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Copyright © 2004 by Joio Adolfo Hansen Direiios reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.1998. E peoibida a reprodusze total ou parcial sem autoriacio, por eserite, das eitera 1edigdo, Companhia das Letras, 1989 digo revista, Ateié Faiterale Elitora dy Usaicauo, 2004, Ficha catlogrifica elaborada pelo Departamento Téenico do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP Hansen, Joan Adolfo, 19 A sitira eo enaenho: Gregiria de Mares 2 Bahia do séeslo XVI / Joo Adolfo Hansen-— 2. 6, 1e.—Sio Paulo: Alit Edkorial Campinas aitora da Usicaur, 2004 p Insta bibliog ISBN 85-7480-1364 Catelié ator) ISBN 85-268-067-7 (Edita da Usicau) 1. Matos, Gregécio le, 1636-16862 2 Sétiea © ‘humor (ieratura) I Titolo, IL Titelo, Gresério ‘de Matos ¢ 2 Bahia co secule XVI, cop 969 Depéuita Lepal na Biblioteca Nacional, conforme Decreio N® 1825, de 20 de dezersbro de 1907, Diteitos reservados & Areu Horrors Ra UNC a Leie, 15, Caio Graco Prado, $0 SP-Brsil mpes Unicemp — CP «074 x: (11) 46129666 12083.892— Campinas SP ~ Brasil ‘waveatliecom.br ‘Tels (19) 3783-7795 atlie_editr voxeditora.anjcamp.te vendast@editon.micamp.br Priste in Beil Fei fete depéstok I Um Nome por Fazer nud se gue estado 6 ote, depois de tantos mudados < (C,N,p.801.) Tim meados do século xvittyum letredo colonial 0 Licenciado Manuel Pereira Rabelo, escreveu na Bahie uma Vida do Excelente Poeta Lirico, 0 Dou- tor Gregério de Matos ¢ Guerra’, Primeira “vida” do poeta, jé no titulo classifi- 20 sentido das obras que Rabelo compilou ¢ atribuiu a Gregorio de Matos e Guerra no registro da moralidade virtuosa e da ndo menos idealizagio Petrarquista — “excelente pocta lirica” - conferindo nome ilustre, com 2 uni- dade das virtudes tipificadoras do personagem, ao nome falado dos causes & anedotas escabrosos, que sc havia desgarrado dos nomes de mor qualidade de alvador, em fins do século XVII. Apologia, o texto estabelece a legibilidade doutrinéria da sétira que atri- bui ao pocta segundo critérios que 0 compdem e interpretam retorica ¢ teo- logicamente como personagem. Ficgio, integra-se no género do retrato enco- ‘icencodo Manue Pereira ane “Vida ¢ Mone do Doster Greéro de Mato Guerra Bria pelo Lecenciado Masuel Pereyra Rabel", em Greprie de Mattos Guerra Oras Sac «Diss, om 11 5. Part, Ce 50, Cede 56, Seco de Marscritos da Bisiteca Nacional do Rin e ont Sh CE também “Vilae Morte do Fuelenie Poets Lica « Deut Greétio Se Maton © Otersc James Amado (oo) Cres Conpleasde Geode Mar « Guarana do Vier Baio Sect}, Ssivados,Jnnioa, 1968,7 vols, wl. VL Esa ¢ctaga nese taba como OC B A SATIRA E 0 ENGENHO midstico*. Como evidenciaa leitura dos atos académicose sessbes comemora- tivas da Academia dos Esquecidos, também o Licenciado unifica em cédice tantas obras de géneros e formas diversos, conferindo a sua autoria A unidade do nome proprio, “Gregério de Matos e Guerra”, porque, como um letrado do séeulo XVII, constitui ume tradi¢ao local, Considerado o padriode distincio social da insercéo dos letrados nz cultura da Coléniia iletrada, supSe-se a ex- celéncia também de Rakelo: Fstas sio, curioso leiter, as noticias, que o meu afcto pode descobrir das tristes memérias daguele ilusire herdi e crede-me, que tanto estimei a déstas como em grande miigoa 0 pondero emblema de tantos infortiios; que suposto 0 cortasse « expada de ois gumes, contudo sempre viverd in creme ao mesmo tempo. Brasio itustre-Ihe este, que cternizado xa fama 0 ndo destroio ferpo’. Nio se sabe quais foram os critérios seletives c ordenadores do Licencia- do, 0 que excluiu na unificacdo, se transcreveu poemas das afimadas folhas volantesque se dizterem corrido na Bahia em fins do século XVI, se teria ido acesso aos livros improvaveis que Dom Joio de Lencastre mandaria abrir em Palacio para acolher poemas atribuidos a Gregériv de Matos e Guerra, s¢ 