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Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 22 - setembro de 2014

RESÍDUOS SÓLIDOS

Lixões persistem
Maioria das cidades ignora lei e agride
meio ambiente. Senado busca saída

Em Brasília, mais de 2,7 mil toneladas


de lixo são depositadas todos os dias
a 16 km da Praça dos Três Poderes

Veja também
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel
Na próxima edição, a escassez de água no país
Mudou para você, mudou para o Brasil. O Congresso faz parte da sua história.

P o l í t i c a N a c i o n a l d e

Resíduos Sólidos

Secom | Comap – Publicidade e Marketing


“ A partir do momento em que nós, catadores,


temos essa lei, podemos cobrar dos governantes.
Sônia é presidente da cooperativa 100 Dimensão,
que transforma lixo em artigos de moda, papelaria,
brinquedos e até móveis.

Mudou para você, mudou para o Brasil.


O Congresso faz parte da sua história.

http://bit.ly/mudoupravc
Aos leitores
V arrer para debaixo do tapete é a forma de tirar da nossa frente al-
guma coisa que incomoda, mas que não resolvemos por não termos
tempo ou energia suficiente naquele momento.
A situação descreve muito bem o que grande parte dos brasileiros ainda
faz, conscientemente ou não, com o lixo que produz. Quando os resídu-
os indesejados saem de cena, seja na lixeira ou no caminhão de lixo, em
vez de terem a destinação correta, prevista em lei, ainda vão para lixões,
depósitos a céu aberto que poluem o meio ambiente, atraindo vetores de
doenças.
E a solução não parece estar próxima. A coleta seletiva — condição
para o fim dos lixões, que era previsto para 2 de agosto de 2014 — só
acontece em poucas cidades. Até mesmo na capital da República, como
conferiu Em Discussão!, os processos estão muito atrasados e ainda não
há certeza de quando o maior lixão da América Latina, em funcionamento
há quase 50 anos, será desativado.
Em suma, a realidade ainda espera a ação conjunta da sociedade, do
governo e das empresas, idealizada pela lei, para que o problema tenha
solução. Como acontece com outras políticas públicas, falta de vontade
política, de competência técnica e, principalmente, de recursos são apon-
tados como os motivos para a demora na implantação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos.
Ciente das dificuldades de aplicar a legislação, a Comissão de Meio
Ambiente, Fiscalização e Controle (CMA) instalou a Subcomissão Tempo-
rária de Resíduos Sólidos, que, em seis meses de trabalho, identificou que
faltam às prefeituras, especialmente as de pequenos municípios, qualifi-
cação e dinheiro para executar as ações necessárias para civilizar o trata-
mento do lixo.
O grupo, que tem o senador Cícero Lucena como presidente e a sena-
dora Vanessa Grazziotin como relatora, identificou que, ainda que o tema
não ganhe tanta atenção na agenda política e nas campanhas eleitorais,
em diversos locais do país se espalham experiências bem-sucedidas de
como dar ao lixo um destino ambientalmente correto, que pode significar
também uma excelente fonte de renda.
Em Discussão! apresenta algumas dessas experiências e os debates
promovidos pelo Senado que podem ajudar a evitar que aquilo que hoje é
varrido para debaixo do tapete não apareça na nossa frente logo adiante,

Wilson Dias/ABr
em situação ainda pior.
SUMÁRIO

Mesa do Senado Federal


Contexto Propostas
Presidente: Renan Calheiros
Primeiro-vice-presidente: Jorge Viana
Segundo-vice-presidente: Romero Jucá
Faltam dinheiro e técnicos

JOSÉ CRUZ/agência senado


Primeiro-secretário: Flexa Ribeiro Subcomissão pede mais apoio
Segunda-secretária: Ângela Portela
para acabar com lixões e recursos para os municípios
Terceiro-secretário: Ciro Nogueira
6
Quarto-secretário: João Vicente Claudino
Suplentes de secretário: Magno Malta, Jayme O caminho do lixo: da indústria ao descarte 36
Campos, João Durval e Casildo Maldaner 10 Prorrogação do prazo para fim dos lixões
Lei aprovada traz pontos inovadores
Diretor-geral e secretário-geral da Mesa:
Luiz Fernando Bandeira 12
gera polêmica 39
Projeto concede benefício para empresa
Expediente comprar produto reciclado
42

Luis Morier/Imprensa RJ
Secretaria de
Comunicação Social Programa Senado Verde incentiva boas
práticas em relação ao lixo
47
Diretor: Davi Emerich
Diretor-adjunto: Flávio de Mattos
Diretor de Jornalismo: Eduardo Leão

A revista Em Discussão! é editada pela


Mundo
Secretaria Agência e Jornal do Senado

Diretor: Marco Antonio Reis


Diretor-adjunto: Flávio Faria
Aumento da produção de
Editor-chefe: João Carlos Teixeira
Editores: Janaína Araújo, João Carlos Teixeira, Joseana
lixo tem custo ambiental
Paganine e Sylvio Guedes
Reportagem: Janaína Araújo, João Carlos Teixeira,
48
Joseana Paganine e Sylvio Guedes Como alguns países tratam
Capa: Diego Jimenez
Realidade brasileira seus resíduos
Diagramação: Bruno Bazílio e Priscilla Paz
Arte: Bruno Bazílio, Cássio Sales Costa,
52
Diego Jimenez e Priscilla Paz
Japoneses mostram que educar
Revisão: Fernanda Vidigal, Juliana Rebelo, Lei não garante melhorias é parte da solução
Pedro Pincer e Tatiana Beltrão 58

Jorchr
Pesquisa de fotos: Bárbara Batista, Braz Félix, Leonardo na área de resíduos sólidos
Sá e Maristela Nogueira
Tratamento de imagem: Edmilson Figueiredo
14
Logística reversa envolve indústria,
Circulação e atendimento ao leitor: (61) 3303-3333
comerciante e consumidor Rediscussão
Tiragem: 3.500 exemplares 24 Prazo para registro de propriedade rural termina
Site: www.senado.leg.br/emdiscussao
em maio de 2015
E-mail: emdiscussao@senado.leg.br Selecionar o lixo 60
Twitter: @jornaldosenado e reciclá-lo ainda
www.facebook.com/jornaldosenado é um desafio Veja e ouça mais em:
Tel.: 0800 612211
Praça dos Três Poderes, Anexo 1 do 27 Próxima edição
Senado Federal, 20º andar, 70165-920, Brasília, DF A tramitação dos
De onde tirar Regulação deficiente e falta de obras colocam o Brasil projetos pode ser
Luis Morier/Imprensa RJ

A reprodução do conteúdo é permitida, recursos para sob risco de racionamento de água acompanhada
desde que citada a fonte.
pagar a limpeza 61 no site do Senado:
pública
Impresso pela Secretaria de
Editoração e Publicações (Seep) 30 Saiba mais 62 www.senado.leg.br
Contexto

Sem prazo
para civilizar
coleta de lixo
Responsáveis pelo serviço, prefeituras alegam falta de
recursos para iniciar reciclagem e acabar com os lixões, que
deveriam ter sido fechados em agosto. Senado acompanha
implantação da legislação de 2010 e busca soluções

A
cena se repete a cada almoço. lidade pós-consumo do setor produtivo”,
Depois de usar o canudo para esclarece o senador Cícero Lucena (PSDB-
tomar o último gole de refrige- -PB). O texto da lei envolve todos que, de
rante, a pessoa deixa para trás a alguma forma, participam da geração de
bandeja, com os restos de comida, guar- resíduos, inclusive os consumidores, co-
danapos, pratos e copos descartáveis. E merciantes, distribuidores e fabricantes. “É
são enormes as chances de nunca voltar a uma abordagem inovadora, colocando o
pensar nas coisas que acabou de utilizar e Brasil ao lado de países como os da União
que seguiram para o lixo. Europeia e o próprio Japão”, acrescenta.
É como a maioria de nós age diante Fruto de um debate que levou mais de
do lixo que produz. E é essa cultura que 20 anos no Congresso Nacional, a lei, no
a Política Nacional de Resíduos Sólidos entanto, enfrenta grandes desafios para
(Lei 12.305/2010) procura mudar, esta- deixar de ser apenas um documento com
belecendo a responsabilidade comparti- boas diretrizes e intenções e tornar-se parte
lhada de todos sobre a produção do lixo da realidade nacional.
no Brasil.
“A lei traz preceitos inovadores Lixões resistem
como a responsabilidade comparti- Uma boa medida dessas dificuldades
lhada pelo ciclo de vida do pro- foi o prazo para o fim dos lixões, terrenos
duto e o sistema de logística onde resíduos são depositados a céu aberto,
reversa, ou seja, a responsabi- sem manejo adequado. Eles deveriam
Ana Volpe/Agência Senado

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setembro
outubro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
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Contexto

Ainda que os brasileiros ge-


rem pouco mais de um quilo de
lixo por dia, abaixo da média
mundial, o país, pelo tamanho,
é o terceiro maior produtor de
resíduos sólidos do planeta. A
geração total de lixo no Brasil
em 2013 foi de 76,3 mil tonela-
das, 4,1% a mais que em 2012,
índice superior à taxa de cresci-
mento da população (3,7%) no
período.

Reprodução/Lucas Filmes
No entanto, as discussões so-
bre os impactos ambientais e os
altos custos da coleta e destina-

Marcos Oliveira/Agência Senado


ção do lixo não costumam fa-
zer parte do dia a dia dos bra-
sileiros, nem das campanhas
Temática é cada vez mais comum no cinema: lançada em 2008, animação
políticas.
Wall-E mostra planeta desabitado e transformado em um grande lixão “Já está na hora de dar prio-
ridade nas agendas a esse tema.
Sabemos que meios, conheci-
acabar em 2 de agosto de 2014. Por conta do tamanho das estão abaixo do necessário para mentos e recursos podem ser À frente da subcomissão, Cícero Lucena e Vanessa Grazziotin querem que
É o que diz a lei, mas a reali- tarefas que o país tem diante de enfrentar o problema, principal- encontrados e que podemos fa- agenda política dê maior prioridade à gestão de resíduos sólidos
dade é muito diferente: mais si, o Senado, por meio da Sub- mente nas pequenas cidades. zer essa mudança”, afirma o
de 40% do lixo gerado no país comissão de Resíduos Sólidos, A subcomissão se debruçou senador Cícero Lucena, pre-
ainda vai para lixões. Em plena que funciona na Comissão de sobre um tema que vem ga- sidente da Subcomissão Tem- públicas realizadas pela subco- ção brasileira, aliás, é o alcance
capital da República, está loca- Meio Ambiente, Fiscalização nhando importância não ape- porária de ­Resíduos Sólidos da missão, Ziulkoski luta para que social. Por conta da grande dis-
lizado o maior da América La- e Controle (CMA), resolveu nas no Brasil. Em 30 anos, o CMA, com a experiência de, os prazos da lei sejam revistos. paridade de renda, o lixo, desde
tina. Pior: ainda não se sabe acompanhar a aplicação da lei aumento do volume de lixo pro- quando prefeito de João Pessoa, Sem isso, disse, “os ministérios o início do século 19, serviu
quando Brasília vai parar de aprovada em 2010. Como resul- duzido no planeta foi três vezes ter fechado o lixão que servia a públicos de todo o país estão como sustento para famílias
usar seu lixão, em funciona- tado, diagnosticou que o finan- maior que o crescimento da po- cidade. chamando as prefeituras para brasileiras. A partir da década
mento há quase 50 anos. ciamento e a capacidade técnica pulação, que já é enorme. assinar um termo de ajuste de de 80, os catadores passaram a
Municípios reclamam conduta (TAC) ou estão denun- se organizar e, por meio de suas
Porém, as prefeituras, res- ciando os prefeitos por crime cooperativas, são parte impor-
Lixão resiste no Brasil, ignorando legislação ponsáveis pela execução da co- ambiental”. tante da política nacional para
Apesar da prática ser proibida desde 1981, 42% do lixo é depositado a céu aberto, prejudicando o meio ambiente leta de lixo, reclamam da falta A relatora da Subcomissão o setor.
de apoio. Segundo o presidente de Resíduos Sólidos, Vanessa “Estamos trilhando o cami-
da Confederação Nacional de ­Grazziotin (PCdoB-AM), con- nho da melhor destinação dos
Desperdício Emissão de metano Municípios (CNM), Paulo corda com a necessidade de resíduos, e temos algumas ‘tec-
Desperdício de Ziulkoski, as responsabilidades prorrogação do prazo. Mais que nologias’ que são próprias do
do terreno e outros gases
oportunidades e renda são repassadas às administra- isso, ela irá prever em seu rela- Brasil, como a organização dos
ções municipais sem a contra- tório fontes de recursos federais catadores em cooperativas e a
partida técnica e financeira. para que as prefeituras possam sua inclusão à operação da co-
“O Congresso Nacional e financiar a implantação de seus leta seletiva em vários muni-
o Executivo federal — e isso é planos para o setor. “Os recursos cípios. Essa solução é, além de
uma acusação — estão produ- existentes são escassos e a maio- ambientalmente positiva, so-
zindo um conjunto de normas ria das prefeituras está inadim- cialmente justa”, resume Ana
irresponsáveis diante da Lei de plente, sem poder fazer convê- Maria Domingues Luz, pre-
Responsabilidade Fiscal. Criam nios com a União”, analisa a sidente do Instituto Gea, que
despesas sem indicar as fontes. senadora. trata de educação ambiental.
Isso, além de ser ilegal, não tem Quando for encerrada, a
o menor sentido. Não adianta Saídas e soluções subcomissão do Senado espera
fixar prazo. O que o Congresso Ainda assim, como regis- que a legislação-modelo passe a
precisa arrumar são R$ 70 bi- trado nas próximas páginas, há conviver com um arranjo insti-
lhões para se cumprir a lei”, também experiências bem-su- tucional que ofereça as condi-
afirma Ziulkoski. cedidas pelo Brasil — e outras ções para que a realidade se al-
Diferentemente dos repre- tantas mundo afora — que po- tere, com a mesma criatividade
Poluição do lençol freático Poluição do solo Poluição da água sentantes do setor de meio am- dem servir de inspiração para as usada para que o lixo, de sus-
biente e das empresas de trata- cidades e até para consórcios de tento degradante, passe a ser
Fonte: Abrelpe, 2013, e elaboração própria mento de resíduos sólidos con- cidades no país. uma fonte de renda maior para
vidadas para as seis audiências Um dos destaques da legisla- milhares de brasileiros.

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Contexto

De velho e descartável a novo e desejado: o caminho do lixo


Compostagem
A meta da lei é fazer com que todos os envolvidos na produção do lixo — do produtor ao consumidor, e não A parte orgânica do lixo, malcheirosa e que
apenas o gestor público — sejam responsáveis pelos resíduos e pela destinação ambientalmente correta atrai insetos e animais, também tem valor.
Transformada em adubo, pode ser usada em
lavouras ou parques públicos.
Indústria Coleta seletiva
Embalagens e produtos devem ter Depois dos consumidores, o poder público
design que facilite o reúso ou diminua deve zelar pela separação dos diferentes
os resíduos, com materiais menos materiais, de forma que possam ser orgânicos
agressivos ao meio ambiente. aproveitados em cooperativas de catadores
e, novamente, na indústria.

Usina resíduo-energia
Se, ao final dos processos de reúso e reciclagem, ainda houver resíduos, a eletricidade
produtos
queima dos rejeitos pode gerar energia. Ao final, restam apenas 10% do turbina
volume original, em forma de cinzas. Há necessidade de controle
da poluição atmosférica, por meio de filtros.
vapor

Consumidor
Tem diversos desafios pela frente: mudar
hábitos, diminuir o consumo, procurar
produtos com embalagens menores e
que possam ser reaproveitadas, substituir
sacolas plásticas pelas recicláveis, separar
e acondicionar bem o lixo, não sujar vias
públicas etc.
materiais
cinzas
separados

Construção civil metano


Reciclagem
Aqui, lixo vira renda. Diversos materiais, bem separados, As cinzas ainda podem ser
geram dinheiro para cooperativas de catadores e usadas em obras, como a
substituem matérias-primas novas, retiradas do meio pavimentação de ruas.
materiais ambiente. Melhor: o volume dos resíduos diminui muito.
recicláveis Aterro sanitário solo
Caso haja rejeitos, eles devem
ser encaminhados para aterros rejeitos eletricidade
sanitários controlados, que evitam
resíduo não reciclável a contaminação do meio ambiente
manta Chorume
(solo, ar e água) e males à saúde
Muito poluente, líquido
pública. O gás (metano) pode
solo do lixo deve ser tratado
gerar energia.
como esgoto.

Separação de materiais Reduzir

Direcionamento de
Para o reaproveitamento dos materiais, é
Reutilizar Pirâmide do lixo

resíduos
essencial a correta separação e o descarte Opção preferencial O setor de gestão de resíduos sólidos segue uma hierarquia que
adequado. Por isso, uma convenção Reciclar leva em consideração aspectos ambientais, sociais, gerenciais e
internacional definiu lixeiras de cores
Recuperar financeiros. Chamada de “Quatro Rs”, a estratégia busca diminuir
diferentes para cada tipo de resíduo. No caso
ao máximo a quantidade de rejeitos levados a aterros sanitários.
de lixo hospitalar, radioativo e materiais Aterro sanitário Já a incineração deve minimizar a emissão de gases que causam o

Descarte de
perigosos, a separação é ainda mais

rejeitos
Incineração efeito estufa, como o gás carbônico (CO2).
importante, para que sejam eliminados com
mais eficiência e sem risco à população.
Aterro controlado

Fonte: Elaboração própria, com base na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) Fonte: Banco Mundial, 2012
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DITO
Em Discussão! acompanhou
projeto em 2010
É a segunda vez que Em Discus-
são! aborda o tema lixo. A terceira
edição, de junho de 2010, registrou
são do tema. Esse tipo de conteúdo,
aliás, deu origem à atual proposta
editorial da revista.
O que foi
Vencimento do prazo para o fim dos lixões trouxe tema de
audiência pública de quatro comis- Passados quatro anos, textos volta aos debates do Senado. Aspectos ambientais, econômicos
sões para debater o projeto de lei e ilustrações da edição continuam
e sociais da área de resíduos sólidos não escaparam dos
que deu origem à Política Nacional atuais. Abaixo, um quadro publi-
de Resíduos Sólidos. cado em 2010, com um resumo do
comentários dos senadores e dos especialistas.
A revista, então, trazia a íntegra projeto que viria a se tornar a lei.

Lia de Paula/Agência Senado


dos debates. Nas primeiras páginas, Confira a íntegra daquela edição no
o leitor já tinha acesso a infográficos site da revista: www.senado.leg.br/
e textos para ajudar na compreen- emdiscussao.

Principais pontos da lei aprovada

Pedro França/Agência Senado


É necessário que todos se conscientizem sobre a
importância de separar o lixo, sobre o lucro que isso pode
• A responsabilidade pela dis- receberão incentivos fiscais. gerar e os benefícios em todos os sentidos: saúde, trabalho,
posição final dos produtos é • O Sistema Nacional de Infor- renda, qualidade de vida e meio ambiente.”
compartilhada entre o po- mações sobre a Gestão de
Senador Paulo Paim (PT-RS)
der público, a indústria, o Resíduos Sólidos (Sinir) de-
­comércio e o consumidor. verá reunir dados fornecidos
pelos municípios sobre o ma-
nejo do lixo.

A reciclagem é a melhor opção para gerenciar os

Pedro França/Agência Senado


resíduos sólidos. No entanto, a carga tributária é um entrave
• União, estados e municípios
para que o setor se desenvolva da forma mais eficiente.”
terão de fazer diagnósticos
e desenvolver planos para o Senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE)
tratamento de resíduos, com
atuação complementar.
• Indústrias e os setores de
• Fica proibido o lançamento mineração, construção ci- Os excluídos do consumo sobrevivem do lixo dos que consumiram.
de resíduos sólidos ou rejeitos vil, transporte, saneamento Isso é uma falha. O emprego não é digno. Os catadores não querem
a céu aberto (exceto resíduos básico e saúde e outros que • Fica proibida a catação, a isso para seus filhos. Deve haver alternativas de emprego ou de
de mineração), em terrenos, gerem resíduos perigosos moradia e a criação de ani- transferência de renda para eles e uma boa escola para os filhos deles.”
rios, córregos, mares e lagos. devem elaborar plano de mais domésticos nos aterros. Senador Cristovam Buarque (PDT-DF)
• A destinação final ambien- ­gerenciamento. • Fica proibida a importação
talmente adequada só ocorre • Produtos reciclados e reci- de lixo de outros países.
depois de esgotadas as pos- cláveis terão prioridade nas • A qu e i ma d e re s í du o s e A lei, a política, o decreto são Tratar o nosso lixo com mais

Geraldo Magela/Agência Senado


sibilidades de reutilização, re- compras do governo. ­re j e i t o s n ã o p o d e r á s e r bem formulados. Mas, quanto carinho é um dos caminhos
ciclagem, compostagem, re- • As embalagens deverão ser ­feita a céu aberto, somente aos instrumentos econômicos e para gerar renda, aumentar
cuperação e aproveitamento fabricadas com materiais que em recipientes, instalações incentivos fiscais, houve indefinição.” a dignidade humana dos
energético do lixo. propiciem a reutilização ou a ou equipamentos pró- Diógenes Del Bel, da Associação trabalhadores envolvidos,
• O rejeito inerte deverá ser reciclagem. prios, desde que com Brasileira de Empresas de trazer um avanço civilizatório
disposto em aterros de forma ­licenciamento. Tratamento de Resíduos (Abetre) importante, com consequências
que evitem danos à saúde e • Consumidores e condomí- para a saúde.”
reduzam o dano ambiental. nios devem proceder à se- Albino Rodrigues Alvarez,
• Fabricantes, importadores, paração dos materiais para do Ipea
distribuidores e comerciantes coleta seletiva.
de agrotóxicos, pilhas, bate- • Linhas de financiamento fe-
rias, pneus, óleos lubrifican- deral devem fomentar estru- A coleta seletiva, a sistemática de logística reversa, a
tes, produtos eletrônicos e turas de coleta e tratamento responsabilidade pós-consumo e a reciclagem são instrumentos
de lâmpadas fluorescentes a de lixo nas cidades. fundamentais para a recuperação do conteúdo energético dos
vapor de sódio ou mercúrio e • Soluções intermunicipais, resíduos, minimizando a pressão sobre recursos naturais novos.”
mista terão de estruturar sis- como consórcios, economi- Senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF)
tema de logística reversa para • As cooperativas de catadores camente viáveis e sustentá-
recuperar produtos. e a indústria de reciclagem veis serão incentivadas.

