentos articulares e respiratórios, refor-
em si, incapacitantes. çando o sentimento de progresso e estimulando
Existe, porém, formas de reagir a essa ação a conquista de pequenos desafios, capazes de pro-
do tempo e amenizar seus efeitos. Uma delas é mover a integração interpessoal e contribuir, con-
a prática de atividades físicas e desportivas que, sideravelmente, no combate à depressão.
além de proporcionar força muscular, flexibilida- Definida como um jogo de bola praticado
de, coordenação e equilíbrio, contribuem muito com as mãos, esta modalidade tem como objetivo
para a elevação da autoestima e intensificação dos principal, para as equipes, marcar o maior núme-
relacionamentos diários. ro de gols na equipe oponente, e, para se atingir o
Consideramos a modalidade de handebol êxito esperado, os jogadores deverão criar sucessi-
adaptado para terceira idade a ser apresentada vas oportunidades de arremesso ao gol, por meio
neste capítulo um claro exemplo desse mecanis- da correta interpretação das regras e execução dos
mo de integração. fundamentos.
Suas características seguem, basicamente, os
mesmos princípios e objetivos do jogo tradicio-
nal, porém com uma série de adaptações capazes
328 Manual de Handebol

de proporcionar aos praticantes maior segurança poderá levá-los a conseguir desenvolver todo seu
na execução dos fundamentos e no desenvol- potencial enquanto iniciante de uma modalidade
vimento das estratégias de jogo, sem, é claro, esportiva como esta.
perder a plasticidade e o glamour que a moda-
lidade oferece.
27.3.1 Metodologia

27.3 Como jogar É importante ressaltarmos que a grande


maioria dos idosos, ao iniciar um programa es-
O handebol adaptado é um jogo muito portivo, não busca somente a promoção da saúde
simples de ser praticado. Suas técnicas requerem e do bem estar físico, visando, também, à sociabi-
a combinação de habilidades motoras básicas, lização e ao divertimento, promovidos de maneira
como andar, correr, saltar, girar, agachar, arre- abundante pelo desporto.
messar, receber, entre outras. Essas habilidades, Cabe-nos, então, empregar uma meto-
quando executadas em um estágio intermediário, dologia capaz de garantir a plena participação
já podem ser combinadas no formato das técnicas dos idosos na realização das atividades a se-
motoras necessárias à sua prática. rem desenvolvidas, atentando para que tudo
Tal facilidade se dá, também, pelo fato de seja promovido em um ambiente de absoluta
suas regras terem transformado o handebol adap- descontração e divertimento, o que proporcio-
tado em um jogo de rápida compreensão pelos nará a eles um grande prazer por intermédio
idosos. de sua prática.
Desse modo, o gol, objetivo principal em Para isso, é necessário e importante res-
uma partida, se tornou uma tarefa de fácil con- peitarmos o grau de domínio das habilidades
secução, em virtude da simplicidade com que motoras e das limitações de cada indivíduo, fa-
as adaptações às regras o transformaram. Assim, zendo que o processo de ensino-aprendizagem,
a meta e, consequentemente, o sucesso em uma nesta etapa, seja todo voltado para o conhe-
partida de handebol adaptado são alcançados di- cimento dos aspectos básicos e mais gerais da
versas vezes. modalidade.
Apesar de toda essa “facilidade” em aprender Incentivar inicialmente a execução de forma
a nova modalidade, não devemos deixar que suas global das atividades propostas, sem a obrigato-
atividades iniciais sejam desconsideradas, muito riedade de um maior detalhamento sobre regras
pelo contrário, a elaboração de um planejamento e táticas da modalidade, fará que eles sintam-se
adequado aos anseios e necessidades inerentes ao à vontade, proporcionando-lhes um desenvolvi-
corpo do idoso será um fator preponderante que mento completo e prazeroso.
Handebol na terceira idade 329

Esta metodologia será fundamental para que A partida só iniciará com o mínimo de 10
o idoso, aos poucos e cada vez mais, vá gostando jogadores em cada equipe. No entanto, depois de
do jogo e de todas as suas facetas. iniciado, o jogo continuará mesmo com número
menor de jogadores.