0s coletou de fonts oral owescrita. As didasedlias dos poemas, devidoa imedistez refezencial efetuada por seus detalhes, indicam que abteve informagSes sobre as pessoas eas situagies satirizadas pelos tipos e casos da compilacdo, Uma das versoes de seu texto fecha com um medalhio de Gregério de Matos: ‘oi Gregorio de Mates e Guerra de boa estatura,falto de vista, deizado de compo, ubros delicados, poucos cabelos ¢crespos: testa espagosa, sobrancelhas arqueadas, € grossas, os othos grandes, nariz aguilenho, becs pequens, e engracada, a barba sem emesia,alvo na core no tato cortesdo. Tiajavaa cortesi decaps, evolta de fina rend, ‘abeleira de bandas, suposto, que poucas se usavam naquele tempo! Evidenciando que 0 medalhdo teve por modelo outro retrato, 0 Livenci: do refere as “memérias” de “pesseas antigas” que lhe teriam fornecido crite rios para sua composigéo: (Como retmat, ovate desenvelnese por apicagiode pias do gener demonstmativo ouepidiicn ‘+ ortirin 20 subgéner “encOmis" ou “Ieuvor’, apresentando elementos de iadiriduago e ele ‘wentoyearsceriiveUpifcndores. Cr Lomazza,“Compostioae di sitraee dl rata” ee Fane Verte dla pcr, olura,erckterure, Milano, Apress Pier Paolo Gottardo Ponti Astana li Piewo Ti, 1585, Ciice cto ma nots 1, 9.56 Op etn 8 AM NOME POR FAZER Fizticar dele a presente cépia, por um antigo pintor, que foi sex familiar, ¢« Bdo-a com as memérias que dele tém algumas pessoas antigas, enho-a pormim co Heme scu original. Naquele tempo era pouco versado.ouso das cabeleiras, Be mass pareces-me copis-o sem ela, porque 2 homem de talento devern patentea Be oficinas capitais que 0 produzem para informagio dos judiciosos Nio se sabe quaiseram tais “pessoas antigas”, nem a matéria das “mem6. Ses", oque nae tem importincia, alids. Melhor € pensar 0 que « referencia a feiss permite inferir sobre a natureza da unificacio. A questio da autoria dos Peemas assume outro sentido, pensande-se que o temo “memérias”, inde. Peacientemente de seu contetido, designa uma acao produtiva e deformante Sobre obras que Rabelo afirma ter recolhido ja “destruncadas” pelo tempo. Embora wil para delimitar e nomear um corpus, a autoria nio é, considerada 2 nstituicie do corpus por Rabelo, pressuposte necessério para 0 Estudo dos poemas reunidos sob a rubrica “Gregorio de Matos e Guerra”. A Satori, no caso, é produzida pela unificagio que se torna produtivac posteriar PGrexirio de Matos” ¢ uma etiqueta ou um dispositivo discursivg] unidade Eeiiginiria e cambiante nos discursos que o compéem contraditoriamente Suma hicrarquia cstética determinada pela “cadeia de recepeves”, na expres: 0 de Jau + substancial, €efeito ou produto da leitura dos poemas atri- faddos, no sua causa ou origem. originalidade” dos poemas — tanto no sentido de “origem”, “autoria” tanto no de “novidade estética” -, implicita em muitos discursos criticos ‘Que prescrevem o estabelecimento da autoria como indispensavel para afir- mar qualquer coisa vlida sobre cles’, é evidentemente, trabalho e fungio da Feccpedo ¢ seus critérios avaliativos particulares. Lembrem-se, entre outros, S exclusio das obras classificadss como “licenciases” pelo critério moral da igo da Academia Brasileira de Letras, em 1923, ou o entusiasmo demons- trado por elas, a partir principalmente da década de 1970, por interpretagées ue faze do “praver” eda “desrepressio” métodos fim. Ambas as interpre- bes entificam Gregorio de Matos como autoria subjetivada, observando-se gue 0 mesmo valor /moral/ & num caso, critério de constituigae negativa da lidade e, noutro, positiva, segundo duas posicGes ideol6gicas adversérias, i do Doutor Greg de Mattos Gurr, pelo lcencado Manuel Perera Rabello™ Biblioteca Nacional ote 50, Cider 57 (Col. Careatho}, 42 Ci. Hans Robert Jauss Phorm eskiigue de ; allemand par Clonde Mallard ion U8 Outro exemplo sugestivo dessa dispersdo ¢ 0 das interpretacées de Silvio