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“Por Que A China É Um País

Socialista – A Teoria Chinesa É


Alinhada A Marx (Mas Não A Stalin)”,
De John Ross.
setembro 2, 2017traducoesfemininjas
O original está aqui.
<< Deng Xiaoping é famoso pelo dizer “não importa se um gato é branco ou preto,
contanto que ele cace ratos”. Sendo eu um Xiaopinguista confesso, em teoria econômica
o equivalente disso é que é perfeitamente possível compreender a economia chinesa em
termos de teoria econômica ocidental ou teoria econômica marxista – uma análise em
termos de ambas está presente neste site, “Deng Xiaoping e John Maynard Keynes“.
Isso reflete o fato de que a economia estuda uma realidade material e que analisar
factualmente de modo acurado é sua preocupação mais importante. Por esse motivo,
muitos artigos neste site [Learning from China, o site original do artigo], e outros que eu
escrevo, não se preocupam em referenciar quaisquer economistas, que apenas estudam
os fatos – o que significa que eles não se incomodam em discutir se o gato é branco ou
preto, eles apenas focam em pegar ratos.

Mas posts neste website criaram alguma discussão entre leitores de uma visão socialista
que crê no mito de que a China possua economia capitalista. Esse é o equívoco que
constantemente leva analistas ocidentais a cometer erros fundamentais acerca da
dinâmica da economia chinesa – exemplos típicos desses erros, constantemente
atualizados, estão compilados neste website no link “Análises equivocadas sobre a
China – Listadas por autor e data“.
Esse erro surge entre esses socialistas porque eles têm uma definição de socialismo que
deriva de Stalin, ao invés de Marx – como será demonstrado abaixo. Para esclarecer as
questões para eles, esse artigo é, portanto, um breve delineamento das bases
fundamentais das teorias econômicas chinesas e do porquê elas estão alinhadas com
Marx. Aqueles que preferem se utilizar de categorias ocidentais podem analisar a
economia socialista Chinesa nesses termos – como esboçado em “Deng Xiaoping e
John Maynard Keynes” – e não se dar ao trabalho de ler este artigo. Os que preferem ter
análises econômicas mais precisas, não estando excessivamente preocupados com qual
estrutura eles estão inseridos, podem ignorar se o gato é preto ou branco e apenas
estudar a economia chinesa.

A TEORIA ECONÔMICA CHINESA

Deng Xiaopin, como comunista, explicitamente formulou a política econômica chinesa


em termos marxistas – as políticas da reforma econômica chinesa eram vistas como a
integração do marxismo com as condições específicas na China. Mais precisamente,
Deng declarou: “Nós fomos vitoriosos na revolução Chinesa precisamente porque
aplicamos os princípios universais do Marxismo-Leninismo às nossas realidades”
(Deng, 28/08/1985). Consequentemente: “nosso princípio é de que devemos integrar o
Marxismo com a prática Chinesa e abrir nosso próprio caminho. Isso é o que chamamos
de construir um socialismo com características Chinesas” (Deng, 21/08/1985)
Autores, incluindo Hsu (1991), alegaram que as políticas de Deng não estavam de
acordo com as de Marx. Contudo, embora a política econômica chinesa se diferisse
claramente da soviética após a adoção do Primeiro Plano Quinquenal, em 1929, que
introduziu planejamento compreensivo e, essencialmente, total controle do estado, está
claro que as políticas da China estavam alinhadas com aquelas indicadas por Marx.
Compreender a política econômica chinesa em termos ocidentais ou marxistas será uma
escolha de quem estiver analisando. O que é mais crucial não é a cor do gato, mas se ele
caça ratos – ou seja, as conclusões políticas práticas estabelecidas. Esse apêndice,
portanto, mostra brevemente que os conceitos de Xiaoping, ao lançar a reforma
econômica chinesa em 1978, correspondiam aos de Marx.

O ESTÁGIO PRIMÁRIO DO SOCIALISMO

Considerando as políticas da reforma econômica chinesa, Deng notou, como já


afirmado em termos marxistas, que a china estava no estágio socialista, e não no (mais
avançado) estágio comunista de desenvolvimento. Desenvolvimento em larga escala das
forças produtivas/produção era um pré-requisito para que a China pudesse fazer a
transição para uma sociedade comunista: “uma sociedade comunista é aquela e que não
há exploração do homem pelo homem, há grande abundância material, e é aplicado o
princípio ‘de cada um de acordo com as suas habilidades, a cada um de acordo com suas
necessidades’. É impossível aplicar esse princípio sem uma riqueza material
impressionante. Para colocarmos em prática o Comunismo, temos que cumprir as
tarefas definidas no estágio socialista. São muitas, mas a fundamental é desenvolver as
forças produtivas” (Deng, 28/08/1985)