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realidade brasileira

Na prática, a Se os princípios legais estão afi- com dados coletados este ano pelo Em relação à quantidade,

Geraldo Magela/Agência Senado


nados com o que há de mais avan- ­Instituto de Pesquisa Econômica 41,7% do lixo coletado no Bra-
çado em outros países, na prática Aplicada (Ipea), persistem no Bra- sil foi despejado em lixões no ano
surtiram pouco efeito. O Brasil sil 2.507 lixões. Ao todo, 3.344 passado. Todos os dias, 79 mil to-

história é outra
não viu o fim dos lixões, depósi- das 5.570 cidades não se adequa- neladas são encaminhadas para li-
tos a céu aberto que contaminam ram à lei. xões ou aterros controlados, que
o ar, o solo e o subsolo e põem em pouco se diferenciam dos primei-
risco o meio ambiente e a saúde Sem evolução ros por não possuírem a necessá-
da população, ainda que a lei te- “A série histórica do Panorama ria proteção ao meio ambiente.
nha fixado prazo até 2 de agosto demonstra que a evolução da ges- Em comparação com 2010, a di-
deste ano para que os lixões fos- tão de resíduos, principalmente minuição dos resíduos enviados a
Considerada uma lei de qualidade pelos especialistas, a sem substituídos por aterros sa- da destinação f inal, não tem lixões não chegou a 1%.
Política Nacional de Resíduos Sólidos ainda não conseguiu nitários, preparados para receber acompanhado, na mesma pro- Pouco mais de 90% do total de
modificar a realidade das cidades brasileiras. Tanto que, na detritos. porção, o aumento da geração. resíduos gerados no Brasil são efe-
maioria delas, persiste a existência dos lixões a céu aberto O mais recente Panorama de A cada ano, o Panorama permite tivamente coletados, o que signi-
Resíduos Sólidos no Brasil, lan- a constatação de uma evolução fica que cerca de 20 mil toneladas
çado em agosto passado pela As- das práticas em termos percentu- de resíduos acabam abandonadas

E
m agosto de 2010, o Congresso Nacional distribuidores, comerciantes, consumidores e po- sociação Brasileira de Empresas ais que não se reflete em termos todos os dias em locais impró-
aprovou a Lei 12.305/2010, que institui der público. Já o moderno sistema de logística re- de Limpeza Pública e Resíduos absolutos, já que as quantidades prios. Rios e outras fontes de água
a Política Nacional de Resíduos Sólidos versa prevê um conjunto de procedimentos para Especiais (Abrelpe), traz os da- de resíduos sem coleta, sem des- são o destino final em grande
(PNRS). Foi uma longa discussão, que viabilizar que resíduos sólidos voltem ao setor em- dos de 2013 e mostra que 60% tinação adequada e sem poste- parte desses casos, segundo o Pa-
começou em 1989, com o Projeto de Lei do Se- presarial de origem para reaproveitamento, como dos municípios brasileiros ainda rior aproveitamento são cada vez norama da Abrelpe.
nado (PLS) 354, do ex-senador Francisco Rollem- eletroeletrônicos, ou para descarte encaminham seus resíduos para maiores”, diagnostica a publica- Os planos de resíduos sólidos
berg. Foram mais de 20 anos de espera, mas, pelo ambientalmente correto, como locais inadequados. De acordo ção da Abrelpe. da União, estados e ­municípios
menos, o processo deu origem a um texto conside- pilhas e baterias
rado excelente pelos especialistas. (leia mais na Lixão da Estrutural, no
A política traz conceitos inovadores, como a pág. 24). Distrito Federal: montanha de lixo
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida a 16 km do Palácio do Planalto
dos produtos entre fabricantes, importadores,

Connie Zhou/Google
Realidade brasileira

Regina Santos/Blog Belo Monte


Retrato dos resíduos sólidos no Brasil
Desde 2010, houve pouca evolução na destinação do lixo. E cerca de 20 mil toneladas/dia permanecem nas ruas

Evolução da geração e coleta Percentual de


de resíduos sólidos no Brasil coleta por região
2007 2009 2011 Sudeste 97,09%
168,6 156,2 137,2 169,7 152,1 Sul 94,07%
140,9
Centro-Oeste 93,05%
Volume total
(mil toneladas/dia) Norte 80,23%
Nordeste 78,22%
1.106 924 985 868 1.050 937
Volume per capita Brasil 90,41%
(gramas/habitante/dia)

Geração Coleta

Destinação do lixo
57,6% 42,4%
2010

58,3% 41,7% Altamira (PA), às margens do Rio Xingu: soluções têm de


2013 ser regionalizadas por causa das diferenças geográficas

Adequada Inadequada muita dificuldade na sua decreta- ­f inanceiros das prefeituras. Urbano do Ministério do Meio
ção”, ponderou. “Os municípios de grande Ambiente, Ney Maranhão.
Fonte: Panorama de Resíduos Sólidos, Abrelpe, 2013 Já o diretor-executivo da porte têm resolvido o problema Aterros sanitários são obras
­A brelpe, Carlos Roberto Vieira dos lixões, mas há ainda os pe- complexas, que exigem constante
da Silva Filho, discorda. Ele disse quenos municípios, que precisam manutenção. Segundo Maranhão,
também deveriam ter sido quer deram início à elaboração. entraves burocráticos (leia mais aos senadores que o prazo não foi migrar para um sistema de ater- apenas 5% dos custos de um
a presentados até agosto de
­ De acordo com o ministério, na pág. 45). o problema, pois, como lembrou, ros sanitários que requer projeto aterro sanitário são de implanta-
2012, conforme previsto na Po- R$ 26,8 milhões foram repas- Para o técnico do Ipea Al- os lixões já estariam proibidos ­sofisticado, engenharia constru- ção. O restante é gasto na opera-
lítica Nacional de Resíduos Só- sados pelo governo federal para bino Rodrigues Alvarez, que desde 1981, quando entrou em vi- tiva cuidadosa e controle do fun- ção e na manutenção do aterro ao
lidos. Poucos o fizeram. Os que os estados elaborassem seus participou dos debates na sub- gor a Política Nacional de Meio cionamento”, afirmou o secretário longo da vida útil — em geral, 20
planos devem prever ações de planos de resíduos sólidos. comissão do Senado, o pro- Ambiente. de Recursos Hídricos e Ambiente anos. “Portanto, é relativamente
coleta, transporte, transbordo, “Os planos municipais são blema começou com o prazo “Além disso, os lixões estão cri-
tratamento, destinação ambien- uma das ferramentas mais rele- estabelecido pela política para a minalizados dentro do ordena- O preço de um aterro sanitário
talmente adequada dos resíduos vantes da Política Nacional de elaboração dos planos e para o mento nacional desde 1995, com
Quanto menor o aterro sanitário, mais caro o custo de operação. A tonelada
sólidos e correto descarte final Resíduos Sólidos. São condição fim aos lixões. a Lei de Crimes Ambientais, que
de lixo em um aterro pequeno sai pelo dobro preço de um aterro grande
dos rejeitos. necessária para o Distrito Fede- “Devemos sair da posição de estipulou as penas para aqueles
Pesquisa do Instituto Bra- ral e os municípios acessarem os achar que, em quatro anos, se que poluem e degradam o meio
Tipo
sileiro de Geografia e Estatís- recursos financeiros da União poderia resolver o problema da ambiente. Então, não temos aqui
tica (IBGE) apontou que, em destinados à limpeza urbana disposição de resíduos sólidos que discutir se são quatro anos, se Grande Médio Pequeno
Custo (R$) (2 mil ton/dia) (800 ton/dia) (100 ton/dia)
2013, apenas 33,5% dos mu- e ao manejo de resíduos sóli- no Brasil. De achar que os mu- foi muito ou se foi pouco. Tive-
nicípios brasileiros possuíam o dos”, destacou Cícero Lucena nicípios detêm a estrutura e os mos 33 anos”, disse. Construção 22,3 mi 11,5 mi 3,3 mi
Plano Municipal de Gestão In- (PSDB-PB). recursos necessários. Isso não é Operação (20 anos) 461,5 mi 206,5 mi 45,5 mi
tegrada de Resíduos Sólidos. O governo federal também verdade. Metas são importantís- Custos
Em relação aos estados, levan- deveria ter publicado decreto simas, mas essa foi fora das nos- De modo geral, os especialistas Encerramento 42,1 mi 18,5 mi 3,7 mi
tamento do Ministério do Meio com o Plano Nacional de Re- sas condições. Houve grande ouvidos pela Subcomissão Tem- Total 525,9 mi 236,5 mi 52,5 mi
Ambiente revelou que ape- síduos Sólidos. A versão preli- dificuldade de elaboração dos porária de Resíduos Sólidos do Preço médio por
nas Maranhão, Pernambuco e minar foi disponibilizada para planos municipais e até dos pla- Senado concordaram que uma 46,81 54,11 101,80
tonelada
Rio de Janeiro concluíram seus consulta pública em 2011. Mas, nos estaduais. Mesmo o plano das principais causas para o atraso
planos. Roraima e Amapá se- até hoje, não foi oficializada por nacional: embora elaborado, há nessa área é a falta de ­recursos Custo anual per capita 13,67 15,80 18,58

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Realidade brasileira

JOSÉ CRUZ/agência senado


sileiros é outra dificuldade en- sidades locais e regionais, mas
contrada pelos especialistas que não propõe soluções para reali-

Divulgação
participaram das audiências pú- dades singulares e complexas.
blicas do Senado. O problema Alvarez lembrou o caso de
é generalizado, já que 90% dos Altamira, no Pará, maior mu-
municípios possuem menos de nicípio do Brasil em exten-
50 mil habitantes e apenas 35 são territorial. Às margens do
cidades têm mais de 1 milhão Rio Xingu, em meio à Floresta
de habitantes. Amazônica, o município possui
“É preciso pensar agora na 159,5 mil quilômetros quadra-
política para a maioria dos mu- dos e 106,7 mil habitantes em
nicípios: os pequenos, que pre- 2014. O tamanho do municí-
cisam ter corpo técnico e estru- pio, as grandes distâncias e a di-
tura para executar a política”, ficuldade de locomoção atrapa-
alertou o coordenador de Es- lham, por exemplo, a formação
tudos Técnicos da Confedera- de consórcio.
ção Nacional de Municípios
(CNM), Eduardo Stranz. Falta infraestrutura
O governo federal concorda. Alvarez comparou a situa-
O gerente de projeto do Depar- ção de Altamira com a de Por-
Para Albino Alvarez, do Ipea, custo tamento de Ambiente Urbano tugal, que tem 92,2 mil quilô-
alto pode invializar destinação correta do Ministério do Meio Am- metros quadrados e 10,6 mi-
do lixo em pequenos municípios biente, Eduardo Rocha, disse lhões de habitantes. “Portugal,
que os municípios enfrentam com renda per capita várias ve-
fácil implantar. Difícil é susten- dificuldades técnicas e adminis- zes superior, demorou de 10 a
tar a operação em bases crite- trativas na condução dos con- 15 anos para ter um resultado
Bento Gonçalves (RS) se uniu a outras nove cidades da Serra Gaúcha para gestão integrada de resíduos sólidos
riosas e dentro dos parâmetros vênios e contratos de repasse e realmente importante na área
exigidos. Um descuido pode le- não possuem profissionais pre- de gestão de resíduos sólidos.
var à perda de todo esforço de parados tecnicamente para ela- Temos municípios na Amazô-
anos”, completou.
O tamanho da cidade e a
boração e gestão dos planos du-
rante a fase de implantação da
nia que, quando a gente fala em
consórcio municipal, o pessoal
Municípios têm dificuldade
quantidade de lixo gerado têm
impacto determinante sobre o
financiamento do tratamento
política pública.

Disparidades regionais
ri porque, às vezes, leva uma se-
mana para ir de um município
a outro”, ponderou.
para formar consórcios
do lixo. “Enquanto toda a ca- O técnico do Ipea ressaltou De acordo com Alvarez, o se- A Política Nacional de Resí- tuição e regulamentada pela Lei Ambiente Urbano do Ministério
deia de resíduos sólidos pode que a dificuldade técnica se re- miárido também possui pouca duos Sólidos dá prioridade à for- 11.107/2005. Pode ser usado para do Meio Ambiente, Zilda Veloso.
ter um peso de 3% no orça- f lete na grande desigualdade infraestrutura de transporte. mação de consórcios intermunici- oferecer diversos serviços públi- Segundo ela, são vários os obs-
mento público em um muni- nacional. “No Sul e Sudeste, “No Sul e no Sudeste, há mais pais para a gestão do lixo, inclu- cos, como saneamento básico e táculos encontrados no caminho
cípio grande e rico das Regiões 90% dos municípios já estão infraestrutura. Então, é possí- sive para obtenção de financia- saúde. A gestão regionalizada de dos consórcios: desavenças políti-
Sul e Sudeste, a manutenção de sem lixão. Nas outras regiões, vel resolver a logística do Rio mento federal. O consórcio é visto resíduos sólidos é caracterizada cas entre gestores; falta de concor-
um aterro pode chegar a 15% acontece o inverso. Quanto me- Grande do Sul, por exemplo, como solução principalmente para por um único prestador dos ser- dância quanto ao rateio das des-
do orçamento de um município nos populoso, mais provável com três ou quatro grandes os pequenos municípios, que en- viços para vários municípios, con- pesas entre municípios; dificul-
pequeno e pobre, o que pode que conte com um lixão”, disse. aterros privados. Os resíduos frentam problemas como falta de tíguos ou não. Os consórcios de- dades para formalizar acordos nas
inviabilizar a iniciativa”, avaliou Também as diferenças físicas vão viajar pelo estado apenas recursos e dificuldades técnicas vem prever também a uniformi- câmaras municipais; e inadim-
Alvarez. e climáticas foram lembradas 200 quilômetros. São soluções para gerenciar seus resíduos. dade de fiscalização, de regulação plência junto ao Serviço Auxi-
A baixa capacidade técnica como entraves. É verdade que a que não são possíveis em todas Ao se associarem entre si ou dos serviços, de remuneração e de liar de Informações para Transfe-
dos pequenos municípios bra- lei já prevê o respeito às diver- as regiões”, avaliou. com cidades de maior porte, os planejamento. rências Voluntárias ou Cadastro
pequenos municípios têm mais Único de Convênios (Cauc), o
chances de superar a baixa capaci- Obstáculos que impede acesso a recursos fe-
Onde estão os lixões, aterros controlados e aterros sanitários dade técnica e de gestão e ampliar “A formação de consórcios in- derais (leia mais na pág. 30).
Gráficos mostram que a desigualdade entre as regiões também é grande quando se trata de resíduos sólidos a escala de tratamento de resíduos termunicipais é fundamental para O coordenador de Estudos
sólidos, o que significa diminui- conferir escala, eficácia e econo- Técnicos da CNM, Eduardo
Brasil Aterros sanitários Aterros controlados Lixões ção de custos. Além dos planos micidade à disposição apropriada Stranz, ressaltou a dificuldade
estaduais e municipais, a PNRS de rejeitos e, assim, à erradicação fiscal dos municípios. “Os con-
Sul Sudeste Centro-Oeste Nordeste Norte prevê a realização de planos inter- dos lixões. Tais arranjos permitem sórcios não conseguem ser efeti-
municipais, microrregionais e de igualmente a superação de graves vados, apesar de haver várias pro-
municípios

45,0% 80,2% 60,4%


65,2% 80,9% regiões metropolitanas ou aglo- limitações quanto aos recursos fí- postas, porque sempre um dos
40,4% 84,1% merações urbanas, que devem ser sicos, humanos e financeiros com municípios do consórcio, no mí-
26,4% 18,9% efetivados por meio de consórcios que os municípios se deparam. nimo um, está negativado no
14,6% 10,4% 13,2% 9,6% 11,1%
9,4% 15,9% públicos. Contudo, esse arranjo tem enfren- Cauc, e isso impede a assinatura
6,3% 8%
2000 2008 2014 2000 2008 2014 2000 2008 2014 2000 2008 2014 2000 2008 2014 2000 2008 2014 O consórcio público é uma tado diversas dificuldades para do contrato”, explicou.
Fonte: Albino Rodrigues Alvarez, Ipea, 2014 modalidade prevista na Consti- prosperar”, analisou a diretora de Stranz acredita que outro

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Realidade brasileira

Marcos Oliveira/Agência Senado

Reprodução/Agostini Angelo
mas só conseguiu colocar em exe- los Barbosa, Coronel Pilar, Fa-
cução 8, para os quais foram des- gundes Varela, Flores da Cunha,
tinados apenas R$ 6,1 milhão. Garibaldi, Nova Roma do Sul,
Para o técnico do Ipea Albino São Marcos e Veranópolis, que
Alvarez, o país não tem tradição somam 250 mil habitantes, for-
de governança intermunicipal, por maram o Consórcio Intermunici-
meio da qual municípios de uma pal de Desenvolvimento Susten-
determinada região se organizam tável da Serra Gaúcha. O consór-
e se apoiam para executar serviços cio apoia iniciativas de desenvol-
públicos. “Isso demanda tempo, e, vimento sustentável regional. Até
por razões econômicas e políticas, o final do ano, os prefeitos pre-
é difícil chegar lá. Há sobrecarga tendem apresentar um plano inte-
para o gestor público municipal, grado de resíduos sólidos.
especialmente para os pequenos. Outro exemplo de consórcio
Precisamos de cooperação efe- intermunicipal bem-sucedido vem
tiva entre os entes federativos e de do Acre. Segundo o gerente de
maior participação dos estados. E projeto do Departamento de Am-
os créditos precisam ser liberados biente Urbano do MMA, Edu-
pelo governo federal”, considerou. ardo Rocha, o estado agrupou 22
Alvarez defende que a gestão municípios em duas regionais, Ju-
da PNRS não fique concentrada ruá e Purus, de acordo com carac- Charge de Angelo Agostini, em revista do
Eduardo Stranz, da CNM, avalia que o
século 19, mostra o francês Aleixo Gary
governo federal não tem estrutura para no Ministério do Meio Ambiente. terísticas locais. A primeira coleta enfrentando, com seus “exércitos”, o lixo
apoiar todos os pequenos municípios “É preciso haver participação mais 200 toneladas de lixo por dia e e a sujeira nas ruas do Rio de Janeiro
intensa do pessoal local. Uma ca- possui 5 aterros sanitários. A se-
grande desaf io é conseguir o racterística na nossa Federação é gunda coleta 500 toneladas por
apoio técnico para elaborar os pla-
nos municipais, firmar contratos
e colocá-los em execução. Na ava-
a grande passividade dos entes fe-
derativos, que imaginam que, de
Brasília, do Rio de Janeiro, de São
dia, que vão para 9 aterros.
Da mesma forma, Rocha elo-
gia a experiência de Alagoas. “O
Consciência sobre lixo
liação dele, o Ministério do Meio
Ambiente não tem estrutura para
apoiar todos os municípios. De
Paulo, do Recife, vão sair todas as
soluções”, afirmou.
estado foi regionalizado e, em vez
de se fazer um plano por municí-
pio, tem sido feito um plano para
é recente — e incipiente
2011 a 2013, o MMA recebeu De Norte a Sul cada 15 ou 20 municípios. São O aumento da quantidade de contraram, sem falar no pessoal No início do século 20, o
577 propostas de planos, aprovou Os municípios de Bento Gon- planos para consórcios, mais bara- lixo nas grandes cidades é fruto da corte de dom João VI, que Serviço de Profilaxia da Febre
153 e assinou contrato com 96, çalves, Campestre da Serra, Car- tos”, defendeu. de dois processos relativamente reclamava dos ratos e mosquitos Amarela, capitaneado pelo sani-
recentes, que correram parale- que criavam epidemias, obri- tarista Oswaldo Cruz, também
lamente: a industrialização e a gando os navios que chegavam promoveu a limpeza pública
urbanização, principalmente a a quarentenas humilhantes”, re- para evitar o acúmulo de água
partir do século 19. A acelera- sumiu o escritor Carlos Heitor que favorecia a infestação pelo
Além de poucos recursos, falta de dados é obstáculo ção do consumo em centros ur- Cony em artigo, citando auto- mosquito Aedes aegypti, respon-
banos, que concentram cada vez res que descreveram o Rio de sável pela transmissão de diver-
Além da carência de recur- públicos e privados de gerencia- mais gente, deixou claro que Janeiro do século 19. sas doenças.
sos, a falta de informações so- mento de resíduos sólidos. aquilo que não tinha mais ser- No Rio, a cidade só criou
bre os serviços de coleta de lixo Porém, o sistema ainda não ventia para as pessoas e as in- normas para a disposição de Soluções ao norte
no Brasil é crônica. Sem moni- está servindo ao seu propósi- dústrias precisava de tratamento lixo e esgoto nas ruas quando a Paralelamente, os países de-
toramento, fiscalização e avalia- to. De acordo com a diretora urgente. família real portuguesa chegou senvolvidos da Europa e da
ção da eficiência da gestão de de Ambiente Urbano do MMA, Narrativas sobre cidades, à colônia, em 1808. Foram as América do Norte já começa-
resíduos sólidos, o planejamen- Zilda Maria Faria Veloso, o Sinir como Londres, Paris, Lisboa e preocupações com a saúde pú- vam a dar melhor tratamento
to, a definição de metas e as está funcionando precariamen- Rio de Janeiro, até o início do blica que fizeram a limpeza ur- ao lixo, utilizando soluções que
estimativas de custos e receitas te. Ela explicou que a Universi- século 19, dão conta de ambien- bana avançar. não chegaram ao Brasil em
de obras e de operações ficam dade de Brasília (UnB) foi con- tes em que a sujeira e o mau Somente ao final do longo larga escala. A incineração, por
muito difíceis. tratada para desenvolver a parte cheiro dominavam, num cená- reinado de dom Pedro II foi exemplo, foi considerada ade-
Essa preocupação também tecnológica do sistema, mas en- rio propício para a propagação autorizada a contratação de ser- quada por muito tempo em ci-
es teve presente quando da controu dificuldades. de doenças. O lixo, geralmente viço de limpeza do Rio de Ja- dades como a Londres da virada
Lia de Paula/agência senado

aprovação da PNRS em 2010. “Estamos funcionando ape- misturado ao esgoto, era depo- neiro. A empresa do francês do século 20.
Tanto que a lei prevê a criação nas com informações de órgãos sitado nas ruas e a destinação Aleixo Gary implantou a coleta No Rio de Janeiro, a pri-
do Sistema Nacional de Infor- como o Ministério das Cidades final, até meados do século 20, em 1880 e, ainda que seu con- meira iniciativa nesse sentido
mações sobre Gestão dos Re- e o Ibama. A parte mais impor- quando havia, eram rios, mares trato tenha perdurado por ape- não prosperou e o lixo continu-
síduos Sólidos (Sinir). Quando tante, que permite que as pre- e terrenos baldios. nas uma década, o ineditismo ava a ser levado para dentro da
implantado pelo Ministério do feituras alimentem o sistema “Falei da sujeira, da imundí- fez com que os funcionários Baía de Guanabara. A Ilha de
Zilda Veloso informou que o Sinir
Meio Ambiente, o Sinir deverá com informações sobre seus cie que Luiz Edmundo, Aluísio encarregados de limpar as ruas Sapucaia foi o destino do lixo
ainda não foi totalmente implantado, o organizar dados federais, esta- planos e ações, ainda não está Azevedo, Gastão Cruls e alguns passassem a ser chamados de da cidade entre 1865 e 1949.
que dificulta o acesso à informação duais e municipais de serviços ativa”, lamentou. viajantes estrangeiros aqui en- “garis” em todo o Brasil. Seg undo Emílio Maciel