Ja lio, ordenadas segundo o critério central de “plagio”: assumem previamente autoria individualizada dos poemas, para imediatamente desqualificé-los, © 20 seu autor suposto, como secundaios ¢ sem valor’ Linguagem é consciéncia priticae, pelo crtério pragmitico deste traba tho, 0s poemas s20 propostes simultaneamente como o material € 0 produto de uma intervengao presente, esta, que neles sedimenta um efeito particular déesentido, deslocande outrassedimentagées particulates, Fazendo-o, ceorienta ‘sentido das posigdes discursivas dramacizadas neles, encenando a sua inter- venciio nas priticas discursivss do século XVI, ao mesmo tempo em que en cenaa contradicao do lugar institucional da operagio. Nao é por isso, andlise “corsetn”, “mais verdadeira” ou “verdadeira”, mas outra, cuja particularida de & a de propor 03 poemas conforme regras discursivas de seu tempo & si miultaneamente, a de criticar posigdes criticas “expressivas” ¢ “representati vas" ,que obliteram a historicidade da prética sairica, quando a efetuam como exterior 4 sua propria historia, ora como reflexo realista, ora como “ressenti mento” psicolégicoe “oposigio” politica expressivos. E este cvitério pragma tico que, evitando substancializar as obras pelo efeito “autoria”, inclui em sua anilise-a questo do extla, historicamente determinada, Com isio, deslo- case a questio da autoria, Considerada anacronica nos termos romantico positivistas, unificadores e psicologistas em que geralmente é proposta. Pressupondo a concepgic roradatica do poético camo expressz0 ¢, por tanto, prescrevendo o conhecimento do vivido do Autor, 0 critério da “origi nalidade” — “autoria”, “novidade estética”, veriantes como “plégio”—revela- se anacrénico, no caso, quando se considera o esi. (§ poesia engenhosa do século XVI] 6um estilo, no sentido forte do termo, linguagem estereotipada de lugares-comuns retdrico-poéticos andnimos € coletivizados como elementos do todo social objetivo repartids em géneros e subestilosEvite-se 0 esteres tipo: estereotipada” significa aqui, nem mais nem menos, fortemente regrade por prescricies de producio e de recepcio, nfo 0 pejorative do desgaste daw usos ¢ redundancia. Nao é “Inventiva” ~ no sentido rorineito de “expressie esteticamente desviante” -, mas engerhase, aguda e marevilhasa, no sentida das convengdes sociais seiscentistas da ditcrigio cortesi, do gosto vulgar, Gm engenho agudo ¢ da fantasia poética. Ao poeta seiscemtista nada & mais estrae ho que a originalidade expressiva, sendo a sua invengio antes uma arte combinatoria de elementos coletivizados repostos numa forma aguda e now que, propriamente, expressio de psicologia individual “original”, represen 8 GE Si alo, Reape na Lzernwa Brasil, Kio de Janeiro, H Antunes, 958 2 UM NONE POR FAZER Eacdo realista-naturalista do “contexto”, ruptura estética com a tradi Entre tais elementos, a obscenidade est prevista num sistema de t6picas, anticulando-se retoricae politicamente nos poemas segundo géneros, temas ¢ Bestinatirios especificos. Categorias como “pessimismo”, “ressentimento”, *pligio”, “imoralidade’, “realismo”, “oposicao nativista critica”, “antropof- ”, “libertinagem”, “revolucao”, que vém sendo aplicadas por vrias criti- €25 desde o século XIX aos poemas ditos da autoria de Gregorio de Matos, podem ter algum valor metaférico de descricio de um efeito particular de sentido produzido pela recep¢ao, Nio dio conta historicamente, coatudo, do Seu funcionamento como prética discursiva de uma época que, desde a obra Heinrich Wolfflin, o século XX constitui neokantianamente como “barro: 62": como categorias analiticas, sio apropciadas antes para o desejo ¢ 0 inte- resse do lugar institucional da apropriagio que propriamente para 0 objeto dela. Quando, por exemplo, Silvio Julio acusa 0 “plagio” de Quevedo ou Géngora nos poemas que assume como sendo de Gregério de Matos, €0 pres- Suposto