27.4 As principais alterações nas re-


gras para a prática do handebol 27.4.3 Os reservas
adaptado para a terceira idade
Será obrigatória para as equipes a utilização
de todos os seus jogadores em pelo menos um
27.4.1 A quadra período da partida. O descumprimento dessa
obrigatoriedade resultará em punição da equipe
A quadra usada para a prática do handebol infratora com tiros de sete metros a favor de seu
adaptado é a mesma utilizada no handebol oficial. adversário. As cobranças serão correspondentes ao
número de jogadores não participantes, e os gols
convertidos, somados ao resultado final do jogo.
27.4.2 As equipes

As equipes deverão ser formadas por atletas 27.4.4 A bola


do mesmo sexo, não podendo ser mistas.
Cada equipe deverá apresentar-se para o A bola utilizada para a prática do handebol
jogo com, no mínimo 10 e, no máximo, 14 par- adaptado deverá ser H1L de couro (a qual deverá obe-
ticipantes. Destes, sete serão titulares e os demais, decer às especificações oficiais ) para ambos os sexos.
reservas (tendo, no mínimo, um goleiro). Recomendamos que as bolas a serem uti-
Dos jogadores titulares, um será designado lizadas na partida estejam parcialmente cheias,
o goleiro, e os outros seis serão considerados joga- preservando a integridade física dos goleiros(as)
dores de linha. Entre estes, três iniciarão a partida e facilitando, também, sua empunhadura pelos
como defensores e os outros três, como atacan- jogadores na execução dos fundamentos.
tes, sendo obrigados a inverterem as funções no A equipe de arbitragem deverá dispor, antes
segundo período. Isso deverá ocorrer do terceiro do início do jogo, de três bolas regulamentares e
para o quarto período da partida. de acordo com as especificações exigidas, poden-
Cada equipe poderá ter, no máximo, qua- do ser utilizadas a qualquer momento da partida,
tro oficiais dirigentes, sendo um responsável evitando-se, tanto quanto possível, prováveis in-
pelo grupo. terrupções.
330 Manual de Handebol

27.4.5 Duração da partida  Efetuarem o bloqueio e a intercepta-


ção de todo e qualquer arremesso ou
A partida será disputada em quatro períodos passe de bola da equipe adversária,
de tempo, com duração de sete minutos corridos dentro de seu espaço defensivo.
cada, ou seja, 28 minutos no total. Entre o final  Realizarem o arremesso ao gol se assim
do segundo e início do terceiro período, as equi- julgarem a melhor opção.
pes inverterão de lado de quadra e obedecerão a
10 minutos de intervalo. Obs.: os jogadores defensores terão, no má-
Vencerá o jogo a equipe que, ao final do 4º ximo, cinco passes para conduzir a bola até seus
período da partida, tiver marcado o maior núme- atacantes, tendo como limite a linha central da
ro de gols em seu adversário. quadra. Não será válido o passe direto do goleiro
Em caso de empate, a partida será decidida para os atacantes.
na cobrança de tiros de sete metros. Cada equipe
terá direito a três cobranças, que, por sua vez, de-
verão ser realizadas alternadamente, não podendo 27.4.6.2 É proibido aos jogadores defensores
ser executadas pelo mesmo atleta.
Ao persistir o empate, as cobranças continu-  O contato físico intencional (provoca-
arão, até que uma das equipes atinja a vantagem do) com os adversários.
numérica de um gol sobre sua oponente.  Bloquear e interceptar, fora de seus li-
Obs.: cada equipe terá direito a um pedido mites defensivos ou de dentro da área
de tempo a cada dois períodos da partida, com de gol, os arremessos e passes de bola
duração de um minuto cada. da equipe adversária.

Obs.: ao cometer qualquer uma das irregu-


27.4.6 Sistema defensivo laridades mencionadas, os atletas infratores serão
punidos com advertências cumulativas e progres-
sivas, acrescido de um tiro de sete metros a favor
27.4.6.1 É permitido aos jogadores defensores da equipe adversária.