Mais precisamente, em uma caracterização mantida até o presente, a China estava no


“estágio primário” do socialismo, que foi fundamental na definição política: “O XIII
Congress do Partido Nacional explicará em qual estágio a China está: o estágio primário
do Socialismo. Socialismo, per se, é o primeiro estágio do comunismo, e aqui na China
nós ainda estamos no prmeiro estágio do socialismo – ou seja, o estágio
subdesenvolvido. Em tudo o que fizermos, devemos proceder dessa realidade, e o
planejamento geral deve ser consistente com isso” (Deng, 29/08/1987)

A ANÁLISE DE MARX

Está claro que Marx previu que a transição do capitalismo para o comunismo eria
prolongada, pontuando n’O Manifesto Comunista: “O proletariado usará sua
supremacia política para obter, gradualmente, todo o capital da burguesia, para
centralizar os meios de produção nas mãos do Estado, i.e., do proletariado organizado
como classe dominante; e para aumentar o total das foças produtivas o mais
rapidamente possível” (Marx & Engels, 1848, p. 504)

Destaque-se o “gradualmente” – Marx, dessa forma, anteviu claramente um período no


qual o Estado seria dono das propriedades e a propriedade privada existiria. O sistema
chinês, depois de Deng, de coexistência de setores de controle estatal e outros de
controle privado está, dessa forma, claramente mais alinhado com a conceitualização de
Marx do que a introdução “tudo de uma vez” feita por Stalin, de essencialmente 100%
de controle estatal em 1929.
Observando as formulações de Deng sobre a sociedade comunista regulada “para cada
um de acordo com suas necessidades” contra o estágio primário do capitalismo regulado
“para cada de acordo com seu trabalho, Marx observou, na Crítica do Programa de
Gotha, sobre a transição pós-capitalista para uma sociedade comunista: “Com o que nós
estamos lidando aqui é uma sociedade comunista, não como se desenvolveu em suas
próprias bases, mas, pelo contrário, da maneira que emerge da sociedade capitalista,
estando, consequentemente, em todos os aspectos, econômica, moral e intelectualmente,
ainda estampada com as marcas de nascença da velha sociedade de cujo seio ela
emerge” (Marx, 1875, p. 85)

Em uma transição como tal, Marx destacou que, nessa sociedade, pagamento e
distribuição de produtos e serviços necessariamente deveriam ser “de acordo com o
trabalho”, mesmo dentro de setores estatais da economia: “convenientemente, o
produtor individual recebe da sociedade – após deduções terem sido feitas – exatamente
o que ele provém a ela. O que ele forneceu foi sua quantia individual de trabalho. Por
exemplo, o dia de trabalho social consiste na soma das horas individuais de trabalho; o
tempo de trabalho individual do produtor individual é a parte do dia de trabalho social
com o qual ele contribuiu, sua participação. Ele recebe um certificado da sociedade de
que ele forneceu, assim ou assado, uma quantidade de trabalho (após deduzir seu
trabalho dos recursos públicos); com esse certificado, ele recebe do estoque social dos
meios de consumo tanto quanto aquela quantidade de trabalho custar. A mesma
quantidade de trabalho que ele deu à sociedade de uma forma, ele recebe de volta de
outra.

“Aqui, obviamente, o mesmo princípio prevalece regulando a troca de mercadorias,


enquanto tratar-se de uma troca de valores iguais… quando a distribuição dos últimos
entre os produtores individuais estiver em discussão, o mesmo princípio da troca de
produtos equivalentes prevalece: uma dada quantidade de trabalho em uma forma é
trocada por uma quantidade igual de trabalho em outra forma.

“Consequentemente, o direito igualitário ainda está presente, em princípio – direito


burguês… O direito dos produtores é proporcional ao trabalho que eles fornecem; a
igualdade consiste no fato de que a medida é feita com igual padrão, o trabalho” (Marx,
1875, p. 86)