da originalidade romantica que faz com que os tresteia. Quando a Fecepcia concretisia 0s relé e deles isola procedimentos técnicos, autonomi- zando-os apologeticamente em funcap de sua “postica sincrOuica” ou “pre- sente de producto”, a operacio se valida heuristicamente, como invencio poética. Os mesmos procedimentos, deglutides oswaldianamente, via inter pretacao da Antropofagia Cultural ¢ do Iropicalismo, que entifica Gregério de Matos como “precursor”, contudo, embora possam teralgum valor de ane jogia na descricao do experimental da neovanguarda com a agudeza enge- shosa, que aproxima e funde concvitos distantes, ou de argumentagio na con corréncia mercadol6gica da vanguarda perene contra 0 nao menos perene stalinismo do realismo socialista, sio evidentemente a-histérices, nao poden- do tera minima pretensao de interpretacdo historica’, Relacionando-se pragmética e estilo, pois, evidencia-se que “originalids- de, nos dois significados principais do terme, “autoria” e “criagio”, € crite 1 duplameate exterior a poesia do século XVII: nela, a figura individuali da do Autor, no sentido subjetivado do terme, néo tem importincia, Figorosamente falando, a nao ser como elemento posterior ao poema, efetue- do pela sua leitura. Nela, ainda, lembrando-se mais uma vez.a combinatéria de topicas retoricas co de expressiva do tem lugar. O mesmo critério encontra-se, alids, na noticia do Licenciado belo, que informa sobre a ordem das obras compiladas, subordinando-2 2s regras do género encomiistico e ao decoro da recepcio: 2. Gf, Augusto de Cumpes, Poa, Apress, Arrmpofaiey $0 Plo, Cortes Moraes, 1578 jmaras obras deste insigne Pocta as ajuntei com grandes svelo por as ter 0 tempo destruncadas: po pelo melhor modo 2s que pico nestes volumes; © seri ino de obras sacras, que o neu cate também sabia louvar a DEUS na sua L irae 05 demais io sogindo conforme seas, preferindo sempre as de maior 21 cduacfo: ¢ inda que vii misturadas 2 faz a fim prociso por ndo romper o estilo ponderado"”, A Vida do Esco Sowa ser tomada, com a sua publicacio pelo cén bosa, em 1841, como um diseurso fora do ato qu: exam romintizos e a ficcao nao foi lida como fiecio. As t6picas retdricas ro encomidstico “vid: cope ico, 0 verossimil como sentido. O te Rabelo nao foi Lido, enfim, segundo a ‘iscentista: di crvaram ¢ desle liu, como vivido psi specificidace da interpr ‘aram, contudo, as oposigaes Jaco simultaneamente retérica t mpondo-se com elas o moralismo da crit 2 posterior. Vejam-se dessa leitura que, int -omo fato, postula a ¢ resso, deslocando 4 fan morais, quando sposigdes como critério de censura e apreciacdo Nem a suit esposa escapou 20 seu seu Gesmazelo epelas suas desenvolturas, bem f mmposigies pocticas, iu para a casa de seu to" Era a Esposa um pouco impa 2 pelo pouca pio que vin em c odistraimento de sew Mai solturas claro se pateatsiam destas come veremos pela rubriea di ama;¢enfadada de uma ¢ outra desesneracdo saiu deca to que ner 4 todas se deva inteiro 0 “Vide ¢ Mone do Door ¢ 0 Lacencia atell" Toms cole 5, Ci acional do Kio de Janeiro, pp. S657 CConsgo Jantétio da Cuna Butbost, "Bioeth dos Bras istincox por Leta nlice oo Rede mcr Debainodaiamedias pr bal ate de 1341.9, anuel Pereira Rabsl, "Vida € N lene em James Arad (6), pty wl volumes de 4, alguns dos quais mas é tala sua desenvoltura, que nio darse 3 lur publica", oem que se viu, porthe desertarem v inkes assombracos: 2 faltandothe « companhia de muitos amigos, que evitaram prudentes o com. infinisas pessoas de rospeito, grendemente feridas petas sua bre vicios, mss to artificiosas que se procuravara ¢ eu-sea peregrinar pelo Recéneavo, até mesma para por Seguranca os seus dias, que j4 a lc taatos ofendidos. A sue fcsinquieta continuou a converter em inimigos aqueles que achava prontos em Béto na desgraca; e era tal o sea génio satiico, que nao duwidava perder o bors ;nqueava, contanto que Ihe nao eseapasse a ocasi5o de Lazer p ctvavay Ou que somente se contavamn, ataviando-as ele de core s inocentes se tornavan ridiculos, ainda conhecida a injustica do essudo da pobreza, ¢ sem esperange algutta de remé uma terra ond ‘em, para triumfar da fortuna, quem por estradas de iniqiidade camiaha, se 2 todo o furor da sua Musa, ferinde a ume e outra parte como ¢a edificios alos a matéria mais debilitada, Endo achando resistén rs tendia (neu ce termpos belicoso9), clegendo amigas, 9 poxoado nero xntos menes dignos ante estrondo, Lascivas Mulata topos figuras de tde delicada poesia, Mes que muito, se bainel, quaisquer Birbaros galeiam a mais preciosa mescadoria suadir que a desesperacic Ibe ocasionou desenvolturas; mas drei que do i tinha, tirou a miscara para manusear ebscenas ¢ pelulanics obras, em Bes cuantidade como se vers, Mas a prodiga difusdo de mal aplicados conceituosn josasdaquela Musa, que sem barateava verses: itando linguagens ao genio dos su Ainda em 1 841, escreve Joaquim Norberto de Souza Silva em seu Modu s Poeticas Precedida ejo da Historia da Poesia Bras da Cunha Basho, pit, p33, ddas por menos decer Se excessos eeatravagincias,¢ porventu rara deixou que digns soja de le nvolta com seus vetsos contudo seu esi € simp €5 trocadilhes ¢ antiveses, com que 0§ p ram suis obras, pois que nao era para afetagSes, mas todo naturcaa, jatrico, se Bera cue infelizmente urs sat Bahia ©O Retretodeum Persona rico todo indecéucla. As sires Os Costum A partir, prineipalmente, da ind bosa c Joaquim Norberto por Varnhagen, em seu Florilig ra, de 1850, a moral fez fortuna, Porfim, malguistada ther, de ginio e despropésito, converteurse sum vadio Didgenes, ue aborre Honravant-no todos seriamente;mas, arrehatado de seu a dos homens circunspectos, oe nclinevs, emo na Bahia, amasicos¢ fly &sendo naturalmente asscado e gemtil, descompuna a sua auroridade e2tes 20 flosofo”, Em que “vadio Di ue constitui um Gregério de Matos cinic pada dado ao trabalho, segundo a ética burguess de Varnhagen, tracuszo * Ver 20 fil6sofo”, priprio do dciv e liberdade da elite senhorial do « Retomando Cunha Barbosa e Norberto, ainda, De nenirum autor brasileiro possuimos puis mais poesas que dest: ent retanto alter dele que mar porco ‘erenosque rej; niotatas por insulsas como aus Ainds assim, para no privarmes o piiblico dalpuns belos pata vermos antes favoriveis & meméria do poeta (ane sé deseia bbrigadosa conardsvezes algumasexpressoes, quandon: Jeaguia Nodbecto de Souz Sita, Aldiagpere Pees Drala, Ko de aneio, Ty Francisco Adbfo de Varshagen, Florina Poa Br os Pot Brass Pals cntond a Bg asd, tudo Paced den B thre astra no Bra), ss Imprensa Nacona, 1850 & Late, 1946, 3 wmon. (Citese ag pa meio, temo hp. 73) iceciauo Maniel Pereira Rabel, op. cit p17 1h f45 seus contempari- 10 das interpretacdes de Cunha Bar UM NOME FOR FAZER Nao se trata, obviamente, de fazer 0 processo das leituras de Gregorio de Bates © Guerra: nao ¢ este 0 objetivo deste trabalho, que aqui cita al at 0 critério pragmatico da recepeio. Boa anilise dessas, Bes com outro enfoque, que tem por eixo 2 questa do “plagio”, encontra-se BB livro de Joao Carlos ‘Teixeira Gomes, Gregdrio de Matos, 0 Boca de Brasa B Estudo de Plagio e Criagdo Intertectual), principalmente o capitulo I, “Un no Banco dos Réus” am-se ainda mais exemplos da constituicio de Gregério de Matos por ios morais, raciais, psiquidtricos, nacionalistas: o os ditames de sua natural imperinéncia habitava os esaremos da Jom ewandalosi virtude, como se nuncs houveram de acaby jezasda dade: e bem que se comunicara com os doudes resplveu u molhar a eabecs, como o diz expressamer cia the nasciam os quebradouros dela: nem bavia lisonja que fomemtasse as daquele devenpano’ Jo era porém Greg6rio de Matos homem que renunciasse seus antigos habitos, ¢ palzao de fazer ri, desprezava todos os respeltos huma Discordando do eespeitivel parecer do eénego Jantirio acima citado, pensarnos ee muito Lucraria a nossa literavara com a pablica bras poéticas de Gregério Be Matos incumbindo-se um diligeate editor de expusgi-tas das cbscenidades que as Lozo ne universidade comegou Gregério de Matos a dar as provas do seu posi o: nly sabia todavia descnbar cenas sublimadas em delicadas quadros; nfo era ha da imaginacio edo sentimento; ao tinham a5 flores aroms, a nacureva, © nao se matizavam os (Quando st omit um ou mais vetss, quedeviam complet 1 ‘nal nn vor anterior sos omits (.] 