 Executarem a marcação de seus opo- Nenhum jogador poderá ultrapassar a linha


nentes entre as linhas limítrofes de seis central da quadra, durante o jogo, a não ser para a
metros da área de gol e nove metros retomada do equilíbrio. Ao cometer essa infração,
(tiro livre), quando estiverem de posse a equipe perderá a posse de bola.
de bola.
Handebol na terceira idade 331

27.4.7 Sanções 27.4.7.1 É permitido aos atletas

As sanções pessoais aplicadas aos jogadores  Utilizar os braços e as mãos para blo-
somente resultarão em redução da equipe infra- quear ou ganhar a posse de bola.
tora. A continuidade da partida não será afetada,  Tirar a bola do adversário com a mão
entretanto, os jogadores excluídos, desqualifica- aberta não importando o lado.
dos ou expulsos, serão substituídos após um mi-
nuto após o jogo ter sido reiniciado.
Se um atacante invadir a área de gol (seis me- 27.4.7.2 É proibido aos atletas
tros) durante a realização de uma ação ofensiva, sua
equipe perderá a posse de bola. Porém, se a mesma  Obstruir o adversário com as mãos,
infração for cometida por um defensor, será anota- braços ou pernas.
do um tiro livre para a equipe adversária.  Empurrar o adversário para dentro da
O jogador que, propositalmente, arremes- área de gol.
sar a bola contra o corpo de seu oponente será  Entrar em contato físico com adversário;
advertido com um cartão amarelo, e sua equipe  Lançar a bola de modo perigoso para
perderá, automaticamente, a posse de bola. Se o adversário ou dirigir a bola contra
reincidido o ato, o jogador infrator será excluído ele em uma finta perigosa.
em um minuto da partida, e assim sucessivamente  Colocar em perigo o goleiro.
até sua desqualificação do jogo.  Segurar, abraçar ou empurrar o adversário;
No caso de desqualificação, o jogador ou  Lançar-se sobre o adversário correndo
oficial infrator não participará mais do restante da ou saltando, passar-lhe a perna, atirar-
partida. Entretanto, no caso do jogador, ele po- -se diante dele ou agir de qualquer ou-
derá ser substituído por outro, depois de passado tra maneira perigosa.
um minuto depois de o jogo ser reiniciado.
Os jogadores de linha em situação normal
de jogo não poderão passar a bola para seu golei- 27.4.7.3 Tiro de saída e reposição de bola
ro, quando este estiver dentro de sua respectiva
área. Caso isso ocorra, será marcado um tiro de Minutos antes do jogo, o árbitro realizará
sete metros para a equipe adversária. o sorteio entre os capitães de ambas as equipes,
Quando houver conduta indisciplinar ou não decidindo o lado da quadra em que iniciarão a
condizente com o esporte por parte de um jogador, partida e qual equipe começará de posse de bola.
técnico ou dirigente, o infrator será expulso da parti- A partida se iniciará com a bola em posse dos ata-
da e sua equipe, punida com um tiro de sete metros. cantes da equipe que venceu o sorteio. O goleiro, de
332 Manual de Handebol

dentro de sua respectiva área, será o responsável direto 27.4.7.6 Tiro livre
pelo reinício da partida, após a realização de um gol.
A saída de bola nas laterais da quadra será ob- No caso de uma violação de regra, a equipe
servada. Para sua correta execução, o atleta deverá adversária será recompensada com um tiro livre
manter o contato de um dos pés sobre a linha lateral, em seu favor.
exatamente no local de onde saiu. Durante sua exe- Em princípio, o jogador deverá ser cobrado
cução, os jogadores adversários deverão se encontrar no local onde a violação foi cometida. Durante
a, pelo menos, três metros de distância do executante. sua execução, os jogadores da equipe executante
Na tentativa de se evitar a saída de bola pelas late- não poderão se colocar dentro da área de nove me-
rais, será permitido aos atletas que estejam com o corpo tros (área de tiro livre), ao passo que os jogadores
parcialmente fora da quadra, sendo necessário, apenas, da equipe infratora deverão estar a, pelo menos,
que não percam o contato por completo de uma das três metros de distância do jogador que efetuará
partes de seu corpo com o lado de dentro da quadra. a cobrança; porém, devem estar próximos à linha
O atleta de posse de bola, independente- da área de gol (seis metros).
mente de estar atacando ou defendendo, poderá
deslocar-se livremente pela quadra, sem que tenha
que driblá-la, mas desde que esteja dentro de seu 27.4.7.7 Tiro de sete metros
dentro de seu espaço permitido pela regra.
No entanto, ele terá até três segundos de Um tiro de sete metros será marcado toda
posse de bola enquanto estiver parado e cinco se- vez que:
gundos em deslocamento.
 O defensor estiver marcando seu opo-
nente dentro da área de gol (seis metros).
27.4.7.4 O gol  O defensor entrar em contato físico inten-
cional para com o seu adversário, quando
Um gol é marcado logo que a bola tenha ul- da realização de uma ação defensiva.
trapassado completamente a linha de gol.  Um defensor empurrar seu oponente
para dentro da área de gol, estando ele
de posse de bola.
27.4.7.5 O goleiro  Um defensor obstruir seu oponente
com mãos, braços ou pernas no mo-
O goleiro, depois de repor a bola em jogo, mento de sua finalização ao gol.
poderá atuar como jogador de linha, respeitando  Um jogador, técnico ou dirigente tiver
os limites de seu campo defensivo. sido expulso da partida, por conduta
Handebol na terceira idade 333