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Realidade brasileira

João Pessoa fecha lixão,

SYLVIO Guedes
João Pessoa

mas situação não muda


Durante 45 anos, a área conheci- Metropolitana de João Pessoa do aterro, a situação
da como Lixão do Roger recebeu o (Condiam). se deteriorou. De
lixo produzido na capital da Paraíba. “Tivemos a preocupação de acordo com Cícero,
De acordo com a Pesquisa Nacional fazer a cobertura da área do li- ainda há famílias mo-
de Saneamento Básico (PNSB) de xão, que nunca tinha sido feita, rando na antiga área do lixão e a
2000, o município gerava uma mé- de fazer a extração dos gases, de única vegetação que cresceu no
dia mensal de 30 mil toneladas de proporcionar a coleta do chorume solo é uma planta chamada de
resíduos sólidos, que eram deposi- para o seu devido tratamento. En- “mata-pasto”, erva daninha que
tadas no lixão, um vazadouro a céu tão, não se tratava de simplesmen- infesta terrenos baldios. “O cheiro
aberto situado a pouco mais de um te fechar o lixão, mas fazer uma de decomposição ainda é presente
quilômetro da prefeitura e da cate- série de obras de engenharia sani- e facilmente se encontra terra re-
dral da cidade, próximo a residências tária, ambiental e social”, relatou o virada, deixando o lixo inorgânico
e em área de proteção ambiental. O senador Cícero Lucena (PSDB-PB), visível”, denunciou.
acúmulo de lixo fez nascer uma co- prefeito de João Pessoa na época. Estudo feito por professores da
munidade no entorno do depósito, Para as famílias que habitavam Universidade Federal da Paraíba
formada por cerca de 300 famílias o local e sobreviviam do lixo, foi (UFPB), Problemática dos Resí-
que viviam do que conseguiam catar construído um conjunto habita- duos Sólidos Urbanos do Municí-
para comer ou para vender. cional e criada uma cooperativa. pio de João Pessoa, mostra que a
Em 2003, a prefeitura fechou o “Fizemos também o treinamento coleta seletiva e a reciclagem são
lixão e inaugurou o primeiro aterro dos catadores, transformando-os praticamente ausentes na capi-
sanitário da Paraíba, instalado na em agentes ambientais, e garanti- tal paraibana: quase 100% dos
zona rural da capital. Além de João mos uma renda mínima enquanto resíduos domésticos estão sendo
Pessoa, utilizam o aterro sanitário eles saíam do lixão e começavam depositados no aterro. Ao menos
os municípios de Bayeux, Cabede- trabalhar no sistema de coleta se- 50% poderiam ser compostados
lo, Conde e Santa Rita, sob a coor- letiva”, contou. e transformados em fertilizantes e
denação do Consórcio de Desen- Passados 11 anos da desativa- 35% poderiam ser reaproveitados
Lixeiras de coleta seletiva no Guará, perto
de Brasília: experiências bem-sucedidas em volvimento Intermunicipal da Área ção do Lixão do Roger e da criação pela indústria.
outros países custam a frutificar no Brasil

Gilberto Firmino
Onze anos depois da desativação, área do Lixão do Roger
­ igenheer, do Programa de Pós-
E de pessoas que se sustentavam ainda está deteriorada e há vestígios do lixo inorgânico
tros problemas, não ajudaram
-Graduação em Ciência Am- do lixo no país datam de 1806. no desenvolvimento de uma
biental da UFF, no livro A His- A partir da década de 80, cultura que dê um melhor tra-
tória do Lixo — a limpeza pú- com apoio de grupos religio- tamento aos resíduos sólidos,
blica através dos tempos, somente sos, os catadores começaram a desde o consumidor até o poder
a partir de 1970 o Brasil pas- se organizar para melhorar sua público.
sou a dar atenção aos lixões e às inserção na sociedade. A Coo- Como consequência, a lei
substâncias nele depositadas. perativa dos Catadores Autô- atual traz os melhores concei-
Ainda assim, foi nessa década nomos de Papel, Aparas e Ma- tos desenvolvidos no mundo,
que o Rio de Janeiro implantou teriais Reaproveitáveis, em São grande parte sem aplicação no
o Lixão de Gramacho, no mu- Paulo, foi pioneira, em 1989. A dia a dia. As boas práticas de
nicípio de Duque de Caxias, mobilização dos catadores levou manejo do lixo ainda não são
em uma região de manguezal, prefeituras a incentivar as ini- a regra no país, onde lixões,
das mais sensíveis do ponto de ciativas e integrá-las ao sistema mesmo proibidos, ainda fazem
vista ambiental. Esse lixão, que de limpeza urbana. Graças a parte das paisagens urbanas.
chegou a receber mais de nove isso, as cooperativas foram con- No R io de Janeiro, por
toneladas de lixo diariamente, templadas pela Política Nacio- exemplo, somente recentemente
só foi desativado recentemente nal de Resíduos Sólidos, nos sis- algumas comunidades pacifi-
(leia mais na pág. 26). temas de coleta seletiva de lixo. cadas começaram a ter serviço
Enquanto na Europa e nos de coleta de lixo mais eficiente,
Sustento do lixo Estados Unidos, por exemplo, dando àquelas pessoas condi-
Como em sociedades onde a consciência sobre a responsa- ções para descartar seus resí-
há grande desigualdade de bilidade mútua com relação ao duos adequadamente. E o que é
renda, o lixo serviu como sus- lixo avançou muito no último ainda pior: diversas cidades bra-
tento para um grande contin- século (leia mais a partir da pág. sileiras, incluindo o Rio, sofrem
gente de brasileiros, marginali- 48), no Brasil, a desigualdade com epidemias como a de den-
zado do processo econômico: os social e o crescimento desor- gue, agravadas pelo acúmulo
catadores. As primeiras notícias denado das cidades, entre ou- inadequado de lixo.

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Realidade brasileira

Logística reversa depende Como funciona a logística reversa


Sistema de recuperação exige responsabilidade compartilhada envolvendo vários atores sociais

de acordos setoriais Quais produtos devem retornar aos fabricantes ao fim da vida útil?
O sistema de logística reversa é Meio Ambiente (MMA) e o setor deverão ser coletadas e destinadas pilhas e lâmpadas produtos eletroeletrônicos
um dos pontos mais importantes produtivo. adequadamente em todo o país. Reciclagem/
baterias fluorescentes e seus componentes reutilização
da Política Nacional de Resíduos Os instrumentos para firmar Para a diretora do Departa-
Sólidos. Está ligado diretamente compromisso na área de logística mento de Ambiente Urbano do agrotóxicos e suas óleos lubrificantes Incineração
ao princípio da responsabilidade reversa são os acordos setoriais e os MMA, Zilda Veloso, o sistema embalagens e suas embalagens pneus
compartilhada pelo ciclo de vida termos de compromisso. Segundo implica não somente obrigações,
dos produtos entre fabricantes, co- informações do MMA, por per- mas mudança de paradigma. “A Produto
usado
merciantes, consumidores e poder mitir grande participação social, logística reversa evita desperdícios,
público. o acordo setorial tem sido o meio estimula o consumo sustentável e
Pelo sistema, o fabricante de escolhido pelo Comitê Orientador, redireciona o marketing de algu-
uma televisão, por exemplo, será formado por técnicos de cinco mi- mas empresas. Isso é saudável, pois Descarte
responsável, junto com o consumi- nistérios: Meio Ambiente; Desen- gera a oportunidade de novos ne- Consumidor
dor e a loja que vendeu o produto, volvimento, Indústria e Comércio; gócios, diminui a pressão sobre os Produto
novo
pela reciclagem do material e pelo Agricultura; Fazenda; e Saúde. recursos naturais, a saúde pública Comerciante/ Fabricante
descarte correto do objeto quando Até hoje, somente o acordo se- e o meio ambiente”, avaliou. ponto de recebimento
sua vida útil acabar. Somente o que torial para a reciclagem de emba- Um dos desafios para se cons-
não for possível aproveitar vai para lagens plásticas de óleo lubrifi- truir o sistema de logística reversa
o lixo — e com segurança. cante foi assinado, em dezembro é estabelecer a responsabilidade de O secretário de Recursos Hídri- -prima, com economia de 10% de 50% no mercado de resíduos no
A lei prevê logística reversa para de 2012. Mas o comitê analisa cada ator em cada etapa da cadeia. cos e Ambiente Urbano do MMA, energia a cada tonelada de caco no Brasil, estimado em R$ 22 bilhões
seis tipos de produtos, cujo des- propostas para os demais setores. “Até onde vai a responsabilidade da Ney Maranhão, acredita que a lo- forno. E não tenho nenhum tipo por ano.
carte incorreto causa ainda mais indústria em relação a buscar o re- gística reversa vai exigir que con- de vantagem. A garrafa fabricada O estudo propõe a desonera-
danos ao meio ambiente e põe em Mudança de cultura síduo no ponto de coleta e até onde sumidor seja educado para um com 80% de caco paga o mesmo ção para os produtos de logística
risco a saúde da população: pilhas O acordo setorial de embalagens vai a responsabilidade do comér- novo padrão de consumo. “Além IPI que a fabricada com matéria- reversa previstos na Política Na-
e baterias, pneus, lâmpadas, pro- plásticas de óleo lubrificante prevê cio, do distribuidor e do consumi- de selecionar e descartar adequa- -prima virgem, com consumo cional de Resíduos Sólidos. A esti-
dutos eletroeletrônicos, agrotó- a implantação, ainda este ano, da dor na hora do descarte? É preciso damente os produtos da cadeia, o maior de energia. Estou falando mativa de renúncia tributária para
xicos e óleos lubrificantes. Mas a logística reversa em 70% dos mu- definir ainda a consolidação do vo- consumidor deve ir ficando mais de R$ 65 milhões de bitributação, implantar todas as propostas do
inserção de mais categorias, como nicípios das Regiões Sul, Sudeste lume e triagem. Essas são algumas consciente das implicações sociais que poderiam ser empregados na estudo é de R$ 3 bilhões.
a de medicamentos e a de emba- e Nordeste (menos Piauí e Mara- questões que precisam ser respon- e ambientais dos produtos que reciclagem”, reclamou Ana Paula
lagens em geral, já está sendo ne- nhão). Em 2016, 60% das emba- didas para construir um acordo se- compra. Acredito que vai mudar Bernardes da Silva, gerente de pro- Projetos
gociada entre o Ministério do lagens plásticas de óleo lubrificante torial”, explicou Zilda. seu padrão de consumo”, afirmou. jeto da Associação Técnica Brasi- Atualmente, o Senado analisa
leira das Indústrias Automáticas três projetos que têm a logística
Bitributação de Vidro (Abividro). reversa como tema. O primeiro
Resíduos eletroeletrônicos, se recuperados pela cadeia de
logística reversa, podem ser reaproveitados pela indústria A questão tributária foi citada Estudo feito pela Confedera- é o substitutivo do senador Luiz
por participantes das audiências ção Nacional da Indústria (CNI)
públicas da Subcomissão Tempo- estima que há reincidência tribu-
Reprodução/Hub Oaxaca rária de Resíduos Sólidos como tária de R$ 2,6 bilhões sobre ma-
obstáculo ao pleno funcionamento teriais reciclados. Segundo o es-
da logística reversa. “Está muito tudo, o Imposto sobre Circulação
claro para mim que a questão tri- de Mercadorias e Serviços (ICMS)
butária é um gargalo. Isso foi dito é o que mais pesa para a cadeia da
em todas as audiências públicas. reciclagem. A reincidência desse
Muitas vezes se está pagando mais tributo sobre os resíduos usados
caro por um produto reciclado como matéria-prima na reciclagem
de vidro, a bitributação, do que a é de R$ 1,38 bilhão, 53% do total
matéria-prima, virgem, original- do custo com a dupla tributação.
mente”, comentou o presidente Para a CNI, a desoneração da

Marcos Oliveira/Agência Senado


da subcomissão, senador C ­ ícero logística reversa, além de estimu-
Lucena. lar o uso de resíduos como maté-
“Até agora, a gente não viu en- ria-prima, vai contribuir para ele-
trar no acordo o debate profundo var a renda na cadeia de coleta,
e a responsabilidade do governo triagem, transporte e reciclagem
sobre a questão tributária. Hoje, dos resíduos. A confederação cal-
há fábricas de vidro que trabalham cula um potencial de recuperação
com 80% de caco no forno. Isso de resíduos de mais de R$ 10 bi- Luiz Henrique quer aplicar também
significa que 80% do produto é lhões por ano. Isso representa um às baterias automotivas a logística
fabricado sem extração de matéria- crescimento de aproximadamente reversa prevista na PNRS

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Henrique (PMDB-SC) ao PLS
537/2011, do senador licenciado
Eduardo Amorim (PSC-SE), que
obriga fabricantes, importadores e
comerciantes de baterias automoti-
vas a implantar a logística reversa.
O segundo (PLS 148/2011), do
senador Cyro Miranda (PSDB-

Marcos Oliveira/Agência Senado


-GO), obriga a indústria farma-
cêutica a manter sistema de logís-

José Cruz/Agência Senado


tica reversa de medicamentos de
uso humano ou veterinário venci-
dos, deteriorados ou parcialmente
utilizados.
O autor do projeto considera a
medida necessária para evitar que
a população jogue na rede de es- Projeto de Cyro Miranda inclui Vital do Rêgo tem proposta para
goto ou no lixo residencial remé- remédios de uso humano e veterinário incluir os automóveis entre os
dios vencidos ou que não mais na cadeia de logística reversa produtos sujeitos à logística reversa
utilize. O relator, Cícero Lucena,
apresentou emenda para ampliar consumidor nas farmácias e nos entre os produtos sujeitos à logís-

Elizabeth Nader/Prefeitura de Vitória


o alcance da medida, determi- locais de venda de medicamento tica reversa. O PLS 67/2013 é de
nando que caberá à indústria far- veterinário. autoria do senador Vital do Rêgo
macêutica arcar com os custos de O terceiro projeto modifica a (PMDB-PB) e tem como relator
coleta e tratamento adequado do Política Nacional de Resíduos Só- o senador Rodrigo Rollemberg
descarte de remédio entregue pelo lidos para incluir os automóveis (PSB-DF).

No Rio, apenas 3% dos RIO DE JANEIRO

resíduos segue para lixões Prefeitura de Vitória mantém programa


de reciclagem que insere os catadores
por meio de associações
Em 2007, o estado do Rio de Ja-
neiro possuía 76 lixões. Hoje são 20
e recebem, juntos, cerca de 474 to-
cípio de Duque de Caxias. Até ser
fechado, em 2012, o lixão recebia
aproximadamente 9,5 mil toneladas
breviviam como ca-
tadores de lixo. Para
deixar o local, esses
Brasil ainda coleta mal
neladas de lixo por dia, apenas 3%
das 15 mil toneladas produzidas no
diárias de lixo domiciliar provenien-
tes dos municípios do Rio, Duque
catadores receberam
indenização de R$ 14 mil. Hoje e recicla pouco o lixo
estado. O Rio de Janeiro é o segun- de Caxias, São João do Meriti, Ni- a Prefeitura de Duque de Caxias
do estado em percentual de desti- lópolis, Queimados e Mesquita. busca reinserir os catadores em um A Pesquisa Nacional de Sa- Como anda a coleta seletiva
nação correta do lixo, atrás apenas Jardim Gramacho já foi o maior polo de reciclagem em construção. neamento Básico apontou que, A maioria dos municípios brasileiros já iniciou alguma ação de coleta
de São Paulo. lixão da América Latina. Em suas Quanto ao antigo lixão, a intenção no ano 2000, apenas 451 muni- seletiva, mas com poucos resultados práticos
Um dos lixões fechados foi o de imediações, chegaram a morar 20 é reurbanizar o bairro, depois da cípios (8,23%) possuíam coleta
Jardim Gramacho, situado no muni- mil pessoas, e cerca de 1,7 mil so- descontaminação da área. seletiva de resíduos sólidos. Treze
anos depois, 62,1% (3.459) já
declaravam dispor de alguma Norte
iniciativa do gênero. Essa coleta, 49,5%
porém, ainda deixa muito a de-
pedro serra

Nordeste
sejar em qualidade e efetividade,
de acordo com o Panorama dos
40,4%
Resíduos Sólidos no Brasil 2013,
da Abrelpe.
A coleta seletiva foi definida, Centro-Oeste
pela lei, como a separação pré- 33,8%
via de acordo com a constitui- Sudeste
ção e a composição dos resíduos Brasil 82,6%
sólidos, devendo ser implemen- 62,1%
tada ­pelos municípios. Em um Sul
Área de Jardim Gramacho chegou sistema ideal, somente deve che- 81,9%
a receber 9,5 mil toneladas por dia gar ao aterro sanitário o que é
de lixo e agora deve ser reurbanizada
considerado rejeito, ou seja, que Fonte: Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013, Abrelpe

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Realidade brasileira

Retrato da reciclagem no Brasil Bonito de Santa Fé Bonito de Santa Fé - PB


País desperdiça cerca de R$ 8 bilhões por ano em materiais não reciclados Vidro
Produção anual:
organiza coleta seletiva
2002: 2,9 milhões de toneladas Outro município paraibano que reduzido. Mesmo assim, conse- da Associação dos
mostrou eficiência na gestão de guiu aprovar, em dois anos, o Pla- Catadores. Fo-
Alumínio 2008: 3 milhões de toneladas
resíduos sólidos é Bonito de Santa no Municipal de Resíduos Sólidos ram também dadas
Consumo doméstico Fé, a 480 quilômetros de João Pes- e implantar uma iniciativa bem- aula s de e du c aç ão
Reciclagem
2002: 715,5 mil toneladas soa. A cidade, de 10 mil habitan- -sucedida de inclusão social dos ambiental para a população, que
Papel (embalagens)
tes, implantou um projeto para ca- catadores. Com ajuda do estado, passou a fazer a separação dos re-
2011: 1, 4 milhão de toneladas Produção 2000: 41%
síduos secos e molhados.
tadores de materiais recicláveis que construiu um aterro sanitário que
2003: 7,9 milhões de toneladas 2009: 47%
está entre os melhores do país. pode inclusive receber resíduos das Atualmente, 18 toneladas de
Relação entre sucata recuperada
Bonito ficou entre as quatro cida- cidades vizinhas. lixo são recicladas por mês, com
e consumo doméstico 2013: 10,4 milhões de toneladas
des vencedoras do Prêmio Cidade O projeto foi coordenado pela receita de R$ 6 mil, dividida entre
Inglaterra | 47,5% Pró-Catador em 2013, promovido Pró-Reitoria de Extensão da Uni- as cerca de 50 famílias envolvi-
Brasil | 35,2% Porcentagem de recuperação entre 15
pela Secretaria-Geral da Presidên- ver sidade F e dera l da Pa ra í ba das. Na avaliação do professor da
Média mundial | 29,9% países selecionados Plástico cia da República. (UFPB), em parceria com a prefei- UFPB Tarcísio Valério, a iniciativa
China | 21,6% 1º Coreia do Sul | 91,6% Consumo: Localizado no semiárido, o mu- tura. Os trabalhos começaram em de Bonito de Santa Fé pode ser
12º Brasil | 45,7% 2002: 3,9 milhões de toneladas nicípio apresenta várias adversi- 2011, com a qualificação e capa- facilmente implantada em outros
Latas de alumínio (bebidas) 15º Índia | 25,9% dades: seca, baixa renda, baixa citação de 65 trabalhadores, em municípios com o mesmo perfil
Brasil | 97,6% 2012: 7,1 millhões de toneladas escolaridade e orçamento público sua maioria mulheres, e a criação ­socioeconômico.
Japão | 92,6%
Argentina | 91,1% Reciclagem
2002 | 35% Catadores em Bonito de Santa Fé:
EUA | 58,1% projeto de reaproveitamento de lixo
2012 | 58,9%
ficou entre os melhores do Brasil

