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A arte da regência é uma ciência como qualquer outra, utilizada como um meio de
fazer arte, no entanto a esta arte são impostas implicações técnicas que devem ser
desvendadas e dominadas por todos os candidatos a regentes, não importa que tipo de
grupo se predispõe a dirigir. Não há diferença no dirigir um coro, orquestra ou banda.
A técnica do dirigir é igual para todos os tipos de grupo, o que muda são os
conhecimentos específicos de cada um. O que é a regência? Segundo o maestro Roberto
Duarte:
"dirigir é muito mais que abanar os braços. É acima de tudo saber se relacionar com as
pessoas. È lembrar que do outro lado de uma estante de música encontra-se um ser
humano, que tem alegrias, tristezas, preocupações e problemas como todos, inclusive o
maestro, e que ele deve ser tratado com respeito".
O maestro Duarte ainda sugere (os valores apresentados nas porcentagens são
fictícios, mas servem como sugestão para a reflexão que se pretende) que a formação da
regência é composta por uma pirâmide, formada da seguinte forma (o maior valor de
porcentagem corresponde à base da pirâmide e o menor valor da porcentagem
corresponde ao vertice superior da pirâmide):
Isto quer dizer que o gesto encontra-se no alto da pirâmide da arte da regência,
mas que para que ele aconteça é necessário que na base da pirâmide haja os demais
conhecimentos.
O ato de dirigir está mais intimamente ligado a como se relaciona o maestro com
seus comandados que com o gestual propriamente dito. O gesto tem sua importância na
comunicação. Observe esta palavra: Table. O que significa? Como se pronuncia? O
significado é um só: table = mesa, mas a pronúncia vai depender do idioma: francês ou
inglês. O que desejo mostrar é que cada um tem seus meios de expressão, mas o
significado é o mesmo. Há diversas maneiras de dizer a mesma coisa, dependendo
apenas como você a diz. No entanto a linguagem que você usa deve ser compreensível
para todos.
Só para clarear um pouco mais, muitas vezes a linha melódica depende do bom
desempenho de uma passagem rítmica ou de uma passagem harmônica. O maestro se
preocupa tanto com o desempenho melódico e esquece de observar o que lhe dá
sustentação.
O olhar, as mãos, os braços, dedos, enfim o corpo todo deve participar na função
da regência e estes não devem ser desperdiçados.
A comunicação do maestro é feita por meios não verbais, e por este motivo os
sinais devem ser claros, objetivos e precisos. Todo o processo de reger exige do maestro
muito estudo e dedicação. O gesto deve ter objetivo claro e possuir uma estratégia bem
definida. Tudo o que se faz a mais é desperdício e desvia a atenção podendo induzir ao
erro. Todo o processo do gestual, não acontece por acaso. Alguns regentes se preocupam
com a marcação de compassos, mas o ato de reger envolve muito mais que marcar
compassos. Os músicos não desejam que um maestro marque compassos e sim que
dirija a obra.
O que desejo mostrar aqui é justamente o que está por trás de uma partitura
simples ou complexa. O gesto é portador de uma ideia, de uma frase, de um efeito, de
uma dinâmica, de uma passagem ou de um encadeamento harmônico. É pra isso que
serve o gestual. Quando marcamos apenas um compasso, estamos nos tornando um
metrônomo gigante, que na maioria das vezes não tem qualquer utilidade musical.
a) O poder que temos em nossas mãos ao nos colocarmos frente a um grupo, pode de
alguma forma contribuir ou prejudicar a eficiência do trabalho. Como desfrutar dos
benefícios da autoridade, sem agredir nossos músicos, e sem prejudicar o resultado de
nosso trabalho?
c) A percepção do maestro frente aos fatos que se sucedem a cada instante dentro do
grupo que dirigimos.
f) As técnicas do gestual.
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I) Poder
O regente moderno não tem mais a ascendência autoritária como Karajan, que era
chamado de Pontifex Maximus, que usava de mão de ferro para dirigir seus músicos.
“Não nos sentimos absolutos sobre o podium. Devemos pedir constantemente aos
músicos que executem e aos cantores que cantem. Se formos autoritários é para pedir”.