indisciplinar ou não condizente com com a mão espalmada. Uma vez realizada a sina-
o esporte. lização, os atletas terão, no máximo, cinco segun-
 um jogador de linha realizar um passe dos para finalizar a jogada. Caso isso não ocorra, a
para seu goleiro, estando ele dentro de equipe perderá a posse de bola, sendo anotado um
sua respectiva área de gol (seis metros). tiro livre para a equipe adversária.

O atleta poderá executar o tiro de sete


metros em deslocamento, iniciando-o da li- 27.4.7.9 Falta de ataque
nha de nove metros até a respectiva linha de-
marcatória de sete metros, não podendo É considerada falta de ataque toda ação
tocá-la ou ultrapassá-la antes de a bola sair de suas ofensiva realizada pelos jogadores de uma equipe
mãos (a não ser que o faça em suspensão). que coloque em risco a integridade física de seus
No tiro de 7 metros, o atleta executante oponentes.
poderá ou não saltar para sua realização. Duran- Tal ato será punido com a perda da posse de
te sua execução, os demais jogadores deverão se bola pela equipe infratora, e será anotado um tiro
posicionar atrás da linha de tiro livre (nove me- livre para equipe adversária, a ser cobrado no local
tros) e a uma distância mínima de três metros do da infração.
executante.

27.4.7.10 Na maioria das vezes, a falta de


27.4.7.8 Jogo passivo ataque é caracterizada por

Toda equipe, para ter êxito no ataque, deve-  Empurrões.


rá envolver seus oponentes, realizando inúmeras  Giros realizados com os cotovelos er-
movimentações ofensivas e constantes trocas de guidos, à altura da cabeça do oponente.
posicionamento e infiltrações de seus jogadores,  Fintas, movimentações e infiltrações,
em busca da melhor opção para finalização. diante dos adversários, com a cabeça
No entanto, devemos salientar que toda abaixada.
estratégia de ataque a ser adotada deverá deixar
transparecer, nitidamente, sua ofensividade, ou
seja, a busca contínua de seus jogadores pelo gol. 27.4.7.11 Bola presa
Caso contrário, será caracterizado “jogo passivo”.
O árbitro alertará a equipe para o jogo pas- A bola presa é caracterizada pela disputa de
sivo levantando um dos braços acima da cabeça dois ou mais jogadores oponentes pela posse de
334 Manual de Handebol