Fontes: Ipea e Panorama dos Resíduos


Sólidos no Brasil 2013, Abrelpe

não tem como ser aproveitado. ganhou muita visibilidade. Mas principal nos centros urbanos,
De acordo com a Abrelpe, em coleta seletiva é algo que, para tanto que o foco é a questão da
muitos municípios a coleta se- ter impacto importante, ma- disposição final. A reciclagem,
letiva não abrange toda a área tura em 10, 20 anos. Em 2 ou atualmente, está concentrada
urbana. E, muitas vezes, as ini- 4 anos, não se consegue toda a em alguns itens, como latinhas
ciativas se resumem à oferta de educação ambiental, o marke- de alumínio, garrafas PET, com
pontos de entrega voluntária ou ting do processo, a organização”, índices pequenos. A composta-
a convênios com cooperativas de avaliou o especialista. gem ainda é incipiente. Há mui-
catadores. Lixo mal coletado é lixo mal tas iniciativas de coleta seletiva,
reciclado. Relatório do Ipea, de mas com muito pouca penetra-
Algum avanço 2010, mostrou que o país perde ção efetiva”, ponderou.
“A coleta seletiva ainda não se R$ 8 bilhões por ano quando
tornou uma prática no país, ape- deixa de aproveitar tudo o que Entrave
sar de ser um elemento indispen- poderia ser reciclado e acaba en- Mais uma vez, a tributação
sável para viabilizar a recupera- caminhado para lixões. Assim, o foi lembrada como empecilho
ção dos materiais descartados e instituto estima que, hoje, a ati- para o incremento da atividade
seu posterior encaminhamento vidade gere apenas entre R$ 1,4 de reciclagem no Brasil.
para processos de reciclagem e bilhão e R$ 3,3 bilhões anuais. “Temos que corrigir a dis-
aproveitamento. Essa situação Somente 3% do lixo é reciclado, torção que existe hoje, que faz
traz perdas consideráveis para o quando, conforme a Abrelpe, com que o material reciclado
Brasil, pois o sistema adotado é mais de 30% dos resíduos só- pague mais impostos que o ma-
economicamente ineficiente e lidos produzidos no país apre- terial virgem. Há um caso de
desperdiça o potencial de recur- sentam potencial para a recicla- um material que, se você im-
sos materiais e energéticos pre- gem. De acordo com Alvarez, porta e vende no país, paga 4%
Reprodução/Governo Paraíba

sentes nos resíduos descartados”, o Plano Nacional de Resíduos de ICMS. Se você recicla, paga
concluiu a Abrelpe. Sólidos, ainda não oficializado, 18%. Não se consegue sustentar
Para o técnico do Instituto de não dá ênfase à coleta seletiva e à um sistema de reciclagem dessa
Pesquisa Econômica Aplicada reciclagem. maneira”, disse Wanderley Coe-
(Ipea) Albino Alvarez, desde “O próprio plano dá a im- lho Baptista, analista de políticas
2010 o Brasil avançou em rela- pressão de que a coleta simples e indústria da Confederação Na-
ção à coleta seletiva. “O tema — não a coleta seletiva — é o cional da Indústria (CNI).

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29
Realidade brasileira

Quem vai pagar a conta ­ ecessidade de suplementação de


n
recursos para os municípios, tanto
Mas o próprio Ministério do
Meio Ambiente confirmou que,
da limpeza urbana? pela União quanto pelos estados.
“Os municípios precisam con-
tar com fonte de recursos para via-
em 2013, houve um corte quase
integral (96%) do que estava pre-
visto para ser gasto na área.
A quem cabe pagar pela lim- do Lixo — A limpeza pública atra- i­nvestido na prestação do serviço bilizar os avanços determinados Para a elaboração de planos de
peza urbana? O serviço, de acordo vés dos tempos, concorda: “Uma de para o qual foi cobrada. pela legislação e demandados de resíduos sólidos, por exemplo, ape-
com a Constituição, deve ser ofe- nossas maiores dificuldades reside maneira crescente pela sociedade. nas 804 municípios (menos de
recido pelos municípios. Mas os no fato de que o cidadão brasi- Mais soluções Isso apenas será possível mediante 15% do total) receberam recursos
prefeitos alegam que não têm re- leiro não está acostumado a pagar Ainda assim, apenas a cobrança a instituição de instrumentos espe- dos três órgãos. Segundo o MMA,
cursos para criar toda a estrutura por esses serviços, diferentemente de taxa não resolve o problema cíficos de cobrança pelos serviços 39 contratos destinados a consór-
de tratamento de resíduos sólidos do que ocorre em outros países. dos pequenos municípios. “Para de gestão de resíduos, o que deve cios, abrangendo 686 municípios,
tal como exige a lei, muito me- Tentativas feitas de cobrança de esses, é preciso encontrar uma ser estimulado pelos governos fe- não puderam ser efetivados porque
nos para arcar com as despesas de taxas e tarifas específicas pelos forma de financiamento e apoio deral e estaduais, aos quais tam- pelo menos um dos municípios
operação e manutenção do ser- serviços provocaram forte reação técnico”, defendeu Cícero Lucena. bém cabe instituir fundos para está negativado no Serviço Auxi-
viço, que são altas, apenas com re- da população e da mídia”. De acordo com o presidente da superação do déficit verificado liar de Informações para Transfe-
cursos orçamentários. Apesar de impopular, a taxa Confederação Nacional de Muni- ­atualmente”, conclui. rências Voluntárias ou Cadastro
“Existe uma forma clara de fi- tem sido cada vez mais adotada cípios, Paulo Ziulkolski, são ne- Único de Convênios (Cauc).
nanciar isso: a taxa de lixo. Acon- no país. De acordo com o Per- cessários R$ 70 bilhões para que Outras fontes E esse não é um caso inco-
tece que os prefeitos não querem fil dos Municípios Brasileiros 2012 todos os municípios brasileiros Atualmente, os municípios mum. O coordenador de Estu-
tomar uma medida impopular, es- (Munic/IBGE), a taxa de limpeza cumpram a lei. “Os municípios contam com recursos dos Minis- dos Técnicos da Confederação
tabelecer taxa de lixo compatível pública já é cobrada por 41,3% não têm dinheiro”, constatou. térios de Meio Ambiente e das Ci- Nacional de Municípios, Edu-
com o custo e repassar isso para das cidades do país. A caracterís- O Panorama dos Resíduos Só- dades e da Fundação Nacional de ardo Stranz, disse que mais de
o consumidor”, avaliou o senador tica principal de uma taxa é que lidos no Brasil 2013, da Associa- Saúde (Funasa). Dados do Orça- 70% dos municípios, cerca de
Cícero Lucena (PSDB-PB). ela está vinculada a alguma ati- ção Brasileira de Empresas de mento Geral da União mostram 3.700, estavam com pendências
O professor da Universidade vidade específica, como coleta Limpeza Pública e Resíduos Es- que, de 2011 a 2014, foram efe- no Cauc.
Federal Fluminense Emílio Ma- de lixo ou iluminação pública, e peciais (Abrelpe), também ava- tivamente destinados para a área “A gente propõe que, imediata-

Sylvio Guedes
ciel Eigenheer, no livro A História o recurso arrecadado só pode ser lia que, além da taxa, pode haver um total de R$ 308,6 milhões. mente, adote-se a transferência de
recursos, sem necessidade de con-
sulta ao Cauc, ou como as transfe-

Raphael Lima/prefeitura rj
rências de saúde, que são fundo a
Dia de coleta de recicláveis na capital
fundo. Acho que é a única forma federal: taxa de limpeza urbana é mais
No Rio de Janeiro, fiscais orientam a de fazer esse apoio financeiro che- impopular que ver sujeira nas ruas
população sobre programa que prevê gar aos municípios em tempo há-
multa para quem sujar a rua bil”, sugeriu.
Para o técnico do Ipea Albino pública instituída pela Prefeitura
Alvarez, a solução é uma fórmula de Natal.
conjugada entre taxa e recurso fe- No entendimento do Tribunal
deral. “Créditos precisam ser libe- de Justiça, a taxa viola a Consti-
rados pelo governo federal. E pre- tuição, pois, segundo os desem-
cisamos pensar que uma coisa é bargadores, não é possível indi-
dispor dos resíduos sólidos, conse- vidualizar o valor do imposto.
guir a infraestrutura; outra é você Em Natal, a taxa foi instituída
mantê-la. Para isso, o ideal é que tendo por base de cálculo o Im-
os municípios cobrem, por exem- posto Predial e Territorial Urbano
plo, no IPTU, claramente, uma (IPTU).
taxa sobre o lixo. Esse é o ponto Entretanto, o ministro do STF
de vista econômico do Ipea, por- Luiz Fux considerou que é consti-
que induz a melhora na eficiência tucional qualquer taxa que se des-
do processo”, afirmou. tine a serviços municipais de co-
leta, remoção e destinação de lixo
Discussão jurídica prestados ao contribuinte ou pos-
Mesmo assim, a taxa de lim- tos a sua disposição. Do mesmo
peza pública também tem gerado modo, o Supremo já havia julgado
controvérsia no campo jurídico. constitucional a adoção, no cál-
Em abril, o Supremo Tribunal culo do valor de taxa, de um ou
Federal (STF) suspendeu deci- mais elementos da base de cálculo
são do Tribunal de Justiça do Rio própria de determinado imposto,
Grande do Norte que julgou in- desde que não haja integral identi-
constitucional a taxa de limpeza dade entre uma base e outra.

30  
31
Realidade brasileira

Para acabar com lixão, é


preciso capacitar servidor
Um dos problemas mais citados da Secretaria Nacional de Sanea-
pelos participantes das audiências mento Ambiental do Ministério
públicas promovidas pela Subco- das Cidades.
missão Temporária de Resíduos O diretor-executivo da Abrelpe,
Sólidos é a falta de capacidade ge- Carlos Alberto Vieira Filho, acre-
rencial dos políticos e de qualifica- dita que, para universalizar a coleta
ção técnica dos servidores munici- e garantir a destinação adequada, é
pais para elaborar os planos e gerir preciso promover um processo de
a área de resíduos sólidos. capacitação continuada. Segundo
“A grande maioria dos peque- ele, o Brasil tem o conhecimento
nos e médios municípios não tem técnico suficiente para que esse
quadros técnicos preparados para processo seja implementado em
trabalhar nessa área”, constatou o todo o território nacional. Precisa é

José Cruz/Agência Senado


senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), de pessoas capacitadas.
membro da subcomissão.
A falta de qualificação dos fun- Problema recorrente
cionários de grande parte dos mu- O problema já havia sido detec-
nicípios brasileiros é um dos mo- tado pela Fundação Nacional de
tivos por trás do atraso na confec- Saúde (Funasa) quando da elabo-
ção e implantação dos planos e, ração dos planos de saneamento Flexa Ribeiro adverte que a maioria
como consequência, no fim dos básico, que também envolve a dos municípios não tem capacidade
lixões. “Um dos gargalos é, real- área de resíduos sólidos. O diretor técnica para lidar com resíduos

Ricardo Giusti/pmpa
Porto Alegre acabou com os lixões e mente, a questão institucional. É do Departamento de Engenharia
mantém sistema de coleta seletiva que preciso capacitar os técnicos locais de Saúde Pública da Funasa, Ruy “Chegamos ao final com cerca
recebeu reconhecimento internacional para que eles possam contratar, Gomide Barreira, contou que, de de R$ 130 milhões repassados a
acompanhar e fazer todos os rela- 2009 a 2012, o órgão fez convê- cinco consórcios, que abrangem
tórios dos recursos que o governo nios e repassou recursos para que Bahia, Rio Grande do Norte, Rio
federal aporta”, confirmou Sérgio os municípios elaborassem seus Grande do Sul e Mato Grosso do
Luís Cotrim, gerente de projetos planos. Sul. Mas vimos que houve baixa
Capital gaúcha pode ser Porto Alegre
modelo para todo o Brasil
Prefeitura de Natal
Retratada no filme Ilha das Flo- O material coletado na cidade trutura para conseguiu implantar
res, de 1989 — em que o cineas- é levado para a estação de trans- as unidades e aterro sanitário, mas
ta Jorge Furtado mostrava o ca- bordo, onde os caminhões descar- garante o cus- 92% dos municípios do
Rio Grande do Norte
minho do lixo na cidade—, Porto regam todo o resíduo. Ali, o lixo é teio de manuten- ainda possuem lixão
Alegre chegou a 2014 sem lixões. pesado e transferido para o ater- ção. O resultado da
Possui coleta seletiva em todos os ro sanitário em Minas do Leão, a comercialização dos resíduos é
bairros e montou 18 unidades de 113 quilômetros de Porto Alegre. dividido entre os integrantes das
triagem de resíduos, com reconhe- O destino final do lixo de Porto associações ou cooperativas.
cimento internacional. Alegre, então, é a Central de Re- Em 2000, entrou em funcio-
A política de gerenciamento do síduos Recreio, aterro sanitário namento a unidade de triagem
lixo, que começou a ser implantada pertencente à empresa Soluções e compostagem, que faz o rea-
em 1989, se tornou referência para Ambientais Ltda. proveitamento de resíduos orgâ-
o Grupo de Trabalho de Gestão In- Nas unidades de triagem, os nicos. Diariamente, cerca de 100
tegrada e Sustentável dos Resídu- trabalhadores fazem a separa- toneladas de resíduos domiciliares
os Sólidos em Cidades da América ção (plásticos, papel, embalagens chegam à unidade. Os trabalha-
Latina e Caribe, do Programa de longa vida, vidro, isopor, garrafas dores separam rejeito, recicláveis
Gestão Urbana das Organizações plásticas), prensam, agrupam em e orgânicos. Após passar por pro-
das Nações Unidas (ONU). E o sis- fardos e negociam autonoma- cessamento, o composto orgâni-
tema de reciclagem do município mente a venda desses materiais co pode ser utilizado para adubar
recebeu o Prêmio Coleta Seletiva, para a indústria de reciclagem ou jardins ou lavouras. O dinheiro da
do Compromisso Empresarial para de reaproveitamento. A Prefeitura comercialização também vai para

Patrick
a Reciclagem (Cempre). de Porto Alegre fornece a infraes- os trabalhadores.

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setembro de 2014 
33
Realidade brasileira

técnico-administrativo-gerencial
forte e eficaz e de planejar as ações
de saneamento e saúde ambiental. Brasília possui montanha DISTRITO FEDERAL

de lixo a céu aberto


Não há cultura de planejamento”,
constatou Barreira.
Além disso, os poucos planos
elaborados careciam de qualidade. A situação da capital federal é trito Federal é a que mais produz ­c u m p r i d o. O
Apresentavam apenas o nível des- das mais embaraçosas no descaso lixo por habitante no Brasil. Cada diretor do Ser-
critivo, sem aprofundamento dos com o lixo. O Distrito Federal, de- brasiliense produz, em média, 1,5 viço de Limpeza
problemas e das soluções a serem tentor de uma das maiores rendas quilo por dia, enquanto a média Urbana do Distrito
implantadas. Para Barreira, há ten- per capita do país, é também dono nacional é 1,04. A quantidade de Federal (SLU), Gastão

Marcos Oliveira/Agência Senado

Marcos Oliveira/Agência Senado


dência de considerar o plano como do título de cidade com o maior resíduos encaminhada para lixão Ramos, disse que o novo aterro
um documento de gaveta. lixão da América Latina, posto também é muito maior do que a será concluído até o final de 2014.
Barreira também sentiu falta adquirido depois que o Lixão de média nacional. No DF, 65,8% Segundo ele, as obras atrasaram
da participação dos movimentos ­G ramacho, no Rio de Janeiro, foi do lixo produzido vai para locais por problemas na licitação e pela
sociais nas instâncias colegiadas. ­fechado. ­inadequados. necessidade de ajustes na equipe
“Houve pouca mobilização. Por O Lixão da Estrutural fica a A situação tem sido acompa- técnica. Em visita ao local, a repor-
isso, o foco de um dos cursos de apenas 16 quilômetros do Palácio nhada pelo Ministério Público do tagem de Em Discussão! consta-
capacitação foi mobilização e par- do Planalto e a 11 quilômetros do Distrito Federal. Além de fazer tou que apenas as obras de acesso
Sérgio Cotrim conta que técnicos ticipação sociais”, informou. Outro problema é a ausência de Palácio do Buriti, sede do governo cumprir a lei, o Ministério Público ao local estão em andamento.
municipais não conseguem fazer A solução, segundo ele, é me- planejamento no serviço público do Distrito Federal. Nele, são des- tem se dedicado à situação dos ca- Entre os catadores, o clima é de
relatórios para receber recurso federal lhorar a qualidade do capital hu- brasileiro, segundo Ruy Barreira pejadas mais de 2,7 mil toneladas tadores. De acordo com o promo- insegurança. Eles manifestam te-
mano dos municípios mais vulne- diárias de resíduos. Desde meados tor de Justiça Roberto Carlos Ba- mor de ficarem sem renda quan-
efetividade. Dos 606 convênios ráveis e criar as condições para a O Ministério do Meio Am- da década de 60, já acumulou 30 tista, as condições sanitárias e de do o lixão for transferido para o
firmados, apenas 15% concluíram elaboração de planos tecnicamente biente também vem investindo milhões de toneladas em lixo, for- trabalho no Lixão da Estrutural são aterro de Samambaia. “As pessoas
seus planos, por causa da baixa ca- consistentes, com conteúdo que na formação de recursos huma- mando uma montanha de mais de motivos de preocupação. trabalham aqui porque precisam.
pacidade institucional de estados e não seja meramente descritivo. nos para trabalhar com resíduos 40 metros de altura. A promessa do governo lo- Se fechar, vamos morrer de fome”,
municípios de elaborarem os docu- sólidos. De acordo com o Panorama dos cal era de entregar o Aterro Sa- reclama a catadora Elsa Freitas, 12
mentos”, lamentou. Cursos De acordo com o secretário de Resíduos Sólidos no Brasil 2013, nitário de Samambaia antes da filhos e há 20 anos tirando o sus-
No ano passado, o Ministério Recursos Hídricos e Ambiente Ur- da Abrelpe, a população do Dis- Copa do Mundo, o que não foi tento do Lixão da Estrutural.
Descontinuidade das Cidades ofereceu cursos em to- bano da pasta, Ney Maranhão, fo-

Wilson Dias/ABr
Outro problema frequente é a das as regiões. “Este ano estamos ram realizados cursos, por meio da
mudança da administração muni- prevendo cursos a distância, em plataforma de ensino a distância Catadores trabalham em lixão
do DF em más condições, mas
cipal, que, em geral, acarreta des- que vamos capacitar para elabo- do ministério, para elaboração de temem que criação de aterro
continuidade nas ações e projetos. ração dos planos de saneamento, planos simplificados de gestão in- prejudique seu sustento
“Nesse período, houve mudança de mas com um módulo específico tegrada. Em 2013, foram 400 ins-
prefeitos, o que acentuou a dificul- para resíduo sólido. A previsão or- critos e 179 aprovados. Em 2014,
dade de os municípios dotarem a çamentária deste ano é de R$ 21 cerca de 1.000 pessoas estão parti-
administração pública de estrutura milhões”, informou. cipando do curso.

Em reunião com prefeitos, em 2013, o


presidente do Senado, Renan Calheiros,
defendeu maior apoio aos municípios
Geraldo Magela/agência Senado

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PROPOSTAS

Gestão eficiente
e dinheiro no
cuidado do lixo
Acompanhamento da Subcomissão de Resíduos
Sólidos revela que priorizar esforços municipais
e recursos federais para cuidar do que a sociedade
descarta é saída para lei virar realidade no Brasil

A
Política Nacional de Re- sitivos da lei, mas acompanhada
síduos Sólidos (PNRS de incentivos fiscais para que pre-
— Lei 12.305/2010) feituras e setor produtivo tenham
nada deixa a dever às condições para aplicá-las.
mais avançadas legislações inter- Dos encontros com especialis-
nacionais sobre o manejo do lixo. tas e representantes do governo fe-
Se, na parte legislativa, a questão deral e dos municípios, também
parece resolvida, a realidade se surgiram a controvérsia da pror-
mostra em choque constante com rogação do prazo da lei para ade-
os conceitos. O grande desafio pa- quação das cidades às normas e a
rece ser, então, garantir os instru- necessidade de inovar a legislação
mentos técnicos e financeiros para tributária para desonerar o setor
que a norma saia do papel e ganhe de reciclagem e os responsáveis
vida no dia a dia dos brasileiros. pela logística reversa.
Para isso, serão necessárias novas A relatora da subcomissão,
leis. senadora Vanessa Grazziotin
Já de início, a Subcomissão (PCdoB-AM), defende a prorro-
Temporária de Resíduos Sóli- gação do prazo para que os pre-
dos imaginava que o trabalho de feitos adotem as ações de gestão
acompanhamento das ações to- dos resíduos sólidos. Ela compre-
madas pelo setor nos últimos anos ende os argumentos usados, entre
apontaria nessa direção. E, nas au- outros, pela Confederação Nacio-
freeimages.com

diências públicas realizadas pelo nal de Municípios (CNM), que


grupo, um caminho foi confir- pede mais tempo e mais apoio
mado: a manutenção dos dispo- do governo federal, dos setores

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Propostas

Relatora da subcomissão, Vanessa à frente pelas prefeituras.