“Entre o maestro e os músicos não deve haver trocas desiguais e que a obediência deve
vir da convicção: eu prefiro convencer”
“O maestro nunca deve faltar com o respeito aos seus músicos, que tem o direito a ter
direitos”.
O autoritarismo absoluto não existe mais, mantendo-se o respeito, o diálogo, sem abdicar
de nosso senso de perfeição e musicalidade.
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II) Memória
a. a aquisição do conhecimento
b. tratamento da informação
“mais vale a pena ter a partitura na cabeça, que ter a cabeça na partitura”.
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III) Percepção
b. Indicar o tempo.
d. Indicar os andamentos.
e. Indicar as dinâmicas.
j. Dirigir os fraseados.
k. Linhas melódicas.
O maestro que não possui gestos claros, ou que possui gestos tencionados, que
não olha para seus conduzidos, marcando apenas os compassos, perde a sua função
como maestro, ou seja o músico não sente a necessidade de interagir com ele.
“A função de maestro não é só o marcar de compassos, ser maestro vai muito mais além,
é a arte de se comunicar com as mãos, ou ainda saber utilizar a comunicação não verbal,
saber inspirar seus músicos, controlar o som do seu grupo em cada detalhe, usar todos
os recursos intuitivos para dominar a técnica e saber dosar a mente e o coração em
partes iguais” são palavras de Arnold Schoenberg.
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“A obra musical deverá amadurecer em nós até que se torne parte de nós mesmos”.
Karajan.
Uma obra, mesmo executada diversas vezes pelo maestro, esta deveria ser
estudada a cada exibição, pois somente dessa forma o processo de aperfeiçoamento e
maturidade musical da obra se concretiza na memória do maestro. Este estudo
permanente sempre revela algum novo elemento.
“O músico que diz não precisar desse processo é um mentiroso e não é um bom músico
com toda a certeza”. Georg Solti.
Um outro ponto importante é que o maestro absorva de tal forma o conteúdo sem
introduzir modificações próprias, ou seja, alguns dos maestros desejam tanto impor sua
personalidade que introduzem elementos não especificados pelo compositor, como
fermatas, acelerandos ou ritardandos, ou simplesmente alterar o movimento em
detrimento do caráter ou indicação explícita do compositor. O mais fiel intérprete, é sem
dúvida aquele que não dá a sua própria interpretação, e sim aquele que procura exprimir
a intenção desejada pelo autor.
Hoje em dia com a facilidade dos recursos tecnológicos, é comum ver maestros
copiarem o que os outros fazem, ou melhor, dependem de uma gravação para poder
realizar seu estudo musical, refletindo a imaturidade ou pior, a falta de conhecimentos
musicais necessários para ocupar a função de maestro.
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V) Batuta
Usar ou não usar? Eis a questão! Muitos maestros não concebem a direção de um
grupo instrumental ou vocal sem o auxílio de uma batuta. Para que serve a batuta?
A batuta foi utilizada pela primeira vez provavelmente por Louis Spohr (1784-1859),
por volta de 1820, substituindo o barulhento e antimusical bastão que era utilizado nos
séculos XVII e XVIII pela chamado marcador de compasso.
“a batuta não é indispensável, mas serve para tornar mais visíveis e claros os
movimentos do maestro, devendo integrar-se a ele como se fosse um só corpo”.
Às vezes, as duas mãos podem variar de funções ou até mesmo uma mão servir
de espelho para outra, como numa passagem difícil ou que assim o exige a partitura. As
mãos devem ser movimentadas de maneiras independentes, obedecendo a uma
coerência e de forma integrada. A utilização de gestos simétricos nos dois braços, pode
provocar confusão visual para os músicos, criando duas referências.
Toscanini sempre comentava com seus músicos que não olhassem a mão direita e
sim a mão esquerda, porque ela realmente é a mais importante.Alguns maestros não
gostam de utilizar a batuta, um dos primeiros a dirigir uma orquestra sem a batuta foi o
maestro russo Vassily Safonoff (1852-1918). Outro maestro que se destacou também pela
abstinência do uso da batuta foi o maestro russo Leopold Stokowski (1882-1977).