2. Quando au verso se surrima sleun Ihe antor pantie quantse ae Ita omitida 1 1 Quando re omitam qeadeae, décimas, ete Inetextal, Ptropdis, Vezes, 1985, Licenciado Manuel Brera Rablo,“Y do Excelente Poets Lirco, 0 Doutor Gretdrode Mates Gera". em James Amado (ore), op. 17. (Che Dec fener Caan Peres Bch Car lanier de I iatene Neto ce melherada, Ri de Janciz Livia de . L Gamie, 183, p.208 ‘campos de verdura, nao saia serovento measageity¢ as brandas auras, nem as ciagies da terra elevsvam i830 para aquele E 2 tertive] Nemesis, fe instrumentos de castigoe que acoitava; sprado avistavam os scus olhos,ou a quem queria ap sdos seus captichos: nao via esirelas no céu, bondade nos homer © amor na netureza; convisha-the e mereciathe a atcnca e se Ihe faltava 4 realidade, 2 vela. Folgava Gregério de Matos de encontra 9» sjo, malvestido, a percorrer o ndo lundus e descantando poesia aturalmente Mecenas da roca que Ine nutsiamaa ail. O faune de Coimbra, em hima andlise, degencrava no velho © vilanaz.Arisfanes das mulatas, um de: uma alma de viteiolo, um ear soe 9 © me tspfritoem que havia mais azestas que facetas. Nao és comps sauefe!, Madrago por indole, parasita ita rou cinicamente tao Ihe sabia cbsolutamemte a ligrimas como soube ae p Obras Compietas de Gregévio dé tras, tomam também como poemas efetivos ¢ Matos 0 que foi resultado de precéria unit Rio de Janey Pars, Gare # lembranga da existcia desta carts a Job se Fai, « quem agul spradro, ia Bras, Rio de Jani Ppp is Edi da Universidade do Ri Atco Reinet, Rio de Jase aera; Lina 1 ~ Gracies VV Satrea, no produvido e censuram-no, fazendo pela exclusa olicenciado Rabelo j fizera no registro da apolo- Hansformam o nome Gregorio de Matos em “poeta lirico”,ei-lo atirico” e “tltimo”: jraram-se duas cépias datilogra ardam nos reservados da Bibliotecs Nacional ¢ da Academia Brasileira SS dos que tenhuam o gosto (oa mau gosto) por semelnante A sina do cpénimo € admitir cutras nomeagies que o sedim aimo, 4 imagem c semelhanca do lugar institucional da sua apropriacio: Besbrem-se cinds outras tradugdes, Iugare retagBes mais recentes Pesto difundidas por faculdace Besscesa c teaducies brasil Be menipeia, o skaz ea parodia, tém hipostasiado a whima como [Peer da sitira,atribsindo com isso omteas virtues a Gregério, Confundlin. SS “parodia” ¢“sétiramenipéia”, destoca-se ant0 M Barrio", nos quais a sitira menipéia é simplesmente a mistura Fess0, buscando-se & poesia do século XVII o que posse validar 0 desejo Sateresse atuais do intérprete. Pela generalizacao do valor “oposicie critica” Stribuido a parddia, costume-se erigir Gregério de Matos como homem Ebertario dos textos sempre supostos parsdicos, porque satiricos. Encarnand $= no século XVII como desejo do intémprete e reencamendo-se no séeu €m0 autor barroco e liberal “progressista’, critico do offcialismo das insti- taigdes dominantes, o Espirito nacional-popular circula ea metempsicose piedoses. Nessa circulagdo espiritual, materializa-se pela generalizacao da parddia ¢, ainda, pela plasmagio a-histérica da divisio ret6rica dos estos ~ alto, médio, baixo—nas classes sociais, de modo que o estilo alto da liricae da ica, entendicio como sempre sério ¢ oficial, sea mesmo do obi 0 do cimicoc do tragicomico, contituide como risonho e desrepressor, ape- nas dominado... Incorporagdo