Grazziotin apoia prorrogação do prazo “Municípios maiores também
para cidades se adequarem à lei têm autofinanciamento para ge-
rir os resíduos, se a indústria de
de coleta seletiva que prevejam a reciclagem receber o devido estí-
­inclusão social dos catadores, fo- mulo”, acrescentou o senador.
ram destacados. Nas audiências, foi lembrado
A subcomissão temporária tam- que mais de 3 mil municípios es-
bém diagnosticou que as dificul- tão, por inadimplência, no ca-
dades para que a PNRS se torne dastro federal por crimes da Lei
realidade passam pela desconti- de Responsabilidade Fiscal (Lei
nuidade administrativa no nível Complementar 101/2000), o que
municipal e pela falta de compro- impede as cidades de receberem

Geraldo Magela/agência senado


metimento e de vontade política. recursos da União, inclusive para
Do lado dos municípios, a recla- ações de gestão dos resíduos sóli-
mação é a escassez de recursos fe- dos. O problema inviabiliza até
derais. Ainda assim, poucos pre- mesmo a prioridade dada na lei a
feitos optam pela criação de uma consórcios para melhor aprovei-
taxa para os serviços de coleta de tar os recursos e evitar que haja
lixo, com medo de a medida ser um aterro por município: se um
impopular. deles estiver em débito, o plane-
jamento e as ações de todos ficam
­ rodutivos e da própria sociedade
p Vontade política prejudicados.
para os municípios se adequarem Para o senador Cícero Lucena Nas próximas páginas, estão

Ricardo Giusti/PMPA
às regras. (PSDB-PB), presidente da sub- os resultados do trabalho da sub-
Uma legislação tributária favo- comissão e um dos relatores da comissão no acompanhamento e A coleta seletiva é uma das
rável à reciclagem e à rápida exe- lei no Congresso, a liberação dos na cobrança das ações de gestão medidas previstas na lei para
gestão correta do lixo nas cidades
cução da logística reversa estaria recursos federais para o setor e a dos resíduos sólidos, bem como as
sendo discutida pelo Ministério vontade política conjugada à cons- principais propostas em debate no
do Meio Ambiente com os seto- cientização da sociedade sobre o Congresso para que o lixo tenha o
res industriais, segundo informa- seu papel são a única maneira de tratamento necessário não apenas
ram representantes do governo.
Projetos de lei com essa intenção
foram mencionados. Mecanismos
cumprir a legislação. O senador
lembra que o Estatuto das Ci-
dades (Lei 10.257/2001) prevê
na lei, mas também nas ruas do
país. Implementadas como prio-
ridade pelos municípios, com o
Prorrogação é controversa,
da lei que facilitam o acesso a re-
cursos públicos para implemen-
tar a gestão de resíduos sólidos,
a taxa de lixo como forma de fi-
nanciar a gestão dos resíduos sóli-
dos em cidades médias e grandes,
apoio dos estados e da União, as
medidas podem garantir o destino
apropriado para o que é descar-
mas ganha apoio político
como o planejamento de ações mas a determinação não é levada tado pela sociedade. Fruto de um processo legisla- a responsabilidade pela criação de
tivo de duas décadas, a Política aterros sanitários adequados país
Nacional de Resíduos Sólidos pre- afora nos últimos quatro anos
Cícero Lucena (2º à esq.) viu prazos e recursos financei- não pode recair somente sobre as
lembra que taxas podem ros para que o lixo passasse a ter prefeituras.
financiar a gestão do lixo em uma melhor destinação no país. Paulo Ziulkoski, presidente da
cidades médias e grandes Porém, passados quatro anos, os Confederação Nacional de Muni-
especialistas ouvidos pela Subco- cípios, vem articulando a aprova-
missão Temporária de Resíduos ção da prorrogação do prazo pre-
Sólidos hoje avaliam que a legis- visto na lei, o que seria feito por
lação foi otimista e que, na reali- meio de emenda a uma das me-
dade, prazos e verbas foram muito didas provisórias em tramitação
curtos para os desafios definidos. no Congresso Nacional. Segundo
Por conta disso, o prazo para o Ziulkoski, a prorrogação já havia
fim dos lixões acabou no último obtido o apoio do Comitê de Ar-

Pedro França/agência senado


dia 2 de agosto, mas o impasse fi- ticulação Federativa, da Secretaria
cou. Enquanto a maioria dos es- de Relações Institucionais da Pre-
pecialistas do setor ouvidos pela sidência da República.
subcomissão disse não concordar “No comitê, onde os muni-
JOSÉ CRUZ/agência senado

com a prorrogação do prazo, acre- cípios têm representação junta-


ditando que o Ministério Público mente com os ministros, foi de-
deve buscar a aplicação da lei, li- cidido que o governo apoiaria a
deranças políticas dos municípios, prorrogação de prazos previstos Paulo Ziulkoski lamenta que governo
deputados, senadores e até setores em duas leis: a de saneamento e federal não tenha levado adiante
do governo federal acreditam que a de resíduos sólidos. O prazo da proposta de ampliação do prazo

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Propostas

Geraldo Reichert, doutor em


saneamento ambiental, ressalta que
lei não se resume ao fim dos lixões

quatro anos para a implementa-


ção das obrigações determinadas
pela lei. Mas a MP não foi votada
pelos parlamentares na comissão
mista nos dois períodos de esforço
concentrado do Congresso du-
rante o período eleitoral e perde
eficácia no início de outubro. A
previsão é de que a prorrogação e
também a garantia de mais dois
anos — até 2016 — para estados

Zezinho/PMJ
e municípios elaborarem os planos
de resíduos sólidos sejam inseridas
em outra medida provisória.

Desafios Não adianta ter dinheiro se o ges-


No 11º Seminário Nacional tor municipal não tem ninguém
de Resíduos Sólidos, ocorrido em da área nem sabe gastar”, avaliou

Reprodução/Cooperativa Esperança
agosto, em Brasília, especialistas Reichert.
expuseram os desafios técnicos e Mestre em saneamento am-
financeiros que a destinação ade- biental e presidente nacional da
quada do lixo representa para os Associação Brasileira de Engenha-
Material recolhido por prefeitos. José Cláudio Junqueira ria Sanitária e Ambiental (Abes),
caminhões de coleta seletiva Ribeiro, professor e doutor em sa- Dante Ragazzi Pauli avalia que as
são separados na Cooperativa
Esperança, em Goiás neamento, meio ambiente e recur- entidades do setor devem se unir
sos hídricos pela Universidade Fe- para alcançar os objetivos. Ele
deral de Minas Gerais (UFMG), também ressaltou a importância
alertou sobre as realidades regio- de capacitar os profissionais e não
Lei do Saneamento já foi prorro- tica Nacional de Meio Ambiente”, ambiental e, mesmo assim, a lei de resíduos tem acontecido num nais e as viabilidades econômicas simplesmente prorrogar o prazo
gado por decreto presidencial, mas disse Zilda. não está sendo cumprida”, disse ritmo lento, de 1% a 3% ao ano. e sociais de cada município. Para para destinação adequada dos
quanto ao previsto na de resíduos Ronei Silva. Ainda assim, acredita que esten- ele, a lei não prevê simplesmente o resíduos.
sólidos, por entrarmos num pro- Risco de fragilização Albino Rodrigues Alvarez, téc- der o prazo da lei não seria eficaz. fim dos lixões. “Prazo maior não faz o municí-
cesso eleitoral e talvez por causa Na avaliação da consultora le- nico de planejamento e pesquisa Para ele, o vencimento de prazos “A lei prevê que em 2 de agosto pio cumprir a lei. É preciso estru-
de um provável desgaste, o go- gislativa do Senado Carmen Sca- do Instituto de Pesquisa Econô- pode ter até efeitos positivos se os estaríamos fazendo coleta seletiva turar o setor, ainda que os resul-
verno não quis assumir a publi- vazzini Faria, que acompanhou mica Aplicada (Ipea) ouvido na ministérios públicos locais e esta- e somente o rejeito estaria sendo tados demorem a aparecer. Mas
cação de uma medida provisória as discussões da PNRS no Con- subcomissão, observa que o au- duais tiverem uma ação efetiva, colocado em disposição adequada, que eles sejam efetivos”, defendeu
para alterar a lei”, explicou. gresso, uma prorrogação desmora- mento da disposição adequada como acontece em Santa Catarina nos aterros. Estamos muito atrasa- o especialista.
No entanto, desde a 4ª Con- liza a lei e fragiliza suas prerroga- e no Rio Grande do Sul. dos”, observou o professor.
ferência Nacional de Meio Am- tivas. Ela lembra que essa foi a po- “O Ministério Público e outros Doutor em recursos hídricos e
biente, em outubro de 2013, o sição majoritária ouvida nas audi- titulares podem usar, no limite, saneamento ambiental pela Uni-
Ministério do Meio Ambiente ências da subcomissão, como a do ações civis públicas, mas também versidade Federal do Rio Grande
(MMA) anuncia que não quer ver representante do Movimento Na- termos de ajustes de conduta, con- do Sul (UFRGS) e engenheiro do
a lei modificada para aumentar o cional dos Catadores de Materiais versas com prefeitos, gestores. De- Departamento Municipal de Lim-
prazo. Ouvida pela subcomissão Recicláveis, Ronei Alves da Silva. vemos sair da posição de achar peza Urbana de Porto Alegre, Ge-
do Senado, Zilda Maria Veloso, “A nossa preocupação é que que, em quatro anos, poderia se raldo Antônio Reichert ponderou
diretora de Ambiente Urbano do uma prorrogação faça com que a resolver o problema da disposi- que o foco da lei é o planejamento
ministério, lembrou que a confe- lei caia no esquecimento, virando ção de resíduos sólidos no Brasil, e gestão dos resíduos sólidos, não
rência teve representantes de 65% mais uma lei sem ação efetiva. de achar que os municípios de- se resumindo ao fim dos lixões.
dos municípios, que acompanha- Nós, do Movimento Nacional de têm a estrutura, os recursos neces- Ele chamou a atenção para os re-
ram a visão de que não seria ade- Catadores, temos muito medo da sários. Há sobrecarga para o ges- cursos técnicos nos municípios.

Reprodução/Blog TV Brasil Central


quado alterar a legislação. prorrogação do prazo. Em 1980, tor público municipal, especial- “Falta pessoal na área de resí-
“A deliberação central da con- saiu a Política Nacional de Meio mente para os pequenos, no custo duos sólidos. Não é só dinheiro.
Lia de Paula/agência senado

ferência foi a de não se prorrogar Ambiente e os lixões já foram de operação e técnica”, alertou o É preciso vontade política e in-
o prazo de disposição em lixões proibidos. Um lixão é um crime especialista. vestimento em quadros técnicos.
por entender que isso se configura No início de agosto, prefei-
em uma licença para se continuar tos buscaram apoio para inse- “Prazo maior não faz o município
“Nossa preocupação é que uma cumprir a lei”, avalia o especialista em
poluindo. O lixão já é proibido prorrogação faça com que a lei caia no rir na Medida Provisória (MP) saneamento ambiental Dante Pauli
desde a Lei 6.938, de 1981, a Polí- esquecimento”, afirma Ronei Silva 649/2014 uma prorrogação de

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Propostas

Descarte irregular
de medicamentos: desoneração são indiretos, sobre a Brasil têm sido tímidas, mas de-
setores envolvidos produção e circulação, em contra- monstram potencial para o cus-
com logística reversa posição aos tributos diretos, sobre teio com recursos privados de ati-
pedem desoneração o patrimônio. vidades de reciclagem, fundamen-
“O desejável é que os tributos tais para a redução das pressões
referentes à produção tivessem alí- sobre os recursos ambientais. A
quotas idênticas, deixando para os proposta aguarda análise do pare-
tributos diretos o diferencial para cer favorável do senador Romero

Reprodução/Blog Automedicação Farma


incentivar a reciclagem. Qualquer Jucá (PMDB-RR) na CMA e pos-
tipo de benefício sobre tributos teriormente terá decisão termina-

Marcos Oliveira/agência senado


indiretos deve ser muito bem pen- tiva da CAE.
sado e construído para não gerar Também proposto por Bauer,
distorções comerciais”, disse. o PLS 385/2012 concede crédito
O senador Cícero Lucena presumido de IPI nas operações
(PSDB-PB) sugere que o incen- com produtos que utilizem mate-
tivo tributário para estimular a re- riais plásticos reciclados e reduz a
ciclagem pode avançar pari passu zero as alíquotas do PIS e da Co-
com outro projeto que propõe de- fins sobre a receita de vendas des-
dução no Imposto de Renda. O ses materiais. Alvo de preocupa- Doações a projetos e atividades
PLS 187/2012, do senador Paulo ção do representante da Receita de reciclagem têm sido tímidas

Deduções do IR
no Brasil, afirma Paulo Bauer
Bauer (PSDB-SC), prevê que Federal quanto à forma, a pro-

Marcos Oliveira/Agência Senado


50% dos valores doados a proje- posta insere-se no grupo dos tri-
tos e atividades de reciclagem se- butos indiretos, interferindo na tica Nacional de Resíduos Sólidos
favorecem reciclagem jam deduzidos do IR. Para empre-
sas, a dedução fica limitada a 4%
produção e circulação dos produ-
tos. Entretanto, Tapajós não des-
e no plano nacional”, observou.
Já aprovado pela CMA, o pro-
do imposto devido, e a 6%, para cartou a viabilidade do projeto. jeto pode ir direto para análise
Os incentivos fiscais para a ca- recicláveis, é o mais viável. o cidadão comum. “A proposta tem o fim de atin- da Câmara, se passar pela decisão
deia da reciclagem e setores pro- “Temos hoje inúmeros meca- Bauer aponta que as doações no gir os resultados previstos na Polí- terminativa da CAE.
dutivos envolvidos na logística re- nismos de incentivo do Imposto
versa podem ganhar impulso com de Renda para situações específi-
a aprovação de projetos de lei que cas e esse seria um mecanismo se-
estão no Senado. Parte frágil da
Política Nacional de Resíduos Só-
melhante. Trata-se de um bene-
fício tributário com um imposto
Garis podem ter piso
lidos, conforme analisa a consul-
tora legislativa do Senado Carmen
direto”, explicou.
A proposta, do senador Alfredo
salarial de R$ 1,2 mil
Scavazzini Faria, os instrumentos Nascimento (PR-AM), determina Algumas propostas apresentadas na profissão na data de entrada em O substitutivo do relator, senador
econômicos previstos na lei foram que, para efeito de apuração do por senadores beneficiam os traba- vigor da lei terá sua vaga assegurada. Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), fixa
tímidos e o benefício para o setor lucro real e da base de cálculo da Romero Jucá é relator da proposta que
lhadores ligados à coleta de lixo e à O texto (que substitui os PLS que a concessão da aposentadoria
é limitado à concessão de crédito Contribuição Social sobre o Lucro concede incentivos fiscais a doações limpeza de ruas. A Comissão de As- 464/2009, de Paim, e 169/2013, de especial dependerá de comprovação
presumido do Imposto sobre Pro- Líquido (CSLL), poderão ser de- feitas a projetos de reciclagem suntos Sociais (CAS) está pronta para Miranda) define ainda que o piso sa- do tempo de trabalho em condições
dutos Industrializados (IPI) pela duzidos em dobro os custos com votar texto do senador Cristovam larial dos garis será reajustado a cada especiais que prejudiquem a saúde
Lei 12.375/2010. bens reciclados ou recicláveis a se- José Cruz/agência senado Buarque (PDT-DF) que regulamenta janeiro segundo o Índice Nacional de ou a integridade física.
Ainda assim, o incentivo dado rem inseridos na cadeia produtiva a profissão de agente de coleta de Preços ao Consumidor (INPC) ou ou-

Marcos Oliveira/Agência Senado


a indústrias é limitado às compras como insumo. resíduos, de limpeza e de conserva- tro índice definido em convenção ou
de resíduos sólidos a serem utili- Mas as deduções nos impos- ção de áreas públicas e fixa um piso acordo coletivo.
zados como matérias-primas fei- tos não poderão reduzir o va- salarial de R$ 1,2 mil mensais. “As propostas representam a es-
tas de cooperativas de catadores lor devido em mais de 4% e a No projeto, Cristovam (que é re- sencial definição de um marco legal
de materiais recicláveis que não identificação dos produtos terá lator de duas propostas sobre o as- para o melhoramento das condições
tenham participação de pessoas suas regras definidas em regula- sunto — dos senadores Paulo Paim, de trabalho dessa atividade funda-
jurídicas. Outro limite: o prazo mento. O projeto aguarda aná- do PT gaúcho, e de Cyro Miranda, mental da vida em aglomerados ur-
para esse benefício esgota-se em lise nas Comissões de Meio Am- do PSDB goiano) propõe que a jorna- banos”, argumenta Cristovam.
31 de dezembro de 2014. biente (CM A) e de Assuntos da de trabalho dos profissionais deve Outro projeto de Paulo Paim (PLS
Ouvido na subcomissão, o ­Econômicos (CAE). ser de, no máximo, seis horas diárias 155/2010), já aprovado pela CAS,
chefe da Divisão de IPI da Re- e 36 horas semanais, salvo o disposto concede aposentadoria especial aos
ceita Federal, Marcos Vinícios Tributos diretos em convenção ou acordo coletivo. garis. A proposta tramita com o PLS
Carneiro Tapajós, opinou sobre Para Tapajós, é preciso acabar As atividades devem ser exercidas 577/2011, do senador Vicentinho Al-
projetos de lei apresentados para com a distorção atual, em que por trabalhadores que tenham con- ves (SD-TO), que inclui, entre os be-
desonerar o setor de resíduos só- produtos fabricados com material cluído o ensino fundamental e que neficiários, os selecionadores de lixo
lidos. Para ele, o PLS 147/2014, reciclado têm maior tributação sejam aprovados em curso especiali- para fins de reciclagem.
que concede benefício fiscal no que produtos com materiais no- Alfredo Nascimento propõe dedução no
zado de formação profissional minis- Paim pede ainda o pagamento de
Vicentinho Alves é autor de um dos
Imposto de Renda a empresas que vos. Ele explicou que muitos dos Imposto de Renda para empresas que trado por entidade oficial ou creden- adicional de insalubridade equivalen- projetos que garantem aposentadoria
comprem produtos reciclados ou tributos para os quais se busca a comprarem produtos reciclados ciada. Mas o trabalhador que atuar te a 40% do salário sem acréscimos. especial a garis e catadores

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Propostas

Projeto incentiva geração Plano e sistema nacionais


de energia em aterros ainda não saíram do papel
Projeto de lei do senador Mar- pos (DEM-MT) foi favorável à O Plano Nacional de Resí- l­ixões, consideradas a inclusão
celo Crivella (PRB/RJ) incentiva proposta, levando em conta estu- duos Sólidos está previsto na social e a emancipação econô-
a geração de energia elétrica nos dos da Empresa de Pesquisa Ener- Lei 12.305/2010 como um dos mica dos catadores de materiais
aterros sanitários em municípios gética (EPE) que estimam que o instrumentos para detalhar e reutilizáveis e recicláveis.
com mais de 200 mil habitantes. lixo das grandes cidades brasilei- direcionar as ações do setor. “Estamos levando em frente
Ao lado da reutilização e da reci- ras pode produzir parcela signifi- Para que tenha força de lei, pre- diversas ações previstas no
clagem, a possibilidade de usar os cativa da energia elétrica consu- cisa ser aprovado por órgãos de plano. Às vezes, municípios
resíduos como fonte de energia mida no país. quatro ministérios (Meio Am- têm dificuldades de atender to-
também está prevista na Política O atual relator na CMA, Aloy- biente, Saúde, Cidades e Agri- das as exigências por limitações
Nacional de Resíduos Sólidos. sio Nunes Ferreira (PSDB-SP), cultura). Três deles já deram o na equipe técnica e de recursos
Mas o PLS 494/2009 especi- entende que o projeto peca por aval. Mas falta o Conselho Na- financeiros”, informou o secre-
fica que, em processos de licitação não observar especificidades lo- cional de Política Agrícola do tário na subcomissão.
para contratar serviços de limpeza cais antes de definir como o lixo Ministério da Agricultura. E Ainda que esse mapa do se-

Marcos Oliveira/agência senado


urbana, deve ser dada preferência pode ser aproveitado. não há previsão para que isso tor esteja disponível, dúvidas