Em tal sociedade, a desigualdade necessariamente existiria: “um… é fisica ou


mentalmente superior a outro, então provém mais trabalho no mesmo tempo, ou pode
trabalhar por um tempo maior; e o trabalho, para servir de medida, deve ser definido por
sua duração ou intensidade, outrossim ele deixa de ser um padrão de medida. Esse
direito igual é um direito desigual para trabalhos desiguais… ele tacitamente reconhece
os dotes individuais desiguais e, assim, a capacidade produtiva dos trabalhadores como
privilégios naturais. É, portanto, um direto da desigualdade em seu conteúdo, assim
como todo direito. O direito, por sua própria natureza, pode consistir apenas na
aplicação de um padrão igualitário; mas indivíduos desiguais (e eles não seriam
indivíduos diferentes se não o fossem) são mensuráveis por um padrão igualitário
apenas na medida em que eles forem sujeitos a um critério igualitário, são tomados
apenas por um certo lado, por exemplo, neste caso, enxergados apenas como
trabalhadores e nada mais é visto neles, tudo mais é ignorado. Por outro lado, um
trabalhador é casado, outro não; um tem mais filhos que outro, etc, etc… Assim, sendo
feita uma quantidade de trabalho igual, e consequentemente uma fração igual fundo de
consumo social, um vai, de fato, receber mais que outro, um será mais rico que outro, e
assim por diante. Para evitar esses defeitos, o direito teria de ser desigual ao invés de
igual”. (Marx, 1875, pp. 86-87).

Marx considerava que apenas após uma prolongada transição o pagamento de acordo
com o trabalho seria substituído com o objetivo último desejado, distribuição dos
produtos de acordo com as necessidades dos membros da sociedade.

“O direito nunca pode estar acima da estrutura social e seu desenvolvimento cultural
que ele determina.

“Em uma fase mais avançada da sociedade comunista… após as forças produtivas terem
também crescido com o desenvolvimento dos indivíduos por todos os lados, e todas as
fontes de riqueza comum fluído mais abundantemente – apenas então o estreito
horizonte do direito burguês pode ser transposto em sua totalidade e a sociedade
inserida em sua máxima: de cada um segundo suas habilidades, a cada um de acordo
com suas necessidades!” (Marx, 1875, p. 87)

Está, desse modo, claro que as políticas pós-Deng na china estavam mais alinhadas com
as prescrições de Marx do que as políticas de Stalin pós-1929 na URSS. Dado que o
controle essencialmente estatal da indústria chinesa em 1978, “Zhuada Fangxiao”
(mantenha o grande, deixe ir o pequeno) – mantendo as grandes empresas no setor
estatal e liberando as pequenas para o setor não-estatal, juntamente com a criação de um
novo setor privado, possibilitou uma nova estrutura econômica claramente mais
alinhada com o que foi contemplado por Marx do que o controle essencialmente estatal
na URSS após 1929.

A insistência de Deng na fórmula de que no período transicional o pagamento deveria


ser “de acordo com o trabalho”, e não “de acordo com a necessidade”, estava
claramente alinhada com as análises de Marx. É notável que na própria URSS diversos
economistas se opuseram às políticas de Stalin pós-1929 nos mesmos assuntos ou
relacionados – incluindo Buhkarin (1925), Kondratiev (n.d.) e Preobrazhensky (1921-
27). Suas palavras ficaram, contudo, praticamente desconhecidas, na medida que esses
assuntos foram “resolvidos” por Stalin, através do assassinato desses economistas que
discordavam dele e do banimento de suas obras, embora vários relatos tenham sido
publicados fora da URSS – veja, por exemplo, Jasny (1972), Lewin (1975). Os debates
econômicos da china, por consequência, estavam precedidos primariamente com
referência a condições chinesas e Marx, e não a quaisquer debates antecedentes na
URSS.

Está, dessarte, claro que a política econômica chinesa pós-reforma é alinhada com a
análise socialista de Marx e que, como expresso nas análises chinesas, a política
soviética pós-1929 afastava-se das análises de Marx – o argumento de que o oposto
seria verdadeiro, feito por Hsu e outros, é inválido.

A teoria econômica chinesa certamente se difere da de Stalin – porque retorna a Marx.


REFERÊNCIAS

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Trotsky, E. Préobrajensky, N. Boukharine, Lapidus, & Osttrovitianov, Le Débat
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Hsu, R. C. (1991). Economic Theories in China 1979-1988. Cambridge and New York:
Cambridge University Press.
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the primary stage of socialism’. In X. Deng, Selected Works of Deng Xiaoping 1982-
1992 (pp. 247-8). Beijing: Foreign Languages Press.
Jasny, N. (1972). Soviet Economists of the Twenties. Cambridge: Cambridge University
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Kondratiev, N. D. (n.d.). The Works of Nikolai D Kondratiev (1998 ed.). (N.
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Retrieved February 2, 2012, from China
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07/01/content_12817816.htm >>
John Ross é membro Sênior do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros, da
Universidade de Renmin (China).

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