bola, de tal modo que ela permaneça presa entre De início, a primeira impressão causada
eles por um tempo superior a três segundos. foi extremamente positiva, e a segunda aula
Uma vez assinalada pelo árbitro, a partida aconteceu dois dias após, ficando estabelecido,
será imediatamente interrompida por time out, e a partir de então, que o grupo se reuniria duas
a bola será reposta em jogo por meio de um tiro vezes por semana para as sessões de aprendiza-
livre para a equipe que estiver realizando o ataque. gem da modalidade. E assim aconteceu durante
dois meses.
Nesse período, o professor pôde estudar os
27.5 Histórico da modalidade atletas em atividade, partindo para uma esfera
maior de observações e análises, e, em seguida,
A modalidade de handebol adaptado para elaborou uma série de adaptações às regras do
terceira idade surgiu em meados de 1999, na ci- jogo, o que veio a oferecer maior segurança aos
dade de Descalvado, interior do Estado de São adeptos durante sua prática, tomando, é claro,
Paulo, onde o então professor de Educação Física todo o cuidado necessário para que tais altera-
Marcos Roberto Valentim Biazoli convidou um ções não descaracterizassem o esporte em si.
grupo de idosos participantes da Academia de Gi- O resultado foi um sucesso e o jogo, que
nástica da Terceira Idade do Município a conhe- já era bem aceito antes, transformou-se em
cer uma modalidade esportiva ainda não presente uma prática desportiva ainda mais prazerosa
em seu rol de atividades. para os idosos.
Participaram da aula demonstrativa aproxi- Surgiu então, a partir desse momento, o
madamente 23 idosos, entre homens e mulheres. Handebol Adaptado para a Terceira Idade.
Na oportunidade, foi-lhes apresentada a prática
oficial da modalidade de handebol, sem altera-
ções, sendo abordados os seguintes tópicos: 27.6 Etapas do desenvolvimento do
programa
 Explanação sobre as regras e objetivos
básicos do jogo. A nova prática desportiva, rapidamente,
 Demonstração dos principais funda- contagiou mais adeptos, e, em pouco tempo, o
mentos e suas variações. número de praticantes já havia dobrado. A nova
 Distribuição dos atletas em quadra. prática desportiva despertou também o interesse
 Abordagem geral sobre o sistema de de indivíduos de meia-idade, o que obrigou o
ataque e defesa. professor a criar três categorias distintas para a
 Jogo propriamente dito. modalidade, sendo elas:
Handebol na terceira idade 335

 Masters: para indivíduos dos 50 aos 59 2005, quando a Prefeitura, junto à Secretaria de
anos. Esportes, Lazer e Turismo do Município, resolveu
 Sêniores: para indivíduos dos 60 aos englobar a modalidade dentro de seu rol de ati-
69 anos. vidades, passando sua coordenação e desenvolvi-
 Bisas: para indivíduos acima dos 70 anos. mento a seu cargo, até os dias atuais.

Visando atender à nova demanda de adep-


tos com a mesma qualidade dos ensinamentos, o 27.7 Abrangência do programa
professor decidiu criar um projeto que fosse capaz
de englobar o programa de handebol adaptado e O Programa de Handebol Adaptado para a
dar o respaldo necessário para o crescimento da Terceira Idade é pioneiro no país e, atualmente, é
modalidade. desenvolvido em algumas cidades brasileiras:
Surgia, então, o PAF – Projeto Atleta Feliz
na Terceira Idade, um projeto esportivo, desenvol-  Em Descalvado, interior do Estado de
vido sem fins lucrativos e desvinculado de todo São Paulo, que foi a precursora da mo-
e qualquer órgão público estadual e federal, cujo dalidade, desde 1999.
objetivo principal era desenvolver programas es-  Em Santana do Parnaíba, Estado de
portivos para indivíduos com idade avançada, a São Paulo.
fim de contribuir para o aprimoramento integra-  Em Itajaí, cidade portuária de Santa Ca-
do de todas as suas potencialidades físicas, morais tarina, em desenvolvimento desde 2003.
e psíquicas.  Em Navegantes, Balneário Camboriú,
Criado em dezembro de 1999, o PAF, como Chapecó, todas no Estado de Santa
era carinhosamente chamado, não possuía sede Catarina.
nem economia própria e mantinha-se com sub-  Em Manaus, capital do Amazonas,
venções da Prefeitura Municipal, contribuições por meio da Universidade Federal do
mensais de sócios, donativos do comércio e da Amazonas (UFAM).
indústria e das contribuições do povo em geral.
Sua administração interna era formada por Atualmente, acontecem duas competições
membros do próprio grupo, que, assim como sua anuais da modalidade, uma no mês de janeiro,
equipe interdisciplinar, prestava serviços voluntá- em Itajaí, como parte do Itajaí Handball Cup, e
rios a todos os participantes. outra em setembro, na cidade de Descalvado, em
O PAF foi quem coordenou e desenvolveu o comemoração ao aniversário da cidade.
Programa de Handebol Adaptado para a Terceira Além dessas competições, a modalidade foi
Idade no município de Descalvado até janeiro de recentemente incluída nos Jogos Regionais e Es-
336 Manual de Handebol

taduais do Idoso do Estado de Santa Catarina.