José Cruz/agência senado


a empresas que gerem energia elé- “A destinação adequada, que aconteça, uma vez que esse pairam sobre a sua vigência.
trica nos aterros, o que é possível inclui o aproveitamento energé- conselho nunca foi instalado. “Seria importante ser oficiali-
pela canalização do gás metano tico, deve fundamentar-se nas par- De acordo com o secretá- zado como definitivo, porque
que emana do lixo. ticularidades em cada município rio de Recursos Hídricos e as conversas entre as pessoas
“A transformação de lixo em e em estudos de viabilidade, in- Ambiente Urbano do Minis- do setor são se o plano vale ou
energia incentiva a armazenagem dependentemente do tamanho da tério do Meio Ambiente, Ney não vale”, informou Diógenes
correta dos resíduos sólidos”, ex- população”, argumenta o relator. Maranhão, o documento é Del Bel, diretor-presidente da “Seria importante o plano ser
plica Crivella. O relatório de Aloysio foi apro- Aloysio Nunes Ferreira sugere que minucioso, com tudo o que Associação Brasileira de Em- oficializado como definitivo”, diz
aproveitamento energético do lixo Diógenes Del Bel, representante do
Relator na Comissão de Meio vado em abril e seguiu para deci- deve ser feito nas duas próxi- presas de Tratamento de Resí- setor de tratamento de resíduos
obedeça a estudos de viabilidade
Ambiente, Fiscalização e Controle são terminativa na Comissão de nos diferentes municípios e regiões mas décadas. Fixa metas para a duos (Abetre).
(CMA), o senador Jayme Cam- Serviços de Infraestrutura (CI). redução, reutilização e recicla-
gem de resíduos e o aproveita- Decreto car num plano que não se aca-
mento energético dos gases ge- Para resolver a pendência, baria com os lixões em 2014. E,
rados nos aterros. Del Bel sugeriu à subcomissão de acordo com o plano, pratica-
Prevê também prazo para do Senado que proponha à Pre- mente todo ele já estaria cum-
Senado avalia políticas públicas e aplicação da lei a eliminação e recuperação de sidência da República a edição prido no próximo ano, o que
de um decreto para eliminar não é realidade”, disse.
Para ampliar sua função de fiscali- duos sólidos. “O governo federal a obrigatoriedade da análise Del Bel apontou ainda a di-
zação do Poder Executivo, o Senado precisa definir no Orçamento um pelo conselho do Ministério ficuldade de estatísticas e infor-
começou este ano a avaliar políticas plano de apoio aos pequenos e mé- da Agricultura, já que a norma mações de controle para gestão
públicas selecionadas por cada uma dios municípios”, conclui Cícero. foi prevista em outro decreto pública e cobrou a estrutura-
das comissões permanentes da Casa. O acompanhamento de políticas (7.404/2010), que regulamen- ção do Sistema Nacional de In-
O presidente da Comissão de Meio públicas pelas comissões perma- tou a Política Nacional de Resí- formações sobre Resíduos Sóli-
Ambiente, Fiscalização e Controle nentes está previsto na Resolução duos Sólidos. dos (Sinir), em uma revisão do
(CMA), senador Blairo Maggi (PR- do Senado Federal (RSF) 44/2013, O diretor da Abetre consi- plano nacional.
-MT), escolheu a Política Nacional por sugestão do presidente da Casa, dera que as 29 diretrizes e 170 “É fundamental que o Sinir
de Resíduos Sólidos e, para isso, por senador Renan Calheiros. A medida estratégias fazem o plano bas- seja desenvolvido e que estados
sugestão do senador Cícero Lucena faz parte de inovações no funciona- tante amplo. Porém, além da e municípios sejam integrados
(PSDB-PB), montou uma subcomis- mento do Senado, como forma de validade questionável, ele recla- ao sistema”, afirmou Del Bel.
são específica para avaliar a implan- aprimorar o debate político e forta- mou que o plano não incluiu Segundo Zilda Maria Ve-
tação da legislação aprovada pelo lecer seu papel institucional. regras para os resíduos comer- loso, diretora de Ambiente Ur-
Lia de Paula/agência senado

Congresso em 2010. A resolução prevê que poderão ciais, de serviços e de sanea- bano do MMA, o Sinir está

José Cruz/agência senado


“Propus a criação da subcomis- ser solicitadas informações e docu- mento. Ele também observou em construção e ainda tem di-
são na CMA, no início de 2014, para mentos a instituições do Executivo, que as metas foram bem for- ficuldades de implantação por
chamar a atenção da sociedade de Tribunal de Contas da União (TCU) e muladas, mas criticou os prazos causa do elevado custo de con-
que o prazo para o fim dos lixões es- entidades da sociedade civil. de cumprimento previstos. tratação do corpo técnico. Mas
tava chegando ao fim”, afirmou Cí- As Consultorias Legislativa e de “Só cinco das estratégias do ela garantiu que a previsão é
cero, presidente da subcomissão. Orçamento do Senado realizam es- plano têm algum prazo vincu- de que o sistema permita que
Para ele, ficou óbvio que, sem o tudos para subsidiar as avaliações. Presidente da Comissão de Meio Ney Maranhão, do Ministério do lado a elas e, das 29 metas, 18 qualquer cidadão visualize as
apoio da União, as prefeituras não Esse esforço da s comissões ser- Ambiente, Blairo Maggi instalou a Meio Ambiente, reconhece que delas já teriam que ser cum- informações sobre as cadeias de
vão conseguir cumprir sua parte na ve ainda como matéria-prima para Subcomissão de Resíduos Sólidos municípios têm limitações técnicas pridas integralmente em 2015. logística reversa, planos muni-
por sugestão de Cícero Lucena e financeiras para atender exigências
aplicação da legislação sobre resí- Em Discussão! Isso porque não se podia colo- cipais e outros dados relevantes.

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Cidades têm autonomia
para gerir o lixo
Leis, programas e projetos es-
taduais e municipais para viabili-
zar a adequada gestão do lixo são
instrumentos previstos na Política
Nacional de Resíduos Sólidos e já
fazem parte da realidade de algu-
mas cidades brasileiras. Aliás, essa
é uma norma da própria Consti-

Marcos Oliveira/agência senado


tuição que divide entre a União,
estados e municípios a responsa-
bilidade sobre a legislação ambien-
tal e determina que os serviços de

José Cruz/agência senado


limpeza pública são de competên-
cia municipal.

Jefferson Rudy
A consultora legislativa Carmen
Scavazzini Faria ressalta que essa
também é a realidade de países Viveiro do Senado: entre as

Bom exemplo deve


fontes de matéria orgânica para
que têm boas práticas com relação as plantas, está a borra de café
ao lixo, como a Alemanha, onde a “Não é preciso criar novas leis federais Wanderley Baptista, da CNI: otimismo
coletada nas copas
para regular o que já deve estar definido quanto à assinatura dos acordos setoriais
legislação prevê a responsabilidade

começar em casa
pelas cidades”, diz consultora legislativa que definem regras para logística reversa
compartilhada e a autonomia lo-
cal, inspirando a lei brasileira.
“Acompanhando o princípio da dos para um trabalho que acontece de ações educativas da campanha
Constituição, a lei determina que em trio — um agente da empresa Cidade Sem Lixo. Responsável pela aprovação da sivamente para descarte de papéis a redução do consumo de copos e
os entes federativos disciplinem de limpeza pública, um guarda No Distrito Federal, a Lei Política Nacional de Resíduos Só- secos e limpos que são destinados papéis e o uso racional dos recursos
suas ações relativas ao lixo, como municipal e um agente da polí- 972/1995 trata dos atos lesivos à lidos, o Senado busca implantar à reciclagem. O que é coletado é naturais. A estimativa atual é de
multas e campanhas educativas. cia militar — e leva à aplicação de limpeza pública, mas falta regu- boas práticas com relação ao lixo encaminhado a cooperativas de que mais de 4,5 milhões de unida-
Não é preciso criar novas leis fede- multas de R$ 157 a R$ 3 mil, con- lamentação para definir a fiscali- que produz. Desde 2009, a Casa catadores. des de copos plásticos sejam con-
rais para regular o que já deve estar forme o tamanho do objeto jogado zação e determinar critérios para separa o lixo e busca o uso racio- Em 25 pontos estratégicos sumidas anualmente no Senado.
definido pelas cidades”, observa. em lugar impróprio. aplicação das multas. nal dos recursos naturais na ins- também são recolhidas pilhas e Algumas ações devem ser im-
Na capital do Rio de Janeiro, a Em Santos (SP), uma lei com- Já na questão da logística re- tituição. O principal desafio é a baterias. plantadas aos poucos para ampliar
imposição de multas a quem for plementar e um decreto deste ano versa, que envolve o descarte de conscientização permanente dos Existe ainda a coleta de borra a consciência do corpo funcional.
flagrado sujando as ruas começou proíbem o lançamento de resíduos lâmpadas e eletroeletrônicos, por servidores. de café nas copas, que se juntam Para isso, a ideia é escolher um ser-
em 2013. Para efetivar lei munici- de qualquer natureza nas praias, exemplo, Wanderley Coelho Bap- Orientações sobre os resíduos às podas de grama e de árvores e vidor responsável pelo consumo e
pal sobre limpeza pública, a pre- passeios, jardins, logradouros, ca- tista, analista de políticas e in- jogados nas lixeiras é uma das aos restos da preparação dos ali- geração do lixo em cada setor.
feitura lançou o Programa Lixo nais e terrenos. Quem é flagrado dústria da Confederação Nacio- principais iniciativas da adminis- mentos das lanchonetes e dos res-
Zero, que multa quem descarta o recebe multas que variam de­ nal da Indústria (CNI), disse es- tração do Senado. Sem essa ação, taurantes do Senado. Esse tipo de

Marcos Oliveira/agência senado


que consome nas vias públicas. R$ 150 a R$ 1 mil. As autuações tar otimista quanto à assinatura o descarte sem critério e sem se- lixo vai para o serviço de compos-
Foram 600 profissionais treina- começaram após mais de um mês dos acordos setoriais para que haja paração levaria à rejeição dos re- tagem, que o transforma em maté-
uma regra única no país. síduos por parte de empresas de ria ­orgânica para o viveiro mantido
“Facilita muito o trabalho da reciclagem, segundo Deomar Ro- pela Casa.
Ricardo Cassiano/prefeitura rj

indústria, pois é complicado, eu sado, integrante do Programa Se- Em setembro do ano passado,
diria inviável, atender legislações nado Verde. um treinamento reuniu 400 em-
múltiplas”, afirmou. Em lixeiras brancas espalhadas pregados e, em parceria com a Câ-
Carmen Scavazzini lembra que pelas dependências da Casa, são mara dos Deputados, está sendo
é a Lei federal 12.305/2010 que depositados restos de alimentos, feita a revisão das ações do Senado
fixa as regras para implantação da balas, chicletes, embalagens e pa- Verde, que faz parte do Núcleo de
logística reversa, prevendo ainda péis sujos. Esse material é encami- Coordenação de Ações Socioam-
que acordos setoriais firmados em nhado para o Serviço de Limpeza bientais. As novidades deverão ser
âmbito nacional prevalecem sobre Urbana (SLU). implantadas no início de 2015,
os regionais ou estaduais e estes Lixeiras pretas recebem sacos informa a coordenadora, Andrea
sobre os municipais. e copos plásticos, latas, embala- Bakaj. Serviço de
gens Tetrapark, CDs, DVDs, en- Entre as novas iniciativas em es- compostagem da
instituição reúne
fim, todo material seco e passível tudo, estão a retirada das lixeiras podas de grama e
Profissionais treinados do Programa Lixo
Zero abordam cidadão no Rio de Janeiro: de ser reciclado. Coletores de pa- perto das mesas, uma nova separa- de árvores, entre
multas variam de R$ 157 a R$ 3 mil pelão disponíveis são usados exclu- ção do lixo seco e, principalmente, outros resíduos

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Mundo

poderia ser muito mais salgada, a explicação é simples: a popula- tiva da parcela que cada nação tem

Rumo a 4 bilhões
já que só metade da população ção, além de crescer rapidamente no problema, já que, por exemplo,
mundial é atendida por coleta, de desde o século passado, também os EUA geram sete vezes mais re-
acordo com a Associação Interna- tem cada vez mais acesso à renda, síduos sólidos urbanos do que a
cional de Resíduos Sólidos (Iswa). o que aumenta o consumo e a pro- França, a 10ª colocada.

de toneladas
África, Sudeste Asiático e América dução de lixo. Países desenvolvidos Por isso, nas últimas décadas,
Latina são as regiões onde essa co- produzem mais RSU por habitante cresceu muito a pressão sobre as
leta é mais deficiente e a Iswa es- porque têm níveis mais elevados economias mais ricas para acabar
tima que seria necessário um in- de consumo. À medida que os pa- com a cultura de descartar um pro-
vestimento anual de US$ 40 bi- íses vão se tornando mais ricos, há duto como lixo após um único uso.

por ano
lhões (cerca de R$ 94 bilhões) uma redução gradual dos compo-
apenas para garantir que o lixo nentes orgânicos no lixo. A pro- Consumo americano
nessas regiões seja recolhido. porção de plásticos, metais e papel A filosofia ideal de gerencia-
Segundo o Guia de Estratégias no lixo doméstico fica maior. mento de resíduos se escora em
Nacionais para o Manejo do Lixo: metas claras: reduzir o consumo,
mudando de desafios para oportu- Riqueza = mais lixo reutilizar ou então reciclar os ma-
É a previsão da ONU para o ano de 2050, no atual ritmo de nidades, elaborado pelo Programa As nações desenvolvidas, reu- teriais e, como último recurso, re-
crescimento. Nas três últimas décadas, geração de resíduos das Nações Unidas para o Meio nidas na Organização para a Co- cuperar o conteúdo energético do
urbanos aumentou três vezes mais rápido que a população. Países Ambiente (Pnuma), essa situa- operação e Desenvolvimento Eco- que não puder ser reutilizado ou
ção, além de prejudicar a econo- nômico (OCDE), consomem mais reciclado. O desafio é como har-
buscam saídas para enfrentar alto custo ambiental e financeiro mia, representa riscos à saúde e de 60% de todas as matérias-pri- monizar essas premissas com, por
ao meio ambiente. A falta de co- mas industriais, mas respondem exemplo, a redução das desigual-
leta ou o descarte em locais ina- por apenas 22% da população dades sociais e econômicas.

S
ete bilhões de seres hu- dezenas de quilos por habitante parte dos RSU produzidos no propriados contamina o solo e os mundial. No ranking liderado pe- Um estudo da Universidade
manos produzem anual- por ano. Hoje, a maioria dos pa- mundo, cerca de 800 milhões cursos d’água, a queima sem con- los norte-americanos (624 mil to- de Columbia estimou que o con-
mente 1,4 bilhão de to- íses mais industrializados gera de toneladas/ano, é descartada trole polui o ar e o baixo uso de neladas por dia), quatro nações em sumo de energia e a geração de re-
neladas de resíduos só- mais de 600 quilos anuais per em aterros. O Conselho de Pes- materiais reciclados acelera o desenvolvimento (China, Brasil, síduos sólidos per capita nos EUA
lidos urbanos (RSU) — uma capita de lixo. Nos últimos 30 quisa em Tecnologia de Geração esgotamento dos recursos Índia e México) aparecem entre são o dobro daqueles dos euro-
média de 1,2 kg por dia per ca- anos, o aumento do volume de de Energia a Partir de Resíduos naturais. os dez maiores produtores de peus e japoneses, que têm padrão
pita. Quase a metade desse to- lixo produzido no mundo foi dos Estados Unidos estima que Para o presidente lixo (veja infográfico na pág. de conforto similar. Em 2010, de
tal é ­g erada por menos de 30 três vezes maior que o popula- um metro quadrado de terreno da Iswa, Da- 59). A lista mostra uma acordo com a A ­ gência de Prote-
países, os mais desenvolvidos cional. O índice per capita de é desperdiçado, para sempre, vid Newman, discrepância significa- ção Ambiental (EPA) daquele país,
do mundo. Se o número pa- geração de lixo nos países mais para cada dez toneladas de lixo
rece assustador, cenário ainda ricos aumentou 14% desde 1990 aterrado.
mais ­sombrio é traçado por es- e 35% desde 1980, aponta rela- Diz o estudo da ONU que
tudos da Organização das Na- tório do Banco Mundial. Em de 20% a 30% dos orçamen- Águia repousa sobre pilha de lixo na
Flórida (EUA): padrão de consumo dos
ções Unidas (ONU) e do Banco geral, essas taxas crescem em tos municipais já estão compro- americanos é responsável pela alta
Mundial: daqui a dez anos, se- um ritmo ligeiramente inferior metidos com a coleta e destina- geração de resíduos sólidos do país
rão 2,2 bilhões de toneladas ao aumento do produto interno ção desses resíduos. Mas a conta
anuais. Na metade deste século, bruto (PIB).
se o ritmo atual for mantido, te- Paga-se um elevado custo
remos 9 bilhões de habitantes e ambiental e f inanceiro
4 bilhões de toneladas de lixo por isso. A maior
urbano por ano.
Andrea Westmoreland

Não faz muito tempo, a pro-


dução de RSU era de algumas
Mundo

34 milhões de toneladas de sobras lhões) no faturamento do setor de mos oferecido fundos de finan- ainda mais sofisticado de coleta se-
de comida foram parar nas lixeiras. coleta e reciclagem de resíduos só- ciamento para que o cenário mu- letiva, no qual apenas um tipo de Menos lixo no solo
Ou seja, uma mudança de há- lidos e a criação de 400 mil em- dasse. Recursos preciosos estão lixo é descartado por dia — quei- Muitos países já enviam menos de 50%
bitos de vida dos americanos pro- pregos no setor, que já oferece 2 sendo enterrados, ganhos eco- mável (resto de comida, madeira dos resíduos para aterros sanitários
duziria um impacto importante milhões de postos de trabalho. nômicos desperdiçados, empre- e papel), plásticos, quebráveis (vi-
nas contas de energia e destinação Sob o lema “Lixo torna-se ouro”, gos perdidos, com prejuízos para dros, lâmpadas), lixo grande (mó- Reciclagem Compostagem
de lixo. Além disso, 55% dos RSU o relatório traz um ranking de pa- a saúde humana e o meio am- veis velhos), reciclável etc. Aterros Incineração
foram encaminhados para aterros, íses no tratamento de lixo e na re- biente”, lamentou o comissário Diversas soluções inovadoras
um índice muito elevado se com- ciclagem, encabeçado pela Alema- para o Meio Ambiente da UE, o têm sido adotadas. Nos países eu- Holanda
parado a outros países ricos. E, nha (leia mais a partir da pág. 52). esloveno Janez Potonik. ropeus, há décadas existe a co- Alemanha
se o número de aterros caiu dras- Confrontados com o desafio brança de taxas pelos serviços de
ticamente desde os anos 1980 (de Disparidades europeias de harmonizar o acelerado cres- limpeza pública. Na Alemanha, o Suécia
8.000 para 1.754), a capacidade se O problema é que, na União cimento da demanda de ener- consumidor paga pelas embalagens Dinamarca
manteve constante. Europeia, existe grande diferença gia com a necessidade de geren- que adquire, estimula-se o uso de
O mercado global do lixo, da entre os países-membros: enquanto ciar melhor a questão dos resí- vasilhames retornáveis e a maioria França

Instituto GEA
coleta até a reciclagem, movi- Alemanha, Áustria, Holanda e duos sólidos, vários países têm op- dos supermercados não fornece sa- Itália
menta US$ 410 bilhões por ano Bélgica, por exemplo, estão muito tado por investir nas tecnologias colas gratuitamente.
(R$ 940 bilhões). Um relatório avançados, outros países, em geral de aproveitamento energético do “Não existe um resíduo sólido, Estados Unidos
de 2012 da União Europeia esti- do Leste Europeu e até a Itália, re- lixo. As duas vias principais em Ana Domingues, do Instituto Gea, mas inúmeros tipos e, assim, não Reino Unido
mou que a adoção completa da le- ceberam avaliações ruins. escala mundial são a queima di- destaca avanços alcançados em países se pode acreditar que haja apenas
gislação ideal sobre lixo traria, ao “Mu itos E st ados-membros reta em usinas de resíduos-ener- escandinavos, na Alemanha e no Japão uma solução”, define José Renato Espanha
final desta década, uma economia ainda estão colocando gran- gia (ou waste-to-energy, no inglês) Baptista de Lima, professor da Es- Portugal
de 72 bilhões de euros (R$ 216 des quantidades de lixo urbano e a queima do biogás produzido a ambiental. São os casos de emer- cola Politécnica da Universidade 0 25 50 75 100
­bilhões) por ano, um aumento de em aterros, apesar de existirem partir da decomposição da maté- gentes como China, Brasil e Mé- de São Paulo (USP). “Embora a
42 bilhões de euros (R$ 126 bi- ­m elhores alternativas e de ter- ria orgânica do lixo. xico. Já países onde há escassez de questão aponte desafios comuns, Fonte: Universidade de Columbia (EUA)
Existem hoje no mundo apro- área disponível, caso comum na não há uma única solução, pois é
ximadamente 1,5 mil usinas tér- Europa, têm despertado para a ur- preciso considerar a especificidade
Abundância traz consequências micas, que queimam o lixo para gência de se dar um destino mais da cultura do descarte e do padrão têm múltiplos impactos, por isso
gerar energia ou calor em 35 pa- racional e ecologicamente ade- de desenvolvimento socioeconô- os gestores devem escolher entre
Países mais ricos respondem por quase a íses. O Japão, o bloco europeu, a quado para os resíduos sólidos. mico”, completa Sylmara Gonçal- uma série de alternativas desafia-
metade do lixo produzido no mundo... China e os Estados Unidos lide- Presidente do Instituto Gea — ves Dias, da Escola de Artes, Ciên- doras. Decisões melhores são to-
ram o ranking. As usinas redu- Ética e Meio Ambiente, Ana Ma- cias e Humanidades da USP. madas quando o público é parte
zem a cerca de 10% o volume do ria Domingues Luz, mestra em Com eles concorda o professor do processo e apoia o programa
44 %
Economias de
lixo que entra, transformado em Ciência Ambiental pela USP, des- Daniel Hoornweg, do Instituto adotado.”
alta renda
cinzas que podem ser aproveitadas taca os avanços alcançados em pa- de Tecnologia da Universidade de
(OCDE*)
21% como base de asfalto ou na cons- íses escandinavos, Alemanha e Ja- Ontário, no Canadá. “Não existe
Ásia Oriental trução civil. No processo, produ- pão. Ela conta que muitas cida- uma forma ideal de descartar o Margens de rio tomadas por lixo em Dhaka,
e Pacífico em Bangladesh: metade da população mundial
zem energia elétrica, vapor, água des j­aponesas adotam um modelo lixo. Todas as opções são caras e não é atendida por coleta regular
gelada e combustível. A tecnolo-
gia de queima ideal, que reduz a