A batuta deve ser utilizada como ferramenta, deixando que a mão esquerda seja
mais comunicativa, caso deseje não utilizar a batuta, utilize as mãos com critérios,
precisão, sinais objetivos, claros e sempre comunicativas.
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VI) Gestual
Para o público em geral, uma questão torna-se evidente: como o músico aprende
as informações resultantes do gesto? Como eles podem tocar suas partes, traduzindo a
leitura para o som do seu instrumento e ao mesmo tempo seguir as informações geradas
pelo gestual das duas mãos do maestro?
O maestro deve dizer o máximo com o mínimo de palavras e fazer o máximo com o
mínimo de gestos.
O gesto deve ser sempre claro, evitando que o músico seja confundido pela
ambigüidade de gestos impróprios. O gestual é o único canal de comunicação entre os
músicos e o maestro. Por isso a capacidade de comunicação pelas mãos e olhos,
associada á expressão do rosto e corpo, constituem qualidades essenciais.
“Quando o maestro não faz nada no gesto, deixa que cada um toque o que deseja. Os
músicos estão abandonados à sua sorte... Os braços são o centro da vida emotiva do
homem como ser, o centro de nossa fala como maestro, é o centro eufônico. Por isso o
gesto deve sempre convergir para o centro, ao nos afastarmos desse centro, não
podemos fazer música... O que eu faço na mão pode afetar o resultado sonoro que
desejo obter .” Sergius Celebidache.
"se não tem o que fazer com as mãos é preferível que elas estejam dentro do seu bolso",
O regente pinta esse quadro partindo das informações contidas na partitura pelo
compositor. Inegavelmente um só olhar pode servir de indicação de entrada para um
determinado instrumento, ou mesmo para encorajar um músico em uma passagem
importante ou difícil, aprovar ou reprovar. A indicação de entrada de um instrumento, deve
ser vista como um convite a tocar e não uma imposição. Isto se reflete na maneira como
nos expressamos a nossos músicos ou cantores.
É importante mencionar os cuidados que o maestro deve ter para que não
desperdice energia supérflua com gestos excessivos. Muitos regentes utilizam-se de
gestos extraordinários para expressar alguma coisa, desperdiçando suas energias, gestos
esses que poderiam ser re-estudados de forma mais concisa e que produziriam maior
efeito onde um simples olhar resolveria. A economia e a eficiência do gesto é fruto de um
longo trabalho de estudo da comunicação não verbal. O gesto deve ser dinâmico, flexível
e não estático, usar todas as possibilidades que o braço pode oferecer, da ponta dos
dedos ao ombro. Quanto maior a complicação da partitura torna-se pertinente a utilização
de gestos dominados, controlados, especialmente gestos precisos, o que ajuda a
compreensão a um primeiro olhar ou a um olhar periférico. O gesto deve ser adequado ao
contexto musical, como por exemplo, uma frase, ou um elemento rítmico. E ainda é
pertinente que o regente dirija seguindo a topografia e a geografia do grupo que dirige.
“a técnica regencial é tanto mais importante quanto mais realizada sem esforço, quando
então o que se vê é a música”.
“A música faz com que nos alinhemos a cada instante. Não é só tocar um instrumento, ou
fazer que uma orquestra toque junto. Não é só isso, os compositores ao escreverem suas
obras não se interessam apenas por fatores, mas também pela relação com a obra, como
ela virá ao mundo”.
A música é um idioma, uma linguagem e é uma das forças mais poderosas das
emoções humanas. Nossa tarefa é dominar esse idioma em todos os detalhes, conhecer
seu vocabulário, como tudo funciona, as diferenças entre, por exemplo, uma frase, onde
temos compassos iguais e as formas da linguagem são bem diferentes. É isso que se
deve aprender, estudar e, sobretudo entender. Uns podem levar vinte minutos para
entender como uma frase foi criada e desenvolvida, e outros mais ou menos tempo para
isso. Não conseguiremos fazer grande música se não tivermos partido nossos corações.