Brevemente, será também incluída nos Jogos do
Idoso no Estado de São Paulo.
Nossa meta é inserir este programa em vá-
rios Municípios e Estados brasileiros para que, em
um futuro próximo, possamos organizar encon-
tros esportivos não só em âmbito estadual como
também nacional, provando, definitivamente,
que o handebol é, sem dúvida, uma modalidade
desportiva capaz de interagir beneficamente não
só na vida de crianças, jovens e adultos, mas, prin-
cipalmente, na dos idosos.
Alexandre Gomes de Almeida, Claudia Monteiro do Nascimento, Clodoaldo Dechechi

28 O handebol de areia

28.1 Apresentação 28.2 Regras do jogo

O handebol de areia é um jogo muito dinâ- O handebol de areia foi criado tendo como
mico, atrativo ao espectador e pautado no fair play. princípio da estrutura de jogo que apresentasse
As jogadas espetaculares são muito frequentes, e o e gerasse maior quantidade de ações espetacula-
contato físico é menos acentuado do que no hande- res em relação ao handebol de quadra. Para isso,
bol de salão.14 De acordo com Duarte,15 o hande- foram desenvolvidas regras específicas em busca
bol de areia é um jogo de muitas movimentações, dessa finalidade, como alternativas de se obter
que desperta muitas emoções nos seus praticantes dois pontos em uma ação. Também houve refor-
e espectadores. Da mesma forma que o futebol e o mulação quanto às penalizações. Em contraposi-
voleibol, o handebol é mais uma modalidade que ção ao contato vigoroso presente no handebol de
sai das quadras e ganha as praias de todo o mundo. salão, diminuiu-se o número de penalizações para
De fato, a modalidade cresceu rapidamente, pois, gerar a exclusão do jogador da partida (duas, ao
na última edição do Campeonato Mundial, realiza- invés de três, como na quadra). Em 1996 foram
do em julho de 2008 na Espanha, participaram 12 publicadas, pela IHF, as primeiras regras oficiais
equipes masculinas e 12 femininas, contando com do jogo.16 Porém, essas regras sofreram algumas
seleções nacionais de todos os continentes. Isso de- modificações e, nos dias de hoje, o jogo é dispu-
monstra que o handebol de areia é uma modalida- tado em uma quadra de formato retangular (27
de com ampla aceitação no contexto dos esportes x 12 metros), que apresenta uma área de jogo e
contemporâneos. duas áreas de gol. Estas são demarcadas parale-
Neste capítulo, serão abordadas as regras do lamente à linha de fundo, a uma distância de 6
jogo, e, também, descreveremos os fundamentos metros. Nas laterais da quadra, estão localizadas
desta modalidade, suas táticas defensivas e ofen- as zonas de substituição de cada equipe, sendo
sivas mais utilizadas em alto nível de rendimen- que os goleiros podem entrar somente pela sua
to, bem como a diferenciação dos processos de área de gol na realização de uma troca. Como
preparação física, comparado com o handebol pode ser observado, as áreas de gol são retangu-
de quadra. lares, diferentemente do handebol de salão, mas
338 Manual de Handebol

mantiveram a mesma distância da linha de fundo pe que vencer a disputa de shoot out (um contra
(6 metros). o goleiro). O shoot out consiste em cinco cobranças
Uma equipe é composta por oito jogadores, alternadas, em que um jogador passa a bola para seu
sendo que, em cada equipe, podem permanecer goleiro, corre em direção ao gol adversário, recebe a
em quadra, simultaneamente, quatro jogadores, e bola e arremessa contra o goleiro da outra equipe.
um destes, necessariamente, será um goleiro (três Os gols marcados podem receber pontua-
jogadores de linha e um goleiro). Uma partida ções diferentes em todos os momentos da parti-
consiste em dois períodos de dez minutos, com da. Um gol terá pontuação adicional (gol de dois
intervalo de cinco minutos entre eles. A pontu- pontos) quando for marcado pelo goleiro, em tiro
ação de cada período é computada separada- de seis metros (o equivalente ao tiro de sete me-
mente, havendo um vencedor para cada perí- tros do handebol de quadra) ou em uma jogada
odo. Caso um período termine empatado em espetacular (“ponte aérea” e giro de 360º).
pontuação, o vencedor será determinado por Uma partida de handebol de areia é mediada
meio do denominado gol de ouro, ou seja, vence por dois árbitros, assim como no handebol de qua-
quem marcar primeiro. Se cada equipe vencer dra. Porém, alguns gestos são mais específicos para
um período, o vencedor da partida será a equi- sinalizar gol de um ponto de dois pontos e exclusões.