Scott Wallace
12%
América Latina e Caribe um mínimo os impactos ambien-
tais, é cara e o custo do mega-
7% Europa** e Ásia Central watt-hora produzido é bem supe-
(*) Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
6% Oriente Médio e África do Norte Econômico, que reúne os 29 países mais desenvolvidos, rior a outras fontes convencionais.
5%
5% Sul da Ásia excluídos emergentes como China, Rússia, Brasil e México Já a compostagem tem sido incen-
África Subsaariana (**) Países europeus fora da OCDE
tivada principalmente na Europa
Ocidental.
... e produzem resíduos bem Nos EUA, existem 87 usinas
diferentes das nações mais pobres resíduos-energia, que processam
28 milhões de toneladas de lixo.
Desde a década de 1990, todas elas
80 %
Nações menos ricas descartam passaram por modernizações de-
seis vezes menos papel e duas Mais ricos terminadas pela EPA, restringindo
64%
60 vezes menos vidro e metal do Mais pobres as emissões de gases tóxicos ou
que os países desenvolvidos prejudiciais à saúde.
46% Mundo
40 Consciência x tamanho
31%
28% A consciência com relação ao
20 17% 18% lixo também varia. Para mui-
17% 17%
11% 10% tos países, a abundância de es-
8% 7% 6% 3% 4%
5% 3% 5% paço e de recursos serve como

d esestímulo para a educação
­
Outros
Orgânico Papel Plástico Vidro Metal Fonte: Banco Mundial setembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 
51
Mundo

Campeã mundial em reciclagem e reaproveitamento envolve toda a cadeia da produção e


destinação do lixo, encarada a par-
em atividade, a maioria adaptada ao
conceito de alto controle de polui-
Japão a partir de 100% de resina re-
ciclada, reduzindo em 90% o uso de
Líder mundial em tecnologias tir dos conceitos de reduzir, reciclar e ção e alta eficiência energética. Uma novos plásticos e em 60% as emis-

Dierk Schaefer
e políticas de resíduos sólidos — reaproveitar. O transporte foi aper- dessas usinas, por exemplo, fica no sões de dióxido de carbono. A resi-
possui os índices de reaproveita- feiçoado, com um sistema de esta- populoso distrito de Shibuya, em Tó- na é usada também em material de
mento mais elevados do mundo ções de transferência, onde o lixo quio, e processa 200 toneladas diá- construção, móveis, equipamentos e
—, a Alemanha quer alcançar, até passa de caminhões pequenos ou rias de lixo, gerando energia usada utensílios.
o final desta década, a recupera- médios para veículos coletores maio- na própria cidade. Para melhor reciclar os eletrodo-
ção completa e de alta qualidade res, após ser comprimido. Lei de 1995 incentiva a coleta se- mésticos, o Japão dispõe de fábri-
dos resíduos sólidos urbanos, ze- Desde 1997, as emissões de dio- letiva e a reciclagem, o que fez o país cas onde cada peça é desmontada e
rando a necessidade de envio aos xinas e outros poluidores de usinas investir em alta tecnologia também suas partes separadas, manualmen-
aterros sanitários (hoje, o índice já de incineração foram reduzidas em para o reaproveitamento de mate- te, entre plástico, metal e outros
é inferior a 1%). Desde junho de 98%. São mais de 1,2 mil plantas riais. Garrafas pet são produzidas no ­componentes.
2005, inclusive, a remessa de lixo
doméstico sem tratamento ou da
indústria em geral para os aterros
está proibida.
Entre 2002 e 2010, o total de
resíduos urbanos domésticos pro-
Estocolmo investe na
duzidos pela Alemanha caiu de
Pátio de ferro-velho na Alemanha: 63% de Alemanha coleta a vácuo subterrânea
52,8 milhões para 49,2 milhões de todos os resíduos urbanos são reciclados »» PIB per capita US$ 45 mil

Envac
toneladas. Pode não parecer uma e menos de 1% acaba em aterros »» Pop. urbana 60,5 milhões A Suécia, país rico e desenvol- hospitais, aeropor tos, cozi-
queda acentuada, mas o importan- vido, tem uma geração relativa- nhas industriais e f­ ábricas.
»» Lixo produzido 127 mil ton/dia
te é o destino que o país tem dado ao mais de 250 mil pessoas. E­ stima-se mente alta de lixo (1,6 kg por dia As vantagens são eviden-
»» Lixo per capita 2,11 kg/dia
lixo. Em 2011, de acordo com o Eu- que 13% dos produtos comprados per capita). Por isso, a gestão de tes: os diferentes tipos de re-
rostat, órgão de estatísticas da União pela indústria alemã sejam feitos a resíduos sólidos vem sendo enca- síduos não são misturados
Europeia, 63% de todos os resíduos partir de matérias-primas recicladas. resíduos sólidos domésticos”, ensina rada, há décadas, como prioridade durante a coleta; o número de
urbanos foram reciclados na Alema- Várias universidades oferecem forma- o professor Emílio Maciel Eigenheer, das autoridades. caminhões de lixo em circula-
nha (46% por reciclagem e 17% por ção em gestão de resíduos, além de da Universidade do Estado do Rio de Uma das mais inovadoras ini- ção é menor; a poluição sono-
compostagem), contra uma média cursos técnicos profissionalizantes. Janeiro (Uerj), no livro A Limpeza Ur- ciativas começou em 1961. Em ra e atmosférica é reduzida; e,
continental de 25%. Se entre seus Para se entender os avanços ocor- bana Através dos Tempos. Estocolmo, a capital, onde 100% finalmente, há uma economia
vizinhos 38% do lixo acaba em ater- ridos na Alemanha, é importante des- dos domicílios contam com coleta de 30% a 40% dos gastos
ros sanitários, na Alemanha a taxa é tacar a tradição na cobrança de taxas Pouco se perde seletiva, as residências atendidas municipais com o serviço de
virtualmente zero, graças, em grande municipais para a coleta de lixo, des- pelo sistema Envac dispõem de li- coleta.
parte, ao fato de que 8 em cada 10 de o século 19. Outro aspecto impor- Graças a uma forte cultura de reúso xeiras conectadas a uma rede de
quilos do lixo não ­reaproveitado são tante é o uso de vasilhames padroni- dos resíduos sólidos, Alemanha é tubos que conduzem os resíduos
incinerados, gerando energia. zados e adequados ao acondiciona- uma das campeãs em reciclagem a uma área de coleta. Um sensor
É uma cultura arraigada na socie- mento do lixo. “Já em 1901, cerca de instalado percebe quando a lixeira
dade. Em 1970, a Alemanha tinha 75% dos lares de Berlim dispunham está cheia. Por vácuo, o lixo é su- Suécia
cerca de 50 mil lixões e aterros sani- de vasilhames padronizados, e antes 96% 90,2% 86,1% 49,4% gado e transportado para o local »» PIB per capita US$ 58 mil No sistema Envac, lixeiras públicas
tários. Hoje, são menos de 200. A ca- de 1851 os proprietários das casas de acumulação de ­resíduos, onde »» Pop. urbana 7,6 milhões conectadas a tubos subterrâneos levam
deia produtiva de resíduos emprega já pagavam taxas pela remoção dos Alumínio Papel Vidro Plástico é realizada a coleta seletiva. »» Lixo produzido 12,3 mil ton/dia resíduos a uma área de coleta
Sacos de lixo podem ser depo- »» Lixo per capita 1,61 kg/dia
sitados, a qualquer momento, nos
coletores de recicláveis e não reci-
cláveis. Pela sucção, os sacos via-
Maior parte do lixo acaba em aterros
Estratégia completa e Japão jam a uma velocidade de 70 km/h
pela rede subterrânea de tubos. Índice mundial de reciclagem segue muito baixo
»» PIB per capita US$ 38 mil
eficaz é marca japonesa »» Pop. urbana 84,3 milhões Ao chegaram à central, são sepa-
400
»» Lixo produzido 144 mil ton/dia rados e compactados em contêi-

(milhões de toneladas/ano)
350
Junto com o crescimento econômico do país, a partir neres, de onde seguirão para rea-
»» Lixo per capita 1,71 kg/dia

Resíduos produzidos
300
da década de 1960, o Japão se viu diante do desafio de proveitamento, compostagem, in-
cineração etc. O ar que circula no 250
encontrar um destino para o lixo. Como a área territorial
é pequena, se comparada à população — 127 milhões de sistema de tubos passa por filtros 200
O centro de tratamento
pessoas vivem em 372 mil km², uma densidade de 337 de resíduos Maishima antes de retornar à atmosfera. 150
hab/km², a terceira maior entre os países com grande po- em Osaka, no O Envac também pode ser vis- 100
Japão, usa o calor para 50
pulação —, reduzir o volume de resíduos sólidos levados to pelas ruas de Estocolmo e de
geração de energia
aos aterros é essencial. outras cidades importantes, aten- 0
Aterros Reciclagem Incineração Lixões Compostagem Outros
Graças a uma série de iniciativas, algumas já com meio dendo prédios comerciais e áreas
século, o Japão é um dos países mais avançados nesse públicas. Atualmente, são mais de
campo. Em 1970, entrou em vigor a Lei de Gestão de Re- 700 sistemas instalados em diver-
síduos, primeiro passo em direção ao atual sistema, que sos países, atendendo locais como Fonte: Banco Mundial
Ignis

52 
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53
Mundo

Com parcerias e ousadia, San Cairo usa catadores e porcos

Geson Rathnow
Francisco fica perto do zero Do Egito vem um exemplo de toneladas diárias de resíduos só- exemplo para projetos em Mum-
como variam as soluções para o lidos recolhidos — as melhores bai (Índia) e Manila (Filipinas).
A meta traçada pela cidade califor- ra e bom retorno financeiro para a em- problema do lixo. Na capital, Cai- empresas ocidentais não conse- Há dez anos, a prefeitura do
niana de San Francisco (EUA) é am- presa escolhida. ro, os catadores são conhecidos guem passar de 70%. Cairo decidiu dar a três empre-
biciosa: zerar, até 2020, a remessa de “Temos um belo modelo de parce- pelo nome de zabbaleen (literal- Viviam em sete assentamen- sas contratos para a coleta do
resíduos sólidos para os aterros sani- ria público-privada na cidade de San mente, povo do lixo). Durante tos espalhados pela capital — o lixo. Mas os zabbaleen resistiram.
tários. Essa jornada, iniciada em 1989, Francisco, com a empresa Recology, décadas, os zabbaleen — esti- maior deles, ao pé das monta- Em 2009, porém, veio o golpe
incluiu estratégias essenciais. A prefei- responsável pela gestão do nosso Pro- mados hoje entre 50 mil e 70 mil nhas Mokattam, conhecido como mais pesado. Por causa da ame-
tura investiu na educação ambiental grama Lixo Zero. Creio que as parce- pessoas — ganhavam a vida fa- Cidade do Lixo. Os riscos à saúde aça de epidemia da gripe H1N1,
— ensinando a todos, das crianças aos rias são um bom caminho para que as zendo a coleta do lixo dos mora- pública levaram o governo a pen- o governo decidiu sacrificar uma
comerciantes, como separar o lixo e as cidades encontrem soluções para os dores de porta em porta. sar na remoção dos zabbaleen. grande parte dos porcos usados
técnicas de reciclagem — e na pesqui- impactos ambientais que causam ao Usavam carroças puxadas por Nos anos 90, um grupo de pelos catadores para consumir
sa por novas tecnologias que permitam planeta”, avalia a ex-diretora do De- burros e caminhonetes improvisa- quatro empresas, apoiadas pelo os resíduos orgânicos recolhidos.
o reaproveitamento dos materiais des- partamento de Meio Ambiente da pre- das no serviço. Faziam, inclusive, Banco Mundial, decidiu ajudar os Hoje, a cidade enfrenta proble-
cartados pela população. feitura, Melanie Nutter. a separação do lixo entre orgâni- catadores, substituindo os veícu- mas com a coleta e a destinação.
A cidade também implantou pro- Em 2011, os 850 mil habitantes da cos e recicláveis, com uma taxa los da coleta, investindo em
grama s para reciclagem e com- cidade produziam pouco mais de 2 de 80% de reutilização nas 200 tecnologias de reaproveita-
postagem de quase todo o resíduo milhões de toneladas de lixo por ano. mento de matérias-primas
produzido, introduzindo incentivos Dessas, 1,6 milhão (80%) foram trans- (plásticos e tecidos, prin-
econômicos (quem faz mais compos- feridas para a reutilização, reciclagem cipalmente), organizando- Recolher o lixo,
tagem paga menor taxa de lixo). As (incluindo materiais de construção e -os em microempresa s e desafio básico
sacolas de plástico foram proibidas no demolição) e compostagem de resí- Egito cooperativas, financiando Quanto mais pobre a região,
comércio. duos alimentares, papéis sujos de ali- »» PIB per capita US$ 3,3 mil classes de alfabetização e menor o índice de coleta
Para levar adiante a tarefa de asse- mentos e resíduos de jardinagem. Além »» Pop. urbana 29,9 milhões implantando infraestrutura
Caminhonete dos zabbaleen, lotada de lixo
gurar coleta seletiva e programas de disso, San Francisco reduziu em 12% »» Lixo produzido 40,8 mil ton/dia (água, esgoto e rede elétri-
recolhido no Cairo: catadores também usam 100%
compostagem e reciclagem a 350 mil as emissões de gases de efeito estufa, porcos para dar fim aos resíduos orgânicos »» Lixo per capita 1,37 kg/dia ca). A iniciativa recebeu um
domicílios e 65 mil estabelecimentos retornando aos níveis de 1990. prêmio da ONU e serviu de 80%
comerciais, a cidade recorreu a uma A administração local deu o exem- 60%
parceria de baixo custo para a prefeitu- plo e já recicla 85% dos seus resíduos.
40%
Eles acreditam já estar bem próximos
dos 90%. “Nosso maior desafio são 20%
os 10% finais. Para chegar lá, temos
que encontrar soluções para, cada vez
Peru exporta e instituições; fixar rotinas de coletas
organizadas pelas comunidades em
“São os que geram mais gases e
líquidos que contaminam o ambien-
0%
Alta Média Média Baixa

Estados Unidos
mais, transformar o lixo em produtos
de valor, de modo que nada vá parar
modelo que microempresas de reciclagem; e criar
fazendas orgânicas onde agricultores
te, mas podem ser encarados como
matéria-prima, por meio de compos-
renda alta renda baixa renda renda

Fonte: Banco Mundial


»» PIB per capita US$ 53 mil
»» Pop. urbana 241,9 milhões
nos aterros sanitários”, conclui a diri- integra soluções são treinados no uso de ­ tagem, para a produção de energia,
gente municipal. compostagem. alimentos para animais e fertilizantes”, tem sido muito incentivada. “Temos
»» Lixo produzido 624 mil ton/dia Há 11 anos uma organização pe- Para Albina Ruiz, diretora da Ciu- detalha a professora de gestão de resí- cerca de 300 municípios que já ado-
»» Lixo per capita 2,58 kg/dia
Larry Strong / Recology

ruana consegue excelentes resultados dad Saludable, um dos grandes pro- duos sólidos domésticos da Pontifícia tam a coleta seletiva, graças a incen-
a partir de um cardápio de soluções blemas do país é não aproveitar bem Universidade Católica do Peru. tivos federais. Com isso, no ano pas-
que se adapta às necessidades de o resíduo orgânico. Lima, capital pe- Um desafio adicional é o fato de sado foram recuperadas mais de 10
cada localidade. Em 2003, a Ciudad ruana, produz 8 mil toneladas diárias que Lima concentra quatro dos nove mil toneladas de recicláveis por mês
Saludable (Cidade Saudável) viu, nos de lixo doméstico (um terço do total aterros sanitários do Peru, ainda assim no país, mais que o triplo do alcan-
problemas de lixo e poluição da pe- nacional), das quais 55% são matéria insuficientes para acomodar os resídu- çado apenas três anos antes”, explica
quena cidade de Carhuaz, uma opor- orgânica. os produzidos. Por isso, a reciclagem ­Albina Ruiz.
tunidade de construir uma indústria,

Ciudad Saludable/divulgação
baseada na comunidade, de sistemas
eficazes de gestão de resíduos sóli-
dos. Como resultado, ganhou diver-
Peru
sos prêmios internacionais. Hoje, mais
»» PIB per capita US$ 6,6 mil
de 100 governos locais em três con-
»» Pop. urbana 18,6 milhões
tinentes já adotam os sistemas inte-
»» Lixo produzido 18,7 mil ton/dia
grais de gestão de resíduos.
»» Lixo per capita 1 kg/dia
A organização aplica alguns parâ-
metros básicos, como assegurar que,
mesmo quando terceirizados, os ser- Albina Ruiz,
presidente do
viços de remoção sejam coordenados Ciudad Saludable,
por funcionários públicos; combater orienta moradora
Na cidade, 350 mil domicílios e 65 mil estabelecimentos comerciais o despejo ilegal de lixo; promover de comunidade
participam da coleta seletiva e de programas de compostagem e reciclagem campanhas educativas para pessoas carente de Lima

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55
Trinta metas
para virar o jogo Reino Unido
»» PIB per capita US$ 39 mil
dos resíduos Nova Zelândia »» Pop. urbana 54,4 milhões
»» PIB per capita US$ 41 mil »» Lixo produzido 97 mil ton/dia
A Nova Zelândia detém o 10º »» Pop. urbana 13,6 milhões »» Lixo per capita 1,79 kg/dia
lugar no ranking de lixo produzido »» Lixo produzido 13,3 mil ton/dia
per capita, de acordo com os nú- »» Lixo per capita 3,68 kg/dia
meros do Banco Mundial. Por dia, independentes da rede pública de su-
são enviados aos aterros 3,68 kg primento, produzindo a energia a ser
de resíduos sólidos domésticos por consumida. No alto dos prédios, exis-
habitante. Mas já foi muito pior. tem coloridos exaustores/captadores
Na década de 1990, passava dos de vento. Quando muda a direção do
6 kg. Desde 2002, quando o país vento, o tubo maior se reposiciona

Tom Chance
se tornou o primeiro a ter uma po- para melhorar a captação, levando ar
lítica de “resíduos zero” aprovada, fresco ao interior dos apartamentos.
foi montada uma estratégia para O tubo menor é a saída do ar quente
envolver os governos central e lo- dos ambientes internos. Arquitetura sustentável e rigoroso controle na produção e
cais e a comunidade para o cum- “A arquitetura sustentável deve destinação do lixo: experiência bem-sucedida em Londres
primento de 30 metas para reduzir não só prever o impacto do edifício
o volume de materiais descartados em seu uso, mas também na ener- Resultados de BedZED
Benchill

e melhorar a gestão e a eficiência gia que ele demandou em todas as


Produção de lixo seis vezes menor Redução de 81% no consumo
na utilização dos recursos. etapas desde o início de sua constru- de energia para aquecimento
Reciclagem de 60%
Foram definidas algumas áreas Dia de coleta seletiva em Dunedin, quinta maior área ção”, explica a arquiteta Adriana Fi- dos resíduos sólidos Redução de 58%
prioritárias na gestão dos diversos urbana da Nova Zelândia: desafio é mudar o conceito gueiredo, da Universidade Estácio de no consumo de água
Redução de 56% nas emissões de CO²
resíduos do arquipélago do Ocea- Sá (RJ), que estudou o projeto.
no Pacífico: recicláveis, orgânicos,
especiais, de construção e demo- redução de consumo, reciclagem e Hoje em dia, 97% dos 4,4 mi-
lição, perigosos, áreas contamina- reutilização dos resíduos. lhões de habitantes têm acesso à
das, organoclorados, comerciais e
redução de resíduos. A principal
Em 2008, com a aprovação da
Lei de Redução de Resíduos, foi
coleta seletiva, sendo que 77%
dos municípios já oferecem a co- São Paulo sedia Principais
mudança é de conceito: os neoze- criada uma taxa por tonelada de leta porta a porta. A taxa de reci-
temas do
landeses são os responsáveis pela
gestão do lixo, não só as autorida-
des, que, de sua parte, ficam en-
resíduos enviada para os aterros
sanitários. Metade da receita aju-
da as prefeituras, os moradores e
clagem de embalagens — que in-
clui alumínio, vidro, papel, plástico
e aço — na Nova Zelândia é de
eventos mundiais congresso
carregadas de desenvolver planos o setor produtivo a reduzirem a 62%, tendo mais que dobrado nas Pela primeira vez, o Brasil se- ções sustentáveis para um futuro • Aterros sanitários e lixões
locais e oferecer alternativas para quantidade de resíduos gerados. duas últimas décadas. diou, de 8 a 11 de setembro, o saudável”, o congresso foi uma
• Desafios e limites
Congresso Mundial de Resíduos promoção da Associação Interna-
para a reciclagem
Sólidos, com os estudos mais re- cional de Resíduos Sólidos (Iswa) e
• Mudanças climáticas e
centes e as experiências mais rele- da Associação Brasileira de Empre-
gestão de resíduos
vantes sobre o setor. Com mais de sas de Limpeza Pública e de Resí-
Ecovila feita para poupar energia mil participantes e a apresentação duos Especiais (Abrelpe). • Energia a partir dos resíduos
• Integração do setor informal
de 213 trabalhos científicos, o en- Em paralelo, também foi rea-
Em um bairro no sul de Lon- 2007, cinco anos após a chega- As janelas ocupam quase toda a contro discutiu perspectivas e ten- lizado o Fórum Global de Resí- • Comércio internacional de resíduos
dres, a ecovila de BedZED (acrô- da dos primeiros moradores, uma fachada, para aproveitar o máximo dências na gestão de resíduos, com duos Sólidos IPLA/ONU, focado • Gestão e impacto dos
nimo em inglês para Desenvol- pesquisa mostrou que o índice de de luz natural. Coletores voltaicos foco em uma nova conjuntura nas demandas dos municípios. A serviços de limpeza urbana na
vimento com Zero de Energia em reciclagem ou compostagem dos armazenam a energia gerada pelo mundial que busca um futuro sau- IPLA, Parceria Internacional para sustentabilidade das cidades
Beddington) tem 100 casas e gera resíduos sólidos passava dos 60%. sol. As paredes têm tijolos espe- dável nas cidades, principalmente Expansão de Serviços de Gestão • Gestão de fluxos especiais
apenas 104 quilos de resíduos per Só 13% de todo o lixo gerado ali ciais, recheados com uma camada nos grandes centros globais. de Resíduos para Autoridades Lo- de resíduos (perigosos,
capita por ano, contra uma média seguia para aterros sanitários. de isolante térmico. Os terraços Com o tema geral “(Re)desco- cais, é um programa mantido pela hospitalares etc.)
mundial de 438 quilos, ou de 376 receberam cobertura verde, para brindo um novo mundo — solu- Comissão das Nações Unidas para • Tratamento e recuperação
quilos no Brasil. O segredo: o uso Projeto-piloto captar e armazenar água da chu- Desenvolvimento Regional, que de matéria orgânica
simultâneo de várias técnicas de BedZED é o maior campo ex- va, usada, por exemplo, para as promove anualmente o fórum • Logística reversa de
eficiência energética e conserva- perimental de sustentabilidade no descargas dos sanitários, igual- dedicado a discutir soluções materiais pós-consumo
ção ambiental. Reino Unido. Da arquitetura à en- mente desenhados para menor para uma sociedade lixo zero.
• Gestão de resíduos em
Os moradores usam os servi- genharia, tudo foi planejado, des- consumo. Todos os blocos têm pe-
países em desenvolvimento
ços da prefeitura para a coleta e de o início, em 1999, para alcançar quenas hortas no terraço.
e economias em transição
reciclagem de lixo. Papel, papelão, os menores consumo de energia e Os sistemas de abastecimento Mais de 200 trabalhos
• Resíduos e saúde
plástico, vidro e metal dispõem impacto ambiental, o uso mais ra- de água, eletricidade e aqueci- científicos foram apresentados
de lixeiras individuais, inclusive cional de cada centímetro de espa- mento foram cuidadosamente es- durante o congresso mundial • Financiamento e tarifas
deste ano, em São Paulo • Lixo zero e prevenção na geração
dentro de cada apartamento. Em ço, com alta qualidade de vida. tudados de modo a tornarem-se

