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UNIC – RONDONÓPOLIS/MT Direito Tributário 1: Aula 1

Direito Tributário

1. História do Direito Tributário - Da origem à aplicação no Brasil

A história do Direito Tributário é relativamente recente e independente dos outros


ramos do Direito. Observa-se que as leis tributárias participam da história da
civilização há pouco tempo, diferente dos tributos em si, que são tão antigos quanto à
história do homem vivendo em sociedade.

Os primeiros registros da cobrança de impostos são do Egito Antigo, cerca de 10.000


a.c., e essa prática é o que sustenta o governo dos países até hoje. Entre o Egito Antigo
e o surgimento das nações contemporâneas, a partir de 1700 d.c. (com declaração de
independência, constituição e leis para o cidadão), a cobrança de impostos era feita a
critério dos reis, nobres e senhores, donos das grandes porções de terra, o que gerava
uma taxação impiedosa de tributos e a escravização dos trabalhadores, cada vez mais
devedores.

As nações europeias, modelo do mundo ocidental, começaram a apresentar suas leis


de Direito Civil e de arrecadação de impostos de forma um pouco mais humana
somente depois do período feudal, por volta de 1400 (período negro, marcado por uma
exploração desumana da mão de obra agrícola, principalmente); e depois também da
Guerra dos 100 Anos, entre França e Inglaterra, com início em 1337 e término em
1453.

Obviamente as leis já existiam antes na Europa – a Magna Carta, por exemplo, trouxe
benefícios jamais imaginados na época, como a limitação do poder da monarquia
inglesa em criar e cobrar impostos, além da criação da norma que todos os súditos
têm direito a julgamento. Mesmo assim, julgamentos e cobranças obedeciam sempre
às leis dos detentores do poder.

Na Idade Média, os tributos não eram pagos a um Estado, mas sim a uma pessoa, o
senhor feudal, perdendo, desta maneira, o caráter fiscal (...). Os tributos eram
cobrados de acordo com os interesses do governante e não do Estado. (BALTHAZAR,
Ubaldo César. História do Tributo no Brasil. 2005, p.17)

Com a consolidação das nações e dos direitos do homem como um cidadão, viu-se a
necessidade de criar também direitos na questão da cobrança de impostos.

1.1 Revoluções populares históricas contra tributação

Algumas revoluções populares entraram na história por conseguirem frear o aumento


ou introdução de tributos:

– Constantinopla, 1197: Alexios III Angelos, imperador da Grécia na época, tentou


impor a arrecadação de tributos para sustentar o exército de Henrique VI, então rei da
Alemanha (que pertencia ao Império Romano), mas a população se recusou a pagar.
Isso obrigou Alexios a saquear túmulos antigos e retirar suas relíquias para obter o
valor que seria arrecadado.

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– Magna Carta, 1215: reconhecida como um grande passo para a criação da


constituição, a carta foi um acordo entre os barões ingleses e o Rei John. Esse acordo
determinou que a partir dali um grupo (futuro parlamento) aprovaria a criação de
tributos e que haveria liberdades de sucessão (hereditariedade de bens), além de
direitos judiciais para todos os súditos. Nobreza, monarquia e clero passavam por um
período de instabilidade, devido aos conflitos com a França desde o reinado de Richard
I (Ricardo Coração de Leão), que demandavam altas contribuições para custear as
batalhas.
– França, 1597: O Rei Henrique IV tentou cobrar imposto por quantidade de produtos
vendidos, ou seja, em cima das vendas de todo o comércio, mas algumas cidades se
recusaram a pagar, fazendo o monarca cancelar a cobrança.
– Inglaterra, 1627: John Hampden, um parlamentar, começa um movimento de
recusar o pagamento de impostos a Marinha Real, cobrados pelo Rei Charles I. Anos
depois acontece uma guerra civil, entre 1646 e 1649, que acaba com a decapitação do
monarca e proíbe a sucessão de seu filho ao trono. Alguns autores colocam Charles I
como um tirano que não obedecia às leis do parlamento, outros defendem que foi um
mártir. Seu filho, Charles II, assume o trono após a restauração da Monarquia, em
1660.
– Revolução Americana 1775–1783: a independência dos Estados Unidos da América
(EUA) também aparece como uma revolução popular contra impostos. A tão conhecida
data da independência, 4 de julho, é somente o dia quando a independência foi
declarada, em 1776. As batalhas para expulsar os ingleses ainda continuaram até
1783.
Depois, a cobrança de impostos ainda sofreu muitas repressões populares, mas, com
a declaração de independência de vários países, as taxas começam a obedecer algumas
leis, ou direitos dos cidadãos.