Área de substituição Zona de entrada


Equipe B Goleiro B

Área de Jogo
15 m
12 m

Área de gol

Área de gol
6m

Zona de entrada Área de substituição


Goleiro A Equipe A

Figura 28.1 – Quadra de jogo de handebol de areia.


O handebol de areia 339

28.3 Fundamentos técnicos 28.3.3 Arremessos

Todos os fundamentos técnicos utilizados Os arremessos podem ser realizados com o


no handebol de quadra são perfeitamente aplicá- jogador apoiado no solo ou em suspensão, com
veis ao handebol de areia, desde que levadas em salto. Em ambos os casos, a utilização da passada
consideração as dificuldades de execução relacio- trifásica (três passos) proporciona melhores condi-
nadas ao ambiente de jogo, como a própria areia ções para um bom arremesso. O gol de dois pontos
e o clima. oportunizou que dois tipos de arremessos ganhas-
sem grande importância no handebol de areia, pelo
fato de serem considerados arremessos espetaculares:
28.3.1 Drible Arremesso com giro: o jogador com posse de
bola salta e, simultaneamente, realiza um giro de
Utiliza-se muito pouco esse fundamento no 360º arremessando a bola antes de retomar con-
handebol de areia em razão do tipo de terreno, pois, tato com o solo.
quando a bola for empurrada ao solo, pode não Arremesso aéreo: o jogador sem posse de bola
voltar na direção esperada. Em algumas ocasiões, o salta, recebe a bola no ar e arremessa antes de re-
atleta “alisa” a areia com um dos pés para permitir tomar contato com o solo (denominado de ponte
um quique da bola mais regular. Entretanto, a for- aérea no handebol de salão).
ma de drible mais comum é rolar a bola na areia e Nos dois tipos de arremesso, para prolongar
pegá-la novamente dentro de três segundos, na o tempo de voo, os jogadores flexionam os joelhos
forma de um autopasse. e inclinam o corpo para frente, aumentando as
chances de uma boa finalização.

28.3.2 Passe e recepção


28.3.4 Bloqueio defensivo
A execução desses fundamentos, no hande-
bol de areia, não apresenta diferenças importantes Interceptar a bola arremessada ao gol é uma
em relação ao handebol de quadra. Alguns fatores técnica utilizada com frequência no handebol de
externos, como o vento muito forte, sol aliado ao areia, porém de uma maneira específica denomi-
suor e a bola escorregadia, chuva e mãos molha- nada bloqueio inclinado, que é o ato de saltar para
das, podem dificultar a ação técnico-tática de pas- dentro da área de gol a fim de diminuir o ângulo
sar e receber a bola. do arremessador (Figura 28.2). Essa técnica é uti-
lizada, de preferência, pelos defensores que jogam
nas laterais da quadra.
340 Manual de handebol

FIgura 28.2 – Possibilidades de substituição dos goleiros para criar condição de superioridade numérica no ataque.

28.3.5 Elementos táticos 28.4 Postos específicos do handebol


de areia
A situação tática mais marcante do hande-
bol de areia apresenta-se nos momentos de supe- Assim como no handebol de quadra, a dis-
rioridade numérica (4 atacantes x 3 defensores), tribuição inicial dos jogadores nas linhas e zonas
proporcionada pela participação do goleiro no da quadra lhes confere funções e nomenclaturas
ataque. É permitido ao goleiro sair da sua área e específicas, determinando os postos específicos de
participar como jogador de campo. Esse fato táti- ataque e defesa (Figura 28.3).
co torna a marcação de gols relativamente fácil e o É importante salientar que essa representação
contato físico, menos acentuado. Assim, a distri- dos postos específicos de ataque (Figura 28.3, à es-
buição dos jogadores em quadra tem importantes querda) leva em consideração a utilização do goleiro
implicações para a dinâmica do jogo de handebol no ataque, sendo que esse jogador poderia ocupar
areia, criando possibilidades táticas específicas de qualquer um dos postos. Porém, esse jogador recebe
ataque e defesa (Figura 28.2). a denominação de goleiro-atacante ou especialista.
O handebol de areia 341

E E C C D D

PV PV

PE PE PD PD

AM AM

Figura 28.3 – Postos específicos de ataque (quadra à esquerda) e defesa (quadra à direita). Ponta esquerda (PE),
armador (AM), ponta direita (PD) e pivô (PV), no ataque. defensores esquerdo (E), central (C) e direito (D).