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57
Mundo

Nill Tomie

reprodução
Ana Maria Domingues, do Insti-
tuto Gea, vê grande evolução no
conhecimento dos brasileiros so-
bre os benefícios da coleta sele-
tiva e do problema do lixo mal
disposto. “Quase todo mundo
conhece o que é reciclável, como
separar etc. Mas isso não basta.
É preciso que as prefeituras colo-
quem à disposição dos cidadãos
uma estrutura para a coleta des-
ses materiais separados — como
existe, por exemplo, para a coleta
de lixo. É muito complicado que-
rer que as pessoas separem seus re-
síduos recicláveis e ainda tenham
que levar esse material em algum
lugar, muitas vezes distante de
suas casas, para que ele seja efeti- Material educativo mostra às crianças
vamente reciclado.” como destinar o lixo: Japão investindo
há décadas na conscientização
Várias vezes por ano, os moradores de Kamedakogyodanchi, em Niigata, participam da limpeza das ruas Exemplo suíço
“A educação é algo que temos seu grupo sacou o último cigarro Os próprios vizinhos se cobram
de trabalhar”, resume o senador da carteira, procurou uma lixeira em relação ao lixo. Mas ele teme

Na Copa, japoneses Cícero Lucena (PSDB-PB). Ele


relatou na subcomissão uma ex-
periência que viveu há quase 30
próxima para jogá-la fora e, como
não encontrou nenhuma, atirou o
maço no chão. Um suíço que pas-
que, no Brasil, só isso ainda não
baste. “É capaz de não funcionar.
Aqui tendemos a ter uma lei, uma

dão exemplo de civilidade anos, quando ainda era apenas


empresário e foi à Suíça conhe-
cer a fábrica de um de seus for-
sava pegou a carteira e disse: “O
senhor deixou cair”. O brasileiro
respondeu: “Eu não quero mais”.
imposição, uma multa. É um me-
canismo mais lento. Não funciona
tão rapidamente, porque a pessoa
Durante a Copa do Mundo conjuntos habitacionais adminis- essa, porém, tiveram pouco efeito necedores. Ao caminhar pelas E o suíço: “Nós também não escapa desse tipo de vigilância so-
deste ano, virou notícia o compor- trados pelo governo são adverti- prático — basta ver as ruas das ruas de Zurique, uma pessoa de queremos”. cial, que simplifica o processo”, la-
tamento dos torcedores japoneses, dos, na assinatura do contrato, de grandes cidades brasileiras. “Isso demonstra uma consciên- menta o especialista.
que, após as partidas de sua sele- que deverão participar do muti- “É equivocado o pensamento cia! Quando uma criança estuda No Brasil, completa Alvarez,
ção nacional, tratavam de recolher rão periódico de limpeza, que en- de que limpeza urbana é um pro- O ranking dos maiores meio ambiente em uma escola, ela até mesmo a cobrança de uma
o lixo dentro dos estádios — todos volve recolher todo o lixo abando- blema unicamente do poder pú- geradores de lixo se preocupa e ensina, transmite taxa de lixo encontra reação nega-
os resíduos, não apenas os que eles nado nas dependências externas blico. Em muitos países, a popu- noções de reciclagem inclusive tiva forte dos moradores na maio-
mesmos criaram. Esse alto grau de do condomínio, capinar matinhos lação já compreendeu que o des- Segundo país mais populoso do para os pais. Se a criança estiver ria dos municípios, enquanto em
conscientização não aconteceu de e recolher folhas secas e galhos de carte e o tratamento do lixo tam- mundo, a Índia tem baixíssimo no carro e o pai jogar um pauzi- países como a Alemanha se con-
um dia para o outro, mas é reflexo árvores. O mutirão de limpeza é bém são responsabilidade de quem índice per capita de geração de nho de picolé pela janela, o filho segue convencer as pessoas a com-
do estágio avançado da sociedade realizado não somente em con- o produz. Garantir que ele chegue resíduos sólidos reclama”, contou o senador. prar sacos plásticos especiais para
japonesa em relação ao impacto juntos habitacionais do governo e ao destino adequado é uma ques- Albino Rodrigues Alvarez, do descartar recicláveis, em cujo
que os seres humanos trazem para prefeitura, como também em con- tão de cidadania e respeito ao fu- Ipea, destaca que nas sociedades custo já está embutida a taxa que
o planeta. domínios públicos, associação de turo”, defende o engenheiro Car- desenvolvidas a cobrança social vai financiar a coleta.
“No Japão, desde a tenra idade, bairro, associação comercial, nas los Aguilar, especialista em resí- é muito mais forte do que aqui.
as crianças aprendem que lixo tem fábricas.” duos sólidos.
que ser jogado no cesto ou levado Para o professor José Renato
Passos lentos Total Per capita
para casa. Os bolsos ficam cheios Baptista de Lima, da Escola Poli- (kg/dia)
Pos. País (ton./dia)
de embalagens de balas, lenços de No Brasil, a conscientização ca- técnica da USP, a educação é, de 2,58
papel etc. É rotina alunos, traba- minha a passos lentos. Desde os fato, o fator primordial. “Por mais EUA 624.000
1 1,02
lhadores, operários, donas de casa, anos 50, registra o professor Emí- surrado e repetido que seja esse China 520.000
2 1,03
comerciantes fazerem a limpeza lio Maciel Eigenheer no livro A mote, ele não deixa de ser o mais Brasil 149.000
3 1,71
da calçada, estacionamento e ar- História do Lixo — a limpeza ur- importante. Não no discurso de Japão 144.000
4 2,11
redores, todas as manhãs”, conta bana através dos tempos, lixeiras políticos em campanhas eleitorais, Alemanha 127.000
5 0,34 Pequenos sujões
a brasileira Nill Tomie, que desde da cidade de São Paulo já traziam que estão muito mais preocupados Índia 109.000
6 0,93 Oito arquipélagos figuram
os anos 90 mora no país de seus mensagens pedindo a participação em construir escolas do que dar Rússia 100.000
7 1,24 entre os dez maiores
ancestrais. da população. Nos anos 70, du- ensino de qualidade, mas no dia a 99.000
8 México produtores de lixo per capita
Colaboradora de blogs como rante o regime militar, foi criado dia do cidadão, que, por meio da 97.000 1,79
IstoéJapão, Nill Tomie mora em um personagem, o Sujismundo, educação, se informa da relevância 9 Reino Unido
90.000 1,92
Aichi, província central japonesa para estrelar a campanha do go- do problema e da importância de 10 França 1,20
MUNDO 3.532.000
conhecida pelo alto grau de in- verno federal “Povo desenvolvido sua participação na solução.”
dustrialização. “Moradores de é povo limpo”. Iniciativas como A mestre em ciência ambiental

58 
código Florestal próxima edição

Cadastro rural
com baixa adesão
Prazo para registro de cada propriedade, medida prevista
no novo Código Florestal, vai até maio de 2015
Cerca de 5,2 milhões de pro- mesmo site. Entidades de classe do Para os imóveis que apresen-
prietários rurais têm até maio do setor revelaram que muitos agri- tem passivo ambiental, a inscrição
ano que vem para inscrever seus cultores têm dúvidas sobre a forma é precondição para acesso ao Pro-

Luiz Augusto Daidone/Prefeitura de Vargem


imóveis no Cadastro Ambiental ideal de preenchimento, o que ex- grama de Regularização Ambiental
Rural (CAR). O registro é obriga- plicaria a baixa adesão. Imóveis em (PRA), outra inovação do código,
tório e foi uma das novidades cria- áreas urbanas que tenham uso ru- pelo qual o proprietário pode regu-
das com a aprovação, pelo Con- ral também precisam do cadastro, larizar sua situação, se comprome-
gresso Nacional, do novo Código que não tem prazo de validade e só tendo com a recuperação de áreas
Florestal (Lei 12.651/2012). precisará ser retificado por solicita- desmatadas ilegalmente ou, no
Represa da Cantareira (SP): a maior
Já é certo que quem não fizer ção do órgão ambiental responsá- caso de reserva legal, pela compen- metrópole do país enfrenta há meses a
o registro será impedido de bus- vel ou se houver alguma mudança. sação por outra área mantida com ameaça de racionamento de água
car financiamento para produção Com o cadastro, o produtor vegetação nativa.
nos bancos a partir de 2017. A sete evita multas, pode contratar seguro Com o cadastramento e a ade-
meses para o fim do prazo inicial agrícola em condições melhores e são ao PRA, ficam suspensas todas
(a lei prevê a possibilidade de pror- financiamento junto às instituições as autuações por desmatamentos
rogação por mais um ano), menos
de 10% dos proprietários haviam
se cadastrado, segundo o governo
financeiras para atender iniciativas
de preservação voluntária de ve-
getação nativa, entre outras van-
ilegais feitos até julho de 2008 (os
posteriores a essa data não foram
contemplados pela lei). Cumpridos
Escassez de água,
mais um desafio
federal. tagens. Para o governo, permitirá os compromissos, as multas serão
Pela internet (www.car.gov.br), o monitoramento das porções em convertidas em serviços de preser-
o dono do imóvel baixa um apli- cada propriedade que não podem vação ambiental e o produtor terá
cativo que dá acesso a imagens de ser desmatadas, como áreas de pre- acesso a crédito rural e outras polí-
satélite para localização da pro- servação permanente nas margens ticas de incentivo ao campo. Caso Apesar de ter enormes mananciais, país precisa superar
priedade e da ocupação da terra de rios, nascentes e nos morros, não cumpra as metas, poderá so- desperdícios e falta de planejamento e de regulação adequada
— rios, mata nativa, lavouras, pas- por exemplo, e de reserva legal, que frer sanções, como multas.
tagens etc. As informações devem também devem ser mantidas com O Brasil detém 12% da água grandes centros urbanos e de re- ­ ordestino e na região metropoli-
n
ser preenchidas e enviadas para o mata nativa, mas onde é permitida doce superficial do planeta, mas dução da disponibilidade do re- tana de São Paulo, foram realiza-
a exploração econômica, mediante Cadastro Ambiental Rural é uma está diante do perigo real e ime- curso mesmo em médias e peque- dos por sugestão do senador Jorge
manejo sustentável. das principais novidades do Código diato de ver boa parte de seu terri- nas cidades. Outro componente Viana (PT-AC). Presidida pelo
Florestal, tema da edição 9
tório sob racionamento. Para isso, a ser enfrentado é o desperdício. senador Fernando Collor (PTB-
basta que o volume de chuvas, Um de cada dois litros de água -AL), a CI defende uma ação
menor que o esperado nos últimos distribuídos se perde no caminho. mais proativa do Congresso na
meses, continue em níveis baixos. De acordo com a Agência Na- solução da crise. O Senado
Esse alerta foi feito aos senadores cional de Águas (Ana), que regula teria, por exemplo,
pelos especialistas convidados pela o setor, em 2015 só 29% dos bra- acesso em tempo
Comissão de Serviços de Infraes- sileiros terão acesso a um abasteci- real aos dados

José Cruz/Agência SEnado


trutura (CI) e será o tema da pró- mento satisfatório — 145 milhões sobre o avanço
xima edição de Em Discussão!. dos 202 milhões de habitantes. das obras.
O problema não é decorrente, Como é usual em nosso país, as
porém, apenas de circunstâncias desigualdades regionais aqui tam- Jorge Viana
meteorológicas desfavoráveis. A bém se fazem presentes: no Norte propôs a
falta de regulação adequada so- e no Nordeste, quatro em cada realização dos
Deyvid Setti e Eloy Olindo Setti

debates sobre
bre o uso da água — inclusive cinco pessoas têm abastecimento escassez de água
para geração de energia — e os deficiente, enquanto no Sul e no pelo Senado
constantes atrasos na execução Sudeste essa proporção cai para Federal
Edição 9, dezembro de 2011 de obras de infraestrutura con- três em cada cinco.
tribuem bastante, informaram os Os debates sobre a situação
convidados, para o risco de imi- de abastecimento de água no
nente racionamento de água em país, notadamente no semiárido

60 
setembro de 2014 www.senado.leg.br/emdiscussao 61
Saiba mais
Audiências públicas da ciação Brasileira da Indústria Elétri- Mundial (2012). http://bit.ly/PXayPZ
Subcomissão Temporária de ca e Eletrônica (Abinee). http://bit. • Cempre Review 2013, Cempre
Resíduos Sólidos da CMA ly/1qhuSoX (2013). http://bit.ly/ZfKS5w
• Indicadores de Desenvolvimento
19/3 23/4 Sustentável, IBGE (2010). http://bit.
• Albino Rodrigues Alvarez, técni- • José Antônio da Motta Ribeiro, ly/1rANHEW
co do Instituto de Pesquisa Econô- coordenador-geral de Engenha- • Pesquisa sobre Pagamento por Ser-
mica ­A plicada (Ipea). http://bit. ria Sanitária da Funasa. http://bit. viços Ambientais Urbanos para
ly/1qO6LV7 ly/1DlIWZ3 Gestão de Resíduos Sólidos, Ipea
• Diógenes Del Bel, diretor-presidente • Ronei Alves da Silva, representante (2010). http://bit.ly/YtAt69
da Associação Brasileira de Empresas do Movimento Nacional dos Ca- • Plano Nacional de Resíduos Sólidos:
de Tratamento de Resíduos (Abetre). tadores de Materiais Recicláveis diagnóstico dos resíduos urbanos,
http://bit.ly/1qhuKpA (MNCR). http://bit.ly/1wsOwEj agrosilvopastoris e a questão dos
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diretor-executivo da Associação Bra- 28/5 ly/1p2Wiie
sileira de Empresas de Limpeza Pú- • Ney Maranhão (MMA). http://bit. • Guia para elaboração dos Planos de
blica e Resíduos Especiais ­(Abrelpe). ly/1mgeudE Gestão de Resíduos Sólidos, MMA
http://bit.ly/1svgUSn • Cristiane de Souza Soares, assessora (2011). http://bit.ly/1xDAmo8
• Ney Maranhão, secretário de Re- da Confederação Nacional do Co- • International Solid Waste Associa-
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do Ministério do Meio Ambiente (CNC). http://bit.ly/1mge4nH ly/1wbAY2w
(MMA). http://bit.ly/1uL2Fxc • Municipal Wa s te Management
4/6 in Germany, European Environ-
2/4 • Valdir Schalch, coordenador do Nú- ment Agency (2013). http://bit.
• Eduardo Rocha, gerente de proje- cleo de Estudo e Pesquisa em Resí- ly/1pLxD1L
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te ­Urbano do MMA. http://bit. Paulo (USP). http://bit.ly/1yitxsn 2013 — fac t s , dat a , diagrams ,
ly/1svhbo5 • Nicola Martorano, diretor técnico M inis tér io do M e io A mb iente
• Sérgio Luís Cotrim, gerente de proje- da Clean Tech Soluções. http://bit. (2012). http://bit.ly/WDScWK
tos da Secretaria Nacional de Sanea- ly/1uKzd9M • Resíduos Sólidos: panorama atual,
mento Ambiental do Ministério das • Nestor Kenji Yoshikawa, do Cen- aterro sanitário e outras soluções,
Cidades. http://bit.ly/1r2wWGC tro de Tecnologia Geoambiental do de Adriana Vilela Montenegro Feli-
• Ruy Gomide Barreira, diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas petto (2011). http://bit.ly/1p31PFA
Departamento de Engenharia de (IPT). http://bit.ly/1ATivWm • Eurostat Yearbook 2011 (Relatório
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nal de Saúde (Funasa). http://bit. ly/1s8LtTq ropeia), Eurostat (2011). http://bit.
ly/1top96P ly/1lTovx6
• Eduardo Stranz, coordenador de Es- Relatórios, documentos • Análise das Diversas Tecnologias
tudos Técnicos da Confederação Na- e estudos científicos de Tratamento e Disposição Final
cional de Municípios (CNM). http:// • Aspectos Econômicos e Financei- de Resíduos Sólidos no Brasil, Euro-
bit.ly/YVkEFB ros da Implantação e Operação de pa, Estados Unidos e Japão, BNDES
Aterros Sanitários, Abetre (2009). (2013). http://bit.ly/1oog7RI
9/4 http://bit.ly/WMGs4w • Solid Wa s te M anagement and
• Zilda Maria Veloso, diretora de Am- • Panorama dos Resíduos Sólidos no Recycling Technology in Japan, Mi-
biente Urbano do MMA. http://bit. Brasil 2013, Abrelpe (2014). http:// nistry of the Environment (2012).
ly/1u3Vv8x bit.ly/1qClGjP http://bit.ly/1BpEmXL
• Lauro Moretto, vice-presidente-exe- • A História do Lixo — a limpeza ur- • Guidelines for National Waste Ma-
cutivo do Sindicato da Indústria de bana através dos tempos, de Emílio nagement Strategies, Unep-ONU
Produtos Farmacêuticos no Estado Maciel Eigenheer (2009). http://bit. (2013). http://bit.ly/1d10I2P
de São Paulo (Sindusfarma). http:// ly/1qcMW9D • The Story of Zero Waste, San Fran-
bit.ly/1qhuQxz • What a Waste: a global review of cisco Environment City Government
• André Luis Saraiva, diretor da Asso- solid waste management, Banco (2011). http://bit.ly/1uumcRt

62 
setembro de 2014
RESÍDUOS SÓLIDOS

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 22 - outubro de 2014


Grandes temas nacionais
RESÍDUOS SÓLIDOS

Lixões persistem
Maioria das cidades ignora lei e agride
meio ambiente. Senado busca saída

Em Brasília, mais de 2,7 mil toneladas


de lixo são depositadas todos os dias,
a 16 km da Praça dos Três Poderes

A cada edição, a cobertura


completa de um assunto debatido
no Senado Federal que afeta a vida
de milhões de brasileiros. Leia esta
Veja também e as demais edições também em
Cadastro ambiental tira Código Florestal do papel
Na próxima edição, a escassez de água no país www.senado.leg.br/emdiscussao

ESPIONAGEM CIBERNÉTICA COPA DO MUNDO FINANCIAMENTO DA SAÚDE MOBILIDADE URBANA

Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 21 - julho de 2014 Os principais debates do Senado Federal Ano 5 - Nº 20 - abril de 2014 Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 5 - Nº 19 - fevereiro de 2014 Revista de audiências públicas do Senado Federal Ano 4 - Nº 18 - novembro de 2013

MOBILIDADE URBANA
ESPIONAGEM CIBERNÉTICA

Rede vulnerável COPA 2014


financiamento da saúde Hora de mudar
Para CPI, é preciso aparelhar inteligência
nacional e melhorar gestão da internet
À espera de resgate os rumos
Com missão de oferecer serviços a todos, Sistema Único de Saúde tem Excesso de carros, má qualidade do transporte
público coletivo e falta de investimentos desafiam
menos dinheiro que a rede privada. Senado quer investimentos da União
o futuro das grandes cidades brasileiras

REDISCUSSÃO
Peças de motos terão
padrão de qualidade

PRÓXIMA EDIÇÃO redisCussãO PróximA ediçãO


O futuro do lixo Prioridade na adoção a Os resultados da CPi da
criança com deficiência espionagem Cibernética

TERRAS-RARAS DÍVIDA PÚBLICA ADOÇÃO EDUCAÇÃO PÚBLICA

TRÂNSITO DE MOTOS INOVAÇÃO TECNOLÓGICA RIO+20 DEFESA NACIONAL

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