1.2 História dos tributos no Brasil

Os primeiros registros de tributação no Brasil são de 1888 e sob o regime da Princesa


Isabel, que baixou um decreto para regulamentar a cobrança do “Imposto de Indústrias
e Profissões” – algo parecido com o Imposto de Renda, criado somente em 1922. Esse
tributo aparece ainda hoje e com o mesmo nome, com a cobrança facultada às
prefeituras.

O documento que criou o imposto trazia também a isenção de tributos para alguns
estabelecimentos e profissões de cunho artesanal ou educacional, além de qualquer
atividade com finalidade humanitária, por exemplo:

– Pescadores;
– Mercearias;
– Escolas;
– Professores;
– Fábricas de algodão;
– Telefonia e telegrafia.

Uma legislação própria para tributação foi criada somente em 1966, com o Código
Tributário Nacional, Lei 5.172, decorrente da Emenda Constitucional 18/66. Isso foi
um diploma revolucionário na história do Brasil, por ter conseguido, de forma sucinta,

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clara e precisa, apresentar alicerces para a construção de uma teoria do tributo e das
novas bases para a relação entre fisco e contribuinte (MARTINS, 2005, p. 29-31).

Como comparação, pode-se analisar Brasil e EUA. Cerca de 25 anos separam as


reformas tributárias das duas nações. Com histórias semelhantes, são dois países da
América, “nascidos” a menos de três séculos, que têm os maiores territórios e são mais
populosos:

– No Brasil, desde a independência, em 1822, arrecadava-se basicamente das


alfândegas e de produtos importados. Somente a partir da Constituição de 1937 os
tributos foram redirecionados às indústrias, comércio, imóveis e profissões, agora de
forma mais abrangente.
– Nos EUA, as leis regulamentam novas formas de tributação a partir de 1913, com
uma reforma constitucional que começou a taxar pessoas individuais.

Assim, é possível inferir que a história do Direito Tributário é nova, se comparada com
a própria cobrança de tributos.

Hoje, o Direito Tributário deve ser estudado basicamente em dois instrumentos:

 Analisando a CF/88: do art. 145 ao art. 162


 Examinando o Código Tributário Nacional: a partir do art. 96

Antes do CTN (5.172/1966), a legislação tributária era tratada pela EC 18 da CF 1946.

Importante registrar que o sistema constitucional tributário é uno, pleno, harmônico


e rígido.

Obs. 1: o Direito Tributário, assim como outros ramos do direito, não possui total
autonomia.
Obs. 2: o Direito Tributário regula o comportamento das pessoas de levar dinheiro aos
cofres públicos.

A CF discrimina as competências tributárias; classifica os tributos em espécies e


subespécies; traça as limitações ao poder de tributar [ver art. 146 da CF]; determina o
modo de repartição das receitas tributárias.

Obs. 1: as receitas podem ser originárias (exploração do patrimônio do Estado, com


regras de direito privado – a fonte é o contrato) ou derivadas (exploração do patrimônio
do particular, com regras de direito público – a fonte é a lei).
Obs. 2: exemplos de receitas originárias: multas contratuais, preços públicos obtidos
pelo comércio, tarifas, industrialização realizadas por Empresas Públicas ou
Sociedades de Economia Mista.

Questão: Lei tributária possui acepção diferente que legislação tributária? R. Sim, já
que a expressão legislação é mais ampla, abrangendo decretos, resoluções, portarias,
regulamentos, leis etc.

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Questão: Quais são as fontes do direito tributário? Na visão de Paulo de Barros


Carvalho o mais adequado seria trabalhar a fonte como sendo a autoridade competente
para expedir uma norma jurídica e o procedimento que deve ser adotado para tanto.
Contudo, não é o entendimento que prevalece, já que se entende por fonte de direito
aquilo que dá origem ao direito posto: leis em sentido amplo, doutrina, jurisprudência
etc.