in que no se elev dendo embora « oposi “ ficial” e “cultura como meediacio, isto ¢ contradicao na “circularidade da cultura’ 2. CNL. Varro, Varo Ai Vere Mila Bakhtin, Penne de Prono hoa Fld nde Po pot patio einprade stews ntane miondacidade da sitira gregeria ce desconhecidl e disimulads:o artic. lismo mecinico © anti empelagdo sem vigo, 0 preciosismo exaust, autoritério c nanan 0 Zver0dasublimidade consgrads, do ideal de ciciaie ee lar atselulizant. F exquantopordia da kngvogem do pede, no desmascaramento do rictus Val comming tomatisme enbjaccnteA normawwidade consgrata a parce Gregorio fee unttindo, através de sua indole metonimica.a reeicio press ‘ssost0 OpGt0 devia, como sistema de prosedimentas, cone aioe te mundo Gregorio, sem perceber, retras a situngéo efetivamente co ante © dramética do abt baila dos princi séculas,enepucido pels odors enn situacdo que se egg wa imede M8 tojera de submiierie a0 model eteangri, ong ‘como melhore mais perfeito®, Sedimenta-se assim um Gregério de Matos jo “[..] furor intrepido im- Perava dominante na massa sanguinécia™, interpretado pelos humeres de arte de prudéncia de Rabelo; um Gregorio ce Matos J iniciador da nossa ere ice de intuigéo étnica”, incontormista simbistico ¢ deseo. ssimo critica, umavezque “[..] oseu brasileito nfo era o caboclo, nem o negro, nem eas i 0 filo do pais, eapaz de ridicularizar as pre ies separa Listas das trés racas”™7; um Gregério de Matos vapamente amarquista, misio de vanguarda do proletariado, intelectual on inico libertinagem intelectual ¢ Sexual, na parédia do estilo alto da cultura oficial um Gregério de Matos hedonista, em versio freyriana da antropologia doce bb a; um Gregorio Ue Matos coneretista-eswaldiano, devorador do esso diaro de Quevedo, da pedraria aguda de Géngora e Camées, salpicando o moquém com o tempero 45 localismos bantos e tupis e o motho arcaicante de Garcia de Resende; Angela Maris Dis, de Disocis -SaiaePreiee Ltosio Bras, Ria de Janie Aatares/INL, 1981, n 77 rio meu, detent Ain Vins tocmur no Hare Bree" O Feo Fe Ceapetirs aria, Uo Harz, UEMG, noe 1985, wl 2 9) gee 0). Para Greirisdeleusano passado peo simulara fp 22 cover ume Fecra Rabel "Vid do EncenePontaLi, Dtor Gieghr de oe Ouera",em James Amado (org), a cit, woh ving 1700, aT aa ltrs ra Ri Ge at/Beli, jx OympiN, 168 vol 11, pp. 373-379. Angela Maris Dias op. cd roe an Pit Bai, 6 secant poe Catne oo e et UP rem « vie tite aenoricanente Hej cle retires de et clo seco nae tpiea da" ‘Alagus de Campos oc, NOME POR FAZER, EBério de Matos afro, |, catolicissimo e padre ei.” oposto exemplarmente ro Gi imo de “Ardor em firme coracio..”, Itismo do Estilo Barroco que se caracte ia do Homem Barro este Gre dadeiro”, nem Bes interessadas como“ ico, amancirado € preciosi Bl = que hoje se conhece por “barroca™. de Rabelo divide a natureza humana Grio de Matos ¢ Guerra em pares de sate/in A oposicio “virtude/vicio” da Vi {astificio poético do personagem Gr omo “prudente/imprudente”, ‘litico/satirico”, “conve [Geerenicate”. As antiteses sio construidas em t6picas retSricas muite tradi Peaasis do reirato biogrifico encomidstico, segundo preceitos do género de taba te s . pega manta cu agmeniosda pest auituica x poeta Ea lo guibmbo de Tima, moment mi partida par odearedo ers sles a sero com eps pinsial Angola ap ni a, a inna propesta por Jame lio das obras atibuias “rfc dn sve bien seisent tC Ger Irn Force de Mirco Mires. “xia de Geir de Matin Gner J.C, Capicarn ye 11945. Dy mesmo a de 1946 Gres Gregirio de Stato Jodo CaroeT aiador,C soos da Universidade Fader de Bah 12 ats na Bed Estudos Baianos ds Universidad ahi, [32 1985.5 a itivo, pelos quais se deve falar da origem do retratado,de sua dade, de seus pais e familiares, de seu sexo, de sua educagio, de seus habi- tos, de seu nome, de suas inclinagées e aspecto etc. Os lugares de louvor, qu Rabelo esenvolve um a