28.4.1 Sistemas de ataque Nos estudos de Almeida,18 foram analisadas as


seleções nacionais femininas participantes do Cam-
Existe a possibilidade de utilização de siste- peonato Mundial de Handebol de Areia de 2006 e
mas de ataque em superioridade numérica (3:1, foi identificada apenas a utilização dos sistemas de
4:0 e 2:2) ou em igualdade numérica (3:0, 2:1), ataque em superioridade numérica, demonstrando
considerando o número de jogadores distribuídos a grande importância do goleiro-atacante para a di-
na primeira e na segunda linha ofensiva.17 nâmica de jogo. O sistema mais utilizado entre essas
equipes foi o 3:1, seguido pelo 4:0.

Figura 28.4 – Sistemas de ataque em superioridade numérica. Sistema 3:1 (quadra à esquerda) com o goleiro-atacante
(círculo aberto) jogando como armador. Sistema 4:0 (quadra à direita) com o goleiro-atacante de ponta esquerda.

342 Manual de Handebol

28.4.2 Sistemas de defesa muito particulares, solicitando, portanto, atenção


específica às formas de preparação do jogador de
A distribuição dos jogadores nas linhas defen- acordo com as solicitações ou demandas que a
sivas também determina o sistema defensivo que modalidade de areia impõe. Apesar de a partida
uma equipe está utilizando. Os sistemas de defesa ser disputada em um espaço relativamente menor
podem se apresentar por zona (3:0, 2:1, 1:2 e 0:3) que o do handebol de quadra, o fato de ser rea-
ou mistos (2+1, 1+2 e 0+3).17 lizada na areia, provavelmente, impõe ao jogador
Almeida17 também analisou a utilização dos uma demanda adicional em várias capacidades
sistemas de defesa no Campeonato Mundial de condicionais (força e resistência), pois se sabe que,
2006. Constatou que não houve ocorrência dos nesse terreno, diferenças na locomoção são identi-
sistemas mistos e que o sistema de defesa por zona ficadas em relação à superfície firme.
mais utilizado foi o 3:0, seguido pelo 2:1. Em relação ao condicionamento físico de
atletas de handebol de areia, os níveis de resis-
tência de sprint e saltos são muito importantes
28.4.3 Demanda Física nos esportes de areia, uma vez que essa superfí-
cie, comparada a superfícies sólidas do handebol
O handebol de areia apresenta algumas se- de quadra, quando os atletas estão correndo ou
melhanças com o handebol de quadra. Entretan- andando, resultam em uma maior degradação
to, suas regras e a superfície de jogo acabam deter- na potencialização de energia elástica e reduz a
minando comportamentos técnicos e táticos que eficiência do complexo músculo-tendão.19 Zam-
conferem à modalidade esportiva características paro20 relatou uma redução na reutilização de

a) b)

Figura 28.5 – Sistemas de defesa por zona. Sistema 3:0. Sistema 2:1 com o defensor central avançado na segunda
linha defensiva
O handebol de areia 343

energia elástica como, também, perda de energia. minhada em areia apresenta um gasto energético
Essas condições biomecânicas e fisiológicas têm de 1,8 a 2,7 vezes maior em relação a superfícies
sido consideradas as causas pelo maior gasto de firmes,20,22 enquanto as corridas em areia apresen-
energia na areia em relação a superfícies firmes tam um gasto energético de 1,2 a 1,6 vez superior
na corrida.21 Alguns estudos relataram que a ca- em relação a superfícies firmes.20,22,23

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344 Manual de Handebol

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nal of Experimental Biology, v. 201, p. 2071-80,
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cost of Running on Grass Compared to Soft
Dry Beach Sand. Journal of Sci. Med. Sport, v.
4, p. 416-30, 2001.
Sobre o Livro
Formato: 21 x 28 cm
Mancha: 15,5 x 22,8 cm
Papel: Offset 90 g
nº páginas: ......
1ª edição: 2011

Equipe de Realização
Edição de Texto
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Editoração Eletrônica
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Impressão
................................

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