Obs. 1: se existe lei, ela deve ser interpretada, e interpretada de acordo com as regras
estabelecidas no CTN. Se não há lei, como o juiz não pode deixar de julgar pela
ausência de lei, utiliza-se os métodos de integração: a analogia, os princípios e, por
último, a equidade. Portanto, para a melhor doutrina, o desejo do CTN no artigo 111
foi de proibir a utilização dos métodos de integração para os temas elencados em seus
incisos.
Obs. 2: o CTN foi instituído por Lei Ordinária. Na época, estava em vigor a CF de 1946.
Porém, foi recepcionado com status de Lei Complementar pela CF de 1967, mantendo
essa característica na atual CF/88 (art. 146, CF/88).

Questão: (FCC / PGE-SE / 2005) Direito tributário é o conjunto de normas que

(A) regula o destino dos valores arrecadados a título de tributo dentro da máquina do
Estado.
(B) regula o comportamento dos agentes públicos na condução orçamentária da
Administração Pública Direta e Indireta.
(C) regula o comportamento dos agentes públicos na condução orçamentária apenas
da Administração Pública Direta.
(D) regula o comportamento das pessoas de levar dinheiro aos cofres públicos.
(E) compõem a Lei Orçamentária, a Lei Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

COMENTARIO: como observado, o Direito Tributário é o conjunto de normas que


regula o comportamento das pessoas de levar dinheiro aos cofres públicos, limitando
o Poder Estatal nessa tarefa de arrecadar ou impor a tributação. Gab. Letra D.

2. Sistema Tributário Nacional:

 Constituição Financeira e Tributária;


 Legislação Tributária Nacional;
 Legislação Tributária Federal;
 Constituições e Leis Estaduais;
 Leis Municipais.

O direito tributário no Brasil é um direito eminentemente constitucional, ele começa


na Constituição. “Eminentemente” não significa sua maioria; é que as regras mais
importantes, aquilo que vai servir como base para a construção do sistema tributário
nacional está previsto na constituição.

Questão: O que se entende por Constituição Financeira ou Tributária? R. Segundo


Ricardo Lobo Torres, a Constituição financeira ou constituição tributária seria, na
verdade, o conjunto de regras, o conjunto de princípios previstos na Constituição que

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tratam da matéria tributária. Nessa medida, é possível alterar o sistema tributário


através de emendas constitucionais.

Questão: Uma emenda constitucional pode ser inconstitucional? R. Sim, bastando


para tanto ferir uma Cláusula Pétrea. Isso ocorreu com a implantação do IPMF. Ver
ADI 939/DF.

Questão: Quais são as formas de exteriorização da limitação do direito de tributar? R.


Há duas formas: Princípios e imunidades. A doutrina minoritária ainda inclui as
vedações.

Por fim, importa consignar a distinção entre receitas e ingressos. Enquanto o ingresso
é marcado pela noção de provisoriedade, a receita pública atrela-se ao contexto de
definitividade (SABBAG, 2017).

Questão: O que são receitas públicas? R. De acordo com Eduardo Sabbag1, todo e
qualquer dinheiro que ingressa nos cofres públicos, a qualquer título, será denominado
“entrada” ou “ingresso”. Todavia, nem todo ingresso (ou receita) será pública. O
ingresso é provisório; já a receita pública atrela-se ao conceito de definitividade. São
exemplos de ingresso: caução ou fiança, empréstimo compulsório, depósito prévio,
empréstimo público, entre outros. São exemplos de receitas públicas: receitas
ordinárias (derivadas ou originárias) e extraordinárias (imposto extraordinário de
guerra).

Questão: Qual a diferença entre receitas derivadas e originárias? R. Trata-se de uma


classificação de receitas públicas levando-se em consideração a origem. Nessa medida,
elas podem ser:
a) Receitas públicas originárias, também chamadas de receitas não tributárias, são as
que decorrem da exploração do bem público. São exemplos: contratos, herança
vacante, doações, vias públicas, mercados, espaços em aeroportos, preço público etc.
b) Receitas derivadas: são aquelas provenientes da tributação do patrimônio
particular, ressalvadas as multas e o empréstimo compulsório.
c) Receitas transferidas: decorrem da transferência entre os entes da Federação. Ex.:
repartição da arrecadação tributária.

1
Ob. cit. p. 38.

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