um, recebem o traramento descrtivo ~ assim nar- rativo ~ das agbes e dos exemplas que mimetizam o lugar de uma tempora- lidade vivida eo de um esp mos pares opes avessam agOrs e descrigdes, amplificando-as como at0s bonse mau. Asay das, ainda, por ora: S ja fungao aristotelicamente deter- minada € a de sensibilizar sentido geral da agio, tornando-a evid. Pict6rica para a recepcdo, Simultaneamente,intervém ponderagdes pruden: Ussimas da enuaciagdo sobre o temperamento do personagem, um ‘sang nirio®| dloutrina dos humores com quea medicina de entao distinguia os tipos humanos em melancélicos, fleumiticos, sangilineos ¢ co. léricos7As ponderagées recuperam hiperbolicamente agoes, peripécias € cxemplos numa economia providencialista, alegoria de uma destinacio su- Derior da vida clo personagem. A metaforizegdo continuada de tal destinaczo unifica as antiteses de “virtude/vicio” no estilo alto, explicito como virtade humana e poética das palavras do vétulo: “excelente poeta lice”. A mesma oposiedo moral esu exageracao amtitetica constituer um verossimil exsrico, assim, como um discutso que toma por matéria de sua mimesis a legenda oral dos causos atribusdos & referencia do retrato 0 homem Gregorio, submeten- do tal matéria as topices da invencio epiditia. Proposta como introducto as obras compiladas,a Vida de Excelente Pocua Lirico,o Dewtor Gregorio de Matos jena opera em duplo resistra: propde aim sentido escatol6gico mpertinéncias” que se vao lex, enquanto Ihes fornece una orientacio refe- rencial, como memoria que as recorda do mesmo homem cujo nome as unifi- com a fama de “infame”. Ainda neste sentido ¢ dil lembrar que compor- tamentos ¢ causos atribuidos por Rabelo na Vida e nas dicdaseiias a seu personagem sin encontrivels em eutros discursos do século XL, porque poi re16zicos uadicionais, como oda falta de pio.em casa, oda esposa impacient ¢ desesperada, o da conducio da esposa amarrada de volta ao lar,o dos hébi- 103 perdulirios do pocta, 0 da facécia do “boi de um corno 36”, 0 d artependida do poeta etc Nes contoreses das hipézboles ¢ dos hipérbatos com que omamen sonagem de virtudes morais ¢ intelectuais que o fazem aristotelicamente ‘excelente? como poeta, mas ‘infame” como homem, Rabelo opera com dicotomias escolasticas, lugares-comuns também na cultura ibérica renas centista, © da razdo, do ato interior da voniade € seu fim, do ato ME POR FAZER exterior ¢ seu objeto, da forma eda matéria ete. As dicotomias montam um ‘Personagem movido o tempo todo pela visio do Bem ¢ da racionalidade da ford=m sem atavios, mas com aces ¢ palayras de uma vontade iva. Far gealmente virtuoso, materialmente vicioso: como aquele que sabe 0 que é 0 mis que nao o faz, por caréncia, ou que 36 0 faz, por excesso: Matos aeéerimo inimigo de toda a hipocrisia, virtade 1, devia moderas,atendendo 20s cosium alos,cm que a Sais retirado Anacoreta se enfastia da verdade crua, Mas seguindo or ditames de s au ncia habirava os extremos da verdaie eum excandalosa virtue A interpretacio propde 0 personagem come Belo zclo, seus atos tém a falta viciosa das paiades. Estand Sccolasticamente, no acordo com a razio,a moderacdo €a virtude intel Ge pauta as ac: Ge a memoria de Gregério n So z los XVII ¢ XVIII, 0 de mediocri Geeio-termo, como critério do bem moral e politico. Como adequago das ag SF contingencias, o correlate politico do meio-cerme ncia, Por pa- ese do mesma séeul d do juiz0, mas execerbado como “inimigo de toda a hiposrisia” que, na BBbstinacio de verdade e ju Geno aquele que olhow para o sol, que qualquer sombra Ihe pareze abismo, ca a todo custo, torna-se sivo e pior: “{...] com a vista proxima de Lisboa, se representavam infernos as Senfusdes da Bahia, por indignas, cavilosamente barbaras™ aml Persia Mates ¢ Gueia", em James Hden,p. 170 Santo This de Acuino, Smee is Ueitasnica, 19

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