É isso que devemos fazer, transcender a arte, elevar-nos do pessoal e do imediato para o
universal. È uma das expressões mais gratas.
Do que trata a música? Podemos responder a essa pergunta? Então qual o gesto?
Se não pode responder a essas indagações então só estarão marcando compasso ou
abanando os braços e não causará nenhuma sensação a ninguém nem aos músicos,
nem ao público, portanto a necessidade de verificar o que acontece na obra e sentir o
corpo. Portanto em momentos mais enérgicos os movimentos são mais perto do corpo,
se não veja o caso dos boxeadores, quando eles desejam maior concentração de força
eles fecham os gestos perto do tórax para poder desfechar golpes com maior poderio de
impacto.
a. “Dirigir é estabelecer uma relação com o conjunto de seres humanos: quanto mais
simples, mais verdadeira e intensa essa relação, mais compreensível e eloqüente será a
mensagem, e os músicos, com bem estar e entusiasmo, poderão melhor reconstituir a
execução como uma verdadeira obra de arte”. Hermann Scherchen.
f. “Numa obra musical, tudo tem sua importância e cada detalhe tem sua razão de ser”.
Feliz Weingartner.
Cuidar dos detalhes sempre pensando que não existe nada inútil.
j. “Quando o maestro não faz nada no gesto, deixa que cada um toque o que deseja. Os
músicos ficam abandonados à sua sorte”. Sergius Celebidache.
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VII) Ensaios
a. Afinação: afinação dos naipes e a afinação geral da orquestra, realizada pelo spalla.
b. Precisão Rítmica
c. Estudo: estudar a obra por sessões. Os trechos de maior dificuldade técnica em cada
naipe, devem ser passados e repassados, não desistindo até que a passagem esteja de
acordo com as intenções do maestro. Observar as estruturas, estilos e os diversos planos
sonoros, levando em conta as características sonoras peculiares de cada instrumento e
da obra. Nos instrumentos de cordas, cada um deles possui características próprias. Por
exemplo, os contrabaixos são instrumentos mais lentos e as cordas graves não possuem
grande brilhantismo, comparando com as cordas mais agudas. Com relação à precisão de
ataques, cada instrumento tem características específicas que pode ser influenciada pela
respiração. O gestual influencia no tipo de ataque.
h. O maestro deve observar para que suas orientações sejam anotadas na partitura, a
lápis. Por quê lápis? Porque cada regente tem suas características e por isso se a
orquestra toca uma mesma obra com vários regentes deverá anotar essas mudanças,
podendo apagar e reescrever o que precisar. Usando anotações a tinta ou outro meio
definitivo de indicação pode prejudicar a leitura da obra. Essas anotações podem ser as
arcadas, dinâmicas, expressões, alterações na intensidade, mudanças de tempo, entre
outras.
A preparação dos músicos para uma apresentação começa com os ensaios. São
neles que o maestro pode experimentar mudanças, sonoridades, dinâmica, indicações,
gestual, correção de problemas técnicos e disposição física. È no ensaio que as
mudanças devem acontecer e nunca durante a apresentação, que é o momento sublime.
O resultado de um bom concerto é consequência de bons ensaios. O respeito deve
ser um ponto importante no relacionamento entre maestro e músicos. Não se pode
esquecer que o músico é um ser humano, e por isso deve ser respeitado como tal. A troca
de experiências também é fundamental, especialmente nos dias de hoje onde um bom
número possui um grande cabedal de conhecimentos que pode vir a enriquecer a visão
da obra.
O maestro deve ser flexível ás opiniões dos músicos, sempre atento a novas
possibilidades, anotando-as na própria partitura. O maestro Stokowsky, é um dos
maestros que utilizava dessa técnica. Ele oferecia opções mas também aceitava
sugestões, e quando esta funcionava, anotava esta opção em sua partitura para poder
utilizá-la numa outra oportunidade.
Fonte:http://tecnicasderegencia.blogspot.com.br/2007/05/aspectos-da-regncia-arte-da-regncia-uma.html